coamb-RSGA-Volume-1

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1 COLETÂNEA EM SANEAMENTO AMBIENTAL Série Temática Resíduos Sólidos e Geotecnia Ambiental REMEDIAÇÃO IN SITU DE SOLOS E ÁGUAS SUBTERRÂNEAS CONTAMINADOS POR LÍQUIDOS ORGÂNICOS NÃO MISCÍVEIS EM ÁGUA (NAPLs) CELINA AÍDA BITTERCOURT SCHMIDT Volume 1 2010

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Residuos solidos

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  • 1

    CCOOLLEETTNNEEAA EEMM SSAANNEEAAMMEENNTTOO AAMMBBIIEENNTTAALL

    Srie Temtica

    Resduos Slidos e Geotecnia

    Ambiental

    REMEDIAO IN SITU DE SOLOS E GUAS SUBTERRNEAS CONTAMINADOS

    POR LQUIDOS ORGNICOS NO MISCVEIS EM GUA (NAPLs)

    CELINA ADA BITTERCOURT SCHMIDT

    Volume 1

    2010

  • 2

    EXPEDIENTE

    Reitor

    Ricardo Vieiralves de Castro

    Vice-reitora

    Maria Christina Paixo Maioli

    Sub-reitoria de Graduao

    Len Medeiros de Menezes

    Sub-reitoria de Ps-graduao e Pesquisa

    Monica da Costa Pereira Lavalle Heilbron

    Sub-reitoria de Extensao e Cultura

    Regina Lcia Monteiro Henriques

    Centro de Tecnologia e Cincias

    Maria Georgina Muniz Washington

    Faculdade de Engenharia

    Maria Eugenia de las Mercedes Mosconi de Gouva

    EDITORES

    Thereza Christina de Almeida Rosso Gandhi Giordano

    Editor Associado

    Elizabeth Ritter

    Ana Cristina Castro F. Sieira

    Editorao Eletrnica

    Marco Antonio Perna

  • 3

    E-BOOK

    Remediao in situ de solos e guas subterrneas contaminados por

    lquidos orgnicos no miscveis em gua (NAPLs)

    SCHMIDT, Celina Ada Bittencourt.

    Srie Temtica: Resduos Slidos e Geotecnia Ambiental Volume 1

    Rio de Janeiro: COAMB / FEN / UERJ / 2010.

    62 p.

    1. Solo, 2. Contaminao, 3. Compostos orgnicos. 4. Remediao.

    Editores ROSSO, Thereza Christina de Almeida; GIORDANO, Gandhi.

    Editor Associado RITTER, Elizabeth, SIEIRA, Ana Cristina Castro F.

    ISSN - XXXX-XXXX

    ISBN: XX-XX-XXXXX-XX-X CDD XXX.XX

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    SUMRIO

    1. INTRODUO ........................................................................................... 5

    2. RELEVNCIA ............................................................................................. 8

    3. COMPOSTOS ORGNICOS NO MISCVEIS ................................................ 9

    3.1. Propriedades fsico-qumicas de compostos orgnicos NAPLs ..... 13

    4. CONTAMINAO POR LQUIDOS NO MISCVEIS EM GUA ................... 19

    4.1. Migrao de lquidos no miscveis nos solos .............................. 20

    5. REMEDIAO DE AQUFEROS CONTAMINADOS POR COMPOSTOS

    ORGNICOS NO MISCVEIS EM GUA (NAPLS) .................................... 23

    5.1. Introduo .................................................................................. 23

    5.2. Escolha da(s) tcnica(s) de remedio ....................................... 25

    5.4. Classificao das tcnicas ........................................................... 29

    6. PRINCIPAIS TCNICAS DE REMEDIAO IN SITU ................................... 29

    6.1. Bombeamento (PUMP AND TREAT) .......................................... 29

    6.2. Tcnicas de extrao de vapores do solo (SVE/Air Sparging) ..... 31

    6.3. Tcnicas de biorremediao ........................................................ 35

    6.3.2. Biorremediao Intrnseca ........................................................... 41

    6.4. Tcnicas de embebio e lavagem do solo in situ ........................ 41

    6.6. Mtodos eletrocinticos .............................................................. 48

    6.7. Atenuao natural monitorada .................................................... 52

    6.8. Outros mtodos .......................................................................... 54

    7. CONSIDERAES FINAIS ........................................................................ 55

    8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS E BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ............ 59

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    1. INTRODUO

    Embora j se reportem em congressos casos de contaminao de aqferos desde o

    incio da dcada de 1960, o assunto passou a ganhar maior importncia no meio tcnico e

    cientfico a partir da dcada de 1980. A contaminao dos solos e guas subterrneas

    constitui-se hoje em uma das grandes preocupaes dos profissionais envolvidos com os

    problemas relacionados ao meio ambiente.

    Diversas atividades humanas constituem fontes potenciais de contaminao por

    diferentes grupos de compostos. Como principais atividades geradoras de resduos que podem

    contaminar o solo e as guas subterrneas cita-se como exemplo: esgoto, o lixo, as atividades

    industriais diversas e a agricultura (pesticidas). Bastante comum tambm a contaminao

    subterrnea por derivados de petrleo em atividades de extrao, refino e distribuio.

    O desenvolvimento industrial levou crescente contaminao de guas subterrneas

    por despejos de resduos lquidos no solo. Os lquidos presentes em contaminaes tm seu

    comportamento fortemente influenciado pela composio qumica. Podem ser divididos em

    duas categorias quanto sua interao com a gua: lquidos miscveis e lquidos no miscveis

    ou imiscveis, conhecidos como NAPLs (non-aqueous phase liquids). Os lquidos miscveis

    contm compostos inorgnicos como cidos, bases, sais, e compostos orgnicos hidroflicos

    como teres, cetonas e a maior parte dos alcois. Uma classificao geral de lquidos

    contaminantes em funo dos aspectos citados mostrada na figura 1.

    A constatao dessas contaminaes, bem como suas implicaes nocivas, levou a uma

    maior conscientizao da importncia das guas subterrneas para a existncia humana e para

    o meio ambiente como um todo. nesse cenrio que o engenheiro civil (geotcnico) passa a

    atuar mais ativamente nas questes ambientais.

    Na dcada de 1980 foi aprovado nos Estados Unidos o Comprehensive Environmental

    Response, Compensation and Liability Act (CERCLA), estabelecendo as bases legais

    reguladoras para a limpeza de campos contaminados por substncias qumicas perigosas. O

    ato foi acompanhado da criao do Superfund Tax Act, que estabeleceu uma taxa que incide

    sobre leos e outras substncias consideradas perigosas. A CERCLA controla a utilizao do

    dinheiro do SUPERFUND, de acordo com as regras estabelecidas pela Environmental Protection

    Agency (EPA).

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    A verificao na prtica de que as tcnicas disponveis na dcada de 1980, do tipo

    Pump and Treat (bombeamento e tratamento), no conseguiam descontaminar os aquferos

    a nveis aceitveis pelo Superfund, levou ao desenvolvimento de novas tecnologias de

    tratamento, ou remediao, de campos contaminados. Grande ateno tem merecido os

    compostos orgnicos txicos no miscveis com a gua, conhecidos como NAPLs (non-aqueous

    phase liquids), para os quais diferentes processos abiticos ou biolgicos vm sendo estudados

    e aplicados.

    Este trabalho apresenta uma viso dos problemas associados contaminao de guas

    subterrneas por NAPLs. So descritas e analisadas algumas das principais tcnicas de

    remediao in situ, aplicveis a esse grande grupo de compostos.

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    LNAPLs Light Non-Aqueous Phase

    Liquids

    (Ex: hidrocarbonetos aromticos,

    como o grupo BTEX)

    DNAPLs Dense Non-Aqueous

    Phase Liquids

    (Ex: tricloroetileno,

    hidrocarbonetos halogenados)

    cidos Orgnicos

    (Ex: cido actico)

    Compostos Polares

    Neutros

    (Ex: cetonas,

    lcools)

    Figura 1. Classificao de lquidos contaminantes.

    (Fonte: SHACKELFORD, 1994)

    Bases Orgnicas

    (anilina)

    cidos Ex: (HCl)

    Sais Ex: (NaCl)

    Bases Ex: (NaOH)

    Solues

    Orgnicas

    Hidroflicas

    Solues

    Qumicas

    Inorgnicas

    Lquidos

    Miscveis

    (Aqueous)

    Fluidos

    Imiscveis

    (Non-aqueous)

    Lquidos

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    2. RELEVNCIA

    Sabe-se que de 71% da superfcie terrestre coberta por gua, porm, apenas 6% da

    hidrosfera corresponde gua doce, distribuda da seguinte maneira: 4,34 % nas guas

    subterrneas, 0,01 % em rios e lagos e 1,65 % em capas de gelo e geleiras. Verifica-se,

    portanto, a importncia do montante correspondente aos aqferos subterrneos na

    sobrevivncia de todas as formas de vida do planeta e no equilbrio do ecossistema em geral.

    A remediao para lquidos imiscveis, ou NAPLs, uma das maiores preocupaes e

    um dos maiores desafios, devido sua persistncia no solo, dificuldades na modelagem,

    identificao das reas contaminadas e tratamento (remediao). Essas dificuldades devem-se

    s peculiaridades no transporte do NAPL quanto sua interao com o solo e guas

    subterrneas, aos diversos fatores que influenciam os processos de contaminao e

    insuficincia de informaes em resultados experimentais. Alm disso, os NAPLs podem ser

    encontrados no solo sob vrias formas: sorvidos na fase slida, como lquidos no miscveis

    em gua (fase livre e fase residual) e dissolvidos na gua, o que torna necessria a utilizao

    de tcnicas especficas para cada fase. Essas dificuldades tm levado ao desenvolvimento de

    novas tcnicas especficas para o tratamento de contaminaes por NAPLs.

    Os NAPLs so hidrocarbonetos derivados de petrleo, alm de outros compostos

    orgnicos txicos derivados de diversas atividades industriais, como os solventes

    organoclorados. Os compostos do grupo BTEX (benzeno, tolueno, etilbenzeno, xileno), so

    NAPLs presentes na gasolina, e tm grande potencial carcinognico, Nos postos de servio

    (postos de gasolina) os vazamentos so comuns e ocorrem em tanques de armazenamento e

    dutos enterrados, em geral devido a furos ocasionados por corroso e a problemas de

    instalao.

    Vazamentos em tanques de combustveis enterrados foram observados em todo o

    mundo com freqncia a partir do final da dcada de 1980, visto que muitos tanques foram

    instalados ao final da dcada de 1960 e ao longo da dcada de 1970, sendo sua vida til de

    cerca de 25 anos. Vazamentos tm sido detectados tambm em refinarias e em atividades de

    explorao.

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    3. COMPOSTOS ORGNICOS NO MISCVEIS

    O estudo de contaminao de solos e guas subterrneas por compostos orgnicos

    ganhou importncia a partir da dcada de 1980, embora tenha se iniciado nos Estados Unidos

    ainda na dcada de 1950. Em 1961 so relatados no Primeiro Simpsio de Contaminao de

    guas Subterrneas (Cincinnati, Ohio, 1961) casos de vazamentos de orgnicos ocorridos na

    dcada anterior. A expanso da explorao petrolfera e o grande crescimento das indstrias

    petroqumicas a partir da dcada de 1940 nos Estados Unidos aumentou o nmero de

    vazamentos ou lanamento de resduos nos solos.

    Os compostos orgnicos txicos, presentes em grande parte das contaminaes de

    aqferos subterrneos, so, em sua maioria, carcinognicos, apresentam limites de

    potabilidade muito baixos e so contaminantes com comportamento muito complexo no

    subsolo.

    Os NAPLs so usualmente divididos em dois grupos, de acordo com sua densidade

    relativa da gua: LNAPLs (light NAPL), de densidade mais baixa que a da gua e DNAPLs

    (dense NAPL), de densidade superior da gua. Os LNAPLs esto presentes em combustveis

    automotivos e de aviao. As contaminaes por DNAPLs resultam de diversas atividades

    industriais, como indstrias qumicas e metalrgicas, manufatura de pesticidas e tratamento

    de madeiras e ainda vazamento de leo de transformadores.

    Os principais compostos orgnicos txicos e no miscveis (NAPLs), verificados em

    contaminaes de solo podem ser divididos em:

    hidrocarbonetos monoaromticos de petrleo;

    hidrocarbonetos poliaromticos (HPA ou PAH policyclic aromatics

    hydrocarbon);

    orgnicos halogenados / solventes organoclorados;

    defensivos agrcolas ou pesticidas;

    Hidrocarbonetos so compostos constitudos de hidrognio e carbono. Quanto

    estrutura da cadeia, os hidrocarbonetos dividem-se em duas classes, aromticos e alifticos.

    Os aromticos so aqueles que possuem em sua estrutura anis benznicos e os alifticos so

    aqueles que possuem uma cadeia aberta. O anel benznico tem seis tomos de carbono unidos

    em uma estrutura fechada (anel), onde se alternam ligaes simples e duplas, como mostra a

    Figura 2

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    H

    C

    H -- C C -- H

    H -- C C -- H

    C

    H

    Anel Benznico Representaes Simplificadas do Anel Benznico

    Figura 2. Estrutura e representaes simplificadas do anel benznico.

    Os hidrocarbonetos aromticos de petrleo representam cerca de 17% do leo cru

    (FETTER, 1991), dividindo-se em hidrocarbonetos monoaromticos (ou simplesmente

    aromticos) de petrleo, em cuja estrutura h apenas um anel benznico e hidrocarbonetos

    poliaromticos ou policclicos, que possuem dois ou mais anis benznicos em sua estrutura.

    Os orgnicos halogenados so aqueles que contm, alm de carbono e hidrognio, um ou mais

    elementos do grupo dos halognios (flor, cloro, bromo, iodo e astatnio). So denominados

    orgnicos clorados ou organoclorados quando especificamente o cloro o halognio presente.

    Os hidrocarbonetos monoaromticos so LNAPLs. So encontrados na frao mais leve

    na destilao do petrleo. Os principais hidrocarbonetos aromticos de petrleo so os

    compostos da srie do benzeno, conhecidos como compostos BTEX: benzeno, tolueno, etil-

    benzeno e xileno (figura 3). Os compostos do grupo BTEX so constituintes da gasolina e

    comprovadamente carcinognicos, tendo, portanto, grande importncia ambiental. So os

    mais solveis e biodegradveis hidrocarbonetos de petrleo e difundem-se rapidamente

    quando em contato com a gua, podendo contaminar grandes extenses.

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    Benzeno Tolueno Etilbenzeno

    CH3 C2H5

    o-Xileno m--Xileno p-Xileno

    CH3 CH3 CH3 CH3

    CH3

    CH3

    Figura 3. Compostos monoaromticos da srie do benzeno (BTEX).

    Os hidrocarbonetos poliaromticos (HPAs) tm maior peso molecular, sendo DNAPLs.

    Exemplos de hidrocarbonetos poliaromticos so, o naftaleno (C10H8), fenantreno (C14H10),

    antraceno (C14H10) e o benzopireno (C20H12), mostrados na figura 4. Esses compostos so

    encontrados na frao pesada da destilao do petrleo em produtos como o asfalto, coal tar e

    creosoto. Podem tambm resultar da combusto incompleta de combustveis fsseis.

    Naftaleno Antraceno

    Fenantreno Benzopireno

    Figura 4. Hidrocarbonetos Poliaromticos ou Policclicos (HPAs ou PAHs).

    O grupo dos orgnicos halogenados, do qual fazem parte os organoclorados, um

    dos maiores e mais importantes presentes em contaminao de guas subterrneas. So

    compostos orgnicos derivados de hidrocarbonetos de petrleo, tanto aromticos como

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    alifticos, onde h troca de um ou mais hidrognios por halognios. Muitos dos compostos

    halogenados so usados como solventes e inseticidas.

    Os organoclorados alifticos, ou solventes clorados, so orgnicos halogenados,

    onde o cloro substitui o hidrognio em hidrocarbonetos de cadeia aberta. Os organoclorados

    lquidos so txicos, volteis, no miscveis e mais densos que a gua, ou seja, DNAPLs. No

    existem na natureza, so produzidos industrialmente, podendo ser derivados de outros

    compostos clorados. So muito persistentes no solo, devido sua baixssima mobilidade e

    solubilidade.

    De acordo com Sawyer et al., (1994), de particular importncia entre os organoclorados

    alifticos so alguns etanos e etenos clorados como o tricloroetano e o dicloroetano, o

    tricloroetileno, o dicloroetileno e o tetracloroetileno, apresentados na figura 5.

    O tricloroetano1,1,1 (CCl2CH3) um solvente de largo uso industrial, comumente

    encontrado em contaminaes de guas subterrneas. O dicloroetano-1,2 (CH2ClCH2Cl)

    tambm um solvente industrial. O tricloroetileno (CCl2=CHCl), ou tricloeteno (TCE) o

    exemplo mais comum de eteno clorado e um dos compostos mais frequentes em

    contaminaes subterrneas. O dicloroetileno-1,1, tambm chamado tricloeteno ou DCE,

    encontrado na natureza como produto de degradao do TCE ou do tricloroetano-1,1,1 e se

    degrada formando o cloroetileno (CH2CHCl - vinil chloride). O tetracloroetileno, ou

    percloroetileno (PCE) outro solvente clorado freqentemente encontrado como contaminante

    de guas subterrneas.

    Tricloroetano-1,1,1 Dicloroetano Cl H Cl Cl Cl -- C C --- H H --- C --- C --- H

    Cl H H H

    Tricloroetileno (TCE) Dicloroetileno (DCE) Tetracloroetileno (PCE) (ou Tricloroeteno) (ou Dicloroeteno) (ou Percloroetileno)

    Cl H Cl H Cl Cl C = C C == C C = C

    Cl Cl Cl H Cl Cl

    Figura 5. Organoclorados alifticos - etanos e etenos clorados.

    Os hidrocarbonetos aromticos clorados so tambm produtos qumicos industriais

    muitos comuns. Entre os hidrocarbonetos aromticos clorados, os benzenos clorados e o

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    bifenis poli-clorados (PCBs) so de grande importncia ambiental. Os benzenos clorados so

    muito utilizados como solventes ou pesticidas, so pouco volteis, pouco ou moderadamente

    solveis e hidrfobos. Os PCBs eram utilizados em transformadores e capacitores, como

    solventes e como fluidos hidrulicos. So pouco volteis e altamente hidrfobos.

    Os fenis aromticos so caracterizados pela substituio de hidrognios por

    hidroxilas na estrutura do benzeno. O fenol (CH6 H5 OH) tem apenas uma hidroxila no lugar do

    hidrognio. Os fenis so contaminantes comuns nas guas subterrneas devido a seu uso em

    vrias atividades industriais (FETTER, 1991). Foram muito utilizados como germicidas e

    desinfetantes. Em grandes concentraes so considerados txicos para as bactrias. Atacam

    o sistema nervoso central, podendo levar morte com pouco tempo de exposio.

    3.1. Propriedades fsico-qumicas de compostos orgnicos NAPLs

    Existe uma srie de propriedades fsico-qumicas que influenciam o comportamento dos

    NAPLs em solos e guas subterrneas. Essas propriedades so influenciadas por condies do

    meio ambiente, como temperatura e presso. O comportamento de NAPLs com apenas um

    componente de mais fcil previso que o de multicompostos, como a gasolina. Para os NAPLs

    multicompostos, cada um dos compostos tem propriedades diferentes e o multicomposto

    adquire propriedades que refletem a contribuio de todos os compostos, proporcional frao

    molar de cada um deles. Assim, varivel o comportamento do multicomposto com o tempo,

    medida que os componentes vo se solubilizando, volatilizando ou degradando e, portanto,

    variando sua frao molar.

    A seguir so descritas algumas das mais significativas propriedades fsico-qumicas dos

    NAPLs, que influenciam um processo de remediao.

    Solubilidade em gua

    a capacidade de uma substncia se solubilizar em gua. A solubilidade limite de um

    composto corresponde mxima concentrao dissolvida desse composto em gua pura. O

    limite de solubilidade funo da temperatura, da natureza e propriedades do composto e da

    presena de outros hidrocarbonetos no sistema. Quanto solubilidade, os compostos

    orgnicos podem variar de completamente miscvel em gua, at quase insolvel. Os NAPLs

    tm baixa solubilidade.

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    Para misturas de contaminantes, a solubilidade efetiva de cada composto proporcional

    sua frao molar, conforme a Lei de Raoult como se segue (equao 1):

    Sei = Si . Xi (1)

    onde:

    Sei = solubilidade efetiva do composto i na mistura;

    Si = solubilidade do composto puro i;

    Xi = frao molar do contaminante i na mistura.

    Assim, para compostos mltiplos como a gasolina (+ de 200 compostos), a solubilidade

    de cada composto na mistura inferior solubilidade do composto puro. No caso do benzeno

    por exemplo, a solubilidade passa de 1780 mg/L para 89 mg/L na gasolina (IBP,2000).

    Densidade

    a razo entre o peso especfico de uma determinada substncia e o peso especfico da

    gua. Se a densidade da substncia menor que a unidade essa vai flutuar na gua, se

    maior, vai afundar; o que diferencia o comportamento de LNAPLs e DNAPLs na migrao

    vertical atravs do solo. A densidade de um NAPL aumenta com o seu peso molecular e grau

    de halogenao. Quanto maior a densidade maior a mobilidade vertical. A densidade depende

    fortemente da temperatura, decrescendo com seu aumento, o que pode levar a um DNAPL

    passar a LNAPL, com o aumento da temperatura.

    Viscosidade

    A viscosidade pode ser absoluta ou cinemtica. A viscosidade cinemtica agrega efeitos

    viscosos e da densidade. A viscosidade absoluta aumenta com a complexidade molecular,

    tamanho e polaridade do composto e diminui com o aumento da temperatura e grau de

    halogenao.

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    Volatilidade: Presso de Vapor e Constante de Henry

    A presso de vapor a medida da tendncia de uma substncia de passar de um

    estado slido ou lquido para a fase vapor. Corresponde presso exercida por um gs de uma

    substncia, em equilbrio com sua fase slida ou lquida, a uma dada temperatura. Quanto

    maior a presso de vapor, mais voltil a substncia. Os compostos so classificados em

    termos de volatilidade, de acordo com sua presso de vapor a 20o, como se segue (USEPA,

    citado em GRUBB,1998):

    1 mm Hg < presso de vapor volteis

    10-10 mm Hg < presso de vapor < 1 mm Hgsemi-volteis

    Para misturas de compostos tambm vlida a Lei de Raoult com relao volatilidade

    (equao 2):

    Pei = Pi. Xi (2)

    onde:

    Pei = presso de vapor efetiva do composto i na mistura;

    Pi = presso de vapor do composto puro i;

    Xi = frao molar do contaminante i na mistura.

    A constante de Henry (H) definida como a razo entre presso de vapor, em atm,

    de um determinado orgnico (Pi) e seu limite molar de solubilidade em gua a uma

    temperatura de 20 a 25o C (Ciw), de acordo com a Lei de Henry, onde:

    iw

    i

    C

    PH .

    A constante de Henry pode tambm ser definida como a relao entre as concentraes

    de um composto em sua fase vapor e em sua fase lquida, em estado de equilbrio e com a

    concentrao em fase lquida tendendo a zero (IBP, 2000). uma medida da volatilidade:

    quanto maior a constante de Henry, mais voltil o composto.

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    Coeficiente de partio gua- octanol (Kow)

    a medida do grau de preferncia ou maior afinidade de um composto orgnico se

    dissolver em gua ou em octanol. Corresponde razo entre a concentrao de um composto

    qumico em octanol e sua concentrao na gua pura. Quanto maiores os valores de Kow,

    maior a preferncia em formar uma fase separada, ou seja, maior a sua hidrofobicidade. Os

    compostos so considerados hidrfobos para Kow > 104, e hidroflicos para Kow < 10 (IBP,

    2000). O valor de Kow um indicador da soro de um hidrocarboneto no carbono orgnico do

    solo, pois existe uma correlao entre a hidrofobicidade do composto e sua soro pela

    matria orgnica nativa.

    Ponto de Ebulio

    O ponto de ebulio a temperatura onde ocorre mudana da fase lquida para a fase

    vapor de um composto. tambm uma medida de volatilidade dos fluidos, que so

    classificados, em relao ao ponto de ebulio da gua como, de baixo ponto de ebulio,

    quando esse parmetro menor que 100o C, e de alto ponto de ebulio, para valores maiores

    que 100o C.

    Constante Dieltrica

    Pode ser definida como a relao entre a capacitncia do material e a capacitncia do

    vcuo. Mede a capacidade de um meio interagir eletrostaticamente e de conduzir corrente

    eltrica. Quanto maior a constante dieltrica melhor sua resposta aplicao de um campo

    eltrico. De acordo com Grubb (1998), importante seu conhecimento quando se consideram

    as interaes entre solos argilosos e fluidos que contm hidrocarbonetos, que levam

    floculao das argilas e aumento de sua condutividade hidrulica.

    Tenso Interfacial

    A tenso interfacial, assim como a molhabilidade, definida adiante, importante para o

    conhecimento do comportamento de fluidos em um sistema de fluxo multifsico. A tenso

    interfacial resulta da energia interfacial desenvolvida no contato entre fases descontnuas de

    um lquido com outro lquido, gs ou slido. A energia interfacial resulta da diferena, na

    superfcie lquida, entre o nvel de atrao das molculas de uma mesma substncia,

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    17

    comparada com o nvel de atrao das molculas do lquido em relao s molculas da outra

    substncia.

    Assim, a tenso interfacial definida como a quantidade de trabalho necessria para

    separar em uma unidade de rea, duas substncias em contato. Representa a medida da

    deformabilidade do contato interfacial, expressa em unidades de fora por comprimento. A

    tenso interfacial caracterstica, portanto, para cada par de substncias, podendo ser

    designada como ij para duas substncias i e j, em contato.

    De acordo com Grubb (1998), a tenso interfacial decresce com o aumento da

    temperatura, sendo afetada pelo pH e presena de surfactantes ou hidrocarbonetos

    hidroflicos, como o lcool. As tenses de capilaridade dependem da tenso interfacial

    Molhabilidade

    A molhabilidade refere-se ao espalhamento preferencial de um fluido em relao ao

    outro nas superfcies slidas de um fluxo multifsico. A molhabilidade est relacionada com a

    tenso interfacial atravs do ngulo de contato, , formado na interface entre dois fluidos que

    no se misturam (ver figura 6).

    Para um ngulo menor que 90o, o lquido L ir molhar preferencialmente a superfcie

    slida e para maior que 90o, o lquido G ir molhar preferencialmente a superfcie slida.

    Assim, sempre que dois fluidos competem por uma superfcie slida, um deles ser dominante,

    sendo considerado molhvel e o outro no molhvel. Nos aqferos contaminados por leos, a

    gua tende a se espalhar preferencialmente sobre a superfcie, sendo portanto o fluido

    molhvel. Tipicamente, em um meio poroso, os fluidos molhveis conseguem atingir os

    menores espaos e os fluidos no molhveis ficam limitados aos maiores poros ou canais.

    GL Lquido G

    Lquido L

    SG SL

    Slido S

    Figura 6. Tenses interfaciais entre uma superfcie slida S, um lquido molhante, L, e um

    lquido no molhante G.

    (Fonte: FETTER, 1991)

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    18

    A tabela 1 mostra algumas propriedades fsico-qumicas tpicas para compostos

    orgnicos monoaromticos, poliaromticos e clorados.

    Tabela 1. Alguns compostos orgnicos lquidos txicos e suas propriedades fsicas.

    COMPOSTO Solubilidade Densidade Viscosidade

    cinemtica

    Presso

    de Vapor

    Constante

    de Henry

    Coef. Part.

    gua/octan

    ol (Log Kow)

    Ponto de

    Ebulio

    Constante

    Dieltrica

    mg/l mmHg oC

    HIDROCARBONETOS MONOAROMTICOS

    Benzeno 1) 1780 95,2 0,21 2,13 80,1

    Tolueno 1) 515 28,4 O,28 2,65

    Etil-benzeno 1) 152 9,5 0,37 3,13

    Xileno 1) 175 6,6 0,22 3,26

    HIDROCARBONETOS POLIAROMTICOS (HPAs ou PAHs)

    Naftaleno 2) 30 2,3x10-1 5,78x10-2 3,28

    Fenantreno 2) 1,69 6,8x10-4 7,11x10-3 4,46

    Antraceno 2) 0,045 3) 1,25 4,45 340 (3)

    Benzopireno 2) 0,03 5,6x10-9 2,77x10-5 5,98

    ORGNICOS CLORADOS ALIFTICOS

    Tricloroetano

    (1,1,1) 1) 950 3) 1,325 0,858 100 0,77 2,48 71/81

    Dicloroetano

    (1,1) 3) 1,175 0,377 1,78 57,3

    Tricloroetileno

    (TCE) 1) 1x103 3) 1,46 0,57 60 0,42 1,3 87,2 3,4

    Dicloroetileno

    (DCE) (1,2) 3) 1,248 0,467 1,48 60 9,2

    Tetracloroetileno

    (PCE) 1) 400 3) 1,625 0,89 14,3 0,34 2,88 121,4

    1) BEDIENT et al., 1994 3) GRUBB, 1998

    2) IBP, 2000 4) FETTER, 1991

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    19

    4. CONTAMINAO POR LQUIDOS NO MISCVEIS EM GUA

    Os compostos orgnicos no miscveis (NAPLs -non-aqueous phase liquids) formam fase

    distinta durante o fluxo atravs do solo, caracterizado como multifsico tanto na zona saturada

    como na zona no saturada do solo. Esse um importante aspecto da contaminao

    hidrogeolgica. O fluxo pode ser bifsico, como na zona saturada (gua e NAPL) ou trifsico,

    como na zona vadosa (ar, gua e NAPL). Com relao aos fluidos percolantes, o fluxo

    depende, das densidades, viscosidades e tenses interfaciais.

    Os NAPLs podem se volatilizar, transformando-se em vapor na zona vadosa. Os NAPLs

    podem ser tambm parcialmente solveis, de forma a se apresentarem como uma fase

    dissolvida, para a qual valem as modelagens referentes aos lquidos miscveis. Alm dos

    processos de adveco, difuso e disperso, deve-se ainda considerar a adsoro pelas

    partculas slidas e a ocorrncia de processos fsicos, qumicos e biolgicos de degradao.

    Assim, os contaminantes orgnicos no miscveis em gua (NAPL) podem se apresentar

    no solo como gs, como fase dissolvida, como NAPLs em fase livre ou residual e ainda sorvidos

    nas partculas slidas. Grande parte das tcnicas de remediao tem por objetivo a

    transferncia de massa de uma fase para outra, o que obedece a leis especficas, de acordo

    com as propriedades fsico-qumicas dos contaminantes. Como exemplos citam-se as tcnicas

    que utilizam a volatilizao, as que aumentam a solubilidade dos compostos e as que utilizam

    processos de soro. Para esses contaminantes so ainda limitadas as simulaes por modelos

    numricos para condies mais reais, por falta de informaes de laboratrio e de campo.

    Os processos envolvidos no particionamento dos NAPLs so mostrados no esquema da

    figura 7.

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    20

    LQ

    UIDO

    SL

    IDOSLID

    O

    NAPL

    VAPOR

    Volatilizao Lei de Raoult Volatilizao

    Lei de Henry Soro

    Soro Solubilidade Lei de Raoult

    SLIDO Soro LQUIDO

    Figura 7. Processos envolvidos no particionamento de NAPLs.

    (Fonte: YONG et al, 1992).

    4.1. Migrao de lquidos no miscveis nos solos

    Os NAPLs migram verticalmente atravs do solo a partir de uma fonte superficial,

    devido a presses hidrostticas em seu prprio corpo contnuo (BEDIENT et al., 1994),

    descendo atravs da zona no saturada do solo em direo ao aqufero. Migrando inicialmente

    como uma frente contnua ou fase livre (mvel), os NAPLs vo deixando ao longo do caminho

    bolhas ou gnglios (figura 8), que ficam presos no interior dos poros do solo, devido a foras

    capilares geradas por tenses interfaciais. Esses gnglios permanecem no interior do solo

    como fase residual, de difcil remoo e localizao, mantendo-se como uma fonte contnua de

    contaminao ao se dissolverem na gua subterrnea.

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    NAPL

    Partculas slidas

    Poros

    Figura 8. Gnglios de NAPL, presos nos poros do solo- fase residual.

    Os LNAPLs, forados pela fonte, por gravidade, migram atravs da zona no saturada

    do solo. A fase livre do LNAPL ao atingir o lenol dgua permanece sobre a franja capilar ou

    flutuando sobre o nvel dgua, gerando uma pluma de LNAPL. Parte dessa pluma se dissolve

    pelo contato permanente com a gua, gerando uma pluma dissolvida na gua subterrnea.

    Quando a quantidade de NAPL muito pequena, todo o contaminante pode ficar retido nos

    poros como fase residual. Nesse caso a contaminao atinge o aqufero por infiltrao de gua

    onde se dissolvem os NAPLs mais solveis. A figura 9 apresenta as duas situaes tpicas de

    contaminao por LNAPLs.

    a) b)

    Tanque Tanque NAPL residual

    NAPL mobi-

    Pluma de NAPL lizado por infiltrao

    Pluma dissolvida

    Figura 9. Distribuies tpicas de LNAPLs em contaminao do subsolo: a) LNAPL

    atingindo o nvel dgua como fase contnua, b) LNAPL, totalmente retido como fase residual.

    (Fonte: GRUBB,1998)

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    22

    Os LNAPLs no ultrapassam o nvel dgua (na realidade nvel da franja capilar) por

    terem a densidade mais baixa que a da gua. Assim, no deveria ocorrer LNAPL residual na

    zona saturada do solo. Apesar disso registra-se a existncia de LNAPL residual na zona

    saturada, devido a variaes do nvel dgua. Ao rebaixar-se o nvel dgua, por qualquer

    motivo, o LNAPL sobrenadante desce junto com a superfcie do lenol. Ao retornar o nvel

    posio anterior, parte do LNAPL, fica retida sob a forma de gnglios, agora na zona saturada.

    Os DNAPLs, mais pesados que a gua, ultrapassam a superfcie da zona saturada e

    continuam migrando at encontrarem uma camada de permeabilidade muito baixa, onde

    permanecem sob a forma de piscinas (pools), que so regies de alta saturao residual (60

    70%). Podem ainda romper a estrutura da camada de baixa permeabilidade e penetrar atravs

    de fissuras. Por esse motivo os DNAPLs atingem grandes profundidades e so de mais difcil

    remediao que os LNAPLs. Devido a heterogeneidades no solo a distribuio dos DNAPls no

    subsolo irregular o que torna mais difceis em relao aos LNAPLs, tanto sua caracterizao

    quanto sua remediao. A figura 10 mostra uma distribuio tpica de DNAPLs no subsolo.

    Figura 10. Distribuio de DNAPL no subsolo.

    (Fonte: GRUBB,1998)

    FONTE

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    23

    5. REMEDIAO DE AQUFEROS CONTAMINADOS POR COMPOSTOS

    ORGNICOS NO MISCVEIS EM GUA (NAPLS)

    5.1. Introduo

    Os projetos de remediao de solos contaminados visam fundamentalmente impedir,

    reduzir ou eliminar a contaminao dos aqferos subterrneos, evitando o contato dos seres

    humanos com o contaminante e preservando o meio ambiente de uma forma geral.

    Sob a denominao de tcnica de remediao esto englobadas todas as tcnicas que

    visam a recuperao de uma rea contaminada, quer por remoo do material contaminado,

    dificultao ou impedimento do caminho do contaminante atravs do solo ou diminuio ou

    eliminao do potencial txico do contaminante (atenuao).

    Os mtodos de remediao de aqferos subterrneos podem ser agrupados de acordo

    com as formas de atuao, como proposto a seguir:

    remoo do solo contaminado e disposio em outro local;

    conteno por sistemas de barreiras fsicas;

    remoo do contaminante por bombeamento para posterior tratamento e/ou

    disposio;

    tratamentos qumicos, fsicos ou biolgicos in situ, para degradar, imobilizar ou

    neutralizar os contaminantes; includas nesse caso as tcnicas de biorremediao;

    sistemas de extrao de vapores, baseados na volatilizao dos compostos

    orgnicos..

    Shackelford (1999) sugeriu o fluxograma apresentado na figura 11 para as etapas de

    um projeto de remediao:

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    24

    Descoberta da Contaminao

    Resposta Emergencial Caracterizao do Campo Contaminado

    Avaliao da Exposio

    Regulamentao

    Aceitvel ? NO TALVEZ Necessidade de Remediao? Nenhuma ao a executar Sim Atenuao Natural Monitorada Definio dos Objetivos da

    Remediao

    Apresentao de Alternativas de Remediao

    Escolha da Tecnologia Projeto do Sistema

    Implementao do Projeto

    Operao do Sistema/ Monitoramento

    NO SIM Objetivos Alcanados?

    Figura 11. Etapas de um projeto de remediao.

    (Fonte: SHACKELFORD, 1999)

    S

    IM

    F

    IM

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    25

    Em termos de remediao, o comportamento dos NAPLs considerado um dos maiores

    desafios atuais. Os NAPLs podem ser encontrados tanto na zona saturada do solo como na

    zona no-saturada (vadosa) como fase contnua ou descontnua sob a forma de bolhas presas

    nos poros do solo (fase residual). So muitas vezes de difcil identificao e quantificao nos

    campos contaminados atravs de mtodos geotcnicos tradicionais de investigao, sobretudo

    sob a forma de saturao residual.

    Diversas tcnicas inovadoras vm sendo desenvolvidas e aplicadas para a remediao

    de NAPLs, entendendo-se como inovadoras aquelas tecnologias que, embora testadas,

    selecionadas e correntemente usadas para tratamento de determinados contaminantes, so

    ainda mal documentadas em termos de desempenho e custos. Nos casos de remediao de

    NAPLs os nveis finais de remediao alcanados para cada tecnologia no se encontram

    suficientemente estabelecidos. Essa informao importante j que para padres aceitveis de

    potabilidade necessria uma recuperao de 99% (BEDIENT et al., 1994).

    As tcnicas de remediao podem ser realizadas no local (in situ) ou atravs de

    remoo do material (solo) contaminado para outro local, onde ser tratado (ex situ). As

    tcnicas ex situ no so, em geral, apropriadas para grandes reas contaminadas, por motivos

    econmicos. Devem ainda ser rigorosamente estudados os aspectos tcnicos e econmicos da

    disposio dos resduos e a efetividade do tratamento a fim de se evitar a contaminao da

    rea de despejo final, bem como custos excessivos envolvidos no projeto. Esses aspectos

    levaram aplicao crescente de tcnicas de remediao in .

    5.2. Escolha da(s) tcnica(s) de remedio

    A escolha da tcnica a ser utilizada em uma rea contaminada depende de diversos

    fatores, tais como:

    localizao e extenso da rea contaminada;

    condies geotcnicas locais;

    condies hidrogeolgicas locais;

    forma de ocorrncia da contaminao (fases dos compostos, concentrao);

    ocorrncia em reas saturadas e no saturadas;

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    26

    caractersticas qumicas e fsicas dos contaminantes, incluindo a biodegradabilidade e

    sua caracterizao como miscveis ou no miscveis e, no segundo caso, se so

    LNAPLs ou DNAPLs;

    identificao dos riscos envolvidos para a populao local baseada em um sistema de

    anlise de riscos;

    viabilidade tcnica e econmica e aspectos legais para implantao de um sistema de

    remediao.

    A localizao e extenso da pluma de contaminao so fundamentais para as aes

    que se pretende tomar. As dimenses das plumas de contaminao definem as dimenses da

    rea a ser tratada, sendo fatores limitantes para uma srie de tcnicas de descontaminao.

    So necessrias para avaliar a possibilidade de exposio das populaes que se quer

    proteger.

    Fundamental para a modelagem do problema o conhecimento das condies

    geotcnicas e hidrogeolgicas do meio ambiente. So necessrias para a avaliao das

    interaes solo-contaminante, capacidade de biodegradao, identificao de zonas saturadas

    e no saturadas, identificao de heterogeneidades e definio das condies de transporte do

    contaminante.

    A forma de ocorrncia refere-se distribuio da contaminao nas fases do solo, que

    exigem tcnicas diferentes para seu tratamento. A presena em zonas saturadas e no

    saturadas necessria para avaliao do risco e utilizao de tcnicas especficas para cada

    uma delas.

    A caracterizao completa dos contaminantes necessria para se verificar a maior ou

    menor aplicabilidade das tcnicas existentes de acordo com caractersticas fsico-qumicas,

    interao com o meio ambiente e caractersticas de transporte.

    A anlise de riscos visa verificar se h necessidade de remediao para os nveis

    desejados de descontaminao.

    Os aspectos tcnico-econmicos so sempre analisados em projetos de engenharia,

    visando a obteno da melhor relao custo-benefcio para o atendimento das exigncias

    legais locais.

    A caracterizao do campo contaminado inclui todos os ensaios e verificaes

    usualmente realizadas nos solos no contaminados, alm de caracterizao de parmentros

    inerentes contaminao, como se segue. Um programa de caracterizao da contaminao

    envolve:

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    27

    ensaios de caracterizao de solo (granulometria, parmetros fsicos, limite de liquidez

    e plasticidade, presena de matria orgnica), de forma a classificar as camadas de

    solo de acordo com os sistemas existentes.

    caracterizao hidrogeolgica e geotcnica do campo contaminado, incluindo a

    estratigrafia local, a determinao de heterogeneidades, os gradientes hidrulicos, os

    nveis e presses dgua, a condutividade hidrulica do aquifero e a permeabilidade

    ao ar;

    determinao das caractersticas qumicas do solo em termos de sua composio e

    propriedades qumicas como pH, capacidade de troca catinica, potencial Redox,

    ctions trocveis, sais solveis, etc.;

    caracterizao fsico-qumica dos contaminantes.

    identificao da distribuio (localizao e extenso) da contaminao nas zonas

    saturada e no saturada;

    monitoramento atravs de poos e coleta de amostras de gua e solo para

    acompanhamento da remediao.

    A utilizao de mtodos geofsicos no invasivos na determinao da estratigrafia do

    solo e dimenses da contaminao diminui a quantidade necessria de amostragens por

    mtodos geotcnicos tradicionais.

    O tipo de contaminante determinante na escolha da tcnica de remediao

    adequada, devendo ser identificado com relao s seguintes caractersticas:

    concentrao e composio qumica;

    biodegradabilidade do composto;

    densidade e viscosidade do lquido;

    demais propriedades fsico-qumicas do contaminante como, pH, condutividade

    eltrica, solubilidade em gua, ponto de ebulio, presso de vapor e constante

    dieltrica.

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    28

    5.3. Avaliao de risco

    O conceito fundamental de avaliao de risco est baseado na existncia de trs

    componentes essenciais: contaminantes perigosos, vetores de exposio e receptores

    potenciais. No existindo um dos trs componentes, entende-se que no existe o risco da

    contaminao.

    Contaminante perigoso aquele cujas propriedades nocivas a determinadas

    concentraes tornam um local imprprio para o seu uso, determinado de acordo com padres

    aceitveis para os padres de sade humana e para o meio ambiente em geral. A classificao

    da ABNT quanto periculosidade de resduos slidos, considera como perigosos os resduos

    que em funo de suas caractersticas de inflamabilidade, corrosividade, reatividade,

    toxicidade e patogenicidade, podem apresentar riscos sade pblica, provocando ou

    contribuindo para um aumento de mortalidade e incidncia de doenas, e/ou apresentarem

    efeitos adversos ao meio-ambiente, quando manuseados ou dispostos de forma inadequada.

    Esse conceito poderia ser aplicado ao caso de contaminao devida a vazamentos em tanques

    enterrados, onde a forma inadequada de disposio permite a ocorrncia de vazamentos e

    conseqente contaminao do solo e das guas subterrneas.

    Vetores de exposio so formas de transporte do contaminante, que permitem seu

    contato com o receptor a partir do meio contaminado. Os vetores finais do processo so

    chamados de rotas de exposio (intake routes), correspondendo a rotas especficas de

    exposio pelas quais o contaminante penetra no receptor. Exemplos de rotas de exposio

    so: ingesto de gua, inalao durante o banho, absoro dermal durante o banho, ingesto

    de solo, contato dermal com o solo, inalao de vapores.

    Finalmente, receptores so os indivduos ou grupos de indivduos que ficam

    potencialmente expostos contaminao.

    A caracterizao do risco envolve a quantificao dos riscos aos receptores potenciais

    associados exposio aos compostos qumicos analisados. O risco verificado utilizando-se

    programas comerciais reconhecidos, integrando-se os resultados de exposio e toxicidade,

    com caracterizao em termos de magnitude e incertezas envolvidas no processo.

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    29

    5.4. Classificao das tcnicas

    A remediao in situ de um solo pode ser feita pela remoo ou degradao do

    poluente, por imobilizao fsica, qumica ou termal ou por mecanismos de isolamento

    hidrogeolgico.

    As tecnologias disponveis para minimizar ou impedir o problema da contaminao de

    solos e guas subterrneas, podem ser classificadas sob diversos aspectos como, por exemplo,

    em termos de seu objetivo (conteno x tratamento), localizao (in situ x ex situ), processo

    (fsico, qumico, biolgico, termal), meio contaminado (ar, gua ou solo), mecanismo

    operacional (recuperao de lquidos e vapores, imobilizao, degradao), entre outros.

    As tcnicas de conteno visam impedir o espalhamento da contaminao, podendo ser

    utilizadas como soluo final para o problema ou como auxiliares em projetos de remediao,

    para conter a massa de contaminantes em uma regio limitada, facilitando o tratamento. So

    utilizadas barreiras fsicas (liners), construdas atravs da combinao de diversos materiais,

    bem como barreiras hidrulicas, onde uma rede de poos retira a gua contaminada,

    impedindo que a contaminao atinja regies fora da rede.

    As tcnicas de tratamento ou remediao in situ podem ser classificadas ainda como

    passivas ou ativas e apresentam mecanismos operacionais diversos. Algumas das principais

    tcnicas de remediao in situ aplicveis aos compostos NAPLs, so apresentadas a seguir.

    6. PRINCIPAIS TCNICAS DE REMEDIAO IN SITU

    6.1. Bombeamento (PUMP AND TREAT)

    Nos processos de remediao por bombeamento, ou do tipo Pump and Treat (PT), a

    gua subterrnea contaminada bombeada para um sistema superficial de coleta, atravs de

    poos que penetram na zona saturada do solo. O material coletado posteriormente tratado

    por tcnicas ex situ. Nesse contexto, o PT pode ser considerado um tratamento. Em termos de

    aspectos in situ, porm, o PT caracterizado atualmente por diversos autores como uma

    tcnica de conteno.

    O PT comeou a ser utilizado como tcnica de remediao nos Estados Unidos no incio

    da dcada de 1980. Seu sucesso inicial deveu-se ao fato de ser o uso de poos de

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    30

    bombeamento, uma tcnica corrente e bem conhecida. Comeou a cair em desuso, como

    tcnica de remediao, a partir da segunda metade dos anos 1980, por ser considerado pouco

    eficiente para conduzir a taxas de contaminao aceitveis. O tempo necessrio para a

    remediao muito longo e por vezes indefinido, sendo muito altos os custos associados a

    esse bombeamento contnuo. De acordo com os critrios do SUPERFUND, o PT no possibilita a

    recuperao satisfatria de aqferos contaminados. A dificuldade ainda maior para os

    compostos orgnicos NAPL, pela impossibilidade de mobilizao da fase residual, que ainda

    diminui a condutividade hidrulica.

    Nos casos de contaminao por NAPLs, o PT atualmente mais considerado como uma

    tcnica de conteno associada a outras tecnologias in situ disponveis. Os poos de

    bombeamento funcionam como uma barreira hidrulica. Tcnicas que utilizam injeo de

    solventes surfactantes ou calor, podem ser consideradas uma otimizao do PT tradicional,

    aumentando a solubilidade e mobilidade dos NAPLs que contaminam a gua subterrnea.

    Para acmulos de NAPL em fase livre, como nas piscinas (pools) de DNAPLs e plumas

    sobrenadantes de LNAPLs ao nvel capilar, utiliza-se o bombeamento para diminuir o volume

    de contaminante a ser tratado por outras tcnicas de remediao que possam garantir o nvel

    desejado de qualidade da gua. O bombeamento nesses casos pode ser utilizado como uma

    medida imediata em um projeto de remediao. A figura 12 mostra um desenho esquemtico

    de um sistema de bombeamento de LNAPL livre sobre o nvel dgua.

    Figura 12. Desenho esquemtico de um sistema duplo de bombeamento de LNAPL.

    Bomba p/ retirada

    de produto

    Nvel dgua

    NAPL livre

    Tanque p/

    armazena

    mento

    Tratamentooi

    sposio

    Bomba para

    rebaixamento do

    nvel dgua

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    31

    6.2. Tcnicas de extrao de vapores do solo (SVE/Air Sparging)

    As tcnicas de extrao de vapores do solo atuam promovendo a circulao do ar

    atravs do subsolo e a remoo dos compostos volatilizados por esse processo. Includos nesse

    grupo esto os sistemas de extrao de vapores do solo propriamente ditos ou SVE (Soil Vapor

    Extraction) e o Air Sparging. SVE e Air Sparging atuam com injeo de ar (ou oxignio), sendo

    ambos os mtodos considerados como tcnicas inovadoras. Seus mecanismos de ao so,

    predominantemente a volatilizao e acessoriamente a biodegradao. So aplicveis a solos

    saturados de mdia a alta permeabilidade contaminados por compostos volteis (VOCs) e

    semi-volteis (SVOCs) ou no volteis biodegradveis aerobicamente. Os contaminantes

    derivados de petrleo, por serem facilmente volatilizados e apresentarem grande capacidade

    de biodegradao, so os mais adequados para o uso de sistemas de extrao de vapores,

    principalmente os compostos do grupo BTEX, que so os mais solveis e volteis presentes na

    gasolina.

    Volatilizao o processo pelo qual o composto evapora como fase gasosa (vapor), do

    local onde se encontra para a atmosfera. Os contaminantes na fase de vapor se movem por

    adveco atravs dos poros da zona no saturada do solo. Esse fluxo condicionado pela

    existncia de regies de permeabilidades mais altas. Os vapores movem-se inicialmente na

    direo horizontal, controlados pela inclinao do nvel dgua e barreiras impermeveis

    naturais. Esses vapores, menos densos que o ar, migram depois na direo vertical.

    A taxa de volatilizao afetada por diversos fatores, relacionados s propriedades do

    solo, do composto qumico e s condies ambientais. Com relao ao contaminante, os

    principais fatores so a presso de vapor e a solubilidade em gua. Quanto maior a presso de

    vapor de um composto, mais suscetvel ele evaporao. A volatilizao dos

    hidrocarbonetos, para gnglios de NAPLs localizados abaixo do nvel dgua e para a pluma

    dissolvida, depende da concentrao dissolvida.

    A extrao de vapores remove os contaminantes mais volteis a taxas mais altas no

    incio do processo que vo decrescendo ao longo do tempo, passando a biodegradao a ser o

    processo dominante nos estgios finais, quando j foram extrados em grande parte os

    compostos mais volteis. Nos estgios finais o processo de remoo mais um resultado da

    biodegradao dos compostos menos volteis e adsorvidos nas partculas slidas. As taxas

    relativas de remoo por extrao de vapores e por biorremediao dependem de

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    32

    caractersticas geotcnicas (permeabilidade, heterogeneidades) e hidrogeolgicas, alm das

    propriedades do contaminante e do projeto de remediao especfico.

    A implementao de um sistema eficiente e seguro, depende da habilidade do sistema

    em introduzir efetivamente o ar na regio afetada e requer investigaes de campo

    detalhadas, incluindo parmetros de fluxo de ar na zona no saturada e viabilidade de

    biorremediao. A figura 13 mostra o desenho esquemtico de um sistema combinado

    SVE/Air Sparging.

    Os sistemas de extrao de vapores do solo apresentam uma srie de vantagens,

    como:

    possibilidade de remoo da fonte residual no solo nas reas no saturada e

    saturada do solo (SVE e Air Sparging respectivamente);

    reduo da concentrao de contaminantes nas guas subterrneas;

    simplicidade: construdos a partir de equipamentos padronizados;

    baixo custo operacional;

    pouca perturbao do solo contaminado: interveno discreta;

    adicionalmente so utilizados em conjunto com outras tecnologias de remediao,

    para possibilitar a completa recuperao, como no caso da biorremediao aerbia in

    situ.

    Figura 13. Desenho esquemtico de Sistema Combinado SVE/Air Sparging.

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    33

    6.2.1. Extrao de vapores do solo ou SVE

    A tcnica de extrao de vapores do solo, conhecida como SVE (Soil Vapor Extraction),

    um dos mais importantes processos de remediao de NAPLs. uma tcnica bastante

    conhecida e que vem sendo utilizado largamente nos Estados Unidos e em outros pases,

    inclusive no Brasil. considerada como tcnica inovadora pela EPA, pois algumas variaes

    vm sendo desenvolvidas no sendo possvel ainda a previso correta do tempo e custos

    envolvidos.

    Trata-se de uma tecnologia simples de remediao in situ, apropriada para a remoo,

    na zona no saturada do solo, de contaminantes que tenham a tendncia de se volatilizarem

    ou evaporarem facilmente. A tcnica consiste em linhas gerais na aplicao de grande

    quantidade de ar na zona no saturada do solo para promover a volatilizao dos

    contaminantes, presentes como fase livre ou como fase residual, e posterior extrao dos

    vapores gerados por sistema de vcuo.

    Os fatores que mais influenciam a utilizao de SVE so: a permeabilidade do solo na

    zona no saturada, a umidade (altas umidades inviabilizam o processo), a profundidade do

    lenol fretico e o tipo de contaminante.

    Um sistema de SVE prev a instalao de poos de extrao de gases e poos de

    injeo (ou air vents) na rea contaminada, formando um sistema de circulao de ar. Os

    poos de injeo de ar utilizam compressores para forar a passagem do ar atravs do solo.

    So normalmente colocados na vertical, mas podem ser horizontais para nveis dgua mais

    superficiais. Air vents tm a mesma funo, porm ao invs de bombear o ar apenas facilitam

    a entrada do ar no terreno. Na figura 13, anteriormente apresentada, o poo de extrao de

    vapores se apresenta na posio vertical, tendo sua extremidade posicionada na parte inferior

    da zona no saturada, de modo a impedir que o contaminante atinja o nvel dgua.

    Quando o ar passa no solo em seu caminho para os poos de extrao, os

    contaminantes evaporam, saindo dos poros do solo e sendo puxados pelo ar para os poos de

    extrao, onde so removidos e tratados antes do lanamento na atmosfera. Os vapores so

    tipicamente tratados por adsoro por carbono, incinerao, oxidao cataltica ou

    condensao. O tipo de tratamento escolhido funo do tipo e da concentrao do

    contaminante, sendo a adsoro por carbono a mais largamente utilizada para tratamento de

    uma grande quantidade de compostos orgnicos volteis.

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    34

    6.2.2. Air Sparging

    Air sparging uma tecnologia de remediao de guas subterrneas in situ, que

    envolve a injeo de um gs (ar ou oxignio) sob presso, por meio de poos situados na zona

    saturada do solo, para remoo de compostos volatilizveis. O air sparging estende a

    aplicabilidade do SVE a solos saturados e guas subterrneas, possibilitando a remoo fsica

    do contaminante e a acelerao da biodegradao em zonas saturadas. aplicvel ao

    tratamento de contaminantes que no podem ser remediados por SVE. Quando o mecanismo

    de ao predominante a biodegradao, o processo chamado biosparging.

    Os principais fatores que influenciam a utilizao de air sparging so:

    a permeabilidade do solo na zona saturada;

    a profundidade do lenol fretico;

    o tipo de contaminante.

    O ar (oxignio) injetado abaixo do nvel dgua, ou seja, na zona saturada, movendo-

    se horizontalmente no incio e depois, devido densidade mais baixa que a da gua, move-se

    verticalmente para cima. Na migrao atravs do solo o ar volatiliza os contaminantes

    dissolvidos, existentes como NAPL e/ou sorvidos em partculas slidas saturadas. Os

    contaminantes migram para a zona vadosa, onde so removidos por meio de poos.

    O regime de fluxo nesse caso no bem conhecido, havendo duas teorias para explic-

    lo (GRUBB, 1998). A primeira teoria sugere que o ar flui atravs do solo como bolhas esfricas

    descontnuas. A segunda teoria sugere que o ar flui continuamente em canais atravs dos

    poros que representem caminhos de menor resistncia ao fluxo.

    De acordo com IBP (2000), o processo de air sparging no eficaz para remoo da

    fase residual, visto que essa bloqueia os poros, diminuindo a permeabilidade. Dessa forma,

    no se formariam bolhas na zona saturada, e sim o ar fluiria atravs de caminhos

    preferenciais, evitando as zonas de fase residual. Sem uma grande rea de contato do ar com

    a fase residual a volatilizao ficaria prejudicada.

    Existem vrias verses de sistemas de air sparging, muitas delas patenteadas. Um

    sistema de air sparging consiste em uma rede de poos de injeo de ar instalada dentro da

    zona saturada do solo e uma rede de poos de extrao de vapor instalado na zona vadosa ou

    no saturada. Os projetos so feitos com bases empricas, como no SVE, devendo ser sempre

    monitorados e comparados os resultados de campo com o previsto em projeto.

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    35

    Um sistema de air sparging, como descrito em GWRTAC (1996), utiliza compressores

    de ar para injetar o ar sob presso e bombas de vcuo para criar presses negativas para a

    remoo dos vapores, como mostra a figura 13, apresentada anteriormente. Um sistema de

    controle do processo usado para monitorar e ajustar a demanda de ar e os equipamentos de

    remoo. O sistema projetado deve ser capaz promover a aerao adequada de toda a rea

    afetada, minimizando a possibilidade de perdas de vapores nocivos para a atmosfera. A

    utilizao de um sistema de tratamento de gases ser ou no necessria, dependendo das

    condies de campo e de projeto, e o ajuste das taxas de injeo/extrao reduz e s vezes

    elimina a necessidade de um sistema de tratamento de gases (GWRTAC, TO-96-04).

    6.3. Tcnicas de biorremediao

    Entende-se como biorremediao qualquer forma de tratamento que utiliza

    microorganismos do solo para biodegradar os contaminantes do solo e das guas

    subterrneas, transformando as substncias perigosas presentes nos compostos orgnicos em

    energia e em substncias no txicas ou pouco txicas.

    Os processos abiticos raramente transformam substncias orgnicas em produtos

    inorgnicos. J os processos biolgicos de degradao (biodegradao) podem resultar em

    completa transformao de compostos orgnicos txicos em produtos inorgnicos no txicos,

    como, por exemplo, o CO2.

    Os processos de biodegradao podem ocorrer sob condies existentes

    (biorremediao intrnseca) ou ser estimulados por tecnologias de biorremediao, que visam

    criar condies ideais para que ocorra a biodegradao necessria. Estimula-se o crescimento

    da populao de microorganismos no solo, capazes de promover a biodegradao do

    contaminante de forma adequada sua quantidade e qualidade.

    A biorremediao capaz de degradar poluentes orgnicos a concentraes inferiores

    s mximas aceitveis pelo organismo humano e vem sendo usada na destruio de diversos

    produtos qumicos no solo e guas subterrneas, sendo grande a lista de compostos passveis

    de serem biodegradados.

    A biodegradao um processo de reaes bioqumicas mediadas por microorganismos

    que metabolizam as substncias orgnicas para nutrio e obteno de energia, promovendo a

    transformao de compostos orgnicos txicos em outros compostos. Quando as reaes

    bioqumicas transformam os compostos orgnicos em outros menos txicos, o processo dito

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    de detoxificao. Quando promovida a completa transformao dos compostos orgnicos

    txicos em compostos inorgnicos no txicos o processo de mineralizao. Na

    mineralizao, os microorganismos quebram a estrutura dos poluentes e produzem resduos

    como dixido de carbono (CO2), gua (H2O), formas inorgnicas de N, P, S e outros;

    consumindo no processo, como fonte de energia, o carbono presente nos compostos

    orgnicos.

    Para que ocorra a biodegradao existem seis requisitos bsicos (BEDIENT et al.,

    1994):

    1. Presena dos microorganismos apropriados: Os microorganismos nos aqferos

    subterrneos so quase sempre bactrias. prefervel ter bactrias nativas

    (indigenous) capazes de biodegradar o contaminante local;

    2. Fontes de Energia: O carbono orgnico necessrio como fonte de energia e

    utilizado pelos organismos para manuteno e crescimento, sendo transformado em

    carbono inorgnico, energia e eltrons;

    3. Fontes de carbono: Aproximadamente 50% do peso seco das bactrias carbono,

    sendo o carbono orgnico utilizado para compor e gerar novas clulas;

    4. Receptores de eltrons: A biodegradao envolve a oxidao dos contaminantes,

    sendo necessrios elementos oxidantes (receptores de eltrons);

    5. Nutrientes: Entre os nutrientes necessrios esto o nitrognio, fsforo, clcio,

    magnsio, sendo os dois primeiros necessrios em grandes quantidades;

    6. Condies ambientais aceitveis: Exemplos so a temperatura, pH, salinidade,

    presso hidrosttica, radiao ou presena de metais pesados ou outros elementos

    txicos que inibam a populao bacteriana. A concentrao do contaminante no

    aqufero tambm tem influncia direta no crescimento da populao.

    A biodegradao pode ocorrer sob condies aerbias ou anaerbias. Em condies

    aerbias os microorganismos precisam de oxignio para funcionar, sendo o oxignio o receptor

    de eltrons. Em condies anaerbias as atividades biolgicas se do sem presena de ar. As

    reaes anaerbias podem ser divididas em respirao anaerbia e fermentao. Na respirao

    anaerbia so utilizados como receptores de eltrons, nitratos, sulfatos e dixido de carbono.

    Na fermentao os compostos orgnicos so tanto doadores como receptores de eltrons.

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    37

    A tabela 2 (SUTHERSAN, 1998) apresenta um quadro resumo das formas de

    metabolismo descritas, com doadores e receptores de eltrons e produtos finais, na

    biodegradao de substratos orgnicos.

    Na mineralizao de substratos orgnicos por respirao aerbia os produtos finais so

    o CO2 e H2O. Exemplificando, a equao estequiomtrica da degradao do benzeno em

    presena de O2 :

    7,5 O2 + C6 H6 6 C O2 + 3 H2 O

    Embora a aplicao de tcnicas de biorremediao aerbia in situ sejam mais usuais, a

    biodegradao anaerbia possvel para compostos orgnicos resistentes biodegradao

    aerbia, como o caso dos hidrocarbonetos halogenados ou orgnicos clorados.

    Hidrocarbonetos aromticos e poliaromticos tambm podem ser degradados em condies

    anaerbias. Quanto maior o nmero de anis benznicos nos poliaromticos, mais difcil se

    torna a biodegradao aerbia.

    Tabela 2. Resumo das formas de metabolismo.

    Forma de

    Metabolismo

    Doador de eltrons

    (redutor)

    Receptor de eltrons

    (oxidante) Produtos Finais

    Respirao

    Aerbia

    Substratos Orgnicos

    (benzeno, tolueno,

    fenol)

    O2 CO2, H2 O

    Respirao

    Anaerbia

    Substratos Orgnicos

    (benzeno, tolueno,

    fenol, tricloroetileno)

    Substratos Orgnicos

    (benzeno, tolueno,

    fenol, tricloroetileno)

    NO3-

    SO42-

    N2 , CO2 , H2 O, Cl

    S2- , CO2 , H2 O, Cl

    Fermentao Substratos Orgnicos Compostos Orgnicos Compostos Orgnicos,

    CO2 , CH4

    (Fonte: Adaptada de SUTHERSAN,1998).

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    38

    Quanto maior o grau de halogenao de um composto, maiores so as taxas de

    biodegradao anaerbia e menos suscetvel ele biodegradao aerbia. Processos

    anaerbios de desalogenao redutiva, como a declorao redutiva, podem biodegradar

    compostos fortemente halogenados, que persistem quando atacados por bactrias aerbias. A

    declorao redutiva se caracteriza pela substituio do cloro por um hidrognio. Uma das

    desvantagens da biodegradao anaerbia apontadas por GUSMO (1998) o fato de que

    alguns subprodutos so mais nocivos que o original. Outra desvantagem, que, por serem as

    taxas de biodegradao anaerbia maiores para os orgnicos mais clorados, os menos clorados

    podem ficar persistentes no solo. Os processos anaerbios so mais lentos que os processos

    aerbios e as tcnicas de estimulao e otimizao so ainda pouco aplicadas e conhecidas,

    no sendo descritas aqui.

    Os processos metablicos, aerbios ou anaerbios, se distinguem pela forma de

    utilizao do carbono orgnico como substrato. Os contaminantes utilizados como substratos

    primrios so, ao mesmo tempo, fonte de energia e de carbono para os microorganismos. Os

    substratos secundrios no fornecem energia suficiente para sustentar a populao

    microbiana, sendo necessria a presena de um substrato primrio, cujo processo de

    biodegradao gere enzimas capazes de biodegradar o substrato secundrio, em um processo

    de cometabolizao.

    Segundo Grubb (1998), os hidrocarbonetos de petrleo so bons exemplos de

    substratos primrios na biodegradao. Segundo com Suthersan (1998), os HPAs mais

    pesados so biodegradados somente por cometabolismo. Quanto aos compostos halogenados

    ou clorados, somente aqueles pouco clorados, com no mximo dois cloros, podem ser usados

    como substratos primrios. Os mais clorados s podem ser biodegradados por

    cometabolizao.

    A biorremediao pode se dar in situ ou ex situ. As tcnicas de biorremediao ex situ

    podem ser mais rpidas e fceis de controlar, porm requerem escavao, transporte,

    tratamento e disposio do solo contaminado, sendo de mais alto custo, impacto e dificuldades

    operacionais que as tcnicas in situ. As tecnologias de biorremediao in situ no requerem

    escavao do solo contaminado, sendo mais baratas e causando menos perturbaes e

    liberao do contaminante para o meio ambiente. Possibilitam tambm o tratamento de uma

    maior quantidade de solo.

    As tcnicas de biorremediao in situ so, em geral, de bioestimulao da populao

    microbiana nativa (microorganismos indigenous). Se a atividade biolgica necessria para a

    biodegradao efetiva de um determinado campo contaminado no for atendida pelas

    condies locais, microorganismos de outros locais (exogenous) podem ser adicionados.

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    39

    Porm, enquanto vrios estudos de caso comprovam o sucesso da bioestimulao dos

    microorganismos indigenous, o mesmo no ocorre em relao introduo de

    microorganismos exogenous, de acordo com Grubb (1998).

    A bibliografia consultada indica que a biorremediao degrada o material dissolvido na

    fase lquida, no realizando a remediao dos hidrocarbonetos sob a forma de NAPL. De acordo

    com Grubb (1998), as reaes de biodegradao requerem transferncia de eltrons e acesso

    a nutrientes, que so inibidos na fase no miscvel (NAPL). Os compostos em fase NAPL no

    so degradados diretamente; mas vo se dissolvendo medida que a fase dissolvida vai sendo

    biodegradada. Alexander (1994) admite a hiptese de que os microorganismos degradem

    diretamente os NAPLs na superfcie de contato. De acordo com Alexander (1994), alguns

    microorganismos so capazes de biodegradar compostos sorvidos.

    Os fatores que influenciam um programa de biorremediao so:

    os microorganismos presentes;

    o tipo de contaminante;

    a extenso e localizao da contaminao;

    as condies hidrogeolgicas e geotcnicas locais.

    Com relao aos microorganismos presentes no solo, deve-se conhecer sua populao

    inicial, sua demanda de nutrientes, sua forma de metabolismo (aerbia ou anaerbia) e sua

    habilidade de biodegradar o contaminante presente no solo em uma dada concentrao.

    Diferentes microorganismos degradam diferentes tipos de compostos a diferentes

    concentraes e sobrevivem sob diferentes condies ambientais (EPA (2),1996). Algumas

    bactrias conseguem biodegradar um determinado composto para baixas concentraes e no

    o conseguem a altas concentraes.

    Com relao ao contaminante, fundamental o conhecimento de suas caractersticas

    fsico-qumicas, concentrao e biodegradabilidade em condies aerbias e anaerbias.

    As condies hidrogeolgicas e geotcnicas determinam a acessibilidade dos

    microorganismos aos contaminantes e dos nutrientes e do oxignio para a bioestimulao. As

    caractersticas fisico-qumicas do solo interferem no processo, que pode ser inibido por

    condies ambientais inaceitveis.

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    40

    6.3.1. Biorremediao aerbia in situ

    A biorremediao aerbia in situ utilizada na recuperao de locais contaminados com

    produtos derivados de petrleo, compostos fenlicos, solventes organoclorados pouco clorados

    entre outros NAPLs (WEEGE, 1998). adequada principalmente aos hidrocarbonetos de

    petrleo, que so os compostos mais degradveis aerobicamente, sendo os do grupo BTEX os

    mais degradveis, de acordo com BEDIENT et al., (1994).

    A tcnica consiste em estimular o crescimento (bioestimulao) da populao

    microbiana nativa do solo (indigenous) adicionando ao solo nutrientes e oxignio e

    estabelecendo condies apropriadas de temperatura necessrias para dinamizar o processo

    de biodegradao. Nos casos de cometabolismo, so tambm adicionados substratos

    primrios. A biorremediao aerbia in situ permite a biodegradao de contaminantes

    sorvidos nas partculas slidas e dissolvidos na gua subterrnea simultaneamente.

    As tecnologias de biorremediao aerbia variam na maneira como o oxignio

    fornecido. So, em sua maioria, variaes do sistema patenteado por RAYMOND, 1974,

    segundo Grubb, 1998. O sistema formado por poos de injeo e de extrao e possibilidade

    de reinjeo da gua subterrnea. A figura 14 mostra esquematicamente um sistema de

    biorremediao, onde os nutrientes e o ar so adicionados diretamente na gua subterrnea.

    Figura 14. Desenho esquemtico de um sistema de biorremediao in situ.

    Uma prtica bastante utilizada a combinao com sistemas de SVE e/ou air sparging

    para promover a aerao necessria ao processo de biodegradao, embora o objetivo

    principal da injeo de ar nos dois sistemas seja a volatilizao dos compostos.

    Co

    ressor

    de

    ar

    Suprimento

    de gua Poo de

    extrao

    Air

    Sparger

    Poo de

    injeo

    Recirculao

    ou sumidouro

    Material expelido

    Tanque de

    nutrientes

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    41

    Injees de perxido de hidrognio podem ser usadas no lugar do ar para acelerar a

    atividade natural dos microorganismos. Segundo Fetter (1991) este mtodo pode ser mais

    eficiente que a injeo de ar, mas pode ser txico para algumas bactrias, alm de ser mais

    caro.

    As tecnologias disponveis para biorremediao aerbia s se aplicam a solos

    permeveis o suficiente para permitir a introduo de oxignio e nutrientes. A permeabilidade

    um dos principais fatores a serem analisados em um estudo de viabilidade, sendo que de

    acordo com diversos autores k deve ser maior que 10-4 cm/s. As condies hidrogeolgicas

    geotcnicas locais devem viabilizar o programa, permitindo a chegada do oxignio e nutrientes

    na maior extenso possvel da contaminao.

    6.3.2. Biorremediao Intrnseca

    A Biorremediao Intrnseca um processo onde a ao dos microorganismos se d

    sem interveno humana. A tcnica consiste na previso e monitoramento dos processos de

    Atenuao Natural. Por serem os processos biolgicos predominantes na atenuao natural, a

    denominao biorremediao intrnseca muitas vezes utilizada como sinnimo de atenuao

    natural. A Atenuao Natural Monitorada descrita no item 5.7

    6.4. Tcnicas de embebio e lavagem do solo in situ

    So tecnologias caracterizadas por injeo ou infiltrao de uma soluo em uma zona

    saturada contaminada, seguida da aplicao de um gradiente hidrulico para extrao da gua

    subterrnea e do efluente (soluo com os contaminantes), para tratamento fora do terreno

    e/ou reinjeo. As solues podem consistir em surfactantes, co-solventes, cidos, bases,

    solventes ou gua limpa. Pode ser considerada como uma verso in situ da lavagem de solo.

    Podem ser utilizados para uma grande gama de contaminantes orgnicos, podendo ser

    aplicvel em alguns compostos inorgnicos. mais aplicvel a meios de permeabilidade

    moderada a alta, sendo fundamental um excelente conhecimento das condies

    hidrogeolgicas locais.

    Uma variedade de configuraes de poos de injeo, poos horizontais, trincheiras,

    galerias de infiltrao, e poos de extrao ou trincheiras coletoras podem ser usadas para o

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    contato da soluo inundante com a zona contaminada. Um sistema tpico composto por uma

    rede de poos de injeo e uma rede de poos de extrao, sendo possveis diversos tipos de

    combinaes. A figura 15 mostra de forma esquemtica um sistema de soil-flushing. O

    nmero, localizao e profundidade dos poos dependem de vrios fatores hidrogeolgicos e

    consideraes tcnico-operacionais. Os poos podem ser verticais ou horizontais (para poos

    horizontais ver item 5.8).

    No caso dos NAPLs, a adio de co-solventes, e de surfactantes no sistema de guas

    subterrneas, para ajudar a mobilizao e solubilizao, normalmente considerada um

    avano em relao ao pump and treat tradicional, pelo aumento da massa de contaminante

    removida da zona contaminada e possibilidade de remoo da fase residual. Visando o

    aumento da mobilizao de NAPLs, o sistema tem como objetivo principal diminuir diretamente

    as tenses interfaciais ou acelerar a dissoluo do contaminante para diminuio das tenses

    interfaciais Alm disso, podem ser aceleradas as reaes qumicas de: adsoro/dessoro;

    cido/base; oxidao/reduo; biodegradao.

    A inundao por co-solventes ou surfactantes para remediao de NAPLs, melhora o

    processo de recuperao por dissoluo e/ou mobilizao do contaminante, por mecanismos

    distintos, conforme descrito a seguir.

    Figura 15. In Situ Soil Flushing, usando poos verticais.

    (Fonte: EPA 542-f-96-006)

    Sol

    uo de

    lavagem

    S

    eparador

    Tratamento de

    contaminantes

    Controle de

    emisso de gases

    Soluo de lavagem/

    contaminante contaminante

    Soluo

    de lavagem

    Resduos concentrados

    Poo de Injeo

    Poo de

    extrao

    gua tratada

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    6.4.1. Embebio por lcool/co-solvente (alcool/co-solvent flooding)

    Lquidos polares orgnicos podem ser solventes de lquidos orgnicos no-polares,

    podendo aumentar a solubilidade dos primeiros na fase aquosa. A capacidade de um

    determinado solvente aumentar a solubilidade de um soluto em outro solvente denominada

    co-solvncia. Este fenmeno faz com que aumente a concentrao de compostos orgnicos

    no polares, como os hidrocarbonetos de petrleo, na gua contaminada, em conseqncia da

    presena de compostos orgnicos polares co-solventes. O co-solvente age diminuindo a tenso

    interfacial entre o lquido e a gua em decorrncia do aumento da solubilidade dos NAPLs

    O lcool um dos solventes/co-solventes mais utilizados. Os co-solventes so miscveis

    em gua e os NAPLs neles se solubilizam, de forma a que se forme uma fase nica. A tenso

    interfacial decresce com o aumento da solubilidade tendendo a zero para um sistema miscvel.

    O aumento da solubilidade produz tambm uma diminuio na soro do contaminante pelas

    partculas slidas.

    A predominncia do mecanismo de dissoluo ou da mobilizao do NAPL em um

    sistema de embebio por lcool/co-solvente determinada pelo solvente e concentraes

    utilizadas.

    6.4.2. Embebio por surfactantes (Surfactant flooding)

    Os surfactantes so agentes ativos em sabes e detergentes, e apresentam habilidade

    tanto para diminuir as tenses interfaciais como para aumentar a solubilidade dos NAPLs.

    Essas habilidades decorrem do fato de que os surfactantes tm uma poro polar e outra no-

    polar. No contato entre o surfactante e o NAPL, as molculas se posicionam ao longo da

    interface, com suas extremidades polares na gua e no-polares no NAPL, causando uma

    diminuio da tenso interfacial.

    Quando presentes em uma concentrao suficiente, as molculas de surfactante

    formam agregados orientados chamados micelas. Na gua as molculas em uma micela so

    arranjadas com suas extremidades polares para fora e suas extremidades no-polares para

    dentro. As micelas podem incorporar molculas de NAPLs, produzindo um aparente aumento

    de solubilidade. Uma vez incorporado pelas micelas, o composto transportado como se fosse

    uma fase dissolvida.

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    A soluo injetada pode ser composta de mais de um surfactante, podendo incluir lcool

    ou sal para otimizar o processo de remoo da contaminao por uma combinao de

    dissoluo e deslocamento. A predominncia da dissoluo ou mobilizao controlada pela

    formulao da soluo de surfactante. A soluo extrada pode ser tratada e o surfactante

    reciclado.

    6.5. Barreiras permeveis reativas

    Barreiras Reativas so estruturas permeveis instaladas no subsolo, no caminho do

    fluxo das guas subterrneas contaminadas, com o objetivo de tratar os contaminantes

    dissolvidos, quando so atravessadas por esses. Trata-se de trincheiras ou paredes verticais

    escavadas e preenchidas com material reativo para promover o tratamento passivo dos

    contaminantes, protegendo da contaminao o solo jusante como mostra a figura 16. O

    processo de tratamento que ocorre tipicamente de degradao, soro e precipitao do

    contaminante. aplicvel a uma larga gama de contaminantes orgnicos e inorgnicos.

    O material reativo normalmente misturado com areia, de forma a tornar a barreira

    mais permevel que o solo local. Assim o fluxo atrado pela barreira, ou seja, promove-se

    um caminho preferencial de fluxo.

    As barreiras reativas funcionam idealmente para solos com permeabilidade moderada a

    alta, com um significativo fluxo advectivo das guas subterrneas. Como o processo s trata a

    fase dissolvida, deve ser obrigatoriamente associado a outros mtodos no caso de NAPLs.

    As dimenses das barreiras so definidas pelas dimenses da pluma de contaminao.

    Para completa remediao, a barreira deve ser construda com largura e profundidade

    suficientes para ser atravessada por toda a pluma de contaminao. A profundidade da

    barreira obedece profundidade atingida pela pluma de contaminao, assim nas

    contaminaes por DNAPLs as profundidades das barreiras precisam ser maiores que nas

    contaminaes por LNAPLs.

    Em termos de profundidades, para as barreiras reativas, o ideal que a contaminao

    no exceda a profundidade de 15 m (EPA-542-F-96-016, 1996). As profundidades tratadas

    podem ser maiores e ficam limitadas pelos equipamentos disponveis para escavao e

    condies locais.

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    NT Barreira de tratamento

    gua subterrnea limpa

    gua subterrnea contaminada

    Direo do fluxo

    Figura 16. Desenho esquemtico do funcionamento da barreira reativa.

    Se a pluma for muito larga ou profunda, as grandes dimenses da barreira podem

    torn-la invivel tcnica e/ou economicamente. No caso de grande largura da pluma, podem

    ser utilizadas paredes verticais de baixa permeabilidade, que direcionem o fluxo da gua

    subterrnea para as barreiras permeveis (reatores) sob a forma de um funil, como mostra a

    figura 17. A barreira impermevel ou reator e o funil formado pelas paredes impermeveis

    formam o conjun