O estado próprio de todo ser vivo: liberdade em Helena Antipoff
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CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO
Este trabalho pretende discutir a Educação Especial, tendo como foco a
chamada “Inclusão Escolar”.Tenho como questão central investigar em que
medida as instituições escolares estão preparadas para a chegada das
crianças com “necessidades educacionais especiais”.
A escolha por esse tema se deu, inicialmente, a partir do meu contato
com a disciplina de Educação Especial durante minha formação no curso de
Pedagogia, que me despertou para esse instigante espaço educacional. Por
outro lado, leciono em uma escola que possui uma criança com deficiência
auditiva. Ele usa aparelho auditivo e aparentemente consegue fazer a chamada
“leitura labial”. Todavia, sua professora, uma colega de trabalho, tem
dificuldade em entendê-lo e não sabe como lidar com essa situação.
Sabemos que a questão da inclusão de crianças com necessidades
educacionais especiais1 na rede regular de ensino, insere-se no contexto das
discussões cada vez mais em evidência sobre os direitos, deveres,
participação e contribuição social, no entanto, os desafios ainda são muitos e
nos instigam a pesquisa.
A inserção de educandos com necessidades educacionais especiais, no
meio escolar, é uma forma de tornar a sociedade mais democrática. A prática
da Educação Inclusiva deve partir do conhecimento da forma com que a
comunidade escolar lida cotidianamente com os portadores de necessidades
educacionais especiais. Portanto, as interações que se estabelecem no interior
da escola - com alunos, professores e outros profissionais da educação -
interessam para a consecução prática da Educação Inclusiva. Concordo
com MANTOAN (apud Mittler 2003, Prefácio) quando diz que:
a inclusão depende não somente de uma reforma do
pensamento e da escola, como também de uma
1 São muitas as terminologias que têm sido utilizadas para designar os portadores de deficiência, sobretudo n âmbito escolar. Nos limites deste trabalho optei pela terminologia “com necessidades educacionais especiais”.
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formação inicial e continuada dos professores, a qual
possa torná-los capazes de conceber e de ministrar
uma educação plural e democrática como são as
escolas para todos.
Segundo Ribeiro (2003, p. 48):
o pressuposto da inclusão é que a escola ofereça
oportunidades de apendizagem a todos
indistintamente, respeitando a diversidade de sua
clientela, permitindo o desenvolvimento individual e
coletivos de seus alunos e profissionais. Esta intenção
deve se explicitar no Projeto Pedagógico da escola, de
modo que o currículo proposto seja dinâmico e flexível,
permitindo o ajuste pedagógico às peculiaridades de
cada aluno.
De acordo com Ribeiro (2003, p.49) a Declaração de Salamanca (1994)
diz que:
cada criança possui características, interesses,
habilidades e necessidades de aprendizagem que são
únicas; os sistemas educacionais devem ser
designados e os programas educacionais devem ser
implementados no sentido de se levar em conta a
vasta diversidade de tais características e
necessidades; aqueles com necessidades
educacionais especiais devem ter acesso à escola
regular, que deverá acomodá-los dentro de uma
Pedagogia centrada na criança, capaz de atender a
tais necessidades.
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A inclusão não é missão impossível, é um desafio superável. É uma
questão de pensar e de querer. Querer pensar uma escola que inspire a troca
entre os alunos, que confronte formas desiguais de pensamento, que busque
metodologias interativas, que faça do reconhecimento das diversidades
estratégias para uma nova aprendizagem, para se construir um aluno inteiro e
para respeitar toda a dignidade dos diferentes.
Sobre as práticas educacionais, FERREIRA (apud Ribeiro e Baumel,
2003 p.127) diz que:
a medida que as práticas educacionais excludentes do
passado vão dando espaço e oportunidade à
unificação das modalidades de educação regular e
especial em um sistema único, caminhamos em
direção a uma reforma educacional mais ampla, em
que todos os alunos começam a ter suas
necessidades educacionais satisfeitas na educação
regular.
Deste modo a partir da problemática central já apontada no início deste
trabalho, o objetivo geral desse estudo é o de analisar a Inclusão Escolar a
partir de dois desdobramentos básicos: a adequação da escola e a formação
dos professores.
Para dar conta desta proposta os objetivos específicos deste trabalho
pretendem: conceituar Educação Especial e Inclusão Escolar; analisar os
documentos legais que historicizam o processo da Educação especial para a
Educação Inclusiva; discutir os principais dilemas e perspectivas desta nova
prática e investigar, por meio de um estudo de caso, aspectos da prática
cotidiana inclusiva, analisar a importância da formação do professor para
atender as crianças com necessidades educacionais especiais e fazer uma
síntese do currículo inclusivo na educação básica.
Para alcançar o objetivo proposto optei por um estudo bibliográfico
juntamente com um estudo de caso, cujos dados serão baseados em
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literaturas relacionadas à conceituação e ao contexto da Educação Especial e
a Inclusão e os seus dispositivos legais e também observações em classes que
tenham crianças com necessidades educacionais especiais. Dentre as obras
consultadas por sua estreita ligação com a questão investigada, oferecendo
subsídios para a continuidade de minha pesquisa estarão em destaque:
CARVALHO (1998), por tratar-se de uma obra que tem muitos dados para
acrescentar a minha pesquisa, pois contém uma diversidade de temas
relacionados à Educação Especial e buscarei com o desenvolver da minha
pesquisa mostrar a realidade da Educação Especial no Brasil. Esta obra
oferece subsídios para a continuidade de minha pesquisa, pois a autora diz:
refletir sobre a Educação Especial implica,
necessariamente, construir cenários de futuro e neles
considerar as perspectivas políticas, sociais,
econômicas, científicas e tecnológicas da educação
em geral, num mundo no qual, isolada, a educação
escolar pode muito, mas não pode tudo...(p.140).
A partir de MAZZOTTA (1999), por ser uma obra cujo título é a base da
minha pesquisa, esclareço as questões sobre a história da Educação Especial
no Brasil em busca de uma escola inclusiva, a partir dos Documentos Legais.
De acordo com este autor:
a defesa da cidadania e do direito à educação das
pessoas portadoras de necessidades especiais é
atitude muito recente em nossa sociedade.
Manifestando através de medidas isoladas, de
indivíduos ou grupos, a conquista e o reconhecimento
de alguns direitos dos portadores de necessidades
especiais podem ser identificados como elementos
integrantes de políticas sociais a partir de meados do
século (p.15).
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Por meio de ALVES (2003) tenho informações de quem são os
educandos com necessidades educacionais especiais e como se dá a sua
inclusão. A leitura desta obra também fará com que eu possa mostrar um outro
olhar para com os portadores de necessidades especiais. Pois segundo esta
autora:
o indivíduo dito normal tem que estar consciente que
o portador de necessidades especiais tem toda a
capacidade dentro do seu limite de realizar alguma
coisa, de vencer obstáculos, superando os conceitos
nesta sociedade que se diz tão perfeita e normal
(p.99).
A questão da Inclusão de crianças com necessidades educacionais
especiais na rede regular de ensino insere-se no contexto cada vez mais em
evidência e não mais se constitui numa novidade e sim num grande desejo.
A importância deste estudo está ligada à possibilidade de esclarecer os
conceitos e contextos de Educação Especial e Inclusão, contribuindo para
torná-los compreensíveis aos que se interessam pela educação como um
direito de todos.
Outro aspecto que aponto como fundamental, sobre a inclusão de
crianças com necessidades educativas especiais no contexto da escola
regular, é que a escola deve estar apta a receber esses alunos, sendo preciso
que se respeitem os dispositivos legais para garanti-los o acesso a escola,
possibilitando a criação de espaços inclusivos e valorizando sua diversidade.
Pretendo com as informações de diferentes autores, realizar um debate
indicando as suas contribuições e críticas em torno do tema em questão,
podendo assim, concluir a minha pesquisa e alcançar os objetivos propostos.
A partir dos pressupostos levantados, vale, porém, a ressalva de que a
política inclusiva hoje ainda depende de inúmeros fatores para a
sistematização, sobretudo se estamos falando de realidade educacional
brasileira.
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Deste modo é inevitável uma problematização acerca dos impasses
criados no cenário escolar diante da nova política. Sabemos que apesar dos
esforços de reflexão teórica acerca da problemática, a realidade escolar se
apresenta deficitária, muitas vezes, colocando em questão, o próprio conceito
de inclusão.
Diante deste estudo espero que a proposta da Inclusão ganhe cada vez
mais visibilidade e desperte a atenção dos envolvidos, no processo educativo
para que possa voltar seus olhares para a importância da Educação Especial e
do processo inclusivo, reiterando a educação como um direito de todos de fato.
Da mesma maneira, reitero a necessidade de uma formação docente
que esteja voltada para o exercício concreto de ações inclusivas.
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CAPÍTULO II- EDUCAÇÃO ESPECIAL
2.1- Conceituação
A educação especial é uma modalidade de educação escolar, um
processo educacional definido em uma proposta pedagógica, assegurando um
conjunto de recursos e serviços educacionais especiais, organizados
institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns
casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a
educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos
educandos que apresentam necessidades educacionais especiais. A
expressão educandos com necessidades educacionais especiais pode ser
utilizada para referir-se aos educandos que durante o processo educacional
demonstram dificuldades ou de aprendizagem ou de desenvolvimento que
dificultam o acompanhamento das atividades curriculares, dificuldades de
comunicação ou sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando
adaptações de acesso ao currículo com utilização de linguagens e códigos
aplicáveis e educandos com altas habilidades / superdotação. As necessidades
decorrem de sua elevada capacidade ou de suas dificuldades para aprender.
Estão associadas, portanto as dificuldades de aprendizagem, não
necessariamente vinculadas a(s) deficiência(s). Segundo CARVALHO
(1998, p.20) “a própria expressão pessoa portadora de deficiência tem sido
substituída por pessoas portadoras de necessidades especiais ou portadoras
de necessidades educacionais especiais, quando referidas à escolarização”.
Embora seus usos pretendam descaracterizar as deficiências em si mesmas, é
preciso cuidado, porque nem todos os que apresentam as necessidades
educacionais especiais são, necessariamente, portadores de deficiência.
O termo surgiu para evitar os efeitos negativos de expressões utilizadas
no contexto educacional (deficientes, excepcionais, subnormais, superdotados,
incapacitados etc.). Os sujeitos desse processo são educandos que
apresentam, temporária ou permanentemente necessidades educacionais
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especiais. São educandos que por apresentarem condições específicas e
próprias (diferentes dos demais alunos) no domínio das aprendizagens
curriculares ou então dificuldades acentuadas de aprendizagem requerem da
escola recursos pedagógicos, metodológicos e humanos específicos e
qualificados.
FIERRO (apud Gaio, 2004, p.64) diz que:
na realidade, cada aluno é diferente e tem
necessidades educacionais específicas, singulares.
Educação especial é uma redundância e um equívoco.
Com as diferenças não se pode criar um grupo à parte
ou montar uma organização escolar diferenciada que
de antemão é discriminada e discriminatória. A
diversidade, as diferenças, estão na condição humana
e a elas deve-se atentar e atender na escola. Não
haveria, pois, que se falar tanto de integração e de
Educação Especial, quanto de educação em si, de
currículo, de estratégias docentes; e nesse macro
examinar as necessidades educacionais especiais e
as técnicas especializadas, às vezes necessárias para
alunos com essas necessidades.
2.2- Breve Histórico
Segundo MAZZOTTA (1999, p.28) “o atendimento escolar especial aos
portadores de deficiência teve início no Brasil, na década de cinqüenta do
século passado”.
Em 1854, no Rio de Janeiro ocorreu a criação do Instituto dos Meninos
Cegos, atualmente Benjamin Constant. No ano de 1856, o Instituto de Surdos-
Mudos, hoje Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) RJ. Em 1932,
fundada a Sociedade Pestalozzi de Belo Horizonte, através da educadora
Helena Antipoff, com a finalidade de prestar atendimento ao deficiente mental
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e, em 1954, com a iniciativa de familiares no sentido de buscar alternativas
para os filhos deficientes mentais, surge o movimento das Associações de Pais
e Amigos dos Excepcionais - APAE.
Segundo RIBEIRO (2003, p.42) “as principais tendências das políticas
nacionais de educação especial do século XX foram os atendimentos
terapêuticos e assistencialistas, em detrimento do educacional”.
De acordo com MAZZOTTA (1999, p.27) a história da educação de
pessoas com deficiências no Brasil está dividida em dois períodos:
1854/1956 - marcado por iniciativas de caráter privado.
1957/1993 - definido por iniciativas oficiais de âmbito nacional.
A Declaração Mundial de Educação para Todos, Conferência realizada
em Jomtien, na Tailândia (1990) onde aborda a importância de universalizar o
acesso à educação e promover a igualdade, destacou que as necessidades
básicas de aprendizagem das pessoas portadoras de deficiências requerem
atenção especial e é preciso tomar medidas que garantam a igualdade de
acesso à educação aos portadores de todo e qualquer tipo de deficiência,
como parte integrante do sistema educativo.
A partir de então a educação especial passou a ser pauta de discussões
internacionais, como por exemplo, em 1994 foi realizada em Salamanca, na
Espanha, a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais:
Acesso e Qualidade. No documento da Declaração de Salamanca sobre
princípios, política e prática em educação especial, firmando-se a urgência de
ações para uma educação capaz de reconhecer as diferenças, promover a
aprendizagem e atender as necessidades de cada criança individualmente.
Reuniram delegados de 88 governos e 25 ONGs. Seu objetivo principal foi
propor a adoção de linhas de ação em educação especial, dentro de uma
política de escola inclusiva.
O texto da Declaração de Salamanca (1994) MEC congrega todos os
governos e demanda que eles:
atribuam a mais alta prioridade política e financeira ao
aprimoramento de seus sistemas educacionais no
sentido de se tornarem aptos a incluírem todas as
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crianças, independentemente de suas diferenças ou
dificuldades individuais e que adotem o princípio de
educação inclusiva em forma de lei ou de política,
matriculando todas as crianças em escolas regulares,
a menos que existam fortes razões para agir de outra
forma.
De acordo com RIBEIRO (2003, P.139) “o Brasil fez opção pela
construção de um sistema educacional inclusivo ao concordar com a
Declaração Mundial de Educação Para Todos e ao mostrar consonância com
os postulados produzidos pela Declaração de Salamanca”.
2.3- Documentos Legais
Analisando as políticas educacionais procurei estruturar historicamente
práticas e atitudes que vem mostrando o caminho da Educação Especial desde
a década de sessenta até o momento atual.
De acordo com RIBEIRO (2003, p.145)
na era atual batizada como a era dos direitos, pensa-
se diferentemente acerca das necessidades
educacionais de alunos. A ruptura com a ideologia da
exclusão proporcionou a implantação da política de
inclusão, que vem sendo debatida e exercitada em
vários países, entre eles o Brasil. Hoje, a legislação
brasileira posiciona-se pelo atendimento dos alunos
com necessidades educacionais especiais
preferencialmente em classes comuns das escolas,
em todos os níveis, etapas e modalidades de
educação e ensino.
Para dar suporte a esta reforma educacional há vários dispositivos legais
na forma de leis, Decretos, Medidas e Portarias.
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Segundo MAZZOTTA (1999, p. 69) da década de 60 e 70 destacam-se
as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 4.024/61 que reafirmando
o direito dos excepcionais à educação, indica em seu Artigo 88 que, para
integrá-los na comunidade, sua educação deverá, dentro do possível,
enquadrar-se no sistema geral de educação e a Lei 5.692/71 no Artigo nove
assegura “tratamento especial” aos “alunos que apresentem deficiências físicas
ou mentais, os que se encontrarem em atraso considerável quanto á idade
regular de matrículas e aos superdotados” de conformidade com os Conselhos
Estaduais de Educação.
Segundo RIBEIRO (2003, p.46)
a década de 1990 iniciou-se sob o impacto dos efeitos
das conquistas estabelecidas na Constituição Federal
de 1988, que em seu artigo 206 inciso I afirma a
igualdade de condições de acesso e permanência na
escola e, em seu artigo 208, inciso III ressegura o
atendimento educacional especializado aos portadores
de deficiência, preferencialmente na rede regular de
ensino.
No Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90, Capítulo IV-
Artigo 53, inciso I, diz que a criança deve ter igualdade de condições para o
acesso e permanência na escola e o Artigo 54, inciso III, refere-se ao
atendimento educacional, especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino.
Na era atual, as conquistas estabelecidas pela Constituição Federal do
Brasil de 1988 e a Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada
na Tailândia, em 1990 fizeram com que novos conceitos sobre educação
especial como modalidade de educação escolar e sobre alunos portadores de
necessidades especiais fossem debatidos, visando contribuir para a elaboração
da nova LDB. Hoje com a adoção do conceito de necessidades educacionais
18
especiais, afirma-se o compromisso com uma nova abordagem, que é a
inclusão.
2.4- Uma análise Crítica
Percorrendo os períodos da história universal, desde os mais remotos
tempos, evidenciam-se teorias e práticas sociais isoladas, inclusive quanto ao
acesso ao saber. Poucos podiam participar dos espaços sociais nos quais se
transmitiam e se criavam conhecimentos. Os indivíduos portadores de
necessidades especiais, vistos como “doentes” e incapazes, sempre estiveram
em situação de maior desvantagem, ocupando a posição de alvos de caridade
popular e da assistência social, e não de sujeitos de direitos sociais, entre os
quais se inclui o direito à educação.
Segundo RIBEIRO (2003, p.42), as análises sobre a educação especial
e a inclusão não remontam apenas a atualidade, mas vêm desde a
antiguidade, ainda que com pressupostos e abordagens diferenciadas. Sobre
isto ela diz que na antiguidade as pessoas “excepcionais”2 eram consideradas
degenerações da raça humana, deveriam ser expostas ou eliminadas pelo
grande transtorno que representavam para a sociedade. Com a influência da
doutrina cristã, passou haver uma tolerância a essas pessoas. Por serem
merecedoras de caridade, deveriam ficar segregadas, recebendo moradia e
alimentação. Com o advento da Idade Moderna, iniciaram-se investigações
sobre as pessoas “excepcionais” do ponto de vista da medicina.
Ainda hoje se constata a dificuldade de aceitação do diferente no seio
familiar, social e principalmente do portador de deficiências que na escola
apresenta dificuldades acentuadas de aprendizagem. O indivíduo dito normal
tem que estar consciente que o portador de necessidades especiais tem toda a
capacidade dentro do seu limite de vencer obstáculos, superando os conceitos
nesta sociedade que se diz tão perfeita e normal. Deficiência é uma questão de
2 Termo usado antigamente para referir-se aos portadores de necessidades especiais.
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ponto de vista. Infelizmente estamos inseridos em um meio que não trata o
assunto com o devido merecimento.
De acordo com o processo histórico, onde a nossa Constituição garante
a todos o direito à educação, os sistemas de ensino passaram a se preocupar
com os portadores de necessidades educacionais especiais apontando para a
organização e estruturação dos espaços escolares de modo que todos,
indistintamente, pudessem usufruir o direito à educação. A pedagogia da
exclusão tem origens condizentes com o modo como estão sendo construídas
as condições de existência da humanidade em determinado momento histórico.
A Educação Especial tem que ser parte integrante do Sistema de
Ensino e não um sistema isolado. Deve fluir igualmente nos diversos níveis
tendo como preocupação a democratização, um sistema estruturado para
atender a todos considerando suas limitações, impedimentos e seus talentos.
A Educação Especial rapidamente se reestruturou a fim de abranger sua
nova Constituição e, hoje em dia tomou conta de todo território da educação,
afirmando que são necessárias mudanças estruturais e organizacionais
radicais que tornem todas as crianças capazes de terem o acesso e o direito de
celebrarem a ampla gama de oportunidades oferecidas pelas escolas.
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CAPÍTULO III- INCLUSÃO
3.1- Conceito
A inclusão é o resultado da soma de oportunidades bem sucedidas que
são possibilitadas a qualquer cidadão e não somente dos decretos, sem
oportunizar o real acesso às oportunidades e aos meios para superar os
desafios que promovam o seu desenvolvimento. Discutir sobre a inclusão pode
levar-nos a um universo de encontros e desencontros com a nossa forma de
lidar com a diferença.
Inclusão segundo MANTOAN (apud Ribeiro e Baumel, 2003, p. 126)
refere-se à vida social e educativa, e todos os alunos
devem ser incluídos nas escolas regulares. A inclusão
causa uma mudança de perspectiva educacional, pois
não se limita a ajudar somente os alunos que
apresentam dificuldades na escola, mas apóia a todos
- professores, alunos, pessoal administrativo – para
que obtenham sucesso na corrente educativa geral.
O movimento da inclusão de crianças com deficiência no ensino regular
no Brasil, tem sido impulsionado após a reforma geral da educação, visando à
reestruturação da escola para todos os alunos. Faz parte desta reforma
educacional segundo MITTLER (2003, p.25)
um processo de reforma e de reestruturação das
escolas como um todo, com o objetivo de assegurar
que todos os alunos possam ter acesso a todas as
gamas de oportunidades educacionais e sociais
oferecidas pela escola, incluindo o currículo corrente, a
avaliação, os registros e os relatórios de aquisições
acadêmicas dos alunos, as decisões na Pedagogia e
21
as práticas de sala de aula, bem como as
oportunidades de esporte, lazer e recreação.
A meta da inclusão é, desde o início, não deixar ninguém fora do
sistema escolar, o qual deverá se adaptar às particularidades de todos os
alunos. A inclusão de todos na escola independente de seu talento ou de suas
necessidades e o contato das crianças entre si reforça atitudes positivas,
ajudando-as a aprenderem a respeitar e crescer, convivendo com as diferenças
e as semelhanças e a interagir com os seus pares.
De forma equivalente AINSCOW (apud Mittler 2003, p.35), caracteriza a
inclusão deste modo:
a agenda de educação inclusiva refere-se à superação
de barreiras, à participação que pode ser
experienciada por quaisquer alunos. A tendência ainda
é pensar em “política de inclusão” ou educação
inclusiva como dizendo em respeito aos alunos com
deficiência e a outros caracterizados como tendo
necessidades educacionais”especiais”. Além disso, a
inclusão é freqüentemente vista apenas como
envolvendo o movimento de alunos nas escolas
especiais para contextos das escolas regulares, com a
implicação de que eles estão “incluídos”, uma vez que
fazem parte daquele contexto. Em contrapartida, eu
vejo inclusão como um processo que nunca termina,
pois é mais do que simples estado de mudança, e
como dependente de desenvolvimento organizacional
e pedagógico contínuo sistema regular de ensino.
Segundo ALVES (2003, p.15)
para que possamos incluir, devemos respeitar e querer
desenvolver o indivíduo em todos os aspectos dentro
do processo de aprendizagem. Deve haver a inclusão
22
social, respeitando a criança portadora de
necessidades especiais, possibilitando-a da
convivência com os indivíduos ditos normais, através
de trocas, dando-lhes assim condições necessárias
para a aprendizagem e o ajustamento social.
De acordo com STAINBACK (1999, p. 30-31)
a inclusão não é, nem se deve tornar, uma maneira
conveniente de justificar cortes orçamentários que
podem pôr em risco a provisão de serviços essenciais.
A inclusão genuína não significa a inserção de alunos
com deficiência em classes de ensino regular sem
apoio para professores ou alunos. Em outras palavras,
o principal objetivo do ensino inclusivo não é
economizar dinheiro: é servir adequadamente a todos
os alunos. A inclusão é mais que um modelo para a
prestação de serviços de educação especial. É um
novo paradigma pensamentos e de ação, no sentido
de incluir todos os indivíduos em uma sociedade na
qual a diversidade está se tornando mais norma do
que exceção.
Para RIBEIRO (2003, p.160) a inclusão representa um avanço em
relação ao movimento de integração escolar, que pressupunha o ajustamento
da pessoa com deficiência para sua participação no processo educativo
desenvolvido nas escolas comuns, a inclusão postula uma reestruturação do
sistema educacional, ou seja, uma mudança estrutural no ensino regular, cujo
objetivo é fazer com que a escola torne inclusiva, um espaço democrático e
competente para trabalhar com todos os educandos, baseando-se sem
distinção de raça, gênero ou características pessoais, baseando-se no princípio
de que a diversidade deve não só ser aceita como desejada.
Segundo GAIO (2004, p.81)
23
a inclusão escolar envolve, basicamente, uma
mudança de atitude face ao outro; que não é mais um,
um indivíduo qualquer, com o qual topamos
simplesmente na nossa existência e com o qual
convivemos um certo tempo, maior ou menor, de
nossas vidas. O outro é alguém que é essencial para a
nossa constituição como pessoa e dessa alteridade é
que subsistimos, e é dela que emana a Justiça, a
garantia da vida compartilhada.
3.2- Escola Inclusiva
A chamada Educação Inclusiva surgiu da importância de acabar com o
problema social que nos faz estigmatizarmos as pessoas. Ela veio revelar que
a Educação, no mundo todo, vem excluindo, cada vez mais alunos, em vez de
incluir. Não é ao acaso que nós preferimos o nosso sistema de crenças, de
estereótipos e de preconceitos. Eles mantêm a nossa crença de que as coisas
não mudam, de que o real permanece continuamente, o mesmo, não se
transformando. Portanto, o que vive em relação à Educação hoje, é um
processo de estudo do processo de ensino-aprendizagem, partindo de uma
pré-concepção de que os alunos com deficiência não irão se encaixar no
ensino regular.
Segundo RIBEIRO (2003, p.160)
o conceito da escola inclusiva implica uma nova
postura da escola comum, que propõe no projeto
pedagógico - no currículo, na metodologia de ensino,
na avaliação e na atitude de educadores – ações que
favoreçam a interação social e sua opção por práticas
heterogênicas. A escola capacita seus professores,
prepara-se, organiza-se e adapta-se para oferecer
educação de qualidade para todos, inclusive para
educandos que apresentam necessidades especiais.
24
Inclusão, portanto, não significa simplesmente
matricular todos os educandos com necessidades
educacionais especiais na classe comum, ignorando
suas necessidades especiais, mas significa dar ao
professor e à escola suporte necessário a sua ação
pedagógica.
A escola inclusiva é abordada na Declaração de Salamanca (1994) da
seguinte forma:
dentro das escolas inclusivas, crianças com
necessidades educacionais especiais deveriam
receber qualquer suporte extra requerido para
assegurar uma educação efetiva. Educação inclusiva é
o modo mais eficaz para construção de solidariedade
entre crianças com necessidades educacionais
especiais e seus colegas. O encaminhamento de
crianças a escolas especiais ou a classes especiais ou
a sessões especiais dentro da escola em caráter
permanente deveria constituir exceções, a ser
recomendado somente naqueles casos infreqüentes
onde fique claramente demonstrado que a educação
na classe regular seja incapaz de atender às
necessidades educacionais ou sociais da criança ou
quando sejam requisitados em nome do bem-estar da
criança ou de outras crianças.
RIBEIRO (2003, p.165) ainda diz que a escola regular de qualquer nível
ou modalidade de ensino, ao viabilizar a inclusão de alunos com necessidades
especiais, deverá promover a organização de classes comuns e de serviços de
apoio pedagógico especializado. Extraordinariamente, poderá promover a
organização de classes especiais, para atendimento em caráter transitório.
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Para STAINBACK (1999, p.40) a integração de alunos com deficiência
em classes regulares começou no final da década de 1970 e início da década
de 1980, pelo menos por meio turno. Em 1986 lançou-se por meio da divisão
de Educação Especial e Serviço de Reabilitação do Departamento de
Educação dos Estados Unidos a iniciativa de educação regular que incorporava
algumas idéias para fundir Educação especial e Educação regular. O propósito
era desenvolver maneiras de atender alunos portadores de deficiência em
classes regulares, incorporando os programas de Educação especial e
desenvolver uma parceria com a Educação regular.
A Declaração de Salamanca (1994) declara que:
o principio fundamental da escola inclusiva é o de que
todas as crianças devem aprender juntas, sempre que
possível, independentemente de quaisquer
dificuldades ou diferenças que elas possam ter.
Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às
necessidades diversas de seus alunos, acomodando
ambos os estilos e ritmos de aprendizagem e
assegurando uma educação de qualidade à todos
através de um currículo apropriado, arranjos
organizacionais, estratégias de ensino, uso de recurso
e parceria com as comunidades. Na verdade, deveria
existir uma continuidade de serviços e apoio
proporcional ao contínuo de necessidades especiais
encontradas dentro da escola.
Para RIBEIRO (2003, p.144-146) um longo caminho foi percorrido entre
a exclusão e a inclusão escolar e social. Até recentemente, a teoria e a prática
dominantes relativas ao atendimento às necessidades educacionais especiais
de crianças, jovens e adultos definiam a organização de escolas e de classes
especiais, separando essa população dos demais alunos. Na tentativa de
eliminar os preconceitos e de integrar os alunos portadores de deficiência nas
escolas comuns do ensino regular, surgiu o movimento de integração escolar.
26
Ao longo dessa trajetória, verificou-se a necessidade de se reestruturar os
sistemas de ensino, que devem se organizar para dar respostas às
necessidades educacionais de todos os alunos. O caminho foi longo, mas aos
poucos está surgindo uma nova mentalidade, cujos resultados deverão ser
alcançados pelo esforço de todos, no reconhecimento dos direitos dos
cidadãos.
De acordo com ALVES (2003, p.39-40)
o ambiente escolar deve ser planejado e estruturado,
pois é através deste método que o desenvolvimento
infantil será promovido e terá um papel decisivo no
futuro do indivíduo.A escola inclusiva não é diferente,
porque o seu papel será o mesmo, só vai depender de
quem irá lidar com este aspecto. Para a autora
devemos lutar contra a escola especial que ainda
permanece atendendo somente o ser especial dito
educável e, mesmo assim, esses indivíduos não são
desenvolvidos à sala de aula regular, e quando
surgem as classes especiais e as salas de auxílio que
são muito bem vindas a partir do momento que tudo
seja bem planejado e estruturado.
De acordo com SILVA (apud Carvalho, 1998, p.32) a escola corporifica
as idéias de progresso constante através da razão e da ciência, de crença nas
potencialidades de desenvolvimento de um sujeito autônomo e livre, de
universalismo, de emancipação e de libertação política e social, de autonomia e
liberdade, de ampliação do espaço público a través da cidadania, de
nivelamento de privilégios hereditários, de mobilidade social. A escola está no
centro dos ideais de justiça, igualdade e distributividade do projeto moderno de
sociedade e política.
MARQUES (apud Carvalho 1998, p.190) diz que:
a nova LDB, em vários de seus artigos, contém
preceitos acerca de projetos pedagógicos da escola,
27
que deve ser entendido como um processo
permanente de reflexão e discussão dos problemas da
escola, na busca de alternativas viáveis à efetivação
de sua intencionalidade que não é descritiva ou
constatativa, mas constitutiva.
Para CARVALHO (1998, p.192-193), no caso da inclusão de portadores
no espaço escolar, precisamos garantir todas as condições para o êxito da
proposta, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida. Não se trata de
incluir fisicamente, apenas. O que se pretende é criar as condições de inclusão
de todos na aprendizagem, favorecendo a integração interpessoal entre alunos
deficientes e os não deficientes, para que o se impõe aprimorar a qualidade
das respostas educativas da escola, para todos. A operacionalização da
inclusão de qualquer aluno no espaço escolar deve resultar de relações
dialógicas, envolvendo família, escola e comunidade, de modo que cada escola
ressignifique as diferenças individuais, bem como reexamine sua prática
pedagógica.
Segundo MANTOAN (2000, p. 45-46)
a escola que atende as aspirações quanto à liberdade
de expressar idéias e sentimentos, à autonomia na
construção dos conhecimentos e valores e o respeito
ao modo de viver e pensar do outro, ao acesso às
informações e à velocidade de sua propagação para
fins de estreitamento e socialização das formas de
comunicação, parece, portanto estar muito mais além
do que preconizam os modelos mais recentes de
educação inovada. Esta terá de buscar abordagens
mais revolucionárias ainda, para garantir a cada ser
uma experiência educacional que efetivamente
corresponda aos ideais de um cidadão do mundo, do
cosmos sem fronteiras.
28
Na visão de CARVALHO (1998, p.32) nem todas as escolas, por seu
turno, estão totalmente organizadas para receber alunos com necessidades
especiais, pois, além da falta ou inadequação do espaço físico, da carência de
recursos materiais e financeiros há, ainda, despreparo dos professores.
Como diz REGO (1995, p.138) “a escola deve ser um espaço onde
possam ocorrer transformações, respeitar as diferenças, detectar erros,
identificar contradições, intensificar a colaboração mútua e desenvolver a
criatividade”.
Nas palavras de VANDERCOOK, FLEETHAM, SINCLAIR E TETLIE
(apud Stainback 1999, p.22) nas salas de aula integradas, todas as crianças
enriquecem-se por terem a oportunidade de aprender umas com as outras e
conquistam as atitudes, as habilidades e os valores necessários para nossas
comunidades apoiarem a inclusão de todos os cidadãos.
Para STAINBACK (1999, p.31)
o desafio é estender a inclusão a um número maior de
escolas e ao mesmo tempo, ter em mente que o
principal propósito é facilitar e ajudar a aprendizagem
e o ajustamento de todos os alunos, os cidadãos do
futuro. Nossas escolas tornar-se-ão tão boas quanto
decidirmos torná-las.
Segundo GAIO (2004, p.80)
não são os especialistas nem os métodos especiais de
ensino escolar que garantem a inserção de todos os
alunos à escola regular, mas que é necessário um
esforço efetivo e coletivo, visando transformar as
escolas e aprimorar a formação dos professores para
trabalhar com as diferenças nas salas de aula. Em
outras palavras, a melhoria da qualidade do ensino e a
adoção de princípios educacionais democráticos são
fundamentais para o ingresso incondicional e a
permanência dos alunos nas escolas regulares.
29
A educação inclusiva é importante tanto para o portador de deficiência
quanto para a sociedade que busca se adaptar para recebê-lo. No que se
refere à sociedade, a educação inclusiva resulta em uma mudança nos valores,
contribuindo para a construção de uma sociedade plural e democrática. Os
indivíduos aprendem a lidar com as diversidades existentes e adquirem o
"senso de comunidade" no interior das salas de aula. A cidadania é reforçada
com a afirmação de direitos para todos e com a consolidação de práticas
sociais mais justas. No que se refere ao portador de deficiência, a educação
inclusiva incentiva a auto-estima e a construção de uma personalidade livre de
estigmas. Quando o convívio entre portadores e não portadores de
necessidades ocorrem desde a infância, ambos ficam preparados para a vida
adulta em uma sociedade plural e diversificada.
3.3- Documentos legais
.
Com base na nova Lei de Diretrizes e Bases (9394/96), o apoio a
PPNEE ( Pessoa Portadora de Necessidades Educativas Especiais) no ensino
regular e sua inserção na sociedade, visa uma revolução de valores que
exigem mudanças e adaptações na estrutura da sociedade e na educação.
Políticas públicas voltadas para a inclusão daqueles que se encontravam
excluídos do processo social são a garantia do acesso aos direitos humanos
De acordo com RIBEIRO (2003, p.151)
a política da inclusão de alunos que apresentam
necessidades educacionais especiais na rede regular
de ensino, não consiste apenas na permanência física
desses alunos junto aos demais educandos, mas
representa a ousadia de rever concepções e
paradigmas bem como desenvolver o potencial dessas
pessoas respeitando suas diferenças e atendendo
suas necessidades.
30
Ainda segundo RIBEIRO (2003, p.139) o Brasil fez opção pela
construção de um sistema de educacional inclusivo ao concordar com a
Declaração Mundial de Educação para Todos, firmada em Jomtien, na
Tailândia, em 1990, e ao mostrar consonância com os postulados produzidos
em Salamanca ( Espanha,1994) na Conferência Mundial sobre Necessidades
Educacionais Especiais: Acesso e Qualidade.
Como é descrita, a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional-Lei - 9.394/96, Capítulo V, veio subsidiar uma ação educativa
compromissada com a formação de cidadãos, mostrando que a Educação
Especial é uma modalidade de educação escolar e adotando o princípio da
inclusão. Esse princípio defende que o ensino seja ministrado a todas as
crianças, jovens e adultos com necessidades especiais preferencialmente no
sistema regular de ensino.
Segundo GAIO (2004, p.36) especificamente quanto ao atendimento das
pessoas com deficiências, a Lei 9.394/96 propõe o atendimento educacional
especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais,
preferencialmente na rede regular de ensino (art. 4º, III) e prevê, pela primeira
vez, a existência de serviços de apoio especializado na escola regular (art.58,§
1º), abrindo a possibilidade ao atendimento em classes, escolas ou serviços
especializados, quando não for possível a integração na classe comum.
Explicita, também, a oferta de educação Especial como dever do Estado, na
faixa etária de zero aos seis anos, dentro da previsão das mudanças que
devem ocorrer na educação infantil (art.58,§ 3º).
Ainda segundo GAIO (2004, p.33) esta nova Lei de Diretrizes e Bases
da Educação, tem suas discussões iniciadas na comissão de educação da
Constituição Federal de 1988, com o primeiro projeto apresentado no mesmo
ano, dois meses depois da promulgação da Carta Constitucional em Outubro.
No conflito das forças sociais podemos buscar indícios para entender o texto
que vai se estabelecendo durante os oito anos de debates em sua tramitação.
Para CARVALHO (1997, p.93)
31
a primeira constatação é a de que, sem dúvida, a
educação especial está bem mais explícita na letra
dessa lei. As ressalvas que se façam, por mais
veementes que sejam, não devem ser confundidas
com desconhecimento ou desvalorização do tanto que
se avançou.
Com a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais em 1997,
onde se aborda a diversidade, temos no tocante à adaptação curricular a clara
necessidade de adequar objetivos, conteúdos e critérios de avaliação, de forma
a atender as peculiaridades dos alunos. Temos numa abordagem geral, o tema
Interação e Cooperação, onde um dos objetivos da educação escolar é que os
alunos aprendam a conviver em grupos, valorizando sua contribuição,
respeitando suas características e limitações, e de forma mais específica, as
Adaptações Curriculares Estratégias para Educação de Alunos com
Necessidades Educacionais Especiais.
Segundo RIBEIRO de acordo com o decreto nº 3.298/99 regulamenta-se
a Lei nº 7.853/89, que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção e dá outras
providências. A Portaria do MEC nº1.679/99 dispõe sobre os requisitos de
acessibilidade a pessoas portadoras de deficiências para instruir processos de
autorização e de reconhecimento de cursos e de credenciamento de
instituições. A Lei nº 10.098/00 estabelece normas gerais e critérios básicos
para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou
com mobilidade reduzida e dá outras providências.
Ainda segundo RIBEIRO (2003, anexo 2)
a Resolução CEB/CNE3 nº 2 de 11 de setembro de
2001, institui Diretrizes Nacionais para a Educação
Especial na Educação Básica. O Art. 12 diz que os
sistemas de ensino, nos termos da Lei 10.098/2000 e 3 Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação
32
da Lei 10.172/2001, devem assegurar a acessibilidade
aos alunos que apresentem necessidades
educacionais especiais, mediante a eliminação de
barreiras arquitetônicas urbanísticas, na edificação –
incluindo instalações, equipamentos e mobiliário – e
nos transportes escolares, bem como de barreiras nas
comunicações, provendo as escolas dos recursos
humanos e materiais necessários.
3.4- Inclusão e Integração: Semelhanças e diferenças
Entre estes dois sistemas de organização de ensino existem
semelhanças e diferenças. A semelhança é que ambos promovem a inserção
da pessoa com necessidades educativas especiais. A diferença é que a
integração é a inserção parcial. Questiona-se que nesta forma de inserção não
ocorre a reestruturação da escola. A inclusão é a inserção total e incondicional,
também chamada de sistema caleidoscópio, termo criado por educadores
canadenses. Este sistema de organização de ensino exige uma transformação
da escola, uma ruptura do sistema educacional. (Werneck, 1997, p.51).
A educação básica deve ser inclusiva, no sentido de atender a uma
política de integração dos alunos com necessidades educacionais especiais
nas classes comuns dos sistemas de ensino.
Werneck (1997, p.51) explica que:
a integração e a inclusão são dois sistemas
organizacionais de ensino que têm origem no princípio
de normalização". Continua explicando que normalizar
não é tornar o indivíduo normal, mas é atender às
suas necessidades e reconhecer o seu direito de ser
diferente.
33
Para MANTOAN (apud Ribeiro, 2003, p.125) a noção de inclusão não é
incompatível com a de integração, porque institui a inserção de forma mais
radical, completa e sistemática:
a noção de inclusão não é incompatível com a
integração, porém institui a inserção de uma forma
mais radical, completa e sistemática. O vocabulário
integração é abandonado, uma vez que o objetivo é
incluir um aluno ou um grupo de alunos que já foram
anteriormente excluídos; a meta primordial da inclusão
é a de não deixar ninguém no exterior do ensino
regular, desde o começo. As escolas inclusivas
propõem um modo de se constituir o sistema
educacional que considera as necessidades de todos
os alunos e que é estruturado em virtude dessas
necessidades. A inclusão causa uma mudança de
perspectiva educacional, pois não se limita a ajudar
somente os alunos que apresentam dificuldades na
escola, mas apóia a todos: professores, alunos,
pessoal administrativo, para que obtenham sucesso na
corrente educativa geral.
FOREST E LUSTHAUS, (apud mantoan, 1998, p. 5) dizem que o
processo de inclusão tem como metáfora o caleidoscópio. O caleidoscópio é
uma imagem formada por um conjunto de pequenas pedras coloridas
agrupadas uma ao lado da outra em um recipiente, que ao mexê-las forma
novas imagens. O caleidoscópio precisa de todos os pedaços que o compõem.
Quando se retiram pedaços dele, o desenho se forma menos complexo, menos
rico. E esta metáfora se aplica a educação, quando entendemos que as
crianças se desenvolvem, aprendem e evoluem melhor em um ambiente rico e
variado, sendo parte da sociedade onde se encontra.
34
Ainda segundo MANTOAN, a integração escolar cuja metáfora é um
sistema de cascata, a autora a define como:
forma condicional de inserção em que vai depender do
aluno-ou seja, do nível de sua capacidade de
adaptação às opções do sistema escolar- a sua
integração seja em uma sala regular, em uma classe
especial ou mesmo em instituições especializadas.
Trata-se de uma alternativa em que tudo se mantém,
nada se questiona do esquema em vigor.
MANTOAN (1998, p. 5) acrescenta que o sentido de cascata,
... trata-se de uma concepção de integração parcial
porque prevê serviços segregados que não ensejam o
alcance dos objetivos da normalização. De fato os alunos
que se encontram em serviços segregados dificilmente
se deslocam para os menos segregados e, raramente às
classes regulares.
O princípio da Integração historicamente constituiu a finalidade da
Educação Especial. O indivíduo integrado, o deficiente, exige que se coloque
em relevância no processo educativo o encontro e a vivência real nos valores
de: igualdade, participação ativa e consciente e o respeito aos direitos e
deveres perante a sociedade. Na educação escolar, evidenciam-se níveis
progressivos de busca e encontro de respostas às necessidades especiais dos
deficientes, desde a aproximação física-a integração funcional que admite o
acesso aos materiais, aos recursos e às atividades pedagógicas-até o nível
social, que implica na aceitação do meio e na interação com ele.
A idéia de integração que vem sendo discutida a partir do final da
década de 1960 é responsável pela mudança do paradigma da exclusão social,
que ocorria em seu sentido total. No início, buscou-se inserir as pessoas com
deficiências nos sistemas sociais de maneira geral, como na educação, no
trabalho, na família e no lazer.
35
A prática da integração, principalmente nos anos 1960 e 1970, baseou-
se no “modelo médico da deficiência”, segundo o qual tínhamos de modificar
(habilitar, reabilitar, educar) a pessoa com deficiência a fim de torná-la apta a
satisfazer os padrões aceitos no meio social (familiar, escolar, profissional,
recreativo, ambiental).
Ao discutir a integração no contexto educacional, investe-se na
possibilidade de que esses indivíduos não somente freqüentem uma escola,
mas também aprendam e acompanhem um currículo regular por um método
pedagógico utilizado para a população escolar considerada normal. Hoje,
exige-se à escola regular não só uma integração, mas também a
responsabilidade pela adequação da resposta a dar a cada criança ou jovem
que faça parte da sua comunidade educativa.
De acordo com ECHEITA (apud Gaio, 2004, p. 66) o problema não é a
integração escolar em si mesma. O problema somos todos nós, nossos
próprios limites conceituais, nossa capacidade para projetar um mundo
diferente, um sistema escolar não homogêneo, em que cada qual pudesse
progredir junto com os outros, em função de suas necessidades particulares e
que possa adaptar-se para satisfazer as necessidades educacionais de cada
aluno, da mão de professores que aceita e está preparada para enfrentar a
diversidade. Cada vez que um professor ou uma professora tenta programar a
sua disciplina com o objetivo de que seja relevante para todos os alunos de seu
grupo, sem excluir precisamente aqueles com necessidades educacionais mais
complexas, terminam encontrando métodos de ensino e formas de organização
que resultam úteis para todos e não só para aqueles que desencadearam o
processo.
Segundo RIBEIRO (2003, p. 125) “a opção emergente de inserção da
criança com deficiência é a inclusão, que questiona não somente as políticas e
a organização da Educação especial e regular, mas também o conceito de
integração”.
MANTOAN (apud Ribeiro, 2003, p. 127) defende a inclusão total, de
forma restrita, para todos. Portanto ela diz:
36
é preciso respeitar os educandos em sua
individualidade para não condenar uma parte deles ao
fracasso e às categorias especiais de ensino. Ainda
assim, é ousadia para muitos-ou melhor, para a
maioria das pessoas-a idéia de que nós, os humanos,
somos seres únicos, singulares, e de que é injusto e
inadequado sermos categorizados, a qualquer
pretexto.
À luz deste processo de inclusão e integração, as instituições são
desafiadas a serem capazes de criar programas e serviços internamente e / ou
de buscá-los em entidades comuns da comunidade para melhor atenderem os
Planos Nacionais de Educação.
Mas, ainda é preciso esclarecer que neste final de século, estamos
vivendo a fase de transição entre a integração e a inclusão. Portanto, Sassaki
(1997, p. 43) diz que é inevitável que os dois termos sejam falados e escritos
com diversos sentidos por diferentes pessoas, a saber:
· Algumas pessoas utilizam as palavras integração e inclusão,
já em conformidade com a moderna terminologia da inclusão
social, ou seja, com sentidos distintos - a integração
significando inserção da pessoa deficiente preparada para
conviver na sociedade e a inclusão significando ‘modificação
da sociedade como pré-requisito para a pessoa com
necessidades especiais buscar seu desenvolvimento e
exercer a cidadania’.
· Outras pessoas utilizam os termos integração e integração
total ou plena da seguinte forma: o primeiro termo - integração
com sentido de inserção da pessoa deficiente preparada para
conviver na sociedade e o segundo termo - integração total
correspondendo ao moderno conceito de inclusão sem, no
entanto, usarem a palavra ‘inclusão’. Este é o caso da maioria
dos trabalhos acadêmicos, científicos ou técnicos publicados
até aproximadamente 1994, ano em que saiu o primeiro
37
documento internacional que aborda extensamente o conceito
de inclusão - a Declaração de Salamanca.
· Ainda outras pessoas utilizam apenas a palavras
integração, tanto num sentido como noutro (de integração
e de inclusão), nunca usando os termos “inclusão” e
“integração total (ou plena)”.
· Há também pessoas que utilizam indistintamente os
termos integração, integração total (ou plena) e inclusão,
ou seja, como se fossem sinônimos, todos significando
uma única coisa - inserção da pessoa deficiente
preparada para conviver na sociedade.
Segundo RIBEIRO ( 2003, p.128) “os conceitos de “igualdade” e de
“diferença” precisam ser transformados em ícones, com a finalidade de
repensar criticamente a educação e a escola como um sistema cultural, locus
para nos tornarmos mais humanos. A instituição escolar é difusora de um
sistema de valores universais ou dominantes, e apresenta-se intimamente
ligada à transmissão ideológica”.
3.5- Impasses e Perspectivas
A prática vivida nas escolas continua, ainda, marcada pela influência das
medidas de apoio pedagógico e educativo, numa perspectiva apenas
compensatória. O apoio visto nessa concepção como algo de suplementar,
surge como um extra para remediar, apesar da pressa de uma escola
inclusiva. A legislação mais recente sobre este assunto refere já as medidas de
apoio pedagógico e educativo numa perspectiva diferenciada, tanto ao nível de
organização da escola para a diferenciação, como de estratégias mais
específicas de diferenciação pedagógica, nomeadamente o ensino
diferenciado no interior da sala de aula, integrando o mesmo currículo.
38
Segundo BARROS (2000, p.35):
é inegável que estamos vivendo um tempo de crise
global, em que os velhos paradigmas da modernidade
estão sendo contestados e em que o conhecimento,
matéria prima da educação escolar, está passando por
uma re-interpretação. As diferenças culturais, sociais,
étnicas, religiosa, de gênero, enfim, a diversidade
humana está cada vez mais sendo desvelada e
destacada e é condição imprescindível para se
entender como conhecemos, aprendemos,
entendemos o mundo e a nós mesmos.
Um novo paradigma do conhecer está surgindo das interfaces e das
novas conexões que se formam entre os saberes outrora partidos e as ações
outrora isoladas. Ele está sendo gerado do encontro entre ambos, provocado
pela velocidade cada vez maior entre as comunicações e as informações e
estabelecendo, por essa proximidade, um novo marco nas relações entre os
humanos e entre estes e o mundo em que vivemos. A malha do saber vai
invadindo e cruzando sistemas de idéias, de ações, criando novas
competências, constituindo maneiras diferentes de se organizar e de se
articular os domínios teóricos e práticos, intercomunicando-os num diálogo
aberto e promissor. Podemos, sem dúvida, afirmar que já não se pensa e se
aprende como antigamente. A rede que integra os domínios do saber e do agir
invadiu também a escola. Num ritmo, que ainda não é o desejado, algumas
mudanças já têm ocorrido para que essa instituição enfrente a "crise do
conhecimento", nas suas unidades, nas suas salas de aula. Tudo é, de fato,
muito novo. E a escola é velha na sua maneira de ensinar, de planejar, de
executar e de avaliar seu projeto educativo. O tradicionalismo, o ritualismo de
suas práticas cegam a grande maioria de seus professores e dos pais, diante
das transformações, dos caminhos diferentes e não obrigatórios do aprender.
39
De acordo com BARROS ( 2000, p.39):
a escola não pode continuar anulando e
marginalizando as diferenças nos processos através
dos quais forma e instrui os alunos e muito menos
desconhecer que aprender é errar, ter dúvidas,
expressar, dos mais variados modos, o que sabemos,
representar o mundo, a partir de nossas origens,
valores, sentimentos. Por esses mesmos motivos é
que muitas crianças, jovens e aprendizes em geral são
penalizados nas salas de aulas e até mesmo por suas
famílias e pela sociedade. A exclusão escolar
manifesta-se das mais diversas e perversas maneiras,
e quase sempre o que está em jogo é a incompetência
do aluno, o qual sofre as conseqüências de um jogo
desigual, de cartas marcadas pelo autoritarismo e
poder arcaico do saber escolar. Já não é preciso ser
muito avançado ou mesmo radical para se ensinar a
compartilhar, a complementar, a cooperar e a ser
solidário nas escolas. É urgente que as pessoas
saibam agir assim para sobreviver, sem estresses e
mais harmonicamente, nos dias de hoje, diante dos
problemas e situações inusitados que temos de
enfrentar e resolver.
É preciso ensinar, na escola, e em toda parte, que aprendemos
realmente quando reconhecemos o outro e a nós mesmos como seres
singulares, que estabelecem vínculos entre si. Desses vínculos com nossos
pares, com os objetos e demais seres é que nascem o entendimento, a
compreensão. A origem do conhecer é, certamente, o desejo de estabelecer e
de fortalecer esses vínculos que contextualizam, humanizam, criam laços entre
o objeto e o sujeito do conhecimento. Esses laços afetivos fazem o
conhecimento expandir-se, extrapolar o seu lado meramente cognitivo e
40
penetrar em regiões mais fundas e significativas - as emoções, as sensações
que surgem do aprender "com" os outros, de fazer a "quatro mãos". A quebra
dos muros e das paredes que impedem a integração do ambiente escolar com
a vida que acontece fora dele é uma tarefa que não visa demolir a escola, mas
reconstruí-la, a partir de seus alicerces e de muitas áreas que serão
preservadas, pois constituem o que é próprio da instituição, ou seja, a sua
vocação de reunir pessoas para propiciar a cada uma e a todas um tempo de
conhecimento mútuo e de auto-conhecimento, sem os quais não se aprende ou
se ensina.
As escolas para todos caracterizam-se por reconhecer e valorizar as
diferenças, a heterogeneidade das turmas e a diversidade dos processos de
construção coletiva e individual do conhecimento. Tais escolas são inclusivas,
pois não excluem os alunos, ou seja, não têm valores e medidas pré-
determinantes de desempenho escolar, considerando a pluralidade um fator
relevante para o desenvolvimento do pensamento. A autonomia social e
intelectual são objetivos das escolas para todos e norteiam a formação dos
alunos e de seus professores. Com isso os caminhos pelos quais o
conhecimento se produz, nessas escolas, não obedecem a critérios rígidos
estabelecidos e limitados pelas disciplinas curriculares, mas configuram redes
imprevisíveis de idéias que se cruzam, formando tecidos singulares, sentidos
originais. Seus professores são especializados em todos os alunos, ou seja,
suas práticas são adequadas a grupos heterogêneos de aprendizes. Para que
a educação escolar se estruture e se consolide, segundo os princípios da não
exclusão, devem ser consideradas as experiências socioculturais dos alunos,
seus saberes e práticas familiares.
Nesse novo tempo, o que se espera da escola é que seus planos se
definam por uma educação para a cidadania global, plena, livre de
preconceitos e que se dispõe a reconhecer as diferenças, a interdependência,
a complementaridade entre as pessoas. Esses planos requerem o
desenvolvimento do espírito de solidariedade, fraternidade, cooperação e de
coletividade entre as gerações mais novas. Temos de reconhecer as diferentes
culturas, a pluralidade das manifestações intelectuais, sociais, afetivas, enfim,
41
precisamos construir uma nova ética, que advém de uma consciência ao
mesmo tempo individual, social e, mais ainda, planetária. É necessário
abandonar as categorizações e as oposições excludentes entre
iguais/diferentes, e que busquemos articulação, flexibilidade, interdependência
entre as partes que se conflitavam nos nossos pensamentos, ações,
sentimentos.
MORIN (2001, p.99 ) diz que:
chegamos a um impasse, pois não se pode reformar a
instituição sem a prévia reforma das mentes, mas não
se pode reformar as mentes sem umprévia reforma
das instituições". É inegável esse bloqueio, mas é
certo também que essas reformas precisam acontecer
urgentemente, porque a "cabeça", que aprende a
fragmentar a complexidade do mundo, não conseguirá
enfrentar os problemas contemporâneos em suas
multidimensões e em suas interconexões e não dará
conta das soluções a serem criadas para os
problemas atuais.
A inclusão é um conceito que emerge da complexidade, dado que a
interação entre as diferenças humanas, o contato e o compartilhamento dessas
singularidades compõem a sua idéia matriz. A complexidade refere-se não
apenas à reforma do pensamento e da escola, mas à formação dos
professores, de modo que possam ser abertos e capazes de conceber e de
ministrar uma educação plural, democrática e transgressora, como o são as
escolas para todos.
Se a igualdade é referência, podemos inventar o que quisermos para
agrupar e rotular os alunos. Se a diferença é tomada como parâmetro, não
fixamos mais a igualdade como norma e fazemos cair toda uma hierarquia das
igualdades e diferenças que sustentam a "normalização". Esse processo, a
normalização, pelo qual a Educação Especial tem proclamado o seu poder,
42
propõe sutilmente, com base em características devidamente selecionadas
como positivas, a eleição arbitrária de uma identidade "normal", como um
padrão de hierarquização e de avaliação de alunos, de pessoas. Contrariar a
perspectiva de que a identidade "normal" é uma força homogeneizadora e
desejável na escola é, sem dúvida, uma posição radical, que temos assumido
inteiramente em nossas produções.
3.6- A Formação do Professor
Um dos grandes desafios da formação de professores é a constituição
de competências comuns aos professores da educação básica e ao mesmo
tempo o atendimento às especificidades do trabalho educativo com as
diferentes etapas da escolaridade nas quais esses professores vão atuar.
Para constituir competências comuns é preciso contemplá-las de modo
integrado, mantendo o princípio de que a formação deve ter como referência a
atuação profissional, onde a diferença se dá, principalmente, no que se refere
às particularidades das etapas em que a docência ocorre. É aí que as
especificidades se concretizam e, portanto, é ela - a docência - que deverá ser
tratada no curso de modo específico.
De acordo com BAUMEL (2003, p.27)
a formação de professores constitui preocupações
com as perspectivas da formação inicial e da formação
contínua (ou continuada, ou permanente), além de ser
objeto de discussões no campo da Educação. Desde
1988, a UNESCO, em relatório sobre serviços
educacionais, relacionou qualidade de ensino com
preparação de professores. A qualidade dos serviços
educacionais para pessoas com deficiência depende
da qualidade da formação.Esta deverá ser parte
integrante dos planos nacionais, onde se contemplam
os requisitos dessa formação...
43
Segundo GAIO (2004, p.92) a formação continuada desses profissionais
é antes de tudo uma autoformação, pois acontece no interior das escolas e a
partir do que eles estão buscando para aprimorar suas práticas. Os professores
estão continuamente se atualizando, para conhecer cada vez mais de perto os
seus alunos, em suas peculiaridades de desenvolvimento, para promover a
interação entre as disciplinas escolares, para reunir os pais, a comunidade, a
escola em que exercem suas funções, em torno de um projeto educacional que
estabeleceram juntos.
O Parecer n.17/2001 da Câmara de Educação básica do Conselho
Nacional de Educação em seu: art 18, parágrafo 1º e 2º dizem que:
§ 1º- Nas classes especiais, o professor deve desenvolver o
currículo, mediante adaptações, e, quando necessário, atividades
da vida autônoma e social no turno inverso.
§ 2º- A partir do desenvolvimento apresentado pelo aluno e das
condições para o atendimento inclusivo, a equipe pedagógica,
quanto ao seu retorno à classe comum.
Para SANCHES (apud Ribeiro 2003, p.29) “os professores
desempenharão um papel importante na formação de outros professores, o
que abre as portas à investigação, partindo das situações concretas da
interação”.
De acordo com CARVALHO (1997, p.100)
mais urgente que a especialização é a capacitação de
todos os educadores para a integração desses alunos
nas turmas de ensino regular. Mudanças de atitudes
frente à diferença, conhecimento sobre os processos
de desenvolvimento humano e sobre a aprendizagem,
sobre currículos e suas adaptações, sobre trabalhos
em grupos, são alguns dos temas que devem ser
discutidos por todos os professores.
Independentemente se egressos das chamadas
Escolas Normais de 2ºgrau, dos Institutos Superiores
44
de Educação ou das Universidades, os professores
devem ser profissionais da aprendizagem de seus
alunos.
Segundo GARCIA (apud Ribeiro 2003, p.30) alguns princípios
contemplam as discussões sobre a formação de professores. Estes princípios
são:
-Formação de professores deve ser concebida como um continuum, associada
à compreensão do desenvolvimento profissional; em outras palavras, formar
articula “uma variedade de formatos de aprendizagem”.O processo de
formação inicial e continuada é um projeto diferenciado, em fases, ao longo de
uma finalidade e um estado de desenvolvimento profissional.
-A concepção desse processo denominado formação se integra à reflexão e
compreensão clara de mudança, inovação e desenvolvimento curricular -esses
três focos, caracterizadores da melhoria da educação e do ensino, quando
objetos de consideração no planejamento e implantação de programas
formativos, transforma-se em estratégias para retomadas e reaprendizagens
pessoais e institucionais.
- A formação de professores deve ter clara a integração teoria e prática. O
paradigma atual da formação de professores, tratado a seguir neste trabalho,
considera a prática como fonte de conhecimento, ou seja, a se constituir em
uma epistemologia, fortalecida como análise e reflexão sobre apropria ação.
-Os processos de formação de professores não podem ser dissociados do
processo de desenvolvimento organizacional da escola.
-Planejar um programa para a formação de professores exige articulá-lo e
integrá-lo aos conteúdos acadêmicos e disciplinares, com relevância à
formação pedagógica dos professores.
Como afirma Alves (2003, p.46):
a preparação do professor deveria acontecer em todos
os momentos e instâncias. O MEC deveria fornecer
45
aos professores capacitação através de cursos
específicos. Antes mesmo de o profissional tentar se
especializar em alguma outra atividade ele deve se
capacitar ou mesmo se preocupar em se capacitar
para lidar com um ser especial.
MANTOAN (apud Mittler 2003, prefácio x) diz que:
a inclusão depende não somente de uma reforma do
pensamento e da escola, como também de uma
formação inicial e continuada dos professores, a qual
possa torná-lo capazes de conceber e de ministrar
uma educação plural, democrática e transgressora,
como são as escolas para todos. Precisamos de
professores que não sujeitem os alunos a saberes que
os impedem de ser, de pensar e de decidir por si
mesmos e de reconhecerem a integridade e a
plenitude do desenvolvimento desses seres, apesar de
suas diferenças. Em uma palavra, a inclusão provoca
uma crise escolar, ou melhor, uma crise de identidade
institucional, que, por sua vez, abala a identidade dos
professores e faz com que seja ressignificada a
identidade do aluno.
De acordo com MITTLER (2003, p.189) assegurar que os professores
recentemente qualificados tenham uma compreensão básica do ensino
inclusivo e de escolas inclusivas é o melhor investimento que pode ser feito a
longo prazo. Isto assenta os alicerces para uma “boa prática” sobre as quais as
gerações mais jovens poderão basear-se e oferece condições para o
surgimento de uma”massa crítica” de professores e jovens que tiveram um
pouco de compreensão e experiência da prática inclusiva.
46
Para ALVES (2003,p 60)
o educador deve ter a clara noção que, a partir do
momento que escolheu lidar com a educação
inclusiva, ele tem que ter a plena conscientização de
seu sentimento de insegurança em relação ao
conteúdo a ser trabalhado com os alunos.
Segundo CARVALHO (1998, p.32)
os professores em geral, não recebem em seus cursos
de formação de magistério, informações a respeito de
quem são os portadores de deficiência. Tão pouco se
sentem seguros no trabalho com alunos que
apresentam dificuldades de aprendizagem, sem serem
portadores de deficiência (mental, sensorial, motora ou
múltipla). Preferem encaminhá-los para as classes da
educação especial, na certeza de que fazem o melhor
por eles.
De acordo com a declaração de Salamanca 1994 (apud Ribeiro 2003,
p.142) a capacitação de professores especializados deverá ser reexaminada
com vista a lhes permitir o trabalho em diferentes contextos e desempenho de
um papel-chave nos programas relativos às necessidades educacionais
especiais. Seu núcleo comum deve ser um método geral que abranja todos os
tipos de deficiência, antes de se especializar em uma ou em várias categorias
particulares de deficiência.
Para MAZZOTTA (1993, p.40) “a força do trabalho docente pode
canalizar-se tanto para a transformação quanto para a estagnação social “e”,
na qualidade de educador por excelência no sistema escolar, o professor
constitui elemento-chave”.
De acordo com ECO (2001, p.13) “devem-se ensinar as crianças que os
seres humanos são muitos diferentes entre si e explicar-lhes em que se
47
diferenciam, para então mostrar essas que diferenças podem ser uma fonte de
enriquecimento”.
Segundo RIBEIRO (2003, p.141) a Declaração de Salamanca 1994 diz
que:
os programas de formação inicial deverão incutir em
todos os professores da educação básica uma
orientação positiva sobre a deficiência que permitia
entender o que se pode conseguir nas escolas com
serviços locais de apoio. Os conhecimentos e as
aptidões requeridos são basicamente os mesmos de
uma boa pedagogia, isto é, capacidade de avaliar as
necessidades especiais, de adaptar o conteúdo do
programa de estudos, de recorrer à ajuda da
tecnologia, de individualizar os procedimentos
pedagógicos para atender a um maior número de
aptidões... Atenção especial deverá ser dispensada à
preparação de todos os professores na adaptação dos
programas de estudos e da pedagogia, a fim de
atender às necessidades dos alunos e para que
colaborem com os especialistas e com os pais.
Para GAIO (2004, p.80)
a inclusão é uma possibilidade que se abre para o
aperfeiçoamento da educação escolar e para benefício
de alunos com ou sem deficiência. Depende, contudo,
de uma disponibilidade interna para enfrentar as
inovações e essa condição não é comum aos
professores em geral.
48
3.7- Uma análise crítica
Desde muito tempo as pessoas portadoras de alguma deficiência,
vítimas de inúmeros preconceitos, vêm sendo discriminadas; apesar dos
avanços tecnológicos e progressos da ciência. Este fato interfere na inserção
dessas pessoas junto à sociedade, no que diz respeito ao acesso à escola e ao
trabalho. Hoje, busca-se transformar essas posturas observadas através da
história das sociedades, a partir de uma educação inclusiva.
A inclusão é o resultado da soma de oportunidades bem sucedidas que
são possibilitadas a qualquer cidadão oportunizando-os o real acesso às
oportunidades e aos meios para superar os desafios que promovam o seu
desenvolvimento. É importante conhecer a origem das coisas, no caso do
próprio ideário, não para levantarmos nossos "muros de Berlim", mas para
termos uma atuação consciente que dê conta de "virar a mesa", revertendo em
favor da sociedade brasileira, da grande quantidade de pessoas portadoras de
deficiências e de tantos outros "excluídos".
Nossa legislação, desde a Constituição Federal até a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, garante a inclusão da educação especial no
ensino regular. Portanto, a matrícula compulsória de crianças portadoras de
necessidades especiais, inclusive as deficiências auditivas, visuais e mentais,
já é uma realidade em nosso País. Ocorre que como a lei demora muito a ser
cumprida e tendo em vista certos termos ali utilizados como
"preferencialmente", "sempre que possível", ainda há muito trabalho de
conscientização a ser feito. Boa parte de nossos educadores sequer sabe o
que é educação inclusiva, da obrigação legal de admitir alunos com
necessidades educacionais especiais, e o que é pior, não conhecem os
extraordinários benefícios da inclusão até para os não possuem necessidades
especiais.
As pessoas portadoras de deficiências físicas ou sensoriais encontram
dificuldades para participar da dinâmica social, na maioria das vezes em
decorrência de obstáculos para locomoção, acesso ao meio profissional, ao
lazer e aos serviços. A sociedade não está organizada para incluir pessoas que
49
apresentam necessidades especiais, limitando-as ao espaço doméstico ou de
instituição especializada, onde ficam na dependência principalmente de
cuidados familiares.
Contudo, mudar as atitudes tem a ver com questões profundas do
comportamento humano que envolve, dentre outros aspectos, o conhecimento
de si e do outro e do mundo. Devemos sair do sistema escolar exclusivo para
um sistema mais aberto e humanístico, isto é, abrir as portas das escolas para
a possibilidade de atender também os que possuem necessidades
educacionais especiais.
3.8- O currículo inclusivo na Educação Básica
A escola, a partir das características do aluno, bem assim como das
suas limitações, devem definir as opções curriculares, de forma a garantir o seu
sucesso educativo e social. As adaptações curriculares individualizadas
referem-se concretamente a um aluno e, só deverão ser adotadas, depois de
esgotados todos os outros recursos, sendo que estas deverão ser o menos
significativas possíveis; isto é, devem ser as mais próximas dos objetivos e
conteúdos regulares. A adaptação curricular deve partir da identificação do
nível de competência curricular do aluno, determinando o que ele é capaz de
fazer em termos de objetivos, em relação aos diferentes conteúdos curriculares
do seu nível de escolaridade.
Segundo FERREIRA (apud Ribeiro 2003, p.174)
o currículo a ser desenvolvido é o da Diretrizes
Curriculares Nacionais para as diferentes etapas e
modalidades da educação básica: educação infantil,
educação fundamental, ensino médio, educação de
jovens e adultos e educação profissional. As Diretrizes
Curriculares Nacionais são o conjunto de definições
50
doutrinárias sobre princípios, fundamentos e
procedimentos na Educação Básica, expressas pela
Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de
Educação, que orientarão as escolas brasileiras dos
sistemas de ensino, na organização, na articulação, no
desenvolvimento e na avaliação de suas propostas
pedagógicas.
Para a autora a escolarização formal, principalmente na educação
infantil e/ou nos anos iniciais do ensino fundamental, transforma o currículo
escolar em um processo constante de revisão e adequação. Os métodos e
técnicas, recursos educativos e organizações específicas da prática
pedagógica, por sua vez, tornam-se elementos que permeiam os conteúdos. O
currículo, em qualquer processo de escolarização, transforma-se na síntese
básica da educação. Isto nos possibilita afirmar que a busca da construção
curricular deve ser entendida como aquela garantida na LDBEN,
complementada, quando necessário, com atividades que possibilitem ao aluno
que apresenta necessidades educacionais especiais ter acesso ao ensino, à
cultura, ao exercício da cidadania e à inserção social produtiva.
Sobre o currículo FERREIRA (apud Ribeiro 2003, p.175) continua dizendo que:
o currículo deve ter uma base nacional comum,
conforme determinam os artigos 26,27 e 32 da
LDBEN, a ser suplementada ou complementada por
uma parte diversificada, exigida, inclusive, pelas
características dos alunos.As dificuldades de
aprendizagem na escola apresentam-se como um
contínuo, compreendendo desde situações mais
simples e/ou transitórias- que podem ser resolvidas
espontaneamente no curso do trabalho pedagógico-
até situações mais complexas e/ou permanentes- que
requerem o uso de recursos ou técnicas especiais
para que seja viabilizado o acesso ao currículo por
51
parte do educando. Atender a esse contínuo de
dificuldades requer respostas educativas adequadas,
que abrangem graduais e progressivas adaptações de
acesso ao currículo, bem como adaptações de seus
elementos.
Em casos muito singulares, em que o educando com graves
comprometimentos mentais e/ou múltiplos não possa beneficiar-se do currículo
da base nacional comum, deverá ser proporcionado um currículo funcional para
atender às necessidades práticas da vida.
O currículo funcional, tanto na educação infantil como nos anos iniciais
do ensino fundamental, distingue-se pelo caráter pragmático das atividades
previstas no Art. 26 da LBDEN e pelas adaptações curriculares muito
significativas.
Art. 26 - Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base
nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e
estabelecimento escolar, por
uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da
sociedade, da
cultura, da economia e da clientela.
Tanto o currículo como a avaliação devem ser funcionais, buscando
meios úteis e práticos para favorecer: o desenvolvimento das competências
sociais; o acesso ao conhecimento, à cultura e às formas de trabalho
valorizadas pela comunidade; e a inclusão do aluno na sociedade. Os
Parâmetros Curriculares Nacionais foram elaborados procurando, de um lado,
respeitar diversidades regionais, culturais, políticas existentes no país e, de
outro, considerar a necessidade de construir referências nacionais comuns ao
processo educativo em todas as regiões brasileiras. Com isso, pretende-se
criar condições, nas escolas, que permitam aos nossos jovens ter acesso ao
conjunto de conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos como
necessários ao exercício da cidadania.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais preconizam a atenção à
diversidade da comunidade escolar e baseiam-se no pressuposto de que a
52
realização de adaptações curriculares pode atender a necessidades
particulares de aprendizagem dos alunos. Consideram que a atenção à
diversidade deve se concretizar em medidas que levam em conta não só as
capacidades intelectuais e os conhecimentos dos alunos, mas, também, seus
interesses e motivações.
A atenção à diversidade está focalizada no direito de acesso à escola e
visa à melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem para todos,
irrestritamente, bem como as perspectivas de desenvolvimento e socialização.
A escola, nessa perspectiva, busca consolidar o respeito às diferenças,
conquanto não elogie a desigualdade. As diferenças vistas não como
obstáculos para o cumprimento da ação educativa, mas, podendo e
devendo ser fatores de enriquecimento.
53
CAPÍTULO IV-CONCLUSÃO
Ao longo desse estudo num primeiro momento conceituei a educação
especial e mostrei que esta precisa ser revista para que todos tomem a
consciência das necessidades sociais e educacionais que existiram e que
ainda existem na educação brasileira, por isso procurei investigar para saber
como se deu o processo histórico e evolutivo das crianças portadoras de
necessidades especiais em nossa sociedade e como se encontram as mesmas
atualmente. Tendo em vista toda essa problemática busquei num segundo
momento conceituar e saber como ocorreu processo de inclusão dessas
crianças portadoras de necessidades especiais na rede regular de ensino e
que medidas foram tomadas para sua concretização. Sabe-se que cada
criança apresenta especificidades diferentes, pois cada ser humano é único,
especialmente aqueles que possuem algumas limitações que dificultam a sua
relação com o outro, investigar como ocorre o desenvolvimento de socialização
das crianças portadoras de necessidades especiais e como esse processo está
ocorrendo atualmente no meio social e escolar. Outro ponto crucial a ser
abordado é a falta de qualificação e compromisso profissional dos educadores,
que comprometidos com o ato de educar tem a obrigação de se qualificar e
buscar ajuda para evitar o descaso e negligência para com essas crianças.
Dessa forma propus-me investigar para saber como está sendo feito o
processo de inclusão dessas crianças nas escolas regulares de ensino. Com o
intuito de saber até que ponto essas crianças são aceitas e como é feito o
processo de integração e inclusão, ou seja, como as escolas trabalham com
essas crianças, e se os professores estão preparados para lidar com essas
crianças, pois para reverter o processo educacional excludente de nossas
escolas entendo que o papel da escola deve ser revisto, de modo que a
instituição passe a se dedicar essencialmente à formação de sujeitos éticos,
políticos, justos, cooperativos e autônomos. Exigindo também, educadores
comprometidos com a ação inclusiva, educadores observadores que desejem
descobrir a existência de práticas de exclusão e buscar a inclusão como arma
de transformação, que lança novos desafios para contribuir com a construção
54
de novos conhecimentos. Para responder ao desafiador programa de uma
educação includente, faz-se necessário que os profissionais da educação
especializem-se na arte de educar também para a convivência. Percebo que o
sentido da inclusão significa ultrapassar a própria individualidade, está
relacionado com a quebra do pensar, do sentir e do agir isolado da pessoa. A
escola que priorizar no seu discurso essa prática pedagógica que qualifica as
relações humanas estará, seguramente batendo de frente com a exclusão. O
sentido da inclusão deverá ser o grande tema transversal da Educação e da
Escola neste século XXI.
Portanto é de fundamental importância ressaltar que a educação é uma
das formas de participação popular que permite ao educando com
necessidades educacionais especiais, à integração com o contexto ao qual faz
parte, ou seja, é possibilitar-lhe o crescimento. Deve-se salientar que, é
necessário e urgente fazer com que a integração evolua do discurso para ação.
Procurei num outro momento, falar sobre os impasses e perspectivas da
educação inclusiva e sobre o currículo inclusivo na educação básica. A
educação escolar que realmente deseja converter-se em democrática,
garantindo a educação como direito de todos, tem o dever de incorporar
também o educando com necessidades especiais. A existência deste grupo é
fato e a educação formal não pode destinar-se apenas a clientela idealizada.
Assim sendo, o futuro da escola inclusiva está, ao meu ver, dependendo de
uma expansão rápida dos projetos verdadeiramente imbuídos do compromisso
de transformar a escola, para se adequar aos novos tempos.
Para clarear a teoria fui fazer um estudo de campo, onde observei os
conhecimentos que adquiri com a observação em uma classe com portadores
de necessidades educacionais.
De certo que a inclusão se concilia com uma educação para todos e com
um ensino especializado no aluno, mas não se consegue implantar uma opção
de inserção tão revolucionária sem enfrentar um desafio ainda maior: o que
recai sobre o fator humano. Os recursos físicos e os meios materiais para a
efetivação de um processo escolar de qualidade cedem sua prioridade ao
desenvolvimento de novas atitudes e formas de interação, na escola, exigindo
55
mudanças no relacionamento pessoal e social e na maneira de se efetivar os
processos de ensino e aprendizagem.
O desafio enfrentado pelas escolas envolvidas com o processo inclusivo,
atualmente, é o de desenvolver uma pedagogia centralizada na criança capaz
de envolver todos os alunos nela inseridos, inclusive os alunos com
necessidades especiais.
Diante do exposto, espero que a proposta de uma escola inclusiva-
escola de qualidade para todos- desperte a atenção dos envolvidos no
processo educativo, para que possam voltar os seus olhares para a
importância da mesma, fazendo uso da Educação Especial como subsídio do
processo inclusivo. Tal fato poderá significar uma verdadeira revolução
educacional, pois além de envolver o descortinar de uma escola eficiente,
diferente, aberta, comunitária, solidária e democrática, contribuirá para superar
o limite da integração e alcançar a inclusão.
Estamos acostumados a olhar para os portadores de necessidades
especiais como alguém diferente. Alguém que não cabe no "nós" da primeira
pessoa do plural, nem no "todos" dos administradores, dos políticos, das
autoridades. É alguém que é acolhido como um gesto de benevolência, cuja
simples visão ainda nos causa receio, às vezes até medo de chegar perto por
não saber como tratar. Não é má criação, insensibilidade, mas pura falta de
informação. Enquanto a nossa visão for de simples integração da pessoa com
necessidades especiais, e não entendermos como "viver" a inclusão, a
exclusão permanecerá.
Portanto, precisamos caminhar rumo à INCLUSÃO, ainda que a nossa
legislação fale em integração. Basta uma leitura das normas em conjunto para
se perceber que a intenção, na verdade, é incluir, pois se exige ações da
sociedade visando o acolhimento desse grupo e não que portadores de
necessidades especiais venha se adaptar. Não há o que ser adaptado, pois
não se adapta o que já deve fazer parte, apenas se oferecem condições para
que não ocorra a exclusão. São essas condições, começando pela educação
inclusiva, que devemos cobrar das autoridades e de nós mesmos.
56
Para se atingir o objetivo da igualdade nos resultados da educação é
necessária uma mudança fundamental nas nossas definições de igualdade
educativa. É fundamental reconsiderarmos a forma como olhamos para as
diferenças entre alunos, o modo como consideramos os objetivos da educação
básica e secundária e o processo que adotamos na organização das escolas.
Se o sucesso escolar é reconhecido como possível para todos através de
processos eficazes de ensino, a maior tarefa que se apresenta às escolas é
criar ambientes de aprendizagem que fomentem a igualdade em relação aos
resultados de todos os alunos. O ponto de partida deveria consistir na
identificação das práticas que negam um acesso igual ao currículo e
reconhecer as práticas que facilitam esse acesso.
Estou consciente de que o desafio colocado aos professores é grande e
que parte significativa continua a não estar preparada para desenvolver
estratégias de ensino diversificado. A formação de professores neste domínio
de intervenção permanece como uma necessidade urgente, sendo necessário
ajudá-los a vencerem as suas resistências à mudança de modo a
ultrapassarem as limitações e se capacitarem para lidarem com a diferença,
abrindo assim um leque de oportunidades para os portadores de necessidades
educacionais especiais.
Termino este estudo, com a certeza de que se finda aqui apenas uma
etapa de um trabalho que deve se estender, ainda, por muito tempo.
57
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59
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS –GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
A INCLUSÃO DE CRIANÇAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS
ESPECIAIS EM ESCOLAS REGULARES: IMPASSES E PERSPECTIVAS
SANDRA CARNEIRO COUTO DE ANDRADE
Orientadora: Ms Mary Sue
BANCA EXAMINADORA
Conceito: __________________________ Conceito Final: ______________________