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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CCL – Centro de Comunicação e Letras As cartomantes em diálogo Patrícia Baltazar Maciel São Paulo 2010

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CCL – Centro de Comunicação e Letras

As cartomantes em diálogo

Patrícia Baltazar Maciel

São Paulo 2010

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Patrícia Baltazar Maciel

As cartomantes em diálogo

Trabalho de Graduação Interdisciplinar apresentado ao Centro de Comunicação e Letras, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção da Licenciatura Plena Português-Francês.

Orientadora: Profª. Ms. Fernanda Mazza Garcia

São Paulo 2010

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PATRICIA BALTAZAR MACIEL

AS CARTOMANTES EM DIÁLOGO

Trabalho de Graduação

Interdisciplinar apresentado ao Centro de Comunicação e Letras, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção da Licenciatura Plena Português-Francês.

Aprovada em

BANCA EXAMINADORA

Profª Ms. Fernanda Mazza Garcia – Orientadora Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Wagner Martins Madeira

Universidade Presbiteriana Mackenzie

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Aos meus pais, pelo amor e apoio incondicionais.

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Agradecimentos

Esse trabalho teve tantas ajudas –diretas e indiretas – que fica até um pouco

complicado de agradecer.

Por uma questão lógica, agradeço, primeiramente, aos meus pais, que

sempre estão vivendo – intensamente - todos os momentos de minha vida. Ajudam–

me em todos os mínimos detalhes, seja emocionalmente, seja

financeiramente,enfim, em TUDO. E, de forma especial, agradeço minha

orientadora, Fernanda Mazza, pela paciência incondicional, dedicação, apoio e

amizade desde o esboço do projeto até a finalização do trabalho.

Agradeço, de maneira geral, à família, que por mais clichê que soe, é minha

base, estrutura.

Agradeço duas grandes amigas, que apoiaram nos momentos mais

complicados desse trabalho, que me levantaram todas as vezes que achei que fosse

realmente cair: Pamella e Raiza (apenas parar frisar, tal ordem é puramente

alfabética). Pamella, com seu modo delicioso de levar a vida, diminuiu, muitas

vezes, a carga dos meus problemas, seja com palavras ou seja apenas me fazendo

rir. Quanto à Raiza, ela me ajudou também no quesito emocional, mas,

principalmente, colocou o cérebro para pensar junto comigo.

E agradeço também aos meus amigos da dança, por me distraírem, levarem -

me para dançar e, assim, desestressar-me um pouco.

Todos vocês são cruciais em minha vida.

OBRIGADA!

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Resumo O objetivo deste trabalho é apresentar a importância do conceito dialógico bahktiniano no ensino de Literatura. Por meio de um exemplo prático, com pontos de ligação e convergência entre as cartomantes - uma, protagonista do conto machadiano, outra, personagem de A Hora da Estrela - é mostrada a relevância de um ensino nesses moldes, levando em consideração grandes teóricos – como Fiorin, Cereja e Massaud Moisés - e os Parâmetros Curriculares Nacionais.(2002) Palavras chave: Dialogismo, Ensino, Literatura, Cartomante, Machado de Assis, Hora da Estrela, Clarice Lispector, PCN.

Abstract This aim work is to present the importance of the Baktin Dialogism concept in the Literatture Teach. Therebery a practical exemple, with connections between the Cartomantes (in one hand, it is presented a host of the Machadiano conto, in another hand, the “A hora da Estrela” character) is showed the relevance of a new ways of teaching, taking into consideration huge theoricals - as Fiorin, Cereja e Maussaud Moisés - and the PCNs (2002). Key words: Dialogism, Teaching, Litterature, Cartomante, Machado de Assis, Hora da Estrela, Clarice Lispector, PCN.

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Sumário

1. Introdução................................................................................................8

2. O dialogismo e o ensino de literatura.....................................................11

3. A dissimulação em A Cartomante, de Machado de Assis......................19

4. Estudo da personagem Carlota de A Hora da Estrela............................27

5. Diálogo entre cartomantes......................................................................33

6. Conclusão...............................................................................................37

7. Bibliografia..............................................................................................40

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Introdução

Este trabalho visa a apresentar um exercício metodológico de estudos

literários centrado no princípio dialógico bakhtiniano. Tal exercício visa a fornecer

trilhas para estudos dialógicos mais amplos realizados em sala de aula com alunos

do ensino médio.

Para isso, escolhemos como corpus de análise duas grandes obras da

Literatura Brasileira: A Cartomante, de Machado de Assis, e A hora da estrela, de

Clarice Lispector.

Importa ressaltar, no entanto, que dessas obras estudaremos,

especificamente, o diálogo existente entre as personagens denominadas

“Cartomante”, uma presente no conto A cartomante, de Machado de Assis, e a outra

no livro A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, a fim de apresentar uma proposta

dialógica do estudo de literatura.

Desse modo, nosso foco não será o dialogismo existente entre as

personagens, mas, sobretudo, os benefícios que uma análise comparativa desse

tipo pode trazer para as aulas de Literatura do ensino médio.

Como aponta Fiorin (1999), tal proposta nasceu da interminável discussão a

respeito de qual seria a melhor maneira de se ensinar literatura. Há uma linha que

defende a sincronia e outra, a diacronia, o que significa abordar a literatura por

recortes, blocos temáticos que se assemelham, sem comprometimento cronológico,

ou uma forma historicista, a qual segue a sequência cronológica. A linha defendida

pelo dialogismo é justamente a diacronia.

Em outros termos, novamente citando Fiorin (1999), a primeira linha sugere

que o curso seja organizado em Unidades Temáticas e que, dessa forma, abra

possibilidades de leituras, ao apresentar diferentes autores e gêneros relevantes ao

tema. Entretanto, este tipo de ensinamento sincrônico, falha por não permitir que o

aluno tenha um conhecimento mais amplo a respeito do autor, do movimento

literário e da época em que o texto foi produzido, comprometendo a profundidade

com que o texto é abordado.

No estudo diacrônico, o qual se baseia na cronologia das obras, por sua vez,

apesar de ser menos fragmentado, pode trazer problemas aos alunos, já que se

deve considerar o distanciamento histórico e da linguagem dos textos, o que

desperta no jovem de hoje desinteresse na leitura.

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A solução para este impasse seria unir o estudo diacrônico ao sincrônico, por

meio do estudo dialógico, já amplamente citado nos Parâmetros Curriculares

Nacionais (2000), documento elaborado pelos grandes nomes da Educação de

nosso país.

Ao analisar duas versões dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino

Médio (PCN e PCN+), Cereja afirma que ambos os documentos estimulam a

abordagem intertextual e dialógica da literatura, supondo movimentos de leitura que

aproximam textos de uma mesma época ou de épocas diferentes (CEREJA, 2005,

p.125)

Conforme podemos notar, por meio do trecho acima exposto, o dialogismo é a

melhor proposta metodológica de ensino da Literatura, já que é capaz de unir a linha

sincrônica à diacrônica e diminuir o impasse que cada uma delas, se adotada de

forma isolada, traria.

Isso porque ao adotar uma metodologia dialógica de literatura, podemos

estudar as obras de acordo com uma linha cronológica, mas também relacionar o

texto com obras de outras épocas, simultaneamente.

Desse modo, para que o trabalho cumpra seu objetivo, será organizado em

quatro capítulos.

No primeiro capítulo, apresentaremos o referencial dialógico bakhtiniano,

enquanto alicerce pedagógico para o estudo da Literatura, em sala de aula, no

ensino médio. Para isso, usaremos as trilhas já fornecidas pelas obras Dialogismo,

polifonia e intertextualidade, organizado por Fiorin e Diana Luz de Barros, Introdução

ao pensamento de Bakhtin, de Fiorin, Ensino de Literatura: uma proposta dialógica

para o trabalho com literatura, de Cereja, e os Parâmetros Curriculares Nacionais do

Ensino Médio (PCN e PCN+), além de autores renomados no campo da Literatura,

como Bosi e Cândido.

No segundo capítulo, analisaremos a personagem cartomante do conto de

igual nome (A Cartomante, de Machado de Assis). Usaremos obras de grandes

referências da literatura, como, por exemplo, Maria Augusta da Fonseca, em sua

análise sobre o conto, no livro Crônicas da antiga corte (2008), e Massaud Moisés,

com História da Literatura Brasileira (1983) e a A criação literária (1979), além do

grande teórico Cândido com Presença da Literatura Brasileira (2008). Tal capítulo

será divido em quatro subcapítulos. São eles: contextualização da obra, na qual

serão expostos o movimento realista e seu protagonista, Machado de Assis, enredo

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de A Cartomante, os elementos da narrativa e, por fim, o estudo da personagem que

intitula o conto.

Já ,no terceiro capítulo, analisaremos a personagem cartomante presente em

A Hora da Estrela, de Clarice Lispector. Usaremos, também, grandes referenciais da

literatura: Nádia Batella Gotlib, com seu Macabéa e as mil pontas de uma estrela e

Márcia Lígia Guidin e seu Roteiro de leitura:A hora da Estrela de Clarice Lispector. O

capítulo será divido em 4 subcapitulos, tais como: contextualização e histórica da

obra, enredo, elementos da narrativa e, por fim, o estudo da cartomante

lispectoriana.

O quarto capítulo abrigará a relação dialógica existente entre as personagens

analisadas nos capítulos anteriores, por meio de um levantamento de semelhanças

e diferenças, respaldado no referencial dialógico exposto no primeiro capítulo.

Por fim, apresentaremos a conclusão, seguida da bibliografia e anexos.

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O Dialogismo e o ensino de Literatura

Tendo em vista que o presente trabalho pretende apresentar um modelo de

exercício dialógico, importa, neste capítulo, expor, grosso modo, o referencial

dialógico bakhtiniano, enquanto alicerce pedagógico para o estudo da Literatura em

sala de aula, no ensino médio. Para isso, usaremos as trilhas já fornecidas pelas

obras Dialogismo, polifonia e intertextualidade (1999), organizado por Fiorin e Diana

Luz de Barros, Introdução ao pensamento de Bakhtin (2006), de Fiorin, Ensino de

Literatura: uma proposta dialógica para o trabalho com literatura (2005), de Cereja, e

os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCN e PCN+, 2002).

1. O Ensino

Ler sempre foi considerado elemento essencial na formação dos seres

humanos, uma maneira de se encontrar com a vida. Isso porque a leitura nos

proporciona experiências diversas, sem ao menos sairmos do mesmo espaço.

Acreditando nessa filosofia, é que se faz necessário um despertar do leitor

adormecido em cada estudante. É importante colocá-lo frente a frente com

linguagens diversas, como uma maneira de impulsioná-lo a ser sujeito crítico. Um

sujeito que é capaz de emitir opinião, fazer comparações. E, nesse aspecto, é que

se acredita que a escola deve ser um local de formação de leitores. Leitores esses

que sejam competentes tanto na interpretação de um texto, como na interpretação

da vida.

A compreensão do texto pode ser entendido como uma compreensão da vida

na medida que podemos analisar atitudes, costumes, hábitos passados como uma

forma de compreender o presente. A sociedade pode ser considerada cíclica,

elementos do presente podem estar nítidos em textos do passado também.

Levando esses fatores em consideração, é de suma importância que os

estudantes adquiram a habilidade de leitura, que conheçam a norma padrão da

língua, adquiram capacidades expressivas e artísticas e possam compreender a

cultura brasileira.

Testes feitos com alunos brasileiros, apontados por William R. Cereja em seu

livro Ensino de Literatura (2005) , constataram que há um grande problema de

interpretação de textos e talvez esse problema gere o grande desinteresse por

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leitura. Não há como gostar de ler se você não compreende o que esta lendo. E,

mais do que isso, talvez os alunos não tenham habilidade de interpretação graças a

certas práticas de ensino, que vêm sendo passadas de geração para geração.

Práticas em que o texto não é o objeto central de toda a análise, serve muito mais

como exemplo de toda a teoria apresentada. Ao invés de o estudo ser a partir do

texto, o professor apenas ensina toda a teoria, todas as características de

determinado período literário, por exemplo, e apenas apresenta o texto como “prova”

de tudo que ele falou.

Uma das explicações para tais práticas de ensino está na preocupação com o

exame vestibular. Existem muitos alunos no Ensino Médio, porém, há vagas

insuficientes nas grandes universidades. Dessa forma, não há uma preocupação

com a formação dos alunos, com seu desenvolvimento. Aproveitando o exemplo dos

cursinhos, escolas passam a maior quantidade de conteúdo possível, transmitindo

de forma mecânica, visando apenas à memorização.

O professor é o grande referencial do estudante. Muito do que ele apresentar

como bom, o aluno aceitará sem grandes questionamentos. Dessa forma, é

importante que tal profissional se preocupe com as formas de abordar o

conhecimento, o que transmitir, como transmitir. Caso contrário, poderá criar

pessoas avessas à leitura, a certos conteúdos, de forma irreversível.

Se o conteúdo for apresentado de maneira a despertar o interesse do

estudante, de forma dinâmica, poderá até ser transmitido para a comunidade. O

aluno leu um livro na escola, interessou-se, vai querer compartilhá-lo com a família.

E, dessa forma, cria-se a comunidade leitora. Pais, tios, amigos começarão a ler os

livros indicados pela escola. Afinal, tal entidade tem o respeito dessas pessoas, tem

confiança na qualidade do que ela apresenta.

No mundo atual, não há como transmitir conteúdos visando apenas à

memorização e com interpretações prontas, cristalizadas. Práticas como essas estão

fadadas ao fracasso. Os alunos desejam um relacionamento entre o objeto de

estudo e o mundo contemporâneo, desejam um estudo significativo, que relacione

obras que estão lendo com sua atualidade. A educação humanista, voltada para a

formação integral, diferente da educação apenas voltada para a preparação

profissional (apenas entrar na faculdade para logo entrar no mercado de trabalho) é

o que se almeja atualmente, pois

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(...) o profissional dos novos tempos deve ser qualificado não apenas quanto aos requisitos técnicos, mas também quanto à capacidade de se adaptar a novos contextos sociais e profissionais, de interagir e se comunicar com outras pessoas...(CEREJA, 2005, p. 111).

Como citado acima, o que se leva em consideração no contexto profissional

atual é a capacidade de interação do profissional, de adaptação a contextos

diferentes. O empregador visa a alguém que saiba se comunicar, que não faça seu

trabalho apenas mecanicamente. É importante que o profissional saiba relacionar

situações, contextos, áreas do conhecimento.

Dessa forma, é essencial que o texto literário, como objeto central do ensino

de literatura, seja relacionado com conhecimentos de áreas afins. A abordagem

deve trazer conhecimento e discuti-lo. O tema apresentado deve ser sempre objeto

de reflexão e sempre manter o objetivo, que é desenvolver a habilidade de leitura.

2. O Dialogismo

A importância dessa abordagem, que envolva diferentes áreas do

conhecimento, que integre passado com presente, desenvolvendo a habilidade

leitora do aluno e lhe despertando o interesse, está totalmente voltava para a

perspectiva dialógica de ensino.

Tal perspectiva se apoia no conceito transmitido por Mihkail Bahktin, o

Dialogismo.

Mikhail Mikhailovitch Bakhtin, pai do Dialogismo, nasceu dia 19 de novembro

de 1895, em uma família aristocrática empobrecida. Aos 9 anos de idade, mudou-se

com a família para Vilna, capital da Lituânia, cidade em que se conviviam muitas

línguas, diferentes grupos étnicos, diversas classes sociais, pluralidade marcante em

sua obra.

Bakhtin teve uma vida absolutamente comum, nunca teve apego a cargos e

posições, nunca teve interesse pela fama e pelo prestígio. Teve, no entanto, uma

intensa atividade de reflexão e escrita, que fez dele um dos grandes pensadores do

séculos XX.

Foi ele quem deu nome ao fenômeno Dialogismo, que pode ser

compreendido como um processo de interação, diálogo entre textos que ocorre tanto

na escrita como na leitura.

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Segundo sua teoria, os textos não podem ser analisados isoladamente, mas

devem ser relacionados com outros discursos similares/próximos. Esse conceito

está visivelmente presente nos PCNs, pois

A comunicação não é um fenômeno de mão única; supõe

um esquema reversível e interacional entre os interlocutores. Assim, a significação se funda na interlocução, ou nas trocas sociais que possibilitam aos falantes a produção de enunciados, de acordo com intenções específicas, em determinados contextos. (PCNEM,2002, p. 44)

Tal trecho afirma a importância, ou seja, a relevância de um ensino

dialógico, reitera que o sentido de um texto (unidade de significação, tanto verbal,

quanto não verbal) e a significação de cada um de seus componentes dependem

da relação entre sujeitos.

Tendo tal conceito como base, o PCN (2002) afirma que a linguagem não

seria um simples veículo de informações e mensagens e sim a capacidade

humana de articular significados coletivos e compartilhá-los.

Cada texto1, por sua vez, dialoga com outros. Por isso, o

conceito também se relaciona com o de intertextualidade, indispensável para a compreensão do diálogo que alimenta a dinâmica da cultura em todos os campos do saber – especialmente no que diz respeito às noções de tradição e ruptura. (PCNEM,2002, p. 44)

A partir da compreensão de intertextualidade2, teoria de Julia Kristeva,

apontada em seu livro Introdução à Semanálise (1969): Todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto

é a absorção e transformação de um outro texto. Em lugar da noção de intersubjetividade, instala-se a de intertextualidade, e a linguagem poética lê-se pelo menos como dupla. (p. 68).

Tendo tal teoria como base, é, por meio deste eterno diálogo entre unidades

comunicativas, que nos formamos como cidadãos. Cidadãos no sentido de estarmos

em consonância com a nossa sociedade e com as ligações nela presentes.

1 Texto verbal é aquele que transmite a mensagem por meio da palavra, seja essa, veiculada por meio oral ou escrito. No presente caso, é o escrito que interessa a essa monografia. 2 Termo utilizado para apontar o diálogo existente entre textos verbais escritos.

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E o que seria ser um cidadão, se não estar adequado à sociedade, a todas as

suas ligações? Ser cidadão significa mais do que exercer seus direitos e seus

deveres e sim saber fazer relações com tudo que lhe constitui. Em uma visão

tradicional de ensino, desejava-se transmitir conhecimentos disciplinares

padronizados, ao passo que, atualmente, almeja se promover competências gerais,

que articulem conhecimentos, independentemente de se esses são escolares ou de

vida.

Ratifica-se, assim, a importância de trabalhar de forma dialógica o ensino e de

o professor utilizar-se do dialogismo para trabalhar interpretação textual e

características de um dado movimento literário. Confirma-se a necessidade de se

estudar a relação do autor com seu tempo, pois o ser humano não é um ser isolado,

é sim um ser de natureza social.

Isso porque o Dialogismo se opõe àquela posição que representava o ser

humano como um simples objeto, completamente privado de individualidade e

qualidades pessoais e visa, grosso modo, a contrair a imagem do homem no

processo de interação, cujo olhar é reconhecido por meio do olhar do outro, na

imagem que meu semelhante faz dele. Isso signfica que

A consciência adquire forma e existência nos signos criados

por um grupo organizado no curso de relações sociais. Os signos são o alimento da consciência individual, a matéria de seu desenvolvimento e refletem sua lógica e suas leis. A lógica da consciência é a lógica da comunicação ideológica, da interação semiótica de um grupo social. (BAKHTIN, 2005,p. 36)

Segundo o princípio dialógico, exposto neste recorte, não há textos (verbais

ou não verbais) que não se relacionem com outros textos, mesmo que esta relação

seja feita de maneira quase imperceptível, pois

(...) há o dialogismo não-intencional representado pelas

inúmeras vozes que habitam o indivíduo, constituindo a fala interna e condicionando um incessante diálogo, pois, para Bakhtin, os elementos históricos, sociais e lingüísticos atuam de forma decisiva no cerne da personalidade do individuo e se manifestam de forma dialógica em seus discursos. (FIORIN & BARROS, 1999, pg. 24 e 25)

Como próprio Fiorin (1999) explica no decorrer de sua obra, pode-se

compreender, dessa forma, que o ouvinte/leitor, ao receber e compreender a

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significação linguística de um texto, toma, concomitantemente, uma atitude de

resposta em relação a ele: aceitando ou discordando. Toda compreensão implica

resposta, interpretação.

Todo texto é composto, assim, por várias vozes e está nitidamente

relacionado ao momento sociocultural em que foi escrito. Não há a possibilidade,

desse modo, de se compreender um enunciado sequer sem levar em consideração

o tempo em que o autor o escreveu conforme se pode verificar na seguinte citação

de SANT´ANNA (2004): “(...)’a verdade’, se é que existe tal coisa, não tem

localização certa. Surge sim, das forças em relação a um determinado sistema. Ela

não preexiste. Surge na prática.” (p. 72)

É importante, portanto, ter o olhar inacabado sobre a realidade. Todos os

elementos da sociedade só possuem um sentido completo quando todo o contorno é

levado em consideração. Um mesmo elemento pode receber distintos significados

dependendo do contexto, da entonação, do momento histórico-social. Um exemplo

bem claro disso é o que ocorre na literatura. Uma mesma palavra pode adquirir

significados completamente distintos dependendo do contexto e do gênero literário

que está inserida.

Para Bakhtin, segundo FIORIN & BARROS (1999), “a tentativa de religar o

sentido e a vida passa necessariamente pela fala que, dialogicamente, incorpora e

representa os discursos de outros”.(p.23) O que significa que falamos baseados em

nossas experiências, vivências, que, inevitavelmente, envolvem outros indivíduos.

Nenhum ser humano é uma ilha, somos seres sociais. Além do fato de que nosso

discurso também adquire significado a partir do outro, afinal, falamos para nosso

interlocutor (nem que esse seja imaginário). Por isso, podemos dizer que não há

uma total liberdade do discurso. Não há como formamos um cidadão crítico sem que

este conceito mínimo seja transmitido.

Com a comparação entre os textos literários, o aluno pode perceber o diálogo

que ocorre entre os enunciados, as vozes que se entrecruzam, enfim, a

intertextualidade, que reproduz o sentido já citado ou a que o transforma, inverte o

sentido anterior. “É preciso um repertório ou memória cultural e literária para

decodificar os textos superpostos” (SANT´ANNA, p. 26), o que significa dizer que é

importante formar leitores, para que eles possam chegar perto de compreender o

significado profundo dos textos que se apresentam a eles. Só leitores competentes

podem perceber os diálogos existentes nos textos e, dessa forma, tem uma

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interpretação mais profunda. Percebe-se que é também por meio do diálogo que as

aulas de literatura devem ganhar sentido.

A língua, como um fato social, muda de acordo com as alterações

ideológicas. O sujeito da enunciação é deslocado do centro e é mero resultado do

acumulo de vozes sociais. Não há liberdade discursiva, tudo o que expressamos

pertence à classe, à ideologia que vivemos. Selecionamos palavras tendo o meio

social como base. E ele também é a base quando recebemos as palavras dos

outros. O discurso, então, nasce de uma situação extraverbal e perde seu sentido

fora dela. Conseqüentemente, a compreensão de um enunciado é

sempre dialógica, pois implica a participação de um terceiro que acaba penetrando o enunciado na medida em que a compreensão é um momento constitutivo do enunciado”. (FIORIN, 1999, p. 25)

O trecho acima ratifica que o ato comunicativo, além de nascer da ideologia a

que pertencemos também é feito tendo esta como objetivo, pois nos expressamos

sempre pensando em nosso receptor. O que significa dizer que, ao nos

comunicarmos, levamos em consideração: nosso contexto social (ambiente que

vivemos, nossos valores, ideologia), o contexto da comunicação (momento em que

nos encontramos, situação de descontração, situação formal,...) e nosso interlocutor.

E, mais uma vez, intensifica-se a importância de um ensino de literatura que envolva

essas questões, pois a literatura também faz parte da estrutura comunicativa. Ela

refrata a realidade socioeconômica e seu conteúdo também reflete a ideologia.

3. O Ensino de Literatura e o Dialogismo.

O signo3, de natureza social, reflete a existência da língua como

fundamentada na necessidade de comunicação. Como mencionado anteriormente,

sempre falamos visando a nosso interlocutor. E, a fala, por sua vez, reflete a

ideologia na qual vivemos e também tem essa própria ideologia como seu objetivo

3 Significado + significante, que significa dizer: significado + sua materialização. Ex.: Ao falarmos a palavra “janela”, o que produzimos com nosso aparelho fonador é o significante e o que pensamos ao pronunciá-la, o que ela nos remete, é o significado. Conceito amplamente discutido por Saussure em seu livro Curso de Lingüística Geral (1988).

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final. Afinal, o significado de cada signo depende da compreensão interna, de

aproximá-lo de outros signos já conhecidos anteriormente.

Isso significa dizer que cada palavra sempre estará carregada de um

conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial. Por isso, há tantas significações

possíveis quanto contextos.

O mesmo ocorre com a literatura: para compreender o sentido exato de cada

texto, é preciso estudar seu autor, entender o período em que viveu, os valores da

época, sua educação e sua vivência. Cada fator da existência afetará em como

transmitirá e o que transmitirá em seus livros. Pode ser um autor que está de acordo

com os valores apresentador pela sociedade, sem questionamento e que não só não

os questiona, como os defende firmemente. Pode ser, por outro lado, um autor que

não acredita nos valores de sua época e luta, em seus livros, para que haja

mudanças.

Tudo isso deve estar bem claro na cabeça dos alunos, ao começarem suas

vidas de leitores críticos. Eles devem ser críticos no sentido de terem o olhar além

das simples páginas da obra, deverão esmiuçar todo o contexto e, assim, captar o

verdadeiro sentido, fazer comparações e tirar suas próprias conclusões a respeito de

uma época, de um autor, de uma obra.

Nesse aspecto, é imprescindível um ensino dialógico de literatura, uma

prática que, a partir de determinado tema, de determinado texto, oriente o aluno e o

faça desvendar tudo que a obra pode oferecer. Tal prática deve considerar as

relações – do mesmo período ou de momentos completamente distintos - seja

concordando, seja criticando ou até usando até trechos de demais obras para

afirmá-las ou negá-las e prestando sempre atenção no contexto, no momento social

do autor. Um texto escrito durante a ditadura, por exemplo, jamais poderia falar mal

do governo. Caso falasse, acarretaria consequências para o autor.) , etc.

São esses fatores, essas análises, que transformarão alunos em leitores

ativos, engajados, com poder de interpretação (do texto e da vida). A leitura deve ser

tão criativa quanto o ato de escrever. Deve-se sempre abrir o leque de relações, a

fim de enriquecer a leitura.

Entretanto, isso só será possível por meio de profissionais que não só

acreditem nessa prática, como também façam suas leituras dessa maneira.

Professores devem ser ótimos leitores, para que possam transmitir isso aos seus

estudantes.

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A dissimulação em A Cartomante, de Machado de Assis

Apesar da divisão (puramente didática) das obras machadianas em

românticas e realistas, elas são marcadas por uma unidade/continuidade, comum na

obra de qualquer escritor, pois são as mesmas forças que conduzem sua forma de

escrever e postulam o seu estilo, denominado machadiano.

Em sua primeira fase – romântica-, Machado já apresentava indícios da ideia

amadurecida no segundo momento – realista : análise do pensamento, das atitudes,

receios, manejos de todo ser humano. Em síntese, ele ocupava-se muito bem do

psicológico do homem e de todas as peripécias que este pode pregar.

Por se ocupar tão bem do aspecto psicológico, Machado tinha o poder de

transformar o dia a dia em um grande relato, “toma os acontecimentos como

pretexto para erigir uma história ou tecer considerações que, mercê do filosofismo,

tendem ao universal subjacente no efêmero cotidiano” (MOISÉS,1979, p. 98).

O conto selecionado para análise, A Cartomante, de Machado de Assis,

poderia ser considerado apenas um simples caso de adultério, pois conta a história

de um triângulo amoroso entre Camilo, Rita e Vilela, marido da última. Todavia, o

desenrolar da história nos direciona, diretamente, ao estilo machadiano mais

amadurecido e psicologicamente fundado.

Rita, vértice do triângulo, tem um caso amoroso com o amigo de longa data

de Vilela: Camilo. O romance entre eles começa com Rita consolando Camilo pela

morte de sua mãe e se estende. Camilo começa a receber cartas anônimas,

denunciando conhecimento de tal ato de adultério e, com medo, começa a ver Rita

com menos frequência. A moça, insegura sobre os sentimentos do rapaz, consulta

uma cartomante para saber o que está havendo. Tal mulher aparenta profunda

sabedoria e consegue, por meio de suas palavras, acalmar Rita. Camilo fica

lisonjeado com a insegurança de Rita e satiriza sua ida à cartomante. Entretanto,

quando recebe um bilhete do amigo Vilela, com palavras simples, apenas dizendo

que Camilo fosse à sua casa sem demora, teme que tudo tenha sido descoberto.

Seu medo faz com que ele também procure a cartomante consultada por Rita e o

efeito proporcionado pela adivinha é o mesmo que havia ocorrido com a mulher

adúltera. Com paz de espírito, Camilo decide ir realmente à casa de seu amigo,

confiante de que nada lhe acontecerá. Entretanto, ao chegar à casa, depara-se com

Rita morta e é assassinado, em seguida, por Vilela.

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Quem se depara com esse enredo, engana-se ao julgá-lo simples, pois o

conto selecionado para análise é um bom exemplo do estilo machadiano, já que

possui seguidas reflexões de um autor intruso a respeito das ações e hesitações de

suas personagens. Com base no referencial teórico apresentado por Beth Brait em A

personagem (2006): todo o universo ficcional é construído por meio dos olhos de um

narrador que finge ser imparcial, mas que registra os momentos precisos,

indispensáveis ao desenrolar da história. E as pausas do narrador também são

geradas por “flashbacks”, os quais dão materiais certeiros para novas apreciações

de nosso narrador- intruso, que acabam por desviar a atenção da ação central. O

universo e seus participantes vão, pouco a pouco, sendo formados. Suas

características são completamente relacionadas ao enredo e ao jogo que o autor

pretende instaurar. Isso significa considerar, a priori, a personagem como um

signo e, conseqüentemente, escolher um ponto de vista que constrói este objeto, integrando-o no interior da mensagem, definida como um “composto” de signos lingüísticos. (BRAIT, 2006, p.45)

Como mencionado acima, cada participante da intriga, cada personagem, faz

parte do todo e, como tal, só tem razão de existir por esse todo. Tudo o que for

relacionado a eles (os participantes) visa a apresentar uma crítica à sociedade da

época. É importante frisar que a análise de tal conto mudará de época para época.

As mudanças da sociedade e de suas ideias/pensamentos fazem mudar a

interpretação das obras literárias. Como diz Brait (2006) nesse trecho: (...) a especificidade dos textos produzidos em determinadas

épocas e que tem a ver com a mobilidade das diversas tendências que circunscrevem esse fazer artístico. Nesse sentido, uma abordagem atual da personagem de ficção não pode descartar as contribuições oferecidas pela Psicanálise, pela Sociologia, pela Semiótica...(p.47)

Dessa forma, não é a trama, a intriga, o ponto central do autor, e sim a

análise de cada participante da fábula e das complexas relações/situações

psicológicas. Ele “delicia-se” com o espetáculo humano por si só, com seus

problemas existenciais,”(...) quem o examinar pelo flanco da intriga, sai desiludido,

pois a história se resume a um trivial caso de adultério...” (MOISÉS,1983, p. 105).

Uma das principais temáticas do Realismo era esta: desnudar a sociedade

burguesa, cheia de padrões, regras, feita de casamentos de aparência e a

valorização demasiada do dinheiro. É, por meio do adultério, que pode ser

21

considerado um ato quase instintivo, que podemos visualizar a verdadeira condição

humana, a verdadeira face, que o homem tenta, incansavelmente, esconder atrás

dos padrões impostos pela sociedade.

O conto selecionado para a análise, enquanto modelo de conto realista

machadiano, expõe um triângulo amoroso e as consequências fatais do ato de

adultério, como pudemos verificar em seu enredo. O tempo da fábula é um recorte

de um período na vida de dois velhos amigos- Camilo e Vilela- e da mulher do

último, Rita. Outra personagem, igualmente presente na obra, é a cartomante, cujo

nome não é explicitado; todavia, nós a identificamos como uma cartomante, por ser

esta sua profissão. Apesar de ela aparecer, efetivamente, apenas no final, é

mencionada logo na primeira cena da história, e as consequências de suas atitudes

desenrolam o desfecho da trama, daí ser o título da obra..

Importa ressaltar que o uso do discurso direto é outro recurso empregado,

excessivamente, pelo autor. Esse tipo de narrativa - centrada no discurso direto- dá

maior credibilidade ao narrador, que passa ao leitor a sensação de ouvir a voz da

própria personagem. Além de estar no tempo presente, aproximando o leitor da

ação. Machado abusa deste método para manipular seu leitor: distorce palavras com

habilidade.

Um exemplo prático disso, em A Cartomante, é a citação da seguinte frase

shakespeariana na voz de Rita:

HAMLET observa a Horácio que há mais cousas no céu e na

terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras. (1994, p.1)

Ao modificar a citação, aparentemente fiel, o autor deixa marcas sutis nela e

ridiculariza a personagem, estereotipando-a como inculta, ao passo que se mostra

de maneira culta, de forma pedante. Seu pedantismo é confirmado na forma como

apresenta a conversa descontraída sobre crenças entre Camilo e Rita, em total

desacordo com o teor da dúvida humana presente na obra de Shakespeare citada.

22

É essa citação que dá o start4 à obra e pode ser considerada como um indício

do final trágico, mas, por outro lado, pode dar um tom de mistério ao conto. E “(...)

em oposição à passagem hamletiana, é sob a égide do riso e do diálogo que ocorre

o encontro de exceção, às escondidas. Sem compromisso com a verdade, ambos

descartam evidências de fundo para confiar na visão de superfície”.(FONSECA,

2008, p. 191)

Fonseca, nesse trecho, afirma que, citando o grande escritor, Rita poderia

passar a sensação de que o fato dela estar tranquila com as previsões da

Cartomante talvez fosse relevante, que teria embasamento, pois realmente não

temos explicações concretas para todos os fatos que ocorrem no universo.

Entretanto, este mesmo trecho, citado de forma “vulgar”, ridicularizando a

personagem, poderia ser um indício claro de que os personagens estariam apenas

se enganando, que o final trágico era evidente.

Apesar de Camilo não ter dado a devida importância ao contexto, o bilhete

mostrava indícios da verdadeira intenção de seu amigo, guardava sinais sutis de

intimação evidenciados pelo modo imperativo.

Aparentemente, “(...)pode-se crer que, desde a primeira carta enviada, Vilela

estivesse preparado para o extermínio sumário dos amantes. A maneira como

procede no epílogo autoriza supor que houvesse planejado cuidadosamente a morte

da mulher e do amigo.” (MOISÉS, 1979, p. 48)

Camilo, porém, agia de maneira irracional, ignorando as evidências

apresentadas por Vilela. Como afirma Fonseca (2008, p. 202-203), “(...) além da

rebarba romântica, a personagem [Camilo – nota minha] guardaria resquícios de um

mundo ancestral, de medos primitivos, de atitudes irracionais...”. O que significa

dizer que, ao procurar a cartomante, as personagens Camilo e Rita apresentam ares

de fraqueza. Fraqueza por se deixarem guiar pela emoção e não pela razão. E é

justamente no âmbito emotivo que a praticante de cartomancia se apoia. Qualquer

racionalidade minimamente evidenciada notaria a verdade quase que “jogada em

suas caras”, ou melhor, sequer procurariam ajuda no “sobrenatural”, os problemas

seriam resolvidos, enfrentados.

É Rita quem inicia as consultas, mostrando sua fragilidade, insegurança, ao

passo que, a princípio, poderia ser considerada superior a Camilo, pois toma a 4 Significa princípio, “largada”. Pode-se dizer que é a partir dessa citação que o leitor passa a fazer inferências sobre do que se trata tal conto.

23

iniciativa no ato da conquista e dissimula no período em que passa com ele: “Camilo

quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita, como uma serpente, foi-se

acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-

lhe o veneno na boca”.(MACHADO,1994,p. 3). Nesse aspecto, podemos comparar

tal diálogo com o da bíblia, no qual Rita é a serpente bíblica, a própria tentação.

Sua dissimulação faz Camilo ganhar ares de superioridade em outros

momentos: “Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em criança, e ainda

depois, foi supersticioso...” (1994, p. 2). Mas ele, na verdade, continuava com as

crendices intrínsecas em si, tanto que, em um apelo romântico do conto, totalmente

em desacordo com os tempos de realismo vigentes, visita a cartomante, a fim de

resgatar sua paz interior. “A cartomante devolve-lhe, com dois movimentos de

cartas, a tão desejada paz de espírito”.(MOISÉS,1979, p. 46). O narrador ironiza a

atitude de Camilo.

Em seu íntimo, o rapaz não era realmente agnóstico, como se identificava no

começo do conto por meio do diálogo com Rita a respeito do sentido da vida, já

citado anteriormente. Isso pode ser evidenciado no texto, no momento de perigo e

angústia, quando recorre a uma cartomante e essa visita segue o caminho oposto

ao do período realista: E inclinava-se para fitar a casa...Depois fez um gesto

incrédulo: era a idéia de ouvir a cartomante, que lhe passava ao longe, muito longe, com vastas asas cinzentas; desapareceu, reapareceu...(MACHADO, 1994, p.5)

Em uma era em que os mitos parecem estar completamente desvendados

pela ciência já não é mais possível aceitar os conselhos de uma adivinha.

Assim, a cartomante, ao aconselhar e retirar a insegurança do peito de Rita

na consulta, acalma –lhe, parece que sabe tudo, sem a moça pronunciar ao menos

uma palavra. E a mesma sensação ocorre com Camilo, quando consulta a mesma

cartomante ao receber um bilhete do amigo, para que vá à sua casa sem demora.

Sem precisar de grandes explicações, a cartomante diz exatamente tudo aquilo que

os namorados querem ouvir, tranquiliza-os.

Para um leitor atento apenas ao enredo, a tal praticante de cartomancia

estaria repleta de razão, pois nada haveria para os dois temerem. Entretanto, o final

– Camilo e Rita assassinados por Vilela- mostra-nos, claramente, que ela apenas lia

nos gestos e na fala dos seus clientes seus medos e anseios. Era, portanto, uma

24

aproveitadora, manipuladora. Aproveitava-se da fragilidade, aflição, medo dos

adúlteros para, dessa forma, manipular as situações. O casal, nesse momento

aflitivo, apresenta ares instintivos, quase que animais, pois: Com o adultério, regride o homem à condição de troglodita,

incapaz de sujeitar-se às normas culturais que inventou para conter o apelo à bruta animalidade, recalcada no subconsciente às custas de milênios de progresso científico, filosófico e artístico. (MOISÉS, 1983, p. 109)

A Cartomante, de forma ardilosa, fala aos amantes, aos enamorados o que

eles desejam ouvir, acalma-os e apaga, dessa maneira, o que está evidente aos

olhos de quem está “fora” da situação. Assim, ela proporciona “a visão de

superfície”, mencionada por Fonseca (2008), anteriormente. O bilhete de Vilela -

“Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora.”(1994, p.4) - deixava

transparecer o tom imperativo e nervoso em que ele se encontrava. Nervosismo

esse determinado pela repetição do termo “já”. Tudo isso foi menosprezado por Rita

e Camilo em nome da visão de superfície propiciada pela cartomante. É um bom

exemplo de como a protagonista consegue manipular as tolas personagens

enamoradas.

Manipulação essa marcada desde o ambiente físico ocupado pela cartomante

em total acordo com seu caráter, até o fato de tal personagem não ter nome, o que

revela a hostilidade da profissão, a não nomeação é uma forma de generalizar o ser

humano e, portanto, gera a banalização. O ambiente no qual a adivinha se encontra

também propicia aos que lhe visitam uma visão mística dela mesma, gerada pelo

sótão sujo, pobre e escuro: Dali subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a

primeira e mais escura. Em cima, havia uma salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para o telhado dos fundos. Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o prestígio. (MACHADO, 1994, p. 5)

A escada que levava ao local onde seria realizada a consulta era ainda mais

escura. A tal sala também era bem pouco iluminada. Sua luz vinha apenas de uma

janela que, estrategicamente, ficava atrás da cadeira que a cartomante costumava

se sentar, deixando, assim, apenas o rosto de seu cliente iluminado.

A descrição de sua casa deixa transparecer que, por conhecer o futuro,

possuir uma suposta clarividência, ela não precisa estar atenta aos acontecimentos

exteriores. Daí tudo ser fechado. Ela tem um grande conhecimento interior. As

25

características do ambiente no qual ela vive estão de acordo com o caráter da

personagem (o exterior é sujo como o interior dela). Ela é construída sob a

perspectiva univalente do narrador. Ele descreve o espaço, a fim de desenhar o

ambiente que tal personagem vive e caracteriza seu físico e psicológico em uma

postura de onisciência. A cartomante pode ser considerada uma personagem plana,

que age da mesma maneira do principio ao fim da narrativa.

Como mencionado, para chegar a ela, ao local onde suas consultas são

realizadas, é necessário subir uma escada, o que pode sugerir o elo entre céu e

terra, simbolizando um papel mediador da cartomante. A cartomante, além de

possuir mais experiência devido à idade (e por isso pode manipular com maior

facilidade as pessoas), apresenta um ar místico também por ser estrangeira. Tudo a

mistifica.

Todavia, tal adivinha não tinha nada além de uma habilidade de desvendar os

sinais, gestos externos dos desesperados que a procuravam. Usa de métodos –

como, por exemplo, ficar contra a luz (a fim de ver as feições dos clientes); olhar por

debaixo dos olhos (parecendo que não está olhando); falar com pausas (para ver se

está na pista certa) - para arrancar confissões do cliente e, assim, converte dúvidas

em certezas: A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do

lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. (MACHADO, 1994, p.5)

E, ao passar a responsabilidade de sua fala para as cartas, transfere o saber

para o sobre-humano, em uma tentativa de maior credibilidade, porque, como

adivinhou o porquê da consulta, pode ser capaz de adivinhar o futuro. Entretanto,

tudo não passou de um lance puramente psicológico.

A partir das previsões manipuladoras feitas por ela, negam-se todos os

indícios, todas as verdades amplamente apresentadas no decorrer do conto. Ela

que, sequer é nomeada, adquire ares de “deusa”, enquanto manipuladora de

fantoches. Agrada os ouvidos dos clientes, traz-lhes tranquilidade momentânea em

troca de dinheiro:

26

Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.

— A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendedo a mão por cima da mesa e apertando a da cartomante.

(...) Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da

cartomante fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis. (MACHADO,1994, p.5)

Cria um ambiente propício, que inspira confiança, utiliza-se de subterfúgios e

os lança a uma armadilha.

Por meio de suas “previsões”, transforma a preocupação das personagens

em algo sem relevância e faz com que elas tomem atitudes de cunho emocional,

sem raciocinar, sem enxergar a realidade. E, assim, desdobra o final trágico.

Camilo e Rita, quase de maneira “inocente”, descartam qualquer evidência do

que estava eminente. Com uma “fidelidade infantil”, acreditam nas palavras da

cartomante, ignoram a verdade e criam compromisso com a visão de superfície por

ela relatada.

Tal adivinha, por sua vez, com puros interesses monetários, agrada o cliente

e não percebe que assumiu, dessa forma, toda a responsabilidade da situação, e,

consequentemente, um “papel criminoso”. Afinal, suas palavras levaram Camilo a

manter seu ímpeto de ir à casa do amigo Vilela, piamente acreditando que o bilhete

lhe enviado seria banal, apenas uma maneira de reaproximá-los e não o prelúdio do

fim, não só do adultério, como de sua vida e de Rita.

A adivinha é, por fim, uma grande “atriz”, que tem como “palco” sua casa, e

seu cenário é completamente construído para sua profissão, seu “ganha pão”, que

causa, indiretamente, a infelicidade do casal adúltero.

27

Estudo da personagem Carlota de A Hora da Estrela.

A obra lispectoriana é caracterizada pela profunda exaltação do monólogo

interior, como um relato denso da existência, a fim de retirar o eu das ilusões

cotidianas, relevando novo sentido à realidade. Tal intimismo também se faz

presente no romance analisado, cujo relato gira em torno da miséria vivida por uma

nordestina de 19 anos.

Macabéa é órfã e foi criada por uma tia que não se importava muito com ela.

É construída, pelo narrador, em um processo de desconstrução, o que significa dizer

que sua história é contada a partir de toda negatividade de sua vida.

Nota-se em toda a extensão do livro, que a personagem não obtém êxito em

nenhum aspecto de sua existência e seu único momento de esperança, propiciado

pelas “profecias” de uma cartomante, é seguido por sua morte. Macabéa morre

atropelada por um carro importado que, por ironia, tem como símbolo uma estrela.

Este símbolo é uma metonímia desses momentos finais da moça, pois apenas em

sua morte, as pessoas a notam, deitada no chão. Apenas na morte ela adquire ares

de mulher, ares femininos e sensuais.

O narrador já inicia a história de modo a compará-la com algo doloroso, já que

deve ser contada, que seja então logo, enfrentando o momento tão doloroso. Já que

não há outra maneira, “o jeito é começar de repente assim, como eu me lanço de

repente em água gélida do mar, modo de enfrentar com uma coragem suicida o

intenso frio.” (LISPECTOR, 1978, p.30)

A medida que nos conta a história de Macabéa, o narrador descobre a si

mesmo: “Desculpai-me mas vou continuar a falar de mim que sou meu

desconhecido, e ao escrever me surpreendo um pouco pois descobri que tenho um

destino.” (LISPECTOR,1978, p. 20)

Essa dúvida sobre si mesmo, sobre a vida e a literatura permeiam toda a obra

e, segundo o narrador, é a justificativa pela pobreza proposital da narrativa5.

Pobreza estilística essa que é espelho da miséria de Macabéa. Miséria esta

que o narrador divide a culpa com o leitor, divide o fardo de presenciar a miséria de

Macabéa sem esboçar reação: “também sei das coisas por estar vivendo. Quem vive 5 O que significa dizer que a narrativa, o enredo em si, é pobre, o que enriquece é sua linguagem, sua abordagem psicológica: “Como a nordestina é personagem que ‘não sabe enfeitar a narrativa’, o estilo será condizente com sua precariedade existencial: a história de Macabéa não cintilará.” (GUIDIN, 1996, p.68-69)

28

sabe, mesmo sem saber que sabe. Assim é que os senhores sabem mais do que

imaginam e estão fingindo de sonsos”. (1978, p. 16-17)

Há uma afirmação categórica em torno de Macabéa, ela era incompetente

para a vida, “ (...) há os que têm. E há os que não tem. É muito simples. Não tinha o

que? É apenas isso: não tinha.” (1978, p.32 )

A vida de Macabéa gira em torno das negações: NÃO6 tem o amor, NÃO tem

emprego, NÃO tem articulação, NÃO tem vocação para a vida:

Há, portanto, em A Hora da Estrela, uma norma que define por

oposição o que é não ter e não ser. Nem bonita, nem culta, nem inteligente, nem independente financeiramente, nem ligada amorosamente a um homem que a conduzisse e amparasse, Macabéa percorre o romance acumulando camadas narrativas dessa negação. (GUIDIN, 1996, p. 51)

Macabéa é, portanto, apresentada, definida pelas suas não-qualidades por

assim dizer. Adverso ao que estamos acostumados a ver em outras narrativas, cujos

personagens têm suas características existentes marcadas.

Uma dessas apresentações dessas suas não-qualidades está em seu namoro

com Olímpico. Macabéa o conhece quando resolve mentir para seu chefe e falta no

trabalho. Olímpico de Jesus é homem ambicioso e com sobrenome típico de quem

não tem pai. O namoro é natimorto, nasce sem perspectivas de progresso – assim

como toda a vida de Macabéa. Apesar das realidades parecidas, ambos são

nordestinos deslocados na cidade. Ele acha que sabe tudo e ela não acha nada; ele

tem ambição, quer livrar-se dessa vida por meio de ascensão social (não importa o

recurso que será preciso para isso), ela já acredita que não precisa ‘vencer na vida’.

Dessa forma, Olímpico fica com Macabéa até perceber em Glória, colega de

trabalho de Macabéa, uma chance muito maior de ascensão social. E, assim,

Macabéa se vê novamente sozinha, leva um outro NÃO da vida, mas resigna-se

facilmente. Macabéa é questionada por Glória, que lhe pergunta se a primeira

pensava no futuro e ela não responde. Apesar de não articular uma resposta, fica

diferente, decide até ir ao médico, que a avisa, friamente, que tem tuberculose. Ela

não entende e, com a indicação e o dinheiro emprestado de Glória, toma a segunda

6 Em caixa alta, grifo meu, para evidenciar que seu processo de construção é feito por meio dos seus aspectos negativos.

29

atitude relativa à essa sua mudança: vai a uma cartomante. A cartomante é a grande

“mão” dessa narrativa, aquela que modifica a situação ao seu redor.

Madama Carlota, que já havia sido cafetina e prostituta e é, eventualmente,

procurada pela polícia, recebe-a com um carinho desconhecido por ela. É a paródia

da mãe que a moça desconhecera. Vive na periferia, típico de videntes e místicos, e,

assim como eles, possui boa articulação e dom da oratória. Tudo na casa da

madama a encanta, estava ansiosa por essa visita:

Enquanto isso olhava com admiração e respeito a sala onde

estava. Lá tudo era luxo. Matéria plástica amarela nas poltronas e sofás. E até as flores de plástico. Plástico era o máximo. Estava boquiaberta. (1978, p.87)

Sente que somente assim teria um futuro. A cartomante lhe tira do vazio,

insere a no que se acredita ser a felicidade:

Mistura de santa e prostituta, Carlota é a entidade mística

responsável por levantar o véu da verdadeira condição social e existencial de Macabéa e por prometer-lhe, por meio de vaticínios, o prato substancial dos desejos femininos: beleza, saúde, amor e dinheiro. (GUIDIN, 1996, p. 60)

E de fato Carlota diz que vê nas cartas grandes possibilidades para o futuro,

apesar de seu passado triste e presente ruim. Entre essas possibilidades estaria o

casamento com um estrangeiro bonito e rico:

(...) ele é alourado e tem olhos azuis ou verdes ou castanhos ou pretos. E se não fosse porque você gosta do seu ex-namorado, esse gringo ia namorar você. Não! Não! Agora eu estou vendo uma coisa (...) esse estrangeiro parece se chamar Hans, e é ele quem vai casar com você. (LISPECTOR, 1978, p.92)

A descrição feita é completamente generalista, graças à imprecisão da cor

dos olhos, além da suposta praticante de cartomancia falar exatamente o que

Macabéa quer ouvir. Tudo o que ela precisava era receber um tratamento digno,

sentir-se importante para alguém. Se a cartomante foi capaz de lhe proporcionar

isso, não há como não se alegrar.

Dessa maneira, nossa jovem alagoana sai de sua consulta transtornada e

espantada. Toma consciência de quão ruim era a sua vida e isso faz aumentar sua

30

ansiedade para que esse tal gringo surgisse, que assim tudo ficaria melhor. Acredita

que renascera, que sua vida havia começado a partir daquele momento.

No entanto, ao sair da cartomante, quando finalmente acha que terá um

destino a partir de então, é ironicamente atropelada por um carro de luxo,

importando, um Mercedez-benz. Macabéa luta para viver, ganha sensualidade

feminina.

Sensualidade esta que lhe foi privada no decorrer da história. Ela é

apresentada sempre como alguém desprovida de mecanismos de integração social,

armas de sedução e relações amorosas:

Assoava o nariz na barra da combinação. Não tinha aquela

coisa delicada que se chama encanto. (...)

pintava de vermelho grosseiramente escarlate as unhas das mãos. Mas como as roia quase até o sabugo, o vermelho berrante era logo desgastado e via-se o sujo preto por baixo... (LISPECTOR,1978, p. 34 - 44)

Quando tentava, de forma rudimentar, ser feminina, novamente recebia um

não da vida, tornando mais irônico esse momento de sensualidade na hora de sua

morte. Só quando se dá conta de quão era miserável sua vida, só quando tem essa

epifania, consegue ser mulher. “É também seu momento de brilho e glória, pois pela

primeira vez é notada pelas pessoas que dela se aproximam, quando atinge a

plenitude daquilo que sempre quis ser, uma estrela de cinema. Neste momento,

Macabéa morre.” (GOTLIB, 2001, p. 286)

Macabéa consegue as tão almejadas feminilidade e “fama” juntamente com o

lampejo de vida proporcionado pela cartomante, que é seguido de sua morte.

Pode-se afirmar novamente que madama Carlota age na vida de Macabéa de

forma bem ativa. É por meio de suas palavras que alagoana adquire esperança na

vida. Ela modifica seu modo de pensar ao sair de lá, o que causa, inevitavelmente,

uma mudança de postura e, possivelmente, de atitude: “Se ela não era mais ela

mesma, isso significava uma perda que valia por um ganho. Assim como havia

sentença de morte, a cartomante lhe decretara sentença de vida.” (LISPECTOR,

1978, p. 95). A adivinha, como uma mãe idealizada (aquela que Macabéa

desconhece), por meio de suas palavras eleva a autoestima da jovem alagoana. Ela,

que nunca havia acreditado que teria um destino, demonstra sua preocupação com

31

o futuro (nem que seja o inventado pela cartomante) até quando esta prestes a

morrer.

E mesmo tendo vivido apenas seus momentos finais, após fatídica consulta,

adquire feminilidade. Feminilidade também propiciada por Carlota, que além de

instaurar a esperança, mantinha em sua residência, e em suas roupas,

características extremamente femininas, como, por exemplo, a presença de flores de

plástico em sua casa (símbolo da feminilidade eternizados pelo plástico) e sua

maquiagem pesada, típica das praticantes de cartomancia e também símbolo de

feminilidade, “(...) madama Carlota era enxudiosa, pintava a boquinha rechonchuda

com vermelho vivo e punha nas faces duas rodelas de ruge brilhoso.” (1798, p.87)

Além do fato dela ter sido prostituta, o que, apesar de discriminado e desvalorizado

pela sociedade, é uma “profissão” de cunho feminino e que envolve pura

sensualidade.

A adivinha desvia a atenção do aspecto monetário, com a desculpa de que o

dinheiro era apenas para sobrevivência porque, segundo ela, o que realmente a

motiva é a caridade feita aos outros. Como estereótipo das praticantes de

cartomancia, possui um profundo conhecimento psicológico e dom comunicativo,

fala apenas o que seus clientes desejam ouvir, como uma forma de agradá-los. O ar

de mãe torna Macabéa especial, pessoa única, sendo que sua existência sempre foi

marcada pelo anonimato. A jovem alagoana sempre foi vista apenas como um

número, alguém se passado e que também não terá futuro. Ela apenas vive, como

os animais, sem saber que vive, sem saber do seu papel no mundo. A vivência,

nesse aspecto, é maquinal!

Pode-se dizer que a cartomante é mãe também no sentido que dá a luz à

alagoana, tira-lhe das trevas do desconhecimento. Ela ignorava sua triste condição

antes da consulta, não tinha capacidade para introspecção. No momento de

epifania7, também se percebe como substituível e, como uma forma de modificar tal

condição, anseia por futuro. O suposto “sim” (em relação ao futuro, em relação à

vida) entregue, como presente, pela Cartomante à Macabéa, é apenas um disfarce.

É a “maquiagem” da suposta eficiência de tal adivinha, que se utiliza dos

subterfúgios provenientes do seu dom de linguagem e de seu conhecimento sobre a 7 Momento em que Macabéa finalmente percebe o quão miserável é sua vida. Ao sair da Cartomante, Maca vê que ela não passa de uma pessoa totalmente substituível e, graças à esperança proporcionada pela adivinha, resolve pensar no futuro. Futuro que seria bem melhor do que sua atual vida.

32

rotina da moça, algo facilmente percebido pela sua fala (no caso, falta de fala,

ausência de léxico comunicativo), como uma maneira de conseguir dinheiro por suas

consultas e mostrar credibilidade:

Madama acertou tudo sobre seu passado, até lhe disse que

ela mal conhecera pai e mãe e que fora criada por uma parente muito madrasta má.

(...) Madama acrescentou:

- Quanto ao presente, queridinha, está horrível também. Você vai perder o emprego e já perdeu o namorado, coitada de vocezinha. Se não puder, não me pague a consulta, sou uma madama de recursos.

Macabéa, pouco habituada a receber graça, recusou a dádiva mas com o coração todo grato. (1978, p.91)

Entretanto, ao contar vantagens e aparentar nível elevado em comparação

com Macabéa, a cartomante transparece sua miséria. Miséria de quem já foi

prostituta e teve doenças, além das violências sofridas. Seus relatos e sua “leitura

das cartas” são misturados com sua experiência de vida. E sua experiência de vida

é revertida em esperança, em mudança para a alagoana.

Em síntese, os ares de feminilidade, a preocupação com o futuro e a

esperança de vida são todos decorrentes do dom comunicativo de tal mulher, que

utiliza seu dom, também artístico (atriz), como uma maneira de agradar sua cliente e

“fazer jus” ao dinheiro pago pela consulta.

Há, apesar do motivo distorcido e em desacordo com moldes cristãos de

solidariedade, citados por madama Carlota ao referir-se sobre o que faz, certa

positividade no resultado de sua consulta. A mudança provocada em Macabéa pode

ser vista como positiva.

33

Diálogo entre cartomantes

Neste capítulo, apresentar-se-á, por fim, como se dá a relação dialógica

existente entre a cartomante machadiana e a lispectoriana, por meio de

levantamento das semelhanças e diferenças existentes entre tais personagens.

O diálogo

O conto machadiano, A Cartomante, e o romance8 lispectoriano, A hora da

estrela, são construídos por meio dos olhos de um narrador que finge ser imparcial,

mas que registra os momentos precisos, indispensáveis ao desenrolar da história.

O narrador lispectoriano, apesar de se apresentar e se mostrar

emocionalmente envolvido com a fábula a ser contada, mantém seu nível de

imparcialidade à medida que se mostra onisciente.

A narrativa lispectoriana, como não poderia ser diferente, apresenta um

profundo grau de intimismo, uma profunda exaltação do monólogo interior e, assim

como o conto machadiano, é apresentada no tempo presente, o que aproxima o

leitor da obra, já que lhe dá a sensação de vivenciar o enredo no momento da

leitura.

O discurso direto é outra estratégia de aproximação utilizada por Machado e

Lispector. Tal estratégia transmite ao leitor a sensação de ouvir a personagem ao

seu lado.

Em relação às personagens, a cartomante, no conto machadiano, apesar de

não ser nomeada e não existir referência ao que ela fazia antes de praticar

cartomancia – apenas é apresentada como estrangeira, para aumentar seu ar

místico – é a protagonista. Toda a trama e seu desfecho giram em torno dela. Sua

casa é descrita como um ambiente hostil: sótão sujo, pobre e escuro. Há uma

escada que sugere um ar místico, um suposto elo entre o céu e a terra,

simbolizando um papel mediador de tal mulher.

Já madama Carlota, do romance lispectoriano, é apresentada como uma ex-

cafetina/prostituta e, apesar de também influenciar no aspecto psicológico das

personagens, não é a protagonista.No romance citado, a protagonista é a Macabéa.

8 Grifo meu, para identificar a diferença de gêneros.

34

Sua casa, apesar estar localizada na periferia, possui ares extremamente femininos,

incluindo flores de plástico (símbolo feminino eternizado).

Ambas as cartomantes modificam, de alguma maneira, o transcorrer da vida

das demais personagens. Utilizam-se de sua perfeita articulação, seu dom

comunicativo e acolhedor, para acalmar os ânimos dos clientes, instauram-lhes

esperança e o fazem com tanta maestria que soa extremamente confiável a seus

ouvintes.

Por meio de seus conhecimentos sobre o psicológico humano, as

cartomantes, atentas aos gestos, expressões e até ao modo de se vestir dos seus

clientes, fazem suas “profecias” e realizam, por meio da fala, todos os sonhos dos

que as procuram. Quem vai a uma consulta, sai renovado, cheio de esperanças e, a

partir disso, muda suas atitudes e, consequentemente, o rumo dos acontecimentos

em sua vida.

No caso do conto machadiano, os indícios do contorno afirmavam quase que,

categoricamente, o que estaria para ocorrer entre os amantes; todavia, pelo dom

comunicativo e psicológico da Cartomante, negam-se todos os indícios da verdade.

Diferentemente de Carlota, que “abre os olhos” de Maca para a realidade,

mostrando toda a negatividade de sua vida e lhe proporcionando epifania, o

compromisso criado no conto machadiano foi com a visão de superfície. A

cartomante esconde a realidade, ilude as personagens com suas palavras e, dessa

forma, desdobra-se o final trágico. Tal adivinha manipula a situação como “dona” da

situação, “brinca de deusa”. Ela cria métodos que propiciem a visão mística, como,

por exemplo, sua nacionalidade, iluminação de sua casa e seu profundo

conhecimento do comportamento, do psicológico humano.

Com o objetivo de “extorquir” o dinheiro de quem lhe visita, agrada os ouvidos

de seus clientes e passa a assumir a responsabilidade da situação. Não assume

uma responsabilidade direta, como em um crime doloso (com intenção negativa),

mas indireta, pois foram suas palavras que levaram Camilo a manter a decisão de ir

à casa do amigo, sem acreditar que nada ruim fosse lhe acontecer.

É no âmbito emotivo que a praticante de cartomancia se apoia, no qual

qualquer racionalidade é minada, afinal, em uma atitude racional, ninguém

procuraria ajuda no sobrenatural, para resolver seus problemas. O âmbito emotivo

somente reafirma a crítica machadiana perante os aspectos não relacionados ao

intelecto. Machado valorizava, e muito, o psicológico e, como tal, transforma sua

35

adivinha em uma grande atriz, que conhece muito bem o comportamento e os

anseios humanos. Tal conhecimento é transformado em manipulação.

Em relação ao conhecimento do psicológico e o poder de modificar o

pensamento e, consequentemente, a atitude de seus clientes, ambas as

cartomantes têm atitudes e resultado parecidos. Ambas agradam aos clientes, por

meio do dom comunicativo, como uma maneira de conseguir dinheiro. Esse é seu

meio de “ganhar a vida” e o que as difere, nesse sentido, é o resultado de suas

falas.

É por meio das palavras de madama Carlota que Macabéa adquire esperança

na vida e, assim, modifica seu modo de pensar. A cartomante, para a alagoana,

aparece como uma mãe idealizada (desconhecida, até então, por ela), que eleva

sua autoestima e lhe dá, aparentemente, um destino, propicia-lhe futuro. E é

também, por meio do exemplo de tal adivinha, que utiliza maquiagem pesada (típico

das praticantes de cartomancia) e mantém em sua casa flores de plástico (símbolo

de feminilidade eternizado), que, no momento da morte da protagonista, esta

adquire esperança e assume ares de feminilidade, sensualidade. Elementos esses

desconhecidos por ela até então.

Assim como a adivinha machadiana, Carlota também desvia a atenção para o

aspecto monetário. No caso da cartomante lispectoriana, há o argumento de que

sua profissão é voltada para o campo da solidariedade e que o dinheiro é apenas

para ela sobreviver. Já a machadiana deixa o pagamento ao critério da consciência

de seu cliente. Após ouvir “boas doses” daquilo que queria ouvir e, assim, ter paz de

espírito, o cliente deve escolher de quanto será o pagamento. A consulta, nesses

moldes, sai cara. Não há dinheiro que pague uma paz de espírito. O aspecto

“solidário” de Carlota é percebido na maneira como Macabéa se sente. Ela sai da

consulta renovada, e, apesar de ter uma epifania da miséria de sua existência,

acredita que haverá futuro e que será muito bom. O futuro traria grandes

possibilidades, o que a transformaria em alguém. Ela não seria apenas mais um

número na sociedade, alguém completamente substituível. Sua vivência, a partir de

então, teria uma razão de ser, não viveria apenas por viver, como costumam fazer

os animais irracionais.

Existe, apesar das razões monetárias, certo aspecto positivo no resultado de

sua consulta. A mudança interna em Macabéa traria bons frutos. A principio, a ilusão

do futuro mostrado pela adivinha, traria consequências negativas, mas a epifania

36

provocada far-lhe-ia mudar de atitude perante sua vida, sua forma de agir, pois

Macabéa, com sua falta de articulação, aparenta, perante todos, grau inferior. O fato

de ser nordestina em ambiente desfavorável e não ter estudo não a diminui como

ser humano. Não há pobreza de caráter.

A cartomante machadiana acaba por desdobrar, de maneira indireta, um final

trágico para as personagens que praticavam adultério. Há um tom moralista no

discurso apresentado, afinal, Camilo não foi leal ao seu grande amigo e Rita

desonrou a instituição do casamento (amplamente valorizado na época, mesmo que

fossem apenas as aparências). O resultado das consultas, pode-se dizer, foi

negativo, diferente do apresentado em Hora da Estrela.

Na obra de Lispector, Macabéa morre atropelada por uma Mercedez, mas,

mesmo no momento de sua morte, pensa no futuro. Pronuncia “Quanto ao futuro.”

(LISPECTOR, 1978, p.102) e reafirma a mudança de postura proporcionada pela

madama. A mudança positiva de Maca pode ser verificada em sua visão otimista

pós-cartomante. Ela passa a acreditar na vida, no futuro. E a morte lhe era

aguardada como uma resposta da sua existência em um processo de

desconstrução. Isso significa dizer que sua morte não foi um mero resultado da

consulta.

Macabéa, como já foi afirmado, é definida por suas não qualidades, logo, o

processo de construção dá-se por meio dos aspectos negativos, por isso se diz

processo de desconstrução. O fato de ser construída dessa maneira nos leva a crer,

desde o princípio, que seu final estaria pré-determinado. Ela, supostamente,

morreria sem ter realizado grandes feitos.

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Conclusão

É possível notar que tudo na vida possui relação com algum outro aspecto. O

mundo é interligado. O ser humano é, por excelência, um ser social, que somente se

define a partir de sua convivência com os demais, de sua relação com os elementos

existentes do mundo.

Tendo esse conceito em vista e sua influência, inclusive nas obras de

diferentes autores (sejam obras literárias ou qualquer outra forma de expressão),

Bakhtin elabora a teoria dialógica, cujo objeto central de estudo seria justamente

essas interligações entre os elementos existentes no mundo. O Dialogismo

subdivide os tipos de relação (verbal, não verbal e suas faces) e analisa de que

forma essa relação se dá: seja com conteúdos que confirmem a informação de uma

obra em outra, seja por relação de oposição de ideias entre obras.

Por serem extremamente importantes, essas relações devem ser estudadas

durante o período de formação do estudante. Os Parâmetros Curriculares Nacionais

(2002) recomendam que o Ensino deve ser dialógico. O aluno deve ser capaz de

estabelecer relações entre conteúdos como uma forma de prepará-lo para a vida. O

estudante deve ser preparado para utilizar, de maneira eficiente, a comunicação, o

que, implica interação. Produzimos enunciados de acordo com nossas intenções e

com nosso interlocutor. Nossas escolhas não são inocentes, estão sempre

relacionadas à nossa intenção comunicativa.

Nossa consciência, inclusive, é formada a partir do outro, pois, como afirma

Bahktin, os signos comunicativos são o alimento da consciência individual e refletem

sua lógica que, por sua vez, é fruto da comunicação ideológica, já que os signos são

convencionais, logo, sociais.

Como uma maneira de mostrar um exemplo de leitura fundamentado na teoria

baktiniana e comprovar a suma importância do Ensino Dialógico, apresentou-se aqui

um estudo inter-relacional de duas grandes obras da Literatura Brasileira. Por meio

de tal estudo comparativo, que teve como foco a personagem cartomante de cada

uma das obras selecionadas para a análise, pôde-se notar os pontos de similitude e

convergência existentes entre elas.

O conto machadiano, enquanto modelo de sua fase realista, relata o triângulo

amoroso vivido por Camilo, Rita e Vilela. Rita, mulher de Vilela, é o vértice do

triângulo, tem um caso com Camilo, amigo de infância de seu marido. Os adúlteros

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vão levando o caso amoroso mesmo com a ameaça de serem descobertos por

Vilela. A insegurança do casal era sanada a cada consulta à cartomante, mulher

estrangeira, mais velha, que tinha profundo conhecimento do psicológico humano. A

adivinha apenas falava o óbvio, percebia as aflições dos clientes e lhes agradava

com palavras. Essas dão ares de confiança aos amantes, tranquiliza-os e, assim,

eles tomam atitudes de cunho emocional. Atitudes essas que desdobram o final

trágico, o assassinato dos adúlteros por Vilela. A cartomante, de forma indireta, é

“responsável” pelo que ocorre em decorrência do impulso dos amantes. No caso,

por manter a decisão de ir à casa do amigo (mesmo com o evidente tom imperativo

e nervoso do bilhete de Vilela), Camilo vê sua amante morta e também é

assassinado por Vilela.

Já em A Hora da Estrela, a protagonista, Macabéa, é apresentada, definida

por suas não qualidades. Maca, como afirma Guidin (1996), acumula camadas

narrativas dessa negação. O narrador afirma que a alagoana não tinha habilidade

para a vida. A protagonista apenas sobrevive, sem filosofias existenciais. Entretanto,

adquire consciência de sua miséria quando consulta uma cartomante. A adivinha

apresenta-lhe um futuro promissor, trata-a de uma maneira que ela desconhecera

até então e instaura-lhe esperança. A jovem passa a pensar no futuro. Seu

atropelamento, logo após a consulta, é resultado de todo um processo de

desconstrução de suas camadas negativas, e não das palavras da cartomante. Tais

palavras apenas propiciaram à Macabéa a oportunidade de perceber o quão

miserável sua vida tinha sido, até então, e acreditar em um futuro melhor.

É possível notar que ambas cartomantes exercem grande influência na vida

das demais personagens. A cartomante machadiana, por meio de suas palavras,

tranquiliza os amantes e mantém a decisão totalmente emocional de Camilo de ir à

casa do amigo desdobrando, assim, o final trágico. As evidências de que Vilela sabia

do caso amoroso e que tomaria providências eram claras para quem usasse o

racional, mas, ao valorizar a visão de superfície proporcionada pela cartomante, as

consequências são fatais. A adivinha assume, indiretamente, um “papel criminoso”.

Pode-se dizer que a influência é negativa, ao passo que, a influência da cartomante

lispectoriana é positiva. Macabéa, graças à “profecia” de madama Carlota, percebe o

quão miserável é sua vida e, assim, adquire esperança no futuro. Acredita que

daquele momento (consulta) em diante seria feliz, teria destino. Sua morte, logo

após a consulta, não é resultado disso, estava marcada desde a definição da

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personagem pelos seus aspectos negativos, pela sua não habilidade em viver. Se

Maca não era competente para a vida, não deveria viver. A cartomante lhe

proporciona consciência, epifania em relação à vida. A jovem, que apenas existia,

sem refletir, passa a ter esperança, acreditar no futuro.

As adivinhas, por meio de seu poder comunicativo, dom da oratória, mudam a

maneira de pensar das personagens e, consequentemente, suas atitudes. A

diferença entre elas está no efeito positivo ou negativo de suas falas.

Há, claramente, um diálogo entre elas, fundamentado não só na profissão

exercida por ambas, mas também no grande conhecimento do psicológico humano

que possuem e do uso que fazem desse conhecimento. As duas mulheres utilizam

seus métodos de persuasão e seu dom comunicativo para falar aos clientes palavras

de seu agrado e assim conseguir com que eles – satisfeitos com as palavras

ouvidas – lhes dessem uma bela quantia monetária pela consulta.

Tal diálogo existente é um exemplo da teoria bahktiniana apresentada no

primeiro capítulo desse trabalho e confirma a importância de se aplicar um ensino

dialógico na literatura. Os alunos devem ser capazes de perceber essas relações

entre textos (e também entre diferentes maneiras de expressão), para que tenham

maior facilidade de perceber as relações existentes na vida. Afinal, o objetivo maior

da escola é preparar, de certa forma, para a vida.

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