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    33122[2010 revista de pesquisa em arquitetura e urbanismo programa de ps-graduao do departamento de arquitetura e urbanismo eesc-usp

    Ricardo TrevisanArquiteto e urbanista, professor do Departamento de Teoria eHistria da Arquitetura e do Urbanismo (DTHAU) da Faculdadede Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de Braslia(UNB), Campus Universitrio Darcy Ribeiro, Asa Norte, Caixapostal 04431, CEP 70910-900, Braslia, DF, (61) 3307-2450,[email protected]

    stio: a cidade de Campinas, SP

    Fundada por Francisco Barreto Leme em 14 de julho

    de 1774 sob a gide das doutrinas pombalinas

    no sculo XVIII , a cidade recebeu como primeiro

    nome freguesia de Nossa Senhora da Conceio das

    Campinas do Mato Grosso, em razo da enorme

    floresta que cobria originalmente a regio, passando

    a vila de So Carlos em 1797, e, finalmente, nomeadacidade de Campinas em 1842. Popularmente

    conhecida como cidade das andorinhas (graas s

    crnicas de Rui Barbosa), sua economia teve por base

    inicial as atividades agrcolas: canavieira e cafeeira;

    sendo o caf (ouro verde) e a estrada de ferro os

    responsveis pelo seu acelerado desenvolvimento

    urbano a partir de meados do sculo XIX. No fosse

    uma epidemia de febre amarela assolar a cidade

    entre 1889 e 1890, Campinas ocuparia hoje a

    posio de capital do estado, no lugar da cidade de

    So Paulo demonstrando sua importncia naquelecontexto histrico (RAC, 2000).

    Disputas parte, o incio da vida cultura campineira,

    bero do compositor Antnio Carlos Gomes

    (1836-1896), reporta-nos ao Teatro So Carlos,

    de 1850 (Figura 2). De arquitetura neoclssica,

    o decoro desse edifcio cvico fazia-se presente

    em sua fachada simtrica, nos recuos laterais

    destinados a pequenos jardins e no coroamento da

    fachada principal com um fronto. Demolido em

    1922, foi substitudo no mesmo local pelo TeatroMunicipal Carlos Gomes (Figura 3), inaugurado em

    1930, cuja arquitetura ficava aqum do requinte

    apresentado pelos municipais do Rio de Janeiro e

    So Paulo, ambos construdos no incio do sculo

    XX. Localizado na regio central (atrs da igreja

    matriz), somava-se a outros equipamentos culturais

    (e.g.Clube Campineiro, de 1875; Pavilho Coliseu

    Taurino, de 1905; Cine Lumire no Clube Rink, de

    1906; Cine Recreio, de 1909; Cine Salo Caritas,

    de 1910; Cine Repblica, de 1926 etc.), bem

    como aos largos, praas e jardins que favoreciama interao social.

    artigos e ensaios Centro de Convivncia de Campinas:um olhar sobre a arquitetura de

    Fbio Penteado

    O

    Resumo

    Um centro para o convvio, um convvio para as multides. Assim se revela o

    Centro de Convivncia Cultural de Campinas (CCC), obra singular do arquiteto

    paulista Fbio Penteado (FP), objeto de anlise e estudo deste artigo. Situado

    na cidade de Campinas, sua histria remete-nos histria cultural dessa

    cidade, assim como histria profissional de FP. Arquiteto de ampla produo

    prtica e terica, que sintetizou no CCC conceitos imaginados e aplicados

    em outras obras. Projetado em 1968, este equipamento tornou-se um marco

    arquitetnico campineiro. Mas seria esse marco uma condicionante forte o

    bastante para garantir seu brilhantismo enquanto edifcio pblico?

    Palavras-chave:Centro de Convivncia de Campinas, Fbio Penteado, Anlise

    Arquitetnica.

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    Figura 1: Vista area doCentro de Convivncia deCampinas, localizado no bair-ro Cambu, centro da cidade.Fonte: Arquivo pessoal, fotocedida pelo jornal CorreioPopular em 1998.

    Um dos mais prestigiados era o Jardim Pblico (criado

    no sculo XIX, atual Praa Imprensa Fluminense),

    sendo o primeiro da cidade, de paisagismo pitoresco(Figura 4), que se ligava ao centro da urbe por meio

    da rua Conceio, demarcando um eixo composto

    por ele (na extremidade leste), pelo Jardim Carlos

    Gomes (de 1913), pelo Pavilho Coliseu Taurino,

    pela Matriz, pelo Teatro Municipal e pela Estao

    Ferroviria (na extremidade oeste) (Figura 5).

    Com o desenvolvimento industrial e do setor de

    servios e, conseqente, crescimento urbano na

    primeira metade do sculo XX, o engenheiro

    Francisco Prestes Maia, a pedido do governolocal, elaborou entre 1934 e 1938 o Plano de

    Melhoramentos Urbanos (com base nos estudos

    feitos pelo engenheiro Carlos William Stevenson).

    Esse plano buscava no somente solucionar

    problemas contemporneos, mas adequar a cidade

    s infraestruturas necessrias para seu crescimento

    futuro. Um dos aspectos trabalhados por Prestes foi

    o fluxo virio, propondo dois anis perimetrais (a

    Rtula e a Contra-rtula) que circundariam o centro

    histrico da cidade, alm do alargamento das ruas

    e avenidas de maior movimento, acarretando na

    demolio de inmeros prdios histricos.

    Em 1965, ainda sob a influncia do Plano de

    Melhoramentos, o prefeito Ruy Hellmeister Novaes

    (em seu segundo mandato) foi o responsvel pelademolio do Teatro Municipal Carlos Gomes para

    abertura de uma praa. Pressionado pela indignao

    pblica, especialmente pela elite, a primeira soluo

    empreitada por Novaes foi transformar um antigo

    cinema que por sua vez era um antigo galpo de

    oficina mecnica em teatro (hoje Teatro Castro

    Mendes). A segunda proposta foi elaborar um

    concurso de projeto para o novo teatro da cidade,

    o Teatro de pera, a ser construdo no Parque

    Portugal1. Sem efetivao dessa proposta e tendo

    conhecimento da premiao internacional do projetode FP (Figura 6) (classificado no concurso em 2.

    lugar), restou a Novaes pedir ao arquiteto um

    novo projeto de teatro, agora para um local mais

    centralizado, no bairro Cambu.

    O Cambu surgiu como expanso natural da rea

    central para o leste, caracterizando-se como bairro

    residencial, distinto por casares eclticos de famlias

    abastadas, localizados principalmente na avenida

    Jlio de Mesquita. Contudo, foi a partir do projeto

    urbanstico do engenheiro Jorge de Macedo Vieira2,

    de 1945, pautado por preceitos da garden-city

    1Parque Portugal ou Lagoado Taquaral foi inauguradoem 05 de novembro de 1972,na gesto do prefeito Ores-tes Qurcia como elementoespeculativo da urbanizaodessa regio da cidade.

    2 Jorge de Macedo Vieiraformou-se engenheiro civil,em 1918, pela Escola Poli-

    tcnica de So Paulo. Entre1917 e 1919 estagiou noescritrio de planejamentoda Companhia City. Estaexperincia possibilitou-o deter contato com as idias e ostrabalhos do ingls RichardBarry Parker (projetista da 1.Cidade-Jardim: Letchworth,Inglaterra) e, principalmente,de ter conhecimento sobreos princpios howardianosda Cidade-Jardim. Em suasobras, posteriores a esteperodo, nota-se a forteinfluncia que este iderioexerceu na formao de seu

    repertrio terico. Exemplos...continua na pgina 37

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    Figura 2: Fachada frontal doTeatro So Carlos, de 1850.

    Fonte: RAC, 2000.

    Figura 3: Fachada frontaldo Teatro Municipal CarlosGomes, de 1930. Fonte:RAC, 2000.

    Figura 4:Reproduo doPasseio Pblico: paisagembuclica. Fonte: RAC, 2000.

    Figura 5: Planta de Campinasem 1878. Eixo interligando:1.) Passeio Pblico; 2.) JardimCarlos Gomes; 3.) ColiseuTaurino; 4.) Matriz; 5.) Tea-tro Municipal; e 6.) EstaoFerroviria. Fonte: Arquivopessoal; mapa retirado deRAC, 2000.

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    inglesa, que este bairro confirmou seu status.

    Ao longo dos anos, o Cambu recebeu outros

    equipamentos pblicos, como: prefeitura, escolas,

    clubes etc., que somados a comrcios e servios

    dinamizaram a vida local, garantindo-lhe mais um

    aspecto de centralidade que de bairro meramente

    residencial.

    Em 1968, Ruy Novaes deu incio s obras do novo

    teatro campineiro. Sob o amparo do regime militar

    e do cenrio econmico favorvel (prembulos do

    Milagre Econmico), o CCC surgiu como proposta

    poltica para mostrar populao as benfeitorias

    do governo regente. Aplicar capital em grandes

    equipamentos pblicos era um modo de demonstrar a

    fora do governo. Foi neste cenrio que a arquitetura

    brutalista paulista se fortaleceu, sendo difundida por

    meio de obras pblicas de pequeno a grande porte,

    revelando sua materialidade e sua conciso.

    Figura 6:Projeto do Teatrode pera de Fbio Penteado(1966). Fonte: PENTEADO,1998a.

    Figura 7:Antigas quadrasutilizadas para implantaodo CCC. Fonte: RAC, 2000.

    Figura 8:Rotatria confor-mada com a implantao doCCC. Fonte: Arquivo pessoal;mapa extrado do GoogleEarth.

    O stio escolhido para implantao do CCC foi uma

    rea compreendida por duas quadras (Figura 7).

    Essas j se qualificavam como espaos pblicos:

    uma apresentava o primeiro Passeio Pblico, com

    exuberante vegetao, e na outra se situava a escola

    municipal Cesrio Mota (de 1911, demolida com a

    instalao do CCC), sendo separadas pela avenida

    Jlio de Mesquita. FP teve como partido a unio

    das duas quadras, desenhando-as como uma nica

    quadra circular com dimetro aproximado de

    150 metros (Figura 8). Quatro blocos de concreto

    aparente com dimenses variadas e formas

    trapezoidais e uma torre de iluminao foram

    alocados, assimetricamente, prximo ao centro

    da quadra, separados por escadarias irregulares.

    Recuados da lateral oeste pela presena da densa

    massa vegetal j existente, estes blocos configuraram

    uma praa central (com nvel acima ao da rua), palco

    do teatro de arena.

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    Fbio Penteado: um arquitetomoderno

    A polmica e a inteligncia aliam-se delicadeza,

    criatividade e integridade para compor a

    personalidade fascinante de Fbio Penteado. Hlio

    Mattar, 1998 . (PENTEADO, 1998a)

    Ao longo de sua carreira profissional, Fbio Moura

    Penteado (Fig.9), protagonista desse trabalho,

    foi jornalista e editor da revista Viso (1956-

    1962), do jornal Arquiteto (1972-1977) e da

    revista Projeto (1977-1992). Foi professor do

    curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade

    Presbiteriana Mackenzie (1961-1964). Foi contra

    o regime militar. Foi militante de organismos

    de representao nacional e internacional de

    arquitetura, como o Instituto de Arquitetos do

    Brasil (IAB; presidente entre 1966 e 1968) e a UnioInternacional de Arquitetos (UIA; membro atuante

    entre 1969 e 1975). Como arquiteto e urbanista

    defensor dos espaos para multides. crtico aos

    esquemas programticos prefixados. favorecedor

    da tcnica, de sua aplicao prtica, da liberdade

    e da criatividade (PENTEADO, 1998a).

    Nascido em 1929 na cidade de Campinas, interior

    de So Paulo, FP muda-se com a famlia para o

    elegante bairro de Higienpolis na capital paulista

    em 1935. Graas ao alto padro de vida (neto deengenheiro ferrovirio e filho de industrial Faber-

    Castell e Dako), ele pde desfrutar de algumas

    regalias em sua juventude como pilotar sozinho o

    avio de seu pai aos 13 anos de idade (PENTEADO,

    1998a). Inicialmente, buscou na Escola de Engenharia

    Industrial um futuro profissional. Sem sucesso, em

    1948, entrou no curso de Arquitetura e Urbanismo

    do Mackenzie3.

    Formado em 1953, aos 24 anos, FP j exercia sua

    profisso enquanto graduando. Destacam-se: a

    casa de Domingos Solha em Campinas (1948) e

    os dois edifcios residenciais em So Paulo (1951

    e 1953); alm da participao clandestina no

    concurso de projeto para hotel em So Carlos

    (1953), elaborado em parceria com o colega de

    turma Djalma de Macedo Soares (classificados em

    2. lugar). Em 1954 abre seu primeiro escritrio,

    projetando juntamente com o arquiteto Ringo

    Kubota a Estao de Tratamento de gua para aregio do ABC, na Grande So Paulo, a qual recebeu

    o prmio Governador do Estado no III Salo Paulista

    de Arte Moderna.

    A pedido de Eduardo Kneese de Mello, FP transferiu

    em 1956 seu escritrio para a sede paulista do

    IAB (onde exerce sua profisso at hoje), o que

    favoreceu um intercmbio com a velha gerao

    de arquitetos (Villanova Artigas, caro de Castro

    Mello, Rino Levi, Arnaldo Mindlin, Oswaldo Corra

    Gonalves, Miguel Forte, Lus Saia, Eduardo Kneesede Mello) e com os companheiros da nova gerao

    Figura 9:Arquiteto e Urba-nista Fbio Penteado Fonte:PENTEADO, 1998a.

    desta assimilao podem serverificados nos bairros, porele projetado, para as cidades

    de Campinas, Atibaia, Cam-pos do Jordo e So Paulo, enos planos urbanos para ascidades novas de guas deSo Pedro (1937), Maring(1945), Cidade balneria dePontal do Sul (no executado,de 1951) e Cianorte (1955).Em guas de So Pedro possvel analisar a integra-o feita por Vieira entre ourbanismo Cidade-Jardim forma e as especificidadesnecessrias a uma CidadeBalneria funo.

    3

    O curso do Mackenzie eramarcado, por um lado, pelotradicionalismo arquitetnico(academicismo) defendidopelo diretor Christiano Sto-ckler das Neves, e, por outrolado, por discusses sobre ar-quitetura moderna feitas nasaulas de desenho artstico.Nessas aulas, FP encontroucolegas Carlos Millan, Jor-ge Wilheim, Roberto Aflalo,Pedro Paulo de Mello Saraiva,Djalma de Macedo Soares,Telsforo Cristfani, PauloMendes da Rocha, AlfredoPaesani, entre outros que

    iriam futuramente compor abase da Escola Paulista.

    ...continuao nota 2

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    (Carlos Millan, Jorge Wilheim, Roberto Aflalo,

    Telsforo Cristfani, Paulo Mendes da Rocha,

    Pedro Paulo de Mello Saraiva, David Liberskind,

    Jon Maitrejean, Abrao Sanovicz, Joo Clodomiro

    de Abreu, Chico Petracco, Hlio Penteado, Jlio

    Katinsky e Joaquim Guedes).

    Fbio fez parte da gerao de arquitetos que sonhou

    projetos, reflexes e ensaios para a arquitetura

    brasileira (SCHARLACH in PENTEADO, 1998a).

    Valedor do trabalho em equipe, atuou com

    diversos profissionais4em projetos encomendados

    e em projetos para concursos nacionais e

    internacionais.

    Em suas obras com temas abordando os interesses

    da grande coletividade urbana , FP sempre se

    mostrou preocupado com a questo humana,

    buscando contemplar as necessidades reais da

    sociedade pela compreenso do indivduo. Procurou

    extrair de cada espao projetado sua potencialidade

    social e cultural. Simultaneamente, deu nfase

    a necessria integrao entre a arquitetura e a

    indstria (CAMARGO inPENTEADO, 1998a).

    Dentre seus inmeros projetos, apresentam-se

    aqui aqueles de maior relevncia para o estudo

    do CCC. Projetos que em sua integralidade ou em

    pormenores refletem os conceitos que o arquiteto

    se valeu para elaborao do complexo cultural

    campineiro, como: o Hotel Praia do Per em Cabo

    Frio (1958), o Frum de Araras (1960), o Teatro

    de Piracicaba (1960), o Monumento na Playa de

    Girn em Cuba (1962), a Cidade dos Doqueiros

    em Santos (1962), a Catedral Presbiteriana de

    Braslia (1965), o Mercado do Porto em Curitiba

    (1965), o Complexo Turstico de San Sebastin na

    Espanha (1965), o Monumento Comemorativo aos

    30 anos de Goinia (1965) e o Teatro de pera

    em Campinas (1966).

    Os projetos para o Hotel Praia do Per (com

    participao de Ringo Kubota e da paisagista Rosa

    Kliass)e para o Frum de Araras (com Jos Ribeiro)

    (Figura10) revelam um aspecto que se encontra em

    vrios de seus trabalhos. Trata-se da praa aberta,

    a praa para o povo. Em ambos os projetos, FP

    agenciou os blocos edilcios de modo a criar um

    espao de convvio, que permitisse o fluxo contnuo

    dos usurios, sem qualquer tipo de barreira, alm

    do contato direto com a natureza. Neste sentido,

    o arquiteto procurou adequar o ambiente s

    condies de seus usurios, tornando-o mais acessvel

    e humano, para que todas as camadas da sociedade

    pudessem apropriar-se do espao e nele sentir-se

    vontade (PENTEADO, 1998a).

    Figura 10:Maquete do F-rum de Araras (1960). Fonte:PENTEADO, 1998a.

    4Jos Ribeiro, Aldo Calvo,Ringo Kubota, Rosa Kliass,Luiz A. Vallandro Keating,Stipan Dragutin Milicic, Al-fredo Paesani, Teru Tamaki,Csar Sampedro, RobertoLoeb, Eduardo de Almeida,Tito Lvio Frascino, Jos Borelli

    Neto, Maria Giselda Visconti,Ubirajara Giglioli, Vasco deMello, Jos Carlos Ribeirode Almeida, Hrcules Me-rigo, Waldemar Tietz, LusAlfredo Falco Bauer, KenjiFuruyama, alm de auxliotcnico do escritrio OswaldoMoura Abreu.

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    Figura 11:Esboo do Monu-mento da Playa de Girn emCuba,1962. Fonte: PENTEA-DO, 1998a.

    No Monumento na Playa de Girn em Cuba

    (Figura11), caracterizado por Konkusai Kentiku como

    o grito de vitria de uma multido, repentinamente

    congelada no espao (in PENTEADO, 1998a),

    FP com apoio de profissionais como Aldo Calvo,

    Ubirajara Giglioli, Jos Ribeiro, Tito Lvio Frascino,

    Vasco de Mello, Jos Carlos Ribeiro de Almeida e doescritrio Oswaldo Moura Abreu fez a integrao

    entre a criatividade arquitetnica e a tecnologia

    industrial. Destinado a celebrar a vitria contra a

    invaso norte-americana baa dos Porcos, em

    Cuba, o edital do concurso organizado pela UIA

    exigia uma praa para 30 mil pessoas e um museu,

    onde seriam guardadas as armas conquistadas do

    inimigo. O partido adotado por FP e equipe consistia

    em enterrar as armas com a fundao do projeto,

    marcar a praa com um monumento, composto

    pelo entrelaamento de inmeras vigas de concreto(com at 90 metros de comprimento), e com um

    palanque. Ficou com o 2 posto, sendo classificado

    pelo jri como simples, integrado paisagem local e

    perfeitamente dentro das condies do concurso

    (PENTEADO, 1998a). Em resumo de seu memorial

    descritivo, resultam-se as clebres frases: De longe

    paisagem. De perto monumento. A praa o

    povo., oportunas para descrever o CCC.

    J nos projetos para a Cidade dos Doqueiros

    em Santos (com Jos Ribeiro, Roberto Loeb, e oescritrio Oswaldo Moura Abreu) (Figura12), para a

    Catedral Presbiteriana de Braslia (com Jos Ribeiro)

    (Figura13), para o Mercado do Porto em Curitiba

    (com Jos Ribeiro) (Figura14) e para o Monumento

    Comemorativo aos 30 anos de Goinia (com Jos

    Ribeiro) (Figura15) encontram-se outros conceitos

    recorrentes: a centralidade, a planta em leque e os

    eixos radiais. Na Cidade dos Doqueiros, um lagoartificial criado prximo ao paredo da antiga

    pedreira se torna o ponto para onde convergem

    as barras residenciais, conformando um leque

    entremeado por espaos de comrcio e servios.

    Na Catedral, de um ponto marcado no cho (altar)

    partem as radiais que organizam o espao entre

    cheios (platia) e vazios (corredores de acesso). No

    Mercado, FP resgata no passado a idia de praa como

    espao de trocas, enclausurando-a por blocos (lojas)

    implantados de modo escalonado. No Monumento,

    uma praa central o palco para as arquibancadaslindeiras, separadas por ruas de concreto que

    cortam a praa em direo cidade.

    O escalonamento presente na implantao dos

    projetos se faz presente tambm na posio vertical,

    como se observa nos projetos para o Complexo

    Turstico de San Sebastin na Espanha (com Alfredo

    Paesani, Haron Cohen, Eurico Prado Lopes e Jos

    Ribeiro) (Figura16) e na torre de 300 metros de

    altura (1991) prevista para ser construda no vale

    do Anhangaba (com Csar Sampedro, DavisonBecato e Lus Antnio Pompia).

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    Figura 12:Vista da Cidadedos Doqueiros em Santos(1962). Fonte: PENTEADO,1998a.

    Figura 13:Maquete com im-plantao da Catedral Pres-biteriana de Braslia (1965).Fonte: PENTEADO, 1998a.

    Figura 14: Implantao doMercado do Porto em Curiti-ba (1965). Fonte: PENTEADO,1998a.

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    Figura 15:Maquete do Mo-numento Comemorativo aos30 anos de Goinia (1965).Fonte: PENTEADO, 1998a.

    Figura 16: Maquete doComplexo Turstico de SanSebastin na Espanha (1965).Fonte: PENTEADO, 1998a.

    Figura 17: Croqui com a vistado Teatro-Praa de Piracicaba(1960). Fonte: PENTEADO,1998a.

    Com relao tipologia teatro, FP sempre contou

    com a parceria do cengrafo e fotgrafo Aldo

    Calvo5. Desde sempre refutou o modo acadmico

    e elitista dado a estes equipamentos pblicos. Para

    ele, os teatros deveriam conter uma viso coletivista,

    atendendo a todas as camadas da sociedade, sem

    restries de horrios. Seu primeiro projeto foi o

    Teatro de Piracicaba (com Jos Ribeiro e Aldo Calvo)

    (Figura 17) um ensaio para os prximos: pera e

    CCC cuja composio nasceu com a idia de uma

    praa que fosse praa e teatro -, culminando em

    um teatro descoberto que pudesse [...] ser desfrutado

    pela populao no apenas quando houvesse um

    espetculo programado, mas sim todas as horas do

    dia (PENTEADO, 1998a). Para a proposta do Teatro

    de pera em Campinas (com Alfredo Paesani, Teru

    Tamaki, Aldo Calvo), Fbio dividiu o programa em

    trs partes: um teatro de pera (prdio principal),

    um teatro de Comdia e um teatro ao ar livre (entre

    os dois edifcios) com o palco localizado numa ilha

    artificial dentro da lagoa. Os dois teatros seriam

    interligados por galeria subterrnea, atendendo

    aos servios requeridos para as apresentaes. Este

    projeto, realizado para um concurso, foi classificado

    em 2. lugar, porm ganhou, no mesmo ano, a

    Grande Medalha de Ouro como melhor projeto para

    teatro na I Quadrienal Mundial de Teatro, realizada

    em Praga, ento Tchecoslovquia, que contou com

    a representao de 28 pases.

    Assim, esse breve panorama sobre a vida profissional

    de FP, com um olhar direcionado sobre algumas

    de suas obras, abre caminho para uma leitura

    mais compreensvel do CCC projetado entre

    1967 e 1968 na parceria de Aldo Calvo, Jos Luiz

    Paes Nunes, Alfredo Paesani, Falco Bauer e Teru

    Tamaki, com projeto estrutural do escritrio Oswaldo

    Moura Abreu.

    5Italiano radicado no Brasil,Aldo Calvo foi um grandemestre para FP. Trabalhoutambm com arquitetoscomo Affonso Eduardo Rei-

    dy (no MAM, Rio de Janeiro),Oscar Niemeyer (no TeatroNacional, Braslia), alm dorestauro do Teatro Amazonasem Manaus.

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    Centro de Convivncia de Campinas: um olhar sobre a arquitetura de Fbio Penteado

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    CCC: um projeto singular

    O lugar da vida cotidiana livre de frmulas

    convencionais, um vasto espao social, fraterno,

    desenhado com beleza, para este sculo de multides.

    Ceclia Scharlach, 1998. (PENTEADO, 1998a)

    Como j mencionado, o motivo da construo do

    CCC foi a demolio do Teatro Municipal Carlos

    Gomes, em 1965, pelo prefeito Ruy Novaes, como

    parte das reformas urbanas contidas no Plano de

    Melhoramentos de Prestes Maia. A ausncia desse

    equipamento deixou a cidade de Campinas rf de

    espaos para apresentaes artsticas. A soluo mais

    coerente foi criar um novo teatro, primeiramente

    localizado no Parque Portugal.

    A idia de um Teatro de pera (1966) foi aceita

    pela sociedade, porm arquivada pelo poder pblico

    municipal aps a divulgao dos resultados do

    concurso. Neste mesmo perodo, o Itamaraty foi

    responsvel por enviar os trs primeiros colocados

    para uma exposio mundial de teatros no leste

    europeu, obtendo como resultado a premiao do

    projeto de FP (2. lugar no concurso campineiro).

    Assim, um projeto bom para o mundo, no seria

    bom para Campinas? (PENTEADO, 1998a). Com

    conhecimento do fato, o prefeito Novaes delegou

    a Fbio a tarefa de projetar um teatro para 500

    lugares na regio central da cidade.

    O complexo do CCC surgiu, segundo o autor

    (PENTEADO, 1998b), de uma reflexo sobre a

    temtica teatro. O que era teatro no Brasil?

    Como deveria ser? Na tradio cultural, este espao

    servia populao, principalmente de maior poder

    aquisitivo, em temporadas especficas (apresentaes

    de peas, peras, concertos etc.) Com base em

    levantamento realizado, FP identificou nos teatros

    existentes, como no Municipal de So Paulo, por

    onde passam dois milhes de pessoas todos os dias,

    um desconhecimento social de suas funes cvicas e

    culturais. Para FP isso poderia mudar. Um edifcio com

    este programa deveria possibilitar maior integrao

    entre a populao e a cultura. A importncia no

    estaria no desenho do prdio, mas sim no modo

    como ele seria utilizado por todos os cidados,

    justificando, portanto, os gastos do dinheiro pblico

    com um equipamento de tal porte. Que seja a idia

    de um teatro dessacralizado, integrado ao cotidiano

    da cidade (PENTEADO, 1998a).

    Conceituado em conjunto com Jos L. P. Nunes6, o

    CCC nasceu da necessidade de construir um espao

    de encontro [...] espao que se abre para o encontro

    das pessoas, para o contato com as coisas da cultura

    e do teatro (PENTEADO, 1998a). O partido adotado

    rompia com a idia tradicional de prdio de teatroao ser subdividido em quatro blocos com diferentes

    usos (foyer/administrao, teatro, restaurante/bar e

    sala para exposio), interligados por uma galeria

    semi-enterrada (prevista como uma calada coberta

    que permitiria aos pedestres cortar caminho e,

    concomitantemente, ter contato com a cultura)

    (Figura 18). Esses blocos, na superfcie, adquiriram

    formato de arquibancadas que se voltavam para

    um centro, a praa, iluminada por uma torre de 25

    metros de altura (Figura 19). Tudo isso detalhado

    em 600 pranchas.

    Numa apreenso mais ampla do contexto, a

    configurao urbana do entorno recebeu um estudo

    de zoneamento, prevendo o crescimento vertical

    das edificaes. Aprovado pela prefeitura, e no

    respeitado pelo setor privado, este zoneamento

    consistia em construes com at oito pavimentos

    e trreos com loggie ocupados com equipamentos

    ligados cultura (e.g.bares, bibliotecas, oficinas,

    restaurantes etc.) (Figura 20).

    Assim como os teatros da Grcia antiga, criou-se

    na parte externa do complexo um teatro de arena

    para oito mil espectadores composto por quatro

    arquibancadas conformadas pelas coberturas, em

    forma de degraus, dos edifcios previstos. Esse teatro

    foi emoldurado, no lado oeste, pela massa vegetal das

    rvores da Praa Imprensa Fluminense e, no lado leste,

    por dunas artificiais, estrategicamente posicionadas

    como elementos acsticos. Completando esse

    conjunto, todo em concreto aparente, foi alocada a

    torre, como apoio luminotcnico ao teatro de arena

    e marco visual na paisagem urbana (Figura 22).

    Por meio de acessos localizados nos blocos do

    foyer e restaurante, chega-se ao interior do CCC. A

    partir da entrada principal (foyer), h dois caminhos

    possveis pelas galerias semi-enterradas: um a direita,

    que permite o ingresso sala de teatro com 500

    lugares considerada uma das melhores salas,

    tecnicamente, do Brasil (PENTEADO, 1998b) ,

    e outro a esquerda, que leva o usurio sala de

    exposio (Figura 21). Esses caminhos se conectam

    novamente no bloco do restaurante, fechando assim

    6Jos Luiz Paes Nunes foi re-dator de msica, artes plsti-cas e de arquitetura no jornalO Estado de So Paulo e narevista Viso.

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    Figura 18: Planta interna:1.) Entradas; 2.) Galeria; 3.)Foyer; 4.) Teatro; 5.) Restau-rante; e 6.) Sala de Exposio.Fonte: Arquivo pessoal; re-

    produo a lpis.Figura 19:Planta externa:1.) Teatro de Arena e 2.)Torre de Iluminao. Fonte:Arquivo pessoal; reproduoa lpis.

    Figura 20: Corte (Teatro-Sala de Exposio). Detalhedos edifcios circunvizinhoscom gabarito delimitado etrreo livre. Fonte: PENTEA-DO, 1998a.

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    Centro de Convivncia de Campinas: um olhar sobre a arquitetura de Fbio Penteado

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    o circuito. A galeria foi um modo encontrado por FP

    para separar pessoas e veculos, dando continuidade

    quilo que antes se fazia presente (a transposio

    desse espao dada pela avenida Jlio de Mesquita),

    mas agora enriquecido com exposies artsticas

    permanentes. No nvel do mezanino espaos foram

    reservados para a administrao (bloco do foyer),para sede da Orquestra Sinfnica Municipal (bloco

    do teatro) e para um bar (bloco do restaurante).

    De imediato, a proposta de um teatro inusual no

    foi assimilada pela populao campineira, havendo

    inclusive campanhas oposicionistas executadas por

    jornais da cidade7. Contudo, esse corpo estranho

    no cenrio urbano transformou-se num marco

    arquitetnico da cidade, uma obra singular da

    arquitetura moderna paulista. Mas, seriam essas

    qualidades fruto das referncias utilizadas diretaou indiretamente pelo autor?

    Figura 21:Galeria internado CCC: Sala de Exposio.Fonte: PENTEADO, 1998a.

    Figura 22:Torre de Ilumina-o como marco na paisagemda cidade. Fonte: PENTEADO,1998a.

    DNA Arquitetnico: as refernciasprojetuais do CCC

    Na gnese do CCC identificam-se trs possveis razes

    arquitetnicas: a obra do autor, a aluso a formas

    da natureza e a influncia do movimento moderno

    (nacional e internacional) sobre seu repertrio.

    Primeiramente, o Centro de Convivncia transparece

    uma continuidade na adoo de conceitos

    empregados por FP em projetos anteriores, como: a

    monumentalidade, a tcnica, os materiais aparentes,

    a centralidade e a nfase no espao pblico. Seja

    no Hotel de Per ou no Frum de Araras, com suas

    praas abertas; no Monumento na Playa de Girn,

    com suas marcantes vigas de concreto; nos projetos

    para Cidade dos Doqueiros, Catedral Presbiteriana

    e Mercado de Curitiba, com suas centralidades

    fortemente demarcadas; no Complexo de San

    7Reportagens de poca so-bre a construo do CCC,encontradas nos jornais: Di-rio do Povo e Correio Po-pular (principais peridicosda cidade), revelam pedidospara derrubada do prdio en-

    quanto era erigido na PraaImprensa Fluminense.

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    Sebastin, com seu escalonamento vertical; ou no

    Monumento para Goinia, com suas arquibancadas

    trapezoidais. Todos eles apresentam partes intrnsecas

    ao edifcio campineiro. Porm, onde se encaixam

    os projetos de teatro?

    Uma analogia mais subjetiva, mas no menos

    importante, a comparao de seus teatros com

    formas naturais, especificamente com flores.

    nessa leitura que reunimos o Teatro de Piracicaba,

    o Teatro de pera e o CCC como obras irms. As

    flores de concreto (PENTEADO, 1998a) de FP

    so semelhantes por apresentarem os mesmos

    elementos: um receptculo distinto (o centro), que

    brota do solo com mais ou menos preponderncia,

    donde parte a corola (as lminas ou blocos perifricos)

    (Figura 23). Assim, esses teatros, antigos botes

    Figura 23:Os teatros (Pira-cicaba, pera, CCC) de FPcomo flores de concreto.Fontes: Flores - Arquivo pes-soal; Teatros - PENTEADO,1998a.

    fechados na mente do arquiteto, desabrocham

    para o espao urbano, revelando suas similaridades

    e qualidades!

    Entretanto, foi na identificao em seu repertrio,

    influenciado por mestres modernistas nacionais e

    internacionais e.g. Oswaldo A. Bratke, Affonso

    E. Reidy, Oscar Niemeyer, Villanova Artigas, Alvar

    Aalto e Vladimir Tatlin , que se decifrou o maior

    nmero de cdigos genticos. A comear pelo

    purismo das formas arquitetnicas de seu bom

    amigo Oswaldo Arthur Bratke (PENTEADO, 1998a),

    ou pela esttica da exoestrutura serial em concreto

    aparente de Affonso Eduardo Reidy, empregada nas

    obras para a Escola Brasil-Paraguai, em Assuno

    (1952), e para o Museu de Arte Moderna, no Rio

    de Janeiro (1954).

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    Centro de Convivncia de Campinas: um olhar sobre a arquitetura de Fbio Penteado

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    A referncia a Oscar Niemeyer perceptvel desde o

    gerenciamento do programa multifuncional voltado

    cultura, trabalhado pelo veterano arquiteto no

    conjunto para o Parque do Ibirapuera (1951), at

    o partido recorrente de semi-enterrar alguns de

    seus edifcios (e.g.a Oca do Ibirapuera, de 1951,e a Catedral de Braslia, de 1958), apelidado aqui

    carinhosamente de arquitetura do tatu. Incluem-

    se ainda, como DNA arquitetnico do CCC, os

    volumes trapezoidais que Oscar atribuiu aos prdios

    do Auditrio, no Ibirapuera (1951), do Museu de

    Arte Moderna de Caracas, na Venezuela (1955) e

    do Teatro Nacional, em Braslia (1960).

    Como ressonncia internacional, encontra-se a

    produo do arquiteto Alvar Aalto, considerado por

    FP uma referncia em sua formao (PENTEADO,1998a). Dentre os aspectos trabalhados pelo arquiteto

    finlands (MUSEU, 1983), e dispondo o CCC como

    obra comparativa, trs se destacam: a planta em

    leque, os degraus e o anfiteatro. A comear, a planta

    em leque utilizada por Aalto no Sanatrio de

    Paimio (1929), nos Conjuntos Residenciais em Sunilla

    (1937), em Kauttua (1939) e em Bremen (1951) e

    nos Centros Culturais em Wolfsburg (1951) e em

    Siena (1966) se torna evidente nos projetos de FP

    para a Cidade dos Doqueiros, para o Mercado em

    Curitiba, para o Monumento em Goinia e para oCCC. Em seguida, o conjunto de degraus trabalhado

    por Aalto no Centro Comunitrio de Sayntsalo

    (1945) e no Conselho Municipal de Seinioki (1960)

    (Figura 24), que no CCC separa os quatro blocos e a

    torre de iluminao, por Sigfried Giedion descrita

    como elemento de construo do espao que

    acentua de modo mais intenso as relaes entreos volumes fechados e a rea aberta [...] escada

    que se ergue do solo como a base dilatada de uma

    pirmide cortada. [...] Trata-se, afinal de contas, de

    uma escada? No haveria usurios suficientes para

    justificar racionalmente suas dimenses. A escada

    est l porque tem de estar l. Constitui um quarto

    elemento cujas estratificaes conferem nfase

    adicional inter-relao de volumes (GIEDION,

    2004). Por fim, os anfiteatros aaltianos, construdos

    na Universidade Tecnolgica de Otaniemi (1949) e

    no Museu de Artes de Jutlndia (1972) e previstospara o Museu de Artes de Bagd (1958) e para o

    Centro Cultural de Siena (1966), so, assim como

    no complexo campineiro, coberturas de edifcios

    desenhadas como degraus.

    Como adendo, o construtivismo russo, com a

    valorizao da estrutura enquanto plstica

    arquitetnica perceptvel no Monumento de

    Vladimir Tatlin ao 3. Congresso Internacional

    Comunista em 1919 (Figura 25) reflete-se no

    CCC, especificamente no desenho da torre deiluminao.

    Figura 24: Vista dos de-graus do Conselho Munici-pal de Seinioki (1960), deAlvar Aalto. Fonte: GIEDION,2004.

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    Figura 25: Monumento 3. Internacional (1919), deVladimir Tatlin esquerda e a Torre de Iluminao doCCC (1968) de FP direita.Elemento estrutural comoelemento plstico. Fontes:

    Monumento - GIEDION,2004; CCC - Fotos pessoais.

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    Centro de Convivncia de Campinas: um olhar sobre a arquitetura de Fbio Penteado

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    Mas e a influncia de Artigas?

    Sim, esse foi um mestre pelo qual Fbio nutriu

    especial apresso. Mais do que por sua arquitetura,

    Villanova Artigas foi para FP um exemplo de vida,

    como ele prprio cita: Se o Niemeyer o poeta das

    curvas, Artigas o professor das linhas retas. Muitos

    dos meus projetos no tinham linhas paralelas,

    pareciam confusos, e at o deixavam, s vezes,

    meio aborrecido. Para mim, ele foi durante muitos

    anos uma referncia marcante de vida, mais que

    de arquitetura (PENTEADO, 1998a).

    Ps-ocupao e algumasconsideraes finais

    Sempre me pareceu muito importante comentaros projetos a partir de suas memrias, mas me

    intrigava verificar que, se elas continham quase sempre

    conceitos com intenes humansticas de grande

    beleza, essas intenes dificilmente permaneciam

    presentes no produto final, na obra construda. Fbio

    Penteado, s/d. (PENTEADO, 1998a)

    Aproprio-me dessas palavras para digressionar em

    sentido oposto. Se at este instante o Centro de

    Convivncia de Campinas foi analisado como uma

    obra singular, de um arquiteto respeitvel e de umalinhagem nobre da arquitetura moderna, a sua ps-

    ocupao nos revela algo contraproducente.

    Um centro para o convvio, um convvio para as

    multides. Um sonho de 1966, que se tornou

    realidade em 1968, e virou pesadelo ao abrir suas

    portas em 1976. Mesmo que houvesse intenes

    humansticas no projeto, isto no garantiu, em

    sua vida enquanto espao pblico, uma integrao

    scio-cultural. Inmeros percalos, desde sua

    construo at sua gesto, desqualificaram os

    conceitos originais.

    O sucessor do prefeito Novaes, Orestes Qurcia

    (mandato: 1969-1972), interrompeu as obras pela

    metade. Somente foram retomadas quatro anos

    mais tarde por Lauro Pricles Gonalves (mandato:

    1973-1976), quando a parte executada j havia sido

    comprometida pelas intempries. At recentemente

    o conjunto era vtima de permanentes goteiras,

    conseqncia do concreto mal executado

    (PENTEADO, 1998a). Igualmente criticados pelo autor

    foram: o uso de materiais imprprios para decorao

    (como lustres de cristal colocados internamente

    para resgatar uma ambincia de teatros clssicos),

    a colocao de portas nas entradas (limitando o livre

    acesso s galerias semi-enterradas), o acabamento

    plstico dado aos blocos de concreto aparente, a

    ausncia de gradis nas arquibancadas do teatro

    externo e a no concluso das instalaes eltricas.

    No mesmo sentido, o planejamento do entorno do

    CCC, contemplado inicialmente com um zoneamento

    especfico, foi deturpado pela dinmica imobiliria

    especulativa. Prdios residncias com mais de 20

    pavimentos emolduraram a praa, interferindo na

    acstica do teatro de arena e privatizando o espao

    trreo (previsto como espao voltado ao lazer e

    cultura). As dunas gramadas localizadas na parte

    leste, implantadas para melhorar a acstica do teatro

    de arena, deram lugar a um estacionamento pblico

    (no existente no projeto original).

    Em pesquisa realizada anos atrs8, o CCC era

    lembrado pelos moradores da cidade apenas como

    um teatro o teatro interno ou como o local da

    Feira Hippie (feira de artesanatos que ocorre aos

    sbados e domingos na rea de estacionamento).

    O teatro de arena, por deficincias projetivas e pelo

    desenvolvimento de sua vizinhana, cedeu espao

    para usos inapropriados (e.g.consumo de drogas,

    assaltos, vandalismo contra o patrimnio pblico

    etc.). Foi inclusive proposto a FP seu fechamento

    por grades, alm do policiamento permanente

    (PENTEADO, 1998b).

    Apesar de marco arquitetnico da cidade de Campinas

    e referncia da escola paulista de arquitetura, o CCC

    no trouxe em sua histria ps-ocupacional, como

    em seu perodo embrionrio, resultados expressivos.

    J de conhecimento que na ltima gesto municipal

    (2001-2004) esse equipamento ficou fechado por

    longos meses para reformas e remodelaes dos

    espaos pblicos com a retirada do estacionamento,

    a troca do piso em todo o entorno da praa por blocos

    de concreto em duas cores, a repintura das paredes

    e o ajardinamento dos canteiros. Seria a soluo?

    Ou camos na mesma prtica de maquiar edifcios

    para escamoetar problemas de origem poltico-social

    e, porque no, arquitetnico. O projeto, enquanto

    idealizao de reflexes pessoais, merece um grau

    maior de contextualizao ao real. Sem perdermos

    a criatividade, ns arquitetos devemos projetar

    nas utopias, nos sonhos, realidades paupveis.

    8Essa pesquisa foi elaboradae executada pelo autor des-te artigo em 1998 quandodesenvolvia seu trabalho deconcluso de curso no De-partamento de Arquiteturae Urbanismo da Escola deEngenharia de So Carlos daUniversidade de So Paulo(EESC-USP), sob a orientaodo professor Miguel Antnio

    Buzzar.

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    Community Center of Campinas: a look to the architecture of FbioPenteado

    Ricardo Trevisan

    Abstract

    A center for socializing, a living for the masses. Thus is revealed the Cultural Community Center of

    Campinas (CCC), particular work of architect Fbio Penteado (FP), the object of analysis and study of this

    article. Situated in the city of Campinas, it history takes us to the cultural history of this city, as well as

    the professional history of FP. Architect with extensive practice and theory production, who synthesized

    at CCC concepts imagined and applied in other works. Designed in 1968, this equipment has become

    an architectural landmark for Campinas. But would this mark a constraint strong enough to ensure his

    brilliance as a public building?

    Keywords:Community Center of Campinas, Fbio Penteado, architectural review.

    Centro de Convivencia de Campinas: una mirada a la arquitectura de FbioPenteado

    Ricardo Trevisan

    Resumen

    Un centro para la socializacin, una convivencia para las masas. As se seala el Centro de Convivencia

    Cultural de Campinas (CCC), obra particular del arquitecto Fbio Penteado (FP), el objeto de anlisis y

    estudio de este artculo. Situado en la ciudad de Campinas, su historia nos lleva a la historia cultural de estaciudad, as como a la historia profesional de FP. Arquitecto de produccin prctica y terica extensiva, que

    hay sintetizado en lo CCC los conceptos concebidos y aplicados en otros trabajos. Proyectado en 1968,

    este equipamiento se ha convertido en un marco arquitectnico para los habitantes de Campinas. Pero

    esto supondra una restriccin bastante fuerte para garantizar su brillantez como un edificio pblico?

    Palabras clave:Centro de Convivencia de Campinas, Fbio Penteado, anlisis arquitectnico.