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27 CLASSIFICAÇÃO DE GEOFORMAS LITORAIS ACTIVAS: PROPOSTA METODOLÓGICA PARA ANÁLISE EM SIG António Alves-da-Silva 1 , Fernando L. Costa 2 1 -Instituto Geográfico Português (IGP) Tel. (351)213819600, Fax (351)213819699, email: [email protected] 2- Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT), Trav. Conde da Ribeira, 9-B, 1º, 1300- 142 Lisboa, Portugal Tel/Fax: (351) 213640046, email: [email protected] Resumo Com a banalização da utilização de SIG em processos de análise em Geomorfologia Litoral, a inexistência parcial de conceitos precisos e definitivos globalmente aceites, eventualmente normalizados, a sua materialização no terreno e uma certa falta de conhecimento ou reconhecimento desta área científica, deve ser encarado como um problema em aberto. Existe uma forte interdependência entre as formas do relevo ou geoformas, que se materializa através de relações como trocas sedimentares e energéticas que têm uma correspondência no espaço e no tempo, um determinado tipo de equilíbrio e estabilidade que é reflectido nas geoformas litorais. É esta a perspectiva de encadeamento e interdependência que confere à Geomorfologia Litoral um papel relevante no conhecimento do litoral que deve ser a base sustentável de um bom plano de Ordenamento neste espaço. Nesta comunicação é proposto um sistema de classificação geomorfológica do litoral que permita dar um passo em frente na conceptualização e integração da Geomorfologia Litoral como área científica parceira do Ordenamento. Palavras-chave: formas litorais, sistemas morfogenéticos, análise espacial, faixa costeira, Ordenamento do Litoral 1. INTRODUÇÃO: As formas de relevo do litoral espelham a acção conjugada dos agentes morfogenéticos que actuam no litoral ao longo do tempo. Por isso tornam-se indicadores excelentes na obtenção de informações relacionadas com o contexto

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CLASSIFICAÇÃO DE GEOFORMAS LITORAIS ACTIVAS: PROPOSTA

METODOLÓGICA PARA ANÁLISE EM SIG

António Alves-da-Silva1, Fernando L. Costa2

1-Instituto Geográfico Português (IGP)

Tel. (351)213819600, Fax (351)213819699, email: [email protected] 2-Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT), Trav. Conde da Ribeira, 9-B, 1º, 1300-

142 Lisboa, Portugal

Tel/Fax: (351) 213640046, email: [email protected]

Resumo

Com a banalização da utilização de SIG em processos de análise em Geomorfologia

Litoral, a inexistência parcial de conceitos precisos e definitivos globalmente aceites,

eventualmente normalizados, a sua materialização no terreno e uma certa falta de

conhecimento ou reconhecimento desta área científica, deve ser encarado como um

problema em aberto. Existe uma forte interdependência entre as formas do relevo ou

geoformas, que se materializa através de relações como trocas sedimentares e

energéticas que têm uma correspondência no espaço e no tempo, um determinado tipo

de equilíbrio e estabilidade que é reflectido nas geoformas litorais. É esta a perspectiva

de encadeamento e interdependência que confere à Geomorfologia Litoral um papel

relevante no conhecimento do litoral que deve ser a base sustentável de um bom plano

de Ordenamento neste espaço. Nesta comunicação é proposto um sistema de

classificação geomorfológica do litoral que permita dar um passo em frente na

conceptualização e integração da Geomorfologia Litoral como área científica parceira

do Ordenamento.

Palavras-chave: formas litorais, sistemas morfogenéticos, análise espacial, faixa

costeira, Ordenamento do Litoral

1. INTRODUÇÃO:

As formas de relevo do litoral espelham a acção conjugada dos agentes

morfogenéticos que actuam no litoral ao longo do tempo. Por isso tornam-se

indicadores excelentes na obtenção de informações relacionadas com o contexto

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morfodinâmico recente. O litoral, do ponto de vista da dinâmica morfogenética pode

dividir-se em sectores essenciais que podem ter faixas de sobreposição (fig.1). O

primeiro, o litoral activo, é aquele onde as geoformas evoluem actualmente por

processos litorais. O segundo, o litoral herdado, situado na periferia do primeiro mas de

extensão muito variável e difícil de determinar, corresponde a anteriores posições do

litoral onde as formas já não evoluem por processos litorais, e um terceiro sector, de

transição, situado entre os dois anteriores, onde as formas evoluem por processos

mistos, tanto litorais como continentais (a sotamar) ou marinhos (a barlamar).

Início dainteracção

entre o fundodo mar e a ondulação

(PONTO DE OCLUSÃOou FECHO)

Limiteinterior

da influênciamorfogenética

da cunha salina(PONTO NULO ou NODAL)do alcance da salssugem,

duna frontal, ou arriba

Processos Marinhos

Processos Continentais

Área sempre imersa

Processos Litorais

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Litoral 2D

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entre o fundodo mar e a ondulação

(PONTO DE OCLUSÃOou FECHO)

Limiteinterior

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duna frontal, ou arriba

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Área sempre emersa

Fachada Costeira

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Figura 1. Faixas de morfodinâmica litoral em função da importância relativa dos processos litorais.

Este tipo de zonamento, difícil de materializar no terreno, é necessário ser levado em

consideração para se conseguirem retirar com rigor os aspectos geomorfológicos

relevantes para o Ordenamento do Litoral, nomeadamente o tipo de dinâmica (erosiva,

acreciva ou de equilíbrio, e respectivos graus relativos de dominância e intensidade dos

processos litorais) e evolução provável da linha de costa em termos dos avanços ou

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recuos previsíveis. Assim, a identificação e delimitação das diferentes formas no terreno

e a zona a que pertencem é a principal acção a levar a cabo.

Mas, para implementar esta tese, é necessário proceder a uma síntese conceptual das

formas litorais, o que se torna ainda mais imprescindível quando se pretende utilizar

tecnologias de informação geográfica (TIG) para o efeito, tendo em vista a construção

de sistemas de informação geográfica (SIG) para análise geomorfológica do litoral.

Neste campo, o modo de associação de atributos significativos a objectos localizados no

espaço geográfico deve ser possível, claro e objectivo (classificando ou quantificando),

de modo a tornar compreensíveis os processos de análise espacial que irão identificar

selectivamente as diferentes áreas significativas.

Apesar da existência de monografias e obras de inquestionável valor sobre geoformas

litorais, a falta de objectividade de alguns conceitos, o desencontro de outros, os

diferentes contextos em se abordam e, nomeadamente, o nível de detalhe com que são

tratadas, são argumentos que se podem invocar para explicar o facto de ainda não existir

uma norma de referência para classificação das geoformas litorais como tal. O problema

começa pela necessidade de definir aquilo que se considera ser espaço litoral, em que

contexto temporal isso sucede e ligar essa relação a conceitos como os de linha de costa,

faixa costeira e fachada costeira. Nesta perspectiva aqui abordada, o espaço litoral dirá

respeito ao litoral activo, onde as geoformas são actualmente geradas directa ou

indirectamente por processos litorais que lhes conferem toda a sua especificidade e que

reflectem o modo como esses processos actuam.

Citando Finkl (2004), apesar de ter havido várias tentativas ao longo do tempo para

resolver o problema da classificação e nomenclatura das costas, ainda não foi

encontrada uma completa solução consensual e satisfatória. Ainda segundo este autor,

editor da revista Journal of Coastal Research e director da Coastal Education and

Research Foundation, as necessidades complexas dos dias de hoje, requerem soluções

sofisticadas para cruzar e inter-relacionar problemas no litoral, que são facilitadas

pela organização de parâmetros biofísicos num todo coerente ou num esquema

universal. Este mesmo autor propôs uma classificação abrangente, com uma forte

componente geomorfológica que abarca o controle litológico, aspectos cronológicos,

processos de geodinâmica, grandes unidades de relevo e características morfogenéticas,

que adiante voltaremos a referir (Finkl, 2004).

A aplicação da Geomorfologia Litoral ao Ordenamento, deve ser vista numa

perspectiva integrada como nível de desagregação do sistema ambiental. Deve no

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entanto constituir uma preocupação inicial, mesmo básica, uma vez que todas as acções

relacionadas com o ordenamento vão assentar, em primeira análise, sobre o solo, isto é

sobre as formas de relevo. O apelo à necessidade de integração interdisciplinar da

informação geográfica no ordenamento e gestão do litoral (Rocatagliatta, 2004), faz

com que a referência explícita à Geomorfologia Litoral, esteja ausente na maior parte

dos casos, embora essas referências existam, como é o caso de Al-Bakri (1996) que

refere que o Planeamento costeiro deve ser sustentado numa base geomorfológica:

descrição das geoformas, dos sedimentos e dos processos. Normalmente as unidades de

análise espacial fixadas para o Ordenamento do litoral são determinadas quase sempre

por critérios que, só por mera coincidência, correspondem a limites naturais com um

determinado significado, pois, em geral, atende-se mais a critérios jurídico-

administrativos ou de conveniências circunstanciais, ou são meramente empíricos, o que

contraria uma visão universal da ocupação do espaço mais consentânea com a visão

sistémica da sua organização real. Neste contexto, à partida, fica limitada a

compreensão das interacções sistémicas, uma vez que não se procura a integração no

mesmo espaço dos elementos que o compõem, ainda que numa escala contextualizada.

O projecto europeu para a Gestão Integrada da Zona Costeira (GIZC), em 1998, foi ao

encontro das necessidades de recolha de indicadores para uma classificação costeira

referida no Relatório Anual do European Topic Centre of Marine & Coastal

Environment (ETC- Izzo, 1996). Prevendo uma organização comum europeia da

legislação sobre o ordenamento e gestão do litoral, a União Europeia para a

Conservação do Litoral (EUCC) esboçou uma metodologia de classificação da linha de

costa europeia, com alguma preocupação em termos geomorfológicos (Comissão

Europeia, 1999), que parece ajustada para resultados em mega escalas (inferiores a

1:1000.000). Prevê o relacionamento entre características geológicas, oceanográficas e

as várias paisagens, formações, sistemas e grupos litorais de tipos de habitat a partir dos

quais se elaborou uma classificação preliminar de litoral. É, no entanto, redutora em

relação aos factores que utiliza, pois estão ausentes aspectos importantes como a

altitude e a distância ao mar. Os critérios de avaliação usados e os tipos de fachada

costeira relacionados sintetizam-se na tabela da figura 2.

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Figura 2. Tipologias de Sistemas Costeiros, segundo a EUCC (1999, trad.).

No entanto, esta classificação não deixa de parecer ajustada, tendo em consideração

que se propõe apresentar resultados em mega escalas (inferiores a 1:1000.000), como é

o caso do mapa Coastal Geomorphology and Slope Class e do Coastal Systems of

Europe.

As primeiras classificações feitas no sentido do estabelecimento de uma hierarquia de

formas litorais, enquadram-nas com fenómenos eustáticos (Valentin, Johnson, 1952;

Valentin, 1952; Cotton, 1952; Strahler, 1986), tectónicos (Inmann, Nordstrom, 1971;

Strahler, 1986), estados evolutivos do relevo (Valentin, 1952), aspectos estruturais

(Guilcher, 1954), características da margem continental (Inmann, Nordstrom, 1971);

com aspectos morfogenéticos (Shepard, 1971), aspectos integrados (Johnson, 1919); ou

morfosedimentológicos (May e Hansom, 2003), grau de consolidação dos materiais

(Owens, 1994), tipo de linha de costa quanto à exposição e granulometria (South

Florida Regional Planning Council, 1984). No entanto, os factores que têm em

consideração são difíceis de quantificar e muito menos de materializar no terreno

através da sua cartografia para poderem ser de algum modo indicadores para o

Ordenamento. Existem ainda várias classificações costeiras recentes, como a do

Programa de Geologia Marinha e Costeira dos Serviços Geológicos dos Estados

Unidos, voltada essencialmente para a relação entre a Geomorfologia e a actividade

antrópica, tendo em vista a avaliação de riscos (fig.3).

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Figura 3. Classificação da Geomorfologia Litoral, segundo os USGS, como base preliminar para avaliação do risco relacionado com a actividade antrópica (USGS, 2004, trad.).

Mais objectiva é a classificação utilizada no projecto Coastline 2000, inspirado no

professor Albert Steers e na sua filosofia relativamente à educação sobre Geografia do

Litoral, que teve como finalidade mobilizar jovens para fazerem um levantamento do

litoral tendo em vista a sua sensibilização para o problema da conservação deste espaço

como património paisagístico nacional do Reino Unido (fig. 4).

Tecnicamente passou pela criação de uma base de dados, contendo características do

litoral e dados resultantes de análise espacial e inquéritos. Esta classificação

geomorfológica, foi assim usada directamente para uma acção de ordenamento ainda

que não fosse exactamente esse o seu objectivo fundamental.

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Figura 4. Classificação Costeira do Projecto Coastline 2000 (trad.) Anglia Campus.

Noutra perspectiva, Short (1999), propôs uma classificação baseada nas propriedades

energéticas da costa relativamente à ondulação, definindo categorias em função do seu

efeito na deflecção da ondulação, segundo a figura 5.

Esta classificação é no entanto efectuada para suportar a classificação de praias e

formas associadas, não sendo por isso generalizável.

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Figura 5. Classificação de propriedades energéticas do litoral, segundo Short (1999, modif.)

Por fim, destaca-se a mais recente proposta, por Charles Finkl (2004), que efectuou

uma classificação abrangente e detalhada, baseada no que designa por unidades

morfológicas (tabela da Figura 6). Pretende reunir, sintetizar e melhorar algumas das

principais classificações até então conhecidas, integrando os princípios de base das

classificações mais antigas com os das mais recentes que, segundo o autor, são mais

viradas para formas e materiais (observáveis no campo) do que para aspectos mais

subjectivos como estruturas emergentes ou submergentes (Finkl, 2004). Propõe-se por

isso estruturar uma classificação unificada e visa tornar-se universal e aberta no sentido

de poder receber modificações ou ser completada à medida que os conhecimentos vão

avançando, tendo como propósito o estabelecimento de estruturas taxinómicas de

Geomorfologia Litoral segundo um determinado escalonamento articulado, que permita

cartografar os elementos em várias escalas articuladas.

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Figura 6. Classificação Costeira de Finkl (2004, traduzida, simplificada e

esquematizada por Alves-da-Silva, 2005)

Estas estruturas, não são baseadas no que cada forma em si representa, mas num

agrupamento de parâmetros que refere como necessários à classificação da

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Geomorfologia do litoral, como as diferenças de litologia no que diz respeito à

coerência das estruturas; posição cronológica relativa; processos zonais geodinâmico-

morfoclimáticos onde se inserem; grandes tipos de relevo (unidades morfo-estruturais) ;

características morfogenéticas do relevo e elementos do relevo e superfícies

geneticamente homogéneas. Considerando a litologia à parte, tudo o restante é

encadeado segundo uma escala de análise crescente, do mais abrangente para o maior

pormenor.

Usando um complexo processo dedutivo, esta classificação não se enquadra nos

mesmos propósitos defendidos neste trabalho, já que pretende enquadrar as formas

litorais em grupos taxinómicos mais abrangentes do que as próprias formas, não as

definindo num quadro dos sistemas geomorfológicos, embora isso possa estar

subjacente.

Recentemente, o Ministério do Ambiente e Ordenamento criou um grupo de trabalho

para delinear as bases estratégicas da GIZC nacional cujas conclusões foram publicadas

em 2007. Aí reconhece-se implicitamente a dificuldade que existe em definir

objectivamente conceitos relacionados com o espaço litoral e a sua delimitação,

propondo algumas definições e delimitações que não vêm acrescentar nada de novo ao

já estabelecido, até porque não é possível fazê-lo de modo a convergir num só,

conceitos que têm diferentes significados conforme os objectivos e interesses. Mas o

objectivo deste grupo de trabalho não teve um propósito de índole exclusivamente

geomorfológica.

Pode concluir-se que existe uma certa preocupação, ainda que muitas vezes latente, em

introduzir aspectos relacionados com a Geomorfologia na caracterização e classificação

do litoral. Conforme se defendeu antes, o relevo é a base física do Ordenamento e é por

aí que a delimitação do litoral deve começar. Não sendo um processo inquestionável,

obedecendo a 3 princípios é possível materializar-se no espaço limites naturais com

alguma precisão:

1-Limitar o espaço a barlamar ao nível a partir do qual é possível encontrar geoformas

emersas ainda que efémeras (zero hidrográfico - ZH);

2-Limitar a sotamar pela linha de águas máximas (5m - NAM);

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3-Efectuar a identificação, delimitação e caracterização de sistemas elementares

activos dentro dos limites definidos.

Nesta base estrutural, parte-se para uma proposta metodológica de classificação do

espaço onde ocorrem formas litorais activas que, uma vez cartografadas e

caracterizadas, possam suportar pesquisas espaciais, determinar relações topológicas

significativas e constituir-se numa ferramenta sólida de estudo e análise da situação

presente, da evolução das formas litorais, da dinâmica que as condiciona e da realização

de previsões.

2. METODOLOGIA:

2.1 Dimensionamento da área de classificação

Numa primeira fase, é necessário materializar no terreno a definição de espaço litoral,

com a complexidade que lhe está associada, e que obriga à busca de parâmetros

integradores e simultaneamente identificáveis, bem como à concretização e

harmonização escalar de conceitos geomorfológicos mal concretizados e seu

encadeamento numa perspectiva sistémica.

Em primeiro lugar, é imprescindível limitar geograficamente o espaço de análise, que

deve corresponder à área onde é máxima a probabilidade de ocorrência de formas

litorais activas, isto é, aquelas cuja evolução e perfil são determinados por factores

litorais, nomeadamente pela acção do mar. Este espaço, ou faixa de morfogénese litoral

activa, tem dimensões variáveis e flutuantes que decorrem dos diferentes níveis do mar

significativos, sendo o mais baixo, o ponto de oclusão, que corresponde à profundidade

de fecho. O espaço que se estende de mar para terra deste ponto até ao nível de águas

mínimas, é dominado por processos essencialmente marinhos e as formas litorais só

começam a ter condições para se formarem, acima deste nível, onde os processos

marinhos alternam com os sub-aéreos que vão ganhando importância crescente até ao

nível de águas máximas, acima do qual passam em geral a ter preponderância completa.

Assim, o limite interior, é definido pela linha de águas máximas, isto é, pelo alcance

superior em terra da água do mar com competência morfogenética, e pela faixa

adjacente onde dominam os processos sub-aéreos, cuja acção é limitada pela ocorrência

ou ausência de dunas litorais. Pode assim considerar-se que o litoral geomorfológico

activo corresponde à totalidade da faixa definida entre o ponto de oclusão e o limite

interno do campo dunar litoral. As formas litorais ocorrem essencialmente entre o nível

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de águas mínimas e o limite interior das dunas litorais, funcionado a linha de águas

máximas como esse limite, caso não existam dunas (fig1.

Há ainda que referir a dificuldade de identificação dos limites extremos (águas

máximas e mínimas), de modo sistemático e coerente. O problema é controlável

considerando apenas uma faixa de probabilidade máxima definida entre o zero

hidrográfico (ZH), que corresponde aproximadamente ao nível de baixa mar de águas

vivas, e a curva de nível dos 5 metros, que se considerará um limite convencional, dada

a fraca probabilidade do mar ultrapassar esta altitude.

Admite-se assim que a maioria das formas litorais se localiza entre o nível a partir do

qual a plataforma continental pode ficar emersa e termina onde os processos litorais

deixam de ter influência visível na morfogénese. No primeiro caso, afere-se esse limite

ao ZH e, no segundo, à curva de nível dos 5 metros. Neste contexto, o espaço resultante

corresponderá não só ao de maior probabilidade de ocorrência de formas litorais como

ao de formas com uma morfogénese litoral preponderante. Uma excepção deve, no

entanto, ser salvaguardada a das dunas litorais, que podem encontrar-se em áreas muito

acima do nível interno referido. Para tal, há que efectuar uma verificação caso a caso

(fig. 7).

Figura 7. Delimitação do espaço de localização de formas litorais activas na Zona Costeira. (NAm- nível de águas mínimas; BMAV – Nível de baixa-mar de águas vivas; BM – Nível de baixa-mar; NM – Nível médio do mar adoptado; PM –

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Nível de preia-mar; PMAV – Nível de preia-mar de águas vivas; NAM – Nível de águas máximas); ZH – Zero hidrográfico

Nos estuários, deltas e superfícies lagunares em geral, os limites internos devem ser

re-equacionados, nomeadamente determinando o alcance máximo da penetração da

cunha salina, os ápices nos estuários e deltas, e os limites nas margens para os quais se

deve ter em conta a influência relativa do mar. Neste caso há que considerar o efeito das

marés e da sobrelevação potencial provocada por caudais de cheia que se lhes podem

associar. Nos casos em que existe uma barreira artificial no interior a aferição destes

limites torna-se fácil. Caso contrário, a presença ou ausência de formas fluvio-marinhas

pode permitir essa identificação, mas considerando a maré como factor de penetração da

influência do mar, então o limite interno pode estender-se por dezenas de quilómetros

para o interior. Ainda assim, por si só, a onda de maré não origina formas litorais no

interior dos estuários sem a presença de água salgada.

Neste contexto Alves-da-Silva (2005) propôs uma hierarquização sistemática de

formas litorais, que congrega 4 níveis, da forma mais simples à mais complexa

(excluindo as microformas) em função das dimensões visíveis, sem perder a noção de

continuidade no espaço e no tempo, onde cada elemento deve ser considerado como um

sistema geomorfológico (fig. 8):

Figura 8. Níveis de Hierarquização propostos para classificação de geoformas litorais.

- O nível inferior, de sistemas elementares, corresponde às formas cujos elementos são

entidades morfologicamente homogéneas, individualizáveis na paisagem;

- O nível médio, de sistemas compostos, inclui formas que integram pelo menos, dois

sistemas elementares;

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- O nível superior, de sistemas complexos homogéneos ou heterogéneos, integra mais

de dois sistemas elementares que, no conjunto, funcionam como um só, para a

individualização da sua forma, necessariamente complexa ou, integrando conjuntos de

vários sistemas elementares que interagem entre si ou são interdependentes, mas cujo

resultado não é, em primeira análise, uma nova forma. Dentro deste conjunto, ainda se

pode partir para um nível mais abrangente em termos de escala, o das grandes fachadas

litorais que, no global, são conjuntos de sistemas, que podem ser individualizados

respeitando uma certa homogeneidade morfológica, claramente condicionada pelas

características lito-estruturais comuns, e que caracterizam a paisagem ao longo de áreas

mais ou menos extensas.

Procura-se estabelecer um esquema lógico que permita suportar um SIG visando a

pesquisa de formas e a sua relação espacial, tendo em vista a constituição de uma BDG

orientada para a análise geomorfológica, mas também utilizável em processos de

avaliação no Ordenamento do Território, já que o significado da presença de

determinada geoforma num determinado local, implica considerar aspectos

condicionantes do Ordenamento como por exemplo a origem dinâmica dessa forma; a

sua evolução passada e presente, circunstâncias que vão permitir fazer previsões sobre o

modo de evolução daquele espaço e os riscos relativos decorrentes da sua potencial

ocupação. É necessário desenvolver e promover uma relação causal entre

Geomorfologia e Ordenamento do Território. Neste caso, a causa é a forma de relevo; o

efeito é que tratando-se de uma forma de relevo concreta, então está-se perante

condições específicas que devem condicionar o ordenamento: uma dinâmica

sedimentar, um elo do sistema, que determinam cuidados particulares para

comportamentos e respostas particulares. Por exemplo, a presença de uma praia implica,

de entre outros aspectos, considerar no seu ordenamento as condições morfodinâmicas

genéricas da sua origem, as suas ligações como sistema aberto e dependente e o seu tipo

e estado de equilíbrio, estável ou instável, dinâmico ou estático, segundo o conceito de

Summerfield (1993). Só deste modo se poderão fazer avaliações integradas de custos

versus benefícios e de impactos, uma vez que qualquer intervenção tem necessariamente

um qualquer impacto no sistema. Outro exemplo, a simples construção de um apoio de

praia pode desestabilizar todo o sistema morfo-sedimentar, caso a sua posição possa

prejudicar a transferência de sedimentos de uma praia para uma duna. A intensidade

desse impacto pode ou não provocar reajustes no seu equilíbrio, devendo tal facto ser

previsto com fiabilidade.

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A clarificação de conceitos relacionados com formas litorais e a sua associação a

dinâmicas litorais foi estabelecido em Alves-da-Silva (2005, cap.2). O passo seguinte

refere-se ao esquema de classificação imbricado que assenta nos objectivos sequenciais

de: a) definir o espaço a classificar; b) identificar sistemas geomorfológicos

elementares; c) conceber pesquisas espaciais para determinação de relações topológicas

e identificação de sistemas de complexidade superior; d) consolidar uma BDG que

suporte o acompanhamento da evolução das formas inicialmente identificadas; e) propor

o SIG como ferramenta de suporte a estudos de Geomorfologia e de Ordenamento do

Litoral.

Como caminho a seguir, procede-se ao estabelecimento de uma base conceptual

homogénea que, numa perspectiva sistémica, vise a associação de tipos morfológicos a

processos, com vista à melhor compreensão do funcionamento dos sistemas

geomorfológicos do litoral e dos fenómenos naturais, como reflexos dos processos que

intervêm no sistema onde se inserem.

O conceito de geoforma litoral deve surgir sempre no contexto de um determinado

sistema geomorfológico, ligado a determinada entidade lito-estrutural, actuado por

processos e dinâmicas litorais que lhe conferem determinadas características específicas

ao nível do aspecto morfológico, geometria e dimensões. Esse mesmo significado pode

ser utilizado para constituir uma estrutura classificativa capaz de introduzir de modo

organizado e hierarquizado, os aspectos geomorfológicos essenciais, útil, por exemplo,

para em acções de ordenamento integrado ou, simplesmente, tendo como propósito

contribuir simplesmente para a organização e sistematização do conhecimento científico

no campo da Geografia Física.

Existem abordagens concretas aos conceitos de geosistemas ou sistemas elementares

(Christopherson 2008 a,b) bem como à sua modelação (Anderson, 1988).

Sabe-se ainda que as geoformas litorais são, simultaneamente, parte constituinte e

produto do subsistema ambiental que é o sistema litoral, que tem como elemento

preponderante o mar e a sua acção modeladora caracterizada por processos de erosão,

transporte e deposição de características específicas. Como resultado, as geoformas

litorais reflectem um tipo dinâmica (erosiva ou acreciva) que presidiu à sua génese, e o

estudo da sua evolução mostra o modo e o grau com que essa dinâmica se transforma de

acordo com o estado de equilíbrio que controla o sistema.

Nesta base, está a ser estruturado no IGP, um projecto cujo objectivo é construir um

SIG que permita identificar todas as geoformas litorais dentro dos parâmetros propostos,

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tendo em vista não só o inventário em si, mas sobretudo a análise espacial e temporal

que irá permitir avaliar periodicamente a evolução do espaço litoral e o tipo de

processos localizados que presidem à morfogénese.

Em Geomorfologia do litoral, existem diversas classificações de formas litorais, mas

não há uma de tal modo abrangente, que permita o estabelecimento cognitivo (no

sentido de ser perceptível, imediatamente compreensível) de relações geográficas

formais que possibilitem uma integração plena da Geomorfologia nos processos de

avaliação ambiental, pilares fundamentais para um ordenamento de sucesso.

Por outro lado, a informatização e a criação de sistemas de informação

computadorizados, carecem de bases de dados estruturadas de modo a permitir

estabelecer com precisão as tais relações geográficas que sustentarão essa avaliação

ambiental.

O aspecto essencial desta caracterização pretende, entre outros aspectos, dar ênfase às

relações sistémicas entre geoformas.

Assim, apresentam-se em seguida os esquemas tipológicos de referência ao projecto.

A figura 9 mostra algumas das relações possíveis entre sistemas geomorfológicos

litorais.

Figura 9. Sistemas geomorfológicos litorais: exemplos de possíveis relações de interdependência entre sistemas homogéneos.

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A relação de vizinhança entre dois sistemas elementares, de acordo com a noção de

sistema, pressupõe desde logo a existência de relações mútuas de interdependência.

Estas relações podem ser de natureza simbiótica, no sentido que ao desaparecer um dos

elementos o outro deixa de ter condições para prosseguir a sua morfogénese natural,

passando a entrar em rotura ou a encontrar um equilíbrio diferente que aponte noutra

direcção em termos de evolução como forma de relevo. Esta noção é de extrema

importância para o ordenamento do litoral, implicando um alargamento do campo visual

e do espaço de intervenção para além dos seus limites. Isto não significa que não

existam relações entre dois elementos que não sejam vizinhos no espaço. A noção de

sistema defendida, faz pressupor que essas interacções não só existem, como se podem

estender indefinidamente no espaço e no tempo, com maior ou menor intensidade.

Inclusivamente, a "morte" de uma forma pode ser induzida naturalmente pelo próprio

sistema geomorfológico. Aliás, de uma maneira geral e numa lógica Davisiana, a

geodinâmica externa aponta por exemplo para a eliminação de tudo o que é saliente.

A proximidade no espaço entre duas entidades morfológicas implica e significa

certamente uma intensidade de relações mais forte e com níveis de interdependência

maiores, nomeadamente ao nível da faixa de contacto entre tais sistemas elementares

adjacentes.

2.2 Identificação e classificação de sistemas elementares e compostos

O esquema de classificação de formas litorais assenta no princípio da existência de

uma relação sistémica de interdependência entre elementos que constituem sistemas

geomorfológicos que controlam a sua evolução. Comandados e condicionados pela

acção diferenciada dos agentes morfogenéticos no espaço, no tempo e na intensidade

com que actuam, existem múltiplas combinações de sistemas geomorfológicos e não é

possível abordar neste trabalho todas elas. Há no entanto alguns fundamentais, que

representam a esmagadora maioria das combinações e que dão origem à maior parte das

fachadas litorais em toda a Terra. Trata-se dos sistemas compostos de praia e de arriba.

Em todas as fachadas litorais marítimas, o contacto entre o mar e a terra é feito através

de uma praia ou através de uma arriba. Os sistemas de praia são essencialmente

acrecivos, enquanto os de arriba são eminentemente erosivos. Podem ainda combinar-se

ambos os sistemas.

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2.2.1 Sistemas de arriba

Os sistemas elementares de arriba, que se materializam em formas de arriba, são por

natureza, resultantes da acção dos agentes erosivos sobre relevos rochosos pré-

existentes que vão sendo talhados segundo o tipo e intensidade desses agentes litorais

que sobre eles actuam. A sua situação actual permite verificar se as condições que os

originaram se mantêm direccionadas para o mesmo propósito (erosão) ou se, pelo

contrário, o sistema foi alterado ou atingiu um determinado estado de maturação que

aponte para um equilíbrio no balanço sedimentar. No primeiro caso, uma plataforma

rochosa com alguns recifes e blocos soltos, adjacente a uma arriba, indica, à partida, que

o processo erosivo se mantém em desenvolvimento. Por outro lado, a existência de

praias consistentes junto à base das arribas, pode indiciar o fim do recuo das arribas por

processos marinhos e o início da sua fossilização caso haja a formação de uma sistema

dunar na antepraia ou simplesmente a sua estabilização, passando a evoluir por

processos continentais. A figura 10, tipifica um sistema de arriba activo.

Figura 10. Tipologia de litoral de arriba (genérico) segundo Brigs (et al, 1997) in

Haslett (2000, adap.).

Para além da arriba propriamente dita, individualizável e que corresponde ao grande

degrau sobranceiro ao mar, existe todo um conjunto de formas associadas à sua

evolução que, no seu todo constituem o que se designa por sistema composto de arriba,

cujas diferenciações morfológicas são essencialmente decorrentes da natureza geológica

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da rocha em que a arriba é talhada. Das muitas combinações morfológicas passíveis de

ocorrerem passam a sintetizar-se as principais na figura 11.

Figura 11. Sistemas de arriba – exemplo de combinações morfológicas possíveis a

partir de uma arriba ou arriba com vertente costeira: as setas indicam a possível

presença a barlamar do sistema de onde partem.

Os sistemas de plataforma rochosa-arriba, são os sistemas de arriba mais comuns, mas

existe uma enorme diversidade de circunstâncias capazes de fazerem variar a própria

evolução do sistema em si.

O processo de formação de plataformas rochosas é condicionado pelo aumento do seu

comprimento. À partida, quanto maior for o comprimento da plataforma rochosa, em

média, menor será a energia da ondulação que vai chegando à base da arriba para a

erodir. Se houver evolução desta por acção de processos sub-aéreos no topo e os

materiais erodidos se depositarem na base, então o seu processo de evolução vai sendo

ainda mais retardado. Haslett (2000), refere esse feed-back negativo da energia da

ondulação em plataformas rochosas. Mas o processo é ainda condicionado pela

rugosidade e declive. A arriba pode sofrer erosão basal, somente na preia-mar, caso a

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plataforma rochosa seja inclinada. Por outro lado, pode haver ilhéus, escolhos, franjas

ou barras de recifes residuais de dureza, ligados ao substrato rochoso ou ainda matacães

ou blocos de grandes dimensões desprendidos da arriba que exercem sobre o mar um

efeito de barreira, dissipando também a energia da ondulação, pelo menos enquanto

estão emersos. Uma terceira situação, onde a plataforma rochosa está sempre imersa, a

energia da ondulação pode ser ainda menos significativa, caso a profundidade seja

suficientemente grande para evitar o rebentamento das ondas na base das arribas,

limitando assim o efeito erosivo. Como consequência desta dissipação de energia,

podem formar-se praias junto às arribas.

Quando se fala em sistemas praia-arriba, está a considerar-se um sistema de arriba e

não de praia, enquanto se trata de um sistema erosivo. Caso se forme um sistema dunar

na antepraia, na base da arriba, será de considerar que a arriba passa a evoluir por

processos sub-aéreos, embora alguns destes processos, como a haloclastia, sejam

litorais, e passa a ser uma forma morta ou herdada. O sistema dunar, pode mesmo

instalar-se no topo da arriba. No primeiro caso, os sedimentos de praia (areias, cascalhos

e calhaus), havendo condições morfológicas e hidrodinâmicas para o fazer, depositam-

se na base das arribas, podendo ser remobilizados e atirados contra a própria arriba

acentuando o efeito abrasivo da ondulação e dos fenómenos de quarrying que possam

ocorrer. Por outro lado, se houver uma deposição massiva, é possível que se forme uma

praia extensa sobre a plataforma rochosa e a arriba só seja alcançada em situações

extremas. Ainda, noutra circunstância, não existindo plataforma rochosa, e numa

situação de equilíbrio sedimentar dinâmico, a taxa de evolução de uma arriba por

factores litorais é pouco significativa. Mesmo em costas de erosão acentuada, tais

sistemas podem formar-se em reentrâncias na fachada rochosa dos litorais onde, se não

houver intervenção de organismos fluviais, há tendência para se originarem circulações

celulares de sedimentos, alcançando-se um estado de equilíbrio do balanço sedimentar

ou seja, forma-se um sistema sedimentar semi-fechado. É o caso das praias encastradas

e das praias de bolso, que são sub-sistemas em equilíbrio contidos num litoral de

arribas.

Havendo muitas variantes e configurações morfológicas de sistemas de arribas, salvo

algum fenómeno paroxísmico, a sua morfologia resulta sempre do balanço energético

entre os processos sub-aéreos, marinhos e outros processos litorais, actuantes numa

determinada rocha com uma constituição morfo-lito-estrutural, mais ou menos

homogénea ou heterogénea, mais ou menos fracturada, regular ou irregular. Dependem

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ainda do tipo e amplitude da maré, sendo de prever que quanto menor o seu período e

maior a sua amplitude, maior será o desgaste. A posição destes sistemas relativamente

ao nível da água e ao alcance da ondulação também é significativo, bem como a sua

exposição relativamente à incidência dessas ondas e das correntes de deriva litoral

originadas pela difracção destas.

2.2.2 Sistemas de Praia

Os sistemas de praia são neomórficos e centram-se na forma principal de praia.

Resultam da existência de balanços sedimentares positivos que conduzem à deposição

de sedimentos móveis alóctones que se consolidam como forma em bacias de recepção

rochosas pré-existentes. São totalmente dependentes da ondulação e da disponibilidade

de sedimentos, sendo influenciados pelas marés e vento ou ainda pelo tipo e calibre dos

sedimentos, biota, temperatura do ar e água e química da água. Estendem-se desde a

profundidade de fecho, a partir da qual a energia da ondulação é capaz de transportar

sedimentos móveis para sotamar, e o limite superior da deriva de praia, que é o limite da

acção sub-aérea da ondulação e do transporte de sedimentos e constitui a transição para

o domínio dos processos sub-aéreos (Short, 1999). Nesse espaço existe uma série de

sub-sistemas cujo zonamento é variável nas suas dimensões. A figura 12, mostra a

tipologia de um sistema de praia.

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Figura 12. Tipologia de um sistema de praia.

Consideram-se somente como sistemas de praia os de acumulação cuja praia seja o

elemento principal e, como tal, os sistemas de praia-arriba, serão considerados como

sistemas de arriba. Pelo contrário, os sistemas de praia-duna-arriba, já se incluirão nos

sistemas de praia, uma vez que a arriba já não evolui por processos marinhos, e o

sistema litoral é de acumulação, portanto de praia. Tal como nos sistemas de arriba se

geram uma série de formas particulares relacionadas com a morfodinâmica destes

sistemas, nos de praia sucede o mesmo, obedecendo ainda a um zonamento mar-terra

segundo o qual surgem na posição relativa adequada à sua morfogénese.

A figura 13, mostra as principais combinações de formas em sistemas de praia.

Figura 13. Sistemas de praia – exemplo de combinações morfológicas possíveis a partir de uma praia: as setas indicam a possível presença a barlamar do sistema de onde partem.

Praticamente, não se pode falar de sistemas de praia isolados, pois uma praia surge

quase sempre associada a outro sistema geomorfológico adjacente. No entanto, nas

flechas e nalguns tipos de barras, podem surgir praias isoladas. Mas o mais comum é o

sistema praia-duna que é dominante na esmagadora maioria dos litorais de acumulação.

A praia húmida, superfície da praia correspondente à faixa entre marés, está

diariamente sujeita a variações de perfil, pelo menos devido à acção da maré. A praia-

seca, só alcançada pela água do mar em situações extremas, está sujeita à acção do

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vento que mobiliza os sedimentos mais finos que vão originar a formação de dunas a

sotavento. Estas são posteriormente colonizadas por vegetação. Também aqui, existe

um feed-back negativo do sistema em relação à razão de energia necessária para mover

os sedimentos: à medida que as dunas vão sendo colonizadas, a sua tendência para se

fixarem é maior pois será preciso mais energia eólica para as mover e fazer progredir

para o interior. Por sua vez a energia aí também é menor pois, em geral, a faixa costeira

é uma zona de geração de vento por excelência, dado que é um interface entre duas

unidades de calor específico diferente, originando com frequência elevados gradientes

de pressão na camada limite da atmosfera, no sentido mar-terra e ao longo desse

interface. Assim, a sua periferia é também por excelência uma faixa de perda de energia

eólica e, por consequência, uma zona de deposição e formação de dunas.

Para além dos sistemas de praia e de arriba, existem outros compostos como os sistemas

biogénicos automórficos de coral ou ainda os de inundação que têm como elemento

central um corpo de água. Os mangais podem ainda ser referidos como casos

particulares de sistemas de pântano litoral, que surgem nas regiões tropicais. O aspecto

antrópico deve ainda ser considerado como elemento perturbador do sistema natural que

nele interfere decisivamente.

2.3 Identificação e classificação de sistemas complexos e fachadas litorais

Existem sistemas complexos homogéneos e heterogéneos. Os primeiros constituem-se

como formas individuais, mas são constituídos por duas ou mais formas elementares, ou

mesmo por sistemas compostos, cuja disposição resulta de uma conjugação de factores

geográficos que lhes confere essa individualidade em que o todo constitui por si só uma

única forma. Incluem-se neste grupo formas como sistemas de barreiras, estuários,

deltas, sistemas lagunares, atóis, entre outros. Por outro lado, da associação sistémica de

formas pode não resultar nenhuma forma complexa individualizável, constituindo assim

sistemas heterogéneos, apesar das relações que os elementos estabelecem entre si. Os

sistemas de praia e de arriba associados a dunas e plataformas rochosas respectivamente

são exemplos deste tipo.

Os conjuntos de sistemas geomorfológicos podem constituir-se em grandes unidades

de paisagem que caracterizam áreas extensas da fachada litoral, reflectindo um conjunto

de dinâmicas particulares em conjuntos lito-estruturais particulares que se podem

classificar, conforme mostra a tabela da figura 14.

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Figura 14. Relação de tipos de fachadas costeiras e tipos de sistemas geomorfológicos litorais.

A classificação e individualização de grandes fachadas litorais, em função dos

sistemas geomorfológicos elementares, compostos e complexos que a constituem, é

então voltada para a localização de conjuntos paisagísticos tanto quanto possível

homogéneos. Para além da sua natureza erosiva (costas de erosão), ou acreciva (costas

de acumulação), deverão ainda ser considerados aspectos determinantes como o nível de

antropização do litoral, de modo a definir e distinguir as costas naturais das

artificializadas.

Nesta classificação devem ainda distinguir-se os domínios morfogenéticos que

decorrem da acção relativa do mar, das marés e dos agentes continentais. podendo

distinguir-se assim os domínios marinho, fluvio-marinho, e lagunar. Aspectos

morfométricos como a altura relativa da costa, são ainda utilizados como critérios de

referência para classificação.

Os sistemas geomorfológicos litorais não se confinam à fachada marítima, mas

também aos estuários, deltas e áreas lagunares ou pantanosas. Em geral, estas

superfícies constituem sistemas complexos, envolvendo um conjunto de sistemas

morfogenéticos elementares que, no seu todo, constituem uma forma particular do

litoral, que se passam a referir no ponto seguinte.

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3 - ELEMENTOS DO TERRENO PARA IDENTIFICAÇÃO DE FORMAS

LITORAIS EM SIG

De acordo com os pressupostos definidos, esboça-se em seguida um esquema

classificativo para implementação em SIG, identificando os atributos capazes de

permitir uma caracterização do litoral do ponto de vista geomorfológico (formas

activas) que sirva de referência:

I. SE: DESIGNAÇÃO DO SISTEMA GEOMORFOLÓGICO ELEMENTAR. Após a

delimitação do espaço litoral de acordo com os critérios definidos, sobre a base de

georeferênciação espacial, é identificada cada forma elementar: arriba, plataforma

rochosa, praia, duna, pântano, laguna, recife, depósitos de vertente costeira e, caso

exista dentro dos limites definidos, a plataforma litoral (Esta forma de relevo, sendo

herdada, portanto não activa, é considerada unicamente para enquadrar as formas

activas). Por inerência a cada uma destas formas está associado um processo

morfogenético.

II. PG: PROCESSO MORFOGENÉTICO, associado à sua génese que pode ser de

erosão, acumulação, ou inundação no caso das lagunas. Também a cada processo

está associada uma determinada:

III. DL: DINÂMICA GEOMORFOLÓGICA DO LITORAL, por definição activa, mas

que em casos particulares pode ser de transição, inactiva, ou herdada.

A partir desta base, passa-se para o preenchimento de campos relacionados com

atributos que irão permitir fazer uma caracterização detalhada das formas litorais e,

mais tarde, servir de referência para elementos de ligação para pesquisas espaciais no

SIG. Esses elementos são:

IV. GL1: CONFIGURAÇÃO MORFOLÓGICA, aspecto relativo das formas;

V. GL2:CONFIGURAÇÃO GEOMÉTRICA, identificação de aspectos geométricos

das formas

VI. GL3:CARACTERÍSTICAS DIMENSIONAIS, relação de grandeza dentro de um

mesmo tipo de forma;

VII. GL4:EXPOSIÇÃO RELATIVA/DINÂMICA, discriminação das formas em função

da sua exposição relativa aos agentes litorais, o que pode dar indicações sobre a

maior ou menor rapidez de evolução de cada entidade. Este parâmetro é

complementado pela:

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VIII. GL5:POSIÇÃO RELATIVA, identificação da posição da forma, em relação ao mar

ou se não se encontra em domínio marinho;

IX. GL6:LITOLOGIA, determinação da resistência relativa de uma forma em função da

natureza da rocha em que é talhada. Esta informação, tanto quanto possível, deve ser

complementada com a relativa à:

X. GL7:ESTRUTURA, que corresponde à forma e disposição relativa das rochas. No

caso de dunas, a informação deve estar relacionada antes com a densidade da

vegetação e, nos pântanos com a estratificação definida na bibliografia

XI. GL8:ESTABILIDADE. Este parâmetro pode ser avaliado pelo observador no

sentido de dar indicações sobre a:

XII. D:DINÂMICA ACTUAL e os processos pelos quais as formas evoluem

actualmente.

Por fim, utilizando as ferramentas dos SIG, é possível ainda obter de modo semi-

automático ou automático, uma série de parâmetros relacionados com:

M: MORFOMETRIA, como sejam áreas e volumes, declives e altitudes.

4 - CONCLUSÃO

A aplicação desta proposta estruturante, prevê-se que seja um procedimento adequado

para identificar e agrupar atributos num modelo de análise espacial de Geomorfologia

do litoral. Ainda que este assunto tenha sido abordado de uma forma muito superficial,

esta síntese deve ser entendida como um esforço no sentido de tornar objectivas as

relações entre as formas, as designações e o seu contexto. Para que este nível de detalhe

seja possível obter, é necessário efectuar um árduo trabalho de inventariação e

classificação, só possível com recurso a meios tecnológicos de recolha sistemática e, em

simultâneo, de grande precisão como por exemplo o LIDAR com componente

batimétrica.

Apesar dos constrangimentos previsíveis, esse nível de discriminação deve ser um

objectivo a atingir, podendo esta síntese servir de fonte de inspiração para se produzir

informação geográfica proprietária. Contendo objectos espaciais directamente

relacionados com as formas litorais, com atributos bem definidos. A base de dados

geográfica obtida sustentará processos de análise espacial sólidos, de modo a que estes

possam ter aplicação directa em estudos e planos de ordenamento do litoral.

Como se referiu, esta tentativa de síntese, não visa substituir os actuais sistemas e

modelos de classificação das formas litorais e fachadas costeiras, mas tão somente

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mostrar o esforço que deve ser feito para se constituir um SIG coerente. A sequência de

pontos apresentada, formas de relevo simples como sistemas geomorfológicos

elementares, formas compostas como sistemas geomorfológicos heterogéneos ou

complexos e, por fim, fachadas costeiras como conjuntos morfológicos litorais

particulares, procura sugerir um caminho a seguir em termos de classificação

hierarquizada, para se encarar a Geomorfologia Litoral numa perspectiva sistémica e

encadeada, analisável em SIG. O Pleno conhecimento do território deve ser um

princípio incontornável para que haja desenvolvimento regional sustentado. Este

trabalho procura contribuir para que este preceito seja seguido

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