CO MPE NSA Í ES D EN Tç RI AS NU M CASO CLêN ICO DE … · Figura 9: Modelos de gesso ap s...

3
COMPENSAÇÕES DENTÁRIAS NUM CASO CLÍNICO DE MÁ OCLUSÃO DE CLASSE III ESQUELÉTICA COM APARATOLOGIA AUTO-LIGÁVEL Dra. Helena Maltez Rodrigues Médica Dentista (Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto); Curso de Especialização em Ortodontia Clínica (Faculdade de Medicina da Universidade do Porto); Colaboradora externa no âmbito do Programa de Pro-qualificação da Investigação e da Formação da FMDUP (PROQUIF). Dr. Pedro Colaço Botelho - Médico Dentista (Instituto Superior Ciências da Saúde - Norte); Curso de Especialização em Ortodontia Clínica (Faculdade de Medicina da Universidade do Porto); A frequentar Curso de Reabilitação Oral e Extra-Oral com Implantes Osteointegrados (Faculdade de Medicina da Universidade do Porto). Dr. Jurandir Barbosa Odontologista (Pontifícia Universidade Católica de Campinas); Pós-Graduado e Mestre em Ortodontia (Faculdade de Od- ontologia de Bauru – Universidade de São Paulo); Doutorado em Ortodontia (Centro de Pesquisas Odontológicas São Leopoldo Mandic); Especial- ista em Odontopediatria pela ACDC – Campinas; Professor Coordenador do Curso de Especialização em Ortodontia na ACDC – Campinas.; Professor do Curso de Especialização e Mestrado em Ortodontia no Centro de Pesquisas Odontológi- cas São Leopoldo Mandic – Campinas.; Professor convidado por inúmeras Universidades do Brasil e Mercosul. Dra. Carolina Barbosa Caram - Mestrado em Ortodontia (Centro de Estu- dos Odontológicos São Leopoldo Mandic). - Professora Assistente do Curso de Especial- ização em Ortodontia da Associação dos Cirurgiões Dentistas de Campinas.; Profes- sora Assistente do Curso de Especialização em Ortodontia do Centro de Estudos Odontológicos São Leopoldo Mandic. Dr. Armando Dias da Silva Médico Dentista (Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto); Pós graduação em Ortodontia (Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto); Mestre em Ortodontia (Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto); Especialista em Ortodontia pela OMD; Docente convidado (Faculdade de Medicina da Universidade do Porto) Dr. João Correia Pinto Médico Estomatologista (Faculdade de Medicina da Universidade de Porto); Chefe de Serviço de Estomatologia e director do Mestrado de Ortodontia e Cirurgia Ortognática na Universidade de Porto. Figura 1: Fotografias extraorais iniciais – (a) lateral direita (b) ¾ direita (c) frontal (d) ¾ esquerda (e) lateral esquerda (f) lateral direita em sorriso (g) ¾ direita em sorriso (h) frontal em sorriso (i) ¾ esquerda em sorriso (j) lateral esquerda em sorriso. A F B G C H D I E j Introdução A Classe III esquelética caracteriza-se fundamentalmente por uma convexidade óssea negativa. Nos pacientes com atresia volumétrica maxilar, observa-se frequentemente ausência da depressão infraorbitária e da proeminência zigo- mática. O terço médio é sagitalmente pouco desenvolvido, o que, muitas vezes, resulta num aspecto cansado e envelhe- cido. Nos pacientes borderline, a avaliação da possibilidade de compensação inicia-se pela análise facial subjectiva do paciente. O passo seguinte passa por avaliar a quantidade de compensação já existente. 1,2 O objetivo deste caso clínico é apresentar uma hipótese de tratamento não cirúrgico num paciente de classe III esquelé- tica, por hipoplasia maxilar. Descrição do Caso Clínico Paciente do género feminino, etnia caucasiana, 13 anos, compareceu a uma consulta na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto para efetuar uma avaliação ortodôn- tica. Ao exame extraoral (figura 1), apresentava um esba- timento do andar médio da face. A nível intraoral (figura 2), observou-se mordida cruzada total, discrepância dento- maxilar positiva e discrepância dentodentária, por excesso de material dentário inferior (figuras 3 e 4), característica que vai de encontro aos resultados do estudo de Araujo et al. (2003) A paciente apresentava codificação do colapso nasal tipo 0, adenóides tipo 3, amígdalas tipo 2, deglutição normal, respiração nasal, grau de mobilidade lingual tipo 1, segundo a classificação MFS. 4 Na análise cefalométrica (figura 5), observou-se uma classe III esquelética por hipoplasia maxilar confirmada pelas aná- lises cefalométricas de Ricketts, Steiner e McNamara, um perfil mesofacial (Ricketts), normoinclinação e ortoposici- onamento dos incisivos superiores (Ricketts) e proinclina- inferiores. A paciente foi tratada com sistema Damon, com prescrição de torque regular. Após o tratamento ortodôn- tico, foi realizada uma cirurgia gengival (figura 6), com o intuito de nivelar adequadamente os contornos gengivais, assim como o acerto dos bordos incisais dos incisivos supe- riores. Discussão Em casos borderline, o tratamento ortodôntico compensatório pode constituir uma alternativa viável ao tratamento ortodôn- tico cirúrgico ortognático (TOCO), evitando todas as desvanta- gens inerentes a uma cirurgia maxilofacial. No entanto, fatores como a estética e a estabilidade podem ficar comprometidos. É, por isso, de salientar a importância de um correto diagnós- tico para avaliar limitações faciais, de discrepância entre maxi- lares, dentárias, periodontais e da própria expectativa do paci- ente. Neste caso em particular, os dentes não apresentavam quaisquer compensações no início do tratamento e a paciente evidenciava uma estética facial favorável, havendo, por isso, uma reunião de fatores propícios ao tratamento compensa- tório. Relativamente à análise do sorriso, segundo a classifica- ção de Peck et al. cit. por Sarver DM et al. (2001), a paciente passou de um sorriso baixo (exposição de menos de 75% da coroa clínica), para um sorriso médio (exposição de 75 a 100% da coroa clínica). Tjan et al. (1984) indicam ainda que durante o sorriso a curva dos bordos incisais dos dentes supe- riores deve ser paralela à curvatura interior do lábio inferior. www.jornaldentistry.pt 10 &/Ë1,&$ &/Ë1,&$ Book OJDentistry N9.indd 10 08/07/14 19:46

Transcript of CO MPE NSA Í ES D EN Tç RI AS NU M CASO CLêN ICO DE … · Figura 9: Modelos de gesso ap s...

  • COMPENSAES DENTRIAS NUM CASO CLNICO DE M OCLUSO DE CLASSE III ESQUELTICA COM APARATOLOGIA AUTO-LIGVEL

    Dra. Helena Maltez Rodrigues Mdica Dentista (Faculdade de Medicina Dentria da Universidade do Porto); Curso de Especializao em Ortodontia Clnica (Faculdade de Medicina da Universidade do Porto); Colaboradora externa no mbito do

    Programa de Pro-qualificao da Investigao e da Formao da FMDUP (PROQUIF).

    Dr. Pedro Colao Botelho - Mdico Dentista (Instituto Superior Cincias da Sade - Norte); Curso de Especializao em Ortodontia Clnica (Faculdade de Medicina da Universidade do Porto); A frequentar Curso de Reabilitao Oral e Extra-Oral com Implantes Osteointegrados (Faculdade de Medicina da

    Universidade do Porto).

    Dr. Jurandir Barbosa Odontologista (Pontifcia Universidade Catlica de Campinas); Ps-Graduado e Mestre em Ortodontia (Faculdade de Od-ontologia de Bauru Universidade de So Paulo); Doutorado em Ortodontia (Centro

    de Pesquisas Odontolgicas So Leopoldo Mandic); Especial-ista em Odontopediatria pela ACDC Campinas; Professor Coordenador do Curso de Especializao em Ortodontia na ACDC Campinas.; Professor do Curso de Especializao e Mestrado em Ortodontia no Centro de Pesquisas Odontolgi-cas So Leopoldo Mandic Campinas.; Professor convidado por inmeras Universidades do Brasil e Mercosul.

    Dra. Carolina Barbosa Caram - Mestrado em Ortodontia (Centro de Estu-dos Odontolgicos So Leopoldo Mandic). - Professora Assistente do Curso de Especial-izao em Ortodontia da Associao dos Cirurgies Dentistas de Campinas.; Profes-

    sora Assistente do Curso de Especializao em Ortodontia do Centro de Estudos Odontolgicos So Leopoldo Mandic.

    Dr. Armando Dias da Silva Mdico Dentista (Faculdade de Medicina Dentria da Universidade do Porto); Ps graduao em Ortodontia (Faculdade de Medicina Dentria da Universidade do Porto); Mestre em Ortodontia (Faculdade

    de Medicina Dentria da Universidade do Porto); Especialista em Ortodontia pela OMD; Docente convidado (Faculdade de Medicina da Universidade do Porto)

    Dr. Joo Correia Pinto Mdico Estomatologista (Faculdade de Medicina da Universidade de Porto); Chefe de Servio de Estomatologia e director do Mestrado de Ortodontia e Cirurgia Ortogntica na Universidade de Porto.

    Figura 1: Fotografias extraorais iniciais (a) lateral direita (b) direita (c) frontal (d) esquerda (e) lateral esquerda (f) lateral direita em sorriso (g) direita em sorriso (h) frontal em sorriso (i) esquerda em sorriso (j) lateral esquerda em sorriso.

    j

    Introduo

    A Classe III esqueltica caracteriza-se fundamentalmente por uma convexidade ssea negativa. Nos pacientes com atresia volumtrica maxilar, observa-se frequentemente ausncia da depresso infraorbitria e da proeminncia zigo-mtica. O tero mdio sagitalmente pouco desenvolvido, o que, muitas vezes, resulta num aspecto cansado e envelhe-cido. Nos pacientes borderline, a avaliao da possibilidade de compensao inicia-se pela anlise facial subjectiva do paciente. O passo seguinte passa por avaliar a quantidade de compensao j existente.1,2

    O objetivo deste caso clnico apresentar uma hiptese de tratamento no cirrgico num paciente de classe III esquel-tica, por hipoplasia maxilar.

    Descrio do Caso ClnicoPaciente do gnero feminino, etnia caucasiana, 13 anos, compareceu a uma consulta na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto para efetuar uma avaliao ortodn-tica. Ao exame extraoral (figura 1), apresentava um esba-timento do andar mdio da face. A nvel intraoral (figura 2), observou-se mordida cruzada total, discrepncia dento-maxilar positiva e discrepncia dentodentria, por excesso de material dentrio inferior (figuras 3 e 4), caracterstica que vai de encontro aos resultados do estudo de Araujo et al. (2003) A paciente apresentava codificao do colapso nasal tipo 0, adenides tipo 3, amgdalas tipo 2, deglutio normal, respirao nasal, grau de mobilidade lingual tipo 1, segundo a classificao MFS.4

    Na anlise cefalomtrica (figura 5), observou-se uma classe III esqueltica por hipoplasia maxilar confirmada pelas an-

    lises cefalomtricas de Ricketts, Steiner e McNamara, um perfil mesofacial (Ricketts), normoinclinao e ortoposici-onamento dos incisivos superiores (Ricketts) e proinclina-

    inferiores. A paciente foi tratada com sistema Damon, com prescrio de torque regular. Aps o tratamento ortodn-tico, foi realizada uma cirurgia gengival (figura 6), com o intuito de nivelar adequadamente os contornos gengivais, assim como o acerto dos bordos incisais dos incisivos supe-riores.

    DiscussoEm casos borderline, o tratamento ortodntico compensatrio pode constituir uma alternativa vivel ao tratamento ortodn-tico cirrgico ortogntico (TOCO), evitando todas as desvanta-gens inerentes a uma cirurgia maxilofacial. No entanto, fatores como a esttica e a estabilidade podem ficar comprometidos. , por isso, de salientar a importncia de um correto diagns-tico para avaliar limitaes faciais, de discrepncia entre maxi-lares, dentrias, periodontais e da prpria expectativa do paci-ente. Neste caso em particular, os dentes no apresentavam quaisquer compensaes no incio do tratamento e a paciente evidenciava uma esttica facial favorvel, havendo, por isso, uma reunio de fatores propcios ao tratamento compensa-trio. Relativamente anlise do sorriso, segundo a classifica-o de Peck et al. cit. por Sarver DM et al. (2001), a paciente passou de um sorriso baixo (exposio de menos de 75% da coroa clnica), para um sorriso mdio (exposio de 75 a 100% da coroa clnica). Tjan et al. (1984) indicam ainda que durante o sorriso a curva dos bordos incisais dos dentes supe-riores deve ser paralela curvatura interior do lbio inferior.

    www.jornalden tistry.pt10

    Book OJDentistry N9.indd 10 08/07/14 19:46

  • Figura 5: Telerradiografia lateral antes do tratamento ortodntico.

    Figura 3: Modelos de gesso iniciais fotografias lateral oclusal superior, oclusal inferior, direita, frontal, lateral esquerda, curva de Spee direita e curva de Spee esquerda.

    Figura 2: Fotografias intraorais iniciais - (a) lateral direita (b) frontal (c) lateral esquerda, (d) oclusal superior (e) oclusal inferior.

    Figura 4: Ortopantomografia inicial.

    Figura 6: Fotografias extraorais aps tratamento ortodntico (a) lateral direita (b) direita (c) frontal (d) esquerda (e) lateral esquerda (f) lateral direita em sorriso (g) direita em sorriso (h) frontal em sorriso (i) esquerda em sorriso (j) lateral esquerda em sorriso.

    j

    www.jornalden tistry.pt 11

    Book OJDentistry N9.indd 11 08/07/14 19:46

  • Figura 7: Fotografias intraorais aps tratamento ortodntico - (a) lateral direita (b) frontal (c) lateral esquerda, (d) oclusal superior (e) oclusal inferior.

    Figura 9: Modelos de gesso aps tratamento ortodntico fotografias lateral oclusal superior, oclusal inferior, direita, frontal, lateral esquerda, curva de Spee direita e curva de Spee esquerda.

    Figura 8: Ortopantomografia aps tratamento ortodntico.

    Figura 10: Telerradiografia lateral aps tratamento ortodntico.

    1.

    2.3.4.

    5.6.

    ConclusoNo final do tratamento, os dentes foram completamente ali-nhados, obteve-se uma relao de caninos e de molares de classe I, contornos gengivais simtricos, bordos incisais em harmonia com a linha do lbio inferior e uma maior expo-sio dentria durante o sorriso (figura 6, 7, 8 e 9). A com-pensao dentria foi conseguida principalmente atravs

    -res (figura 10). Assim, as compensaes dentrias podem constituir, quando corretamente planeadas, uma alternativa vlida ao TOCO em casos borderline.

    www.jornalden tistry.pt12

    Book OJDentistry N9.indd 12 08/07/14 19:46