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CARTOGRAFIA PARTICIPATIVA: GRAFANDO O
TERRITÓRIO ATRAVÉS DO CONHECIMENTO SOCIAL E
COLETIVO
Marina Gama Diotto (a)
, Franciele Caroline Guerra (b) Andréia Medinilha Pancher (c)
(a)Departamento de Geografia – UNESP – Rio Claro, [email protected].
(b Departamento de Geografia – UNESP – Rio Claro, [email protected].
(c) Departamento de Geografia – UNESP – Rio Claro, [email protected].
Eixo: Unidades de Conservação: usos, riscos, gestão e adaptação às mudanças
globais.
Resumo
Este trabalho tem como objetivo apresentar algumas discussões teóricas sobre a Cartografia
Participativa, a paisagem e o território, relacionando-os com a identidade que determinada comunidade
cria no território que ocupa. Para Acselrad e Coli (2008) as experiências de mapeamento participativo
surgiram na década de 1970. A Geografia Humanista aborda os estudos da paisagem a partir das
relações estabelecidas pelos grupos sociais com o lugar. A concepção teórica deste estudo é o método
participativo, apoiado na Geografia Humanista, que considera à relevância das experiências vividas,
onde o estudo acontece a partir da percepção do sujeito. Ao final, discute-se como o mapeamento
participativo da Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade, localizada em Rio Claro/SP, poderá
servir como ferramenta para a tomada de decisões que promovam sua proteção, buscando propor um
gerenciamento mais eficaz e sustentável da mesma.
Palavras chave: Cartografia social; Paisagem; Identidade; Território.
1. Introdução
Para contextualizar a temática deste artigo, apresentam-se as concepções teóricas
acerca da cartografia social, além dos conceitos de paisagem, território e identidade.
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1.1 Cartografia Social
Desde o princípio o ser humano teve a necessidade de grafar o espaço vivido, através
de pinturas rupestres, desenhos em rochas ou madeiras, entre muitas outras formas de
demarcar seu lugar. Inúmeros foram os modos de demarcar seu território, representando as
diferentes formas de entendimento de mundo. Com o desenvolvimento da Cartografia, essas
demarcações se tornaram cada vez mais precisas, sendo utilizadas em diversas atividades,
como na agricultura e na delimitação de territórios.
Com a intenção de incluir as populações locais nos processos de elaboração de mapas,
surge a proposta de mapeamento participativo, sendo que alguns registros marcam meados
das décadas de 1950 e 1960. Para Chapin, Lamb e Threlkeld (2005), os primeiros registros
desse tipo de mapeamento surgiram entre comunidades tradicionais no Alasca e no Canadá,
servindo como um instrumento de luta para que os nativos e indígenas canadenses pudessem
proteger suas terras, tendo importante papel na negociação de seus direitos. Essa nova
metodologia de mapeamento representava uma mudança na forma como a cartografia era
realizada e utilizada.
Acselrad e Coli (2008) apontam para experiências de mapeamento participativo com o
uso de um Sistema Participativo de Informações Geográficas (SPIG) no Canadá. Os autores
afirmam que o primeiro estudo sistemático reconhecido como uma forma de SPIG foi o Inuit
Land Use and Occupancy Project (Projeto de Uso e Ocupação de Terras pelos Esquimós). Tal
projeto resultou em mais de duzentos mapas de atividades sazonais de subsistência.
A cartografia social ficou conhecida no Brasil através do Projeto Nova Cartografia
Social da Amazônia organizado pelo professor Alfredo Wagner B. de Almeida, na década de
1990. O material produzido tinha o intuito de criar mapas que servissem de ferramentas para
esses povos defenderem seus territórios. Através do conhecimento social e coletivo, foi
possível a elaboração de politicas fundiárias e ambientais, discutindo legislações, elaboração
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de planos de uso, de manejo e de gestão territorial, e a criação de Reservas Extrativistas
(GORAYEB, MEIRELLES, 2014).
De acordo com Acselrad e Coli (2008, p.38) o mapeamento “que se quer participativo
entende ligar os atores e o território, construir o território com os atores e mobilizar estes
atores através do território sob a hipótese de que nessa relação uns e outros se transformam”.
Essa metodologia de mapeamento possibilita que diversas informações não
documentadas sejam relatadas pelos participantes, visto que a mesma é realizada a partir do
conhecimento e percepção de cada indivíduo. Gorayeb (2014) afirma que o mapeamento
participativo é uma representação do espaço realizada por grupos e organizações que ocupam
tal território. Esses grupos adaptam seus mapas de acordo com suas necessidades e objetivos,
podendo servir, por exemplo, como instrumento de luta para posse legal da terra e melhorias
habitacionais. Através da cartografia social, esses grupos retratam as formas como vivem e
trabalham seus espaços simbólicos e afetivos.
A Cartografia Social constitui-se como um ramo da ciência cartográfica que permite
trabalhar de forma crítica e participativa, com a demarcação e a caracterização espacial de
territórios em disputa, de grande interesse socioambiental, econômico e cultural, com vínculos
ancestrais e simbólicos (GORAYEB; MEIRELES, 2014).
1.2 Paisagem, território e identidade
A discussão do conceito de paisagem na Geografia é algo antigo, que
tradicionalmente, separava a paisagem natural (solo, vegetação e rios) da cultural (paisagem
humanizada, espaços transformados pelo ser humano). Considerando que as relações humanas
e o meio natural são indissociáveis, algumas vertentes da Geografia trabalham com ambas as
ideias. Bertrand (2004) aborda a paisagem como algo homogêneo, sem distinção entre o
natural e o cultural, entendendo que sociedade e natureza estão intrinsecamente articuladas. O
autor afirma que,
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A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados. É uma
determinada porção do espaço, resultado da combinação dinâmica, portanto instável,
de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre
os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua
evolução”. (BERTRAND, 2004, p.141).
Conti (2001) afirma que “a Geografia tem por objeto próprio a compreensão do
processo interativo entre sociedade e natureza, produzindo, como resultado, um sistema de
relações e de arranjos espaciais que se expressam por unidades paisagísticas identificáveis”, e
ainda, que “a Geografia não dissocia os aspectos culturais dos naturais, e nisso reside sua
singularidade”.
Schier (2003) aborda um breve histórico do conceito de paisagem na Geografia:
A geografia alemã, por exemplo, introduziu o conceito da paisagem como categoria
científica e a compreendeu até os anos 1940 como um conjunto de fatores naturais e
humanos (Otto Schlüter, Siegfried Passarge e Karl Hettner). Os autores franceses,
sob influência de Paul Vidal de la Blache e Jean Rochefort, caracterizaram a
paysage (ou o pays) como o relacionamento do homem com o seu espaço físico. A
revolução quantitativa, iniciada nos anos 40 nos Estados Unidos, substituiu o termo
landscape, que estava, até então, em uso nesse país sob influência da geografia
alemã (Carl Sauer), pela ideia da “região” (Richard Hartshorne), sendo esta um
conjunto de variáveis abstratas deduzidas da realidade da paisagem e da ação
humana. Paralelamente, surgiu na Alemanha e no Leste europeu uma ideia mais
holística e sinérgica da Landschaft, denominada Landschaftskomplex (Paul
Schmithüsen), que definiu as unidades da paisagem pelo conjunto dos seus
processos ecológicos. Esta ideia se encontra, entre outros, também na
Landschaftsökologie (ecologia da paisagem), como foi proposta por Carl Troll e
mais tarde por Hartmut Leser. A Human ecology, de cunho norte-americano, definiu
igualmente a paisagem como um sistema ecológico. (SCHIER, 2003, p. 80).
Na Geografía Cultural, “el paisaje puede interpretarse como un producto social, como
el resultado de una transformación colectiva de la naturaliza y como la proyección cultural de
una sociedad en un espacio determinado” (NOGUÉ, 2007, p. 11). A partir dessa afirmação,
entende-se que a sociedade transforma a paisagem natural em paisagem cultural a partir das
relações estabelecidas, podendo ser reflexo dos sentimentos e valores atribuídos a paisagem,
como também o reflexo do poder, sendo uma “herramienta para estabelecer, manipular y
legitimar las relaciones sociales y de poder” (NOGUÉ, 2007, p. 12).
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A paisagem cultural depende da percepção das pessoas, da maneira como cada grupo
compreende e concebe seu lugar sendo, portanto, um resultado das ações humanas coletivas,
onde os grupos marcam sua identidade, tornando as dinâmicas humanas um dos principais
fatores na sua transformação.
Nas discussões acerca do conceito de território, Bonnemaison (2002, p.102) afirma que
a ideia de cultura não pode ser separada da ideia de território, pois “é pela existência de uma
cultura que se cria um território e é por ele que se fortalece e se exprime a relação simbólica
existente entre a cultura e o espaço”. O autor ainda destaca outros elementos para discutir o
conceito de território:
Um território é, sobretudo um conjunto de lugares hierarquizados, conectados a uma
rede de itinerários. [...] No interior desse espaço-território, os grupos e etnias vivem
certa relação entre o enraizamento e as viagens; essa relação, estabelecida a partir de
uma dosagem de duas noções contrárias, é evidentemente bastante variável de
acordo com os estatutos sociais, os gêneros de vida, as épocas e os tipos de
sociedade. A territorialidade se situa na junção dessas duas atitudes; ela engloba
simultaneamente aquilo que é fixação e aquilo que é mobilidade – dito de outra
maneira, os itinerários e os lugares. (BONNEMAISON, 2002, p.99).
Entende-se então, que o território não se constitui por fronteiras, mas sim pela relação
social e cultural que determinado grupo estabelece com o lugar. Bonnemaison (2002) também
considera o território como um sistema e um símbolo. O primeiro, “porque ele se organiza e
se hierarquiza para responder às necessidades e funções assumidas pelo grupo que o
constitui”, e o segundo, “porque ele se forma em torno de polos geográficos representantes
dos valores políticos e religiosos que comandam sua visão de mundo” (BONNEMAISON,
2002, p.106).
O território, constituído tanto por relações de poder (politicas e econômicas) como
também por relações sociais e culturais, é compreendido a partir das relações que um grupo
mantem com o lugar habitado. Portanto, paisagem, território e identidade são elementos-
chave que permitem identificar a dinâmica de um grupo social, pois seus sentimentos e
valores são refletidos na paisagem assim como a expressão de seu comportamento.
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2. Objetivos
O presente artigo tem por finalidade apresentar uma discussão entre a Cartografia
Social, a paisagem e o território, buscando expor como o mapeamento participativo pode ser
uma ferramenta para a proteção do território de determinada comunidade, além de ter
importante papel na conservação de áreas protegidas. Desse modo, a Floresta Estadual
Edmundo Navarro de Andrade (FEENA), determinada pelo DECRETO nº 46.819, de 11 de
junho de 2002, localizada no município de Rio Claro/SP, apresenta grande potencial para
realizar o mapeamento participativo, onde será possível associar os conceitos aqui debatidos
com a identidade que uma comunidade cria no território onde vive. Para tanto, os objetivos
específicos deste artigo são:
a) Contextualizar a aplicação da Cartografia Social a partir dos referenciais bibliográficos;
b) Discutir como o mapeamento participativo pode contribuir no resgate histórico do uso e
ocupação de determinado território, abordando a importância das comunidades para a
conservação do legado histórico, cultural e ambiental.
3. Método de Análise
A metodologia deste trabalho emprega como concepção teórica o método
Participativo, tendo como base a relevância das experiências vividas, onde o estudo acontece
a partir da percepção do sujeito. A Cartografia Participativa apoiada na Geografia Humanista
se baseia nos valores e sentimentos, preocupando-se com as experiências do cotidiano,
visando analisar as diferentes territorialidades do espaço geográfico com base no
conhecimento do sujeito participante. No que diz respeito aos procedimentos, a
contextualização foi argumentada com base na revisão bibliográfica, por meio de livros,
periódicos, anais de eventos e relatórios governamentais.
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Para Rocha (2007), a Geografia Humanística é definida por bases teóricas nas quais
são ressaltadas e valorizadas as experiências, os sentimentos, a intuição, a intersubjetividade e
a compreensão das pessoas sobre o meio ambiente que habitam, buscando compreender e
valorizar esses aspectos.
Tuan (1982, p. 143), afirma que “a Geografia Humanista procura um entendimento do
mundo humano através do estudo das relações das pessoas com a natureza, do seu
comportamento geográfico, bem como dos seus sentimentos e ideias a respeito do espaço e do
lugar”. A partir dessa afirmação, e compreendendo que o mapeamento participativo ocorre a
partir da percepção de determinada comunidade, entende-se que a metodologia participativa
está diretamente ligada à Geografia Humanista, tornando-se uma ferramenta essencial para
uma análise social e ambiental inovadora, onde os aspectos culturais e históricos são
considerados.
Na cartografia participativa, a participação acontece quando a visão do morador local
conduz a elaboração do mapa, se tornando uma ferramenta de planejamento espacial. Os
mapas são representações concretas do espaço vivido e pensado e, como tal, são o retrato de
uma comunidade, de um povo, dos moradores de uma determinada localidade
(GORAYEB,2014). O mapa deve reproduzir o conhecimento da comunidade acerca de seu
próprio território e sua relação com mesmo.
A relação dos seres com o mundo ocorre através da percepção, portanto esta deve ser
priorizada (LENCIONE, 2003). O estudo da Geografia da percepção evidencia o mundo
vivido e percebido por cada individuo. Corrêa (2001) afirma que a percepção está assentada
na subjetividade, na intuição, nos sentimentos, na experiência, no simbolismo e na
contingência, privilegiando o singular e não o particular ou o universal e, ao invés da
explicação, tem na compreensão a base de inteligibilidade do mundo real.
A Geografia da percepção, dirigida pela fenomenologia, define espaço da seguinte
maneira:
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O espaço é vivido e percebido de maneira diferente pelos indivíduos, uma das
questões decisivas da análise geográfica que se coloca diz respeito às representações
que os indivíduos fazem do espaço. Essa Geografia procurou demonstrar que para o
estudo geográfico é importante conhecer a mente dos homens para saber o modo
como se comportam em relação ao espaço. (LENCIONI, 2003, p. 152).
4. Resultados e Discussões
O reconhecimento da participação de uma comunidade que ocupa determinado
território é fundamental para compreender problemas e necessidades enfrentadas. Dessa
maneira, a motivação para a realização desse estudo surgiu a partir do interesse e necessidade
de manter registrada a história e identidade da comunidade presente na Floresta Estadual
Edmundo Navarro de Andrade, retratando como esse grupo se identifica em seu território,
possibilitando o planejamento de melhorias para suprir suas carências a partir da união do
conhecimento científico e do conhecimento cultural, além de promover a preservação desse
legado histórico, cultural e ambiental.
A Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade (FEENA), localizada no município
de Rio Claro, no interior do Estado de São Paulo, é uma Unidade de Conservação, que
abrange uma área de aproximadamente 2.230,53 hectares. Essa área foi criada em 1909 como
Horto Florestal e teve importante papel na manutenção e construção de ferrovias, suprindo a
necessidade de matéria-prima para dormentes e carvão. Com mais de 3 mil funcionários, a
Companhia Paulista de Estradas de Ferro (CP) criou seis colônias, somando aproximadamente
100 residências para abrigar parte dos funcionários. Atualmente, apenas três colônias estão
ativas, abrigando cerca de 60 pessoas, entre eles aposentados da Companhia Paulista e filhos
de ex-funcionários.
Em 11 de junho de 2002, através do Decreto Estadual no 46.819, deixou de ser
nomeado Horto Florestal e tornou-se a Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade
(FEENA), em homenagem a Navarro de Andrade, engenheiro agrônomo e político brasileiro,
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responsável por criar hortos florestais para a Companhia Paulista de Estradas de Ferro por
todo território paulista, sendo o maior deles, o do município de Rio Claro (DECRETO Nº
46.819/2002).
A partir do histórico da Floresta, é possível compreender a importância que a
comunidade local possui tanto para a conservação da área como também para o resguardo do
conhecimento cultural ali construído por meio das experiências vividas e da identidade que se
criou com o lugar. Sobre a atribuição de sentimentos ao local habitado, Risso (2008, p. 72)
afirma que “para cada pessoa ou grupo a paisagem terá um significado, porque as pessoas
atribuem valores e significados diferentes às suas paisagens, traduzidos em sentimentos de
enraizamento ou desapego aos lugares”. A psicologia ambiental, ao discutir a ligação que as
pessoas estabelecem com lugares geográficos, fez uso do conceito de identidade, articulando-
o às noções de lugar e apego (attachment), empreendendo estudos sobre identidade de lugar
(place-identity) e de apego ao lugar (placeattachment) (ARCARO; GONÇALVES, 2012).
Com o mapeamento participativo é possível identificar o uso e ocupação da terra.
Portanto, sua aplicação em unidades de conservação inclui nos mapas os recursos naturais
existentes. Assim, o presente trabalho se respaldará no mapeamento participativo, unindo-se o
conhecimento científico com o conhecimento cultural, visando compreender as características
e os problemas presentes nessa área, por meio da análise integrada de diferentes usos em um
mesmo local. A aplicação da metodologia participativa servirá como auxílio na demarcação
dos recursos presentes no território, a partir da percepção, trazendo as lendas e histórias que
foram ali construídas.
O mapeamento participativo “é considerado como um instrumento para a compreensão
sobre como as comunidades utilizam o espaço” (ANDRADE e CARNEIRO, 2009, p. 412). O
mapa deve reproduzir o conhecimento da comunidade acerca de seu próprio território e sua
relação com mesmo. De acordo com Silva e Verbicaro (2016),
O mapeamento participativo deve ser utilizado como ferramenta para representar
como a comunidade percebe o seu território e as características significativas dentro
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do mesmo. Tais características podem incluir representações dos traços físicos
naturais, assim como traços socioculturais conhecidos pela própria comunidade.
Podemos refletir que o diferencial do mapeamento participativo está relacionado ao
fato em que não se limita a simplesmente representar o desenho geográfico, sendo
possível ilustrar importantes conhecimentos sociais, culturais e históricos, incluindo,
por exemplo, informações relacionadas à ocupação do uso da terra, mitologia,
demografia, grupos étnico-linguísticos, padrões de saúde e distribuição da mesma.
(SILVA e VERBICARO, 2016, p. 11).
Nesse sentido, com a elaboração de mapas, construídos através do mapeamento
participativo, é possível pensar o espaço coletivamente, possibilitando a criação de novas
perspectivas de representação espacial, construídas por diferentes sujeitos sociais, com
viabilidade de transformar o espaço vivenciado pelos seus moradores num espaço de
expressão visual, capaz de afirmar suas culturas. (MICHALCZYSZYN e STANISKI, 2015, p.
117).
5. Considerações Finais
A Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade apresenta um oportuno cenário
para a aplicação da metodologia participativa, tornando possível compreender os problemas e
as necessidades da comunidade local. Assegura-se que a metodologia apresentada pode servir
de ferramenta para a manutenção da área, preservando seus recursos naturais, históricos e
culturais, abordando as lendas e mitos que também constroem esse território.
A metodologia participativa poderá criar oportunidades de integração e fortalecimento
entre os moradores, que caminham juntos na luta pela permanência na Floresta. Além disso, a
divulgação do material poderá servir para estreitar a relação da Floresta com os habitantes do
município, visto que muitas vezes, os próprios não conhecem a história e a importância da
FEENA para o desenvolvimento de Rio Claro.
Através deste estudo, serão criadas oportunidades para que essa comunidade participe
diretamente do processo de mapeamento, pois estará presente em todas as etapas, realçando a
relevância da participação dos mesmos na história da Floresta. Tal metodologia permitirá que
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a comunidade seja livre para cartografar seu território, com base em suas experiências e em
identidades, modificando o que achar necessário para que o mapa se adeque à sua realidade.
Dar voz e lugar para que essa comunidade se expresse permitirá valorizar o conhecimento
oral ainda não registrado.
Agradecimento
Agradeço a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil
(CAPES) pelo apoio para a realização desse trabalho.
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