Carta aos diretores de escola

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GREVE É UM DIREITO DO PROFESSOR E SUBSTITUIR SUAS AULAS DEVERIA SER CRIME DE ALTA TRAIÇÃO DIRETOR DE ESCOLA: NÃO ESQUEÇA QUE VOCÊ JÁ ESTEVE EM SALA-DE-AULA (E QUE MUITOS PODEM VOLTAR) por APEOESP – Vale do Ribeira 21/04/2013 Primeiro: uma salva de palmas aos diretores que não pressionam professores, muito menos substituem os grevistas, pois estes não esquecem e nunca esquecerão que foram professores! Durante a surpreendente assembleia dos professores e a histórica marcha que se sucedeu no último dia 19 de abril, somando servidores da saúde e alunos na luta por serviços públicos de qualidade, encontramos alguns diretores de escola. Sim, diretores de escola. Não, isto não é surpreendente, isto é coerência com a sua história. Existem diretores que ainda fazem jus ao título de professor, de educador. Ainda conhecemos alguns assim. Teve ainda um diretor que, certamente não esquecendo do seu passado, estava junto com os professores de sua escola na manifestação, demonstrando apoio e dando retaguarda ao dizer que “não prejudicará professores grevistas”. Sabemos que muitos diretores, também, conversam com os seus professores e propõe fechamento de escolas, juntamente com uma campanha junto aos pais, para conscientizar da importância do movimento. Como dizia uma das faixas, ontem: “a aula hoje é na rua”. Mas esta postura digna e coerente de um diretor, apesar de óbvia, não é comum. Infelizmente, é comum na carreira de um servidor público, ao galgar postos na hierarquia administrativa, esquecer os momentos e as reivindicações da época em que não tinha cargos de direção. Na escola não é diferente. Em poucos anos, vemos colegas de trabalho questionando o modus operandi do estado, mas posteriormente criticando as mesmas motivações que mobilizam a classe dos professores. Durante uma greve, estas contradições ficam mais evidentes. Especialmente num momento em que o salário de professor e de diretor cada vez mais se distanciam um do outro, este é a oportunidade em que veremos se o discurso a prática coadunam. Sofrer pressão num cargo público é corriqueiro, e diretores sofrem esta pressão dos dirigentes; entretanto sucumbir à pressão com medo de perdas, é covardia. Pior ainda quando, de forma desnecessária, diretores ameaçam professores grevistas e, praticamente, obrigam seus colegas de trabalho a substituí-los. Segundo o artigo 8º. da Constituição Federal, inciso III, “ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas”. A Lei 7783/89 que dispõe sobre o direito de greve, no artigo 6º., inciso I, “são assegurados aos grevistas, dentre outros direitos o emprego de meios pacíficos tendentes a persuadir ou aliciar os trabalhadores a aderirem à greve”. Desta forma, com uma greve aprovada em Assembléia Estadual, temos uma greve que é legal e constitucional. Não estamos na ilegalidade!

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Page 1: Carta aos diretores de escola

GREVE É UM DIREITO DO PROFESSOR E SUBSTITUIR SUAS AULAS DEVERIA SER CRIME DE ALTA TRAIÇÃO DIRETOR DE ESCOLA: NÃO ESQUEÇA QUE VOCÊ JÁ ESTEVE EM SALA-DE-AULA (E QUE MUITOS PODEM VOLTAR)

por APEOESP – Vale do Ribeira 21/04/2013

Primeiro: uma salva de palmas aos diretores que não pressionam professores, muito menos substituem os grevistas, pois estes não esquecem e nunca esquecerão que foram professores!

Durante a surpreendente assembleia dos professores e a histórica marcha que se sucedeu no

último dia 19 de abril, somando servidores da saúde e alunos na luta por serviços públicos de qualidade,

encontramos alguns diretores de escola. Sim, diretores de escola. Não, isto não é surpreendente, isto é

coerência com a sua história. Existem diretores que ainda fazem jus ao título de professor, de educador.

Ainda conhecemos alguns assim.

Teve ainda um diretor que, certamente não esquecendo do seu passado, estava junto com os

professores de sua escola na manifestação, demonstrando apoio e dando retaguarda ao dizer que “não

prejudicará professores grevistas”. Sabemos que muitos diretores, também, conversam com os seus

professores e propõe fechamento de escolas, juntamente com uma campanha junto aos pais, para

conscientizar da importância do movimento. Como dizia uma das faixas, ontem: “a aula hoje é na rua”.

Mas esta postura digna e coerente de um diretor, apesar de óbvia, não é comum. Infelizmente, é

comum na carreira de um servidor público, ao galgar postos na hierarquia administrativa, esquecer os

momentos e as reivindicações da época em que não tinha cargos de direção. Na escola não é diferente. Em

poucos anos, vemos colegas de trabalho questionando o modus operandi do estado, mas posteriormente

criticando as mesmas motivações que mobilizam a classe dos professores.

Durante uma greve, estas contradições ficam mais evidentes. Especialmente num momento em que

o salário de professor e de diretor cada vez mais se distanciam um do outro, este é a oportunidade em que

veremos se o discurso a prática coadunam. Sofrer pressão num cargo público é corriqueiro, e diretores

sofrem esta pressão dos dirigentes; entretanto sucumbir à pressão com medo de perdas, é covardia. Pior

ainda quando, de forma desnecessária, diretores ameaçam professores grevistas e, praticamente, obrigam

seus colegas de trabalho a substituí-los.

Segundo o artigo 8º. da Constituição Federal, inciso III, “ao sindicato cabe a defesa dos direitos e

interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas”. A Lei

7783/89 que dispõe sobre o direito de greve, no artigo 6º., inciso I, “são assegurados aos grevistas, dentre

outros direitos o emprego de meios pacíficos tendentes a persuadir ou aliciar os trabalhadores a aderirem

à greve”. Desta forma, com uma greve aprovada em Assembléia Estadual, temos uma greve que é legal e

constitucional. Não estamos na ilegalidade!

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Ilegal é aquele que quer impedir que lutemos por melhores condições de trabalho. Ilegal é aquele

que aceita uma categoria de professores, quase sem direitos, que contraria convenções internacionais do

trabalho. Ilegal é aquele que não defende os aposentados e concorda que muitos voltem para a sala-de-

aula. Ilegal é aquele que acha que um professor, com toda carga de trabalho e pressão sofrida, tem direito

a ficar doente somente 6 dias no ano. Ilegal é aquele que quer entregar a saúde do servidor a uma

empresa de serviços. Ilegal é não garantir a segurança de professores e alunos. Ilegal é deixar salas-de-aula

com mais de 35 alunos. O que pedimos, não é somente a legalidade, é o direito de viver bem e produzir

muito, para que possamos transformar esta sociedade. Mas não é isto que o governo quer.

Sabemos que todos os avanços que tivemos nos serviços públicos, especialmente na educação,

foram às custas de muita luta, de muita gente na rua e de greves. Sim, reconhecemos que a greve sempre

é sofrida, é um sacrifício, porém se não fossem elas, certamente as nossas condições de trabalho estariam

infinitamente piores do que estão hoje. Apesar de difícil, ela se faz necessária em alguns momentos em

que o governo não dialoga e mais do que isto: GREVE É UM DIREITO. E por mais que reclamem, ainda não

inventaram nada melhor para pressionar os governos e os patrões. Mais informações no APEOESP

URGENTE 16: http://www.apeoesp.org.br/publicacoes/apeoesp-urgente/n-16-orientacoes-juridicas-sobre-o-

direito-constitucional-de-greve-e-acoes-de-bonus-aos-aposentados/

Uma situação delicada que acontece em toda a greve, é a falta de solidariedade entre colegas

professores e funcionários. Sabemos que, se a greve é um direito, nossas aulas não podem ser substituídas

por ninguém, o que pode descaracterizar a greve. Ora, se o objetivo da greve é cruzar os braços para que a

sociedade sinta a importância de nossa profissão, ao substituir os professores grevistas, os diretores estão

boicotando o movimento. E os professores que substituem também. Neste sentido, pedimos o apoio de

diretores, professores, alunos e funcionários, para evitar que sejamos substituídos na greve.

Como disse Paulo Freire, “seria uma atitude muito ingênua esperar que as classes dominantes

desenvolvessem uma forma de educação que permitisse às classes dominadas perceberem as injustiças

sociais de forma crítica”.

Diretor não esqueça que você esteve em sala-de-aula! Não traia os professores! Não aceite

migalhas financeiras e ameaças para prejudicar os seus docentes! Não venda suas convicções!

Ao contrário do que muitos pensam não somos contra diretores, somos contra a postura, cada vez

mais crescente, de diretores que oprimem professores.

Professores do Vale do Ribeira, uni-vos!