Centro de Voluntários

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Cynthia Paes de Carvalho & Miguel Darcy de Oliveira - Programa Voluntários - Conselho da Comunidade Solidária CENTROS DE VOLUNTÁRIOS: transformando necessidades em oportunidades de ação Cynthia Paes de Carvalho Miguel Darcy de Oliveira FICHA TÉCNICA Programa Voluntários do Conselho da Comunidade Solidária Núcleo de Coordenação : Miguel Darcy de Oliveira Conselheiro da Comunidade Solidária Mónica B.G. de Corullón Coordenadora do Programa Voluntários Alexandre Mac Dowell Consultor de Marketing e Comunicação Francisco de Almeida Lins Assessor de Imprensa Rua Benjamin Egas, 66 - sala 3 - Pinheiros 05418-030 São Paulo - SP Telefax: (011) 853-8300 site: www.uol.com.br/voluntarios Material produzido com recursos da Cooperação Técnica Não Reembolsável No. ATNSF-5413-BR. Programa Comunidade Solidária: Parceiras entre a Sociedade Civil

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CENTROS DE VOLUNTÁRIOS: transformando necessidades em oportunidades de ação.Programa Voluntários do Conselho da Comunidade Solidária.

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  • Cynthia Paes de Carvalho & Miguel Darcy de Oliveira - Programa Voluntrios - Conselho da Comunidade Solidria

    CENTROS DE VOLUNTRIOS:

    transformando necessidades

    em oportunidades de ao

    Cynthia Paes de Carvalho Miguel Darcy de Oliveira

    FICHA TCNICA Programa Voluntrios do Conselho da Comunidade Solidria Ncleo de Coordenao: Miguel Darcy de Oliveira Conselheiro da Comunidade Solidria Mnica B.G. de Corulln Coordenadora do Programa Voluntrios Alexandre Mac Dowell Consultor de Marketing e Comunicao Francisco de Almeida Lins Assessor de Imprensa Rua Benjamin Egas, 66 - sala 3 - Pinheiros 05418-030 So Paulo - SP Telefax: (011) 853-8300 site: www.uol.com.br/voluntarios Material produzido com recursos da Cooperao Tcnica No Reembolsvel No. ATNSF-5413-BR. Programa Comunidade Solidria: Parceiras entre a Sociedade Civil

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    e o Estado. Conselho da Comunidade Solidria, com o apoio e financiamento do BID FBB e UNESCO.

    NDICE

    Prefcio - Miguel Darcy de Oliveira Apresentao - Cynthia Paes de Carvalho

    O que e o que faz um Centro de Voluntrios

    Caminhos e jeitos de fazer

    1o Passo: Tomando a iniciativa 2o Passo: Olhando em volta Identificando necessidades sociais locais Conhecendo as iniciativas e os recursos disponveis 3o Passo: Criando condies para comear Estabelecendo uma estrutura mnima inicial A equipe que d vida estrutura Criar uma nova estrutura ou desenvolver um programa dentro de uma instituio j existente 4o Passo: Transformando necessidades em oportunidades de ao

    PROMOVENDO O VOLUNTARIADO Combinando demanda e oferta * o cardpio de oportunidades * o cadastro de voluntrios * o encaminhamento de voluntrios Estimulando e organizando aes voluntrias

    FORTALECENDO O VOLUNTARIADO

    Formao para voluntrios e instituies * atividades com voluntrios * atividades com instituies Informao: divulgando o novo conceito de voluntariado 5o Passo: Ampliando recursos Construindo parcerias Construindo a sustentabilidade da ao 6o Passo: Redesenhando caminhos Planejando a ao Priorizando aes e estabelecendo metas e prazos Revisando metas, meios e resultados 7o Passo: Compartilhando e aprendendo Endereos dos Centros

    Agradecimentos

    Dicas & Ferramentas 2Possibilidades de Trabalho Voluntrio; 2 Exemplos de fichas de cadastro; 2 Lei do Servio Voluntrio; 2 Dicas para elaborao de Projetos e Propostas.

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    Prefcio Centros de Voluntrios - transformando necessidades em oportunidades de ao uma publicao do Programa Voluntrios do Conselho da Comunidade Solidria no marco de seu programa de fortalecimento da sociedade civil no Brasil. A sociedade brasileira , hoje, mais aberta, diversificada, informada e participante do que em qualquer outro momento de nossa histria. No Brasil contemporneo, o exerccio da cidadania no se limita ao voto mas se prolonga numa participao mltipla e quotidiana dos cidados na administrao de sua cidade, na melhoria da qualidade de vida no seu bairro, na escola, no hospital, na biblioteca, no museu, enfim onde houver um trabalho de interesse pblico, seja ele de iniciativa de uma organizao da sociedade civil, de um rgo de governo ou de uma empresa. Neste contexto, o voluntariado, sempre presente na tradio brasileira, est passando por um processo profundo de transformao e revalorizao. Historicamente circunscrito ao ambiente religioso, motivado que era pelos valores da caridade, compaixo e amor ao prximo, o conceito hoje se alarga com a incluso de todos aqueles para quem voluntariado expresso da participao cidad. Movido por uma tica da solidariedade, voluntrio quem doa tempo, trabalho e talento para causas de interesse social e comunitrio. O voluntariado que nasce deste encontro da solidariedade com a cidadania no substitui o Estado nem se choca com o trabalho remunerado mas exprime, isto sim, a capacidade da sociedade de assumir responsabilidades e de agir por si mesma. No Brasil contemporneo, voluntariado no s o trabalho assistencial de apoio aos grupos mais vulnerveis da populao. Inclui as mltiplas iniciativas dos cidados nas reas de educao, sade, cultura, defesa de direitos, meio ambiente, esporte e lazer. O trabalho voluntrio tambm, cada vez mais, uma via de mo dupla: no s generosidade e doao mas tambm abertura a novas experincias, oportunidade de aprendizado, prazer de se sentir til, criao de novos vnculos de pertencimento, afirmao do sentido comunitrio. Este novo voluntariado uma realidade ainda pouco visvel e valorizada. Dar a ver a riqueza e diversidade das experincias j em curso de trabalho voluntrio um primeiro passo. Mas, sobretudo, preciso criar condies para aproveitar o potencial de solidariedade latente na sociedade. Muitos mais estariam dispostos a participar se encontrassem os canais adequados para faz-lo. Promover e fortalecer o voluntariado no Brasil o objetivo do Programa Voluntrios do Conselho da Comunidade Solidria. Lanado em 1997, este programa est incentivando e apoiando a implantao de centros de voluntrios por todo pas. A misso bsica de um centro de voluntrios mobilizar pessoas e recursos para encontrar solues criativas para problemas comunitrios. Em uma frase: transformar necessidades sociais em oportunidades de ao voluntria.

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    Dois anos aps o incio do programa, 14 centros j esto em funcionamento em 11 estados da federao e em Braslia. Enraizados na realidade de sua cidade, cada centro uma iniciativa autnoma, cuja forma e substncia so definidas por seus promotores em dilogo com mltiplos parceiros locais. Este primeiro guia brasileiro sobre centros de voluntrios rene e sistematiza as lies que esto sendo aprendidas neste processo indito de construo de um novo tipo de organizao da sociedade civil. Expresso de uma aventura coletiva e sntese de um percurso de trabalho, Centros de Voluntrios - transformando necessidades em oportunidades de ao uma obra aberta. Ferramenta posta disposio de todos os que j esto empenhados ou queiram se envolver no desafio de oferecer ao maior nmero possvel de brasileiros novas oportunidades para a concretizao de sua generosidade e desejo de participao.

    Miguel Darcy de Oliveira

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    Apresentao Foi com grande satisfao que aceitei o convite do Programa Voluntrios do Conselho

    da Comunidade Solidria para elaborar este guia de orientao para criao de Centros de Voluntrios. Desde o primeiro momento fiquei encantada com a proposta, sobretudo pelo desafio de resgatar a histria destas iniciativas no Brasil da qual eu havia participado no Rio de Janeiro.

    Este trabalho procurou extrair da riqueza e diversidade das experincias realizadas,

    lies teis a futuros grupos que desejem organizar servios semelhantes e liderar a promoo do voluntariado em suas cidades. Por isso, o processo de elaborao do guia foi especialmente desenhado para captar as especificidades das diferentes trajetrias de constituio dos Centros e suas variadas tramas locais de vontades e contextos. O desafio consistia em retratar um movimento em curso e ao mesmo tempo sistematizar os aprendizados dessa pluralidade de caminhos e jeitos de fazer um Centro de Voluntrios para orientar novas iniciativas. Miguel Darcy de Oliveira coordenou, desde o incio, todo o empreendimento, com sua experincia e amplo conhecimento da temtica a nvel nacional e internacional. Sua participao, tanto na concepo geral da proposta, como em muitos momentos da redao, foi decisiva para chegarmos ao texto final. Inicialmente reuni o material disponvel junto ao Ncleo de Coordenao do Programa Voluntrios para construir uma proposta de roteiro e um questionrio, de forma a obter e aprofundar as informaes sobre a trajetria dos Centros nas diferentes cidades. O questionrio foi em seguida enviado a cerca de cinqenta pessoas que haviam tido uma expressiva contribuio nesses processos. Durante os meses de junho e julho foram realizadas mltiplas entrevistas, algumas pessoalmente e outras por telefone, bem como visitas a algumas cidades. Somei assim quase vinte horas de histrias, depoimentos e reflexes gravadas, alm das respostas aos questionrios e inmeros contatos e conversas informais com membros das equipes dos diversos Centros. Complementando este esforo, o Programa Voluntrios promoveu um seminrio no incio de agosto, no qual discutimos as linhas gerais do trabalho com alguns dos entrevistados e consultores. Nesse perodo tive acesso tambm a publicaes de outros pases, em especial da Points of Light Foundation dos EUA, que complementaram a anlise e a sistematizao dos aprendizados da experincia brasileira com os de outros lugares. Os meses seguintes foram dedicados compilao e processamento das entrevistas e questionrios. A anlise foi realizada em torno dos eixos temticos j definidos, que se constituram num auxlio valioso para operar as difceis escolhas dos recortes a realizar no extenso e complexo material sobre o qual seria construdo o texto. Ao longo de todo o trabalho, foi fundamental a colaborao carinhosa e atenta de Mnica Corulln que, alm de subsidiar e apoiar os contatos com as equipes dos Centros, contribuiu efetivamente com crticas e sugestes valiosas para a concepo e redao do texto. Pessoalmente, esta foi tambm uma oportunidade muito especial para sistematizar minha prpria vivncia, reflexo e experincia profissional sobre esse conjunto de

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    iniciativas pioneiras, do qual me orgulho de continuar participando. Espero que o fruto desse trabalho conquiste o leitor para participar criativamente da aventura solidria da promoo e do fortalecimento do voluntariado, contribuindo para a consolidao de uma sociabilidade mais fraterna e participativa em nosso pas.

    Cynthia Paes de Carvalho

    Novembro de 1998.

    O que e o que faz um Centro de Voluntrios

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    Centros de Voluntrios so instrumentos de promoo e

    fortalecimento do voluntariado para a melhoria da

    qualidade de vida em sua cidade ou regio.

    Centros de Voluntrios so instrumentos de promoo e de fortalecimento do voluntariado para a melhoria da qualidade de vida em sua cidade ou regio 4 seu objetivo contribuir para que, em cada cidade, haja mais e melhor trabalho

    voluntrio;

    4 no so um fim em si mesmo mas um espao de encontro e servio, uma ferramenta de apoio comunidade, s instituies que j trabalham com voluntariado e aos prprios voluntrios;

    4 podem tomar a forma de uma nova instituio ou de um programa no interior de uma instituio j existente: sua estrutura a que melhor se adapta, em cada momento, s atividades que realiza em sua rea de atuao.

    Um Centro de Voluntrios diferente das mltiplas instituies que utilizam voluntrios em suas iniciativas e programas para resolver problemas ou satisfazer necessidades que consideram prioritrias na realidade local. O Centro de Voluntrios tem uma misso mais ampla: expandir e qualificar o trabalho voluntrio em qualquer de suas mltiplas vertentes e dimenses.

    O compromisso do Centro de Voluntrios com o voluntariado em geral. Sua funo a de um mecanismo complementar de apoio s instituies qualquer que seja sua rea de atuao. Por isto mesmo, o Centro no concorre nem duplica o trabalho das instituies cuja competncia insubstituvel na abordagem de suas temticas especficas.

    Centros de Voluntrios so instrumentos de promoo e de fortalecimento do voluntariado para a melhoria da qualidade de vida em sua cidade ou regio 4 criando elos entre cidados que desejam doar seu tempo, trabalho e talento e as

    pessoas e instituies que necessitam de seu apoio e ajuda;

    4 transformando necessidades sociais em oportunidades de participao solidria;

    4 conectando voluntrios e instituies em torno de interesses comuns;

    4 estimulando e realizando aes voluntrias que respondam a demandas sociais no atendidas.

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    Queremos desenvolver a cultura do trabalho voluntrio para melhorar a qualidade da vida e dos servios que garantem os direitos da populao, propiciando a convivncia entre os diversos segmentos sociais.

    (Wanda Engel Aduan - Rio de Janeiro)

    Muitas iniciativas governamentais ou no-governamentais precisam de apoio para melhorar ou ampliar os servios oferecidos comunidade e muitas pessoas desejam colaborar mas no sabem como. O Centro de Voluntrios nasce com o objetivo de estabelecer este elo entre comunidade, voluntrios e instituies.

    muito importante mostrar que possvel articular sonhos com necessidades e

    fazer disso uma realidade! (Demstenes Romano - Belo Horizonte)

    Centros de Voluntrios so instrumentos de promoo e de fortalecimento do voluntariado para a melhoria da qualidade de vida em sua cidade ou regio

    4 construindo um acervo de conhecimentos sobre o trabalho voluntrio atravs da sistematizao e socializao de informaes;

    4 oferecendo oportunidades de intercmbio de experincias e de formao para voluntrios e instituies;

    4 identificando, valorizando e divulgando experincias exemplares de trabalho voluntrio;

    4 contribuindo para a consolidao de uma cultura do voluntariado como expresso de uma tica da solidariedade e da cidadania.

    No Brasil de hoje, o novo voluntariado que emerge do encontro da solidariedade com a cidadania uma realidade ainda pouco visvel. Difundir a riqueza e diversidade das experincias de trabalho voluntrio e abrir novas oportunidades para a troca de conhecimentos e experincias so iniciativas que contribuem para uma maior visibilidade e qualidade do trabalho voluntrio.

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    Vimos que o aprimoramento das organizaes de trabalho voluntrio dependia de recursos externos s entidades: uma legislao mais favorvel ao trabalho

    voluntrio e o desenvolvimento de uma cultura de voluntariado mais profissional e comprometida, com suporte acadmico e tcnico para a formao do novo

    voluntrio. Conclumos que tudo isso s seria possvel com uma conjugao de esforos e a criao de uma organizao supra-institucional capaz de entender e

    representar os anseios de toda a comunidade voluntria, encaminhando propostas ao governo e aos demais setores para a implementao de leis, protocolos,

    parcerias e orientaes para o fomento e promoo da atividade voluntria em nossa comunidade.

    (Katuoki Ishizuka - So Paulo)

    Centros de Voluntrios so instrumentos de promoo e fortalecimento do voluntariado para a melhoria da qualidade de vida em sua cidade ou regio

    4 possuem fortes razes no contexto scio-cultural local;

    4 seu foco de ao so as necessidades da populao e a melhoria da qualidade de vida da cidade ou regio;

    4 so organizaes locais de referncia sobre voluntariado.

    A atuao dos Centros de Voluntrios se d sempre em relao a um determinado espao ou rea geogrfica. A maior parte dos centros define como sua rea de atuao a cidade em que est localizado. Entretanto, nada impede que um centro se proponha a promover e fortalecer o voluntariado na escala mais ampla de um estado ou regio ou, no caso de grandes metrpoles, na escala mais reduzida de um conjunto de bairros. Esta deciso cabe a cada centro em funo de sua capacidade de mobilizar recursos para atender s demandas da realidade em que est inserido.

    Os caminhos e jeitos de fazer um Centro de Voluntrios so mltiplos. Criar e fazer funcionar um Centro se traduz em inveno e experimentao. Para construir esse caminho, audcia, confiana, bom senso, criatividade e conhecimento da realidade so os melhores parceiros. [A quem cabe a iniciativa de construir um Centro de Voluntrios? Por onde comear? Como reunir os primeiros apoios? Como identificar as necessidades sociais e recursos disponveis na comunidade? Qual a estrutura mais adequada para o funcionamento de um Centro? Como um Centro de Voluntrios pode promover e fortalecer o voluntariado em sua rea de atuao - o que significa transformar necessidades em oportunidades concretamente? Como podem ser captados novos recursos? Como avaliar o trabalho realizado e planejar melhor as prximas etapas? Como compartilhar conhecimentos e experincias?] As tentativas de respostas que esto sendo dadas a estas questes foram organizadas em 7 passos a partir da experincia dos Centros j em funcionamento no Brasil. Transformar estas pistas e possibilidades em uma estratgia de ao

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    adaptada realidade local responsabilidade de quem assume o desafio da criao de um Centro de Voluntrios em sua cidade ou regio.

    1. Tomando a iniciativa

    Como em qualquer ao empreendida espontaneamente por cidados, os melhores recursos disponveis so a energia, o entusiasmo e a vontade de quem est disposto a fazer alguma coisa. Ou seja, no ponto de partida esto pessoas comprometidas com uma idia. Pessoas - gente solidria e participativa - e no um s: sozinho ningum leva uma iniciativa destas para frente. E estas pessoas existem: o desafio junt-las.

    O grupo inicial, o grupo de base que vai levar adiante a proposta do Centro de Voluntrios no nasce pronto. Confiana mtua e sentido de trabalho em equipe se constrem.

    O grupo precisa reunir viso, paixo e pragmatismo: pessoas dispostas a partilhar o

    desafio de comear esse caminho, tornando vivel um sonho possvel. (Mnica Corulln)

    Quem so os candidatos naturais a integrar o grupo de base? O modo como foram formados os primeiros Centros de Voluntrios no Brasil mostra que, via de regra, o grupo inicial foi composto por pessoas com envolvimento voluntrio ou profissional em aes sociais e comunitrias a partir de diferentes contextos: igrejas, entidades assistenciais, ONGs, associaes de bairro, movimentos ecolgicos, hospitais, escolas, empresas, rgos governamentais, movimentos de defesa de direitos, clubes de servios, instituies de arte e cultura, etc.

    Logo no incio convidamos todas as entidades que trabalhavam com voluntariado na

    grande Florianpolis. Elas nos contaram sua experincia e se mostraram muito abertas para a perspectiva de criao de uma Central de Voluntariado aqui em

    Santa Catarina. (Martina Odebrecht Bornhausen - Florianpolis)

    Em vrias cidades - por iniciativa de grupos locais ou a convite do Programa Voluntrios do Conselho da Comunidade Solidria - o ponto de partida foi a realizao de uma reunio ou seminrio sobre promoo do voluntariado e a possibilidade de criao de um Centro de Voluntrios. Para este primeiro encontro foram convidados representantes das instituies que j trabalhavam com voluntrios bem como pessoas envolvidas com iniciativas de interesse pblico no s na rea social mas tambm nas reas de cultura, direitos de minorias, meio ambiente, esporte e lazer.

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    Qual a composio e o tamanho ideais desta equipe inicial? Ningum sabe. No h receita nem regra definida para isto. O que a experincia mostra que, em cada caso, preciso reunir uma certa massa crtica, ou seja um grupo de gente com legitimidade e dinamismo suficiente para levar adiante a iniciativa. Houve contextos em que empresrios assumiram um papel de liderana. Em algumas cidades prefeituras se envolveram fortemente com a proposta. Na maior parte das vezes o grupo de base foi constitudo, sobretudo, por empreendedores sociais, gente com experincia de trabalho em instituies e programas como a Ao da Cidadania contra a Pobreza e pela Vida, Pacto de Minas pela Educao, Pastoral da Criana, Unio dos Escoteiros, Federao Israelita, Associaes Empresariais do Comrcio ou Indstria, Comits de Empresas Pblicas da Ao da Cidadania, Associao Crist de Moos, etc. Profissionais liberais, professores universitrios, aposentados e gente da rea de comunicao tm tambm desempenhado um papel importante na constituio destes ncleos iniciais. Esta equipe de base no um grupo fechado. Novos membros podem e devem ser incorporados na medida em que novos perfis e competncias vo sendo identificados. evidente que quanto mais diversificado for o grupo, maior a rede de competncias e relaes que ele ser capaz de mobilizar. O Centro Voluntrios Candangos de Braslia iniciou suas atividades realizando um seminrio sobre voluntariado e apresentando a proposta de criao do Centro.

    Ns achamos que tnhamos que comear por ns mesmos, para que todas as pessoas que iam se

    envolver na criao e estruturao do Centro tivessem a mesma compreenso das coisas e a mesma base. Ento fizemos este primeiro seminrio com todos e

    ficamos com uma unidade de pensamento. Ns temos uma regra: qualquer pessoa que trabalha no Centro em

    qualquer posio, tem que fazer o curso bsico. Isso ajuda a nos conhecermos melhor e trabalha-se melhor

    em conjunto. (Asta Rose Alcaide - Braslia)

    A experincia brasileira mostra tambm que os participantes dos grupos iniciais no os integram enquanto representantes formais de instituies e sim como cidados pessoalmente comprometidos com a causa do voluntariado. Esta frmula parece garantir uma maior flexibilidade e agilidade tomada de decises e captao de novos apoios, o que essencial neste momento inicial do processo de formao de um Centro de Voluntrios.

    preciso ter algum com tempo e preparo para assumir as coisas mais operacionais,

    porque as entidades podem apoiar e orientar, mas no podem ficar no dia a dia. (Mrcia Campos - Salvador)

    Uma vez constitudo, o ncleo inicial se transforma em um grupo de trabalho,

    Tem que ter pessoas pragmticas e muito organizadas.

    Pessoas que queiram realizar o sonho e

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    ou seja na instncia que vai impulsionar as aes visando concretizar a proposta do Centro. Nele h lugar para idealistas, realizadores, gente com capacidade gerencial, comunicadores, bem como para pessoas que queiram colaborar na retaguarda, fazendo acontecer. No se trata de compor um grupo de iguais, mas de forjar uma equipe cujas competncias se completam e que seja capaz de funcionar bem junto.

    que tenham pacincia para agentar o pequenininho de todo dia. Que saibam tocar coisas como: "J passou o fax?

    Marcou a reunio? Eu me lembro do incio do RENASCER, a gente se reunia uma

    vez por semana, mas estvamos to contaminadas que domingo a gente se

    ligava para saber como que estava andando. A gente vivia a semana inteira em funo daquela tarde. Se no vibrar

    com essa idia, se for s cumprir tarefa, no funciona...

    (Vera Cordeiro - Rio de Janeiro)

    Finalmente, decisivo criar um clima produtivo, reconhecendo e respeitando a importncia da contribuio de cada um para empreender a idia. O que mantm um grupo unido e motivado? Sobretudo comear a ver os resultados de sua ao. Da porque o ideal pr logo a mo na massa e comear a tornar o Centro de Voluntrios uma realidade.

    2. Olhando em volta Trabalho voluntrio a maneira pela qual cidados se mobilizam e agem para melhorar a qualidade de vida de uma determinada comunidade. Enquanto agente de promoo e fortalecimento do voluntariado, um Centro de Voluntrios tem como referncia fundamental de seu trabalho a comunidade em que est inserido, sua realidade e sua dinmica. O ponto de partida para a ao de um Centro de Voluntrios a identificao das necessidades e, tambm, dos recursos disponveis na comunidade a que serve, seja ela uma cidade, um conjunto de bairros ou uma regio. Seu desafio ser, em seguida, transformar estas necessidades em oportunidades de ao voluntria. Para isto preciso olhar em volta. Ver com clareza aquilo que se percebe intuitivamente. Quais os problemas que mais afetam a comunidade? Quem j est tomando iniciativas para enfrent-los? O que falta fazer? Como conectar necessidades e recursos? Como mobilizar novas energias e competncias?

    Identificando necessidades sociais locais

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    Em um pas com a herana de injustias e desigualdades do Brasil, as necessidades sero sempre muitas e os recursos, sobretudo no incio, certamente insuficientes. Por outro lado, a sociedade brasileira , hoje, mais aberta, diversificada, participativa e responsvel do que em qualquer outro momento de sua histria. No Brasil de hoje, a voz dos mais variados grupos sociais se faz ouvir no espao pblico. No h questo de interesse coletivo em relao qual cidados no se mobilizem para cobrar aes do Estado e tomar iniciativas por si mesmos. Olhar em volta significa reunir informaes sobre a cidade, mapear tanto os principais problemas e necessidades locais, como tambm os programas e iniciativas de rgos governamentais ou de organizaes da sociedade civil. Como no d para fazer tudo, convm comear por aes que sejam, ao mesmo tempo, importantes e viveis. Duas boas perguntas iniciais so: quais as reas em que as necessidades so maiores e os recursos mais escassos? Quais as reas em que a ampliao do trabalho voluntrio pode produzir resultados significativos e visveis? A experincia brasileira de criao de Centros de Voluntrios indica que, na prtica, mltiplas respostas esto sendo dadas a estas questes em funo da realidade local e, por assim dizer, da vocao de cada grupo. Alguns Centros identificaram um leque amplo de reas temticas prioritrias, como crianas e adolescentes em situao de risco, educao, sade, pobreza extrema e meio ambiente. Outros optaram por focalizar sua atuao em reas que j eram de interesse dos iniciadores do Centro. A Central de Articulao e Promoo do Voluntariado de Minas Gerais, por exemplo, optou por comear com a promoo do voluntariado em educao. A Parceiros Voluntrios de Porto Alegre privilegia o atendimento das demandas sociais visando melhoria da qualidade de vida em todo o estado do Rio Grande do Sul. O Centro do Rio de Janeiro - RiovoluntRio, por sua vez, alm da promoo do voluntariado em diversas reas temticas, tambm criou uma Central de Doaes, oferecendo s pessoas e empresas mais uma opo de colaborao solidria atravs de doaes (mveis, roupas, aparelhos eltricos, computadores, etc.) que so distribudas para as instituies cadastradas que delas necessitem. Considerando as principais necessidades sociais locais e os interesses e disponibilidades dos voluntrios que se apresentaram, o Centro de Braslia - Voluntrios Candangos tem organizado projetos especiais em colaborao com outras instituies, mobilizando e treinando voluntrios para gravarem textos de apoio pedaggico para deficientes visuais e para trabalharem na rea da cultura. O Centro de Curitiba - Ao Voluntria, priorizou o trabalho nas reas da educao e da criana e do adolescente, em funo dos fortes laos que mantm com a Pastoral da Criana e com a Secretaria Estadual de Educao. J o Voluntrios em Ao de Florianpolis optou, desde o incio, por construir uma articulao estadual, fomentando iniciativas semelhantes em outras cidades.

    Olhar em volta significa situar a iniciativa na realidade local, concretizando a proposta no contexto da cidade ou regio onde ela se insere. Reunir e organizar essas informaes fornece pistas importantes para a ao. Muitas delas podem ser encontradas atravs de uma consulta informal junto a pessoas ou rgos

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    governamentais (Conselhos da Criana e Adolescente, etc.) que atuam na rea social, ou ainda em universidades ou institutos de pesquisa.

    Conhecendo as iniciativas e os recursos existentes A possibilidade de criar novas respostas s demandas sociais sempre ilimitada. Mesmo querendo propor novas solues, importante tambm conhecer e aprender com quem j est tentando fazer alguma coisa. o momento ento de identificar as instituies governamentais ou no-governamentais que prestam servios populao nas reas de sade, educao, assistncia social, etc. Tambm interessante buscar informaes sobre os movimentos sociais e associativos (associaes de moradores, grupos de defesa do meio ambiente, clubes de servio, etc.) que existem na cidade ou regio. especialmente importante identificar as instituies, movimentos ou programas que j trabalham com voluntrios. Cada organizao identificada pode indicar outras na sua rea de atuao ou na regio onde presta seus servios. Quanto mais completo o mapa, melhores so as condies para construir caminhos locais de promoo e fortalecimento de voluntariado. O mapa se completa com a localizao e mobilizao dos recursos humanos e materiais disponveis. Tanto no setor pblico estatal quanto no setor privado empresarial e no setor privado sem fins lucrativos existem recursos disponveis e outros por descobrir, ou cuja utilizao poderia ser otimizada. quase sempre possvel encontrar quem possa ceder algum equipamento ou espao para o grupo.

    Ofereceram um galpo para a Central de Doaes mas precisava de muita obra. Me

    aconselharam ento a ir at a Colnia Juliano Moreira que estava com muitos pavilhes desativados. Eu fui, procurei o diretor e expus o caso. Ele disse que tinha um local que poderia servir: era o necrotrio. Eu falei: O necrotrio doutor? , vai l ver, logo aqui perto. Ainda est em funcionamento, mas eu fecho e transfiro tudo...

    L fui eu ao necrotrio e achei o espao excelente, s precisava limpar, mas no precisava de obra. Voltei e disse que eu queria o necrotrio. Agora j est tudo

    desinfetado, arrumado, com outra cara. Isso que importante: essa improvisao que quem est montando um Centro tem que fazer, sem rigidez... vendo todas as

    possibilidades, transformando morte em vida. (Helosa Coelho - Rio de Janeiro)

    Vale lembrar a crescente sensibilidade de vrias empresas para a questo social. Embora ainda se trate de um fenmeno recente, cada dia mais consistente o despertar da responsabilidade social dos empresrios. Muitas empresas j comeam a contribuir para o desenvolvimento socialmente sustentvel na cidade ou regio onde esto instaladas.

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    Esse duplo levantamento de necessidades e recursos existentes permite ao grupo ir desenhando o pano de fundo de suas atividades e criando condies para comear a agir. O prprio processo de identificao das necessidades e dos recursos tornar a iniciativa de criao do Centro conhecida por futuros parceiros e interlocutores. Esse mapa ser uma ferramenta importante para identificar outros recursos e comear a traar o caminho e jeito de fazer um Centro de Voluntrios no seu contexto local.

    3. Criando condies para comear Para concluir esta etapa inicial de implantao de um Centro cabe, ainda, responder a uma pergunta prtica: o que preciso - em termos de pessoas, infra-estrutura, formalizao institucional e dinheiro - para que o Centro esteja em condies de atuar?

    Estabelecendo uma estrutura mnima inicial A experincia mostra que o que mantm a motivao do grupo inicial e legitima o Centro aos olhos de outras instituies e da comunidade sua capacidade concreta de fazer coisas. A estrutura inicial deve, portanto, ser a mais leve possvel para que o Centro possa comear rapidamente a agir. Mas, para prestar qualquer servio, alguma estrutura fsica, por menor que seja, ser sempre necessria: um espao para reunies, um telefone, se possvel um fax, a possibilidade do uso de um computador, etc. Estruturas so meios para alcanar objetivos, por isso devem ser definidas de acordo com as necessidades do trabalho a ser desenvolvido. Para ser um elo entre os que desejam doar seu tempo e talento e aqueles que precisam de ajuda e apoio claro que o Centro precisa dispor de meios de se comunicar com voluntrios e instituies. Para constituir-se num espao de encontro e servio comunidade, favorecendo o intercmbio de experincias e promovendo atividades de formao para seus parceiros, o Centro precisa dispor de um local para reunies. E, evidentemente, sem pessoal com disponibilidade para realizar atividades nada poder acontecer.

    A gente conseguiu que a Caixa Econmica cedesse o espao para a sede. Quando a gente quer alguma coisa ento enche a pacincia at conseguir... Os mveis a gente vai conseguir atravs da Pastoral da Criana, computador e papel a Caixa apia... Ns tnhamos a dificuldade da disponibilidade de tempo dos membros do

    grupo inicial - ento contratamos uma secretria... (Maringela Hortmann - Curitiba)

    Sem dvida equipamentos e instalaes podem ser doados ou emprestados por pessoas ou instituies que compartem os objetivos do Centro. Esta capacidade de

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    alavancar recursos locais , alis, um timo indicador da receptividade e apoio que a nova iniciativa est encontrando na comunidade. bom lembrar que as estruturas mudam ao longo do tempo. Elas so ferramentas de trabalho e, como tal, precisam ser flexveis para poderem se adaptar e ir crescendo de acordo com as exigncias do que se quer fazer. Para montar um Centro de Voluntrios no se pode ser rgido: preciso procurar e verificar diversas possibilidades at encontrar os meios locais para concretizar a proposta. Um Centro pode e deve comear pequeno, gil, com um alto grau de informalidade. A estrutura bsica inicial vai, aos poucos, sendo ampliada e formalizada medida das demandas. Por outro lado, so as aes bem sucedidas que iro possibilitar a captao de novos recursos para ampliar ou adaptar a estrutura s necessidades.

    A equipe que d vida estrutura Uma estrutura, por si s, no realiza nada. So as pessoas com seu tempo, trabalho e talento que do vida a qualquer empreendimento social. Na etapa inicial de constituio de um centro, quase todo o trabalho pode ser feito de modo informal e voluntrio. No entanto, cedo ou tarde surge a discusso sobre a necessidade da contratao de uma equipe mnima de pessoal remunerado para dar conta do trabalho. Nas trajetrias de constituio dos centros no Brasil, os recursos humanos foram em parte voluntrios e em parte remunerados. Em alguns casos o grupo promotor conseguiu que funcionrios de instituies pblicas e privadas fossem cedidos, total ou parcialmente, para trabalhar no Centro. Outros obtiveram um apoio financeiro do Programa Voluntrios do Conselho da Comunidade Solidria e de fontes locais que lhes permitiram contratar algumas pessoas. A deciso de contratar pessoal remunerado e a escolha do profissional com perfil adequado para a funo de coordenador executivo de um Centro de Voluntrios so momentos-chave no processo de constituio dos centros. No Brasil ainda h poucos profissionais com formao e experincia na rea de gerenciamento de programas de voluntariado. Alm disso, como os primeiros centros brasileiros foram criados em 1997, o perfil destes novos profissionais est sendo construdo na prtica dos centros e dos programas de voluntariado j existentes. Um bom relacionamento do grupo fundador com a equipe responsvel pela execuo das atividades quotidianas do Centro uma das condies de sucesso de toda a iniciativa. Muitas vezes, os membros do grupo fundador se transformaram em integrantes dos rgos diretivos dos Centros nos casos em que se constituiu uma associao civil sem fins lucrativos com personalidade jurdica prpria. Deste modo, continuam intimamente associados ao trabalho, tanto ajudando na divulgao do Centro e na captao de novos recursos, como orientando a ao da equipe tcnica e estimulando-a com sua energia e entusiasmo.

    Criar uma nova estrutura ou desenvolver um programa dentro de uma instituio j existente

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    Outra deciso estratgica diz respeito ao perfil institucional do Centro, ou seja do grau maior ou menor de autonomia e formalizao considerado adequado pelos promotores da iniciativa. Aqui vale a mesma reflexo feita a propsito da estrutura mnima indispensvel para comear. Pode-se criar uma nova instituio ou desenvolver um novo programa no interior de uma instituio j existente. O bom senso indica que o perfil organizacional escolhido deve ser aquele que melhor se adapta s caractersticas da realidade local bem como s necessidades e possibilidades identificadas pelos responsveis pela iniciativa. Criar ou no uma nova organizao uma deciso a ser tomada, em cada caso, pelos promotores da idia com pragmatismo e senso de oportunidade.

    No comeo ns quisemos fazer aquele processo

    tradicional, estatuto, CGC... e de repente percebemos que tnhamos problemas demais com

    a burocracia... Ento resolvemos mudar o percurso: vamos comear fazendo e depois vemos

    quais as nossas caractersticas para decidir se vamos ter uma sede aqui ou ali, aquele parceiro ou esse... Se a gente amarrasse juridicamente agora poderamos perder o ganho desse movimento na

    cidade, ns nos preocupamos com o momento adequado...

    (Vicente Pironti - Limeira)

    A complexidade da estrutura e o grau de formalizao institucional tambm dependem, claro, do tamanho da tarefa que o Centro se prope a realizar em termos de sua rea geogrfica de atuao. A infra-estrutura necessria Central de Voluntrios de Limeira, no interior do estado de So Paulo, no , evidentemente, a mesma dos centros do Rio de Janeiro e de So Paulo. Centros como o Voluntrios em Ao de Florianpolis e o Parceiros Voluntrios de Porto Alegre, que j nasceram com a vocao de promover e fortalecer o voluntariado em todo o estado, estabeleceram uma estrutura e um modo de funcionar adequados a seus objetivos regionais. H centros que funcionam, de modo gil e despretensioso, com apenas 3 pessoas (uma contratada e duas voluntrias), uma sala emprestada e uma linha telefnica. A Central de Limeira funciona como um Programa dentro de outra instituio local, o IDELI (Instituto de Desenvolvimento de Limeira), utilizando voluntrios e o trabalho a tempo parcial de funcionrios cedidos pelo municpio e por outras instituies locais. J centros localizados em grandes metrpoles como o Rio e So Paulo formaram equipes de cerca de 12 pessoas entre funcionrios e voluntrios e mantm diversas parcerias com outras instituies e empresas para reunir as condies necessrias ao desenvolvimento de suas atividades.

    Queremos criar uma estrutura que cuide da difuso do conceito de voluntariado e

    propicie cursos de formao, alm de encaminhar voluntrios para as entidades. (Srgio Lima de Oliveira - Recife)

    Estruturas so meios necessrios, no fins em si mesmos. So as aes propostas e realizadas que justificam a criao ou transformao de modelos organizacionais e no o contrrio. Seno corre-se o risco de fazer um enorme esforo para criar uma estrutura formal e dispendiosa, e no ter como utiliz-la. Ou, ainda, verificar depois que ela no se adapta s reais necessidades do trabalho e at atrapalha.

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    Acho que tem que ser pequenininho para comear... Comear pesquisando,

    informando, capacitando, conhecendo outras experincias... (Tnia Melo - Salvador)

    sempre melhor comear pequeno, dar provas de qualidade e criatividade para, depois, crescer. A maioria dos Centros de Voluntariado j criados no Brasil tomou, em determinado momento, a deciso de criar uma nova instituio dotada de personalidade jurdica prpria, mas essa apenas uma das opes possveis e no o nico caminho a ser necessariamente seguido em todas as circunstncias.

    Resumindo, para criar um Centro de Voluntrios preciso...

    4 reunir um grupo de pessoas convencidas de que vale pena criar um Centro de

    Voluntrios em sua cidade ou regio e com capacidade de liderana para mobilizar os apoios e criar as condies para transformar este sonho em realidade;

    4 olhar em volta e comear a mapear a realidade local, identificando necessidades sociais e recursos disponveis;

    4 definir a estrutura bsica do Centro e a equipe indispensvel para o incio de suas atividades;

    4 imaginar a melhor maneira de comear a transformar necessidades em oportunidades de ao voluntria

    4. Transformando necessidades em oportunidades de ao

    Um Centro de Voluntrios se define pelo que faz, isto pelas aes de promoo e fortalecimento do voluntariado que realiza. Estas aes so to

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    diversas quanto as necessidades a que respondem e a criatividade de quem as organiza. Com a finalidade de apresentar, de forma clara, este leque quase infinito de pistas e possibilidades, as iniciativas que um Centro de Voluntrios pode empreender foram organizadas em dois grandes subconjuntos:

    Promovendo o Voluntariado Promover o voluntariado significa, por um lado, combinar a demanda e a oferta de voluntrios, transformando necessidades sociais em oportunidades de ao e, por outro lado, estimular ou mesmo organizar diretamente aes voluntrias. Combinando demanda e oferta O voluntariado uma resposta solidria e participante dos cidados a necessidades sociais. Para que mais e mais pessoas encontrem maneiras de concretizar sua solidariedade e desejo de participao preciso, antes de tudo, identificar qual a demanda por trabalho voluntrio e transformar esta necessidade em uma oportunidade concreta de ao. o cardpio de oportunidades A primeira tarefa de um Centro de Voluntrios , portanto, mapear a demanda de trabalho voluntrio - ou seja, detectar em que atividades os voluntrios podero trabalhar - e no, como poderia parecer primeira vista, comear por mobilizar voluntrios de modo genrico. Ou seja, a identificao e organizao da demanda deve preceder a mobilizao da oferta de trabalho voluntrio, e no o contrrio. O reconhecimento da importncia de se comear pela organizao da demanda uma das principais lies tiradas da experincia de implantao de Centros de Voluntrios no Brasil. A realidade tem confirmado que o sentimento de solidariedade e o desejo de participao so to intensos na sociedade brasileira que um nmero expressivo de pessoas responde de forma imediata e positiva a qualquer convocao para aes voluntrias. O problema que, ao convocar voluntrios sem ter previamente identificado as oportunidades concretas de sua insero, o Centro corre o risco de no ter como encaminh-los. As campanhas de divulgao da importncia do voluntariado junto ao pblico em geral tendem a mobilizar um grande contingente de voluntrios inespecficos, pessoas de boa vontade que desejam fazer alguma coisa para ajudar. Se o Centro no tiver uma proposta concreta de encaminhamento destas pessoas para uma ao j definida ou instituio que acolha seu desejo de participao, o resultado da convocao pode ser o oposto do que se desejava: sentimento de frustrao e desnimo nos que se ofereceram para trabalhar, perda do esforo de sensibilizao e mobilizao.

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    Saiu uma reportagem sobre trabalho voluntrio num domingo, e, no dia seguinte j tivemos 108 ligaes! Ento, o que aconteceu? Era muito complicado explicar que ainda no tnhamos para onde encaminh-los! Se a gente fosse recomear, no ia

    abrir a boca sobre voluntariado enquanto no tivesse instituies com programas de voluntrios que pudessem receb-los. S ento a gente iria mobilizar voluntrios.

    (Rogrio Neumann - Curitiba)

    Vale a pena aproveitar bem esta lio da experincia: antes de mobilizar voluntrios, o Centro precisa conhecer e cadastrar instituies ou programas que possam receb-los ou ter propostas para sua insero junto comunidade. A combinao entre demanda e oferta comea, portanto, pela identificao e organizao das necessidades e oportunidades de trabalho voluntrio em funo das quais sero convocados os voluntrios! Como iniciar a identificao e organizao da demanda? A maior parte dos centros comeou por contatar as instituies que j tm experincia de integrao de voluntrios em seus programas de trabalho. Estas instituies qualificam-se, naturalmente, como parcerias estratgicas do Centro.

    como se voc construsse o alicerce de uma

    casa: nosso maior trabalho foi conquistar as instituies mais tradicionais, que tm muitos

    voluntrios e vrios anos de experincia, essas foram as primeiras. No segundo momento aquelas que tem uma estrutura mas tm dificuldades e no terceiro momento ns vamos conquistar aquelas

    que, mesmo sem uma estrutura, tm compromisso e uma viso do voluntariado...

    (Maria Lcia Meirelles Reis - So Paulo)

    So estas entidades que, habitualmente, esto em contato direto com as necessidades reais e imediatas das pessoas e tm capacidade para acolher voluntrios. Por isso, da maior importncia que a equipe do Centro visite estas instituies, apresentando sua proposta de trabalho e avaliando com elas as possibilidades de absoro de novos voluntrios em aes junto a quem precisa. Este contato direto indispensvel para a criao de uma relao de colaborao entre o Centro e as instituies que valorizam o voluntariado. o dilogo com quem est com a mo na massa que conduz a uma definio clara e precisa das necessidades reais de trabalho voluntrio. O melhor conhecimento prvio da demanda permite ao Centro mobilizar voluntrios cujo perfil e disponibilidade correspondam s oportunidades identificadas. A visita s instituies e programas de voluntariado tambm possibilita analisar com os responsveis de cada iniciativa como pode ser a incorporao de novos voluntrios. Em alguns casos pode-se inclusive formular conjuntamente um projeto de aproveitamento de voluntrios e formalizar a relao de cooperao. Alguns Centros tm treinado e incorporado voluntrios nesse trabalho de visitas e contatos que requer uma atualizao constante. H tambm a possibilidade de realizar um projeto piloto, como fez a Parceiros Voluntrios em Porto Alegre. O Centro escolheu um grupo de instituies que j trabalhavam com voluntariado em diversas reas sociais, verificando as

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    possibilidades de insero de novos voluntrios e os perfis desejados. Em seguida foi organizada uma captao dirigida de candidatos que, aps uma cuidadosa seleo com vrias entrevistas (individuais e grupais) e atividades de capacitao, foram encaminhados para as instituies. Esse levantamento das instituies e programas de voluntariado existentes em sua rea de atuao amplia o conhecimento da equipe do Centro sobre a realidade local e sobre os desafios inerentes s tentativas de melhorar a qualidade de vida da populao por meio do trabalho voluntrio. a partir destas informaes obtidas junto s instituies ou programas e da observao direta de necessidades sociais que o Centro organiza o cardpio de oportunidades de ao voluntria. Evidentemente este cardpio estar sendo permanentemente complementado e atualizado. Em cada momento, ele serve como orientao fundamental para um esforo organizado de mobilizao de voluntrios, facilitando o encaminhamento rpido e eficaz dos que responderem convocao do Centro. o cadastro de voluntrios Na outra ponta da combinao da demanda e da oferta de trabalho voluntrio esto a mobilizao, a acolhida e o cadastramento das disponibilidades dos candidatos a voluntrios. Um dos aspectos importantes do acolhimento a compreenso e valorizao das diferentes motivaes para o trabalho voluntrio: mudar o mundo, sentir-se til, vencer a solido, vivenciar novas experincias, ajudar os outros, devolver sociedade o que recebeu, cumprir um dever cvico como cidado... As disponibilidades para a ao voluntria so uma decorrncia tambm dessas motivaes, orientando as possibilidades de encaminhamento.

    Pode ser til pensar em diferentes maneiras de ser voluntrio, de acordo com a personalidade,

    os valores, a histria e o momento de vida de cada um. Pode-se distinguir dois grupos:

    Voluntrios de longo prazo se comprometem pessoalmente numa determinada causa, vestem a camisa. Eles definem seu engajamento de tempo e trabalho em funo da causa pois se sentem co-responsveis pelos resultados alcanados.

    Voluntrios de curto prazo tm um interesse mais genrico pela causa. Eles respondem a um convite para um trabalho especfico e geralmente se sentem melhor em funes bem definidas e, preferencialmente, de durao limitada.

    claro que h pessoas que atuam num lugar como um voluntrio de longo prazo e em outra situao como um voluntrio de curto prazo. Muitas vezes o voluntrio de curto prazo se envolve a tal ponto com o trabalho que se torna voluntrio de longo prazo.

    Alguns Centros tm feito o cadastramento dos candidatos a voluntrios a partir de entrevistas individuais. Esse procedimento, embora mais exigente, apresenta a vantagem de favorecer um conhecimento mais aprofundado do potencial de cada um para a ao voluntria e cria um vnculo direto entre o Centro e o voluntrio. A maioria dos Centros de Voluntrios tem preferido reunir grupos de candidatos a voluntrios em palestras ou encontros de informao e sensibilizao. Nessas ocasies explica-se a importncia do voluntariado numa perspectiva de troca de saberes e experincias, enriquecimento mtuo e exerccio de cidadania. tambm um momento para conversar sobre as motivaes das pessoas para o trabalho

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    voluntrio, enfatizando a importncia do compromisso com os beneficirios da ao que cada um escolhe realizar bem como da responsabilidade que se assume com este compromisso. Em geral o procedimento tem sido anotar os dados gerais (nome completo, endereo, telefone) do candidato a voluntrio para depois convidar para uma entrevista ou palestra. S ento preenchida uma ficha cadastral mais detalhada com informaes sobre sua formao, suas habilidades e conhecimentos, desejos e expectativas, disponibilidades de tempo, etc.

    Os diversos Centros j existentes no Brasil elaboraram fichas de cadastro e outros materiais para organizar a demandas e a oferta de voluntrios que tm sido continuamente aperfeioados com o uso. Na seo Dicas&Ferramentas encontra-se uma lista de possibilidades de trabalho voluntrio como sugesto para candidatos e exemplos de fichas de cadastro para instituies e voluntrios elaborados com base nas fichas j criadas pelos Centros.

    o encaminhamento de voluntrios Uma vez organizados o cardpio de oportunidades e o cadastro de disponibilidades de trabalho voluntrio, todas as condies esto reunidas para um encaminhamento bem sucedido de voluntrios para as vagas disponveis. Combinar ou articular a demanda e a oferta de voluntrios uma arte delicada, que se aprende pouco a pouco com sensibilidade, criatividade e bom senso. Essa combinao pode obedecer a diferentes critrios conforme a realidade local:

    U em cidades maiores, onde as distncias para locomoo so grandes, pode ser

    mais operacional ter um cadastro de instituies e vagas por rea geogrfica. U em outros locais, o critrio pode ser uma mobilizao por rea temtica de

    atuao: educao, sade, meio ambiente, cultura, esporte, etc. U outra possibilidade organizar o cardpio em funo da clientela atendida:

    adolescentes em situao de risco, pessoas portadoras de deficincias, crianas necessitando de acompanhamento escolar, pessoas da Terceira Idade, etc.

    U ou ainda em funo do tipo de instituio de acolhida do voluntrio: escola, creche, hospital, biblioteca, museu, etc.

    Quaisquer que sejam os critrios adotados, a chave de catalogao se constri a partir e em funo de cada realidade local, da maneira mais simples e operacional possvel do ponto de vista da equipe que vai utiliz-la. Existem, sempre, diferentes combinaes ou relaes possveis entre instituies, voluntrios e populao atendida. Essa variedade determina tanto as oportunidades de trabalho voluntrio como o seu gerenciamento em cada situao, influenciando os encaminhamentos que o Centro pode fazer.

    U Populao - Instituio - Voluntrio: a necessidade social atendida pela instituio

    corresponde s motivaes e habilidades do voluntrio.

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    U Instituio - Voluntrio: a instituio o cliente e o voluntrio realiza atividades de apoio indireto para que a instituio atenda melhor sua clientela.

    2 preciso mostrar que o voluntrio est realmente contribuindo para atender a necessidades sociais.

    U Populao - Voluntrio: o voluntrio oferece diretamente seu servio a um segmento da

    populao. So aes espontneas, mas provvel que o Centro receba ofertas desse tipo e possa conect-las a alguma demanda.

    2 interessante favorecer a articulao desses voluntrios atravs de uma rede para garantir a continuidade da iniciativa.

    A anlise individualizada das fichas cadastrais pode ser uma atividade muito enriquecedora para a equipe do Centro. uma forma de conhecer melhor as instituies e os voluntrios que se deseja conectar. Nesse trabalho a equipe vai, pouco a pouco, definindo melhor os critrios para articular oportunidades e disponibilidades. Alguns centros tm organizado os dados das fichas cadastrais num Banco de Dados que oferece sugestes e possibilidades de conexo entre necessidades e disponibilidades de trabalho voluntrio. medida que se amplia a quantidade de instituies, programas e voluntrios cadastrados, a utilizao de um software um recurso que pode contribuir para agilizar o trabalho. Pode-se realizar a articulao entre oferta e demanda como uma combinao um a um, ou oferecer a cada voluntrio algumas opes de vagas em instituies, e a cada instituio alguns candidatos. Tudo depender da quantidade de vagas e de voluntrios disponveis e das possibilidades de combinao visualizadas pela equipe em cada caso. A experincia tem mostrado ser mais provvel realizar uma boa conexo quando se oferecem vrias possibilidades tanto para os voluntrios quanto para as instituies e programas.

    Ns apresentamos as reas de atuao mais comuns: educao, assistncia social, sade,

    cultura, meio-ambiente e cidadania ou defesa de direitos e colocamos disposio as entidades

    cadastradas e as vagas. Cada um escolhe a rea temtica e o bairro onde quer ou pode trabalhar e

    j sai com uma carta de encaminhamento e o convite de voltar se no for aquilo que ele queria.

    Como ter certeza do que o voluntrio quer ou no? melhor oferecer as oportunidades por regio e

    rea de atuao e ele escolhe a mais prxima de suas expectativas... a escolha dele! A vaga

    certa fica sob a responsabilidade do prprio voluntrio. O que ns fazemos explicar bem a necessidade da pessoa procurar alguma coisa

    que v ao encontro dos seus valores e habilidades.

    (Edson Sadao Iizuka - So Paulo)

    Uma empregada domstica veio nos procurar dizendo que gostaria de fazer alguma coisa no

    domingo, mas que no tinha habilidade nenhuma. Conversando sobre o que ela fazia descobrimos que ela adorava cozinhar. Ento

    encaminhamos para uma casa de apoio a portadores do vrus da AIDS que precisava de

    No h uma frmula ideal ou infalvel para uma boa conexo entre voluntrios e instituies. Sempre ser necessrio, alm

    de um slido conhecimento das necessidades locais, uma boa

    dose de bom senso e sensibilidade. Freqentemente

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    uma cozinheira de final de semana. Ela se encantou e agora todo domingo ela vai fazer o

    almoo l... (Nancy Nunes - Curitiba)

    preciso ultrapassar as informaes frias de uma ficha e

    conversar.

    Alguns voluntrios se entusiasmam de tal modo com a perspectiva da promoo do voluntariado que passam a colaborar, voluntariamente, com a equipe do Centro. Na maioria dos Centros em funcionamento no Brasil h voluntrios trabalhando nas mais diferentes funes: ajudam a analisar as fichas e fazer os encaminhamentos, apoiam a administrao e a mobilizao de recursos, auxiliam na organizao, animao e divulgao de eventos, etc.

    Ns fizemos um intenso

    treinamento e conseguimos formar um grupo de voluntrios

    para fazerem a palestra de recepo de candidatos a

    voluntrios. Tem tambm uma equipe de voluntrios trabalhando no cadastramento de entidades...

    (Vania Dohme - So Paulo)

    O cardpio de oportunidades e os cadastros de voluntrios so o ponto de partida para uma eficiente combinao entre demanda e oferta de trabalho voluntrio. Vale lembrar, porm, que trata-se de um retrato aproximado e sempre provisrio das necessidades e das disponibilidades de trabalho voluntrio em uma determinada realidade.

    Nem sempre tudo o que a instituio precisa estar na ficha do cadastro. Necessidades podem mudar e outras surgem ao longo do tempo. O ideal, inclusive, seria que toda a equipe da instituio se reunisse antes, discutisse as prioridades e necessidades do trabalho e, como conseqncia, definisse as possibilidades de insero de voluntrios. Por outro lado, muitas vezes, o contato do voluntrio com a ficha cadastral ser a primeira oportunidade para pensar sobre como pode ou deseja contribuir. Alm disso, o engajamento da pessoa num trabalho voluntrio pode lev-la a descobrir mais e mais coisas para fazer. Finalmente, mesmo que instituies e voluntrios tenham absoluta clareza de suas necessidades e disponibilidades, ainda seria necessrio deixar um espao aberto para a criatividade e para a inovao que podem resultar desse encontro...

    Estimulando e organizando aes voluntrias Alm de efetivar a conexo entre quem deseja fazer trabalho voluntrio e quem dele precisa, o Centro pode tambm incentivar ou mesmo organizar, diretamente, aes voluntrias.

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    O enraizamento do Centro de Voluntrios nos problemas e na dinmica da comunidade em que est inserido lhe d a possibilidade de captar e responder a necessidades sociais imprevistas ou, por assim dizer, invisveis. Por vezes, a situao de excluso social to dramtica que as demandas de determinados segmentos da populao tm imensa dificuldade de serem reconhecidas como problemas prioritrios. Foi o que aconteceu, por exemplo, no incio da epidemia de AIDS em que os portadores do vrus HIV e as pessoas doentes tinham que superar a barreira da discriminao para terem seus direitos respeitados. H numerosos exemplos de pessoas e instituies que identificaram uma demanda social no atendida e mobilizaram voluntrios para apoiar pessoas que necessitavam de ajuda. o caso do BANCO DE HORAS no Rio de Janeiro, uma articulao de profissionais de sade mental que se organizou para atender voluntariamente a portadores do vrus da AIDS e seus familiares. Ou do RENASCER que viabiliza, atravs da ao voluntria, o apoio scio-econmico para as famlias de crianas vtimas de doenas graves ou crnicas que vivem em situaes de extrema pobreza e no possuem condies de realizar o tratamento domiciliar de forma adequada aps a alta hospitalar. Ou ainda da iniciativa de um grupo de dentistas em So Paulo que criou o programa ADOTE UM SORRISO de atendimento odontolgico gratuito a crianas carentes. Exemplos de programas como estes existem em nmero muito maior do que se imagina. Por todo o Brasil encontram-se profissionais de sade, advogados, professores, administradores de empresa, jornalistas, aposentados, donas de casa, estudantes, enfim gente motivada e criativa que no pediu licena a ningum para fazer o que lhes parecia possvel e desejvel. Ou seja, tomaram espontaneamente a iniciativa de criar e animar aes voluntrias.

    A gente fazia um trabalho no final de semana na Beira Mar: reunamos as crianas e

    fazamos atividades de recreao... Comeou informalmente, a um amigo foi chamando outro e a gente ia todo sbado. Quando algum no podia ir era s avisar, mas sempre

    algum ia. As crianas estavam sempre l, querendo e cobrando nossa ateno... (Yara Lcia de Macedo - Fortaleza)

    Cabe a um Centro de Voluntrios no s identificar e valorizar estas iniciativas mas tambm estimular e apoiar sua multiplicao, sensibilizando e mobilizando os mais diferentes grupos de pessoas e segmentos profissionais para que encontrem seus prprios caminhos de ao voluntria. Outra possibilidade de ao para o Centro a preparao de pessoas e equipes capazes para atuar em situaes inesperadas, como desabamentos e enchentes. O Centro de Voluntrios do Rio de Janeiro - RiovoluntRio - organizou um cadastro especial de voluntrios que se dispem a intervir em situaes emergenciais apoiando as aes dos rgos municipais responsveis pelo socorro s vtimas de desastres naturais. D. Maria de Ftima viu a propaganda do RiovoluntRio na TV e anotou o nmero. Como ela tem esclerose mltipla e a doena estava se agravando, ela resolveu ligar perguntando se a gente no encontraria um voluntrio que a levasse ao mdico porque

    Em outros casos a equipe do Centro que identifica uma

    demanda social imediata no

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    ela no tinha ningum... Ento me lembrei de um rapaz que oferecia o carro para quem precisasse e de uma moa que queria trabalhar com idosos e fazia faculdade de medicina. Liguei para os dois que prontamente se dispuseram a ajudar. Com essa ao percebi o quanto o RiovoluntRio j uma referncia de solidariedade no Rio de Janeiro. (Ana Maria Pires de Almeida Pinto - Rio de Janeiro)

    imediata no atendida e mobiliza

    com agilidade a ao voluntria

    capaz de resolver o problema.

    Outra maneira de estimular aes voluntrias organiz-las diretamente, articulando grupos ou pessoas para executar um projeto exemplar de ao voluntria. Alm de apoiar essas iniciativas, o Centro pode fortalecer seu impacto mobilizando a participao de outras instituies que tenham experincia naquele tipo de ao.

    Em parceria com os escoteiros, o Centro de

    Voluntariado de So Paulo realizou um trabalho de limpeza e conservao de um

    recanto do Parque Ibirapuera, com a participao de convidados de expresso na

    comunidade. Em outra ocasio, foi promovido o trote cidado: alunos de algumas faculdades trocaram o trote

    convencional aplicado nos calouros por atividades de servio comunitrio. (Katuoki

    Ishizuka - So Paulo)

    O Centro tambm pode promover a organizao de projetos de ao voluntria a partir da solicitao de uma ou vrias instituies que identificam demandas sociais no atendidas. No Rio de Janeiro, por exemplo, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e a de Esporte e Lazer solicitaram que o Centro apoiasse a promoo de atividades desportivas com adolescentes atendidos em programas scio-educativos, captando voluntrios que vo ajudar na organizao de uma Olimpada com os jovens das diversas instituies parceiras. Um Centro de Voluntrios pode, ainda, incluir em suas prioridades de trabalho o estmulo participao de setores da populao - como os jovens e as pessoas da Terceira Idade - que, por mltiplas razes, tm uma especial vocao e disponibilidade para o trabalho voluntrio. Na experincia internacional de promoo do voluntariado, uma ateno especial costuma ser dada ao desenvolvimento do hbito, do gosto, do prazer do trabalho voluntrio entre os jovens. Um nmero crescente de escolas pblicas e privadas no Brasil tem includo a promoo de aes voluntrias como componente de seus programas curriculares. Iniciativas como estas, devidamente divulgadas, contribuem e muito para o fortalecimento de uma nova cultura do voluntariado. Vale a pena tambm explorar a possibilidade de incentivar o voluntariado junto ao corpo de funcionrios de empresas que desejam assumir ou aprofundar seu compromisso social. Esta tendncia de um maior envolvimento do setor privado empresarial em aes sociais e comunitrias um fenmeno ainda recente em nosso pas, mas j existem iniciativas pioneiras nesse sentido, como o da cadeia de lojas C&A ou de empresas como Natura e Avon. Um voluntrio no precisa,

    As possibilidades so ilimitadas, s dar asas a imaginao! O que cada

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    necessariamente, trabalhar em entidade. Ele pode ser o voluntrio que vai fazer da rua dele a mais bonita da cidade ou formar um grupo para realizar uma ao especfica. Essa cidade pode ficar muito melhor se a gente tiver mil grupos fazendo essas coisas. Isso cidadania, isso melhorar a vida das pessoas! (Wanda Engel Aduan - Rio de Janeiro)

    um quer e pode fazer sempre pode ser til e importante para algum. Nem todas as necessidades das pessoas ou grupos sociais so ou podem ser atendidas por instituies. Basta cada cidado ficar atento ao seu semelhante (no bairro, no trabalho, na escola...) e disposto a partilhar um pouco do seu tempo, habilidade e ateno, que sempre aparece quem precisa!

    Em suma, a existncia de um Centro de Voluntrios numa cidade , por si mesma, fator de mobilizao de pessoas e recursos em resposta a necessidades. Este papel catalisador de novas iniciativas, recursos e competncias uma das mais importantes funes que um Centro pode desempenhar. Fortalecendo o Voluntariado Fortalecer o voluntariado significa oferecer servios comunidade, aos voluntrios j atuantes ou em potencial e s instituies e programas que trabalham com voluntrios. Estes servios podem ser prestados pelos centros nas reas de formao e de informao. Um bom ponto de partida para estas aes de fortalecimento do voluntariado a manuteno de um registro atualizado sobre as atividades desenvolvidas pelo Centro de Voluntrios. Dessa maneira, pouco a pouco, se vai construindo um registro sistemtico valioso de experincias e informaes sobre voluntariado na cidade ou na regio. Desse acervo tambm devem constar os relatos e as avaliaes das atividades realizadas pela equipe do Centro bem como o relato de aes voluntrias desenvolvidas por outras instituies e programas com os quais o Centro se relaciona. Sistematizando e divulgando tais informaes, o Centro de Voluntrios capacita-se para desempenhar o papel de uma referncia local de conhecimentos sobre o trabalho voluntrio e se habilita a oferecer novas oportunidades para o intercmbio de saberes e competncias. A informao organizada tanto ir ser til nas aes de formao destinadas a voluntrios e instituies quanto para as atividades de divulgao e valorizao do voluntariado voltadas para o pblico em geral. Formao para Voluntrios e Instituies A experincia dos diversos Centros tem mostrado que indispensvel trabalhar com as duas pontas da relao de promoo do voluntariado: voluntrios e instituies ou programas. Atividades com voluntrios

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    A fora do voluntariado, como o prprio nome indica, reside na deciso espontnea do voluntrio de agir. Por esta razo, as oportunidades de ao voluntria so to variadas quanto a diversidade de necessidades sociais e preocupaes dos cidados. Por outro lado, esta espontaneidade e diversidade constitutivas do voluntariado no devem ser um obstculo para o intercmbio de informaes e experincias e a valorizao do que cada um aprendeu fazendo. Esta troca de conhecimentos e competncias pode se dar em mltiplas oportunidades e contextos. O contato inicial de um voluntrio com o Centro uma primeira oportunidade de formao na medida em que os voluntrios sejam estimulados a falar de seus sentimentos, motivaes e expectativas. So oportunidades de encontro e conversa sobre as possibilidades e responsabilidades do trabalho voluntrio. Muitos Centros tm reservado um momento para depoimentos de voluntrios j atuantes e outro para a apresentao das oportunidades existentes de trabalho.

    Eles vo construindo conosco a exposio sobre

    tica e responsabilidade atravs de uma dinmica. Queremos um voluntrio cidado, que faz um

    trabalho com satisfao e por isso aceita o compromisso. Depois falamos sobre habilidades e

    conclumos mostrando quais as reas possveis para trabalhar e com quem ele atuaria: crianas e adolescentes, idosos, portadores de deficincia...

    s vezes o voluntrio no sabe o que pode escolher ou em que rea poderia atuar...

    (Olvia Rauter - Braslia) A experincia tem mostrado o quanto pode ser decisivo compreender a necessidade de um compromisso transparente e responsvel quanto a freqncia e assiduidade. S assim a ao do voluntrio no prejudicar o desenvolvimento das atividades institucionais e ser um valor para todos. Uma vez encaminhado, o voluntrio passar a integrar uma equipe na qual se espera que contribua numa atmosfera de respeito e complementaridade. Finalmente, interessante manter contatos peridicos com os voluntrios cadastrados, construindo uma verdadeira rede de cidadania. Esses contatos regulares podem ser feitos atravs de um telefonema, uma carta ou um pequeno boletim informativo. Mecanismos como esses animam e valorizam o engajamento voluntrio, mantendo a motivao para uma participao consistente e contnua. Alguns Centros j realizaram encontros com voluntrios encaminhados, onde eles trocaram experincias e impresses. Tais ocasies fornecem elementos valiosos de acompanhamento e avaliao para a ao dos Centros de Voluntrios. Atividades com instituies

    Fortalecer o voluntariado significa tambm apoiar as instituies que j trabalham ou que queiram trabalhar com voluntrios, favorecendo seu gerenciamento cada vez mais eficiente.

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    A maioria dos Centros tm realizado encontros peridicos com a participao de pessoas ligadas s instituies e programas de voluntrios nos quais so apresentadas e discutidas as perspectivas do voluntariado e do Terceiro Setor no Brasil de hoje, a proposta de trabalho do Centro e as demandas para uma melhor administrao do trabalho voluntrio. Estas so tambm excelentes oportunidades para aprofundar o conhecimento mtuo, identificar interesses comuns e explorar possibilidades de colaborao entre o Centro e as instituies e programas. A possibilidade de acesso a espaos para troca de idias geralmente muito valorizada pelas instituies que atuam na rea social. So ocasies preciosas para socializar conhecimentos e informaes sobre questes como financiamento, gesto, comunicao e marketing, onde cada um tem sempre o que aprender e ensinar aos demais. medida que vo acumulando competncias, os centros podem tambm organizar atividades de formao com instituies segundo a rea temtica em que atuam ou segundo o tempo e a qualidade de sua experincia com voluntrios. Dessa forma as entidades so valorizadas e estabelecem uma enriquecedora relao de colaborao entre si e com o Centro de Voluntrios. Organizar atividades mais especializadas pode garantir uma eficincia maior no esforo de formao.

    Muitas instituies diziam que os voluntrios no eram suficientemente qualificados

    e no sabiam o que fazer. Por outro lado tambm sentiam que no sabiam responder porque os voluntrios deveriam estar ali. Essa dificuldade resultou numa

    demanda de capacitao, que estamos tentando atender. (Martina Odebrecht Bornhausen - Florianpolis)

    A experincia tem demonstrado a importncia das instituies destacarem algum da equipe (que pode ser voluntrio ou funcionrio) para atuar como referncia para o voluntariado: o coordenador de voluntrios. algum com conhecimento e vivncia suficiente na entidade para represent-la frente ao voluntrio e atuar como mediador no seu processo de insero institucional. O coordenador ser tambm o interlocutor privilegiado da entidade com o Centro. Outra questo que pode ser discutida nas atividades de formao com as entidades refere-se relao entre o pessoal remunerado da instituio e os voluntrios.

    Normalmente, como o voluntrio s d um perodo por semana, os funcionrios tm mais poder na instituio pois tm mais informao. Por outro lado, o voluntrio est

    l porque quer... Por isso tem que haver um esforo para manter a transparncia nas relaes e evitar comunicaes truncadas. Alm disso, quem dirige a instituio

    precisa estar ciente de que esquecer de agradecer grave, eu diria gravssimo, porque os voluntrios esperam um reconhecimento. O mnimo que eles querem,

    saber que fazem parte da engrenagem e que o trabalho deles importante. (Vera Cordeiro - Rio de Janeiro)

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    Alguns Centros tm formalizado a relao com as instituies atravs de um convnio ou termo de cooperao. Nesses casos ambos se comprometem a avaliar periodicamente a relao, tanto do ponto de vista dos encaminhamentos realizados pelo Centro como das condies do trabalho voluntrio na instituio. Alm de selar um compromisso de parte a parte, esta tambm uma forma de apoiar os voluntrios encaminhados, desenvolvendo uma relao produtiva de troca e de crescimento para todos. possvel que entidades atuantes na rea social e comunitria no se interessem por receber voluntrios. Via de regra, por trs dessa recusa ou resistncia est a dificuldade da organizao ou programa em preparar-se adequadamente para receber e valorizar os voluntrios. Outra fonte significativa de reticncia era decorrente de experincias negativas ou dificuldades legais que instituies tiveram em seu relacionamento com voluntrios. Este problema foi equacionado com a aprovao pelo Congresso, em fevereiro de 1998, de uma Lei sobre o Servio Voluntrio. Esta lei tem dois grandes mritos:

    4 reconhecendo a especificidade do trabalho voluntrio, d um estatuto prprio a uma realidade que, no Brasil, ainda pouco conhecida e valorizada.

    4 estabelecendo claramente uma distino entre voluntrio e empregado, a lei protege as organizaes contra a ao inescrupulosa de alguns poucos que se apresentavam e trabalhavam como voluntrios para, em seguida, tentar forjar um vnculo empregatcio com a organizao com a qual colaboravam. Essa atitude de poucos inibia, na prtica, a ao de muitos, na medida em que as organizaes que necessitavam de voluntrios hesitavam em mobiliz-los, receosas de se verem surpreendidas por aes trabalhistas indevidas.

    Na seo Dicas & Ferramentas encontra-se o texto completo da Lei e um exemplo

    de Termo de Adeso para formalizar relaes de trabalho voluntrio.

    Informao: divulgando o novo conceito de voluntariado O voluntariado enquanto expresso da participao cidad tem crescido fortemente nos ltimos anos, mas uma realidade ainda pouco visvel e reconhecida pelo conjunto da sociedade. Tornar visvel a riqueza e diversidade das experincias de trabalho voluntrio e sua contribuio para a melhoria da qualidade de vida em comum uma das funes de um Centro de Voluntrios. Fortalecer o voluntariado , tambm, difundir e valorizar uma cultura da solidariedade e da participao cidad.

    Ns organizamos palestras na universidade, em algumas escolas de segundo grau e tambm participamos de entrevistas em emissoras de rdio... A receptividade foi muito boa. (Lindinauva Rameh do Amaral Reis - Recife)

    Voluntariado ao. Neste sentido, a melhor estratgia de valorizao do voluntariado divulgar o sentido e o impacto de aes bem sucedidas. No h

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    melhor propaganda do que uma necessidade atendida, um problema resolvido, um sentimento geral de satisfao experimentado pelos participantes de uma determinada iniciativa. Identificar, valorizar, divulgar iniciativas exemplares de trabalho voluntrio o melhor estmulo para que mais e mais pessoas queiram participar. Com este objetivo, vrios centros criaram eventos anuais de celebrao do voluntariado, que incluem o reconhecimento e premiao de pessoas, instituies e programas exemplares.

    Tivemos um evento muito

    importante que reuniu mais de 600 voluntrios que foram

    homenageados pelo poder pblico. Ento ns temos levantado essas

    experincias para divulg-las e valoriz-las.

    (Elizabeth Varga - Limeira)

    A mesma estratgia de comunicao vale para os Centros de Voluntrios. Um centro se divulga pelo que faz, pelos resultados concretos que alcana, pelo impacto que tem na comunidade, pelo reconhecimento que obtm junto a voluntrios e instituies que trabalham com voluntariado. No sempre imprescindvel recorrer a especialistas em comunicao e marketing para lograr comunicar-se bem. Alguns procedimentos ao alcance de todos ajudam. O Centro pode organizar pastas com relatos de casos de sucesso e relatrios peridicos sobre as atividades, compondo uma fonte permanente de informaes atualizadas que subsidie a produo de boletins e outros materiais de divulgao. Essa prestao de contas populao em geral, aos voluntrios e s instituies, pode ser sintetizada em um boletim peridico. Feito com cuidado e simplicidade, este boletim pode ser um material de baixo custo que contribui para a consolidao da imagem do Centro e para o fortalecimento do voluntariado. Os meios de comunicao, de um modo geral, tm se mostrado bastante receptivos para divulgar notcias relativas ao trabalho voluntrio. Entretanto, vale lembrar que so pessoas que conversam e que convencem pessoas. Por isso conveniente que o Centro de Voluntrios tenha uma ou mais pessoas na equipe capazes de atuar como ponte com a mdia, divulgando a ao do centro e a dinmica do voluntariado na regio. Pouco a pouco, pode-se estimular a organizao de uma equipe voluntria de divulgao, responsvel por elaborar e atualizar permanentemente pautas para divulgao. Um bom relacionamento com a mdia ajuda e muito a criar um ambiente de reconhecimento pblico do trabalho voluntrio, o que, por sua vez, facilita a mobilizao de novos recursos e apoios.

    No se trata de divulgar o Centro pelo Centro. preciso divulgar o voluntariado, as

    aes voluntrias e as instituies que trabalham com voluntrios. Vejo trs pontos importantes nessa questo da comunicao: primeiro - trabalhar bem os meios de comunicao porque eles formam cultura; segundo - a questo do centro no como um fim de si mesmo, mas como potencializador do trabalho voluntrio; e terceiro -

    ter voluntrios comunicadores, pessoas que apoiam as aes de divulgao do Centro.

    (Rogrio Neumann - Curitiba)

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    Embora seja importante construir a imagem pblica do Centro de Voluntrios e dar visibilidade a suas estratgias de ao, deve-se ter cuidado para no fazer muito estardalhao e depois no ter condies de absorver a demanda... Vale lembrar que a consolidao de uma cultura do voluntariado um horizonte de desafios de longo prazo. As idias e pistas apresentadas aqui compem um elenco de possibilidades de ao a serem adaptadas e enriquecidas em funo das necessidades e oportunidades que se apresentarem. Em cada cidade ou regio a equipe local que vai fazer acontecer e traar seus prprios caminhos e jeitos de fazer um Centro de Voluntrios.

    5. Ampliando recursos medida que um centro expande sua rede de contatos e seu programa de atividades a tendncia natural que surjam novas demandas e oportunidades de ao. Mais trabalho implica, evidentemente, maiores custos. Os resultados j alcanados so os argumentos que justificam uma estratgia de ampliao dos recursos e competncias adicionais que se vo fazendo necessrios. sempre bom lembrar que recursos significam muito mais que dinheiro. Muitas vezes os recursos mais decisivos para as atividades so as pessoas com suas competncias, conhecimentos e capacidade de criao. Claro que infra-estrutura e equipamentos so tambm importantes mas precisam ser obtidos e utilizados por pessoas. Na trajetria de constituio dos diversos Centros existentes no Brasil, a maior parte dos recursos foi proveniente de parcerias estabelecidas tanto com rgos governamentais quanto com empresas e organizaes da prpria sociedade. Mobilizar e ampliar recursos e competncias se traduz, na prtica, na construo de novas parcerias. Especialmente no incio da trajetria de constituio de um centro, o estabelecimento de parcerias fundamental para garantir as condies bsicas de funcionamento do novo empreendimento. A prpria constituio do grupo inicial deve ser um impulso no sentido de abrir portas e comear a construir relaes que progressivamente viabilizem as aes que se quer realizar. Construindo parcerias Trabalhar em parceria uma tnica na questo do voluntariado em toda parte. De fato, a prpria noo de voluntariado enquanto relao de troca de saberes e competncias aponta, naturalmente, na direo de relaes de colaborao.

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    Parcerias so relaes de colaborao entre agentes sociais que se concretizam na troca de meios e servios. A prpria relao que o Centro estabelece com as entidades que se dispem a receber voluntrios pode ser pensada como uma parceria. Parcerias so construdas com base em objetivos ou interesses comuns: preciso ser cmplice de um mesmo sonho... Para articul-las necessrio identificar pessoas e organizaes com interesses que podem se combinar com os do Centro de Voluntrios, de maneira que todos ganhem com a colaborao. Cada parceiro deve ter algo a oferecer e algo a receber. Trata-se de buscar parceiros para construir e ampliar oportunidades de participar e possibilidades de fazer! Pela natureza mesma de seu trabalho um centro levado a entrar em contato com as muitas instituies e organizaes que desenvolvem iniciativas de melhoria da qualidade de vida da comunidade. Cada uma destas entidades um parceiro em potencial. Aproveitar este imenso potencial de colaborao um desafio permanente que implica identificar o que cada um faz melhor e como esforos e competncias podem se somar e complementar. A variedade de parceiros (empresas, fundaes, universidades, clubes de servio, rgos governamentais e no-governamentais, etc.) ajuda a evitar a vinculao excessiva com qualquer deles, prevenindo relaes de dependncia que poderiam arriscar a autonomia e interferir na imagem do Centro.

    Nosso estande foi patrocinado pela DATAPREV, que cedeu tambm dois

    computadores e dois funcionrios para cadastrar voluntrios e ainda patrocinou nossos adesivos e o nosso folder. As salas e os mveis que usamos em nossa

    sede foram cedidos pelo SESI/FIRJAN. Os telefones, o galpo da Central de Doaes e outros apoios para nossa implantao, pela Prefeitura. O SENAC e o

    SESI tambm colaboram cedendo auditrios para nossos encontros com voluntrios e entidades. Temos tambm uma parceria com o Departamento de Estatstica da

    UERJ para pesquisar o perfil dos voluntrios e das instituies cadastradas. (Helosa Coelho - Rio de Janeiro)

    medida que vo acontecendo as primeiras atividades, a equipe do Centro de Voluntrios vai reunindo argumentos e histrias com um potencial crescente de convencimento de novos parceiros ou contribuintes. Mostrar resultados a forma mais eficaz de conseguir recursos e ampliar aes. A visibilidade da proposta do Centro e de suas realizaes d segurana para quem investe, fundamentando seu compromisso com a iniciativa. Praticamente qualquer iniciativa do centro uma oportunidade para novas parcerias: aes conjuntas de mobilizao de voluntrios, encontros de formao, promoo de eventos, patrocnio de material de divulgao, servios de pesquisa, etc. A maioria dos Centros j em funcionamento tem procurado construir parcerias com as universidades ou faculdades locais. Esta uma possibilidade de complementao e troca de conhecimentos e servios

    Ns estamos querendo ter um vdeo do

    centro e pensamos em fazer um concurso entre estudantes de comunicao: eles

    preparam propostas de roteiros de vdeo sobre o Centro ou divulgando aes

    voluntrias existentes na cidade. O melhor

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    bastante promissora. O voluntariado um campo extremamente frtil de aprendizagem para jovens pois fomenta a participao e um maior conhecimento da realidade social e cultural que os cerca.

    roteiro a gente se compromete a viabilizar... Foi a prpria universidade que

    nos procurou, querendo fazer alguma coisa e a ns sugerimos...

    (Maria Lcia Meirelles Reis - So Paulo)

    Quem toma a iniciativa de buscar um parceiro naturalmente se obriga a pensar antes no que espera, no que poder oferecer e nos argumentos para justificar a cooperao. Parte-se do reconhecimento e da valorizao das competncias de cada um e da perspectiva de troca.

    A gente tem que ter muito claro quem o

    parceiro e qual nossa relao com ele, p