Carta do morador: Sr. Américo

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Carta do sr. Américo para a SABABV Anos atrás trabalhei para um Banco aqui em São Paulo e este, apesar do meu terror de viajar de avião, me obrigava a constantes idas e vindas ao Rio de Janeiro. Isso na década de 1970, quando eu observava com tristeza pela janela do avião, como São Paulo estava “pelado”. Eram imensos espaços abertos, sem árvores e com a terra exposta, sem deixar qualquer esperança de um futuro melhor para nossa visão e também pulmões. Hoje e já faz algum tempo, São Paulo está coberto de árvores. Frondosas e numa variedade incrível. Inimaginável há quarenta anos atrás. Não acredito que tenham sido leis rigorosas que obrigaram a nós paulistanos replantarmos o que tinha sido devastado há quatro décadas, por conta de um grande crescimento populacional. O que ocorreu foi uma conscientização espontânea das pessoas que aqui vivem, que fizeram seu lar e criaram seus filhos. São italianos, portugueses, japoneses, espanhóis e também nordestinos que aqui se radicaram. O que era naturalmente realizado em termos de replantio, hoje tem a mão de ferro do governo. Têm leis, regulamentos, condições e não sei mais o quê, que baliza nosso comportamento naturalmente preservativo. A interferência de órgãos, ditos de preservação do meio ambiente, não levam em conta que quando uma pessoa procura em seu terreno uma melhor disposição para instalar a sua casa, e para tanto precisa retirar uma árvore, certamente essa derrubada será compensada, não com uma, mas com dezenas de outras mudas. Serão plantas mais jovens, que sombrearão por muito mais tempo o local. Com frutos que atrairão pássaros e flores que tornarão o espaço muito mais agradável. Moro no Alto da Boa Vista há 35 anos. Quando construí minha casa havia no terreno um eucalipto, um pinheiro e uma outra árvore – bem antiga e desconhecida por mim. O resto era mato. Limpei o terreno e com autorização da Prefeitura retirei as árvores sem qualquer problema – naquele tempo era bem mais simples.

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Carta do sr. Américo a respeito da política de corte e poda de árvores

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Carta do sr. Américo para a SABABV 

Anos atrás trabalhei para um Banco aqui em São Paulo e este, apesar do meu terror de viajar de 

avião, me obrigava a constantes idas e vindas ao Rio de Janeiro. Isso na década de 1970, quando 

eu observava com tristeza pela janela do avião, como São Paulo estava “pelado”. 

Eram imensos espaços abertos, sem árvores e com a terra exposta, sem deixar qualquer esperança 

de um futuro melhor para nossa visão e também pulmões. 

Hoje e já faz algum tempo, São Paulo está coberto de árvores. Frondosas e numa variedade 

incrível. Inimaginável há quarenta anos atrás. 

Não acredito que tenham sido leis rigorosas que obrigaram a nós paulistanos replantarmos o que 

tinha sido devastado há quatro décadas, por conta de um grande crescimento populacional. 

O que ocorreu foi uma conscientização espontânea das pessoas que aqui vivem, que fizeram seu 

lar e criaram seus filhos. São italianos, portugueses, japoneses, espanhóis e também nordestinos 

que aqui se radicaram. 

O que era naturalmente realizado em termos de replantio, hoje tem a mão de ferro do governo. 

Têm leis, regulamentos, condições e não sei mais o quê, que baliza nosso comportamento 

naturalmente preservativo. 

A interferência de órgãos, ditos de preservação do meio ambiente, não levam em conta que 

quando uma pessoa procura em seu terreno uma melhor disposição para instalar a sua casa, e 

para tanto precisa retirar uma árvore, certamente essa derrubada será compensada, não com 

uma, mas com dezenas de outras mudas.  

Serão plantas mais jovens, que sombrearão por muito mais tempo o local. Com frutos que atrairão 

pássaros e flores que tornarão o espaço muito mais agradável. 

Moro no Alto da Boa Vista há 35 anos. Quando construí minha casa havia no terreno um eucalipto, 

um pinheiro e uma outra árvore – bem antiga e desconhecida por mim. O resto era mato. 

Limpei o terreno e com autorização da Prefeitura retirei as árvores sem qualquer problema – 

naquele tempo era bem mais simples. 

Fui morar na casa nova e em seguida plantei na rua, com a supervisão de um projeto que havia na 

época, chamado “adote” e com sede no parque Manequinho Lopes, 80 árvores jovens, que hoje 

são o encanto do bairro. 

No terreno em que construí minha casa, tem hoje três parreiras de uvas que carregam todo ano e 

que se eu não cubro uma delas com um tule de naylon, os pássaros comem tudo. 

Tenho um pé de romã, dois de pitanga, um de caqui, um de gabiroba, duas jabuticabeiras e uma 

goiabeira, cujos frutos são a delícia dos sanhaços, bem‐te‐vis, sabiás, trinca‐ferros, saíras e outros 

tantos que andam por lá. 

Tudo isso em menos de 500 m2, para as reclamações constantes da minha mulher que vive se 

queixando das folhas que sujam nosso quintal. 

Atrás da minha casa, num espaço de quase 100 mil metros quadrados, foi feito um condomínio, 

dividido em lotes de mais ou menos mil metros quadrados cada e que seria a maravilha do bairro. 

Seria, pois foi interditado. E isso após 12 anos de luta que seu proprietário teve de enfrentar com 

as leis muito mal elaboradas dos governos que se sucederam nesse período. 

A área já está toda dividida e infelizmente praticamente abandonada a espera de uma justiça que 

não anda e de julgamentos mal orientados por xiitas da natureza que jamais plantaram um pé de 

alface. 

Conheço o proprietário desse empreendimento. Um homem sério, ligado às artes e com forte 

apego à natureza; em especial às plantas. 

O jardim da sua casa é certamente um dos mais belos de São Paulo, num espaço de 12 mil metros 

quadrados. 

Nesses anos que se sucederam, sonhava com esse condomínio dividido entre moradores, que ao 

invés de terem em seu espaço um pé de eucalipto ou um pinheiro, teriam sakuras, ipês, cedros e 

tantas outras espécies que substituiriam as já centenárias e quase apodrecidas árvores do 

loteamento. 

Seria muito mais interessante, para uma cidade tão dinâmica como a nossa, ter pessoas mais 

afinadas com o meio ambiente e dotadas de um julgamento mais sereno, com bom senso na 

elaboração de seus relatórios, ao invés de, na letra da lei, emperrarem empreendimentos 

maravilhosos, bem elaborados,com visão de sustentabilidade e adequadas ao bairro em que 

vivemos. 

Tenho esperança que esse “movimento” em prol da ecologia seja com o tempo substituído por 

profissionais competentes, reais conhecedores não só da estrutura botânica da nossa região, mas 

de suas possibilidades de sustentação pela população ali residente. Como disse acima, tenho 

convicção que se deixarem por conta dos moradores do nosso bairro, teremos em poucos anos 

nesse espaço da nossa cidade, um dos mais belos do país.