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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE TURISMO SAMUEL PEIXOTO GOMES A IMPORTÂNCIA DOS EVENTOS RELIGIOSOS NA ECONOMIA DE JUAZEIRO DO NORTE FORTALEZA 2013

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE TURISMO

SAMUEL PEIXOTO GOMES

A IMPORTÂNCIA DOS EVENTOS RELIGIOSOS NA ECONOMIA DE

JUAZEIRO DO NORTE

FORTALEZA

2013

SAMUEL PEIXOTO GOMES

A IMPORTÂNCIA DOS EVENTOS RELIGIOSOS NA ECONOMIA DE

JUAZEIRO DO NORTE

Monografia submetida à aprovação da coordenação do Curso de Turismo do Centro de Ensino Superior do Ceará, como obtenção do grau de Graduação. Orientado pelo professor Ivo Luis Oliveira Silva.

FORTALEZA

2013

SAMUEL PEIXOTO GOMES

A IMPORTÂNCIA DOS EVENTOS RELIGIOSOS NA ECONOMIA DE

JUAZEIRO DO NORTE

Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Turismo, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data de aprovação: 28/06/2013

BANCA EXAMINADORA

Professor Ivo Luis Oliveira Silva

Professor Mansueto da Silva Brilhante

Professora Maria Elia dos Santos Vieira

Aos meus pais, José e Lecy e aos

meus irmãos, Misael e Ana.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus pela dádiva de proporcionar forças para que eu

continuasse essa caminhada.

Aos meus pais, por depositarem total confiança no meu potencial e por darem

conselhos fundamentais para a vida acadêmica.

A minha namorada, Laura, por compreender os meus momentos de clausura

dedicados aos estudos.

A meu orientador Ivo Luis, por me instigar nas pesquisas, no desenrolar das

idéias; por sua paciência; pelo tempo dedicado nesta pesquisa.

Agradeço ao coordenador do curso, Mansueto Brilhante, por estar sempre

disposto a nos ouvir, dirimir dúvidas e solucionar problemas.

Aos demais professores que nos subsidiaram com esforços ingentes em toda a

caminhada acadêmica.

Ao colega de classe, Eliandro, por ser uma fortaleza e por ajudar aos demais

colegas de classe alicerçando a certeza da finalização do curso.

“Apesar dos nossos defeitos, precisamos

enxergar que somos pérolas únicas no

teatro da vida e entender que não existem

pessoas de sucesso e pessoas

fracassadas. O que existem são pessoas

que lutam pelos seus sonhos ou desistem

deles.”.

(Augusto Cury)

“Aprender sem pensar é tempo perdido”.

(Confúcio)

RESUMO

Esta pesquisa aborda a importância dos movimentos religiosos em Juazeiro do

Norte, município brasileiro situado no estado do Ceará, localizado na região do

Cariri, lugar marcado por peculiaridades na prática do turismo religioso e do

catolicismo. Neste estudo será possível a compreensão da relevância da

religiosidade na economia local, sobretudo no que se refere a religião Católica

Apostólica Romana, uma das linhas doutrinárias do cristianismo. Como se deu

o processo de desenvolvimento da cidade de Juazeiro, quem foi padre Cícero e

qual sua relação com a história da cidade e seus moradores. Através dos

esclarecimentos, será permitido uma compreensão de como a globalização

alcança áreas tão distantes e as tornam tão próximas através dos meios de

transporte e também dos veículos de comunicação em massa. Percebe-se

momentos em que o tema estudado apresenta-se permeado por contrastes

entre elementos da tradição popular, da cultura e das práticas do cristianismo

moderno, que reconfigura o seu campo de atuação visando implementar novos

veículos de comunicação em massa com a finalidade de fortalecer a fé dos fiéis

e a propagação da religião.

Palavras Chave: Turismo Religioso. Padre Cícero, Catolicismo, Globalização.

ABSTRACT

This research addresses the importance of religious movements in Juazeiro,

Brazilian municipality located in the state of Ceará, located in the Cariri place

marked by peculiarities in the practice of religious tourism and Catholicism. In

this study it will be possible to understand the relevance of religion in the local

economy, particularly in relation to the Roman Catholic religion, one of

Christianity's doctrinal lines. How was the process of development of the city of

Juazeiro, who was Father Cicero and what their relationship to the history of the

city and its residents. Through the clarification, will be allowed an understanding

of how globalization reach areas as far and become so close through the

means of transportation and also the vehicles of mass communication. It is

noticed times when the topic studied presents contrasts between permeated by

elements of popular tradition, culture and practices of modern Christianity,

which reconfigures its field of operation in order to implement new vehicles of

mass communication for the purpose of strengthening the faith of believers and

the spread of religion.

Keywords: Religious Tourism. Padre Cicero Catholicism Globalization.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01 - Interior do Santuário Nacional. Aparecida (SP) ............11

Figura 02 - Multidão diante da praça de São Pedro no Vaticano ...12

Figura 03 - Localização cartográfica da cidade de Juazeiro

do Norte no Ceará ...........................................................16

Figura 04 - Romaria em Juazeiro do Norte .......................................23

Figura 05 – Padre Cícero ...................................................................28

Figura 06 - Jony Wang: comerciante chinês do Padre Cícero .......38

Figura 07 - Projeto com a visão do letreiro “Juazeiro Capital

da Fé”. ..............................................................................40

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................11

2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS PARA COMPREENSÃO DO ESTUDO

2.1 Evolução do Termo Turismo .......................................................14

2.2 Tipos e Formas de Turismo .........................................................18

2.3 Turismo Religioso .........................................................................20

3 JUAZEIRO DO NORTE

3.1 Localização, histórico e aspectos gerais ..................................26

3.2 A Influência do Catolicismo em Juazeiro do Norte ...................33

3.3 Padre Cícero .................................................................................37

4 RELAÇÃO ENTRE RELIGIÃO E GLOBALIZAÇÃO ........................47

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................53

REFERÊNCIAS ....................................................................................55

ANEXOS

Anexo 1 ...............................................................................................58

Anexo 2 ...............................................................................................59

Anexo 3 ...............................................................................................60

11

1 INTRODUÇÃO

Observando às circunstâncias locais, em termos geográficos de

crescimento populacional e demográfico considerável em Juazeiro do Norte,

pretendem-se colocar, aqui, algumas visões no que se refere aos movimentos

sociais, praticas religiosos, cultura popular e ao deslocamento de pessoas pela

religião.

Dessa forma, desenvolve-se este estudo baseado em uma análise

do real significado do turismo religioso para a comunidade local, expressando

as suas particularidades em termos sociais e culturais que dão um formato de

uma identidade local religiosa, quais os impactos de ordem sócio-econômico

para o local e as perspectivas de futuro.

Escolheu-se a cidade de Juazeiro do Norte para fazer parte do

objeto de estudo, tendo em vista, que esta cidade é considerada um dos

pontos onde é mais praticado pelo Turismo Religioso do Brasil. Como apontam

pesquisas estatísticas, teóricos e site especializados do Ministério do Turismo1

que diz que os destinos ligados à fé estão em alta no Brasil, diz ainda que

vários locais do Brasil estão se preparando para receber e atender à demanda

por atrativos, rotas e roteiros ligados à peregrinação e religião. Ainda de acordo

com o site citado, é sabido ainda que entre os eventos/destinos mais

freqüentados do país estão: Círio de Nazaré (Belém, PA), a Romaria a Juazeiro

(Juazeiro do Norte, CE), Romaria à Aparecida (Aparecida, SP), Romaria a

Nova Trento (Nova Trento, SC) além das peregrinações às cidades barrocas

mineiras e baianas (Ouro Preto, Mariana, Congonhas do Campo e Salvador).

Assim, pretende-se com a pesquisa, encontrar explicações que

possam responder a questionamentos sobre a importância do Turismo

Religioso para o município de Juazeiro do Norte e como a religião, uma

atividade que se dá através da filantropia, ou seja, sem fins lucrativos,

consegue fortalecer tanto as bases da economia local. Possibilitando assim,

uma análise das manifestações religiosas ocorridas no município, de maneira a

1 Informações disponíveis no site: http://www.turismo.gov.br/turismo/noticias/todas_noticias/20130301-1.html acesso em: 04 de junho de 2013.

12

preservar o legado histórico e possibilidades de implementações de novas

estratégias que possam gerar benfeitorias para a localidade, através da

inserção de práticas sociais de turismo. E como o advento da globalização

pode favorecer para colocar ainda mais em evidência a cultura nordestina, o

catolicismo popular e a força de um povo que encontra na fé a sua fibra, o seu

poderio econômico, a sua história, além de projetar, ainda, com essa base o

seu futuro.

Será que a dependência da fé é valida para a construção de uma

cidade tão desenvolvida? Ou até que ponto a fé é vista como fé, propriamente

dita, mediante aos interesses econômicos?

De acordo com pesquisas levantadas por órgãos como a Fundação

Instituto de Pesquisas Econômicas – FIPE (2002), pela Universidade de São

Paulo - USP, na pesquisa o Turismo Religioso é apresentado como uma boa

oportunidade de negócios e o segmento, diante das possibilidades que são

apresentadas, são ainda pouco explorados pelos profissionais que desejam

trabalhar na área. De acordo com o levantamento feito pela FIPE (2002),

estima-se que 15 milhões de brasileiros possuem interesse em destinos

religiosos. Se consideradas apenas as religiões cristãs, no mundo esse número

é elevado para 60 milhões de pessoas com esse interesse em comum.

Diante destas considerações, é sabido que todo o palco religioso

dentro do município de Juazeiro do Norte movimenta valores como, por

exemplo, de vida religiosa, comerciais, culturais e tradicionais que se integram

entre si gerando uma mercantilização religiosa através do consumo de

espaços, artigos religiosos, artesanatos e outras quinquilharias referentes a fé,

trazendo assim, um importante benefício na vida econômica da localidade. Esta

consideração é apoiada por Farias (2004), quando diz:

O fluxo constante de romeiros estimulou a manufatura de fogos de artifício e de artigos religiosos e recordações: imagens de madeira e de barro da Virgem, dos santos e, acima de tudo, do Pe. Cícero, crucifixos e medalhas, rosários, escapulários, santinhos e uma sorte de bugigangas encontradas nas feiras do Nordeste. [...] talvez o grande milagre do Pe. Cícero foi ter transformado a pequena vila de Juazeiro, em poucos anos, no mais importante centro do Cariri, ultrapassando cidades tradicionais como Missão Velha, Crato e Barbalha dentre outras. (FARIAS, 2004, p. 281).

13

Chaves (2002, p. 280), vai mais além dizendo que “Padre Cícero é o

grande santo do Nordeste”.

Através do estudo será possível entender como se dá o importante

papel da religião neste município, quais os impactos que são gerados com o

advento dos movimentos religiosos que ocorrem em Juazeiro, os resultados

econômicos que a fé no Padre Cícero trás para o município e qual o

posicionamento da Igreja mediante ao reconhecimento dos “milagres” que

geraram todo esse resultado de prosperidade numa área do sertão nordestino

com recursos limitados.

14

2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS PARA A COMPREENSÃO DO ESTUDO

Para que se compreenda mais claramente o assunto estudado, faz-

se necessária uma abordagem prévia dos fundamentos do Turismo, sua

evolução histórica e desenvolvimento sobre a religiosidade e o deslocamento

do homem movido pela fé. Assim, a construção do conceito lógico e teórico

ficará mais facilitada. Dessa forma, decidiu-se iniciar os trabalhos desse

capítulo dividindo-o em outros três sub-capítulos. Assim, as possibilidades de

serem dirimidas as dúvidas se farão com mais embasamento.

2.1 A Evolução do Termo Turismo

Ao analisarmos a história da sociedade, notamos que a atividade

turística, mesmo em tempos remotos, já existia, não com a roupagem que lhe

foi outorgada no desenrolar da história e que teve, como mola propulsora, a

articulação das viagens organizadas por Thomas Cook, em 1841, quando,

segundo Dias (2008, p. 12), “um conjunto significativo de fenômenos sociais

passaram a ser englobados sob uma mesma palavra – turismo”.

A viagem estava unida ao comércio, à procura de bens para a

subsistência, à necessidade de melhorar as condições de vida, a expansão

territorial, aos desejos de descanso e saúde que moviam as classes

privilegiadas aos centros termais. (CASTELI, 2001).

Enquanto que Ignarra (2003) pondera-nos acerca do fenômeno

afirmado:

O fenômeno turístico está relacionado com as viagens, a visita a um local diverso do da residência das pessoas. Assim, em termos históricos, ele teve início quando o homem deixou de ser sedentário e passou a viajar principalmente motivado pela necessidade de comércio com outros povos (IGNARRA, 2003, p. 2).

Quase que unanimemente, Thomas Cook, é considerado o pai do

turismo moderno ao promover a primeira viagem organizada que se tem

notícia, pois, a partir desse marco, foi notada a grande possibilidade que esse

mercado poderia proporcionar em termos econômicos.

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O fenômeno do turismo é algo que vem sendo praticado e difundido

ao redor do mundo de maneira impressionante e viral. É um tipo de mercado

que mais cresce e que influencia a sociedade em vários aspectos

comportamentais. Dias (2003, p.7) assenta que “o deslocamento e a

permanência das pessoas longe de seu local de moradia provocam profundas

alterações econômicas, políticas, culturais, sociais e ambientais”. Devido à

rotina, o homem apresenta uma necessidade de alterar, momentaneamente, o

seu cotidiano, aproveitando o ócio para fazer coisas que representam a fuga da

rotina e revigorar suas forças para voltar a fazer suas atividades do dia-a-dia.

Krippendorf (2001, p.35) diz que o “ciclo de reconstituição começa pelo homem

e suas necessidades, pelo homem comum que se torna turista e a seguir volta

a ser homem comum. Suas necessidades condicionam suas atividades.”

Falando sobre o lazer e, sobretudo, as viagens, Krippendorf (2001,

p.36) afirma que “elas devem reconstruir, recriar o homem, curar e sustentar o

corpo e a alma, proporcionar uma fonte de forças vitais e trazer um sentido à

vida”. Ainda, Krippendorf (2001), fala ainda sobre a satisfação das pessoas em

relação a uma viagem quando afirma que:

[...] ao viajar, o ser humano se sente mais livre do que normalmente é. Ele também fica um pouco mais perto da natureza e dos outros homens e vive certa mudança. [...] essa seria a razão de as pessoas se sentirem, de fato, felizes durante as férias (KRIPPENDORF, 2001, p.91)

Para entendermos melhor esse fenômeno tão abrangente e

complexo, que, apesar de tão antigo, só em um tempo relativamente recente,

passamos a teorizá-lo, conceituá-lo e defini-lo, mesmo que de forma dinâmica

devido a sua própria estrutura mutável, é necessário abordar algumas

premissas sobre o turismo.

De acordo com Dias (2008):

Foi no início do século XIX que surgiu o termo turismo, e pode-se afirmar que a partir daí foi possível distinguir e agrupar um conjunto de atividades que antes do uso desse termo eram conhecidas por outros nomes. Viagens realizadas por motivos religiosos, terapêuticos, culturais, esportivos ou para participação em feiras existiam há muito tempo, e seus desdobramentos econômicos já eram conhecidos desde a Antiguidade pelos gregos e romanos, e mesmo durante toda a Idade Média (DIAS, 2008, p. 12).

16

Para Dias (2008, p. 27), “o turismo é uma atividade que envolve o

movimento constante de pessoas, que se deslocam de um local de origem a

um destino e vice-versa”. De acordo com Moesch (2002), a primeira vez que a

palavra turismo foi registrada foi num dicionário de língua inglesa Oxford, que

definia o termo como “a teoria e prática de viajar, deslocar-se por prazer. Uso,

depredação”. Tomando como base essa definição e sabendo que o turismo

pode ser contextualizado em várias outras áreas, como a sociologia, economia,

história, geografia etc, emergiram várias outras definições similares com

destaque para as disciplinas da área que conceituaram o termo turismo.

Segundo Barreto (apud DIAS, 2008, p. 29), “os elementos mais

importantes de todas estas definições são o tempo de permanência, o caráter

não lucrativo da visita e [...] a procura do prazer por parte dos turistas”.

Na visão de Ignarra (2003, p.14), “o turismo é uma combinação de

atividades, serviços e indústrias que se relacionam com a realização de uma

viagem.” Daí vê a relação de um sistema integrante e amplo que envolve os

fatores de hospedagem, alimentação, transporte e atividades diversas de

pessoas que viajam para outros lugares, como profere Andrade (2002).

Turismo é o complexo de atividades e serviços relacionados aos deslocamentos, transportes, alojamentos, alimentação, circulação de produtos típicos, atividades relacionadas aos movimentos culturais, visitas, lazer e entretenimento (ANDRADE, 2002, p.38).

De maneira objetiva, a Organização Mundial do Turismo (2003)

classifica oficialmente o turismo da seguinte maneira:

O turismo inclui tanto o deslocamento e as atividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens e estadas, bem como, as relações que surgem entre eles, em lugares distintos de seu ambiente natural, por um período de tempo consecutivo inferior a um ano e mínimo de 24 horas (pernoite no destino), principalmente com fins de lazer, negócios e outros (OMT, 2003).

Diante dessas considerações, é importante ressaltar que o turismo é

praticado por um agente que foi convencionado pelo termo de turista, não

sendo fácil definir esse agente em virtude da abrangência de atividades que

são desempenhadas por ele. Dias (2008) sinaliza-nos sobre a epistemologia da

palavra que:

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No início, a palavra turista era utilizada exclusivamente para designar os que viajavam somente por prazer, ou para aumentar seus conhecimentos, excluindo-se todas as pessoas que tinham outro motivo para o deslocamento, como profissionais, de saúde ou religiosos (DIAS, 2008, p. 35).

O fenômeno do turismo alavancou vários setores da economia e, à

medida que visionários incrementavam novas idéias a essa tendência, mais

pessoas se beneficiaram com esse mercado e as relações turísticas

começaram a crescer ainda mais. Segundo Andrade (2002, p. 38), “sem

viagens de ida e volta não se pode pensar em relações turísticas e em

temporalidade, fenômeno que faz a importância de estada em lugares de

moradia habitual dos que visitam algum lugar”.

O Ignarra (2003, p. 112) considera que “o Mercado Turístico é

constituído pelo conjunto dos consumidores de turismo e pela totalidade da

oferta de produtos turísticos. Trata-se, pois, de um conceito econômico

extremamente amplo e diversificado.”

O turismo não é algo independente, não diz só respeito a viagens

simplesmente, ele necessita de toda uma infraestrutura que lhe dê subsídios

para tornar a visita de alguém em outro lugar algo agradável, marcante e

possível. Pensando nisso, a indústria alimentícia, de hospedagem e de

transporte é beneficiada com o turismo, além de um enumerado grande de

outras áreas ajudadas direta ou indiretamente.

A atividade turística tem papel de grande relevância no

desenvolvimento da economia local e enorme poder de distribuição de renda,

pois quem mais visita outros locais são pessoas provenientes de locais mais

ricos enquanto quem recebe os turistas nem sempre são (IGNARRA, 2003).

Sempre que alguém passa algum tempo significativo fora de sua residência ou domicílio habitual, carece de alojamento e de alimentação, serviços e bens que, por sua natureza, estimulam setores da construção civil, da indústria do mobiliário e dos serviços de manutenção, da agropecuária e da indústria alimentícia (ANDRADE, 2002, p.39).

O turismo está crescendo cada vez mais e afirmando-se como uma

das fundamentais atividades econômicas, sendo um setor que mais gera

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emprego e renda para as pessoas em todo o mundo, com grandes

perspectivas de expansão para os próximos anos (DIAS, 2003).

Buscando o entendimento maior recorremos a Beni (2007) que nos

afirma:

No Turismo, pode-se imaginar, a priori, que tanto a área estatal como a empresarial tem como objetivo real o lucro. O Estado espera da atividade turística o superávit no balanço de pagamentos na conta específica, em razão dos ingressos de divisas, e as empresas que atuam no setor igualmente dimensionam a prestação do seu serviço em razão da lucratividade dos investimentos necessários (BENI, 2007, p. 25).

A expansão do fenômeno do Turismo está diretamente ligada ao

progresso econômico, à concentração urbana, às facilidades de comunicação e

ao desenvolvimento dos transportes. O produto turístico é um conjunto

composto de bens e serviços produzidos em diversas unidades econômicas,

que sofre uma agregação no mercado. O setor de turismo, lazer e recreação

integra o amplo setor de serviços tradicionalmente denominado “terciário”.

Apesar de ocupar importante lugar na economia dos países industrializados, a

literatura sobre esse setor é muito específica ou muito profissional. Os setores

de serviço que já foram objeto de mais estudos são seguros, bancos,

transportes, hotelaria e restaurantes (BENI, 2007).

2.2 Tipos e Formas de Turismo

Com o grande desenvolvimento da atividade turística pelo mundo

nos últimos anos, houve a necessidade de se elaborar classificações do

turismo para melhor entender as variadas e diferentes características das

viagens e, também, para possibilitar a quantificação do setor em termos

comparáveis entre países ou mesmo regiões.

Com o advento estrondoso da globalização, cada vez mais é notada

a segmentação de mercado e, no mercado turístico, não ocorre de forma

diferente, pois, à medida que o tempo passa mais se vê a motivação do ser

humano em suprir a suas necessidades em diversos fatores, sejam elas

necessidades básicas no campo da tangibilidade sejam até mesmo

necessidades exóticas no campo da intangibilidade (DIAS, 2003).

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No turismo, atualmente, podemos enumerar os vários mercados

turísticos como o turismo ecológico, turismo cultural, turismo gastronômico,

turismo de aventura, turismo da terceira idade, turismo de negócios, turismo de

eventos, turismo religioso, etc.

Pelo motivo da sua própria organização estrutural, questões de

definições empresariais, administrativas e profissionais, o turismo foi se

fragmentando em tipos, formas, modalidades e outras segmentações com o

passar do tempo. Segundo Andrade (2000), essa fragmentação não se

apropria de alguma segurança científica, pois não há grandes reflexões sobre o

assunto. Andrade (2000, p.48) afirma ainda que “os teóricos e estudiosos do

setor falham, porque não alcançam as dimensões humanísticas nas quais o

turismo se baseia e o consideram como simples comércio”.

Para Andrade (2000), o turismo se tornou um fenômeno tão

abrangente que uma quantidade muito grande de razões fazem uma pessoa se

tornar turista, sejam por motivações esportivas, viagens de negócios,

congressos, motivos religiosos, educação, prazer, férias etc. O autor considera

como tipos de turismo o turismo de férias, turismo cultural, turismo de negócios,

turismo desportivo, turismo de saúde e turismo religioso. Barreto (2003, p.17)

complementa dizendo que “por sua própria natureza, o turismo pode ser

emissivo (envia turistas para fora do local) ou receptivo (recebe os turistas

vindos de fora)”.

Conforme dados da Organização Mundial do Turismo (OMT, 2003),

o turismo receptivo mundial tem crescido com maior rapidez nos países em

desenvolvimento, tanto com relação à entrada de turistas quanto em ingresso

de divisas.

Então, observa-se que o turismo não é um fenômeno novo, pois

muitas civilizações anteriores ao século XIX já o conheciam e, ao mesmo

tempo, também o praticavam. Como ressalta Barreto (2003), dizendo que a

civilização ateniense já praticava turismo, pois existiam nos subúrbios de

Atenas residências secundárias, que seriam casas de férias. Já entre os

romanos, havia as célebres termas que reuniam as classes privilegiadas. Tais

classes desfrutavam dos famosos banhos terapêuticos

No entanto, é no século XIX que o turismo torna-se numa realidade,

devido às melhores condições de vida, resultantes com as reivindicações

20

conseguidas na Revolução Industrial, tais como a redução do horário de

trabalho, concessão de férias etc. Esses privilégios proporcionaram maior

tempo livre, possibilitando dessa forma, condição necessária de se viajar e de

se conhecer os lugares desejados pelas pessoas (DIAS 2003).

Vê-se que o turismo está cada vez mais segmentado de acordo

com um entrelace de variadas razões, entre elas o fator social. De acordo com

Barreto (2003, p. 24), “a classe privilegiada, ou de classe alta, realiza

normalmente um turismo externo, de minorias, por tempo indeterminado”, o

que aponta que não está ligado à concessão de férias. Barreto (2003) diz que a

classe média alterna entre turismo externo e interno e faz uso da ocupação

profissional aproveitando o turismo após um congresso ou reuniões de

negócios. Enquanto isso a classe baixa caracteriza-se por fazer utilização do

turismo de massa, sendo o grupo social que mais pratica o turismo religioso,

feito de forma coletiva, em ônibus fretados ou trens.

Diante de tais considerações, pode-se ter uma superficial, mas

esclarecedora, noção da abrangência e segmentação turística. De modo que

foi escolhido um dos segmentos, de um universo de grandes dimensões, para

podermos apresentar com mais detalhes como se dá esse fenômeno que é o

turismo religioso.

2.3 Turismo Religioso

O tema abordado nessa pesquisa sugere uma atenção especial para

esse tipo de turismo, o turismo religioso, que será explorado mais

especificamente em Juazeiro do Norte neste trabalho. Ele que é apenas um

diante das várias segmentações que foram catalogadas como forma de

turismo. Vários autores se dispuseram a estudar a respeito do assunto e

emitiram numerosas opiniões para definir essa modalidade de turismo, uma

das mais antigas. Um desses autores é Andrade (2000), que diz ser essa

modalidade:

O conjunto de atividades com utilização parcial ou total de equipamentos e a realização de visitas a receptivos que expressam sentimentos místicos ou suscitam a fé, a esperança e a caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiões (ANDRADE, 2000, p.77).

21

A imagem abaixo revela o maior centro de turismo religioso do

Brasil, na cidade de Aparecida do Norte, no Estado de São Paulo, onde

milhões de fiéis reúnem-se para prestar culta a Nossa Senhora da Conceição

Aparecida, popularmente chamada de Nossa Senhora Aparecida, é

a padroeira do Brasil, venerada na Igreja Católica.

Figura 01 - Interior do Santuário Nacional. Aparecida (SP).

Fonte: http://jornalsantuario.wordpress.com/tag/turismo-religioso/

Outra imagem revela-nos a Praça de São Pedro no Vaticano e a

Basílica com o mesmo nome. A construção do atual edifício é datada de

1506, sendo consagrada imediatamente pelo Papa Urbano VIII. O local é

célebre em peregrinação, por suas funções litúrgicas, construção histórica,

arquitetura e artística.

Figura 02 - Multidão diante da Praça de São Pedro no Vaticano, durante missa

celebrada por João Paulo II.

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Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/turismo/896604-veja-pacotes-de-viagem-para-visitar-vaticano-e-regiao.shtml

O turismo religioso tem uma importância histórica muito grande, é

uma linha que está sempre muito forte e alicerçada na fé, na ideologia e nas

crenças. Ele pode ocorrer como turismo individual ou coletivo, organizado em

forma, por exemplo, de romarias, peregrinações ou pagamento de promessas,

de acordo com a fé que o indivíduo ou grupo professa. Existem espalhados

pelo mundo locais históricos que são considerados sagrados pelos seguidores

das mais diversas religiões e que acabam sendo verdadeiros pólos turísticos;

desses, podemos citar Meca, Fátima, Assis, Jerusalém, Belém, Juazeiro do

Norte, Roma, destacados pela devoção oficial ou não de religião e sendo

importantes para a fé das pessoas e, consequentemente, para o turismo

(ANDRADE 2002).

É nessa religiosidade que o segmento de turismo religioso pode

ser considerado, através das peregrinações e a visitação aos lugares sagrados

em momentos também sagrados.

Já Dias (2003, p. 17) considera que turismo religioso “é aquele

empreendido por pessoas que se deslocam por motivações religiosas e/ou

para participação em eventos de caráter religioso” Ponderando sobre a

espiritualidade do turismo, Montejano (apud DIAS, 2003, p. 13) diz que “o

turismo contribui para o desenvolvimento dos valores espirituais e deve ser

considerado como um fator de restauração da personalidade e dignidade

humana. Graças ao turismo, corpo e espírito humano se restabelecem da

fadiga do trabalho e ritmo cotidiano da vida”

23

O turismo religioso tem semelhanças que o deixa numa linha muito

parecida com o turismo cultural, pondo como exemplo um local de visitação

religiosa que é um patrimônio cultural da localidade, assim como eventos e

festividades religiosas que são considerados uma expressão cultural de uma

sociedade e mostram traços de uma realidade histórico-cultural representativa

de determinada região. Daí é relevante surgir o questionamento de, por

exemplo, até que ponto a visitação a cidades de Israel, como Jerusalém,

praticada pelo cristianismo, ou a visitação a Meca, praticada pelo islamismo

pode ser considerado turismo? Pode-se haver aí uma indefinição das pessoas

que vão visitar esses locais movidos pela fé dos que vão meramente para

expandir os conhecimentos culturais. Dias (2003), mostra a tênue diferença

entre as duas formas de visitação quando:

Exibindo uma ampla diversidade e apresentando diferentes atrações populares, essas festividades podem ter lugar tanto em espaços públicos, quanto religiosos (ex.: procissões), tendo em comum o fato de que ambos espelham a realidade dessa modalidade turística, o turismo religioso. Quando um elemento de atração turística é um monumento ou outra forma de legado cultural de natureza religiosa (catedral, igreja, etc.) podemos estar diante do turismo em espaço religioso [tipo de turismo cultural], e, então, a viagem envolve principalmente uma intenção intelectual de compreender o fenômeno religioso ou, mais frequentemente, a apreciação das expressões artísticas e estéticas que podem ali ser encontradas (DIAS, 2003, p.28).

Vemos que o aspecto religioso é preponderante no que diz

respeito ao que motiva diversas pessoas a saírem do seu âmbito convencional

para realizar uma viagem. Sem esse aspecto seria muito difícil compreender o

encaminhamento significativo de turistas a locais como Juazeiro do Norte no

Ceará ou Aparecida em São Paulo. Essa fala é reiterada por Dias (2003, p. 27)

quando ele diz que “a noção de turismo religioso se desenvolve a partir da

compreensão das motivações turísticas. A diferença entre esta forma de

turismo em comparação com outras se encontra na motivação religiosa que é a

razão do deslocamento”.

De acordo com pesquisas realizadas pela EMBRATUR2, 15 milhões

de pessoas, dos mais variados níveis sociais, se deslocam todo ano no Brasil

por motivações religiosas, movimentando cerca de 6 bilhões de reais

2 Fonte: Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 10 de set. de 2000, Caderno de Turismo, p. 8.

24

anualmente. Essas pessoas assim como também o dinheiro têm alguns

destinos bastante conhecidos, dos quais se destacam, principalmente, os

quinze dias do Círio de Nazaré em Belém do Pará, que reúne anualmente 1,5

milhão de pessoas. Aparecida, em São Paulo, recebe cerca de 7 milhões de

devotos todos os anos e em Juazeiro do Norte, no Ceará, a figura emblemática

do Padre Cícero ainda aglomera grande multidão.

Outra propriedade do turismo religioso é marcada pelo pesquisador

do Curso de Geografia, da Universidade Federal do Ceará, professor Dr.

Christian Dennys Monteiro de Oliveira3 que diz:

O Turismo Religioso, na lógica cultural da visitação e da comunicação, é capaz de compatibilizar, no mesmo meio, o peregrino ecoturista e o romeiro excursionista. É isto, vivência da religiosidade turística, pois ambos são capazes de multiplicar significados para um mesmo atrativo, por mais repulsivo que tal atrativo possa parecer, aos olhos de alguns. Afinal, não há uma estética tão agradável assim na Passarela da Fé em Aparecida (SP), na Corda do Círio em Belém (PA) ou no Templo de Tia Neiva (DF). Mesmo nas cidades de Nova Trento (SC), Bom Jesus da Lapa (BA), Canindé ou Juazeiro do Norte (CE), não se consegue estabelecer essa conexão entre paisagem e fé (OLIVEIRA, 2012, online)

Atualmente o turismo religioso tem sido um dos tipos de turismo

mais procurado em todo o mundo, à medida que os problemas sociais são

constantes em nosso cotidiano. Efetuam-se sobre forma de turismo individual

ou de turismo organizado em programas cujos objetivos se caracterizam como

romaria, peregrinação e penitencia, de acordo com os objetivos religiosos,

dogmáticos e morais dos fiéis visitantes.

Embora arraigada no mais íntimo do ser humano, a religião é

considerada como um fenômeno espiritual de profundas relações entre as

criaturas e o criador. Por isso cria numerosos tipos de relações externas que

superam os cultos e os templos, extrapolam para outros campos, até mesmo

para o campo do turismo, tendo em vista a ampliação de relações, através de

viagens a outros locais e de visitas a túmulos de santos ilustres e profetas

respeitados. 3 Informações presentes no Trabalho do Prof. Dr. Christian Dennys Monteiro Oliveira. Intitulado Turismo Religioso: Uma breve apresentação. O acesso pode ser visualizado no endereço eletrônico 2008. < http://www.jornalolince.com.br/2008/fev/agora/turismoreligioso_jornalolince_edicao14.pdf>. Acesso em: 24 outubro 2012).

25

Tamanha essa força e convicção de fé de algumas pessoas, que a

cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, se fortaleceu de forma incrível através

da imagem do nome mais forte dessa cidade: o Padre Cícero, do qual será

falado adiante mais detalhadamente.

26

3 JUAZEIRO DO NORTE

Esse estudo vem ao encontro da necessidade de um

aprofundamento crítico para fundamentação do turismo religioso, como

segmento de mercado, tomando-se como premissa, procedimentos e aspectos

específicos do âmbito econômico e do âmbito mercadológico, mas também

aprofundando uma crítica. Para que isso ocorra com mais fluidez lançou-se

uma pretensão de subordinar o trabalho em quatro subpontos, que serão de

fundamental importância na assimilação do assunto em pauta: o histórico da

cidade; a influência da religião católica apostólica romana na cidade; quem foi e

é Padre Cícero; e quais os eventos proporcionados pelo turismo religioso em

Juazeiro do Norte.

3.1 Localização, Histórico E Aspectos Gerais

Abaixo, apresenta-se a cidade de Juazeiro do Norte, se localiza na

região do Cariri, no sul do estado, a 533 km da capital, Fortaleza. A população

do município em 2012, segundo a estimativa do IBGE, é de 255 648

habitantes, que o torna o terceiro mais populoso do Ceará, a maior do interior

cearense. Localizado na região Nordeste do Brasil. Situado a Latitude: 07º 12'

47" S e Longitude: 39º 18' 55" W.

Figura 3: Localização cartográfica da cidade de Juazeiro do Norte no Ceará

27

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ceara_Municip_JuazeirodoNorte.svg, 2013.

De acordo com o site do município de Juazeiro do Norte4, a cidade

está localizada no extremo sul do Estado do Ceará, no denominado Vale do

Cariri, seu deslocamento de acesso dar-se pela BR 116. Sendo a maior cidade

do interior cearense, mesmo tendo apenas 249 km² de área, tem cerca de 250

mil habitantes, sendo que a maior parte se concentra na zona urbana. A

população de Juazeiro do Norte é bastante heterogênea. Há praticamente

pessoas de todos os Estados nordestinos, muitos dos quais romeiros, que para

Juazeiro seguiram, foram atraídos pela fama do Padre Cícero. A população

nativa representa hoje menos da metade do total. Uma característica marcante

é o fato de muita gente que lá reside ter o nome de Cícero ou Cícera, em

homenagem ao Padre Cícero, o fundador da cidade. (JUAZEIRO, online, 2013)

De acordo com o site do IBGE5 o nome Juazeiro deve-se a uma

conhecida árvore, muito comum no Nordeste, que resiste à seca mais

4 Informações presentes no Daniel Walker. Disponível em http://www.juazeiro.ce.gov.br/index.php?Pasta=paginas_site&Pagina=pag_cidade&MenuDireito=1>. Acesso em: 28 novembro 2012). 5 Informações retiradas do site: Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/ceara/juazeirodonorte.pdf. Acesso em: 12 de outubro de 2012)

28

inclemente, permanecendo sempre viçosa, chamada cientificamente Ziziphus

juazeiro. A palavra é híbrida, tupi-portuguesa: juá ou iu-á (fruto de espinho) + o

sufixo eiro. Em 1827 foi erigida uma capelinha, pelo Padre Pedro Ribeiro de

Carvalho, no local denominado Tabuleiro Grande, em frente a um frondoso

juazeiro, na estrada real que ligava Crato a Missão Velha, à margem direita do

rio Batateira. Esta a origem de Juazeiro do Norte. A denominação deve-se

justamente à árvore. (JUAZEIRO, online, 2013)

Ainda de acordo com o site6 da prefeitura de Juazeiro do Norte,

ela é uma das maiores cidades do Nordeste. Foi a primeira cidade do interior

cearense a ter um shopping center (Cariri Shopping), uma rádio FM (Rádio

Transcariri) e também uma estação de televisão (TV Verde Vale Canal 13). O

parque industrial é representado por indústrias de sandálias de plástico e

couro, bebidas, refrigerantes, alumínio, alimentos, confecções, móveis, jóias e

laticínio, entre outras. O artesanato é um dos mais ricos e variados do Brasil.

(JUAZEIRO, online, 2013)

Juazeiro é um grande pólo de ensino superior com mais de 40

cursos universitários em funcionamento. Possui três grandes centros culturais

onde são desenvolvidas atividades de teatro, cinema, dança e folclore.

A cidade possui muitos atrativos turísticos, sendo, por isso, visitada

por romeiros e turistas do Brasil e do Exterior, numa média anual superior a um

milhão de visitantes. A rede hoteleira conta com hotéis confortáveis, afora

dezenas de ranchos para hospedagem de romeiros.

A cidade de Juazeiro do Norte exerce forte influência sobre todo Sul

do Ceará, sendo um importante centro de compras e serviços regionais. Todo

este desenvolvimento resultou em uma grande integração com os municípios

de Crato e Barbalha.

Quadro I: Lista das datas comemorativas consideradas em Juazeiro do Norte.

DATAS COMEMORATIVAS CONSIDERADAS EM JUAZEIRO DO

6 Disponível em: http://www.juazeiro.ce.gov.br/index.php?Pasta=paginas_site&Pagina=pag_cidade&MenuDireito=1>. Acesso em: 28 novembro 2012).

29

NORTE

DATA COMEMORAÇÃO

2 de fevereiro

Festa de Nossa Senhora das Candeias

(romaria)

Missa do Pe. Cícero Dia 20 de cada mês

24 de março Aniversário de Padre Cícero

20 de julho Aniversário de morte de Padre Cícero

22 de julho Aniversário do Município

15 de setembro Festa da Padroeira (romaria)

1° de novembro Dia do Romeiro

2 de novembro Romaria do Padre Cícero

Novembro Feira de negócios do Cariri

Última semana de agosto Feira de tecnologia de caçados do Cariri

Vaquejada Pe. Cícero Segundo final de semana de Julho

Terceira semana de Junho JuáForró

Fonte: JUAZEIRO, online, 2013

Diante destas considerações, verifica-se que a história de Juazeiro

do Norte é bem conhecida por uma leva considerável de pessoas. Percebe-se

que a solidez econômica está ancorada na imaterialidade da fé. De uma

maneira bem particular, sabe-se que a religião é a mola propulsora que tornou

a cidade tão conhecida e tão bem desenvolvida. Contudo, nem sempre esse

município foi tão conhecido assim, nem sempre à cidade foi tão pomposa e

propagada no mundo todo. Como bem afirma Marques (1988, p.19) ao dizer

que “Juazeiro era pouco mais do que um arraial desprezível quando, em abril

de 1872, lá foi residir Padre Cícero.”

Segundo Marques (1988), Juazeiro até tinha terras férteis e estava

próximo a mananciais perenes, no entanto ainda era um lugar bastante

atrasado, de pessoas ignorantes e muito pobres, com pouco mais de mil

habitantes contando com as famílias das imediações.

Oliveira (2001, p.74) se atém especificamente ao lugar e diz que “a

pequena cidade de Juazeiro, humilde e desconhecida da maior parte dos

brasileiros, situada no sul do Ceará, contava então com cerca de 80 casas

entre as casas de tijolo e telha, taipa e telha, taipa e palha de babaçu”. Ainda

de acordo com Marques (1998) no:

30

Povoado propriamente dito, havia umas cinqüenta a sessenta casas, quase todas cobertas de palha e de humílima aparência, disseminadas nas imediações da capelinha, dedicada à Virgem Santíssima, sob a invocação de Nossa Senhora das Dores. A capelinha de Juazeiro, do ponto de vista pecuniário e humano, equivalia à menos atraente e convidativa de todas as colocações imagináveis (MARQUES, 1988, p.19).

Em meio ao que podemos considerar como uma colocação menos

prestigiada, com recursos escassos e poucas perspectivas de melhora, Padre

Cícero, aceitou o desafio de assumir as atribuições eclesiásticas da capelinha

da cidade. Marques (1988) sinaliza em seus textos que por livre escolha,

Padre Cícero preferiu viver a vida longe dos holofotes como um simples

capelão de aldeia, às vantagens que estavam a sua disposição, não só outras

capelanias mais aceitáveis, inclusive na capital do Estado, como também no

magistério, na direção de um colégio.

Diante dessas condições, o padre chegou a Juazeiro do Norte, onde

podemos considerá-lo como um divisor de águas na história do pequeno

lugarejo, onde, antes do Padre Cícero, era a inexpressível aldeia de Juazeiro e,

após Padre Cícero, foi considerado um dos maiores centros de religiosidade da

América Latina, atraindo milhões de pessoas. O início do desenvolvimento

deste, que hoje é reconhecido como grande pólo religioso é relatado por

Oliveira, (2001, p.159) quando diz que “a pequena povoação, dantes

desconhecida aldeia, iniciada pelo Pe. Pedro Ribeiro de Carvalho em 1827 e

pelo mesmo confiada ao patrocínio da Virgem das Dores, ia se desenvolvendo

rapidamente sob orientação do Pe. Cícero a partir de 1872”.

Temos que considerar que esse desenvolvimento vertiginoso não

aconteceu de imediato e que aquele povo pobre e pouco letrado vivia,

sobretudo, da agricultura. Localizada em um local de baixa pluviometria, é

assolada com a seca que atingiu várias cidades do Ceará em 1887. Diante

dessa situação caótica, Oliveira (2001) registrou, sobre o povo de Juazeiro,

que:

Seria preciso emigrar; deixar ali suas famílias enquanto iam procurar recursos para não morrerem de fome, viajando em demanda das margens do Rio São Francisco ou procurando os brejos das Alagoas. O Pe. Cícero, na maior aflição, sem recursos, para minorar a situação aflitiva em que estava a sua gente, convidava à penitência, à oração, faziam promessas. Orações públicas e particulares, romarias,

31

comunhões reparadoras, hora de adoração, tudo se fazia pedindo a Deus que revogasse aquela sentença; não castigasse sua gente ali prostrada em oração fervorosa (OLIVEIRA, 2001, p. 74).

A religiosidade se fazia como tática de sobrevivência. Em outros

termos, considerava-se que a vivência do sagrado fornecia sentidos para o

entendimento do mundo e, ao mesmo tempo, funcionava como uma maneira

ou tentativa de minimizar os padecimentos do dia a dia.

De acordo com Silva e Carvalho (1973, p.13), “apesar da seca

constante, jamais a fé dos seus habitantes e dos que a visitam, foi abalada. Lá

ergueram um dos mais belos templos cristãos: a igreja de São Francisco de

Assis, construída pelos missionários capuchinhos”

Com a realização de todos esses rituais e eventos, o Padre Cícero

foi estimulando cada vez mais a religiosidade das pessoas daquele local.

Oliveira (2001, p.75) diz que “uma delas, Maria de Araújo, ao receber, das

mãos do Pe. Cícero, a hóstia consagrada, foi esta transformada em sangue,

repetindo-se o fenômeno muitas vezes naquele ano”.

Segundo Dr. Irineu Pinheiro7

Em 1889 – 6 de março – ocorreu em Juazeiro, Sexta-Feira da quaresma, pela primeira vez em público, na Igreja, o fato extraordinário de se transformar em sangue, na boca de Maria de Araújo, a hóstia que ela recebera, em comunhão das mãos de Pe. Cícero Romão Batista. Assim que se iniciou a questão religiosa de Juazeiro, cujas conseqüências vieram até nossos dias (PINHEIRO apud OLIVEIRA, 2001, p. 75).

O fato inusitado e recheado de mistérios ganhou uma repercussão

enorme e chamou a atenção de vários curiosos e de pessoas movidas pelo

espírito da religiosidade. Situação essa que foi levada até ao Vaticano em

Roma.

Ao analisarmos a história, vemos que a ida do Padre Cícero para

Juazeiro foi extremamente benéfica para a região do Cariri, como explica

Oliveira (2001, p.159) dizendo que “romeiros vindos de Alagoas, Pernambuco,

Paraíba, Rio Grande do Norte, para aqui se dirigiam atraídos pelas virtudes do

Pe. Cícero. Vinham alguns com plano de ficar aqui residindo”.

7 Dr. Irineu Pinheiro: escritor cratense, graduado em medicina pela Faculdade Nacional do Rio de Janeiro em 1910. De volta ao Crato, clinicou durante muitos anos e foi um dedicado estudioso da história da região, no qual foi mestre.

32

Silva e Carvalho reforçam o argumento quando dizem que

Muitos vieram para fixar-se definitivamente no povoado, e o padre Cícero conduzia-os sob sua orientação, por vários municípios onde pudessem principalmente cultivar a terra. Tão intenso foi o seu trabalho, que o rico vale do Cariri se tornou quase independente economicamente, com as plantações que lá existiam. Inegavelmente, deve-se a ele o progresso da região (SILVA E CARVALHO, 1973, p.37).

Segundo Oliveira (2001), o padre vinha recebendo diversas pessoas

oriundas de várias cidades, pois a região naturalmente atraía o povo, já que era

sabido que aquela localidade era conhecida por ter as terras mais férteis do

Ceará. E o padre Cícero foi alocando e empregando as pessoas em vários

municípios para trabalhar especialmente no cultivo da terra.

Oliveira (2001) diz que com o passar do tempo, toda a Serra do

Araripe, onde foi implementando o cultivo de mandioca, ficou na situação de

abastecer de farinha uma grande parte do Nordeste. Além disso, na região,

com uma demanda de mão de obra grande, aumentaram as plantações de

feijão, milho, arroz, cana de açúcar, colocando o Cariri quase em situação de

independência econômica. Toda região lucrou com a vinda do Padre Cícero,

sendo ele, indubitavelmente, a mola mestre do progresso econômico do Cariri.

De acordo com Oliveira (2001)

O desenvolvimento das fainas agrícolas ia modificando o cenário da povoação. O comércio tomou grande impulso com o aumento da produção. Muito freqüentadas eram as feiras onde se vendiam os frutos do trabalho para atender as demais necessidades domésticas, inadiáveis. Juazeiro começou a ter vida própria e os juazeirenses começaram a acalentar a ideia de independência, trabalhando, juntamente com o seu orientador, para separar-se do Crato (OLIVEIRA, 2001, p. 160).

Para Silva e Carvalho resumem o início da história política de

Juazeiro do Norte dizendo que:

Seu primeiro prefeito foi o padre Cícero, nomeado pelo então governador do Estado, desembargador Acióli, assumindo a prefeitura a 4 de outubro de 1911, ano em que Juazeiro foi emancipado de Crato. Em 1912 foi demitido pelo novo presidente Franco Rabelo, que nomeou para substituto João Bezerra de Menezes. Em 1913, no dia 8 de dezembro, este prefeito foi deposto, após a eclosão da revolução. Terminada a revolução, foi novamente nomeado prefeito o padre Cícero, que lá permaneceu de 1914 a 1927, portanto, 13 anos. Juazeiro foi elevada à categoria de cidade no dia 23 de julho de 1914, pela lei n°. 1177 (SILVA e CARVALHO, 1976, p. 13).

33

Com o passar do tempo, a cidade foi se desenvolvendo de forma

espantosa, tento a figura do padre Cícero e os fatos conhecidos como Milagres

de Juazeiro, que serão mais bem aprofundados nos próximos tópicos, como

fatores primordiais na mudança da história de um povo.

3.2 A Influência do Catolicismo em Juazeiro do Norte

De alguma maneira a religião normalmente está intimamente ligada

com a história da sociedade e relacionada com as questões políticas dos

povos. Ao que nota-se a religião católica apostólica romana teve uma enorme

influência na cidade de Juazeiro.

Para SAMUEL (1997) o panorama universal da política, mostra que o

religioso se apodera da política, citandos exemplos nos países democráticos,

onde os governos tem extrema consideração pelo eleitorado religioso. O autor

segue citandos exemplos como a França, em 1984, que teve a capitulação de

um presidente socialista diante dos que ele supunha serem defensores da

escola católica. Nos Estados Unidos, durante um vasto tempo, a comunidade

judaica foi cortejada pelos candidatos à presidência. Desde 1980, o presidente

deve sua eleição e sustentação, em grande parte, à maioria moral

fundamentalista e evangélica. O governo israelense depende dos votos dos

chamados “partidos religiosos”, os ultras do judaísmo. No âmbito dos países

mulçumanos, como Marrocos, Tunísia e a Turquia, seus regimes também estão

sujeitos às pressões às vezes violentas dos extremistas religiosos. Diante

destes exemplos e vários outros que poderiam ser citados, veem-se, a religião

como um movimento atuante nas diretrizes que regem a sociedade. A religião

católica, muito difundida no mundo, historicamente teve o seu papel e opiniões

acatadas. As declarações das Igrejas, espalhadas mundialmente pelos meios

de comunicação, são acompanhadas atentamente pelos governos. Inclusive o

papado intervém indireta ou diretamente na política mundial. Diretamente,

quando João Paulo II serve de mediador entre Chile e a Argentina na questão

34

do canal de Beagle8. Indiretamente, quando suas visitas e discursos dão uma

espécie de “sinal verde” ao Solidariedade9 ou a Corazón Aquino10.

Como se percebe nos exemplos citados acima, a influência religiosa

na política está presente em várias partes do mundo e, em Juazeiro do Norte

não foi diferente, dentre as mais variadas religiões, a que impactou e

influenciou a vida política e social das pessoas de Juazeiro do Norte foi o

Cristianismo, sobre tudo a linha teológica católica apostólica romana,

sobrepondo-se as demais como veremos mais adiante.

Sobre as romarias em Juazeiro do Norte, Rios 2001, fala que visto

assim do alto mais parece um formigueiro. Uma legião de desesperados trilham

vagarosos, curvados, ajoelhados, a via sacra que dá na descomunal estátua do

milagreiro erguida no cume da Serra do Horto.

Figura 4 – Romaria em Juazeiro do Norte.

Fonte: Cariri Notícias, online, 2013 O “Milagre da Hóstia” protagonizado por Padre Cícero e a Beata

Maria de Araújo, foi preponderante para ele receber a reputação de “santo do

8 Em 1881, Chile e Argentina assinaram um acordo sobre o Canal de Beagle: a "Paz de los estrechos". Entretanto, mesmo depois da assinatura deste tratado, sempre discutiram seus limites sobre o emaranhado de ilhas que cercam o canal. Em 1978, a questão foi submetida à mediação do Papa João Paulo II. 9 Solidariedade: Foi o primeiro movimento sindical não-comunista em um país comunista. 10 Corazón Aquino: foi presidente das Filipinas entre 1986 e 1992 e líder do movimento que derrubou a ditadura em seu país.

35

povo”, a fama da cidade como “Terra da Mãe de Deus” e por consequência, o

fluxo constante das romarias à Juazeiro do Norte.

A afirmação é ratificada por Silva e Carvalho (1976) nos dizeres:

Foi no dia 6 de março de 1889, sexta-feira da quaresma, que pela primeira vez na igreja, perante centenas e centenas de pessoas, ocorreu o que mais tarde foi chamado de “Milagre de Juazeiro”, provocando romarias de todas as partes. Tão logo se espalhou a notícia, Juazeiro, então modesto povoado, tornou-se conhecido em todo o Brasil e no estrangeiro, e até hoje tem sido motivo de polêmicas, o “Milagre”. (SILVA e CARVALHO, 1976, p. 61).

Souza e Gonçalves (2004) também registraram o caso quando:

Em março de 1889, acontecia, pela primeira vez em público, o “Milagre de Juazeiro”. A hótia transmutava-se em sangue quando a beata Maria Madalena do Espírito Santo de Araújo (1863-1914) recebia a comunhão da missa celebrada pelo Padre Cícero. A partir de então, os sertanejos começaram a alimentar crenças sobre o poder miraculoso do Padre Cícero, criando rituais e narrativas em torno das forças do sagrado que aliviam os sofrimentos do viver. Desse modo, apareceram as primeiras romarias para o pequeno povoado de Juazeiro (SOUZA e GONÇALVES, 2004, p. 345).

Tal acontecimento causou uma extraordinária admiração dos

presentes, tanto que o caso foi propagado rapidamente, ultrapassando

fronteiras e atraindo muitas pessoas, de maneira nunca vista no povoado, que

ficaram com a ideia fixa que o “Milagre” era verídico.

Para SOUZA E GONÇALVES (2004), na proporção que Juazeiro

transformava-se em um polo de romarias e de desenvolvimento econômico,

Padre Cícero adquire a condição de grande dono de terras, construindo

enorme prestígio no campo da política.

No entanto a Igreja não reconheceu como milagre os acontecimentos

que atraíram a multidão e repudiou a atitude do padre de não ter feito nenhum

comunicado formal como manda o regimento da Igreja em casos dessa

natureza. Como afirmam Souza e Gonçalves:

[...] o bispo do Ceará dom Joaquim Vieira [...] seguindo os passos da burocracia canônica, a interpretação do bispo foi incisiva e autoritária: afirmou que o silêncio sobre um fato tão extraordinário era uma quebra do voto de obediência. Somente em 7 de janeiro de 1890, depois de sofrer repreensões de dom Joaquim, Padre Cícero escreve um relatório sobre os “milagres de Juazeiro”, pedindo perdão por não ter comunicado o “fato extraordinário” com maior rapidez. Argumenta

36

que sua atenção dada aos peregrinos deixava-o com pouco tempo (SOUZA E GONÇALVES, 2004, p. 349).

Sobre o assunto, (SILVA e CARVALHO, 1976) colocam que, o bispo

Joaquim Vieira solicitou que Maria de Araújo fosse retirada de Juazeiro do

Norte e trazida para a casa de Caridade do Crato para que assim, o bispo, uma

autoridade diocesana, pudesse averiguar a veracidade dos fatos. Dando um

prazo de 50 dias para que a ordem fosse atendida. No entanto, Padre Cícero

não respondeu a carta e não cumpriu a ordem. Este foi o estopim para a sua

futura suspensão da Ordem.

Souza e Gonçalves dizem que em julho de 1890, dom Joaquim

escreve carta taxativa ao Padre Cícero:

Diante a insubordinação, não pode haver milagre: “Maria de Araújo desobedeceu-me!!! Para mim, está tudo acabado, não há sobrenaturalidade nos factos acontecidos com Maria de Araújo... meu juízo está formado”. Em seguida, dom Joaquim adverte que o milagre passa a ser um assunto falso e proibido. Com isso, iniciava-se uma longa trajetória de atritos entre as autoridades da Igreja Católica e o capelão de Juazeiro. (SOUZA E GONÇALVES, 2004, p. 349).

O fato do não reconhecimento do milagre não mudou a vida dos

peregrinos, pelo contrário, o movimento aumentou cada vez mais, mesmo após

os documentos enviados por dom Joaquim, a Congregação de Santo Ofício

(em Roma), que foi negado em abril de 1894, a possibilidade de milagre em

Juazeiro do Norte. Isso acarretou na proibição das suas atividades

eclesiásticas e retirada da cidade, sendo passível de pena de excomunhão em

caso de desobediência. O Padre Cícero, obedece a decisão e se retira com

sua velha mãe paralítica e cega para Salgueiro, Pernambuco. (SILVA e

CARVALHO, 1976).

Em meio há grande polêmica e conflito causado entre a Igreja e

Padre Cícero, o catolicismo foi se fortalecendo cada vez mais na cidade

atraindo grande multidão.

Souza e Gonçalves (2004, p. 351), dizem que “para a Igreja, os

devotos de Juazeiro eram ‘fanáticos ignorantes’, que desobedeciam às ordens

do bispo e inventavam crenças sem fundamentação na doutrina católica”.

Após o Decreto que condena os milagres, Maria Araújo entra em

progressivo recolhimento, não despertando a atenção dos peregrinos. E os

37

devotos que, todos os dias, ocupam as ruas de Juazeiro, acabam escolhendo

outros lugares para suas práticas de devoção como a Matriz de Nossa Senhora

das Dores e as paredes da Igreja do Horto (SOBREIRA, 1969).

Mesmo após mais de 1 século as peregrinações continuam até hoje

e a tendência é aumentar. Conforme notícias do site do Cariri11, parte da

população deseja que o nome da cidade seja chamado de Juazeiro de Padre

Cícero. Conhecida entre os citadinos como a “capital da fé”, a cidade de

Juazeiro do Norte recebeu um número recorde de romeiros em 2011. Segundo

o secretário de Turismo e Romaria da cidade, José Carlos, 2,5 milhões de

romeiros viajaram para Juazeiro do Norte para participar das missas e festejos

religiosos. Eles são atraídos principalmente pela figura do Padre Cícero. Além

da lotação de hotéis, o comércio popular voltado para os romeiros é um

impulso para economia da cidade, de acordo com o secretário de Turismo e

Romaria, José Carlos. No entanto, a secretaria diz não ter uma estimativa do

dinheiro que as barracas de comércio fazem circular no município. “Cerca de

90% do comércio da romaria é informal, por isso temos uma grande dificuldade

em estimar quanto gera de receita. Já tentamos várias vezes fazer esse

cálculo, mas é impossível”, afirma José Carlos.

No próximo sub capítulo será abordada a vida e obra de Padre

Cícero, de uma forma mais detalhada. Isto facilitará o entendimento de como

um simples padre conseguiu transformar a vida e rotina de toda uma cidade,

ganhando cada vez mais adeptos e sendo colocado na condição de “santo” por

tantos, ao ponto de ter erguida uma das maiores estátuas do mundo em sua

homenagem.

3.3 Padre Cícero

Considerado um dos maiores e mais conhecidos santos de devoção

popular no Brasil, sobretudo no Nordeste, Padre Cícero Romão Batista foi e

perdura sendo uma figura extremamente polêmica dentro da Igreja Católica e

11 Disponível em: http://www.caririnoticia.com.br/2012/01/juazeiro-do-norte-ce-numero-recorde-de-romeiros.html Acesso em: 28 novembro 2012).

38

no meio acadêmico brasileiro. Símbolo das mais variadas formas de pesquisas

e debates acadêmicos e que levanta as mais diferentes interpretações sobre

este homem, que ganhou notoriedade pela sua devoção, que o converteu num

importantíssimo líder religioso. Como bem descreve Farias (2004):

Santo, milagreiro, visionário. Charlatão, herege, coronel de batinas. Talvez não haja em nossa história uma figura mais controvertida que Pe. Cícero Romão Batista. Entre os últimos anos do século XIX e as primeiras décadas do século passado, o patriarca de Juazeiro envolveu-se em uma série de embates políticos e religiosos que ainda hoje suscitam apaixonados debates. Não é ousado dizer que foi talvez o cearense mais conhecido de todos os tempos – sua popularidade espalhou-se por todo o país, movimentou romarias durante décadas inteiras, foi alvo de discussões no parlamento, na imprensa e nos meios intelectualizados, colocou a cúpula da Igreja Católica em situação delicada, acirrou discórdias e lutas entre facções políticas. Um homem polêmico (FARIAS, 2004, p.270).

Rios 2001, define o patriarca de Juazeiro do Norte como:

Santo, padre, chefe político ou simplesmente milagreiro, o taumaturgo de Juazeiro é uma figura polêmica, não tanto como no passado, quando perseguido por uma parte do clero que não enxergava dois palmos além das paredes da sacristia. Por inveja ou por despeito, diante da crescente projeção daquele padre que se situava além das fronteiras do Cariri, atraindo para Juazeiro milhares de romeiros e penitentes que vinham de todos os lados e ali ficavam ao redor daquele pequeno vigários, franzino e cabeçudo, de olhos claros que enxergavam longe (RIOS, 2001, p7).

Aqui serão elucidadas questões que envolvem desde a sua infância

ao homem político; e como um simples capelão transformou a história de toda

uma cidade transformando-a num importante local de peregrinação e tendo o

nome de Padre Cícero como um grande influenciador de multidões. Por fim, se

fará uma reflexão de como a cidade de Juazeiro do Norte se desenvolveu após

a sua morte e como se dá o culto a santidade do Padre Cícero, visivelmente

percebido em torno do Juazeiro e suas romarias.

Abaixo a foto do Padre Cícero já em sua velhice, já com inegáveis e

decisivas intervenções no desenvolvimento da cidade de Juazeiro e no

Nordeste

Figura 5 – Padre Cícero

39

Fonte: ULTIMOSEGUNDO, online, 2013.

Marques (1988 , p.21) falando sobre a vida de Padre Cícero escreve:

“nasceu o Padre Cícero Romão Batista na cidade do Crato, Estado do Ceará,

em 24 de março de 1844. Filho de Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência

Romana, mas conhecida como dona Quinô”. Este foi o marco inicial, de um

menino que mesmo aos olhares mais crédulos, não se imaginaria que um dia

ele marcaria tanto a história de um povo.

Silva e Carvalho (1973, p.15) dizem: “aquele raquítico nordestino

mais tarde viria assombrar todo o país, principalmente o Nordeste, graças às

caridades e às suas lutas titânicas para transmitir o que até hoje é mais

acentuadamente procuramos: paz e amor”.

Realmente a história que conhecemos hoje da cidade de Juazeiro do

Norte, coloca o Padre Cícero como o protagonista da história e o patriarca da

cidade.

Silva e Carvalho (1973), dizem que ele nasceu numa modesta e

humilde casa com piso de tijolos, situada no antigo logradouro da Rua Grande,

casa esta que pertencia ao seu tio, Antônio Romão. Seu pai era comerciante e

morreu de cólera quando Cícero tinha apenas 18 anos.�.

40

Marques (1988) diz que desde a sua tenra idade, o menino Cícero

demonstrou inclinação para as atividades religiosas, pois era muito comum vê-

lo envolvido nos trabalhos da igreja, nas orações, ajudando o vigário nas

atividades paroquiais e lendo sobre a vida dos santos. A partir dessas leituras,

o jovem Cícero inspirado na vida de São Francisco de Sales, decidiu fazer o

voto de castidade. Com a morte do seu pai, que era comerciante no município

cratense, a família passou por grandes dificuldades financeiras, interrompendo

assim, os estudos do jovem Cícero. Contudo, seu padrinho de crisma, o

coronel Antônio Luiz Alves Pequeno, foi o responsável pelo seu ingresso no

Seminário de Fortaleza.

Em 1965, aos 21 anos de idade, Cícero Romão Batista, inicia a sua

formação e após cinco anos no seminário, recebe as ordens em 1870. Em

1871, já formado, leciona em um colégio no Crato e recebe o convite de

amigos para celebrar a Missa de Natal na Capela de Nossa Senhora das

Dores, em Juazeiro, um mísero povoado formado por dois pedaços de rua e

uma capela. Para os moradores do local, era uma bênção, tendo em vista que

a exemplo de outros povoados, Juazeiro não tinha um capelão. (SOUZA e

GONÇALVES, 1965).

De acordo com o site do FIEC12 o padre visitante, jovem de apenas

28 anos de idade, estatura baixa, pele branca, cabelos louros, olhos azuis

penetrantes e voz modulada causou boa impressão aos habitantes do lugar. E

o padre também gostou do lugar. Por isso, após algum tempo, exatamente no

dia 11 de abril de 1872, o padre é enviado a Juazeiro para fixar residência

definitiva. Alguns livros afirmam que Padre Cícero resolveu fixar morada em

Juazeiro devido a um sonho (ou visão) que teve, segundo o qual, ele viu,

conforme relatou aos amigos íntimos, Jesus Cristo e os doze apóstolos

sentados à mesa, numa disposição que lembra a Última Ceia, de Leonardo da

Vinci. De repente, adentra ao local uma multidão de pessoas carregando seus

parcos pertences em pequenas trouxas, a exemplo dos retirantes nordestinos.

Cristo, virando-se para os famintos, falou da sua decepção com a humanidade,

mas disse estar disposto ainda a fazer um último sacrifício para salvar o

12 Informações presentes no Pequena Biografia de Padre Cícero. O acesso pode ser

visualizado no endereço eletrônico http://www.sfiec.org.br/noticias/padrecicero260704.htm Acesso em: 12 março 2013).

41

mundo. Porém, se os homens não se arrependessem depressa, Ele acabaria

com tudo de uma vez. Naquele momento, Ele apontou para os pobres e,

voltando-se inesperadamente ordenou: E você, Padre Cícero, tome conta

deles.

Informação esta ratificada por Souza e Gonçalves quando dizem

que:

A cada dia, cumpria sua missão: celebrar missa, receber confissões, fazer batizados, dar a extrema-unção e disseminar conselhos. Despertava admiração e respeito. Durante o resto da sua vida, ele costumava dizer que a decisão de morar em Juazeiro fora consequência da aparição de Cristo. Falava que, durante um sonho, Cristo revelara que era preciso tomar conta dos famintos do sertão. (SOUZA e GONÇALVES, 1965, p. 347).

Farias (2004, p. 271) diz que o jovem padre “não possuía a menor

intenção de ali ficar – sonhava em regressar à Fortaleza. Acabou passando

mais de 60 anos. O motivo da permanência, segundo ele próprio, fora um

sonho” aqui mencionado.

O jovem Padre interpretou o sonho como um sinal de Deus para que

se estabelecesse na cidade para cuidar daquele povo tão carente, que era

assolado pela extrema pobreza e a seca que afligia o nordeste brasileiro. diz

Farias (2004, p. 271) fala que Padre Cícero ao assumir a capelania de Juazeiro

do Norte dedicava-se em estabelecer a ordem e retirar os maus hábitos dos

habitantes da cidade, “visitava os sítios, ensinava receitas de remédios

caseiros e noções de higiene ao povo humilde e sem instrução, pregava

constantes missões, coordenava novenas, terços e procissões, multiplicava as

festas religiosas”. Desenvolvendo assim, um intenso trabalho pastoral e

ganhando respeito e admiração dos moradores que estavam assombrados

com a possibilidade do “Fim dos Tempos”, devido a seca que matou uma

multidão de pessoas no Nordeste, conforme mostra o Instituto de Pesquisas

Econômicas Aplicadas13 - (IPEA, 2007), “teve início em 1877 e durou pouco

mais de dois anos. Os efeitos foram catastróficos. Há quem estime que

doenças, fome e sede dizimaram mais da metade da população do Ceará, que

13 Informações disponíveis no site: http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=1214:reportagens-materias&Itemid=39 html acesso em: 04 de junho de 2013.

42

tinha 800 mil habitantes”. O cenário causou perplexidade nas pessoas da

época.

Inicialmente, Padre Cícero, era muito pobre. Benfeitores e amigos

ricos tinham o costume de presenteá-lo com batinas, sapatos e até pagamento

de corte de cabelo, fala-se ainda que a miséria era tão grande, que sua mãe de

tempos em tempos, mandava pessoas pedir esmolas para mendigar e fornecer

o sustento da família (FARIAS, 2004).

Padre Cícero começou a ficar conhecido a partir de 1889, após os

milagres envolvendo a beata Maria de Araújo, de acordo com Souza e

Gonçalves (2004, p.348-49), “pensava-se que Padre Cícero poderia realizar

curas e aliviar os sofrimentos do viver. A religiosidade se fazia como tática de

sobrevivência. Em outros termos: a vivência do sagrado fornecia sentidos para

o entendimento do mundo”.

No entanto, ao passo que o padre tornava-se conhecido no

catolicismo popular, para a igreja, ele tornava-se infame e que toda história que

o envolvia era uma falácia. Segundo Souza e Gonçalves (2004, p.249), “dom

Joaquim adverte que o milagre passa a ser um assunto falso e proibido. Com

isso iniciava-se uma longa trajetória de atritos entre as autoridades da Igreja

Católica e o capelão de Juazeiro”.

Ainda de acordo com (SOUZA E GONÇALVES, 2004), a decisão de

dom Joaquim, bispo do Ceará, foi respaldado pela Congregação do Santo

Ofício em Roma. Para a Igreja, os devotos que insistiam na crença no Padre,

foram taxados de “fanáticos ignorantes” baseados em fundamentações

religiosas em desacordo com a doutrina católica. Padre Cícero tinha plena

convicção de que os “milagres” realmente eram verdadeiros e alegava que a

documentação enviada por dom Joaquim a Roma, não havia permitido uma

avaliação mais profundas sobre os fatos de Juazeiro, o que levou o Padre

Cícero a trabalhar por uma revisão do processo, no entanto, o resultado do

esforço não agradou o padre, que teve a apelação rejeitada, além de ser

convidado a se retirar da cidade de Juazeiro no prazo máximo de dez dias.

Sentença esta que deixou o Padre em uma situação inesperada, foi se refugiar

em Salgueiro, uma cidade do interior pernambucano.

Silva e Carvalho (1973, p.76) descrevem que:

43

Em Salgueiro, onde permaneceu 80 dias, sofreu grandes calúnias, inclusive foi chamado de aliciador de ‘homens de bacamarte’, para enfrentar os soldados da lei do Governo Federal para a revolução de Canudos, chefiados por Antônio Conselheiro

Segundo (FARIAS, 2004), o momento de partida do Padre Cícero é

marcado por muita emoção, sertanejos de todos os locais, o esperam na

estrada e o acompanham até a cidade seguinte. Nesta época estava no ápice a

campanha contra Canudos, desde modo, a imprensa e outras autoridades,

declararam que Padre Cícero era o “novo Antônio Conselheiro”14. O Padre

passava a ser um enorme perigo à segurança nacional. No entanto, os sertões

se levantaram em favor do Padre. Coronéis, juízes, curas, chefes de polícia de

Salgueiro e outros locais acabaram desmentindo o boato.

O caso não abalou suas esperanças, e ainda alimentou o anseio de

ir a Roma, interceder pelo seu caso, na tentativa de reaver o direito de celebrar

missa em Juazeiro.

Segundo Rios (2001, p.46),

o velho taumaturgo embarca para a cidade eterna onde chegou a 25 de fevereiro, permanecendo ali nove meses. No dia 1° de setembro, perante a Congregação do Santo Ofício, fez o ato de submissão e obediência aos direitos da Igreja recebendo autorização para voltar a Juazeiro. Anistiado de seu exílio em Salgueiro podia efetuar certos atos religiosos.

Souza e Gonçalves (2004, p. 353) destacam que

de acordo com a Santa Fé, Padre Cícero está perdoado, mas continua proibido de manifestar qualquer opinião sobre “os fatos de Juazeiro”. De volta ao Ceará, recebe de dom Joaquim a licença para novamente celebrar a missa, menos em Juazeiro e arredores.

Padre Cícero passou a adotar a política de silêncio sobre os “fatos de

Juazeiro”, apesar de impedido de exercer as atividades sacerdotais, ele nunca

deixou de manter contato com os fiéis.

Segundo Souza e Gonçalves (2004, p. 353), “ao cair da tarde,

costumava aparecer à janela de sua casa para dar bênção aos romeiros”.

14 Antônio Conselheiro – foi um líder religioso brasileiro que adquiriu grande projeção ao liderar o arraial de Canudos, um pequeno vilarejo no sertão da Bahia, que prospectou vários adeptos sertanejos, entre camponeses, índios e escravos recém-libertados, e que por fim, foi destruído pelo Exército da República, sendo conhecido historicamente como a Guerra dos Canudos.

44

Essa atitude do Padre fez com que ele ganhasse ainda mais

prestígio e devoção entre os fiéis. Farias (2004. p. 277), diz que “cria-se o mito

de que quem estivesse na defesa do padre teria o ‘corpo fechado’”.

O bispo não percebia que suas ações só fortaleciam a unidade dos fiéis em torno de Juazeiro, dispostos a tudo para proteger o seu “injustiçado padim”. Fortalecia-se cada vez mais o catolicismo popular, enquanto aumentava a indignação contra a alta hierarquia ecresiática” (FARIAS, 2004. p. 277).

No entanto, a intransigência do então bispo do Ceará, foi diminuindo

as possibilidades do regresso do padre as suas atividades sacerdotais, o que

levou a vida do Padre Cícero a tomar novos rumos. Rios, (2001, p. 53) assinala

que “o Padre Cícero passou de humilde santo ao plano de figura política de

projeção nacional”.

Teixeira (2004, p. 70), diz que “nos anos seguintes, Padre Cícero iria

se tornar um dos líderes políticos mais influentes da história da região

nordestina. Seu movimento antes religioso, tornou-se, também, político”.

Souza e Gonçalves (2004, p. 354), mostram que logo o Padre Cícero

consegue articular a independência de Juazeiro, “em 1911, ele assumiu o

cargo de primeiro prefeito de Juazeiro”. Ocasião esta que foi possível devido ao

fato que “em 22 de julho de 1911, a Assembléia Legislativa do Ceará através

da Lei n° 1028, em sessão presidida pelo deputado Belizário Cícero

Alexandrino, elevou o distrito para a categoria de cidade e sede de município”

A Igreja decreta a excomunhão do Padre Cícero, situação que foi

revelado somente a padre Cícero, Teixeira (2004. p.78) diz que:

é fácil supor o grande trauma psicológico que sofreu Padre Cícero ao tomar conhecimento desse decreto de excomunhão. Dedicara toda a sua vida à Igreja Católica, e acreditava verdadeiramente, que somente em seu seio haveria salvação espiritual. E isto foi acontecer já no ocaso de sua vida, aos seus 76 anos de idade.

No entanto, Teixeira (2004, p. 74), mostra que “em 1924, ao

completar 80 anos, Padre Cícero tornou-se presa freqüente de enfermidades

que lhe obrigaram a um relativo afastamento político e social”.

45

De acordo com (RIOS, 2001), doente e quase cego, ele se vê

obrigado a restringir suas atividades: orava muito, recebia amigos e dava sua

bênção diária aos romeiros.

Teixeira (2004, p. 79) ressalta que o padre ajudava “seu povo de

todas as maneiras possíveis, até que morreu aos 90 anos de idade já

completados, no dia 20 de julho de 1934, cercado do carinho de sua gente”.

Farias (2004, p.287) relata que:

Mais de 60 mil pessoas acompanharam o cortejo fúnebre com grande emoção. O corpo foi enterrado no altar da capela de N. Senhora do Perpétuo Socorro [...] muitos chegaram a pensar que com a morte do patriarca seria também o fim de Juazeiro. Não foi. Os interesses econômicos em torno da memória de Pe. Cícero salvou a cidade.

Teixeira (2004, p. 74), afirma ainda que:

Atualmente, podemos dizer que a participação na política de Padre Cícero foi antes circunstancial do que vocacional. Não o movia o desejo político. A partir da sua suspensão de ordens eclesiásticas em 1896 nada mobilizou mais o Patriarca do que o desejo de recuperá-las.

Padre Cícero trouxe grande progresso para a cidade de Juazeiro,

Teixeira (2004, p. 69), fala que “por volta de 1910 Juazeiro já era

suficientemente forte para competir com seus poderosos vizinhos, Crato e

Barbalha”.

Farias (2004) ressalta que depois de sua morte, foi construída a

estátua gigante, no local onde o padre realizava seus retiros espirituais.

Juazeiro também abriga o Museu do Padre Cícero (última casa em que morou),

o Memorial e a Casa dos Milagres, com centenas de ex-votos de pessoas que

obtiveram graças por meio do padre, além da Capela de Nossa Senhora do

Perpétuo Socorro, onde está enterrado.

De acordo com Paiva (2013), o religioso, que é cultuado como santo

no Nordeste ficou esquecido pela Igreja Católica até quando o cardeal Joseph

Ratzinger, conhecido como o papa Bento XVI, mandou abrir um processo para

estudar seu caso e reunir documentos que poderiam levar a sua canonização

oficial, caso que não se concretizou. Ainda segundo Paiva, alguns escritores

especulam a propensão do atual papa Francisco em abrir as portas para o

46

reconhecimento e valorização do padre Cícero. Os peregrinos que acorrem a

Juazeiro certamente não precisam esperar essa data para glorificar o seu

santo.

A trajetória desse homem polêmico, para muitos “padim Ciço”, foi

marcada por grandes polêmicas, autores muitas vezes divergem no conto das

histórias, alguns o têm como uma grande farsa e manipulador, outros o têm

como um santo salvador. Mas o que não se pode negar é o fato de que sua

contribuição para o desenvolvimento da cidade de Juazeiro do Norte, hoje

conhecida mundialmente, foi indubitavelmente relevante.

47

4 RELAÇÃO ENTRE RELIGIÃO E GLOBALIZAÇÃO

Para que se possa fazer uma analogia entre religião e globalização,

faz-se necessário deixar clara a idéia de globalização. ibanio (2010), em seu

site15, diz que a “globalização se apresenta como força incoercível que conduz,

sem gestão política, os destinos das nações por obra dos detentores e

manipuladores dos grandes capitais”.

Já Quartas (2001, p.6) ressalta que globalização é uma “expressão

geral que representa tudo aquilo que se internacionaliza”.

O período da globalização, marca da entrada do novo milênio, traz

consigo os avanços científicos e tecnológicos que a humanidade vem

acrescentando ao logo de sua história. Dollfus (1999, apud Quartas, 2001, p.8),

ratifica esta ideia quando afirma que

A globalização é a aldeia mundial ligada à aproximação dos homens e dos espaços pela abolição da distância e pela generalização da informação; são ainda as barreiras que caem [...] é o intercâmbio generalizado entre as diferentes partes do planeta, sendo então o espaço mundial espaço de transação da humanidade. O mundo é hoje o ambiente de todos os espaços, infiltra-os, investe-os e, em troca, alimenta-se deles: o seu especo é então um espaço único que engloba todos os outros.

O turismo apropria-se dessa globalização para dinamizar-se,

tendo em vista suas peculiaridades características, o turismo permite melhor

distribuição dos seus recursos e, segundo Barreto (2003, p. 74), “é capaz de

produzir impactos de forma direta ou indireta em cerca de 53 itens da economia

de uma localidade, além da implícita capacidade de dinamizar significativos

setores produtivos em diferentes lugares”.

Para Soares (2007, p.64), “o Turismo é comumente associado à

globalização – à intensificação dos fluxos turísticos internacionais e à queda

das fronteiras culturais promovidas pelo encontro entre o visitante e o visitado”.

Santos (2002, apud Soares, 2007, p.64), afirma que:

15 Libanio - João Batista Libanio (Belo Horizonte, 1932 -) é um respeitado padre jesuíta, escritor e teólogo brasileiro. Informações obtidas no site: http://www.otempo.com.br/opini%C3%A3o/jo%C3%A3o-batista-lib%C3%A2nio/democracia-e-globaliza%C3%A7%C3%A3o-adeus-democracia-1.217753. Acesso em: maio de 2013.

48

Partindo-se dessa consideração, a globalização se torna um simples processo de interações transfronteiriças e transnacionais, de sistemas de produção, de transferências financeiras, de disseminação do uso de informação e da tecnologia, e até dos deslocamentos de pessoas em escala mundial.

Diante dessas considerações, deve-se levar em consideração que o

turismo deve ser tratado como modelo de avanço localizado que objetiva não

somente o acréscimo de indicadores econômicos, como também um processo

dinamizador, que faz uso da comunidade como principal instrumento, na busca

pela melhoria da qualidade de vida do todo.

Segundo Brasil (2010, p. 9),

O comportamento do consumidor de turismo vem mudando, e com isso, surgem novas motivações de viagens e expectativas que precisam ser atendidas. Em um mundo globalizado, onde se diferenciar adquire importância a cada dia, os turistas exigem, cada vez mais, roteiros turísticos que se adaptem às suas necessidades, em situação pessoal, seus desejos e preferências.

De acordo com essas considerações, cabe mencionar que o

visionário Padre Cícero, que não sabia o que era globalização na época, de

acordo com Teixeira (2004, p.79), “em seu testamento pede aos romeiros de

todos os lugares que continuem freqüentando Juazeiro. Eles o têm atendido.

As romarias ao Juazeiro são cada vez maiores, a cidade tem experimentado

um franco progresso”.

Padre Cícero morreu, mas sua memória não. Segundo o site oficial

de Juazeiro do Norte,16 foi esculpido em sua homenagem um monumento com

27 metros de altura pelo artista plástico Armando Lacerda em 1969, foi

inaugurado no mesmo ano, no dia 1° de novembro, na Colina do Horto pelo

então prefeito Mauro Sampaio. A estátua conta com 27 metros de altura, e se

constitui na terceira maior do mundo em concreto.

Obras dessa magnitude ganharam repercussão pelo mundo e,

atualmente, os veículos de comunicação de massa como televisão e internet

fazem parte do cotidiano das pessoas.

16 Apresentação da cidade de Juazeiro – A Estátua de Padre Cícero.

http://www.juazeiro.ce.gov.br/Cidade/Estatua-de-Padre-Cicero /Acesso em: 28 novembro 2012).

49

Falando sobre alguns elementos da globalização Pignatari (2003,

apud Bessa, 2007, p. 139), afirma que:

Vivemos no mundo da informação, da comunicação, da imagem. O mundial e o nacional, o social e o particular moldam-se por essa situação. Por trás de tudo isso está o computador e a Internet. Nossa sobrevivência depende do entendimento desse fenômeno.

A partir dessa compreensão, é notado que Juazeiro do Norte, está

aberta para esta tendência global, no que diz respeito a veiculação de sua

imagem para outras partes do mundo e para o processo de mundialização do

Padre Cícero. A temática religiosa em um país extremamente devoto e crédulo

pode ser muito lucrativa. Abaixo a imagem que representa de maneira

objetiva a influência da globalização entre Juazeiro do Norte e o mercado da

China.

Figura 7 - Jony Wang: comerciante chinês fatura alto com as estatuetas de Padre Cícero e se diz pronto para patentear outros santos brasileiros

Fonte: http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/5815_PADIM+CICO+MADE+IN+CHINA 2010.

Até pessoas de fora de Juazeiro começam a perceber essa

oportunidade, como por exemplo, um chinês de Taiwan radicado no Ceará há

dez anos. Uma reportagem da revista “Isto é Dinheiro”17 destacou que Jony

17 Reportagem veiculada na revista Isto é Dinheiro, por Tom Cardoso. Conteúdo disponível em: http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/5815_PADIM+CICO+MADE+IN+CHINA . Acesso em: 12 de maio de 2013.

50

Wan Kai, o empresário, morava em Fortaleza e estava em viagem a Juazeiro

fazendo uma pesquisa sobre as romarias ali existentes para o seu trabalho de

conclusão de curso da faculdade, registrou em uma romaria a reza de Nossa

Senhora das Candeias, acabou levando para a China e de lá saem milhares de

estatuetas do Padre Cícero contendo um chip e um botão que acionado sai da

imagem a reza de Nossa Senhora das Candeias.

O chinês comercializa imagens do Padre Cícero que são importadas

aos milhares da China vindo em contêineres pelo porto do Pecém, a cerca de

60 quilômetros de Fortaleza e fatura milhões com a mercantilização da fé. O

empresário de visão percebeu o imenso potencial mercado das romarias em

torno do Padre Cícero, que reúne cerca de 2,5 milhões de fiéis e teve a idéia

de aproveitar todo esse potencial para ganhar muito dinheiro, mesmo não

sendo devoto do santo que o fez próspero, Padre Cícero.

Através dessa experiência, pode-se vê como a globalização liga

pessoas, culturas e lugares tão distantes, que sem o recurso da tecnologia, não

seria fácil unir, através de transações comerciais, dois mundos totalmente

distintos em lugares completamente opostos, China e Juazeiro. Esse é o

mundo moderno, o mundo globalizado do mercado religioso que empresta

elementos do sertão do Nordeste brasileiro ao mundo, graças ao “milagre” do

mercado capitalista.

O fenômeno da globalização das economias e também a

internacionalização dos negócios fez com que os mercados estrangeiros

passassem a se tornar alvos estratégicos para empresas que atuavam

exclusivamente em mercados domésticos.

Ainda no tocante a utilização da imagem como um marketing que

pode atualmente ser usado, como forma de divulgação no mundo inteiro,

Aristarco (1990, apud Bessa, 2007, p. 139) diz que “é, sobretudo, essencial que

saibamos captar o novo mundo moldado pelas imagens eletrônicas”.

Juazeiro do Norte antenado ao processo de globalização e

oportunidade de grande marketing, se prepara para colocar em prática um

projeto audacioso. Segundo veiculação de notícias em alguns jornais, como o

51

Jornal Diário do Cariri (2013)18, um letreiro com os dizeres “Juazeiro Capital da

Fé” será construído próximo a estátua de Padre Cícero, na Colina do Horto, em

Juazeiro do Norte. O letreiro que teve inspiração no letreiro de “Hollywood” está

orçado em 1,47 milhão, tendo a extensão de 187 metros de largura e 14 metros

de altura em placas de aço. A obra tem o objetivo de impulsionar ainda mais o

turismo religioso no município. Há quem discorde do gasto, achando um custo

desnecessário. Como podemos observar na imagem de computação gráfica

apresentada abaixo:

Figura 7 – Projeto com a visão do letreiro “Juazeiro Capital da Fé”.

Fonte: http://www.diariodocariri.com/noticias/juazeiro-do-norte/38673/ 2013.

Diante dessas considerações Soares (2007, p. 66), diz que “o

turismo ‘globalizado’ torna-se ferramenta para alcançar novos patamares de

18 Informação publicada em 22 de maio de 2013. Disponível em: http://www.diariodocariri.com/noticias/juazeiro-do-norte/38673/ Acesso em: 02 de junho de 2013.

52

competitividade, que, consequentemente, proporcionaram uma série de

benefícios aos núcleos turísticos”.

O que se pode ver em Juazeiro do Norte, é uma cidade globalizada,

que recebe turistas não somente do Brasil, mas também do mundo, em seu

próprio aeroporto e rodoviárias, que traz uma multidão impressionante todos os

anos através de agências de viagens, grupos católicos e pessoas que viajam

por conta própria mesmo, motivadas pelas mídias incluindo a grande rede

mundial, a internet.

53

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora exista atualmente no Brasil um perfil considerado de turistas

do segmento religioso, ainda há a necessidade de haver um maior

compromisso por parte dos governantes e da iniciativa privada em promover e

desenvolver projetos de qualidade, que priorizem não somente a qualidade de

vida dos turistas, como também dos moradores do local, onde haja uma

possibilidade de troca de experiências entre o residente e o visitante, tornando

a atividade turística algo bem mais proveitoso.

Embora muitos ainda não tenham aberto os olhos, o setor do turismo

religioso ganhas cada vez mais simpatizantes e adeptos pelo Brasil, daí a

necessidade de elaborar projetos que contemplem meios de a comunidade

local mostrar a sua religiosidade do ponto de vista a partir da leitura da cidade,

vistam como forma de organização social, deixando o turismo muito mais

atraente e peculiar. A partir do turismo religioso as pessoas também pode se

motivar para a prática de outras modalidades de turismo, pelos atrativos e

conforme as boas condições de infraestrutura.

Através o estudo do tema abordado, foi possível compreender como

a formação e desenvolvimento da cidade de Juazeiro do Norte, onde a religião

está intimamente ligada a história do lugar e o qual é a principal base de

estruturação da cidade, o que é o turismo religioso para a comunidade local,

expressando as suas particularidades em termos sociais e culturais que dão

um formato de uma identidade local religiosa, quais os impactos de ordem

sócio-econômico para o local e as perspectivas de futuro.

Diante de toda a história que a cerca, cabe a reflexão de como pode-

se imaginar como, provavelmente, seria, atualmente o município de Juazeiro se

alguns fatos, como os “milagres de Juazeiro”, não tivessem acontecido. Será

que a dependência da fé é valida para a construção de uma cidade tão

desenvolvida? Ou até que ponto a fé é vista como fé, propriamente dita,

mediante aos interesses econômicos?

Tem este trabalho o objetivo de dar entendimento do significado

sócio-econômico das atividades turísticas para a cidade de Juazeiro do Norte,

atento para a produção do conhecimento, dando uma parcela de contribuição

para a manutenção do município como grande pólo do turismo religioso.

54

Através das entrevistas realizadas com residentes, turista e

comerciantes da cidade de Juazeiro, constatou-se que na construção do

desenvolvimento local que contempla diversos fatores, a religiosidade do povo

que ali estão é tão grande e tão forte, que a cidade cresceu de forma

desordenada, e apesar de ser uma cidade desenvolvida se comparada as

outras que a cercam, ainda há uma discrepância grande em termos de

distribuição de renda. Por isso, cria-se um desafio para os governantes do

município de Juazeiro que proponham projetos para atingir as perspectivas

desejadas do coletivo como um todo, cuja visão pode ser alcançada a partir de

uma nova visão integrada de desenvolvimento turístico regional que envolva

compartilhamento do conhecimento adquirido.

55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Paulo: Ática: 2000.

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rev. atualiz.Campinas – SP: Papirus, 2003.

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Paulo: Editora SENAC, 2007.

BESSA, Pedro Pires. Literatura, televisão, globalização,

transdiciplinaridade e internet. Verbo de Minas, Minas Gerais, v.6, n.11/12,

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CHAVES, Gilmar – Organizador. Ceará de corpo e alma: um olhar

contemporâneo de 53 autores sobre a terra da luz. Rio de Janeiro: Relume

Dumará / Fortaleza, CE: Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e

Antropológico), 2002.

DIAS, R.; SILVEIRA, E. J. S. (Org.) Turismo Religioso: ensaios e reflexões.

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58

Anexo 1 – Questionário aplicado a nacisdo em Juazeiro do Norte

Domingos Saulo da Mata, 64 anos, nascido em Juazeiro do Norte, morador de

Fortaleza, Ceará

P - O senhor vai sempre a Juazeiro do Norte?

R – Sim, sempre que posso vou, pois lá estão minhas raízes e tenho parentes

lá ainda.

P – O que o senhor tem a falar sobre o Padre Cícero?

R – Eu mesmo não vi ele em pessoa né... mas meu pai chegou a vê. Desde

quando me entendo por gente sei que ele faz milagre.

P – O Senhor considera Padre Cícero um santo?

R – Considero sim, sem dúvida ele é.

P – O senhor é devoto de Padre Cícero? Desde quando?

R – Com certeza! Sou devoto há muitos e muitos anos

P – O senhor já alcançou alguma graça através do Padre Cícero?

R – Já sim, ele me ajuda muito. Tenho um filho que vivia errado, fazendo

coisas erradas, envolvido com drogas, essas coisas. E eu e minha esposa

sempre fazia prece pro meu padim tirar ele dessa vida. Hoje ele saiu dessa

vida, tá trabalhando e com rumo na vida.

P – O que representa o Padre Cícero para o Senhor? Qual o seu sentimento

quando o Senhor vai a Juazeiro?

R – Eu sinto assim, uma felicidade grande, eu fico contente, não sei explicar.

Antigamente meus pais sofreram, era uma cidade pobre, eu não sei o que seria

da cidade se não fosse o meu padim. Hoje aqui tá tudo desenvolvido, tem

muita gente que vem aqui por causa da fé. Hoje muita gente tem emprego por

causa de Padre Cícero.

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Anexo 2 – Questionário aplicado a turista em Juazeiro do Norte

Francisco Edson Fernandes da Silva, 27 anos, morador de Natal.

P – Você vem sempre a Juazeiro do Norte?

R – É a primeira vez que venho aqui, estou encantado.

P – O que motivou sua vinda a cidade de Juazeiro?

R – Vim com um grupo de amigos, já havíamos preparado esta viagem com

antecedência, pois fazemos parte de um grupo de renovação carismática e

sempre gostamos da história dessa cidade também somos devotos de Padre

Cícero. Hoje tivemos a oportunidade de conhecer está cidade maravilhosa.

P – O que significa o Padre Cícero pra você?

R – acho que ele é uma alma iluminada, um dos santos de Deus com certeza,

os milagres que ele fez e ainda faz hoje em dia é a prova de que ele realmente

é um santo.

P – Você já alcançou algum milagre através dele?

R – A vida em si é um milagre, não tive tantas dificuldades até hoje que só um

milagre daqueles como os de cura pudesse resolver. Mas atribuo a Deus e a

Padre Cícero e todos os santos de Deus a minha existência.

P – Qual o seu sentimento de está aqui hoje?

R – Chego até a me arrepiar. É muita emoção. É um sentimento de felicidade

indescritível. Muita emoção mesmo. É sentir que através dele e com muita fé e

muita oração vou ter vitória em todas as áreas da minha vida.

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Anexo 3 – Questionário aplicado a morador e comerciante de Juazeiro do

Norte

Sebastião Mariano Batista – 48 anos, morador de Juazeiro, comerciante.

P – Há quanto tempo você comercializa aqui?

R – Vou completar 20 anos anos já.

P – O que le motivou a trabalhar aqui?

R – Trabalhar pra mim mesmo né, sem depender de patrão e fazendo o que eu

gosto.

P – O que você comercializa aqui?

R – Eu vendo tudo de artigos religiosos, desde teços até a imagem do Padre

Cícero

P – Além de comercializar, você também é devoto de Padre Cícero?

R – Com todas as minhas forças. Eu e minha família e ai de quem falar mau

dele na minha frente.

P – O que significa Padre Cícero para você.

R – Ele representa tudo pra mim.