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Virgílio Alberto Valente Caseiro CAUSAS DETERMINANTES, OBJECTIVOS E EVOLUÇÃO Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra 1992

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Virgílio Alberto Valente Caseiro

CAUSAS DETERMINANTES, OBJECTIVOS E EVOLUÇÃO

Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

1992

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Ficha Técnica Composição do texto: Virgílio Alberto Valente Caseiro Reprodução gráfica e brochura: Secção de textos e publicações da

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Faculdade de Letras-Universidade de Coimbra Direitos de Autor: Virgílio Alberto Valente Caseiro.

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INDICE: Introdução 6

1 - Estruturação 10

1.1 - História 14

1.1.1 - Período de João Arroio 14

1.1.2 - Período da Sebenta 17

1.1.3 - Período de António Joyce 19

1.1,4 - Período de Elias de Aguiar 25

1.1.5 - Período de Raposo Marques 31

1.1.6 - Período de Joel Canhão 42

1.1.7 - Período de Cândido Lima 46

1.1.8 - Período de Artur Carneiro 48

1.1.9 - Período de Virgílio Caseiro 53

1.1.10-Síntese cronológica das Digressões

realizadas ao estrangeiro 58

1.2 - Os Estatutos 61

1.2.1 - Os Estatutos em vigor 66

1.3 - As Direcções Artísticas 79

1.3.1 - João Arroio 79

1.3.2 - António Joyce 82

1.3.3 - Elias de Aguiar 84

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1.3.4 - Raposo Marques 88

1.3.5 - Joel Canhão 91

1.3.6 - Cândido Lima 93

1.3.7 - Carlos Brito 95

1.3.8 - Artur Carneiro 97

1.3.9 - Virgílio Caseiro 99

1.4 - O Reportório 101

1.4.1 - Período de João Arroio 101

1.4.2 - Período da Sebenta 102

1.4.3 - Período de António Joyce 102

1.4.4 - Período de Elias de Aguiar 104

1.4.5 - Período de Raposo Marques 105

1.4.6 - Período de Joel Canhão 106

1.4.7 - Período de Cândido Lima 108

1.4.8 - Período de Artur Carneiro 109

1.4.9 - Período de Virgílio Caseiro 111

1.4.10-Reportório-algumas considerações 114

2 - O Orfeon como centro actual de projecção e

formação artística no meio académico e na cidade 119

2.1 - Actividade musical 120

2.2 - Acção educativa 125

2.3 - Inquéritos 131

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3 - Conclusões 136

4 - Bibliografia 140

5 - Anexos 144

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INTRODUÇÃO

Ao assumir um papel ímpar de liderança no panorama histórico-académico

nacional, Coimbra tornou-se, por direito próprio, o lugar primeiro da actividade

associativa no país. Não obstante as dificuldades que ao longo dos tempos e dos

regimes lhe foram levantadas, a sua persistência tem sido o garante desta liderança,

bem assim como o vinco de personalização associativa que incontroversamente

mantém.

Muitos são os vectores que ao longo dos anos, e desde a sua formação como

Associação Académica, têm dado o seu melhor contributo para esta personalização; e

de entre estes será justo dar especial relevo ao trabalho desenvolvido pelos

organismos autónomos e pelas secções culturais e desportivas.

A Associação Académica tem, ao momento, nove secções artístico-culturais,

vinte e três secções desportivas e oito organismos autónomos. Nestes últimos se inclui

o Orfeon Académico de Coimbra (O.A.C.) conjuntamente com a Tuna Académica

(T.A.U.C.), Grupo de Etnografia e Folclore (G.E.F.A.C.), Coro Misto da Universidade

de Coimbra (C.M.U.C.), Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra

(T.E.U.C.), Centro de Iniciação ao Teatro da Academia (C.I.T.A.C.), Círculo de Artes

Plásticas (C.A.P.C.) e Organismo de Futebol (A.A.C./O.A.F.).

De todos estes organismos cabe ao Orfeon a honra de ser o mais antigo,

remontando mesmo a sua fundação a tempos anteriores à própria fundação da

Associação Académica.

Isto justifica a importância de que se reveste um trabalho sistemático de recolha

e síntese histórica sobre este organismo. Falar do Orfeon Académico é, em

simultâneo, para além de contar a sua história, dar a conhecer o seu contributo para a

sociedade académica em que sempre esteve inserido, o papel social que

desenvolveu desde os seus primeiros passos, o contributo artístico ímpar que deu à

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cidade, o gosto artístico que estimulou nos seus elementos e mais ainda o contributo

de congregação e espírito académico fraterno com que marcou e marca todos os seus

associados, unindo gerações e universalizando esta verdade, difícil de compreender,

que é o ser ou ter sido estudante em Coimbra.

Por isso se entendeu como essencial a observação do Organismo segundo

várias vertentes, enquadrando-o, tanto quanto possível, no todo que é a cidade, e não

esquecendo as diversas componentes da sua evolução histórica: fundação, percurso

artístico, direcções artísticas, espectáculos, digressões e projectos.

Na segunda parte deste trabalho, o objectivo principal é o de definir a projecção

interventora artística e cultural do organismo na cidade, e, dentro dela, muito

especialmente no meio académico, de tal forma consequente, que ao longo dos

tempos lhe veio a merecer o acumular de títulos sucessivos, que hoje fazem parte da

sua carteira de honra, tais como1:

-Comendador da Ordem Militar de Santiago de Espada

-Grande Oficial da Ordem de Benemerência

-Oficial da Ordem do Império

-Medalha de Honra da cidade de Coimbra

-Sócio de Mérito dos Jardins-Escolas João de Deus

-Benemérito da cidade de Coimbra

-Sócio de Honra da ''Academia Mondiale degli Artisti e Profes-

sionisti'' de Roma

-Membro de Honra do clube ''Ateneo'' da Faculdade de Letras

de Poitiers

-Medalha de Prata de Espinho

-Sócio Benemérito das Creches de Coimbra, da Associação dos

Socorros Mútuos dos Artistas de Coimbra e da Casa dos Pobres de

Coimbra

1- Esta seriação obedece a uma ordem decrescente de valor.

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-Sócio Honorário do Orfeão Português do Rio de Janeiro e do

Orfeão Portugal do Rio de Janeiro.

Esta dissertação teve em vista não só a apresentação de um trabalho a

submeter à apreciação de um júri, como tese de Mestrado, mas também a exposição,

com um certo pormenor, dos factos que motivaram os primeiros passos do organismo,

do contexto sócio-político e artístico em que se foi desenvolvendo e da sua luta pela

sobrevivência ao longo de mais de um século. Isto implicava, necessariamente, uma

renúncia ao espírito de síntese que deve prevalecer em trabalhos deste género, dado

que, visto na globalidade, nunca este tema foi objecto de um estudo sistemático.

Por outro lado, na hipótese de ele poder vir num dia a ser publicado, muitos dos

factos aqui reunidos terão evidente interesse para um melhor conhecimento da vida do

mais antigo coro universitário da Universidade portuguesa.

Todo este trabalho não teria sido possível sem o apoio e colaboração da

Direcção do O. A. C., que de imediato facultou a absoluta disponibilidade das suas

instalações e facilitou o acesso a todo o seu arquivo e museu.

Também o contributo do Coro dos Antigos Orfeonistas foi precioso, quer

através do acesso a documentos e informações do seu arquivo, quer através de

depoimentos de alguns dos seus antigos membros, cuja idade aconselhou a recolher

como contributo histórico inestimável.

Por último um agradecimento profundo aos orientadores de Mestrado, com

incidência especial para a Professora Doutora Maria Augusta Barbosa, que desde

sempre mostraram uma disponibilidade ímpar, acompanhando o evoluir das

investigações e aconselhando, de forma douta, na optimização dos rumos traçados.

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Estruturação O Orfeon Académico de Coimbra foi fundado em 1880.2

As razões que levaram à sua instituição terão sido, naturalmente, múltiplas; e se

o gosto pelo canto não pode deixar de ser referido, talvez outras razões, como causa

primeira, possam ser evocadas se se atender ao contexto histórico em que apareceu

e a que acontecimentos pretendeu servir.

Projectava-se, nesse ano, comemorar o tricentenário da morte de Camões; e

foi este cenário que optimizou as condições de mobilização dos académicos. Esta

mobilização não terá sido ingénua, mas sim decorrente da situação política vivida no

momento e desenvolvida já desde o ano de 1876, altura em que, por um lado, se

assistiu à fusão de várias expressões de tendência num único partido - o Partido

Progressista, liderado por Anselmo Braamcamp - e por outro se iniciavam, nos seus

primeiros passos, os adeptos do republicanismo socializante. Estes, ainda neste ano

de 1876, e incentivados pela vitória eleitoral dos republicanos franceses, encontram

nesta o apoio moral para a sua constituição, o que vem a acontecer na decorrência de

um banquete realizado em 25 de Março do mesmo ano em atitude de solidariedade

com os seus camaradas.

A sobrevivência deste novo partido foi precária até 1878, data em que,

realizadas eleições para nova legislatura parlamentar, pela primeira vez se

candidataram, em Lisboa e Porto, representantes do Partido Republicano. E se é

verdade que o partido do Governo ganhou as eleições, permitindo a Fontes Pereira de

Melo continuar com o seu projecto de reformas, a vitória da facção republicana em

alguns círculos, colmatada pela eleição de Rodrigues de Freitas no Porto e Elias

Garcia em Lisboa, começou a abrir brechas na estrutura e a dispor de interlocutores

capazes de se fazerem ouvir.

2- Trindade Coelho, ''In illo Tempore'', pág. 43.

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Todas as oportunidades eram bem-vindas para fazer ouvir a voz republicana e é

neste contexto que as comemorações Camonianas acontecem. A memória do poeta,

porque universal, servia insuspeitadamente a qualquer adesão e por outro lado a ideia

da música, e muito concretamente da música coral, assentava como luva na exaltação

da sua memória.

Foi assim que a estas comemorações aderiram os mais prestigiosos

intelectuais da época, sendo injusto não referir nomes como o de Teófilo Braga, Antero

de Quental e Oliveira Martins. Este último entende mesmo as comemorações como o

festejar de um novo Renascimento, o que o leva a reeditar, em 1881, o seu livro

''Camões, os Lusíadas e a Renascença em Portugal'', livro publicado, pela primeira

vez, em 1872.

Quanto a Teófilo Braga ele foi, de facto, o grande impulsionador das

comemorações tri-centenárias e a ele se deve a congregação, em torno de Camões,

dos mais importantes liberais e republicanos do tempo. O seu culto pelo património

moral e espiritual da raça, bem assim como o fortalecimento e ressurgimento do

sentimento pátrio, mereceram-lhe o aplauso da nação viva que o apoiou, conseguindo,

desta forma, a quase globalidade da adesão popular.

A este espírito se ficou a dever o brilhantismo e gigantismo das comemorações

e a partir dele se veio a encontrar uma expressão republicana cada vez mais forte e

consequente.

A perpetuar as comemorações, no largo fronteiriço à Porta Férrea, foi erigido

um monumento a Camões, formado por uma coluna de pedra, suporte de uma palma

de folhas de louro, e por um leão em bronze, na base da coluna. A primeira pedra do

monumento foi lançada a 10 de Junho de 1880 e este veio a ser inaugurado a 8 de

Maio de 1881.3

3- ''A Velha Alta Desconhecida'', Album comemorativo das Bodas de Prata da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra, 1984. Este monumento acabaria por ser removido do seu local inicial aquando das obras de construção da actual Faculdade de letras em 1948. Mais tarde, o leão passou a embelezar os jardins da A.A.C. e, por último, o monumento foi reconstruido no local onde hoje se encontra - traseira da Faculdade de Físico-Química, junto ao edifício do C.A.D.C.

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Monumento a Camões

O O.A.C., ao dar os seus primeiros passos por finais do ano de 1880, aparecia

como mais um elemento de engrandecimento dos festejos e de projecção cultural

daqueles que o haviam promovido, ou seja, a corrente liberal republicana.

Poderá ser esta a descrição sucinta do enquadramento do actual Organismo no

contexto político e social da época.

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HISTÓRIA

Período de João Arroio

1880 - 1882

Como atrás se disse, o espírito das comemorações camonianas esteve, de

perto, ligado à criação do Orfeon. Aliás, os espectáculos dados neste âmbito pelo

organismo constituíram, sem dúvida, o ponto mais alto da sua existência neste curto

período.

O Orfeon de Arroio

Pode indicar-se a data de 29 de Outubro de 80 como a data da criação real da

então Sociedade Choral do Orpheon Académico, sob o patrocínio do estudante de

direito João Marcelino Arroio e tendo como número inicial de participantes cerca de

60. Os ensaios decorriam no Teatro Académico4

4- O Teatro Académico foi fundado em 1838 por José de Serpa. Herdeiro da anterior Nova Academia Dramática, estava situado na antiga Rua Larga, no local onde é actualmente a Biblioteca Geral. Inaugurado em 1839, resistiu com vida até 1888, começando a sua demolição em 1889, para nesse local se edificar um novo teatro. Tal projecto jamais se concretizou.

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O primeiro espectáculo viria a acontecer no mesmo teatro a 7 de Dezembro

deste ano e decorridos tão somente cerca de 40 dias sobre a data da sua

constituição. Neste espectáculo, o número de elementos rondava já os 80. Dizia o

órgão de comunicação da época ''Correspondência de Coimbra'', na sua edição de

10/12/80 que foi <<Memorável para todos a noite de Terça-Feira no Teatro

Académico, debute do Orfeon. Excederam-se todas as esperanças, foi-se

além da pomposidade de todos os reclamos. A casa, a deitar fora, estava

cheia de interrogações.

Seria uma blague? Haveria mistificação? Pois em Coimbra, digna de

se ouvir, poderia formar-se uma Sociedade Coral à semelhança das que

existem pelas Universidades da Alemanha, da França, da Bélgica? A velha

Universidade, toda ela pragmáticas antigas, toda ela tradições estragadas,

arrancaria da vida da sua mocidade uma instituição moderna, fazendo viver

a arte ao lado da ciência, as duas irmãs que, pela associação dos seus

elementos, estão destinadas a dirigir a humanidade na complexidade das

suas manifestações? Perguntava-se assim vagamente. Havia dúvidas.

Esperava-se alguma coisa de feira, de barraca, chinfrinadas.

Mas quem entrou com as suas dúvidas saiu com entusiasmo. Os

aplausos que lá soltaram, convictos, ainda hoje têm eco nas multidões. O

leitor que não assistiu, pergunte a quem ouviu e admirou e aplaudiu.

Pergunte. E saberá que nós fomos verdadeiros quando dissemos - que seria

um acontecimento. É que nós já conhecíamos.

Não há especializações possíveis. Os coros perfeitos. Oitenta vozes sem

uma desafinação, um completo milagre de João Arroio. E ele no meio do

palco tinha muito de profético, humanamente falando. A batuta era uma

varinha de condão. Explorava com ela os tesouros da harmonia. E tanto, que

só desejávamos que os críticos encartados de S. Carlos, desde o sr. Jaime

Batalha Reis ao sr. Inácio Duarte, ouvissem, para fazerem reparos. É que

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queríamos vê-los atrapalhados, constituídos na obrigação de despejarem em

períodos toda a adjectivação da nossa língua abundante.

Magistralmente executados todos os coros: Avé Maria de José Arroio;

Noel de Adam; Coro dos Caçadores de Weber.

A execução maravilhou mais de seiscentas pessoas que enchiam a

casa>>.

Já em Fevereiro de 1881, viria o Orfeon a participar num espectáculo a favor da

Filantrópica, fazendo ouvir música de Wagner,<<o que pela primeira vez se

ousava fazer em Portugal>>5; e, a 6 de Maio do mesmo ano, participava no Sarau

de Gala do Tricentenário das comemorações da morte de Camões, ponto mais alto

dos festejos. Aí encantou a assistência reunida no Pátio da Universidade, fazendo com

que o Orfeon recebesse << uma ovação como não vi outra; e o João Arroio, de

batina e empunhando a batuta, andou em charola mais de duas horas,

levado pela rapaziada como um tufão.>>6 Depois de realizado o sarau das comemorações, o Orfeon participou ainda

num concerto fluvial, cantando dentro de barcas serranas, em cortejo que se deslocou

até à Lapa dos Esteios. Ainda em Maio, a 21, realizou mais um espectáculo público,

no Teatro Académico, a favor das vítimas do terramoto da Ilha de S. Miguel.

Na sequência de problemas de saúde que acometeram João Arroio -''as

bexigas de Arroio, que o não deixaram ir a Lisboa com os rapazes, às festas

Pombalinas; depois uma recaída que o impediu de os levar ao Porto, a um

concerto de caridade a favor de uma escola; depois nova doença que o não

deixou festejar o ponto por aquela forma, como se tinha combinado...- o

Demónio!''7,- a actividade orfeónica esmoreceu por todo o final deste ano de 81. No

5- Trindade Coelho,''In Illo Tempore '', pág. 43 a 46. 6- Ibidem, pág. 43 a 46. 7-Ibidem, pág 44

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entanto, em 1882, embora em espectáculo particular, o Orfeon apresentou-se ainda no

Grémio de Coimbra;''mas aí, espichou de vez o Orfeon! Morreu!''8. Fechou-se, assim, o primeiro período de actividade deste organismo.

Mais tarde, João Arroio foi para Lisboa, onde exerceu funções ministeriais. Em

1911, em espectáculo havido no Teatro de S. Carlos, com o Orfeon já dirigido por

António Joyce, ao interpretarem a obra Morena, chamaram Arroio ao palco, e ele

próprio aí dirigiu a peça, de sua autoria, sendo esta a sua derradeira apresentação

artística em público.

Quanto ao reportório realizado neste período, bem como noutras datas, dar-se-

lhe-á mais adiante, e em capítulo próprio, o realce merecido.

Período da Sebenta

1899 - 1900

Com os festejos de comemoração do Centenário da Sebenta9, reactivou-se o

Orfeon, ou melhor, um orfeon que pudesse abrilhantar os espectáculos. A congregação

dos seus membros compreendeu a urgência lógica do apressado da ideia e funcionou

apenas com carácter pontual para as comemorações. Foi seu animador e director

artístico Luís de Albuquerque Stockler, estudante e artista boémio que, apesar de tudo,

se veio a formar em Direito.

8- Ibidem, pág 44 9- Festas promovidas pela academia, em honra da Sebenta, tentando parodiar o número exagerado de comemorações centenárias realizadas neste final de século - Camões, Caminho Marítimo para a Índia, Marquês de Pombal, Santo António, Infante D. Henrique e Almeida Garret.Foram promotores das comemorações Alberto Costa, ''Pad-Zé'', Alexandre de Albuquerque, João Eloy e D. Vicente da Câmara. Os cartazes e postais foram realizados por Álvaro Viana de Lemos.

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Bilhete Postal comemorativo do Centenário da Sebenta

Este Orfeon da Sebenta viria a apresentar-se em público, durante o Sarau de

Gala, no Teatro Circo10,interpretando o Hino da Sebenta, da autoria de Stockler, com

letra de Mário de Oliveira e em conjunto com o Auto da Sebenta, este da autoria de

Afonso Lopes Vieira.

A ideia de cantar em conjunto ainda persistiu algum tempo, mas, em

assembleia geral de 13 de Novembro de 1900, decidiu-se mesmo pelo encerramento

do Orfeon.11

Período de António Joyce

1908 - 1912

Chegado a Coimbra em 1906, António Joyce, por imperativo de gosto e de

formação musical, desde logo se ligou ao meio artístico, primeiro através da Tuna

Académica, depois, uma vez incompatibilizado com esta, através de reuniões

10- O Teatro Circo viria a designar-se, mais tarde, por Teatro Príncipe Real e ainda, depois, por Teatro Avenida. Este foi demolido em finais da década de 1980 e substituído por galerias comerciais , salas de cinema e teatro. Ficava situado na Avenida Sá da Bandeira. 11- A cópia da acta desta assembleia encontra-se em anexo final.

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musicais feitas na sua casa de Celas e, por fim, dinamizando a criação de um grupo

coral - o novo Orfeon - com a ajuda de alguns amigos, que recrutaram inscrições e

permitiram que os ensaios pudessem começar, à luz dos gasómetros, uma vez cedida

para o efeito, ainda no ano de 1908, a Igreja de S. Bento12.

Ligados a este projecto e desde a primeira hora solidários com ele, há nomes

que o tempo não delapidou e que é justo referir, tais como: Isidro Aranha (também ele

músico ilustre e co-autor de várias obras em parceria com Joyce), Francisco Menano

(exímio tocador de guitarra), Garcia Pulido (poeta), Godofredo Monteiro (um dos

melhores Baixos do seu tempo), Maximino Correia (que viria a ser reitor da

Universidade), Carlos de Figueiredo (ilustre compositor de fados de Coimbra), e

tantos, tantos outros mais.

O Orfeon de Joyce

Os ensaios ocupavam, por naipes, as várias naves da igreja antes que Joyce

lançasse o grito de ensaio geral!''Às sete horas tudo está a postos. Por isso

quem depois das seis e meia passar pelas ruelas da Alta, não se deve

admirar de ouvir, como eu ouvi, perguntar de grupo para grupo: - Ó coiso,

p'ra onde vais?- P'ro Orpheon...

12- A Igreja de S. Bento era contígua ao actual Instituto Botânico, junto aos Arcos do Jardim. Já em ruínas nesta época, viria a ser demolida bastante mais tarde ao abrigo do projecto de reconstrução da cidade universitária.

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É um êxodo em que de todas as esquinas nos surgem estudantes, que

apressados lá vão para a obrigaçãosinha...

...Os ensaiadores esfalfavam-se mas os seus esforços foram coroados

de êxito porque dentro em pouco ouvia-se gritar: - Ensaio geral, ensaio

geral... De todos os pontos começavam a convergir cantores e passados

instantes o estrado estava apinhado''13

A 23 de Janeiro de 1909, reaparecia em público o Orfeon Académico de

Coimbra, em espectáculo realizado no Teatro Príncipe Real em benefício das vítimas

de uma catástrofe no sul de Itália. Fez a apresentação do Orfeon o Dr. Avelino Callixto.

E, segundo um relator da época, '' O espectáculo começou pelo Hino

Académico14, como é de uso em espectáculos organizados pela academia,

tocado pela Tuna... A seguir falou o velho Doutor Calisto... A seguir o Orfeon

cantou a sua primeira música. Aquelas cento e tantas vozes, como uma só,

vibraram uníssono, à mercê dos movimentos rítmicos da batuta. O silencio

na sala, durante as pausas, era absoluto. O encantamento do público, que

acorrera numeroso para o ouvir, era crescente. O entusiasmo, ao terminar o

primeiro trecho, foi indescritível. O teatro ecoou durante muitos segundos

com aplausos. O Joyce foi levado ao colo, em triunfo, e aclamado com

delírio. Poucas vezes se ouviu em Coimbra ovação tamanha.' '15

13- Luiz Gonzaga in ''O Commercio de Vizeu'' de 24/2/910. 14- Hino composto em 1851, com música de Dr. José Cristiano Medeiros e letra de Dr José Sanches da Gama. 15- Fernando Correia, ''Vida Errada'', 1933, págs 78 a 82.

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Interior da Igreja de S. Bento

Foi o início de um ciclo de espectáculos que, ao longo de mais de três anos,

não parou de divulgar a música coral ao serviço da beneficência.

A ideia benemerente presidiu constantemente à actividade do Orfeon e foi por

ela que este iniciou, com um Sarau realizado a 1 de Abril de 1909 no Coliseu dos

Recreios e apresentado pelo Dr. Egas Moniz, a campanha de fundos para a

construção do Jardim de Infância João de Deus16, que viria a ser inaugurado a 1 de

Abril de 1911.

Deste período existe uma publicação do O.A.C. - Memória - elaborada por

Felizardo António Saraiva e José Freire de Mattos, que sumaria a globalidade dos

espectáculos realizados de 1909 a 1912; contém reportório e ainda algumas críticas

publicadas em jornais da época. 16- Construido ao fundo da Alameda do Dr Júlio Henriques, junto ao Seminário Maior, sob projecto do arquitecto Raul Lino.

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Sem se pretender ser exaustivo, há todavia que referir, como pontos altos deste

período orfeónico, os seguintes espectáculos:

- 29/4/09, no Teatro Príncipe Real, 10º aniversário do Centenário da Sebenta.

- 5/3/10, Teatro Aveirense. Execução, em primeira audição, do Amen (Fuga da

Danação de Fausto de Berlioz).

- 6/4/10, Palácio de Cristal no Porto.

- 27/4/10, Teatro de S. Carlos, em Lisboa, em homenagem a Alexandre

Herculano.

- 23/3/11, Teatro Príncipe D. Carlos na Figueira da Foz.

- 25 e 26/3/11, respectivamente Teatro de S. Carlos e Teatro da República em

Lisboa.

- 1/4/11, Teatro Avenida, Sarau de Inauguração do Jardim Escola João de

Deus, com discurso de abertura pelo Dr. Jaime Cortesão, poesias recitadas por João

de Barros e Afonso Lopes Vieira e calorosa ovação a Raul Lino, autor do projecto.

- 7 a 16/4/11, Viagem a Paris, com espectáculos no Trocadero a 9 e a 16.

O Orfeon em Paris em 1911

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-23 e 24 /3/12, Sarau de despedida no Coliseu dos Recreios em Lisboa

- 20/5/12, Teatro Avenida, última actuação do Orfeon de Joyce, depois de ter

feito a sua última viagem à cidade da Guarda, com espectáculo a 9 deste mês.

Com este último espectáculo e com a conclusão da formatura de António Joyce,

o Orfeon entrou em novo interregno de cerca de dois anos.

Fosse o objectivo deste trabalho a abordagem exaustiva de todos os dados

históricos reunidos, e muito mais havia ainda a acrescentar, em datas, locais,

pessoas, direcções e histórias académicas, (sempre envolvidas por um manto de

descrição encantatória, a que é difícil resistir!). Mas a pontualidade de cada uma

destas temáticas e a abordagem que delas já foi feita, por outros autores em outros

locais, deixa razão de ser a esta omissão17. Também o carácter monográfico global

deste trabalho assim aconselha.

Da análise deste período da vida do Orfeon poder-se-á depreender que ele

pertence ainda a uma época em que a direcção artística joga um tal cunho

personalizante que justifica, em pleno, o uso da designação de ''Orfeon de Joyce'', tal

como ela foi usada para o ''Orfeon de João Arroio''. Verifica-se que tudo o que sucede,

embora planificado e desenvolvido por uma equipa directiva, acaba por se diluir na

auréola de comando do seu regente.

Artisticamente, o trabalho realizado neste período é de elevada qualidade (não

esquecendo, contudo, os meios de realização e de comparação competitiva com os

dias de hoje!) e os críticos isso referem:''No tempo de Joyce o Orfeon de Coimbra

só tinha um similar numa Universidade estrangeira: o Orfeon Académico de

Upsala, famoso agrupamento coral.

17- No tocante a descrições exaustivas e circunstanciais da vida orfeónica, deve o leitor remeter-se à leitura das obras indicadas na bibliografia geral, porque estas, enquanto incidentes sobre um só período do Orfeon (por exemplo, Viagem a Paris, Ida à Guarda, etc,), conservam a memória de quem, como e quando deu o melhor do seu contributo ao organismo.

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António Arroio, o maior crítico de há cinquenta anos, disse-nos, um

dia, que o nosso Orfeon não era inferior ao de Upsala.''18

Período de Elias de Aguiar

1914 - 1936

Se é verdade que, com Joyce, o O.A.C. tinha de facto sucumbido, não deixa de

ser verdade também que, fruto dos grandes triunfos artísticos e ''turísticos''

conseguidos, o espírito de associação, embora latente, continuava vivo. Faltava

encontrar alguém que, porque carismaticamente reconhecido, funcionasse como

''pivot'' de congregação. E esse homem, embora contra sua vontade, foi Elias de

Aguiar.

Nunca Elias de Aguiar, com a humildade que lhe era peculiar, teria estado

disponível para despoletar este processo. E foi só graças à ''traiçãozinha'' de alguns

dos seus colegas de República -e muito concretamente de Henrique de Sousa que

afixou na Porta Férrea um edital de inscrições, que rapidamente se encheu, à revelia

de Elias e sem seu conhecimento!- que, reconhecendo o mérito artístico do já então

padre e ao tempo aluno de Teologia, o ''empurraram'' para a cabeça do novo Orfeon.

18- Carta ao O.A.C. do antigo orfeonista Augusto Morna - tenor - e publicada no livro "Bodas de Diamante do Orfeon Académico de Coimbra-1955".

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O Orfeon de Elias de Aguiar

É pela boca de Falcão Machado19que se escuta a descrição de José Saavedra,

ensaiador dos Barítonos:''Recorremos... à traição. Henrique de Sousa foi

encarregado de afixar à Porta Férrea o convite para a inscrição, que foi

rapidamente preenchida com antigos orfeonistas e outros. Calcule-se a

indignação do bom Elias de Aguiar quando teve conhecimento dos <<factos

consumados>>. Teve de se curvar, perante uma eleição tão espontânea. E na

velha igreja de S. Bento, hoje demolida, lá nos reunimos à noite, sob a

direcção paternal do seu regente. Sânzio (do orfeon de Joyce), os manos

Forjazes, António Menano, eu e outros fomos os seus primeiros

ensaiadores.''

Começados os ensaios, a afluência foi enorme e rapidamente se sucedeu a

execução de obras de valor da literatura musical: o Amen de Berlioz, o Hino à Noite de

Beethoven, o Coro dos Soldados de Meyerbeer, as Canções Transmontanas de Pinto

Ribeiro, etc. Em Março de 1915, o Orfeon tinha atingido um nível que lhe permitia

apresentar-se em público. Assim aconteceu em duas audições realizadas a 6 e 7 na

cidade de Aveiro, com a colaboração da Tuna Académica.

19- In''Comemorações das Bodas de Diamante'', Coimbra,1955.

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Animados com o êxito alcançado, organizam uma digressão ao Norte que,

apesar de totalmente planeada, acabou por não se realizar, em virtude de na época ter

rebentado um movimento militar contra a ditadura de Pimenta de Castro. Assim, só em

2 de Junho o Orfeon se apresenta de novo, agora em Coimbra, no Teatro Avenida, em

Sarau presidido pelo Reitor da Universidade, Guilherme Moreira, e com a

colaboração, entre outros, de Afonso Lopes Vieira, Augusto Rosa e Viana da Mota.

Ainda neste ano lectivo e como espectáculo de encerramento, realiza a 15 de

Junho mais um sarau, desta vez de parceria com o pianista Oscar da Silva e o

violinista Réné Bohet.20

Estava assim lançado o percurso do novo Orfeon, se bem que o momento

histórico lhe viesse a reservar períodos de difícil sobrevivência, decorrentes da 1ª

Guerra Mundial que deflagrara na Europa e na qual Portugal acabou por participar.

Este facto impossibilitou frequentemente o decurso das actividades e mais ainda dos

espectáculos, umas vezes por falta de enquadramento propício, outras por falta de

número adequado de vozes.

Em 1919, o Parlamento institucionaliza o Orfeon Académico de Coimbra, ao

firmar a sua existência permanente através da lei nº 861. Também por esta lei é

recriada a Faculdade de Letras e instituída a cadeira de História da Música, ficando

dela responsável o regente do Orfeon Académico.

Em 1923, o Orfeon vai a Espanha. A viagem tem o patrocínio do Ministério dos

Negócios Estrangeiros e do Ministério da Instrução Pública. Para além do organismo,

fazem-se representar a Associação Académica, a Universidade de Coimbra, de

Lisboa e do Porto, o reitor do liceu José Falcão (a quem pertencia a igreja de S.

Bento) e a imprensa diária, num total de cerca de 220 participantes! A digressão inclui

as cidades de Madrid, Salamanca e Valadolid. Contrariamente ao projectado,

Barcelona e Saragoça não são visitadas. Para além dos espectáculos realizam-se

20- De acordo com programa em arquivo no O.A.C.

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também algumas conferências, no elenco das quais participa Vitorino Nemésio, em

Madrid.

Digno de registo nesta digressão é o facto de pela primeira vez, e na sequência

da doença asmática de Elias de Aguiar, ter sido chamado a reger, como última

alternativa, o orfeonista D. José Pais de Almeida e Silva21 que, depois de muito

solicitado e perante a gravidade da situação, acabou por aceitar a incumbência. Esta

situação voltar-se-ia a repetir outras vezes, mais tarde, por razão idêntica.

Em 1923 e por falta de provimento dos vencimentos a que tinha direito como

professor da cadeira de História da Música, que vinha a leccionar desde 1920, por

força da lei nº 861, o Dr. Elias de Aguiar foi obrigado a despedir-se de Coimbra e a

regressar a Vila do Conde, por razões de sobrevivência económica. Os estudantes,

reunidos na Sala dos Capelos e face aos acontecimentos que faziam perigar o Orfeon,

tomaram um conjunto de deliberações tendentes a abreviar a posse real do lugar,

deliberações que se encarregaram de levar ao conhecimento do Governo. Em

simultâneo, deslocaram-se a Vila do Conde para expressar pessoalmente ao regente

o empenho da Academia no seu regresso.

Elias de Aguiar voltou, assim, a Coimbra. Com ele nasceu a ideia de uma nova

digressão por terras de França. Os ensaios recomeçaram motivados por tal aliciante e

a viagem concretizou-se em Junho de 1924. Não foi no entanto Elias de Aguiar que

acompanhou o Orfeon, por impedimentos de saúde, mas sim António Joyce que,

convidado para a regência, se deslocou de novo a Coimbra e garantiu a direcção

artística, não sem que primeiro, contudo, se tenham levantado grandes protestos,

decorrentes da imposição de Joyce de reforçar alguns naipes com elementos

estranhos ao Orfeon, vindos de Lisboa.

A digressão é antecedida por três espectáculos, realizados no Coliseu dos

Recreios de 3 a 5 de Junho, todos dirigidos por Elias de Aguiar. Ficou histórico o

21- Tal como viria a acontecer, mais tarde, com Raposo Marques, D. José Pais foi regente substituto várias vezes durante o período de Elias de Aguiar. D. José Pais, depois de engenheiro, foi regente do Orfeão de Leiria, substituíndo Rui Barral. Este coro, tal como o O.A.C., era exclusivamente masculino, e continua ainda a sê-lo hoje.

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concerto do dia 4, porque aconteceu na consequência da vitória da A.A.C. sobre o

Marítimo, em futebol, e os orfeonistas, bem como os elementos da Orquestra

Pitagórica, não quiseram perder o jogo, nem o prazer da sua comemoração. Desta

feita o sarau começou atrasado, perante a angústia do Dr. Elias de Aguiar.''À hora de

começar ainda eram raros os componentes do Orfeon que se encontravam

no palco. O público começava a impacientar-se e ouviam-se já assobios e

pateada. O Dr. Elias de Aguiar, à medida que iam entrando os orfeonistas,

todos eles <<alegrotes>> pela vitória da Académica, lamentava-se

amargamente pelo estado em que se apresentavam, imaginando o fiasco que

ia ser o espectáculo, com os orfeonistas tão <<desafinados>>. Sobe o pano.

Atrevemo-nos a dizer que, tendo tomado parte em inúmeros espectáculos,

nunca assim ouvimos cantar o Orfeon''22

Para França parte uma embaixada de 163 figuras.

Tendo como ponto alto a realização de um sarau, uma vez mais no Trocadero,

este foi antecedido por uma sessão de homenagem a Camões, realizada na

Sorbonne e contando com a presença de eminentes intelectuais portugueses e

franceses: Afonso Costa e António da Fonseca, o Reitor da Universidade de Paris, o

antigo chefe do Governo Louis Bartou, o ministro da França em Portugal, Bonin, o

poeta e professor Eugénio de Andrade e os artistas Madeleine Roch e Jean Hervé.

No regresso de Paris, efectuaram-se espectáculos em Bordéus e Baionne.

No ano lectivo de 25/26, resolveu o Orfeon homenagear, na sua terra natal, o Dr.

Elias de Aguiar. O Sarau realizou-se no Teatro Afonso Sanches e deixa antever já o

débil estado de saúde do mestre. A esta homenagem seguem-se outras, em 1929,

patrocinadas pelo Orfeão Lusitano do Porto e onde o estudante de direito Raposo

Marques, conhecido entre colegas como o <<Palestrina>>, substituiu Elias de Aguiar,

22- Armando Ribeiro Cardoso, médico em Gouveia, e orfeonista de 20 a 24, em carta enviada ao Orfeon para as comemorações das Bodas de Diamante.

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falando em seu nome. Em Maio do mesmo ano, nos dias -24, 25 e 26-o mestre é

novamente homenageado.

Aos poucos, a disponibilidade de Elias de Aguiar diminui e embora a sua

regência se mantenha até à morte é com certa frequência que o já referido aluno de

direito, Raposo Marques23, o vai substituindo e assegurando, como regente substituto,

a vida artística do Orfeon nos anos que medeiam entre 1928 e 1936.

Durante a regência de Elias de Aguiar e principalmente depois de 1926, longos

são os períodos em que não há notícia de qualquer espectáculo, por razões de saúde

do maestro ou por este se encontrar em Vila do Conde.

Período de Raposo Marques

1936 - 1966

Entregue definitivamente a chefia artística a Raposo Marques, ainda no ano de

1936 o Orfeon fez a sua primeira digressão às ilhas adjacentes, visitando os Açores e

a Madeira. (Seja lícito referir aqui o facto curioso de Raposo Marques festejar o seu

primeiro ano de regência titular, nos Açores, e aqui vir a morrer, depois do último

concerto que realizou, passados 30 anos!). O primeiro concerto foi em S. Miguel,

depois Angra do Heroísmo, Horta e por último uma pequena paragem nas Lages do

Pico, antes de regressar, de novo, a S. Miguel.

A Madeira foi visitada já no regresso, e o velho paquete Lima trouxe de seguida

o Orfeon até Lisboa.

Em 1937, são de sublinhar os três saraus realizados em Lisboa, no Eden,

presidido o primeiro por sua Exª o Presidente da República.

Em 1938, faz-se uma digressão ao Ribatejo. Para divulgar o trabalho orfeónico

é feita uma edição única do jornal ''Orfeon'', organizado por Coriolano Ferreira e

23- Segundo António José Soares, no seu livro Saudades de Coimbra 1917-33, a 1ª vez que <<Palestrina>> substituiu Elias de Aguiar foi em 1926 num dos três espectáculos que o Orfeon realizou no Coliseu dos Recreios em Lisboa.

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Machado Franco. Ainda neste ano o Orfeon vai a Lisboa, ao Coliseu dos Recreios,

participar num sarau conjuntamente com a Tuna Académica. Também começam

então a aparecer referências nos órgãos de comunicação à qualidade e à irreverência

estudantil presente no acto de variedades que fazia parte do espectáculo,

preenchendo a 2ª parte, e cuja tradição se manteve mais ou menos acesa até 1974.

O orfeon de Raposo Marques

Das dezenas de espectáculos e saraus realizados pelo Orfeon ao longo dos

trinta anos de direcção artística de Raposo Marques é evidente que, neste âmbito, se

torna impossível a sua enumeração exaustiva - até porque a esse nível já possui o

organismo, felizmente, um conjunto de publicações de incidência pontual, escritas e

publicadas por antigos orfeonistas e observando o Orfeon, quase sempre, por período

de tempo igual ao da sua permanência nas hostes orfeónicas, (é o caso de ''Em

Terras de Espanha'' de Mário Ramos e Guilhermino de Mattos, ''Coimbra em África''

de António de Almeida Santos, ''Roteiro do Brasil'' do padre Pardinhas e tantos

outros...). Interessa portanto apenas sintetizar o que de essencial aconteceu e como

aconteceu.

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Na sequência da Segunda Guerra Mundial, as restrições necessariamente

impostas em todos os sectores, por certo que viriam também a recair sobre o Orfeon.

E assim foi. As limitações impostas a todas as despesas, não permitia que se

usufruísse das condições mínimas exigidas para deslocações, não só ao estrangeiro,

como também dentro do país ''Pois até as velhas e incómodas carruagens de

terceira, só podiam ser concedidas por deferência a deuses''24. Apesar disso e

como resultado da dinâmica directiva, alguns saraus de beneficência continuaram a

realizar-se.

O Orfeon visitou o norte do país em 39, as Beiras e Lisboa em 40, voltou ao

Norte em 41 e 43, visitou Viseu em 44 e finalmente deslocou-se a Espanha, à Galiza,

em Abril de 45, com espectáculos em Vigo, Santiago de Compostela e Tui, altura em

que foi publicado mais um número do Jornal Orfeon, para acompanhar a digressão.

Há muito que se pensava em fazer uma digressão ao Brasil; e chegou mesmo a

ser nomeada uma comissão que levasse por diante as necessárias negociações.

Contudo, e fruto do contexto, uma vez mais tudo se gorou.

No entanto uma outra ideia se agita para se vir a juntar ao rol brilhante das

viagens já realizadas a França e a Espanha: a possibilidade de uma ida a Angola e

Moçambique. E de facto, em Agosto de 1949, esta vem a realizar-se, depois do

Orfeon, já nesse ano, ter feito uma digressão a Aveiro e Vila Real.

Após espectáculos realizados, como era hábito, no Coliseu dos Recreios (com

a colaboração de João Vilaret) e também na Feira Popular, o Orfeon parte para

Angola, no paquete João Belo, com escala e apresentação na Ilha da Madeira.

Só em Setembro chegam a Angola. Visitaram Luanda, (onde Raposo Marques

foi ovacionado e levado em ombros, lembrando os tempos de Arroio e Joyce, na

descrição de Almeida Santos), Lobito e Benguela. Em seguida partiram para

Lourenço Marques e Beira. Já de regresso visitam a África do Sul, realizando um

espectáculo de estrondoso êxito na cidade do Cabo.

24- Falcão Machado, Comemorações das Bodas de Diamante do O.A.C., 1956.

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Dobrado o Cabo da Boa Esperança, fizeram nova paragem em Moçâmedes,

deslocando-se depois a Sá da Bandeira e Nova Lisboa.

S. Tomé foi o último porto de paragem, já em finais de Outubro. A recepção, em

Lisboa, foi presidida pelo Ministro do Ultramar.

Da aceitação e impacto desta viagem pode citar-se:''Quando se perdeu no

ar a última nota do <<Amen>> - que, como é tradicional, também foi

cantada pelos antigos orfeonistas presentes - Raposo Marques foi erguido

aos ombros dos antigos estudantes e as lágrimas correram pelo palco, onde

também choviam, em indescritível apoteose, palmas e pétalas de rosas''25.

''Sei que não nos pedes contas. Nem o que vou dizer-te é verdadeiramente

dar-te contas. Mas deixa-nos sentir agora um pouco de orgulho de nós

mesmos: cumprimos.''26.

Desta viagem a terras africanas há ainda a referir o facto de para ela ter sido

feita, por Teles de Oliveira, o ensaio de um novo emblema, que depois se tornou

definitivamente o emblema orfeónico e tem acompanhado o organismo até ao

presente.

Até 1949/50 Emblema actual

25- António de Almeida Santos, ''Coimbra em África'', 2ª ed.pág 95. 26- Ibidem, pág. 283.

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Também em 49 são transferidas as instalações académicas da velha Rua

Larga para o Palácio dos Grilos.

Até 1954, a vida orfeónica decorre com a movimentação normal que advém dos

espectáculos e digressões internas, colaborações em saraus académicos e algumas

realizações complementares experimentais como, por exemplo, a iniciação de

emissões de som para todas as instalações académicas, divulgando, diariamente,

boa música coral e orquestral, comunicados, entrevistas, etc. ,tudo isto conseguido

através de altifalantes colocados na sede e assegurado por uma equipa de orfeonistas

convocados para o efeito.

Em 1954 realiza-se mais uma digressão ao estrangeiro, desta vez, e por fim, ao

Brasil, terra de sonho e de tantos anos de esperada visita! O O.A.C. parte para terras

de Santa Cruz em Agosto de 54 e só regressa em meados de Outubro do mesmo ano.

São três meses de agitada vida artística com espectáculos na Madeira e em

Cabo Verde, (pontos de escala do paquete Santa Maria), e depois em Rio de Janeiro,

Santos, S. Paulo. Visita com espectáculo em directo os estúdios da Televisão Record.

Segue depois para Campinas, Ribeirão Preto, S. Carlos, Americana, S. Caetano do

Sul, Belo Horizonte, Ouro Preto, Niterói, Teresópolis e finalmente Baía, -onde não

chegou a apresentar-se-, e Recife, também local de embarque e regresso.

Nesta digressão o Orfeon era composto por cerca de 80 elementos e

acompanhavam-no, também, para além de representantes da Universidade de

Coimbra e do seu reitor, um grupo de fados anexo ao organismo que

complementarizava o espectáculo com a tradicional serenata. Esta prática já se vem a

desenvolver desde os tempos de Joyce, e pelo Orfeon passaram as melhores e mais

conhecidas vozes da canção coimbrã, assim como os mais conceituados guitarristas

e violistas.

Da digressão foi feito o relato escrito pela pena do Padre Manuel Alves

Pardinhas, director orfeónico à época, no livro ''Roteiro do Brasil, memórias e

impressões de viagem do Orfeon Académico de Coimbra''.

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O ano de 1955 foi o ano das comemorações das Bodas de Diamante. Os 75

anos orfeónicos foram comemorados com inusitada pompa, tendo sido para o efeito

nomeada uma comissão de honra e uma comissão executiva.

Os festejos decorreram de 23 de Abril a 1 de Maio e para além das actividades

óbvias e decorrentes (jantares convívios, sessões solenes) é de salientar a realização

de uma exposição evocativa dos 75 anos de vida do Orfeon, realizada no Salão Nobre

da Câmara Municipal com o patrocínio do Museu Académico. Abrilhantaram estes

festejos um Sarau oferecido à Academia, a 27 de Abril, no Pátio da Universidade, um

outro Sarau, este de gala, no dia 29 no Teatro Avenida e finalmente no dia 1 de Maio,

no campo do jogo da péla do Parque de Santa Cruz27, uma homenagem ao Orfeon

Académico de Coimbra, prestada pelos organismos académicos locais e organizada

pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (T.E.U.C.).

Das Comemorações foi editada uma medalha evocativa, tendo numa das faces

o actual emblema do organismo e na outra o emblema anterior. Também foram

editados dois livros com o mesmo nome ''Comemoração das Bodas de Diamante do

O.A.C.'', um deles oriundo da própria Direcção do Orfeon no mesmo ano de 1955 e o

outro da responsabilidade de Manuel Ayres Falcão Machado, membro da Sociedade

de Geografia, no ano de 1956.

No ano de 1956 inicia o Orfeon uma nova actividade de que dá eco toda a

imprensa regional: a realização de cursos de solfejo para os sócios no activo. De

facto, esta preocupação de formação musical complementar não deverá deixar de ser

referida quando aplicada a pessoas que só pretendem cantar, já que, ainda hoje, no

panorama coral nacional é preocupação que a quase ninguém assiste!

E a década de 50 conclui-se dentro de uma prática coral rotineira, preenchida

com os já habituais espectáculos, ora em Coimbra (presença sempre obrigatória nos

saraus da Queima das Fitas), ora pelo norte ou sul de Portugal.

27- Este campo, já referido desde o tempo Crúzio, fica localizado junto à porta poente do Parque e voltado para a actual Praça da República.

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No entanto é ainda nesta década que ganha indiscutido prestígio um grupo

subsidiário do Orfeon e formado por elementos seus, a Orquestra Ligeira, composta

por cinco elementos, e que chega mesmo a actuar isolada do coro, abrilhantando

festas e bailes. A sua qualidade foi reconhecida e levou-a em digressão, sozinha, a

Angola (1963).

As digressões ao estrangeiro continuam, contudo, a acontecer e assim o

Orfeon desloca-se a Espanha, uma vez mais, em 1956, visitando Vigo, Santiago de

Compostela e Pontevedra.

Em 1958 representam Portugal na Exposição Internacional de Bruxelas na

Bélgica, cantando também em Antuérpia.

Em 1960 retornam aos Açores, nas férias da Páscoa, e a digressão passa por

S. Miguel, Terceira e S. Maria. Atendendo aos laços de sangue que prendem a esta

terra o seu regente, os espectáculos têm sempre um enquadramento afectivo muito

especial ''...nem mais nem menos: a apoteose continua coroada de flores e

palmas num misto de enternecimento saudoso e solenidade empolgante, a

que a presença das maiores autoridades da Ilha deu brilho inconfundível

''28. Ainda neste ano o Orfeon retorna, também, a Angola, por onde fica durante os

meses de Agosto e Setembro, revisitando Luanda, Malange, Lobito, Benguela, Nova

Lisboa, Sá da Bandeira, Silva Porto e Moçâmedes. De regresso ao continente pára e

actua na ilha de S. Tomé.

Em 1961 pode entender-se como mais relevante a digressão a terras de

Espanha - Salamanca, Burgos e Madrid - e a participação nas comemorações dos 50

anos do Jardim Escola João de Deus, ao qual o Orfeon se encontrava ligado, pela

importância decisiva que teve na sua fundação.

Chegado 1962, talvez tenha chegado o tempo de maior prestígio e qualidade

artística deste Orfeon de Raposo Marques, perpetuado pela gravação de um disco de

longa duração, editado nos Estados Unidos da América pela casa Monitor e assim

28- No jornal ''A União'' de 23 de Abril de 1960.

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anunciado na imprensa '' Foi ontem posto à venda nos E. U. A. o primeiro

álbum de discos norte americanos gravados pelo Orfeão dos estudantes de

Coimbra, que inclui catorze números executados por um conjunto de

oitenta vozes ''29. Também neste ano O Orfeon faz a publicação de mais um número

do seu jornal ''O Orfeon'', saído a 9/4, e a sua primeira digressão aos Estados Unidos,

actuando em 35 cidades americanas e terminando a digressão com dois memoráveis

concertos, um em Washington, na Catedral da Imaculada Conceição e o outro em

Nova Iorque, no ainda recente Lincoln Center Philharmonic Hall.

A digressão foi um êxito absoluto, tanto artística e cultural como

economicamente, deixando as portas abertas aos promotores americanos, todos eles

profissionais do espectáculo, para uma nova apresentação, que viria a acontecer três

anos mais tarde.

São registos da imprensa da época as seguintes afirmações de cabeçalho:

''Mais um êxito inolvidável do Orfeon de Coimbra ''30; ''Calorosamente

recebido em Boston ''31 ; ''O Orfeon Académico de Coimbra encerrou a sua

digressão de seis semanas pelos E.U.A. com um espectáculo no New

Philharmonic Hall... ...o público pediu bis no fim da primeira parte e o êxito

foi absoluto ''32.

A digressão alongou-se mais que o previsto, por solicitações de novos

espectáculos, tendo sido gravados programas para a televisão. O regresso a Portugal

só se veio a verificar na segunda quinzena de Novembro.

Em 1963 são publicados em Diário da República de 19/9, os Estatutos

definitivos do O.A.C., que congregam, ampliam e oficializam o regulamento interno em

vigor com carácter de estatutos desde 10 de Novembro de 1938, sendo secretário da

Direcção, ao tempo, Machado Franco.

29- Diário de Lisboa de 22 de Junho de 1962. 30- Diário da Manhã de 30 de Outubro de 1962. 31- Diário de Notícias de 16 de Outubro de 1962. 32- Diário Ilustrado de 20 de Novembro de 1962.

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Ainda neste ano o Orfeon é convidado a visitar a Madeira, para na cidade do

Funchal participar nas festas de Fim de Ano.

O ano de 1964 começa com a morte de António Joyce, antigo regente, e todo

um movimento de consternação à sua volta.

Neste ano é editado, em Março, mais um número do jornal ''O Orfeon'' e é

criada uma nova secção cultural musical dentro do organismo que dá pelo nome de

''Club de Jazz do O.A.C.'' e que tem por função divulgar a música de Jazz (mais uma

vez cabe ao Orfeon ser pioneiro nestas áreas), através da sua prática, colóquios, Jam

Sessions, festivais e escola de Jazz.

Com a criação deste club, pela primeira vez se vêm abertas as portas do

Orfeon à população universitária feminina, que a ele ocorre em número razoável,

constatável pelo número de fichas de inscrição ainda existentes nos arquivos da

Direcção.

Em Novembro deste ano são comemorados os 10 anos da Digressão ao

Brasil. Ainda neste mês são transferidos para o Teatro Académico de Gil Vicente os

ensaios parciais e gerais, porque nas novas instalações, à Rua Padre António

Vieira33, não tinham sido previstas as necessárias salas de ensaio34.

Em 1965 o Orfeon volta de novo aos E.U.A., para participar no Iº Festival

Internacional Coral Universitário do ''Lincoln Center for the Performing Arts'' de Nova

Iorque, tal como ficara já previsto desde 1962, mas desta vez sem ter conseguido o

êxito da digressão anterior.

Este período de ouro, sob a batuta de Raposo Marques viria a terminar em

1966, com mais uma digressão aos Açores. No regresso à metrópole, e já no

Aeroporto de S. Maria, a escassos momentos do embarque, Raposo Marques é

acometido de um síncope cardíaca que o vitima e põem assim fim a 30 anos de

dedicação orfeónica, várias vezes reconhecida através de homenagens e distinções. 33- Instalações actuais da Associação Académica de Coimbra desde 1961. 34- Até aqui os ensaios decorriam no Palácio dos Grilos, anterior sede da A.A.C., em salas esconsas e quase ocasionais, algumas vezes, até, nos próprios corredores.

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Com Raposo Marques terminou, talvez, o último período do O.A.C., herdeiro

legítimo da glória académica e de representatividade quase exclusiva da cultura

universitária, já que a partir dele, e nas décadas de 60 e 70, a diversificação

associativa foi um facto e consequentemente a auréola, quase mística, que envolvia o

Orfeon se profanou. Também toda a problemática política-associativa abriu brechas no

prestígio orfeónico, que de forma mais ou menos intensa se têm reflectido na sua

existência até à actualidade.

Seria injusto não referir também que Raposo Marques, porque antigo estudante

de Coimbra e antigo 1º Tenor orfeónico, tinha uma compreensão correcta da

dimensão universitária e sabia gerir, com lucidez, o compromisso constante entre

irreverência académica e qualidade artística, cedendo ora num lado ora noutro, de

forma a manter uma coesão orgânica e espiritual que congregava gerações e

edificava a auréola orfeónica. Foi a sua correcta compreensão da realidade

universitária coimbrã que funcionou como chave de ouro para a perpetuação desse

espírito.

Período de Joel Canhão

1966 - 1973

Com a morte de Raposo Marques é chamado à direcção artística do Orfeon o

Prof. Joel Canhão, na altura maestro do Orfeão Scalabitano, e digno do lugar que lhe

era proposto pelas provas de qualidade e saber artístico demonstrados, para além da

sua sólida formação musical.

Iniciados os ensaios sob a sua batuta, em Novembro de 66, de imediato se

constatou a férrea vontade artística deste regente, impondo um regime apertado de

ensaios, que tinham por objectivo um elevado nível de qualidade.

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Em 19 de Abril de 1967, no Teatro de Gil Vicente, é feita a primeira

apresentação pública sob a sua regência, em sarau que contou na 2ª parte com a

participação do Teatro Universitário do Porto, e com um acto de variedades na 3ª.35

A partir daqui os espectáculos retomam a cadência normal. Já em Agosto de

1967 o Orfeon volta a Angola para um longo périplo que, saindo de Luanda e a ela

regressando, percorre, em cerca de um mês, as cidades de Carmona, Malange,

Negage, Salazar, Nova Lisboa, Sá da Bandeira, Benguela, Lobito e Novo Redondo.

O Orfeon de Joel Canhão

Em 1968, enquanto delegado regional da Pro Arte, o Orfeon organiza alguns

concertos, trazendo a Coimbra nomes importantes do panorama musical nacional.

No mesmo tempo, e sempre com o objectivo de se melhorar a qualidade vocal

exigida pelo seu regente, é contratado Giovanni Voyer, tenor italiano radicado em

Portugal, para orientar sessões de técnica vocal, de presença obrigatória. Durante a

35- Esta estrutura de espectáculo, ressalvada que seja a 2ª parte, era a estrutura mais habitual aos espectáculos do Orfeon, ou seja, uma 1ª parte com 7 ou 8 peças, uma 2ª parte com o mesmo número de obras, quase sempre harmonizações de canções populares portuguesas, e uma 3ª parte de variedades com rábulas, canções, imitações, ilusionismo, noticiário humorístico de carácter local, etc(dependendo um pouco das capacidades criativas momentâneas dos orfeonistas da época) e terminando sempre com uma serenata de Coimbra.

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regência de Joel Canhão foi sempre exigido este tipo de preparação vocal., Após a

sua morte, G. Voyer foi substituído por outros cantores nacionais de mérito

reconhecido como o barítono José Oliveira Lopes e o tenor Fernando Serafim.

Com o chegar do ano de 1969, ventos negros começam a soprar em direcção

ao Orfeon, não por razões artísticas, mas por motivos políticos e de confronto

académico.

A 17 de Abril de 1969, é inaugurado o bloco das Matemáticas, com a presença

do Presidente da República, Almirante Américo Tomaz. E dos incidentes acontecidos

na inauguração, somados à insatisfação, já latente, por anteriores reivindicações não

ouvidas, estoira uma profunda e demorada crise académica, coberta por luto, que

afectou e dividiu os estudantes, em razão da sua participação ou não na greve às

aulas, que entretanto tinha sido decretada.36

A direcção do Orfeon, solidária com o Regime, assume uma posição de

distanciamento académico, expulsa 17 orfeonistas grevistas e toma a defesa dos

pontos de vista governamentais. A partir daqui o Orfeon, conjuntamente com a Tuna e

a Oficina de Teatro, passa a ser um bloco que os estudantes apelidam de fascizante,

em confrontação com a vontade maioritária académica. Estão assim criadas

condições para o seu isolamento e quebra de respeitabilidade.

Em 1970, o Orfeon, a convite do Governo, representa Portugal no Japão, na

Feira Internacional de Osaca, em espectáculo que contou também com a colaboração

de Carlos Paredes.

Na Páscoa de 1971 o Orfeon visita a Suiça, a França e o Luxemburgo e, em

Dezembro do mesmo ano, a Inglaterra, a França e a Holanda.

Em 1972 tem como ponto alto das suas actividades a gravação do 2º disco de

longa duração com o título ''Cantando espalharei por toda a parte...'' e manda ainda

gravar uma medalha em cerâmica, em comemoração dos seus 90 anos de existência.

36- Sobre esta temática consultar Celso Cruzeiro no livro ''Coimbra,1969, a crise académica, o debate das ideias e a prática, ontem e hoje'', Ed. Afrontamento, Coimbra,1989.

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Em 1973 abraça um grande projecto que é a organização do Iº Festival

Internacional de Coros Universitários, convidando para seus directores artísticos o

maestro Fernando Lopes Graça e o Dr. Francisco Faria. Ambos viriam a declinar o

convite, já depois de aceite, por incompatibilidades ideológicas e políticas, cabendo

finalmente a direcção ao jovem maestro Fernando Eldoro.

O esforço que a realização deste festival requerera, acrescido do desgaste

político que o confronto constante determinava e ainda as dificuldades de

entendimento global com a ''irresponsabilidade académica'' decidiram Joel Canhão,

visivelmente exausto, a retirar-se da liderança artística do Orfeon, o que veio a

acontecer em Julho de 1973.

Num balanço rápido destes seis anos de actividade, poder-se-á dizer que eles

foram extraordinariamente ricos no plano da produção artística, fruto do cunho

personalizante incutido por Joel Canhão (um perfeccionista ao tempo não

compreendido), mas obscurecidos pela desidentidade ideológica com a maioria

académica, situação que só o 25 de Abril de 1974 viria a corrigir.

Período de Cândido de Lima

1973 - 1975

Ao tomar posse do lugar de maestro em Outubro de 1973, Cândido Lima

chama a si o encargo de viajar entre o Porto, cidade onde vive, e Coimbra, para

cumprir as suas múltiplas funções profissionais.

Era uma experiência nova, para ele, a desta área de direcção coral; e nela se

embrenha com entusiasmo, procurando enriquecer o reportório do Orfeon com obras

da sua autoria, especialmente escritas para este grupo coral e que de imediato põe

em execução.

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Pela primeira vez nasce, neste organismo, a vontade de se lançar a realizações

de maiores proporções e, neste sentido, Cândido Lima escreve a Missa Medieval,

para ser cantada no dia da Universidade, em 1 de Março de 1974. Por dificuldades

resultantes de atrasos nos ensaios, apenas pôde ser montado o Kyrie e o Sanctus.

O 25 de Abril de 74 apanha o Orfeon a meio deste projecto e não o deixa

concluir, por considerar bem mais urgente a solução de muitas outras situações de

relacionamento, mantidas em conflito desde Abril de 1969.

O Orfeon actual é desmembrado, os seus membros são saneados e é

nomeada uma comissão de gestão, formada por elementos de outros organismos,

com especial participação do C.E.L.U.C. (Coral dos Estudantes de Letras da

Universidade de Coimbra), comissão que tem por objectivo reorganizar o Orfeon,

purgando-o do ''espírito fascista que o emblema''37.

A actividade coral tem que ser toda reorganizada, já que em assembleia geral,

convocada pela comissão, se decidira transformar o Orfeon num grupo coral misto,

abrindo as fileiras à participação feminina, tal como acontecia com o Coral das Letras

e o Coro Misto da Universidade. Transformou-se assim o Orfeon num grupo com

iguais características às dos outros dois que já existiam e que eram mais que

suficientes para dar resposta às solicitações femininas !. Erro histórico, quiçá

irreversível !

Por todo o ano de 1975, o fervor militante não permitiu, praticamente, nada que

não fosse o ajuste de contas inter-universitários e a proclamação desbocada dos

grandes ideais da proletarização dos bens culturais.

A esta dinâmica nem o inteligente Cândido Lima conseguiu resistir, cansado de

tentar conciliar, em termos artísticos, o inconciliável. Pediu a sua demissão ainda em

75, e foi substituído por Manuel Carlos Brito, um musicólogo vindo de Lisboa.

37- Expressão recolhida num dos muitos comunicados divulgados na época e conservados no arquivado do O.A.C.

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O processo revolucionário delapida também as boas intenções deste homem e

obriga-o a resignar no final do ano académico de 75-76.

A actividade musical de todo este período é obviamente, bastante conturbada,

a sua qualidade duvidosa, por falta de tranquilidade para o trabalho artístico, e os

espectáculos são quase todos orientados no sentido de ''dinamização cultural'', e

concretizados pela voz de duas dezenas, mal contadas, de militantes.

Período de Artur Carneiro

1976 - 1982

Com a chegada de Artur Carneiro, vindo de Lisboa, onde cantava no Coro

Gulbenkian, o Orfeon ganhou uma nova dimensão, consequência, por certo, mais da

experiência coral deste novo regente do que propriamente do enquadramento social

da época que continuava pouco propícia à prática tranquila da música coral.

O Orfeon de Artur Carneiro

Os anos de 1976 e 1977 foram ainda de grande dificuldade no recrutamento de

coralistas. As represálias políticas eram ainda pesadas, e a transformação do Orfeon

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em coro misto criava confrontos de identidade orgânica, só não sentida por quem vivia

esta realidade de fora ou a passou apenas a viver após o 25 de Abril.38

A partir da transformação em coro misto e de acordo com os ''ventos

dominantes'', também o ''Amen'' da Danação de Fausto de Berlioz foi abandonado

como obra de congregação de todas as gerações orfeónicas e sempre cantado no

final dos concertos, para dar a vez ao ''Acordai'' de Lopes Graça, obra com palavras

de José Gomes Ferreira. Às gerações ''reaccionárias'' do ''Amen'' sucediam as

gerações ''progressistas'' do ''Acordai''.

Os espectáculos passaram a ter apoio audio-visual, por norma ''slides'', que

ilustravam a realidade social portuguesa e que se combinavam com a música coral,

quase toda ela constituída por canções renascentistas ou cantigas populares

portuguesas harmonizadas, com predomínio exclusivo de Lopes Graça.

Ainda no ano de 1977, o Orfeon deu concertos no Porto, Póvoa do Varzim,

Figueira da Foz, Soure, Mangualde e Covilhã. Para além disso, colaborou na

realização de outros concertos promovidos pela Inatel, Associação Académica e

Alemanha Democrática, (concretamente na ''Semana da RDA'').

Em 1978 colabora nas comemorações do 1º centenário de Afonso Lopes

Vieira, em Leiria; homenageia, a 4 de Maio, Fernando Lopes Graça, no Teatro de Gil

Vicente, estando o compositor presente; organiza o ''1º Ciclo de Música e Arte

Popular'' que traz a Coimbra, para além de Lopes Graça, o Octeto dos Madrigalistas

de Lisboa, a Banda da Armada, o Coral Públia Hortênsia de Lisboa, a Orquestra

Sinfónica Juvenil, o Quarteto Zimarlino, o Coral Phydellius de Torres Novas, a

Orquestra Sinfónica Popular, dirigida por Álvaro Salazar, e ainda conferencistas como

João de Freitas Branco, António Victorino de Almeida e Mário Vieira de Carvalho.

38- É ainda no ano de 1976 que, pela primeira vez, se realiza um convívio de antigos orfeonistas, que pretendem recordar velhos tempos de boémia e analisar a situação do Orfeon decorrente da sua transformação em grupo misto. A reunião foi em Lisboa, no restaurante ''O Peixe'', em Belém. Novos encontros ficaram marcados para o Porto e Coimbra, e deste espírito, congregado com a ocasião propícia - os 100 anos do Orfeon - acabou por nascer o Coro dos Antigos Orfeonistas, em 1980.

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Em 1979, o número dos concertos dados era já considerável. E embora a maior

parte destes coubesse à região de Coimbra, verdade é que o Orfeon se deslocou

também a Braga, Évora, Régua, Vila Real, Chaves e Viana do Castelo.

Com a chegada de 1980, o Orfeon atingiu a época de maior projecção artística

durante este período. São essencialmente três as razões que dão azo a esta

projecção: a digressão realizada à Áustria e Polónia, as comemorações dos 100 anos

do Organismo, e o 1º Encontro Nacional de Coros Amadores, integrado nestas

comemorações.

A digressão decorre de 23 de Março a 7 de Abril e dela diz a imprensa diária:

''O Orfeon Académico de Coimbra fará uma <<tournée>> pela Europa,

dando concertos na Austria, Hungria, Polónia e Checoslováquia. No primeiro

daqueles países, aonde se desloca a convite do adido cultural português

António Victorino de Almeida, o Orfeon actuará em Viena, Salzburgo e

Graz.''39 De facto, nem a Hungria nem a Checoslováquia são visitadas e a Polónia

deixou tristes recordações aos orfeonistas, pela desorganização em que se processou

todo o projecto da viagem.

Em Maio deste mesmo ano o Orfeon desloca-se a Santiago de Compostela,

retribuindo o convite da Tuna Compostelana.

O 1º Encontro de Coros Amadores teve lugar nos dias 28 e 29 de Junho,

integrado nas Comemorações do Centenário do Orfeon. Foi uma realização de

grande projecção, em razão do número de coros que movimentou: 75, presentes, dos

90 inscritos, num total de cerca de 2500 coralistas. O encontro encerrou com um

espectáculo no Pátio da Universidade, com os 75 coros presentes e cantando em

conjunto duas obras - ''Cum facis elemosinem" de D. D. Mélgaz e ''Os Homens que

vão p'rá Guerra'' de Lopes Graça -dirigidas por Artur Carneiro.

Quanto às comemorações centenárias, em si, foram estas centradas nos dias

13 e 14 de Dezembro com o seguinte programa:

39- ''O Diário'' de 23 de Fevereiro de 1980.

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Dia 13: -10h-Concentração na Porta Férrea

-11h-Cumprimentos ao Magnífico Reitor

-12h-Visita ao Jardim Escola João de Deus

-13h-Visita à Câmara Municipal e almoço

-15h-Visita à Casa dos Pobres

-16h-Visita ao Diário de Coimbra

-15h-Actuação para Coimbra nas escadas de

Santiago

-18h30-Visita à A.A.C., seguido de Ensaio Geral

-21h30-Sarau no Teatro Gil Vicente

-24h-Serenata no Jardim da Sereia

Dia 14: -10h-Romagem à campa de Raposo Marques

-11h-Visita ao Asilo Dr. Elísio de Moura

-12h-Missa na Capela da Universidade

-13h-Fotografia na Via Latina

-14h-Almoço de confraternização e despedida

A imprensa nacional noticiou profusamente estas Comemorações.

O sarau, ponto artisticamente mais alto do programa, não desiludiu as

expectativas. Num Gil Vicente repleto, reuniram-se antigos e actuais orfeonistas, num

espectáculo prolongado que, para além do Orfeon Académico de Coimbra, contou

ainda com um acto de Variedades e a colaboração do novo Coro dos Antigos

Orfeonistas do Orfeon Académico de Coimbra, constituído para abrilhantar as

referidas comemorações e que, posteriormente a elas, tem vindo a acumular, no seu

curto passado, os testemunhos de excelentes prestações artísticas.

Noite alta, e em fim de sarau, antigos e actuais orfeonistas uniram-se de novo

ao som do ''Amen'' de Berlioz. Foi a apoteose!

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Para as Comemorações foi feito um ''crachá'' e gravada uma medalha em

bronze, tendo esta de um lado a esfinge de João Arroio e do outro o actual emblema

do Orfeon.

Os dois últimos anos de permanência de Artur Carneiro no Orfeon quase que

podem ser entendidos como o tempo necessário para a desaceleração de todo este

processo comemorativo. A sua disponibilidade diminuiu e o ritmo de trabalho

ressentiu-se na mesma proporção.

Os concertos foram todos realizados à escala nacional. Para além de uma

digressão ao Alentejo, Algarve e Beira Alta em 1981 e de uma participação no 2º

Encontro de coros da região de Coimbra, em 1982, nada mais de significativo

aconteceu.

Ao período de Artur Carneiro compete, por direito, o mérito da realização de um

trabalho especial. As condições sociais, como já foi dito, não eram ainda as ideais e a

mudança para grupo misto obrigou a repensar toda a realidade coral.

A tudo isto vem juntar-se uma certa indisponibilidade dos universitários, mais

voltados para outras linhas de actuação e a abertura, por força dos estatutos, a

pessoas não universitárias, que acorreram ao organismo como forma de promoção e

como porta de acesso ao meio estudantil.

Contudo, durante os seis anos deste período, o reportório foi bastante arejado,

histórica e estilisticamente educativo, as organizações paralelas culturais aconteceram

com frequência e, mais importante que tudo, o Orfeon conseguiu começar a reafirmar

a sua imagem de dignidade académica.

Período de Virgílio Caseiro

1982 -

Com a chegada de Outubro de 1982, o Orfeon deu início a uma nova etapa da

sua história, contratando o maestro Virgílio Caseiro.

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Retomando uma dinâmica de recuperação artística que começara a sentir-se já

em finais da década de 70, foi fácil incutir no Orfeon o desejo de um novo pensamento

musical que respondesse polivalentemente às tarefas que ao organismo eram

solicitadas: representar a Universidade sob o ponto de vista artístico, ter um papel

pedagógico junto dos seus membros e ser um vector coral educativo para as

populações mais carenciadas.

O Orfeon de Virgílio Caseiro

Logo no ano de 1983 foi recuperada a tradição do uso do traje

académico,''Capa e Batina'', passando o Orfeon a actuar, de novo, vestido com as

suas insígnias universitárias. Também neste ano se começou a pensar na idealização

de espectáculos que, radicados no movimento e no apoio audio-visual, modificasse,

por actualização, a mensagem musical, dimensionando-a a vários níveis da

sensorialização, em última análise um espectáculo cénico-musical.

Isto foi realizado e apresentado em público já nesse mesmo ano, mas só no ano

seguinte se pôde atingir a maturação pretendida.

Desde então, e com o aproveitamento dos períodos de férias, tem vindo

sempre a manter-se a vontade do Orfeon de seguir numa linha mais ou menos

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itinerante, como factor de projecção universitária a nível artístico. E assim, ainda nesse

ano de 1983, realizou-se na Páscoa uma digressão a Espanha, à cidade de

Salamanca, depois de, durante as férias de Natal, se ter estado já no Alentejo.

A partir de 1984, começou a grande odisseia europeia do Orfeon. Todos os

anos tem tido lugar uma digressão à Europa, e algumas vezes duas.

Em 1984 o Orfeon visitou a França, onde apresentou o seu espectáculo

encenado. Ainda neste ano, fundou duas secções paralelas e subsidiárias do coro:

uma escola de fado de Coimbra, onde se formassem os cantores e instrumentistas

necessários à serenata de encerramento dos concertos e um grupo de música popular

para complementarização dos mesmos. Estes grupos continuaram em actividade

constante durante toda a década de 80 e permanecem ainda em plena actividade.

O Grupo de Música Popular

Em 1985 iniciam-se os ciclos denominados ''Hora e Meia com a Música'', que

têm por objectivo a realização de conferências e palestras com individualidades de

renome no panorama musical nacional e que se irão prolongar até 1989. Estes ciclos

trazem de novo a Coimbra figuras como Fernando Lopes Graça, António Victorino de

Almeida, Bernardo Sá Machado, João de Freitas Branco, Mário Vieira de Carvalho, e

outros.

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Neste ano o Orfeon volta à Europa. Visita a Espanha - Valência e Sueca -, e,

mais tarde, a França - S. Etienne, Lyon e Saint Dié - e a Alemanha - Frankfurt,

Wiesbaden e Babenhausen.

Em 1986, o Orfeon organiza um curso de direcção coral para não-iniciados,

numa tentativa de colaborar no incremento da qualificação dos novos maestros

regionais.

Na sequência deste espírito, é também criado um Grupo de Câmara Vocal,

formado por 4 elementos por naipe e tendo por objectivo a abordagem de reportório

musical de difícil acesso ou de características estilísticas desaconselhadas à

totalidade do Orfeon. Este grupo manteve-se até à actualidade, com boas

perspectivas de continuação.

A França e o Luxemburgo são os países visitados nas férias da Páscoa deste

ano.

Ainda em 1986, dão-se os primeiros passos no sentido da criação de um coro

de câmara com orfeonistas.

Entretanto, em todos estes anos, os concertos nacionais continuavam a

acontecer, bem como as participações constantes em saraus académicos. As férias

do Natal eram aproveitadas em geral para digressões internas. Nesta quadra, o

Orfeon visitou o Alentejo em 1983, Trás-os-Montes em 1984, de novo o Alentejo em

1985 e o Algarve em 1986.

Em 1987, por entendimento e sensibilização artística, o Orfeon começou a

ensaiar obras de dimensão mais vasta que, por um lado, entusiasmassem os

orfeonistas no sentido de um maior empenhamento e, por outro, lhes trouxessem um

maior benefício de carácter educativo. A primeira obra escolhida ao abrigo deste

critério foi a ''Missa Brevis'' K 259 de Mozart, apresentada a público com

acompanhamento de órgão e pequeno grupo de cordas.

A Itália e a França foram os países contemplados na digressão da Páscoa

deste ano.

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Em 1988, outras realizações ocorreram, marcadas pela sua importância e com

novidade: a gravação de uma cassete com o reportório do Orfeon, destinada a

comercialização; o início dos ensaios do Glória de Vivaldi, para ser executado em

parceria com a Tuna Académica e com a colaboração de solistas profissionais; a

cunhagem de uma nova medalha em bronze e a preparação da 1ª Mostra Internacional

de Coros Universitários.

A digressão da Páscoa teve de novo por objectivo a França, em seguida a

Bélgica e depois a Alemanha Federal.

Um ano mais tarde, a viagem à Holanda, à Suíça e à Alemanha, assinalou o

ponto mais alto da actividade coral deste ano.

Em 1990 entrou em ensaios a ''Missa Beatae Virginae Mariae'' de Filipe de

Magalhães. Também nesta data o Orfeon representou a Academia de Coimbra na

Unesco, em Paris, por ocasião da Abertura das Comemorações dos 700 anos da

Universidade de Coimbra.

Actualmente está a ser trabalhado um novo projecto de realização do Glória de

Vivaldi, desta vez em conjunto com a Nova Filarmonia Portuguesa e a integrar no

sarau de encerramento dos 700 anos da Universidade.

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O Orfeon na actualidade - 1991

Síntese das digressões ao Estrangeiro, Açores, Madeira e Ultramar

realizadas pelo Orfeon Académico de Coimbra desde a sua

constituição

1911- França: Paris

1923- Espanha: Madrid, Salamanca e Valladolid

1924- França: Paris, Bordéus e Baionne

1936- Açores e Madeira

1937- Espanha: Sevilha

1943- Espanha: Galiza

1947- Espanha: Salamanca e Madrid

1949- Espanha: Galiza

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África: Angola, Moçambique e S. Tomé e Príncipe

1953- Marrocos

1954- Espanha: Salamanca

Brasil: Pernanbuco, Rio de Janeiro,Santos,S. Paulo, S.

Caetano, Campinas, Americana, S. Carlos, Ribeirão Preto, Belo Horizonte,

Ouro Preto, Teresópolis, Niterói e S. Salvador da Baía

1958- Bélgica: Bruxelas

1960- Açores e Angola

1961- Espanha

1962- Estados Unidos da América: 35 cidades visitadas

1963- Madeira

1965- Estados Unidos da América: Nova Iorque

1966- Açores

1967- Angola

1969- França: Paris, Poitiers, S. Jean de Luz

1970- Japão: Osaka, Kioto e Tóquio

1971- Luxemburgo

Suíça: Zurique, Lausana, Berna e Basileia

Inglaterra: Oxford e Londres

França: Paris

Holanda: Harlem, Almelo, Arnhein e Haia

1972- África do Sul: Pretória, Durban, Joanesburgo

Rodésia: Blantyre e Salisbury

Malawi

Angola e Moçambique

1980- Espanha: Santiago de Compostela

Áustria: Viena

Polónia: Lodz e Varsóvia

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1983- Espanha: Salamanca

1984- França: Poitiers, Bourges, Cluny, Niort e La Rochelle

1985- França: S. Etienne, Lyon e Saint Dié des Vosges

Alemanha: Babenhausen, Frankfurt, Wiesbaden e Neuss

Espanha: Valência e Sueca

1986- França: Tours e Saint Dié

Luxemburgo

1987- França: Aix-en-Provence

Itália: Massa, Noceto e Parma

1988- França: Montpellier, Nancy e Neuves-Maisons

Bélgica: Bruxelas

Alemanha: Sindelfingen e Bona

1989- Holanda: Amesterdão e Leiden

Suíça: Lausana

Alemanha: Colónia, Bona e Lipstadt

1990- Espanha: Salamanca

França: Paris (Unesco)

1991- Espanha: Santiago de Compostela e La Coruña

França: Aix-en-Provence, Montpellier, Anianne e

Dauphin

Alemanha: Frankfurt e Erbach

Bélgica: Bruxelas, Bruges, Erps-Kwerps e Keerbegen (Europália)

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Os Estatutos

Se é verdade e constatável a existência do Orfeon Académico de Coimbra e o

seu reconhecimento universitário e público desde 1880, também é verdade que,

desde a sua fundação até à actualidade, poucas são as referências concretas à sua

existência legal.

Foi criado de facto e como tal existiu.

Só em 1900 se encontram os primeiros documentos escritos, muito

concretamente duas actas de Assembleias Gerais, datadas de 25 de Maio e 13 de

Novembro, e das quais a última, por bizarria da história, tem como objecto de análise

e decisão o encerramento de actividades e a dissolução do organismo40, proposta

aprovada com 12 votos a favor, 3 contra e 13 abstenções. O património orfeónico

transitou, por decisão desta assembleia, para a responsabilidade da Direcção da

A.A.C.

Acabara assim o Orfeon da Sebenta, por insubstituibilidade do seu director

artístico.

Apesar de recriado o Orfeon em 1908, nada foi encontrado relativamente a este

período que lhe desse suporte legal em termos estatutários, embora em questão de

vida interna seja abundante o material escrito que confirma a sua existência. Há

mesmo um relatório de contas finais, elaborado em 1912 (ano da nova paralisação de

actividades) por Felizardo António Saraiva e José Freire de Mattos.

Também algumas actas de Assembleias Gerais, relativas a este período, se

podem consultar na Direcção do Orfeon.

40- A acta em questão encontra-se nos anexos.

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Contudo só em 1919, pela Lei nº 861, aprovada pelo Parlamento, se regista a

primeira referência oficial à existência do Orfeon, reconhecendo-o como organismo

académico legal com razão de existir permanentemente. O mesmo diploma

restabelece, ainda, a Faculdade de Letras.

Em Novembro de 1936, novo decreto-lei, o nº 27277, incide sobre o Orfeon

Académico, desta vez para conferir ao Reitor da Universidade competência para

contratar um indivíduo da sua confiança, para a regência do Orfeon e da TUNA.

Em Novembro de 1938, é aprovado um projecto de Regulamento Interno,

elaborado por Augusto de Figueiredo Machado Franco e que, quer pela sua redacção,

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quer ainda pela exaustão das situações que contempla, pode ser verdadeiramente

tido como um Projecto de Estatutos, até mesmo porque o seu âmbito é bastante mais

vasto do que aquele que caberia a um regulamento interno. Deste facto tiveram aliás

consciência as direcções vindouras, que em relação ao documento o seguiram como

estatutos, alterando-o e ampliando-o em assembleias gerais sucessivas.

Estatutos de 1938

O presente documento, de uso interno na época, confirma esta afirmação, na

medida em que o riscado do título ''Regulamento Interno'' vem substituído pela palavra

manuscrita ''Estatutos''. Também o seu conteúdo se encontra significativamente

alterado e adendado.

Só em 1963 os Estatutos definitivos são finalmente publicados no Diário do

Governo de 19 de Setembro, oficializando assim a prática estatutária, desde 1938,

corrigida e actualizada agora neste ano de 1963. Por estes Estatutos define-se o

Orfeon Académico de Coimbra como ''uma associação de estudantes

universitários, de índole exclusivamente estética e finalidade filantrópica e

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artística, tem a sua sede na cidade de Coimbra, no edifício das instalações

académicas da Universidade, e rege-se pela lei e pelos presentes

estatutos''41. Ainda relativamente aos Fins e actividades, afirmam os Estatutos:''O

Orfeon é absolutamente independente de qualquer organização, mesmo

académica, podendo, porém, colaborar com qualquer organismo escolar ou

extra-escolar, dentro das finalidades indicadas no art. 1º dos presentes

estatutos e nos termos do art. 17º do decreto-lei nº 44632''42 ... ''Ao Orfeon

compete:

a) Procurar levar a efeito, nos termos do art. 39º, o mínimo de uma

excursão anual dentro ou fora do país;

b) Promover, sempre que as suas disponibilidades financeiras o

permitam, a realização de conferências sobre arte e especialmente sobre

música, para o que serão convidados artistas e críticos dos mais conotados;

c) Realizar, quando isso seja possível, serões de arte.''43

Posteriormente à data de 1963, são vários os contributos de sucessivas

gerações para a elaboração de novos estatutos. Contudo as versões finais jamais se

tornaram ''exteriormente'' oficiais, já que é a publicação de 19/9/63 que continua a ser

considerada como última publicação oficial.

Entre os contributos mais relevantes, serão de registar os novos estatutos

organizados e aprovados em assembleia geral de Fevereiro de 1976 (não publicados

em Diário da República) e onde é contemplada a abertura do organismo a pessoas de

ambos os sexos, que assegurem o funcionamento do novo coro misto. Também daqui

em diante poderão passar a ser orfeonistas, por força do parágrafo único do art. 5º,

elementos não universitários.

Em 1988 é constituída nova comissão, composta pelos estudantes de Direito

Júlio de Matos, Rosa Amélia e Paula Saraiva, para elaboração de outros estatutos. 41- Estatutos, 1ª Parte, artº 1º, "Dos Fins e da Sede" 42- Ibidem, artº 2º. 43- Ibidem, artº 3º "Da Actividade Cultural".

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Apesar da ampla discussão que promoveram em assembleias gerais para o efeito

convocadas, nunca este projecto chegou, contudo, a passar da situação de documento

manuscrito.

Verifica-se, assim, uma vez mais, que os únicos estatutos publicados em Diário

da República são os de 196344, e por isso os verdadeiramente oficiais. No entanto, a

constituição mista do actual Orfeon não os considera e obriga a que as últimas

direcções se tenham vindo a reger pelos estatutos aprovados em Fevereiro de 1976.

De referir também que muitas têm sido as alterações propostas aos estatutos,

ao longo dos anos, umas e outras devidamente registadas em actas de Assembleia

Geral. Porém, o carácter transitório dos membros do organismo faz com que,

passados poucos anos, o conhecimento dessas alterações seja apagado da memória

e o objectivo das actas escritas quase nunca seja respeitado. Portanto, e apesar das

sucessivas alterações estatutárias, é quase sempre o documento de 1976 que acaba

por ditar palavra de lei, porque o único a que normalmente se recorre.

Estatutos do Orfeon Académico

Aprovados em Assembleia Geral de Fevereiro de 197645

TÍTULO I

CAPÍTULO ÚNICO

(Denominação, sede e fins)

Artº 1º

O Orfeon Académico de Coimbra, é um organismo cultural de

estudantes da Universidade de Coimbra, com autonomia artística e

administrativa, cuja finalidade é desenvolver a cultura e a arte popular.

Art.º 2º

44- Estes Estatutos encontram-se fotocopiados no anexo final deste trabalho. 45- Transcrição integral dos Estatutos, em função da importância de que se revestem para a história e a estrutura do Orfeon.

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O Orfeon, para a prossecução dos seus fins, dotar-se-á de estruturas e

meios necessários com vista à concretização de um coro que sirva as ideias

democráticas e progressistas.

Artº 3º

O Orfeon tem a sua sede em Coimbra.

Artº 4º

O Orfeon possui emblema próprio, que só pode ser usado pelos sócios

que alguma vez tenham tido a qualidade de efectivo ou de honorário e que

adiante se reproduz.

TÍTULO II

DOS SÓCIOS

CAPÍTULO I

(Categoria de sócios)

Artº 5º

O Orfeon tem três categorias de sócios: votantes, efectivos e

honorários.

Parágrafo único- Poderão fazer parte do Orfeon não universitários.

Artº 6º

São considerados sócios não votantes todos aqueles que inscritos no

organismo não tenham realizado trabalho efectivo no Orfeon durante pelo

menos três meses ou que não tenham dado provas suficientes da sua

integração nos fins do organismo constantes do artº 1º, mercê do seu

trabalho e ainda os sócios efectivos que tenham abandonado o trabalho há

pelo menos seis meses.

Parágrafo único- Os sócios não votantes podem contudo emitir

livremente as suas opiniões nas Assembleias.

Artº 7º

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São considerados sócios efectivos os sócios que constem do caderno de

votantes.

Parágrafo único- A inscrição como sócio do Orfeon é feita no gabinete

da Direcção, e os sócios só farão parte do grupo coral após o apuramento de

voz feito pelo regente do Orfeon.

Artº 8º

Fazem parte do caderno de votantes:

a) Os sócios efectivos que tenham realizado um trabalho efectivo no

organismo durante pelo menos três meses.

b) Os sócios efectivos que tenham abandonado o trabalho há menos de três

meses.

Parágrafo único- Os critérios de passagem a sócio votante devem ser,

para além do constante no corpo do artigo, a capacidade de cada elemento

dar provas de integração nos fins do organismo constante no artº 1º, mercê

do seu trabalho.

Artº9

Para efeito do constante no artº 7º, o Conselho Directivo deve elaborar

um caderno de votantes a ser submetido à Assembleia Geral, que decidirá.

Parágrafo único- A elaboração do caderno de votantes deve ser feita

sempre que haja necessidade, podendo qualquer sócio chamar a atenção da

Assembleia para os casos que achar convenientes.

Artº 10º

São considerados sócios honorários as pessoas ou colectividades

nacionais ou estrangeiras, nomeadas em Assembleia Geral, que por mérito

próprio ou serviços prestados ao organismo se pretenda distinguir, após a

aprovação destes estatutos.

CAPÍTULO II

(Direitos e Deveres)

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Artº 11º

Só os sócios efectivos são considerados eleitores e só eles podem ser

eleitos para os corpos gerentes.

Artº 12º

É dever de todos os sócios do Orfeon aceitar os cargos para que forem

eleitos se previamente não apresentarem razões justificativas da não

aceitação.

Parágrafo 1º- O pedido de demissão de qualquer cargo será

apresentado à Assembleia Geral ou ao órgão que tiver feito a designação.

A Assembleia ou este órgão examinará os respectivos motivos e

decidirá em conformidade.

Parágrafo 2º- Se o pedido de demissão provir de um elemento do

Conselho Directivo, conservar-se-á o disposto no artº 28.

Artº 13º

É dever de todos os sócios contribuir para o prestígio do Orfeon e

acatar as decisões dos corpos gerentes, no âmbito da sua competência.

CAPÍTULO III

(Penalidades)

Artº 14º

As penalidades aplicadas aos sócios são: repreensão, suspensão dos

direitos de sócio e irradiação.

Parágrafo 1º- Nenhuma destas penalidades será aplicada sem prévia

audiência do sócio visado, salvo no caso da sua manifesta falta de

colaboração.

Parágrafo 2º- Todas as penalidades são da competência exclusiva da

Assembleia Geral, que poderá nomear um instrutor para organizar o

processo.

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Parágrafo 3º- A irradiação só poderá ser decidida por maioria absoluta

dos sócios presentes em Assembleia Magna expressamente convocada para

o efeito.

TÍTULO III

DOS CORPOS GERENTES

Artº 15º

São considerados corpos gerentes a Assembleia Geral e o Conselho

Directivo, cujos membros são eleitos anualmente em Assembleia Geral

Ordinária.

Parágrafo 1º- Os corpos gerentes eleitos só entraram em efectividade

de função entre 1 e 30 de Outubro.

Parágrafo 2º- Estes órgãos poderão ser preenchidos em qualquer

altura, em Assembleia Geral convocada para o efeito, no caso de demissão

ou outra impossibilidade permanente de qualquer dos seus membros.

CAPÍTULO I

DA ASSEMBLEIA GERAL

Artº 16º

A Assembleia Geral reunirá em sessão anual ordinária entre 1 e 30 de

Junho, para eleição dos corpos gerentes.

Artº 17º

A Assembleia Geral funcionará com qualquer número de sócios,

podendo contudo os sócios presentes decidir não realizar a Assembleia, por

não a considerar representativa.

Artº 18º

As decisões da Assembleia Geral são tomadas por maioria simples dos

sócios presentes, sem prejuízo do nº1 do artº22º e do parágrafo 3 do

artº14º.

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Parágrafo único- O direito de voto só pode ser exercido através da

presença do próprio votante.

Artº 19º

A Assembleia Geral será convocada com a antecedência mínima de 48

horas.

Parágrafo único- São formalidades essenciais de convocação a menção

da ordem do dia e a afixação da convocatória no átrio do edifício da sede do

Orfeon, independentemente de qualquer outra publicidade.

Artº 20º

A Assembleia Geral é convocada pelo presidente de Mesa ou na sua

impossibilidade, por qualquer outro elemento da Mesa, a pedido de:

a) Do Conselho Directivo;

b) De pelo menos cinco sócios efectivos;

Parágrafo 1º- A convocatória, a que se deve dar a publicidade

necessária, será assinada pelo presidente da mesa da Assembleia Geral ou

na sua impossibilidade, por qualquer outro elemento da mesa, e indicará a

entidade ou sócios requerentes.

Parágrafo 2º- À ordem do dia poderão ser acrescentados pontos sem

carácter deliberativo por maioria simples. A apresentação desses pontos será

feita no início da reunião, passando a sua discussão para depois do último

ponto da ordem do dia inicial.

À ordem do dia não podem ser retirados pontos sem o consentimento

da entidade requerente.

Artº 21º

No caso de recusa do Presidente, a Assembleia Geral poderá ser

convocada pela entidade ou sócios indicados no artº 20º.

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Parágrafo único-A Assembleia Geral tomará neste caso conhecimento

dos motivos da recusa, decidirá da oportunidade e necessidade do seu

imediato funcionamento para exame da matéria da convocatória.

Artº 22º

Haverá por ano três assembleias gerais ordinárias, respectivamente,

para eleição dos corpos gerentes, para a direcção prestar esclarecimentos

sobre a sua actividade e, finalmente, para apresentação de contas da

gerência, relatório e balanço.

Artº 23º

Compete à Assembleia Geral:

a) Alterar estes estatutos por maioria qualificada de 2/3 de sócios efectivos

do Orfeon, devendo a convocação para essa sessão ser feita com a

antecedência mínima de 8 dias.

b) Proceder às eleições para os corpos gerentes, nos termos destes estatutos

e apreciar os pedidos de demissão de harmonia com o artº 12º.

c) Admitir os sócios honorários nos termos do artº 10º.

d) Apreciar as actuações passíveis de sanções e aplicar as respectivas

penalidades de harmonia com o artº 14º.

e) Discutir e aprovar no início de cada mandato dos corpos gerentes um

plano de actividades a apresentar pelo Conselho Directivo.

f) Discutir e aprovar pelo menos uma vez por ano um relatório de contas a

apresentar pelo Conselho Directivo.

g) Deliberar sobre todos os assuntos relacionados com o organismo.

Parágrafo único- A aprovação pela Assembleia Geral do balanço de

contas da gerência, liberta a Direcção da sua responsabilidade perante o

Orfeon, salvo provando-se que nos balanços, relatórios ou contas houve

omissões ou indicações falsas.

Artº 24º

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A mesa da Assembleia Geral compõe-se de um presidente e dois

secretários.

Artº 25º

Ao presidente da mesa da Assembleia Geral incumbe:

a) Convocar a Assembleia Geral nos termos do artº 20º.

b) Presidir às sessões e dirigir os trabalhos da Assembleia Geral.

c) Ler ou mandar ler por um dos secretários a acta da sessão anterior que

depois de lida submeterá à discussão e aprovação.

d) Conservar em seu poder os livros das actas da Assembleia Geral e demais

documentos que lhe digam respeito, entregando tudo no fim da gerência ao

Conselho Directivo

e) Assinar com os secretários as actas das reuniões.

f) Manter a ordem durante as sessões, expulsando inclusive da sala, após

aprovação da assembleia, aquele que, mercê do seu comportamento

incorrecto ou anti-democrático, se torne prejudicial ao bom funcionamento

da assembleia.

Artº 26º

Aos secretários da mesa da Assembleia Geral compete coadjuvar o

presidente e substituí-lo na sua falta ou impedimento.

Parágrafo 1º- Se nalguma sessão da mesa da Assembleia Geral se

verificar a ausência de todos os componentes da mesa, dirigirão os trabalhos

três sócios eleitos na mesma sessão.

Parágrafo 2º- Na falta de secretários farão as suas vezes os sócios

aprovados pela assembleia.

CAPÍTULO II

DO CONSELHO DIRECTIVO

Artº 27º

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O Conselho Directivo é composto por sete elementos: presidente, vice-

presidente, tesoureiro e quatro vogais, cargos estes escolhidos entre si.

Artº 28º

Nenhuma resolução poderá ser tomada em reunião do Conselho

Directivo sem a presença da maioria dos seus elementos em efectividade de

funções.

Artº 29º

O Conselho Directivo reunirá em sessões ordinárias e sempre que

algum dos seus membros o requeira justificadamente.

Artº 30º

As funções da Direcção findam no acto de posse da que a substitui.

Artº 31º

Depois de eleito nenhum membro do Conselho Directivo poderá pedir

a sua demissão sem fundamento. O pedido de demissão será apresentado

aos restantes membros que, se o aceitarem, comunicarão o caso à

Assembleia Geral.

Em caso de negativa, poderá o requerente apresentar o seu pedido de

demissão à Assembleia Geral.

Artº 32º

As deliberações do Conselho Directivo são tomadas por maioria

simples.

Parágrafo único- O Conselho Directivo é solidariamente responsável

por todas as medidas tomadas.

Artº 33º

Ao Conselho Directivo, como órgão executivo do organismo, compete

nomeadamente:

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a) Representar o Orfeon

b) Executar as decisões da Assembleia Geral

c) Administrar e conservar os bens do Orfeon

d) Submeter à apreciação da Assembleia Geral os projectos de trabalho e

quaisquer assuntos de interesse ou gravidade para o organismo

e) Organizar as viagens e os espectáculos depois de aprovados em

Assembleia Geral

f) Apresentar à Assembleia Geral, para aprovação, o caderno de votantes e o

caderno eleitoral, afixado este último dois dias antes das eleições

g) Elaborar para discussão e aprovação pela Assembleia Geral, no início do

seu mandato, um plano de actividades

h) Elaborar para discussão e aprovação em Assembleia Geral, pelo menos

uma vez por ano, um relatório de contas

i) Colaborar com a Direcção Artística em todas as realizações e assistir-lhe,

facilitando-lhe os meios para o cumprimento da sua missão

j) Organizar as comissões técnicas que se julguem necessárias

Artº 34º

Compete ao presidente do Conselho Directivo coordenar a sua

actividade e orientar as suas reuniões.

Artº 35º

Ao vice-presidente compete nomeadamente substituir o presidente no

seu impedimento, ou quando para tal for delegado.

Artº 36º

Compete ao tesoureiro arrecadar e administrar os dinheiros do Orfeon

e orientar toda a actividade financeira do organismo

Artº 37

Compete aos vogais, juntamente com os restantes membros do

Conselho Directivo, a actividade normal do Conselho Directivo.

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68

CAPÍTULO III

(Conselho Artístico)

Artº 38º

O Conselho Artístico compõe-se do regente do Orfeon e um ensaiador

de cada naipe.

Artº 39º

Compete ao Conselho Artístico:

a) Fazer o apuramento de vozes, por intermédio do regente.

b) Elaborar o programa das músicas a cantar durante o ano, para apresentar

à Assembleia Geral, que poderá aceitá-lo, recusá-lo ou alterá-lo.

c) Promover ensaios parciais e gerais quando o entender.

d) Submeter a exame, sempre que o entenda e obrigatoriamente antes de

qualquer excursão, todos os orfeonistas, fornecendo seguidamente à

Direcção, para serem afixadas, listas com o resultado dos exames.

e) Marcar faltas aos orfeonistas que não compareçam aos ensaios.

Artº 40º

Aos exames a que se refere a alínea d) do artº anterior assistirá um membro

da Direcção.

TÍTULO IV

CAPÍTULO UNICO

(Do acto Eleitoral)

Artº 41º

O acto eleitoral revestir-se-á no essencial de duas fases:

1ª- Uma assembleia preparatória onde se fixará o dia das eleições, tendo

limite para propositura de listas e demais pormenores relacionados com as

eleições.

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69

2ª- Eleição em Assembleia Geral Ordinária, a realiza entre 1 e 30 de Junho,

dos corpos gerentes.

TÍTULO V

CAPÍTULO UNICO

(Da actividade artística)

Artº 42º

A Direcção artística de um espectáculo bem como de outra actividades

que lhe sejam afectas, pertence ao maestro, se nada em contrário for

acordado.

Artº 43º

A nomeação do maestro, bem como a escolha das peças a apresentar,

compete à Assembleia Geral.

Artº 44º

À Direcção Artística é-lhe estranha qualquer actividade administrativa.

TÍTULO VI

CAPÍTULO UNICO

(Das viagens e espectáculos)

Artº 45º

Em viagem observar-se-ão as disposições destes estatutos sem

prejuízo do estabelecimento de normas especiais sempre que a natureza das

deslocações assim o exigir.

Artº 46º

Quando em viagem o Orfeon poderá reunir em Assembleia.

Esta Assembleia só pode, porém, conhecer e deliberar sobre assuntos

respeitantes à mesma.

Artº 47º

A chefia do Orfeon em viagem pertencerá ao Conselho Directivo.

TÍTULO VII

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DISPOSIÇÕES FINAIS

Artº 48º

Os casos omissos serão resolvidos de acordo com o espírito destes

estatutos, da lei e dos princípios gerais do Direito.

FIM

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71

71

As Direcções Artísticas

Neste capítulo pretende-se esboçar uma síntese biográfica dos diferentes

regentes do O.A.C., e inferir das consequências que a respectiva actuação teve na

história e na evolução artística do Orfeon. Não se dá notícia biográfica de Luís de

Albuquerque Stockler, por ter sido a sua participação meramente pontual e mal

definida em termos de ela se poder entender ou não como regente, do Orfeon.

Também se não fazem referências a D. José Pais de Almeida, por nunca ter chegado

a ser regente titular - substituiu Elias de Aguiar em épocas em que a saúde deste lhe

não permitia estar presente.

São por isso ao todo 9 os regentes que imprimiram o seu perfil artístico ao

Organismo, da fundação à actualidade.

João Arroio46

João Marcelino Arroio, fundador do Orfeon Académico e seu primeiro regente,

era natural do Porto, onde nascera em 1861.

Depois de ter iniciado os seus estudos nesta cidade, veio para Coimbra cursar

Direito, e aqui se licenciou.

Era filho de José Francisco Arroio - compositor e músico, primeiro director do

Teatro S. João, no Porto - e irmão do crítico de arte António Arroio, este também

músico e cantor. Aliás, aquando do espectáculo de estreia do O.A.C., António Arroio

cantou a solo, acompanhado por uma orquestra dirigida por seu irmão João.

Doutorou-se em Direito em 1884 e tomou posse de cátedra em Dezembro de

1985, tendo sido neste mesmo ano eleito deputado por Vila do Conde.

46- Dados biográficos de acordo com documentos existentes e arquivados no O.A.C., publicações periódicas, notas de programas e elementos colhidos na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.

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Em 1890, apenas com 29 anos de idade, foi chamado ao Governo para chefiar

a pasta da Marinha e Ultramar e, mais tarde, a do Ministério da Instrução Pública.

Em 1900 voltou ao governo, deste vez sob a presidência de Hintze Ribeiro,

para ocupar a pasta dos Estrangeiros.

Nos últimos anos de Monarquia, João Arroio salientou-se na Câmara como um

dos elementos da oposição.

No na área dos estudos jurídicos publicou: Estudo sobre a sucessão legitimária

- Coimbra, 1884; Duas excepções no Processo Civil Português - Porto, 1884 e

Estudo segundo sobre a sucessão legitimária - Coimbra, 1885.

Como publicações musicais, deixou: Histoire simple, Thème avec variations;

Scherzo, Angoscia e Charmante, obras para piano datadas de 1908; as óperas Amor

de Perdição - sobre o romance de Camilo Castelo Branco e libreto em italiano de

Francisco Braga e representada no Teatro de S. Carlos em 1907, com tal sucesso que

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se voltou a representar em Hamburgo - e Leonor Teles, esta ainda hoje inédita;

compôs também uma cantata, Inês de Castro, igualmente inédita ainda e um Poema

Sinfónico, baseado num ciclo de sonetos publicados em 1918, e que foi tocado em

1913 no Teatro da Trindade.

Em 1917 publicou o drama teatral Paulo e Lena, que teve má aceitação por

parte do público.

Morreu a 15 de Maio de 1930.

Fruto da sua formação musical e do convívio com um meio musical rico, como

era o do Porto nessa época, João Arroio incutiu ao Orfeon uma dinâmica apoteótica,

juntando vozes, instrumentos e solistas, numa abordagem de árias musicais de grande

efeito e aceitação, tais como coros de Weber e Wagner. Era, em última análise, a

exploração da massa coral como expressão de profunda emoção romântica. O

espectáculo de apresentação foi disto exemplo. Vários órgãos da comunicação social

chegam a indicar, para estes primeiros espectáculos, um total de cerca de 250

músicos. Se atendermos ao número de orfeonistas- cerca de 80- sobram-nos 130

elementos como instrumentistas e solistas, número de facto muito elevado.

António Joyce47 De seu nome completo, António Avelino Joyce. Nasceu em Lisboa a 1 de

Dezembro de 1886.

47- Dados biográficos extraídos de notas de programa, da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (até 1946) e dos arquivos do O.A.C.

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Para além de reorganizador do O.A.C. em 1908 e de ser seu coordenador até

1912, altura em que se licencia em Direito, Joyce foi um homem público

extraordinariamente discreto, alternando a sua actividade entre o mundo político e o

administrativo.

Governador Civil de Bragança, a seguir à sua formatura, opta depois pelo

cargo de Secretário dos Governos Civis de Castelo Branco, Porto e Lisboa.

Desempenhava este último cargo quando foi convidado para secretário particular do

Presidente da República, na altura Teixeira Gomes.

Nomeado director da Emissora Nacional, cria nesta a Orquestra Sinfónica

Nacional, convidando Pedro de Freitas Branco para seu primeiro maestro titular.

Possuía, para além da formação jurídica, o Curso Diplomático, os cursos gerais

de Rudimentos Musicais, Harmonia e Violino, e ainda o curso de professor da Cartilha

Maternal. Nem sempre foi pacífica a sua coexistência com o poder político instituído.

Obrigado a emigrar, partiu para Antuérpia, onde viveu algum tempo como director

comercial de uma empresa de que era sócio, conjuntamente com Afonso Costa.

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Foi director da Sociedade de Concertos de Lisboa, membro de honra do

Instituto Britânico do Porto, sócio da Associação dos Jardins-Escolas, da Associação

de Músicos Portugueses e cidadão honorário da Covilhã. Possuía o grau de Cavaleiro

de Santiago da Espada.

Colaborou nos periódicos Século, Capital, Diário de Notícias, Atlântida e ABC.

Publicou os trabalhos: Da influência do Patriarcado na condição jurídica da mulher; O

carácter específico do fenómeno financeiro; Estudo acerca de canções populares na

província da Beira-Baixa; Projecto crítico de modificações ao Código Administrativo

de 1936, e Projecto de reforma da Emissora Nacional.

A sua passagem pelo Orfeon foi, sem margem para dúvida, o ponto mais alto

da sua concretização artística. Devem-se-lhe, para este grupo coral, algumas

harmonizações de temas populares, a 4 vozes iguais.

Morreu em Lisboa a 15 de Janeiro de 1964.

Com António Joyce, o O.A.C. atingiu um elevado nível artístico e conseguiu

seleccionar um longo e difícil reportório, desta vez executado exclusivamente ''a

capella''. O facto de todos os espectáculos terem tido um fim benemerente explícito (a

construção do Jardim-Escola João de Deus), universalizou a sua aceitação e

moralizou, por acréscimo, as suas actuações. O número de elementos era prova disso:

''Eu já o disse: que obra titânica não é juntar duzentos rapazes, disciplina-

los, prende-los e interessa-los numa obra artística, numa epocha como a

nossa ? António Joyce conseguiu isso.' '48. Quanto à qualidade artística basta

referir, como exemplo, o seguinte: ''O Orfeon Académico de Coimbra obteve no

espectáculo de hontem uma nova e ruidosa consagração. Nem um logar

devoluto... Foi uma bela festa o sarau de hontem. As recordações deixadas

não se apagarão tão cedo.''49.

48- Luis Gonzaga no jornal O Comércio de Viseu de 24/2/910 49- excerto do jornal A República de 25/3/912.

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Elias de Aguiar

O padre Dr. Elias de Aguiar nasceu em 1880 em Vila do Conde.

Após ter frequentado o Seminário de Braga, onde se ordenou, matriculou-se em

1906 na Faculdade de Teologia de Coimbra. Terminado este curso inscreveu-se,

como aluno, nas Faculdades de Letras e de Direito da mesma cidade, e nestas se

viria também a licenciar.

Foi professor do Seminário de Coimbra nas cadeira de Moral e Dogmática

Especial, Teologia Fundamental e Filosofia. Foi também professor de História da

Música na Faculdade de Letras.

Assumiu a regência do O.A.C. em 1914, após o interregno de António Joyce,

vindo a apresentar o organismo em público em Março de 1915.

Como regente, acompanhou o Orfeon nas viagens triunfais que este realizou a

Espanha e a França. Em 1932, por razões de saúde, fez a sua última apresentação

artística pública, em sarau realizado no Coliseu dos Recreios de Lisboa.

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Em 24/5/1929 foi-lhe prestada uma homenagem pela Academia de Coimbra, a

que se associou a cidade. Durante o acto, o Governador Civil colocou-lhe as insígnias

da Ordem de Santiago, com que o Governo o havia agraciado.

Parecida homenagem lhe prestou também o povo da sua terra natal, em frente

da porta da sua casa, pelos relevantes serviços prestados a Vila do Conde, tendo-lhe

sido oferecida então uma obra de arte, a perenizar a data.

Os anos consagrados ao O.A.C. podem entender-se como o ponto mais alto de

toda a sua realização artística. Pena foi que os, problemas graves e constantes de

saúde, que sempre o acompanharam, o tivessem impossibilitado de concretizar

muitos projectos e outros tantos espectáculos. A asma e a bronquite dificultaram-lhe o

dia a dia, tendo vindo a ser, inclusive, a causa da sua morte.

Dedicou às coisas da educação e da cultura toda a sua vida, e a maneira

desinteressada como a elas se entregava, criou-lhe mesmo graves problemas de

sobrevivência económica, o que o levou, por mais de uma vez, a refugiar-se na sua

terra natal, abandonando Coimbra.

Da sua maneira de ser e de estar, seja permitido transcrever aqui dois

contemporâneos seus: ''É então que, em 1914, surge, como por milagre, a

figura altamente simpática, culta e bondosa do Dr. Elias de Aguiar...; ...aí

tínhamos nós o ensaio geral, sob a regência do Sumo Pontífice de tudo

aquilo, - o simpático Dr. Elias de Aguiar, o qual, por sofrer de uma bronquite

um tanto assanhada, nos aparecia com o pescoço envolto num cachecol.;

...ao nervosismo de Joyce, opôs-se a serenidade que confunde, à frase

destoante e viva a fustigar uma desafinação, sucedeu um cair de braços em

desencanto, que teve o condão de estabelecer a harmonia nos tons em

conflito de irmandade sonora''50 E ainda:

''Era na igreja antiga de S. Bento,

50- Carta de Jorge Seabra ao Orfeon, em Fevereiro de 1955, incluída no livro de comemoração dos 75 anos desta Instituição.

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-Velha e de velha abandonada, enfim...-

De altos zimbórios, de profundas naves,

Onde zunia o vento,

Onde dormiam as nocturnas aves...

Era na velha igreja que ficava

à beira dum jardim,

Cercada de chorões e buganvílias,

À sombra das olaias e das tílias:

Pois era ali que o Orfeon cantava!...

Acendia-se a luz do acetileno;

Formava no estrado o Orfeon;

De preto, no pescoço, um cachecol,

-Tão apagado e simples de figura,

Mas que ao reger se anima e transfigura

E alumia à roda como um sol...-

Vinha o Dr. Elias de Aguiar,

Que nos lábios premia o Lamiré

Para nos dar o tom...

<<Silêncio, amigos, vamos a cantar!>>

A sua fronte, onde alve javam cãs,

Revestia-se, então, de um ar solene...

E ao levantar o braço

Irrompia qual nuvem pelo espaço

A torrente sonora:

O Ámen, os Titães,

Que aos sentidos me vêm a toda a hora!...' '51

51- Fausto José em carta enviada ao O.A.C., aquando das Bodas de Diamante e a incluir no seu livro intitulado Memórias de Coimbra.

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Elias de Aguiar viria a morrer a 23 de Março de 1936.

Raposo Marques

Raposo Marques era natural da Ilha de S. Miguel, tendo nascido na Ribeira

Grande a 2 de Novembro de 1902.

Depois de concluído o curso dos liceus em Ponta Delgada, em 1923, matricula-

se nesse mesmo ano em Coimbra nas Faculdades de Letras e Direito.

Os invulgares dotes musicais, que desde logo revela, impõem-lhe a alcunha de

<<Palestrina>>, já no seu tempo de caloiro, sobrenome que o acompanhará até ao fim

dos seus dias. Ainda nos primeiros anos de Coimbra, é chamado a substituir Elias de

Aguiar, para dirigir alguns ensaios do Orfeon na velha igreja de S. Bento.

A partir de 1926, é regente substituto do Orfeon, por impossibilidade quase

permanente de saúde do regente titular. Mas só a partir de 11 de Janeiro de 1937,

Raposo Marques desempenha este cargo com carácter efectivo, por proposta do

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Senado Universitário - proposta fundamentada no decreto-lei nº 27277 de Novembro

de 36 que permite ao Reitor da Universidade a contratação de um indivíduo, de

reconhecida competência, para dirigir os dois organismos académicos de maior

prestígio e representatividade universitária, o Orfeon e a Tuna Académica - depois de

ter sido escolhido por unanimidade para tal cargo em Assembleia Geral de orfeonistas

realizada em Outubro último.

Contudo Raposo Marques já regia este grupo coral, de facto e graciosamente,

havia mais de 10 anos.

Desde 1929 passou a ocupar também o lugar de professor provisório do Liceu

Dr. Júlio Henriques de Coimbra - ao tempo, Liceu Normal - cargo que desempenhou,

com interrupção de 1930 a 1936, e que manteve, depois, em simultaneidade com o

exercício das funções de regente orfeónico.

As suas inatas capacidades musicais levaram-no, para além de regente, a ser

também compositor e orquestrador e, como tal, responsável por um grande número de

composições e harmonizações destinadas ao Orfeon ou à Tuna. Poder-se-ão referir,

entre outras: Limoeiro Verde com versos de Antero de Quental; Missa Mater Dei a três

vozes e órgão; O Vos Omnes, para 4 vozes iguais; Balada, para canto e piano; Balada

Açoreana, para 4 vozes iguais; Rapsódias Açoreanas nº1, 2 e 3.

Enquanto regente do Orfeon Académico de Coimbra, acompanhou-o em todas

as digressões e espectáculos realizados no País -continental, insular e ultramarino-e

com ele deu concertos em Espanha, França, Bélgica, Brasil e Estados Unidos da

América do Norte.

Raposo Marques foi agraciado com as condecorações de Cavaleiro da Ordem

de Instrução Pública e Oficial da Ordem de Santiago da Espada. Recebeu a medalha

de Ouro da Cidade de Coimbra, em 1954, antes da sua triunfal viagem ao Brasil. Era

''Maestro honoris causa'' da Academia Mundiale degli Artisti e Professionisti de

Roma'', Sócio de Mérito do Instituto de Coimbra e da Associação dos Jardins- Escola

João de Deus, Sócio de Honra do Orfeão Escalabitano, Sócio Honorário da Casa dos

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Açores no Rio de Janeiro, para além, é evidente, de ser Sócio Honorário do Orfeon

Académico de Coimbra.

Colaborou em várias revistas e jornais diários, estando a sua obra literária

dispersa por diversos periódicos, com principal incidência na imprensa açoreana -

Estrela de Alva de Angra do Heroísmo, Açoreano Oriental, Diário dos Açores, Correio

dos Açores.

O Dr. Raposo Marques pautou essencialmente a sua vida por uma entrega

desinteressada à causa artística universitária, militando por ela, sofrendo por ela e

morrendo nela.

A 4 de Setembro de 1966 faleceu subitamente, em consequência de um ataque

cardíaco, no Aeroporto de Santa Maria, nos Açores, enquanto aguardava embarque

para Lisboa, depois de concluída mais uma digressão ao arquipélago, com visitas a

Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta.

Joel Canhão52

Nasceu em Leiria em1927.

No Conservatório Nacional de Lisboa fez os seus estudos musicais como aluno

de Jorge Croner de Vasconcelos (Contraponto e Fuga) e de José Lúcio Mendes, em

cuja classe obteve o diploma do Curso Superior de Piano. Estudos em regime

particular com o pianista Botelho Leitão e a frequência dos Cursos de Interpretação

dirigidos por Winfried Wolf, enriqueceram a sua formação artística.

52- Dados recolhidos em notas de programas, complementarizados e confirmados pessoalmente pelo Prof. Joel Canhão.

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Paralelamente, concluiu o Estágio de Professores de Canto Coral no Liceu

Pedro Nunes, sob orientação de Luís de Freitas Branco e de Frederico de Freitas.

Bolseiro do Instituto para a Alta Cultura e da Fundação Calouste Gulbenkien,

estudou Direcção Coral com Pierre Kaelin e Educação Musical com Edgar Willems,

na Suíça.

Estudou Canto com Arminda Correia e Giovanni Voyer.

Trabalhou ainda Piano e Harmonia com Fernando Lopes Graça.

Como bolseiro da Universidade de Coimbra, frequentou os Cursos

Internacionais da Costa do Sol, nas classes de Lied, Ópera e Acompanhamento, de

Paul Schillawsky e de Técnica Vocal, de Lisie Egger.

De 1970 a 1974, de novo bolseiro da mesma Universidade e da Fundação

Calouste Gulbenkien, aperfeiçoou-se em Órgão com Sibertin-Blanc, passando desde

então a desempenhar as funções de organista titular da Universidade de Coimbra.

Professor de Canto Coral em vários liceus é, actualmente, docente no

Conservatório de Música de Coimbra, depois de ter desempenhado já os cargos de

docente na Escola do Magistério Infantil de Coimbra, Escola Superior de Educação de

Coimbra e na Universidade de Aveiro. A sua actividade tem decorrido no âmbito da

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renovação das metodologias do ensino da Música e na direcção de coros de

amadores.

Foi maestro e director artístico do Orfeão Scalabitano, Grupo Coral Alfredo Keil,

Orfeon Académico de Coimbra e dirige presentemente o Coro dos Antigos

Orfeonistas do Orfeon Académico de Coimbra. Enquanto maestro destes dois últimos

coros apresentou-se em numerosos concertos no estrangeiro, tendo percorrido alguns

centros na Europa, na Africa, na Ásia e na América, visitando locais como a:

França,Brasil, Japão, África do Sul, Macau, Hong-Kong, Angola, Moçambique, e

outros.

No campo da investigação musicológica, tem o nome ligado à descoberta de

um fragmento do Antifonário do Ofício (provavelmente do séc. XII).

Como publicista deu à estampa vários livros de Educação Musical,

harmonizações de cantos populares portugueses, literatura musical para as crianças,

conferências e discos.

Sob o pseudónimo de Mouro Serpa publicou três livros de poesia, figurando na

antologia do Prémio Almeida Garret do Ateneu Comercial do Porto, organizada por J.

Gaspar Simões, Vitorino Nemésio e Paulo Quintela.

Gravou dois discos LP, o primeiro com o O.A.C., em 1972 e o segundo com os

Antigos Orfeonistas, em 1985.

É Vice-Presidente da Associação Portuguesa dos Amigos do Órgão e sobre

matéria organística tem publicado artigos vários em publicações estrangeiras como

Tesoro Musical Sacro (Espanha), e Organa Europae (França).

Foi galardoado em 1987, pelo Presidente da República, com o grau de Oficial

da Ordem do Infante D. Henrique.

Cândido Lima 53

53- Dados biográficos cedidos pelo próprio, através de notas de programas, complementarizados por diálogo posterior.

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Nasceu na região de Viana do Castelo, e iniciou os estudos gerais e musicais

em Braga. Em 1963 entrou para o Conservatório desta cidade e, um ano depois, era

admitido no Conservatório Nacional de Lisboa. Nestas duas Escolas obteve

respectivamente os diplomas dos Cursos Superiores de Piano e de Composição.

Realizou estudos superiores em Filosofia na Faculdade de Filosofia de Braga,

entre 1968 e 1973.

Doutorou-se em Estética pela Universidade de Paris II/Sorbonne, com uma tese

orientada pelo compositor Iannis Xenakis.

Frequentou cursos internacionais em Portugal, Espanha, Holanda, Alemanha e

França. Seguiu estágios de informática musical nas Universidades de Vincennes,

Paris I-II/Sorbonne (1975-78), no CEMANU (1978) e no IRCAM (1981).

Estudou Direcção de Orquestra com Gilbert Amy e Michel Tabachnik (1977/78)

e foi bolseiro, durante vários anos, da Fundação Gulbenkian, da Secretaria de Estado

da Cultura, além de outras organizações internacionais.

Escreveu obras para orquestra, câmara, canto, coro, teatro, electrónica,

electroacústica e por computador, algumas das quais apresentadas em países dos

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vários continentes. Escreveu ainda numerosos ensaios e tem realizado conferências e

seminários dentro e fora do país.

Dirigiu o Orfeon Académico entre 1973 e 1975.

Colaborador da rádio e da televisão desde 1963, como pianista, compositor,

autor e apresentador, criou para a RTP, de 1979 a 1986, três séries de programas:

''Sons e Mitos'', ''Fronteiras da Música'', ''No ventre da Música'' e ''Evocações''.

Nomeado em 1978 professor de Composição do Conservatório Nacional de

Lisboa, leccionou de 1968 a 1970 e de novo a partir de 1986 no Conservatório de

Música do Porto e noutros Conservatórios do norte do país.

É actualmente professor de Composição na Escola Superior de Música do

Porto e membro do Conselho Científico (Departamento de Música) da Universidade

de Aveiro.

Manuel Carlos Brito54

Nasceu no Porto a 26 de Abril de 1945.

Revelou desde sempre uma acentuada predisposição e interesse pelas coisas

da música, evidente já quando aluno de Macário Santiago Kastner, Maria Teresa

Macedo e Jorge Croner de Vasconcelos, com os quais estudou História da Música,

Piano e Composição.

No Conservatório Nacional terminou o Curso Geral de Composição, Acústica e

História da Música.

54- Notas biográficas de acordo com Curriculum Vitae cedido pelo próprio.

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Em 1961, frequentou os cursos de música gregoriana de Fátima; em 1968, os

cursos de direcção de orquestra do Mozarteum de Salzburgo, orientados por Bruno

Maderna e Herbert von Karajan; e em 1970, o curso de aperfeiçoamento para

professores de Canto Coral, promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Licenciou-se em 1972 em Filologia Germânica na Universidade Clássica de

Lisboa.

De 1976 a 1979 foi bolseiro do British Council e do Instituto Nacional de

Investigação Científica no King's College da Universidade de Londres, onde estudou

com Brian Trowell ( Deão da Faculdade de Música e actual presidente da Royal

Musical Association da Grã-Bretanha), Stanley Boorman ( actual catedrático de música

antiga da Universidade de Nova Iorque), Pierluigi Petrobelli ( actual catedrático de

História da Música da Universidade ''La Sapienza'' de Roma ), e Reinhard Strohm

(actual catedrático de História da Música da Universidade de Yale), orientador da sua

tese de doutoramento.

Em 1977 foi-lhe conferido o grau de Master of Music com base numa tese

intitulada "Villancicos in a Portuguese Monastery - A Study and Parcial Transcription of

Coimbra MM 228, 238 and 240". Em 1986 obteve, na mesma Universidade, o grau de

Doctor of Philosophy, em razão da apresentação de uma tese sobre "Opera in

Portugal in the Eighteenth Century, 1708-1793".

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Após o seu regresso a Portugal, dirigiu o Coro da Basílica da Estrela, da

Juventude Musical Portuguesa e, por fim, o Orfeon Académico de Coimbra, em 1975.

Foi professor de História da Música no Conservatório de Música do Porto

(1979-1982) e no Conservatório Nacional de Lisboa (1982-1986).

Desde Janeiro de 1987 é Professor Adjunto de Estética Musical na Escola

Superior de Música de Lisboa e, desde Novembro do mesmo ano, Assistente

convidado no Departamento de Ciências Musicais da Universidade Nova de Lisboa.

A sua obra escrita está repartida por livros, comunicações, conferências,

edições musicais, obras colectivas, catálogos de exposições, textos de programas

musicais e prefácios.

Artur Carneiro

Artur Carneiro nasceu em 1951 e desde muito cedo começou a estudar música

e piano.

Aos cinco anos fez a sua primeira apresentação pública em audição no

Conservatório Nacional de Música, na classe do professor Campos Coelho.

Aos 15 anos inicia uma nova etapa da sua vida, quando teve as suas primeiras

lições de direcção coral com Michel Corboz, professor do Conservatório de Genebra e

director titular do Coro Gulbenkian.

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Com dezanove anos ingressa no naipe dos Baixos do Coro Gulbenkian, e nele

tem continuado, até hoje, a colaborar.

Paralelamente inicia os seus estudos em Arquitectura na Escola Superior de

Belas Artes de Lisboa, curso que interrompe por causa da sua vocação musical, e que

só muito mais tarde virá a concluir.

Em 1976 é convidado a reger o Orfeon Académico de Coimbra, cargo que

desempenha até Julho de 1982. Regressa então a Lisboa afim de concluir o curso

interrompido e passa também a dirigir um novo agrupamento musical em Torres

Vedras.

Em 1978 diploma-se em Polifonia Espanhola, em Santiago de Compostela.

Estudou Canto sob a orientação de diversos professores, nomeadamente

Juliette Bise e Peter Sefcik e foi convidado a executar, como solista, peças

contemporâneas de compositores como Xenakis, Emanuel Nunes, Jorge Peixinho,

Panderesky, etc.

No âmbito da direcção coral, trabalhou ainda com Hans Hennig, da Academia

de Hanover, Vassil Arnaudof, da Academia de Música Estatal de Sófia, e Guenther

Theuring, da Academia de Música de Viena.

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Em Coimbra foi também responsável pela direcção artística da Tuna

Académica e do Coro Misto da Universidade.

Enquanto maestro do O.A.C., fez digressões à Polónia e à Áustria no ano de

1980 e, neste mesmo ano, assumiu a direcção artística do Iº Encontro Nacional de

Coros Amadores, regendo, no espectáculo final, um coro com cerca de 2500 vozes.

Virgílio Caseiro

Virgílio Caseiro nasceu em Ansião em 1948 e aqui fez os primeiros estudos

liceais.

Concluiu-os de seguida em Coimbra, e aqui entrou na Universidade,

frequentando o curso de Engenharia Mecânica. Em simultâneo, inscreveu-se no Orfeon

e nele actuou como 1º Tenor. Também se inscreveu no G.E.F.A.C. (Grupo de

Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra), logo no ano da sua fundação.

Concluído o serviço militar, optou definitivamente pela carreira musical. Nesse

sentido, terminou em 1978 o Curso Superior de Canto, no Conservatório Regional de

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Música de Coimbra e obteve, em 1988, o grau de licenciatura em Ciências Musicais

na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Tem dado o seu contributo vocal a vários coros para além do O.A.C.,

nomeadamente ao Coral das Letras da Universidade do Porto, ao Grupo de Música

Vocal Contemporânea do Porto e ao Choral Pholifonico de Coimbra, do qual foi

também preparador vocal.

Como maestro, criou e dirigiu desde a sua fundação o Coro de Professores de

Coimbra, coro que abandonou em 1982 para assumir a direcção do Orfeon, que

continua a reger.

Ainda como maestro, criou e dirigiu a Orquestra de Câmara de Coimbra e o

Grupo de Música medieval e renascentista, ''Ars Musicae''.

Actualmente é Professor Adjunto Equiparado da Escola Superior de Educação,

e aqui coordena o Departamento de Educação Musical.

Tem vários artigos publicados em jornais e revistas, é colaborador do Jornal de

Coimbra e das Rádio T.S.F. e 90 FM, onde detém um programa semanal denominado

''Diálogos sobre Música''.

Paralelamente a estas funções, tem vindo a realizar, como maestro, concertos

em Espanha, França, Alemanha, Bélgica, Holanda, Suíça, Áustria e Itália.

Em todos estes países e, para além deles, nos Estados Unidos da América e

em Angola, tem dado também concertos como cantor solista.

REPORTÓRIO

Levantamento dos diferentes tipos de reportório realizados pelo O.A.C. ao

longo da sua existência e distribuídos por blocos, em função dos seus diferentes

períodos de existência e diferentes direcções artísticas.

Período da formação -João Arroio - 1880 a 1882

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Noel .............................................................Adam

Coro dos Caçadores.....................................Weber

Marcha da Tannhauser.................................Wagner

Morena..(letra de Guerra Junqueiro). Canto da Federação

Académica

(letra de João de Deus). Flores

sobre um Túmulo

(letra de Guilherme Braga)...................João Arroio

Rataplã. (Huguenotes)...................................Meyerbeer

Hino Académico..............................................José Medeiros

Avé Maria

Coro Nupcial da ópera Bianca de

Mauleon...............................José Arroio

Canção da Lousã

Toma Limão Verde

Ó Ana, só tu és Ana.........................................Har. João Arroio

Período do Centenário da Sebenta - 1899 a 1900

Hino da Sebenta.............................................Luis Stockler

Rapsódia.........................................................Autor não

identificado

Serrana...........................................................A. Keil

Algumas outras canções (não identificadas), possivelmente com carácter de

circunstância, se atendermos ao fim a que

se propunha a reorganização orfeónica.

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Período de António Joyce - 1908 a 1912 -

Canções da nossa Terra.................................António Joyce

Canções Portuguesas.....................................A. Joyce-I. Aranha

Serrana............................................................A. Keil

Coral................................................................J. S. Bach

Fuga (da Danação de Fausto).........................Berlioz

Sérenade.........................................................Borodine

Hyne an Die Nacht...........................................Beethoven

Ich Schwing Mein Horn...................................Brahms

Le Chant de Suomi..........................................F. Pacius

Ich Legte Mich am Abend

Iung Ole

Marienlied......................................................Grieg

Notre Père......................................................H. Marechal

Canto Académico

Morena...........................................................João Arroio

Negra Sombra (melodia galega)....................J. Montes

Villanelle........................................................Massenet

Iagdlied.........................................................Mendelssohn

Rataplan (Huguenotes).................................Meyerbeer

Adoramus

In Coena Domini............................................Palestrina

Barcarola

Canções Transmontanas...............................P. Ribeiro

Saltarelle

Les Titans......................................................Saint-Saens

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Die Nacht.......................................................Schubert

Minnesanger.................................................Schumann

Apoteóse de Hans Sachs

(da ópera Mestres Cantores)

Coena Degli Apostoli

Lied der Matrosen

Coro dos Anjos..............................................Wagner

Coro dos Caçadores (Freischutz).................Weber

Aubade..........................................................Wekerlin

Chanson des Forçats

Le Chant du Fer.............................................X. Jeroux

Período de Elias de Aguiar - 1914 a 1935

Amen (Danação de Fausto)..........................Berlioz

Hino à Noite..................................................Beethoven

Coro dos Soldados........................................Meyerbeer

Canções Transmontanas..............................Pinto Ribeiro

Rapsódia Portuguesa...................................Elias de Aguiar

Coral.............................................................J. S. Bach

2 Últimas Rapsódias Portuguesas

Cantares da nossa Terra..............................António Joyce

Titans............................................................Saint-Saens

Coro dos Peregrinos (Tannhauser)..............Wagner

Choeur des Gardes.......................................O. Thomaz

Limoeiro Verde

Rapsódia Açoreana nº1

Rapsódia Açoreana nº2..............................Raposo Marques

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Chant du Fer................................................X. Lerroux

Adoramus....................................................Ruffus

Tenberas

Inparasceve................................................Palestrina

O Vos Omnes................................................Victoria

Hino Nacional

Serrana........................................................A. Keil

Malhão (Beira Baixa)...................................s/autor

L'Enclume....................................................Gounoud

Período de Raposo Marques - 1936 a 1966

O Vosso Galo Comadre.................................Cancioneiro Galego

My Lord, What a Mornin´´............................Espiritual Negro

Preghiera

Adágio...........................................................Beethoven

À Oliveira da Serra........................................Sampayo Ribeiro

O Vos Omnes

Rapsódia Açoreana nº 2 e 3

Amores, Amores

Senhora do Livramento

Limoeiro Verde

Cântico das Fontes

Rapsódia Brasileira

Sonhando

Vira

Serenata Açoreana.......................................Raposo Marques

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Les Martyrs aux Arênes...............................Laurent de Rillé

Rapsódia Portuguesa nº1.............................Elias de Aguiar

Canto Trinfal (fragmento)............................Denefve

Choeur des Gardes-Chasse..........................Ambroise Thomas Aquela

Moça (arranjo).................................L. F. Branco

Coro dos Caçadores (Guarani)......................Carlos Gomes

Coro dos Conjurados....................................Meyerbeer

Canções Portuguesas...................................António Joyce

Hino à Noite..................................................E. Rousselle

L'Enclume

Les Martyres

Coro dos Soldados (Fausto)..........................Gounod

La Nuit...........................................................Rameau

Aleluia (Messias)...........................................Haendel

Melodia de Amor...........................................Rui Coelho

Coro de Introdução ao Hernâni....................Verdi

Rapsódia Transmontana................................Pinto Ribeiro

Gaudeamus Igitur..........................................Hino Académico

Serenade........................................................Schubert-Marques

Amen (Danação de Fausto)............................Berlioz

Marcha (Tannhauser)

Coro dos Peregrinos (Tannhauser)................Wagner

In Parasceve..................................................D. Pedro de Cristo

Ave Maria.......................................................Arcadelt

Paloma del Palomar.......................................Rafael Benedito

Coral (Paixão Segundo S. Mateus).................Bach

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Período de Joel Canhão - 1966 a 1973

In Monte Oliveti.............................................Francisco Martins

O Vos Omnes...................................................Raposo Marques

Trai-trai

Se Eu Quisera Amores

A Roupa do Marinheiro...................................Manuel Faria

O Memoriale Mortis Domini

Ó Rio que Levas Água.....................................M. Sousa Santos

Ó Maria do Cabo da Eira e

Ó Loureiro.......................................................Virgílio Pereira

Nun Danket Alle Gott

Wo Gott der Herr Nicht bei uns Halt..............Bach

Malos Male Perdet.........................................Diogo Dias Melgaz

Alleluia

Go Down (espiritual)......................................Pierre Kaelin

Colchiques......................................................Cockenpot/Kaelin

La Belle si nous Etions..................................Poulenc

Olha a Andorinha

Valverde, Valverde........................................Lopes Graça

Amen (Danação de Fausto)...........................Berlioz

Romântica.....................................................M. Sousa Santos

Líricas Espirituais de Gil Vicente..................Lopes Graça

Ka Ra Ta Chi No Hana....................................Yamada-Hayashi

De Onde Vens, Maria Rita

Digo-Dai

Canção do Vinho

Os Doze Ladrões

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O Coletinho...................................................Joel Canhão

Tristis Est.....................................................Martini

Se do Mal que me Quereis

Porque me não vês Joana

Romerico tu que vienes

A La Villa Voy..............................................Cancioneiro de Elvas It's a me, ó

Lord (espiritual).......................Walter Goodell

Kum Ba Yah (espiritual)..............................Heinz Cammin

Natal............................................................Sampayo Ribeiro Noel des

Hoteliers.......................................Cesar Geoffray

Tenebrae Factae Sunt JudasMercatorPessimus............................D.Pedro de

Cristo

S. João Baptista

Mirandum...................................................Manuel Luis

Sete Anos Andei na Guerra.........................Artur Santos

Período de Cândido Lima - 1973 a 1975

Jesus Meine Zuversicht............................Johann Cruger

Tenebrae Factae Sunt................................D. Pedro de Cristo Regina

Coeli...............................................G. Aichinger

Missa Medieval (Kyrie e Sanctus)............Candido Lima

Au Joli Bois................................................Sermisy

Porque me não vês Joana

Se do Mal que me Quereis

A la Villa Voy..............................................Cancioneiro de Elvas

Ce Moi de May...........................................Jannequin

Silfos ou Gnomos

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Canção da Mãe

Marujinha..................................................Cândido Lima

Período de Manuel Carlos Brito - 1975 a 1976

Ainda não foi encontrada nenhuma referência sobre

reportório.

Período de Artur Carneiro - 1976 a 1982

Secaronme los Pesares...........................P. de Escobar

Dinos Madre del Donsel..........................Triana

Si Abra en este Baldrés

Que es de Ti Desconsolado

Triste España sin Ventura

Fata la Parte...........................................J. del Encina

Alla se Ponga el Sol.................................Ponce

Vous Perdez Temps

Tant que Vivrai........................................C. de Sermisy

Canções Heróicas e

Acordai

Este Nosso Amo de Hoje

O milho da nossa Terra

Canta Camarada Canta

Senhora d'Aires

Canção do Camponês

S. João

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O Ladrão do Negro Melro

Santo Antão

São Horas de Emalar as Trouxas

Ó Meu Amorzinho...................................Lopes Graça

Alta Trinita Beata

Juízio Fuerte

Surrexit de Túmulo

Calabaça

Otro tal Misacantano

Tourdion

Wade in the Water (espiritual)

Por la Puente Joana

Ay Linda Amiga.......................................Anónimo

La Tricotea..............................................Alonso

Va Pensiero (Nabucco)...........................Verdi

Les Ramoneurs.......................................M. Gentilhomme

Señora Aunque no os Miro

Romericotu que Vienes

Venid a Sospirar.....................................Cancioneiro de Elvas

In Monti Oliveti......................................Francisco Martins

Cum Facis Eleimosynam.........................Diogo Dias Melgaz

Canticorum Jubilo..................................Haendel

Heillig ist der Herr..................................Schubert

Gaudeamus Igitur...................................K. Mroszczyk

Ich Pahr Dahin........................................Brahms

Endechas a Bárbara Escrava..................Zeca Afonso

Dindirindin..............................................Anónimo

El Grillo...................................................Josquin des Préz

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Belle qui tiens ma Vie............................T. Arbeau

Os Olhos da Marianita

Vira do Minho.........................................J. Chailley

Trai-Trai..................................................Manuel Faria

La,La,La, je ne l'ose dire........................P. Certon

Choral e

Wie Schon Leuchtet der Morgarstern...J. S. Bach

Luisinha..................................................Sampayo Ribeiro

Período de Virgílio Caseiro - 1982 até ao Presente

Gaudeamus Igitur..................................Anónimo

Ay mi Dios

Miserere Mei

Regina Coeli...........................................D. Pedro de Cristo

Cum Facis Elemosinam..........................Diogo Dias Melgáz

In Monti Olivetti....................................Francisco Martins

A la Villa Voy

Se do Mal que me Quereis

Porque me não vês Joana.....................Cancioneiro de Elvas

La Tricotea.............................................Alonso

Contraponto Bestialle alla Mente.........A. Banchieri

Tant que Vivray......................................C. Sermisy

Heilig.......................................................Schubert

Deep River (espiritual)

Sã qui turo zente pleta

E l'Allegria

Ay Linda Amiga

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Ev'ry Time (espiritual)............................Anónimo

Canticorum Jubilo..................................Haendel

Triste Espanha sin Ventura

Si Abrá.....................................................J. del Encina

Olá, che Bon Eco......................................O. di Lassus

Coro dos Cativos

Senhora Lua

Pezinho...................................................M.Sousa Santos

Trai-Trai

A Roupa do Marinheiro...........................Manuel Faria

Marujinha...............................................Cândido Lima

De Conimbrica (dedicada ao O.A.C.-1991)

Acordai

Oração de Santo António

Mirandum

Encomendação das Almas

Senhora do Amparo

Ser Feliz ou Desgraçado

Não Segueis o Trigo Verde

S. João Alentejano

A Senhora d'Aires....................................Lopes Graça

O Inverno no Algarve..............................Anatólio Falé

Natal de Elvas.........................................Sampayo Ribeiro

Senhora do Livramento

Saias........................................................Virgílio Caseiro

O Coletinho

Digo-Dai...................................................Joel Canhão

Lauda Jerusalem Dominum.....................Estêvão de Brito

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Ya Vienne la Vieja...................................R. Shaw e Parker

El Jubilate................................................Mateo Flecha

Sete Anos.................................................Artur Santos

Cruxifixus................................................A. Lotti

Pater Mi...................................................J. A. Oliveira

Gente Humilde.........................................Jônatas Manzolli

Extracto do 4º and. da 9ª sinfonia.........Beethoven

Yesterday................................................Adelino Martins

Eito Fora..................................................Popular Português

Tristis est Anima Mea.............................Fernando Eldoro

Olhos Azuis..............................................J. Chailley

Não Chores por me deixares..................José Firmino

Herr Jesu Gnadensonne

Nun Danket Alle Gott

Wenn Ich Einmal Soll Scheiden

Unsre Saat

Wie Schon Leuchtet der Morgenstern...J. S. Bach

Amen (Danação de Fausto)....................Berlioz

Summertime...........................................Gershwin

Der Gutzgauch........................................Lorenz Lemlin

Gloria......................................................Vivaldi

Canto di Cori

Missa Brevis k. 259................................Mozart

Missa Beata Virgine Maria.....................Filipe de Magalhães El

Grillo....................................................Josquin des Prèz

Algumas considerações sobre o reportório

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Tendo em linha de conta o número de obras por maestro e o número de anos

de permanência de cada um deles no Organismo, verifica-se que há tendência para

uma média de 6 a 8 obras montadas por ano. Os períodos de produção mais baixa,

fazem, contudo, cair esta tendência sob o ponto de vista estatístico.

0 10 20 30 40 50 60 70

ArroioStockler

JoyceAguiar

MarquesCanhão

LimaBrito

CarneiroCaseiro

REPORTÓRIO

Nº DE OBRAS

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0 5 10 15 20 25 30

ArroioStockler

JoyceAguiar

MarquesCanhão

LimaBrito

CarneiroCaseiro

Anos de Actividade

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

ArroioStockler

JoyceAguiar

MarquesCanhão

LimaBrito

CarneiroCaseiro

Obras/Ano

Se atendermos globalmente ao tempo total de funcionamento do Orfeon - 83

anos reais de actividade - teremos cerca de 3 a 4 obras novas por ano. Mas este

número não tem significado real, já que ele obscurece, por diluição, as épocas de

maior incremento artístico e cultural em favor daquelas em que se sentiu um nítido

atavismo produtivo.

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Por seu lado a enunciação das obras é importante já que da análise destas se

poderão deduzir dados sobre o seu grau de dificuldade, as principais preocupações

artísticas dos vários períodos, e até concluir sobre o papel educativo do Organismo ao

longo dos tempos.

Assim, não deixa de ser representativo o facto de ainda em pleno séc. XIX

aparecer um grupo coral que de imediato se propõe realizar música contemporânea e

dar uma importância relativamente grande a românticos alemães como Wagner,

Weber e Meyerbeer. Obviamente, poder-se-á concluir que ao grupo e ao seu regente

assistia uma forte sensibilização à modernidade, complementarizada pelo contributo

de poetas da mesma época como João de Deus e Guerra Junqueiro.

Chegado o tempo de António Joyce, esta preocupação dinâmica de mensagem

musical nova não esmorece, revelando a tendência actualizante de quem continuava a

presidir aos destinos artísticos do Orfeon. Agora, neste princípio de século, o O. A. C.

dava a conhecer ao público académico, e ao da cidade, reportório (algum dele inédito)

de um grande número de compositores românticos - Berlioz, Brahms, Grieg,

Massenet, etc. - e continuava a ponderar como importante a inclusão de Wagner

(quatro obras).

Com Elias de Aguiar e Raposo Marques, esta tendência mantem-se e o

reportório passa a incluir também algumas obras determinadas pela necessidade e

exigência dos espectáculos e digressões realizados. A música portuguesa

harmonizada ganha dimensão e aumenta em número.

Com Joel Canhão, atinge-se um período de maturação orfeónica e verifica-se

uma tendência para o abandono prioritário dos grandes ''clássicos'' europeus. A

atenção centraliza-se agora nos compositores nacionais. Esta tendência, embora já

presente em Raposo Marques, acentua-se com Joel Canhão. A abertura é agora mais

ampla e o leque de compositores nacionais representados alarga-se.

Depois das passagens meteóricas de Cândido Lima e Carlos Brito, não tendo

qualquer deles residido tempo suficiente para imprimir ao organismo um cunho

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artístico pessoal, é, com Artur Carneiro, verdadeiramente o primeiro regente orfeónico

pós 25 de Abril de 74, que se nota uma tendência para a divulgação do reportório

renascentista, num Orfeon que, fruto das circunstâncias, se encontrava agora

constituido como coro misto, depois de ter existido durante décadas exclusivamente

como coro masculino. Esta alteração das características constituintes do Orfeon é

determinante para a procura de novos reportórios.

Saído que foi Artur Carneiro, entrou no Organismo Virgílio Caseiro, que tem

vindo a assegurar a direcção artística até à actualidade. O reportório ganhou agora

uma dimensão ecléctica, histórica e pedagógica. Tem como objectivo dar uma

panorâmica das várias correntes musicais e actuar como elemento de entrosamento

lúdico-didáctico, sempre condicionado por uma intenção de carácter formativo e de

abertura ao progresso. Começou a notar-se uma certa preocupação com obras de

maior dimensão e folgo técnico mais arrojado.

Pode assim concluir-se que, o Orfeon Académico de Coimbra sempre teve em

vista um objectivo de intervenção cultural na cidade e na população académica a quem

serve, não descurando nunca a sua valência artística, representativa da Universidade

em que está inserido em simultâneo com uma intenção de militância artístico-

pedagógica junto dos académicos. Actua portanto como elemento de transformação e

melhoramento do gosto musical e refinamento estético e estilístico destes.

Os anos têm vindo a demonstrar ser substancial a diferença de opinião e sua

fundamentação artística entre um orfeonista recentemente admitido ( geralmente

atraído por obras de impacto, ainda que de gosto duvidoso) e um outro já experiente,

com vários anos de prática coral muito mais sensibilizado, portanto, para a

especificidade desta música coral (polifonia, contraponto, harmonia) e para o

entendimento e a absorção das suas subtilezas. As dissonâncias e as soluções

harmónicas mais complexas começam a encantá-lo.

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O Orfeon como centro actual de projecção e formação artística

no meio académico e na cidade

O Orfeon Académico de Coimbra não pode deixar de considerar os seus 111

anos de história, como um somatório de dedicação contínua e transmitida de geração

em geração, anos manifestados por factos e atitudes beneficentes, aliados sempre à

expressão de uma mensagem musical e educativa, construida, é certo, dentro das

suas paredes físicas, mas projectando-se a todo o meio académico e não-académico,

ou seja, ''futrica''55.

Ao falar de Coimbra e da sua Academia, três ou quatro entidades, para além

da própria Associação Académica, emergem como pontos fortes de união: o Futebol,

os Fados, a Queima das Fitas e também o Orfeon Académico.

Ponto de encontro associativo inegável, este foi, ao longo dos tempos, tribuna

de defesa da causa estudantil e um dos elementos responsáveis pela sua

congregação.56

Por ele passaram centenas de estudantes que mais tarde foram e são

responsáveis por altos cargos políticos, culturais, artísticos, religiosos e

governamentais no país.

Justifica-se, por isso, este olhar retrospectivo que, partindo da sua história, da

sua actividade e do seu reportório, pretende avaliar o contributo efectivo que o

organismo deu à população académica, à cidade e mesmo até ao país.

Como base de apoio, elaboraram-se dois sucintos inquéritos dirigidos a

cidadãos antigos orfeonistas e a cidadãos não orfeonistas, com o objectivo de

55- Na gíria académica de Coimbra todo o indivíduo que não é estudante ou académico é adjectivado de "futrica". 56- A crise de 1969 foi caso único dentro do organismo. O posicionamento, posterior à crise, pró-governamental, não pode deixar de ser entendido como pontual e sem antecedentes, fruto de um contexto de manipulação mais vasto e envolvendo outros organismos. Tal posição foi contrária aos interesses militantes da academia e o próprio Orfeon, na sequência do 25 de Abril de 1974, sofreu o preço de do seu posicionamento, com o desmembramento das suas fileiras e a posterior transformação em coro misto, que se manteve até à actualidade. De referir, contudo, que quer na crise académica de 1907, quer na de 1961/62, o Orfeon sempre esteve ao lado das massas estudantis, lutando pela legitimidade dos seus direitos.

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recolher, tão somente, as respectivas opiniões em relação ao Orfeon Académico de

Coimbra ou ao seu conhecimento. Esses inquéritos incluiram propositadamente a

identificação dos inquiridos, já que a temática não é polémica, e da identificação

podem advir vantagens para um posterior diálogo e análise.

Actividade Musical

Ao ter sido e continuar a ser, de facto, um coro universitário, o Orfeon dá à

música, e dentro desta à música coral, o principal enfoque de actividade, partindo dela

e a ela chegando como razão de ser das suas organizações, concertos e demais

manifestações.

Para a análise da função social e formativa do organismo, três pontos deverão

ser tomados em linha de conta na definição dos vectores de valor. São eles

concretamente: a importância do reportório, o trabalho desenvolvido pela Direcção e a

lucidez artística do regente. Mas, será ainda indispensável não esquecer que a função

actual, artística e cultural deste organismo radica no legado histórico deixado pelas

anteriores gerações, pois que estas, ao condicionarem por tradição o organismo, lhe

dão continuidade, coerência e vínculo personalizante. Este espírito, aliás, é por demais

importante nesta cidade de Coimbra, e disso todos têm a necessária consciência.

É por força deste factor, que se entendeu tentar encontrar primeiro, no passado,

as principais linhas de actuação, para depois elas se relacionarem com o presente e

se inferir então da continuidade ou não dos seus rumos.

Musicalmente, parece indiscutível o carácter positivo da acção exercida pelo

Orfeon ao longo dos tempos e do contributo que ele deu à formação das populações a

quem serviu e serve. São prova disso o prestígio de que o organismo goza, o vigor

das descrições feitas por estudantes das várias épocas, e ainda a análise dos tipos

de reportório que têm sido os seus.

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Quanto ao prestígio, são dele prova quer os diplomas de mérito conquistados e

já anteriormente enumerados, quer a frequência com que era chamado a representar a

Universidade no país e no estrangeiro, quer ainda a assiduidade com que era

convidado como principal elemento das mais variadas manifestações académicas, e

não só.

Quanto às descrições feitas por antigos estudantes, em livros de memórias ou

em relatos em orgãos de imprensa, onde ressalta de imediato o seu envolvimento

afectivo com o Orfeon e a maneira como este o promoveu cultural e esteticamente

(ainda que não pertencendo realmente às suas hostes), são também inúmeras as

provas, e todas elas consensualmente abonatórias57.

Por último, será o reportório o mais transparente juiz do mérito artístico do

Orfeon e do papel que, através daquele, este poderá ter tido. Cabe por isso ao

reportório o privilégio duma atenção preferencial, que demonstre ou não a militância

cultural da sua estruturação.

Nesta linha de acção, não pode deixar de se referir, ter sido o Orfeon o primeiro

grupo a executar em Portugal, logo no ano da sua criação, música do contemporâneo

Wagner. E a música deste compositor jamais deixou de fazer parte do reportório

durante vários dos anos seguintes.

Significativo também foi o facto de o Orfeon ter sempre tentado dar a conhecer

reportório musical internacional, mesmo numa altura em que o gosto pela música coral

não era ainda em Portugal um dado adquirido.

Com o evoluir dos anos, a participação de obras compostas ou harmonizadas

pelo própria mão do regente aumentou, e neste campo foi com Raposo Marques que a

situação atingiu a sua maior dimensão.

Na selecção do reportório, notam-se ainda duas tendências determinantes:

uma, até Raposo Marques, que pretende dar a conhecer obras de grande impacto

57- A este nível, podem ser entendidos vários tipos de relato: o romanceado - servindo como exemplo o deixado por Trindade Coelho ou Fernando Correia; o descritivo - o caso de Almeida Santos ou P. Manuel Pardinhas; o analítico - Falcão Machado ou Celso Cruzeiro; o humorístico - Diamantino Calixto ou Afonso de Sousa.

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coral -coros de óperas- com principal preferência por compositores românticos; outra,

a partir de Joel Canhão, em que se dá maior importância à música renascentista -com

realce para os compositores portugueses- durante a qual se esbate a opção pela

ópera em favor de obras de maior recato estilístico.

Actualmente observa-se uma tendência para um reportório ecléctico, ora de

intenção histórica, ora de sentido pedagógico. Em simultâneo, há a preocupação de

se abordarem obras de maior envergadura do que as que a prática tradicional anterior

aconselhava, tentando levar os orfeonistas a um contacto mais intenso e mais

participativo com a música. São exemplos desta tendência obras como o Glória de

Vivaldi, A Missa Brevis K.259 de Mozart ou a Missa Beatae Virgine Mariae de Filipe

de Magalhães.

O facto de no Orfeon, ao longo do tempo, se ter sempre dado abertura à prática

paralela de actividades musicais complementares à coral, e em si mesmas

enriquecedoras, como é o caso da inicial Orquestra Ligeira, do Grupo de Jazz, do

Grupo de Variedades, do Grupo de Música de Câmara, do Grupo de Música Popular e

do Grupo de Fados, permitiu-lhe organizar concertos com um leque de hipóteses, à

altura de dar o tipo de respostas que um determinado público estaria mais interessado

em escutar.

Este facto e esta estratégia teve como resultado que aos concertos dados pelo

Orfeon Académico nunca faltasse público, e nos relatos feitos é constante a indicação

de que as salas estavam completamente cheias. É que, aos concertos, convergiam

dois tipos de espectadores: os que gostavam de música coral, e por isso a iam ouvir,

e os que, não gostando dela ainda, a suportavam e digeriam à espera do que queriam

ouvir a seguir: o humor revisteiro das Variedades, complementarizado pelo eterno

ponto final dos concertos académicos, a Serenata de Coimbra.

De tudo o que acima fica exposto poder-se-á agora partir para uma melhor

compreensão da actual actividade musical do organismo. Esta pretende ser uma

dádiva musical, sempre renovada, no âmbito de toda uma evolução histórica da

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produção musical, tendo particularmente em vista os valores formativos capazes de

congregar e fortalecer os laços que devem enformar o espírito da família orfeónica,

mantendo-o vivo.

Mas não só a população universitária beneficiou ou beneficia da actividade

musical do Orfeon Académico de Coimbra. A própria cidade muito deve ao

organismo, pelo trabalho cultural, que tem vindo a desenvolver. Coimbra não tem,

ainda hoje, uma resposta de projecção musical profissional patrocinada pelas

entidades oficiais responsáveis - Governo e Autarquia - e tudo, ou quase, o que se fez

no passado e se continua a fazer no presente tem passado pela criatividade e acção

dos organismos académicos, e entre estes do Orfeon.

Assim, e exclusivamente circunscrito agora à actualidade, poder-se-á concluir

que ao Orfeon continua a caber uma quota parte importante no papel de divulgador da

música coral, e que é através dele, quer em saraus académicos, quer em concertos

públicos assiduamente dados, quer ainda em organizações de ciclos de espectáculos,

que a cidade tem acesso à audição de obras corais de vários estílos e épocas58.

Acção Educativa

O objectivo de carácter educativo em matéria de música, que o Orfeon tem

vindo a ter sempre em vista ao longo dos tempos, sugeriu a ideia de se apurar, através

de inquéritos, qual a acção que, neste contexto, o Orfeon exerceu também no futuro

comportamento cultural dos antigos orfeonistas. E neste sentido foram enviadas, a

58- Há que fazer aqui referência a outros grupos de música coral , embora muito mais recentes que o Orfeon, que têm contribuído com igual dedicação para a prossecução deste objectivo, como seja o Coro Misto da Universidade de Coimbra e o extinto Coral de Letras da Universidade de Coimbra. Fora da Universidade, mas solidários com a divulgação da Música Coral, é de referir ainda o Choral Poliphonico de Coimbra, o Coro D. Pedro de Cristo e o Coro dos Professores de Coimbra.

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alguns deles, folhas de perguntas que obtiveram respostas mais ou menos

coincidentes.

Verificou-se assim que há todo um conjunto de factores que, então, como hoje,

contribuiu e contribui para a prossecução do objectivo educativo acima referido. São

eles: o aprender a cantar e o cantar, a convivência com vários tipos de música, o

discernir das suas diferentes correntes e estilos, a identificação com um protocolo

artístico de concerto, o contacto com outras cidades e países e, por sobre tudo isto - e

não com menor relevância- a auto disciplina e a consolidação do valor da fraternidade

social. Enfim, todo um conjunto de vectores que contribuem para uma melhor formação

do homem em sociedade.

Para além da sua actuação prática na convivência do coro, o Orfeon tem vindo

a oferecer, aos seus membros, cursos intensivos de técnica vocal e de dicção, que

não poderão deixar de ser proveitosos na sua futura vida profissional.

Por outro lado, o contacto com os diferentes tipos de linguagem musical

constitui um forte contributo para o alargamento da cultura artística de cada um.

Ao "mexerem" na música por dentro e ao executarem-na em conjunto, os

orfeonistas estão na sua maior parte, e ao cabo de poucos anos de permanência nas

fileiras, à altura de destrinçar épocas e estilos e, consequentemente, de adquirir um

gosto musical mais requintado e mais aberto a todo o género de música, mesmo à

mais complexa. A uma preferência inicial pela simplicidade melódica e harmónica, vai

sucedendo, aos poucos, um alargamento de receptividade estética, que vai até à

aceitação do que fora radicalmente regeitado ao princípio: a música contemporânea.

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Capas de actuais orfeonistas

Um outro factor de aprendizagem é indiscutidamente a auto-disciplina. Através

da prática coral e das realizações musicais colectivas, o espírito de responsabilidade

vai-se desenvolvendo e, mais que isso, vai sendo aprendida a maneira de rentabilizar

a disciplina, coordenando os dados que para ela contribuem e conjugando, com ela, o

habitual espírito de irreverência académica. Por último, a identificação de grupo

que o espírito orfeónico traz consigo, determina uma corrente fraterna duma

durabilidade perene, que ressalta logo que se dialoga com qualquer actual ou antigo

orfeonista. A própria prática de ter ''obrigado'' o Orfeon a manter no reportório uma

obra de ligação (desde 5/3/1910 o Amen da ''Danação de Fausto'' de Berlioz e, a

partir de 1974, o ''Acordai'' de Lopes Graça), prática que possibilita às anteriores

gerações poderem cantar com as actuais, muito contribuíu pelo menos nesse caso

pontual, para a manutenção desta união fraterna. Assim, no final de qualquer concerto,

continua a ser possível chamar ao palco todos os antigos orfeonistas e cantar com

todos em conjunto.

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Desde 1984 que o Orfeon tem em reportório, de novo, o ''Amen'', que executa

em conjunto com o ''Acordai'', respondendo deste modo aos desejos tradicionalistas

das gerações antes e após o 25 de Abril de 1974.

Seja permitido centrar agora de novo a atenção nos inquéritos acima

referenciados, para se dar, em síntese, a imagem da totalidade das respostas

recebidas e que confirmam o que acima foi dito. Inquiridos pelo seguinte modelo, que

os responsabiliza na resposta, pela maneira como se encontrava nominado,

Inquérito

1. Identificação

Nome:_____________________________________Idade:_______

Profissão:_________________

Lugar profissional que ocupa:________________________________

2. Como Orfeonista

Foi orfeonista ?________Que naipe? ________ Quantos anos ? _______

Cantou só no coro ?_______ Participou noutras actividades?__________

Quais ?___________________________________________________

________________________________________________________

3. Na vida actual

O Orfeon traz-lhe ainda recordações ?_____ Quais ?________________

________________________________________________________

________________________________________________________

O Orfeon, pelo que lhe deu artística, social e culturalmente, enriqueceu-o,

ou foi em parte responsável pelo homem que é hoje ?_______________

Enriqueça a resposta, referindo em quê, como e com que consequência

________________________________________________________

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________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

4. Ocorrências

Costuma assistir a espectáculos ? _____ Qual a Preferência ? _________

________________________________________________________

Quais os programas de televisão preferidos ? ______________________

______________________ 1º ou 2º Canal ? _____________________

Usando os ordinais 1º a 6º indique a sua preferência nos seguintes

espectáculos: Cinemao Teatroo Músicao Bailadoo Desportoo

Variedadeso

5. Caracterize o Orfeon com uma só palavra, se possível de carácter

afectivo:____________

no bloco 3 ''Na vida actual'', entre um universo de setenta e cinco inquiridos, houve a

recolha de 75 respostas afirmativas à pergunta ''O Orfeon, pelo que lhe deu

artística, social e culturalmente, enriqueceu-o, ou foi em parte responsável

pelo homem que é hoje?''.

E enriquecendo a resposta, encontram-se afirmações que elucidam do valor

educativo deixado no tempo:

''No amor pela Arte Musical, satisfazendo as necessidades interiores e

anseios pela música, camaradagem, amizade, etc.''59

59- Jaime de Sousa Sarmento, médico, 61 anos.

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''No aspecto cultural, na música, no viver em grupo, no espírito de

equipa''60

''Teve grande influência no meu gosto pela música e foi a minha

experiência mais marcante da passagem por Coimbra''61

''Por duas vezes em que quase estive para abandonar o curso e os

estudos, foi no Orfeon que consegui ânimo para abandonar a ideia de

desistir''62

''Desenvolvimento cultural, educação musical, convívio, solidariedade

e até o meu casamento, já que participei no Orfeon pós 74''63

As cinco anteriores mostragens de opinião escolheram-se tão somente pela

variedade de situações profissionais e etárias que proporcionam, e são também uma

síntese do conteúdo que em todas as outras respostas se pode encontrar.

Ainda no bloco ''Ocorrências'' é de referir que, ao ser pedida a seriação das

preferências de espectáculos, com concorrentes tão ''sérios'' como o Desporto e o

Cinema, houve um conjunto de 48 elementos que posicionaram a Música em primeiro

lugar, e nenhum dos inquiridos a coloca abaixo da sua terceira preferência.

De facto, o Orfeon foi elemento interventor e modificador na vida de cada um

dos seus membros, deixando-lhe fios de conduta que os acompanham e condicionam

pelo resto dos seus dias.

Ultrapassando agora o âmbito universitário e caíndo na cidade de Coimbra,

verifica-se não ser também aqui para desprezar a acção educativa que o Orfeon nela

tem vindo a exercer.

Não só pela via musical, mas também por meio de todas as outras actividades

de desenvolvimento cultural - conferências, ciclos, concertos, festivais, cursos, acções

60- João Lemos Mexia, engenheiro, 48 anos. 61- José dos Santos Botelho, juiz de Direito, 49 anos 62- Américo Rocha e Silva, professor do ensino secundário, 58 anos. 63- João Pinheiro, médico, 32 anos.

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de formação, debates - pôde a cidade anónima ter acesso a uma forma complementar

e actualizada de cultura.

Por último, o simples facto de ainda hoje, e não obstante a quantidade brutal de

concorrentes culturais, ser reservado ao Orfeon um posicionamento de preferência

dentro dos organismos culturais da cidade, e de a sua presença ser obrigatória

aquando da organização de qualquer manifestação cultural, pelo contributo qualitativo

e beneficente que está disponível para fornecer, é prova do que a cidade dele espera,

e por outro lado o que a mesma cidade dele continua a pretender.

Não pode deixar de ser referido, também, o facto de várias vezes por ano

chegarem à direcção convites para espectáculos, quer no país quer no estrangeiro; e

se é verdade que em relação aos convites nacionais eles decorrem fruto do

conhecimento do organismo e do conhecimento da sua qualidade artística, muitas

vezes, em relação aos convites vindos de países estrangeiros, eles aparecem tão

somente motivados pelo conhecimento da existência do Orfeon, dada por orgãos

oficiais, - o que é prova do seu reconhecimento e valor - ou pelo relato pessoal de

alguns (e muitos são) que transportam, sem esquecimento, para o estrangeiro,

notícias, relatos e bocados de saudade do seu querido Orfeon.

Os Inquéritos

Apesar de o inquérito realizado não ter sido feito como acima se disse, com

qualquer objectivo de carácter estatístico, nem por isso deixa de ter interesse dar aqui,

sob a forma de quadros, a síntese dos dados recolhidos.

As respostas dadas por antigos orfeonistas e por cidadãos não diferenciados -

grupos que se procurou que estivessem dentro de uma mesma zona profissional e

etária - levaram à conclusão de que é diferente o posicionamento destes dois estratos

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sociais, como consequência de vivências diferentes e de diferentes oportunidades de

prática artística.

Entre os inquiridos, não orfeonistas, só 24 tinham pertencido, na sua juventude,

a algum clube, quase sempre desportivo, e só 8 colaboram na actualidade com clubes

ou associações.

Sim Não0

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40

50

60

70

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Assiste regularmente a espectáculos?

Antigos Orfeonistas

Outros cidadãos

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Antigos Orfeonistas

Outros cidadãos

Preferências

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Tel

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Antigos Orfeonistas

Outros cidadãos

Televisão-Programas preferidos

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40Antigos Orfeonistas

Outros cidadãos

Primeira preferência em espectáculos

Os resultados aconselham a poder adiantar que, de facto, o ter pertencido ao

Orfeon Académico de Coimbra deixou um resíduo cultural e educativo que predispôs à

aceitação e convivência, mais ou menos assídua, com a arte e muito particularmente

com a música.

Por isso se nota uma resposta globalmente afirmativa à assistência a

espectáculos, caso que não se passa com o outro universo inquirido, bem assim como

uma preferência nítida pelos concertos musicais, tendo como segunda alternativa o

desporto; no caso dos não orfeonistas já a primeira opção é o desporto e a segunda o

cinema.

Nota-se, também, por parte dos antigos orfeonistas, uma maior predisposição

para os programas televisivos de carácter cultural e em termos gerais sente-se a

tendência para o facto de serem espectadores do pequeno ecrãn menos habituais.

Por último e decorrente do gráfico ''Primeira preferência em espectáculos'' a

música lidera indiscutidamente o gosto, coisa que não acontece já com os ''outros

cidadãos''.

Da comparação genérica dos dois grupos inquiridos, conclui-se que neles

estão criados hábitos, práticas e gostos diferenciados. Muitos factores poderão

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contribuir para tal constatação. Contudo, o verificar-se que pelo menos um dado - ser

orfeonistas - pesa num dos grupos e no outro não, pode e deve alertar os

observadores para uma leitura de causa e efeito que responsabilize, pela positiva, o

papel educativo e valor formativo que coube ao Orfeon Académico de Coimbra.

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Conclusões

Ao delinear este trabalho, teve-se particularmente em conta dar uma visão

sistemática das linhas de evolução seguidas pelo Orfeon, ligando épocas e criando a

continuidade histórica que ao organismo não tinha ainda sido dada.

Daqui ressaltou, por certo, o valor do Orfeon como instituição académica, a nível

citadido, e até mesmo à escala nacional, valor reforçado ainda pela acção que tem

vindo a exercer no país e também no estrangeiro, como elemento representativo da

universidade a que pertence. Hoje, e como consequência de 111 anos de actividade

musical, social e cultural, o Orfeon colhe o prestígio que lhe advem de um longo

posicionamento artístico e académico, e é um dos principais interlocutores culturais da

Universidade de Coimbra.

Outro aspecto que necessita ainda de ser estudado, consiste em se saber até

que ponto as modificações operadas após o 25 de Abril de 1974, transformando o

Orfeon Académico em mais um coro misto da Academia, terão sido benéficas para o

seu prestígio e reconhecimento, ou terão sido e continuam a ser um entrave para a

identidade que a sua constituição, inicialmente apenas masculina, lhe imprimiu desde

a fundação. E é lícito perguntar-se se a transformação operada, muito para além de

trair a própria designação histórica de orfeon, não terá diminuido o campo de manobra

e de aceitação do organismo, sempre possível de contestação por parte dos

tradicionalistas, e diluindo-o na massa vasta dos coros mistos que o país já possui.

Ao Orfeon cabem, neste momento, 94 anos de história como coro masculino e

17 como coro misto. Numa altura e numa Universidade em que a população feminina é

superior em número à masculina, e com tendências para assim continuar, poderá este

factor ser determinante para apreciação, no encontro entre as duas diferentes

correntes e consequentes tomadas de posição, já que é favorável ao actual estado de

coisas.

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Outro fenómeno que tem vindo a interferir na vida orfeónica e a tem vindo

também a modificar subrepticiamente é a modificação das cargas curriculares,

alterando a duração dos cursos universitários, muitos deles reduzidos a 4 anos. Por

outro lado, o espírito de competitividade imposto ao sistema, fazendo das

classificações a porta de saída para o mercado de trabalho, faz sentir também o seu

peso. Como consequência destas duas situações a vida associativa tem-se vindo a

modificar, e a rentabilização do tempo é hoje um factor que não pode escapar a

qualquer estudante, impedindo-o, tantas vezes, de dar o seu contributo a actividades

que, embora desejadas, brigam parcelarmente com o aproveitamento escolar.

O Orfeon sente, obviamente, a força deste enquadramento no actual sistema e

a disponibilidade de dádiva dos seus membros tem vindo a diminuir, chegando-se

mesmo ao ponto de, para lugares directivos - postos antigamente pretendidos e

dignificantes, para além de promotores, - ser difícil encontrar pessoas disponíveis. As

Direcções têm vindo a ser preenchidas, quase sempre, por lista única e, em última

instância, já em Outubro, quando os estatutos prevêm as eleições em Junho. Tal

situação cria condições de descontinuidade que impossibilitam, por vezes, a

elaboração de projectos sérios e inconsequencializam linhas de rumo a médio e longo

prazo.

Positiva é, contudo, a mudança que se tem vindo a fazer sentir na qualidade

musical possível de se atingir. Talvez fruto de uma educação musical mais esclarecida

nas escolas do Ciclo Preparatório, ou de um maior interesse e procura de formação

musical para os mais novos, vão chegando à Universidade jovens cada vez mais

disponíveis para a música e capazes de concretizar projectos musicais mais

arrojados.

Prova do real valor educativo do Orfeon Académico de Coimbra e do peso do

seu prestígio a nível histórico, tradicional e estudantil é, sem margem para dúvidas, a

existência do Coro dos Antigos Orfeonistas do Orfeon Académico de Coimbra. Se o

Orfeon não tivesse sido, e não fosse, nunca este grupo teria tido espaço de existência.

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O Coro dos Antigos Orfeonistas é hoje ponto de encontro das mais díspares

gerações orfeónicas, com oscilações de idade que vão dos vinte e poucos anos até

aos oitenta e muitos, e onde os seus elementos, conscientes do que o ''Pai Orfeon''

lhes deu de positivo para a sua formação e vida, ali vão refrescar saudades e matar a

sede que um dia a dia competitivo e profissionalmente delapidador causou.

A concluir, aqui ficam algumas das palavras que mais repetidamente foram

referidas, precisamente por estes antigos orfeonistas, quando, inquiridos sobre a

imagem que deste organismo lhes ficara, a expressaram através de uma só palavra,

sempre do domínio afectivo: SAUDADE, AMIZADE, FRATERNIDADE, FAMÍLIA,

AMOR.

O Coro dos Antigos Orfeonistas, regido pelo Dr. Francisco Faria.

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