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CIÊNCIAS HUMANAS e suas TECNOLOGIAS >> CEJA >> Módulo 2 CENTRO DE ESTUDOS de JOVENS e ADULTOS Unidades 7 e 8 Fascículo 4

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CIÊNCIAS HUMANASe suas

TECNOLOGIAS >>

CEJA>>

Módulo 2

CENTRO DE ESTUDOS de JOVENS e ADULTOS

Unidades 7 e 8Fascículo 4

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SumárioUnidade 7 | As formas de controle e disciplina do trabalho no Brasil pós-escravidão 5

Unidade 8 | O surgimento do Mundo Moderno 33

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Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 33

Fascículo 4 • História • Unidade 8

O surgimento do Mundo ModernoPara início de conversa...

Você já viu ou ouviu propagandas que atribuem a qualidade de “moderno”

para um produto ou serviço? Um supermercado moderno e eficiente, um méto-

do moderno para lavar tapetes, uma mala prática e moderna? Também já deve

ter ouvido a expressão “mundo moderno” ou “tempos modernos” utilizada para

expressar os dias atuais ou a época na qual vivemos.

Como você pode notar “Moderno” é uma palavra com muitos significados,

quase todos relacionados à ideia de recente, atual e mais adequado. Quando di-

zemos que uma determinada máquina é moderna, estamos sugerindo que ela é

mais atual que as outras máquinas e que, portanto, ela é melhor.

Essa característica do “moderno” como melhor, porque mais novo e com

mais qualidades tecnológicas supõe que há um “antigo”, um não moderno. Isso

é uma ideia muito difundida na sociedade: máquinas, técnicas, serviços “antigos”

são piores e inadequados para os dias atuais.

Nessa unidade, vamos estudar a formação do Mundo Moderno, há mais ou

menos 4 séculos quando, a partir da Europa, começaram a se constituir as carac-

terísticas mais importantes das sociedades contemporâneas.

O mundo moderno surgiu, de fato, em oposição ao antigo e precisou substi-

tuí-lo, transformando a economia, o poder, as relações entre os homens e a produ-

ção da cultura. Foi uma longa trajetória de afirmação de um novo mundo, organiza-

do em torno do comércio pelos Oceanos e, posteriormente, em torno da indústria.

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Objetivos de aprendizagem � Analisar as transformações do Ocidente a partir da Expansão Marítima europeia;

� Identificar as características centrais do Renascimento e do racionalismo;

� Compreender o papel do Estado na organização do mundo moderno.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 35

Seção 1Expansão comercial e marítima europeia

Na época em que Pedro Álvares Cabral chegou às terras que se tornariam o Brasil, a Europa passava por um

processo intenso de transformações que conduziram algumas nações a uma verdadeira aventura pelos oceanos.

A partir do século XVI, especialmente, navios portugueses e espanhóis atravessaram os mares à procura de rique-

zas (como ouro, prata, diamantes) e produtos para serem comercializados (como especiarias, tecidos, alimentos e

escravos). Nos dois séculos seguintes, esse processo consolidou-se, transformando os continentes americano,

africano e parte da Ásia em territórios submetidos às necessidades e interesses da Europa.

Esse processo de expansão foi, ao mesmo tempo, uma atividade comercial e militar, financiada pelos Estados

europeus e pelos setores mais dinâmicos da burguesia. Uma combinação satisfatória e lucrativa de interesses produ-

ziu uma forma bem organizada de controle sobre os diversos povos do mundo. Quando a diplomacia comercial não

funcionava, entrava em ação a força militar, garantindo sempre condições vantajosas para os europeus.

Assim, regiões densamente povoadas e que possuíam Estados fortes e centralizados, como algumas grandes

cidades da Índia ou o império chinês, conseguiam resistir e tornavam-se parceiros comerciais dos negociantes euro-

peus. Mesmo assim, foram frequentes os confrontos militares, a tomada violenta de portos e entrepostos comerciais

em cidades como Goa e Calicute.

Em outras regiões, como ocorreu em boa parte da África ao sul do Saara, os europeus construíam entrepostos

fortificados nas regiões litorâneas, pois o vasto território não oferecia vantagens estratégicas, nem riquezas aparen-

temente compensadoras. Dos fortes litorâneos, os europeus negociavam com os grupos dominantes locais que lhes

traziam produtos, como o marfim, ou escravos que eles dominavam no interior do continente.

Finalmente, no continente americano, a expansão europeia conduziu a um processo mais intenso de conquis-

ta do território a partir da destruição das populações originárias. Diversas formas de colonização foram constituídas

segundo as possibilidades de cada região: grandes propriedades de terra para o plantio de cana, algodão ou trigo,

extração de prata, ouro e diamantes, de madeira, criação de gado, extração de sal, fabricação e comércio de rum, co-

leta das drogas do sertão. Todas essas atividades serviam aos interesses das nações europeias: a princípio, Portugal e

Espanha no século XVI, depois, Inglaterra, França e Holanda, a partir do século XVII.

Esse longo processo de conquista e colonização do continente americano e, de certa forma, da expansão ma-

rítima europeia contou ainda com a participação ativa da Igreja Católica. Na Europa do século XVI, a Igreja era uma

instituição profundamente respeitada e temida, inclusive pelos reis que governavam os Estados mais poderosos do

continente. O catolicismo era a religião oficial da maioria dos Estados e os monarcas eram coroados em cerimônias

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religiosas dirigidas pelo papa. De certo modo, Igreja e Estado comungavam dos mesmos interesses, por isso, a expan-

são marítima foi também uma expansão da fé católica. Além disso, a visão de mundo do europeu era profundamente

influenciada pelo pensamento religioso cristão.

Entre a cruz e a espada

Ao longo dos três séculos de colonização do continente americano, as concepções da Igreja Católica

sobre os habitantes nativos (os indígenas) variaram bastante. A princípio, eles foram vistos como se-

res ingênuos perdidos numa espécie de paraíso onde não havia pecados, depois, passaram a figuras

diabólicas e traiçoeiras ou simplesmente foram vistos como seres estúpidos e sem cultura. Em todos

os casos, no entanto, a doutrina católica defendia um único propósito: catequizar os indígenas e con-

vertê-los à fé católica.

A expressão popular “entre a cruz e a espada”, que utilizamos quando estamos diante de duas alterna-

tivas igualmente ruins, surgiu dessa situação histórica. O destino de milhões de habitantes americanos

esteve entre a “cruz e a espada”, pois, de um lado, havia a morte pela força militar e pelas doenças

trazidas pelo homem branco; de outro, o desaparecimento cultural ao aceitarem a religião, o idioma e

os hábitos dos europeus.

Assim, a visão religiosa que estruturou a colonização da América transformou os povos indígenas em

seres humanos inferiores. Os europeus acreditavam que os indígenas tinham uma vida de sofrimentos

na Terra e que iriam padecer eternamente no inferno, pois não eram católicos. A fé no cristianismo

poderia, no entanto, salvá-los desde que aceitassem a sua nova condição de convertidos e abando-

nassem os rituais e mitos.

Baseada nessa concepção, a colonização produziu uma destruição sem precedentes na história huma-

na: milhões de indígenas foram mortos, milhares perderam suas bases culturais e centenas de povos,

idiomas e conhecimentos simplesmente desapareçam.

Assim, o mundo moderno que surgia no século XVI era fruto de experiências históricas marcadas por diferen-

tes significados. Segundo o ponto de vista europeu, a expansão marítima era o resultado direto de importantes trans-

formações econômicas e científicas. Ela representava uma promissora atividade comercial que levaria à ampliação da

riqueza e do poder para os países europeus. Mas, para os povos americanos e africanos, a expansão representou o

início de uma era de destruição e morte, um longo período de resistência ao invasor.

Nessa unidade, vamos estudar as transformações históricas que conduziram a Europa à determinado tipo de

desenvolvimento econômico e social que chamamos de mundo moderno ou simplesmente de sistema capitalista.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 37

Seção 2O poder real, a burguesia e os Estados Nacionais

No período entre os séculos XI e XIV, conhecido como a Baixa Idade Média, o Ocidente europeu assistiu a um

processo de reorganização do comércio e das cidades. Até então, a vida europeia era basicamente rural, em torno de

grandes propriedades de terras, onde camponeses e servos estavam submetidos ao poder dos chamados senhores

feudais. Assim, surgiram grandes centros urbanos, os burgos, e com isso a economia de subsistência e trocas diretas

foi substituída, lentamente, pela economia monetária. Surgiu uma nova camada social ligada ao comércio e ao siste-

ma bancário, a burguesia, que enriqueceu nas cidades. Ao longo de três séculos, essa classe social foi, pouco a pouco,

conquistando poder político e prestígio social, antes restritos à nobreza.

A Idade Média denomina um período da história da Europa. Seu início é convencionalmente identifi-

cado em 476 e seu fim, em 1453. Existe ainda uma subdivisão entre a Alta e a Baixa Idade Média. Essa

época é marcada, basicamente, pelo teocentrismo (no qual Deus é considerado o centro de tudo), pela

ruralização da sociedade (quando a maioria das pessoas vivia no campo), pelo feudalismo (organiza-

ção social, política e econômica, baseada em relações de servidão), pela descentralização do poder

(existiam reis, ou senhores feudais, que controlavam suas terras, ou feudo) e pela existência de três

camadas sociais principais: o clero, a nobreza e os servos (os camponeses que trabalhavam nas terras

do senhor feudal).

Por volta do século XIV, todo esse processo de expansão entrou em crise por três fatores principais: a Peste Ne-

gra, a Guerra dos 100 Anos (1337-1453) e as revoltas populares. A Peste Negra, fruto das precárias condições de vida

e de higiene, eliminou cerca de um terço da população europeia. A mortalidade foi ampliada por causa da disputa

entre França e Inglaterra, num prolongado conflito armado que durou quase cem anos e terminou com a retirada dos

ingleses do território francês.

O enorme contingente de mortos e a desorganização da produção disseminou a fome pelos campos e cidades.

Por causa do declínio demográfico, os senhores feudais passaram a aumentar a carga de trabalho e os impostos aos

camponeses, que se revoltaram por causa da exploração e da fome.

Uma das saídas adotadas para a crise foi o arrendamento das terras, transformando os servos em homens livres

para venderem o excedente de sua produção no mercado dos núcleos urbanos. Esse fenômeno estimulou a econo-

mia monetária e a atividade comercial.

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As guerras, por outro lado, obrigaram a nobreza feudal a ceder parte de seu poder aos reis e príncipes que

passaram a centralizar o controle de vastos territórios, articulando-os em torno de um Estado unificado. Isso foi ne-

cessário, porque, individualmente, os exércitos privados dos senhores feudais não conseguia, se opor a exércitos

centralizados e mais bem equipados. Pouco a pouco, certas famílias de nobres, mais poderosas ou herdeiras de títulos

de realeza, assumiam a liderança dos constantes conflitos militares.

Essa unificação política sob uma monarquia (uma família real) teve efeitos positivos para a atividade comercial

e para a estabilidade de vastas regiões. Em Estados unificados, a monarquia conduziu à padronização das moedas,

dos impostos, das leis e das medidas de peso e distância, além de facilitar o controle das estradas contra criminosos e

rebeliões populares. Assim, várias casas reais consolidaram uma nação em torno do seu poder, criando os países que

hoje conhecemos, como: Portugal, Espanha, França e Inglaterra. Este era o embrião do Estado Moderno.

Assim, a estrutura social que havia ordenado a vida pública até o século XIV começou a ruir. Como demonstra o

esquema a seguir, na Idade Média, a sociedade estava organizada em torno de três estamentos, isto é, grupos sociais

definidos por nascimento.

Figura 1: Grupos sociais da Idade Média

Naquilo que parecia a base dessa estrutura, isto é, os que trabalhavam, os camponeses e servos, também havia

artesãos, comerciantes e profissionais liberais. Com o crescimento do comércio e das cidades, essas divisões sociais

tornaram-se cada vez mais complexas. Um grupo específico destacava-se, pouco a pouco, daquela pirâmide, enrique-

cendo e tornando-se independente do poder dos senhores feudais.

Nas cidades italianas, esses comerciantes conquistaram, desde o século XIV, enorme prestígio e poder.

Controlavam rotas comerciais importantes, aliados aos comerciantes árabes e detinham o poder político nas cidades

...os que oram

...os que guerreiam

...os que trabalham

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Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 39

de Veneza, Gênova, Florença e Milão. Nessas cidades, não havia uma monarquia centralizadora, mas governos locais

sob o comando da burguesia.

Foi nesse ambiente fortemente marcado pelo comércio internacional e pelos princípios dessa nova classe social

que se desenvolveu um conjunto expressivo de transformações científicas e culturais, conhecido como Renascimento.

Em cada país da Europa, uma dinâmica específica entre desenvolvimento econômico, sistema político e con-

dições materiais definiu papéis distintos no novo cenário que se construía. Um cenário que inaugurou o desenvolvi-

mento capitalista.

Portugal e Espanha saíram à frente, constituindo vasto império colonial, baseado na posse de territórios. Mas

logo foram contestados por duas grandes potências: França e Inglaterra que disputaram pelas armas a posse dos

territórios descobertos na América.

Mas foi um pequeno país que ampliou a disputa investindo no comércio internacional, e não na posse de

territórios: as Províncias Unidas. Esse país que hoje conhecemos com o nome de Holanda, tornou-se, no século XVII,

a mais rica e próspera nação europeia. Construiu poderosas companhias de comércio e uma frota militar capaz de

rivalizar com as marinhas da Inglaterra e da Espanha. Foi a burguesia holandesa que construiu um modelo eficaz e

lucrativo, capaz de submeter os outros setores da economia (como a agricultura e a extração de metais preciosos) aos

interesses do comércio.

Enquanto isso, na Inglaterra, uma monarquia poderosa e com visão ampla dos negócios do reino, construiu

uma poderosa armada, liderou a disputa pelos mares, conquistou territórios coloniais na América e estabeleceu rotas

comerciais em torno do planeta. Durante os séculos XVI e XVII, a expansão inglesa foi, pouco a pouco, suplantando o

poder espanhol, rivalizando com franceses e limitando os interesses expansionistas de Portugal.

A construção de impérios ultramarinos fortaleceu a classe dos comerciantes em cada país, especialmente, dos

grandes mercadores que controlavam o comércio internacional. As trocas vantajosas estabelecidas em diversos por-

tos do mundo garantiram a acumulação de riquezas nas mãos do Estado monárquico e dessa burguesia comercial.

Em síntese, entre os séculos XIV e XVI, um conjunto significativo de transformações políticas e econômicas

fortaleceu essa classe de comerciantes e banqueiros. A expansão marítima pelo Atlântico, a conquista da América, a

criação de rotas comerciais com o Oriente definiram um caráter global para o comércio. Uma aliança entre os setores

burgueses e as monarquias nacionais fortalecia, em cada nação, o poder do Estado, em torno de um exército bem

equipado que defendia o território e ampliava as ações de conquista.

A forma, como conhecemos hoje, dos Estados nacionais (formados por um governo, um povo e um território

específicos) surgiu naquele contexto histórico e tomou forma nos séculos seguintes.

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Seção 3Desenvolvimento científico e artístico: o Renascimento

Dentro deste quadro de mudanças econômicas e políticas, também se transformaram as relações sociais, como

vimos. A ruptura com os antigos laços de dependência entre servo e senhor feudal, dentre diversas outras amarras,

acabou por liberar o indivíduo. O momento histórico começava a colocar o homem como foco e, consequentemen-

te, a capacidade criativa da personalidade humana. Um novo período de inventividade técnica foi estimulado pelo

desenvolvimento econômico. Foi nesta época que se criaram novas técnicas de exploração agrícola e de construção

naval e armamentos. Institui-se a prática da observação atenta e metódica da natureza e dos experimentos, que re-

sultaria no que chamamos de atitude científica.

O objetivo era obter o domínio sobre o meio natural, a fim de explorá-lo. Para isso, a linguagem abstrata e rigo-

rosa foi fundamental. A matemática ressurgiu, a partir de diversas técnicas algébricas, tomadas à civilização islâmica, e

tornou-se essencial para efetuar a contabilidade desse novo sistema econômico complexo e para medição do mundo.

A cartografia é acompanhada pela contabilização do tempo. Não é nenhuma coincidência que este é o momento em

que os homens lançam-se ao mar em busca do desconhecido. O período inicial das grandes navegações coincidiu

com a invenção do relógio de bolso, portátil, quando, gradativamente, as pessoas iam deixando de se basear no mo-

vimento do sol, ou no bater dos sinos, para viver de acordo como o tique-taque do relógio.

Mas o que esses homens pensavam? Como reagiram a essas mudanças? A burguesia estava satisfeita, pois se

beneficiava e alimentava as novas mudanças, enquanto a nobreza e o clero perdiam seu espaço tradicional. Desde o

século XV, existia um movimento nas universidades medievais pela renovação do padrão de estudo. As três carreiras

tradicionais eram o direito, a medicina e a teologia, que transmitiam uma visão hierárquica e estática do mundo. Os

renovadores queriam incluir os chamados “estudos humanos”, tendo como base os textos da Antiguidade clássica

sobre a poesia, a história e a matemática. Os humanistas, como eram chamados, tinham sua preocupação voltada

para os homens e para a natureza.

As transformações científicas e artísticas que se iniciaram no século XIV e prolongaram-se até o século XVI, es-

pecialmente, nas cidades italianas, foram chamadas de Renascimento. Não foi por acaso que esse movimento surgiu

nessas cidades, pois, lá a burguesia tinha constituído uma economia dinâmica, baseada no comércio pelo Mediterrâ-

neo. Essa burguesia controlou também o poder político das cidades e não precisou do apoio das monarquias e nem

da nobreza proprietária de terras.

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A chamada atitude renascentista estava baseada no desenvolvimento científico, mas a produção artística foi o

centro de convergência das principais tendências e características do Renascimento. A nova camada burguesa estava

tentando se impor socialmente. Para isso, era necessário combater a cultura medieval. Foi então preciso construir

uma nova imagem da sociedade centrada na burguesia. Dessa maneira, esses grupos começaram a usar parte de sua

riqueza para construir palácios, igrejas e catedrais, estátuas, quadros, afrescos etc. Tudo isso não só para demonstrar

seu poder, mas também para promover uma renovação cultural e a difusão de novos hábitos, valores e comporta-

mentos. Foi dessa maneira que a arte se tornou o foco do momento. E foi dentro deste quadro que os artistas encon-

traram espaço para criar novas possibilidades de percepção e intervenção no mundo.

Figura 2: “Escola de Atenas”, de Rafael, é considerada uma das pinturas que mais reflete o es-pírito da Renascença. Ela foi pintada entre 1509 e 1510, e representa, com enorme harmonia geométrica e naturalismo, os pensadores da Antiguidade Clássica.

Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Escola_de_atenas_-_vaticano.jpg

Como fruto de uma época em que o conhecimento sobre o homem e a natureza é valorizado, a arte renas-

centista foi marcada pela pesquisa, invenção, inovação e aperfeiçoamento técnico. Ela caminhava lado a lado com

as descobertas da filosofia, da anatomia, da matemática e da física. Isso pode ser percebido a partir da invenção da

perspectiva por Filippo Brunelleschi (1377–1446), dos instrumentos inventados por Leonardo da Vinci (1452 – 1519),

ou as pesquisas anatômicas de Michelangelo (1475 – 1564).

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Figura 3: O homem vitruviano é um conceito do arquiteto romano Marco Vitruvio Polião. Ele representa um modelo ideal das proporções do corpo humano, de acordo com o ideal clássico de beleza. Com a redescoberta dos textos clássicos durante o Renascimento, Da Vinci tornou-se o mais famoso difusor desse ideal de representação.

Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Da_Vinci_Vitruve_Luc_Viatour.jpg

O artista passou a ser visto com certa dignidade cultural e social, tornando-se um criador individualizado.

No entanto, o ritmo frenético das encomendas, da concorrência e a crescente divisão do trabalho dificultavam o fazer

artístico. O tempo e o espaço da contemplação tornar-se-iam cada vez mais difíceis. Era apenas no isolamento que os

artistas conseguiam alcançar seu objetivo artístico.

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Os afrescos de Michelangelo no teto da Capela Sistina, no Vaticano, são considera-

dos verdadeiros tesouros artísticos da humanidade. Apesar do conteúdo religioso, diversos

estudiosos sugerem que o pintor teria transmitido aquilo que realmente acreditava, a par-

tir do pensamento e de técnicas renascentistas.

A figura a seguir faz parte dessa pintura e é chamada de “A criação de Adão”. Quais

são as informações e características renascentistas presentes no quadro?

Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Creation-of-adam.PNG

As mudanças trazidas com o Renascimento também trouxeram transformações na literatura. A Divina

Comédia de Dante Alighieri (1265 – 1321) é considerada o marco da literatura moderna, pois apesar de apresentar

características e expressões medievais, ela valoriza a experiência terrena dos homens, não mais subordina à providên-

cia divina. Novamente, o homem aparece no centro do mundo; é o que chamamos de antropocentrismo.

Em um texto escrito por Shakespeare, o personagem Lorde MacBeth diz: “ouso  tudo que é próprio de um 

homem; quem ousar fazer mais do que isso não o é”. Para o historiador Nicolau Sevcenko, “essa postura revela com 

extraordinária clareza toda a audácia da experiência renascentista. Tratava-se, com efeito, de uma prática cujos gestos

mais ousados lançaram seus participantes para além de si mesmos [...] Tudo que os renascentistas pretendiam era

assumir a condição humana até seus limites, até as últimas consequências. Nem Deus, nem o demônio; todo o desafio

consistia em ser absolutamente, radicalmente humano, apenas humano”.

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Na astronomia, Nicolau Copérnico (1473 – 1543) e Galileu Galilei (1564 – 1642) contestaram a hierarquização e

a finitude do espaço cósmico, contrariando os pensadores antigos, Aristóteles e Ptolomeu, aceitos pela Igreja. Assim, a

natureza deixava de ser vista como um espetáculo e passava a ser modificada, dando espaço à racionalização da vida.

Para os homens do Renascimento, era a hora do renascer do homem com o mundo. Foi assim que teve início

uma mudança de pensamento. Deus não deixou de existir, mas o homem passou a ter um papel mais central, aban-

donando a ideia de estabilidade, passou a se interessar pelo movimento.

A era das Grandes Navegações é o nome dado ao período em que os europeus

exploraram intensamente o globo terrestre em busca de novas rotas de comércio entre os

séculos XV e XVII. As explorações marítimas colocaram diferentes sociedades em contato

e transformaram a relação do homem europeu com o mundo. Como resultado, o mundo

foi mapeado e as mais remotas fronteiras foram transpostas. Essa época marcou o início

da Idade Moderna que juntamente com o Renascimento estimulou a pesquisa científica e

intelectual. A partir dessa reflexão, leia o trecho a seguir e responda à questão.

O Renascimento constitui, uma das mais fascinantes aventuras intelectuais da humanidade. Ele guarda uma semelhança mais do que notável com a em-presa das grandes navegações. Para se atreverem a essas perigosas viagens marítimas, esses homens, ainda modestamente equipados, foram igualmen-te encorajados pelas comunidades burguesas e cortesãs, receberam privilé-gios, honrarias e regalias, mas tiveram que enfrentar monstros míticos e reais, tiveram de suportar, ao mesmo tempo, a atração e o medo do desconhecido, tiveram que acreditar em si mesmos e em seus confrades mais do que em entidades sobrenaturais, tiveram que enfrentar todos os riscos de desbravar novos mundos e tiveram que suportar o choque de valores completamente diversos dos seus. O mesmo aconteceu com inúmeros criadores do Renasci-mento. E, no entanto, esses homens viveram uma experiência soberana de criação e puderam provar o gosto amargo, porém único, de serem livres.

SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento. São Paulo, Atual, 1987.

Em que sentido, podemos comparar o Renascimento com a era das grandes navegações?

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Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 45

Seção 4Novas formas de pensar o mundo

O Renascimento produziu intensos resultados em toda a Europa, desde o século XV, influenciando as artes, a

filosofia, as ciências e o pensamento científico. A partir de suas ideias, fortaleceu-se uma forma de pensamento que

se baseava no uso da razão e na experimentação.

A natureza, o homem e o universo tornaram-se temas centrais de um número significativo de indivíduos que

chamamos de filósofos, cientistas ou, simplesmente, pensadores. Para esses indivíduos, as respostas oferecidas pelo

pensamento religioso e pelos conhecimentos produzidos pelos povos antigos não era suficiente para explicar os

fenômenos observados ou vividos.

Esse tipo de pensamento surgia das necessidades práticas e também se transformava com elas, na medida em

que apareciam novos desafios trazidos pelo desenvolvimento da economia e da sociedade. Por exemplo, quando os

navegadores portugueses e espanhóis começaram a atravessar os oceanos e quando Colombo chegou ao continente

americano, isso colocou em xeque as concepções religiosas do mundo.

Em primeiro lugar, a travessia do oceano era uma evidência de que a Terra não era plana como uma pizza e

que no fim dos mares não havia um abismo profundo que lançava os navios no espaço infinito. Em segundo lugar, a

existência da América, habitada por centenas de povos, com diferentes níveis de organização social, não podia ser ex-

plicada a partir do que os europeus já conheciam do mundo. Era preciso inventar novas hipóteses, construir teorias e

explicar os fenômenos a partir da própria experiência ou de um pensamento racional, baseado em afirmações claras,

que não dependiam da crença, nem do conhecimento dos outros.

Assim, o pensamento racional avançava a cada novo passo dado para solucionar questões práticas ou filosófi-

cas. As mudanças abrangiam, assim, a criação de novas técnicas de navegação, as inovações da medicina, da agricul-

tura, da construção civil, as descobertas das ciências, da matemática, o conhecimento sobre a natureza e o homem.

Esse longo processo de transformação do pensamento europeu conduziu a uma nova concepção de mundo

que reduziu a importância das doutrinas religiosas e a própria dimensão da espiritualidade. O homem do século XVI

não era apenas um homem profundamente religioso, mas um indivíduo que encontrava no pensamento religioso as

explicações para os fenômenos naturais, para sua própria vida e para a organização social do mundo. Uma tempes-

tade era facilmente traduzida como sinal da fúria divina, a existência de reis e cavaleiros, de camponeses e servos,

era vontade de Deus, a vida e a morte de um ser humano também eram resultados da providência divina, isto é, dos

desígnios celestes, incompreensíveis para o ser humano. Essa forma de olhar o mundo foi lentamente substituída

pelo pensamento científico que se firmou entre os séculos XVII e XIX na Europa.

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Essas transformações acompanharam e foram motivadas pelo crescimento da atividade comercial que, a partir

da Europa, irradiou-se pelo mundo. Produtos, mercadorias, escravos e metais preciosos circulavam pelos continentes,

intensificando a exploração da África e da América e ampliando as riquezas que se acumularam nos países europeus.

Em fins do século XVIII, por volta de 1780, o desenvolvimento econômico europeu conduziu a uma transforma-

ção radical na produção da riqueza, como iremos estudar com detalhes nas próximas unidades. O setor mais dinâmi-

co da economia, antes centrado na atividade comercial, deslocou-se para a produção industrial. O racionalismo e as

transformações científicas passaram a alimentar esse processo de industrialização, criando assim as ideias, as práticas

e as máquinas que ampliavam e barateavam a produção de mercadorias.

Os procedimentos racionais, a capacidade de economizar tempo e recursos na fabricação de uma mercadoria,

a organização da produção fabril foram, pouco a pouco, redefinindo a vida na Europa. Um longo e intenso processo

de urbanização iniciou-se, especialmente, na Inglaterra, no final do século XVIII. Houve uma ampliação significativa

dos indivíduos que passaram a viver do trabalho nas fábricas e que constituíram a origem da classe trabalhadora.

Surgia, assim, o último elemento central na formação do Mundo Moderno: a classe operária. Em síntese, po-

demos dizer que o Mundo Moderno caracteriza-se pela articulação de uma economia global (através do comércio

marítimo), pela presença de Estados nações (como organização política dos territórios), pela oposição entre duas

classes sociais, a burguesia e a classe trabalhadora, e finalmente, pelo surgimento de uma forma de pensar, baseada

na experimentação e no desenvolvimento do raciocínio.

Um dos primeiros pensadores a definir as bases de uma filosofia moderna e racional foi René Descartes

(1596-1650) e a sua frase mais conhecida e repetida foi “Penso, logo existo”. A frase era uma conclusão

à seguinte pergunta: será que eu existo? Com essa pergunta que nos parece um pouco banal hoje,

Descartes queria discutir as bases do conhecimento e o princípio fundamental da dúvida. Assim é

preciso duvidar da existência das coisas, inclusive de si próprio. A evidência maior de sua existência

como ser humano era a própria dúvida. A frase famosa seria então: “Eu duvido; portanto, eu penso;

logo, eu existo”.

Algumas décadas depois de sua morte, outros pensadores desenvolveram novos modelos filosóficos

que também se interessavam em explicar os fenômenos do mundo. Eles, porém, não se baseavam

nos instrumentos da razão (como a dedução e a lógica), mas na experiência. O mais influente desses

filósofos foi o inglês John Locke (1632-1704). Ele afirmava que todas as nossas ideias tinham origem 

na nossa percepção, que nascemos sem saber absolutamente nada e que todo nosso conhecimento é

resultado da nossa experiência.

A corrente filosófica iniciada por Descartes chama-se racionalismo, pois, está baseada na razão hu-

mana, enquanto a corrente fundada por Locke é denominada de empirismo, isto é, no conhecimento 

nascido da experiência. Essas duas correntes deram origem à filosofia moderna e influenciaram deci-

savamente o pensamento científico e o Iluminismo, no século XVIII.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 47

Referências

Imagem

  •  Acervo pessoal  •  Andreia Villar

As atividades deverão ser discutidas e avaliadas no grupo conforme orientação do

professor.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias · História 49

Atividade extraO surgimento do Mundo Moderno

Questão 1

Vem, vem, vem reviver comigo amor

O centenário em poesia

Nesta pátria, mãe querida

O império decadente, muito rico, incoerente

Era fidalguia

(...)

A música encanta e o povo canta assim

Pra Isabel, a heroína

Que assinou a lei divina

Negro, dançou, comemorou o fim da sina

(...)

Liberdade, liberdade!

Abra as asas sobre nós (bis)

E que a voz da igualdade

Seja sempre a nossa voz

Fonte: Samba Enredo de 1989 ‐ Liberdade, Liberdade! Abra as asas sobre nós, do G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense.

a. No texto, identifique qual é o processo histórico brasileiro ao qual a letra do samba faz referência.

b. Explique dois fatores, indicados em seu material didático, que contribuíram para que a “Princesa heroí-

na” assinasse a “Lei Divina”.

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Questão 2

(...) A pregação estadonovista fundará, como sua ideologia, o trabalhismo e criará um movimento de opi-nião pública favorável, até mítico, à figura de Getúlio Vargas: o Getulismo. Trabalhismo e Getulismo são termos que se complementam durante a ditadura, à medida que a defesa e as conquistas do trabalho são diretamente associadas à imagem do chefe do governo (...)”

Fonte:GOMES, Angela de Castro. Getulismo e trabalhismo: tensões e dimensões do Partido Trabalhista Brasileiro. Rio de Janeiro: Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, 1987, p. 3.

EstadonovistaReferente ao Estado Novo.

IdeologiaConjunto de ideias, de pensamentos, de doutrinas ou de visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para

suas ações sociais e, principalmente, políticas. Uma idelogia é uma idéia distorcida de compreensão e de explicação de mundo,

visando confundir a leitura da realidade pelos cidadãos.

a. Com relação à instalação do Estado Novo (1937‐1945), pelo presidente Getúlio Vargas, aponte duas

características deste regime político.

b. Explique a ideologia do Trabalhismo, que foi uma característica marcante da chamada Era Vargas.

Questão 3

O coronel Toussaint L’Ouverture, pintado em óleo sobre tela neste qua-

dro, foi um dos líderes da independência do Haiti. A partir da leitura do frag-

mento de texto “República Negra” responda as questões a seguir.

República Negra

“A revolta iniciada por Toussaint L’Ouverture visava assegurar aos habitan-

tes da colônia [de São Domingos] os mesmos direitos que os da metrópole. Era

uma luta pela igualdade, e essa luta sempre foi um equívoco dos movimentos

negros. Jacques Dessalines, aliado de Toussaint, não pensava em igualdade. Sabia

que a liberdade de sua gente só estaria assegurada se lutasse pelo poder”, explica

Afonso Teixeira Filho, tradutor para o português da obra Os Jacobinos Negros.

Toussaint L’Ouverture, óleo sobre tela, autor desconhecido, século XIX, Consulado do Haiti, Rio de Janeiro.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias · História 51

A repercussão da revolução de São Domingos foi gigantesca para a luta contra a escravidão. Ainda maior era o

temor dos escravocratas de que a revolta influenciasse todas as Américas. O historiador John Hope Franklin escreveu, 

em Da escravidão à liberdade, que os americanos ficaram horrorizados diante das notícias do que acontecia no Hai-

ti. A partir de 1791, muitos preocuparam-se mais com os acontecimentos no Haiti do que com a luta de vida ou morte

que se desenvolvia entre França e Inglaterra.”

Fonte: Adaptado de Revolução Negra. In: http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/revolucao_negra.html (Acesso em 15/05/2013)

a. “Em 1804 no Haiti foi instituída a primeira república negra da História das Américas.” Qual o moti-

vo de o movimento de independência do Haiti ter constituído uma república negra?

b. Analise o impacto da independência do Haiti, que constituiu uma república negra, nas outras colônias

escravistas das Américas.

Questão 4

No dia 22 de novembro de 1910 uma rajada de metralhadora rompia o silêncio a bordo do encouraçado Minas

Gerais, ancorado nas águas da Baía da Guanabara. A embarcação tornava‐se palco de um motim de marinheiros que

entrou para a história como a Revolta da Chibata. Assinale a alternativa diretamente referida ao contexto em que

ocorreu esse movimento.

a. O movimento protestava contra a violência no trato aos marinheiros de baixa patente, em sua maioria

negra, pela Marinha, revelando uma permanência da escravidão no país.

b. Os marinheiros lutavam pela regulamentação das relações conflituosas entre os ex‐escravos e a Mari-

nha Brasileira, que insistia em manter castigos corporais na instituição.

c. Na República Velha, essa revolta foi a única manifestação contrária ao poder político do presidente Her-

mes da Fonseca, indicando a fraca participação cidadã no período.

d. A dificuldade de ascensão social e hierárquica dos marinheiros solidificou uma permanência do regime

imperial, sobretudo no que se refere ao controle excessivo das lutas sociais.

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Questão 5

O termo República Velha foi cunhado para identificar o período que vai de 1889 a 1930. Sobre esse período

podemos afirmar que

a. todos os governos eram militares, não havendo eleições diretas para a presidência da República, esco-

lhida por um colegiado de governadores.

b. o poder central foi marcado pela alternância de representantes paulistas e mineiros, o que ficou conhe-

cido como Política dos Governadores.

c. o Brasil da chamada República Velha era um país, sobretudo, industrial; e que a agricultura era uma

atividade secundária.

d. os governos adotaram medidas para acabar com as desigualdades sociais, sendo a primeira delas a

instituição do voto universal secreto.

Questão 6

A partir da Revolução de 1930, desenvolveu‐se definitivamente um novo setor na economia brasileira que foi a

a. monocultura do café.

b. exportação de bens de consumo.

c. indústria do refino do açúcar.

d. indústria fabril urbana.

Questão 7

Durante a Copa das Confederações, tanto população do Rio de Janeiro como as das demais capitais do país saí-

ram às ruas pelo fim da corrupção, exigindo qualidade de vida, melhoria da Educação pública e Saúde pública "padrão

FIFA". Isso, porém, não é novidade. Em 1879, a população carioca, em plena Monarquia, também se organizou e saiu às

ruas protestando, em um movimento que ficou conhecido como a Revolta do Vintém, cujo principal objetivo era.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias · História 53

a. a construção de moradias para as classes sociais mais pobres.

b. o fim da monarquia e o retorno da família real a Portugal.

c. a diminuição do valor da passagem dos bondes.

d. a implantação do regime republicano.

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Gabarito

Questão 1

a. A Abolição da escravatura.

b. No material didático estão listados 3 fatores. São eles:

1. A escravidão era um entrave para o desenvolvimento do capitalismo industrial, iniciado na Inglaterra,

pois a nova ordem econômica necessitava de mão de obra assalariada para consumir as mercadorias

produzidas em escala industrial.

2. “No Brasil, o fim do tráfico de escravos, em 1850, coincidia com o momento de expansão da economia

cafeeira, ( o que) resultou em estímulo à imigração de europeus. O preço elevado do escravo, o custo

de sua manutenção e o risco de perder o capital investido com sua fuga ou morte motivaram muitos

a pressionar o governo a financiar intensivamente a vinda de imigrantes para as lavouras cafeeiras.”

3. “A Guerra do Paraguai deu maior impulso à ideia de abolição, visto que muitos brasileiros tiveram

contato com países onde a escravidão não existia, além de colocar em combate, lado a lado, soldados

livres e ex‐escravos. Ressaltamos, também, a ida de escravos para o campo de batalha em lugar de

seus senhores e em busca da promessa de libertação.”

Questão 2

a. O Estado Novo (1937‐1945) foi o regime político brasileiro fundado por Getúlio Vargas em 10 de novembro de

1937 e que durou até 29 de outubro de 1945. No texto, podem-se observar duas faces importantes do período:

o trabalhismo de Vargas, que criou a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) em 1943, e a exaltação da figura

do líder político, no caso o próprio Vargas, com um trabalho de propaganda política intensa junto ao povo.

b. Através do Trabalhismo, Getúlio construía laços diretos com o povo, como se pode observar no texto. O

Trabalhismo foi o processo de aproximação do Estado com os trabalhadores urbanos, através da elabora-

ção de leis trabalhistas que agrupavam antigas reivindicações operárias. No campo social, o trabalhismo foi

incorporado na Era Vargas como eficaz instrumento de ação e propaganda política. Daí, o apelido dado a

Getúlio Vargas de “Pai dos pobres”.

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Questão 3

a. Porque foi uma revolta organizada e comandada pelos escravos negros da ilha de São Domingos (Haiti).

(Material do aluno, pág. 30)

b. O aluno deverá identificar que os escravocratas ficaram com medo de que escravos de outras colônias ame-

ricanas seguissem os ideais preconizados pelas idéias de Toussaint e seus seguidores no Haiti. E que com

isso conquistassem a independência de suas metrópoles europeias e se rebelassem fundando outras repú-

blicas, com presidentes negros.

Questão 4

A B C D

Questão 5

A B C D

Questão 6

A B C D

Questão 7

A B C D

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