CINE-AZENHA: UM RESGATE DEVIDO CENTRO CULTURAL...

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ARQUITETURA E URBANISMO

ARQUITETURA E URBANISMO

BEATRIZ BARBOSA BALDO

CINE-AZENHA: UM RESGATE DEVIDO

CENTRO CULTURAL MULTIUSO EM PRESIDENTE EPITÁCIO - SP

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURITIBA

2018

BEATRIZ BARBOSA BALDO

CINE-AZENHA UM RESGATE DEVIDO

CENTRO CULTURAL MULTIUSO EM PRESIDENTE EPITÁCIO - SP

Trabalho de Conclusão de Curso apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, do Departamento Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Orientador: Prof. Rogerio Shibata

CURITIBA

2018

TERMO DE APROVAÇÃO

Cine Azenha: Um resgate devido- Centro Cultural multiuso em Presidente Epitácio SP

Por BEATRIZ BARBOSA BALDO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi apresentado em 14 de Junho de 2018 como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. A candidata foi arguida pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo assinados. Após deliberação, a Banca Examinadora considerou o trabalho aprovado.

Prof. Analu Cadore UNICESUMAR

Prof. Rafaela Fortunato UTFPR

Profa. Yumi Yamawaki UTFPR

Prof. Rogerio Shibata (orientador) UTFPR

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

PR

Ministério da Educação UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ Campus Curitiba - Sede Ecoville Departamento Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo

Curso de Arquitetura e Urbanismo

Dedico este trabalho a todos aqueles que amam arte nas suas mais diversas

formas, que buscam cultura assim como eu e que utilizam de qualquer

oportunidade para fazer com que ela floresça na vida do próximo assim como

um dia fizeram por mim.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos os amigos que estiveram ao meu lado nessa longa

jornada de intenso aprendizado. Aos que compartilharam dos momentos de

angustia, expectativas, de percalços e sucessos.

Agradeço a todos os professores que tive ao longo da vida até o caminho da

arquitetura. Sem vocês eu não teria chegado até aqui.

Aos meus pais e familiares que me mostraram o mundo, estiveram sempre

na retaguarda e desejaram sempre o melhor. Que me mostraram diferentes pontos

de vista e me fizeram entender que o mundo pode ser mais interessante do que

parece se você for curioso o bastante.

E agradeço a Deus, por colocar pessoas tão maravilhosas iluminando o meu

caminho.

RESUMO

BALDO, Beatriz Barbosa. Cine-Azenha: um resgate devido. Centro Cultural Multiuso em Presidente Epitácio – SP. 2018. 131f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2018.

Este trabalho visa estudar como a arquitetura pode modificar o olhar do ser humano para a vida e como através de um local com infraestrutura para produção e consumo de arte essa visão pode se desenvolver. Considerando a história do município em que o projeto se localiza e a relação do edifício existente com a paisagem local e a população propõe-se a Restauração de uma memória arquitetônica como meta deste trabalho, objetivando resignificar o prédio do Cine-Azenha da cidade de Presidente Epitácio-SP através de novos usos e readequação do edifício as necessidades atuais da população.

Palavras-chave: Cultura. Arte. Produção. Cine-Azenha. Multiuso.

ABSTRACT

BALDO, Beatriz Barbosa. Cine-Azenha: um resgate devido. Centro Cultural Multiuso em Presidente Epitácio – SP. 2018. 131f. Monograph (Bachelor of Architecture and Urbanism) - Federal Technological University of Paraná. Curitiba, 2018.

This work aims to study how the architecture can modify the look of the human being for life e how through a place with the proper infrastructure to production and consumption of art this vision can be developed. Considering the history of the city that hosts this project, and how the existing building relates itself with the surroundings and the population, it is proposed a restauration of an architectural memory as the main target of this work, which aims to resignify the Cine-Azenha building in Presidente Epitácio – SP through new uses and the adjustment of the building to the current needs of the local population.

Keywords: Culture. Art. Production. Cine-Azenha. Multipurpose.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Vista aérea do cinema (em vermelho) em relação à praça da matriz. Fonte: Google Maps. Acesso em: 27 mar. 2017 ....................................................... 49

Figura 2 - Levantamento do cinema - planta pavimento térreo ................................. 54

Figura 3 - Levantamento do cinema - planta pavimento superior .............................. 55

Figura 4 - Setorização e acessos ........................................................................... 60

Figura 5 – Levantamento do cinema - corte longitudinal. .......................................... 60

Figura 6 – Levantamento do cinema - elevação fachada frontal ............................... 61

Figura 7 - Planta Grande Teatro. Fonte: Cine Theatro Brasil .................................... 77

Figura 8 - Planta térreo. ............................................................................................ 76

Figura 9 - Planta superior. ......................................................................................... 77

Figura 10 – Foyer da Sala Petrassi em meio ao complexo ....................................... 79

Figura 11 – Térreo ..................................................................................................... 80

Figura 12 – Balcão e piso superior ............................................................................ 80

Figura 13 - Vista 1 ..................................................................................................... 81

Figura 14 - Vista 2 ..................................................................................................... 82

Figura 15 - Vista 3 ..................................................................................................... 82

Figura 16 - Vista 4 ..................................................................................................... 82

Figura 17 - Vista 5 ..................................................................................................... 83

Figura 18 - Teatro Polivalente térreo ......................................................................... 84

Figura 19 - Implantação ............................................................................................ 91

Figura 20 - Ventos e Insolação .................................................................................. 92

Figura 21 – Setorização volumétrica ......................................................................... 94

Figura 22 – Acessos .................................................................................................. 96

Figura 23 – Setorização ............................................................................................ 96

Figura 24 - Detalhe do sistema estrutural do auditório .............................................. 98

Figura 25 - Detalhe sistema de proteção solar do edifício ........................................ 99

Figura 26 - Sistema de impermeabilização da cobertura .......................................... 99

Figura 27 - Configurações de uso da área do auditório .......................................... 100

Fotografia 1 - Cais do Porto antigo, com a embarcação de pessoas no navio Epitácio Pessoa. Fonte: presidenteepitacio.com.br ................................................................ 30

Fotografia 2 - Início da construção da ponte Mauricio Joppert entre 1961/62. Fonte: presidenteepitacio.com.br ......................................................................................... 31

Fotografia 3 - Construção da ponte, lado do estado de São Paulo, 1963/64. ........... 32

Fotografia 4 - Ponte Mauricio Joppert antes do lago. Fonte: presidenteepitacio.com.br ......................................................................................... 32

Fotografia 5 - Ponte Maurício Joppert depois do lago. Fonte: presidenteepitacio.com.br ......................................................................................... 33

Fotografia 6 - Figueiral antigo, década de 70/80. Fonte: Blog Epitácio na Memória . 35

Fotografia 7 - Figueiral novo. Fonte: Blog Epidemicos .............................................. 36

Fotografia 8 - Carnaval 2012. Fonte: Blog Toninho Moré ......................................... 37

Fotografia 9 - Carnaval 2012. Fonte: epitacio.com.br ............................................... 37

Fotografia 10 - Epifolia no Réveillon na orla fluvial de Presidente Epitácio. Fonte: Tribo Vibe .................................................................................................................. 38

Fotografia 11 - Epifolia no Réveillon na orla de Presidente Epitácio. Fonte: Tribo Vibe .................................................................................................................................. 38

Fotografia 12 - Rua São Paulo, quadra 2, em 2011. Fonte: MORONI, 2011, p. 584. 41

Fotografia 13 - Vista aérea da cidade, sentido rodovia-ferrovia. ............................... 42

Fotografia 14 - Apresentação do Coral do Conservatório no Cine-Azenha, prolongamento de palco improvisado. Fonte: Secretaria de Cultura. ........................ 43

Fotografia 15 - Platéia na apresentação do Coral do Conservatório realizada no Cine-Azenha. Fonte: Secretaria de Cultura de Presidente Epitácio-SP .................... 44

Fotografia 16 - Primeira Capela. ............................................................................... 43

Fotografia 17 - Matriz em construção. Fonte: Paróquia de São Pedro ...................... 43

Fotografia 18 - Vista aérea da Matriz. ....................................................................... 43

Fotografia 19 - Matriz vista da Avenida Presidente Vargas, 2009. Autor: Evaldo ..... 43

Fotografia 20 - Associação Atlética Epitaciana nos anos 50. Fonte: Epitácio na memória. ................................................................................................................... 44

Fotografia 21 - Epitaciana, agosto de 2015. Fonte: Acervo pessoal. ........................ 44

Fotografia 22 - Estação em abril de 1988. Fonte: Autor: Elly Jr. ............................... 45

Fotografia 23 - Estação em abandono. Fonte: Blog do Giesbrecht. Autor: Paulo Arquimedes da Silva Prata. ....................................................................................... 46

Fotografia 24 - Fachada principal do Cine-Azenha, abril/2017. Fonte: Acervo pessoal. ..................................................................................................................... 48

Fotografia 25 - Vista do cinema por quem desce a Rua Fortaleza, abril/2017. Fonte: Acervo pessoal. ......................................................................................................... 50

Fotografia 26 - Vista do cinema por quem vem pela rua Porto Alegre, esquina da praça da Matriz. Abril/2017. Fonte: Acervo pessoal. ................................................. 51

Fotografia 27 - Vista do cinema por quem sobe a Rua Fortaleza, abril/2017. Fonte: Acervo pessoal. ......................................................................................................... 51

Fotografia 28 - Cine-Azenha na saída da sessão, 1959. Fonte: Instituto Federal de São Paulo .................................................................................................................. 52

Fotografia 29 - Vista da porta direita de acesso pela bomboniere da sala de exibição, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal. ........................................................................ 65

Fotografia 30 - Visão da sala vista pelo canto esquerdo da tela, poltronas de madeira intactas, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal. .......................................................... 66

Fotografia 31 - Guichê da bilheteria, agosto/2017. Fonte: Acervo pessoal. .............. 66

Fotografia 32 - Louças sanitárias do banheiro masculino pertencente ao balcão, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal. ........................................................................ 66

Fotografia 33 - Ferragens e gradis da fachada pertencentes à bomboniere, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal. ........................................................................ 68

Fotografia 34 - Detalhe do gradil da janela da bombonier, formato padrão usado em todo o edifício, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal. ................................................ 68

Fotografia 35 - Bomboniere - à direita, com tapume, uma das portas para a sala de exibição; à frente, a porta de conexão com a bilheteria, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal. ..................................................................................................................... 69

Fotografia 36 - Abertura do forro e do telhado acima da tela de projeção, já danificada pelo tempo. Agosto/2016. Fonte: Acervo Pessoal. .................................. 70

Fotografia 37 - Detalhe de iluminação e decoração da sala de exibição, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal. .............................................................................................. 70

Fotografia 38 - Vista do balcão. Fonte: Dalmo Duque dos Santos. ........................... 71

Fotografia 39 - Vista do balcão e da sala de projeção, a partir da chegada pela escada, Fonte: Dalmo Duque dos Santos. ................................................................ 71

Fotografia 40 - Escada dos quartos de aluguel com acesso à rua, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal. .............................................................................................. 71

Fotografia 41 - Corredor dos quartos de aluguel, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal. ..................................................................................................................... 71

Fotografia 42 - Saída para a calçada da rua, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal. . 73

Fotografia 43 - Sala da administração, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal. .......... 74

Fotografia 44 - Corredor lateral para as saídas de emergência, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal. ......................................................................................................... 74

Fotografia 45 - Cine Theatro Brasil, 1932. Fonte: Cine Theatro Brasil ...................... 76

Fotografia 46 – Lojas comerciais do Cine Theatro Brasil, 1932. Fonte: Cine Theatro Brasil ......................................................................................................................... 76

Fotografia 47 - Vista 1. Fonte: Cine Theatro Brasil ................................................... 13




Fotografia 51 - Visual 1. Fonte: Archdaily. Autor: Fernando Alda. ............................. 78

Fotografia 52 - Visual 2 – Ritmo entre o existente e o proposto. Fonte: Archdaily. Autor: Fernando Alda. ............................................................................................... 78

Fotografia 53 - Vista 1. Fonte: LacatonVassal.com ................................................... 85



Fotografia 56 - Vista 1 ............................................................................................... 94








LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Tipos construtivos utilizados no município ............................................... 41

Tabela 2 - Território e Ambiente ................................................................................ 42

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÔNIMOS

LISTA DE SIGLAS

ALL América Latina Logística

CESP Companhia Energética de São Paulo

CVSPMG Companhia Viação São Paulo – Mato Grosso

DER Departamento de Estradas e Rodagem

DENIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes

EFS Estrada de Ferro Sorocabana

SNBP S.A Secretaria Naval da Bacia do Prata

UNESP Universidade do Estado de São Paulo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................12

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA ................................................................................12

1.2 PROBLEMÁTICA ..............................................................................................12

1.3 OBJETIVO GERAL ...........................................................................................12

1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................13

1.5 JUSTIFICATIVAS .............................................................................................13

1.6 METODOLOGIAS DE PESQUISA ....................................................................14

CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA ................................................................................16

1.7 PATRIMÔNIO CULTURAL ...............................................................................16

1.7.1 Cultura, Patrimônio e Sentimento de Pertencimento ......................................16

1.7.2 Trajetória do cinema no estado de São Paulo ................................................22

2 INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE ...................................................................26

2.1 PRESIDENTE EPITÁCIO .................................................................................26

3.1.1 Localização e Geografia .................................................................................26

3.1.2 Eventos que contribuíram para a formação da cidade e que também fundamentam a problemática deste trabalho ..........................................................27

3.1.3 Perfil construtivo do município ........................................................................39

3.1.2 Circuito cultural: edifícios históricos do entorno .............................................42

3.1.3 Cidade Hoje e seus Potenciais .......................................................................46

2.2 CINE-AZENHA ..................................................................................................48

2.2.1 Porque a Escolha desde Edifício ....................................................................48

2.2.2 Edifício original ................................................................................................53

2.2.2.1 Inauguração ................................................................................................61

2.2.2.2 Cinema Paradiso .........................................................................................62

2.2.3 Situação atual do cinema ................................................................................64

3 ESTUDOS DE CASO ...........................................................................................75

3.1 ESTUDO DE CASO 01 – CINE TEATRO BRASIL VALLOUREC .....................75

3.2 ESTUDO DE CASO 02 – NOVO TEATRO NO PORTO SANTA MARIA ..........76

3.3 ESTUDO DE CASO 03 – SALA PETRASSI (PARCO DELLA MUSICA) ..........79

3.4 ESTUDO DE CASO 04 – TEATRO POLIVALENTE EM LILLE ........................83

4 DIRETRIZES DE PROJETO ................................................................................87

4.1 QUAL A FINALIDADE DO PROJETO ...............................................................87

4.2 LOCALIZAÇÃO DO EDIFÍCIO ESCOLHIDO ....................................................87

4.3 MAPA-SÍNTESE ...............................................................................................91

4.4 DEFINIÇÃO DO PROGRAMA DE NECESSIDADES .......................................91

4.5 ESTRATÉGIAS PROJETUAIS .........................................................................94

5 PROPOSTA ..........................................................................................................95

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................102

REFERÊNCIAS .......................................................................................................103

APÊNDICE A - Questionário de Pesquisa ...........................................................107

APÊNDICE B - Roteiro das Entrevistas ...............................................................113

APÊNDICE C - Pranchas………………………………………………………………..124

12

1 INTRODUÇÃO

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA

Este trabalho tem o objetivo de levantar dados para a proposição de um

projeto de um Centro Cultural Multiuso que atenda às necessidades atuais do

município de Presidente Epitácio - SP, e ao mesmo tempo os anseios da população

por um lugar em que se possa produzir e consumir cultura, com a estrutura

necessária.

1.2 PROBLEMÁTICA

O panorama atual da cidade que serviu como requisito para que este

trabalho fosse realizado, é de uma cidade com “vocação” para o turismo de lazer e

para o entretenimento, que sempre teve seu desenvolvimento cultural tolhido por

conta dessa vocação, e a urgente conservação de um patrimônio de grande

importância histórica na memória do município, que representa uma época

importante para a cidade e um potencial à espera de um uso que possa contribuir

com a transformação em prol da cultura.

1.3 OBJETIVO GERAL

Proposta de um projeto de requalificação, intervenção e restauro no Cine-

Azenha em Presidente Epitácio levando em conta a história da cidade e a relação do

edifício com a população através da transformação do edifício em um centro cultural

multiuso.

13

1.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Preservação de parte da memória afetiva e histórica da paisagem da

cidade

- Reavivar o meio de produção cultural da cidade

- Reconectar a população com o circuito cultural do estado

- Trazer movimentação de eventos culturais para o Centro da cidade

- Analisar a importância do contato com a cultura em geral, e a importância

do patrimônio histórico para a cidade e sua população;

- Diagnosticar as necessidades do município e da população, que podem

ser sanadas pela requalificação do edifício escolhido;

- Compreender como um projeto de requalificação pode reavivar o circuito

cultural da cidade

- Propor um projeto de requalificação do edifício escolhido com base em

propostas semelhantes, em análises da história da cidade, nas necessidades e

anseios da sua população, e no que o edifício pode oferecer com a sua estrutura

original com o objetivo de criar um espaço com estrutura adequada para a produção

cultural local e para o recebimento de produções externas na cidade

1.5 JUSTIFICATIVAS

- Preservar parte do patrimônio histórico-cultural da cidade que está se

perdendo no tempo se torna prioridade, pois o Edifício Cine-Azenha se encontra

subutilizado e em estado de abandono mais de quinze anos, em área central da

cidade de importância histórica dentro da paisagem local.

- Revitalizar o circuito cultural da cidade, tanto quanto o sistema econômico,

que também poderá se beneficiar ao trazer as atividades para o centro urbano,

sendo que hoje todas as atividades culturais abertas a população e aos turistas são

feitas às margens da malha urbana situada na orla fluvial, dificultando o acesso da

população e não trazendo os turistas para o centro da cidade.

- Reconectar a população com o programa cultural estadual e regional ao ter

um local adequado para apresentações de dança, teatro, música, palestras, etc.

14

- Criar um espaço onde além de receber atividades culturais, a população

possa produzir cultura tendo como apoio um espaço expositivo e espaço físico para

oficinas.

1.6 METODOLOGIAS DE PESQUISA

- Pesquisa exploratória: Levantamento bibliográfico (livros, artigos, teses,

discussão, legislação, artigos de jornais, etc.) com a finalidade de encontrar dados

qualitativos e quantitativos sobre a cidade e o edifício escolhido para a requalificação

desde sua fundação até os dias de hoje, e revisão bibliográfica sobre os temas

abordados.

- Pesquisa descritiva: Entrevistas com pessoas que tenham alguma relação

com edifício escolhido (seja como funcionário, frequentador do cinema quando em

funcionamento, usuário do ambiente por outra atividade ou personalidade política e

cultural da cidade) a fim de apurar detalhes sobre sua fundação, períodos de

funcionamento e sua relação atual com o município; questionário, objetivando a

constatação de uma amostra da opinião pública do município sobre o edifício em

sua situação atual, e seus anseios sobre que tipo de produção a população se

interessaria em usufruir.

- Pesquisa analítica: Análise de todos os dados quantitativos e qualitativos

coletados com o questionário, os estudos de caso e os dados populacionais e de

desenvolvimento do município ao longo dos anos com a finalidade de decidir as

diretrizes do projeto.

- Estudos de caso: Buscar referencias brasileiras e internacionais de

auditórios multiuso, centros culturais e projetos de requalificação de edifícios que

possam ser comparados e analisados, resultando em dados que servirão de base

para a definição do programa de necessidades adequado a este tipo de proposta.

- Interpretação da realidade: Analisar o histórico da cidade e seu momento

atual buscando os fatos que determinam a problemática do trabalho; analisar a

história do cinema e sua relação com a cidade ao longo de sua existência buscando

uma proposta arquitetônica que possa fazer o resgate do uso desse prédio histórico.

15

- Visita ao edifício, local de implantação do projeto, com o intuito de mapear

sua situação atual e fazer um levantamento da arquitetura existente, para que possa

ser usado como base no desenvolvimento do projeto;

16

CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA

1.7 PATRIMÔNIO CULTURAL

Este capítulo, informa através de reflexões sobre o termo “cultura”, a

importância da preservação de um patrimônio histórico, e do sentimento de

pertencimento de uma população.

1.7.1 Cultura, Patrimônio e Sentimento de Pertencimento

Apesar da vocação que a cidade de Presidente Epitácio (onde se localiza o

edifício base da proposta projetual deste trabalho) tem para o entretenimento,

sempre houve movimentos de produção cultural e artísticas locais se destacando de

tempos em tempos na cidade, demonstrando possibilidades dessa vocação.

Um exemplo disso foi o movimento de grande destaque do meio artístico

local que ocorreu no final da década de 90 quando a partir de concursos do Mapa

Cultural Paulista, em que qualquer cidade do estado poderia se inscrever. Ao longo

de um certo tempo, artistas epitacianos ganharam prêmios chamando atenção de

um grupo de profissionais da Cultura da cidade de São Paulo pertencentes à

UNESP (Universidade do Estado de São Paulo). Então desenvolveu-se um projeto

que teve como tema o desenvolvimento da criatividade, realizado na cidade de

Presidente Epitácio. Época essa à qual teve intensa movimentação cultural no

município. Após o termino do curso não houve nenhum movimento do poder público

que abraçasse a causa, dissolvendo essa grande movimentação.

Quando se promove conhecimento, discussão e produção cultural, o ser

humano passa a andar com as próprias pernas, ser livre, com discernimento para

analisar, refletir e decidir qual é o melhor caminho para si, aceitando ou recusando o

que lhe é ofertado se não lhe convém, não lhe é adequado, ou insuficiente. A arte

serve não só para que o indivíduo tenha repertório e senso crítico para escolher o

que vai absorver, mas para que ele crie algo a oferecer. Modificar o humano que age

sobre o mundo. Inclusive, muitas expressões artísticas contemporâneas colocam o

espectador como participante da obra. Talvez a arquitetura tenha sido a primeira a

fazer isso.

17

Segundo Mario Vargas Llosa1 em “A civilização do Espetáculo: Uma

radiografia do nosso tempo e da nossa cultura”, nas últimas décadas o termo cultura

passou por uma metamorfose que merece atenção. O conceito de cultura, que

deveria ser único, se dissolveu em meio a várias mutações do seu significado, que

foi sendo substituído ao longo do desenvolvimento tecnológico. Essa mudança

provocou na população uma regressão no tempo em quanto sociedade, quando

falamos de cultura.

Deve-se entender como “conhecimento [...] a evolução da técnica e das

ciências” e, como cultura “algo anterior ao conhecimento, uma propensão ao

espírito, uma sensibilidade e um cultivo da forma, que dá sentido e orientação aos

conhecimentos. ” (LLOSA, 2013, p.14)

Como o autor mesmo cita, “a ideia de cultura nunca significou quantidade de

conhecimentos, e sim qualidade e sensibilidade. “ (p.20)

Outra diferenciação que deve ser esclarecida: os termos Cultura e

Entretenimento não são a mesma coisa, apesar de complementares, eles não se

equivalem. O termo “entretenimento” é englobado pelo termo “cultura”. Cultura pode

ser definida como a soma de todos os conhecimentos e percepções que nos

provocam analises e reflexões para os problemas e questionamentos da vida, além

do entretenimento, que esse sim é um dos responsáveis pela diversão e pelo prazer.

A substituição de cultura por apenas entretenimento, como vem ocorrendo

nos últimos anos, causam algumas consequências negativas, como em toda

situação em que se troca o todo pela parte. “Colocar a diversão como valor supremo

tem como consequência a banalização da cultura, generalização da frivolidade e a

proliferação do jornalismo irresponsável e do escândalo”. (LLOSA, 2013, p.30)

Segundo o Mario Vargas, a Alienação denominada por Karl Marx2 ou o

Espetáculo como o autor mesmo denomina (interesse e ocupação central da

população de hoje), teve como consequência “a coisificação do indivíduo,

1 Jornalista, dramaturgo, ensaísta e crítico literário, vencedor de prêmios de prestígio como Cervantes, Príncipe das Astúrias, PEN/Nabokov e Grinzane Cavour, que recebeu em 2010 o Prêmio Nobel de Literatura. 2 Filósofo, sociólogo, jornalista e revolucionário socialista. Karl Marx, Manuscritos econômicos e filosóficos, 1844.

18

esvaziando sua vida interior de preocupações sociais, espirituais ou simplesmente

humana, isolando-o e destruindo a consciência que ele tenha dos outros, de sua

classe e de si mesmo. “ (p.20). Como fazer com que a massa da populacional volte

a se preencher de conhecimento em busca de argumentos para desenvolver sua

criticidade perante o mundo que se enfrenta hoje?

Hoje, as redes sociais servem como um meio de “substituir a vivência pela

representação, fazer da vida uma espectadora de si mesma, [isso] implica um

empobrecimento do humano. O consumidor real torna-se consumidor de ilusões. ”

(LLOSA, 2013, p.22)

Segundo Llosa (2013, p.23), “a cultura das massas, [...] [são]denominadores

culturais [...] dos cinco continentes”, que os aproxima e os iguala “apesar das

tradições, crenças e línguas que lhes são próprias”. Tem como principal intenção

“divertir e dar prazer” à maior quantidade possível de pessoas.

Gilles Lipovetsky e Jean Serroy3 dizem que "o mundo-tela deslocou,

dessincronizou e desregulou o espaço-tempo da cultura". Isso significa que um dos

principais motivos de transformação da cultura como conhecemos, foi a invasão dos

audiovisuais, portáteis principalmente, por pregarem esse movimento de consumo

superficial de informações, consequentemente consumo superficial de cultura

também. (LIPOVETSKY; SERROY apud LLOSA, 2013, p.24)

“Agora a palavra está cada vez mais subordinada à imagem”, diz Llosa

(2013, p.19). Aquela frase que diz que “uma imagem vale mais que mil palavras”,

têm adquirido cada vez mais sentido na vida atual. Mas deve-se considerar que uma

imagem também pode ter mais de mil interpretações, e a superficialidade e rapidez

com que se busca uma informação ou uma notícia hoje, faz com que nada tenha o

mesmo significado. Como se desvencilhar de tanta superficialidade? Como lidar com

as avalanches de mídia audiovisual, em que se tornou o momento atual, de uma

maneira que se desenvolva cultura e não só entretenimento?

A imagem, hoje, é o veículo de maior alcance e de maior absorção no

mundo. A arquitetura como a concretização em imagem de muitos fatores como

3 Gilles Lipovetsky; Jean Serroy, La cultura-mundo. Respuesta a uma sociedade desorientada, Barcelona, Anagrama, Colección Argumentos, 2010, p.88)

19

tradição de um povo, sistema construtivo, valores afetivos...tem um grande poder

nas mãos. Como a arquitetura pode sugerir a criação e conservação da cultura de

uma população?

A busca apenas pelo entretenimento se tornou frequente pois, “não se

entediar e evitar o que perturba, preocupa e angustia passou a ser [...] o preceito de

toda uma geração. ” Analisando por essa perspectiva, o autor diz que “a cultura em

que vivemos [...] desencoraja [...] obras que exigem do leitor uma concentração

intelectual quase tão intensa quanto a que as possibilitou. “ E esse aprofundamento

indispensável “suscita a necessidade de distração, motor da civilização em que

vivemos. “ (LLOSA, 2013)

Um dos motivos que se pode considerar com um vetor determinante para a

transformação do conceito de valor, dado aos produtos culturais e de entretenimento

hoje, segundo Mario Vargas, é a publicidade. No lugar da crítica e da ciência, hoje, é

ela quem determina o que é ou não é bom. Quem determina o que vende ou não.

Mas os interesses econômicos que giram em torno dela fazem com que nem sempre

os interesses da população sejam atendidos, transformando a cultura em cultura de

massa, de baixa qualidade, para e que atinja um maior público. Assim, o público

reduz seu nível de criticidade, aceitando o que lhe foi apresentado sem

questionamento. (LLOSA, 2013)

A cultura erudita (compreendida como arte) sempre existiu em meio às

elites. Não as elites econômicas apenas, mas as elites de conhecimento. Todo

campo tem a sua, que aprofunda o conhecimento da sua área de produção cultural

em meio a todas as outras. Determina-se essa elite por quem consome e/ou produz

conhecimento no mais alto grau de qualidade. Os expoentes que se destacam na

multidão conseguem produzir em sínteses os mais complexos trabalhos, sendo

identificados por sua qualidade. Pode-se tomar como exemplo Grandes artistas das

elites da música como Mozart, Frank Sinatra, Michael Jackson e Chico Buarque ou

como representantes das elites da arquitetura Brunelleschi, Mies Van Der Rohe,

Gaudí, Vilanova Artigas e Oscar Niemeyer, cada um em seu tempo, eternizando seu

pensamento dentro de uma ciência. Mas como fazer com que esse conhecimento e

a busca por ele, chegue ao grande público?

A vivência direta, ainda pode ser considerado o meio mais fácil de atingir a

maior parte da população, pois ela provoca sensações, questionamentos e reflexões

20

da maneira mais sutil sem determinar o que se deve buscar, permitindo ao indivíduo

construir a sua própria linha de busca dentro do conhecimento.

Englobada pelos dois termos citados anteriormente, Cultura e

Entretenimento, se encontra a Arte. E como parte integrante do conceito de cultura,

a arte provoca em certos momentos, um êxtase, em que se pode conectar sua

versão sublimada em uma relação com o divino, emoções e sensações criadas com

a ferramenta do conhecimento. A arquitetura encontra-se nesse “olho de furacão”. A

partir do desenvolvimento de técnicas construtivas, diferentes culturas, agora como

no significado geral do dicionário – como “conjunto de conhecimentos, costumes e

crenças, padrões de comportamentos adquiridos e transmitidos socialmente que

caracterizam um grupo social” (MICHAELIS, 1998) – nos conta sobre os costumes

de uma sociedade em determinada época. Algumas transcendem essa barreira do

tempo. E quando isso acontece é mais um motivo para que ela seja preservada e

mantida em uso. Ela representa a história de um lugar, de uma sociedade.

A arquitetura pode ser considerada como uma das experiências mais

democráticas de arte, e consequentemente de cultura. A vivencia arquitetônica se

inicia na infância, com o sentimento de pertencimento ao que se chama de lar, e

está presente em muitos dos momentos de aprendizado e de vivencia que se tem

durante vida. Será mesmo que o mundo se encontra perdido em um “momentâneo

‘paraíso artificial’ ”? Será que o termo Cultura como conhecemos e tanto buscamos

vai realmente desaparecer? Pluralidade é o caminho, adaptação é o transporte e

curiosidade é o combustível. (LLOSA, 2013, p.183, grifo do autor)

A arquitetura quando considerada de importância histórico-cultural, como o

edifício Cine-Azenha, reúne três fatores principais que a determinam: ela é uma

memória afetiva, tem importância histórica e provoca sentimento de pertencimento.

A identificação de um indivíduo com o lugar em que habita, faz com que ela se sinta

parte de um grupo e pertencente a um lugar, uma história.

Segundo o questionário4 realizado (explicitado no item 5.4) com o objetivo

deste trabalho, o edifício em questão, que ainda é lembrado com saudosismo pelos

4 Questionário realizado para este trabalho com o objetivo de saber qual a relação dos epitacianos com o edifício do Cine-Azenha, escolhido como base para a realização deste trabalho. Questionário anônimo, aplicado pelas mídias sociais, no primeiro semestre de 2017, com a obtenção de 106 respostas.

21

que frequentaram o cinema, aguça a curiosidade dos que conhecem sua história

apesar de não o terem frequentado, sempre provocando um sentimento de que ele

não deveria estar inutilizado como está. Mesmo com uma pequena porcentagem da

amostra não sabendo de sua existência, a maioria acha que o edifício deveria voltar

a ter algum uso. Quando questionados sobre quais tipos de atividades se

interessariam em participar na hipótese de um espaço cultural como funcionamento

do edifício, podendo escolher mais de uma, a ordem das cinco primeiras escolhas

foram: teatro, dança, fotografia, cenografia e audiovisual. Com esses dados pode-se

constatar a instintiva escolha pelas atividades de vivência, ainda que logo em

seguida apareça o interesse pela tecnologia e pelos audiovisuais.

Llosa diz, citando George Steiner5, que “a vontade que torna possível a

grande arte e o pensamento profundo nasce de uma ‘aspiração à transcendência, é

uma aposta em transcender’. Esse é o aspecto religioso de toda cultura. ” Pode se

citar a arquitetura como exemplo: não a religiosa em si, mas a que causa emoção

em seu público, seja pela vivência do seu espaço, por similaridade a uma memória

afetiva ou por sentimento de pertencimento. A arquitetura é arte das mais

democráticas. Ela constrói o espaço, está na vista de todos e assim impacta cada

um de uma maneira diferente. (LLOSA, 2013, p.16). Como disse Carlos Ayres

Britto*:

[...] O primeiro degrau da espiritualidade é físico. No físico, no corpo, estão os instintos, os sentidos. [...] A arte por exemplo, me traz de volta a Deus. Arte é a plenificação do humano, é uma espécie de catapulta para uma outra esfera de vida. ‘A arte não salva o mundo’, disse Matilde Campilho, poeta portuguesa, ‘Mas salva o minuto’. Aquele minuto que você fisga o absoluto e engata na subida do êxtase uma recidiva azul. (BRITTO, Carlos Ayres. 2017).

Mas o que é arte? Arte é um produto que representa o pensamento em

excelência de alguém em seu momento histórico para o mundo, ou seja, qualquer

5 George Steiner, En el castillo de Barba Azul. Aproximación a un nuevo concepto de cultura, Barcelona: Editorial Gedisa, 2006, p.118) * Carlos Augusto Ayres de Freitas Britto - Jurista, advogado, magistrado, professor e poeta brasileiro. Ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (2003 – 2012).

22

pensamento que seja feito no mais alto grau da sua própria perfeição com uma

superioridade de qualidade e provoque emoção em seu público alvo deve ser

considerado uma arte. A arte é uma parte da cultura que pode ser absorvida como

reflexão ou como entretenimento, mas em qualquer das duas formas ela trará

conhecimento, seja pelo estudo ou pela vivencia. E entre as ciências (filosofia,

direito, literatura, ciência, religião) que somadas resultam no conceito de cultura que

tanto se busca, a arte, entre todas, é a que sempre esteve mais próxima do maior

público. Presente em todas as mídias audiovisuais que se tem hoje, se as ciências

fossem apresentadas com conteúdo de forma mais profunda e crítica e não só para

entretenimento da massa, também poderia ser um meio mais eficiente e provocador

de discussões para reflexão.

1.7.2 Trajetória do cinema no estado de São Paulo

Os cinemas começaram a surgir no Brasil no início do século XX. Por conta

disso os cineteatros são considerados muito importante na história das cidades. O

primeiro cinema de São Paulo foi o Bijou, de 1907. Em seguida surgiram o Rex,

Roxy, Imperial, Plaza e Odeon. Na década de vinte as salas já tinham se espalhado

pela cidade. Na década de 50, segundo historiador e jornalista Inimá Simões, as

salas foram perdendo sua assiduidade por conta do surgimento da televisão. A

maior tela do mundo de 250m², era pertencente ao Cine Republica em São Paulo.

Como exemplo salas de dois a cinco mil poltronas, em 1953, em São Paulo,

funcionavam três mil e duzentas salas. Hoje restam mil e trezentas segundo o

Ministério da Cultura. Após a decadência do cinema perante a televisão surgiram os

cinemas multiplex que configuram um grupo de oito a quatorze salas de exibição. A

primeira sala desse tipo de grupo surgiu em 1997. A partir disso surgiu o Cine

Mambembe: projetor de 16mm e tela de 1,80m por 2,40m, que viaja o pais fazendo

exibições ao ar livre levando a sétima arte mais para próximo do público. O que

restou disso foram resquícios das salas majestosas, história das cidades e bairros

que estão desaparecendo. Os que restam são as salas multiplex dos shoppings

centers ou pequenas salas de exibição sem acústica e sistemas de áudio

adequados. A maioria das cidades do interior ou perderam os seus cinemas para

casas comerciais ou então estão em situação de abandono como o Cine-Azenha

23

epitaciano. O que se pode fazer quanto a esses edifícios testemunhos de tantas

transformações e tantos momentos históricos que fazem parte do desenvolvimento e

acesso as grandes e importantes produções culturais ao longo dos tempos?

2.1.3 Restauro

Se analisada como a arte que é, e tudo o que ela significa, a arquitetura,

como uma imagem que representa, concretiza valores e conceitos abstratos da

história da sociedade ao seu redor. (ARNHEIM, 1969 apud AUMONT, 2012, p.78)

A relação da imagem (arquitetura) com o real ao seu redor, no caso do Cine-

Azenha, consegue demonstrar exatamente a situação da cidade, referente à

conservação, valorização e produção cultural. Seu edifício original, como se

encontra hoje, funciona como um espelho do cenário cultural atual, ou seja,

abandonado.

Um edifício como esse, considerado pela população como um patrimônio

histórico, cultural e afetivo, já deveria ter sido alvo das atenções do poder público

municipal. Deve-se considerar a “conservação como obrigação de toda uma

sociedade e de todo o governo civil. ” (BOITO, 1884). Como propriedade privada que

é, e à venda há alguns anos por dispender de gastos tributários aos proprietários

que não desejam fazer nenhum uso do imóvel, e não tem condições de fazer a

conservação de um bem deste porte no momento, como muitos edifícios de

importância histórica hoje, encontra-se à mingua, definhando ao longo do tempo,

mas ainda marcando sua presença na paisagem.

A escolha de fazer uma proposta de requalificação do cine-azenha como um

meio de conservação física e na memória da população epitaciana, demanda o uso

de diretrizes de conservação do patrimônio na concepção do projeto. Mas qual são

suas características que devem ser conservadas considerando o projeto como de

requalificação do edifício e readequação de usos? Ou melhor dizendo, quais são os

seus aspectos como fato urbano6 que “iluminam a cidade”? (ROSSI, p.24)

6 Fato urbano, como define o autor, Aldo Rossi, caracterizado por uma arquitetura própria, aspecto de uma realidade mais complexa, de uma estrutura particular, constitui o ponto de vista mais concreto com o qual pode se encarar o problema, ou seja, as características que fornecem análises imediatas da obra pelo expectador formam um fato urbano.

24

Segundo Aldo Rossi (2001, p.16), a “memória mais geral desse edifício

enquanto produto da coletividade e da relação que temos com a coletividade através

dele”, deve-se considerar a gama de informações sobre o fato urbano em questão:

sua individualidade, o locus, o desenho e a memória, como guias para essa

determinação. E como pontos mais representativos do edifício na memória coletiva

considera-se a fachada principal, marco associado visualmente com a igreja Matriz,

e os ambientes relacionados ao antigo uso do edifício como cinema, ou seja,

bilheteria, administração, bomboniere e sala de exibição.

Partindo para escolha do que deve ser mantido ou não, a legitimidade de

uma restauração, segundo Cesare Brandi (2008, p. 61), não deverá suprimir o

tempo tanto quanto a história, instancias nas quais a obra está inserida. Essa

condição é necessária como ação humana que é pontuando-se historicamente e

inserindo a obra no futuro através desse processo que é transmissivo. A

ilegitimidade da restauração como intervenção se consagra em algumas situações

citadas por Brandi. (p. 60) No período da criação do objeto no qual levaria a

produção de um novo; no período do processo artístico quando geraria uma

restauração fantasiosa; no restauro de repristinação gerando abolição do tempo

entre a conclusão da obra e o presente; na restauração arqueológica na qual gera

impossibilidade de integrações plausíveis.

Sendo um produto ”do fazer” humano a arte deve ser imune a determinado

gosto ou moda, priorizando seu valor histórico relativo aquela que é sua estética. A

historicidade e a estética devem conjuntamente fundamentar a razão da

conservação. Portanto uma intervenção só poderia encontrar sua justificativa nestas

duas características. (BRANDI, 2008)

Se a intervenção for um a remoção de uma adição, a qual na arquitetura

completa ou desenvolve, é necessário a análise e justificativa histórica e estética. Já

a conservação da adição por advir da ação humana está no seu direito. Se a

intervenção for um refazimento, que se caracteriza por uma intervenção similar ao

processo criativo no momento originário da obra, a ação deve proporcionar analogia

entre o velho e o novo de forma a minimizar o intervalo de tempo entre os dois

momentos. Mesmo com todos esses cuidados não chega a se constituir uma

restauração, mas uma ação humana legitima. (BRANDI, 2008)

Como deve acontecer essa restauração? Coincidindo as opiniões, segundo

Boito, existem alguns princípios que devem ser seguidos para se evidenciar que as

25

novas intervenções não são antigas: “diferença de estilo entre o velho e o novo;

diferença de materiais de construção; [...] epigrafe descritiva gravada sobre o

monumento [e] descrição e fotografia de diversos períodos das obras, expostas no

edifício ou em local próximo a ele” são algumas delas. (KUHL, 2008, p.26)

De acordo com a Carta de Veneza, o artigo primeiro determina como

monumento histórico obras que tenham adquirido significação cultural; do art. 5˚, “ A

conservação dos monumentos é sempre favorecida por sua destinação a uma

função útil à sociedade; tal destinação é, portanto, desejável, mas não pode nem

deve alterar a disposição ou a decoração dos edifícios. É somente dentro destes

limites que se deve conceber e se pode autorizar as modificações exigidas pela

evolução dos usos e costumes”. Art. 13˚, “Os acréscimos só poderão ser tolerados

na medida em que respeitarem todas as partes interessantes do edifício, seu

esquema tradicional, o equilíbrio de sua composição e suas relações com o meio

ambiente. ”

Apesar de o edifício do Cine-Azenha não ser um patrimônio tombado, deve

se levar em consideração alguns preceitos de conservação visando salvaguardar o

que se considera de importância histórica da paisagem e do imaginário coletivo.

26

2 INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE

Este capitulo expõe e analisa o histórico e a situação atual tanto da cidade

quanto do edifício escolhido para a requalificação, explanando sobre como o

panorama atual se formou.

2.1 PRESIDENTE EPITÁCIO

3.1.1 Localização e Geografia

Presidente Epitácio, estância turística, localiza-se as margens do rio Paraná,

no quilômetro 645 da rodovia Raposo Tavares, divisa fluvial entre os estados de São

Paulo e Mato Grosso do Sul, oeste paulista.

Com extensão territorial de 1.282km², tem como municípios limítrofes

Panorama, Caiuá, Marabá Paulista e Teodoro Sampaio. Dista, segundo o

Departamento de Estradas e Rodagem (DER-SP), 90km de Presidente Prudente e

645km da Capital do estado e, pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de

Transportes (DNIT), 368km de Campo Grande, 623km de Curitiba e 1.091km de

Belo Horizonte.

Como a cidade está localizada na região de planalto do estado e às margens

do rio Paraná, seu relevo se mostra uniforme. Sua vegetação é típica dos cerrados

brasileiros com alguma incidência de espécies tropicais.

Tem como marco zero o ponto em frente à Igreja de São Pedro (Matriz), de

onde se estabelece sua altitude de 292,1481 metros acima do nível do mar.

O município, de clima tropical úmido caracterizado por estação chuvosa no

verão e seca no inverno, tem maior frequência e volume de chuvas nos meses de

dezembro a fevereiro. Época em que a média de temperatura é mais alta, variando

de 24˚ a 36˚c, cooperam com a evaporação massiva do espelho de água do rio

Paraná, culminando em chuvas torrenciais durante o período.

27

3.1.2 Eventos que contribuíram para a formação da cidade e que também fundamentam a problemática deste trabalho

1907 – Fundada por Francisco Whitaker, ainda como Porto Tibiriçá.

1919 – A localidade passa a ser identificada como Porto Presidente Epitácio,

em homenagem ao presidente da época, Epitácio Pessoa.

1922 – Inaugurada a estação Porto Presidente Epitácio da Estrada de Ferro

Sorocabana no dia primeiro de maio.

1948 – Presidente Epitácio se torna município em 24 de dezembro, pela Lei

n˚ 233.

1958 – Inauguração do Cine Azenha

1960 – São iniciadas as obras da ponte Maurício Joppert da Silva, hoje

denominada Hélio Serejo, que liga o estado de São Paulo ao estado do Mato Grosso

do Sul.

1965 – A ponte é inaugurada e entregue em 21 de agosto

1980 – Iniciadas as obras da Usina Hidroelétrica e eclusa de Porto

Primavera (Sérgio Motta)

1990 – É elevada à condição de estancia turística em 20 de julho, pela Lei n˚

6.956

1998 – Em 7 de novembro, iniciou-se o enchimento do reservatório da usina

Sérgio Motta, em sua primeira etapa, elevando o nível das aguas do rio Paraná até a

cota 253 (253 metros acima do nível do mar), etapa concluída em 14 de dezembro.

2001 – Iniciou-se a segunda etapa de elevação do reservatório da usina

Sergio Motta para a cota 257. Etapa concluída com a instalação, na ocasião, de oito

unidades geradoras das 18 que tem capacidade.

28

Até o ano de 1906, as bacias do rio Feio, rio do Peixe, Santo Anastácio e baixo Paranapanema figuravam nos mapas de são Paulo como ‘zona desconhecida’ e desabitada. […] Dr. Francisco Tibiriçá, […] entrando em entendimento com os governos de São Paulo e Mato Grosso, obteve concessão para abrir uma Estrada de rodagem que, partindo de São Matheus, na comarca de Campos Novos do Paranapanema, estado de são Paulo, atravessando o rio Paraná, fosse ter a vacaria, no estado do mato grosso. (WHITAKER7, 1934 apud MORONI, 2011. p.41)

“A partir de 1º/01/1907 são feitas derrubadas, plantio de roças, pastagens,

além das construções necessárias. A estrada boiadeira, que ligava Porto Tibiriçá à

cidade Conceição do Monte Alegre, é concluída. ” Assim se fez a primeira conexão

com o lugarejo que viria a se tornar a Jóia Ribeirinha* que se conhece hoje.

(MORONI, p.57)

Fundada em 1907, por Francisco Whitaker, Presidente Epitácio carrega

consigo como uma de suas características mais importantes o fato de ser uma

cidade de forasteiros. O que isso significa dentro da problemática deste trabalho?

Significa que ao longo dos anos sua população oscila perante interesses

econômicos e de trabalho, e tentativas de sucesso por quem vem de fora, o que

desfavorece qualquer continuidade que a cena cultural local possa ter.

A cidade, como divisa de estado, durante muito tempo foi a principal e única

via de acesso ao centro-oeste e norte do país pelo estado de São Paulo. Como

ponto de travessia do rio Paraná, servia de apoio para a travessia de boiadas e

grãos. Pode-se citar alguns momentos históricos importantes como agentes de

transformação de grande importância para a cidade.

Em ordem cronológica da sua existência como centro urbano, pode-se dizer

que o primeiro grande movimento que trouxe grande fluxo de pessoas para a cidade,

até então chamada de Porto Tibiriçá, foi a vinda da Companhia Viação São Paulo –

Mato Grosso (CVSPMG, que mais tarde se transforma em Secretaria Naval da Bacia

do Prata). Em 1910, a companhia iniciou a construção de um estaleiro próprio, para

construção naval, o que acarretou na vinda de muitos trabalhadores técnicos,

operadores e marinheiros para a cidade. Segundo Moroni (2011, p.58),

descendentes de alemães, trouxeram a cultura e tecnologia europeia junto com a

7 Francisco Whitaker, Recordações, 1934. *Joia Ribeirinha, perífrase instituída pela Lei municipal n.497 de 1972.

29

CVSPMG, unindo-se aos brasileiros nordestinos, que trouxeram sua experiência

com a navegação no rio São Francisco, na época, quando tudo era fabricado in loco.

Nesta época, por conta do porto, o transporte fluvial de cargas e turistas

trouxe muitos interessados na beleza natural do lugar e na movimentação

econômica. Por conta disso, a cidade passou a ser chamada de Porto Presidente

Epitácio, em homenagem ao presidente da época, Epitácio Pessoa. Nome que

futuramente batizou o maior navio de transporte de pessoas para turismo da época

na região.

Moroni (2011, p.63) descreve o auge da cidade como Porto Tibiriçá:

Desde 1911, os tibiriçaenses dispunham de luz elétrica, rede de agua, telefone... [...] Na vila Tibiriçá existia toda uma estrutura voltada para a manutenção, abastecimento e estadia das embarcações. O movimento principal, que era o de embarque e desembarque de passageiros, carga e descarga das embarcações, logo passou a ser do Porto de Epitácio o qual tinha mais calado e estava localizado junto aos trilhos da estrada de ferro.

E o movimento inverso causado pela desativação da unidade do Serviço

Naval da Bacia do Prata:

Porto Tibiriçá, até 1954, viveu seu apogeu. Empregos bem remunerados, toda a comunidade e benefícios, bem como vida intensa e agitada. [...] A seguir a representação do Serviço Naval da Bacia do Prata (SNBP S.A.) em Presidente Epitácio foi desativada e seus funcionários colocados em disponibilidade remunerada ou cedidos e transferidos para Corumbá (MS). Isto resultou na progressiva desocupação e abandono do porto Tibiriçá. Em agosto de 1972 deixaram o local as últimas duas famílias [...] nessa ocasião Porto Tibiriçá deixou te ter moradores. (MORONI, 2011, p.74)

Outra grande movimentação foi em função da vinda da Estrada de Ferro

Sorocabana (EFS) em 1922. Com a chegada do trem, a possibilidade do transporte

principalmente de produção agrícola por essa via expressa que atravessa o estado

de São Paulo e, a possibilidade do transporte com a troca intermodal estrada de

ferro e fluvial. Segundo o autor, “Graças a importância do Porto Tibiriçá a EFS teve

seu traçado alterado para o atual. [...] originalmente a estrada de ferro sorocabana –

EFS tinha como destino as margens do rio Paranapanema...” (MORONI, p.65)

30

E com o Porto, as transações comerciais trouxeram nova movimentação

populacional. O crescimento local culmina na transformação da cidade de distrito de

Caiuá para município em 1948. Segundo Moroni (2011, p. 362), a cidade contava

com o segundo maior porto fluvial do Brasil na época, depois do de Corumbá (MS).

Com a construção da usina Sérgio Motta, ele foi desativado e como ação mitigatória

construiu-se dois cais de atracação: Cais do Rio Paraná e Cais do Ribeirão Caiuá

com larguras de 50 e 70 metros respectivamente. Obras iniciadas em 1998 e

entregues em 2008.

Fotografia 1 - Cais do Porto antigo, com a embarcação de pessoas no navio Epitácio Pessoa. Fonte: presidenteepitacio.com.br

Em 1960, com o início da obra para a construção da ponte Mauricio Joppert,

hoje, denominada Hélio Serejo, a vinda de um grande número de trabalhadores para

a cidade configura o quarto grande movimento de migração temporária. Porque

temporária? Porque todos esses grandes movimentos cessaram em algum

momento. A ponte ainda hoje funciona como grande atrativo para a cidade, não só

como meio de atravessar a fronteira determinada pelo rio, mas a travessia em si por

conta da sua extensão. Foi inaugurada em 1965, pelo presidente na época,

Juscelino Kubitscheck, grande incentivador do transporte rodoviário no Brasil.

31

Com seus 2.550 metros de extensão e 12,30 de largura, de concreto armado

chega a ter vãos de 100 metros no seu canal principal devido ao intenso fluxo de

navegação da época de sua construção. Foram utilizados 50 mil m³ de concreto em

sua construção. Com a o alagamento do rio por conta da construção da usina

hidroelétrica Sérgio Motta, foi necessário a construção de um prolongamento do seu

percurso com outra ponte aterrada, obra iniciada em 1993 e finalizada em 1998, com

proteção dos pilares. Hoje o percurso para a travessia do Rio Paraná pela ponte tem

cerca de treze quilômetros de extensão, margem a margem. (MORONI, p.361)

Sem nenhuma manutenção ou reforma estrutural desde sua inauguração, a

ponte passou por um processo de recuperação entre 2010 e 2013. Segundo Milton

Rocha Marinho, engenheiro chefe do DNIT Três Lagoas, esse processo prolongou

sua vida útil de 30 a 40 anos.

Fotografia 2 - Início da construção da ponte Mauricio Joppert entre 1961/62. Fonte: presidenteepitacio.com.br

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Fotografia 3 - Construção da ponte, lado do estado de São Paulo, 1963/64. Fonte: presidenteepitacio.com.br

Fotografia 4 - Ponte Mauricio Joppert antes do lago. Fonte: presidenteepitacio.com.br

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Fotografia 5 - Ponte Maurício Joppert depois do lago. Fonte: presidenteepitacio.com.br

Outra movimentação de grande importância foi a consolidação da cidade

como cidade turística nas décadas de 80 e 90. Aproveitando-se das belas paisagens

naturais, dos passeios de barco no lago e do aproveitamento dos recursos naturais

do município, o prefeito da gestão lançou iniciativas para a realização do concurso

Miss Turismo e do Festival Nacional de Pesca. O que colocou a cidade em pauta na

região, dentro do estado, assim como no resto do país também.

O Festival Nacional de Pesca surgiu em 1985, com o intuito de arrebanhar e

aglomerar mais turistas na cidade. Realizado sempre nos meses de setembro e

outubro (época fora do defeso; de pesca), com a partida dos barcos e botes do

parque Figueiral. “O rio Paraná, piscoso até então, era local de capturar-se peixes

que chegavam a pesar 150 quilos. ” (SÁTIRO, Milton. A fronteira – 1994, p. 6).

Com prêmios como materiais para a pesca, barcos e motores, o incentivo

para a competição se tornava mais atrativa. Com a construção da usina Sérgio

Motta, o rio deixou de ter aguas correntes, fazendo com que muitas das espécies de

peixes existentes naquele trecho deixassem de procriar no local, como o Dourado.

Fato que juntamente com a pesca esportiva cooperou para o desaparecimento do

festival como era até então. “O rio Paraná, após o enchimento até a cota 257,

tornou-se um rio muito perigoso [...] com ondas de mais de um metro e meio de

34

altura” (CORREIO DO PORTO – Capitão Tenente Danilo Gustavo Vieira Martins da

Marinha de Presidente Epitácio apud MORONI, p.111)

O Miss Turismo realizado na cidade desde 1984, passou a ser realizado

junto com o Festival de Pesca passando então a ser regional, como mais um atrativo

turístico para a cidade.

Essas festas eram todas realizadas no parque Figueiral. Parque natural, que

como o próprio nome diz, repleto de figueiras, à beira do rio Paraná. Com uma área

de aproximadamente 60 mil m², o parque Figueiral sempre foi o maior ponto de lazer

de epitacianos e moradores das cidades vizinhas. Por ser praticamente dentro da

cidade, apesar de ser localizado na orla, ele servia como um ponto de encontro

agradável e de fácil acesso. Suas figueiras e sua área gramada faziam estar para os

visitantes.

Figura 6 - Figueiral antigo, década de 60. Fonte: presidenteepitacio.com.br

35

Fotografia 6 - Figueiral antigo, década de 70/80. Fonte: Blog Epitácio na Memória

[...] Festas, shows e competições ocorriam tanto no 1˚ de maio, como nos dias de festivais. Nos dias do festival nacional de pesca e no dia do Miss Turismo regional, as barracas das entidades que vendiam comidas típicas quase não venciam atender o público. A frequência era grande, principalmente nos dias que haviam shows com artistas nacionais como Zezé de Camargo e Luciano e o cantor jamaicano Jimmy Cliff em 1995, um dos astros internacionais da ‘Reggae music’ [...] Na década de 70, quando as águas do rio Paraná baixavam, dava-se para ir do figueiral a ilha do pardo a pé. (MORONI, 2011, p. 363).

Com o alagamento do rio Paraná o parque foi completamente inundado. Foi

escolhida uma nova área para um “novo Figueiral”. Localizada a aproximadamente 5

quilômetros da cidade na estrada vicinal que vai ao distrito do Campinal – o que

dificultou o acesso para a maior parte da população – uma área de 290 mil m²

recebeu infraestrutura como palco, quiosques para aluguel para lanchonetes,

banheiros, área de camping, uma praia e ancoradouro. Projetado, construído e

entregue em 2000 pela CESP. Em área de grande incidência de temporais, pois é

um local descampado, sem urbanização sofre diretamente com a ação do vento

canalizado pelo rio.

Percebe-se que essa mudança drástica de localização e formato do parque

novo, por mais que tenha capacidade para receber uma quantidade maior de

visitantes, e hoje receba uma grande quantidade de turistas, dificultou o acesso da

população residente do centro urbano e assim modificou a frequência e o tipo de

fluxo e de atividades do parque ao longo dos anos.

36

Fotografia 7 - Figueiral novo. Fonte: Blog Epidemicos8

Outro evento tradicional da cidade, que ainda hoje é realizado é a

comemoração de Nossa Senhora dos Navegantes. Muito benquista pelos

epitacianos, por marinheiros e navegadores, tem como seu dia de celebração 2 de

fevereiro. Como fevereiro é considerado período de cheia do rio Paraná e do rio

Pardo, desde 1951 a festa é realizada em 15 de agosto.

O carnaval também sempre foi uma festa benquista pelos epitacianos,

inicialmente de rua realizado no Tibiriçá e depois em clubes como a Epitaciana e a

Filarmônica. Em 1962, foi quando surgiu a primeira escola de samba chamada de

Unidos do Tibiriçá. A partir de 1982, quando a prefeitura decidiu que seriam

realizados os desfiles na avenida Presidente Vargas, começaram a surgir blocos

carnavalescos e outras escolas de samba. O “sambódromo” tinha a extensão de

cinco quadras (aprox. 500m), da rua Paraná até a rua Porto Alegre, chegando assim

na quadra da igreja Matriz, marco zero da cidade. Na década de 90 o carnaval

deixou de ser realizado na avenida principal e passou a ser realizado na avenida

Juliano Ferraz Lima, na orla da cidade margeando o rio Paraná. Nos anos 2000,

com uma pista de rolamento mais larga, passou a ter uma área maior, possibilitando

maior concentração de pessoas, arquibancadas, carros alegóricos de maior porte.

Hoje o carnaval de Epitácio atrai milhares de turistas nos dias de feriado prolongado,

movimentando a rede hoteleira, as pousadas, o comércio e o turismo de lazer da

Estância.

8 Disponível em: <http://epidemicos.blogspot.com.br> Acesso em: mai.2017

37

Fotografia 8 - Carnaval 2012. Fonte: Blog Toninho Moré9

Fotografia 9 - Carnaval 2012. Fonte: epitacio.com.br

O Epifolia é um carnaval fora de época que surgiu em 2006, mas, desde

2012 é realizado no réveillon junto com a queima de fogos antes realizada no meio

do rio, em chatas, assim como em cidades litorâneas. Hoje a cidade recebe milhares

de pessoas na véspera do Ano Novo juntamente com os turistas do período de

férias e moradores de cidades vizinhas e da região para ver a queima de fogos.

Como se pode perceber, as festas de maior público hoje, são diretas e unicamente

ligadas ao entretenimento.

9 Disponível em: <http://toninhomore.blogspot.com.br/2012/02/carnaval-em-epitacio.html> Acesso em maio. 2017.

38

Fotografia 10 - Epifolia no Réveillon na orla fluvial de Presidente Epitácio. Fonte: Tribo Vibe10

Fotografia 11 - Epifolia no Réveillon na orla de Presidente Epitácio. Fonte: Tribo Vibe

A última grande transformação do município ocorreu de 1998 a 2001, com o

enchimento do grande lago que se formou no rio Paraná na região de Presidente

Epitácio, referente a Usina Hidroelétrica Sérgio Motta, de Porto Primavera. Com a

formação do lago a cidade se transformou fisicamente e economicamente. O

Figueiral antigo ficou abaixo d’água junto com as ilhas antes existentes. Pela

transformação do rio em lago, os peixes de agua corrente como o dourado deixaram

10 Disponível em: <http://www.tribovibe.com.br> Acesso em: mai.2017

39

de se reproduzir na região. A mudança das águas provocou mudanças no transporte

fluvial. De “águas tranquilas, quando não encrespada pelos ventos e temporais”.

(BRUNO, anos 40 apud MORONI p.92). De águas calmas, hoje elas chegam a ter

ondas de um metro e meio em dias de temporal.

Todos esses eventos cooperaram com a situação atual em que a cidade se

encontra. Um lugar de população estável, mas historicamente rotativa não

cooperando com nenhuma permanência e continuidade de produção cultural. O

desenvolvimento da produção cultural é dependente de agentes incentivadores, ou

seja, pessoas que tenham aprofundamento em algum assunto e tenham

conhecimento (técnica e teoria) para passar adiante, incitando a busca por novas

facetas da produção cultural em questão. Quando se tem um movimento cultural

estabelecido, mesmo quando algum incentivador se desliga do movimento, ele já

produziu novos incentivadores que darão continuidade aos trabalhos. Deve-se haver

uma permanência dos agentes ligados à produção. O mesmo sentimento de

pertencimento ligado a arquitetura, a um grupo, ou a um lugar, deve existir também

entre os integrantes de um grupo que produz e consome cultura. Esse sentimento

faz com que a busca pelo aprofundamento no tema, seja ele qual for, seja constante,

e isso eleva o nível de criticidade e consequentemente de qualidade da produção e

do consumo artístico e cultural. Na tentativa do cultivo de cultura dentro da

sociedade permanente epitaciana, trazer essa movimentação para o centro urbano,

através da arquitetura, por um edifício de importância histórica na formação da

cidade – como um ponto que irradia incentivo – só tem a agregar valor à produção

de cultura local.

3.1.3 Perfil construtivo do município

A cidade se desenvolveu a partir da organização de quinze ruas paralelas,

que conforme o crescimento da cidade, foram prolongadas, formando uma malha

urbana completamente ortogonal. Suas vias principais se configuram no sentido

rodovia-ferrovia, paralelas a Av. Presidente Vargas, aproveitando o leve declive do

relevo.

40

Inicialmente as casas e os estabelecimentos eram construídos apenas com

madeira, pois o material era abundante na região. Só algum tempo depois as casas

passaram a ser de alvenaria. Segundo Dióres Santos Abreu (1972 apud MORONI,

2011, p.306) a inspetoria sanitária do município de presidente prudente apontava

aproximadamente 95% (do total de 93 unidades) das construções da década como

sendo de madeira, foco da indústria local. Em 1972 já haviam 4.300 prédios

Mapa 1 - Modificação da malha urbana da cidade ao longo do seu crescimento. Fonte: MORONI, 2008, p. 128.

41

urbanos, sendo 16 deles públicos. Em 1984, apenas seis anos depois, esse total

passou para 7.091 imóveis.

Segundo o Departamento de Cadastro de imóveis da prefeitura tem-se os

valores para 2009:

Tabela 1 - Tipos construtivos utilizados no município

Tipo construtivo 1930 1933 2009

Madeira (geral) 89 91 -

Tijolos (geral) 4 16 -

Residencial de madeira - - 981

Residencial de alvenaria - - 10.938

Residencial misto - - 696

Comercial de madeira - - 13

Comercial de alvenaria - - 1.684

Comercial misto - - 14

Industrial de madeira - - 22

Industrial de alvenaria - - 211

Industrial misto - - 3

Público de alvenaria - - 68

Outros de madeira - - 4

Outros de alvenaria - - 134

Outros misto - - 4

TOTAL 93 107 14.772

Fonte: Inspetoria Sanitária de Presidente Prudente (1972) e Departamento de Cadastro da Prefeitura de Presidente Epitácio

Na imagem abaixo, pode-se visualizar a hierarquia da Av. Presidente Vargas

como determinante para o desenvolvimento da cidade. A avenida que se enxerga à

Fotografia 12 - Rua São Paulo, quadra 2, em 2011. Fonte: MORONI, 2011, p. 584.

42

direta da foto, que se destaca quase que como uma linha branca, abrigando quase

todo o comércio da cidade. Predominada por edifícios assobradados de uso misto,

comercial e residencial.

Fotografia 13 - Vista aérea da cidade, sentido rodovia-ferrovia.

Pode-se constatar o nível de desenvolvimento urbano pelos dados da tabela

abaixo:

Tabela 2 - Território e Ambiente

Dado Valor

Arborização das vias públicas (2010) 94,1%

Esgotamento sanitário adequado (2010) 84,7%

Urbanização de vias públicas (bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio) (2010) 7,3%

Fonte: http://www.cidades.ibge.gov.br/v4/brasil/sp/presidente-epitacio/panorama – IBGE

3.1.2 Circuito cultural: edifícios históricos do entorno

Como edifícios históricos e iniciativas que cooperam com o movimento

cultural epitaciano, podemos citar alguns pontos importantes da atualidade

43

epitaciana que se localizam muito próximos ao edifício do cine azenha escolhido

como base para essa proposta de projeto.

CONSERVATÓRIO MUSICAL

O Conservatório Musical Municipal Joaquim de Oliveira pode ser

considerado um dos maiores incentivos a cultura ainda em funcionamento na

cidade. Iniciou suas atividades em 1990 Herdou seu nome em homenagem ao

policial militar e instrutor da Guarda Mirim Joaquim de Oliveira, que tinha a música, o

canto e a composição de serestas como hobby.

Escola para crianças e adultos que queiram aprender e conviver com música

que em certas ocasiões fazem apresentações para a comunidade externa. Suas

instalações não têm espaço suficiente para receber plateias, então seus concertos

são realizados sempre em outros locais. Como exemplo abaixo vê-se imagens de

uma apresentação realizada no edifício do Cine-Azenha ainda em condições de

funcionamento na década de 90:

Fotografia 14 - Apresentação do Coral do Conservatório no Cine-Azenha, prolongamento de palco improvisado. Fonte: Secretaria de Cultura.

44

IGREJA MATRIZ DE SÃO PEDRO

Como marco zero e como uma das primeiras construções em alvenaria da

cidade têm-se a igreja Matriz. Inaugurada em 1956 e instituída Igreja de São Pedro,

padroeiro da cidade, foi precedida por uma capela construída em 1932, a primeira

da cidade. Permaneceu em funcionamento durante todo o tempo de construção da

matriz em seu entorno. Foi demolida apenas pouco antes da inauguração da nova

igreja. Localizada no centro da quadra, a Matriz recebe seus fiéis e visitantes por

caminhos entre os canteiros da praça até suas escadarias de acesso – que

demonstram claramente o leve declive do terreno entre a rua Porto Alegre (da

fachada principal e de fronte ao cinema) e a rua Florianópolis. Como se vê nas

imagens a seguir:

Fotografia 15 - Platéia na apresentação do Coral do Conservatório realizada no Cine-Azenha. Fonte: Secretaria de Cultura de Presidente Epitácio-SP

43

Fotografia 16 - Primeira Capela. Fonte: MORONI, 2011, p. 345.

Fotografia 17 - Matriz em construção. Fonte: Paróquia de São Pedro

Fotografia 18 - Vista aérea da Matriz. Autor: André Daffara

Fotografia 19 - Matriz vista da Avenida Presidente Vargas, 2009. Autor: Evaldo

44

ASSOCIAÇÃO ATLÉTICA EPITACIANA

Esse edifício de inspiração modernista, localizado a uma quadra do

Cine-Azenha, de um clube de associados, hoje o prédio é alugado para

terceiros os quais promovem eventos semanais (bailes), cobrando ingressos.

Fotografia 20 - Associação Atlética Epitaciana nos anos 50. Fonte: Epitácio na memória.

Fotografia 21 - Epitaciana, agosto de 2015. Fonte: Acervo pessoal.

45

ESTAÇÃO FERROVIÁRIA da SOROCABANA

Edifício que conta parte da história da cidade,

no extremo da linha, em terras pertencentes ao Estado, acha-se a estação ‘Presidente Epitácio’. A julgar pelo que sucedeu em outras estações do mesmo trecho – como Palmital, Pau D’alho, Candido Mota, Assis, Presidente Prudente, Santo Anastácio e outras que hoje são florescentes cidades – em breve, e com mais forte razão, por estar em frente a outro estado, uma cidade rodeará essa estação. Para que não seja ela a evolução de uma aldeia levantada a esmo, dificultando as futuras edilidades com remodelações, foi organizado um projeto e apresentado ao Governo do Estado, satisfazendo a requisitos para o bem estar de sua futura população. Apesar da proximidade de Presidente Epitácio do rio Paraná, somos de opinião que, regularizando o regime do córrego Caiuá, não será essa localidade assolada pela malária, por achar-se em um plano de nível muito superior às águas do grande rio. (Relatório da Sorocabana para 192211)

O fluxo de trens de passageiros cessou em janeiro de 1999, mas a

estação ainda permaneceu em atividade por certo tempo recebendo

mercadorias vindas do Mato Grosso do Sul, como grãos e farelo que

embarcavam no local. O trânsito ferroviário já havia sessado por completo em

2003. Abaixo pode-se ver o antes e o depois da estação:

11 Disponível em: <http://www.estacoesferroviarias.com.br/p/presepitacio.htm> Acesso em: maio/2017

Fotografia 22 - Estação em abril de 1988. Fonte: Autor: Elly Jr.

46

Fotografia 23 - Estação em abandono. Fonte: Blog do Giesbrecht.12 Autor: Paulo Arquimedes da Silva Prata.

Desde seu abandono pela empresa ALL (América Latina Logística)

surgiram várias propostas para a restauração e uso deste prédio, mas até o

momento nenhuma atitude para autorização de liberação aconteceu.

3.1.3 Cidade Hoje e seus Potenciais

Além da procura pela beleza natural, pelo turismo de feriados e pelo

turismo da pesca, o que o turista vem procurando muito por lá é a aventura dos

esportes radicais fluviais ou não.

O aeroporto que antes funcionava para aviões de pequeno porte, hoje

funciona como um dos pontos de paraquedismo do estado, devido à vista do

lago e a falta de relevo no seu entorno. O último evento ocorrido, ainda em

março de 2017, em 3 dias de evento teve mais de 500 saltos, segundo a

12 Disponível em: <http://blogdogiesbrecht.blogspot.com.br/2015/08/presidente-epitacio-o-simbolo-de-uma.html> Acesso em: mai. 2017.

47

prefeita Cássia Furlan13... “eles [os paraquedistas] adoram [Epitácio], porque

saem lá de longe para vir aqui? Saltar aqui? Porque tem esse visual [do lago]”.

Desde a década de 80 vem-se descobrindo vários sítios arqueológicos

no município. Até o ano de 2010 foram encontrados 32. O primeiro sitio foi

descoberto em 1982, quando funcionários da CESP demarcavam terras para a

construção de agrovilas. Uma aldeia de aproximadamente 24.200m² com

peças datadas entre 900 e mil anos. O segundo foi encontrado em 1986,

quando alunos da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) de Presidente

Prudente faziam trabalho de campo com o professor José Martin Suares –

foram encontrados artefatos do período da Pedra Lascada. Desde as primeiras

descobertas o núcleo de pesquisa da Universidade vem se dedicando a

datação de todos esses artefatos e esqueletos. Há um projeto de um museu

em um desses sítios que permita a visitação e a preservação dos mesmos para

que a população possa tomar conhecimento. (MORONI). Segundo a prefeita o

projeto está em andamento:

Estou atrás da UNESP, da Dra. Ruth que é arqueóloga que achou e que está dando o laudo para que o IPHAN venha…a UNESP já quer fazer um polo avançado aqui de arqueologia, de geologia...então assim, tem que aproveitar. (FURLAN, 2017)

Como transporte fluvial hoje além dos barcos e botes de pesca, existe

a escuna Pérola Negra, barco de 14m de comprimento por 4,30 de largura que

faz passeio no lago, com trajetos variados, podendo ser alugada para observar

a vida silvestre, mergulhos e passeios em família.

Há uma expectativa de que o porto de carga e de pessoas seja

reativados junto com a ferrovia para o transporte de grãos.

13 Cássia Furlan, prefeita de Presidente Epitácio (2017-2020)

48

2.2 CINE-AZENHA

2.2.1 Porque a Escolha desde Edifício

Fotografia 24 - Fachada principal do Cine-Azenha, abril/2017. Fonte: Acervo pessoal.

A escolha deste edifício dentre outros possíveis patrimônios histórico-

culturais da cidade se dá pela convergência de muitos fatores. Considerado um

patrimônio histórico-cultural-afetivo pela população, e de caráter historicamente

cultural e de entretenimento, em situação de abandono a mais de quinze anos,

mas ainda extremamente presente na paisagem local, representa não só os

hábitos de uma geração, mas de uma época de muito significado no

desenvolvimento de Epitácio como cidade.

O prédio, por conta de seu tamanho, seu valor afetivo para a

população, seu valor financeiro como uma construção ainda em bom estado e

seu valor histórico ligado à formação cultural da cidade fazem dele uma

imagem muito importante na paisagem local.

49

Figura 1 - Vista aérea do cinema (em vermelho) em relação à praça da matriz. Fonte: Google Maps. Acesso em: 27 mar. 2017

Localizado em uma área central da cidade, próximo a outros edifícios

importantes no funcionamento do município, e em frente a Matriz de São

Pedro, o cinema partilha de um bem precioso à convivência, que outrora já foi

melhor aproveitado: a praça da igreja. É considerada um marco por sua

singularidade perante os outros edifícios e pelo espaço visual, e de

permanência que ela proporciona ao seu entorno. Segundo Kevin Lynch14,

marcos, “são pontos de referência externos ao observador [...] cuja escala pode

ser variável. “ O autor diz que na sua “singularidade, algum aspecto que seja

único ou memorável no contexto [...] o contraste entre figura e o plano de fundo

parece ser o fator principal. ” A igreja e a praça, por terem uma configuração

espacial e uma escala maior que todo o seu entorno, abrem os pontos visuais

do local de uma forma que beneficia o edifício do cinema. (LYNCH, 2010, p.88)

14 Kevin Lynch, A imagem da cidade, São Paulo: Martins Fontes, 2010. Todas as citações são desta edição.

50

Sua arquitetura, ainda com uma estrutura de qualidade, mesmo com

seus quase sessenta anos de existência, pode ser considerada um marco de

menor escala se associado à Matriz. Segundo Lynch, “ a sequência facilita o

reconhecimento e a memorização. ” (p. 92) O autor diz que as pessoas que

observam o lugar onde vivem tem capacidade de armazenar sequencias

conhecidas de imagens pontuais. Pensando nisso como uma associação visual

entre os dois marcos, a igreja e o cinema são as arquiteturas de mais idade,

importância histórica e de maior reconhecimento na memória dos epitacianos

no lugar em que se localizam. Sua praça extensa, como um recuo espacial

permeável visualmente, apesar de todo o paisagismo, permite que o cinema

esteja no alvo de visuais das esquinas a pelo menos uma quadra de distância,

considerando o declive da rua Fortaleza que passa em sua lateral, o que

coopera para que seja visível à distância. Como se pode ver nas imagens

abaixo:

Fotografia 25 - Vista do cinema por quem desce a Rua Fortaleza, abril/2017. Fonte: Acervo pessoal.

51

Fotografia 26 - Vista do cinema por quem vem pela rua Porto Alegre, esquina da praça da Matriz. Abril/2017. Fonte: Acervo pessoal.

Fotografia 27 - Vista do cinema por quem sobe a Rua Fortaleza, abril/2017. Fonte: Acervo pessoal.

52

A praça, que sempre funcionou como um grande foyer nos tempos

áureos do funcionamento do cinema, sempre serviu de ponto de encontro para

a juventude antes e depois das sessões cinematográficas, onde a vida coletiva

acontecia, movimento também ligado com o término das missas.

Fotografia 28 - Cine-Azenha na saída da sessão, 1959. Fonte: Instituto Federal de São Paulo

A falta de um auditório multiuso com uma maior capacidade, como o

próprio nome já diz, para a realização de um tipo variado de atividades como

apresentações de música, dança e teatro de produção local, exibições

cinematográficas para grande público, local para palestra, eventos municipais,

formaturas escolares, e com estrutura básica suficiente para receber produções

externas é um dos fatores principais que ditam essa escolha. O pensamento da

atual prefeita Cássia Furlan ilustra essa necessidade: “Mas se a gente tivesse

um auditório para pelo menos umas seiscentas pessoas, dá para você trazer

eventos regionais…às vezes você acaba indo fazer em Prudente [Presidente

Prudente, polo regional]…aqui falta isso. ”

Com uma sala de exibição com capacidade para mil e duzentos

espectadores, passível de modificações e adaptações, e áreas que podem ser

remodeladas e adaptadas aos dias de hoje ao ganhar um uso completamente

novo, junto com a possibilidade de anexar o terreno vizinho pertencente ao

cinema, demonstram um grande potencial.

53

Com um genius loci15 artístico adormecido, unir o útil ao necessário

acaba por ser mais assertivo. No questionário aplicado com objetivo de

entender a relação da população com o edifício e de angariar vontades e

sugestões de uso para o local, como será mostrado mais adiante, pode-se

perceber que com a escolha do cinema como base de ação já se tem uma

estrutura propícia a atender as necessidades e desejo dos epitacianos.

2.2.2 Edifício original

Com nenhuma tipologia arquitetônica especifica, o edifício foi

construído “com as necessidades e com as aspirações de beleza” da época,

segundo os conhecimentos adquiridos por observação das arquiteturas

existentes, por um profissional sem nenhuma educação formal especifica. De

tijolos maciços, pisos de madeira e forro na sala de exibição, sua arquitetura se

configura de uma forma simples, adaptada às exigências do tipo de uso na

época e aproveitando a declividade do terreno. (ROSSI, 2001)

Edifício de esquina, de configuração ortogonal, utiliza de todo o seu

terreno como implantação, a não ser por um corredor lateral para as saídas de

emergência do lado interno da quadra, a céu aberto, entre a fachada principal e

o terreno vizinho. Em sua configuração original pode-se separar o prédio pelos

diferentes tipos de usos em três blocos: o cinema e suas áreas de apoio

(bilheteria, sala da administração, bomboniere, banheiros, depósito, sala de

exibição, sala de projeção e palco para a tela de exibição) como bloco de maior

volume, as salas de aluguel (no térreo, salas comerciais, no piso superior,

15 Genius Loci, termo de origem termo latino que se refere ao "espírito do lugar", nullus locus sine Genio (nenhum lugar é sem um Gênio). Uma expressão adotada pela teoria da arquitetura para definir uma abordagem fenomenológica do ambiente e da interação entre lugar e identidade. A expressão diz respeito, portanto, ao conjunto de características socioculturais, arquitetônicas, de linguagem, de hábitos, que caracterizam um lugar, um ambiente, uma cidade. Indica o "caráter" do lugar. O termo é utilizado por Aldo Rossi quando se refere à preocupação com o local e o entorno do terreno das suas futuras construções. NORBERG-SCHULZ, Christian. Genius loci. Towards a phenomenology of architecture. Londres, Academy Editions, 1980. ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade, Marsílio, Pádua 1966, n. e. Quodlibet, Itália 2011.

54

quartos de aluguel com banheiro coletivo, todas com acessos independentes

ao cinema) e o bar (com acesso independente do cinema, direto na calçada)

que mesmo sendo dois blocos separados, agregam três usos independentes

do funcionamento do cinema.

O acesso à sala de exibição passa pela bilheteria, que conta com dois

guichês e sala de administração, e depois pela bomboniere, intermediária entre

os dois ambientes. A sala do cinema conta com quatro saídas de emergência

para o corredor na lateral direita, e três saídas para a lateral esquerda, calçada

da rua. Banheiros localizados dos dois lados do palco e um depósito do lado

esquerdo.

O acesso ao balcão se dá por uma escada na bilheteria, que ao chegar

no segundo pavimento se depara num pequeno hall com três caminhos a

seguir: à esquerda, uma porta de acesso ao corredor dos quartos de aluguel, à

frente, o balcão, que dá acesso a sala de projeção e a um banheiro feminino, e

à direita acesso ao banheiro masculino.

Os quartos de aluguel têm como principal acesso uma escada de

acesso direto a calçada da rua. Sua saída se dá entre as portas das salas

comerciais do térreo e as saídas da sala do cinema.

Figura 2 - Levantamento do cinema - planta pavimento térreo Fonte: Levantamento desenvolvido pela autora

55

Figura 3 - Levantamento do cinema - planta pavimento superior Fonte: Levantamento desenvolvido pela autora.

ÁREA AUDITÓRIO

PLATEIA

PALCO

BALCÃO

ÁREA DE APOIO SANITÁRIOS DEPÓSITO

ÁREA TÉCNICA

EQUIPAMENTOS

ÁREA DE CIRCULAÇÃO VERTICAL HORIZONTAL

ÁREAS ESPECIAIS BAR BOMBONIERE BILHETERIA ADMINISTRAÇÃO SALAS COMERCIAIS QUARTOS PARA ALUGUEL

60

Figura 4 - Setorização e acessos

Figura 5 – Levantamento do cinema - corte longitudinal.

61

Figura 6 – Levantamento do cinema - elevação fachada frontal

2.2.2.1 Inauguração

O cinema foi inaugurado no ano de 1948, dois anos após o termino da

construção da igreja matriz. Desde então os dois edifícios vinham fazendo uma

parceria, dando vida ao lugar. Abaixo o relato da ex-bilheteira16 do cinema, sobre

seu funcionamento como cinema e como palco para outras atividades:

Eu era vizinha do cinema e trabalhei como bilheteira dos meus 12 aos 17 anos. Não me lembro da construção, mas segundo o Wilson Azenha o nome do construtor era José Maria. [...] os filmes vinham de trem pela sorocabana e um funcionário descia com um carrinho de pedreiro para buscar na estação. Funcionava de segunda a domingo, sendo que na segunda-feira era reprise de domingo. A maior bilheteria era com o filme do Mazzaropi e nesse domingo havia duas sessões. Na sala anterior a sala de projeção havia um sofá e a exposição de cartazes dos próximos filmes. A entrada era pela porta lateral onde ficavam as bilheterias e a porta de entrada onde o porteiro recolhia os bilhetes e colocava numa urna. Aos domingos à tarde após a matinê havia concurso de música para as crianças no palco, que servia também para apresentação de peças teatrais que vinham de outras cidades e era usado também para formaturas (entrega de certificados). (LACY, 2017)

16 Sonia Lacy, professora e assistente de direção aposentada, ex-bilheteira do cinema. Todas as citações são retiradas de uma entrevista concedida à autora deste trabalho, em 23/05/2017. Entrevista em anexo.

62

Com esse relato percebe-se que o local tem em seu genius loci uma

vocação bem peculiar. Arte é o que faz mover a energia local. Junto com genius loci

vizinho, também de caráter agregador e reflexivo da praça e da Igreja de São Pedro,

se compreende ambos por complementares.

Ao lado direito do prédio havia salões que eram alugados para advogados, costureiras...havia também portas de saída e um corredor descoberto onde as pessoas fumavam enquanto viam o filme. Havia um banheiro ao lado do palco. O cinema era o ponto de encontro da juventude, que após o filme passeavam e conversavam na praça da matriz. (LACY, 2017)

Percebe-se que o movimento de um permeia o do outro. Como point dos

jovens o cinema tinha a praça como uma área comum de estar e transição.

O cinema era administrado por um gerente: Chafic (não lembro o primeiro nome) com quem eu acertava o caixa e no dia de muito movimento ele abria o outro guichê para ajudar. Os aluguéis dos quartos e salões pertenciam a família azenha, proprietária do prédio até hoje, embora abandonado. Na sala de entrada havia uma bomboniere de propriedade da Neusa Moleiro. (LACY, 2017)

2.2.2.2 Cinema Paradiso

Em 1994, a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo propôs para todas

as cidades que possuíam cinemas antigos e desativados o projeto de cultura

Cinema Paradiso.

O projeto (Decreto17 estadual n˚ 38.569, de 27 de abril de 1994) consistia na

concessão de equipamentos de exibição cinematográficas disponibilizados pela

Secretaria de Cultura do Estado, com o objetivo de fomentar o acesso à cultura

cinematográfica em cidades do interior que não dispunham de cinema em

funcionamento. Segundo o Artigo 3.º, o município deveria ser “dotado de cinema

com infraestrutura adequada para a perfeita realização das sessões”. E ficaria a seu

17 Decreto n˚ 38.569, de 27 de abril de 1994, em anexo deste trabalho.

63

encargo a manutenção e conservação do aparelho cedido, através de assistência

técnica especializada durante os cinco anos de convênio.

Segundo Dalmo Duque do Santos18, um dos envolvidos no projeto, o

departamento de cultura implantou o projeto por meio da fundação do Cine Clube de

Presidente Epitácio, instituição que deveria servir como mediadora entre o Estado e

a Prefeitura para captação de recursos para reativar o Cine Azenha. Muitas pessoas

foram envolvidas juntamente com a Distribuidora Antártica (Guaraná Antártica era o

patrocinador oficial).

Visto como uma forma de valorização do imóvel pelos proprietários, o prédio

foi cedido ao poder público municipal para a realização do projeto Cinema Paradiso.

Quando o projeto foi extinto, ainda continuou sob os cuidados do poder público que

utilizava algumas das salas em projetos sociais. No momento o prédio encontra-se

sob a guarda dos proprietários, à venda.

As exibições foram iniciadas pelo filme Cinema Paradiso e depois foram pautadas pela contratação de filmes do circuito comercial. Funcionava apenas nos fins de semana e, chegou a lotar duas sessões contínuas. Esse projeto funcionou pouco mais de um ano. [...] A programação era feita num folder (imitando a Quinzena do Cine Azenha) (SANTOS, 2016)

Segundo o escritor, o prédio, além da sala do cinema e apoio, bilheteria e

administração tinha em sua lateral térrea comercio de serviço (barbeiro, sapateiro...)

e quartos de aluguel e um banheiro coletivo na lateral superior. Só as áreas públicas

foram utilizadas. Em resposta a questão de como o projeto foi recebido pela

população:

O projeto foi recebido com muito entusiasmo, pois era uma novidade para quem nunca havia assistido a um filme; e também pelos que conheciam e tinham saudades da época em funcionava comercialmente, em várias fases. (SANTOS, 2016)

18 Dalmo Duque dos Santos, escritor, educador e blogueiro como se auto intitula. Autor do livro Terra, chão e destino – Epitácio na memória: história do porto Tibiriçá, Presidente Epitácio e do Oeste Paulista e criador do blog Epitácio na memória. Todas as citações são retiradas de uma entrevista concedida à autora deste trabalho, em 03/08/2016. Entrevista em anexo.

64

Em relação aos funcionários:

A Logomarca do Cine Clube era a imagem de Charles Chaplin. Os membros e funcionários usavam camisetas com essa estampa. [...] os membros do Cine Clube trabalhavam em todos os setores de atendimento. Tinham alguns jovens contratados para realizar tarefas comuns. (SANTOS, 2016)

Segundo o relato do escritor, percebe-se o magnetismo causado pelo

edifício. Sua localização, seus usos e sua inserção na paisagem podem ser

considerados como principais agentes dessa movimentação. Em relação à

arquitetura:

Sobre o prédio. Era espetacular, como arquitetura e como ponto comercial e cultural urbano. Era o centro de tudo e funcionava como estimulador de outros negócios. Tudo era grandioso e muito bem feito. O construtor do cinema tinha experiência técnica e adaptou outros projetos ao terreno de Epitácio. Mesmo assim ficou muito bem localizado e construído. Não tinha nada de inovador, mas era um grande empreendimento para os padrões de uma cidade pequena. (SANTOS, 2016)

2.2.3 Situação atual do cinema

Já com o propósito deste trabalho, mediante visita da autora ao edifício em

agosto de 2016, percebeu-se sua estrutura praticamente intacta. Construído com

tijolos maciços e paredes largas, os únicos mobiliários ainda existentes no local são

as poltronas de madeira da sala de exibição (em bom estado assim como o piso) e

as louças dos banheiros. A tela de projeção encontra-se completamente destruída

por conta de uma abertura no forro e no telhado bem acima do palco contribuindo

para a sua degradação. Mesmo sem nenhuma manutenção a ferragem dos gradis

continua em bom estado. Com as janelas do piso superior e da sala de projeção

todas quebradas, parte do palco a céu aberto, pouca luminosidade e grande

quantidade de madeira, o local propicia o aparecimento de certos tipos de animais

como aranhas, escorpiões e pombos, encontrados na visita. Pode-se ver sua

situação atual pelas imagens abaixo:

65

Fotografia 29 - Vista da porta direita de acesso pela bomboniere da sala de exibição, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal.

66

Fotografia 30 - Visão da sala vista pelo canto esquerdo da tela, poltronas de madeira intactas, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal.

Fotografia 32 - Louças sanitárias do banheiro masculino pertencente ao balcão, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal.

Fotografia 31 - Guichê da bilheteria, agosto/2017. Fonte: Acervo pessoal.

68

Fotografia 33 - Ferragens e gradis da fachada pertencentes à bomboniere, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal.

Fotografia 34 - Detalhe do gradil da janela da bombonier, formato padrão usado em todo o edifício, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal.

69

Fotografia 35 - Bomboniere - à direita, com tapume, uma das portas para a sala de exibição; à frente, a porta de conexão com a bilheteria, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal.

70

Fotografia 36 - Abertura do forro e do telhado acima da tela de projeção, já danificada pelo tempo. Agosto/2016. Fonte: Acervo Pessoal.

Fotografia 37 - Detalhe de iluminação e decoração da sala de exibição, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal.

71

Fotografia 38 - Vista do balcão. Fonte: Dalmo Duque dos Santos.

Fotografia 39 - Vista do balcão e da sala de projeção, a partir da chegada pela escada, Fonte: Dalmo Duque dos Santos.

Fotografia 41 - Corredor dos quartos de aluguel, agosto/2016.

Fonte: Acervo pessoal.

Fotografia 40 - Escada dos quartos de aluguel com acesso à rua, agosto/2016. Fonte: Acervo

pessoal.

73

Fotografia 42 - Saída para a calçada da rua, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal.

74

Fotografia 43 - Sala da administração, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal.

Fotografia 44 - Corredor lateral para as saídas de emergência, agosto/2016. Fonte: Acervo pessoal.

75

3 ESTUDOS DE CASO

Neste capítulo serão discutidos quatro estudos de caso que por diversos

motivos como modelo de palco, plateia e balcão; ritmo arquitetônico; tecnologia

aplicada atualmente em áreas técnicas e diversidades de uso para um mesmo local

e programa de necessidades, podem servir de referência no desenvolvimento da

proposta de projeto.

3.1 ESTUDO DE CASO 01 – CINE TEATRO BRASIL VALLOUREC

Primeiro edifício art déco de Belo Horizonte, de volumes geométricos

definidos, concreto armado importado, portas pantográficas e vitrais de ferro e vidro

martelado. O Cine Brasil foi palco de movimento modernista ao exibir a primeira

exposição do movimento moderno na cidade em 1936 e foi ponto de encontro dos

jovens mineiros na década de 50. Recepcionou também os tradicionais bailes de

carnaval que aconteciam nos foyers.

Como o próprio nome já diz, o Cine Theatro Brasil foi construído como um

espaço para abrigar as diversas formas de arte: teatro, ópera, música e cinema.

Além do antigo teatro com 1.827 lugares, durante décadas, o prédio abrigou no

térreo das ruas adjacentes dezenas de salas comerciais como o primeiro restaurante

popular, bares, barbearia, café, galerias de arte.... Em decadência nos anos 90 por

conta das redes de cinema nos shoppings centers ficou fechado até 2006, quando

recebeu uma restauração, finalizada em 2013, se tornando um centro cultural.

Como se pode ver nas fotografias 45 e 46 a seguir, o Cine Theatro Brasil se

assemelha com o Cine- Azenha em alguns aspectos. Uso comercial do térreo nas

ruas laterais adjacentes, arquitetura sem muitos ornamentos nas fachadas e ponto

de encontro da sociedade local, piso com inclinação em rampa.

76

Como pontos a usar de referência na proposta: palco com vista total

ampliada da plateia, configuração plateia balcão, programa de necessidades do

edifício novo.

Fotografia 45 - Cine Theatro Brasil, 1932. Fonte: Cine Theatro Brasil19

Fotografia 46 – Lojas comerciais do Cine Theatro Brasil, 1932. Fonte: Cine Theatro Brasil

19 Disponível em: <http://cinetheatrobrasil.com.br/cine-theatro-brasil/historia/> Acesso em: mai. 2017

77

FICHA TÉCNICA

Localização: Praça Sete, Rua dos Carijós 258, Centro, Belo Horizonte –

Brasil

Área: 1373.0 m²

Ano do projeto: 2013

Figura 7 - Planta Grande Teatro. Fonte: Cine Theatro Brasil

13

ÁREA AUDITÓRIO

PLATEIA

PALCO ORQUESTRA

ÁREA DE APOIO

COXIA

CAMARIM DEPÓSITO

ÁREA TÉCNICA

LUZ EQUIPAMENTOS

ELEVADOR DE CARGAS


SANITÁRIOS

Fotografia 47 - Vista 1. Fonte: Cine Theatro Brasil




76

3.2 ESTUDO DE CASO 02 – NOVO TEATRO NO PORTO SANTA MARIA

Arquitetos: Daroca Arquitectos

Localização: Plaza del Polvorista, 11500 El Puerto, Cádiz, Espanha

Área: 5446.0 m²


Fotografias: Fernando Alda

O projeto do Porto de Santa Maria serve como referência de adaptação

de um novo uso ao antigo utilizando do ritmo da arquitetura já existente além

da setorização do seu programa.

Figura 8 - Planta térreo.

77

Figura 9 - Planta superior.

ÁREA AUDITÓRIO

PLATEIA

PALCO

ÁREA DE APOIO

COXIA SANITÁRIOS CAMARIM DEPÓSITO

ÁREA TÉCNICA

SOM LUZ ELEVADOR DE CARGAS


78

Fotografia 51 - Visual 1. Fonte: Archdaily20. Autor: Fernando Alda.

Fotografia 52 - Visual 2 – Ritmo entre o existente e o proposto. Fonte: Archdaily. Autor: Fernando Alda.

20 Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/01-173985/novo-teatro-no-porto-santa-maria-slash-daroca-arquitectos> Acesso em: mai. 2017.

79

3.3 ESTUDO DE CASO 03 – SALA PETRASSI (PARCO DELLA MUSICA)

Arquiteto: Renzo Piano

Localização: Via Pietro de Coubertin, 30, Roma, Itália

Área: 1636.0 m²


Parte do Complexo Parco della Musica, construído para abrigar três

salas de espetáculos de tamanhos distintos, a sala escolhida é a que mais se

assemelha em escala com o edifício escolhido para a proposta de

requalificação.

Com uma configuração similar a um teatro tradicional, a sala Petrassi,

oferece conforto físico e acústico por ser inteiramente revestida com madeira.

Por causa da sua versatilidade de palco, permite a criação de diversas

ambientações para a realização de uma gama de atividades como

conferencias, encontros, apresentações e exibições cinematográficas. As duas

paredes laterais podem ser moduladas por um sistema mecânico girando até

90 graus, formando a tradicional boca de cena italiana. Quando fechada, pode

receber óperas líricas e espetáculos de teatro. Quando aberta, espetáculos de

música de câmera, barroca e sinfônica; teatro e exibições audiovisuais.

Essa versatilidade na modificação dos tipos de uso da mesma sala

pela tecnologia é o que servirá como referência na proposta do projeto.

Figura 10 – Foyer da Sala Petrassi em meio ao complexo

80

Figura 11 – Térreo

Figura 12 – Balcão e piso superior

81

ÁREA AUDITÓRIO

BALCÃO

PLATEIA PALCO

ÁREA DE APOIO COXIA SANITÁRIOS CAMARIM DEPÓSITO

ÁREA TÉCNICA

EQUIPAMENTOS


FOYER - ACESSO ACESSO A SALA PETRASSI

Figura 13 - Vista 1

82

Figura 14 - Vista 2

Figura 15 - Vista 3

Figura 16 - Vista 4

83

Figura 17 - Vista 5

3.4 ESTUDO DE CASO 04 – TEATRO POLIVALENTE EM LILLE

A multi proposta localizada em uma área de reestruturação da cidade

de Lille, na França, segundo os arquitetos responsáveis funciona como um

lugar de difusão cultural na escala da cidade. Um volume de altura variável

recebe um auditório em sua área central. Equipado com arquibancadas

modulares móveis com área de palco bem a frente, o espaço se mostra flexível

e com ampla versatilidade. Isso se dá por conta de paredes acústicas de

encaixe retrateis facilmente manipuláveis por um sistema de trilhos, o que

permite uma grande capacidade de público e várias configurações. Essa área

central abre-se totalmente para o gramado do parque permitindo a máxima

extensão da sala que usa o parque como cenário de palco.

Com um programa similar de áreas expositivas, de apoio e de

auditório, o que se busca deste projeto é a facilidade que um ambiente se

transforma em outro, mudando de uso devido à tecnologia, principalmente os

de áreas de concentração de público. Pode-se ver abaixo sua configuração

com grandes vãos e quase nenhuma barreira entre espaços.

84

Figura 18 - Teatro Polivalente térreo

ÁREA AUDITÓRIO

PLATEIA

PALCO

ÁREA DE APOIO SANITÁRIOS CAMARIM DEPÓSITO

ÁREA TÉCNICA

EQUIPAMENTOS

ÁREA DE CIRCULAÇÃO

VERTICAL HORIZONTAL

SALAS ESPECIAIS SALA DE ATIVIDADES SALA DE DANÇA STUDIO ALOJAMENTO

85

Vistas das áreas a serem referenciadas:

Fotografia 53 - Vista 1. Fonte: LacatonVassal.com21

Fotografia 54 - Vista 2. Fonte: LacatonVassal.com

21 Disponível em:< https://www.lacatonvassal.com/index.php?idp=73# > Acesso em: mai. 2017

86

Fotografia 55 - Vista 3. Fonte: LacatonVassal.com

87

4 DIRETRIZES DE PROJETO

4.1 QUAL A FINALIDADE DO PROJETO

O projeto tem como finalidade transformar o Cine-Azenha em um

Centro Cultural Multiuso que contemple um auditório, uma área expositiva e

salas de atividades especificas para a produção definidas pelo programa. Tudo

isso mantendo parte da estrutura que representa a história do prédio, e

adaptando-o e remodelando-o para atingir o programa definido necessário para

os dias de hoje.

4.2 LOCALIZAÇÃO DO EDIFÍCIO ESCOLHIDO

O edifício localiza-se na área central do município de Presidente

Epitácio, no oeste do estado de São Paulo. Em frente à Igreja Matriz da cidade,

marco zero, local de fácil acesso pela avenida Presidente Vargas, pela rua

Porto Alegre e pela rua Fortaleza. Próximo a pontos importantes da vivencia

coletiva, para o funcionamento da cidade e de usos culturais.

Seu entorno pode ser considerado uma mistura de usos principalmente

comercial, residencial e de serviço. Com a maior parte das construções do

entorno térreas, o edifício se destaca na paisagem central da cidade. Entre as

principais ruas de comercio e serviço (Av. Presidente Vargas, Rua Maceió e

Rua Fortaleza), ele se encontra no meio a três fluxos principais de

movimentação da cidade.

Pode-se observar as condições ditas acima nos mapas a seguir:

88

Mapa 2 - Pontos importantes de cultura e entretenimento em relação ao cinema, e principais vias de acesso.

LEGENDA

Rodovia Raposo Tavares

Av. Pres. Vargas

Rua Fortaleza e Rua Maceió

Av. Marginal e Anel Viário

1 – Píer

2 – Prainha

3 – Parque Linear

4 – Sambódromo

5 – Centro de Eventos e Anfiteatro

6 – Cais do Porto

7 – Aeroporto

– Cinema

– Centro da cidade

89

Mapa 3 - Pontos importantes; vias principais de acesso

LEGENDA

1 – Prefeitura Municipal

2 – Rodoviária

3 – Delegacia

4 – Fórum

5 – Posto de saúde

6 – Secretarias Municipais

7 – Estação Ferroviária Sorocabana

8 – Centro de Eventos (Anfiteatro João Brilhante)

9 – Biblioteca Municipal

10 – Associação Atlética Epitaciana

11 – Ginásio de Esportes

11 – Conservatório Musical

Setor de Serviços

Cinema

90

Mapa 4 - Usos e quantidade de pavimentos

LEGENDA

Vegetação

Igreja

Terreno do Projeto

Cinema

Comércio

Serviços

Uso Misto

Residências

1 – Térreo

2 – Térreo + 1 pavimento

3 – Térreo + 2 pavimentos

4 – Térreo + 3 pavimentos

91

Em uma área de perfil baixo entre uma área de comércio e serviço, e uma

área residencial. Tem compatível em altura apenas a igreja.

4.3 MAPA-SÍNTESE

Figura 19 - Implantação

Dos parâmetros construtivos:

Como o edifício foi construído na época da formação da cidade, ainda não

havia nenhuma legislação e nenhum parâmetro construtivo que regulamentasse sua

edificação além do alinhamento predial. Ao contrário do que acontece no terreno

vizinho (mesmo proprietário) anexo a proposta do projeto onde se aplica taxa de

ocupação igual a 1, afastamento lateral de 2 metros se houver aberturas e altura

máxima livre.

A lei Nº 16.642 de 09/05/2017, entende como requalificação a “intervenção

em edificação existente, visando à adequação e modernização das instalações, com

ou sem mudança de uso”, considera de alto impacto a “obra que venha a causar

modificação na estrutura da edificação e aquela executada em imóvel sob o regime

92

de preservação cultural, histórica, artística, paisagística ou ambiental ou em vias de

preservação, de interesse municipal, estadual ou federal”. Cita também que obras de

cunho coletivo, “devem ser adaptadas às condições de acessibilidade. E que, “na

requalificação, são aceitas soluções que, por implicação de caráter estrutural, não

atendam às disposições previstas na Legislação de Obras e Edificações (LOE),

Plano Diretor Estratégico (PDE) ou Legislação de Parcelamento, Uso e Ocupação

do Solo (LPUOS), desde que não comprometam a salubridade, nem acarretem

redução de acessibilidade e de segurança de uso. ” Do capitulo VIII, parágrafo

terceiro: “Quando o recuo de frente for dispensado pela LPUOS admite-se o avanço

até 0,40 m (quarenta centímetros) de elemento arquitetônico, ornato, ornamento,

jardineira, floreira, brise, aba horizontal e vertical, e terraços sobre o passeio público,

desde que observada a altura livre de 3,00 m (três metros) do nível do passeio e que

não interfira nas instalações públicas. ” Considerando a insolação norte na

edificação, sua lateral, na rua fortaleza recebe todo o sol da tarde por estar à oeste

necessitando o desenvolvimento de uma proteção solar.

Figura 20 - Ventos e Insolação

93

Mapa 5 - Mapa síntese

LEGENDA

Vegetação

Igreja

Terreno do Projeto

Cinema

Sentido das vias

Nível médio de ruído

Acessos principais ao terreno

PERCURSO SOLAR

94

Vistas para o entorno do terreno:

Fotografia 56 - Vista 1








91

4.4 DEFINIÇÃO DO PROGRAMA DE NECESSIDADES

Como definir o programa de necessidades do edifício para a readequação

de uso? Para isso foi necessário saber quais eram a relações da população com o

edifício e os anseios dos epitacianos quanto ao seu novo uso caso fosse feito uma

proposta de requalificação do prédio.

Como ferramenta metodológica foi elaborado um questionário para

divulgação e obtenção de respostas via mídias sociais. Foram obtidas 106 respostas

como amostra da população. Logo abaixo pode-se ver algumas das questões na

ordem que foram aplicadas após algumas perguntas socioeconômicas que tiveram o

objetivo de compreender o tipo de público participante da pesquisa.

92

A partir da análise dessas questões percebe-se um alinhamento entre

as necessidades do município comprovadas pelo seu histórico e situação atual com

as necessidades pessoais da população. Com proposições assertivas o questionário

permite a determinação de um programa que se adequa à estrutura já existente do

cinema. Determinado o programa básico: auditório multiuso, foyer, áreas

expositivas, área de atividades, área de apoio, área técnica, circulação, banheiros e

área de estar coletivo.

Fazendo um cruzamento de informações com as definições dos usos e as

porcentagens de áreas comparadas dos estudos de caso chegou-se a uma média

de áreas que serviram como base para o dimensionamento do projeto.

93

Tabela 3 - Porcentagem de áreas

A partir desde cálculo de porcentagens de usos, nos gráficos abaixo pode-se

ver a mudança das áreas do edifício existente para a proposta do projeto e

consequentemente o quão significativo foram essas mudanças para que o edifício se

adequasse as necessidades atuais da população.

94

4.5 ESTRATÉGIAS PROJETUAIS

De acordo com o que foi analisado anteriormente, define-se como

estratégias projetuais manter a fachada principal (cor branco) e a esquina da

bilheteria do cinema pois são os elementos que dão identidade para o edifício.

Decide-se se desfazer da área comercial na lateral da rua Fortaleza pois se encontra

com muitas patologias e com uma configuração desatualizada para qualquer uso

atual como um centro cultural. Utilizando o terreno anexo ao fundo (mesmo

proprietário) para aumentar o palco do cinema transformando-o em um auditório

multiuso (cor rosa), diminuindo sua capacidade de exibição para aproximadamente

quinhentas pessoas. A área antes ocupada pelo bloco comercial, que também se

prolonga com o anexo, passa a ser destinada parte a área das salas de atividades

(escolhidas de acordo com análise do questionário) e parte aos sanitários (cor

vermelho) de apoio a plateia do auditório. Os acessos serão remodelados de acordo

com o novo volume, que deverá se adequar ao ritmo da estrutura existente. E

propõe-se o ambiente do bar como uma bomboniere.

Figura 21 – Setorização volumétrica

95

5 PROPOSTA

Essa é a proposta de um Centro Cultural Multiuso que possa receber os

mais diversos tipos de eventos possíveis a fim de garantir uma frequência de uso

que mantenha a movimentação do lugar e do edifício em que se localiza.

Ao manter um uso frequente do edifício por múltiplo uso, faz com que a

cidade retome posse de um local pertencente a sua história fazendo contato direto

com ela. Dessa forma o edifício funciona como referência e infraestrutura adequada

para área de desenvolvimento cultural da cidade que permanece defasada até o

presente momento deste trabalho.

Como principais objetivos esse projeto visa:

Reavivar o Centro primeiro (e institucional) do município ao trazer

maior fluxo de pessoas para esta área da cidade buscando em

primeiro plano os habitantes do município, e por consequência

turistas e moradores das cidades vizinhas.

Oferecer a população uma infraestrutura que possibilite um contato

direto e frequente da população com o pensamento criativo e de

autoconhecimento, além conhecimento em áreas da tecnologia

visuais muito buscadas na região devida a sua beleza natural,

visando o desenvolvimento crítico e de repertorio da população.

Oferecer ao turista mais opções de entretenimento e de contato com a

produção cultural local, além de aproxima-lo do comercio do centro da

cidade ao traze-lo para o centro urbano.

Trazer para a cidade um maior fluxo de pessoas vindas das cidades

vizinhas (de menor porte), buscando uma inter-relação pela área da

cultura ao oferecer uma infraestrutura adequada para usos não

existentes nas cidades do entorno.

A proposta do projeto toma partido no momento em que se mantém a

fachada frontal (de principal uso e importância na memória afetiva e na paisagem

local), o núcleo da sala de exibição e os acessos e setorizações de uso, quanto aos

usos que permanecerão no programa.

96

Como conceito base do projeto, inspirado nas atividades a serem realizadas

no local e na forma que a arte transforma a visão de mundo do ser humano,

camadas e lentes que transformam, deturpam e enquadram novas perspectivas no

olhar do indivíduo sobre a arquitetura, desenham o projeto através de barreiras

físicas que indicam caminhos (visualmente permeáveis ou não), transparências e

opacidades, acessos intuitivos ou direcionados por iluminações estratégicas.

Figura 22 – Acessos

Figura 23 – Setorização

97

Com dois núcleos de acessos verticais independentes o programa se divide

em duas áreas de atuação: área de consumo e área de produção cultural. Dentro

desses dois núcleos se encontram os três principais usos do projeto e suas áreas

complementares.

Na área de consumo cultural, com acesso pela esquina do edifício que se

ambienta em conjunto com a fachada original conectando o existente e o novo, se

encontram a bilheteria, o foyer expositivo, sanitários e uma bomboniere que

antecedem as entradas para o auditório (que corresponde ao volume de maior peso

do projeto). Entre a bilheteria e os sanitários o acesso para o mezanino se destaca

pela coluna do conjunto elevador e escada que sobem até o nível superior.

Já na área de produção cultural, se encontram o acesso térreo pela área de

carga e descarga às áreas de apoio ao palco do auditório, e o segundo acesso

vertical, que permite a chegada aos pavimentos superiores que abrigam salas de

ensaio e estúdios tecnológicos para aulas e cursos sobre as áreas de interesse

escolhidas em questionário pela população: teatro, dança, fotografia e audiovisual.

Por fim acesso também ao terraço jardim que servira como mirante permitindo uma

vista panorâmica de toda a cidade e do rio Paraná, além de uma pequena

arquibancada coberta para pequenas apresentações.

Conectando essas duas grandes áreas, um corredor de apoio e serviço liga

as áreas de carga/descarga e camarins a uma pequena copa/deposito e ao foyer

expositivo.

ESTRUTURA

Todo o projeto foi desenvolvido em estrutura metálica buscando um apoio de

grande resistência e menores dimensões para suportar toda a carga do vão do

auditório somada as cargas atuantes na laje e no terraço jardim (canteiros com

vegetação, fluxo de pessoas) sem ocupar muito espaço do projeto para suportar

toda a carga da laje de cobertura e do terraço jardim. Associada com o uso de

paredes com isolamento térmico e acústico. Dentro do auditório o uso de painéis de

madeira como asas de borboletas nas laterais para adequar a reverberação e a

refração do som, e painéis em madeira flexíveis e automáticos para o mesmo fim

além da adequação sonora do auditório dependendo do tipo de apresentação pela

98

mudança de massa de ar. A parede possibilita a passarela para movimentação de

iluminação e acústica além da manutenção.

Figura 24 - Detalhe do sistema estrutural do auditório

SOLUÇÕES TÉRMICA E ACÚSTICA

Como um dos complementos para a proteção térmica dos ambientes

internos do edifício, o painel de elementos vazados das fachadas maiores funciona

como última camada de proteção. Sua forma inspirada nos gradis originais das

janelas da fachada da frente, extrudados em 20cm de espessura, e com 20cm de

espaçamento das paredes, possibilita uma camada de ar circulante nas fachadas

mais afetadas pelo sol.

99

Figura 25 - Detalhe sistema de proteção solar do edifício

TERRAÇO JARDIM | MIRANTE

Terraço jardim com canteiros e laje completamente impermeabilizada, com

piso atérmico, com todas as camadas de drenagem necessárias para que a

vegetação consiga diminuir em até 30 graus a temperatura da laje, diminuindo o

consumo de ar condicionado dos ambientes e melhorando a temperatura de ar da

ventilação natural.

Figura 26 - Sistema de impermeabilização da cobertura

100

SPIRALIFT

A escolha do sistema mecânico elevatório de plateia (Spiralift) surgiu pela

possibilidade de múltiplas configurações. Como nas imagens abaixo, a

movimentação das plataformas de acordo com a necessidade de uso, permite que

os assentos também possam ser dispostos de acordo com a configuração desejada,

podendo ser recolhidos em espaços abaixo da plateia através de trilhos. Assim se

tornam possíveis configurações de aumento do tamanho do palco, aumento da área

de chegada no nível do foyer, possibilidade de área para orquestra, ou a

transformação do auditório em um salão plano no nível da saída de emergência

lateral da rua Fortaleza.

Figura 27 - Configurações de uso da área do auditório

101

Como nas imagens abaixo, o sistema de plataformas funciona a partir de

espaços inferiores a plateia que servem como deposito para as poltronas que não

estão sendo utilizadas. A plataforma desce ao nível área reservada abaixo da

plateia, onde o suporte das poltronas é encaixado em um trilho facilitando a sua

retirada Em seguida a plataforma se eleva até a altura desejada.

Figura 28 – Imagens do funcionamento do sistema Spiralift

102

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com as análises feitas nessa pesquisa pode-se dizer que: ao expor o

questionário para a população percebeu-se um grande interesse nessa iniciativa

desde a população em geral, até profissionais da construção civil e administradores

públicos ao levantar uma problemática que tanto vem incomodando os cidadãos

epitacianos.

Atendendo a todas as necessidades técnicas, espaciais e de usos que o

programa requer por conta de sua complexidade, o projeto consegue atingir seus

objetivos iniciais. A proposta resulta em um local adequado de produção e consumo

cultural através da arte, flexível a várias configurações de uso, o que traz à cidade

de Presidente Epitácio uma nova possibilidade de crescimento tanto da população

quanto do turismo, e ao mesmo tempo reavivando uma área importante da cidade

ao conservando uma memória importante na história e na paisagem da cidade,

trazendo-a para o século XXI.

103

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MORONI, Benedito de Godoy. História de Presidente Epitácio. 2. ed. Edição do

autor, Maringá – PR, 2011.

OJEDA, Ricardo. “Obra da ponte do paranazão está dentro do cronograma” diz

DNIT. Perfil News, Três Lagoas, 22 fev. 2012. Disponível em:

<http://www.perfilnews.com.br/bolsao/obra-da-reforma-da-ponte-do-paranazao-esta-

dentro-do-cronograma-diz-dnit>. Acesso em: 29 mai. 2017.

ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. 2. ed. São Paulo, SP: M. Fontes, 2001. 309

p. (Coleção A).

SBEGHEN, Camilla. ArchDaily. Setembro/2014. Revitalização do Teatro Góngora

de Górdoba/Rafael de la-Hoz. Disponível em:

<http://www.archdaily.com.br/br/626877/revitalizacao-do-teatro-gongora-de-cordoba-

rafael-de-la-hoz>. Acesso em maio/2017.

_________________________________________

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APÊNDICE A - Questionário de Pesquisa

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Ministério da Educação Universidade Tecnológica Federal do Paraná Diretoria de Graduação e Educação Profissional Secretaria de Gestão Acadêmica Departamento de Biblioteca

APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO PARA DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

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APÊNDICE B - Roteiro das Entrevistas

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Roteiro de Entrevista 01 – Sonia Lacy – professora e assistente de direção aposentada, ex-bilheteira do cinema.

Questões guia para o relato com base na sua experiência de vida relacionada com o cinema:

- Qual a sua relação com o cinema?

- Lembra ou sabe de algum dado sobre a sua construção? (Viu a obra, sabe quem construiu…)

- Sei que você trabalhou lá quando jovem na bilheteria, pouco tempo até...você poderia falar sobre isso novamente? (Período que trabalhou e sua idade na época)

- Qual era a dinâmica de funcionamento? Quais eram os tipos de filmes que mais faziam sucesso? Quais eram as sessões? Era barato? (Acessível a todos?)

- Você enxerga alguma relação entre a igreja entre a igreja e/ou a praça da matriz com o edifício do cinema? Qual seria ela?

- Você sabe qual era a relação da família azenha com a administração do cinema?

- Lembra se naquela época a sala era utilizada para apresentações ou qualquer atividade que não fosse exibição de filmes?

- Sabe como funcionava o aluguel dos quartos da parte de cima?

RELATO de 23/05/2017

Eu era vizinha do cinema e trabalhei como bilheteira dos meus 12 aos 17 anos. Não me lembro da construção, mas segundo o Wilson Azenha o nome do construtor era José Maria. O proprietário do prédio e do cinema era o senhor Faustino Rodrigues Azenha (até hoje). Os filmes vinham de trem pela sorocabana e um funcionário descia com um carrinho de pedreiro para buscar na estação. Funcionava de segunda a domingo, sendo que na segunda-feira era reprise de domingo. A maior bilheteria era com o filme do Mazzaropi e nesse domingo havia duas sessões. Na sala anterior a sala de projeção havia um sofá e a exposição de cartazes dos próximos filmes. A entrada era pela porta lateral onde ficavam as bilheterias e a porta de entrada onde o porteiro recolhia os bilhetes e colocava numa urna. Aos domingos à tarde após a matinê havia concurso de música para as crianças no palco, que servia também para apresentação de peças teatrais que vinham de outras cidades e era usado também para formaturas (entrega de certificados). Ao lado direito do prédio havia salões que eram alugados para advogados, costureiras...havia também portas de saída e um corredor descoberto onde as pessoas fumavam enquanto viam o filme. Havia um banheiro ao lado do palco. O cinema era o ponto de encontro da juventude, que após o filme passeavam e conversavam na praça da matriz. O cinema era administrado por um gerente: Chafic (não lembro o primeiro nome) com quem eu acertava o caixa e no dia de muito movimento ele abria o outro guichê para ajudar. Os aluguéis dos quartos e salões pertenciam a família azenha, proprietária do prédio até hoje, embora abandonado. Na sala de entrada havia uma bomboniere de propriedade da Neusa Moleiro.

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Roteiro de Entrevista 02 – Dalmo Duque Santos – ex- prof, ...aposentado.

Questões guia para o relato com base na sua história de vida como Epitaciano, como autor do livro “Terra, Chão e Destino” e como um dos responsáveis pelo projeto Cinema Paradiso:

- De quem foi a iniciativa do projeto? Como ele surgiu? Quem se envolveu?

- Qual era o projeto? Como ele foi executado? Em que ano?

- Como foi a disponibilização para o uso do edifício do cinema, sendo ele propriedade particular?

- Há uma estimativa de quantos espectadores e registro de quantos filmes ficaram em cartaz durante os meses de funcionamento?

- Sobre a estrutura do edifício, no livro você diz que haviam apartamentos, além das lojas. Na parte superior? Apartamentos ou quartos de aluguel?

- Na época do projeto, toda a estrutura do cinema era utilizada (incluindo as salas de aluguel)? Em que estado de conservação? Com a mesma concepção do edifício original ainda?

- Como a iniciativa foi recebida pela população?

- O que você lembra do edifício em si? Da arquitetura...tanto na sua infância quanto no período do projeto ...

RELATO de 03/08/2016

Cinema Paradiso foi um projeto da Secretaria Cultura do Estado, proposto para todas a cidades que possuíam cinemas antigos e desativados. Em Epitácio o Departamento de Cultura, na administração João Victório Bergamo, e coordenado pela Isabel Alonso implantou o projeto por meio da fundação do Cine Clube de Presidente Epitácio, instituição que deveria servir como mediadora entre o Estado e a Prefeitura para captação de recursos para reativar o Cine Azenha. Muitas pessoas foram envolvidas: Isabel Alonso, Neide, Adrian (filho da Marilu), Dalmo (Dadau) e Lana (Colégio Tibiriçá), Tedesco (ex-prefeito), Felão (Sérgio Maurício), Sérgio Maroto e Distribuidora Antártica (o Guaraná Antártica era o patrocinador oficial) e Olívia Pires (vereadora). É possível que tenha me esquecido de alguém.

O projeto provavelmente foi implantado em 1994. É preciso checar essa data nos arquivos do jornal A Fronteira (na Biblioteca Municipal Amandio Pires).

Os donos do Cine Azenha (família Azenha) tinha interesse em valorizar o prédio e se interessaram pelo projeto como forma de valorização e legalização do imóvel. O Cinema já vinha sendo usado como espaço de eventos culturais.

As exibições foram iniciadas pelo filme Cinema Paradiso e depois foram pautadas pela contratação de filmes do circuito comercial. Funcionava apenas nos fins de semana e, chegou a lotar as duas salas e duas sessões contínuas. Esse projeto funcionou pouco mais de um ano.

O prédio tinha lojas comerciais, intercalada com a saídas laterais do cinema. Não tenho certeza se eram apartamentos ou quartos de aluguel. E tinha o Cine Bar, ao lado da entrada principal.

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A programação era feita num folder (imitando a Quinzena do Cine Azenha)

O projeto foi recebido com muito entusiasmo, pois era uma novidade para quem nunca havia assistido a um filme; e também pelos que conheciam e tinham saudades da época em funcionava comercialmente, em várias fases.

Quem eram as pessoas na época (do Cinema Paradiso) responsáveis por passar os filmes, pela bilheteria, pela limpeza? O que mais você se lembrar ....

A Logomarca do Cine Clube era a imagem de Charles Chaplin. Os membros e funcionários usavam camisetas com essa estampa. Nildo Macedo e sua Sarah foram escolhidos como casal símbolo do renascimento do cinema, pois estiveram na noite inaugural nos anos 1950. A educadora Sónia Lacy, que foi bilheteira nos anos 1970, também foi considerada símbolo desse movimento cultural. Os membros do Cine Clube trabalhavam em todos os setores de atendimento. Tinham alguns jovens contratados para realizar tarefas comuns. Só me lembro de dois irmãos gêmeos.

Sobre o prédio. Era espetacular, como arquitetura e como ponto comercial e cultural urbano. Era o centro de tudo e funcionava como estimulador de outros negócios. Tudo era grandioso e muito bem feito. O construtor do cinema tinha experiência técnica e adaptou outros projetos ao terreno de Epitácio. Mesmo assim ficou muito bem localizado e construído. Não tinha nada de inovador, mas era um grande empreendimento para os padrões de uma cidade pequena.

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Roteiro de Entrevista 03 – Cassia Regina Zaffani Furlan – Farmaceutica, Prefeita de Presidente Epitácio (2017 – 2020).

Questões com base na sua história de vida como Epitaciana e agora como Prefeita e administradora do município na gestão 2017 - 2020.

Legenda

E: Entrevistadora P: Prefeita

E - Na sua visão, qual é a importância do patrimônio histórico cultural ARQUITETÔNICO para o município?

P - Assim como tem a parte do cinema, tem a da Estação. O município nunca teve dinheiro eu acho que para tombar, para comprar, para fazer…. Porque o cinema acho que é do Azenha né?! É particular…e a Estação não adianta você entrar com o pedido, porque o pessoal invade…não sei se você já passou ali?! Várias vezes você tem que pedir reintegração de posse, eles tão quebrando tudo e não tem uma coisa para investir, mas eu acho que é superimportante porque parece que não, mas quando você vai para um lugar você quer conhecer alguma coisa que você vai falar assim: Oh! É da década de vinte ou então pensar, foi não sei que igualzinho…Você já foi ali na colônia ARPHAD (Colônia Húngara) também? A igrejinha, vai lá para ver se você vê o oratório que o pessoal fez, o que eles faziam entalhado na mão, no formão, assim…não é uma coisa linda de você ficar encantado de ver se você não tiver esse olhar...vocês (arquitetos) têm um olhar né?! Mas eu acho que é superimportante. Não é nem pra agora, é para mais para frente…igual agora, não sei se você sabe que se achou bastante peças indígenas, e que tem umas datadas há mais de mil anos….vai ser feito um museu, tem um monte de coisas….Onde que foi declarado o sítio arqueológico, pena que está na barranca do rio….onde eles acharam vestígios de fogueira na encosta e tal, a água está derrubando….mas todas as peças e urnas que estão encontrando, pedaço de cerâmica, tudo, vai pra ser feito um museu a céu aberto, acho que tem um no México, eu não conheço muito de museu….mas aí vai ser assim você vai passar numas passarelas de vidro sobre o rio e o rio vai poder ser observado, pra você poder enxergar, então eu acho que é importante, aí você fala assim: - Ah! Não quero ver....mas se você não conhece...e não tem isso né …

E - É então…Um dos maiores empecilhos que a gente tem com a preservação é a falta do esclarecimento popular, da importância disso…Porque normalmente as pessoas não entendem que isso não é supérfluo…

P - Falam que é um negócio velho né?! Mas é tudo a visão que o pessoal tinha naquela época, como faziam as coisas…Esse cinema tinha a parte de cima, que quando eu era mocinha, chamava de PUMA e tal…Você vê que naquela época o jeito…a gente até pensou, eu acho que ele cabe mais pessoas que o anfiteatro…

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E - Cabe mil e duzentas pessoas.

P - Então você vê que coisa para se fazer palestras, para ter as coisas se a gente além de ter essa importância pelo prédio ele tem que…seria bom…Às vezes, você quer ter uma convenção, ali só cabe duzentos e cinquenta pessoas sentadas…Só que eu não vejo, assim, investidor, para que venha, para que faça essa restauração, para que troque tudo…

E - A senhora acha que teria que ser particular ou poderia ser uma parceria público privada?

P - Eu acho que tinha que ser particular….Porque é o que eu estou te falando, é um índice muito baixo, a arrecadação é muito baixa, você não consegue fazer o básico….Se você falar assim, que a gente vai gastar dois milhões em uma restauração ali e não construir [edifícios necessários à cidade] ou não trazer um médico, você ‘apanha’....Infelizmente eu acho que a cultura está ligada ao que a pessoa consegue sobreviver [necessidades básicas]e assim, eu até entendo a visão….Tem um monte de coisa que as pessoas falam pra mim, e eu digo: - “gente vocês querem que eu ‘apanhe’?”....Porque a pessoa não vê, o lance é: - “pra levar gente, tá quebrando as ambulâncias….porque que você não investe nisso?” E vai né…

E - No questionário que eu coloquei, coloquei o programa [usos possíveis da minha proposta] para saber o que iam colocar como escolha de uso…E aí foi pensado um teatro multiuso, que poderia ser um auditório tanto para apresentações musicais, de dança, ciclo de palestras, trazer eventos para cidade, é …instrutivos. Atrações que pudessem vir para cá, um espaço expositivo tanto para produção cultural das pessoas, dos artistas daqui, quanto de fora. Então poderia vir coisas novas para cá sempre, tanto as peças, as atividades também…Teria também uma área com umas salas para atividades relacionadas às atividades feitas no auditório, para que as pessoas possam fazer aulas, workshops…

P - Entendi…

E - Conviver com aquilo mais de perto…um Café para que as pessoas tenham uma área de estar…Mas o foco seria o auditório, porque ele é muito grande e se adaptado ele pode ser muito bom…E mesmo com a adaptação, aumentando o palco, como ele era um cinema e tem um palco curto né…

P - Curto é…porque ele era só pra…

E - Mesmo aumentando o palco você não perde tanta plateia porque você tem mil e duzentas pessoas, vai ter no mínimo uns oitocentos/novecentos lugares…

P - É bastante né?!

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E - Então ele vai continuar sendo grande, e aí a ideia era essa: Era com que você conservasse uma parte ali, porque o edifício visualmente e na memória das pessoas é muito importante para a cidade, e é na frente da igreja matriz…

P - Isso que eu ia falar, vai estar sempre…

E - É um lugar onde você sempre tem público, trazer um movimento para essa área de novo que já está ficando [sem usos], mas onde você tem muita área institucional: Você tem a prefeitura, as secretarias, têm a rodoviária, tem o fórum, tem a delegacia, o posto de saúde…

P - É isso que alguém ainda vai fazer alguma coisa na estação...ali o próprio município tem um projeto para restaurar toda aquela parte do anel viário, como isso também, ali fazendo sempre…. Um museu, alguma coisa de exposição, fazer vários Cafés...aquela parte que está com mato, você fazer tudo jardim, pista…

E - Eu vi o projeto…a senhora viu o projeto do Raizaro (Arquiteto da prefeitura) que saiu no jornal essa semana?

P - Tem um dele também...Uma coisa que eu lamento muito não ter saído aqui em Epitácio foi o Farol, que ia ter aqui perto do prédio….o pessoal não tinha entendido….por isso eu falo que o pessoal não sabe o alcance, porque assim, se tivesse feito, o farol ia ser com energia solar, os elevadores [do farol] seriam panorâmicos, ele era [no projeto] em vidro, a parte de cima ia ficar com a marinha [responsável], o faroleiro ia ter função de ….e em baixo, era o espaço que era de vidro, mas que era pra fazer exposição….Então o que que você tem que pensar, a gente de cidade pequena, você tem que ter coisa [projetos] que não leve a custo, porque [se] a energia é solar, se você não está usando o elevador, não tá tendo custo….você tem uma coisa pra vim ver….e todo mundo tanto o Furlan [prefeito 2005 - 2012] quanto o governador retrocederam porque não quiseram ‘apanhar’ na internet...

E - Mas chegou a ser público [o projeto]?

P - Chegou...anunciou na tevê, o Furlan [ex-prefeito, 2005-2012] deu entrevista para o Imparcial [jornal impresso de Presidente Prudente e região], para o Estadão [jornal impresso do estado de São Paulo]…Era o primeiro farol de águas fluviais [do Brasil], porque é só farol de mar...aquele de Salvador é ridículo…aquele negócio baixinho, preto e branco e a gente vai ver....então o que eu falo para as pessoas? Falavam assim: - “Dois milhões para gastar num farol? Arruma a Santa Casa! ”, eu falo assim: - “Me diga em qual cidade que você já foi visitar em qualquer parte do mundo que você já foi visitar a Santa Casa? ” Ó, você vai chegar em um lugar e vai dizer: - “Nossa preciso ir ver a Santa Casa daqui…”, isso que as pessoas não entendem….a verba pra você cuidar da santa casa tem que vir da saúde…aqui é uma estância, as pessoas vem pra olhar alguma coisa...um exemplo assim: em quatro anos foram gastos dois milhões só em fazer asfalto, mas ninguém vem aqui pra ver asfalto….enquanto a orla tá suja, quebrada, os brinquedos despencados….se fosse

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dois milhões por ano em quatro anos já seriam oito milhões e você já tinha equipado [toda a orla]... Porque que a gente vai tá fazendo agora no figueiral dois tobogãs e uma tirolesa?! Porque você atrai quem gosta do turismo de aventura e não dá custo...Aí o pessoal fala assim: - “Aqui tinha que ter um aquário marinho!”...Beleza, aí a gente vai ter que ter biólogo, nós vamos ter que andar seiscentos quilômetros lá no Paraná para pegar a primeira água do mar….porque você tem que ficar trocando….então é isso que eu vejo aqui: aqui falta a pessoa entender o que a gente precisa, eles [a população] não entendem...eu acho que seria interessante... eu sei que o momento agora não dá pra alguém pegar e falar: - “Não, eu vou restaurar!”…Precisa ser alguém que é da área, não pode chegar e fazer uma reforma....e assim, trazer coisas….mas eu acho que Epitácio ainda falta muito pra evoluir nessa parte de ter cultura….Cultura e turismo pra eles é - “Ah eu não como isso, isso não é saúde”...então infelizmente aqui você tem que ficar dando ‘murro’ [‘em ponta de faca’]...esse exemplo, assim...tá pra perder o museu. Esse museu [projeto] começou em dois mil e onze, e até agora não avançou….só não perdeu até agora esses quatro milhões porque o procurador que acionou a CESP….é um projeto que ele [procurador] gosta….mas ele já falou pra mim: - “prefeita se você não correr, eu tenho um plano B”...ele [procurador] tirou dez milhões de Teodoro (Teodoro Sampaio, cidade vizinha) que era pra aquele parque, ficaram esses cinco anos, não fez....ele catou os dez milhões e deu pro pessoal do câncer, e ele falou que ele vai fazer isso aqui….aí eu fui lá e falei: - “Doutor o senhor me dá um tempinho que eu estou entrando agora [na prefeitura]”....Não é só os quatro milhões que vai perder de ter, é ter esse museu a céu aberto e ter essas coisas….Eu também não sou nada culta...se você falar: - “Ah, a cerâmica lá…”, mas eu entendo a importância que é [preservar isso dentro do município]….

E - Eu acho que a pessoa entendendo a importância, ela podendo conviver [com espaços que valorizem a cultura], ela vai conhecer, vai aprender….pode não gostar, mas ela vai entender o que aquilo….Porque o patrimônio arquitetônico, a gente considera ele uma memória social, e é ele que faz com que você mantenha uma parte da história da cidade viva….ainda mais Epitácio que a população é muito itinerante, muita gente de fora, hoje em dia grande parte [da população] já não nasceu aqui e são pessoas que vão e vem....então se você não manter pelo menos o que você tem de arquitetura….algumas coisas, não é tudo que se mantém, mas se você não manter algumas coisas [arquiteturas] a história vai se perdendo...

P - E esse [edifício] foi emblemático por muitos e muitos anos…você tinha a praça da matriz e esse cinema…

E - A senhora chegou a ir em alguma sessão [cinematográfica]?

P - Ó, fui! …lá pelos onze ou doze anos era só o cinema que tinha…da missa já ia para o cinema…dez horas já ia embora não ficava ninguém. Então por isso que eu falo mesmo assim…Eu já morava em Adamantina quando eu tinha cinco ou seis anos e já ia no cinema para ver Tarzan...era as coisas que passava lá em Adamantina…eu fico muito triste que lá eles já acabaram com tudo, já não tem mais nem o local lá…onde funcionou tudo…fico com muito dó...eu entendo que a prefeitura não entre no meio, porque se ela entrar o cara [dono do edifício] já vai subir [o preço] e aí você decretar como utilidade pública…

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E - Tem que colocar [decretar] como patrimônio, aí custa...

P - Agora [depois de mais de quinze anos da construção] a prefeitura está conseguindo pegar a escritura do Figueiral [parque turístico da cidade]…e não tinha nem os trinta e dois mil [reais] para tirar a escritura…se a CESP não dá a escritura, eu disse: - “Oh, você vai ter que me dar um tempo, não posso dar trinta e dois mil agora se tenho que pagar as contas…”

E - Eu tenho a impressão que esse tipo de empreendimento se você não tiver uma interação público privada ou administração privada ele não vinga, porque o poder público sozinho não dá conta…não só de verba nada, mas da atividade toda…a maioria dos lugares que eu conheço não funcionam bem…

P - Mas se a gente tivesse um auditório para pelo menos umas seiscentas pessoas, dá para você trazer eventos regionais…às vezes você acaba indo fazer em Prudente [Presidente Prudente, polo regional]…aqui falta isso e falta ter um barco. Um barco para pelo menos umas cinquenta pessoas…por exemplo, assim, você mora em Epitácio, você tem a tua turma na faculdade e você quer fazer uma festa e aí fala: - Ó, vamos pra Epitácio? Vamos numa turma de cinquenta no máximo sessenta, a gente vai passear de barco, vamos no paredão das araras, vocês vão fotografar, tem um lugar que o barco para e pode todo mundo pular na água…” E assim a minha ideia era tipo um catamarã que você coloque rede, então você pode pular…Onde que você vai, sem ser pra Santa Catarina, que você tem uma água doce, que é limpinha?! Então você vai parar, não dá para você ficar aqui cinco dias, fica entediado…mas um dia você passa muito legal. Aí se tivesse esse museu…aí você vai você levanta, embarca às onze e volta às quatro [horas]...aí o que você faz das quatro às sete? - “Vou lá no museu, tenho a palestra que tenho que ver”…

Chega num dia vai embora no outro… - ”e vou ver o pôr do sol”…Aí a gente vai estar fazendo um deck legal com um monte de coisa pela orla...pronto! Aí você já fica com uma ideia: - “Nossa a cidade da Beatriz é um ovo, mas é legal...mergulhei no rio...muito bom…” Se está chovendo, beleza, mas vai no paredão das araras, ver a imensidão de água…

E - Quando eu pensei nesse projeto, não pensei diretamente no turismo....eu considerei, mas pensei primeiro na população, porque eu acho que esse auditório aqui da Orla além de ser muito pequeno, ele está longe pra maior parte das pessoas, por mais que a Orla seja uma área urbana, ela tá longe da maior parte [dos bairros adjacentes ao centro], e normalmente as pessoas vêm a pé, então a minha ideia era trazer [o auditório] um pouco mais pra dentro [da cidade] por causa da movimentação e pra estar mais próximo das pessoas…

P - Eu falo, todas as formaturas dos Prés [pré-escola] vão ser juntas…trinta, sessenta, cento e cinquenta aluninhos. Aí tem a família, você consegue colocar a pessoa sentada…com ar condicionado ligado, [melhor] do que na quadra…porque na quadra não é essa memória [que fica]…A minha formatura do Pré em Adamantina foi no cinema, então a gente estava todo mundo de beca…

E - Eu cheguei a fazer uma apresentação do Conservatório de coral aqui ainda, foi quando eles reabriram para usos diferentes [um projeto cultural em 1994] e eu

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cheguei a fazer uma apresentação, lotado de gente [o cinema]…As pessoas gostam de ver…e eu fiquei sabendo também que todo final de ano [atualmente] tem uma apresentação de alguma academia aqui de dança que é lá no Tribo [Tribo Show House, casa de show particular da cidade]...

P - Isso, isso..., mas não é um lugar preparado...sabe que assim mesmo eu vou pedir para fazer um projeto sobre o cinema, mesmo que a gente não consiga próximo e vou tentar falar com as pessoas, se ninguém começar a articular aí nunca sai [nenhum projeto cultural]…porque o mal é as pessoas quererem fazer as coisas para ser no seu mandato, assim - “ah, eu vou conseguir fazer isso para ser eu que fiz! ”, não. Você tem que começar a trabalhar para deixar encaminhado, mesmo que seja para o outro [prefeito], ou outro…Esse museu começou no tempo do Furlan [ex-prefeito]...talvez saia agora no meu [mandato]. Quer dizer, se ele não tivesse ido atrás porque já estava no final [do mandato] então não ia sair…Então eu falo isso: tem que ser uma constante. Você começa [o mandato] sabendo que você vai fazer uma coisa para a cidade...que um dia vai [dar certo]...e eu vou pedir para o pessoal do COMTUR (Conselho Municipal de Turismo) já fazer...vou sugerir...

E - O meu projeto como é só acadêmico, é só preliminar, mas eu vou disponibilizar [para conhecimento popular]….

P - Mas eu já ia te pedir [o projeto]...no dia que tiver uma reunião do COMTUR que você puder participar…porque nós precisamos que mais pessoas comprem as ideias, que pensem nisso…eu já pensei nas formaturas...sem saber se ele [edifício Cine-Azenha] tem valor arquitetônico, mas ele tem valor sentimental e cultural aqui pra Epitácio. No contexto que ele foi feito com a praça, historicamente ele é importante para a cidade…Divulgar esse tipo de trabalho é necessário...porque que eu digo que precisamos de um monte de artistas que venham expor aqui no pavilhão...segundo sábado e domingo do mês ter exposição...a pessoa precisa entrar em contato...vai aparecer trinta [pessoas] no primeiro [dia], mas depois você fica sabendo...Venceslau (Presidente Venceslau – Cidade vizinha) fala assim -” o que que tem para fazer no sábado? ” Descobre se artistas muito legais…Precisa começar, falta essa parte, alguém que pense nesse lado…

E - Nas secretarias tem alguém para essa função [cuidar do planejamento e divulgação cultural da cidade]?

P - No Turismo e na Cultura tem, eles tão tentando, o Natal [Funcionário da Secretaria de Cultura e Turismo] já fez a ‘Casa do Samba’, a exposição de todo mundo que já desfilou na avenida, há vinte e cinco anos atrás….aí você vê, no aniversário da cidade ele pegou fotos, está tentando resgatar as coisas que tem [no arquivo]....agora no Festival de Pesca, vamos colocar [a exposição] sobre o antigo festival que o Roberto [Roberto Bergamo, ex-Prefeito, 1983-1988] fazia, que era aqueles peixões, aquelas coisas….Hoje aqui [no aeroporto] está tendo salto de paraquedas, são quinhentos saltos [nesses quatro dias feriado], tem gente de Curitiba, gente tudo de fora….mas o povo não dá valor....eles adoram [os paraquedistas], porque saem lá de longe pra vir aqui? Saltar aqui? Porque tem esse visual [do lago]...

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E - É as pessoas tem que começar a questionar o porquê de tudo isso né, e o porquê do interesse de alguns [epitacianos] em fazer isso na cidade….

P - É, só que é assim, quando falta de tudo você tem que ir devagar…eu não posso perder os quatro milhões que tão ali, então estou atrás da UNESP, da Dra. Ruth que é arqueóloga que achou e que está dando o laudo para que o IPHAN venha…a UNESP já quer fazer um polo avançado aqui de arqueologia, de geologia...então assim, tem que aproveitar. Assim como o instituto federal que ninguém achava e já tem dois cursos e tal

APÊNDICE C – Pranchas

CINE-AZENHA: UM RESGATE DEVIDO CENTRO CULTURAL...

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