Ciência para todos - Nº. 09

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Revista de divulgação científica do INPA Ciência para todos Junho de 2012 · nº 09, ano 4 (Distribuição Gratuita) ISSN 19847653 EDUCAÇÃO AMBIENTAL Grandes aliados da educação ambiental: insetos aquácos REAPROVEITAMENTO Couro de peixes: transformando a natureza em geração de renda ESPECIAL A beleza da leveza Economia: a “mão” que governa o mundo

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Economia: a "mão" que governa o mundo

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Revista de divulgação científica do

INPACiência para todos Junho de 2012 · nº 09, ano 4 (Distribuição Gratuita) ISSN 19847653

EDUCAÇÃO AMBIENTALGrandes aliados da educação ambiental: insetos aquáticos

REAPROVEITAMENTOCouro de peixes: transformando a natureza em geração de renda

ESPECIALA beleza da leveza

Economia: a “mão” que governa o mundo

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Desde que o sistema de troca de mercadorias, conhecido como escambo, foi substituído pelo dinheiro, esse passou a ser o vilão ou

vítima em vários casos históricos. Foi assim na crise econômica dos Estados Unidos em 1929 e a mais recente, desencadeada em 2008, que traz reflexos até hoje, principalmente nos países europeus.

Instabilidade caminha junto com economia; às vezes, simples boatos podem provocar rumores e fazer despencar as bolsas de valores. Em meio a esse cenário de incertezas, como promover o desenvolvimento de um país? Países como Japão, Coréia do Sul e Finlândia, que investiram massiva-mente na educação desde a básica até a universi-tária, servem de exemplos.

A educação; ciência, tecnologia e inovação; e a co-municação formam o tripé desse modelo econômi-co, pois desenvolver pesquisas, processos, novas tecnologias e produtos só é possível por meio da educação, inserindo a ciência desde a educação básica.

Nesse contexto, o Inpa tem trabalhado arduamente no processo de construir ferramentas - manuais, jogos, folders e livros - que auxiliam nessa conscienti-zação e melhoria na qualidade do ensino, por meio de projetos de educação ambiental, no sentido de apre-sentar a importância que os ecossistemas têm para a sociedade, como é o caso dos insetos aquáticos. Na

área de tecnologia e inovação, o Inpa tem de-senvolvido processos que permitem a utilização de matérias que antes eram desperdiçadas. Ve-mos isso no processo de reaproveitamento de peles de peixes amazônicos, transformando-as em couro para utilização na confecção de sapa-tos, bolsas e carteiras.

Assim, tendo como aliadas a tecnologia e a ino-vação, o Instituto também vem estudando doen-ças com o intuito de contribuir com métodos de prevenção e tratamento como infecções causa-das por fungos - as micoses -, que se instalam em várias partes do corpo humano. E essa tecnologia não se aplica só em doenças humanas, mas em fenômenos – naturais ou não - que implicam na alteração do ciclo biológico, como as espécies de larvas da mosca-da-fruta feita por meio de análise molecular e morfológica, o que pode contribuir com os órgãos públicos para o controle de pragas.

Como as pesquisas contribuem direta ou indireta-mente na sociedade, torna-se necessário levar a todos o que vem sendo desenvolvido dentro dos Institutos, por isso a socialização da informação precisa atingir todos os níveis da sociedade. Pen-sando nisso, trazemos em cada edição uma sessão infantil contanto de forma lúdica a vida de alguma espécie da região porque a Ciência é para todos.

Boa leitura!

Adalberto Luis Val Diretor do Inpa

Estevão Monteiro de PaulaDiretor Substituto do Inpa

Sérgio Fonseca GuimarãesChefe de Gabinete

Estevão Monteiro de PaulaCoordenador de Ações Estratégicas - COAE

Beatriz Ronchi TelesCoordenadora de Capacitação - COCP

Antonio Ocimar ManziCoordenador de Pesquisas e Acom-panhamento das Atividades Finalísti-cas - CPAF

Carlos Roberto BuenoCoordenador de Extensão - COXT

Tatiana LimaAssessora de ComunicaçãoMTB (4214/MG)

Editora chefeJosiane Santos

RedaçãoEduardo GomesClarissa BacellarFernanda Farias

FotografiasAcervo pesquisadoresEduardo GomesPhillipe Klauvin

Revisão Aline CardosoClarissa BacellarJosiane Santos

ColaboradoresAline CardosoJéssica VasconcelosEduardo PhillipeDelber Bittencourt

Projeto GráficoLeila RonizeRildo Carneiro

Editoração EletrônicaFernando Neto

Artes e Ilustrações:Fernando Neto e Juliana Lima

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EXPEDIENTE

EDITORIAL

Nossa Capa:Economia: a “mão“ que governa o mundo

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SUM

ÁRIO

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Projetos educacionais ensinam as crianças informações sobre

insetos aquáticos e sua im-portância para o ecossistema

Entenda as infecções causadas por fungos e os métodos de prevenção

Composição química proveniente do peixe pode ajudar na indústria

alimentícia humana

Crise econômica: início, processo e retrocesso

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Inpa estuda moscas-das-frutas: insetos comprometem a comer-cialização das frutas

Materiais que poderiam ir para o lixo, o Inpa trans-forma em tecnologia para utilização na indústria

Ciência para todos leva você a conhecer o mundo das borboletas

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Grandes aliados da educação ambiental:

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Grandes aliados da educação ambiental:

insetos aquáticosInsetos sempre causam arrepios. Alguns têm cores estranhas. Outros, formatos indecifráveis. Muitos emitem sons que amedrontam e outros, som nenhum, o que apavora. As pessoas tem o costume de fugir desses animais ou, na maioria das vezes, simplesmente os matam. E você? Como reage?

Cícero Monteiro Ana M. O. Pes Ana M. O. Pes

Fernando da Costa Pinheiro Cicero Monteiro Sheyla R. M. Couceiro

(Megaloptera: Corydalidae: Chloronia) Adulto da lacraia d’agua

(Lepidoptera: Crambidae) Mariposa

(Corydalus batesii) Larva da lacraia d’agua

(Trichoptera: Hydropsychidae) Larva de Macronema

(Trichoptera: Odontoceridae: Marilia) Casulo do João pedreira

Igarapé urbanoManaus, Amazonas

Ana M. O. Pes

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Grandes aliados da educação ambiental:

insetos aquáticos

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Grandes aliados da educação ambiental:

insetos aquáticos> POR CLARISSA BACELLAR

O projeto “Insetos aquáticos: biodiversidade, ferramentas ambientais e a popularização da ciência para melhoria da qualidade

de vida humana no Estado do Amazonas”, é de-senvolvido sob a coordenação da pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Neusa Hamada, e tem como foco o inventário de insetos aquáticos no Estado do Ama-zonas tendo como base as áreas de taxonomia, biologia e ecologia. É financiado no âmbito do con-vênio Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), vinculada à Secre-taria de Estado de Ciência e Tecnologia (SECTI), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvi-mento Científico e Tecnológico (CNPq).

É de um jeito diferente e di-vertido que o grupo de apoio do projeto, formado por pes-quisadores, bolsistas, alunos de mestrado e doutorado do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientí-fica (PIBIC) e CNPq/Fapeam, ensina para crianças, jovens e adultos a importância ecológica dos insetos aquáti-cos para o ecossistema e, claro, consequentemente, para os seres humanos.

A bióloga e bolsista da Co-ordenação de Pesquisas de Biodiversidade (CBio) do Inpa, Nayra Gomes da Silva, participa do projeto ativamente. Ela esclarece que a partir do material coletado durante os trabalhos, cada grupo desenvolve estudos nas áreas de taxo-nomia, biologia e ecologia que ajudam as pesqui-sas na área educacional, ambiental e médico-legal.

Os resultados são integrados para serem publica-dos e divulgados, e visam, também, a melhoria da qualidade de vida da população. E que método melhor de popularização que aprender brincando?

Estimular a educação ambiental por meio da popularização da ciênciaA criação de jogos para estimular o aprendizado do projeto “Insetos aquáticos” surgiu em 2008, mas as ideias para as atividades só iniciaram em 2009, quando o grupo realizou tomadas de inúmeras fo-tografias e vídeos dos insetos aquáticos para serem utilizados como modelos nas atividades.

Em 2010, a coordenadora do projeto, Neusa Hamada, convidou a professora Deia Ferreira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que tem larga experiência na formação continuada de professores do ensino médio e funda-mental e na produção de jogos e ativi-dades para melhoria da qualidade do en-sino, para colaborar com as atividades. “A professora Deia, juntamente com Ranyse Querino, pesquisadora da Embrapa Meio-Norte, e que faz parte do corpo de pes-quisadores do projeto, trabalharam du-rante 15 dias em Manaus, executando e organizando diversas atividades, in-cluindo o jogo da Libélula e o material de apoio para formação de professores, “In-setos em Ficha”. Alguns painéis instalados às margens do lago, localizado no Bosque da Ciência, também foram elaborados”,

explica Silva.

A partir dessa colaboração, surgiram inúmeras ideias que foram sendo colocadas em prática com o auxílio de diversos bolsistas, pesquisa-

Ana M. O. Pes

Taxonomia é a Ciência da classificação, onde os seres vivos (atuais ou extintos) são descritos, identificados e classificados (Nayra Silva)

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dores e alunos do laboratório. “A maquete do igarapé contendo a fauna de insetos aquáticos, representados por bonecos de pelúcia, foi ideali-zada pela coordenadora do projeto e construída com a colaboração da pesquisadora Ana Maria Pes, do doutorando Ulisses Gaspar Neiss, e outros bolsistas”, elucida a bióloga.

Na prática“Tanto a maquete do igarapé, uma das maiores produções manuais, quanto os jogos, folders e livros começaram a ser elaborados em 2010, entretanto, somente em 2011 foram levados ao público”, conta a bolsista, relembrando o proces-so de concretização da ideia.

Atualmente os jogos chamam bastante atenção durante o Circuito da Ciência, que é uma reali-zação do Inpa com patrocínio da Petrobras e Moto Honda da Amazônia e conta com o apoio do De-partamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia (DEPDI/MCTI), Associação dos Servi-dores do Inpa (ASSINPA), SESC Amazonas, Pre-feitura de Manaus (SEMMAS, SEMED), Governo do Estado do Amazonas (SEDUC), MAGISTRAL, SESI, Museu da Amazônia (MUSA), Associação Amigos do Peixe-Boi (Ampa), Brothers, Lapsea/Inpa, Irma-nar, Vemaqa e projeto Tartarugas da Amazônia.

O Circuito da Ciência é realizado, geralmente, na manhã do último sábado de cada mês e é desen- volvido com o intuito de difundir o conhecimento científico gerado nos laboratórios do Instituto, além de promover a sensibilização ambiental nas comunidades com a participação de cerca de 300 alunos de escolas municipais e estaduais em cada edição. “Todas as atividades do projeto Insetos Aquáticos realizadas no Circuito da Ciência só puderam ser desempenhadas com sucesso pelo empenho e dedicação da maioria de nossos alu-nos, tanto da graduação como de pós-graduação”, afirma a coordenadora do projeto, Neusa Hamada.

Utilizar os insetos aquáticos como referência para mostrar vários processos biológicos e ecológicos, principalmente os relacionados ao ecossistema aquático e como podem afetar a vida da popu-lação, é a meta do projeto, que, segundo Silva, está atingindo de forma positiva o público frequenta-dor do Circuito. “No ano de 2011, participamos de 10 edições do Circuito da Ciência, no período de março a dezembro. Na nossa oficina utilizamos atividades lúdicas para que os alunos conheçam os insetos aquáticos e compreendam a importância deles para o ecossistema, assim como a importân-cia de preservar a floresta para a manutenção da integridade dos ecossistemas”, relata.

As mesmas atividades realizadas no Circuito do Bosque da Ciência* do Inpa, além do Jardim Botânico Adolpho Ducke**, foram levadas para a escola do Serviço Social do Comércio (SESC), com alunos do ensino fundamental e também, na Se-mana Nacional da Ciência e Tecnologia, no Inpa. “Iremos continuar nossas atividades no Circuito da Ciência e queremos estender essas atividades também para mais algumas escolas”, afirma Silva.

Para o coordenador do Circuito da Ciência, Jorge Lobato, a maquete é a mais atrativa para as crianças. “As crianças compreendem que esses seres, de pelúcia, muitas vezes são microscópicos na realidade e que elas não conseguem ver grande parte dessa diversidade facilmente. Acaba sendo uma atividade muito interativa, influenciada pela curiosidade delas”, afirma.

E, segundo a também pesquisadora do Inpa e co-laboradora do projeto, Ana Maria Pes, os colabo-radores desejariam mais tempo para explicar so-bre a vida dos insetos. “O que a gente queria, que não dá tempo no Bosque, é dar aquela explicação rapidinha (sobre os insetos aquáticos), conversar, mas como vem escolas com muitos alunos, em cinco minutos já tem que levantar e sair pra que a próxima turma também aproveite”, lamenta Pes, porém revela, entre risos: “Mas ainda assim eles gostam e a gente sai cansada”.

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Pintar desenhos dos insetos é uma das atividades mais tranquilas e que os pequenos aproveitam para esbanjar criatividade.

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Mas brincar de quê?O projeto conta com vasta variedade de jogos e brincadeiras, como, por exemplo, uma maquete produzida pelos próprios colaboradores, simulan-do o leito de um igarapé com insetos aquáticos feitos de pelúcia e EVA - folhas de material espu-moso, não-tóxica que pode ser aplicada em di-versas atividades artesanais -, que busca mostrar para os visitantes a importância da conservação dos igarapés para a manuten-ção dos diferentes habitats dentro da água onde os in-setos se desenvolvem. “Essa maquete é uma estrutura de madeira em frente ao painel simulando o leito do igarapé, contendo os substratos dentro da água, mas também temos um aquário com os organis-mos vivos para visualização do público”, ilustra Silva.

Também foram produzidos cinco painéis interativos, com informações a respeito dos insetos aquáticos: quem são, sua importância, onde se de-senvolvem, ciclo de vida, etc, além de oficinas com jogos da memória, quebra-cabeça e desenhos dos insetos para colorir. “Todas as atividades do projeto bus-cam dinamizar a aprendizagem, principalmente das crianças, fornecendo informações sobre in-setos aquáticos e demonstrando sua importância para o homem e a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas”, explica a bolsista.

As oficinas contam com outros jogos interativos como o Jogo da Libélula: jogo com 25 cartas con-tendo informações sobre educação ambiental e insetos aquáticos, as cartas com informações

educativas se completam em pares e vão sen-do eliminadas e quem permanecer com a carta “Libélula” ao término do jogo será o vencedor. “É muito importante também lembrar que a pessoa que está lá colaborando e ensinando as crianças faz a diferença, sim, e de quebra se diverte”, in-dica Pes.

O grupo também realiza oficinas de origami, tradi-cional e secular arte japonesa de dobradura de pa-pel, para exercitar a coordenação motora através

de um passatempo interessante e estimulador. “Todos os jogos e vídeos foram idealizados por nós e a elaboração foi terceirizada. Diferentes pessoas ou empresas executaram o trabalho para o pro-jeto”, afirma a bolsista. Segundo Silva, um banco de imagens de in-setos aquáticos usado como base na produção dos jogos, bem como de seu habitat, já foi construído e se encontra em fase de organi-zação e catalogação. “As imagens foram obtidas tanto no laboratório quanto no campo”, afirma.

A partir dessa coleta de dados, quatro vídeos já foram editados: “Os insetos que vivem na água”, “Libélulas, “Biologia de insetos I” e

“Importância da vegetação ripária”. “Pretendemos ainda, elaborar diversos materiais para divulgação da ciência e estamos buscando recursos para isso”, conta a bióloga.

Outros projetos vinculados a pesquisa com Inse-tos Aquáticos são: “Insetos como ferramenta para popularizar a Ciência na Amazônia”, (CNPq), e “INCT ADAPTA - Centro de estudos de adaptações da biota aquática da Amazônia”, (MCTI/CNPq/FNDCT/CAPES/FAPEAM).

O projeto tem colaborado na formação da consciên-cia ecológica e despertando o interesse dos alunos e das co-munidades locais pelas ciências ambientais (Nayra Silva)

Acervo Projeto Insetos Aquáticos

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Ficou curioso? Quer conhecer os jogos? Quer en-tender quem são esses pequenos agentes edu-cadores? Então visite o site do projeto http://insetosaquaticos.inpa.gov.br, onde diversas infor-mações sobre os insetos aquáticos podem ser en-contradas, inclusive artigos publicados pelo grupo de pesquisa. Aprenda se divertindo!

*Bosque da Ciência do Inpa: localizado na Avenida Otávio Cabral, s/nº, bairro Petrópolis

**Jardim Botânico Adolpho Ducke: localizado no bairro Cidade de Deus, zona norte de Manaus.

Ferramentas de aprendizado- Quatro filmes e um folder mostrando a importância dos in-setos aquáticos no ecossistema;

- Guia de campo para identificar libélulas, na forma de folder;

- Jogo da libélula (cartas) e três jogos (jogo das partes, do habitat e da memória) para serem utilizados no computador;

- Maquete de um igarapé com insetos aquáticos construídos em pelúcia para mostrar as relações existentes entre a fauna aquática e a floresta;

- Painéis interativos na Casa da Ciência e no Bosque, mostran-do a utilidade dos insetos e sua importância para a manuten-ção em equilíbrio dos ecossistemas aquáticos;

- Material instrucional direcionado para os professores do ensino médio e fundamental (Insetos em fichas);

- Livro infantil “Vamos conhecer os insetos aquáticos?”, que além de oferecer desenhos a serem pintados pelas crianças ensina a importância da manutenção da vegetação ripária (áreas que se encontram ao longo do curso dos rios) e da integridade do habitat para manter o equilíbrio ecológico nos ecossistemas aquáticos;

- Jogo da memória, quebra-cabeça, desenhos para colorir e oficina de origami completam a gama de ferramentas ofere-cidas pelo projeto para contribuir com a educação ambiental.

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Micoses: as infecções causadas

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Micoses: as infecções causadas

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> POR EDUARDO PHILLIPE

Finalmente chegaram as tão esperadas férias. Agora é hora de esquecer o estresse diário e aproveitar um dia ensolarado na piscina do

clube, que tal? A ideia é excelente, e um descanso sempre é bem-vindo, mas sempre acontece algum imprevisto e o inevitável: depois de algum tempo, manchas ou ferimentos começam a surgir em nos-sa pele. E agora? O que pode ser? Que infecção é essa? Será uma “micose”? BINGO! É nesse mo-mento que surgem as dúvidas. Será que existe al-gum tipo de tratamento? O que fazer? Calma, nós explicaremos.

Micoses, na realidade, são infecções causadas por fungos. Mas e aí? Você sabe o que são os fungos? Para nos apresentar essas informações, o pes-quisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônica (Inpa/MCTI), João Vicente, explica:

“Os fungos são organismos eucarióticos, que são células com um núcleo bem delimitado, e não pos-suem clorofila ou celulose em sua constituição. São uni ou pluricelulares, sem a capacidade de formar tecidos. São os principais biodegradadores de matéria orgânica vegetal do nosso planeta. Os fungos não ingerem seu alimento, mas se nutrem por absorção e algumas espécies parasitam seres vivos, causando as micoses”.

As micoses se instalam em diferentes partes do corpo como pele, pulmões, sangue, e as utilizam como alimento. Algumas situações estão estrita-mente relacionadas à infecção por fungos: o con-tato direto com o organismo, umidade, lesões, uso de medicamentos, ou problemas na imunidade. Algumas micoses são mais conhecidas que outras e pertencem a diversos tipos e possuem carac-terísticas próprias.

TiposAo todo podemos encontrar cinco tipos de micoses, são elas: superficiais, cutâneas, sub-cutâneas, sistêmicas e oportunistas.

CaracterísticasSUPERFICIAISEsse tipo encontra-se na parte mais externa da pele, não sensibilizam o indivíduo e não provocam reações alérgicas.

A Hortae Werneckii, agente da tinha negra, é uma lesão caracterizada pela formação de manchas pouco descamadas e possuem uma coloração castanha e preta, principalmente nas palmas das mãos. Essas lesões aumentam de tamanho du-rante meses ou anos.

O Trichosporon spp é o causador da piedra branca, são nódulos castanhos-claros e macios que ficam em torno dos pelos da região genital, nas axilas e no couro cabeludo. Quando o indivíduo está com baixa imunidade, esses fungos atacam o sangue, rins e pulmões.

A Piedraia hortae causa a piedra negra, que são nódulos duros, pretos e firmes em torno dos ca-belos.

CUTÂNEASSão dividas em dois grupos, as dermatofitoses e as candidíases. Podem produzir reação in-flamatória intensa caracterizada por plurido (coceira). Seus agentes atacam as camadas mais profundas da epiderme, e se localizam em pelos, unhas e mucosas.

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Dermatofitoses: esses fungos se alimentam da queratina morta na pele, infectando partes especí-ficas do corpo. As espécies geofílicas vivem prin-cipalmente no solo; as zoofílicas, em animais e as antropofílicas, nos seres humanos.

O Trichophyton tonsurans causa a dermatofitose do corpo e do couro cabeludo, geralmente encon-trado em crianças.

O Trichophyton rubrum é o principal causador da famosa impingem em jovens e adultos. O Epider-

mophyton floccosum mais conhecido como “pé de atleta,” é encontrado em praias.

Candidíases: seu agente, as Candidas spp, são encontrados no intestino, no órgão genital femi-nino, na pele e fezes. Causam infecção principal-mente nas mucosas (sapinho, vaginite e unheira). Em pacientes com comprometimento imunológi-co, lúpus, tuberculoses ou outras insuficiências, esses fungos podem se espalhar e causar infecções no sangue, conhecidas como candidemias.

Laboratório de Micotoxinas | Os materiais passam por ensaios de bioprocesso do crescimento dos fungos e fermentação

Vidros de Ensaio | Amostras de fungos e bactérias

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SUBCUTÂNEASEsse tipo de infecção ocorre quando há contato da pele com espinhos ou quando ocorre outro tipo de trauma que permita entrada de fungos ambientais debaixo da pele. Esse tipo de micose é frequente-mente encontrada nos pés, por ser um local onde ocorrem mais traumas-feridas, e em pessoas que vivem nas zonas rurais.

Esporotricose: esta infecção decorre de ferimen-tos cutâneos provocados por materiais contamina-dos, como espinhos de flores, gravetos, madeira e etc. Essas lesões podem avançar para os membros ao longo dos vasos linfáticos.

Cromoblastomicose: as lesões produzidas evoluem lentamente, formando saliências sobre-postas, criando a aparência de couve-flor. Geral-mente, a erupção é seca, mas pode formar feri-mentos.

Micetomas: geralmente se restringe aos pés, mas pode ser visto em outras regiões, como mãos e nádegas.

MICOSES SISTÊMICASOs fungos dessa classe se alimentam de restos orgânicos encontrados no solo, alguns animais silvestres são reservatórios naturais. A contami-nação ocorre por inalação do organismo.

Histoplasma capsulatum: esse agente é en-contrado em grutas ou lugares com morcegos. Em alguns casos, após inalar o fungo, o indivíduo se cura espontaneamente da infecção ou pode apre-

sentar uma forma mais aguda da doença, com su-ores noturnos, tosse, febre e emagrecimento.

Paracococcidioides brasiliensis: essa agente causa uma infecção caracterizada por lesões pul-monares semelhantes às da tuberculose e de outras micoses. Algumas lesões são encontradas nas mu-cosas nasais, orais, pele e outros órgãos.

Blastomyces dermatitidis: ao ser inalado, o mi-crorganismo produz uma infecção crônica e bran-da, que piora gradualmente ao longo de semanas ou meses. Os escarros podem apresentar resquí-cios de sangue e se assemelhar com a tuberculose.

MICOSES OPORTUNISTASA maioria desses fungos são saprófitos. Eles ab-sorvem matéria orgânica do meio ambiente, têm crescimento rápido e são normalmente inalados. Pacientes com problemas imunitários são os prin-cipais alvos.

Criptococcus spp.: esse agente causa a Cripto-cocose e é transmitida pelas fezes dos pombos. Pode apresentar um quadro pulmonar e evoluir para uma meningite.

Fusarium spp.: causa as “fusarioses” doenças graves que podem ocasionar cegueira e infecções agudas de rápido desenvolvimento.

Zigomycota (Divisão): seus gêneros podem causar infecções graves (rinocerebrais) em pa-cientes com problemas imunológicos ou com aci-dez no sangue.

Em micologia médica, as micoses são divididas para seu estudo em:

DERMATOFITOSES

ZIGOMICOSESHIALOHIFOMICOSE

FEOHIFOMICOSE

MICOSES SUPERFICIAIS MICOSES CUTÂNEAS MICOSES SUBCUTÂNEAS MICOSES SISTÊMICAS

MICOSES OPORTUNISTAS

PITIRIASES VERSICOLORTINHA NEGRA

ESPOROTRICOSECROMOBLASTOMICOSE

MICETOMAS

PARACOCCIDIOIDOMICOSEBLASTOMICOSE

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Laboratório de Micologia | É realizado o processo de “inoculação”, ou seja, a esterilização dos instrumentos usados para fazer as análises e o manuseio das pesquisas com fungos. Também, no mesmo processo, são feitos a purificação e a separação das colônias de fungos.

Laboratório de Biologia Molecular | A biomédica Marla está fazendo o processo de “polimerase” dos fungos. Ou seja, ela está pegando amostras de DNA dos fungos para análise e também fazendo manipulação de reagentes que, depois misturados, formam um “mix” para serem analisados.

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Prevenção e TratamentoManter a higiene do corpo é a melhor forma de evitar as micoses, abaixo seguem algumas dicas:

1. Secar-se muito bem após os banhos, princi-palmente entre as dobras da pele como as axi-las, virilhas e os dedos do pé;

2. Evitar usar roupas molhadas;

3. Evitar o contato prolongado com água e sabão;

4. Não usar objetos pessoais de amigos ou fa-miliares;

5. Não andar descalço em pisos úmidos constante-mente;

6. Observar sempre qualquer sinal de descamação no pelo dos seus animais de estimação. Qualquer mudança procure o veterinário;

7. Evitar mexer na terra sem proteção (use luvas);

8. Use seu próprio material de manicure;

9. Evitar usar calçados fechados, escolha os mais largos e ventilados;

10. Prefira sempre tecidos feitos de algodão, prin-cipalmente nas roupas de baixo;

11. Ferimentos profundos na pele devem ser hi-gienizados e tratados com antissépticos;

12. Evite excursões em cavernas sem máscara e outros materiais de segurança pessoal;

13. Evite aspirar em locais contaminados por fezes de pombos e outras aves.

TratamentoO tratamento deve ser feito sempre por um der-matologista ou infectologista. Evite usar medica-mentos não indicados por um profissional, isso pode mascarar o diagnóstico da micose, dificultan-do o tratamento.

As medicações usadas são em forma de cremes, loções, talcos ou via oral, dependendo da gravi-dade da infecção. O tratamento pode variar entre 30 a 60 dias.

16 Laboratório de Análises de Gêneros de Fungos | Processo de reconhecimento das espécies e gêneros dos fungos

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Estudos com proteína de peixe podem beneficiar alimentação humana e animal

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> POR ALINE CARDOSO

Um estudo realizado por aproximadamente quatro anos obteve registro de patente em 2011 a partir do uso da diversidade de peixes

da região amazônica. A pesquisa foi desenvolvida em conjunto entre a Tecnologia de Produtos Ali-mentares de Origem Animal e o grupo de Pesquisa Aquicultura na Amazônia Oci-dental do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), envolvendo pesquisadores de ambas as áreas.

Todo o trabalho foi desen-volvido basicamente por meio de desenvolvimento e análise quantitativa e qualitativa de hidrolisados proteicos de peixe. “O resultado provém de aproximadamente quatro anos de pesquisa, durante os quais, entre os erros e acertos que toda pesquisa tem, mui-tas coisas podem ser aprovei-tadas e outras não e isso foi crucial para que chegássemos ao nosso produto final, que foi patenteado”, disse a pes-quisadora, na época bolsista do Inpa, Denise Cerávolo Ver-reschi, responsável pela pesquisa.

De acordo com Verreschi, a ideia para de-senvolver essa pesquisa surgiu para aprovei-tar a diversidade de pescado inerente à região amazônica e o excedente que ocorre no período da safra pesqueira. “Estes foram pontos impor-tantes a serem considerados no início dos tra-balhos. O excedente poderia ser aproveitado de diversas formas, uma delas foi a obtenção de hidrolisados proteicos, uma metodologia já bastante estudada”, afirma a pesquisadora.

A composição desse produto pode ser utilizada na indústria alimentícia humana, por meio do hidrolisado obtido do músculo do peixe, que é uma parte comestível. Também pode ser utili-zado para beneficiar a alimentação animal, por meio do hidrolisado obtido de resíduo de peixe,

uma parte não comestível ou imprópria para o consumo hu-mano. “Essas seriam as possi-bilidades de escoamento cor-reto deste produto, também já investigado de diversas formas por outros pesquisadores”, ex-plica Verreschi.

Contudo, houve a necessidade de ir mais a fundo e investigar como este produto poderia ser aproveitado de forma prática. Uma equipe se mobilizou em investigar a produção com di-versas espécies de peixes, todos eles de baixo valor comercial, na produção dos hidrolisados, obti-dos com diferentes enzimas para formar compostos e testá-los na alimentação humana e animal.

Você sabe o que é hidrolisado proteico?

Os hidrolisados proteicos são re-síduos triturados e tratados com enzimas que auxiliam na digestão. Esse hidrolisado se torna um com-posto, em forma de pasta, bem con-centrado dos resíduos provenientes de pescado.

Estudos com proteína de peixe podem beneficiar alimentação humana e animal

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O resultado provém de aproximadamente quatro anos de pesqui-sa, durante os quais, entre os erros e acer-tos que toda pesquisa tem, muitas coisas podem ser aproveita-das e outras não e isso foi crucial para que chegássemos ao nosso produto final, que foi patenteado

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Diferença de peso entre alevinos de truta arco-íris, Oncorhynchus mykiss, alimentadas com ração A e com ração A suplementada com o composto de aminoácidos durante o período de 45 dias.

Estudos com proteína de peixe podem beneficiar alimentação humana e animal

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Estudos com proteína de peixe podem beneficiar alimentação humana e animal

LaboratórioO projeto foi dividido em algumas fases: elaboração; captação de recursos; execução; produção de produtos: análises físico-químicas e microbiológicas; testes in vivo e análise sen-sorial. Durante essas fases, coube a cada pes-quisador, assinantes da patente, exercer sua função devidamente.

Os experimentos foram realizados em planta piloto de processamento de pescado em um laboratório físico-químico e em um laboratório de produção de peixes. A parte experimental teve sua prática desenvolvida com a cooperação do Polo Regional do Vale do Paraíba - Unidade de Pesquisa de De-senvolvimento (UPD), de Campos do Jordão (SP), na Estação Experimental de Salmonicultura.

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Denise Cerávolo Verreschi foi pesquisadora-bolsista do Inpa do período abril de 2005 até março de 2009 e atualmente trabalha no Laboratório de Bio-química e Biofísica do Instituto Butantan, em São Paulo (SP).

“Os produtos alimentícios com composto incorpo-rado a sua formulação passaram por análise sen-sorial e testes de aceitação e as rações contendo o composto de aminoácidos em sua formulação foram testadas com duas espécies de peixe, uma tropical, o Pintado (Pseudoplatistoma coruscanse) e outra de clima temperado, a Truta (Oncorhyn-chus mykiss)”.

Benefícios sociaisAo investigar a produção de hidrolisados proteicos de peixe e a possibilidade da utilização dos mes-mos, percebeu-se que havia uma diferença no perfil de aminoácidos, que são os constituintes proteicos. Os aminoácidos presentes em cada hidrolisado eram diferentes, mesmo quando essa substância era obtida de uma mesma espécie, mas que varia-vam devido às condições de obtenção como: enzima uti-lizada e tempo de hidrólise. Percebeu-se que a junção destes hidrolisados com a junção de outros aminoá-cidos necessários, permitiu obter um composto teorica-mente mais completo para a alimentação.

ResultadosPara Verreschi, os resul-tados alcançados foram satisfatórios, pois permiti-ram vislumbrar o pedido de uma patente. “Tanto na produção de um alimento destinado a alimentação hu-mana quanto na utilização para ração de peixes, obtivemos bons resultados. Na alimentação humana, este composto serve como suplemento em alimentos originalmente ricos em carboidratos, podendo torná-los até 12% mais proteicos. Já na alimentação dos peixes, o composto proporciona um aumento de 12% no ganho de peso em fase de crescimento”, explica.

De acordo com a pesquisadora, o estudo com hidrolisados proteicos de pescado vem desde a época de seu doutorado, iniciado em 2001. Con-tudo, o foco para o desenvolvimento do produto,

propriamente dito, surgiu no início do projeto vinculado ao Conselho Nacional de Desenvolvi-mento Científico e Tecnológico (CNPq) em parce-ria com Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) na modalidade de Desenvolvimento Científico Regional intitu-lado “Hidrolisado Proteico de Resíduo de Peixe Proveniente da Pesca Amazonense: Aproveita-mento na Aquicultura”, que teve início em fevereiro de 2006.

“De modo geral, essa pesquisa foi muito grati-ficante, não apenas pelos resultados gerados como também pela integração e desempenho de trabalho de toda a equipe que estava en-gajada nesses estudos”, comenta Denise Ver-reschi, e aproveita para congratular a equipe. “Todos foram de fundamental importância, desde o encaminhamento do projeto aos órgãos de fo-

mento CNPq/ Fapeam, até a par-ticipação em todo o processo. As discussões e ideias do início até chegar ao produto final são sem dúvida o combustível para que se obtenha êxito”, parabeniza.

“Gostaria de mencionar todos os componentes. Os pesquisa-dores Edson Lessi, Manoel Pereira Filho (in memoriam), e dois pes-quisadores cujo exemplo deve ser seguido pela trajetória e con-tribuição científica desempen-hada no Brasil e no mundo: Ro-gério Souza de Jesus e Rodrigo Roubach, que são grandes incen-tivadores e companheiros. Tam-bém Jorge Harison Pereira do Nascimento, na época aluno de Iniciação Científica, constituinte-chave durante todo o período

experimental, não apenas junto conosco durante a execução do trabalho e desenvolvimento do produto, mas muitas vezes com seus questiona-mentos elucidativos. Até chegarmos ao produto, foram diversas as contribuições, como da aluna Michelle Alves da Silva, que não permaneceu no grupo, mas participou de trabalhos iniciais de grande valia, assim como da pesquisadora Ma-ria da Glória Almeida Bandeira Ferreira, que nos ajudou com as análises microbiológicas”, disse Denise Verreschi.

Na alimentação hu-mana, o composto serve como suple-mento em alimentos, podendo torná-los até 12% mais proteicos. Já na alimentação dos peixes, o com-posto proporciona um aumento de 12% no ganho de peso em fase de crescimento.

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Economia: a “mão” que governa o mundo

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> POR FERNANDA FARIAS

Omundo todo ultimamente tem acompanha-do, preocupado, os noticiários sobre a crise que assola vários países da União Europeia.

Mas o que pouca gente sabe, é que na verdade, trata-se de uma crise econômica internacional e, infelizmente, pode ter proporções maiores que as esperadas, atingindo vários países, inclusive o Brasil.

Nos dias de hoje, em contexto global, as econo-mias são interligadas pelo sistema bancário mun-dial. Cada país seja da Europa, Ásia ou da América Latina, fica vulnerável a qualquer crise econômica que ocorra, como a que teve início em 2008, nos Estados Unidos, que levou uma das economias mais fortes a entrar em recessão. Esse retrocesso causou impacto no mundo inteiro e causa até hoje.

É verdade que alguns países da Europa afundaram mais que outros, na crise, por seus gastos públicos exorbitantes. É o caso de alguns países que for-mam o bloco do Euro, como Portugal, Itália, Gré-cia, este último foi o país que teve os gastos mais excessivos nos últimos anos. Já os países emer-gentes, como Brasil, por enquanto não sentem grandes malefícios da crise no seu dia a dia.

Mas até quando o Brasil não sofrerá as conse-qüências da crise? O que fazer para continuarmos a progredir na educação, na ciência, tecnologia e inovação? Indagações como estas serão esclareci

das ao longo da reportagem, que mostrará a visão dos especialistas em CT&I, o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Adalberto Val; o secretário de ciência, tecnologia e inovação (SECTI) do Amazonas, Odenildo Sena; e dos economistas, Denis Benchimol Minev e Ga-briel Benarrós. Eles mostrarão que nosso país tem como tirar benefícios dessa crise, sem deixar de fazer seu dever de casa.

Como a crise econômica começou?Uma crise econômica começa quando grande parcela da população perde sua renda e seu bem-estar social. Um país se vê em crise quando há uma queda brusca nas suas demandas, seja de importação ou exportação, e assim o Governo pre-cisa arcar com medidas severas de austeridade.

A crise econômica internacional começou em meados de 2008, no centro econômico mundial, nos EUA. A crise financeira norte-americana teve início com uma crise imobiliária devido a uma grande ruptura no sistema de financiamento de imóveis, pela ampla oferta dos investidores para facilitar a compra de casas, mesmo para aqueles que não possuíam poupança ou renda própria.

Economia: a “mão” que governa o mundo

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Maiores crises

da história1929 – Queda da bolsa de Nova Iorque

Após sucessivas quedas das ações da

Wall Street, no dia 24 de outubro de

1929, na “quinta-feira negra” , a bolsa

de valores de Nova Iorque quebrou

oficialmente. O episódio também ficou

conhecido como “a grande depressão”.

1973/1979 – Crise do petróleo

Os países árabes exportadores de

petróleo deixam de fornecer petróleo

aos aliados de Israel no conflito en-

tre o Egito e a Síria, o que aumentou

drasticamente o preço do petróleo.

No Brasil acarretou uma drástica de-

saceleração do crescimento.

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O economista, Gabriel Benarrós, que na época da crise estudava na Universidade de Stanford, nos EUA, conta que no começo parecia uma ótima oportunidade para os investi-dores de casas, emprestarem dinheiro para as pessoas, pois era um negócio bastante lucra-tivo naquele ano. “Wall Street” começou a oferecer dinheiro para as famílias que desejavam comprar casas por meio de hi-potecas. Era um bom negócio porque o preço dos imóveis subia a muitos anos nos EUA, a chamada, “Housing Bubble” (bolha imobiliárioa), afirma Be-narrós.

De acordo com ele, o problema começou quando as pessoas se viam sem dinheiro e todos deixavam de pagar as hipote-cas das casas. Isso acarretou a queda brusca dos preços dos imóveis. “Os donos de banco, de repente, se depararam com hipotecas que não valiam nada. Eles não conseguiam mais vender os empréstimos dos investidores de casas, e banco após banco começou a falir. A economia parou. Os bancos não tinham dinheiro, os consumidores

não tinham dinheiro e assim começou a crise dos EUA”, explica Benarrós.

Foi dessa forma que os grandes problemas finan-ceiros dos Estados Unidos espalharam-se rapidamente pela Europa como uma ver-dadeira pandemia. O mundo viu a economia passar por uma crise financeira e evoluir para uma crise fiscal. A crise financeira ocorre quando as estruturas de financiamento, como os bancos, quebram. Já a crise fiscal, como a da Eu-ropa, ocorre quando o gover-no de um país não consegue quitar a dívida pública. De cri-se fiscal tornou-se crise real, marcada por consequências bastantes críticas para socie-dade, tais como instabilidade financeira pela diminuição do salário mínimo, desemprego

em massa, cortes previdenciários, entre outros transtornos acarretados pela austeridade, que sig-nifica rigor no controle de gastos.

Economia: a “mão” que governa o mundoEconomia: a “mão” que governa o mundo A atual economia mundial parece ter chegado ao seu limite

e a crise internacional tem levado os grandes chefes de Es-tado a refletir se chegou o momento crucial de repensar em uma nova fórmula de governar o mundo

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1997 – Crise da Ásia

A rápida fuga de capitais e des-

valorização cambial entre os Ti-

gres Asiáticos (Tailândia, Malásia,

Coréia do Sul, Hong Kong, Indoné-

sia e Filipinas) espalhou medo aos

mercados internacionais.

1988 - Crise da RússiaPelo rápido processo de fuga de

capitais da crise asiática, o preço

dos commodities caiu em todo

mundo e a Rússia, que depende

largamente da exportação de

commodities como gás natural e

petróleo, foi bastante prejudicada.

1982 - Moratória MexicanaO México entrou numa crise que culminou com a surpreendente moratória do governo mexi-cano em agosto de 1982. Mais de 40 países recorreram ao Fundo Monetário Internacional, incluindo o Brasil, que viu a re-tração de seu PIB em 5%.

Estamos vivendo o início de um processo para um novo modelo econômico. É o mo-mento de novas econo-mias tomarem a frente, como a economia verde, que foi debatida em junho deste ano, na Rio +20 (Adalberto Val)

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Crise na zona do €uro A atual crise na Europa é marcada fortemente por uma crise fiscal, onde os governos dos países chamados PIIGS, sigla para Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, encontram uma enorme di-ficuldade para pagar suas dívidas públicas e ob-ter novos empréstimos para dar continuidade ao movimento de capital interno.

A crise fiscal nesses países foi precedida, principal-mente, por gastos exorbitantes dos cofres públi-cos, sejam eles para saírem da crise financeira que começou em 2008 no centro econômico do mun-do, ou, no caso da Grécia, para financiar infraes-truturas, como houve em 2004, com as obras para as Olimpíadas de Atenas.

Alguns analistas afirmam que essa é a hora de começar um novo modelo econômico, a fim de contornar as crises existentes. Para o diretor do Inpa, Adalberto Val, o atual modelo econômico está no seu limite e é preciso pensar em uma nova forma de relacionamento entre os países e entre as sociedades. “Estamos vivendo o início de um processo para um novo modelo econômico. É o momento de novas economias tomarem a frente, como a economia verde, que foi debatida neste ano, na Rio +20”, comenta.

Para Val, o novo modelo econômico teria como base três focos principais: educação, C,T&I (Ciên-cia, Tecnologia e Inovação) e comunicação. “O tri-pé base de um novo modelo econômico seria este: o primeiro seria a educação, porque é fundamen-tal termos um sistema educacional inclusivo, onde as pessoas continuem aderentes as suas culturas e que sejam capazes de apropriar-se dos novos con-ceitos; o segundo seria C,T&I, que desenvolverá as novas tecnologias e conceitos para um mundo sus-tentável, além ter um papel extremamente impor-tante no desenvolvimento de qualquer país; e o terceiro, é o processo de comunicação, pois é pre-ciso que haja a socialização da informação, para que a população saiba do que se trata e assim con-tribua para uma economia sustentável”, afirma.

Países emergentes: otimismo com precauçãoOs países em desenvolvimento, chamados agora “emergentes”, estão conseguindo administrar bem os impactos negativos da crise mundial e até se reuniram para decidir o valor da ajuda que darão aos países mais necessitados. Mas não é por isso que eles estão isentos de sofrer alguns danos, já que sempre há riscos reais, como a desaceleração do crescimento econômico, para todos do bloco

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BRICA, ou BRICS, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. “O Brasil, por exemplo, vinha crescendo a um ritmo de 4 a 5% ao ano e desde então não passa de 3% ao ano”, disse o economis-ta e ex-secretário de estado de planejamento e de-senvolvimento econômico (Seplan) do Amazonas, Denis Bechimol Minev.

Nosso país tem vários motivos para ficar otimista em relação ao futuro. Para o secretário de Ciên-cia, Tecnologia e Inovação (SECTI) do Amazonas, Odenildo Sena, o Brasil tem como tirar grande proveito dessa crise, principalmente do campo de C,T&I. “Sabemos que os salários dos pesquisa-dores no exterior, não andam lá essas coisas, en-tão é uma oportunidade de trazer pesquisadores estrangeiros, por meio do “Programa Ciência sem Fronteiras”, um programa pioneiro, lançado pelo Governo Federal”, informa.

A ideia do Programa Ciência sem Fronteiras é pro-mover o intercâmbio de cientistas, atraindo pes-quisadores para nosso país e promovendo a ida de brasileiros para se aperfeiçoarem no exterior, mas, também, “com o programa podemos trazer pes-quisadores de ponta para passarem uma tempo-rada aqui no país. Com isso eles deixam seu capital intelectual para que nós possamos aproveitar da melhor forma. Além disso, eles poder levar pes-quisadores brasileiros também para trabalhar em seus laboratórios em suas instituições de origem”, completa Sena.

Outro ponto positivo para o Brasil estar à frente de outros países emergentes, é o fato de vivermos uma política favorável no momento. O governo in-centiva o consumo aumentando o salário mínimo e propagando políticas assistencialistas, como o Bolsa Família, para que as classes se ergam cada vez mais na sociedade.

Nova hierarquia econômica?Vendo todos os entraves que as principais econo-mias mundiais passam com a crise e com o grande desenvolvimento das economias emergentes, podemos pensar em um real direcionamento da hierarquia econômica, onde o BRICA tomará a frente das atuais economias líderes.

“Se as economias emergentes aproveitarem a oportunidade, elas podem sim se tornarem lí-deres mundiais na economia. Uma das estraté-gias que pode catalisar este processo é investir na captura de cérebros globais, como os EUA fazem. Essa política de atração de grandes mentes mun-diais tem provado ser bastante frutíferas”, explica Denis Minev.

Quem imaginaria que a China, por exemplo, com suas grandes exportações de quinquilharias, em

tão pouco tempo chegaria a ameaçar a hegemo-nia econômica dos norte-americanos? E alguns economistas já prevêem que a China talvez supere a atual economia líder do mundo de dez a 15 anos.

“A China chegou onde está não por uma mera co-incidência. Esse avanço foi um plano estratégico montado no país. As outras economias emergentes do chamado BRICA, estão despontando no ranking de economias ascendentes. A Índia, por exemplo, investiu pesadamente em formação de capital in-telectual e em C,T&I, o que faz dela atualmente uma grande exportadora de “cérebros”. O Brasil hoje lidera a economia na América Latina. Não há dúvidas que os países emergentes possam ter uma futura ascendência sobre as outras economias eu-ropeias”, comenta Odenildo Sena.

Por todas as discussões para contornar a crise mundial pelos economistas e líderes das principais economias do mundo, parece mesmo que esse modelo econômico esgotou-se e realmente está no seu limite. Chegou o momento definitivo para os chefes de Estado repensarem uma nova forma de governar o mundo, investindo em alternativas que promovam o bem social das nações sem re-tirar a identidade cultural de cada uma. A grande pedida do momento é a “Economia Verde”, onde propõe-se igualdade social com menores riscos ambientais. Um dos debates sobre o modelo econômico ocorreu na Rio +20, na conferência da Organização das Nações Unidas (ONU). Agora é fi-car atento às decisões da conferên-cia e cobrar medidas sólidas. Assim, na Rio +40, o mundo poderá mostrar os frutos de uma economia sus-tentável, e cada vez mais educar seu povo para os valores de conservação do nosso meio. Vamos torcer para que este modelo tão falado por todos não se torne um modelo falido.

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Soneto Erupção Minóica

É profundamente triste ver o desesperoAquele que assola e atormenta um país inteiro

A sociedade hercúlea por suas histórias de glóriaNem Hector nem Aquiles estão mais em Tróia

As mulheres de Atenas têm que ser fortesÉ costume a espartana sangrar sem cortes

As feridas internas agora, não vão sarar Mas elas sempre continuam a caminhar

Sejam elas, brancas, pardas, negras ou helenasA gloria e a derrota estarão pra sempre encravada nelas

Aprendem a viver sem filhos, marido, e até mesmo sem elas

Cadê aquela brava força dos meninos?Agora se vêem num calcanhar,dormindo e crescendo sozinhos

Sabe Zeus, quando estarão prontos a encarar o mundo de desafios.

Fernanda Farias

“Tragédia”, palavra de origem grega“Tragoedia – s.f. Gênero dramático que trata das ações e dos problemas humanos de na-tureza grave. A tragédia envolve questões sobre a moralidade, o significado da existência hu-mana, as relações entre as pessoas e as relações entre os homens e seus deuses.”

O dicionário parece definir muito bem o momento de caos social que os gregos têm passado. Na verdade, o drama grego, vai muito além de um problema econômico e social. A enxurrada de dívidas públicas levou a sociedade a um colapso cultural e moral, onde é nítido o número cres-cente de emigrantes, abandonos e de suicídios entre seus moradores.

Mesmo com o apoio financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da União Eu-ropeia, com seus €110 bilhões em maio de 2010, chamado “pacote resgate”, o governo grego não conseguiu administrar seus gastos públicos, entrando em uma bola de neve, ou melhor, de dívidas. As soluções impostas para

que a Grécia se restabeleça foram severas com toda sociedade, a austeridade mexeu dire-tamente com o costume grego, que historica-mente, preserva o bem-estar de sua família.

Tão famosa e orgulhosa por suas guerras épicas, a população, agora se vê obrigada a cumprir a se-vera austeridade que lhe foi imposta; com os cor-tes de benefícios previdenciários, diminuição de salários, diminuição nas ofertas de empregos e até demissões de cargos públicos, causando um verdadeiro caos na tradicional sociedade grega, gerando violentos protestos nas ruas e outras atitudes desesperadas vistas nos noticiários.

O problema é que a economia grega está em esta-do tão frágil, que mesmo uma redução nas dívidas não será suficiente para que ela possa ser paga a longo prazo. Vários economistas se perguntam se não é hora da Grécia se desligar da zona do Euro e voltar a utilizar a Dracma como moeda. Outros preveem que a crise pode piorar ainda mais com a saída do país do bloco do Euro. Seja qual for a decisão dos líderes da economia mundial, o im-portante é demandar soluções brandas e princi-palmente humanas para que a dignidade do povo grego, sempre tão bravo, não se perca na história.

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Adalberto Val – Diretor do Inpa“Os Institutos de pesquisas, como o INPA, têm o papel fundamental de observar os rumos e as demandas que a sociedade estão seguindo, an-tecipando-se nos estudos para desenvolver infor-mações robustas, tecnologias apropriadas e ofer-tas para a inovação para que a trajetória social seja mais segura, socialmente justa e ambientalmente saudável. Dessa forma, três elementos basilares devem ser considerados pelos Institutos de pes-quisas: produção de informação, capacitação de pessoal em nível avançado e socialização da infor-mação em todos os níveis”.

Odenildo Sena – Secretário da SECTI“Não dá para pensar em desenvolvimento sem investimentos em C,T&I. São nesses institutos de pesquisas que se projetam trabalhos avançados para o progresso dos Estados. Hoje em dia sabe-mos que eles funcionam como agentes de capital intelectual da cadeia positiva, o que faz avançar qualquer economia. Não conseguimos progredir na área científica no nosso Estado sem a presença dos agentes do conhecimento, como o Inpa, Uni-versidade do Estado do Amazonas (UEA), Univer-sidade Federal do Amazonas (Ufam), Fiocruz e vários outros institutos”.

Denis Minev – Economista (formado pela Stanford University)“Os institutos de pesquisa, e o Inpa em particu-lar, têm grande importância no desenvolvimento dos estados. Ainda, em pleno século 21, sabemos pouco sobre quem somos e onde vivemos, e o Inpa nos últimos anos tem preenchido as lacunas do saber na Amazônia e iniciado a interação entre a pesquisa básica, a produtividade e o mercado. Também, notavelmente, tem adotado uma postu-ra de liderança nas políticas públicas nacionais que dizem respeito à região amazônica”.

Gabriel Benarrós – Economista (formado pela Stanford University)“Sem os institutos de pesquisa como o Inpa, Ufam, UEA e outros notáveis da nossa região, não se gera conhecimento, não se gera tecnologia, nem inovação, pois a pesquisa começa principalmente nesses institutos que propagam o conhecimento técnico-científico. Portanto é nítido que os insti-tutos se tornam indispensáveis ao crescimento e desenvolvimento do nosso país”.

Qual o papel dos Institutos de Pesquisas no desenvolvimento de um país?

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Atualmente estão descritas aproxi-madamente 250 espécies de moscas-das-frutas do gênero Anastrepha. Um total de 112 ocorre no Brasil e sete são consideradas pragas de frutos comerciais.

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> POR EDUARDO GOMES

Certamente, alguma vez na vida, você já escutou ou até mesmo usou a expressão popular “o bicho da goiaba”, mas alguma

vez já parou para imaginar ou já viu um? Já se questionou sobre o surgimento desses bichos dentro dos frutos? Muita gente não sabe, mas elas são larvas de uma mosca e chegam ao inte-rior dos frutos na forma de minúsculos ovos que posteriormente se transformarão em filhotes do inseto conhecido popularmente como moscas-das-frutas.

Após fecundadas, as moscas perfuram a casca das goiabas e de outra diversidade de frutos com o intuito de depositar seus ovos no interior. Elas rompem a superfície dos frutos e deixam os ovos. Esses ovos se transformam em larvas, alimentam-se de polpas de frutas e constroem túneis onde passam a viver, e isso favorece a proliferação de bactérias que aceleram o apodrecimento das fru-tas.

O processo de apodrecimento é de extrema relevância para a larva, que encontra a casca mais permeável, facilitando a entrada de ar e sua respiração. No período em que a fruta cai do pé, a larva apresenta o comportamento de enterrar-se no solo para dar prosseguimento ao seu desenvolvimento na forma de pupa, ou seja, um momento intermediário antes da transformação total, para somente depois de dez dias virar uma mosca-da-fruta.

Não precisa se preocupar, pois esta mosca não é a mesma que você enxerga voando em cima do lixo. Elas são divididas em grupos, subdivididos em várias espécies, onde cada uma delas ataca apenas um tipo de fruta.

Monitoramento de moscas-das-frutas na Amazônia No Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), as pesquisas com moscas-das-fru-tas são realizadas desde 2000, mas de acordo com a pesquisadora do Instituto, Beatriz Ronchi Teles, atualmente os estudos estão voltados para a descrição de imaturos das espécies de moscas das frutas. “A identificação de larvas com base em análise molecular e morfológica desses ima-turos é útil especialmente aos fiscais de órgãos públicos ligados a questões de pragas quaren-tenárias A1, que são pragas não existentes no Brasil”, disse.

As moscas-das-frutas formam um dos maiores gru-pos de insetos com importância econômica mundial. O Brasil é o país que mais tem realizado estudos so-bre esses insetos, embora o conhecimento existente sobre a espécie ainda seja bastante incipiente em algumas regiões, como na Amazônia, onde as infor-mações produzidas são pontuais apenas em alguns estados.

De acordo com a pesquisadora, o intuito dos estu-dos é propiciar informações valiosas sobre esses insetos. “O objetivo é difundir informações sobre a diversidade, distribuição, plantas hospedeiras, inimigos naturais e manejo de moscas-das-frutas na Amazônia brasileira, com ênfase às espécies de importância socioeconômica e quarentenária”, in-formou.

O processo de amostragem de frutos possibilita verificar o nível de infestação dos frutos e apontar com exatidão a associação de determinada espécie de mosca-da-fruta com a espécie vegetal, gerando

que pousou na sua fruta que pousou na sua fruta

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1. Pupa no solo

2. Maturação Sexual

3. Acasalamento

4. Oviposição no fruto 5. Larva consomeo interior do fruto

6. Apodrecimento do fruto

7. Larva sai do fruto

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O ciclo de vida das moscas-das-frutas pode vari-ar de acordo com a temperatura e ambiente em que se encontram, mas geralmente a fêmea vive aproximadamente 26 dias e o macho 33. O ciclo está dividido em quatro fases: ovo, larva, pupa e mosca adulta. As fases do ciclo de vida têm em média a seguinte duração: ovo (três dias), larva (10 a 15 dias), pupa (15 a 20 dias). Após passadas 24 horas da ovi-

posição, começa a surgir a primeira forma de larva.

Aproximadamente 18 dias, após a oviposição, a larva deixa de alimentar-se e costuma formar uma espécie de casulo - chamado pupário -, onde pas-sa por uma série de modificações, na qual ocorre uma espécie de degradação dos tecidos larvares e a proliferação dos discos imaginais, que são grupos de células, responsáveis pela estrutura do inseto na fase adulta.

Ciclo de vida das moscas-das-frutas

informações sobre a biodiversidade. Além disso, o conhecimento de infestação provocada por moscas-das-frutas é um relevante índice do nível populacional da espécie, pois permite estabelecer o status da planta hospedeira.

Teles, que também faz parte Rede Amazônica de Pesquisa sobre Moscas-das-frutas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) explicou que a maior motivação em estudar as moscas-das-frutas na região foi dada devido ao grande impacto que esses insetos causam na fruti-

cultura e aos poucos estudos realizados na região amazônica. “Existem três gêneros de importância econômica que ocorrem no Brasil, Anastrepha, na-tivo da região Neotropical e as espécies Bactrocera carambolae e Ceratitis capitata introduzidos nas Américas por meio de frutos”, explica.

Nas particularidades das pesquisas realizadas com as moscas, alguns estudos são conduzidos com ar-madilhas que permitem caracterizar as populações de moscas-das-frutas do ponto de vista quantita-tivo. Esse processo possui alguns objetivos bási-

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Amostragem de frutosConsiderado um dos mais relevantes métodos nos estudos realizados sobre esses insetos, a amostragem de frutos pode gerar informações referentes à diversidade de plantas hospedeiras, inimigos naturais e distribuição geográfica, for-necendo informações fundamentais para a im-plementação do manejo integrado das espécies-praga, para maior conhecimento sobre a biologia, ecologia e evolução desses insetos.

Para a realização desses estudos, é preciso ponderar as características de cada região. As amostras podem ser apresentadas de duas formas, dependendo do objetivo do estudo: amostras com frutos agrupados, onde os fru-tos são colocados em um mesmo recipiente; e amostras com frutos individualizados, onde frutos da mesma espécie são depositados sepa-radamente.

Amostragem com frutos agrupados Nessa ocasião, os estudos utilizam uma metodo-logia, em que os frutos são acomodados por gru-pos, onde diversos frutos estabelecem uma única amostra. Esse processo é ideal para fazer levan-tamento sobre as espécies vegetais hospedeiras de moscas-das-frutas em localidades específicas, além de fornecer informações básicas referentes ao número de espécies existentes.

É importante ressaltar que, para a realização de amostragens com frutos agrupados, deve-se con-siderar as áreas de cultivo e matas nativas dos municípios e que o processo também pode ser concretizado em feiras livres, onde os frutos são comercializados e trazidos de diferentes locais, porém nesse caso, torna-se improvável saber com exatidão a distribuição geográfica das espécies.

cos: “A detecção, quando uma espécie não ocorre em uma área o monitoramento objetiva detectar a presença da espécie alvo; a delimitação, quando uma espécie foi introduzida em uma área onde an-tes não ocorria, o monitoramento delimita a sua distribuição geográfica. Outro objetivo é o levan-tamento das espécies presentes em determinada área e o monitoramento populacional, quando a espécie está estabelecida em uma área, o objetivo é conhecer seu nível populacional para a tomada de decisão em relação às medidas de controle que se deve adotar”, explica a pesquisadora.

Ensacar os frutos pode ser uma alternativa para evitar o ataque das moscas-das-frutas, assim não é necessário a utilização de produtos químicos

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Amostras com frutos individualizadosApós o período da coleta, os frutos são contados, e passam por uma triagem, onde são pesados e me-didos – o diâmetro – individualmente. Em seguida, são colocados individualmente em recipientes plás-ticos, medindo oito centímetros de diâmetro, sobre uma fina camada de areia esterilizada ou vermicu-lita. Os recipientes precisam estar identificados com os números das amostras correspondentes, cober-tos por tecido e tampa vazada, acondicionados em bandejas de plástico e transportados diretamente para o laboratório, onde o material é acompanhado diariamente.

Esse tipo de pesquisa é recomendado para investi-gar a relação entre as plantas hospedeiras, as espé-cies de moscas-das-frutas e de seus parasitóides. Além disso, possibilita relacionar peso e diâmetro dos frutos com os índices de infestação presentes nas localidades de coleta e também verificar se es-pécies diferentes são capazes de compartilhar um mesmo fruto.

Amostragens realizadas por vias terrestresEssa amostragem analisa a riqueza em espécies de moscas-das-frutas, além de seus índices de infes-tação e a presença de inimigos naturais. Os frutos são coletados corriqueiramente e recebidos de plantas frutíferas que apresentem frutos em pro-cesso de maturação ou já maduros.

As coletas são feitas diretamente das plantas ou frutos recém-caídos no solo, e nesse caso, é reco-mendada coleta de duas amostras do fruto, uma contendo apenas frutos da planta e a outra so-mente frutos caídos no solo, pois algumas espécies de parasitóides da família Figitidae depositam seus ovos em frutos caídos e essas informações são de extrema importância para comparar infestações.

Ainda em campo, os frutos são depositados em recipientes plásticos ou caixas térmicas. Essas con-dições dependem da característica dos frutos, pois aqueles que apresentam maior facilidade para se decompor, necessitam ser transportados de preferência em caixas térmicas, com precauções.

Em seguida, as amostras são acondicionadas em bandejas e conduzidas até o laboratório, onde é realizado o processamento dos frutos. Vale res-saltar que durante o transporte é recomendável que as amostras sejam observadas para evitar o acúmulo de líquido no interior dos frascos e desta maneira reduzir a mortalidade das larvas.

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Amostragens realizadas por vias fluviaisA metodologia utilizada na coleta de frutos por vias fluviais é similar ao processo de coleta feito por via terrestre, porém considerar os ecossistemas fluviais da região requer uma embarcação de maior porte como um barco-motor ou lancha, que par-ticularmente nesse tipo de estudo funcionam como base de apoio logístico para a expe-dição onde a equipe fica alo-jada e o material proveniente das coletas é acomodado.

Os pesquisadores utilizam também um barco menor para locomoção da equipe até as margens de rios e regiões de difícil acesso, como furos e igarapés. As embarcações fabricadas em alumínio e que possuem motor de popa, conhecidas popularmente na região como “voadeiras”, apresentam o modelo ideal para a locomoção da equipe, realização da coleta e transporte do material amostrado para a embarcação maior.

Relevância socialA pesquisadora alertou para a importância dos estudos que geram conhecimentos sobre pes-quisas realizadas com moscas-das-frutas e ainda enumerou a quantidade de espécies que ocorrem em território nacional. “As moscas-das-frutas são

consideradas um dos principais fatores que limi-tam a produção e exportação de frutas frescas no mundo. Os estudos de conhecimento básico sobre a ocorrência de espécies de moscas-das-frutas na Amazônia brasileira criará subsídios para o desen-volvimento da produção dos frutos amazônicos. Atualmente estão descritas aproximadamente 250

espécies de moscas do gênero Anastrepha. Um total de 112 delas ocorrem no Brasil e sete delas são consideradas pragas de frutos comerciais”, enfatiza.

No instituto, os estudos com moscas-das-frutas têm sido financiados pelo Inpa, e por agências de fomento como o Conselho Nacional de Desen-volvimento Científico e Tec-nológico (CNPq) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Es-tado do Amazonas (Fapeam). Vale ressaltar que várias dis-sertações e teses foram desen-volvidas no Programa de Pós-graduação em Entomologia do Inpa enfocando o estudo das moscas das frutas.

Para a pesquisadora, a expectativa é que os pes-quisadores continuem a realizar inventários. “Assim poderemos encontrar mais espécies e associar aos frutos hospedeiros nativos, monitorar a presença ou ausência das espécies de moscas consideradas pra-gas quarentenárias que poderão inviabilizar a expor-tação de frutos, além de estudos sobre a descrição de estágios larvais comumente interceptados em frutos nas barreiras fitossanitárias, em portos, aero-portos e fronteiras”, conclui Teles.

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As moscas-das-frutas são con-sideradas um dos principais fatores que limi-tam a produção e exportação de frutas frescas no mundo.

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> POR JÉSSICA VASCONCELOS

Q uando se fala de Amazônia lembra-se logo de sua exuberância e riqueza. Sua importância para o mundo é inquestionável, mas toda

essa riqueza tem realmente sido aproveitada?

Transformar e reaproveitar, palavras que traduzem a evolução do homem e sua tecnologia. Na pesca, atividade comum dos rios amazônicos, hoje se encontra uma forma de aproveitamento e desenvolvimento de tecnologias dos subprodutos que o pescado possa oferecer.

Curtimento: esse é nome dado para o processo de transformação de peles de animais em couro. Na Amazônia, com a devida orientação pode trazer grandes benefícios para a população.

A arte milenar de tratar peles de animais para serem utilizadas como couro pela indústria na confecção de sapatos, bolsas, malas entre outros, inicialmente, pertencia à mulher que recebia a caça. Quando se retirava a carne, cabia-lhe aproveitar os restos.

Evidências mostram que no Egito Antigo, foram encontrados pedaços de couro curtido há cerca de três mil anos A.C. A história registra, ainda, que babilônios e hebreus usaram processos de curtimento e que os antigos gregos possuíram curtumes.

Na Idade Antiga, os “pergaminhos” usados na escrita

eram feitos com peles de ovelha, cabra ou bezerro. No Brasil, desde que a colonização se intensificou, os rebanhos se multiplicaram rapidamente. Os curtumes foram instalados facilmente e o couro era utilizado para fazer mochilas, roupas, chapéus, selas, arreios de montaria, cordas e muitos outros objetos.

O couro pode ser confeccionado a partir de peles bovinas, de caprinos, de suínos e de espécies de animais como o jacaré e a cobra, que por 30 anos foram protegidos e voltaram a ter seu abate autorizado sob controle das autoridades.

O couro geralmente não é aproveitado pelos frigoríficos e vira lixo. Porque não aproveitar a pele dos peixes amazônicos que se tornariam lixo para também confeccionar couro? De maior resistência que o couro de boi, o couro de peixe ganha o mercado e transforma-se em um material de grande padrão de qualidade.

DedicaçãoJosé Jorge da Silva Rebello é bolsista desde 1994 no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), na Coordenação de Tecnologia e Inovação (COTI), “seu Rebello”, como é conhecido, desenvolve pesquisas de pele de peixes, criando formulações de curtentes, variação de Ph e tempos de curtição, procurando criar e estabelecer tecnologia para as peles de diferentes peixes.

São 86 anos de idade, 65 deles dedicados à arte de transformar pele de animais em couro para utilização na indústria.

Por 30 anos trabalhou em uma empresa de curtume, localizada em Manaus (AM), curtindo pele de gado e animais silvestres, que foi o carro chefe da produção de couro.

Em 1968, o curtidor prestou vestibular para o curso de Bioquímica na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). “Infelizmente foi preciso desistir,

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Couro de peixes: transformando a natureza em geração de rendaCouro de peixes: transformando a natureza em geração de rendaR

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pois os interesses de horários não conciliavam”, explica Rebello.

Durante o tempo que esteve trabalhando na empresa de curtume, José Rebello teve a oportunidade de estagiar em laboratórios nacionais e internacionais onde teve a chance de aperfeiçoar técnicas de transformação dos couros de boi e carneiro.

Em 1994, foi convidado para uma reunião. Já existia interesse em utilizar couro da pele do peixe, mas não havia conhecimento técnico suficiente para levar a ideia adiante, então Rebello veio para cá.

Após sua chegada, seu Rabello auxiliou na montagem do laboratório de curtume do Inpa, no que diz respeito a equipamentos e produtos químicos.

Couro de peixes: transformando a natureza em geração de rendaCouro de peixes: transformando a natureza em geração de renda

35Ganhador do Prêmio Fucapi/CNPq de Tecnologia de 1998 com o trabalho intitulado “Utilização da pele de peixe de água doce para curtimento” e do Prêmio Finep em 2005. “Não pretendo me aposentar, tenho muito a contribuir”, disse Rebello.

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Como ocorre o processo de transformação da pele de peixe em couro?O processo de curtimento da pele de peixe consiste em aplicar esse produto a processos químicos e mecânicos que ajudam a transformar a pele em couro. Essas substâncias são responsáveis por garantir a qualidade do couro. Para que o couro tenha características de maciez, elasticidade e resistência, a pele passa por 15 estágios até a completa mudança.

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As etapas de curtimentos são:1. Esfola: É a técnica de remoção da pele do pescado;

2. Conservação: Após a esfola, as peles estão sujeitas a deterioração. É necessário um sistema de conservação adequado;

3. Remolho: Tem por finalidade repor o teor de água perdida pela pele durante o processo de conservação;

4. Desengraxe: Remove as gorduras das peles, por meio dos tratamentos com substâncias desengraxantes que podem ser querosene, álcool e tenso ativo;

5. Caleiro: Os principais objetivos do caleiro são retirar as escamas, ocasionar a abertura das fibras e agir sobre as gorduras que ainda restam na pele;

6. Descalcinação: O cal que se encontra nas fibras é retirado;

7. Purga: Na operação de purga, as peles são tratadas com enzimas proteolíticas que atuam na limpeza da pele;

8. Píquel: Após a operação de purga, as peles são tratadas com solução salino-ácido, preparando as fibras para receberem as substancias curtentes;

9. Curtimento: As peles são tratadas com produtos curtentes;

10. Neutralização: Tem como objetivo neutralizar o excesso de ácido que se encontra no couro;

11. Recurtimento: Corrige as imperfeições;

12. Tingimento: Nessa etapa os couros são tingidos;

13. Engraxe: Os couros são tratados com óleos que dão maciez ao couro. Esta etapa deve ser bem conduzida, pois é por meio do engraxe que o couro adquire maciez,elasticidade e maior resistência;

14. Secagem: A operação de secagem elimina o teor de água;

15. Acabamento: O couro adquire seu aspecto final.Todo o curtimento das peles pode ser realizado de forma artesanal ou por meio de maquinários.

Todo o curtimento das peles pode ser realizado de forma artesanal ou por meio de maquinários.

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O coordenador do projeto Couro de Peixe e pesquisador do Inpa, Nilson Aguiar, diz que o trabalho de curtimento pode ser feito com quase todos os peixes da região: surubim, tambaqui, tucunaré, curimatã, dourada, pirarucu, pirarara. “O único peixe que ainda não conseguimos um couro com resistência foi o mapará”, acrescenta.

O técnico José Rebello diz que mesmo com todas as vantagens que o Estado do Amazonas possui para ser um pólo produtor de couro de peixe, não é uma tarefa fácil obter a matéria-prima. Uma das dificuldades apontadas é a falta de artesãos capacitados, pelo cuidado que se deve ter para extrair a pele do peixe sem danificá-la. “Por isso é essencial capacitar pessoas para realizar esse trabalho”, afirma o bolsista.

Segundo Rebello, com as pesquisas desenvolvidas pelo Inpa alguns estágios do curtimento foram superados ou substituídos. Como por exemplo, a redução do tempo de processamento, eliminação de etapas.

Potencial econômico e orespeito à Amazônia O potencial de mercado da pele é muito grande, pois é um produto de baixo custo para a confecção, como afirma José Rebello.

Anteriormente, só a carne de peixe era comercializada e a maioria dos frigoríficos descartava as peles. Hoje o aproveitamento da pele combate o desperdício, preserva os recursos naturais e pode gerar renda para a população. Pescadores, empresários donos de frigoríficos e artesãos teriam com o couro de peixe mais uma alternativa de emprego.

A pele utilizada para a produção do couro deve ser proveniente do abate de peixes destinados

ao consumo e cuja pesca respeite os períodos de reprodução da espécie sem agredir o meio ambiente.

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CuriosidadesCouro Natural X Couro SintéticoO couro é um material nobre com maior durabilidade e sofisticação. Já o couro sintético é um couro produzido em fábricas com procedimentos materiais, acrescentados de outros componentes químicos que o transformam em um material próximo do couro, porém tem menor resistência.

O couro natural pode durar mais de dez anos se conservado adequadamente.

Em Roma, o calçado indicava a classe social. Os cônsules usavam sapato branco, os senadores sapatos marrons presos por quatro fitas de couro atadas a dois nós e o calçado tradicional era a bota de cano curto que descobria os dedos.

Uma peça de pele de peixe custa R$ 1 para ser transformada em couro(José Rebello)

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A beleza dos produtosQual mulher não gosta de uma bela bolsa ou um belo sapato? E se tudo for feito de pele de peixes?

Com 12 anos de parceria com o Inpa, uma loja instalada na cidade de Manaus, a Green Obsession*, oferece bolsas e sapatos confeccionados com couro de peixe. Os proprietários Rose Dias e Aidson Ponciano afirmam que a loja foi a primeira empresa a confeccionar produtos com couro de peixe da bacia amazônica.

A empresária explica que a parceria com o laboratório de Couro de Peixe do Inpa surgiu quando ela e seu esposo descobriram o projeto e decidiram entrar em contato a fim de inovar em seus produtos.

O couro produzido no laboratório do Inpa por José Rebello contribui para a realização de testes que propiciam melhor qualidade dos calçados, bolsas e acessórios.

*www.greenobsession.com.br

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Pesquisador do Inpa, Nilson Aguiar afirma ainda que

o couro da pirarara é considerado mais resistente

do que o de boi. Com ele é possível até produzir

botas para escaladas.

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A BelezaEra uma vez uma lagartinha que se chamava

Nina. Nina era gulosa e comia todas as folhas do belo jardim onde vivia. Um dia ela resolveu

passear em busca de um novo jardim para morar. Nessa caminhada gostou de uma árvore e ali ficou. Alguns dias se passaram e começou uma

transformação, era uma nova etapa a ser vivida. Depois de algumas semanas em um casulo, ela saiu um pouco frágil, se apoiando no casco do casulo e se preparando para o primeiro vôo. E assim finalmente conseguiu voar com perfeição para explorar os jardins.

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> POR DELBER BITTENCOURT

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A BelezaA Beleza da levezada levezaOlá crianças, eu sou a Nina!Sou uma borboleta, um inseto muito bonito. Tudo o que você vai saber agora sobre a minha espécie é resultado dos estudos das entomólogas e pesquisadoras do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Rosemary Vieira, Catarina Motta e a bolsista do Inpa Daniela Agra, que desenvolvem projetos estudando borboletas. Com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) elaboraram o livro “Observando Borboletas”, publicado pela Editora Inpa, em 2011.

Com as asas abertas posso medir de 1,5 cm até 15 cm. Possuo uma pequena tromba que me ajuda a sugar o néctar das flores ou outros líquidos úteis à minha alimentação. As flores mais belas, cheirosas e doces são as minhas preferidas. Pertenço à ordem dos “Lepidopteros” que significa “asa de escamas”. Minhas asas são coloridas e formam lindos desenhos. Ao contrário das pessoas, meu esqueleto fica por fora do corpo. Dessa forma, me protejo da desidratação e das transformações ambientais.

Como nasciMuitos imaginam que nasci como borboleta filhote. Outros dizem que nasci de uma folha e depois vireiuma lagarta, mas a verdade é que nasci de um ovo.

Meu ciclo de vida é formado por quatro etapas. A primeira ocorre quando a mamãe borboleta coloca os ovos em uma folha. A segunda ocorre quando os ovos se transformam em lagartas. Depois de alguns meses comendo folhas, as lagartas ficam bem quietinhas até virarem um casulo, essa é a terceira etapa. E a última delas é quando me transformo numa encantadora borboleta.

Logo que as borboletas saem do casulo, elas ainda estão muito frágéis e não podem ser tocadas, nem espantadas até que as asas estejam esticadas. O tempo médio de vida de uma borboleta pode ser de duas semanas a seis meses, dependendo da espécie.

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Reino

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Borboletas e MariposasNa maioria das vezes a mariposa é chamada de borboleta. Apesar de termos aparências idênticas, o mesmo mecanismo de alimentação e defesa, temos as nossas diferenças. De uma forma geral, sou mais ativa durante o dia, mais colorida e pouso elevando as asas para trás. Já a mariposa tem as cores que variam do branco aos tons mais escuros, é ativa durante a noite e facilmente atraída pelas luzes de casa e postes.

Métodos de defesa: Os meios de defesa da nossa espécie são comportamentais. A defesa não é realizada por meio de ataques, mas por meio de sinais e camuflagem. Em outras ocasiões, utilizamos as

cores e pousamos em alguma planta ou árvore de cor parecida, assim fica mais difícil para o predador nos capturar.

Observando, admirandoe estudandoEscolha um dia ensolarado e observe com atenção a minha presença em diversos lugares como parques, jardins, sítios ou até mesmo na sua casa.

Se você quiser saber mais sobre a minha espécie, visite o Bosque de Ciência do Inpa e se divirta observando e admirando uma pequena amostra da biodiversidade das borboletas que marcam a beleza da nossa Amazônia.

Tchauzinho!

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