Cidades Intermediárias Brasileiras - Castelo Branco - Anpege

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1 CIDADES INTERMEDIÁRIAS NO BRASIL Maria Luisa G. Castello Branco 1 IBGE Coordenação de Geografia CGEO [email protected] 1 - INTRODUÇÃO As análises do processo de urbanização recente do país, em geral, enfatizam a prevalência da metropolização e crescimento das grandes cidades. Indubitavelmente, a concentração de população em grandes áreas urbanas é marcante e tem se acentuado com os processos de internacionalização da economia, globalização e constituição de uma sociedade em rede, uma vez que estes centros constituem os principais nós das redes urbanas em níveis mundial e nacional (CASTELLS, 1996, SASSEN, 1991, e VELTZ, 1996). Entretanto, ao analisar a evolução da urbanização mundial, Egler (2002:324) afirma que: ...a relação entre crescimento populacional/crescimento do número de cidades é bem mais importante para as cidades intermediárias, o que demonstra o dinamismo desta categoria de centros urbanos. Esta importância crescente das cidades intermediárias ocorre também no Brasil, onde se verifica o aumento constante desta categoria de centros tanto em número de quanto em população. Estas mudanças nos convidam a fazer uma reflexão sobre as transformações no processo de urbanização no Brasil, sua configuração territorial, e especialmente sobre o papel destas cidades e suas articulações no contexto regional, nacional e global. O primeiro desafio, ao se tratar desta questão, é estabelecer o que se entende por cidade intermediária , em geral definidas ou por seu porte populacional, ou por suas características funcionais ou ainda por seu papel como elo de ligações entre os centros locais e os centros globais, na rede 1 Este trabalho foi elaborado com a participação de Rogério Botelho de Mattos, com a colaboração, sugestões e críticas de Evangelina X. G. de Oliveira e de Ivone Lopes.

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Texto sobre cidades intermediárias no Brasil

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CIDADES INTERMEDIÁRIAS NO BRASIL

Maria Luisa G. Castello Branco1

IBGE Coordenação de Geografia CGEO

[email protected]

1 - INTRODUÇÃO

As análises do processo de urbanização recente do país, em geral,

enfatizam a prevalência da metropolização e crescimento das grandes cidades.

Indubitavelmente, a concentração de população em grandes áreas urbanas é

marcante e tem se acentuado com os processos de internacionalização da

economia, globalização e constituição de uma sociedade em rede, uma vez

que estes centros constituem os principais nós das redes urbanas em níveis

mundial e nacional (CASTELLS, 1996, SASSEN, 1991, e VELTZ, 1996).

Entretanto, ao analisar a evolução da urbanização mundial, Egler (2002:324)

afirma que:

...a relação entre crescimento populacional/crescimento do número de

cidades é bem mais importante para as cidades intermediárias, o que

demonstra o dinamismo desta categoria de centros urbanos.

Esta importância crescente das cidades intermediárias ocorre também

no Brasil, onde se verifica o aumento constante desta categoria de centros

tanto em número de quanto em população. Estas mudanças nos convidam a

fazer uma reflexão sobre as transformações no processo de urbanização no

Brasil, sua configuração territorial, e especialmente sobre o papel destas

cidades e suas articulações no contexto regional, nacional e global.

O primeiro desafio, ao se tratar desta questão, é estabelecer o que se

entende por cidade intermediária , em geral definidas ou por seu porte

populacional, ou por suas características funcionais ou ainda por seu papel

como elo de ligações entre os centros locais e os centros globais, na rede

1 Este trabalho foi elaborado com a participação de Rogério Botelho de Mattos, com a colaboração, sugestões e críticas de Evangelina X. G. de Oliveira e de Ivone Lopes.

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mundial de cidades. A designação de cidades intermediárias segue a linha

adotada por Santos (1979:243) que ressalta a transformação da cidade média

e/ou centro regional em intermediária , ressaltando o papel articulador.

Objetiva-se enfocar esta questão adotando processo classificatório para

destacar características gerais que permitam construir um quadro de

referência, com vistas a contribuir para a definição de cidades intermediárias

brasileiras e de seu papel na rede urbana. Para atender a tal objetivo, buscou-

se identificar um conjunto de cidades que, no contexto da rede urbana,

constituam nós articuladores entre as grandes metrópoles e cidades menores,

localizadas em sua área de influência, caracterizadas por patamar de tamanho

populacional, econômico e qualidade de vida. A identificação das cidades

intermediárias no Brasil foi realizada em duas grandes etapas: na primeira

selecionou-se o conjunto de cidades que atendessem a critérios de tamanho

populacional, centralidade e articulação; na segunda elaborou-se tipologia

buscando ressaltar características comuns a estas cidades que constituam

base para futuras análises.

2 CIDADES INTERMEDIÁRIAS E REDE URBANA

A definição de cidades intermediárias não se vincula apenas a

classificação por porte populacional. Relaciona-se também às suas funções e,

principalmente, ao papel que desempenham na rede urbana regional, nacional

e internacional. A atenção a esta questão, no Brasil, data da década de 1970,

quando da elaboração das políticas e programas que visavam a difusão do

processo de desenvolvimento, com base nos nós da rede urbana, com

destaque para cidades médias (SOUZA 1999, PONTES 2001, TOLOSA 2001,

AMORIM e SERRA 2001, STEINBERGER e BRUNA 2001). Estas políticas,

materializadas no II PND e explicitadas no Programa de Cidades de Porte

Médio, além do tamanho populacional consideravam, principalmente a

centralidade, a hierarquia urbana, a extensão física, as características

funcionais e as de tamanho econômico. Nas décadas seguintes, com a

mudança de ótica na política governamental, privilegiando o planejamento

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setorial, houve uma descontinuidade na elaboração e implementação de

programas de planejamento territorial, onde a questão das cidades médias se

inseria.

As transformações alavancadas pelo processo de globalização, pelas

novas dinâmicas produtivas, pela abertura da economia e inserção em uma

sociedade em rede, ressaltam a importância do território e da urbanização que,

apesar de acentuar o poder de polarização das grandes aglomerações urbanas

(VELTZ 1996, SOUZA 1995, CASTELLS 1996, SOJA 1993 e 2000, SASSEN

1991), atinge toda a rede urbana e recoloca em evidência as cidades médias, a

partir de meados da década de 1990. A questão desta categoria de cidades

agora retomada, trouxe em seu bojo a necessidade de maior precisão

conceitual quanto à sua definição. Neste sentido, destacam-se, no Brasil, as

contribuições de Amorim e Serra (2001) e de Sposito (2001). Amorim e Serra

(2001:4) partem do princípio que as cidades médias desempenham funções

específicas no sistema urbano e que estas espelham diferentes modos de

produção em suas diferentes etapas, em cada fase deste sistema. Assim,

acrescentam às características, consideradas como definidoras das cidades

médias em pesquisas realizadas nas décadas anteriores, três novas funções

que podem ser desempenhadas por estas cidades em decorrência do processo

conhecido por globalização : a de articuladoras privilegiadas nos eixos ou

corredores de desenvolvimento (AMORIM e SERRA 2001: 28); a atuação que

podem exercer nos sistemas de redes regionais ou nacionais; e como fator de

sucesso na localização de tecnopólos. Nesta mesma época, Sposito (2001),

traz nova contribuição, adotando perspectiva geográfica, enfatizando a

importância do sítio e situação ou posição geográfica, das relações espaciais

da cidade, especialmente as que dizem respeito ao consumo, do seu papel na

divisão do trabalho, das funções que desempenham e da questão da distância

de centros de maior nível hierárquico. Sposito destaca ainda que o avanço

tecnológico, notadamente nas comunicações, ao permitir a dissociação entre

os centros de tomada de decisão e os centros produtivos, abre novas

perspectivas locacionais para as cidades médias.

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Sanfeliu e Torné (2004: 3-7), adotam a designação de

intermédias/intermediárias , por ampliar seu significado, realçar seu papel de

articulação, criando e tecendo redes; por introduzir e valorizar aspectos mais

dinâmicos e estratégicos que abrem novas possibilidades de inserção nas

escalas regional, nacional e internacional; e por incorporar o conceito de

sistema urbano mais aberto, dinâmico e interativo, (DEMATTEIS, G. 1991,

Apud. SANFELIU e TORNÉ 2004: 7,). Relativizando a importância do tamanho

demográfico, relacionam como cidades intermediárias : a) centros que

oferecem bens e serviços mais ou menos especializados para a sua área de

influência; b) centros que constituem nós articuladores de fluxos; c) centros

onde se localizam sedes de governo local e regional. Estes autores apontam

ainda que, em comparação com centros maiores, as cidades intermediárias

caracterizam-se por oferecer: sistemas mais equilibrados e estáveis em seu

território; maior facilidade de gestão e exercício da cidadania; maior identidade

da população com a cidade; menores problemas ambientais; menores conflitos

e custos sociais; e por outro lado, menor diversidade social e cultural; menor

poder de competitividade econômica e maior dificuldade de acesso aos fluxos

de informação e capital. Ressaltam também, que na nova hierarquia urbana, a

posição da cidade depende mais de sua inserção nas redes globais do que do

seu tamanho populacional.

O caráter qualitativo das principais características definidoras de cidades

intermediárias destaca-se particularmente em relação à função topológica de

intermediação entre grandes centros de decisão e respectivas áreas de

influência, urbanas e/ou rurais (TORNÉ 2000: 5). Assim, a própria essência

dos elementos conceituais apontados como definidores de cidades médias/

intermediárias torna difícil a elaboração de metodologia operacional para

identificação de um conjunto de cidades médias em nível nacional. De um

lado, são escassas as informação disponíveis para construir indicadores e

apreender todos os aspectos relacionados como definidores destes centros, de

outro lado é difícil incorporar a própria diversidade

característica fundamental

do conjunto a um sistema classificatório.

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Nesta pesquisa, buscou-se apontar características básicas que

permitissem identificar, em nível nacional, um conjunto de cidades

intermediárias, e apresentar informações relevantes sobres estes centros e sua

área de atuação, com base no quadro conceitual mencionado.

3 CIDADES INTERMEDIÁRIAS: ASPECTOS FUNDAMENTAIS

Alguns aspectos fundamentais constituem consenso quando se investiga

o universo de cidades intermediárias. Na operacionalização dos conceitos

considerados mais relevantes, buscou-se informações quantitativas coletadas

em nível nacional, segundo o mesmo critério de levantamento. Assim, foram

consideradas as seguintes características como definidoras deste patamar de

cidades em todo o território nacional: o tamanho populacional e econômico, o

grau de urbanização, a centralidade e a qualidade de vida.

O tamanho populacional da cidade sempre é referido quando se trata de

cidades intermediárias e apesar de haver consenso de que esta característica

não é determinante, todavia, como apontam Amorim e Serra (2001), deve ser

considerado como uma faixa de tamanho para investigação, mas não como

elemento definidor, principalmente porque em termos geográficos, a

localização relativa tem enorme peso nas questões de tamanho (ADAMS

1995).

O tamanho econômico é outro aspecto considerado relevante, pois é

indicativo da dinâmica econômica do centro, responsável por existência de

infra-estrutura necessária ao poder de atração locacional e ao papel de

intermediação que caracterizam as cidades intermediárias.

O grau de urbanização é também importante na definição, uma vez que

as atividades necessárias para desempenhar as funções urbanas, tais como a

de articulador do sistema urbano, as de centro de atividades de produtivas e de

prestação de serviços, constituem características tipicamente urbanas.

A centralidade é fundamental na definição do fenômeno urbano

(LEFEBVRE 1999: 109-124) e é a principal característica desta categoria de

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cidades, uma vez que nela se apóia o seu poder de articulação entre os

diferentes níveis de centros urbanos, a sua atuação como centro de oferta de

bens e serviços para a sua área de influência, e como nó de diferentes tipos de

rede, funções que estão no cerne do conceito de centralidade.

O quadro de características básicas para definição de cidades

intermediárias se completa com a qualidade de vida urbana. Aspecto relevante

nesta definição de cidades, por levar em consideração a oferta de infra-

estrutura urbana, segurança, facilidade de deslocamento, entre outros,

constituindo, assim, fator de atração locacional para indivíduos e também para

instalação de unidades de produção de grupos mais capitalizados, que em

função do avanço tecnológico podem dissociar a localização destas unidades

de produção, da localização nos centros de tomada de decisões, maiores e

mais congestionados (SPOSITO 2001:630-631).

Como já mencionado anteriormente, algumas dificuldades se

apresentam para seleção de informações em nível nacional, a primeira refere-

se a escassez de informações quantitativas coletadas segundo o mesmo

critério para a construção de indicadores, a segunda está relacionada a

carência de indicadores qualitativos que atendam aos mesmos parâmetros

referidos para as informações quantitativas e a terceira está dificuldade de

incorporar a diversidade, que constitui uma das características básicas das

cidades intermediárias.

4 SELEÇÃO DE CIDADES INTERMEDIÁRIAS: UMA PROPOSTA.

A configuração da rede urbana brasileira é marcada pelo contraste, entre

áreas de distribuição urbana rarefeita, com estrutura primaz e poucos centros

regionais, e áreas de maior densidade de cidades, com forte presença de

centros regionais que ampliam a área de atuação das metrópoles a que se

acham ligadas, espelhando as diferentes dinâmicas urbano-regionais (EGLER

2002). A identificação dos centros regionais, as cidades intermediárias, foi feita

com base em informações em nível municipal e segundo alguns critérios

básicos para estruturação dos indicadores selecionados.

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O primeiro critério considerado foi o tamanho populacional, pois existe

uma faixa de tamanho populacional, com maior probabilidade de ocorrência

das funções e relacionamentos desenvolvidos pelas cidades intermediárias.

Na definição da classe de tamanho considerou-se as pesquisas realizadas

sobre cidades médias a partir da década de 1970. Posteriormente, Santos

(1993), considerando a evolução do processo de urbanização no país e as

transformações na rede urbana, decorrentes de transformações no meio

científico-informacional, define o total de 100 mil habitantes, como patamar

mínimo para este tipo de cidade. Recentemente, na publicação Cidades

Médias Brasileiras, organizada por Andrade e Serra (2001), são adotadas duas

classes de tamanho: de 50 a 500 mil habitantes e de 100 a 500 mil habitantes

para identificar as cidades médias. Considerando que a definição de uma faixa

de tamanho populacional ampla como base definição de cidades

intermediárias, adotou-se como limites para investigação os centros com

população entre 100.000 e 1.000.000 habitantes.

O segundo critério observado foi a centralidade, que justificou a não

inclusão de cidades localizadas no entorno de regiões metropolitanas e

integradas de desenvolvimento que embora tenham o tamanho populacional

considerado, estão integradas a dinâmica metropolitana, e desta forma, não

constituem cidades médias no sentido funcional, por pertencerem a uma área

urbana estruturada funcionalmente, com grau significativo de integração ou

coesão interna (SPOSITO 2001: 627). Todavia, foram incluídos os núcleos de

Regiões Metropolitanas e Regiões Integradas de Desenvolvimento cuja

população atendesse ao critério de tamanho populacional considerado.

Considerações acerca do papel das cidades intermediárias na rede urbana

brasileira levaram a exclusão de centros urbanos que, segundo os resultados

da pesquisa Regiões de Influência das Cidades (IBGE 2000), foram

identificados como municípios subordinados.

A centralidade e o poder de articulação constituem o terceiro critério

considerado para elaboração do quadro final de cidades médias, adotando-se

como princípio de que a existência de linhas aéreas regulares é serviço raro

(característica da centralidade) e é necessária para a articulação da cidade

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intermediária com os níveis superiores da hierarquia urbana, excluindo-se

então, aqueles centros que não atendessem a este requisito, utilizando

informações da matriz de fluxos aéreos fornecida pelo Departamento de

Aviação Civil DAC Ministério da Aeronáutica 2005.

5 A ELABORAÇÃO DA TIPOLOGIA DE CIDADES INTERMEDIÁRIAS

A elaboração da tipologia dos centros selecionados foi realizada em

duas fases: A primeira contemplou a definição dos indicadores para cada uma

das dimensões estabelecidas: o tamanho populacional e econômico está

representado por: população total, unidades locais de empresas, população

economicamente ativa, agências bancárias, pessoal ocupado total e

assalariado, valor adicionado na indústria, nos serviços e total e produto interno

bruto dos municípios; o nível de urbanização foi definido pela taxa de

urbanização e percentual de domicílios urbanos; a centralidade interurbana

está contemplada nas ligações por fluxos aéreos; a qualidade de vida urbana

está dimensionada pelo total de domicílios ligados à rede geral de água e à

rede geral de esgotos, razão de dependência (razão entre a população de 0 a

14 anos e 65 anos ou mais de idade e a população de 15 a 64 anos de idade) e

produto interno bruto per capita. Na segunda fase, como critério para a

tipologia foi utilizado o valor da mediana (considerando que esta medida tem a

vantagem de não ser afetada por valores extremos) para cada um dos 16

indicadores, utilizando como universo de análise os centros selecionados,

atribuindo-se valor um para os centros com valores iguais ou acima da

mediana e valor 0 para os centros com valores abaixo da mediana no indicador

considerado. Assim, com base na mediana, estabeleceu-se uma tipologia,

identificando-se cinco tipos: o primeiro referente às cidades que apresentaram

valores iguais ou superiores à mediana em pelo menos 14 indicadores; o

segundo, onde os centros apresentaram valores superiores a mediana em pelo

menos 8 dos indicadores; o terceiro, onde os centros apresentaram valores

superiores a mediana em pelo menos 5 dos indicadores; o quarto onde os

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centros apresentaram valores superiores à mediana em pelo menos 1 dos

indicadores e o quinto onde todos os valores ficaram abaixo da mediana.

6 A IDENTIFICAÇÃO E A TIPOLOGIA DE CIDADES INTERMEDIÁRIAS NO

BRASIL

A construção e análise dos indicadores para identificação das cidades

intermediárias brasileiras foi realizada em duas grandes etapas:

Na primeira selecionou-se o universo de centros que atendessem aos

critérios de tamanho populacional e centralidade definidos anteriormente. Em

seguida, utilizando a presença de linhas aéreas regulares foi selecionado o

conjunto final de centros urbanos que apresentam as características de cidades

intermediárias, totalizando 52 centros, 19 na Região Sudeste2, 12 na Região

Sul3, 10 na Região Nordeste4, 8 localizados na Região Norte5 e 3 na Região

Centro-Oeste6.

Na segunda etapa, construiu-se a matriz com os 16 indicadores

selecionados para o universo de 52 centros e respectivo posicionamento em

relação à mediana do conjunto para elaboração da tipologia, segundo os tipos

estabelecidos.

A análise da tipologia para o conjunto de 52 cidades (Quadro 1) revela

que 12 referem-se ao primeiro tipo, cabendo registrar que dentre estes, apenas

os centros localizados nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná não

incluem a capital; no segundo tipo, encontram-se 14 cidades, das quais 6

situam-se no Sudeste, 4 na Região Sul, 2 no Nordeste e 1 tanto no Centro

Oeste quanto no Norte. A análise conjunta destes 2 tipos confirma tendência a

2 Governador Valadares, Juiz de Fora, Montes Claros, Patos de Minas, Poços de Caldas, Uberaba, Uberlândia, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Macaé, Araçatuba, Araraquara, Bauru, Marília, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, São José dos Campos e Sorocaba. 3 Cascavel, Foz do Iguaçu, Londrina, Maringá, Chapecó, Criciúma, Florianópolis, Joinville, Lages, Caxias do Sul, Passo Fundo e Rio Grande. 4 Imperatriz, Juazeiro do Norte, Campina Grande, João Pessoa, Petrolina, Maceió, Aracaju e Barreiras. 5 Porto Velho, Rio Branco, Boa Vista, Marabá, Santarém, Macapá, Araguaína e Palmas. 6 Campo Grande, Dourados e Cuiabá.

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concentração espacial de centros com melhor posicionamento nos indicadores

selecionados na área mais dinâmica do país. No terceiro tipo encontram-se 13

cidades cuja distribuição revela que 5 localizam-se no Sudeste, 4 na Região

Norte (todas constituem capitais estaduais), 3 no sul e 1 no Nordeste; no quarto

tipo encontram-se 9 cidades com a seguinte distribuição regional: 3 no

Nordeste, 2 tanto no Sudeste quanto no Norte, já nas regiões Sul e Centro

Oeste uma por Região; no último tipo localizam-se 4 cidades situadas nas

Regiões Norte (1) e Nordeste (3).

Quadro 1 Tipologia de Cidades Intermediárias:

Tipo 1 Aracaju, Juiz de Fora, Uberaba, Uberlândia, Ribeirão Preto, São Jose dos Campos,

Sorocaba, Londrina, Maringá, Florianópolis, Joinville e Cuiabá. Tipo 2 Porto Velho, João Pessoa, Maceió, Poços de Caldas, Campos dos Goytacazes

Macaé, Bauru, Presidente Prudente, São José do Rio Preto, Foz do Iguaçu, Criciúma

Caxias do Sul, Passo Fundo e Campo Grande. Tipo 3 Rio Branco, Boa Vista, Macapá, Palmas, Campina Grande, Governador Valadares

Montes Claros, Araçatuba, Araraquara, Marília, Cascavel, Chapecó e Rio Grande. Tipo 4 Marabá, Santarém, Petrolina, Ilhéus, Vitória da Conquista, Patos de Minas, Cabo Frio

Lages, Dourados Tipo 5 Araguaína, Imperatriz, Juazeiro do Norte e Barreiras.

Além das informações pesquisadas para elaboração desta tipologia,

incorporou-se à caracterização destes centros informações relativas às áreas

de influência imediata dos 52 centros selecionados tendo com base os fluxos

de maior intensidade e complexidade de bens e serviços, da pesquisa Regiões

de Influência das Cidades (IBGE: 1993). A abrangência espacial da área de

atuação destes centros é maior nas regiões onde a densidade da rede urbana

é menor e há menor competitividade entre os centros, como ser visto na

Figura 1.

7

CONSIDERAÇÕES FINAIS: A DIVERSIDADE E A ATUAÇÃO DO

UNIVERSO DE CIDADES INTERMEDIÁRIAS NO BRASIL

A análise dos 52 centros selecionados revela a ausência de cidades

intermediárias , segundo os critérios definidos, nos Estados do Amazonas,

Piauí, Rio Grande do Norte, Espírito Santo e Goiás, em parte por possível

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indicação de estrutura primaz em suas redes estaduais e em parte porque o

critério de concessão de linhas aéreas regulares pelo DAC, define que o centro

a ser atendido tenha de ter um mínimo de 500 mil habitantes em sua área de

influência.

Figura 1 Área de Influência das Cidades Intermediárias

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12

Os 52 centros identificados, concentravam 14.594.422 habitantes

urbanos em 2000 (10,57% do total do país) e R$ 139 bilhões de Produto

Interno Bruto em 2002 (14,37% do Brasil) e estão localizados nos Estados de

Estado São Paulo (9), Estado de Minas Gerais (7), em Santa Catarina (5), esta

distribuição vai declinando nos demais Estados: Paraná (4), Rio de Janeiro (3),

Bahia (3), Pará (2) e os demais Estados apenas um centro em seu território.

Esta distribuição pode estar relacionada, não só a configuração da rede

urbana estadual, mas a algumas de suas características formadoras como a

dinâmica populacional e econômica da área, a evolução da ocupação e

também a alguns fatores geográficos como a área territorial da Unidade da

Federação, o grau de fragmentação municipal, à distância de grandes centros

urbanos e a inserção em grandes eixos de comunicação.

O panorama aqui traçado visou dar um primeiro passo no sentido de

uma investigação para a definição de cidades médias.

O quadro definido através da tipologia, como em todo estudo sobre a

rede urbana brasileira, apresenta grande desigualdade na distribuição espacial

das cidades aqui consideradas como intermediárias e também uma grande

diversidade entre os centros selecionados em relação aos atributos

selecionados para análise.

Merece destaque o conjunto de capitais estaduais identificadas como

cidades intermediárias, com especial destaque para Aracajú, Florianópolis e

Cuiabá, que apresentam melhor situação nos indicadores selecionados;

Campo Grande, João Pessoa, Maceió e Porto Velho, situam-se no segundo

grupo, cabendo mencionar que Porto Velho apresenta todos os indicadores

relativos a funções urbanas e qualidade de vida abaixo da mediana. No

terceiro grupo estão Macapá, Palmas, Rio Branco e Boa Vista, que dos 16

indicadores selecionados apresentam apenas de 6 a 5 acima da mediana.

A análise da tipologia dos 52 centros selecionados revela que:

O primeiro grupo de centros identificados na pesquisa é constituído por

aqueles que estão em melhor posição em todos os indicadores, revelando a

face dinâmica da urbanização do país, onde com exceção das capitais

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estaduais Aracaju e Cuiabá, os demais centros localizam-se na área mais

dinâmica do país, o centro-sul. Este grupo concentrava em 2000, 5.200.282

habitantes e em 2002 R$ 52 bilhões do Produto Interno Bruto, respectivamente,

35,63% e 37,85% do conjunto das Cidades Intermediárias selecionadas.

O segundo grupo reafirma este padrão. Neste grupo, localizava-se em

2000, 4.890.665 habitantes e em 2002, R$ 53 bilhões do Produto Interno Bruto,

respectivamente, 33,51% e 38,52% do conjunto. Cabe destacar que a

presença de Campos dos Goytacazes e de Macaé, neste conjunto é

responsável pela concentração de 37,77% do PIB deste grupo. O primeiro e o

segundo grupo desta tipologia concentram 69,14% da população e 76,37 do

PIB das Cidades Intermediárias selecionadas.

No terceiro grupo este padrão ainda se manifesta, porém já incluindo no

conjunto a cidade de Campina Grande. Em 2000, apresentavam 2.911.646

habitantes e em 2002 R$ 19 bilhões do Produto Interno Bruto, respectivamente,

19,95% e 13,97% do conjunto das Cidades Intermediárias selecionadas.

No quarto grupo não há um padrão de distribuição, com centros

esparsos no Rio de Janeiro (2), na Bahia (2), no Pará (2) e um respectivamente

em Santa Catarina, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Este grupo somava

em 2000, 1.707.057 habitantes e em 2002 R$ 11 bilhões do Produto Interno

Bruto, respectivamente, 11,69% e 8,03% do conjunto das Cidades

Intermediárias selecionadas.

Finalmente, o quinto conjunto de cidades é composto por apenas 4

cidades (Araguaína, lmperatriz, Juazeiro do Norte e Barreiras) e caracteriza-se

pela homogeneidade de situações, todos os centros que o compõem estão

abaixo da mediana em todos os indicadores selecionados, Barreiras (BA),

centro de dinâmica recente, provavelmente ainda não apresenta estrutura

urbana consolidada que possa ser captada pelos indicadores selecionados.

Este grupo somava em 2000, 687.691 habitantes e em 2002 R$ 2 bilhões do

Produto Interno Bruto, respectivamente, 4,71% e 1,60% do conjunto das

Cidades Intermediárias selecionadas.

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O quadro de características gerais dos centros selecionados constitui

base para discussão acerca de definição de metodologia para identificação de

cidades intermediárias e para subsidiar discussões sobre a questão dos

conceitos que poderão nortear a definição desta metodologia, além de permitir

uma análise mais acurada de cada um dos centros selecionados e sua

inserção na dinâmica regional.

A partir deste quadro, novos estudos poderão aperfeiçoar a definição do

conjunto de cidades médias, incorporando outras características importantes,

tais como a centralidade intra-urbana e aquela baseada no turismo.

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