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  • UNIVERSIDADE DO VALE DO PARABA

    INSTITUTO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO

    Estudo da reflexo difusa de luz Laser em superfcies de dentes

    Francisco de Assis Santos

    Dissertao de Mestrado apresentada no

    programa de ps-graduao em Engenharia

    Biomdica, rea de concentrao

    Bioengenharia, como complementao dos

    crditos necessrios para a obteno do ttulo

    de Mestre em Engenharia Biomdica.

    So Jos dos Campos, SP

    2004

  • ii

    UNIVERSIDADE DOVALE DO PARABA

    INSTITUTO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO

    Estudo da reflexo difusa de luz Laser em superfcies de dentes

    Francisco de Assis Santos

    Dissertao de Mestrado apresentada no

    programa de ps-graduao em Engenharia

    Biomdica, rea de concentrao

    Bioengenharia, como complementao dos

    crditos necessrios para a obteno do ttulo

    de Mestre em Engenharia Biomdica.

    Orientador: Prof. Dr. Daniel Acosta Avalos

    Co-Orientador: Prof. Dr. Paulo Roxo Barja

    So Jos dos Campos, SP

    2004

  • iii

    S235e

    Santos, Francisco de Assis Estudo da Reflexo Difusa de Luz Laser

    em superfcies de Dentes/ Francisco de Assis Santos. So Jos dos Campos: Univap, 2004.

    86 p. il.; 31cm. Dissertao de Mestrado apresentada ao

    Programa de Ps- Graduao em Engenharia Biomdica do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Universidade do Vale do Paraba, 2004. 1. Crie- diagnstico 2. Dente 3. Laser de baixa potncia 4. Espalhamento de luz polarizada I. Avalos, Daniel Acosta, Orient. II. Barja, Paulo Roxo, Co-orient. III. Ttulo

    CDU:616.314

    Autorizo, exclusivamente para fins acadmicos e cientficos, a reproduo total ou

    parcial desta dissertao, por processo fotocopiador ou transmisso eletrnica.

    Assinatura do Aluno:

    Data:

  • iv

    Estudo da Reflexo Difusa de Luz Laser em superfcies de Dentes Francisco de Assis Santos

    Banca Examinadora

    Prof. Dr. Egberto Munin (UNIVAP)______________________________

    Prof. Dr. Daniel Acosta Avalos (Orientador)________________________

    Prof. Dr. Paulo Roxo Barja (Co-orientador)_________________________

    Prof. Dr. Jos Benedicto de Mello (UNITAU)_______________________

    Prof. Dr. Marcos Tadeu Tavares Pacheco Diretor do IP&D UniVap So Jos dos Campos,

  • v

    DEDICATRIA

    A minha esposa Rubia e aos meus filhos Gabriel e Rafael, que

    sempre estiveram ao meu lado, nos principais momentos de minha vida,

    dando-me todo amor incentivo e apoio para seguir em frente.

    Aos meus pais que souberam forjar em mim uma estrutura de carter

    e perseverana em todas as conquistas de minha vida.

    As minhas irms Luzia, Sueli e Silvia pelo respeito e admirao.

    Aos meus amigos Dr. Geraldo Francisco Feitosa e ACD Elivanete

    Rosa, sinnimos de perseverana e dedicao Odontologia Coletiva no

    municpio de So Vicente - SP.

  • vi

    AGRADECIMENTOS

    A Deus

    Ao Professor Dr. Daniel Acosta Avalos, orientador neste trabalho,

    orientador e companheiro no desenvolvimento deste trabalho.

    Ao Professor Dr. Paulo Roxo Barja, co-orientador neste trabalho.

    Ao Prof. Dr. Marcos Tadeu Tavares Pacheco diretor do Instituto de

    Pesquisa e Desenvolvimento da UniVap.

    Ao Prof. Dr. Renato Amaro Zangaro diretor das Faculdades de

    Cincias da Sade da UniVap.

    Ao Professor Dr. Antonio G. J. Balbin Villaverde, professor da

    UniVap e do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da UniVap.

    Ao Prof. Dr. Egberto Munin, Professor do Instituto de Pesquisa e

    Desenvolvimento da UniVap.

    Ao Prof. Dr. Jos Benedicto de Mello, professor da Ps-graduao

    da UNITAU.

    Ao Sr. Waldenir de N. Coelho Costa, Engenheiro da Diviso de

    Ensaios de Vo do Centro Tcnico Aeroespacial.

    Ao Sr. Jos Benedito Silva Soares, Tcnico do Instituto de Pesquisa

    e Desenvolvimento da UniVap.

    Ao incentivo e a compreenso de meus pacientes nos momentos de

    dedicao na elaborao desta tese.

  • vii

    "Quem firme em seus propsitos molda o mundo ao seu modo" Joham Wolfgang von Goethe

  • viii

    RESUMO

    O diagnstico da crie dental a principal etapa no atendimento odontolgico.

    Diversas tcnicas tm sido desenvolvidas com o propsito de um diagnstico preciso e

    o mais precoce possvel. O estudo das propriedades pticas dos tecidos duros dentais,

    em particular o retroespalhamento de luz, fornece informaes da composio estrutural

    do dente. Trabalhando com estas informaes podemos obter as condies da estrutura

    dental. Foi empregado um gonimetro para a medio angular da luz polarizada de um

    laser HeNe 633nm retroespalhada pela superfcie do esmalte dental. A intensidade do

    retroespalhamento foi medida em funo do ngulo da luz retroespalhada usando um

    resistor foto-dependente LDR, que girava em volta do dente. Foram detectadas a luz

    espalhada sem o uso de um polarizador e usando um polarizador, cujo eixo de

    polarizao era perpendicular ao eixo de polarizao da luz incidente no esmalte.

    Comparando os resultados coletados obtidos com a utilizao do polarizador com os

    resultados obtidos sem o emprego do polarizador, foi determinado um grau parcial de

    polarizao, que possibilitou a correlao destas medidas de luz espalhada com a

    estrutura de esmalte hgido e a estrutura de esmalte cariado. Foi observado que a medida

    da luz espalhada pelo dente permite diferenciar aqueles sadios daqueles cariados.

    Palavras-chave: Diagnstico da crie, Dente, Espalhamento da luz polarizada

  • ix

    ABSTRACT

    Dental caries diagnosis is the principal stage in dentistry care. Several techniques

    have been developed with the objective of a precise and premature diagnosis of dental

    caries. The study of the optical properties of hard dental tissues, in particular light

    scattering, gives information about tooth structure composition. This information can be

    associated to the actual conditions of the dental structure. In this research a goniometric

    system was employed in the angular measurement of polarized light, from a He-Ne

    laser, scattered from enamel tooth surface. The scattering intensity was measured as a

    function of the observation angle, and the detector used was a Light Dependent Resistor

    (LDR), that turned around the tooth. To detect the scattered light, measurements were

    done with and without a polarizer. The polarizer axis was set perpendicularly to the

    polarization axis of the incident light. Comparing the results obtained with and without

    the polarizer, it was possible to determine a partial degree of polarization that allows us

    to correlate these measurements with the structure of enamel without and with caries. It

    was observed that the measurement of the light scattered by the tooth allows a

    discrimination between healthy and carious teeth.

    Keywords: Caries diagnosis, Teeth, Polarized light scattering

  • x

    SUMRIO

    1. INTRODUO 1

    1.1 Propriedades estruturais dos dentes 1

    1.2 A Doena Crie 9

    1.3 Propriedades pticas dos tecidos dentais 16

    1.4 Espalhamento de luz 19 1.5 O uso do espalhamento de luz na medicina 23

    2 DEFINIO DO PROBLEMA 25

    3 OBJETIVOS 27

    4. MATERIAL E MTODOS 28

    4.1 Os dentes 28

    4.2 Medio de luz espalhada 30

    5. RESULTADOS E DISCUSSO 40

    6. CONCLUSO 63

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 64

    ANEXOS 67 A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 67

    B - Parecer da Comisso de tica 69

  • xi

    NDICE DE FIGURAS E TABELAS

    Figura 1: Planos dentais ......................................................................................2

    Figura 2: Anatomia dental ...................................................................................3

    Figura 3: Estrutura completa do rgo dental .....................................................6

    Figura 4: Progresso da crie dental .................................................................10

    Figura 5: Instrumentos para diagnatico no mtodo ttil-visual .......................13

    Figura 6: Levantamento radiogrfico periapical completo................................14 Figura 7: Radiografia dos dentes .......................................................................29

    Figura 8: Diviso da face dental em quadrantes ................................................30

    Figura 9: Circuito divisor de tenso ...................................................................31

    Figura 10: Gonimetro e caneta com sensor (LDR)...........................................32

    Figura 11: Valores obtidos com a varredura do cilindro metlico .....................34

    Figura 12: Coleta de informaes com o sensor LDR .......................................35

    Figura 13: Calibrao do sensor com o LDR .....................................................37

    Figura 14: Curva de calibrao do LDR ............................................................38

    Figura 15: Medio da intensidade relativa no dente 12 hgido ........................41

    Figura 16: Medio da intensidade relativa no dente 28 hgido ........................41

    Figura 17: Medio da intensidade relativa no dente 43 hgido ........................42

    Figura 18: Medio da intensidade relativa no dente 41 hgido ........................42

    Figura 19: Medio da intensidade relativa no dente 44 hgido ........................43

    Figura 20: Medio da intensidade relativa no dente 33 hgido ........................43

    Figura 21: Intensidade relativa no dente 12 hgido como funo de cos .........44

    Figura 22: Intensidade relativa no dente 28 hgido como funo de cos .........45

    Figura 23: Intensidade relativa no dente 43 hgido como funo de cos .........45

    Figura 24: Intensidade relativa no dente 41 hgido como funo de cos .........46

    Figura 25: Intensidade relativa no dente 44 hgido como funo de cos .........46

    Figura 26: Intensidade relativa no dente 33 hgido como funo de cos .........47

    Figura 27: Grau parcial de polarizao no dente hgido 12 ................................48

    Figura 28: Grau parcial de polarizao no dente hgido 28 ...............................48

  • xii

    Figura 29: Grau parcial de polarizao no dente hgido 43 ...............................49

    Figura 30: Grau parcial de polarizao no dente hgido 41 ...............................49

    Figura 31: Grau parcial de polarizao no dente hgido 44 ...............................50

    Figura 32: Grau parcial de polarizao no dente hgido 33 ...............................50

    Figura 33: Medio da intensidade relativa no dente 31 cariado .......................52

    Figura 34: Medio da intensidade relativa no dente 35cariado ........................52

    Figura 35: Medio da intensidade relativa no dente 47 cariado .......................53

    Figura 36: Medio da intensidade relativa no dente 48 cariado .......................53

    Figura 37: Medio da intensidade relativa no dente 25 cariado .......................54

    Figura 38: Medio da intensidade relativa no dente 42 cariado .......................54

    Figura 39: Grau parcial de polarizao no dente 31 cariado ..............................56

    Figura 40: Grau parcial de polarizao no dente 35 cariado ..............................56

    Figura 41: Grau parcial de polarizao no dente 47 cariado ..............................57

    Figura 42: Grau parcial de polarizao no dente 48 cariado ..............................57

    Figura 43: Grau parcial de polarizao no dente 25 cariado ..............................58

    Figura 44: Grau parcial de polarizao no dente 42 cariado ..............................58

    Figura 45: ndices de correlao sem polarizador (SP) e com polarizador (CP)

    para os dentes sadios e cariados para o ngulo de 30......................61

    Figura 46: ndices de correlao sem polarizador (SP) e com polarizador (CP)

    para os dentes sadios e cariados para o ngulo de 60............... ......62

    Tabela 1: ndices de correlao para os dentes hgidos ......................................60

    Tabela 2: ndices de correlao para os dentes cariados .....................................61

  • xiii

    LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS

    CCD: charge-coupled device (pea de silcio usada como detetor de luz em

    camaras)

    CCP: ndice de correlao com polarizador

    CSP: ndice de correlao sem polarizador

    CP: Com Polarizador

    He-Ne: Hlio Nenio

    Icp: Intensidade relativa de espalhamento medida com polarizador

    Id: Intensidade relativa no lado distal do dente

    Im: Intensidade relativa no lado mesial do dente

    In: Grau parcial de polarizao

    Isp: Intensidade relativa de espalhamento medida sem polarizador

    LDR: Light Dependent Resistor (Resistncia dependente de luz)

    nm: nanmetro

    R: Resistncia

    SP: Sem Polarizador

    V: Volts

    W: Watts

    : ngulo formado entre o feixe de luz e o sensor

    : Comprimento de onda

    s: Coeficiente de espalhamento (cm-1)

    a: Coeficiente de absoro (cm-1) : Ohm

  • 1

    1. INTRODUO

    1.1 PROPRIEDADES ESTRUTURAIS E PTICAS DOS DENTES Os dentes so rgos complexos constitudos, em sua maior parte, de tecidos

    duros, mineralizados, contendo uma cavidade central que aloja a polpa dentria,

    formada por um tecido rico em nervos e vasos sanguneos (SICHER; DUBRUL, 1977).

    A superfcie do esmalte dental constituda por prismas de esmalte formados

    pela secreo de quatro ameloblastos (clula secretora do esmalte dental), tomando

    formas variadas justapostas, que primeira vista parece homognea; no entanto,

    facilmente observada microscopicamente a composio heterognea da superfcie do

    esmalte dental (PAIVA; ANTONIAZZI, 1991).

    No estudo da anatomia humana, torna-se muito mais prtico o emprego de

    planos para situar determinada estrutura. Os planos mais comuns utilizados so os

    planos horizontal, frontal e sagital. No entanto, o emprego destes planos no estudo da

    anatomia dental no seria prtico. Pela prpria concepo dos arcos dentais onde os

    dentes so implantados seguindo a curvatura dos arcos dentais, o plano sagital passaria

    por diferentes regies, desde os incisivos at os molares; tal situao se repetiria com o

    plano frontal. Para um estudo criterioso e melhor interpretao, aconselhvel

    empregar trs planos especiais: o horizontal, o axio-msio-distal e o xio-vestbulo-

    lingual (fig.1). Uma outra forma bastante prtica, alm do emprego dos planos dentais,

    a diviso das faces dos dentes em teros, facilitando a localizao da estrutura analisada

    (CORRA, 1979).

    A parte visvel do dente na cavidade bucal apresenta cinco faces distintas: face

    oclusal (dentes posteriores) ou incisal (dentes anteriores), voltada para o plano oclusal

    ( a face funcional da coroa dental); face mesial, voltada para a parte anterior da

    cavidade bucal; face distal, voltada para a parte posterior da cavidade bucal; face

    vestibular, voltada para o lado externo da cavidade bucal; face lingual (dentes

    inferiores) ou palatina (dentes superiores), voltada para a parte interna da cavidade

    bucal.

  • 2

    Figura 1: Planos Dentais A = xio-Vestbulo-Lingual; B= xio-Msio-Distal e C= Plano Horizontal.

    Fonte: Corra (1979) Na dentio humana permanente, distinguem-se quatro tipos de dentes: os

    incisivos, cortantes; os caninos, pontiagudos; dois pr-molares, pontiagudos e

    multicuspidados; trs molares policuspidados (SICHER; DUBRUL, 1977).

    Os dentes permanentes compem uma dentadura com trinta e dois dentes

    conformando os arcos dentrios. O tamanho dos dentes humanos varia muito

    individualmente, de modo que se pode estabelecer somente valores mnimos e mximos

    nas medidas. Contudo, a anatomia dental (fig. 2) segue formas determinadas e

    semelhantes (SICHER; DUBRUL, 1977).

    Os prismas de esmalte encontram-se justapostos, e entre eles est presente uma

    estrutura, tambm mineralizada, denominada substncia inter-prismtica. Tambm

    existe um envoltrio delgado que reveste o prisma, denominado de bainha do prisma.

    Com exceo dos dentes decduos (os da primeira dentio), os prismas de esmalte

    esto orientados em sentido perpendicular a toda a extenso do limite com a dentina.

    Entretanto, seguem um trajeto sinuoso em direo superfcie do esmalte, nos

    sugerindo que no perodo da deposio da matriz orgnica, os ameloblastos deslocam-se

    tambm seguindo um itinerrio sinuoso.

  • 3

    Figura 2: Anatomia dental.

    Fonte Corra (1979)

    Em cortes longitudinais, os prismas de esmalte apresentam formaes estriadas

    mais escuras que se orientam transversalmente a eles. Essas formaes se sucedem em

    intervalos de quatro micrmetros. Elas so interpretadas como faixas hipomineralizadas

    e representam perodos nos quais ocorreram pausas no mecanismo de mineralizao. Os

    aspectos dos segmentos hiper e hipomineralizados de forma alternada refletem um

    processo intermitente de mineralizao da estrutura dental. Nos esmaltes menos

    mineralizados essas estrias aparecem escuras.

    O perodo de aposio o perodo mais crtico do crescimento dental. Qualquer

    alterao durante esse perodo poder acarretar alteraes na estrutura do esmalte

    dental.

    Paiva e Antoniazzi (1991) apresentam como principais fatores gerais na

    alterao da estrutura do esmalte a desnutrio, alteraes endcrinas, doenas

    infecciosas ou at mesmo os fatores locais, representados por traumatismo ou infeco

    pulpar de dente decduo.

    Em muitos preparos histolgicos obtidos por desgaste que normalmente resultam

    fatias espessas, possvel observar que, em diferentes planos de focalizao, os prismas

    de esmalte mostram orientaes diferentes, chegando at a se entrecruzarem. Essa

    disposio dos prismas nos vrios planos do esmalte pode condicionar uma resistncia

    maior a fraturas.

  • 4

    Corra (1979), afirma que o esmalte dental o nico tecido duro do nosso

    organismo que tem origem epitelial, sendo produto da secreo dos odontoblastos,

    sendo constitudo de cerca de 96% de sais minerais, o restante representado por gua e

    protenas.

    O esmalte dental um tecido de origem epitelial calcificado, sendo constitudo

    por estruturas alongadas hexagonais, os prismas de esmalte. Estes prismas tm um

    trajeto complexo dentro do esmalte. Partindo da dentina, vo primeiro em direo

    perpendicular superfcie do dente. Na regio mdia orientam-se em espiral e,

    finalmente, assumem de novo a mesma direo perpendicular (JUNQUEIRA;

    CARNEIRO, 1985).

    A DENTINA

    A dentina um tecido calcificado mais duro que o osso por conter maior teor de

    sais de clcio. Sua matriz contm glicoprotenas e colgeno, alm de cristais de

    hidroxiapatita. A matriz orgnica dentinria sintetizada por clulas semelhantes aos

    osteoblastos, os odontoblastos que revestem a superfcie interna da dentina, separando-a

    da polpa dentria. Cada odontoblasto tem um prolongamento citoplasmtico que penetra

    perpendicularmente na dentina, formando os "Prolongamentos de Tomes". Cada

    prolongamento determina a formao de um canalculo na matriz da dentina, chamado

    de tbulo da dentina (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 1985).

    A dentina aps a formao completa de um dente corresponde a

    aproximadamente 70% de material inorgnico, 20% de material orgnico e 10% de

    gua. A parte orgnica composta principalmente por fibras de colgeno, glicosaminas

    e proteoglicanas, e tem por funo dar suporte aos cristais de hidroxiapatita que so os

    componentes principais deste tecido. A parte inorgnica confere dureza (PAIVA;

    ANTONIAZZI, 1991).

    Em um dente adulto podem ser encontradas trs variaes de dentina: a primria,

    a secundria e a reparativa. A dentina primria refere-se quela que forma a maior parte

    do dente e d contorno polpa. A dentina secundria formada aps completar a

    formao da raiz do dente, quando este se encontra em atividade na cavidade bucal. A

  • 5

    dentina reparativa forma-se sob a ao de um estmulo na superfcie dental e apenas

    produzida pelos odontoblastos afetados. Um tipo de estmulo a crie dental (PAIVA;

    ANTONIAZZI, 1991).

    A dentina possui como principal funo dar suporte estrutura de esmalte

    dental, servindo como um tecido de absoro dos traumas mastigatrios.

    A POLPA DENTAL

    A polpa formada no jovem por tecido conjuntivo do tipo mucoso e, no adulto,

    por tecido conjuntivo frouxo. Circundando a polpa e separando-a da dentina observam-

    se grandes clulas colunares, os odontoblastos, dispostos em paliada, apresentando

    caractersticas de clulas que sintetizam protenas (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 1985).

    A polpa dental constitui o rgo formador de dentina, no somente durante a

    histognese, mas durante toda a vida do dente. Ela garante as trocas metablicas e

    desempenha o papel de defesa, pela capacidade de seus elementos celulares frente s

    infeces. Tambm assegura juntamente com o periodonto a sensibilidade dental,

    respondendo a qualquer estmulo na forma de dor (CORRA, 1979).

    A reposta pulpar depende da intensidade e freqncia da estimulao irritante,

    traduzindo desde uma simples deposio de dentina a modificaes de natureza

    degenerativa ou inflamatria, levando at a morte pulpar (PAIVA; ANTONIAZZI,

    1991).

    A polpa um tecido ricamente inervado e vascularizado. Vasos e nervos

    mielnicos penetram por um orifcio no pice da raiz e se ramificam profusamente.

    Algumas destas fibras nervosas perdem sua bainha de mielina e admite-se que elas

    penetrem em alguns tbulos da dentina, acompanhando, por curta distncia, o trajeto

    das Fibras de Tomes (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 1985).

    As principais funes da polpa so: formativa, devido atividade secretora dos

    odontoblastos; nutritiva atravs dos prolongamentos dos odontoblastos, que mantm a

    vitalidade da dentina; sensitiva, graas ao complexo nervoso que confere sensibilidade

    dentina; e reparativa, pela capacidade de produo de dentina quando estimulada.

  • 6

    O PERIODONTO

    Os dentes so implantados nas arcadas dentais em uma poro ssea

    diferenciada do osso alveolar, estando sustentados em seus alvolos por um conjunto

    periodontal complexo, composto pelo cemento, ligamento periodontal e osso alveolar.

    Os feixes de fibras colgenas prendem-se, de um lado, ao cemento e, de outro, ao osso

    alveolar, na forma das Fibras de Sharpy, de tal maneira que o ligamento periodontal

    desempenha papel de sustentao do dente.

    O suprimento sanguneo do ligamento periodontal assegurado em parte por

    ramos capilares que saem da artria dental, antes que ela penetre no forame apical, e em

    parte por ramos dos vos que nutrem a gengiva e tambm por capilares do tecido sseo

    vizinho (CORRA, 1979).

    O periodonto apresenta como principal funo o sistema de amortecimento dos

    impactos mastigatrios, alem do suporte e sustentao da estrutura dental,

    complementando a estrutura completa do rgo dental (fig 3).

    Figura 3: Estrutura dental completa.

    Fonte Corra (1979)

  • 7

    ALTERAES CONGNITAS NA ESTRUTURA DO ESMALTE

    - ESTRIAS INCREMENTAIS DE RETZIUS

    As seces longitudinais de dentes preparados por desgaste, quando observadas

    ao microscpio ptico, utilizando-se de pequenas ampliaes, mostram que o esmalte

    portador de uma srie de linhas escuras, quase paralelas, com espessuras variadas e que

    so denominadas estrias incrementais de Retzius. Elas aparecem envolvendo a ponta da

    dentina e depois seguindo um trajeto oblquo ao limite do esmalte com a dentina, sendo

    consideradas hipomineralizadas e representam o resultado de um crescimento do

    esmalte. Essas estrias esto dispostas de forma alternada com faixas de

    hipermineralizao. Essa alternncia indica que as linhas se devem a pausas peridicas

    do processo de mineralizao (GIUFFRIDA, 1990).

    Provavelmente possveis alteraes metablicas, no momento da mineralizao

    do esmalte, podem provocar o aparecimento dessas linhas. Os dispositivos metablicos

    mais prolongados, ou mesmo doenas que alteram o metabolismo, podem aproximar

    essas linhas, resultando uma faixa mais espessa de esmalte hipomineralizado.

    Como a estrutura do esmalte no alterada aps a sua produo, qualquer

    distrbio que ocorrer no perodo da sua produo provoca o aparecimento de marcas

    definitivas na sua estrutura.

    - PERIQUIMCIAS

    A superfcie do esmalte dental aparenta ser, primeira vista, homognea e

    brilhante. No entanto, um exame mais rigoroso dessa superfcie revela que ela apresenta

    inmeros sulcos paralelos entre si e, ao mesmo tempo, paralelas ao limite do esmalte

    com cemento. Esses sulcos representam as manifestaes externas das estrias

    incrementais de Retzius, isto , cada sulco corresponde extremidade externa de uma

    estria de Retzius. Como eles se alternam com discretas elevaes, todo o conjunto

    lembra minsculas ondulaes paralelas as quais so denominadas periquimcias,

    revelando o crescimento aposicional do esmalte.

    As periquimcias so facilmente observadas em esmalte de dentes inclusos ou

    recm erupcionados. Nos dentes erupcionados h muito tempo, elas tendem a

  • 8

    desaparecer, pois o atrito mastigatrio provoca um desgaste nessas ondulaes, alisando

    completamente a superfcie do esmalte (GIUFFRIDA, 1990)..

    - AS LAMELAS

    As lamelas do esmalte so constitudas por estruturas que se assemelham a

    lminas delgadas. Elas comeam na extremidade da coroa e se estendem at o limite

    com o cemento. Essas lminas so bastante profundas, isto , iniciam na superfcie do

    esmalte e progridem at o limite com a dentina, chegando por vezes a ultrapass-lo.

    Como estas lminas correm de forma paralela ao longo eixo da coroa, elas so

    facilmente observadas em cortes transversais e raramente em seces longitudinais

    (GIUFFRIDA, 1990).

    A lamela do esmalte resultado de possveis foras de tenso entre os

    ameloblastos durante a produo do esmalte. Essas foras provocam a separao entre

    os ameloblastos de uma regio, originando uma fenda preenchida por esmalte

    hipomineralizado (GIUFFRIDA, 1990).

    Considerando a discreta calcificao dessa estrutura, entende-se que ela no s

    representa uma regio frgil da coroa, como tambm uma rea de alta suscetibilidade

    crie dental, pois essas lamelas so penetradas, com facilidade pelo cido ltico, que

    ocasiona a sua descalcificao.

    - OS PENACHOS DO ESMALTE

    Tambm conhecidos por tufos do esmalte, so assim denominados porque o seu

    aspecto sugere um arbusto ramificado que parece estar implantado no limite do esmalte

    com a dentina. Essa ramificao se abre em leque em direo superfcie do esmalte,

    ocupando em torno de um tero da espessura dessa estrutura. Na realidade a imagem do

    penacho falsa, porque ele constitudo por poucas fileiras de prismas

    hipomineralizados. O penacho no nasce numa rea isolada do limite esmalte-dentina,

    mas formado por uma lmina constituda por prismas hipocalcificados que se inclinam

    em diferentes direes.

  • 9

    Os fusos do esmalte so representados por tbulos dentinrios que atravessam o

    limite com o esmalte. Eles apresentam as suas extremidades dilatadas e so observados,

    com muita freqncia, na regio das cspides e dos bordos incisais. Acredita-se que eles

    se originam porque alguns prolongamentos odontoblsticos se infiltram entre as clulas

    do epitlio interno antes de surgirem os tecidos mineralizados (GIUFFRIDA, 1990)..

    1.2 A DOENA CRIE

    A doena crie tem um carter multifatorial e usualmente crnica, tendo seu

    aparecimento dependente da interao de trs fatores essenciais: substrato oral que o

    resultado da dieta consumida; a microbiota da regio, representada por certos tipos de

    bactrias; e a resistncia oferecida representado pelos dentes e a saliva (CORRA,

    1979).

    A interao entre os fatores essenciais fundamental para o desenvolvimento da

    doena crie. Contudo, no bastam apenas estes fatores estarem presentes, mas a

    interao entre eles deve ocorrer em condies crticas. A doena crie somente

    ocorrer se o hospedeiro tiver seus tecidos dentais suscetveis, se a flora bucal for

    cariognica (Streptococcus mutans), e a dieta rica em sacarose. Um outro fator

    fundamental o tempo (BARATIERI et al, 1995).

    Existe uma relao estreita entre a presena da placa dental e o esmalte ou

    dentina afetados. Ela parece ser um fator significativo pelo menos na fase de iniciao

    da destruio do esmalte dentrio, particularmente nos locais onde h superfcies lisas

    (SHAFFER, 1966 apud CORRA, 1979).

    Atualmente diversos trabalhos comprovam as evidncias que o Streptococcus

    mutans desempenha um papel preponderante na crie dental. Esta bactria altamente

    acidognica e o seu potencial cariognico j foi comprovado em experimentos com

    animais. Os lactobacilos, por outro lado, desempenham um papel importante no

    desenvolvimento de leses em pessoas que usam flor freqentemente (BARATIERI et

    al, 1995).

    A dinmica do desenvolvimento da crie dental entendida analisando o

    comportamento do dente na cavidade bucal. Desde que o pH seja mantido acima de 5,5

  • 10

    a composio salivar supersaturante. Neste caso o dente ganha clcio e fsforo do

    meio bucal, ocorrendo a remineralizao dental. Com um pH abaixo deste valor a

    composio da saliva se torna hiposaturante, logo a tendncia do esmalte dental perder

    clcio e fsforo para a saliva. Este processo chamado de desmineralizao.

    Dinamicamente estes dois processos ocorrem continuamente na cavidade bucal. A crie

    dental conseqncia de um desequilbrio entre os fatores de desmineralizao e

    remineralizao, ocorrendo uma alterao irreversvel do esmalte dental, levando

    inclusive cavitao do tecido dental duro, formando a leso crie (BARATIERI et al,

    1995).

    A crie dental progride da superfcie dental para o centro em direo polpa,

    assumindo aspecto caracterstico conforme esteja sediada em esmalte liso ou em sulco,

    fssula ou defeito estrutural do esmalte (fig. 4). Na crie de sulco ou fssula, o cone da

    crie do esmalte apresenta o pice voltado para a superfcie externa do dente, enquanto

    a base se encontra junto ao limite amelo-dentinrio, caracterizando uma rpida

    progresso; na crie de esmalte liso, o cone da crie apresenta sua base voltada para a

    superfcie de esmalte, ao passo que seu pice localiza-se junto ao limite amelo-

    dentinrio, revelando a progresso superficial deste tipo de leso (CORRA, 1979).

    Figura 4: Progresso da crie. Fonte Corra (1979)

  • 11

    A crie afeta mais de 96% da populao brasileira. Esta alta prevalncia influi

    nas condies gerais de sade do indivduo, interferindo negativamente no bem estar

    individual e coletivo, contribuindo para as faltas na escola e no trabalho (BUISCHI,

    1996).

    A Odontologia Preventiva comea a se pronunciar como um dos principais

    segmentos da odontologia atual. Essa importncia conseqncia de uma presso

    internacional da Organizao Mundial da Sade, que vem colocando metas para a sade

    bucal, com a finalidade de erradicar a crie dentria em pases subdesenvolvidos e em

    desenvolvimento, como o Brasil. Para alcanar estes objetivos, determinou-se algumas

    metas a serem cumpridas. Tomando um ndice prtico e conhecido mundialmente de

    avaliao, o CPO-D (ndice de dentes cariados, perdidos, obturados ou destrudos)

    estipulou que para o ano de 2000 seria aceitvel um ndice de 3,0 para as crianas de 3 a

    12 anos. O CPO-D possibilita verificar o contato tido com a crie dentria. Foi

    estipulado tambm que 50% das crianas de 5 a 6 anos de idade no podem ter nenhum

    dente cariado, obturado ou perdido, 85% da populao dever manter todos os dentes

    at os 18 anos. Para 2010, as metas foram mais rgidas, as crianas at 12 anos devero

    ter um ndice CPO-D menor que um; 90% das crianas de 5 a 6 anos sem crie; no

    dever haver perda dental aos 18 anos de idade devido crie ou doena periodontal;

    na idade de 35 a 44 anos, no mais que 2% de desdentados; 96% das pessoas com no

    mnimo 20 dentes funcionais, no mais que 5% de desdentados (FERREIRA, 1996).

    Muitos so os ndices utilizados para medir a ocorrncia de crie dentria. O

    ndice CPO , contudo, o mais difundido e utilizado em todo o mundo para conhecer a

    situao da crie dental numa determinada comunidade. Ela serve para realizar

    avaliaes com base epidemiolgica das aes desenvolvidas e, tambm, para fazer

    comparaes no tempo e no espao. Seu valor corresponde, num indivduo, soma do

    nmero de dentes permanentes cariados, perdidos e obturados. Numa populao, a

    mdia, ou seja: o nmero total de dentes atacados pelas cries divididos pelo nmero de

    pessoas examinadas. O componente "C" refere-se aos dentes cariados; o componente

    "P" refere-se aos dentes j extrados ("E") e aos dentes com extrao indicada ("EI"); e

    o componente "O" refere-se aos dentes restaurados, ou "obturados". O ndice CPO-D

    pode assumir valores entre 0 e 32. A letra "D" significa que a unidade de medida

    utilizada o dente permanente ("D"). Assim feito para diferenciar o CPO-D do CPO-

  • 12

    S, situao em que a unidade de medida no o dente, mas a superfcie ("S") dental. O

    CPO-S varia de 0 a 148. So consideradas as 5 superfcies de molares e pr-molares e 4

    superfcies em caninos e incisivos (NARVAI, 2000).

    Avaliando as metas propostas para 2000, com os resultados atingidos no estado

    de So Paulo, o resultado foi o seguinte: 77% dos bebs de 0 a 1 ano de idade estavam

    livres de crie (ceo = 0) e que a mdia do ndice ceo nessa faixa etria foi de 0,76, com

    os dentes cariados representando 91% da composio do ndice. Aos 5 anos 47% das

    crianas estavam livres de crie (ceo=0) - esse percentual no estudo de 1998 foi de 39%.

    No ano 2002, o estado no atingiu a meta da Organizao Mundial da Sade (OMS)

    para o ano 2000 que de 50% de crianas livres de crie para essa idade. Para 12 anos

    de idade, a meta da OMS de CPO-D mdio menor ou igual a 3,0, o que foi atingido

    pelo Estado (CPO-D=2,5). Segundo a classificao de prevalncia de crie dentria da

    OMS para essa idade, esta era considerada moderada em 1998, passando a baixa em

    2002. Os dentes restaurados corresponderam a 66% da composio do ndice. Os dados

    apresentados foram do Estado de So Paulo, que possui o maior nmero de faculdades e

    profissionais em proporo populao e os maiores investimentos na rea de sade no

    perodo (SOARES, 2003).

    O mtodo mais usual no diagnstico da crie dental o mtodo ttil visual, com

    o emprego de espelho e explorador (fig. 5). O sinal ttil de resistncia ao se retirar o

    explorador tem sido considerado como sinnimo da presena de crie. Os resultados, no

    entanto, podem variar entre os examinadores. Um dente com os sulcos mais profundos

    pode reter o explorador, sem que tenha presena de crie, da mesma forma que uma

    leso incipiente de crie, poder evoluir para cavitao aps o emprego do explorador

    devido a presso exercida durante a inspeo sobre o esmalte socavado. Outro fato est

    relacionado transferncia de bactrias cariognicas de um stio para outro (BUISCHI,

    1996).

  • 13

    Figura 5: Instrumentais para o diagnstico de crie no mtodo ttil-visual.

    Na luta contra a crie dental, foram desenvolvidos inmeros testes com o

    propsito de determinar um maior controle sobre a atividade cariognica. Diversos

    exames laboratoriais tm sido empregados, com a finalidade de determinar a capacidade

    tampo, o fluxo salivar, o tempo de remoo dos carboidratos pela saliva, o nmero dos

    Streptococcus mutans, e a presena dos lactobacilos (BARATIERI et al, 1995).

    Tambm existem testes eltricos com a possibilidade de medir a condutividade eltrica

    para a deteco de perdas precoces na regio de sulcos e fissuras.

    Um mtodo bastante empregado na clnica diria para constatao de crie nas

    faces proximais ou a identificao de sulcos e fissuras oclusais cariadas a radiografia

    (fig. 6). A tcnica radiogrfica mais indicada a interproximal. Nesta tcnica a pelcula

    radiogrfica mantida na posio por um dispositivo feito com uma fita de papel para

    segurar o filme paralelo aos dentes em ocluso; nos dentes extrados, no entanto, no

    possvel realiz-la corretamente. A radiografia apresenta a vantagem de ter um custo

    relativamente baixo, necessitando para sua execuo a disponibilidade de equipamento

    radiolgico odontolgico, posicionadores, pelculas especiais para radiografias e

    conhecimento da tcnica para sua execuo.

  • 14

    Figura 6: Levantamento radiogrfico periapical completo, na suspeita de crie

    em um exame de rotina feita a radiografia interproximal da regio.

    No entanto, um aspecto pouco valorizado na clnica odontolgica a ao

    nociva das radiaes ionizantes sobre os tecidos vivos. Este efeito inversamente

    proporcional idade do paciente. Assim, pacientes mais jovens tero maiores

    possibilidades de seus tecidos serem lesados pelos efeitos dos raios X. Estas

    possibilidades tendem a ser maiores quando se trata de meninas, nas quais as clulas

    germinativas esto presentes desde o nascimento. Considerando-se que os cromossomos

    da menina sejam atingidos pela radiao, eles podem ser rompidos e, como

    conseqncia, se essa clula for fecundada e gerar um indivduo, ele poder nascer com

    alguma leso. Embora o profissional sempre adota algumas medidas prticas para

    diminuir a quantidade de radiao primria e secundria recebida pelo paciente, pelo

    antes discutido este mtodo no deveria ser o de eleio para controle sistemtico da

    evoluo de um processo de crie dental (ISSO; GUEDES-PINTO, 1994).

    O uso da radiografia como exame complementar, sendo um mtodo auxiliar de

    diagnstico, tem as suas limitaes, exigindo a presena, no local dos exames, de

    aparelho de raios X, pessoal treinado e familiarizado com as tcnicas de radiografia e

    revelao, profissional experiente na interpretao dos resultados, alm de todas as

    medidas apresentadas. Os aparelhos de raios X devem apresentar filtros e colimadores, e

    devem ser instalados em salas especiais para execuo dos procedimentos radiogrficos

  • 15

    com arquitetura cuidadosamente planejada, permitindo recuo e proteo profissional,

    alm de paredes de consistncia e espessuras suficientes para proteo contra a radiao

    ionizante (FREITAS; ROSA; SOUZA, 1988).

    Superadas todas as limitaes fsicas, existe ainda a impreciso do diagnstico.

    Se usado com o propsito de determinar se o dente possui ou no possui crie dental,

    este teste se torna pouco confivel, porque permite o diagnstico da leso somente aps

    um relativo comprometimento da estrutura do tecido duro dental. Os Raios X somente

    sensibilizam a emulso fotogrfica do filme radiogrfico aps atravessar toda a estrutura

    dental. fcil imaginar que a densidade da pelcula est diretamente relacionada

    quantidade de estrutura dental a ser atravessada, logo o tamanho do dente teria um

    grande peso nos resultados.

    O exame radiogrfico para deteco da crie dental apresenta a caracterstica de

    ser falso negativo. Afinal, quando observada uma imagem radiolcida sugestiva de

    perdas teciduais, com certeza encontraremos algum tipo de leso no tecido dental que

    comprove a imagem observada, podendo inclusive haver cavitao no esmalte. No

    entanto, se em uma imagem radiogrfica no for observada nenhuma alterao

    perceptvel pode, contudo, existir uma leso incipiente que devido sobreposio de

    estruturas a imagem na radiografia no apresenta alterao patolgica detectvel.

    No se nega a importncia da radiografia como exame complementar na

    odontologia; no entanto, para diagnstico da crie dental, principalmente a crie

    incipiente, ela no deve ser o mtodo de eleio.

    A escolha de um mtodo eficaz de diagnstico da crie dental para emprego em

    termos de comunidade ou mesmo de consultrio deve ser de procedimento simples,

    custo baixo, e os resultados obtidos serem de fcil interpretao, possibilitando a

    capacidade de identificar os dentes com alteraes patolgicas leves, e com

    possibilidade de reverso atravs de tratamento preventivo eficiente. Alteraes

    moderadas com relativo potencial cariognico devem receber um tratamento

    conservador com o objetivo de paralisar o processo, necessitando um controle

    peridico. As alteraes irreversveis geralmente devem ser restauradas.

    Em leses reversveis, e no caso das leses moderadas com possibilidade de

    paralisao do processo, o flor fundamental. Ele empregado basicamente por dois

    mtodos: pelo mtodo tpico, atravs de bochechos fluoretados; ou pelo mtodo

  • 16

    sistmico, na gua de abastecimento. No mtodo sistmico o flor ingerido absorvido

    pelo estmago e retorna cavidade bucal atravs da reciclagem pela saliva e fludo

    gengival, sendo mantido no perodo entre as refeies na saliva (CURY, 1992).

    O flor participa diretamente no processo de desmineralizao e remineralizao

    controlando o desenvolvimento do processo de crie. Estudos demonstram que o flor

    associa-se ao esmalte dental na forma de apatita fluoretada, que possui o

    comportamento fsico-qumico de solubilidade igual da hidroxiapatita, comprovando

    que sua ao mais teraputica do que preventiva (BARATIERI et al., 1995).

    1.3 PROPRIEDADES PTICAS DOS TECIDOS DENTAIS

    Para o emprego de tcnicas pticas para o diagnstico ou terapia tecidual,

    necessrio o conhecimento das propriedades pticas e biolgicas dos tecidos envolvidos

    (MOURANT, 1998).

    A primeira propriedade ptica observada nos tecidos dentais a reflexo. A luz

    refletida e espalhada na superfcie do esmalte muito importante, sendo a principal

    responsvel pela capacidade de se ver o dente. Adicionalmente, a luz espalhada fornece

    informaes sobre a camada superficial do esmalte, que vem a facilitar o

    desenvolvimento de tcnicas para avaliao e medies apuradas das condies da

    superfcie do esmalte dental (ALTSHULER; EROFEEV, 1991 apud MISERENDINO;

    PICK, 1995).

    Na ptica linear dos tecidos duros dentais, cinco problemas principais devem

    ser discernidos. Esses so: (1) reflexo da luz e propagao nas limitaes do esmalte;

    (2) luz propagada no esmalte: (3) luz refletida e propagada na juno amelo-dentinria;

    (4) luz propagada na dentina; e (5) luz refletida e propagada na juno pulpo-dentinria

    (ALTSHULER; EROFEEV, 1991 apud MISERENDINO; PICK, 1995).

    A segunda propriedade a ser analisada o espalhamento. Por muito tempo foi

    considerado que a superfcie do esmalte possua um espalhamento isotrpico. Com este

    pensamento caracterizava-se o padro de translucidez e opacidade da estrutura dental

    comparando-a ao comportamento ptico observado nas cermicas. Estudos mais

    apurados derrubaram esta teoria (MISERENDINO; PICK, 1995).

  • 17

    Os prismas de esmalte (ou cilindros de enamel) possuem uma dimenso

    transversal de 3 a 5 m e seus eixos cristalinos esto orientados perpendicularmente

    superfcie. So constitudos de micro-cristais de hidroxiapatita orientados. Os espaos

    interprismticos so tambm constitudos de cristais de hidroxiapatita. Porm, neste

    caso os microcristais esto orientados de forma diferente, podendo ter, em mdia, um

    ngulo entre o eixo principal do cristal e o eixo perpendicular superfcie prximo a

    55. Graas a esta variao angular entre os prismas de esmalte e a substncia

    interprismtica, tem-se um ndice de espalhamento anisotrpico na superfcie do

    esmalte. Esta particularidade muito importante quando feita a anlise da polarizao

    da luz difusa.

    A luz espalhada na superfcie do esmalte dental tem duas componentes a serem

    analisadas. A primeira poro da luz espalhada pelas macro-rugosidades superficiais

    com dimenses superiores ao comprimento de onda da luz incidente, ocorrendo uma

    distribuio angular no uniforme. O segundo fator corresponde parte da luz incidindo

    sobre micro-rugosidades superficiais com dimenses inferiores ao comprimento de onda

    do feixe incidente, ocorrendo no caso um amortecimento homogneo da distribuio

    angular, descrito pela lei de Lambert, ocorrendo a difuso da luz.

    A Lei de Lambert estabelece que uma superfcie ou uma fonte perfeitamente

    rugosa reflete ou emite luz de acordo com a lei dos cosenos. Para um refletor, o ngulo

    de incidncia no muito importante, e a energia radiada em todas as direes. A Lei

    de Lambert no caso de corpos refletores pode ser escrita como

    ( ) ( )cosPP s= (1)

    onde P() a potncia refletida no ngulo , o coeficiente de reflexo da superfcie e Ps a potncia incidente (MAVRAKIS, 2003).

    A propriedade do espalhamento de luz em esmalte desmineralizado resulta em

    um acrscimo da luz espalhada no esmalte dental e um decrscimo da quantidade de luz

    refletida dos ftons incidentes, correspondendo a um acrscimo aparente na rea branca

    de desmineralizao (STOOKEY; ANALOUI, 1998).

    Uma terceira propriedade ptica estaria relacionada ao grau de polarizao ou

    despolarizao sofrido pela onda eletromagntica incidente sobre a superfcie dental, e

    as alteraes da polarizao relacionadas com as alteraes da estrutura dental. Durante

  • 18

    um processo de crie incipiente o principal fator considerado a presena de

    desmineralizao. Havendo perda de minerais no dente, as dimenses das distncias

    interprismticas e dos cilindros de esmalte seriam alteradas, mudando as propriedades

    pticas da superfcie de esmalte. A distribuio angular e o grau de despolarizao so

    afetados pelo aumento da desmineralizao em profundidade. Quanto maior o grau de

    despolarizao, mais intenso o processo de desmineralizao e mais intenso o

    processo de crie (MISERENDINO; PICK, 1995).

    A quarta propriedade que podemos destacar a absoro da onda

    eletromagntica pela estrutura dental. A absoro inerente interao entre luz e

    matria. O fosfato, o carbono e os grupos hidroxila conferem ao dente uma forte

    absoro na regio do infravermelho mdio e infravermelho distante, motivo pelo qual

    tm sido muito bem investigadas as modificaes e ablaes nesta faixa do espectro, no

    entanto, no emprego da luz para o diagnstico de leso de crie dental estas faixas de

    melhor absoro devem ser evitadas (ZUERLEIN, 1998).

    A quinta propriedade seria o ndice de refrao de luz no esmalte dental que

    dependente da composio ou do estado de mineralizao estrutural. Ela o resultado

    das diferenas nos ndices de refrao de luz entre a hidroxiapatita (n=1,62), gua

    (n=1,33) e ar (n=1,0). O esmalte um slido microporoso, e em condies de

    desmineralizao torna-se mais poroso, o que conduz a uma alterao na sua estrutura e

    consequentemente em suas propriedades pticas, de tal forma que a luz se dissipa muito

    mais que em uma estrutura hgida. Este quadro torna-se mais perceptvel quando a

    estrutura dental desidratada e os espaos interprismticos, que se encontram

    ampliados, so preenchidos com ar. Isto resulta em uma rea com aparncia menos

    translcida ou opaca, podendo-se concluir que h uma mudana na porosidade do

    esmalte nessa rea, indicando perda mineral ou hipomineralizao durante a formao

    do dente (THYLSTRUP, 1988 apud ZANIN, 1999).

    Uma explicao que os espaos interprismticos podem ser preenchidos por ar

    ou por gua, promovendo alterao no grau de translucidez do esmalte (que um

    fenmeno ptico). Como o ndice de refrao da hidroxiapatita de 1,62, se os espaos

    interprismticos no esmalte so preenchidos com uma soluo aquosa, cujo ndice de

    refrao prximo ao da hidroxiapatita, ento como se todos os espaos

  • 19

    interprismticos "desaparecessem". Assim o esmalte mantm sua translucidez e sua

    propriedade ptica no alterada. Quando secamos uma superfcie dental descalcificada

    de tal forma que os espaos interprismticos sejam preenchidos por ar, teremos uma

    grande diferena entre o ndice de refrao da hidroxiapatita e o dos espaos vazios.

    Assim, o mesmo tecido, quando estiver descalcificado, perde sua translucidez e

    conseqentemente, parece opaco.

    O ndice de refrao, atravs da variao mdia de absoro da luz pode fornecer

    uma estimativa muito precisa da porosidade do tecido e at mesmo distinguir entre reas

    de esmalte com diferentes graus de porosidade. Este mtodo de estimativa da perda

    mineral utilizado na microscopia com luz polarizada, na micro-radiografia e sua mais

    importante aplicao na clnica, com o uso de raios-x. Considerando que o esmalte

    hgido consiste quase inteiramente de minerais, necessria uma perda relativamente

    grande de clcio para que ela possa ser detectada pelo uso de Raios-X (THYLSTRUP;

    FEJERSKOV, 1995 apud ZANIN, 1999)

    Complementando as propriedades pticas dos dentes devemos destacar uma

    particularidade ptica dos prismas de esmalte e tbulos dentinrios. Observamos que os

    prismas de esmalte e os tbulos dentinrios se comportam como verdadeiros guias de

    onda, conduzindo parte da luz incidente na superfcie de esmalte at a superfcie da

    cmara pulpar. O transporte ptico no uniforme. As perdas so promovidas pelo

    espalhamento sofrido pelas partculas como os cristais de hidroxiapatita encontradas no

    interior dos tbulos, com conseqente absoro. Embora ocorram perdas no transporte

    da radiao incidente, tal particularidade (guia de onda) no pode ser descartada, pois

    parte da radiao incidente na superfcie do esmalte alcana a polpa dental, onde sero

    promovidos processos de interao luz-tecido, proporcionais quantidade de radiao

    recebida (ALTSHULER, 1991 apud MISERENDINO; PICK, 1995).

    1.4 ESPALHAMENTO DE LUZ

    Quando vemos uma rvore, uma casa, ns estamos vendo a luz solar refletida.

    No entanto, quando vemos o azul do cu, ns estamos vendo a luz solar espalhada pelas

    partculas suspensas na atmosfera. Mesmo quando achamos que estamos observando

    diretamente a luz, ao observar uma fonte luminosa como, por exemplo, uma lmpada,

  • 20

    ns estamos vendo na realidade a luz espalhada pelo vidro. O espalhamento, todavia,

    est sempre acompanhado da absoro.

    - ABSORO

    Quando a radiao eletromagntica atua sobre um sistema de cargas eltricas

    como molculas e ncleos, o sistema absorve e emite energia da onda. Ocorre a

    absoro e a emisso de ondas eletromagnticas por parte dos tomos. Um aspecto

    importante o conceito de fton ou quanta de radiao.

    Os tomos, as molculas e os ncleos encontram-se no estado de menor energia,

    ou estado fundamental. Um tomo, molcula ou ncleo pode excitar-se a um estado de

    maior energia que o estado fundamental atravs de diferentes meios. Por exemplo,

    atravs de colises inelsticas em que, uma partcula rpida (seja um eltron ou um

    prton) se choca com um tomo, uma molcula ou um ncleo, ou quando um nutron

    capturado por um ncleo, de modo que o projtil rpido transfere parte da sua energia

    cintica para o alvo.

    Quando uma onda eletromagntica atua sobre um sistema de cargas, os campos

    eltrico e magntico da onda imprimem uma oscilao forada sobre o movimento

    natural das cargas. Isso se traduz em uma absoro de energia por parte do sistema de

    cargas. Um oscilador responde com mais facilidade quando a freqncia das oscilaes

    foradas igual sua freqncia natural, caso em que existe ressonncia. Em

    ressonncia a absoro mxima. As freqncias de ressonncia constituem o espectro

    de absoro da substncia.

    A luz absorvida em geral convertida em uma outra forma de energia,

    ocorrendo desta forma a produo de calor.

    - ESPALHAMENTO

    Um outro processo que ocorre quando uma onda eletromagntica interage com a

    matria o espalhamento. Os tomos inicialmente so perturbados pela onda incidente

    e absorvem energia da radiao eletromagntica. Posteriormente, pelo processo

  • 21

    contrrio, os eltrons ligados do tomo excitado emitem a radiao eletromagntica que

    foi absorvida da onda incidente. Esta radiao emitida designa-se onda espalhada.

    O espalhamento diminui a intensidade da onda incidente porque a energia

    absorvida da onda reemitida em todas as direes, o que produz uma reduo efetiva

    da radiao primria.

    A intensidade das ondas espalhadas depende da freqncia da onda primria e

    do ngulo de espalhamento. Outro fator a ser considerado a distncia entre as

    partculas irradiadas. O ideal seria que a distncia fosse o suficiente para garantir

    espalhamento independente de cada uma, permitindo assim o estudo individualizado.

    No entanto em matria orgnica a consistncia estrutural de formao impede a

    presena desta independncia.

    Uma outra forma de espalhamento ocorre pela reflexo da luz incidente pelas

    partculas (efeito Tyndall) e no ocorrendo a absoro e emisso do espalhamento

    molecular. A reflexo das ondas eletromagnticas requer especial ateno por implicar

    as componentes eltricas e magnticas da onda. Ambos os campos, eltrico e

    magntico, so perpendiculares direo de propagao de cada onda, podendo ter

    qualquer orientao em torno dela.

    Quando uma radiao primria no polarizada, a radiao espalhada por

    qualquer superfcie sempre parcialmente polarizada. Num meio slido cristalino, a

    orientao das molculas est mais ou menos fixa pela ao dos campos eltricos locais

    da rede cristalina. Assim, as propriedades do cristal dependem da direo em que so

    medidas, e dependendo da sua estrutura os slidos cristalinos podem comportar-se

    opticamente como meios isotrpicos ou anisotrpico.

    A capacidade do fton de manter a polarizao depende do tamanho, da forma e

    das propriedades de espalhamento das partculas da matria. Os diferentes estados de

    polarizao podem ser empregados para caracterizar a matria. Um dos principais

    fatores a ser considerado no estudo do espalhamento da luz refere-se ao questionamento

    sobre se a freqncia da luz espalhada a mesma da luz incidente. Na anlise do

    espalhamento da luz, se um feixe luminoso atravessa perfeitamente um meio

    homogneo no sofre espalhamento; somente a no homogeneidade poder causar o

    espalhamento. No entanto, os mais diversos materiais so compostos por molculas, que

    funcionam como pequenos centros de espalhamento. A efetividade do espalhamento

  • 22

    depende do arranjo que estas molculas tomam dentro do material, logo ocorrer

    espalhamento tanto em um meio homogneo quanto em um meio heterogneo

    (STOCKFORD, 2002).

    Existem dois tipos de espalhamento: o espalhamento de Rayleigh e o

    espalhamento de Mie. O espalhamento de Rayleigh provocado pela existncia de

    partculas ou molculas com tamanhos inferiores a 1/10 do comprimento de onda () da luz incidente. um espalhamento dbil e praticamente isotrpico, no tendo mudanas

    na distribuio espacial. Quando, porm, as partculas irradiadas possuem um tamanho

    prximo ao comprimento de onda, temos o espalhamento de Mie, ocorrendo uma

    disperso importante, mas sempre avanando para o interior da matria.

    Ambos, espalhamento e absoro, removem energia do feixe de luz que

    atravessa o meio, ficando o feixe atenuado. Esta atenuao tambm chamada de

    extino. Isto ocorre quando olhamos diretamente para uma fonte de luz (VAN DE

    HULST, 1981).

    Para anlise do comportamento do feixe de luz, incidindo sobre a superfcie do

    esmalte, deve-se partir do princpio de que, embora a superfcie do esmalte nos parea

    homognea, ao microscpio ela heterognea.

    Considere primeiramente um tipo particular de superfcie chamada de refletor

    ideal difuso. Uma superfcie considerada difusa ideal se, a nvel microscpico

    bastante rugosa. O giz um bom exemplo uma superfcie difusa prxima ao ideal,

    porque no microscpio vemos a variao da superfcie, sendo o raio igualmente

    refletido em qualquer direo do hemisfrio.

    O espalhamento completamente caracterizado pela intensidade. Uma

    propriedade adicional a polarizao ou fase. A fase no pode ser medida diretamente,

    devido importncia da correta formulao do espalhamento da luz polarizada, estando

    na dependncia da fase da luz incidente. Conhecendo o grau de polarizao da onda

    eletromagntica incidente, ao determinar o grau de polarizao da onda eletromagntica

    espalhada, podemos ento determinar o grau de despolarizao da superfcie analisada.

    Um outro fator seria o espalhamento mltiplo, onde cada partcula irradiada

    tambm exposta a luz espalhada por outra partcula. Na realidade, quando falamos em

    espalhamento em tecidos biolgicos, estamos nos referindo a mltiplo espalhamento.

  • 23

    1.5 O USO DO ESPALHAMENTO DE LUZ NA MEDICINA

    Zinchik et al. (1997) descreveram o emprego do laser de luz de He-Ne para a

    deteco de fraturas de estruturas dentais empregando a luz espalhada. A tcnica era

    baseada no emprego de lentes alinhadas, unidade de controle de polarizao e registro

    de desvio, este ltimo obtido com uma cmara CCD em interface com um computador.

    O experimento providenciava diferentes faixas de luz espalhada no esmalte e na

    dentina. O computador processava os diferentes estados de polarizao da luz causados

    por diferentes espalhamentos nas junes do relevo dental. O resultado desta pesquisa

    pode ser empregado para restauraes dentais, graas definio das propriedades de

    adeso da dentina, segundo o padro ptico observado.

    O grau de polarizao da luz muda conforme ela se propaga no interior do

    tecido. Conforme a luz se propaga no interior do tecido, este promove mudanas no

    espalhamento da luz, dependendo das novas camadas de tecido atingido. Conhecendo o

    grau de polarizao referente a um tecido sadio, e as alteraes deste grau em tecidos

    semelhantes com desenvolvimento de cncer, pode ser determinado o ponto de alterao

    na polarizao que justificaria a presena de uma neoplasia em evoluo. Partindo deste

    princpio, Jacques (2002), apresentou um trabalho em que promovia um diagnstico no

    invasivo de neoplasias em tecidos de pele, baseado na alterao do grau de polarizao

    da luz espalhada pela superfcie da pele, coletando estas informaes com uma cmara

    CCD. As imagens obtidas eram comparadas com as imagens da regio sem o emprego

    dos polarizadores. O projeto em si permitiu a delimitao da rea afetada pela neoplasia

    possibilitando o seu emprego como um guia cirrgico na exciso do cncer de pele.

    O uso freqente de tcnicas de diagnstico com emprego das propriedades da

    luz e sua interao com os tecidos biolgicos cada vez mais prevalente nas diversas

    especialidades da medicina. Partindo deste princpio, Murat et al. (2000) apresentaram

    um mtodo minimamente invasivo, empregando as propriedades de retroespalhamento e

    fluorescncia com o objetivo de determinar em tempo real a concentrao de droga

    teraputica. A tcnica levava em considerao a faixa de fluorescncia e espalhamento

    da luz, que proporcional ao coeficiente de absoro do foto sensibilizador do tecido

    analisado.

  • 24

    Everett et al. (1999) j mencionavam a falta de tecnologia de diagnstico

    empregando a radiao no ionizante para detectar, caracterizar e monitorar o estado de

    mineralizao do esmalte dental in vivo. Em busca de uma soluo estes autores

    empregaram um tomgrafo de coerncia ptica, sensvel polarizao, como uma

    tcnica no invasiva de diagnstico precoce de leses de cries dentais, utilizando lotes

    de dentes bovinos contendo leses de crie caracterizadas artificialmente.

    Complementaram sua pesquisa obtendo imagens de cortes transversais de dentes

    humanos cariados extrados, onde era possvel discriminar facilmente a regio cariada

    da regio sadia. A quantidade de desmineralizao do tecido dental foi determinada pela

    medio do estado de polarizao da luz retroespalhada. Nestas observaes

    constataram que a regio desmineralizada possua um grande coeficiente de

    espalhamento e desta forma uma maior despolarizao. Foi empregada luz laser na faixa

    do infravermelho (1310nm).

    Os diversos resultados obtidos nas mais diversas tcnicas somente so validados

    depois de serem comparados aos resultados obtidos atravs de outras tcnicas padro.

    Este procedimento possibilita a determinao de parmetros para o emprego e validade

    das novas tcnicas.

    Anlise das superfcies das restauraes de amalgama e resina, empregando um

    mtodo no destrutivo baseado no espalhamento da luz coerente e sobre a reflexo nas

    superfcies tratadas, foi capaz da determinao do grau de acabamento e polimento dos

    materiais restauradores. Avaliaram o grau de polimento das superfcies das restauraes

    de amalgama e resina com o uso do espalhamento da luz coerente, fazendo uma

    correlao entre as propriedades de difrao, comparando a reflexo especular da luz

    coerente com o nvel de rugosidade da superfcie (BOUCHARD et al., 1992).

    O tomgrafo de coerncia ptica tem sido empregado com bastante sucesso e

    com alta preciso na tomografia de tecidos dentais. O princpio da tcnica consiste na

    gravao da alterao na polarizao da luz retroespalhada por um tecido dental.

    Atravs de dois mapas de magnitude da intensidade de interferncia, atravs da

    diferena de fase entre dois estados de polarizao ortogonal, podem ser reveladas

    informaes em profundidade da estrutura (BAUMGARTNER, 1998).

  • 25

    2. DEFINIO DO PROBLEMA No dia a dia da clnica odontolgica constantemente observado que a maioria

    dos casos atendidos esta diretamente relacionada com a perda de substncia dental

    ocasionada por leses de crie. Mesmo nas regies em que os mtodos preventivos so

    regularmente empregados com o acesso informao e s tcnicas de higienizao,

    ainda so alarmantes os ndices CPO-D observados nos consultrios odontolgicos e

    nos postos pblicos de atendimento.

    O ndice CPO-D um indicativo inteligente, pois ele apresenta o contato que

    determinada pessoa ou populao teve com a doena crie, no importando se recebeu

    tratamento conservador restaurador ou mutilador, e no tem como diminuir para o

    mesmo grupo avaliado. Por exemplo: em um levantamento epidemiolgico se for

    avaliado um grupo de crianas com 10 anos e o ndice CPOD, neste ano, foi igual a 8;

    no prximo ano ao ser avaliada a mesma populao, neste caso com 11 anos, o ndice

    dever ser o mesmo ou poder at subir, mas nunca diminuir.

    Existe a falta de confiabilidade dos dados estatsticos em sade pblica.

    Primeiramente porque no existe uma conscientizao quanto necessidade de qualquer

    programa de sade ter um diagnstico fundamentado em dados estatsticos, os dados

    estatsticos, quando apresentados, constituem sempre um emaranhado confuso. Ao

    serem divulgados por rgos oficiais diferentes, o mesmo espao amostral, mesmo

    perodo abrangido, objetivo e tabelas idnticas, os resultados geralmente so

    contraditrios (CAMPOS et al., 2001).

    O consenso entre o diagnstico feito por uma mesma equipe de sade bucal

    duvidoso: um mesmo dente pode apresentar-se visualmente sem crie para um

    examinador, ao passo que para outro j est com um processo de crie incipiente. O

    mtodo tradicional empregando o espelho dental e o explorador, embora possibilite uma

    confirmao da presena de crie dental, poder promover uma invaso do tecido

    desmineralizado levando cavitao. As tcnicas radiogrficas tm a sua aplicao, no

    entanto podem apresentar resultados falsos.

    Necessrio se faz o desenvolvimento de novas tcnicas que sejam eficazes no

    diagnstico da crie dental, apresentando uma informao precisa da presena da crie.

    A informao colhida no pode ser dependente da sensibilidade ttil do profissional,

    deve ser de fcil interpretao, podendo ser repetida e os resultados obtidos em um

  • 26

    levantamento serem aceitos com unanimidade. A confiabilidade na tcnica

    fundamental.

    Considerando a experincia clnica do autor em levantamentos epidemiolgicos

    nos servios de sade pblica, atuando na coordenao de Equipes de levantamento

    epidemiolgico onde vivenciou a grande dificuldade em treinar equipes de sade bucal,

    juntamente com a dificuldade de disponibilizar equipamentos sofisticados que

    apresentassem uma maior confiabilidade dos resultados, surgiu a necessidade de

    apresentar outra tcnica como opo de exame.

    O autor buscava empregar a preciso da tecnologia laser, que vem

    revolucionando o campo de diagnstico mdico, graas a sua enorme preciso a uma

    tcnica a ser desenvolvida de execuo simples, podendo ser facilmente reproduzida e

    os resultados encontrados apresentar credibilidade. No entanto, o fator custo tinha que

    ser outra preocupao, tendo em vista, a proposta inicial de empreg-la no servio

    pblico.

    A proposta era estudar a propriedade de retroespalhamento difuso da luz laser

    pelo esmalte dental, buscando interpret-la, colhendo informaes do estado estrutural

    do dente. A variao do comportamento do retroespalhamento iria determinar a

    presena de crie dental.

  • 27

    3. OBJETIVO

    Estudar o espalhamento da luz em dentes sadios e cariados, procurando um

    ndice que permite diferenciar ambos.

    Desenhar e construir um aparelho experimental de baixo custo que permite

    medir o espalhamento da luz laser.

  • 28

    4. MATERIAIS E MTODOS

    4.1 Os dentes

    Os dentes foram obtidos de extraes necessrias, realizadas na clnica particular

    do autor, por indicao ortodntica, ou comprometimento periodontal avanado, ou

    indicaes protticas, sendo os pacientes orientados do emprego destas peas

    anatmicas em pesquisas cientficas, conforme termo de consentimento livre em anexo.

    O primeiro passo consistiu em promover a esterilizao destes dentes,

    acondicionando em potes com soro fisiolgico. O prximo passo foi identificar cada

    dente aproveitando a experincia clnica do autor, e o auxilio de um Atlas anatmico

    (McMIN; HUTCHINGS, 1985). Os dentes foram divididos em dois grupos: grupo dos

    dentes cariados e grupo dos dentes hgidos.

    Os dentes foram criteriosamente inspecionados e radiografados procurando

    direcionar o feixe do Raio-X perpendicular a face vestibular buscando uma incidncia

    semelhante a tcnica empregada na radiografia interproximal para diagnstico de crie

    dental (fig. 7).

    Dentro destes grupos foram selecionados os dentes com estrutura integra, os

    possveis dentes cariados, e os comprovadamente cariados.

    Cada dente a ser analisado recebia um cdigo de identificao, seguindo o

    padro universal de denominao dental com dois dgitos, acompanhado de uma letra

    que correspondia ao dente especificamente. Exemplo: dente 25 A (primeiro pr-molar

    superior lado Esquerdo, dente A).

    O ponto da superfcie de esmalte irradiado era identificado adotando o padro de

    identificao empregado para o ndice de placa dental (fig.8), onde a face analisada

    dividida em nove quadrantes. O local que seria irradiado recebia o nome do quadrante

    em odontologia. Por exemplo, dente 24 A, quadrante mesio-cervical vestibular

    (primeiro pr-molar superior, lado esquerdo, dente A, irradiado na face vestibular, na

    face vestibular da coroa dental, no quadrante mesio-cervical pertencente ao tero

    anterior no sentido horizontal; e ao tero prximo gengiva no sentido vertical).

  • 29

    A - Dente 47 dente 37 B - Dente 48

    C - Dente 42 e dente31

    Figura 7: Radiografia dos dentes, A - observa-se visivelmente nos dentes 47 e 37 a

    presena de crie nas faces distais; B - dente 48 com crie pontual na face vestibular, o

    exame radiolgico apresenta resultado falso negativo; C - dente 42 observa-se

    claramente presena de crie na face distal, dente 31 com crie na face distal, no

    entanto, a radiografia no conclusiva.

  • 30

    Figura 8: Diviso da face dental em quadrantes, M - face proximal dividida em quadrantes; V - face vestibular dividida em quadrantes.

    Fonte Corra (1979)

    4.2 Medio de luz espalhada

    - A caneta com detector de luz

    O LDR (Light Dependent Resistor) tambm chamado de clula foto-condutiva,

    ou ainda de foto-resistor, um dispositivo semicondutor de dois terminais, e sua

    resistncia varia com a intensidade de luz incidente. Sob influncia da luz incidente

    aumenta sua condutividade. O comprimento de onda da luz incidente sobre o LDR tem

    grande influncia sobre sua resistncia. Semelhante aos olhos humanos, o LDR mais

    sensvel na faixa da luz laranja-avermelhada. No entanto, tambm pode ser

    sensibilizado na faixa do infravermelho prximo. Tendo em vista que o tecido analisado

    possui uma grande absoro na faixa do infravermelho mdio e distante, foi escolhida a

    faixa da radiao visvel para este estudo.

    A construo do LDR consiste na conexo do material foto-sensvel com dois

    terminais, sendo que uma fina camada deste material exposta incidncia luminosa

  • 31

    externa. Durante a exposio a uma fonte luminosa conforme aumenta a intensidade de

    luz incidente, um nmero maior de eltrons na estrutura tem tambm o seu nvel de

    energia aumentado, devido absoro da energia dos ftons. O resultado o aumento

    de eltrons livres e fracamente presos ao ncleo atmico, ocorrendo uma diminuio da

    resistncia. Este dispositivo possui ainda uma particularidade: a sua resistncia varia

    independentemente do sentido da corrente eltrica que por ele circula. Por isso

    perfeitamente possvel o seu emprego em corrente alternada.

    Geralmente os LDRs so encontrados nos circuitos eletrnicos em configuraes

    onde forme um divisor de tenso, sendo o LDR um dos ramos do divisor de tenso, seja

    no ramo positivo ou no ramo negativo. Ocorrendo variao na intensidade da

    iluminao, o divisor de tenso tambm sofrer variao de tenso em seus ramos.

    Como todo componente eletrnico semicondutor, o LDR sofre tambm

    influncia da variao da temperatura, sendo sua resistncia decrescente com a elevao

    da mesma.

    Neste trabalho foi desenhado um detector de luz, usando um LDR fixo dentro de

    uma caneta num circuito divisor de tenso (fig. 9). Para isto, o LDR foi montado dentro

    de uma sonda desenvolvida com o reaproveitamento de uma caneta esferogrfica sem a

    carga. A face sensitiva do semicondutor foi cuidadosamente alinhada, tangenciando a

    base do tubo da caneta, ficando perpendicular ao eixo maior do tubo.

    Figura 9: Circuito divisor de tenso.

    O cone de apoio digital da caneta serviu de proteo do conjunto. A extremidade

    do cone possua uma ponta com uma extremidade com 2,5mm de dimetro, oferecendo

    uma colimao para o feixe de laser. As variaes de resistncia e de tenso eram

    tomadas sobre os terminais do LDR, atravs de dois fios condutores soldados a

    extremidade do componente. Estes fios serviam de pontos para coletas das informaes,

    sendo ligados aos terminais de um multmetro. Com o objetivo de evitar interferncias

  • 32

    no valor da resistncia do LDR, sensibilizado pelo feixe de luz, foi instalada no circuito

    uma chave unipolar, duas posies. O procedimento de operao consistia em verificar

    o valor da resistncia excitada pelo feixe de luz sem a interferncia da fonte de

    voltagem. No circuito, o LDR estava em serie com uma resistncia de 1 k e

    alimentado com uma fonte DC de 3V. A medio da resistncia e da voltagem foi feita

    com um multmetro digital MINIPA ET-1001.

    - O gonimetro

    Como o objetivo deste trabalho era medir a luz espalhada como funo do

    angulo de observao, relativo ao eixo do feixe de luz incidente, foi desenhado um

    gonimetro para fixar a caneta nele.

    O prottipo do gonimetro foi desenvolvido empregando-se um transferidor de

    acrlico com 360, alinhado com o eixo longitudinal de uma caixa acrlica, servindo de

    base principal. Foi desenvolvido um brao cursor perfurado no centro, onde de um lado

    foi fixado o sensor LDR, e na outra extremidade foi idealizado um ponteiro que

    indicaria o ngulo de medida em relao ao feixe incidente. Completando a montagem

    foi confeccionada, em resina acrlica de ativao trmica, uma base de ensaios para

    fixar os dentes, sendo instalada com um eixo metlico que atravessava o brao cursor

    alcanando o ponto central do transferidor (fig. 10).

    Figura 10: Gonimetro e caneta com sensor (LDR).

    O conjunto obtido sofreu algumas modificaes, no decorrer das sesses

    experimentais, necessrias para uma melhora na coleta das informaes. Foi observado

  • 33

    que qualquer vibrao ou movimento acarretava mudanas significativas nos valores

    medidos com o multmetro. Com o propsito de eliminar esta interferncia, foram

    construdos eixos concntricos de forma que a base de ensaios (plataforma de prova)

    permanecesse fixa, enquanto o brao cursor se movimentasse. A base de ensaios deveria

    estar constantemente alinhada, permitindo ao feixe do laser, durante o ensaio, irradiar

    sempre o mesmo ponto da superfcie do esmalte. Qualquer pequena alterao poderia

    modificar o resultado obtido nos diversos ngulos. Este problema foi contornado

    adaptando base de ensaio um ponteiro indicativo de posio, permitindo alinhar a

    base, e conseqentemente a face do dente a ser analisada, permanecendo todo o

    conjunto estvel durante a anlise de um dente.

    Durante as medies, constatou-se que o movimento do brao cursor no estava

    uniforme, devido ao prprio atrito das superfcies. Para eliminar este problema, foi

    adaptada cuidadosamente uma roldana de 5mm de dimetro externo, com resina

    acrlica, ao brao cursor. Como seu dimetro interno era compatvel com o eixo da base

    de ensaios, possibilitava um movimento mais uniforme e contnuo. Buscando reduo

    de atrito, as partes mveis foram lubrificadas com vaselina slida.

    Todo o cuidado no desenvolvimento do gonimetro facilitou a tomada das

    medies realizadas, possibilitando inclusive a repetio do experimento com a

    obteno das mesmas medidas anteriores.

    - Sistema de medio

    O dispositivo experimental utilizado constava dos seguintes componentes:

    Uma fonte de luz laser He-Ne 633 nm polarizado, modelo 1201-

    1, serial 067842, fabricado pela UNIPHASE, com potncia mdia na sada de

    1,9 mW;

    Um multmetro digital modelo ET-1001 CE, fabricado pela

    MINIPA, previamente aferido;

    Um medidor de potncia modelo 13 PEM 001, fabricado pela

    MELLES GRIOT;

    Fios condutores de baixa resistncia, para montagem do circuito

    eletrnico.

  • 34

    Um gonimetro;

    Um semicondutor LDR;

    Um resistor de 1 k.

    Para checar a estabilidade durante o processo de medio do gonimetro, foi

    colocado no centro da base de prova um cilindro metlico, e foi avaliada a varredura nos

    dois sentidos em torno do feixe de luz laser incidente comprovando a eficcia do

    aparelho para a medio da reflexo difusa angular. O resultado pode ser observado na

    figura11. A simetria observada em ambos lados significa que o sistema se encontrava

    alinhado e estvel.

    0,00950

    0,00952

    0,00954

    0,00956

    0,00958

    0,00960

    0,00962

    0,00964

    0

    30

    60

    90

    120

    150

    180

    210

    240

    270

    300

    330

    0,00950

    0,00952

    0,00954

    0,00956

    0,00958

    0,00960

    0,00962

    0,00964

    ld direito ld esquerdo

    Figura 11: Valores obtidos com a varredura do cilindro metlico

    - Medio da luz espalhada nos dentes

    Antes de qualquer medida o laser permaneceu ligado por uma hora com o intuito

    de estabilizar a potncia do feixe de luz. Foi improvisado um obturador do feixe, de

    forma que a superfcie dental somente era irradiada no momento exato da tomada das

    medidas, e eram aguardados 10 segundos para a estabilizao do LDR. Aps cada

    medida realizada o feixe era cortado pelo sistema obturador, o sensor ptico adaptado

  • 35

    no brao cursor era deslocado para a posio do novo ngulo, confirmava-se posio

    inicial da base de ensaios, o brao cursor era estabilizado na nova posio, e somente

    aps estes procedimentos o obturador era liberado permitindo a irradiao da regio a

    ser analisada.

    O feixe incidente irradiava uma rea de aproximadamente 1mm2, paralela ao

    sensor ptico (Fig. 12).

    Figura 12: Coleta de informaes com o sensor LDR

    A estrutura dental poderia ser mapeada em quadrantes de 1mm2, modificando a

    posio do dente na base de ensaios, ou fazendo o feixe e sensor ptico mudarem para

    uma nova posio.

    Foram realizadas medies com a luz da sala de experimento acesa, e no escuro.

    As medies somente foram aceitas como corretas aps a confirmao e repetio nos

    referidos ngulos, mantendo a base de prova fixa no gonimetro.

  • 36

    - Polarizao da luz

    Quando um feixe de luz est polarizado, est sendo caracterizada a direo de

    oscilao do campo eltrico na onda eletromagntica. A luz sendo uma onda transversal

    pode ser polarizada de diferentes maneiras: linear, circular ou elptica.

    A luz emitida por uma fonte de luz quaisquer, por exemplo, uma lmpada, no

    polarizada. Contudo, pode-se polarizar a luz fazendo-a passar por um polarizador. O

    polarizador na realidade um dispositivo ptico que transmite de forma seletiva a luz

    que tem o seu plano de polarizao paralelo ao eixo de transmisso do polarizador,

    bloqueando as componentes perpendiculares a este eixo.

    Uma forma bastante prtica de controlar a luminosidade de um feixe de luz laser

    no polarizada seria fazer o feixe passar primeiramente por um polarizador, a seguir,

    fazer a luz polarizada deste feixe atravessar um segundo polarizador, que chamado de

    analisador, como uma forma de distingui-lo do primeiro polarizador. Considera-se o

    ngulo azimutal, como uma medida do ngulo entre os eixos de transmisso do

    polarizador e do analisador. Vamos supor que I0 a intensidade do feixe que alcana a

    primeira face do analisador, e I a intensidade do feixe que transmitido pelo analisador.

    Como o analisador transmite apenas a componente que paralela ao eixo do

    polarizador, e a intensidade proporcional ao quadrado da amplitude da onda, tem-se

    que a intensidade da luz transmitida pelo analisador ser igual luz incidente

    multiplicada pelo quadrado do coseno formado pelo ngulo de desvio entre o eixo do

    analisador comparado com o polarizador. Este princpio corresponde Lei de Malus:

    I = I0. (cos )2

    (2) Em uma interpretao mais prtica, a intensidade da luz mxima quando o eixo

    do analisador est paralelo ao eixo do polarizador, pois coseno de 0 igual a 1, e

    mnima quando os eixos estiverem perpendiculares entre si, pois coseno de 90 igual a

    0. A luz ao incidir sobre uma determinada superfcie poder ser refletida ou espalhada,

    estes processos tende a polarizar a luz, podendo ser aplicados para produzir luz

    polarizada.

  • 37

    - Calibrao do detector de luz

    Inicialmente foi construdo um conjunto sensor para anlise da luz difusa,

    espalhada pela estrutura dental aps a irradiao com a luz do laser HeNe. O aparelho

    foi fabricado utilizando como elemento detector um semicondutor LDR montado em

    um circuito divisor de tenso com um resistor de 1k ohms. Calibrar este sistema

    significa saber qual a relao entre a resistncia ou a diferena de potencial lida nos

    terminais do detector e a intensidade da luz incidente. Para poder variar a intensidade da

    luz incidente, foi usado o fato de que a luz emitida pelo laser He-Ne linearmente

    polarizada. Ento, usando um polarizador podemos aplicar a Lei de Malus para variar a

    intensidade da luz incidente no LDR.

    Figura 13: Montagem do conjunto polarizador-analisador para a calibrao do sensor

    com o LDR (o laser empregado era polarizado, foi mantido o primeiro polarizador

    apenas com objetivo didtico).

    Ento, o feixe de luz foi posicionado para atravessar o polarizador, de forma que

    o eixo de polarizao do polarizador estivesse corretamente alinhado com o eixo de

    polarizao do feixe de luz laser, permitindo a passagem da maior quantidade possvel

    de luz. Tomou-se o cuidado de estabilizar o conjunto ptico de forma que o feixe laser

    incidisse perpendicularmente ao conjunto polarizador-detector.

    Foram realizadas diversas anlises dos valores da resistncia e da tenso obtidos

    nos terminais do LDR. Aps exaustivo trabalho, por deduo indutiva foram

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    empregando-se o inverso da tenso e o inverso da resistncia, determinando a curva de

    calibrao do LDR. O sistema demonstrou melhor sensibilidade para a variao da

    resistncia. Constatou-se, ento, que poderia inicialmente descartar o circuito divisor de

    tenso, empregando apenas o ohmmetro para medir a variao da resistncia.

    0.000 0.001 0.002 0.003

    0.0

    0.1

    0.2

    0.3

    0.4

    0.5

    0.6

    0.7

    I/I0=A+B

    1(1/R)+B

    2(1/R)2

    A=0.0095+/- 0.0029B

    1=19.88+/- 5.03

    B2=53205.48+/- 1722.81

    I relat

    iva =

    I/I 0

    1/R (-1)

    Figura 14: Curva de calibrao do LDR

    Empregando o software Origin 6.0 foi determinada a frmula da curva

    fundamental para a determinao dos clculos:

    20

    48,5320588,190095,0RRI

    I++= (3)

    Onde I a intensidade da luz incidindo no detector e I0 a intensidade da luz emitida

    pelo laser. Esta relao mostra que o parmetro medido foi a variao relativa da

    intensidade luminosa, ou a porcentagem de variao.

    - Determinao do espalhamento polarizado nos dentes

    Para determinar o grau parcial de polarizao da luz espalhada, foram feitos dois

    tipos de medies: uma com um polarizador na frente do detector e outra sem o

    polarizador.

    No caso da medida com o polarizador:

  • 39

    Foi empregado um polarizador, que inicialmente foi posicionado com o

    seu eixo alinhado em 90 com o eixo de polarizao do feixe do Laser, obtendo o

    bloqueio total da passagem do feixe laser;

    Mantendo esta posio, o filtro polarizador foi montado sobre o brao

    cursor, na frente do sensor LDR;

    Com o LDR, foi feita a varredura da face vestibular nos sentidos mesial e

    distal, e os valores de resistncia foram registrados;

    Foi determinada atravs da frmula obtida na calibrao a intensidade

    relativa da luz refletida nas faces mesial e distal.

    No caso da medio sem o polarizador:

    Com o LDR, foi feita a varredura da face vestibular nos sentidos mesial e

    distal, os valores de resistncia foram anotados.

    Foi determinada atravs da frmula obtida na calibrao a intensidade

    relativa da luz refletida nas faces mesial e distal.

    - Determinao do grau parcial de polarizao

    -

    O grau parcial de polarizao foi calculado empregando-se a seguinte frmula:

    P

    PSPn I

    III

    = (4)

    Onde:

    In: grau parcial de polarizao

    ISP: Intensidade determinada sem polarizador

    IP: Intensidade determinada com polarizador

    Esta frmula uma modificao daquela para calcular o grau de polarizao,

    onde duas medidas so feitas, com polarizadores cujos eixos esto perpendiculares e

    paralelos ao eixo de polarizao da luz incidente (SAKARAN et al., 1999).

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    5. RESULTADOS E DISCUSSO

    Os dentes foram separados em dois conjuntos: hgidos e cariados. Os dentes

    hgidos no possuam qualquer alterao ou indcio de leso por crie dental. Foram

    considerados como dentes cariados aqueles dentes com alterao visvel na superfcie

    do esmalte dental ou os dentes com imagem radiogrfica sugestiva de leso de crie.

    Destes dois conjuntos foram selecionados os dentes para serem analisados. Os dentes

    hgidos passaram a ser denominados de grupo controle.

    Foram realizadas as medies a cada 5, com o polarizador colocado na frente do

    sensor estando seu eixo de polarizao perpendicular ao feixe de luz incidente. Tambm

    foram feitas medies nos mesmos ngulos sem o emprego do polarizador. No trabalho

    realizado o que est sendo medido o valor da resistncia do LDR. A luz refletida ao

    alcanar o sensor LDR promove alterao na sua resistncia que depende da quantidade

    de