Capitulo 1 - perse.com.br · frequentemente encontrava um bilhete escrito: “Para meu caro Will:...

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Para Letícia Araujo, por sempre ler tudo o que escrevo, até mesmo – e principalmente – as baboseiras. E para Tainá Lopes, por acreditar em

mim e pela ligação que vem de outras vidas.

E um agradecimento especial a Yone Coutinho, minha parceira e amiga, sem a qual esta e a minha história não fariam sentido.

Para minha querida Nubia, quem leu primeiro. Para minha família, pelo apoio de sempre.

Para Tamara Lopes, pela amizade eterna e por dar a essa história seu toque especial.

E para você, por dar uma chance a nossa história.

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cidade de Santa Rosa não era mais a mesma há muito tem-po, desde que o bando do famoso ladrão Olho Azul ataca-va sem trégua.

O sargento William Wolbert estava mais aflito do que nunca. Desde que Olho Azul começou a ser procurado por todos, William demonstrava uma incrível obsessão por encontrá-lo. Talvez porque em todos os roubos, Will era quem sempre chegava por último e frequentemente encontrava um bilhete escrito: “Para meu caro Will: HÁ-HÁ-HÁ! Assinado: Olho Azul”.

Mas, ultimamente, ele estava agoniado por algo ainda pior. Após matar um homem que o havia desrespeitado, Will mal saía de casa. Talvez matar um homem fosse comum para um sargento que qui-sesse demonstrar autoridade, mas Will nunca imaginara ter matado um amigo íntimo de Olho Azul, que lhe jurou vingança.

A única coisa que todos sabiam sobre Olho Azul era que ele não agia sozinho. Só! Ninguém sabia sequer quantos eram...

Apenas Samantha, Marine, Elizabeth e Adam chamavam o afa-mado Olho Azul de Pablo, ou até mesmo de pai, já que foram qua-se todos adotados por ele (Samantha e Marine foram encontradas no orfanato. Pablo percebeu que elas tinham “talento demais para serem adotadas por pais com senso de perfeição”. Quanto a Eliza-beth e Adam, esbarraram em Pablo enquanto roubavam para so-breviver nas ruas de Santa Rosa, depois de terem fugido do casa-mento de Elizabeth).

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Samantha estava debruçada na mesa, de olhos fechados, ouvindo

uma música calma e hipnotizante que saía de uma caixa de madeira fina. Aquela era a única coisa que havia restado de sua mãe.

– Anda, garota! Não temos tempo para comer vento! – gritou Olho Azul, batendo na mesa.

Sam despertou num pulo. Fechou a caixinha e foi para o cômodo junto às outras para se arrumar.

As mulheres se vestiam de homem enquanto Olho Azul observa-va o lado de fora através de um pequeno buraco na parede. Marine ajeitava a gola das vestes e o cinto. Samantha ajeitava seus cabelos dentro da peruca com dificuldade, pois eles eram muito longos. Elizabeth a ajudou, já que estava praticamente pronta.

O bando estava em seu esconderijo secreto, que era quase todo abaixo do solo. Era repleto de lamparinas pela falta de janelas; feito de pedras e cheio de armadilhas - era uma torre de menagem para os ladrões.

– Estamos prontas! – anunciou Elizabeth ajustando seu bigode. Olho Azul riu. – Que belos rapazes vocês ficaram, não? Só Elizabeth não riu junto. Marine usava um chapéu que escondia quase todo seu cabelo, as-

sim como Samantha que usava uma peruca com sua boina favorita. Já Elizabeth apenas acrescentou o bigode já que seus cabelos loiros eram curtos.

– Já treinamos as vozes, Pablo! – disse Marine. – Ótimo! – ele disse, levantando-se da cadeira – E onde está

Adam? – Aqui! – respondeu Adam sorridente – Ah, pena que essa peruca

esconde seus cabelos ruivos, Sam! Sam sorriu em retribuição ao elogio. – Chega de conversa! – exclamou Olho Azul – Vozes? As “mulheres” responderam com voz grave: – Certo! – Cabelos? – Certo! – Então vamos! E não se esqueçam... O nosso alvo é apenas a

Guinevere, mas caso não seja possível... – Olho Azul respirou fun-do – Façam o que precisarem.

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Todos acenaram com a cabeça. Lá estavam eles, indo em direção ao esconderijo do Sargento Wil-

liam Wolbert que, por incrível que pareça, não era longe do deles. Olho Azul seguia à frente dos outros e foi quem bateu à porta. A porta se abriu e William, que parecia apavorado, surgiu. Depois

de analisar rapidamente os visitantes, ele disse com urgência: – Entrem! Entrem rápido! William fechou a porta e os encaminhou até a sala. – Mal sabem como tenho me precavido... – disse ele – Bem, claro

que para ter as devidas precauções eu preciso ter as armadilhas certas para capturar esse ladrão imprestável, antes que ele ataque novamente!

Os cinco ladrões se seguraram para não rir. – Claro, meu caro Will! É por isso que viemos! Do que precisa?

Bombas, armas? – perguntou Olho Azul, parecendo muito à vonta-de.

– Tudo o que vocês puderem dispor a mim! – respondeu William. – Bom... Meus ajudantes vão dar uma olhada na casa, só para ter

certeza do que é possível colocar aqui. Se permitir, é claro! – disse Olho Azul.

Por mais formal que fosse aquela conversa, a vontade dos ladrões era de dar altas gargalhadas. Ainda que William estivesse atrás de Olho Azul, nunca havia visto ele de perto, a não ser pelos retratos falados. Por baixo de uma peruca branca e de um tampão, Olho Azul estava rindo cinicamente.

– Mas é claro, senhor... Senhor...? – perguntou William. – Ah, desculpe... Não posso revelar meu nome. Sigilo de seguran-

ça! – Entendo... Minhas filhas irão acompanhar os rapazes! Marine e Sam engoliram em seco. Desde que haviam colocado os

pés na pequena cabana, notaram os olhares interesseiros das três filhas de Wolbert.

Olho Azul virou-se para Marine e Samantha, olhando em seus olhos como se quisesse dizer “Andem! O que estão esperando?!”. Enquanto isso, Elizabeth e Adam permaneciam imóveis como fiéis guardas, junto a Olho Azul. Sam e Marine acompanharam as três belas filhas do Sargento até a pequena cozinha.

– Água, meu senhor? – perguntou uma, a mais alta e de pele mui-to rosada, oferecendo um copo d’água a Marine.

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– Ãhn... Ora, por favor! – respondeu Marine, forçando um sorri-so, ainda incomodada pelo encarar inquietante da outra filha do sargento.

Sam estava com o olhar perdido, analisando a pequena cabana em que se encontrava. Quando olhou para a porta, que dava para o lado de fora, levou um susto.

Um belo rapaz estava encostado no vão da porta, com um copo nas mãos, admirando as árvores ao longe. Aquele era Patrick Gren-nan, sobrinho de William Wolbert, por quem Samantha era perdi-damente apaixonada.

De repente, Marine deu um empurrão em Samantha. – Oh! Bem... – falou Samantha, engrossando a voz – Podem me

mostrar onde ficam os barris de vinho? – Claro! – disse a outra filha do sargento – Mas presumo que ago-

ra não seja a hora, meu senhor. Temos vinho aqui! Gostaria de prová-lo?

– Ãhn? – Samantha disse depois de finalmente tirar os olhos de Patrick – Bem... Sim, sim! Perdoe-me, mas o nome da senhorita seria...?

– Guinevere. Guinevere Wolbert. – respondeu a moça fazendo uma reverência.

Samantha e Marine se entreolharam. – Hum! Belíssimo nome, senhorita! – disse Sam, sorrindo e retri-

buindo a reverência. Guinevere se aproximou e sorriu. Samantha engoliu em seco e tentou se afastar, mas ficou tensa.

Guinevere podia desconfiar caso Sam a rejeitasse com algum gesto. Ela era uma bela jovem, provavelmente todos os homens a corteja-vam.

Marine quis fazer alguma coisa, mas não se sentia confortável para sequer se mexer graças aos olhares inquietantes das outras moças.

Olho Azul apareceu de repente na cozinha e se sentou sem ceri-mônias em uma das cadeiras.

Todas miraram os olhos nele. – Minha cara Guinevere, eu presumo? – perguntou ele, não para

Guinevere, mas para Samantha que acenou positivamente em res-posta – Poderia se sentar? – pediu ele.

– Claro, senhor! – mesmo confusa, a moça atendeu ao pedido com benevolência.

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Guinevere sentou-se na cadeira à frente de Olho Azul. – Sabe quem sou? – perguntou ele incisivo. – Um comerciante de armas, eu suponho. – Não... Olho Azul levantou levemente seu tampão do olho esquerdo. Sam soltou um resmungo, desviando o olhar. – OH, CÉUS! – exclamou Guinevere dando um pulo da cadeira –

É O OLHO AZUL! Todas fizeram caretas. As filhas de Wolbert olhavam com nojo e

medo. Marine quase vomitou. E Olho Azul sorria. – Você! Você sabia de tudo! – Guinevere esbravejava para Sam. – Não! Não, eu... – Impostor! – proferiu Guinevere, jogando o copo no chão –

PAPAI! – Guinevere, venha comigo! – pediu Sam, segurando-a pelo bra-

ço. – O quê?! Não! – Eles me enganaram também! Venha! Eu vou te levar para um

lugar seguro! Samantha puxou Guinevere pelo braço e saiu correndo, esbarran-

do sem querer em Patrick. – Eu preciso avisar o papai! – Guinevere gritou desesperada en-

quanto corriam. – Não se preocupe, suas irmãs o avisarão! – Sam respondeu. – Para onde estamos indo?! – perguntou ela aos prantos. – Para um lugar seguro! Eu prometo! Sam e Guinevere corriam pela rua de pedra, indo em direção ao

esconderijo do bando. Na rua não havia muitas pessoas e somente uma carroça passava. Sam olhou para trás e viu vários guardas cor-rendo em direção a elas.

– Vá até lá, e NÃO SAIA! – gritou Sam, apontando para uma casa em ruínas que ficava exatamente acima do esconderijo.

Guinevere balançou a cabeça positivamente e entrou na casa. Sa-mantha olhou para trás e viu Elizabeth, Marine e Adam correndo em direção a ela. Olhou mais à sua direita e viu Olho Azul. Virou para olhar para a cabana e de repente...

Uma grande explosão! Sam fechou os olhos e, antes que perce-besse, estava sendo arrastada por Elizabeth para detrás das ruínas.