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    EDNIA ALBINO NUNES CERCHIARI

    SADE MENTAL E QUALIDADE DE VIDA EM

    ESTUDANTES UNIVERSITRIOS

    CAMPINAS

    2004

    i

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    EDNIA ALBINO NUNES CERCHIARI

    SADE MENTAL E QUALIDADE DE VIDA EM

    ESTUDANTES UNIVERSITRIOS

    Tese de Doutorado apresentada Ps-Graduao da

    Faculdade de Cincias Mdicas da Universidade

    Estadual de Campinas, para obteno do ttulo de Doutor

    em Cincias Mdicas, rea de Cincias Biomdicas.

    ORIENTADOR: PROF DR DORGIVAL CAETANO

    CAMPINAS

    2004

    iii

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    FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELABIBLIOTECA DA FACULDADE DE CINCIAS MDICAS

    UNICAMP

    SLP

    Cerchiari, Ednia Albino Nunes

    C334s Sade mental e qualidade de vida em estudantes universitrios /

    Ednia Albino Nunes Cerchiari . Campinas, SP : [s.n.], 2004.

    Orientador : Dorgival Caetano

    Tese ( Doutorado) Universidade Estadual de Campinas. Faculdade

    de Cincias Mdicas.

    1. Anlise fatorial. 2. Distrbios do sono. 3. Ansiedade. 4.

    Depresso. I. Dorgival Caetano. II. Universidade Estadual de

    Campinas. Faculdade de Cincias Mdicas. III. Ttulo.

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    Banca examinadora da tese de Doutorado

    Orientador: Prof Dr Dorgival Caetano

    Membros:

    1. Prof Dr Snia Grubits

    2. Prof Dr Jos Tolentino Rosa

    3. Prof Dr Liliana Andolpho Magalhes Guimares

    4. Prof Dr Maria Elenice Quelho Areias

    5. Prof Dr Dorgival Caetano

    Curso de Ps-Graduao em Cincias Mdicas da Faculdade de Cincias Mdicas da

    Universidade Estadual de Campinas

    Data: 19 de Novembro de 2004

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    DEDICATRIA

    queles que lutaram pela continuidade do Servio de Sade

    Mental da UEMS.

    Aos meus pais: Joo Nunes Filho (in memorian) e Hermnia,

    pela vida e base de minha formao pessoal.

    s minhas irms e irmos pelo exemplo de persistncia e luta.

    Ao Srgio, Alline e Ana Paula Cerchiari, razo de tudo.

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    AGRADECIMENTOS

    Ao meu orientador, Professor Doutor Dorgival Caetano, que me acompanhou

    com disponibilidade, firmeza e rigor desde o incio. Sinto-me grata pelos seus valiosos

    ensinamentos que me proporcionaram crescimento pessoal e profissional.

    Ao Professor Doutor Odival Faccenda (UEMS), pela disponibilidade e

    colaborao imprescindveis para a realizao da parte estatstica.

    Ao Srgio, Alline e Ana Paula Cerchiari, a quem muito devo, pelo carinho e

    incansvel pacincia e colaborao.

    Mrcia Cmara, com quem me (re) descobri, cresci e fortaleci em anlise.

    Ao Celso e Rosemary Cerchiari pelo acolhimento e suporte, em Campinas.

    Aos Coordenadores dos Cursos de Cincia da Computao (Prof Rubens

    Barbosa Filho), Direito (Prof Luiz Antonio lvares Gonalves), Enfermagem (Prof Luz

    Marina Pinto Martins) e Letras (Prof Alzira Facco Saturnino) da UEMS e Enfermagem da

    UFMS (Prof Marisa Dias Rolan e Prof Elizabeth G. F. Zaleski) e aos professores, peloapoio profissional no decorrer da coleta dos dados.

    Aos alunos, auxiliares da pesquisa: Alessandra, Alline, Ana Paula, Anagny,

    Andressa, Cristina, David, Deise, Lizandra, Mrcio, Neto, Ramon e Welligton, pela

    colaborao na coleta de dados.

    Aos funcionrios da Diviso de Recursos Humanos e da Diviso de Assuntos

    Acadmicos da UEMS, em especial Maria Aparecida Dias e Lair Aparecida Cardoso

    Espndola pela disponibilidade em fornecer-me os dados referentes comunidade discente

    e docente, to necessrios validade desta pesquisa.

    ix

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    Cleusa Telles, funcionria da Biblioteca da Faculdade de Cincias Mdicas

    da Unicamp, pela disponibilidade, prontido e colaborao imprescindveis para a

    realizao da reviso bibliogrfica.

    Fernanda Miranda (UFMS), Marisa Diniz de Almeida pelo auxlio natranscrio dos textos da lngua inglsa e, em especial, ao Dr Dorgival Caetano pela

    reviso.

    s professoras Aparecida Bueno Nogueira e Maria Stela Bomfim que

    pacientemente fizeram a reviso gramatical dos textos da lngua portugusa.

    Aos professores Liliana Andolpho Magalhes Guimares, Maria Elenice

    Quelho Areias e Acioly Luis Tavares de Lacerda pelas valiosas sugestes no exame dequalificao.

    Alba Reis (UFMS), Snia da Cunha Urt (UFMS) e Mrcia Regina Cassanho

    Oliveira (UFMS) pelo estmulo pesquisa.

    Ao Tarcsio Diniz de Almeida, Paulo Orlando Busch, Rafael Grigoleto Azoni,

    Celso Luiz Assumpo Cerchiari e, em especial, ao Felipe Crespo Maciel pela ajuda

    operacional nos momentos mais crticos em Campinas.

    As Instituies: UEMS pela minha liberao e a UNICAMP pela oportunidade

    da continuidade do meu processo de capacitao profissional.

    Aos colegas docentes e funcionrios da Coordenao de Enfermagem e

    Turismo da UEMS pelo incentivo e apoio na concretizao deste doutorado.

    Aos alunos que participaram dessa investigao, sem os quais nada disto teria

    acontecido.

    A todos que, de alguma forma, colaboraram na realizao desta pesquisa.

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    Para tudo h um tempo, para cada coisa h um momento.

    Eclesiastes 3:1

    xiii

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    SUMRIO

    PG.

    RESUMO................................................................................................................. xxix

    ABSTRACT............................................................................................................. xxxiii

    APRESENTAO................................................................................................. 37

    INTRODUAO....................................................................................................... 43

    OBJETIVOS............................................................................................................ 61

    CAPTULO I -Utilizao de Servio de Sade Mental em uma Universidade

    Pblica...................................................................................................................... 65

    CAPTULO II -WHOQOL-100: Factor Structure And Gender Effect............. 87

    CAPTULO III -WHOQOL-BREF: Factor Structure, Internal Consistency And

    Gender Effect In Undergraduate Brazilian Students............................................ 113

    CAPTULO IV -The General Health Questionnaire: Factor Structure, Internal

    Consistency And Gender Effect In Undergraduate Brazilian Students................ 131

    CAPTULO V - General Health Questionnaire- 30: Factor Structure, Internal

    Consistency And Gender Effect In Undergraduate Brazilian Students................ 151

    CAPTULO VI -Prevalncia de Transtornos Mentais Menores em Estudantes

    Universitrios............................................................................................................ 171

    CAPTULO VII -Prevalncia de Transtornos Mentais Menores em Estudantes

    de Enfermagem......................................................................................................... 197

    CAPTULO VIII -Qualidade de Vida em Estudantes Universitrios.................... 219

    xv

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    DISCUSSO GERAL............................................................................................ 237

    CONCLUSO GERAL.......................................................................................... 245

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.................................................................. 249

    ANEXOS.................................................................................................................. 261

    Anexo 1 - Termo de consentimento livre e esclarecido...................................... 255

    Anexo 2 - Questionrio de dados sociodemogrficos e processo ensino-

    aprendizagem................................................................................. 257

    Anexo 3 - Questionrio de Sade Geral de Goldberg.......................................... 259

    Anexo 4 - WHOQOL-100.................................................................................. 261Anexo 5 - Folha de resposta............................................................................... 281

    Anexo 6 -Folha de resposta............................................................................... 283

    xvii

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    LISTA DE ABREVIATURAS

    CAP/UEMS Centro de Atendimento Psicolgico da Universidade Estadual de

    Mato Grosso do Sul

    CECOM Centro de Sade a Comunidade (Unicamp)

    CSS Coordenadoria de Servios Sociais (Unicamp)

    FCM Faculdade de Cincias Mdicas (Unicamp)

    FONAPRACE Frum Nacional de Pr-Reitores de Assuntos Comunitrios e

    Estudantis

    GHQ General Health Questionnaire

    GHQ-60 General Health Questionnaire 60 item

    GHQ-30 General Health Questionnaire 30 item

    GRAPEME Grupo de Apoio Psicopedaggico ao Estudante de Medicina,

    Enfermagem e Fonoaudiologia (Unicamp)

    IES Instituio de Ensino Superior

    IFES Instituio Federal de Ensino Superior

    OMS Organizao Mundial da Sade

    PCA Principal Components Analysis

    PRDU Pr-Reitoria de Desenvolvimento Universitrio (Unicamp)

    QDSD Questionrio de Dados Scio-demogrficos

    QSG Questionrio de Sade Geral de Goldberg

    QL Quality of Life

    QoL / General Health Overall Quality of Life and General Health

    QV Qualidade de Vida

    xix

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    SAE Servio de Apoio ao Estudante (Unicamp)

    SAPPE Servio de Apoio Psicolgico e Psiquitrico ao Estudante

    (Unicamp)

    SPSS Statical Package for the Social Sciences.

    TMM Transtornos Mentais Menores

    UEMS Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

    UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

    UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

    WHO World Health Organization

    WHOQOL World Health Organization Quality of Life

    WHOQOL-BREF Instrumento Abreviado de Qualidade de Vida da Organizao

    Mundial da Sade

    WHOQOL-100 Instrumento de Avaliao de Qualidade de Vida da Organizao

    Mundial da Sade

    xxi

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    LISTA DE TABELAS

    PG.

    Tabela I- Mapeamento do servio oferecido pelas IES em sade mental e

    nmero de atendimento realizados em 1999 e 2000........................ 53

    Tabela II- Domnios e Facetas do WHOQOL-100........................................... 56

    xxiii

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    LISTA DE FIGURAS

    PG.

    Figura 1- Localizao das Unidades Universitrias da UEMS no Estado de Mato

    Grosso do Sul........................................................................................... 59

    xxv

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    LISTA DE TERMOS ESTATSTICOS

    AFERIO: Processo de ajustamento de um instrumento de avaliao a uma populao

    tornando possvel a sua utilizao cientfica e inclui o estabelecimento de normas para ainterpretao dos resultados (SIMES, 1994 apud CARVALHO, 1997).

    ANALISE FATORIAL: Extrao de fatores ou componentes principais, com rotao de

    tipo varimax (transforma um conjunto de variveis correlacionadas, os itens, num conjunto

    de variveis no correlacionadas, os fatores dos componentes principais). Este tipo de

    anlise, atravs da reduo a componentes independentes, explica a maior parte de

    varincia possvel, permitindo obter uma estrutura mais clara do ponto de vista da

    interpretao terica.

    COEFICIENTE DE SPEARMAN-BROWN: Coeficiente que avalia a consistncia interna.

    CONSISTNCIA INTERNA: Avalia a forma como um item especfico, escolhido no

    universo dos itens, altera os resultados obtidos isto , avalia o grau em que a varincia geral

    dos resultados se associa ao somatrio da varincia item a item. Os valores devem ser de no

    mnimo .040 para ser mantido no instrumento.

    CONSTRUCTOS: Variveis que no podem ser medidas ou observadas diretamente, por

    exemplo, ansidade, depresso, falta de confiana, etc.

    EINGENVALUE (VALORES PRPRIOS): Corresponde a razo da variao entre os

    grupos pela variao dentro dos grupos. Os valores acima de 1 indicam variao.

    INDICADOR ALFA DE CRONBACH: Mede a varincia devido heterogeneidade dos

    itens. Os valores devem situar-se entre os .7 e .8.

    REGRESSO MLTIPLA: Conjunto de tcnicas estatsticas que possibilita a avaliao

    do relacionamento de uma varivel dependente com diversas variveis independentes.

    VALIDADE DE CONSTRUTO: Avalia em que medida os resultados do teste so

    indicativos de construtos tericos subjacentes ou seja, das dimenses que o instrumento

    procura medir.

    xxvii

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    RESUMO

    xxix

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    Aprofundando o conhecimento sobre as relaes entre a universidade e a trajetria do

    estudante universitrio, em diferentes cursos e momentos da graduao, o presente estudo

    teve como objetivo investigar a sade mental e a qualidade de vida de estudantes

    universitrios, bem como, identificar as caractersticas scio-demogrficas e do processo

    ensino-aprendizagem que poderiam estar relacionadas com o bem-estar e a qualidade de

    vida desses estudantes e ainda verificar a estabilidade da estrutura e a validade fatorial dos

    intrumentos: WHOQOL-100 e Bref, QSG-60 e 30. Realizou-se um estudo de corte

    transversal, em uma amostra de 558 estudantes universitrios, de ambos os sexos, dos

    cursos de Cincia da Computao, Direito, Enfermagem e Letras da Universidade Estadual

    de Mato Grosso do Sul (UEMS) e do curso de Enfermagem da Universidade Federal de

    Mato Grosso do Sul (UFMS). Utilizaram-se, para a coleta dos dados, trs instrumentos

    auto-aplicveis: Questionrio de Dados Scio-Demogrficos e Processo Ensino-

    Aprendizagem; Questionrio de Sade Geral de Goldberg QSG-60, desenvolvido por

    GOLDBERG, em 1972, e adaptado nossa populao por PASQUALI et al., em 1996 -

    instrumento de rastreamento destinado a identificar distrbios menores da sade mental;

    Instrumento de Avaliao de Qualidade de Vida-WHOQOL-100, criado pelo WHOQOL

    Group (OMS), adaptado nossa realidade por FLECK et al. (1999), instrumento composto

    por 100 itens. Os dados foram analisados utilizando-se o Programa SPSS 10.0 for

    Windows. Para a avaliao de possveis interrelaes entre as variveis scio-demogrficas

    e o processo ensino-aprendizagem foi utilizado o coeficiente de correlao de Spermann e

    tambm foi realizada uma anlise de regresso mltipla. As diferenas entre as mdias

    (variveis quantitativas) foram verificadas por ANOVA (F) e, para verificao da estrutura

    dos instrumentos WHOQOL-100, WHOQOL-BREF, QSG-60 e QSG-30, foram realizadas

    Anlises dos Componentes Principais com rotao Varimax. Para a avaliao da

    consistncia interna, utilizou-se o Alfa de Cronbach e para a correlao item-total, o

    coeficiente de Spearman-Brown. Os resultados obtidos convalidam a anlise fatorial do

    Questionrio de Sade Geral de Goldberg em suas verses de 60 e 30 itens, como

    instrumento adequado para avaliao de Transtornos Mentais Menores (TMM) em

    estudantes universitrios; os instrumentos WHOQOL-100 e WHOQOL-BREF, como

    instrumentos capazes de avaliar a qualidade de vida em diferentes culturas e

    subpopulaes, com a necessidade, entretanto, de ajustes nos itens que compem cada

    Resumo

    xxxi

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    domnio. A prevalncia total dos TMM foi 25%; os fatores mais afetados foram: fator 5

    (distrbios psicossomticos), fator 1 (tenso ou estresse psquico) e fator 3 (falta de

    confiana na capacidade de desempenho), respectivamente por ordem de magnitude; h

    uma correlao significativa entre o surgimento de TMM e as variveis gnero, ano de

    ingresso, atividade remunerada, curso e tipo de moradia tendo, no 3 ano, o seu maior valor

    e os estudantes de Enfermagem foram os mais afetados. Quanto qualidade de vida, nos

    domnios fsico, psicolgico, nvel de independncia e ambiente os estudantes

    universitrios tiveram escores significativamente menores (p

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    ABSTRACT

    xxxiii

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    The present study was based on a deep investigation of the relationships between the

    university and the undergraduate students trajectory in different courses and moments of

    their graduating process. The study aimed to search into students mental health and quality

    of life, as well as to identify the sociodemographic features and learning process that could

    be related to those students welfare and quality of life.A transversal study was carried out

    on a sample of 588 male and female undergraduate students attending to the Computer

    Science, Law, Nursing and Languages courses of the State University of Southern Mato

    Grosso (UEMS) and the Nursing course of the Federal University of Southern Mato Grosso

    (UFMS). Three self-report instruments were employed for collection of data: the

    Sociodemographic Data and Learning Process Questionnaire; the General Health

    Questionnaire (QSG-60) , which is a tracing instrument used to identify minor mental

    disorders and was developed by Goldberg in 1972 and later adjusted to our population by

    Pasquali in 1996; the World Health Organization Quality of Life Evaluation

    (WHOQOL-100), which was created by the WHOQOL.Group (OMS) and adjusted to our

    reality by FLECK in 1999 and contains 100 items. The SPSS Program 10.0 for Windows

    was used to analyze the collected data. Possible correlations between sociodemographic

    variables and learning process were evaluated by means of the Spermann coefficient and

    also by a mutual regression analysis. The differences among the scores averages (quantity

    variables) were checked by ANOVA (F) and the main components were rotated to Varimax

    criterion in order to test the factor structure of the instruments WHOQOL-100, WHOQOL-

    BREF, QSG-60 and QSG-30. And finally, the Cronbachs Alpha was used to evaluate the

    internal consistency and the Spermann-Brown coefficient was employed to measure

    correlations between each item and total score. The results proved the factor analysis of the

    Goldberg General Health Questionnaire, 30 and 60 items, to be a suitable instrument for the

    evaluation of Minor Mental Disorders in undergraduate students. The WHOQOL-100 and

    WHOQOL-BREF were also proved to be efficient instruments to evaluate quality of life of

    different population and cultural settings, although some adjustments of the items in each

    domain are necessary. A prevalence of 25% of MMD was found and the most affected

    factors were: factor 5 (psychosomatic disturbance), factor 1 (tension or psycho-stress) and

    factor 3 (lack of self-confidence on the performance capacity), enumerated according to

    their magnitude. There is a significant correlation between the MMD and the gender, year

    Abstract

    xxxv

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    of enrollment, attended course, job and type of dwelling place, especially on the third year.

    The students from the nursing course were the most affected. Regarding to the quality of

    life, in the physical and psychological domains, independence level and environment, the

    undergraduate students got significantly lesser scores (p

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    APRESENTAO

    37

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    Considerando-se que o ingresso na universidade favorece o surgimento de

    questes emocionais e que, em alguns casos, requerem orientao ou aconselhamento

    psicolgico iniciamos, em 1994, atendimento aos universitrios na Universidade Estadual

    do Mato Grosso do Sul (UEMS). Alguns estudantes movidos por suas inquietaes

    comearam a procurar ajuda. medida que percebiam a oportunidade e os benefcios desse

    atendimento, o nmero de estudantes foi aumentando. Diante da quantidade de estudantes

    com aparentes dificuldades, desenvolveu-se um Projeto de Extenso visando Implantao

    do Centro de Atendimento Psicolgico para a Comunidade Acadmica (CAP/UEMS)

    alunos, professores e funcionrios, o qual foi efetivado em maio de 2000. Desde ento, essa

    experincia tem crescido e se tornou objeto da presente investigao.

    Assim, com a finalidade de subsidiar propostas de promoo e de interveno

    no cuidado sade mental e qualidade de vida dos estudantes da UEMS, Unidade de

    Dourados, e de preencher uma lacuna nos estudos epidemiolgicos, o presente estudo teve

    como objetivo investigar a sade mental e a qualidade de vida desses estudantes.

    Este estudo, estruturado no formato alternativo de disponibilizao de teses de

    doutorado aprovado pela Unicamp, segundo Deliberao CCPG-001/98, tem a seguinte

    organizao: Introduo geral, Objetivos de cada paper, os Papers propriamente dito,

    Discusso geral, Concluso geral, Referncia geral e Anexos.

    Na Introduo geral, as questes da sade mental e da qualidade de vida do

    estudante universitrio so apresentadas de forma concisa. Em seguida, apresentam-se o

    Objetivo geral e os Objetivos de cada paper. , portanto, nos Captulos I, II, III, IV, V,

    VI, VII e VIII, pela exposio de cada paper, que o contedo desta investigao

    apresentado e detalhado.

    O Captulo I trata de um estudo retrospectivo e exploratrio, de corte

    transversal, em todos os pronturios (81) do Centro de Atendimento Psicolgico da

    Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (CAP/UEMS-Unidade de Dourados), no

    perodo de maio de 2000 a julho de 2001. O resumo do artigo intitulado Perfil da Clientela

    Atendida no Servio em Sade Mental da Universidade Estadual de Mato Grosso do

    Sul/UEMS foi publicado nos anais do I Simpsio Internacional em Sade, Cultura e

    Apresentao

    39

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    Sociedade organizado pela Universidade Catlica Dom Bosco (UCDB), Mato Grosso do

    Sul, e o artigo, na ntegra, foi submetido Revista Psicologia: Cincia e Profisso,sob

    ttulo Utilizao de Servio de Sade Mental em uma Universidade Pblica.

    O Captulo II refere-se ao paper WHOQOL-100: Factor Structure andGender Effect, cujo captulo est em ingls, de acordo com as normas do Psychological

    Medicine. Neste captulo descrevem-se e analisam-se a estabilidade da estrutura e a

    validade fatorial do WHOQOL-100 em 558 estudantes universitrios.

    No Captulo III, os escores dos 558 estudantes universitrios, nos 26 itens do

    WHOQOL-BREF, derivado do WHOQOL-100, foram submetidos a trs Anlises dos

    Componentes Principais (PCA), com o objetivo de examinar a estrutura fatorial e a

    consistncia interna do WHOQOL-BREF. Este captulo se refere ao paper WHOQOL-

    BREF: Factor Structure, Internal consistency and Gender Effect, cujo resumo foi

    apresentado e aprovado pelo Comit Cientfico do World Federation for Mental Health

    Biennial Congress 2002 e submetido, na ntegra, ao International Journal of Social

    Psychiatry, escrito em ingls de acordo com as normas da revista.

    O Captulo IV, "The General Health Questionnaire: Factor Structure, Internal

    Consistency and Gender Effect in Undergraduate Brazilian Students, descreve e analisa a

    estrutura fatorial e a consistncia interna do Questionrio de Sade Geral de Goldberg em

    sua verso de 60 itens (QSG-60) nos escores dos 558 estudantes universitrios. Este

    paper foi submetido ao British Journal of Psychology.

    A verso QSG-30, derivada do QSG-60, foi submetida anlise dos

    componentes principais e descrita no Captulo V, no paper The General Health

    Questionnaire-30: Factor structure, Internal Consistency and Gender Effect in

    Undergraduate Brazilian Students. O resumo desse "paper" foi submetido e aprovado pelo

    Comit Cientfico do World Federation for Mental Health Biennial Congress 2002 e o

    texto, na ntegra, est escrito em ingls de acordo com as normas do International Journal

    of Social Psychiatry.

    Apresentao

    40

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    O estudo de corte transversal nos escores dos 558 estudantes dos cursos de

    Cincia da Computao, Direito, Enfermagem e Letras da UEMS e de Enfermagem da

    UFMS, para estimar a prevalncia de Transtornos Mentais Menores (TMM) e verificar a

    associao de algumas variveis scio-demogrficas e do processo ensino-aprendizagem

    com os TMM em estudantes universitrios, tratado no Captulo VI. TMM uma

    terminologia utilizada para se referir a sintomas ansiosos, depressivos e somatoformes, com

    elevada prevalncia na populao geral adulta e diagnosticados em um tero ou mais da

    clientela que busca atendimento em servios primrios de sade (COUTINHO,1995). O

    artigo resultante desse estudo foi submetido Revista Estudos de Psicologia/Natal.

    O Captulo VII se refere a um estudo transversal em uma amostra de 257

    estudantes universitrios do 1, 2, 3 e 4 anos do curso de Graduao em Enfermagem, de

    duas Universidades Pblicas de Mato Grosso do Sul: a UEMS (n=116) e a UFMS (n=141),

    para estimar a prevalncia de TMM; verificar a associao de TMM com algumas variveis

    scio-demogrficas e com o processo ensino-aprendizagem e, comparar as Universidades

    entre si. O resumo do artigo referente a esse estudo, foi publicado nos anais do I Simpsio

    Internacional em Sade, Cultura e Sociedade, organizado pela Universidade Catlica Dom

    Bosco (UCDB), Mato Grosso do Sul, com o ttulo, Prevalncia de Transtornos Mentais

    Menores em Estudantes de Enfermagem das Universidades Publicas de MS e o artigo, na

    ntegra, Prevalncia de Transtornos Mentais Menores em Estudantes de Enfermagem, foi

    submetido, Revista Psicologia: Cincia e Profisso.

    O Captulo VIII trata de um estudo de corte transversal nos escores dos 558

    estudantes universitrios, para avaliar a qualidade de vida e verificar a associao de

    algumas variveis scio-demogrficas e do processo ensino-aprendizagem com essa

    qualidade de vida. Desse estudo, h um artigo intitulado Qualidade de Vida em estudantes

    universitrios, escrito de acordo com as normas da Revista de Sade Pblica.

    Finalmente, encontra-se, na Discusso geral, uma viso integradora dos

    resultados obtidos durante todo o desenvolvimento do estudo e, na Concluso geral, de

    forma bastante sucinta, apresentam-se indicadores fomentadores de debates para a

    formulao e definio de polticas de assistncia ao estudante universitrio.

    Apresentao

    41

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    CONCLUSO GERAL

    O processo de democratizao do sistema educacional brasileiro,particularmente das Universidades Pblicas, passa necessariamente pela

    incorporao de estudantes oriundos de famlias de baixa renda. No basta,entretanto, assegurar-lhes o acesso; preciso considerar que o compromisso

    efetivo do Estado com a democratizao do ensino superior pressupe a criaode condies concretas de permanncia de todos os alunos na Universidade,at a concluso do curso escolhido, atravs da formulao de programas que

    busquem atenuar os efeitos das desigualdades existentes, provocadas pelas condiesda estrutura social e econmica.

    FONAPRACE

    43

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    A transio do Ensino Mdio para o Ensino Superior coincide com um perodo

    crucial do desenvolvimento humano, que a adolescncia, caracterizado por uma revoluo

    bio-psicossocial. A marca desse perodo a passagem do estado infantil para o de adulto e

    as caractersticas psicolgicas desse movimento evolutivo, sua expressividade e

    manifestaes em nvel de comportamento e de adaptao social dependem da cultura e da

    sociedade na qual o processo da adolescncia se desenvolve.

    Nesse processo, o conflito do tornar-se adulto desenvolvido paralelamente ao

    luto pela perda da estrutura infantil. Alm disso, os adolescentes que tm a oportunidade de

    freqentar uma escola com o objetivo de fazer um curso universitrio precisam definir, por

    imposio do sistema educacional vigente, aos 16 anos, o que desejam ser no futuro,

    justamente no auge de sua crise de identidade (LEVISKY, 1998).

    Uma parcela significativa dos jovens brasileiros vivencia esse processo na faixa

    etria de 17 e 19 anos de idade, ao mesmo tempo em que, ao ingressarem na Universidade,

    tm que lidar com a adaptao acadmica. Essas vivncias podem desencadear situaes de

    crises que se manifestam atravs de depresses, alcoolismo, evaso escolar, dificuldades de

    aprendizagem, relacionamentos pessoais insatisfatrios, ligaes de amizades prejudiciais e

    isolamento (FERNANDEZ e RODRIGUES, 1995; COWAN e MOREWITZ, 1995).

    Na Universidade o processo ensino-aprendizagem pode ser significativamente

    comprometido pela estratgia de ensino, relao professor-aluno, formas de avaliao, e

    deficincias nas instalaes fsicas e de materiais das instituies (MARQUES, 1977;

    ABREU e MASETTO, 1990; BORDENAVE e PEREIRA, 1998).

    No ensino universitrio h, basicamente, duas abordagens do processo ensino-

    aprendizagem: a educao bancria ou convergente e a problematizadora ou

    "libertadora (BORDENAVE e PEREIRA, 1998).

    Na educao bancria, o ensino est centrado no professor, no programa, nas

    disciplinas. Cabe ao aluno apenas executar as prescries que lhe so impostas pelo

    professor, pois o primeiro considerado como algum que ir conhecer o mundo atravs de

    informaes que lhe sero fornecidas, consideradas como sendo as mais importantes e teis

    Introduo

    45

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    para o mesmo. Dessa forma, o aluno ser um receptor passivo, treinado para reproduo

    exata do contedo comunicado em sala de aula (MIZUKAMI, 1986).

    Na educao problematizadora a nfase est na resposta natural do aluno ao

    desafio de uma situao-problema, na qual o aluno passa a compreender ampla eprofundamente a estrutura do problema, quando surgem, a partir da, as hipteses de

    soluo levando-o seleo mais vivel, tornando-o sujeito ativo, participativo e

    transformador do processo (BORDENAVE e PEREIRA, 1998).

    O Frum Nacional de Pr-reitores de Assuntos Comunitrios e Estudantis ao

    conduzir uma pesquisa do perfil scio-econmico e cultural do estudante de graduao de

    Instituies Federais de Ensino Superior (IFES), com a finalidade de sistematizar uma

    proposta de poltica de assistncia ao estudante, verificou que os alunos nascidos em outras

    cidades e estados constituram um fluxo migratrio de 34,79% (FONAPRACE).

    Esses jovens, alm de passarem pelas perdas inerentes ao processo evolutivo

    normal, precisam sair da casa dos pais, separando-se dos amigos e de um crculo seguro e

    familiar de relacionamentos. Essas circunstncias podem desencadear situaes de crises

    (FERNANDEZ e RODRIGUES, 1993). Para alguns, esses momentos de crise so

    responsveis pelo amadurecimento e fortalecimento da identidade, enquanto, para outros,

    pode gerar desajustamento e, at, um desencadeamento de doenas (JORGE e

    RODRIGUES, 1995).

    Problemas psicossociais, tais como ansiedade, depresso, preocupaes com os

    estudos e dificuldades de relacionamentos, so comumente encontrados em estudantes

    universitrios e, quando no avaliados e tratados adequadamente, podem levar s evases

    que so onerosas para o ensino pblico, para a sociedade e, principalmente, para o prprio

    estudante.

    Desde a implantao do primeiro servio de sade mental oferecido a

    estudantes universitrios, em 1910, por STEWART PATON, na Universidade de Princeton,

    vrios outros estudos descrevendo esses fenmenos tm sido realizados.

    Introduo

    46

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    De acordo com INDRISANO e AUERBACH (1979) as pesquisas nessa rea

    podem ser organizadas em trs grupos principais: 1) estimativas do nmero de estudantes

    que precisam de atendimento psicolgico, obtidas por meio de auto-avaliao;

    2) levantamento dos ndices de utilizao dos servios especializados e, 3) estudos

    epidemiolgicos utilizando amostras significativas da populao estudantil universitria.

    LORETO (1985), em uma detalhada e extensa reviso, apresenta, de forma

    clara e condensada, um panorama do que vem sendo realizado nos centros universitrios de

    todo o mundo no campo da sade mental estudantil.

    Nesse estudo LORETO (1985), afirma que a metodologia mais rigorosa

    utilizada nos estudos sobre prevalncia foi realizada por KIDD (1965), que aplicou um

    questionrio estruturado em todo o grupo dos 1.555 estudantes que acabavam de entrar na

    Universidade de Edinburgh, na Esccia. Alm dos dados scio-demogrficos, uma srie de

    informaes sobre o estado de sade anterior; sobre a condio psicossocial e econmica da

    famlia e sobre a experincia escolar e universitria foi coletada. Trs meses depois foi

    solicitado, a todos os participantes, autorizao para colher informaes acerca deles junto

    a seus respectivos mdicos, havendo uma recusa em apenas quatro casos. Ao fim de um

    ano, todos foram perguntados se durante aquele perodo haviam atravessado alguma fase de

    perturbao emocional. Ao mesmo tempo foram solicitadas informaes a todos os serviospsiquitricosda cidade e da regio, ao Servio Mdico da Universidade e aos 257 mdicos

    generalistas com os quais os estudantes estavam registrados, acerca da ocorrncia de

    alguma sintomatologia psiquitrica em qualquer dos integrantes do grupo no decorrer do

    mesmo perodo. Os resultados obtidos nos dois processos foram bastante prximos. O auto-

    reconhecimento de distrbio emocional ocorreu em 10% dos estudantes do sexo masculino

    e em 13,8% do feminino. J as informaes obtidas dos generalistas e dos psiquiatras

    indicaram uma prevalncia de 9% para o masculino e de 14,6% para o feminino.

    Nos Estados Unidos, num estudo de reviso histrica do desenvolvimento de

    servios de sade para estudantes universitrios e do status dos estudos epidemiolgicos

    das estimativas de incidncia e prevalncia de doenas psiquitricas entre universitrios,

    REIFLER et al. (1969), concluram que, desde as primeiras publicaes (MACFIE, 1919)

    at 1969, somente o estudo de SMITH et al., em 1963, era metodologicamente correto para

    Introduo

    47

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    responder questes sobre a incidncia dessas doenas. Atravs de um questionrio (College

    Health Survey) com 232 itens e de entrevistas no estruturadas, SMITH et al.(1963)

    avaliaram 80 estudantes da School Eastmet, no incio do primeiro ano de curso e um ano

    aps, encontrando essa incidncia de 4.7%. De acordo com REIFLER et al.,(1969) embora

    esta seja uma amostra pequena, parece ser a nica estimativa de incidncia verdadeira do

    distrbio psiquitrico em estudantes universitrios.

    Em relao prevalncia, REIFLER et al. nos Estados Unidos, (1969) citam

    dez estudos: cinco publicados entre 1920 e 1937 (COBB, 1920; MORRISON e

    DIEH, 1924; BLANTON, 1925; ANGELL, 1927 e PALMER, 1937) e os outros, de 1960 a

    1966 (RUST, 1960; SMITH et al., 1963; MANIS, 1963; WEISS et al., 1965 e PHILLIPS,

    1966), os quais mostram prevalncias de distrbios psiquitricos variando de 6% a 16,4%,

    com uma mdia de 12%.

    Treze anos aps esse estudo, RIMMER et al. (1982), com a finalidade de

    estimar a prevalncia e a incidncia de doena psiquitrica na populao universitria,

    realizaram um estudo prospectivo em uma amostra aleatria de 158 estudantes da

    Washington University, num perodo de 4 anos. Os dados foram coletados anualmente por

    meio de uma entrevista estruturada, aplicada no incio de cada ano, e uma no final do

    quarto ano. Como critrios de diagnstico usaram o DSM-III. A entrevista foi dividida emseis partes reunindo, sistematicamente, dados scio-demogrfico, histrico escolar,

    histrico familiar, experincias e atitudes pessoais, sintomatologia psiquitrica e histria de

    uso de drogas, incluindo tabaco e lcool. Os resultados indicaram que dos 158 estudantes,

    61 (39%) ficaram mentalmente doentes em algum momento durante os quatro anos de

    pesquisa, ou seja, a prevalncia de distrbios psiquitricos encontrada foi de 39%. O

    nmero de estudantes que receberam um diagnstico psiquitrico pela primeira vez foi de

    38, ou seja, a taxa de incidncia no perodo de 4 anos foi de 24%. Dentre os diagnsticos

    predominou a depresso: 83% para alunos do 1 ano; 90% para os do 2 ano; 95% para os

    do 3 e 88% para os do 4 ano. Em relao ao gnero, as mulheres apresentaram taxas mais

    elevadas que os homens, porm, essas no foram estatisticamente significativas.

    Introduo

    48

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    No Brasil, o primeiro Servio de Higiene Mental e Psicologia Clnica para

    estudantes universitrios foi criado em 1957, junto cadeira de Clnica Psiquitrica da

    Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco, para atender s

    necessidades dos estudantes de medicina. Logo aps, as universidades federais do Rio

    Grande do Sul, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, tambm preocupadas com a sade

    mental dos seus estudantes, implantaram seus Servios de Sade Mental (LORETO, 1985).

    Na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) o servio de sade mental

    oferecido atravs de 3 rgos: Servio de Apoio Psicolgico e Psiquitrico (SAPPE); o

    Grupo de Apoio Psicopedaggico ao Estudante de Medicina, Enfermagem e

    Fonoaudiologia (GRAPEME) e o Centro de Sade a Comunidade (CECOM).

    O Servio de Apoio ao Estudante SAE, principal rgo de apoio ao estudante

    na Unicamp, atua em vrias frentes de assistncia estudantil. Esta se d por meio do

    gerenciamento de Bolsas-Auxlio; Orientaes Educacional, Jurdica e Psicolgica;

    Assistncia Social; Apoio a projetos acadmicos e sociais; Programa de Intercmbio de

    Estudantes no Exterior. tambm o rgo responsvel pela gesto de Estgios na

    Universidade.

    A misso do SAE , prestar apoio ao estudante da Unicamp por meio de aes,

    projetos e programas, procurando atend-lo em suas necessidades, para que possa

    desenvolver suas atividades , visando a excelncia na sua formao integral, pautada nas

    responsabilidades tica e social tendo como viso ser um rgo de referncia nacional na

    Assistncia Estudantil Universitria, comprometido com a integrao acadmica, cientfica

    e social do estudante, incentivando-o ao exerccio pleno da cidadania

    (http://www.sae.unicamp.br/).

    O Servio de Orientao Psicolgica do SAE funciona em associao com o

    Servio de Atendimento Psicolgico e Psiquitrico ao Estudante (SAPPE) do Departamento

    de Psicologia Mdica e Psiquiatria (DPMP) da Faculdade de Cincias Mdicas (FCM).

    Introduo

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    O SAPPE foi criado em 1987, em uma iniciativa conjunta da Pr-Reitoria de

    Extenso e Assuntos Comunitrios e do DPMP da FCM a partir da identificao de uma

    demanda dos alunos da UNICAMP, que procuravam atendimento psicolgico no DPMP.

    um dos pioneiros na ateno psicolgica e psiquitrica a estudantes universitrios e tem por

    objetivo prestar assistncia psicolgica e/ou psiquitrica aos alunos regulares de graduao

    e ps-graduao da Unicamp, de modo preventivo e teraputico atravs de: grupo de

    encontro; primeira entrevista; psicoterapia de grupo; psicoterapia individual; psicoterapia

    de famlia; psicoterapia de casal; Espao D - trabalho de preveno em sade mental.

    A equipe inicial do SAPPE era constituda por trs psiclogas e contava com a

    colaborao de um psiquiatra do departamento, que se dispusera a prestar atendimento

    psicofarmacolgico aos alunos que necessitassem. Atualmente o servio conta com uma

    equipe de seis psiclogas e uma psiquiatra e ainda aguarda a contratao de mais duas

    psiclogas e um psiquiatra que j foram aprovados em concurso pblico. So realizadas por

    volta de 4.000 sesses por ano, atendendo semanalmente cerca de 180 estudantes (http://

    www.prg.unicamp.br/sappe/).

    Em agosto de 1996 foi implantado na FCM o Grupo de Apoio Psicopedaggico

    ao Estudante de Medicina, Enfermagem e Fonoaudiologia (GRAPEME). Em sua

    composio, dispe de trs profissionais contratados pela FCM, sem vnculos com qualquerDepartamento da Faculdade. O objetivo do GRAPEME auxiliar o aluno no aspecto

    emocional, durante as diferentes etapas do curso mdico e de enfermagem e

    fonoaudiologia. Os atendimentos so realizados individualmente atravs de entrevistas,

    orientao psicopedaggica e psicoterapia breve. Casos que necessitam de

    acompanhamento a longo prazo, aps atendimento inicial no GRAPEME, so

    encaminhados para outros servios (por exemplo, o SAPPE). O servio tambm promove

    palestras e organiza grupos de discusso e reflexo

    (www.fcm.unicamp.br/ensino/graduacao/grapeme.html).

    A Coordenadoria de Servios Sociais (CSS) e o Centro de Sade da

    Comunidade (CECOM), vinculados Pr-Reitoria de Desenvolvimento Universitrio

    (PRDU), so responsveis pelo planejamento e execuo de programas de sade voltados

    comunidade universitria da Unicamp atendendo a alunos, docentes e funcionrios. Tem

    Introduo

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    como objetivos; desenvolver aes de promoo, proteo e reabilitao da sade em nvel

    ambulatorial, com equipe multiprofissional e interdisciplinar, propondo e implementando

    polticas de sade articuladas em parceria com outros rgos, buscando melhoria na

    qualidade de vida da comunidade da Unicamp.

    No CECOM, so oferecidos atedimentos nas seguintes reas: clnica mdica,

    cardiologia, dermatologia, ginecologia e obstetrcia, oftalmologia, reumatologia, psiquiatria

    e psicologia, fisioterapia, acumputura, odontologia e enfermagem. Oferece ainda o servio

    de Pronto Atendimento para emergncias. Alm dos atendimentos ambulatoriais, o

    CECOM oferece Grupos Educativos em Sade em vrias reas: Diabetes, Hipertenso,

    Gestante, Menopausa, AIDS, Educao Alimentar, Tabagismo, Programa VIVA MAIS

    (lcool, drogas), Sade Bucal, e ligado exclusivamente Fisioterapia, os grupos de Coluna,

    de Gestantes e Alongamento (http://www.unicamp.br/css/). Em relao ao Servio de

    Psicologia, no perodo de 1991 a 2001 foram realizados pelo CECOM 14.655 atendimentos

    a comunidade interna: 1991 (639), 1992 (887), 1993 (1.014), 1994 (1.171), 1995 (1.606),

    1996 (1.922), 1997 (1.169), 1998 (1.010), 1999 (2.412), 2000 (1.188) e 2001 (1.637).

    (Anurio Estatstico da UNICAMP, 2002).

    Desde ento, o nmero de Instituies de Ensino Superior (IES) preocupadas

    com a questo da sade mental do estudante universitrio tem crescido e vrios programastm sido implantados nas Universidades Pblicas Brasileiras.

    O Frum de Pr-Reitores de Assuntos Comunitrios e Estudantis

    (FONAPRACE) realizou, em 1999 e 2000, entre 40 instituies federais e estaduais

    participantes, um mapeamento sobre a assistncia praticada nas IES pblicas brasileiras. Os

    resultados desse mapeamento foram apresentados por Regies Nordeste, Sudeste, Centro

    Oeste, Norte e Sul. Das 40 instituies mapeadas, 34 (85%) ofereciam algum tipo de

    atendimento sade mental do estudante universitrio. Vrios itens foram levantados,dentre eles, os programas de sade oferecidos: Atendimentos Mdicos, Exames para

    Diagnstico, Atendimento Odontolgico, Atendimento Psicolgico/ Psiquitrico,

    Preveno de Dependncia Qumica e Tratamento de Dependncia Qumica.

    Introduo

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    Na Tabela 1 esto registrados, por regio, os atendimentos em

    Psicologia/Psiquiatria realizados pelas IES participantes. Observa-se que alguns dados

    esto incompletos ou imprecisos, mas oferecem um panorama nacional que nos interessa,

    ao menos como um registro recente de uma organizao da cpula administrativa das

    universidades brasileiras.

    Introduo

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    Tabela 1 Mapeamento do servio oferecido pelas IES em sade mental e nmero de

    atendimento realizados em 1999 e 2000.

    Servio praticado Atendimentos realizadosIESSim No 1999 2000

    Regio NordesteUFMA X * *UFPI X 130 169UNCE X 970 *UECE X * *UFRN X 30 0UFPB X 7 3UFRPE X 830 360UFPE X * *UFAL X 32 11UFSE X 717 161UFBA X * *UESB XUEFS X 186 36TOTAL 92,3% 7,7% 2.902 740

    Regio NorteFUA X * *UFRR XTOTAL 50,0% 50,0%Regio Centro-OesteUnB X *UEMS X 16 199UFMS X 15 30UFG X 188 150TOTAL 100% 0% 219 379Regio SudesteFUNREI XUFF X 55 12UFLA X 80 40UFUberaba X

    UFA X 0 UFU X 1.138 1.100UFES XUFJF XUFMG X 250 FAFEID XUFRJ X 8 47UFRRJ X 0 0UFV X 504 230CEFET/RJ X 641 326TOTAL 71,4% 28,6% 2.676 1.755Regio SulUFPR X 0 0UFPEL X 2.555 1.080

    FURio Gde X 50 30UFSM X SUS SUSUFSC X 543 291UFRGS X 238 13CEFET/PR X 177 TOTAL 100% 0% 3.563 1.414

    No consta.

    Fonte: (FONAPRACE)

    Introduo

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    Apesar de a preocupao com a sade mental e da assistncia formal ao

    estudante universitrio brasileiro ter surgido h 47 anos, ainda escasso o nmero de

    estudos epidemiolgicos sobre a morbidade psiquitrica em estudantes universitrios e a

    maioria dos estudos relacionados aos problemas de sade mental na populao estudantil

    universitria carece de rigor metodolgico e estatstico.

    Com relao qualidade de vida dos estudantes universitrios, segundo

    OLIVEIRA (1999), em 1972, HARTNETT aborda, pela primeira vez, a importncia de se

    estudar a qualidade de vida de estudantes universitrios, em editorial do Journal of the

    American School Health Association e somente quinze anos aps essa publicao

    MILBRATH e DOYNO (1987) publicam um estudo desenvolvido na State University of

    New York entre os anos de 1983 e 1984, enfatizando a necessidade de se conhecer a

    qualidade de vida da populao universitria.

    No Brasil, em relao populao universitria, observamos que as

    investigaes sobre a qualidade de vida dessa populao so escassas, com um nmero

    muito pequeno de estudos: "qualidade de vida do estudante universitrio" (OLIVEIRA,

    1999; SOUZA e GUIMARES, 1999; AREAIS et al., 2001); "qualidade de vida dos

    professores universitrios" (PEREIRA, 1993); "qualidade de vida dos trabalhadores em

    universidades" (MORENO, 1991; AREIAS e GUIMARES, estudo submetido).

    O conceito de Qualidade de Vida (QV) da Organizao Mundial de Sade

    (OMS) surgiu da necessidade de uma avaliao internacional da sade, definido pelo Grupo

    de Qualidade de Vida (WHO) como: percepo individual de sua posio na vida no

    contexto da cultura e sistemas de valores em que eles vivem e em relao a seus objetivos,

    expectativas, padres e preocupaes(WHOQOL GROUP, 1995, p. 1405).

    , portanto, um conceito multidimensional, amplo e complexo, porque ressalta

    que a QV subjetiva e inclui facetas positivas e negativas, incorporando aspectos da sade

    individual e fsica, do estado psicolgico, do nvel de independncia, da relao social, da

    crena pessoal e da relao da pessoa com o meio ambiente (WHOQOL Group,1995).

    Introduo

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    A partir deste conceito, o WHOQOL Group realizou um estudo piloto

    colaborativo, multicntrico, em 15 cidades: Melbourne (Austrlia), Zagreb (Crocia), Paris

    (Frana), Nova Delhi (ndia), Madras (ndia), Beer-Sheeva (Israel), Tquio (Japo), Tilburg

    (Holanda), Panam (Panam), So Petersburgo (Rssia), Barcelona (Espanha), Bangkok

    (Tailndia), Bath (Reino Unido), Seatle (EUA) e Harara (Zimbawe), com a finalidade de

    elaborar o WHOQOL-100, um instrumento de auto-avaliao composto por 100 itens,

    organizados em 6 principais domnios: I - Fsico; II Psicolgico; III Nvel de

    independncia; IV Relaes sociais; V Ambiente e VI Aspectos

    espirituais/religio/crenas pessoais (Tabela 2).

    O WHOQOL-100, verso brasileira, foi adaptado nossa populao por

    FLECK et al. em 1999, seguindo os seguintes passos: 1) Traduo, 2) Reviso por painel,

    3) Grupos locais com a comunidade, em quatro grupos diferentes, 4) Incorporao das

    sugestes, 5) Retrotraduo e 6) Reavaliao da retrotraduo (FLECK et al.,1999a,

    1999b).

    Introduo

    55

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    Tabela 2 Domnios e facetas do WHOQOL-100

    Domnio I Domnio fsico

    1. Dor e desconforto

    2. Energia e fadiga

    3. Sono e repouso

    Domnio II Domnio psicolgico

    4. Sentimentos positivos

    5. Pensar, aprender, memria e concentrao

    6. Auto-estima

    7. Imagem corporal e aparncia

    8. Sentimentos negativos

    Domnio III Nvel de independncia

    9. Mobilidade

    10. Atividade da vida cotidiana

    11. Dependncia de medicao

    12. Capacidade de trabalho

    Domnio IV Relaes sociais

    13. Relaes sociais

    14. Apoio social

    15. Atividade sexual

    Domnio V Ambiente

    16. Segurana fsica e proteo

    17. Ambiente no lar

    18. Recursos financeiros

    19. Cuidados de sade e sociais: disponibilidade e qualidade

    20. Oportunidades de adquirir novas informaes e habilidades

    21. Participao em, e oportunidades de recreao/lazer

    22. Ambiente fsico: (poluio/rudo/trnsito/clima)

    23. Transporte

    Domnio VI Aspectos espirituais/Religio/Crenas pessoais

    24. Espiritualidade/religio/crenas pessoais

    _________________________________________________________________________

    Fonte: (FLECK et al., 1999)

    Introduo

    56

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    Na UEMS, a preocupao com a sade mental e a qualidade de vida dos seus

    estudantes teve um incio informal em 1994 que evoluiu, em maio de 2000, para a

    formulao e implantao do Centro de Atendimento Psicolgico (CAP/UEMS). Com a

    implantao desse servio, o cotidiano das relaes entre a instituio e o estudante nos foi

    apresentado, aumentando nosso interesse em conhecer mais profundamente o processo de

    interao que se estabelece entre os universitrios e os sistemas acadmicos e sociais da

    universidade. A partir dessa demanda, trabalhar na sistematizao de uma proposta de

    poltica de assistncia ao estudante tornou-se meta prioritria do CAP/UEMS. Para tanto,

    seria necessrio conhecer o perfil scio-econmico, a sade mental e a qualidade de vida

    dos estudantes de graduao da UEMS, objeto do presente estudo.

    A Fundao Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) foi criada

    em 1993. Em junho de 2002, poca em que o presente estudo foi conduzido, a UEMS era

    formada por 297 professores (especialistas, mestres e doutores), 3.367 estudantes da

    graduao, 213 da Ps-Graduao e um quadro tcnico-administrativo de 169 funcionrios

    (UEMS DIVISO DE RECURSOS HUMANO, 2002). Eram oferecidos 20 cursos de

    graduao: Administrao com nfase em Comrcio Exterior, Administrao Rural,

    Cincias Econmicas, Direito, Histria, Letras-Portugus/Ingls, Letras-

    Portugus/Espanhol, Normal Superior, Normal Superior Indgena, Pedagogia, Turismo,

    Cincia da Computao, Fsica Ambiental, Matemtica, Qumica, Biologia, Agronomia,

    Zootecnia, Enfermagem e, ainda, seis cursos de Ps-graduao (Lato Sensu): Matemtica,

    Zootecnia, Educao Bsica, Biologia da Conservao, Letras e Fundamentos da Educao

    (UEMS DIVISO DE ASSUNTOS ACADEMICOS, 2002).

    Esses cursos estavam distribudos na sede em Dourados e nas 14 Unidades de

    Ensino: Amambai, Cassilndia, Coxim, Campo Grande, Dourados, Glria de Dourados,

    Jardim, Maracaj, Mundo Novo, Navira, Nova Andradina, Paranaba, Ponta-Por

    (Figura 1).

    As vagas do Normal Superior Indgena eram destinadas exclusivamente para

    candidatos ndios, de qualquer etnia, com vnculo com o Ensino Pblico Municipal ou

    Estadual dos Municpios conveniados com a UEMS para o Curso Normal Superior. J as

    vagas do Normal Superior eram destinadas queles que possuiam apenas habilitao em

    Introduo

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    nvel mdio ou que possuiam curso superior que no fosse licenciatura, com vnculo com o

    Ensino Pblico Municipal ou Estadual dos Municpios conveniados com a UEMS para o

    Curso Normal Superior.

    As aulas, tanto para o Normal Superior Indgena, quanto para o NormalSuperior, eram concentradas s sextas feiras e aos sbados, em perodo integral (UEMS -

    DIVISO DE ASSUNTOS ACADMICOS, 2002).

    Introduo

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    Figura 1-Localizao das Unidades da UEMS

    Introduo

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    OBJETIVOS

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    GERAL:

    Investigar a Sade Mental e a Qualidade de Vida de Estudantes Universitrios.

    ESPECFICOS:

    1. Verificar os ndices de utilizao do servio e caracterizar a clientela

    atendida (discentes, docentes, funcionrios e familiares) no Centro de

    Atendimento Psicolgico da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

    (CAP/UEMS).

    2. Verificar em estudantes universitrios a validade fatorial e a consistncia

    interna bem como o efeito do gnero sobre ambas dos seguintes

    instrumentos:

    2.1.WHOQOL-100

    2.2.WHOQOL-BREF

    2.3.QSG-60

    2.4.QSG-30

    3.Estimar a prevalncia de TMM e verificar a associao de algumas variveis

    scio-demogrficas e do processo ensino-aprendizagem com os TMM.

    4. Estimar a prevalncia de TMM em estudantes do curso de Graduao em

    Enfermagem, das Universidades Pblicas de Mato Grosso do Sul: Estadual

    (UEMS) e Federal (UFMS); verificar a associao de TMM com algumas

    variveis scio-demogrficas e do processo ensino-aprendizagem e,

    comparar as Universidades entre si.

    5. Avaliar a qualidade de vida de estudantes universitrios e verificar a

    associao de algumas variveis scio-demogrficas e do processo ensino-

    aprendizagem com a mesma.

    Objetivos

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    CAPTULO I

    Utilizao de Servio de Sade Mental em

    uma Universidade Pblica

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    Utilizao de Servio de Sade Mental em uma Universidade Pblica*.

    Attendance to Mental Health Service in a Public University.

    *Artigo escrito conforme normas da Revista Psicologia Cincia e Profisso.

    Captulo I

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    Utilizao de Servio de Sade Mental em uma Universidade Pblica.

    Attendance to Mental Health Service in a Public University.

    Autores:

    Ednia Albino Nunes Cerchiari1; Dorgival Caetano2; Odival Faccenda3

    1Psicloga. Psicanalista/GESPMS. Doutoranda em Cincias Mdicas FCM/UNICAMP.

    Professora Assistente Mestre. Coordenao de Enfermagem, Universidade Estadual de

    Mato Grosso do Sul (UEMS),

    2M.D., PhD, Professor Titular. Departamento de Psicologia Mdica e Psiquiatria,

    Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),

    3 Estatstico. Professor Adjunto Doutor. Coordenao de Cincia da Computao,

    Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).

    Endereo para correspondncia

    Ednia Albino Nunes Cerchiari

    Rua Ibirapuera 240 Jardim Ibirapuera - Telefone 00 673411621

    Campo Grande MS - CEP: 79 041 290

    Brasil

    E.mail: [email protected]

    Captulo I

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    RESUMO

    OBJETIVO: Verificar os ndices de utilizao do servio e caracterizar a clientela atendida,

    discentes, docentes, funcionrios e familiares, no Centro de Atendimento Psicolgico da

    Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (CAP/UEMS).

    MTODO: Anlise retrospectiva e exploratria das variveis demogrficas e clnicas dos

    81 pronturios do CAP/UEMS, no perodo de maio/2000 a julho/2001.

    RESULTADOS: Taxas de atendimento: 9,5% (universitrios), 5% (docentes) e 3%

    (funcionrios). Predomnio do sexo feminino (83%) e das faixas etrias 19 e 20 anos (88%).

    As dificuldades psicolgicas no-psiquitricas foram as mais freqentes (44,7%) e a

    maioria recebeu psicoterapia breve individual.

    CONCLUSES: Faixa etria, gnero e curso esto mais relacionados com procura por

    algum tipo de ajuda psicolgica. Um servio em sade mental em uma universidade alm

    de identificar e de tratar distrbios psicolgicos e psiquitricos tambm pode ser usado para

    um melhor planejamento da universidade no atendimento das necessidades de seus

    estudantes.

    Palavras-chave: sade mental; estudante universitrio; atendimento psicolgico;

    psicoterapia breve.

    Captulo I

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    ABSTRACT

    OBJECTIVE: To verify the utilisation of the Centre of Psychological Counseling by

    undergraduate students, University teachers and staff of the State University of Southern

    Mato Grosso (CAP/UEMS).

    METHOD: Retrospective and exploratory investigation of demographic and clinical

    variables of the 81 subjects who sought help at the CAP/UEMS, in the period of May/2000

    to July 2001.

    RESULTS: Attendance rates were as follows: 9.5% (University teachers), 5%

    (undergraduate students) and 3% (staff). Individuals were predominantly females (83%)

    and aged 21-22 years (88%). The most frequent complaints were psychological difficultiesthat did fulfill DSM-IV`s diagnostic criteria (44.7%); and brief psychotherapy was the most

    administered treatment.

    CONCLUSIONS: Age, gender and attended course were the variable most associated with

    seeking psychological help. A Mental Health Centre in a University besides identifying and

    treating psychological and psychiatric disturbances can be useful in helping University

    authorities with a better planning to fulfill the undergraduate students`s needs.

    Key words: mental health; undergraduate student; psychological counseling; brief

    psychotherapy.

    Captulo I

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    INTRODUO

    A questo da sade mental do estudante universitrio comeou a ser discutida

    nos Estados Unidos e na Europa h mais de 60 anos. Em nosso meio, trabalhos pioneiros de

    Galdino Loreto (1958), Fortes (1972) e Albuquerque (1973) j chamavam a ateno para anecessidade de uma assistncia formal a essa populao.

    Em 1994 iniciamos atendimento aos universitrios na Universidade Estadual do

    Mato Grosso do Sul, atendimento que evoluiu, em maio de 2000, para a criao do Centro

    de Atendimento Psicolgico (CAP/UEMS). No perodo compreendido entre maio de 2000

    a julho de 2001, essa experincia cresceu e se tornou objeto da presente investigao.

    Desde o primeiro estudo publicado por Clement Fry e Edna Rostow, em 1942(apud REIFLER et al. 1969), tendo como base sua experincia na Universidade de Yale,

    vrias tentativas tm sido feitas para descrever os fenmenos observados na populao

    universitria.

    Em uma tentativa de quantificar de forma mais rigorosa as necessidades

    assistenciais nesse campo, Indrisano e Auerbach (1979) classificam este tipo de estudo em

    trs grupos principais: 1) estimativas do nmero provvel de estudantes que precisam de

    atendimento psicolgico, obtidas por meio de auto-avaliao; 2) levantamento dos ndicesde utilizao dos servios especializados e 3) estudos epidemiolgicos utilizando amostras

    significativas da populao estudantil universitria. Fernandez e Rodrigues (1993) dividem

    os estudos nessa rea em dois grupos: os que focalizam caractersticas do grupo em geral e

    os levantamentos das caractersticas da populao que buscam servios de ajuda

    psicolgica.

    A preocupao com a sade mental do estudante universitrio surgiu nos

    Estados Unidos, no incio do sculo XX, a partir do reconhecimento de que os

    universitrios passam por uma fase naturalmente vulnervel, do ponto de vista psicolgico,

    e de que a responsabilidade em ajud-los, nesse momento, da instituio em que esto

    inseridos (REIFLER et al. 1969; LORETO, 1985).

    Captulo I

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    Partindo dessas premissas, Stewart Paton, em 1910, organizou, na Universidade

    de Princeton, nos Estados Unidos, juntamente com o Departamento de Sade e Educao

    Fsica, o primeiro servio de assistncia psicolgica a estudantes universitrios com a

    finalidade de ajudar alguns jovens que lhe pareciam mais perturbados

    (FARNSWORTH, 1967). Em um trabalho semelhante, Smiley Blanton, em 1914, iniciou

    um servio na Universidade de Wisconsin (LORETO, 1985). Em 1920, foi organizado um

    curso de Higiene Mental e um sistema de aconselhamento no Washburn College com a

    participao de Karl Meninger (REIFLER et al. 1969). Ainda em 1920, aconteceu a 1

    Reunio da American College Health Association que definiu os objetivos da higiene

    mental nos Colleges: 1) no permitir que os estudantes intelectualmente capacitados

    fossem obrigados a interromper os estudos; 2) prevenir o fracasso total em conseqncia de

    doenas nervosas e mentais; 3) minimizar o fracasso parcial sob a forma de mediocridade,inadequao, ineficincia e infelicidade; 4) proporcionar a cada um o mais pleno uso de sua

    capacidade intelectual, atravs da ampliao da esfera de controle consciente

    (LORETO, 1985, p. 12).

    Em 1938, Raphael et al (apud Loreto, 1958) da Universidade de Michigan,

    realizaram um levantamento sobre as universidades americanas que ofereciam algum tipo

    de servio junto aos seus alunos, chegando seguinte concluso: 93,5% das instituies

    tinham uma preocupao com o problema da higiene mental do estudante; em 38% delas,

    eram ministrados cursos especficos de higiene mental; em 41,3% existia algum tipo de

    servio assistencial; 79,9% das instituies, que no tinham servio especfico algum,

    declararam-se interessadas em implant-los. Desde ento, a preocupao e a convico

    entre os educadores americanos passaram a ser o amadurecimento da personalidade total,

    e no apenas o mero treinamento do intelecto ( LORETO, 1958, p.274).

    Percebe-se que, nos Estados Unidos, a preocupao e o interesse com a sade

    mental do estudante universitrio emergiram lentamente, porm, de maneira firme e

    constante, tendo como foco no somente a criao de cursos de higiene mental, mas,

    tambm, de programas de assistncia psicolgica e psiquitrica.

    Captulo I

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    Na Inglaterra, o primeiro Servio de Sade Estudantil, do qual se tem registro,

    teve seu incio em 1927, ampliando-se gradativamente e chegando a 17 servios, em 1950.

    Nesse perodo, as preocupaes e a rea de atuao junto aos estudantes se restringiam s

    doenas somticas (LORETO, 1985). Somente em 1951 surge uma preocupao maior com

    os problemas emocionais dos estudantes universitrios, devido ao impacto causado pela

    publicao do estudo de Parnell (1951, apud LUCAS, 1976), segundo o qual, o nmero de

    suicdios entre os alunos de graduao de Oxford era onze vezes maior do que o da

    populao de mesma faixa etria. Ainda em 1951, a terceira conferncia sobre sade

    estudantil foi realizada em Oxford tendo uma sesso inteira voltada questo da sade

    mental do universitrio e em cujo final deu-se a fundao da British Student Health

    Association composta, principalmente, por mdicos e psiquiatras que trabalhavam, em

    tempo parcial ou integral, em servios universitrios (LORETO, 1985).

    Com isso, no s o estudo da incidncia de doenas psiquitricas, mas os

    respectivos tratamentos se inserem no conjunto das preocupaes e, em conseqncia,

    passam a dirigir o foco das pesquisas na Inglaterra.

    Na Frana, a preocupao com a sade mental do universitrio teve seu incio

    formal em 1950, com o pronunciamento da conferncia do Prof. Hauyer, no Congresso da

    Union Nationale des tudiants, sobre os riscos do abuso das anfetaminas. Um ano aps,trs entidades estudantis francesas promoveram um debate sobre a sade mental do

    universitrio numa Journe Nationale sur la Sant tudiante. Em 1953, autoridades

    educacionais atriburam Fundao Sant des tudiants de France a responsabilidade

    pelo tratamento hospitalar dos estudantes portadores de distrbios mentais. Em

    conseqncia disso, essa Fundao inaugurou, trs anos depois (1956), em Scaux, a

    Maison Universitaire Mdico-Psychologique-Clinique Hupr, um pequeno hospital com

    15 leitos (Loreto, 1985). Ainda em 1956, foi instalado em Paris, por iniciativa da

    organizao estudantil Mutuelle Nationale des tudiants de France, o primeiro Bureau

    daide psychologique universitaire, com a finalidade de oferecer aos universitrios

    assistncia psicolgica e psiquitrica em regime ambulatorial (LORETO, 1958). Nesse

    Bureau reconheceu-se a escassez de servios de urgncia em psiquiatria estudantil e

    promoveu-se a sensibilizao do corpo mdico estudantil e da sade pblica francesa. A

    Captulo I

    73

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    partir da, o Bureau desenvolveu uma proposta de abordagem mdico- pedaggica do

    problema segundo a qual torna-se indispensvel a criao de organismos capazes de

    corresponder s necessidades do universitrio que proporcionem uma larga oferta de

    possibilidades psicoterpicas, com especial ateno aos aspectos preventivos e pedaggicos

    (AMADO-LEVY-VALENSI et al. 1956).

    Na Alemanha, com os avanos da Medicina Psicolgica e a crescente

    incidncia de distrbios psquicos na populao universitria, foram implantados, na dcada

    de 50, alguns servios de sade mental para universitrios em alguns centros: Munique

    (1952), Universidade Livre de Berlim (1953) e Hamburgo (1955). Nos anos 60, a expanso

    desses servios ocorreu em praticamente todas as instituies alems de ensino superior,

    cujo pice se deu com o Simpsio sobre os distrbios psquicos dos estudantes

    universitrios, ocorrido em Berlim, em maro de 1968, em que a Psiquiatria Educacional

    foi discutida como um ramo da Psiquiatria Social (LORETO, 1985).

    No Brasil, em 1957, foi criado, na Faculdade de Medicina da Universidade

    Federal de Pernambuco, junto cadeira de Clnica Psiquitrica, o primeiro Servio de

    Higiene Mental e Psicologia Clnica com a finalidade de oferecer assistncia psicolgica e

    psiquitrica aos estudantes universitrios, inicialmente, aos alunos de Medicina. Em So

    Paulo, a Escola Paulista de Medicina (EPM) organizou, em 1965, um Servio de SadeMental Escolar. Nos anos 60, as universidades federais do Rio Grande do Sul, de Minas

    Gerais e do Rio de Janeiro tambm implantaram seu Servio de Sade Mental destinado ao

    universitrio (LORETO, 1985).

    As primeiras publicaes brasileiras surgiram poucos anos aps, com os

    resultados dos estudos realizados por Pacheco et al. (1962, apud HAHN et al. 1999) junto

    aos estudantes do 4oano da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo (USP) e

    da Escola Paulista de Medicina (EPM). Esse estudo teve como fonte a coletaautobiogrfica, com a finalidade de analisar a personalidade do estudante de Medicina e

    buscar respostas para os antagonismos e divergncias entre geraes de alunos.

    Captulo I

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    Em 1987, na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), foi criado,

    numa iniciativa conjunta da Pr-Reitoria de Extenso e Assuntos Comunitrios e do

    Departamento de Psicologia Mdica e Psiquiatria, o Servio de Atendimento Psicolgico e

    Psiquitrico ao Estudante (SAPPE), com os objetivos de prestar assistncia psicolgica e

    psiquitrica aos alunos regulares de graduao e ps-graduao, em nveis preventivo e

    teraputico, numa abordagem biopsicossocial, e de desenvolver pesquisas a partir da

    experincia assistencial ([email protected]).

    Desde ento, o nmero de Instituies de Ensino Superior (IES) preocupadas

    com a questo da sade mental do estudante universitrio tem crescido e vrios programas

    tm sido implantados nas universidades pblicas brasileiras.

    O Frum de Pr-Reitores de Assuntos Comunitrios e Estudantis

    (FONAPRACE, 2001) realizou, em 1999 e 2000, entre 40 instituies federais e estaduais

    participantes, um mapeamento sobre a assistncia praticada nas IES pblicas brasileiras. Os

    resultados desse mapeamento foram apresentados por Regies: Nordeste, Sudeste, Centro

    Oeste, Norte e Sul. Vrios itens foram levantados, dentre eles, os programas de sade

    oferecidos: Atendimentos Mdicos, Exames para Diagnstico, Atendimento Odontolgico,

    Atendimento Psicolgico/Psiquitrico, Preveno de Dependncia Qumica e Tratamento

    de Dependncia Qumica. Das 40, 34 (85%) ofereciam algum tipo de atendimento sademental do estudante universitrio.

    Implantao do Servio em Sade Mental da Universidade Estadual de Mato Grosso

    do Sul.

    A Fundao Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul UEMS foi

    concebida na primeira Constituinte do Estado, em 1979, e implantada em 1993, com o

    objetivo de desenhar um novo cenrio educacional no Estado, uma vez que este apresentava

    srios problemas com relao ao ensino fundamental e mdio, principalmente, quanto

    qualificao de seu corpo docente.

    Captulo I

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    Era necessrio criar uma universidade mais acessvel ao aluno. Era preciso

    vencer distncias e dificuldades de deslocamento como primeiro recurso para democratizar

    o acesso ao ensino superior e fortalecer o ensino bsico. Para cumprir essa proposta

    mediante racionalizao de recursos pblicos, sem duplicao de funes, cargos e demais

    estruturas administrativas e evitando a fragmentao das aes institucionais, a UEMS

    adotou trs estratgias diferenciadas: rotatividade dos cursos, permanentes em sua oferta e

    temporrios em sua localizao; criao de unidades universitrias em substituio ao

    modelo de campus e estruturao centrada em coordenaes de cursos ao invs de em

    departamentos. Esse modelo de instituio descentralizada permitiu que milhares de alunos

    realizassem o sonho de concluir um curso superior (http://www.uems.br).

    Nossa preocupao com as questes emocionais do estudante universitrio

    surgiu no incio da dcada 90, no trabalho com a disciplina Psicologia Geral para

    estudantes do primeiro ano primeira turma e primeiro ano de funcionamento da

    Universidade - do curso de Enfermagem da UEMS e com a disciplina Psicologia Aplicada

    Enfermagem para os alunos do segundo ano de enfermagem na Unidade de Dourados.

    Acreditamos que o primeiro contato com a Psicologia e Psicanlise - uma

    cincia a servio da transformao e comprometida com o desvendar do oculto - e com o

    estudo do comportamento humano, as aulas de Anatomia onde as questes relacionadas morte esto presentes e, ainda, a situao mpar que a entrada para a universidade em um

    momento crtico da evoluo humana, trouxeram tona, para alguns alunos, questes

    emocionais que necessitavam de orientao e/ou aconselhamento psicolgico. Com isso, o

    nmero de alunos do curso de enfermagem que passaram a me procurar solicitando ajuda

    aumentava dia aps dia.

    Diante da quantidade de alunos com aparentes problemas, a Coordenadora do

    Curso de Enfermagem da poca e eu iniciamos o agendamento realizado pelaCoordenao - e o atendimento realizado por mim. Iniciado o atendimento, a demanda

    aumentava a cada dia. Em face disso, juntou-se a ns a Coordenadora do Curso de Letras,

    para juntas darmos incio ao Projeto de Extenso para Implantao do Centro de

    Atendimento Psicolgico Comunidade Acadmica alunos, professores e funcionrios,

    com a finalidade de formalizar junto s instncias superiores da UEMS o trabalho que j

    Captulo I

    76

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    vinha sendo realizado de fato.Em maio de 2000, foi implantado o Centro de Atendimento

    Psicolgico para Comunidade Acadmica na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

    (CAP/UEMS).

    A princpio, restrito aos alunos do curso de Enfermagem, o atendimento seestendeu a acadmicos de outros cursos como Letras, Cincias da Computao, Turismo e

    Direito, assim como professores e funcionrios, devido divulgao feita pelos primeiros

    e aos resultados obtidos.

    No ano letivo 2000/2001 havia 3.565 alunos matriculados em toda

    Universidade, distribudos em suas 14 unidades instaladas em vrios municpios no Estado

    do Mato Grosso do Sul. Desse total, 1.491 (41,8%) eram do sexo masculino e 2.074

    (58,2%), do sexo feminino.

    Na Unidade de Dourados, onde se realizavam os atendimentos, estavam

    matriculados 730 (20,5%) alunos, com a seguinte distribuio: 320 (43,8%) do sexo

    masculino e 410 (56,2%) do sexo feminino, segundo dados da Diviso de Assuntos

    Acadmicos.

    O quadro administrativo de toda a Universidade, em dezembro de 2000, era

    composto por 94 servidores, sendo 29 (30,8%) do sexo masculino e 65 (69,2%) do sexofeminino. Na Unidade de Dourados havia 64 (68,1%) desses servidores, dos quais 23

    (35,9%) eram do sexo masculino e 41 (64,1%) do sexo feminino.

    O total de docentes em toda a Universidade era de 274, com 124 (45,3%)

    homens e 150 (54,7%) mulheres. Em Dourados, havia 92 (34%) professores, sendo 33

    (35,9%) do sexo masculino e 59 (64,1%) do sexo feminino, de acordo com dados

    fornecidos pela Diretoria de Recursos Humanos.

    O presente estudo parte do Projeto de Pesquisa sobre a Sade Mental e

    Qualidade de Vida em Estudantes Universitrios, aprovado pelo Comit de tica em

    Pesquisa da Faculdade de Cincias Mdicas da Universidade Estadual de Campinas, em 16

    de abril de 2002. Tem como objetivo verificar os ndices de utilizao do servio e

    caracterizar a clientela atendida em termos de variveis demogrficas e clnicas.

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    MTODO

    Estudo retrospectivo e exploratrio de corte transversal em todos os pronturios

    de atendimentos no CAP/UEMS, relativos Unidade de Dourados/MS, no perodo de maio

    de 2000 a julho de 2001. A amostra foi composta de 81 pronturios: 69 de discentes (M=6;F=63), 5 de docentes (M=3; F=2), 2 de funcionrios (F=2) e 5 de famlias de discentes.

    Foram examinadas variveis demogrficas (segmento, gnero e faixa etria) e clnicas

    (queixas, hiptese diagnstica e teraputica adotada, alm dos atestados mdicos

    encaminhados Diviso de Assuntos Acadmicos da UEMS).

    RESULTADOS

    De maio/2000 a julho/2001, havia 81 pronturios dos quais 69 eram de

    acadmicos (representando 9,5% do total de acadmicos e 85% dos pronturios), 2 de

    funcionrios (o que representava 3% do corpo administrativo e 3% dos pronturios), 5 de

    docentes (5% do total de docentes e 6% dos pronturios) e 5 de famlias de discentes (6%

    dos pronturios) - nmero aprecivel, se considerado que a famlia no participa ativamente

    do meio universitrio.

    Dos 69 pronturios de universitrios, 54% eram de alunos de Enfermagem,

    22% de Direito, 14% de Letras ,7% de Turismo e 3% de Cincia da Computao.

    A clientela (81 pronturios) era majoritariamente feminina (83%) e solteira

    (80%), com idade entre 18 a 44 anos, predominando a faixa de 19 (46%) e 20 anos (42%).

    Os indivduos que compem as famlias no foram contados individualmente mas, em

    bloco por famlia.

    Nas variveis clnicas, as queixas mais freqentes apresentadas pelos usurios

    do CAP foram: cansao, dificuldades de aprendizagem e de concentrao, esquecimento,

    perturbao do sono, sentimentos de fracasso, irritabilidade, inquietao, inibio, timidez,

    baixa auto-estima, insegurana, desnimo e dificuldades nos relacionamentos interpessoais.

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    O atendimento constava de psicoterapia breve, aconselhamento e orientao,

    conforme a necessidade de cada usurio, predominando a psicoterapia breve individual (at

    12 sesses - 73%). Foram apresentados 123 atestados mdicos, correspondendo ao

    percentual de 17% do nmero de acadmicos. Desse total, 76% foram apresentados por

    acadmicos do curso de Enfermagem.

    A grande maioria (44,7%) apresentou relevantes queixas sobre dificuldades

    psicolgicas que, apesar de no estarem previstas nos critrios diagnsticos do DSM-IV,

    so de importncia clnica e teraputica. Os diagnsticos, segundo o DSM-IV, foram:

    Transtornos de Ansiedade Generalizada (38,3%); Transtornos pelo Uso de Substncias:

    Dependncia (2,6%) e Abuso (2,6%); Transtorno Alimentar: Anorexia (1,3%); Transtorno

    de Pnico sem Agorafobia (1,3%); Transtorno Obsessivo Compulsivo (1,3%); Transtorno

    Depressivo Maior (1,3%); Transtorno de Personalidade Esquiva (1,3%); Transtorno de

    Somatizao (5,3%). No foram encontrados casos de transtornos psicticos.

    DISCUSSO

    Entre maio de 2000 e julho de 2001, foram atendidos 76 indivduos e 5

    famlias, num total de 533 atendimentos. A disponibilidade de horrio do nico profissionalresponsvel por essa atividade (E.C), neste perodo, determinou o nmero dos

    atendimentos. Aqueles que dispunham de condio financeira ou de algum convnio de

    sade e, tambm, os que solicitaram por ter grau de parentesco com outro usurio do

    servio foram, aps entrevista diagnstica, encaminhados profissionais da rea na

    comunidade.

    A taxa de universitrios que procuraram o CAP/UEMS foi de 9,5%, em acordo

    com outros estudos nacionais (LORETO, 1964, 1985; ABDO; FORTES, 1978; FORTES;

    ABDO, 1981), que apontam uma taxa entre 10% a 20%. Entretanto, essas taxas so

    superiores s encontradas em estudos internacionais: 7,1% (BAKER, 1964), 4,7%

    (GUNDLE; KRAFT, 1965), 2,3% a 6,2% ao ano (WILMS, 1965), e 3,76% (YOUNIS,

    1974) e inferiores s encontradas por Reifler et al. (1967): 18% em 1956 e 44% em 1965,

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    nos dez anos de funcionamento do Servio de Sade Mental da Universidade de North

    Carolina.

    As taxas encontradas entre docentes (5%) e funcionrios (3%) no puderam ser

    comparadas, uma vez que, na literatura nacional e internacional sobre o servio destinado aestudantes universitrios, no se fornecem informaes relativas assistncia psicolgica e

    psiquitrica a esses profissionais. Provavelmente esse segmento da populao universitria

    fosse atendido em consultrios particulares de Psicologia e Psiquiatria, atravs de

    convnios ou servios especficos destinados a servidores de universidades pblicas. E,

    talvez, esta seja a razo da no existncia de estudos sobre essa populao. Assim,

    provvel que a procura feita por esses servidores ao CAP/UEMS se deva escassez de

    servios em sade mental na cidade de Dourados/MS e ao nmero restrito de profissionais

    de sade mental cadastrados pela Caixa de Assistncia dos Servidores do Estado de Mato

    Grosso do Sul (CASSEMS), qual se filiam todos os servidores estaduais, exceto, os

    ocupantes de cargos comissionados sem vnculo empregatcio com o Estado. Outro fator

    determinante dessa demanda foi a oferta do atendimento dentro do campus, ou seja, dentro

    do prprio local de trabalho, em horrios correspondentes aos intervalos de almoo e aps o

    expediente da tarde.

    Hahn (1994), em estudo da clientela de um Programa de Ateno em SadeMental oferecido pela Universidade de So Carlos, registra que ao longo dos quatro anos de

    funcionamento do servio foram atendidos 6 docentes e 58 funcionrios. No entanto, no

    fornece dados sobre os mesmos, uma vez que o objetivo de seu estudo era caracterizar a

    populao discente dessa universidade.

    Relativamente ao gnero, nos casos atendidos no CAP/UEMS houve uma

    predominncia do sexo feminino (83%), fator bastante comum, descrito na literatura

    nacional e internacional em estudantes universitrios. Fortes e Abdo (1981) encontraramum predomnio do sexo feminino (60%), valores similares aos relatados por Loreto (1985):

    58%. Fernandez e Rodrigues (1993) e Hahan (1994) encontraram valores mais elevados:

    67% e 66%, respectivamente. Nos Estados Unidos, Nagelberg e Shemberg (1980) e

    Stangler e Printz (1980), assim como no Canad ONeil, Lancee e Freeman (1984) tambm

    encontraram uma predominncia do sexo feminino. A discrepncia entre gneros em nossos

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    resultados provavelmente se deva a razes de ordem cultural: no Brasil, o jovem

    universitrio do sexo masculino ainda sente muita dificuldade para expor seus conflitos

    mais ntimos a um profissional, a despeito das mudanas de atitude em relao ao sexo

    ocorridas na sociedade contempornea.

    A maioria (88%) dos estudantes encontra-se na faixa etria entre 19 e 20 anos.

    Deve-se considerar que, em nosso meio, a transio do Ensino Mdio para o Ensino

    Superior coincide com o perodo do desenvolvimento humano caracterizado pelo processo

    de configurao da identidade que marca o incio de uma nova fase da vida a do adulto

    jovem. Assim, a passagem de um tempo marcado por crises desencadeadas pela definio

    da identidade sexual, profissional e ideolgica se d no mesmo momento em que o jovem

    se inicia na vida universitria. Neste estudo, essas caractersticas corroboram as de outros

    estudos nacionais realizados por Giglio (1976; 1981), Fortes e Abdo (1981), Loreto (1985),

    Fernandez e Rodrigues (1993), Hahn (1994), Figueiredo e Oliveira (1995), Jorge e

    Rodrigues (1995), Jorge (1996), Benvegn et al. (1996), Milan (1997), Noto et al. (2001) e

    so reforadas pelo diagnstico no qual predominam dificuldades psicolgicas no

    psiquitricas (44,7%) relativas a auto-conhecimento, dificuldades de personalidade,

    dificuldades interpessoais - familiares ou do grupo social prximo, crises de identidade

    escolha sexual e profissional, desempenho acadmico insatisfatrio e a formao de valores

    pessoais, responsvel pelas queixas mais freqentemente apresentadas: dificuldades de

    aprendizagem, esquecimento, sentimentos de fracasso, baixa auto-estima, insegurana,

    inibio, timidez, desnimo e dificuldades nos relacionamentos interpessoais. Em seguida

    tivemos o diagnstico de transtornos de ansiedade (41%), associados s queixas: cansao,

    dificuldades de concentrao, perturbao do sono, irritabilidade, inquietao e tenso

    muscular, Esses dois quadros mais prevalentes foram tratados atravs de psicoterapia breve.

    Os estudantes do curso de Enfermagem predominaram em termos de maior

    procura pelo servio (54%) e de atestados mdicos encaminhados Diviso de Assuntos

    Acadmicos (75%). Mais de 85% dos acadmicos de Enfermagem eram alunos do segundo

    e terceiro anos, perodo em que se do os primeiros contatos com a profisso, ou seja, para

    os alunos do segundo ano, o incio do estgio curricular e para os do terceiro ano, o

    convvio intenso com as vrias reas de atuao do enfermeiro. provvel que isso deva

    Captulo I

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    em alguns casos mais a conflitos internos individuais, em outros mais a fatores externos e

    em outros a uma combinao desses fatores. Os fatores externos poderiam estar

    relacionados ao contato com a Psicologia e Psicanlise; as aulas de Anatomia onde as

    questes relacionadas morte esto presentes e trouxeram tona, para alguns alunos,

    questes emocionais que necessitavam de orientao e/ou aconselhamento; por j estarem

    recebendo atendimento psicolgico, antes da criao do CAP/UEMS e pelo contato com a

    docente na disciplina de Psicologia Aplicada a Enfermagem, primeira autora - profissional

    responsvel pelo servio de sade mental.

    Em suma, as variveis faixa etria, gnero e curso esto relacionadas com a

    necessidade de procura por algum tipo de ajuda psicolgica. Dessas, sobressai a varivel

    curso, especificamente o de enfermagem. Os estudantes desse curso apresentam sinais de

    sofrimento psquico, no enfrentamento de dificuldades relacionadas a atividades

    acadmicas, principalmente, os do segundo ano. Essa varivel est relacionada, ainda, com

    a questo da idade muito jovem (19 anos), o que pode ser um fator interferente, causador de

    dificuldades adicionais na trajetria acadmica do estudante.

    CONCLUSES

    Embora os ndices encontrados indiquem uma procura relativamente acentuada

    da populao universitria pelos servios de sade mental da UEMS, eles no refletem, na

    verdade, o universo daqueles que realmente necessitam de algum tipo de ajuda ou

    tratamento. Os resultados apontam alguns caminhos para a elaborao de programas em

    Sade Mental para o estudante universitrio, com nfase no processo de adaptao do aluno

    sua nova realidade e s peculiaridades de cada curso, principalmente, o de Enfermagem,

    incluindo, necessariamente, orientao e esclarecimento sobre a opo pela profisso.

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