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COLETÂNEA TURÍSTICA 2008

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PRESIDENTEOswaldo Trigueiros Jr.

ASSISTENTEMaria Joseneide Amorim Fernandes

MEMBROSAimone CamardellaAlex CanzianiAlexandre Sampaio de AbreuAlfredo LauferAngelo Muniz Freire VivacquaAntonio Henrique Borges de PaulaAquiléa Correa Homem de CarvalhoArnaldo Ballesté FilhoAroldo AraújoArthur Bosisio JuniorAspásia CamargoBayard do Coutto BoiteuxBeatriz Helena Biancardini ScvirerCaio Luiz de CarvalhoCarlos Alberto Amorim FerreiraCarlos Alberto Raggio DaviesCarlos Américo Sampaio ViannaCarmen Fridman SirotskyCláudio Magnavita CastroConstança Ferreira de CarvalhoCleber Brisis de OliveiraDaltro Assunção NogueiraDirceu Ezequiel de AzevedoEduardo Jenner Farah de AraujoEraldo Alves da CruzGenaro CesárioGeorge IrmesGerard Raoul Jean BourgeaiseauGilberto F. RamosGilson CamposGilson Gomes NovoGlória de Britto PereiraGlória Konrath NabucoHarvey José SilvelloHélio AlonsoHorácio NevesIsaac HaimItamar da Silva Ferreira FilhoJacob MurebJoandre Antonio FerrazJoão Augusto de Souza LimaJoão Flávio PedrosaJomar Pereira da Silva Roscoe

José Antonio de OliveiraJosé Guillermo Condomé AlcortaJosé Hilário JúniorLeila Serra Menezes Farah de AraújoLeonardo de Castro FrançaLuiz Brito FilhoLuiz Carlos BarbozaLuiz Felipe BonilhaLuiz Guilherme Neiva CartolanoLuiz Gustavo M. BarbosaLuiz Strauss de CamposMalú Santa RitaMarco Aurélio Gomes MaiaMargaret Rose de Oliveira SantosMaria Eliza de MattosMaria Ercília Baker Botelho Leite de CastroMaria Luiza de MendonçaMário BragaMário Reynaldo TadrosMaureen FloresMaurício de Maldonado Werner FilhoMauro José Miranda GandraMauro Pereira de Lima e CâmaraMurillo CoutoNely Wyse AbaurreNilo Sergio FélixNilson Guilhem GuilhemNorton Luiz LenhartOrlando Machado SobrinhoOrlando Kremer MachadoPaulo Barreto de AraujoPaulo Solmucci JúniorPedro FortesPercy Lourenço RodriguesRespício Antonio do Espírito Santo JuniorRicardo Cravo AlbinRicardo KawaRoberta Guimarães WernerRoque Vicente FerrerRosele Brum Fernandes PimentelRubens Moreira Mendes FilhoSávio Neves FilhoSérgio Pamplona PintoSérgio Ricardo Martins de AlmeidaTânia Guimarães OmenaTrajano Ricardo Monteiro RibeiroVenâncio GrossiWaldir de Araujo Castro

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CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO DE BENS,

SERVIÇOS E TURISMO

Coletânea Turística. – Rio de Janeiro: CNC, Conselho de Turismo,

2008.

328 p.

1. Turismo. I. Confederação Nacional do Comércio de Bens,

Serviços e Turismo. II. Conselho de Turismo. III. Título

Confederação Nacional do Comérciodos Bens, Serviços e Turismo

BrasíliaSBN Quadra 1 Bloco B n o 14, 15 o ao 18o andarEdifício Confederação Nacional do ComércioCEP 70041-902PABX (61) 3329-9500 | 3329-9501E-mail: [email protected]

Rio de JaneiroAvenida General Justo, 307CEP 20021-130 Rio de JaneiroTel.: (21) 3804-9365 | 3804-9257Fax (21) 2524-7111E-mail: [email protected]

Web site: www.portaldocomercio.org.br

Publicação Bianual

Diagramação: SG - DATIN - CDI/UPV

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APRESENTAÇÃO

Antonio Oliveira Santos

Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo

O que está por trás dos números do turismo?

O turismo é muito mais do que milhões de embar-ques e desembarques, dólares gastos e números dehospedagens. A economia turística envolve um com-plexo sistema intimamente ligado ao comércio de bense serviços. É quase impossível traçar fronteiras clarasentre turismo, atividade comercial e de serviços.

Um país, que pretende se inserir no competitivo mer-cado internacional do turismo, precisa aprender a olharalém dos números. Não se pode, por exemplo, alme-jar destinos competitivos internacionalmente sem umtransporte transcontinental à altura. Não se pode so-nhar com metas fabulosas de turistas estrangeiros noPaís e de divisas sem uma aviação comercial segura eeficiente.

Portanto, o Brasil para despontar no mercado mun-dial do turismo, precisa antes se debruçar sobre umasólida base científica, sobre estudos e análises. Preci-sa promover a troca de informação, o diálogo e o pen-samento estratégico. Enfim, necessita de conhecimen-to e atitude.

E este tem sido o papel do Conselho de Turismo daConfederação Nacional do Comércio de Bens, Servi-ços e Turismo – CNC, há quase seis décadas. NossoConselho de Turismo tem procurado, ao longo de suaexistência, primar por uma discussão politizada, semser política; atual, sem modismos; séria e responsávelcomo deve ser um órgão plural e democrático, com-prometido com uma proposta maior: a de ajudar nodesenvolvimento sustentável do turismo.

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Muito antes do termo “sustentável” cair nas graçasda mídia e no jargão empresarial, o nosso Conselho jáse dedicava a difundir uma prática turística preocu-pada com as gerações futuras. E foi, sem dúvida, essapostura que garantiu na atuação do Conselho de Tu-rismo um compromisso transversal ao fomento da ati-vidade turística – o compromisso com a educação.

Os artigos abordam aspectos importantes para a aná-lise do cenário nacional do turismo, como: o momen-to atual do transporte aéreo brasileiro; a verdade so-bre o controle de tráfico aéreo no País; o planejamen-to turístico; a segurança pública e o seu impacto no

turismo; o modelo de desenvolvimento turístico a seradotado pelo Brasil e as políticas públicas do turismo,desenvolvidas por estados e municípios (Mato Gros-so, Rio de Janeiro, Cabo Frio e Macaé).

Assim esperamos que esta Coletânea seja mais do queo registro do pensamento de ilustres defensores daatividade, mas uma ferramenta de análise e fomentode novas idéias e conceitos que vão muito além dosnúmeros e das metas quantitativas para o turismo noBrasil.

Boa leitura.

Antonio Oliveira SantosPresidente

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SUMÁRIO

Turismo no Rio de Janeiro, 9Sérgio Ricardo Martins de Almeida

Trens Turísticos do Brasil – ABOTTC, 27Sávio Neves Filho

100% Cliente – Um Show de Atendimento, 37Maurício de Maldonado Werner Filho

O Turismo e o Meio Ambiente, 59Alberico Martins Mendonça

Museu Aeroespacial: Bom Negócio paraCultura, Educação e Turismo, 75Brigadeiro do Ar R/1 Márcio Bhering Cardoso

Programa de Treinamento Transculturalpara o Turismo e Hospitalidade, 87Carlos Alberto Raggio Davies

A Importância do Setor de Eventospara o Turismo e para a Economiade uma Cidade e a Ação da ABEOC, 99Constança Ferreira de Carvalho

Turismo como Atividade Econômica, 107Nilo Sergio Félix

Transportes Aéreos no Brasil: Desafiose Oportunidades, 115Respício Antonio do Espírito Santo Junior

Planejamento e Segurança no Turismo, 129Bayard do Coutto Boiteux

A Aviação no Momento Atual e a sua Promo-ção, 143Conselheiro João Flávio Pedrosa

Controle de Tráfego Aéreo – Verdades, 153Brigadeiro Mauro José Miranda Gandra

Segurança Pública no Estadodo Rio de Janeiro, 163José Mariano Benincá Beltrame

Cabo Frio em 10 anos: Janelas deOportunidades no Setor Turístico – Hoteleiroe os Comprometimentos Identificadospara a Expansão, 179Denise Vogel Custódio

A Campanha para Eleição do Cristo Redentorcomo uma das 7 Maravilhas do MundoModerno, Inserida no Turismo, 195Luiz Brito Filho

O Modelo de DesenvolvimentoBrasileiro, 207Márcio Fortes

Histórico do Turismo no Brasil(1955-2007), 217Maureen Flores

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SINDRIO – Funcionamento, Atuação, Projetos,Propostas e Políticas, 229Alexandre Sampaio de Abreu

O Turismo no Estado do Mato Grosso, 239Pedro Jamil Nadaf

Educação e Turismo, 247Arnaldo Niskier

Estratégia de Segurança Pública: o Dilemadas Metrópoles com Áreas Conflagradas, 257Coronel Ubiratan de Oliveira Ângelo

Rússia – Uma Parceira Estratégica no Conceitodo Turismo, 277Sérgio Palamarczuk

A Explosão do Turismo na China, 285Carlos Tavares de Oliveira

Case CVC, 295Guilherme Paulus

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TURISMO NO RIO DE JANEIRO

Sérgio Ricardo Martins de Almeida

Secretário de Estado de Turismo no Rio de Janeiro

Boa-noite.

Eu sempre abri a minha palestra com uma foto daCidade do Rio de Janeiro: a Baía de Guanabara, comNiterói ao fundo. Essa imagem representava exata-mente o nosso desafio de integrar a Cidade ao inte-rior, de levar o turista da Cidade do Rio de Janeiropara o interior do Estado. Mas, a partir de agora, todoo nosso trabalho terá a imagem do nosso Cristo Re-dentor, pois, como já é do conhecimento de todos, oCristo Redentor está concorrendo com outros 21 pro-dutos turísticos, outras 21 arquiteturas turísticas domundo inteiro, a uma das maravilhas do mundo. Jáexiste, inclusive, um site, em que todos podem votar,que é: www.n7w.com. Também foi criada uma comu-nidade no Orkut, que é a “Cristo: 7 maravilhas domundo”. E eu solicito todos a votarem. É uma con-corrência muito difícil: estamos concorrendo com a

Torre Eiffel, com a Estátua da Liberdade e com asMuralhas da China; enfim, é uma eleição difícil, masé fundamental, até o final do ano, votar on line ou portelefone. As sete maravilhas do mundo serão anunci-adas no dia 1o de janeiro de 2007.

Em outubro, estarão no Rio de Janeiro os orga-nizadores, que são de uma ONG suíça. Eles realiza-rão uma série de eventos: filmarão o Rio de Janeiro, oCristo Redentor e mostrarão ao mundo inteiro. Só essemovimento já nos ajuda muito na divulgação de umimportante produto turístico da nossa Cidade e denosso Estado. Se nós ganharmos, durante alguns anos,até que alguém tenha uma outra grande idéia igual aessa, faremos parte das sete maravilhas do mundo. OCristo Redentor já ganhou no Rio de Janeiro comogrande produto turístico do Rio de Janeiro, em umaeleição feita por cariocas. Estamos em uma grande

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movimentação, o Brasil inteiro se mobilizando, pro-curando por amigos. Agora está mais fácil de votar. Ésó entrar nessa página e preencher um pequeno ques-tionário com nome, endereço e e-mail , e escolher assete maravilhas. Precisamos de, aproximadamente, 5milhões de votos. Acredito que só aqui já conseguiría-mos, se todos nós nos mobilizarmos. Trajano RicardoMonteiro Ribeiro, por exemplo, com a liderança dele,era capaz de sozinho garantir a campanha. Mas va-mos ampliar e solicitar que todos votem. Então, deagora em diante, trabalharei sempre, até o final doano, com a imagem do Cristo Redentor como referên-cia do turismo do Rio de Janeiro.

Eu já falei anteriormente aqui, em uma outra pales-tra, que todo o trabalho que nós estamos realizandona TurisRio é baseado no Plano Diretor de Turismodo Estado do Rio de Janeiro, que era uma exigênciaConstitucional Estadual, no seu artigo 227, § 2º. EssePlano foi feito após amplo processo de discussão dasociedade, do trade, das universidades, dos funcioná-rios do Estado, das prefeituras municipais e das asso-ciações de classe. Entregamos esse Plano, em agostode 2001, na Alerj, que aprovou. O Plano, então, viroua nossa Constituição. É óbvio que faz parte do nossoplanejamento, a partir do segundo semestre, começaruma modificação, uma melhoria, uma adaptação à rea-lidade.

O Plano Diretor tem cinco macroprogramas: Desen-volvimento Institucional, Infra-estrutura de Apoio,Sistema de Informações, Qualif icação e Fomento daAtividade e Consolidação do Produto Turístico.

Os macroprogramas foram divididos em programas.O macroprograma Desenvolvimento Institucional foi

dividido nos programas: Ação Interinstitucional,Formalização da Atividade e Apoio ao Desenvolvi-mento Turístico nos Municípios. O macroprogramaInfra-estrutura de Apoio, nos programas Infra-estru-tura Básica, Equipamentos e Estrutura de Apoio. Omacroprograma Sistema de Informação, nos progra-mas: Banco de Dados e Informação ao Turista. Omacroprograma Fomento à Atividade, nos programasGestão dos Serviços Turísticos, Qualif icação da Mão-de-obra e Captação de Recursos. O macroprogramaConsolidação do Produto Turístico, nos programas:Identificação, Organização e Qualificação do Produ-to Turístico e Promoção e Marketing.

Falaremos de algumas ações que foram feitas na im-plantação e no incremento desse Plano Diretor.

Desenvolvimento Institucional. O Plano sugeria quefosse criada a Secretaria de Estado de Turismo. AGovernadora Rosângela Rosinha Garotinho BarrosAsses Matheus de Oliveira teve a sábia visão de mecolocar lá – confesso que gostei muito –, e mais doque isso, deixou-me acumular a Presidência daTurisRio. Gostei muito de ter esse poder. Era umasugestão, porque era impensável que o Brasil não ti-vesse o Ministério do Turismo, e que o Rio de Janeiro– e todos os Estados – não tivesse uma Secretariaabsolutamente dedicada, exclusivamente, a essa ati-vidade, que é o turismo. Foi uma das ações concretasde desenvolvimento institucional.

O Plano também sugeria a criação do Conselho Esta-dual de Turismo, que foi criado e se reunirá na terça-feira. Nesse conselho é que estão sendo tomadas to-das as decisões da nossa ação referente à verba des-centralizada por parte do Governo Federal, e realiza-

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das todas as discussões relativas às questões de segu-rança e melhoria da Cidade. Esse conselho reúne-sesempre na Federação do Comércio do Estado do Riode Janeiro (FECOMERCIO-RJ), e tem sido um gran-de fórum de discussão e debate.

A criação de um Batalhão de Policiamento em ÁreasTurísticas (BPTur) foi sugerida também nesse Plano.O Estado do Rio de Janeiro foi o primeiro Estado daFederação a consolidar o 1º BPTur. O Rio de Janeirotambém foi o primeiro, isso na época do GovernoBrizola, a criar a Delegacia Especializada de Atendi-mento ao Turista (DEAT).

Todo mundo está falando muito na questão do turismorural. Santa Catarina é um bom exemplo de turis-mo rural; as coisas estão acontecendo muito bem nes-se Estado. Nós criamos um Conselho Gestor de Turis-mo Rural em 2003. Esse conselho gestor, além de fa-zer os encontros estaduais, já tem banco de imagem,de criação de roteiros e 92 comunidades cadastradasna região do Ciclo do Café. A região do Ciclo do Café,que era uma região absolutamente esquecida do pontode vista turístico, a cada dia tem aumentado o númerode propriedades necessário para se tornar um produtoturístico, seja apenas para visitação, seja para dormirou virar hotel. Tem sido um produto tão interessante,que imaginamos que nos próximos dois anos já estaráconsolidado como produto internacional.

Nós já percebemos a chegada de portugueses como fru-to de uma ação feita pelo Instituto de Preservação eDesenvolvimento do Vale do Paraíba (Preservale), quefez um trabalho em Portugal, junto conosco, de exposi-ção de fotos dessas fazendas rurais. Percorremos Por-tugal, um pouco da Espanha, e essas fotos voltaram,

estão conosco. E estamos agora percebendo a presen-ça de franceses, também fruto de um trabalho que temsido feito na França nesse sentido. Por enquanto o fran-cês está indo de manhã e voltando na parte da tarde.Ainda não está dormindo lá, até porque a hotelaria ain-da é pequena, é pouca a oferta de quartos, mas estamostrabalhando nisso. Estamos, inclusive, capacitandopessoal para isso naquela região, no sentido de trans-formar esse produto do turismo rural, especificamentena região do Ciclo do Café: Miguel Pereira, Vassouras,Valença, Piraí, Barra do Piraí, Rio das Flores, Mendes,Barra Mansa e Volta Redonda.

Essa é uma foto tradicional de lá; quem não conhecedeveria conhecer. A Fazenda Ponte Alta tem um sa-rau muito interessante no sábado e domingo. Chegan-do lá, o turista passa a manhã, toma o café da manhã,vê uma apresentação da história, da evolução e doapogeu, do Ciclo do Café e depois volta para o Rio deJaneiro. O nosso desafio é ampliar o número de ofertade quartos e manter o turista internacional, no finalde semana.

Ainda no macroprograma Desenvolvimento Institu-cional, tínhamos de fazer a implementação de um Pro-grama de Regionalização e dividir o Estado regional-mente. Isso foi feito. Veremos um pouco mais adianteessas ações na área institucional. Por exemplo: a ques-tão de infra-estrutura de apoio.

Participação na revitalização do Aeroporto Internacio-nal do Rio de Janeiro e do Aeroporto Internacional deCabo Frio. Essa luta pelo Aeroporto Internacional doRio de Janeiro nós travamos aqui. Este Conselho par-ticipou ativamente da discussão da revitalização dele.O nosso desafio era conseguir juntar todos os agentes

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do aeroporto e deixar os vôos do Aeroporto SantosDumont só para a ponte aérea, levando todos os ou-tros vôos para o Galeão. Por um motivo simples: oRio de Janeiro estava sem nenhuma conexão saindodo Galeão, o que inviabilizava a possibilidade de tra-zer vôos internacionais para cá. E conseguimos isso,e foi uma luta de todos. Acredito que a Secretaria teveum papel importante na condução política desse pro-cesso. Foi uma luta de todos, uma compreensão donosso Departamento de Aviação Civil (DAC). E aquipresto homenagem ao Brigadeiro Jorge Godim BarretoNery, que teve a sensibilidade de nos ajudar, às com-panhias aéreas e a todos que ajudaram. Foi uma gran-de discussão, e hoje o Aeroporto Internacional do Riode Janeiro volta a respirar. Dos 15 mil trabalhadores,no momento da crise, foram mandados embora 10 mil;mais de 40 mil pessoas foram prejudicadas, as lojasfecharam. E agora começa a retomar um crescimentoque ainda é pequeno, mas paulatinamente alcançare-mos o patamar que desejamos.

O Aeroporto Internacional de Cabo Frio é uma reali-dade, é um investimento pesado de mais de 20 milhõesdo Governo Estadual. Esse aeroporto estará prontoainda este ano. Já era para estar, na verdade. A empresaque está fazendo a obra não está cumprindo com o quedeveria. Esse aeroporto estará preparado não só paraatender toda a questão de petróleo daquela região, jun-to com o aeroporto de Campos e o de Macaé, mas tam-bém a de turismo. O Nilo Sérgio Félix, nosso Conse-lheiro, meu Subsecretário, teve, hoje, reunião com 15hoteleiros de Cabo Frio e Búzios, porque teremos, apartir de junho, mais de 30 vôos que virão já fechadosde Buenos Aires. É um investimento pequeno e o Es-tado bancará metade dele. Buscaremos, em seguida,

com a mesma vontade, o mercado chileno, que é fortee manda mais de 3 mil turistas/mês só para Búzios. Hácondições de trazer vôo charter, e quem sabe, no futuro,transformá-lo em regular.

Uma outra questão da infra-estrutura não diz respei-to diretamente à Secretaria de Turismo. O turismo,no entanto, interage com todas as atividades; nos lu-gares mais desenvolvidos do mundo, para se fazer umaobra, é consultado um especialista na área de turis-mo. Muitos órgãos têm até um especialista na área deturismo para consulta. Assim é a questão da amplia-ção, da duplicação, da rodovia Amaral Peixoto, paraque se possa atender não só Saquarema, Maricá eAraruama com conforto, mas também ser uma opçãoao turista que não quiser pagar o pedágio da Via La-gos, que nós consideramos muito caro e muito ruimpara o turismo do Estado.

Asfaltamento da estrada Serramar que liga Lumiar aCasemiro de Abreu. Não é de grande tráfego, mas avantagem dessa estrada será ligar essa região da SerraVerde Imperial às cidades de Friburgo e Casemiro deAbreu. A serra será ligada ao mar, o que possibilitaráao turista ou ao empresário que está em Macaé, porexemplo, e que não quer ir a Búzios, pegar uma estra-da maravilhosa, uma estrada parque, e ir até Friburgo.Facilitará a chegada do turista em Búzios e tambémem Friburgo, e vice-versa; e de lá descer para Búzios,Cabo Frio, Rio das Ostras e Macaé. Por isso essa es-trada é fundamental. É a primeira estrada parque donosso Estado e isso foi uma vitória nossa.

Perdemos só a estrada de Visconde de Mauá, comque eu, pessoalmente, havia me comprometido. Essaestrada liga Penedo a Visconde de Mauá até Maringá

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são cerca de 33 quilômetros. Tudo nos levava a crerque iria acontecer e faltou dinheiro. Ficamos deven-do. O Plano indicava a importância dessa estrada enós deixamos de fazer. O máximo que conseguiremosfazer é um estudo de impacto ambiental. Espero queo próximo Governo seja sensível à atividade turísti-ca. Há pessoas que apresentam muita sensibilidadenessa área – inclusive o meu xará, o Senador SérgioCabral Filho –, e que podem dar continuidade ao Pla-no de fazer a estrada Serramar. Esses foram exemplosda importância da infra-estrutura de apoio e que nósconseguimos identificar e fazer algumas coisas.

Estamos muito precários na questão portuária. Émuito ruim a situação do Píer Mauá. É o melhor doBrasil, mas deixa muito a desejar para os milhares deturistas que estamos recebendo. É um problema dainiciativa privada com o Poder Federal, e não está acontento. A maior reclamação que nós recebemos dosturistas que chegaram por meio de transatlânticos eramas condições, que já melhoraram muito em relação aoprimeiro ano. Do ponto de vista de porto, de píer, aúnica Cidade que está avançando bastante, na minhaopinião, é Cabo Frio, que deu uma melhorada, masestá muito abaixo do que precisamos.

A questão do Sistema de Informação é a sinalizaçãoturística. A Cidade, de um modo geral, e com todorespeito ao Luiz Felipe Bonilha, que está tratandodesse assunto no Rio de Janeiro, é o primeiro item nareclamação. Precisamos melhorar a sinalização turís-tica do Rio de Janeiro. As outras cidades estão se preo-cupando com isso, no Rio já há melhora. Não haviauma sinalização rodoviária e agora já há 213 placas,sendo 162 com programação visual. Houve a demar-cação do caminho novo da Estrada Real, que já está

acontecendo, e esses projetos foram encaminhados eaprovados pelo Ministério. Acreditamos que conse-guiremos concluir todo o Estado, as rodovias do Riode Janeiro, as estradas sinalizadas e essas placas, quesão placas internacionais, na cor marrom, indicandoo ícone. Creio ser uma coisa boa para o turismo rodo-viário e para o Rio de Janeiro, por estar tão próximode São Paulo e de Minas Gerais. As pessoas vão decarro a esses lugares, é importante que haja um míni-mo de sinalização para isso.

Convênio com universidades para pesquisa. Hoje háconvênio com todas as universidades e estamos tra-balhando especificamente com algumas. A Universi-dade Estácio de Sá é um exemplo. Todas aquelas fi-chas que o Silvio Albano cuida na TurisRio, entrega-mos à universidade, que está fazendo um levantamen-to. Aquelas fichas nos orientarão, mostrando um pou-co de onde vêm essas pessoas, sua nacionalidade, seusprincipais mercados emissores, que talvez mais sai-bamos pelo nosso feeling do que pelo ponto de vistacientífico. Estou vendo aqui o meu querido amigoProfessor Hélio Alonso. E também queria parabeni-zar o Professor Bayard pelas pesquisas que ele temfeito tão bem e que tem servido de norte para a toma-da de ações –, tudo feito por alunos da UniverCidade,em um convênio com a Prefeitura. Isso é fundamen-tal. E outros trabalhos estão sendo executados. Nósfechamos agora com as universidades da zona oeste.Com a Companhia Especial de Segurança (CIESE),fizemos um levantamento de todo o potencial da zonaoeste. Fizemos uma folheteria e já têm aparecido vá-rios passeios ali pela zona oeste, que foi um levanta-mento feito pelos universitários da universidade daregião; um trabalho muito legal, muito interessante.

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Posto de informação turística, totens e Disque Turis-mo. Peço, Bonilha, publicamente, aqui no Conselho,o apoio da Prefeitura. Além do nosso orçamento,estamos fazendo uma parceria com o Governo Fede-ral, com o competente Ministro Walfrido dos MaresGuia, para trazer postos de informação turística paraa Cidade do Rio de Janeiro. Nós fechamos com ele apossibilidade de construir seis pequenos postos de in-formação. O último posto de informação construídofoi na gestão do Trajano Ricardo Monteiro Ribeiro,na época da Riotur. Era na Princesa Isabel, em umaárea utilizada para guardar bebidas dos barraqueiros edas boates daquela região de Copacabana. Invadimosaquilo ali, que era municipal, e construímos a últimacentral de informação. Não queremos fazer um postodaquele tamanho, mas tem um projeto, e nós conse-guimos liberar para a Cidade do Rio de Janeiro, por-que as pesquisas indicam essa questão da informa-ção. Então, eu queria que você lutasse junto conoscopara que possamos ocupar o local. Você é um homemque defende os interesses do turismo. Seriam dois pos-tos na praia de Copacabana, um na Lapa e dois nosaeroportos – que já têm, mas nós vamos melhorar –, etem um posto móvel, que vamos trabalhar. Esse postomóvel percorrerá, por exemplo, a Cidade quando tiverum grande evento, uma grande ação. Será preciso que aPrefeitura libere o solo urbano, que é uma questão mu-nicipal.

Capacitação de Recursos Humanos. Fomento à Ati-vidade. Creio que esse seja o grande problema do Bra-sil. A nossa mão-de-obra realmente é muito fraca. In-felizmente o Brasil está gastando muito na capacitaçãoda mão-de-obra adulta, pois investiu absolutamentenada na capacitação do jovem, do garoto na escola,

que teve uma péssima educação, que não teve acessoa nada. É dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalha-dor (FAT). Se esse dinheiro fosse concentrado na edu-cação de base do jovem, possivelmente ele seria umprofissional melhor no futuro, mas as elites do Brasilnunca tiveram e continuam não tendo essa preocupa-ção. A elite do Brasil quer formar mais universitários,em vez de garantir oito horas de educação, em vez degarantir educação para todos. Fizemos um convênioagora com o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Barese Similiares do Município do Rio de Janeiro (SindRio),pois respeitamos quem está capacitando, como Senace essas instituições importantes do turismo brasileiro,mas há pessoas pelo interior com dificuldade. Ressal-to que a Prefeitura do Rio de Janeiro, por meio deuma liberação de recursos, da parte do Governo Fe-deral, capacitará mais de 20 mil. O Senac e outrasinstituições estarão envolvidos nesse processo, quemelhorará, voltado muito para a questão do Pan-Americano de 2007. Há problemas no interior, nóspercebemos. Quando o hoteleiro se envolve – como éo caso da Malú Santa Rita –, é positivo, quando nãose envolve, o turista se perde. Os hotéis são a cara dodono. Se o dono é bom e competente, o hotel tem umbom serviço, mas se é aquele hoteleiro que tem umhotel para brincar, há uma grande queda no serviçode mão-de-obra, e nós estamos nesse trabalho.

Fomento à Atividade é uma outra questão importan-te que o Plano indicava. Ressalto essa questão dopatrocínio do Carnaval 2006. O Estado do Rio deJaneiro, depois de um longo e tenebroso inverno, vol-tou a apoiar diretamente as escolas de samba, o gru-po de acesso e os blocos. Nós liberamos, por meio daSecretaria, R$ 4 milhões para o grupo especial, R$ 1

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milhão para o grupo de acesso e R$ 415 mil para osblocos; foram R$ 5 milhões 415 mil que nós levamosàs escolas de samba. O retorno foi muito bom. Acre-dito que as escolas de samba dão de retorno à Cidade,ao Estado, eles tinham de ter, realmente, um apoiofundamental. Estava faltando dinheiro e com a entra-da dele novamente, principalmente nos blocos, ve-mos a retomada, com clareza, do carnaval de rua doRio de Janeiro. Essa é a justificativa para entrarmostambém em várias escolas do interior do Estado,notadamente nas da Baixada e do Grande Rio: Beija-Flor de Nilópolis, Viradouro de Niterói e escolas dogrupo de acesso, como Cubango, enfim, escolas dointerior, da Baixada Fluminense, que fazem parte doCarnaval, fazem parte dessa maravilha que é o nossodesfile. O Estado se sentiu na obrigação de ajudar; edaqui por diante o evento estará no orçamento, parase melhorar ainda mais o desfile.

Em Consolidação de Produtos, também há o traba-lho de relações internacionais. Peço à Miriam Cutzque mostre algumas revistas que trouxemos, mas quenão poderemos deixar. As matérias foram feitas como apoio da Varig, que é fundamental. Tem sido umagrande parceria. São matérias nas principais revistasdo mundo, não apenas em caderno de turismo, mas,também, em revistas de moda dos jornalistas ou pro-dutores que recebemos aqui trazidos pela nossa Varig;conseguiremos o hotel onde ele quiser filmar. Ele nosdá até 30 páginas das melhores revistas. Todo mundofaz isso, não é nenhuma novidade, mas tem sido feitocom muito profissionalismo e está havendo um retor-no muito especial. Alguns Estados, inclusive, vieramnos consultar para saber como isso está sendo feito,pois estão percebendo o sucesso dessa empreitada que

é a garantia de mídia. Seria impossível de poder pa-gar, por exemplo, uma página sobre Angra dos Reisno principal jornal de Estocolmo. Também seria im-possível conseguir 20 páginas na revista B Brasil, emPortugal. Enfim, é um trabalho que tem nos dadomuito retorno. A revista Volta ao Mundo chama a Ci-dade de Búzios de riviera brasileira, e é uma revistaimportante em Portugal, foram páginas e páginas; Ro-tas também põe o Brasil na capa, principalmente oRio de Janeiro. Estão aqui para quem tiver curiosida-de de olhar, pois acho que vale a pena.

O Rio de Janeiro, por causa do petróleo, participa defeira na Noruega e teve um espaço só para ele. Leva-mos música, caipirinha e bolinho de bacalhau. O últi-mo de que participamos foi o Espaço Brasil. Na Fran-ça, teve o Ano do Brasil e a Semana do Rio de Janeiro enós fizemos todo um trabalho voltado para a músicae para a gastronomia. O retorno é imediato. A provadisso é que, neste momento, Parati está com centenasde turistas franceses. Essa é a prova, é a demonstra-ção, a comprovação de que divulgando e tendo vôohá retorno imediato.

A crise na Varig está nos preocupando muito por tudoque está acontecendo. Perderemos mais vôos para oBrasil, principalmente para o Rio de Janeiro. Presi-dente, o senhor me permita, mas o Conselho tem dechamar alguém para discutir a questão dos vôos. ODiretor Presidente da Agência Nacional da AviaçãoCivil (ANAC), Milton Zuanazzi, é um grande compa-nheiro. Creio que esteja na hora de o Estado Brasilei-ro, de o Governo Federal, ter uma relação mais forte,mais incisiva, com a distribuição de vôos por todo oBrasil. Não se pode liberar dez vôos e todos para SãoPaulo, em nome do mercado exportativo. Dizer que

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quem regula é o mercado, de antemão, eu não sou tãoa favor disso. É obvio que São Paulo é um mercado,mas para garantir o pacto federativo, a boa relaçãoentre os Estados, um equilíbrio, devemos liberar oitovôos: quatro para São Paulo, três para o Rio de Janei-ro e um para a Bahia.

Quando concentramos os vôos em São Paulo, nósestamos tirando turista brasileiro daqui; só paulista,mineiro, gaúcho, pois, senão me engano, são 36% depaulistas que viajam por São Paulo. O Gilson GomesNovo poderia definir isso melhor do que eu. O res-tante vem de outros lugares do País, que pegam alium hub, e viajam para outros lugares. Devemos trazerao Conselho essa discussão. E pior: os juros, no pata-mar em que se encontram, prejudicam a exportação. Odólar prejudica a exportação e também a atividade tu-rística. Está muito mais fácil para a classe média ir aMiami e fazer suas compras. Se você juntar o dólar, nopatamar em que está, e a falta de vôos, todo esse esfor-ço que tem sido feito, inclusive pelo Ministério do Tu-rismo, será em vão. Esforço que precisa ser reconheci-do aqui, inclusive pela Embratur e que eu reconheçosem nenhum constrangimento, apesar das minhas di-vergências no plano federal.

Eu viajei em dezembro, com o apoio da Varig; fize-mos um evento em Nova York, na classe executivada Varig, que tem 65 lugares. Oitenta por cento dospassageiros eram brasileiros que iam fazer comprasno final de ano. Há o problema do dólar e a falta deuma política clara de conseguir trazer vôos para o Riode Janeiro, que é o portão de entrada do Brasil, que éa primeira cidade de recebimento de turistas. Nósestamos privilegiando quem manda para fora, em vezde privilegiar a Cidade que recebe turista e que gera

renda. Por isso sugiro ao Presidente esse debate. Esseassunto não só interessa ao Rio de Janeiro, interessaao Brasil, de um modo geral.

Participação em eventos, como, por exemplo, na aber-tura do Congresso da Abav; a Governadora do Rio deJaneiro esteve presente. Citarei alguns eventos queconsideramos importantes. Destaco o Volvo OceanRace, que ainda está acontecendo, e termina agora.O Guilherme Cartolano está presente aqui. Está muitobonita a montagem. Recomendo, quem ainda não foi,que vá. É gratuito. Não lotamos os hotéis em março,mas vários hotéis bateram 100% de ocupação. Eu di-ria que seria a Fórmula 1 do mar. Hotéis que nemimaginavam bater no mês de março estão com 100%.Apresento isso aqui, porque a Governadora liberouR$ 2,5 milhões, para garantir a realização de um eventodesse porte, dessa categoria, que está levando a ima-gem do Brasil e do Rio de Janeiro, com todo respeito,às outras cidades, ao mundo inteiro. Junto com issonão só tem o turismo de esporte, mas tem o turismode incentivo. Por exemplo, a Volvo Car Corporation eo HSBC Bank Brasil S.A., que são os dois patrocina-dores, estão trazendo os seus grandes clientes domundo inteiro, em uma política de turismo de incen-tivo, para cá, para que eles possam participar dessafesta. Há movimentação no turismo empresarial, noturismo de incentivo, no turismo de lazer, no turismode esporte, enfim, vários nichos de mercado estãosendo trabalhados.

O Rio é de vocês é o case de maior sucesso de como sedeve vender um destino. Apresento esse case homena-geando o nosso Conselheiro Dr. Nilo Sérgio Felix.Todo mundo tenta nos copiar. Era até mais fácil con-tratar a Secretaria para poder fazer esses eventos lá

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fora, pois tem sido o maior sucesso. E queria convi-dar o Presidente, Dr. Oswaldo Trigueiros Jr., em meunome e do Nilo, para que nos acompanhe a BuenosAires ou a Portugal, na próxima ida a esse evento in-ternacional. Assim o senhor poderá ver como é quefunciona esse encontro comercial. Eu sei que a suaagenda é cheia, mas seria uma honra. Passo tambémao senhor o release, com um pouco do que falam desseevento do Brasil no exterior.

Ações no shopping. Há muita conversa. Trajano é omeu padrinho, tudo que procuramos fazer, fizemos econtinuamos fazendo não mudou muito. Isso fazía-mos na época dele e ainda tem sido um sucesso. An-damos pelos principais shoppings de São Paulo e deMinas Gerais, em uma ação direta com o consumidor.Tem sido maravilhoso. Tudo o que sai de violência,que é real, que existe, no Rio de Janeiro, no mercadoexterior não nos atrapalha ou atrapalha muito pouco.No mercado interno, entretanto, atrapalha. A primei-ra conversa com o consumidor direto é para explicar,por exemplo, uma cena que ele acabou de ver. Quan-do se pergunta para o turista de São Paulo, que falaque tem muita violência em São Paulo e no Rio,quantos seqüestros tiveram em seu Estado neste ano,ele diz que não teve. E tiveram 250 seqüestros. Elenão sabe o que acontece no Estado dele, mas sabe dotiro da Rocinha, do tiro da favela do Alemão. É com-plicado. O nosso trabalho, no primeiro momento deabordagem, é duro, mas vamos mudando isso, porqueo Rio de Janeiro exerce magia e paixão sobre todomundo. E as pessoas vêm para cá e se apaixonam,vêm até morar. Tem sido um sucesso.

Como falamos, para consolidar um produto é precisoter um calendário de eventos. Nós estamos criando

esse calendário. Hoje, há 400 eventos nos municípios:são pequenos, médios e alguns de grande porte. Hátodo um esforço da cidade do interior em consolidareventos. O Ministério do Turismo também criou umsite para que se possam cadastrar esses eventos e to-das as experiências positivas de crescimento da ativi-dade turística no interior. Destaco a Cidade de Parati,que tem um calendário claro, que acontece, que elespromovem, que eles divulgam. E há o desafio paratodos os municípios lançarem, como primeiro materi-al, no começo do ano, o calendário de eventos. E nósestamos conseguindo ver isso em várias cidades.Estamos consolidando esse calendário de eventos, quenão dá para citar todo aqui, mas que é importantepara nós.

Há o Carnaval, o Festival de Inverno. Agora em maiotem o Festival do Pinhão, em Visconde de Mauá; háos festivais de Inverno que acontecem em Petrópolis,Teresópolis, Friburgo, Resende e Itatiaia. Enfim, mui-tos festivais gastronômicos acontecem. De 21 a 23de abril, há, naquela região, o Café-Cachaça e Chori-nho. Eu convido todos vocês, para reservarem os ho-téis e passarem lá o final de semana. Esse evento émuito legal. Todas as cidades daquela região têmmúsica na praça e nos hotéis, degustação de cachaçae de café. É um evento muito especial. Até sugiroque os universitários passem o final de semana lá paraconhecerem o local.

Campanha publicitária. Vocês estão recebendo o nossokit de folheteria de feiras nacionais e internacionais.Nós estamos trabalhando em quatro idiomas: espa-nhol, inglês, francês e alemão, além do português. Pro-curamos atender a todas as regiões do Estado, mes-mo aquelas menos desenvolvidas, e me parece que

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está bom. Estamos trabalhando com a linguagem doDVD, que é importante, e distribuímos para vários agen-tes internacionais, para agentes de operadores interna-cionais em quatro idiomas. Creio que vocês receberamtambém e tem sido um trabalho muito interessante.

Esse foi o cartaz da campanha que nós fizemos agorana França. Essa foi a campanha de outdoor em revistasespecializadas no mercado de São Paulo e de MinasGerais, feita no verão do ano passado e em junho.Mostrou-se que, no Rio de Janeiro, podia-se pela ma-nhã se inspirar na beleza da Ilha Grande e, de tarde,respirar a história nas ruas de Parati. Mostrando quede manhã pode-se passear pela praia de Jeribá, emBúzios, e de tarde estar no Cristo Redentor.

Agora nós estamos com uma campanha do RioConvention & Visitors Bureau, com a Prefeitura doRio de Janeiro e com a Associação de Hotéis, tam-bém, muito interessante. Em todas as revistas da TAMe da Gol, há uma foto, que eu gosto muito, de Búzios,em que se lê: “Esse é o único lugar que faz o cariocasair do Rio”. E há outras fotos brincando com ospaulistas. Em uma está escrito: “Tirando o idioma, oresto é fácil de compreender”. Isso é óbvio, isso é vi-sível. E há uma outra dizendo: “Se os corintianosagüentam os argentinos, como é que não vão agüen-tar os cariocas?” Essa campanha é do WashingtonOlivetto, da Folha Online e da W/Brasil, e é um pou-co da brincadeira. Os filmes ainda não entraram, mastambém são bastante interessantes. Em um deles temdois cariocas típicos falando o paulistês: Jorge Benjore Fernandinha Abreu. E em outro, tem tradução. Umcarioca fala: “Vamos dar um rolé”. O paulista olha paraele e fala: “Vamos dar uma volta”, e, em seguida, diz:“Vamos comer uns pastel e tomar chops”. O carioca

diz: “Isso não existe”. É uma brincadeirinha feita parao paulista. Já está sendo veiculada em rádio e revis-tas. Ainda não passou na televisão, obviamente, porfalta de recurso. São Paulo é o principal mercado emis-sor de turistas brasileiros para o Rio, para o Brasil epara o mundo.

Essa foi a divisão regional que nós fizemos no Esta-do. Foi um amplo e desgastante processo de discus-são, porque não queríamos politizar, mas é impossí-vel não se politizar uma discussão de uma empresapública. No entanto, quase chegamos, eu diria, a umconsenso. Eu discordo só de uma região. Os compa-nheiros não estão aqui para se defender, mas eu dis-cordo publicamente de Quissamã, Carapebus e Macaé.Eles decidiram, os prefeitos e a comunidade, que es-sas cidades ficassem na Região dos Lagos, na Costado Sol. Nós somos contrários a isso. Nós achamosque eles tinham de criar uma região própria. Como oque une os três é o Parque Nacional de Jurubatiba, oecoturismo, sugerimos que eles criassem uma regiãoprópria. Eles, no entanto, quiseram ficar. Eu não co-nheço ninguém que foi a Macaé e disse que foi à Re-gião dos Lagos. A pessoa diz que foi ao Norte do Es-tado. Ela pára em Rio das Ostras. E a nossa sugestãoera que parasse em Rio das Ostras. Temos de acatar eentender, e acatamos e entendemos, porque foi umadecisão do Fórum de secretários, que foi presididopela Roberta Dias de Oliveira. Começou a ser presi-dido pelo Deputado Glauco Lopes, depois foi pelaRoberta e depois pelo Rossi Bastos.

Um pouco sobre as vocações de Costa Verde. Os prin-cipais segmentos são turismo marítimo e náutico. Aqui,acredito que o grande slogan seja: “365 ilhas, umailha para cada dia do ano”. Creio que Parati está se

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transformando em referência internacional. Tenho ditoao pessoal de Búzios que se não ficarem atentos, Paratipassará a frente deles. É só melhorar a estrada, por-que Parati está trabalhando com profissionalismo.Búzios está acomodada. Parati, pela sua história, pelasua arquitetura e pela baía de Ilha Grande, está sensi-bilizando muito o turista estrangeiro. Ilha Grande nãoé um paraíso ecológico por falha de vários anos doGoverno, inclusive o nosso. Abandonamos Ilha Gran-de e agora estamos tentando retomar, fazer algumacoisa para não acabar de vez com ela, que mereciamuito mais atenção de todo mundo, dos GovernosFederal, Estadual e Municipal. Ilha Grande pode dei-xar de ser um paraíso e se transformar em uma grandetragédia ambiental, infelizmente. E vou me sentirmuito culpado por isso, pois eu podia ter feito algumacoisa e fiz menos do que gostaria.

Rio de Janeiro e Santa Catarina são os únicos Estadosda Federação que têm neve. Nevou no Rio de Janeirouma vez, no Pico das Agulhas Negras. A foto estáaqui, não é montagem. Até isso nós temos. O argenti-no ficou muito bravo conosco porque eu disse quetínhamos neve aqui; ele diz que tem Bariloche, masnós também temos neve.

Turismo ecológico e turismo de aventura. ParqueNacional de Itatiaia. Está acontecendo um fato curiosono Parque Nacional de Itatiaia. O Instituto Brasileirode Meio Ambiente (IBAMA), além de não fazer nadapelo Parque, agora está querendo fechar os hotéis,expulsar os hoteleiros de maneira arbitrária. O Ibamanão fez nenhuma folheteria, não melhorou a estrada,não fez nada. O museu de lá e a central de informa-ção são pobres. Eu não sei se há algum folheto agora,porque não havia até algum tempo atrás. E agora que-

rem fechar os hotéis, enquanto na maioria dos lugaresdo mundo se busca o turismo sustentável. Todos oslugares do mundo procuram adaptar a natureza aodesenvolvimento sustentável do turismo, aqui estamosna contramão, querendo fechar os hotéis. Agora o Ins-tituto deu uma recuada, dizendo que não é bem as-sim, que vai demorar um tempo, mas ficaremos aten-tos, pois haverá desemprego e favelização; parece quenesse caso pode. Agora, gerar emprego não pode, por-que é uma questão ambiental.

Costa do Sol, há fotos de Búzios. É o segmento deturismo de sol e praia mesmo. Acredito que, com oAeroporto de Cabo Frio voltando a funcionar, toda aregião poderá aproveitar – ela continua muito bonita.

A duplicação da Rodovia Amaral Peixoto tambémfacilita o acesso. Essa região dispensa comentários.Eu, particularmente, gosto muito do Pontal do Ata-laia, em Arraial do Cabo, que é muito bonito.

Turismo Rural. As fazendas do Ciclo do Café. Essa fotoé da Fazenda Ponta Alta. Eu já falei um pouco sobreisso. Essa é uma região realmente bonita. Precisa termais oferta hoteleira. É um lugar especial; e acontece-rá aqui o Café-Cachaça e Chorinho.

Costa Doce, Campos. Turismo de Negócios. Quem crioufoi o Trajano, em sua gestão. Esse nome é em homena-gem aos doces de Campos. É uma região muito boa. Aúnica coisa que eu fiz diferente do Trajano foi colocar afoto do Teatro Trianon, que foi construído pelo Gover-nador Anthony Garotinho Matheus de Oliveira.

Turismo histórico e cultural. Serra Verde Imperial:Petrópolis, Teresópolis, Friburgo, Guapimirim, Ca-

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choeira de Itapemirim, Cachoeiras de Macacu, São Josédo Vale do Rio Preto e Areal.

Gastronomia. Petrópolis passa por um bom momen-to, mas teve muita dificuldade. A atividade turística émuito suscetível a questões externas. Aquela questãodo carrapato foi uma tragédia. A ocupação foi parazero. Hotéis fecharam. Houve a demissão em massa.Precisei imitar o Governador Antônio de Pádua Cha-gas Freitas, que entrou no rio Paraíba para mostrarque não estava poluído. Precisei dormir em um hotel,para mostrar que se o Secretário poderia dormir emhotel, todo mundo também podia. Ainda assim oshotéis demoraram para se recuperar. Em fevereiro, atéporque as pessoas vão mesmo, houve uma recupera-ção. Agora nós estamos entrando com uma campa-nha, na baixa temporada, para aquela região. Podemir lá tranqüilamente.

Dados do Turismo. Só para mostrar a importância daatividade turística do nosso Estado. Nós estamos fa-lando em mais de US$ 3,7 bilhões que o turismo in-fluencia no PIB do Rio de Janeiro. É um dado, senãome engano, que nós fechamos em 2003. Nós estamosfazendo um novo levantamento, que será entregue emsetembro e é da Fundação Centro de Informação eDados do Rio de Janeiro (CIDE); mostra que aumen-tou a nossa participação no PIB. O nosso objetivo ébater cinco, cinco e meio. Não vai ser agora, mas acre-dito que já passou de 4.4 a influência do turismo noEstado do Rio de Janeiro. Só isso já seria uma justif i-cativa para um grande orçamento. Não sabemos, por-que as pessoas, de um modo geral, não conseguemcompreender a importância da atividade turística.

Empregos no setor. Em 1998, nós gerávamos 149.338

de empregos com carteira assinada. O pessoal de pla-nejamento levantou, até 2003, 213 mil trabalhadores.Acreditamos que já, em 2006, há quase 250 mil traba-lhadores de carteira assinada na nossa área. É muitorepresentativo esse número e o quadro de evolução épermanente. Creio que a Secretaria deu uma pequenacontribuição para que essa evolução acontecesse.

Foram cadastrados, em 2003, 237 hotéis no Estadodo Rio de Janeiro. Hoje são 1.019 hotéis cadastrados.E há 2.700 hotéis. Começa a ter uma sensibilizaçãopor parte do empresariado no sentido de se profis-sionalizar, se cadastrar. Apesar de ser uma obrigação,não fazemos isso de maneira coercitiva: convence-mos que é importante o hotel estar cadastrado. Só nãoconseguimos cadastrar mais, porque muitos hotéisnem CGC e nem CNPJ têm. A Prefeitura não fechaesse tipo de hotel, porque pensa que: “É melhor eleestar aberto, gerando algum tipo de emprego, do queficar abandonado”. É uma questão social grave. Emalguns lugares, é uma questão social; em outros é ques-tão de descaso mesmo, tanto do empresariado quantoda Prefeitura, que não é rigorosa.

Estamos fazendo parte da evolução. O que eu queromostrar é que todos os itens da cadeia – trabalhado-res, guias de turismo, agências de viagens, meios dehospedagem, transportadoras turísticas e organizado-res de eventos –, todos os itens do Rio de Janeiro, nosúltimos anos, subiram.

Oferta turística. Esse é o quadro que nós temos: 2.847meios de hospedagem, 1.790 agências de viagem, 492transportadores turísticos, 205 organizadores de even-tos e 6.530 guias de turismo. Todos os números subi-ram. Não é possível que, com números tão positivos,

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se diga que vivemos uma grande crise no turismo doRio de Janeiro. Os números comprovam que as ações,obviamente, não começaram conosco, muito pelocontrário, isso vem de longe. Há exemplos de que tudoestá dando certo, está caminhando, talvez não na ve-locidade em que gostaríamos, mas está caminhando.

Fizemos levantamento de 2005 a 2007, e temos setenovos empreendimentos no Rio de Janeiro e emNiterói: mais de 1.503 unidades habitacionais serãooferecidas. São 200 milhões de investimentos, 506empregos diretos e 1.189 indiretos. Teremos essasofertas no Rio de Janeiro. Na Costa do Sol, mais seisnovos empreendimentos. O número de unidadeshabitacionais é 1.090. Aqui se destaca a construçãodo Club Med Business, na praia do Peró, em CaboFrio, e a do Brisas, na Praia de Tucuns, em Búzios.Eles estão em fase de aprovação ambiental. Creio quenão haverá dificuldade se o Ministério Público não semeter. Teremos um grande momento naquela região,e é muito importante o investimento em infra-estru-tura. Eles optaram investir milhões naquela região,porque nós fizemos o aeroporto ali, para se fazer umvôo direto de Paris para Cabo Frio, pegar um ônibus eir até o Club Med – igual acontece, por exemplo, emTrancoso. Quando o Estado investe, cria infra-estru-tura, consegue-se trazer junto com isso investimen-tos. Esse daqui é um número bastante interessante:17 novos grandes empreendimentos. Esse é o núme-ro de unidades habitacionais, com um total de 9.739trabalhadores que serão empregados, que estarão en-volvidos nessa operação, nesses hotéis. É um númeroque está nos deixando bastante felizes, que demons-tra a recuperação do Estado do Rio de Janeiro tam-bém na área turística.

Falando sobre eventos, presto homenagem à nossaConstança Ferreira de Carvalho pelo belo evento queela acaba de realizar, no Rio de Janeiro, na semanaretrasada, o Congresso da Associação Brasileira deEmpresas de Eventos (ABEOC), que foi um suces-so. O Rio de Janeiro, em eventos, está em primeiríssimolugar com 34; São Paulo com 16; Salvador com 9;Porto Alegre com 8; e Florianópolis com 6. Precisa-mos refletir sobre esse número. O Rio de Janeiro nãotem centro de convenções de porte médio, aliás, temum centro de convenção que está passando por umprocesso de licitação. Creio que vale a pena alguém doConselho Estadual vir explicar, para que possamosdefender ou criticar o compromisso de fazer um centrode convenções na Cidade Nova, na área do Mangue.Para cada um evento que se consegue trazer para o Riode Janeiro, perde-se quatro. O Rio de Janeiro perde cin-co eventos, não tem um centro de convenções de por-te médio e mesmo assim está em primeiro lugar.

Nós sabemos dos problemas do Rio de Janeiro. Háproblemas sérios, mas se a imprensa fosse um pou-quinho menos dura e rigorosa, um pouquinho só, ha-veria mais eventos aqui. Faço parte de uma correntepolítica que lutou pela redemocratização do País enão estou sugerindo censura, mas é absolutamentedesnecessário na próxima novela das oito, no primei-ro capítulo, aparecer um arrastão na praia do Leblon.Nós fizemos um apelo ao autor para que não fizesseisso e estão dizendo que eu estou cerceando o direitodele de escrever. Agora, a novela Belíssima, que mos-tra São Paulo, não fala em 250 seqüestros. Ela nãofica retratando que há rebelião todos os dias no Esta-do de São Paulo. Queria saber porque eles queremcomeçar dessa forma uma novela, que é produto de

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exportação e que dez dias depois estará passando emPortugal, que hoje está mandando muito turista. Eunão estou querendo cercear, só entender. Será que éfundamental? Faço esse protesto aqui. Pode escrevero que quiser, pode fazer o que quiser, até porque euacho que faço demais. Hoje está um perigo a televi-são para quem tem filho pequeno; é um perigo deixá-lo assistindo seja canal fechado ou aberto. Agora nãoprecisa fazer isso com o Rio de Janeiro. Houve umpedido da poderosa Rede Globo para fechar a praiado Leblon, por um dia, colocar 500 figurantes e forjarum arrastão. É claro que a maioria dos figurantes seráde negros. É a única hora que, em sua maioria, a Glo-bo terá figurantes negros, porque não mostrarão osbrancos da zona sul fazendo isso. Não. Vão dar provado racismo que há nessa emissora. Não podemos ad-mitir isso. E eu estou sendo criticado, recebendo cartase sendo censurado. Sou da corrente política que defen-de e defendeu a democratização deste País, que defen-deu as liberdades individuais e que teve muita gentemorta, assassinada nos porões da ditadura. Não ficareicalado, vendo o Rio ser desmerecido assim. Quem pu-der se juntar a nós, quem puder escrever cartas, escre-va. A Globo precisa ver que a população está contráriaa isso. Mesmo assim, o Rio é o primeiro em evento.

Eu falei das condições não tão boas, mas destaco otrabalho do Pedro Guimarães, que é um companheirotrabalhador, um homem da linha de frente, é necessá-rio se fazer justiça a quem trabalha. A grande discus-são que está se travando agora, da hotelaria, é se achegada de transatlânticos atrapalha a hotelaria doBrasil. Eu tive de responder um questionário. Os ho-teleiros estão bravíssimos com isso, principalmenteos hoteleiros de resorts. Essa discussão está aconte-

cendo no País, que está amadurecendo. Não recebía-mos turista de navio. Agora, os hoteleiros estão recla-mando e há debates abertos, na Internet, em váriossites. Eu recomendo. Sou ligado à hotelaria, trabalheina hotelaria e na Associação Brasileira de Hotéis(ABIH), com muito orgulho, do Rio de Janeiro e fuida ABIH Nacional e da Federação Nacional de Ho-téis. Estou sempre ao lado da hotelaria. Quando háuma crise no setor, o agente de viagem pode ver umoutro destino, o agente pode tirar o barco dele daqui elevar para um outro lugar, mas o hotel não pode sairdaqui. O hotel está ali parado e o hoteleiro não podecolocá-lo nas costas e dizer: eu vou para o Caribe. Elenão pode fazer isso. E o hotel gera emprego. Então, eusou ligado à hotelaria. Para ser coerente, no entanto,nós temos de conviver, pois o mundo inteiro convive,com transatlânticos e resorts. O que talvez possa se fa-zer, e essa é uma discussão que estamos levando aoConselho Nacional de Turismo, é cobrar uma taxa doturista que desembarca aqui, para fazer um fundo dedivulgação e promoção, como o Caribe está fazendoagora. Essa discussão que está sendo travada é interes-sante, e esse ano vai esquentar. Os resorts reclamaramque muitos brasileiros e estrangeiros, que poderiam terido para resorts, preferiram fazer a costa brasileira.

O principal destino emissor de turistas para o Rio deJaneiro são, curiosamente, os Estados Unidos. É, econtinuam sendo o primeiro lugar. E continuamos exi-gindo visto do americano em nome da soberania na-cional, em nome da reciprocidade. O dinheiro doamericano entra de noite e sai de dia, não há questãode defesa da soberania nacional. Exigir visto de al-guns países, faz parecer que estamos na contramão.Nós temos de facilitar a vinda do americano, do cana-

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dense e do japonês. Só o Brasil, a Namíbia, o Zimbao,o Yemem, o Iraque e a Venezuela estão exigindo vis-to dos americanos, exigindo reciprocidade. Imediata-mente colocaríamos 400 mil americanos, se houvesseuma política de pegar o visto aqui, de cobrar a taxaaqui. Quando eu e Trajano fazíamos um projeto juntocom os DJs, optamos nessa época ocupar um nichode mercado nos Estados Unidos; nós não tínhamosdinheiro para estar toda semana no New York Times,por isso ocupamos o mercado afro-descendente ouafro-americano. O nosso afro-americano, lá do inte-rior de Chicago, para vir ao Rio de Janeiro, ao Brasil,precisava pegar os passaportes dele, da mulher e dosdois filhos, colocar no Sedex ou em algo parecido emandar para um Consulado do Brasil – que ele nãosabia exatamente o que é, e nós sabemos que ele nãosabe exatamente o que é o Brasil. Depois disso, umburocrata dava um visto rápido, demorava não seiquantos dias, mandava de volta para Chicago, paraele finalmente comprar o bilhete. Como a Varig estácomeçando a sair do processo, teremos menos vôos,então ele comprará a passagem, ficará em São Paulopor oito horas para passar pela Receita Federal, virápara o Rio de Janeiro e será atendido por dois delega-dos da Receita Federal e um policial federal. Ele de-morará trinta horas para chegar ao Rio de Janeiro. Eleprecisa ter muita vontade de vir ao Brasil. Se ele qui-ser, basta pegar um avião até o Caribe, pagar US$ 10na porta e se divertir, pois na cabeça dele é a mesmacoisa. Ao meu ver, há um erro estratégico. Precisa-mos facilitar a vida de quem quer nos visitar, de quemquer deixar dinheiro aqui, de quem vai gerar emprego.Estamos com essa luta, que é comandada pelo Rio deJaneiro, pelo Pedro Fortes. É difícil, tem muita gentecontra, mas acredito que iremos conseguir. Mesmo as-

sim, voltando ao assunto, todos os mercados são cres-centes e serão melhores no próximo ano.

Aqui é um exemplo de mercado português. Quandose trabalha ele melhora. Eu estou falando mercadoportuguês, porque eles estão enchendo o Nordeste,mas, mesmo assim, o Rio de Janeiro teve um cresci-mento representativo e os portugueses deixaram noRio de Janeiro, em 2004, mais de US$ 65 milhões. EmPortugal, participamos de todas as feiras. Há O Rio éde vocês e um trabalho intensivo com a imprensa local.Quando se trabalha, se divulga e há vôos, porque hávôos diretos de Portugal para cá, há crescimento. ONordeste cresceu muito mais, como pode ser visto nessapesquisa que vai ser divulgada, principalmente com achegada de 32 ou 35 vôos da TAP, direto para o Nor-deste. Mesmo assim nós estamos brigando.

Metas para 2006. É a conclusão, a chegada da Estra-da Serramar, que será inaugurada em novembro. Seráuma grande entrega. Aumento de 15% na demandainternacional e 15% na demanda nacional. É possí-vel; já aumentamos 12,5% e é possível aumentar para15%. A conclusão da sinalização turística já está emfase de licitação; ontem eu aprovei o projeto de licita-ção. Até o final do ano, vamos sinalizar todo o Esta-do. Construção de sete postos de informação: vou pre-cisar da ajuda do Bonilha para conseguir fazer na Ci-dade do Rio de Janeiro. Capacitação de três mil pes-soas. Os cursos já estão começando a ser feitos peloSindicato do Rio de Janeiro.

Elaboração de roteiros para o mercado internacional.Nessa questão de roteiro, Niterói está se transformandoem um grande produto internacional. Niterói, quan-do consolidar o Caminho Niemeyer, que está em am-

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pla construção, e o centro de convenções, se trans-formará em um grande destino internacional, porqueo turista vem ao Rio e vai até Niterói. O desafio de-les, que estão criando o ônibus turístico, é capacitarpessoas e fazer com que o turista fique em Niterói,durma em Niterói. Eu tenho certeza, pois quem estádirigindo os órgãos do Neltur é o José Mauro Haddade a sua equipe, que eles conseguirão isso. Niterói éum roteiro internacional e que estará à venda no mer-cado lá fora. Vender Rio de Janeiro e Niterói é perma-nente; vender sempre os destinos em conjunto por-que é um produto internacional.

Ampliação dos aeroportos de Campos e Macaé estáem andamento; estão em obras. Deixaremos essesaeroportos muito bem resolvidos. Captação e apoiofinanceiro para vôos charters. Eu faço um apelo aoGilson Novo, para que nos ajude nesse sentido. Ahotelaria do Rio de Janeiro sempre foi muito refratá-ria à venda de vôo charter para cá: “Não, esse turistanão presta, esse turista é pobre”. É sempre uma difi-culdade. Primeiro é isso, mas há outra questão tam-bém. Como havia vôo regular para cá, com uma certaabundância, também dificultava a vinda de vôo charter,porque atrapalhava o vôo regular, o vôo do dia-a-dia.Como houve um processo de esvaziamento perma-nente nessa questão dos vôos, uma opção clara doGoverno foi de levar para São Paulo. O Rio de Janei-ro foi perdendo espaço e o Nordeste cresceu, apos-tou. Hoje não há mais aquele amadorismo, de se pre-cisar pagar toda promoção dele lá fora –, a negocia-ção é melhor e a hotelaria do Rio de Janeiro aceita achegada de vôo charter. A hotelaria do interior já acei-tou e nós estamos levando os vôos charters para lá.Agora vamos começar a trazê-los para o Rio de Janei-

ro, nitidamente do Leste Europeu que tem procura, etem chegado aqui. Também podem chegar com mui-to mais velocidade da Argentina, do Chile, do Uru-guai e do Paraguai. O Peru está aqui do lado e temuma pequena demanda reprimida, pois o turista levaquase 14 horas para chegar ao Rio de Janeiro, poden-do atravessar em cinco horas. Enfim, é possível tra-balhar e estamos reunindo pessoas inteligentes, queconhecem essa área, para poder nos orientar, em umgrande projeto, sejam do Estado, do Município, doRio Convention & Visitors Bureau e da hotelaria. AGovernadora já me autorizou a investir dinheiro nis-so e já está investindo nessa operação de Cabo Frio,para que possamos atrair turistas.

A nossa segunda grande meta é continuar defenden-do o Rio de Janeiro. Eu, minha equipe, José Maria, oNilo Sérgio, a Valéria Lima todos os diretores que es-tão aqui presentes, o novo Diretor, Carlos Aguiar, etodos os funcionários defendemos o Rio de Janeirodos ataques que sofre diariamente. Reconheço os pro-blemas e tento resolvê-los; eu não me curvo, entroem bola dividida, nas questões de segurança. Nenhumde nós aqui pode permitir que o Rio de Janeiro conti-nue sofrendo ataques descabidos por parte da impren-sa. Nós temos de reagir. Eu cito a Bahia, que é umbom exemplo, pois é o Estado que mais investe emturismo e está tendo retorno. Na Bahia, nunca nin-guém soube quantos turistas foram assaltados no Car-naval. Primeiro, porque eles nunca divulgaram, segun-do, porque a imprensa local não vai apurar. No Rio deJaneiro, o repórter, depois de me entrevistar ou aoBonilha, no Carnaval, seguia para o Delegacia Espe-cial de Atendimento ao Turista (DEAT) para ver setinha turista assaltado, para confrontar com o que tí-

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nhamos falado. Isso não podemos aceitar, indepen-dente de gostarmos ou não do Governo que está aí.Eu, particularmente, gosto, aprovo e me orgulho defazer parte do Governo do Rio de Janeiro, em fazerparte do Governo da Rosinha Garotinho. Independede gostar dela e do César Maia, o que está em jogo é ointeresse da Cidade do Rio de Janeiro e do Estado doRio de Janeiro. E esse interesse é inegociável, porqueeu prefiro passar uma tarde no Arpoador do que umatarde em Itapoã; eu prefiro o Cordão do Bola Preta aoCordão do Curuzu; eu prefiro assistir um Flamengo eVasco, ou um Flamengo e Fluminense do que um Intere Grêmio. Eu prefiro o Carnaval do Rio de Janeiro, doque aquela pipocada que tem em todo o Brasil, comexceção de Pernambuco e Amazonas. E abrindo pa-rênteses: é muito fácil ser cronista estrangeiro no Riode Janeiro, ser correspondente estrangeiro. É muitofácil, na era da Internet. Eles abrem os jornais, pegamtodas as mazelas, copiam, colam, mandam para o ex-terior e vão dar uma volta na praia. Vai morar e fazerisso em São Paulo, vai morar no Tietê, porque é mui-to fácil bater. Quando conversamos com colunistas,cronistas e correspondentes, dizemos com clareza queeles não atrapalham o turista normal que está vindopara cá, podem até atrapalhar, mas só um pouquinho.Eles atrapalham o Gerente de Recursos Humanos queestá tomando a decisão de mandar um grupo de in-

centivo para algum lugar do mundo. Ele fica receosode mandar esse grupo de incentivo para o Rio de Ja-neiro, que fica sem um grupo de 400, ou de 300, oude 200 pessoas. Com isso, uma notícia ruim hoje podeser um desemprego no mês seguinte.

Não podemos abrir mão. Precisamos ter muito orgu-lho de morar nesta Cidade, neste Estado, que emmenos de duas horas podemos ver tanta coisa bonita,pois tem muita coisa acontecendo. Se o que está acon-tecendo no Rio de Janeiro estivesse acontecendo emqualquer outro lugar do Brasil, podem ter certeza deque teríamos muito mais destaque na mídia do queestamos tendo aqui. Contudo, estou absolutamentesatisfeito de ser Secretário de Turismo; estou feliz comessa empreitada. Creio que estamos sendo muito bem-sucedidos. Somos também humildes, como podemperceber, e preciso, permanentemente de apoio. Apro-veito a oportunidade para agradecer todo apoio daminha equipe, da equipe da TurisRio, da Secretaria ede vários amigos que nos momentos mais difíceis meligam, dizendo: “Vamos lá, vamos continuar, acho queestá dando certo”. Então, parabéns para o Rio, para oConselho, para o Brasil. Obrigado.

29 de março de 2006

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Nós vamos, rapidamente, passar alguns slides.

A intenção é passar para os senhores conselheiros ouniverso dos trens turísticos hoje em funcionamentono Brasil, onde estamos e para onde apontamos, en-fim, as possibilidades de revitalização de alguns tre-chos ferroviários, que já são quase uma realidade.

O que existe hoje de mais próximo é que, no dia 5 demaio, nós vamos reinaugurar o trecho ferroviário OuroPreto-Mariana, em Minas Gerais. É um investimentode R$ 40 milhões: 30 milhões (três quartos) da Vale doRio Doce e 10 milhões de recursos dos governos fede-ral e estadual. O trem se chamaria Trem Azul, mas atorcida do Galo não gostou do nome por isso estãoescolhendo outro. Mas, de toda forma, é um ganho parao mundo do turismo e para a nossa atividade. Já existeuma demanda muito grande dos operadores de turismopara esse novo trecho, que vai começar a funcionar no

TRENS TURÍSTICOSDO BRASIL – ABOTTC

Sávio Neves Filho

Presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos e Culturais (ABOTTC)e Diretor-Presidente do Trem do Corcovado

dia 5 de maio e, com certeza, vai incrementar muito oturismo nas cidades históricas, atingindo Tiradentes,São João Del Rei, Congonhas, Ouro Preto, Mariana,Sabará e Diamantina – que está na moda por causa doJuscelino Kubistchek.

Com os slides nós poderemos ter uma idéia melhordesse universo de trens turísticos.

Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turís-ticos e Culturais (ABOTTC). Mantivemos esse “C”não só para dificultar na hora de pronunciar, mas tam-bém porque é difícil dissociar o aspecto cultural doturístico. Existem trens, por exemplo, como o Tremdo Forró, que acontece nos meses de junho e julho,na época de São João, e liga Recife à cidade do Cabo,primeira parada da viagem. Na verdade, é um metrôda Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU),que ganha uma caracterização cultural. Após essa época

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de São João o Trem do Forró não continua, mas jáexiste uma demanda dos operadores, dos governos fe-deral e estadual e da Empresa de Turismo dePernambuco (EMPETUR) para que ele se mantenhaao longo do ano, com uma saída por semana, aos sá-bados. Já existe essa negociação porque há demandaturística.

A ABOTTC foi criada em 1999 – inclusive o primei-ro presidente, o fundador Anderson Pacheco, foi ooperador desse trem turístico de Recife. Em 2004,houve uma renovação na diretoria e entrou a nossachapa. Nós temos 19 trens turísticos; alguns opera-dores, como a Associação Brasileira de PreservaçãoFerroviária (ABPF), têm sozinhos seis trens turísticosoperando. Hoje temos um universo muito pequenode trens turísticos funcionando. Acabei de chegar deBelo Horizonte e vi que a estação ferroviária está muitobem conservada e bonita. Deu saudade daquela épo-ca do Vera Cruz, quando saíamos da Central do Riode Janeiro e acordávamos em Belo Horizonte. Esse éo propósito principal da nossa entidade: tentar, de al-guma forma, contribuir para a revitalização do siste-ma ferroviário de passageiros.

Hoje temos cerca de 27 mil quilômetros de trilhos noBrasil, dos quais menos de 10% são trens de passa-geiros. Na década de 1950, antes da corrida rodovia-rista e da chegada da indústria automobilística, o Bra-sil tinha 42 mil quilômetros de trilhos. Sou fã do nos-so Presidente JK, mas nesse aspecto ele contribuiupara enterrar o trem, porque ali começou a derrocadado sistema ferroviário. O que existe hoje após aprivatização dos trechos, dos lotes da antiga RedeFerroviária, são os trens das grandes multinacionaisque hoje estão operando trem no Brasil, quase todos

de carga. Existem dois trens ordinários, de passagei-ros, que continuam funcionando no Brasil, e os doissão operados pela Vale do Rio Doce. Um sai de Vitó-ria (Espírito Santo) e vai para Belo Horizonte (MinasGerais), e o outro opera no Norte. Os outros são ostrens turísticos, como o Corcovado, líder em quanti-dade de passageiros, que percorre menos de quatroquilômetros. Há também o trem litorina no sul, queliga Curitiba a Paranaguá e percorre mais de 180 qui-lômetros, uma viagem com mais de quatro horas deduração, também belíssima.

Um dado interessante: no ano de 2005, o setor detrens turísticos transportou mais de um milhão e meiode passageiros, sem nenhuma estratégia de marketing.Temos certeza de que não está operando nem com30% da capacidade e que poderia, com pouquíssimoinvestimento, reabrir e revitalizar, alguns trechos desa-tivados há pouco tempo. No Estado do Rio de Janei-ro, vemos, às vezes, fotografias da década de 1970,do Macaquinho, ligando Mangaratiba à Costa Verde,lotado não só com pessoas que iam para o veraneio,mas também com moradores de comunidades da zonaoeste do Município. Eu tenho certeza de que, comum pouquinho de esforço, conseguiremos dobrar nospróximos dois anos essa quantidade e atingir, no finalde 2007, três milhões de passageiros.

Em dois anos, o trem de São João Del Rei, que é ope-rado pela Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) e liga SãoJoão Del Rei a Tiradentes, passou de 10 mil passagei-ros por ano para 140 mil passageiros em 2005. Vocêsvejam como o salto é absurdo, exatamente porque osetor ainda não está maduro.

Quer dizer, só conseguiremos enxergar como o setor

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vai se comportar dentro de um ambiente mais favorá-vel, principalmente para o turismo ferroviário, quan-do conseguirmos amadurecer. O exemplo do tremoperado pela Vale do Rio Doce e o da FCA são bemilustrativos de como o nosso setor ainda é incipiente.

Eu sempre começo as minhas apresentações dizendoque a velha maria-fumaça é a maior novidade do turis-mo brasileiro. Quase 50 anos depois, a maria-fumaçaestá sendo vista como um produto turístico de grandealcance, de grande apelo, e que, com certeza, enrique-ce qualquer pacote turístico. Isso vai acontecer agoralá em Ouro Preto-Mariana sem dúvida nenhuma.

Alguns dados sobre o Trem do Corcovado. Nós te-mos os números absolutos de bilhetes vendidos. Porexemplo: em 2005, tivemos quase 115 mil cortesias;é um número muito grande de cortesias. Quem são ascortesias? São os bilhetes para eventos, imprensa, oProjeto Rio nas Escolas – que fazemos com a Secre-taria Especial de Turismo do Município e com a Se-cretaria Municipal de Educação. Claro que existe umpré-agendamento, um cadastro, franqueando a entra-da livre para todos os estudantes do ensino funda-mental do Município do Rio de Janeiro. Nós estamoscriando uma nova geração de cariocas, que vão co-nhecer a sua cidade, e entendemos que o passeio aoTrem do Corcovado, muito mais do que um simplespasseio turístico, é uma aula de geografia e de históriae, acima de tudo, de auto-estima, de cidadania. Só noano passado foram nove mil alunos nesse Projeto Rionas Escolas. E há outros projetos que nós atendemos.Isso para nós é prioridade absoluta, é a política donosso trabalho criar uma nova geração. Hoje é muitocomum, no Rio de Janeiro, um grupo de pessoas, àsvezes pessoas do nosso nível socioeconômico, de 50,

55, 60 anos, nunca terem ido no Trem do Corcovado.Alguns não foram nem no Cristo Redentor. Essa éuma dívida social. Nos próximos 30 anos, esperamosnão passar mais esse constrangimento. É um trabalhoque estamos fazendo agora para colher os frutos da-qui a 10 ou 15 anos.

Na verdade, essa pesquisa foi feita em março e abril.Procuramos fazer no Trem do Corcovado mediçõessistemáticas, de seis em seis meses, para saber qual éo nosso cliente. Fui, gentilmente e com muita honra,convidado pelo Maurício Wer ner e pelo BayardBoiteux para estar com uma turma na UniverCidade,e estou levando esses números bem atualizados, paraas pessoas terem uma noção dos visitantes.

O Trem do Corcovado funciona como uma espéciede termômetro do turismo carioca. Há medições quea hotelaria não pega, porque muitos turistas estãoem navios, em casas de parentes ou em tipos de hos-pedagens diferentes daquela comum, que é a hotela-ria cinco, quatro ou três estrelas, que são as maismonitoradas. Mas, no Trem do Corcovado, você pegatodo mundo. Então temos o universo de pesquisabem representado.

Não foi surpresa para ninguém os americanos volta-rem a liderar. Esse perfil mudou muito depois daque-le 11 de Setembro, mas, graças a Deus, eles voltarame, com certeza, se tivermos sucesso no pleito de faci-litar o visto dos americanos, a participação deles vaiaumentar. Isso é uma questão de inteligência. A lei dareciprocidade não pode ser uma lei burra. Não só ogoverno federal, mas toda a sociedade civil – e aí oConselho de Turismo da CNC tem um papel funda-mental, assim como a Câmara Empresarial de Turis-

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mo (CET) em Brasília, e todas as nossas entidadesaqui representadas –, têm um papel fundamental paraaumentar ainda mais a participação dos americanosno turismo, principalmente no Rio de Janeiro. Osamericanos chegam a ser um grupo maior do que ospróprios brasileiros, o que chama bastante a atenção.Depois vem: Inglaterra, Portugal, Alemanha, Suécia eArgentina. Aumentou muito o turismo dos escandi-navos no Brasil e a Argentina, aos pouquinhos, estáse recuperando, e esperamos que já ao longo desteano, na próxima alta estação, tenha bastante argenti-no aqui. Eu vi uma pesquisa que, ao contrário do quesempre pensei, mostra que o Estado que mais recebeargentino no Brasil é o Rio de Janeiro. Sempre houveaquele mito de que os argentinos invadiam as praiasdo Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, mas não éverdade. Eles passam por lá, de carro ou de trailer,mas sempre vêm para o Rio de Janeiro e ficam nolitoral, desde Paraty até Búzios.

Faço aqui uma comparação do internacional com odoméstico. Como sempre falei, no Trem do Corcova-do, entre 2/3 e 3/4 dos visitantes são estrangeiros.Isso se deve a vários fatores, mas não só ao preço,como as pessoas às vezes imaginam. Quero fazer umapequena observação. O Trem do Corcovado, em 1999,criou o bilhete chamado Carioquinha, que dava 50%de desconto, em um mês do ano, na baixa estação, emjunho, véspera das férias escolares, ao cidadão cario-ca e dos municípios adjacentes ao Rio de Janeiro (Bai-xada Fluminense, Niterói, Duque de Caxias, Man-garatiba). Isso, naquela ocasião, teve uma repercus-são muito grande não só na mídia, mas também nabilheteria, porque era um público que não freqüenta-va o trem. Então, ao contrário de ter uma perda de

receita, nós criamos uma receita de pessoas que nãoiam ao Corcovado. Isso foi um sucesso. Em 2000, ti-vemos outros equipamentos turísticos que participa-ram do Projeto Carioquinha. Agora, em 2005, foram92 equipamentos de turismo: o Trem do Corcovadomais 91. Até hoje as pessoas ficam esperando chegarjunho para ter 50% de desconto. Neste ano com cer-teza vamos passar de cem membros nesse projeto. Éum projeto institucional, que simplesmente dá des-conto, não envolve dinheiro, o que torna muito maisfácil às instituições participarem, como os museus, osequipamentos turísticos, o próprio Pão de Açúcar, opasseio na Baía da Guanabara. Através desse projetoo carioca redescobre ou descobre a sua própria cida-de. Ele permite o acesso de algumas camadas sociaisque viam no preço um fator inibidor. Em 2006,estamos novamente inovando. Começamos em abrile vamos até dezembro com o Carioquinha. No Tremdo Corcovado, praticamente o ano inteiro, durante 10meses do ano, o carioca tem 50% de desconto, auto-maticamente, ou apresentando a carteira de identida-de ou algum comprovante de residência. Tudo issofaz parte da política de cobrir o déficit dos cariocasque não conhecem o Rio de Janeiro.

Contarei rapidamente uma situação. Nós fizemos umacampanha com o jornal O Dia, que tem um perfil deleitores das classes C, D e E, enfim, um público deuma camada socioeconômica mais baixa. Nós fize-mos para esse público, que mora em São Gonçalo,Itaperuna, São Fidélis, Campos, um ticket, um cupomrecortado do jornal, que, apresentado na bilheteria,fazia o bilhete, que custa hoje R$ 36,00, passar para R$9,00. E fizemos isso em um domingo, sem muita divul-gação. Nesse domingo, às 9 h da manhã tinha uns 10

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camelôs vendendo o jornal O Dia lá na porta. Perde-mos todo o foco da campanha, pois não era aquilo quequeríamos. Na verdade, queríamos que o sujeito acor-dasse no domingo, lesse o jornal e se motivasse a ir láno Trem do Corcovado porque o preço estava convi-dativo para ele e sua família. O que aconteceu foi queos turistas, que não estavam lá por causa da promoção,ficaram surpresos com o belo desconto que tiveram.

Isso é só para termos uma noção de que o turista es-trangeiro prevalece no Trem do Corcovado.

O turismo ferroviário tem esse perfil do turista es-trangeiro, porque, na América do Norte, na Europa,na Ásia, o trem é um elemento integrado à comunida-de. É muito comum as pessoas tomarem trem comomeio de transporte. Mas aqui no Brasil a oferta doproduto fica rara. Em julho, vamos receber a Associa-ção Latino-Americana das Ferrovias (ALAF). O even-to vai acontecer, no Rio de Janeiro e nós vamos apre-sentar um painel da ABOTTC. Existe essa demandapelo passeio de trem. No Trem do Corcovado, a gran-de atração é o Cristo Redentor. Tudo o que se colocaperto do Cristo Redentor fica pequeno, apesar de aspessoas saberem que o trem é 47 anos mais velho queo próprio monumento. Neste ano o Cristo Redentorfaz 75 anos. Vou aproveitar e fazer aqui uma propa-ganda, principalmente para os acadêmicos: o CristoRedentor está concorrendo a uma das novas sete ma-ravilhas do mundo. O voto é gratuito, basta entrar nainternet: www.n7w.com. Nós temos de eleger o CristoRedentor, porque o Rio de Janeiro é a porta de entradados turistas, principalmente do estrangeiro, e daqui ir-radia para o resto do Brasil. A candidatura não é cario-ca, não é fluminense, é do Brasil. Apesar de a paradaser dura, é uma obrigação fazer a nossa parte. Nós va-

mos precisar de quase 10 milhões de votos, talvez setemilhões de votos. Essa rede tem de funcionar.

Gostaria de fazer um rápido agradecimento. O nossoSubsecretário de Turismo do Estado, Nilo Sérgio,mandou quase dois mil e-mails e essas pessoas já dis-seminaram para outros lados. Esse é um dos cami-nhos. Não custa nada contribuir. Isso vai favorecertambém ao nosso negócio.

Um grande desafio, desde que chegamos lá, é levar ocarioca. É preciso associar alguma coisa a essa visitação.O passeio por si só não é motivo suficiente para o cario-ca. Por exemplo, no Pão de Açúcar, há a programaçãomusical do Noites Cariocas. Na década de 1970, iníciodos anos 80, muitas pessoas da minha geração iam aoPão de Açúcar para assistir show; não íamos até o Pãode Açúcar, só íamos até o morro da Urca. A mesmacoisa acontece no Corcovado. O Corcovado tem algu-mas limitações. O Cristo Redentor está dentro de umaunidade de conservação ambiental, que é o Parque Na-cional da Tijuca. Esse é outro absurdo. Todo dinheiroarrecadado no Parque Nacional da Tijuca vai para umcaixa único, lá em Brasília, do Ibama ou do TesouroNacional, e dali é gerenciado para as outras 53 unida-des de conservação. Isso depende de quem seja o Mi-nistro do Meio Ambiente. Tivemos o Ministro ZequinhaSarney, que mandava para o parque dele, lá no Ma-ranhão. Mas o Parque Nacional da Tijuca é o maiorarrecadador de receita de todas as unidades. 90% daarrecadação é do Rio de Janeiro. Uma parte é do Par-que Nacional do Iguaçu, que foi privatizado em 1999e melhorou demais, mas ainda tem muito o que cami-nhar. O Cristo Redentor também deveria caminharpara uma privatização da rodovia, da forma de aces-so rodoviário, porque hoje, está uma bagunça e deni-

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gre a imagem do Rio de Janeiro; mostra que ou nósnão damos bola ou não ligamos para aquela grandeconfusão que acontece ali ou não temos competên-cia; ou não estamos ligando para o nosso principalcartão postal ou sucumbimos às mazelas.

Fizemos uma pergunta de nível de satisfação. O ver-de representa abaixo do esperado, o vermelho ésatisfatório – que em quase todas as pesquisas é amaior parte dos entrevistados – e o roxo significa queas expectativas foram superadas. Essas pesquisas sãode novembro de 2003, fevereiro de 2004, julho de2004, novembro de 2004, março de 2005 e março de2006; um perfil muito parecido.

Para encerrar, um pequeno comercial do Trem doCorcovado: quase 100% das pessoas recomendariam.

A nossa associação engloba também bondes. O bon-de vem do nome daquela companhia inglesa que che-gou aqui trazendo os equipamentos ferroviários in-gleses – Bond –, que eram uns bondes que circulavamna Cidade do Rio de Janeiro. Engraçado que, em Zu-rique, convivem perfeitamente bonde, metrô de su-perfície, metrô subterrâneo, antigos trens, maria-fu-maça, trens modernos. Aqui simplesmente abando-namos tudo o que funcionava e temos esse caos nanossa Cidade e perdemos muitos eventos por contadisso, como as Olimpíadas. Um dos pontos negativosda Cidade foi exatamente o nosso sistema de trans-porte urbano. Por exemplo, o bonde de Santa Teresa,que também está no CTI, passando um aperto dana-do, é um bonde ligado ao Governo do Estado, e hojeestá funcionando precariamente: só tem duas unida-des em funcionamento e é um bonde que custa R$0,60 se for sentado e de graça se for em pé! Não tem

como funcionar um negócio desses. Havia um proje-to de integrar o bonde Santa Teresa ao Trem do Cor-covado, porque ele chega em uma localidade chama-da Silvestre, onde você salta do bonde de Santa Tere-sa e já entra no Trem do Corcovado, porque tinha umaantiga estação ali. Seria maravilhoso. O sujeito vemlá da rua Senador Dantas, atrás da Petrobras, passapor cima dos Arcos da Lapa, atravessa Santa Teresa,que é um bairro bucólico, maravilhoso, que hoje temgrandes atrativos culturais e turísticos, e depois pegao Trem do Corcovado. Mas o bonde de Santa Teresanão funciona. Na verdade, o turista, quando compraum pacote desses, não quer saber de quem é a respon-sabilidade. Com certeza íamos ter de assumir a respon-sabilidade por um produto que ainda não é confiável.

Nós torcemos, mas também é nossa obrigação pre-servar e melhorar esse serviço.

Esse é o nosso grande desafio. Já temos feito algunseventos comerciais. Fizemos um em Curitiba, que foimuito interessante. Aproveitamos um evento que aUniversidade Federal do Paraná promoveu. A Uni-versidade fez um evento de turismo, com um painelsobre trens turísticos, em que fomos nos apresentar.No dia anterior, alugamos um salão de um hotel, fize-mos um workshop, uma venda direta com os agentesde viagens e operadores, e foi muito interessante por-que as pessoas iam, de mesa em mesa, pegando ospanfletos de todos os trens que funcionam no Brasil.E os operadores tinham todas as curiosidades: qual éo horário, o preço, o tarifário, a regularidade. As pes-soas ficavam surpresas de saber que alguns trens es-tão em funcionamento. Tem associado nosso, porexemplo, que funciona uma vez por mês. O trem SãoJoão Del Rei-Tiradentes, que imaginamos que tem

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potencial para fazer pelo menos uma viagem por dia,só funciona sexta, sábado e domingo.

Vejamos algumas experiências. É muito heterogêneoo universo de trens turísticos e bondes.

Estrada de Ferro Campos de Jordão, Trem de Campi-nas a Jaguariúna, Trem dos Imigrantes, Bonde do Imi-grante, Bondinho de Monte Serrat, todos em Santos;Estrada de Ferro Oeste de Minas (em que opera otrem São João Del Rei-Tiradentes), Trem das Águas,Trem da Serra da Mantiqueira (de Passa Quatro), quefoi veiculado na minissérie JK, quando o então capi-tão-médico Juscelino Kubistchek estava na guerraregional entre São Paulo e Minas. O Serra VerdeExpress (Curitiba-Paranaguá), no Paraná, está com umproblema quase no final da ferrovia, ligando Morretesao Porto de Paranaguá. Então, a viagem está acaban-do em Morretes, onde há uma estrutura muito boapara receber o turista, com restaurantes. E as pessoasvoltam de ônibus; vão de trem, pagam um bilhete evoltam de ônibus. Há o caminho contrário: as pes-soas compram o bilhete em Morretes e vão paraCuritiba; quer dizer, em uma viagem, a operadora con-segue vender dois bilhetes e dessa forma otimizar aoperação. O Trem do Corcovado, o Trem da EstradaReal, que é um trem municipal, um exemplo maravi-lhoso, inaugurado no ano passado – a Prefeitura, con-tra tudo e contra todos, inclusive brigando com oMinistério Público e a Associação de Moradores, ban-cou a idéia, e hoje, a própria comunidade faz questãoque o trem esteja funcionando, porque o trem teveum defeito, f icou dois meses sem funcionar e avisitação na cidade e o comércio caíram muito. Entãoeles sentiram na prática que o trem é um fator atrati-vo para a cidade de Paraíba do Sul, região da Estrada

Real. O Bonde de Santa Teresa esse que comenteiaqui, que é operado pelo Governo do Estado. O Tremdo Forró, que é o sazonal e vai de Recife até o Cabo.

Aqui o trem do Sul, Maria-Fumaça do Sul. Esse tremtambém é muito interessante. Existe uma portaria daNTT que obriga as concessionárias de carga, como aFerrovia Centro-Atlântica (FCA), que é da Vale doRio Doce, a MRS Logística S.A. e várias outras queoperam carga no Brasil, mas existe uma portaria quena mesma linha, tem de abrir duas janelas por dia nomesmo leito ferroviário se houver demanda de um tremturístico. Esse é o caso, por exemplo, do trem Curitiba-Paranaguá. Ali opera o trem de carga, trazendo grãose cereais lá do cerrado. Ele atravessa e vai até o portode Paranaguá. Duas vezes por dia, na ida e na volta, oTrem Serra Verde Express, lá de Curitiba, usa essemesmo leito. Eu não sei se vocês lembram que hácerca de um ano, um trem de carga caiu em um viadu-to lá, 15 vagões ficaram pendurados. Saiu uma fotono jornal muito forte, que dava a impressão de queera um trem de passageiros. Não é verdade. Graças aDeus era um trem de carga. Mas aquilo criou umasituação. Primeiro, a circulação de trens tanto de car-ga quanto de passageiros, ficou quatro meses inter-rompida. Depois é difícil recuperar a credibilidade.Você leva 50 anos para convencer as pessoas de queé um sistema confiável, seguro, e um acidente dessesé capaz de comprometer todo o trabalho.

Em Santa Catarina, tem o Trem da Serra Mar, o Tremdas Termas e o Trem do Contestado, todos eles opera-dos pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviá-ria (ABPF). Aqui não está o Trem Ouro Preto-Mariana,que no dia 5 de maio, com a presença do PresidenteLula e do Ministro Walfrido Mares Guia, vai ser

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reinaugurado. É um trecho de 14 quilômetros, cujarevitalização custou R$ 40 milhões.

Algumas ilustrações para vocês conhecerem. SãoLourenço e alguns detalhes. Mantiqueira, Passa Qua-tro, São João Del Rei-Tiradentes, Santa Teresa, Es-trada Real (Paraíba do Sul). O Trem do Forró, comofalei, ganha uma roupagem de forró. É uma experiên-cia maravilhosa: eles tiram os bancos dos vagões e aidentificação das pessoas é a camiseta, porque háparadas que elas se misturam com outras 30 mil pes-soas e todo mundo sai da plataforma, ouve as músi-cas regionais e só entra depois; existem os fiscaisque só permitem a entrada das pessoas que estive-rem com a camiseta-convite, e cada vagão tem umtrio, de zabumba, triângulo e acordeon ou sanfona.Aí só trazendo o Anderson Pacheco para contar suashistórias, porque esse trajeto tem três túneis, ondedesligam as luzes e o “couro come”.

Esse é de Campos do Jordão. Essa é a litorina. Essepasseio também é muito interessante. Ele liga Pinda-monhangaba a Campos do Jordão. É um trem que temuma visitação próxima de 200 mil passageiros por ano.A partir de agora começa a alta estação lá. Esse tremé operado pelo Governo do Estado também, pela Se-cretaria Especial de Turismo do Governo do Estadode São Paulo, e é um trem que está funcionando mui-to bem. Não é por ser estatal ou privado, mas existeuma descontinuidade. Desde 1999, quando fundamosa ABOTTC, já deve ter havido uns oito presidentesou oito diretorias, e isso dificulta a interlocução e acontinuidade. Mas esse trem funciona muito bem, porque há competência. Não sei também se é por ser daterra do ex-Governador Geraldo Alckmin, Pinda-

monhangaba, que ele tinha um cuidado especial. Masé um trem muito bacana.

Trem dos Imigrantes, em São Paulo. A grande carac-terística dos trens turísticos a maria-fumaça, que, di-ferentemente do Trem do Corcovado, por motivosoutros, como, a parte ecológica, tem a caldeira quemovimenta, que traciona, a locomotiva alimentada porlenha reciclável, pois não pode ser lenha do desma-tamento. Isso dificulta um pouco a operação e, aquino Corcovado, no Parque Nacional da Tijuca, a ele-tricidade é o nosso combustível ecologicamente cor-reto. Mas a maria-fumaça tem um charme especial equem é aficionado em ferrovia conhece a história detodas essas plaquinhas. Aqui mesmo no Museu doTrem, no Engenho de Dentro, fica a Baronesa, a pri-meira locomotiva do Brasil, e está lá jogada, ninguémdá valor para ela. Na verdade, tinha de estar dentrode uma redoma. Eu estive em Cuba, no ano passado,e nós vimos no meio do país o barco em que CheGuevara e o comandante chegaram à ilha e a toma-ram, na década de 1950. Eu acho que tinha de se pe-gar a Baronesa e colocar em uma redoma na av. Presi-dente Vargas, para as pessoas conhecerem um poucoda história do Brasil, porque foi ela quem desbravouo País. Há pouco tempo os trens estavam muito namoda, por causa daquela minissérie Mad Maria.

Nós vimos lá uma saga, o desbravamento do Brasil.Tantas pessoas morreram com malária e tudo aquilofoi jogado fora. Realmente é inacreditável que jogue-mos não só a história, mas, também o nosso patri-mônio no lixo. Quantos milhões foram investidos ali?E a instalação de um trem é muito cara. Para os se-nhores terem uma idéia, considerando não só o leito,

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que é chamado de via permanente, os trilhos, os dor-mentes, brita, mas também o material rodante, quesão os carros de passageiros e as locomotivas, quepodem ser a diesel ou elétricas, chega-se ao custo deum milhão de dólares por quilômetro. É cara a insta-lação inicial. Talvez isso explique um pouco por quea ferrovia perdeu tanto espaço para a rodovia. E como,infelizmente, os nossos governantes – não estou fa-lando desse agora não, mas da sucessão de governoscentrais no Brasil – não olham o que vai acontecercom o País daqui a 50 anos, a ferrovia nunca vai serlembrada. A ferrovia é um investimento no Brasil. Élamentável que os nossos governantes, que têm po-der de decisão, não enxerguem, quando vemos no mun-do inteiro o caminho inverso. Além de se valorizar osacessos rodoviários no Brasil, um País de dimensõescontinentais, mais do que em qualquer outro lugar tí-nhamos de cruzar ferrovias para todo lado.

Esse é o funicular, o Bondinho de Monte Serrat, emSantos, São Paulo. Lá em cima existe um santuário,Nossa Senhora de Monte Serrat, e há esse bondinho,que é muito interessante para fazer o acesso. Lá emcima tem um salão de eventos, com restaurante pa-norâmico, salão de eventos, uma estrutura toda deturismo religioso. É muito interessante esse bondinho.

Esse é realmente uma estrela do nosso conjunto de trensturísticos, tem uma série de obras-de-arte que chama-mos de viadutos, de túneis centenários. Essa ferroviafoi construída pelo mesmo construtor da Estrada deFerro do Corcovado, que foi o engenheiro João TeixeiraSoares. Aqui no Corcovado ele teve a ajuda do PereiraPassos, que depois se tornou Prefeito no início do sé-culo XX. É incrível quando vemos na história do Bra-sil alguns brasileiros como JK. O que ele fez foi uma

revolução inimaginável para os nossos tempos: umapessoa querer construir uma cidade, com aquela pre-tensão. Hoje, para qualquer coisa que queiramos fazer,existem todas as dificuldades do mundo, não só compatrimônios históricos, que alguns chamam de patri-mônio histérico, mas também há a turma dos ecochatos.Acho que todo mundo tem uma participação impor-tante, tem de contribuir com as suas experiências, é umdever, não só um direito; mas é também um dever fa-zer adequações, ajustes, no projeto, e não inviabilizartudo. Estou vivendo agora uma experiência desse tipoem um teleférico em São João Del Rei. O Instituto doPatrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)embargou a obra e não tem noção do que seja turismo.Embargou, porque a cidade é histórica e aquilo é umequipamento moderno. Não conheço teleférico barro-co, então tive de fazer um daquele tipo. Eu estou desa-bafando um pouco porque estou voltando de lá hoje ea discussão foi nesse ponto.

Isso também é um trem maravilhoso em Santa Catari-na, Trem da Serra do Mar. São realmente paisagensindescritíveis que só o trem proporciona.

Aqui no Trem do Corcovado nós temos a curva do“O”, que só o Trem do Corcovado tem. Você vempor dentro da floresta e de repente abre uma janelacom a Lagoa Rodrigo de Freitas, o Arpoador, Ipanema,Leblon. Aquilo não existe em lugar nenhum do mun-do. O nome curva do “O” foi uma sugestão dos pró-prios usuários, que exclamam essa interjeição. O acessode carro ou de van ou do que quer que seja não dáaquela emoção toda.

Esse aqui opera uma vez por mês só: segundo sába-do, 10h. Esse é aquele que eu falei que tem todas as

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dificuldades para funcionar. Isso para não falar do queestá sendo feito com o patrimônio ferroviário. Nósestamos falando aqui de trem. Mas o que estão fazen-do com as estações ferroviárias, verdadeiros tesourosdo Brasil? Elas são invadidas, viram barracos; nin-guém – e aí faço uma crítica ao Ministério Público,que sabe tanto nos criticar em tudo – vai lá. É precisoacionar todo mundo – polícia federal, polícia local,estadual – para desocupar aquilo e transformar emcentro cultural, em uma biblioteca para atender à co-munidade do entorno. É um absurdo o que estão fa-zendo com o patrimônio aqui. Não tem dono. A RedeFerroviária virou uma massa falida ou está em liqui-dação, não tem um concessionário; os concessioná-rios só se importam com o lucro da carga, o que énatural, já que são empresários que ganharam a con-cessão e não têm a contrapartida de cuidar dos nos-sos patrimônios que são os trens turísticos. Esse fun-ciona em Santa Catarina, uma vez por semana.

Esse é outro ponto muito interessante: o Trem do Sulou Trem do Vinho ou Maria-Fumaça do Sul. Ele ligaBento Gonçalves, Carlos Barbosa e Garibaldi. Então,cada uma dessas três estações tem um atrativo: se nãome engano, Bento Gonçalves é a terra do vinho,Garibaldi é a terra do champanhe e a outra é a do quei-jo. Ali há uma dança especial, aquela dança italiana,uma música que todos os turistas aprendem a cantar,além de vários esquetes teatrais e músicas. É realmen-te fantástico. É um passeio de 40 minutos, no máximo,associado à fábrica da Tramontina. É um negócio queestá dando certo. Essa mesma operadora, que é doGiordani, conseguiu agora a concessão de outro tre-cho, de 41 quilômetros, também na serra gaúcha, para

outro lado, que é lindíssimo. Eles estão recuperandotrilho, dormente (que virou barraco), recolocando o quefoi roubado, desocupando as estações. Em 2006, deveser inaugurada outra operadora lá no Sul.

Não queria me alongar, porque a Josi Fernandes pe-diu que eu não esticasse muito. Eu trouxe um filmesobre o trem São João Del Rei-Tiradentes, que falaum pouco da alma, em homenagem aos mineiros, por-que o trem corre nas veias dos mineiros – cai um ciscono olho é um trem no olho. Essa é uma forma de ho-menagear todos os trens turísticos do Brasil.

Acho que o filme mostrou tudo. Isso representa todosos outros trens. Esse trem tem a menor bitola do mun-do, são centímetros. Bitola é a distância entre doistrilhos. Então esse também é um problema técnicoque acomete todas as ferrovias. Imagine que venhaum trem carregando milhares de toneladas de minérioe, de repente, ele tenha de passar para outro trecho.

Esse trecho em que o trem vinha tem 1,20 m de bito-la e o outro tem 1,60 metros. Então, é preciso jogartudo para outro trem, porque ele não pode continuarno outro trecho.

Todas essas dificuldades, que não foram planejadas,pensadas, em outras épocas, explicam um pouco aderrocada ferroviária. Queria agradecer a atenção devocês. Muito obrigado.

26 de abril de 2006

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O trabalho não existe se não houver cliente. Daí,o tema: Cem por cento Cliente, ou seja, tirando a família,o que sobra são os clientes. Se não os tratarmos bem,perderemos oportunidades de negócios.

Quero fazer um agradecimento especial à JoseneideFernandes, que sempre está conosco. É assistente doConselho e que não deixa nada passar. Ela tem, real-mente, vocação para trabalhar com as outras pessoas.

Falo com vocês a respeito de cliente. Tem gente quefala de clientela. Clientela é cliente lá. Gosto de clientecá; cliente aqui perto da gente. Acho que já está atéesgotado essa parte de atendimento. Mas o que nãoestá esgotada é a quantidade de mau atendimento aque nos submetemos todos os dias, todos os momen-tos. E para o nosso trade turístico é fundamental quecomecemos a repensar, cada dia, a forma de tratar onosso público. Por quê? Porque os produtos, os ho-

100% CLIENTE – UM SHOW DEATENDIMENTO

Maurício de Maldonado Werner Filho

Diretor-Presidente da Planet Work Empreendimentos e Consultoria em Turismo

téis, os resorts, os cruzeiros são muito similares. Elesapresentam, basicamente, as mesmas características,mais ou menos o mesmo formato de serviço; o mes-mo tipo ou o mesmo conforto de cama; a água é, maisou menos, na mesma temperatura. A única coisa quevai poder diferenciar um hotel do outro, um resort dooutro, um cruzeiro do outro é, sem dúvida nenhuma,o atendimento. Se as empresas não estiverem com aatenção 100% focada no cliente, realmente, estarãofadadas ao fracasso; e em breve.

Em relação a como trabalhar com o cliente, a primei-ra coisa que digo é: “Consulte a sua alma, o seu cora-ção; inspire-se nos bons exemplos, porque de mausexemplos nós estamos esgotados.”

Outro dia, um aluno me disse: “Passei, hoje, por umaexperiência formidável com a TAM. Eu estava espe-rando o vôo e deu overbooking; só que eu já havia passa-

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do da cancela. O rapaz que estava me recepcionandodisse: “Rodrigo, você está com overbooking; você se in-comoda de ir na cabine do piloto? Realmente, é umaexperiência fantástica”. Ele voou na cabine do piloto;e o mais fantástico foi que, quando ele pousou, disse:“Nunca tive uma experiência tão boa na minha vida.”Aí, disseram-lhe: “Não, o mais importante é que vocêvai guardar esse seu bilhete para uma próxima viagem,pois não se sentou na cadeira a que seu bilhete davadireito”. Isso é surpreender o cliente. Isso é focar asnecessidades mínimas de atendimento e surpreender; éencantar, porque o melhor cliente, para qualquer em-presa, é o cliente encantado, é o cliente feliz. Além desseexemplo, há alguns outros, como, por exemplo: vocêvai a um hotel; é muito chato; você chega com malas,tem de fazer o check-in e o atendente “enfia aquele pa-pel goela abaixo”; não pergunta nem o que acontece.Outro dia, tivemos uma condição bastante privilegia-da de ter uma água diferenciada, um suco, um café, umdrinque ou até mesmo um champanhe logo na entrada.Foi no hotel Unique, em São Paulo. Lá, no primeiromomento, fazem com que as pessoas se sentem, poisas pessoas chegam cansadas, esgotadas e ficam preen-chendo fichas; e, às vezes, o nome não é encontrado.O procedimento é: primeiro você sobe, depois preen-che a ficha, quando tiver tempo, porque isso já foi pre-viamente estabelecido. Esses sistemas de reservas jáestão muito bem trabalhados. É muito importante queconsigamos fazer isso. Quando a pessoa desce, entre-ga-se a ficha e continuam os procedimentos comuns.Isso é muito simples, mas, na prática, sabemos que nãoé o que está acontecendo.

Hoje, o que acontece no mercado é, sobretudo, umaguerra de percepções. Quando falo na foto ali, per-

gunto: “Quem foi que fez o gol?” Não sabemos, por-que o negócio de atendimento é um show. O jogador éo artista, mas o mais importante é que todas as pes-soas ali – que são os clientes, os times – estejam co-memorando a satisfação de ter feito o gol para a torci-da. É esse que é o grande lance: atender bem essenosso cliente preferencial. É preciso saber servir. Terum sentimento de servir é fundamental para o profis-sional, seja no hotel, seja na pousada, no restaurante,no parque. Não é qualquer pessoa que está preparadapara servir. Há pessoas que não têm essa condição,mas ocupam esses postos por necessidade. E não éa necessidade da empresa, pois quem trabalha mal pa-ra a sua empresa trabalha excepcionalmente bem paraa concorrência. Essa é uma frase que eu gosto muitode repetir: quem trabalha mal para a sua empresa tra-balha excepcionalmente bem para a concorrência.

É preciso ocupar-se dos clientes. Eu vejo pessoas fa-zendo isso muito bem. Estou vendo o Orlando Kremerali atrás e tive a oportunidade de vê-lo no Constellation,fazendo o acompanhamento dos seus clientes. Euqueria que a minha mãe fosse uma cliente dele, por-que ele tratou seus clientes como eu gostaria de seratendido. Eu vi a atenção, o acompanhamento, cadadetalhe do trabalho, e isso me deixa feliz. É muitodifícil dizer “Uau!” para um atendimento, porque,normalmente, temos vontade de vaiar, de xingar. Àsvezes, você não quer se aborrecer por tão pouco eacaba engolindo. Às vezes, vamos a um restaurante eo maître chega todo pomposo, perguntando: “O se-nhor está satisfeito?” E aí, acabamos dizendo, semgraça, que estamos satisfeitos. Eu me lembro do Co-mandante Rolim, dizendo: “A pior coisa que podeexistir para uma empresa é o cliente mudo”, porque,

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este nós perdemos e não sabemos porque perdemos.Quando conseguimos falar, expor os nossos proble-mas e a empresa está preocupada em ouvir, pode ha-ver satisfação. Mais importante do que o cliente falaré a empresa e o prestador de serviço saberem ouvir,pois quando eles ouvem, prestam atenção às necessi-dades e aos desejos e começam a trabalhar de formaintegrada nesse processo, o que faz com que haja asatisfação. Trata-se de uma simples resposta, um sim-ples feedback, que as empresas realmente hoje estãonos devendo.

O Japão é um caso de sucesso pela reverência, pelaquestão da atenção. Não sei se os senhores sabem oque é proibido lá. Ao entrarmos em uma loja, os funcio-nários não podem conversar entre si. O funcionário temde estar prestando atenção; todos os funcionários de-vem estar prestando atenção em todos os clientes, massem incomodar, sem ficar no pé, sem ficar tentando em-purrar a venda, porque a venda mudou de lado. Hoje,você não pode mais querer empurrar a venda como nopassado, até mesmo por causa desse processo do capi-talismo, de você ter de produzir e fabricar. Hoje, não.Hoje, temos de administrar as contingências de com-pra do cliente; e não é de venda. Tenho de estar muitomais preocupado com a satisfação do meu cliente emrelação à compra que ele fez, ou seja, tenho de ajudá-loa buscar uma melhor opção. Não posso ficar empur-rando o que é melhor para mim. Conseqüentemente, oque é melhor para ele será melhor para mim, porqueganho credibilidade; na verdade, ganho um pós-venda;ganho uma recompra. E isso é o que mantém. E deonde se tira e não se coloca, se esgota.

Essa é uma frase que remonta a esse processo de fazercom que consigamos dar sustentabilidade aos nossos

clientes. Não quero que os clientes sejam meus clien-tes por um dia, por uma semana; quero que eles sejammeus clientes sempre. O americano diz: “life time value”,ou seja, “valor para toda a vida”. E o que eu faço paraque isso aconteça? Isso é que é o mais importante? Pre-ciso estar preocupado o tempo todo com o meu clien-te, sem incomodá-lo, mas de forma integral.

Qualidade. Todos falam em qualidade. Qualidade éfundamental. Eu já digo que qualidade é pré-requisi-to. Qualidade não é mais diferencial competitivo ne-nhum. Hoje, as empresas que não tiverem qualidadesairão do mercado rapidamente. Hoje, qual é o televi-sor que não pega? Qual é o carro que não anda? Qualé a melhor máquina digital? Todos eles possuem basi-camente a mesma tecnologia, os mesmos fornecedo-res, a mesma estratégia. O que vai diferenciar é exa-tamente o atendimento. Então, a qualidade se expres-sa na velocidade e na inovação. O McDonald’s é umproduto ou uma empresa de qualidade porque man-tém um padrão. Não é porque eu gosto do McDonald’s– até porque não gosto muito; é que é de vanguarda.Na verdade, se o McDonald’s fosse perguntar ao bra-sileiro do que ele gostaria quando entrou no Brasil,abriria a maior cadeia de fast-food de arroz com feijão,porque o brasileiro não comia hambúrguer. Isso nãofaz parte da cultura do brasileiro. Foram eles que in-troduziram esse mercado aqui. Faz parte da america-nização. Não há nenhum problema nisso. Aliás, háalguns problemas, mas eles estão se mudando. Agora,você já pode trocar uma carne por uma salada, oupode trocar uma fritura por algum outro produto maissaudável, pois eles não tiveram muito cuidado com asua marca e não entenderam as mudanças mercado-lógicas, o que quase fez com que caíssem. Eles preci-

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saram se renovar para continuar disputando as me-lhores vagas nesse mercado de fast-food.

Um caso de sucesso absoluto em atendimento, sem-pre no foco com o cliente é o da Disney. Eles dizemque os empregados não são empregados; são o elen-co, a parte mais importante, ou seja, é uma equipeintegrada que faz com que haja diferencial competiti-vo no processo de fazer com que os clientes se sintamprotegidos. Os clientes são os astros convidados; sãoas peças das quais vamos cuidar com atenção total.Há uma multidão nos dias normais da Disney; é umaplatéia. Um turno de trabalho é uma performance.Cada dia, a performance tem de ser melhor do que ado dia anterior. Um cargo é um papel; e se cada umsouber o papel que precisa e deve desempenhar nassuas funções, isso ajuda muito o processo de atendi-mento nas empresas. Caso contrário, ficamos naqueledia-a-dia do cachorro, que é do: au, au, au... Ninguématende, ninguém responde, ninguém sabe o que é e sóindica: “Isso não é comigo; isso não é com o outro.”Passa para outro departamento e nunca temos umaresposta rápida.

Uma descrição de cargo é um script. Tem de ter essescript. Isso aí é gerencial. Não é um problema de aten-dimento do front office; é um problema do back office.Quem fornece esse script é o gerente. Esses processosgerenciais é que são os verdadeiros culpados do mauatendimento. Não é a ponta final, porque esta está alipor uma necessidade básica de trabalho, de dinheiro.Então, é importante que se consiga ver que esses pro-blemas detectados são de nível gerencial.

Um uniforme não é apenas um uniforme; é uma fan-tasia, porque aquilo ali é um sonho que o cliente está

comprando, é um produto turístico. A pessoa não podetirar a cara do Mickey para fumar ou porque estavacom muito calor dentro da fantasia. Ele precisa fazercom que as crianças percebam que ele é o Mickey ouo Pateta. Bem, o departamento pessoal é o departa-mento de seleção do elenco. O elenco é exatamenteessa composição de equipe. É preciso que essa gerên-cia consiga identificar o talento e a competência decada um e fazer uma ligação entre esse talento e essacompetência, buscando a melhor oportunidade paraesses participantes da equipe.

Trabalhar é estar no palco. “Temos de dar show, pes-soal. Precisa dar show.” A Disney dá show para osseus clientes. Quando em uma pesquisa se pergunta:“O que você mais se lembra da Disney?”, as pessoasdizem: “Gostei muito foi dos jardins, dos banheiros”,porque nos lembramos de coisas que não esperamos.“A montanha russa foi boa?” “Foi, foi ótima.” “Doque mais você se lembrou?” “Ah... aquele jardim, aqueleventilador nas filas, aquela magia de controlar o tem-po”. Isso é que marcava o cliente, porque ele precisade coisas inesperadas. Ele precisa de coisas que real-mente ultrapassem aquilo que foi proposto.

Essa é a linguagem do atendimento na Disneylândia.Esse é um caso de sucesso que precisamos reforçarsempre e no qual devemos nos inspirar. É um caso desucesso para qualquer empresa, de qualquer ramo,inclusive para a nossa indústria, que é a indústria doturismo e que, sensivelmente, consegue entender oporquê dessa magia do sucesso.

Temos um SOS. Atendimento em relação a alguns itensque precisam ser percebidos.

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Auto-estima. Primeiro, acho que o grande problemado brasileiro é a baixa auto-estima. O brasileiro nãoacredita em si mesmo. E se não acredita em si mes-mo, não acredita na empresa; muito menos acreditano cliente. Acho que é sempre uma inversão de pa-péis.

Gostar de servir. Gostar de servir é fundamental paraesse processo.

Gostar de pessoas. É impossível trabalhar no setor deserviços e não gostar das pessoas, não gostar de serelacionar com as pessoas.

Ser extrovertido. Precisa ser extrovertido? Precisa. Mascuidado com a inconveniência, porque entre uma pes-soa ser extrovertida e a inconveniência há um passomínimo. É preciso entender até onde se pode ir e atéonde não se deve ir.

Desenvolver espírito positivo e ser humilde. Ser hu-milde e positivo é uma questão de competência paraatendimento. É uma competência que a pessoa queatende precisa ter. Humildade vem de húmus , que sig-nifica: terra fértil para a colheita. Então, a pessoa queé humilde está pronta a ganhar, a receber, a fazer comque as coisas aconteçam por meio dessa humildadeque estamos falando.

Cuidar da aparência. Não precisa ser belo, mas preci-sa cuidar das unhas, do cabelo, do hálito – uma coisaque, às vezes, espanta a clientela –, do suor, etc. Éimportante que consigamos ver quais são os pré-re-quisitos mínimos. Não é necessário ser galã, mas pre-cisa ser bem apresentável. Não é necessário estar decabelo preso, mas, pelo menos, penteado. As unhasnão podem estar sujas. Uma pessoa não pode entrar

em um restaurante e ver o garçom limpando o ouvi-do. Há muitos exemplos de mau atendimento, de mápostura que poderíamos citar aqui, mas eu não querofalar muito, porque já sabemos. É preciso sempre re-forçar o que precisa ser feito; e é isso que não estamosconseguindo nas nossas empresas.

Gerar empatia. Empatia é uma palavra que significao seguinte: você deve se colocar no lugar do outro.Vista o sapato do seu cliente; veja onde é que o caloestá apertando. É nesse trabalho que vocês terão deintroduzir o que há de melhor no atendimento.

Sorrir. Não precisa dar gargalhadas. Cuidado tambémcom essa história de sorrir, porque pode parecer debo-che. Na verdade, sorrir significa abrir as portas, abrir ocanal de conversação, abrir o canal de negociação, paraque possamos ter um maior conhecimento do cliente.

Expressão corporal. O corpo fala. Você não fala sócom a sua boca. Você fala com o seu corpo, com osseus olhos. Essa expressão corporal precisa estar emsintonia com o que você diz.

Tom de voz e as palavras que você usa. Modifique oseu tom, fale no tom do seu cliente. Se ele é um poucomais novo, tente se adequar a essa forma. Se ele formais idoso, você tem de se adaptar a isso, até que vocêconsiga um canal de relacionamento mais favorável.

Isso tudo que estamos dizendo tem um foco: a venda.O foco é você transformar relacionamento em negó-cio. Não estamos aqui falando só do é preciso.Estamos falando do que é preciso para gerar negó-cios. E os negócios são recicláveis quando você gerasatisfação no cliente.

Saber trabalhar com reclamações. Essa é uma outra

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vertente. Existem pessoas que ficam magoadas quan-do o cliente diz o que você está precisando. Ao invésde ter a humildade de aprender e corrigir, alguns pre-ferem que aquele cliente não volte mais. O interes-sante é que tenhamos essa vocação para entender asreclamações dos nossos clientes, porque eles estão nosdando uma consultoria gratuita. E essa consultoriagratuita, às vezes, é desperdiçada. E o cliente desen-cantado vira homem-bomba: fala para todo mundo.

Autonomia e iniciativa. Dê autonomia para os seusfuncionários, dê autonomia para aquelas pessoas queestão no front office . Sei de uma companhia aérea naqual até US$ 200 a pessoa pode resolver o seu proble-ma; até US$ 300 é outro departamento; até US$ 500um outro departamento. Entretanto, no primeiro con-tato você já identifica o tipo do problema – e quasetodos os problemas estão ligados à questão do dinhei-ro, porque a pessoa está ali pensando na relação cus-to/benefício. Nós, prestadores de serviços, devemosestar sempre gerando o inverso, que é a relação: bene-fício/custo. Primeiro, precisamos apresentar os bene-fícios, para, depois, apresentar os custos.

Informações relevantes. Vejo, por exemplo, lojas demóveis oferecendo a madeira MDF. É uma informa-ção irrelevante, porque não sou um profissional dessaárea, sou um cliente. Ou, então, um carro: motorRocan Zetec. Alguém aqui sabe me explicar do quese trata? São informações irrelevantes, que confun-dem a cabeça do cliente e que não agregam valor àsatisfação do mesmo. Pelo contrário; eles ficam an-gustiados porque desconhecem o processo que estápor trás dessas informações obscuras.

Banco de dados. Há empresas que não detêm conhe-

cimento a respeito de seus clientes: nome, data de nas-cimento. Muito mais do que isso: time para o qual tor-ce, onde mora, o que é que compra, como paga, se paga,etc. É importante que as transformações desses dadosse revertam exatamente em um relacionamento, por-que, quando você não tem informação, dificilmentevocê consegue esse link para o relacionamento. Quan-do você tem informações mais profundas do seu clien-te, você começa a estreitar o relacionamento por meiode coisas realmente possíveis de serem trabalhadas.

Agora, quero falar com os senhores sobre uma pes-quisa que foi realizada: dos clientes que deixam asempresas, 68% deixam por motivo de mau atendimen-to. Esse é um dado alarmante, porque, 1% morre, 2%ou 3% deles se deslocam por conveniência: era clien-te de um posto, mas abriu outro posto mais perto, porexemplo; foi mais conveniente. Mas 68% dos clientesdeixam a empresa por incompetência desta. Isso émuito importante para que consigamos repensar.

Eu disse que o assunto pode estar esgotado, mas oscasos de insucesso não estão.

Satisfação do cliente já não basta. Na verdade, quan-do você satisfaz o cliente significa que o cliente estábem com você porque você não criou nenhum trans-torno para ele. Ele quer que você dê mais. Ele querque você faça tudo por ele. Ele quer que você resolvao problema; e se você não consegue resolver o pro-blema, alguém vai conseguir resolver.

E aí, eu pergunto: Tenho verdadeiramente compro-misso com o cliente? Será que temos, realmente, com-prometimento com os nossos clientes? Será que elesestão antenados nessa questão da satisfação? Sou do

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tipo que faço o mínimo necessário ou sou do tipo quefaço o máximo possível?

Vejo o Irmes se desdobrando pelos clientes; clientesque ligam às quatro da manhã. A pessoa morreu etenho de providenciar, sem criar nenhum constrangi-mento. Isso foi no ano passado. Lembro-me bem des-se caso. E você deu conta do recado com o maiorcarinho, com a maior atenção. Vejo sempre o nossoamigo Eduardo Jenner com a Leila Menezes fazendoo máximo pelos clientes. São exemplos. Devemos se-guir esses exemplos consolidados. Devemos colocá-los nas nossas empresas, para fazer com que elas du-rem para sempre.

Meu compromisso com o cliente é uma questão pes-soal ou só existe enquanto estou sendo cobrado pelachefia, pela liderança? É preciso que isso passe a seruma coisa natural para o profissional que está nessaposição de atendimento. Atender bem é nossa obriga-ção. Superar as expectativas do cliente é a razão daprosperidade da empresa.

Digo sempre que não adianta, no Dia dos Namora-dos, eu dar cinco buquês de rosas para a Roberta edizer: este buquê é para 2006, 2007, 2008 e 2009.Tenho de dar uma florzinha todos os dias, porque aconcorrência é desleal. É preciso que agrademos onosso cliente todos os dias. Há uma música do Caeta-no Veloso que diz: “Às vezes, no silêncio da noite...”Vocês sabem cantar? Vamos tentar cantar só umpouquinho. “Às vezes, no silêncio da noite, eu ficoimaginando nós dois, estou me sentindo sozinho.” Àsvezes, nos sentimos sozinho na hora da promoção.Na hora da promoção é fantástico. Veja os planos desaúde: eles pegam você de helicóptero, contratam um

Tarzan. Maldita a hora em que você esquece o cartãoe precisa usar os serviços do plano. Está com cólicarenal ou com algum outro problema, alguma emer-gência e precisa ser atendido. É fatal. Podem consta-tar. É muito difícil não darmos essa atenção se qui-sermos sobreviver nesse mercado. É fundamental queconsigamos fazer esse acompanhamento diário donosso cliente. É o tempo todo; é integral, porque, se-não alguém vai dar.

Por que vestir a camisa do cliente? Quando sabemos oporquê das coisas, começamos a fazê-las melhor. Mui-ta gente não sabe o que está fazendo na empresa por-que não foi criada uma filosofia empresarial. A Disneyfaz muito isso. Para ser um funcionário da Disney, vocêfaz uma lavagem cerebral, dizendo o que você pode, oque você não pode, o que é bom, o que é ruim. Há umconjunto de dados fundamentais para que isso gere sa-tisfação para o cliente. Há os scripts programados. E oque não sabemos, às vezes, é o que estamos fazendonessa empresa. Não tenho o perfil, mas preciso. Se vocêtiver noção do quanto isso é prejudicial para a sua em-presa, tirará essa turma da empresa. Faça com que elesse qualifiquem ou se capacitem, adaptando-se aos pos-tos, ou a outros postos dentro da mesma empresa, ou,então, que sejam afastados. Vocês vão fazer um bemenorme para a empresa de vocês.

Diz o Fábio Barbosa: “O cliente é o nosso principalativo.” Fábio Barbosa é uma pessoa bastante conhe-cida na área de economia. Ele explica o que é ativocirculante e o que é ativo fixo. Mas ele diz: “Seja ati-vo circulante ou fixo, não importa; um ou outro tipode ativo tem a mesma origem: o cliente.” Outro dia,eu estava conversando com o Dr. Álvaro Bezerra deMello e ele disse que, em uma palestra, alguém per-

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guntou: “Dr. Álvaro é Oton ou Othón”. Ele respon-deu: “Tanto faz. Se a minha turma atender bem e elespagarem, pode chamar do que quiser.”

Nada é mais importante do que o cliente. Os funcio-nários precisam se dar conta disso. É muito desem-prego para ficarmos tentando fazer figura com os nos-sos próprios clientes internos, que são os nossos cola-boradores. Eles são as razões de existirem as nossasempresas. E isso é fundamental, porque, se eles trata-rem os clientes de forma ruim, deverão ser demitidos.Não interessa se estão dando lucro ou não, porque,na verdade, esse lucro pode ser temporário e o clientesatisfeito é uma questão de continuidade.

Com tanto desemprego no mundo, com tanta concor-rência, não dá para ter paciência com gente que tratamal o cliente. Gerentes, empresários, amigos, conse-lheiros, tirem essa turma ruim da nossa equipe; tiremessa turma que não serve para atender e que, às ve-zes, mantemos por carinho ou por pena. Só que o clien-te não tem pena de nós. Há pessoas que dizem: “Clientena minha empresa é igual a Deus.” Eu digo: “Antesfosse, porque Deus perdoa, o cliente, não.”

Quer segurança no emprego? Faça realmente um clien-te feliz. Esse é o outro lado da moeda. Em vez demaltratar o nosso cliente, devemos encantá-lo, por-que, assim, conseguimos fazer com que esses nossosclientes gerem credibilidade para o nosso negócio. Nofundo, o cliente é uma grande plataforma da nossaempresa. É ele quem vai fazer com que consigamossubir e é ele também o responsável pelo nosso insu-cesso. Se não nos dermos conta disso, vamos mal. Aempregabilidade de um indivíduo está nas mãos docliente. Alguém discorda disso? Não. É o cliente quem

faz acontecer; é o cliente quem está atento a todos osobjetivos da sua empresa, muitas vezes mais do quevocê, porque ele é consumidor. Então, ele tem umaoutra percepção, porque, como eu disse logo no co-meço, é uma guerra de percepção que não acaba. Aqualidade é uma coisa que se percebe. Não adiantater qualidade no meu produto se o cliente não estiverpercebendo isso. Não adianta ter muita tecnologia,não adianta ser a melhor pessoa, ter a maior gradua-ção de cargos se eu não conseguir atender às expecta-tivas desse nosso cliente.

Considerar o cliente como sócio. Sem dúvida, essa éuma coisa de vanguarda. Quem dizia isso era oMonteiro Lobato. Ele foi perseguido, reprimido na suacapacidade de empreendedor, mas, ainda assim, fezmuita coisa. De certa forma, considerar o cliente comosócio é fantástico, porque existe o que chamamos derelação ganha a ganha. Ganho eu, que vendo, e ganhao cliente, que compra. Não posso ter uma relação emque um ganha e o outro perde. Então, é muito inte-ressante que consigamos ver, cada vez mais, que ocliente encantado começa a gerar novos negócios. Essarede de negócios chamada de network – esse termo émuito usado – faz com que consigamos aumentar onosso perfil e a nossa perspectiva de negócios.

McKesson diz: “Seu sucesso é o nosso sucesso.” O clien-te encantado volta e compra mais, gera mais lucro. Ediz o Comandante Rolim, novamente: “Nada substituio lucro”, porque a empresa precisa se manter. Aí, o queacontece? Às vezes, a pessoa diz: “Maurício, devemosfazer tudo que o cliente quer. Só que se não fizermos,quebramos. Mas se fizer tudo que ele quer, quebramosmais rápido.” É importante que consigamos gerar umequilíbrio. Há a Lei de Pareto, que é a lei de 80/20;

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80% do seu faturamento é gerado por 20% dos seusclientes. Então, ele escolhe a empresa na qual quer com-prar. Mas você também tem poder de separar o clientebom do cliente ruim, até de tirá-lo da empresa, porqueaquele cliente que só quer desconto, que só quer mar-gem de lucro, ainda que você atenda bem o tempo todo,ele só vai te dar problema. Então, enquanto empresári-os, temos de buscar uma alternativa, para que não te-nhamos essa visita indesejada. Isso é muito importan-te. Essa é a Lei de Pareto.

Definitivamente, sucesso passou a ser medida do su-cesso do cliente. O nosso sucesso é a satisfação docliente. Ninguém vai ganhar mais dinheiro hoje se nãoconseguir atender bem o cliente. A concorrência é des-leal. É importante que nos diferenciemos pela capaci-dade técnica e relacional que vamos assistir agora.

Quando vestir a camisa do cliente? É o tempo todo.Não posso tratá-lo bem hoje e, amanhã, ser diferente.Tenho de tratá-lo amanhã melhor, porque ele já estácobrando isso, já está esperando por isso. E aí, o queacontece? Normalmente, no primeiro momento nossurpreendemos. No primeiro momento, fazemos acon-tecer. Depois que você é cliente: “Ah, ele já é meu clien-te. Ele já está acostumado. Espera um pouco.” Vamosestar o tempo todo esperando o próximo cliente.

Vocês devem ligar para os seus clientes para sabercomo é que eles estão se comportando. Façam esseexercício: saiam daqui, agora, e liguem. Vão saber oque ele está achando, o que ele está percebendo. Pe-çam informações, marquem um almoço com eles. Éfundamental você saber, você ter essa resposta o tem-po todo. Não adianta dizer: “Almocei com ele no anopassado.” Pela manhã, escuto o Ricardo Boechat,

quando vou para o trabalho, todos os dias. Ele diz:“Em 20 minutos, tudo pode mudar.” Essa é a frasedele. Acho que até em menos. Vocês sabem muitobem disso. Então, é importante que consigamos fazeresse acompanhamento, que é o que chamamos defollow-up. É o acompanhamento do cliente. Se nãoconseguirmos acompanhá-lo, não teremos a possibi-lidade de estender o nosso negócio.

São três momentos bastante visíveis. Esses momentossão todos os momentos em que temos contato com aempresa. É desde o telefone, desde da peça de marketingdireto, que é a mala-direta; é desde o anúncio. Vocêtem de ter uma relação, nesses momentos, com todosos clientes. Você gera essa relação. O momento desen-cantado ou trágico é quando você, de primeira, já co-meça a fazer uma coisa ruim com o seu cliente e ele aíjá começa a falar mal. Depois, é quando você atendeexatamente como ele esperava. Como ele esperava, elenão ganhou nem um bombonzinho a mais e o fato denão ter ganhado esse bombonzinho a mais já é a opor-tunidade para que o concorrente do lado dê essebombonzinho e ganhe pelo mínimo necessário.

Momento encantado, ou momento mágico, é um con-ceito também da Disney. Eles chamam de magickingdom; é o magic moment. O momento mágico é quan-do você faz com que ele supere todos as barreiras;que ele diga: “Uau!” durante o atendimento. Quandovocê tem esse atendimento, você se transforma emum cliente evangelizado. E essa é a questão. Evan-gelizar a clientela, fazer com que o cliente se torneapóstolo da sua empresa, porque essa é a promoçãomais barata e mais eficiente do nosso negócio.

O cliente absorve, hoje, qualquer benefício com uma

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velocidade enorme. Você deu uma coisa, ele já achaque aquilo ali faz parte do programa, do que ele com-prou. Então, cuidado com a atitude de ficar dando al-guma coisa para o cliente o tempo todo, sobretudo des-conto. Todos os senhores aqui presentes, tenham cui-dado com esse negócio de desconto. Desconto é umaloucura. Se outra pessoa der ao seu cliente um descon-to maior do que o que você deu, ele migra. Desconto éuma coisa de louco. Você tem de seduzir o seu clientepelo seu serviço, pelo seu atendimento, pelo seu know-how, pela sua competência, pela sua disponibilidade paraele. Esse negócio de desconto quebra a empresa, so-bretudo no nosso trade, em que cada vez as margens delucro são menores; bem menores do que já foi um dia.Então, afastem esses clientes do desconto, porque elessó fazem mal às nossas empresas.

Quando a pessoa vai resolver algum problema na nossaempresa, ou quando você contrata para um serviço, oprestador de serviço tem dois problemas para resol-ver: um é o problema técnico; é o problema que elepediu para ser resolvido; o outro problema é o seuemocional. Quando você tem um problema que éemocional, esse é mais importante de ser resolvidodo que o problema real, porque o problema real podeestar relacionado a erro técnico, mas o problemarelacional é imbatível.

Temos a qualidade técnica e a qualidade relacionalnos negócios. A qualidade técnica diz respeito às com-petências, às habilidades mínimas necessárias. E eujá disse que qualidade é pré-requisito. Então, se vocêse propõe a ser agente de viagem ou hoteleiro, tem deestar preparado para todas as características dessesserviços. Mas para a qualidade relacional, não adian-

ta você ser muito técnico se você não tiver capacida-de de se relacionar. Isso também estraga o cliente.

Todas as promoções, propagandas de marketing e boavontade de sua empresa podem ser anuladas por umúnico empregado grosseiro e indiferente. Não adiantafazer tudo, porque a ponta é o mais importante. Nãoadianta estarem todos trabalhando nos bastidores emprol do cliente se a pessoa que estiver na frente forincapaz. O Maluf diz a seguinte frase: “A pior coisaque pode existir em uma empresa é burro com inicia-tiva.” É a pessoa feliz, entusiasmada, mas que nãotem competência. Então, o relacional, com a qualida-de técnica, são fundamentais. As falhas na qualidadetécnica podem ser até superadas por um excelente re-lacionamento com o seu cliente.

Se não for agora, quando será? O presente é o únicomomento que temos para fazer algo. É preciso quecomecemos a repensar como é que está o nosso fun-cionário, como é que está o nosso cliente. Será quefazemos, diariamente, essas perguntas? Será que te-mos capacidade para ligar e dizer: “Como é que foi avisita? Como é que foi o restaurante?” Estamos negli-genciando esse processo.

O que fazer, então, com o cliente? O dizer é nada; ofazer é tudo. Temos de levar o cliente no colo, porqueeles gostam disso. Eles gostam que as malas sejamdeixadas, gostam que você segure o peso para eles; ese você se dispõe a ser prestador de serviço, é isso oque você tem de fazer.

Então, o que é preciso? É preciso que nos agigantemospelo cliente se quisermos sobreviver nesse mercadotão competitivo. Faça o possível e o quase impossí-vel, porque o possível todos fazem. O possível é a

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pessoa fazer as coisas porque faz parte da rotina. Masquando você faz o quase impossível pelo seu cliente,ele se lembra de você. Agigante-se por eles.

Faça aquele esforço extra, faça as pequenas coisas,faça o seu dever de casa; faça aqueles que você nempensou que eram de casa, mas que são, efetivamente,os deveres que o cliente não esperava, porque, digomais uma vez: o cliente se lembra de coisas que nãoestavam na programação.

É o que eu disse: a questão da evangelização dos clien-tes. Um francês tem um livro fantástico, falando dobee-marketing, que é o marketing das abelhas; é omarketing do bizzzz, do qual todos falam, todos co-mentam. É esse que encanta, ou desencanta, que pro-move ou arruína uma empresa.

Ele diz que o efeito multiplicador do cliente feliz, docliente encantado, é de cinco pessoas. Se ele é atendi-do muito bem no seu hotel, na sua pousada, no seurestaurante, ele fala para cinco pessoas. Mas se vocêatende mal, ele abre uma franquia do diabo. É isso oque ele faz. Ele conta para 20, 30 ou 40 pessoas. Ondeele puder, vai lhe dar uma ferroada.

O cliente encantado é o melhor vendedor do mundo.Você conhece um vendedor mais eficaz do que umcliente que lhe indica? Quanto ele está recebendo porisso? Nada. Uma pessoa que está em um carro diz:“Por que você comprou outro carro? Deveria ter com-prado um igual ao meu.” A senhora idosa no super-mercado, quando você vai comprar um sabão, diz:“Não compre esse; esse mancha a roupa. Compre esteaqui, que é muito melhor.” Ela não ganha nada porisso. Alavanca vendas. Para esse cliente, tínhamos deacender uma vela todos os dias. Só que as empresas

não conseguem enxergar esse cliente, porque, cadavez o relacionamento é pior. Quer multiplicar a suacapacidade de venda? Ponha um cliente para traba-lhar para você. Encante-o. Essa é a definição da mul-tiplicação dos clientes nesse mercado em que vive-mos, tão agressivo e de tanta competitividade.

O cliente está cansado de lero-lero, de nhenhenhém e depromessas não cumpridas. O que importa é o momentoda verdade. É quando você cria valor para a sua mar-ca, quando cria valor para o seu negócio, quando criavalor até para a sua empresa, porque você é uma em-presa; todos nós somos uma empresa. Ninguém serelaciona com o CNPJ; as pessoas se relacionam comoutras pessoas; e essas pessoas são as responsáveis erepresentantes oficiais da empresa. Ninguém aqui serelaciona com CNPJ nenhum. Todos se relacionamcom pessoas, representantes de empresas. Então, éimportante que, nesse momento, imprima-se o nossovalor, a nossa marca, e que a nossa empresa prospere.

Satisfazer nossos clientes significa muito mais do quebuscar essa satisfação deles. Significa muito mais por-que exige capacidade de antecipação. É o que o ame-ricano chama de visioning. Visioning é você percebero que o cliente quer daqui a dois, três, quatro, cincoanos. As empresas de telefonia celular dão uma auladisso. Cada hora eles estão com um aparelho, umanovidade. Você está com o seu aparelho novinho,mas eles lançam uma outra novidade; eles se anteci-pam muito bem a isso. Os clientes de turismo estãoum pouco preocupados, porque a capacidade de ino-vação é muito pequena. Acho que oferecemos mui-to pouca diferença em relação ao que era no passa-do. A tecnologia está sendo utilizada para alavancarnovos negócios, mas os produtos são muito pareci-

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dos. Existe uma tendência de as pessoas fazeremexatamente o desconhecido, que é buscar o não con-vencional, é fazer com que as pessoas visitem ascomunidades, que tenham maior integração, é fazercom que as experiências sejam memoráveis. Isso éque é interessante. Não é você ter casa para turista,restaurante para turista; é preciso que haja essa inte-gração e que essa integração seja natural. Antecipe-se sempre para esse cliente.

Observem a frase do Presidente da Toyota. “Nós en-sinamos nosso pessoal: não venda um carro aos clien-tes, ajude-os a comprar um.” É muito diferente, por-que, entender as necessidades, os desejos, os anseiose ter conhecimento do tamanho de família, por exem-plo, é fundamental para que tenhamos maior asser-tividade nesse processo, que é exatamente oferecer oque é melhor para o cliente. O que é melhor para ocliente é o que lhe dá mais satisfação. O que lhe dámais satisfação é o que o faz indicar nossa empresanovamente. Pode ser que se ganhe menos em um de-terminado momento, mas é importante que se consi-ga ganhar sempre. A lucratividade está nos detalhes.Se não conseguirmos perceber isso nas nossas empre-sas, estaremos jogando dinheiro no lixo. Então, exer-ça a empatia sempre. Esta é uma questão de necessi-dade das empresas: coloque-se sempre no lugar docliente. Depois, você tem essa possibilidade de criaruma solução melhor para ele.

Cliente, eu não vivo sem você. Dê um show de aten-dimento e corra para o abraço nas empresas de vocês.Acho que é fundamental.

Eu dedico a palestra de hoje a todos os clientes, a to-dos nós, que também somos clientes. É fundamental

que repensemos, todos os dias, o formato de atendi-mento, porque atendimento é dar show. Não adiantavocê achar que vai trabalhar da mesma forma todos osdias, porque, senão, já começamos a adotar a síndromeda Gabriela: “Eu nasci assim, eu cresci assim, e soumesmo assim, vou ser sempre assim; sempre Gabriela.”Essa síndrome da Gabriela tem de sumir das nossasempresas. Temos de ter a capacidade de nos renovar acada dia. Precisamos dar show para os nossos clientestodos os dias, em todos os momentos, porque todos osmomentos são momentos da verdade.

Muito obrigado a todos vocês e sucesso.

O SR. CONSELHEIRO BAYARD DO COUTTOBOITEUX – Antes de passar a palavra aos Conse-lheiros para iniciar os debates, quero aproveitar paracitar algumas presenças importantes hoje aqui noConselho.

Quem nos honra com a sua presença é o capitão ItamarFerreira. Ele é diretor de uma empresa nova no mer-cado, denominada Ponto Forte, que atende especial-mente a empresas voltadas para o turismo.

Quero também registrar a presença do senhor RaulSpinelli, Diretor do hotel União, em Caxambu. Ele estáaqui, hoje, também prestigiando a palestra do profes-sor Maurício Werner. Veio especialmente de Caxambuassistir à palestra do professor Maurício Werner.

Antes de passarmos aos debates, peço ao recém-empossado Conselheiro Paulo Solmucci Júnior que sepronuncie. Quando abri os trabalhos, hoje, não dei aele essa oportunidade. Peço, então, por gentileza, seele desejar fazer algum pronunciamento rápido, quese sinta à vontade. É um prazer para este Conselho,

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que está nesta fase de rejuvenescimento. O Conselhoestá rejuvenescendo. Quer dizer, cada vez mais estãoentrando novos conselheiros. Passo, então, a palavra.

O SR. CONSELHEIRO PAULO SOLMUCCIJÚNIOR – Obrigado. Boa-noite a todos. É uma honraestar integrando este Conselho. Quero agradecer aoPresidente e cumprimentar o Maurício pela excelentepalestra, cumprimentando também os demais Conse-lheiros – o meu amigo Daltro Nogueira, que está maisperto –, o Presidente do Conselho Fiscal da Associa-ção Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL),Jair Pinto, os estudantes aqui presentes e todos osdemais. É uma alegria ver a área de bares e restauran-tes mais próxima do turismo. Poucas pessoas sabem,mas, do faturamento total do Produto Interno Bruto(PIB) do turismo, 40% é com alimentação; 53% detodos os empregos gerados no turismo é com alimen-tação. Então, é com muita honra que recebo esse con-vite, com indicação do Professor Mário Braga, que éuma pessoa muito querida nossa, da Abrasel comoum todo. Estamos aqui à disposição, esperando po-der contribuir de alguma forma para os elevados tra-balhos que já são originados aqui deste Conselho.Muito obrigado.

O SR. CONSELHEIRO BAYARD DO COUTTOBOITEUX – Quero informar, também, que os se-nhores conselheiros receberam um livro denominadoLições de Turismo IV. É um livro editado pela Editorada UniverCidade, do Centro Universitário da Cidade.É a editora que mais produz livros na área de turismohoje no Brasil. Então, é um presente, para que os se-nhores possam conhecer um pouco das obras que sãoeditadas pela Editora da UniverCidade.

Queria felicitar o Professor Maurício Werner pela ex-celente apresentação. É muito interessante entender-mos, cada vez mais, a importância do consumidorcomo alguém que é vital para a nossa sobrevivência,e entender, sobretudo, que hoje o consumidor – e eledeixou isso bem claro durante a apresentação – é al-guém que está o tempo todo nos dando informação;ele é uma espécie de ombudsman. Na realidade, estamoso tempo todo ouvindo e recebendo uma consultoriade graça desses nossos consumidores. Nossas empre-sas sobrevivem dessa consultoria gratuita. O clienteque não diz absolutamente nada, teoricamente, nãotem nenhuma importância para a empresa. O consu-midor que vem e reclama está demonstrando, em últi-ma instância, que quer permanecer na empresa e quedemanda alguma mudança. Então, isso é vital nessafilosofia que ele nos apresentou.

Vamos passar, agora, para os debates. Peço aos Con-selheiros, por gentileza, que sejam extremamente ob-jetivos. Cada um tem três minutos para o seu pronun-ciamento. Por gentileza, cumpram esses três minutospara que possamos ouvir todos os Conselheiros quese inscreveram hoje para falar sobre o pronunciamen-to e sobre a excelente palestra do meu colega e amigo,Professor Maurício Werner.

Então, vamos ouvir, em primeiro lugar, o professorGeorge Irmes, Presidente do Sindicato das Empresasde Turismo.

O SR. CONSELHEIRO GEORGE IRMES – Boa-noite. Quero cumprimentar o Maurício, cujas pales-tras são sempre fantásticas e muito bem elaboradas.Eu, principalmente, adorei. E peço autorização parausar esse negócio de “Cem por cento Cliente – um

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show de atendimento”, porque é somente por aí quevamos conseguir chegar a algum lugar. Tenho vergo-nha de dizer que atendo a três gerações. Sou daquelaturma velha do Conselho (quer dizer, vocês estão re-novando, mas eu continuo aqui, insistindo). Tenhovergonha de dizer também que nunca anunciei a IrmesTours para o público, porque não quero cliente de rua.O que você disse é exatamente o que eu faço. Vocêtem de ser um showman, agradar o teu cliente de todasas formas, adivinhar seus sonhos. E hoje temos a sor-te de ter três ou quatro gerações viajando conosco háquase 40 anos. É o avô, o pai, o filho, e, daqui a pouco,os netos já estarão viajando. Essa é a melhor propagan-da. A melhor forma de se trabalhar é exatamente o bocaa boca, é cliente trazendo cliente. Tenho esse tipo decliente. Aquela cliente que ficou doente em Lisboa via-jou em uma excursão e, no último dia do translado,ficou hospitalizada. Tiraram-na do aeroporto e ela fi-cou lá quase 30 dias. Quase morreu, mas está ótima,maravilhosa; fez inclusive um Pólo Sul e já trouxe ou-tros dois casais para viajarem pela agência, em umacabine categoria 10, que custa muito caro, no Regal eRoyal Princess. Então, isso é verdadeiro quando vocêatende bem, quando você é gentil, educado. É isso quetemos de ensinar aos nossos clientes e a meus associa-dos. Estou tentando fazer isso. Pode dar certo. O quevocê disse aqui é a alma do negócio. Quer dizer, sevocê não atender o cliente, você não tem negócio ne-nhum. Meus parabéns; foi excelente a sua palestra.

Peço desculpas, pois preciso sair um pouco mais cedo;tenho de correr para dar aula às 21 horas, na Barra daTijuca.

O SR. CONSELHEIRO MAURÍCIO DEMALDONADO WERNER FILHO – Muito obri-

gado, Irmes. Você, para nós, é um grande guru de aten-dimento; é um grande exemplo.

O SR. CONSELHEIRO BAYARD DOCOUTTO BOITEUX – Vamos ouvir o Conselhei-ro Orlando Kremer.

O SR. CONSELHEIRO ORLANDO KREMERMACHADO – Maurício, vou ser repetitivo parabe-nizando-o por sua palestra – não apenas pela de hoje,como também pelas outras que você já pronunciouaqui neste Conselho, de uma maneira muito interes-sante –, pois acho que todos vão fazer isso. Você éuma pessoa vibrante, que conhece muito bem o as-sunto que está sendo abordado. Você tem um cabedalmuito grande. Então, sua palestra tem uma formamaravilhosa, dando atenção a todas as pessoas e prin-cipalmente mexendo com o ego de alguns conselhei-ros que estão aqui sentados. Então, não poderia dei-xar de, no meu pronunciamento, agradecer por, logono começo de sua palestra, você ter dito que nos en-controu trabalhando no teatro Arena – que hoje jánão existe mais – na peça do Constellation, organiza-da por um companheiro aqui do Conselho, o CláudioMagnavita, em que você viu a atenção que demos aosnossos clientes. E você acabou dizendo que o trata-mento que você daria à sua mãe é o tratamento queestávamos dando aos nossos clientes. Isso para nós éum elogio. Todos vivemos dos nossos lucros das nos-sas empresas, mas esse elogio é a coisa mais gratifi-cante que todos temos no nosso trabalho. É um pra-zer quando uma senhora vem, abraça, dá um beijo nanossa face e diz: “Que prazer sair com você”. Umasenhora, que foi a primeira do meu clube, já falecida,me disse: “É Deus no céu e você na terra.” Melhor do

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que isso não existe. Por mais que a gente se desdobree siga todos aqueles quesitos que você deu no SOS,sempre há um insatisfeito. Cito um exemplo de aten-dimento que posso adicionar para você: é o exemplodo goleiro, que, durante a partida do futebol defendeas bolas mais impossíveis e, por uma fatalidade, a bolaescorrega e ele toma um frango. A torcida acaba comele: “Frangueiro, estragou o jogo; perdemos por suaculpa.” O jogo poderia ter sido oito a zero; foi um só,mas aquele erro é fatal. Isso você falou, no momentoem que citou o exemplo da hotelaria: se o hoteleirolhe atende bem, você fala para cinco pessoas; se elelhe atender mal, você fala para 10.

Tenho em uma dúvida, justamente a respeito daquelecliente. Acho que você chegou já a responder, mas eunão poderia abandonar a minha pergunta, já que esta-va inscrito. Temos a nossa clientela, palavra que vocênão gosta de falar. Você diz clienteca. Mas existem aque-las pessoas que são nocivas ao grupo, que são consi-deradas verdadeiras ovelhas negras. Concordo com aidéia de que todo cliente é cliente; existe aquele clienteque, para você, é um amigo. Mas existe aquele clientedo qual você só quer o dinheiro. Se ele entrar, estáótimo, está no seu bolso. Se ele aparecer, muito bem.Por quê? Porque ele pode ser nocivo a toda a cliente-la. Você até citou muito bem; eu gostaria apenas quevocê complementasse se o que eu faço é o certo: àsvezes, esse indivíduo, sendo nocivo ao grupo, não devepermanecer. É melhor você perder uma ou duas pes-soas do que perder o rebanho todo. Essa seria a mi-nha pergunta.

E quero aproveitar para, no microfone, agradecer aoprofessor Bayard do Coutto Boiteux, que é seu colega

na UniverCidade e amigo pessoal, pelas duas oportu-nidades que me deu, no ano retrasado e no ano passa-do, de ministrar palestras na UniverCidade, nas aulasinaugurais. Então, professor, não tive essa oportuni-dade. Estou tendo, pela primeira vez, a oportunidadede agradecer em público; senti-me muito honrado.

Parabéns, Maurício, parabéns, Roberta. Já tivemoscontatos na época em que você gerenciava a parte doMiramar, de alimentos e bebidas. Parabéns tambémao Paulo. Muito obrigado, Maurício, por esta noite ma-ravilhosa.

O SR. CONSELHEIRO MAURÍCIO DEMALDONADO WERNER FILHO – Obrigado,Kremer. Na verdade, essa questão dos clientes inde-sejáveis acontece muito. Mas é preferível mesmo queperca esses clientes do que deixá-los projetar umadesgraça. Caso contrário, eles abrem a franquia dodiabo, como disse anteriormente. Na verdade, quan-do mexi no ego de alguns conselheiros, não o fiz por-que queria fazer algum elogio, aqui, em público. Foiporque nos lembramos daquilo que não esperamos.Então, naquela oportunidade, eu me lembrei de vocêno Constellation. Talvez não tenha me encontradocom você muitas vezes, mas aquilo surpreendeu.

Em uma corrida de corredor, eu vi o Irmes se desdo-brando pela moça, que estava em Portugal. Pensei queela tivesse morrido, mas, graças a Deus, não morreu.Estou cansado de ver a maneira como se comportamo Eduardo Jenner e a Leila com os clientes. Então,esses elogios só servem para fortalecer e para dar maismotivação de que esse é o caminho. O cliente feliz éo melhor cliente que podemos ter. E essa é a satisfaçãomaior. Não adianta ter um aluno que, de repente, no

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final do semestre, diz: “Como é o seu nome mesmo?”Isso é horrível, porque o aluno acaba sendo um cliente,mas ele também é um amigo. É fundamental que con-sigamos aumentar os relacionamentos. Quando aumen-tamos os relacionamentos com os nossos negócios,começamos a prospectar, a fazer coisas que nem mes-mo acreditamos que conseguimos. Parabéns, Kremer.

O SR. CONSELHEIRO BAYARD DOCOUTTO BOITEUX – Vamos ouvir o Conselhei-ro Eduardo Jenner.

O SR. CONSELHEIRO EDUARDO JENNERFARAH DE ARAÚJO – Roberta, seja bem-vinda;já está vindo tarde. Com certeza, você vai agregarmuito valor ao nosso Conselho.

Paulo, além da sua presença pessoal, que é muito im-portante, a presença da Abrasel aqui neste Conselhosó enriquece os nossos debates. A Abrasel é, hoje, umdos organismos mais importantes e mais atuantes den-tre os organismos oficiais de turismo. Seja muito bem-vindo; que você possa participar e estar sempreconosco, porque, efetivamente, isso vai contribuir paraabrilhantar todas as nossas discussões aqui.

Maurício, mais uma vez, foi um prazer imenso ouvi-lo. Não é a primeira vez que adio uma viagem. Esta-rei viajando amanhã cedo. Só não fui hoje no final datarde por sua causa, pois é sempre muito bom ouvi-lo; mesmo porque comungamos de muitas idéias nes-sa área. Praticamente 100%.

Vou fazer algumas colocações rápidas sobre a suapalestra, que, como não era de se esperar em contrá-rio, foi, mais uma vez, muito boa. Pena que aqui so-braram lugares na mesa, entre os empresários.

O SR. CONSELHEIRO MAURÍCIO DEMALDONADO WERNER FILHO – É porqueeu não sou político.

O SR. CONSELHEIRO EDUARDO JENNERFARAH DE ARAÚJO – Exatamente; e porque to-das as vezes que tocamos neste assunto, tocamos emferidas. Muitas vezes, as pessoas – e eu sou empresá-rio também – preferem se acomodar a investir nessaárea. Claro que o Governo tem sua parcela de respon-sabilidade, no sentido de mandar colaboradores, em-bora seja caro no Brasil. O Paulo sabe bem disso. Émuito dispendioso, mas o problema de atendimento égrave. Você falou sobre a questão dos 68%. Isso émuito sério. As empresas perdem muito dinheiro eainda não estão se dando conta disso. Eu fico impres-sionado com o quanto elas gastam em propaganda epublicidade, e não se preocupam em gastar, nem delonge, uma parcela disso em treinamento de pessoal.Todos nós que lidamos com treinamento aqui nestamesa – você, Bayard, Roberta, eu, Leila, Mário Braga,George Irmes, e vários outros – sabemos como hádefasagem, como há falta, e como, às vezes, é difícilcolocar na cabeça de muitos companheiros empresá-rios a necessidade de requalificação de mão-de-obra.Há uma defasagem da mão-de-obra diante das novasrealidades, pois a coisa está indo muito depressa.

Paulo, vocês fazem um trabalho bem feito na Abraselsobre isso. Eu acompanho, mas precisamos multiplicarisso, não só na Abrasel, como nas outras organizações,para que todas as empresas, como você disse muito bem,tenham uma vida cada vez mais longa no mercado.

Eu não ouvi a palavra vocação, diretamente. Não seise me passou desapercebido, mas acho que você

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concorda que a vocação também é muito importantecomo um critério na seleção dos profissionais paraessa área. E infelizmente, muitas vezes ela não é le-vada em consideração. Gostei muito de ouvi-lo sobrea aparência. Há pouco tempo – e você sabe disso,porque vocês lutam com isso – um juiz federal, emBrasília, proibiu que o termo aparência fizesse partede anúncios de contratação de pessoal, o que é umaanomalia. Ele não sabe o que é aparência. Ele estáconfundindo aparência com beleza. Você colocoumuito bem isso. Concordo inteiramente com o quevocê diz. É uma coisa importantíssima. Muitas em-presas não estão atentas a isso. Não basta investir emtecnologia. Vemos, cada vez mais, os hotéistecnológicos, cada vez mais se exigindo formação nãosó superior como pós-graduação; só que, muitas ve-zes, isso não está resultando em benefício direto parao hóspede, para o cliente do restaurante, para o clien-te das atrações turísticas, das agências de turismo, emtermos de qualidade, em acréscimo de atendimento.

Concordo inteiramente com você quando você falado risco da competição por preço. Isso só vai levar asempresas, cada vez mais, a uma situação delicada nomercado, porque estamos perdendo a possibilidade dereinvestirmos. Em uma área como a de restauração –o Paulo sabe disso bem, hoje –, se não reinvestirmosconstantemente, o grau de defasagem será muito rá-pido e a vida das nossas empresas, conseqüentemen-te, muito mais curta.

Você destacou magnificamente bem o problema dasgentilezas em excesso. Gentileza, sim, mas não emexcesso, para que não demos tudo ao cliente e, ama-nhã, ele sinta uma queda no padrão, uma queda na

consistência dos serviços. Isso pode ser fatal para onosso negócio.

Como sempre, é uma satisfação imensa ouvi-lo. Va-leu a pena adiar a minha viagem para amanhã. Muitoobrigado.

O SR. CONSELHEIRO MAURÍCIO DEMALDONADO WERNER FILHO – Muito obri-gado, Jenner, pelas palavras. Você também é um exem-plo de inspiração, sobretudo no atendimento aosclientes, que a gente acompanha.

Tradição e inovação são coisas antagônicas. Tradi-ção vem do passado e inovação é futuro; só que asduas coisas devem se complementar. Vocação é danatureza. Então, precisamos pescar essa vocação,essa aptidão das pessoas para a escolha de deter-minadas funções.

Uma coisa que esqueci de falar é que custa cinco ve-zes mais investir em um cliente novo do que cuidardo cliente antigo. Estamos o tempo todo querendoprospectar, querendo que novos clientes entrem nanossa cartela de clientes, mas é mais fácil vender paraos clientes que já são nossos, aqueles que já conhece-mos, aqueles dos quais já detemos as informações,aqueles com os quais já sabemos quais estão as opor-tunidades de negócio, porque custa cinco vezes me-nos; custa cinco vezes menos cuidar do velho cliente.Cuidado com isso.

Treinamento, como você disse, Jenner, é uma ques-tão ainda obscura na mente do empresário brasileiro.Ele só vê treinamento como custo. Ele tem de come-çar a entender que treinamento é investimento. Nãoadianta colocar um piano fantástico, um elevador que

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suba 12 metros por segundo, se o ascensorista nãosabe apertar o botão, se ele não sabe dizer bom-diaem inglês/espanhol ou seja lá em que língua for, seele não puder acompanhar esse processo tecnológico.Treinamento é um acompanhamento; e tem de estaro tempo todo trabalhando junto com a tecnologia.Muito obrigado pelas considerações.

O SR. CONSELHEIRO BAYARD DOCOUTTO BOITEUX – Vamos ouvir o Conselhei-ro Machado Sobrinho.

O SR. CONSELHEIRO ORLANDO MACHA-DO SOBRINHO – Rejuvenescer é impossível. Re-novar é um fato da própria natureza. As folhas caempara que nasçam novas; os pássaros trocam as penase assim por diante. Nasceu, em 1927, a Varig, quehoje está sendo praticamente esquartejada para so-breviver. Na mesma data, nasci eu, que estou aquiresistindo, porque estou me renovando. Estou me re-novando; e me renovo, exatamente, quando assisto apalestras como esta ministrada pelo Maurício Werner.

De tudo o que você disse, Maurício, quem abordoumelhor foi a nossa conselheira Roberta, porque fezuma demonstração de que é possível que alguém seprepare, se penteie, vista uma boa roupa, mostre umaboa aparência, para buscar o sucesso quando sai daporta de casa para fora e vai em busca do seu dia-a-dia. Isso foi o melhor que se poderia ouvir. Você valo-rizou o produto; e todos nós ouvimos melhor o queele disse exatamente porque queremos copiar o su-cesso que ele obtém.

Werner, você fechou a sua palestra com a palavraevangelização. Sem dúvida, o vocábulo evangelizaçãoevoca toda uma tradição. Há dois dias, fomos ouvir

um professor da Universidade Estadual do Rio de Ja-neiro (UERJ), que comentou a figura do Dan Brown,o autor do argumento do filme que vai entrar agoraem cartaz e que já está apavorando os religiosos, quevêm com uma pregação longa de evangelização. E elepassa por cima, com o seu trator, e destrói muitas daspercepções evangélicas que foram pregadas nos últi-mos milênios. É exatamente essa evangelização quevocê nos passa com essa quantidade de conceitos, deexemplos e de demonstrações tão práticas em relaçãoao que é a vida, ao que fazemos diariamente, às vezesinconscientemente, porque está na nossa própria edu-cação, na nossa própria formação. Por vezes, perde-mos o equilíbrio e rompemos com tudo isso; mas énatural; o próprio Cristo, à porta do templo, chico-teou aqueles que iam negociar na porta. Diz a Bíbliaque ele se indignou. Então, nós também temos o di-reito de ficar indignados. Mas a regra comum é exata-mente esta: cortejar o cliente de todas as formas, paraque ele não nos surpreenda, mas nos dê por feedbackum procedimento de figura cativa do nosso negócio,porque há uma forma de cativar o cliente. É exata-mente isso. Uma vez, uma senhora nos disse: “Perdiminha bolsa no seu carro. Não a encontraram na gara-gem?” Eu disse: “Vou indagar na garagem.” Mas nagaragem ela não foi encontrada. Passou algum tempo,fomos fazer uma viagem e descobrimos uma bolsamuito interessante que estava sendo vendida. Com-pramos e, na primeira oportunidade, dissemos: “Aque-la bolsa que você perdeu não foi achada, mas aquiestá uma nova de presente.

O SR. CONSELHEIRO MAURÍCIO DEMALDONADO WERNER FILHO – Uma salvade palmas para o Machado Sobrinho. Isso é show deatendimento.

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O SR. CONSELHEIRO ORLANDO MACHADOSOBRINHO – Quero dizer que essa evangelização quevocê prega é da maior importância. Por quê? Porque vocêestá pregando para nós, dentro do nosso negócio, umparaíso na terra. Já os evangelizadores estão pregan-do o paraíso no céu, que não está aqui. É muito maisprático você descobrir o céu na terra do que buscar,nas palavras do evangelizador, o sossego depois damorte. Vamos viver exatamente no seu paraíso, de bomsenso, de consenso com a sociedade, para tirar dela omelhor proveito em benefício de todos. Parabéns avocê pela sua palestra.

O SR. CONSELHEIRO MAURÍCIO DEMALDONADO WERNER FILHO – Muito obri-gado, Machado Sobrinho. Falando de religião eevangelização, religião vem do latim, e significa“religar”. A única coisa que as religiões não estão con-seguindo fazer hoje é juntar povos. Muito obrigadopelas palavras, mais uma vez.

O SR. CONSELHEIRO BAYARD DOCOUTTO BOITEUX – Vamos ouvir o Conselhei-ro Harvey.

O SR. CONSELHEIRO HARVEY JOSÉSILVELLO – Maurício, em primeiro lugar, queroparabenizá-lo por ter trazido a Roberta para o nossomeio e parabenizar a Roberta por ter aceitado essarecomendação. Estamos felizes com a sua presença.Igualmente também o Paulo, na certeza de que nós,juntos, somaremos uma série de interesses na melhorconquista de vitórias para o trade turístico.

Maurício, os que me antecederam disseram tantascoisas boas de você. Eu digo, simplesmente, que façominhas as palavras deles. Como seria bom se pudés-

semos, no nosso dia-a-dia, encontrar, em todos ossegmentos do comércio, dos serviços, etc. pessoas queprocedessem da forma que você está mostrando queé necessária, para que o nosso negócio realmente con-tinue tendo sucesso em todos os sentidos. Lamenta-velmente, poucas são as instituições, as empresas quese prestam a investir no treinamento, a investir noempregado. Elas consideram que investimento emempregado é custo, quando, na realidade é um inves-timento. Entendo disso porque participo dessa filo-sofia; sempre procurei investir nos meus assessores,nos meus funcionários. Mas é muito difícil.

Parabéns. Você realmente deu um show. Não tenhoperguntas, porque você fez passar na minha menteuma história que vivi também, quando era jovem comovocê: graças às empresas em que trabalhei no passa-do, que eram multinacionais, consegui – naquela épo-ca não se usava a palavra marketing, mas vendas, queé realmente o segmento do que nós fizemos hoje –aprender bastante. Hoje, fico feliz por ter jovens comovocê, como o Bayard Boiteux, que é jovem, fazendocom que façamos o certo para conquistar os nossosinteresses e o nosso futuro. Parabéns e muito obrigado.

O SR. CONSELHEIRO MAURÍCIO DEMALDONADO WERNER FILHO – Harvey,muito obrigado. Acho que também fiz força para aRoberta vir participar do Conselho, porque trabalha-mos tanto. Acho que é mais uma forma de nos vermosum pouquinho ou, pelo menos, de estar próximos.

Na verdade, concordo com o que você disse sobreinvestimento que é custo. Acho que essa é a visão doempresariado brasileiro, mas acho que está mudando,porque muitos empresários pensam assim: “Porque

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vou treinar o meu funcionário se quando ele estivertreinado ele vai mudar de empresa?” Digo a eles: “En-tão, casem-se com mulher feia, porque para mulherfeia ninguém olha mesmo.” É importante que consi-gamos ver que o treinamento é exatamente a possibi-lidade de uma reciclagem, porque vai ter sempre omelhor; caso contrário, as pessoas ficam realmente aco-modadas com o mau atendimento, como estamos co-meçando a ficar com a violência e com os outros fatosnegativos. Muito obrigado, Harvey, pelas palavras.

O SR. CONSELHEIRO BAYARD DOCOUTTO BOITEUX – Vamos ouvir a ConselheiraLeila Menezes.

A SRA. CONSELHEIRA LEILA SERRAMENEZES FARAH DE ARAÚJO – Maurício, comosempre, foi muito bom ouvi-lo. Pego carona no que oEduardo disse sobre a questão do detalhe, da palavra,vocação. Se me permite, eu diria que ela não foi escritaporque estava ao vivo. Você é, verdadeiramente, umgrande orador vocacionado. Parabéns pelo talento.

Parabéns, senhora Roberta. Estamos muito felizescom a sua vinda para o Conselho. Tenha certeza deque a senhora é o grande marketing para o professorMaurício, porque a apresentação foi excelente.

Eu gostaria também de dar as boas-vindas ao Paulo ede parabenizá-lo pela excelência das suas gestões dian-te das empresas e nas associações em Belo Horizon-te; e também pelo carinho, pela atenção que semprededicou ao Skal Internacional, de Belo Horizonte,inclusive durante a nossa Diretoria. É muito bom tero Paulo aqui e a Abrasel no nosso Conselho. Comcerteza, você estará somando bastante ao nosso tra-balho. Seja bem-vindo.

Maurício, é muito bom encontrarmos consultores quetrabalham na mesma linha que trabalhamos. Apenaspara pontuar uma questão, enaltecendo a sua idéia de100% cliente: quando chegamos nas empresas e pe-dimos, por exemplo, para ver o organograma da em-presa, nunca encontramos o cliente no organograma.Este é sempre dos setores, das gerências, das chefiase, normalmente, enquanto consultora, eu pergunto:“Onde está o seu cliente na sua empresa? Ele nãoconsta do seu organograma.” Os empresários estãosempre voltados para si próprios, e não para o seuprincipal negócio, que é o cliente. Pela oportunidadede ouvi-lo, muito obrigada. Professor Bayard Boiteux,se me permite, parabéns pela elegância na conduçãodesta reunião. Obrigada.

O SR. CONSELHEIRO MAURÍCIO DEMALDONADO WERNER FILHO – Obrigado,Leila. Realmente, o cliente devia estar lá em cima, notopo, que é o lugar do Presidente da empresa. É elequem demite o resto todo, porque, quando os negó-cios vão mal, começam a cortar o organograma. En-tão, é nesse sentido. Você falou de vocação. É precisoque percebamos nas pessoas esse talento e que moti-vemos. A motivação faz parte desse processo, porqueconseguimos gerar negócios por meio dessa inspira-ção, pois todos temos uma vida de 99% de transpiraçãoe 1% de inspiração. Então, quando essa vocação émotivada, as condições de melhoria contínua tambémfavorecem o nosso negócio. Muito obrigado.

O SR. CONSELHEIRO BAYARD DOCOUTTO BOITEUX – Antes de finalizar a nossasessão de hoje, quero deixar claro que, quando mereferi a rejuvenescer, em absoluto eu me referi a uma

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questão de idade. Eu me referi, como o meu queridoconselheiro Machado Sobrinho disse, à renovação; aque viessem pessoas de outras áreas que estivessemconstantemente participando deste nosso Conselho.Meu querido conselheiro Machado Sobrinho, idade nãoquer dizer absolutamente nada; existem pessoas quejá nascem com idade avançada. Tenho um exemplona minha família: lembro-me que eu tinha uma prima,quando criança, e ela tinha sete anos. Ela já queriame dar ordens em casa. Já queria, na realidade, tomarconta de mim. Então, isso não quer dizer absolutamen-te nada. Acho que você, por exemplo, é um exemplo

de que a juventude pode ser eterna no pensamento, naevolução, na forma como vivemos no dia-a-dia.

Eu gostaria também de pedir à conselheira recém-empossada, Roberta Guimarães Werner, que fizesse,então, a entrega do diploma ao Professor MaurícioWerner, pela excelente palestra que apresentou hoje.

Declaro encerrada a sessão. Muito obrigado a todos.

10 de maio de 2006

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Permitam que eu me apresente: eu sou AlbericoMartins Mendonça, engenheiro f lorestal, formado naUniversidade Rural em 1978 e, atualmente, estou exer-cendo o cargo de vice-presidente da Fundação Insti-tuto Estadual de Florestas (IEF), que é uma funda-ção pública, vinculada ao Governo do Estado, atra-vés da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e De-senvolvimento Urbano. Então, nós somos um órgãopúblico que está tentando organizar, dar infra-estru-tura, para as nossas Unidades de Conservação Am-bientais, para possibilitar que elas sejam utilizadas nãosó para pesquisas e estudos, mas também paravisitação pública e o turismo. Acredito que essa nos-sa vinda aqui vai ajudar a esclarecer muitos pontos,porque 90% do nosso pessoal são técnicos. Então, épreciso discutir o segmento do turismo, que tem umacaracterística muito própria, particular, e sua interfacecom o meio ambiente, porque a gente acha que essa é

uma área ótima para o turismo, mas uma pessoa queentende do turismo já não acha a mesma coisa.

Nós temos um segmento do desenvolvimento turísti-co, de alguns parques nossos, que vou falar aqui evamos precisar do apoio, talvez, do Conselho, de al-gumas pessoas que possam, até certo ponto, darconsultoria, para poder trabalhar o que é a preserva-ção da natureza e possibilitar a prática do turismo.Queremos que seja um turismo sustentável, que pos-sa, inclusive, nos ajudar a continuar preservando anatureza. Nós estamos tentando fazer uma adminis-tração – apesar do serviço público, que é tão denegri-do neste Estado, é tão denegrido no País inteiro –,com uma seriedade muito grande, por meio da im-plantação de infra-estrutura nas unidades, que vai aju-dar tremendamente o desenvolvimento desse turis-mo, que é um turismo particular, ecológico, é o

O TURISMO E O MEIO AMBIENTE

Alberico Martins Mendonça

Vice-Presidente da Fundação Instituto Estadual de Florestas (IEF).

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ecoturismo, um turismo que a gente pode praticarnessas unidades, não em todas, mas na maioria delas.Existe uma categoria, que eu vou falar aqui, em quenão é permitido o turismo, porque tem apenas a fun-ção de preservar a natureza.

A Fundação Instituto Estadual de Florestas (IEF/RJ)é o órgão responsável pelo desenvolvimento e execu-ção da política florestal, de conservação e f iscaliza-ção dos recursos naturais renováveis e de proteção àbiodiversidade do Estado do Rio de Janeiro. O IEF/RJ foi criado pela Lei nº 1.071, de 18.11.1986 e trans-formado em Fundação pelo Decreto nº 11.782, de28.8.1988.

Dentro do contexto de empresas públicas no Estado,é um órgão muito novo: tem apenas 16 anos. Nósadministramos 12 Unidades de Conservação da natu-reza, sendo oito parques, três reservas e uma estaçãoecológica. Cada Unidade de Conservação tem suacaracterística. Por exemplo, um parque estadual temuma característica, uma reserva ecológica tem outrae uma estação ecológica tem outra. Existe essa dife-renciação das unidades e, de acordo com a legislação,há uma política, uma possibilidade para cada umadelas. Queria deixar bem claro que o Estado do Riode Janeiro é contemplado com diversas Unidades deConservação: federais, estaduais e municipais. A gentesó lida com as estaduais. As Unidades de Conserva-ção federais são administradas pelo Ibama. Então,existem três níveis de Unidades de Conservação, eisso gera uma série de complicações e equívocos. Àsvezes, na hora de se fazer qualquer tipo de denúnciade alguma agressão ao ambiente, nós não podemosagir porque a Unidade de Conservação é federal. Porisso de vez em quando, ocorrem alguns contratem-

pos, por conta do nível hierárquico de administraçãodessas unidades.

Nós temos oito parques: Parque Estadual do Desen-gano, Parque Estadual da Pedra Branca, Parque Es-tadual da Ilha Grande, Parque Estadual da Serra Con-córdia, Parque Estadual dos Três Picos, Parque Esta-dual da Serra da Tiririca, Parque Estadual do Grajaúe Parque Estadual da Chacrinha.

O Parque Estadual dos Três Picos é o maior parquedo Estado. Ele fica em cinco municípios. É a subidada serra de Friburgo: começa em Cachoeira de Macacue passa por Nova Friburgo, Teresópolis, Guapimirime Silva Jardim.

Amanhã, dia 8 de junho, nós estaremos inaugurandoa sede desse parque. Ele foi criado no Dia do MeioAmbiente do ano de 2002, no dia 5 de junho, e foi umdos parques que estamos estudando mais rapidamen-te. Está sendo assim o modelo: foi criado em 2002 e,em 2006, quatro anos depois, está sendo feito seu pla-no de manejo.

O Parque da Chacrinha fica no bairro de Copacabana.Pouquíssimas pessoas o conhecem. Nós constatamosisso no dia-a-dia. Houve uma solenidade de reinau-guração de algumas obras na Chacrinha no domingo.Fizemos uma carreata pela Av. Atlântica que culmi-nou com a chegada na Chacrinha. E, para nossa sur-presa diversas pessoas, moradores de Copacabana, nãoconheciam o Parque Estadual da Chacrinha, que ficaperto da Estação Cardeal Arcoverde do metrô. Temuma subestação da Light também lá. E aqui tem umproblema muito sério: no Parque da Chacrinha, umatrativo turístico, tem um dos grandes respiradores dometrô. Vocês sabem que o metrô é todo subterrâneo,

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mas ele tem de ter respiradores, e um deles fica den-tro do Parque Estadual da Chacrinha, causando umfortíssimo desequilíbrio no parque, porque, ao mes-mo tempo em que ele capta o ar puro, ele solta aquelear poluído. Veja você como a natureza sofre para aspessoas poderem respirar dentro do metrô.

Temos também três reservas (a Reserva Biológica deAraras, a Reserva Biológica e Arqueológica de Gua-ratiba e a Reserva Ecológica da Juatinga) e a EstaçãoEcológica Estadual de Guaxindiba.

A ação do IEF/RJ é, basicamente, desenvolver eimplementar os Planos Diretores para a administra-ção e a auto-sustentabilidade dos parques. Aqui ficaresumida a nossa administração. Toda Unidade deConservação tem de ter um Plano Diretor, que é oinstrumento que regulamenta toda atividade dentroda Unidade de Conservação. É fundamental que cadaUnidade tenha um Plano Diretor e que haja auto-sustentabilidade nos parques, porque não dá para fi-car dependendo dos recursos do governo para tomarconta desses parques. Nós precisamos criar um mo-delo de sustentabilidade para esses parques, para queeles possam gerar os recursos necessários para a suaadministração. O grande problema de algumas unida-des é depender dos recursos públicos, porque eles sãoescassos, e essas administrações precisam de certaquantidade de recursos para atender à demanda dasociedade.

Outra ação do IEF/RJ é o fomento à utilização sus-tentável da área de entorno como forma de preserva-ção. Esse é o grande X da questão: a área de entorno.Área de entorno significa uma área que, pela lei, seriade 10 quilômetros em volta de cada Unidade de Con-

servação. Em diversas Unidades de Conservação nãose pode trabalhar, não se pode praticar nada dentrodelas; então, nós estamos utilizando a área de entor-no, que, além de ser uma área de amortecimento paradiminuir a pressão contra a degradação da natureza,também pode ser usada para dar sustentabilidade paraos parques. Muito parque não pode ser usado por causado difícil acesso, mas essa área de entorno possui vá-rios atrativos, como cachoeiras e trilhas. Essa área deentorno favorece tremendamente a utilização por par-te da sociedade.

(Apresenta mapas com a distribuição no Estado dasUnidades de Conservação administradas pelo IEF/RJ).

A quantidade de área que está sob a nossa tutela émuito pequena, apenas cobre parte da cobertura flo-restal do Estado. Tem as federais, como a Floresta daTijuca, o Parque da Serra dos Órgãos, Bocaina,Jurubatiba.

O que é Unidade de Conservação? É o espaço ter-ritorial e seus recursos ambientais, incluindo as águasjurisdicionais, com características naturais relevantes,legalmente instituídos pelo Poder Público, com obje-tivos de conservação e limites definidos, sob regimeespecial de administração, ao qual se aplicam garanti-as adequadas de proteção.

A Unidade de Conservação tem de ser instituída peloPoder Público, através de um decreto ou de uma lei.Não é qualquer área que é uma Unidade de Conser-vação. Ela tem de ser administrada conforme as ca-racterísticas da lei que a criou, que já define a formacomo você vai administrá-la. Como vocês viram, há

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três categorias de Unidade de Conservação; pelo me-nos pelo IEF/RJ há três categorias, que é o ParqueEstadual, a Estação Ecológica e a Reserva Ecológi-ca. Então, para cada uma delas há um tipo de admi-nistração diferenciada.

A Estação Ecológica tem como objetivo a preserva-ção da natureza e a realização de pesquisas científi-cas. O grande problema da Estação Ecológica é a proi-bição da visitação pública. Seria uma área que vocêfecha a porta, passa o cadeado e joga a chave fora.Nós estamos recategorizando algumas unidades nos-sas, para não atrapalhar tremendamente. O desenvol-vimento de qualquer tipo de trabalho, já que até apesquisa científica dependeria de autorização. NaEstação Ecológica só são permitidas alterações dosecossistemas em casos específicos. Quer dizer, ela émuito restritiva. Achamos que talvez algumas unida-des nossas não precisariam ter essa caracterização. Issotudo está sendo fruto de estudos para a recatego-rização. A gente não quer recategorizar para poder usar,apenas estamos vendo que determinadas unidades nãotêm características de Estação Ecológica e sim deParque Estadual. A Área vai continuar preservada, e,em compensação, a atividade do turismo nela seráfavorecida.

Plano de manejo é o principal instrumento para orde-nar as ações dentro de uma Unidade de Conservação.Trata-se de um documento técnico, a partir do qual,respeitando os objetivos gerais da Unidade de Con-servação, se estabelece o seu zoneamento e as nor-mas que regem o uso da área.

O plano orienta o manejo dos recursos naturais e aimplantação das estruturas físicas necessárias à ges-

tão e ao planejamento da Unidade, assegurando, des-sa forma, a manutenção do equilíbrio dos recursosnaturais. É exatamente aqui, com o plano de manejo,que são definidas as áreas de interesse turístico.

Por que o plano de manejo é interessante? Porque elevai definir a área de preservação da vida silvestre, aárea de prática de turismo. O plano de manejo vaidefinir, por meio do zoneamento, onde e o que se podefazer dentro de uma Unidade de Conservação. A gen-te chama plano de manejo de Plano de Manejo Dire-tor. Então, a partir do momento em que há um planode manejo, potencialidades da área podem começar aser estudadas para gerar recursos para ela. O plano demanejo favorece a sustentabilidade das unidades.

Nós estamos também criando para cada Unidade nossaum logotipo, uma marca. Temos o logo do IEF/RJ. Ologotipo do Parque Estadual do Desengano é aestilização do macaquinho Muriqui, já que é um dospoucos redutos em que ele pode ser encontrado noBrasil, Santa Maria Madalena que é onde fica a sededo parque. Esse é o do Parque Estadual dos Três Pi-cos eu sempre vi quatro, mas dizem que são três picossó. Esse aqui é o da Serra do Capacete, onde fica oParque Estadual da Chacrinha: há uma espécie quesó ocorre lá, então, há uma flor dela e uma borboletaestilizada. Para o Parque Estadual da Pedra Branca, afloresta, o relevo e o mar. Esses são os logotipos daEstação Ecológica de Guaxindiba, Reserva Ecológi-ca da Juatinga, Ilha Grande, Tiririca e Grajaú. ATiririca tem uma característica muito engraçada: temestilizada uma perereca que só ocorre, no mundo in-teiro, naquela região, no costão do Itacoatiara, nabromélia. A natureza é muito interessante. Há uma

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tese de pós-graduação de um estudante que compro-va que essa perereca só ocorre nas bromélias daTiririca, ou seja, é uma espécie endêmica. Então,quando a gente briga para preservar as bromélias doscostões rochosos da Tiririca, é para não acabar comessa espécie. É essa característica que a gente tentadescobrir nas nossas unidades. Esses planos diretoresfavorecem as pesquisas, para identificação da flora,da fauna características dessas unidades.

O Parque Estadual do Desengano foi criado em 1970.Ele está localizado em Santa Maria Madalena, Cam-pos e São Fidélis, e tem uma área de 22.400 hectares.Constitui-se o último remanescente contínuo de mataatlântica.

O primeiro plano de manejo de um parque do Estadodo Rio de Janeiro foi para o Parque Estadual do De-sengano. Então, esse parque começa a se preparar paraa gente desenvolver um plano turístico para a região.Falamos região porque são três municípios: SantaMaria Madalena, Campos e São Fidélis. Mas o focomaior do Desengano é sempre vinculado à Santa Ma-ria Madalena, porque a sede do parque fica lá. Estamoscomeçando a desenvolver um plano de turismo paraSanta Maria Madalena, porque tem outros apelativos:é a terra da Dercy Gonçalves, tem um trabalho depedras no Município. Com essas outras característi-cas, vinculadas ao Parque Estadual do Desengano, épossível criar um roteiro turístico para as pessoas vi-sitarem, porque sabemos que não se consegue desen-volver o turismo apenas com a visitação do parque.Então, nossa idéia é conjugar uma série de outros fa-tores para incentivar o turismo. O parque, por si só, játem vários atrativos. Mas estamos procurando tam-bém, principalmente no turismo rural. A parte mais

apelativa do turismo rural é a gastronomia. Tambémprocuramos identificar os locais típicos, as pousadas,os restaurantes e os pontos turísticos que possamatrair a população. Consideramos que, talvez, possaser feito um turismo mais regional, talvez um turismoestadual. Vinculando Nova Friburgo e Macaé, talvezseja possível desenvolver um turismo muito bom noDesengano, a partir desses pólos mais fortes, que sãoNova Friburgo e Macaé. Poderíamos fazer um traba-lho nessa região de concentração de renda e, a partirdaí, fazer um trabalho de visitação no parque. Nóstemos diversos atrativos turísticos dentro do parquee principalmente na sua área de entorno; os principaissão as cachoeiras, uma quantidade muito grande decachoeiras no entorno do Parque do Desengano. Aárea do entorno cria toda a condição, por ela ser mui-to maior – acho que são três vezes a área do parque –,para desenvolvermos um trabalho turístico que tenhacomo atrativo o parque. O parque é de difícil acesso.É muito alto e composto de rochas. Isso tem umavantagem: ele é até um pouco mais preservado queos outros parques por conta disso. Vamos trabalhar aregião do entorno que tem diversos atrativos turísti-cos também. Mas, nada impede de se fazer uma trilhadentro do parque. A questão de trilha não atrapalhaem nada, não degrada a natureza, não tem problemanenhum. Mas a maioria das trilhas do parque têm deser trilhas guiadas, porque ele é muito grande e é mui-to fácil de se perder. Nós temos o Plano Diretor doparque e estamos com obras de infra-estrutura, que éa construção do Centro de Visitantes. O turista/visi-tante chega ao parque e tem um lugar, o Centro deVisitantes ou a Sede, em que ele pode saber tudo oque acontece lá. Tem muita gente que visita o Centrode Visitantes e a Sede e vai embora. Esse é um local

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que reúne todas as informações do parque. Em todosos nossos parques nós estamos trabalhando a cons-trução desses Centros de Visitantes, que vão ser aporta de entrada do parque, ou seja, não queremosque a pessoa vá direto para o parque. Ela deve sem-pre passar pela administração, conhecer tudo que temno parque, tudo que ela vai ver e, a partir dali, iniciaras caminhadas, as trilhas, as visitas.

Nós também estamos construindo em todos os par-ques Núcleos de Prevenção e Combate a IncêndiosFlorestais, porque um dos grandes problemas nas nos-sas Unidades de Conservação é a questão do fogo.Estamos reformando as sedes, porque a maioria des-ses parques tinha sedes muito precárias. Estamos ad-quirindo equipamentos de combate a incêndio e veí-culos para a fiscalização do parque e contratandoguardiões selecionados na região para ajudar a admi-nistração do parque, na implantação de um Programade Educação Ambiental e Práticas Sustentáveis e emum Programa de Divulgação e Comunicação.

Conseguimos aqui no Estado, mediante uma lei fede-ral (Lei Federal nº 9.985), que é conhecida como aLei do Sistema Nacional de Unidade de Conservação(SNUC), que qualquer empreendimento implantadono Estado do Rio de Janeiro que cause algum tipo deimpacto ambiental seja obrigado a destinar 0,5% dovalor total do empreendimento para projetos de com-pensação ambiental. Nesse caso, a El Paso Rio ClaroLtda. construiu uma termoelétrica em Macaé, na BR101, no Brejo da Severina, e foram obrigados a apli-car 0,5% do valor do empreendimento em uma Uni-dade de Conservação, e nós elegemos o Parque Esta-dual do Desengano. Toda essa gama de investimen-tos feitos no parque veio dessa empresa, para atender

ao programa de compensação ambiental. Esse foi ogrande gancho que tivemos na área de meio ambien-te. Nós tivemos outro gancho: infelizmente ou feliz-mente, eu não sei, quando há um grande dano am-biental, os órgãos conseguem arrumar recursos paraadministrar essas unidades. Por exemplo: quando hou-ve o rompimento do duto PE 2 da Petrobras, na Baíada Guanabara, no ano de 2000, a multa foi 50 mi-lhões de reais. Foi a salvação do meio ambiente doRio de Janeiro. A Baía da Guanabara sofreu, mas omeio ambiente do Rio de Janeiro ganhou muito. Oúnico Estado na América Latina que tem um aviãopara incêndio florestal é o Rio de Janeiro, e foi com-prado com esses recursos e com parte de recursos doGoverno do Estado. É um contra-senso, um con-traponto: a ocorrência de um grande dano ambientalgera a liberação de recursos, mediante multas que sãoaplicadas, para se cuidar do meio ambiente. Tem gen-te que é favorável, tem gente que é contra. Mas, eu,como dirigente de uma administração pública, pensoque já que aconteceu o dano os infratores têm de pa-gar mesmo, isso pode ser revertido para o meio ambien-te. Tem os prós e os contras. Na questão desse dutoda PE 2, a Petrobras teve de implantar o duto PE 3 epagar uma compensação ambiental. Então, conseguiu-se reverter, seis anos depois, a situação: hoje o dutofoi novamente colocado lá e a Petrobras está pagan-do a compensação ambiental. Além de pagar a multa,depois que ela consertou o dano, ela foi obrigada apagar uma compensação ambiental.

Nós temos no Parque Estadual do Desengano cobra-cipó, sauá, maitaca-depeito-cinza. Existe também umtrabalho de identificação de todas essas espécies, ve-getais e animais, e isso vai formando esse documento

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que a gente chama de Plano de Manejo Diretor. Umdos estudos é o da fauna e da flora locais, que ajuda aidentificar tudo que temos nesses parques e fica à dis-posição do visitante; na hora em que ele visita umaunidade, ele pode saber a história de cada um dessesanimais ou vegetais. Há também essa característicade fornecer informação a quem visita, para ele sabero que vai ver, poder identificar na hora em que entrarna mata. A idéia de ter esses estudos não é só parapesquisa, mas também para informação. Tem um tipode turismo muito apreciado na Europa, a visualizaçãode animais; não é caçar ou pescar, apenas ter pontosde observação de animais. As pessoas querem saber oque têm para ver, se interessa ver ou não. Isso fazparte dessa conciliação da preservação do meio am-biente com o turismo.

A característica do Desengano é a formação rochosa.Às vezes, as pessoas não têm interesse em conhecer;mas perto dela há uma cachoeira. A pessoa vai para oDesengano e fica tomando banho em uma cachoeira.É um programa muito bacana, muito interessante. Nósjá tivemos oportunidade de praticar isso um dia lá efoi muito legal. Você vai para o Desengano, mas aca-ba, no final, tomando um bom banho de cachoeira,renovando as energias, para voltar para o Rio de Ja-neiro no dia seguinte.

No nosso Centro de Visitantes há uma exposição per-manente, com todas as informações sobre o parque.A nossa grande luta é para que o visitante sempre váao Centro de Visitantes para conhecer o que o parquetem, e, a partir daí, se interesse por algum tipo de ati-vidade. Temos a sala de exposição, uma cafeteria, umauditório – para o qual demos o nome de Dercy Gon-

çalves, porque ela é a maior divulgadora do Municí-pio de Santa Maria Madalena, já que ela é de lá –,uma sala multimídia, uma exposição permanente cha-mada “Fábrica da Natureza” e um anfiteatro. É mui-to freqüentado. A gente trabalha nesse espaço comeducação ambiental para crianças de escolas. Masqualquer adulto fica muito impressionado. Essa ex-posição “Fábrica da Natureza” é muito interessante:fala das folhas, dos frutos, das sementes; é muito ba-cana e tudo é bem ilustrado.

No Parque Estadual da Pedra Branca, temos ummarketing muito forte, desenvolvido agora. O parquefica na Zona Oeste do Rio de Janeiro, é, comprova-damente, a maior floresta urbana do mundo. Uma re-vista internacional veio fazer um levantamento e com-provou isso. O pessoal fala muito que a Floresta daTijuca é a maior floresta urbana do mundo. É menti-ra, a Floresta da Tijuca tem três mil hectares. O Par-que da Pedra Branca tem 12.500 hectares, quatro ve-zes a área da Floresta da Tijuca. Agora, se a gentetirar as áreas desmatadas, as áreas em que há pressãourbana, sobram ainda 6.000 hectares na Floresta daPedra Branca. Então, de área, de mata, é a maior flo-resta urbana do mundo. A gente não fala nem no ta-manho dela total, 12.500 hectares. Tirando tudo quenão é mata, ainda sobram 6.000 hectares.

Estamos usando muito esse marketing. É um parqueque está preparado para receber o turismo. Primeiro,porque ele é aqui pertinho: a entrada oficial dele é nobairro da Taquara, em Jacarepaguá. Ele tem tambémo Pico da Pedra Branca, considerado o ponto maisalto da cidade, com 1.024 metros de altitude. Essa éuma característica muito interessante, porque tem

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pessoas que gostam de escalar e escalam muito essapedra.

Lá, nós temos, em termos de infra-estrutura: a Casado Zanini, onde foi implantado o Centro de Visitan-tes; a sede do Pau da Fome; a Casa da Cedae, que ficana subsede do Camorim. São estruturas que têm umacaracterística especial e que a gente reformou. Nósestamos construindo guaritas. Temos o espaço mul-tiuso, quiosque para alimentação, loja, sanitários,bromeliário e minhocário. Na parte mais alta, por serum parque considerado da cota cem para cima, eletem uma área preservada muito grande. Mas está so-frendo uma pressão muito forte. Há outro contra-sensona nossa administração: quanto mais a gente preser-va as áreas, mais a população quer morar nelas. Nósestamos tendo problemas sérios. O Rio de Janeiro estáse expandindo para o lado. Barra da Tijuca já lotou.Agora é Recreio e também Vargem Grande e VargemPequena. A área de Vargem Grande e Vargem Peque-na fica no Parque Estadual da Pedra Branca. Temostido problemas seríssimos com a implantação de con-domínios nessa região e toda a apelação é: venha morarperto da natureza. Quanto mais a gente preserva, maistemos problemas para f iscalizar. Todo mundo quermorar nessas áreas, porque diz que a qualidade de vidaé melhor, e realmente é. Tivemos também tratamen-to paisagístico, implantação de trilhas. Uma forte ca-racterística da Pedra Branca são as trilhas que sãomuito interessantes. Temos a exposição permanentede Educação Ambiental no Núcleo Pau da Fome; aimplantação do Núcleo de Prevenção e Combate aIncêndios Florestais. Essa é uma preocupação muitogrande nossa. O Governo do Estado tem um convê-nio entre o IEF e o Corpo de Bombeiros, por meio do

qual estamos instalando o Núcleo de Prevenção a In-cêndios Florestais. O IEF só pode fazer prevençãoporque o combate a incêndio florestal é prerrogativado Corpo de Bombeiros. Nós estamos criando essesnúcleos porque, por exemplo, a Pedra Branca é o par-que que mais pegou fogo no Estado ao longo dos anos,apesar de as ocorrências terem diminuído bastante,por causa de uma ação chamada “Notificação Pre-ventiva”. Estamos lançando o programa “IncêndioZero/Zero”, cuja finalidade é diminuir, se possível azero, a ocorrência de incêndios florestais aqui no Es-tado do Rio de Janeiro. Nessa época em que vai co-meçar a estiagem, estamos lançando esse programa,cujo principal foco é prevenir o incêndio florestal atra-vés dessa “Notificação Preventiva”. Visitamos todasas propriedades que fazem divisa com o parque, le-vando informação sobre a não realização de fogueira.Começa com o foguinho. O que acontece nas proprie-dades no entorno? A pessoa varre o seu quintal, juntaaquelas folhas secas e taca fogo. Se pegar um vento, afagulha desse fogo passa para dentro do parque, e umincêndio dentro de um parque é um trabalho muitogrande para a gente combater. Então, no Parque Es-tadual da Pedra Branca, temos um cuidado muito gran-de com a prevenção a incêndios florestais. Estamostendo vitórias: apesar de estar pegando fogo, temosnotado que isso ocorre sempre nas mesmas áreas, egeralmente pega fogo no capim, e não nas áreas quetêm vegetação arbórea, arbustiva. Está pegando maisfogo em áreas rasteiras. De qualquer maneira, temostido um cuidado muito grande. Hoje, nós fizemos, naPraça XV, uma encenação de malhação do balão. Pe-gamos crianças de escolas e colocamos uns balões paramalhar, porque o que queremos é chamar a mídia para

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divulgar esse trabalho que temos feito com relação àquestão dos balões. Teve um grande supermercadoque, no ano passado, fez uma campanha de balão, enós ligamos para lá e conseguimos transformar a cam-panha deles em um trabalho de educação ambiental.Até isso ficamos observando: qualquer alusão a sol-tar balão, qualquer comércio, e vamos em cima e ten-tamos dissuadi-los dessa idéia. Nós estamos tentan-do mesmo é acabar com a questão do balão, porquea maioria cai na floresta, os grandes principalmente.A sorte é quando cai apagado, o que é difícil; mas,quando cai aceso, a destruição é total. Temos umfolder institucional que vou distribuir para cada con-selheiro.

A gente considera que o parque está preparado parareceber turistas. Já há um turismo que não é muitolegalizado pelo IEF/RJ. Mas diversas empresas deturismo fazem esse tipo de turismo, que é o turismoecológico. Muitas empresas fazem caminhadas den-tro do parque, porque esse parque tem muita trilha e,realmente, são trilhas muito bonitas. Estamos tentan-do organizar isso. Agora estamos fechando o plano demanejo do parque para organizar melhor essa ativida-de turística. Na sede, no Pau da Fome, nós já temosum trabalho muito bom, feito na primeira fase pelaFundação Roberto Marinho e pela WWF, e na segun-da fase, estamos fazendo com o Grude, que é um gru-po de defesa ecológico. Nesse local há uma salamultiuso, que chamamos de exposição permanente,com uma série de características da floresta; é muitointeressante. Tem um painel com a cara de um bicho;você aperta a cara do animal e sai o som que ele fazna floresta. Há um trabalho muito grande de educa-ção ambiental, vinculado a esse parque e no entorno.

Realmente, é um dos parques mais desenvolvidos emtermos de trabalhos turísticos no Município do Riode Janeiro. O parque foi todo organizado e esse traba-lho foi feito pela Fundação Roberto Marinho.

O Parque Estadual da Ilha Grande, é considerado oparque mais conhecido no mundo. Eu acho que tal-vez ganhe de Fernando de Noronha e de outros par-ques no Brasil. A quantidade de turista que vai lá émuito grande. Ele foi criado em 1971, em Angra dosReis, e tem 5.559 hectares. Agora, estamos com umtrabalho de ampliar esse parque para quase a ilha toda.A Ilha Grande tem várias Unidades de Conservação;tem uma da Feema, uma do IEF/RJ. Estamos que-rendo que toda a área natural vire parque para poder-mos pensar em desafetar, que é como a gente fala,essas áreas que já são construídas. É o caso da Vilado Abraão, que é por onde você entra basicamente naIlha Grande. Mas nós temos tido problemas muitosérios nas épocas de carnaval, Semana Santa e feria-dos prolongados no Rio de Janeiro, porque a capaci-dade da ilha não suporta a quantidade de turistas quetêm entrado lá. O maior problema que isso acarreta éo lixo. As pessoas não entendem que estão em umailha. O problema do turismo na Ilha Grande é a ques-tão do lixo que se deixa após um final de semana pro-longado. A ilha não tem condição de processar o lixoque é deixado pelos turistas. O parque tinha um pla-no de manejo de 1991, e nós estamos agora atuali-zando esse plano de manejo, porque a questão do tu-rismo na ilha realmente avançou demais, acarretandouma série de problemas, como a questão de infra-es-trutura: não tem moradia para todo mundo, não tempousada para todo mundo. Então começa a aparecercamping clandestino, camping selvagem – que é pior

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do que o clandestino. No camping selvagem o sujeitovai com um saco de dormir e dorme dentro da mata.Neste ano, na véspera do carnaval, na sexta-feira decarnaval, nós tivemos que desalojar 300 pessoas, cembarracas, tudo clandestino. É uma complicação mui-to grande. As pessoas reclamam. Mas é complicado,porque, realmente, as condições sanitárias são preca-ríssimas. Imagine em uma praia, que não tem nenhu-ma rede de esgoto coletora, cem barracas!! É impos-sível!! Agora a gente está conseguindo conscientizaras pessoas, fazendo uma campanha muito grande parasó visitar a ilha se tiver alojamento, pousada ou hotelreservado. Muitas das vezes somos obrigados a ficarno ancoradouro quando chega a barca e devolver aspessoas, porque a ilha não tem capacidade, e essaspessoas começam a adentrar a mata, sem nenhum tipode conhecimento, chegam no primeiro lugar que pu-der, geralmente procuram uma cachoeira, derrubamtodas as árvores em volta, montam uma barraca, pas-sam os quatro a cinco dias de carnaval lá, depois vãoembora e largam tudo – quando não fazem fogueira epega fogo na mata.

Já tem um projeto de lei na Assembléia para aumen-tar o parque dentro da ilha – o parque hoje ocupa umpouco menos da metade da ilha. A Ilha Grande é umadas unidades de conservação mais bonitas que temos.Esse é o grande problema: quem vai lá quer voltar. Agente sente que o turismo do Rio de Janeiro tem umolho muito grande para cima da Ilha Grande, porqueela já é conhecida no mundo. O que precisamos éapenas organizar esse turismo, porque o produto émuito bom, é vendável e vende fácil. Há dois tipos depraia na Ilha Grande: a praia de dentro, tipo uma en-seada, que é o Abraão; e a praia de fora, que é de mar

aberto. Nós temos várias praias lindíssimas lá dentro.É um produto extremamente vendável. Mas têm sur-gido vários problemas para nós por ser uma Unidadede Conservação, que tem várias características dasquais não se pode fugir. Somos procurados por diver-sas empresas de turismo que querem explorar a IlhaGrande. Somos muito pressionados pelo pessoal deSão Paulo. Eles até dão muito mais valor do que opessoal do Rio de Janeiro. O pessoal de São Paulo, sepudesse, comprava a Ilha Grande. Se colocar à vendaeles compram. É impressionante a quantidade deempresários paulistas que estão investindo na região.

A Ilha Grande tem outros atrativos: o Pico do Papa-gaio, o gavião carcará, o Aqueduto, a f lora, o IpêAmarelo, o Barbudo ou Bugio. Existe uma história –bonita ou feia, não sei –, da Ilha Grande: o presídio.Ele foi um ponto de parada de escravos. A ilha temum estigma muito grande. Eu acho que é isso queatrai as pessoas. Graciliano Ramos ficou preso lá. Temum apelo muito forte e isso agrada tremendamente,principalmente o turista estrangeiro, que adora essashistórias. Quanto mais história você conta, mais opessoal fica fascinado, volta e fala para outro. Se forfeita uma pesquisa na ilha com diversos turistas es-trangeiros, veremos que é a segunda ou a terceira vezque estão lá. Por isso, eu falo: quem vem, volta sem-pre ou fala para outros, para algum parente ou amigo.Muitos vão direto para a Ilha Grande e não passamnem pelo Rio de Janeiro. A gente sente que esse tal-vez seja o parque de maior interesse turístico em todoo Estado do Rio de Janeiro, e estamos investindo agorapara melhorar suas condições. Já fizemos a reformadas nossas estruturas, criamos um Centro de Visitan-tes e agora estamos colocando infra-estrutura dentro

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desse Centro, quer dizer, estamos procurando melho-rar. O problema na Ilha Grande são esses grandes fe-riados do Rio de Janeiro. Fora isso, consegue-se admi-nistrar bem a ilha. Tem brigas até com a Conerj porcausa das barcas; às vezes, eles põem barca extra. Agente acha que a ilha deve ter capacidade de, no má-ximo, cinco mil pessoas e nesses grandes feriados chegaa 7.500; teve um feriado que chegou a 10 mil pes-soas, o dobro da capacidade. É muito complicada aquestão do turismo na Ilha Grande, porque todo mun-do quer fazer turismo lá.

O Parque Estadual da Serra da Concórdia e o ParqueNatural Municipal do Açude da Concórdia ficam emValença. Nessa região temos dois parques: um muni-cipal e um estadual. O parque municipal foi criadoem 2002 e tem uma área de 804 hectares. É uma áreapequena, devido à localização dele, no Município deValença, Serra da Concórdia. As pessoas podem visi-tar Valença por algum outro motivo e a gente entãosugere que visite o parque também. O parque muni-cipal tem uma estrutura boa. Mas o parque estadualtem área de preservação mesmo. Não tem um atrati-vo turístico mais forte. É apenas para compor a vege-tação. O atrativo é o Açude da Concórdia, que ficano parque municipal, que é quase colado ao estadual.O Açude da Concórdia é uma área muito bonita den-tro do Município de Valença, é uma área de vegeta-ção arbórea. Vale a pena, estando em Valença, co-nhecer o Parque da Serra da Concórdia. Seu plano demanejo deve ficar pronto até o mês de julho.

O Parque Estadual dos Três Picos foi criado em 2002,com 46.350 hectares, e localiza-se em cinco municí-pios: Cachoeira de Macacu, Teresópolis, Friburgo,

Guapimirim e Silva Jardim. No dia 8 de junho, vamosinaugurar sua sede, no Município de Cachoeira deMacacu. É o maior parque estadual do Rio de Janeiro,localizado em um dos mais expressivos fragmentosda mata atlântica. A sede principal vai ficar em Ca-choeira de Macacu, e vamos colocar subsedes em Tere-sópolis, Friburgo, Guapimirim e, provavelmente, emSilva Jardim.

Nós estamos fazendo o plano de manejo e o levanta-mento fundiário, que tem de ser feito em toda unida-de, porque o parque é criado independentemente daposse e depois isso gera uma confusão com o donodas áreas dentro do parque, porque ele tem de ser in-denizado e não há dinheiro para isso.

Nós fazemos nesse parque um curso de Combate aIncêndio Florestal. Estamos sempre capacitando nos-so pessoal, porque não podemos combater, apenasauxiliar. A gente auxilia os bombeiros no combate;mas quem combate é o bombeiro. Damos o treina-mento aos nossos guardiões, caso seja identificadaalguma fumacinha no princípio, para poder atuar e nãodeixar acontecer um incêndio.

Tem o famoso Três Picos, que é o cartão postal doparque. Essa formação rochosa conhecida como TrêsPicos é um dos pontos mais procurados pelo pessoalque escala. Tem um grupo no Rio de Janeiro que fazisso. Existem pessoas que capacitam quem queira fa-zer escalada também.

No Parque Estadual da Serra da Tiririca, que fica en-tre Maricá e Niterói, o atrativo maior é a praia deItaipuaçu. Ele tem 2.113 hectares; é um parque rela-tivamente pequeno, mas de uma importância muito

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grande por causa daquela perereca que só ocorre nes-se costão rochoso, em bromélias. No mundo inteiro,ela só ocorre aqui, é uma espécie endêmica – inclusi-ve a tese de pós-graduação de um funcionário nossocomprovou a ocorrência dessa perereca só no ParqueEstadual da Serra da Tiririca. Temos um trabalhomuito forte e lá tem um apelo popular muito grande.É o parque que tem a maior quantidade de ONG’stomando conta da área. Há um Núcleo de Prevençãoa Incêndio e construímos agora uma nova sede emItaipuaçu, em Maricá. Devido ao problema dedespoluição da Baía da Guanabara e ao Programa deDespoluição da Baía de Guanabara (PDBG), nós con-seguimos construir a sede do parque, com boa infra-estrutura, e o parque está melhorando muito. A áreasofre uma pressão imobiliária muito grande, porquefica entravada entre loteamentos. Hoje há uma ques-tão: o parque tem um limite de 93 e foi proposta umanova limitação de 99. A grande discussão do antigolimite do parque com o futuro limite tem dado muitaconfusão, porque ele é um dos parques que sofremaior pressão de loteamentos e condomínios emNiterói, porque Niterói está crescendo para o lado donosso parque, para o bairro de Itaipú, Itaipuaçu. Éum dos parques que tem dado mais polêmica em rela-ção ao licenciamento ambiental de loteamentos e con-domínios. O Parque Estadual da Serra da Tiririca ago-ra, com aquela sede que inauguramos, já pode rece-ber visitantes. Ele tem três principais trilhas que sãomuito interessantes. Lá é praticado o famoso surfe depedra: a pessoa desce aquele costão a pé; já ocorreuaté uma morte, porque é um esporte muito radical,mas é muito apreciado. A pessoa desce a pedra cor-rendo, ladeira abaixo, mas em uma condição bem pre-cária. Tem de ter perna, tem de ter estrutura. Mas o

pessoal gosta disso. Também é um parque que temuma visitação muito intensa, tem uma vista muito ma-ravilhosa, e agora é que a gente está começando aorganizá-lo. Ele estava muito desorganizado. Estamosconstruindo nos nossos parques muitas guaritas, quesão apenas para controlar o acesso ao parque. A gen-te não quer proibir nada, apenas controlar e identifi-car as pessoas para entrar, porque tem hora para en-trar e para sair. Estamos procurando e delimitando asprincipais entradas e saídas do parque e nesses locaisconstruiremos guaritas de acompanhamento. Chamaguarita para acompanhar a visitação e não para proi-bir a entrada. A gente tenta normatizar essa visitaçãoaos parques, porque o pessoal ainda usa muito o par-que para fazer o que não deve. No Parque Estadualdo Grajaú, no bairro do Grajaú, você vê toda a pres-são imobiliária, mas estamos conseguindo manter. Éum parque que tem 55 hectares, é bem pequenininho,e tem, principalmente, aquela Pedra do Andaraí, con-siderada um marco notável. O local é o Pico do Per-dido, mas é conhecido pela Pedra do Andaraí, de ondese vê diversos pontos do Rio de Janeiro. Os atrativosdo parque são algumas trilhas. No caso desse parque,é preciso ter cuidado, porque a marginalidade atrapa-lha, incomoda, toma conta. É complicado. Talvez sejamelhor ficar só na sede do parque. É até perigoso an-dar sem acompanhamento nas trilhas. O problema é apessoa que, às vezes, entra na mata sem nos comuni-car, e aí tem alguns probleminhas. Quando a gentetem o domínio da situação, não tem problema nenhum.Agora estamos criando as trilhas interpretativas, emque é possível identificar todas as árvores, todos ospontos, tudo que tiver na trilha com placas. Estamoschamando isso de trilha interpretativa. E a finalidadeé apenas tornar mais agradável a caminhada nas tri-

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lhas. Isso também é muito aceito pelos visitantes dosparques.

O Parque Estadual da Chacrinha, que fica em Copa-cabana, também tem uma área pequena, 3,7 hectares,e é um parque que a gente considera uma área de lazerdiferente da praia em Copacabana. Realmente é umaárea de lazer muito interessante. É um parque muitovisitado por babás e bebês. A gente está querendoampliar o Parque da Chacrinha em direção ao Morrodo São João. Ele vai ficar um parque bem grande. Jáestamos com um decreto encaminhado ao governopara ampliar. O parque é muito bem localizado. É umaárea de vegetação bem preservada, bem protegida. Nodomingo passado, nós reinauguramos o parque, comas instalações novas e reformadas. Agora ficou bemmais bonito, porque nós demos um trato paisagísticonele.

A Reserva Biológica de Araras, que fica localizada noDistrito de Araras, em Petrópolis, foi criada em 1977e tem dois mil hectares. É uma reserva relativamentepequena. O atrativo principal dela é a vegetação esua finalidade maior é a preservação. Para a questãodo turismo ainda não está preparada.

A Reserva Biológica e Arqueológica de Guaratiba, quepode ser na descida da Serra da Grota Funda, na ZonaOeste, tem 3.600 hectares, sua grande característicaé a presença de manguezais. Com todos os problemasque isso acarreta, é um lugar que tem uma expressãomuito grande e faz a proteção da Restinga da Maram-baia. Tem uma unidade do Exército lá dentro, o Cen-tro Tecnológico do Exército, e isso ajuda também apreservar bem a área. Mas a gente ainda tem proble-mas de pesca predatória. Quem conhece a Reserva

vê que tem uma estrada que vai da Pedra até a Barrae que é cheia de restaurantes, que oferecem frutos domar, muitos deles pescados clandestinamente dentroda Reserva. A gente tem atuado nessa questão, masnão ganhamos sempre essas batalhas. Mas continua-mos fiscalizando, e até que conseguimos fazer issorelativamente bem. Essa Reserva terá de ser recate-gorizada, porque não existe mais esse termo na Leido Snuc e a gente tem de se adaptar à lei. Essa reser-va terá de ter outro nome, porque não é mais reco-nhecida entre as Unidades de Conservação aceitas pelaLei do Snuc. Essa é uma região muito bonita, muitointeressante e diferente. É um tipo de Unidade deConservação em que você não vê árvores altas. É tudorasteiro.

A Reserva Ecológica de Juatinga fica no Municípiode Parati. É outra região muito apreciada. O turismoainda é um turismo um pouco selvagem, não tem qua-se infra-estrutura alguma, é uma área quase de pre-servação permanente. E tem praias muito bonitas.Essa região sofre uma pressão muito grande do turis-mo, porque é muito agreste, é vegetação e praia, nãotem muita infraestrutura, não tem muita casa, não temquase nada, o que a torna uma região muito bonita.Como ela ainda não tem plano de manejo, é muitopouco estudada. A gente está procurando fazer o pla-no de manejo para depois ver o que se pode fazer. Éuma região muito bonita e está tendo uma pressãomuito grande para o desenvolvimento do turismo, aimplantação de hotéis, resorts e pousadas.

O Parque Natural Municipal Jardim Jurema é um par-que muito interessante que fica no Município de SãoJoão de Meriti. Tem uma área bem pequena: seis hec-

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tares. É um dos últimos remanescentes de mata atlân-tica na Baixada Fluminense. Nós estamos criando esseparque em São João de Meriti porque este é conside-rado um dos municípios mais poluídos do Rio de Ja-neiro, pois abriga um afunilamento da Via Dutra. Aquantidade de partículas em suspensão causadoras depoluição, é muito intensa, e a ausência de ventos muitoforte. Como não tem vento, ocorre um afunilamento,e há um engarrafamento diário em São João de Meriti,saindo da Linha Vermelha para entrar na Dutra, e daDutra para chegar ao Rio de Janeiro. Essa caracterís-tica de tráfego está ocasionando uma poluição muitogrande em São João de Meriti. Estamos implantandoesse parque, um parque bem pequeno, mas que tem afinalidade de tentar melhorar as condições atmosféri-cas do Município. É uma região problemática, comocorrência de muita violência e a gente apenas estácriando, talvez, uma área de lazer para a populaçãoda Baixada Fluminense. Nossas metas são a regulari-zação fundiária, a construção da infra-estrutura, asaquisições diversas e a contratação de serviços paraimplantação e gestão do parque. É uma área que agente vai transformar em um parque.

A Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba, criadaem 2002, fica em São Francisco de Itabapoana e tem3.260 hectares. Ela tem uma característica muito en-graçada: é formada por uma vegetação conhecida nes-sa área como “Mata do Carvão”. Fica na região doextremo norte do Estado do Rio de Janeiro, e em vol-ta de toda a área de mata há um banhado, um brejo,que a gente até pensa que protege, mas não protege.A região foi grande fornecedora de peroba, uma árvo-re característica da Reserva, muito retirada até hoje.Agora estamos colocando fiscalização lá, porque ain-

da tentam retirar madeira lá de dentro. O próprio nomejá diz: forneceu muita madeira para virar carvão.

As nossas metas são a elaboração do plano de manejoe o Sistema de Informações Georreferenciadas. Esta-mos georreferenciando nossas unidades para identifi-cação de qualquer tipo de ocorrência. Tudo é feitopor meio de imagens de satélite. Também estão incluí-dos o levantamento fundiário – teremos de fazer de-sapropriações – e a aquisição de material, mobiliário,além do combate a incêndio. Essas metas são quaseum padrão dentro das nossas unidades. A “Mata doCarvão” tem 1.200 hectares e a Reserva foi criadacom 3.200 hectares, para incluir todas essas áreas debanhado no entorno. Houve uma polêmica muito gran-de, porque o pessoal da região queria que a Reservaincluísse só a “Mata do Carvão”, com 1.200 hectares,mas esse entorno dela tem o apelo ecológico da pre-servação da biodiversidade, então, a gente estabele-ceu uma área maior, sendo que há propriedades ru-rais dentro dela que vão sofrer um processo de desa-propriação. São áreas de grandes proprietários, quenão passam de grandes invasões. Há muita invasão: osujeito, a cada ano, recorta, coloca fogo e amplia suapropriedade para dentro da “Mata do Carvão”. Porisso, resolvemos criar uma Reserva, que vai abrangertudo, para acabar com esse tipo de invasão. É umaregião muito bonita, muito interessante, porque, deuma baixada, de repente, aparece uma floresta comárvores. Era isso que eu tinha para falar. Espero teratendido aos anseios. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Oswaldo Trigueiros Jr.) –Doutor Alberico, muito obrigado pela sua exposição.Eu nunca pensei que existisse tanto parque. Eu co-

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nhecia um só. Tenho muito interesse em conhecer esseParque Estadual do Desengano. Gostaria de registrara presença do jornalista Gilson Monteiro, colunistado O Globo, e do Tenente Douglas Andrade, do Bata-lhão de Policiamento das Áreas de Turismo da PolíciaMilitar. Nós agradecemos a presença.

O único comentário que eu tenho a fazer é perguntarse existe estrutura para cuidar de tudo isso? Eu tenhoa impressão que o Governo Estadual não dá todo orecurso. Você tem esse recurso?

O SR. ALBERICO MARTINS MENDONÇA –A estrutura do Estado realmente nesse aspecto é pre-cária. A nossa instituição, o Instituto Estadual de Flo-restas, tem poucas pessoas. Só para situar: o InstitutoEstadual de Florestas foi criado a partir de um depar-tamento da Secretaria de Agricultura. Era o departa-mento geral de Recursos Naturais Renováveis. Naépoca em que se criou o Instituto Estadual de Flores-tas, os funcionários podiam escolher: ou ficavam naSecretaria de Agricultura ou iam para o IEF. O órgãofoi criado com um limitado número de funcionários.Hoje, o órgão consegue sobreviver por meio da ces-são de diversos funcionários de outras secretarias deEstado. Para ajudar a administrar, os recursos da com-pensação ambiental permitem a contratação tempo-rária de pessoal. Mas isso é um horizonte de curtoprazo. Estamos conseguindo administrar de modo re-lativamente precário, mas, a forma que nós encontra-mos é a terceirização, porque a gente não conseguiu

abrir concurso público no órgão para poder aumentarseu pessoal.

A gente administra de forma precária, mas temos tidoalguns resultados. Esse convênio com o Corpo deBombeiros ajuda muito, porque são bombeiros, inclu-sive oficiais, que vêm para o órgão; todo o pessoaldos Núcleos foi cedido formalmente para o IEF. Nósestamos complementando esse trabalho com recur-sos do banco alemão KFW, que vai apoiar nossas açõesde preservação do meio ambiente. Mas a gente nãoquer só preservar por preservar. Estamos preservan-do com uma finalidade: preparar o ambiente para, porexemplo, o turismo. A gente se preocupa com a pes-quisa, com o estudo, com o ensino, mas tambémestamos preocupados com a sustentabilidade das nos-sas unidades, e sabemos que um dos grandes cami-nhos para sustentabilidade das nossas atividades é oturismo. Recentemente, foi feito um decreto pelaGovernadora que estabelece preço para as atividadesdentro das unidades. Com isso, é possível estabelecero custo desse trabalho na Unidade. Nós estamos pro-curando criar os mecanismos que possam favoreceras atividades de turismo em nossas Unidades de Con-servação, guardadas as peculiaridades de cada uma,porque são áreas de preservação permanente. Só que-remos é que as pessoas possam conhecer essas áreasatravés do serviço de turismo.

7 de junho de 2006

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O Museu Aeroespacial é um grande desconhe-cido no Rio de Janeiro. Já foram feitas algumas esta-tísticas. Se perguntarmos na rua, fazendo uma enquete,quem já foi ou nunca foi ao Corcovado ou ao Pão deAçúcar, teremos surpresas. A mesma coisa se dá como Museu Aeroespacial. Embora seja um patrimôniocultural e histórico belíssimo, temos alguns problemasaté de localização. Por isso essa mensagem final, dei-xando todos intrigados: o que o Brigadeiro Bheringvai falar aqui hoje de tão surpreendente?

Iniciamos a palestra com a nossa logomarca, em queestá escrito em latim o seguinte: “Seguimos os cami-nhos dos nossos antepassados”.

Aqui está uma vista aérea e terrestre do museu. É umconjunto de nove hangares interligados. São 400 metrosde hangar. Há um pátio bastante grande e, no setoroeste, fica a Universidade da Força Aérea. São 14.000

metros quadrados de cobertura nessa área e mais doismil aqui. Temos a maior cobertura de madeira de leido Brasil. Esses hangares foram construídos em 1943.Portanto, já estamos com mais de 60 anos de existên-cia. É bom que gravem isso, porque é um dos moti-vos da surpresa ou da proposta final.

O Museu Aeroespacial fica em Marechal Hermes.

A pista do Campo dos Afonsos tem dois mil metros,por 52 de largura, e é de concreto. O Museu Aeroes-pacial recebe apoio logístico da Universidade da For-ça Aérea. Durante a solenidade ou festa de final deano do museu, a área toda é utilizada para eventosaéreos: acrobacias, demonstrações aéreas da Esqua-drilha da Fumaça, etc.

Vamos passar muito rapidamente um breve históricodo Museu Aeroespacial, do público que nos visita,

MUSEU AEROESPACIAL: BOM NEGÓCIOPARA CULTURA, EDUCAÇÃO E TURISMO

Brigadeiro do Ar R/1 Márcio Bhering Cardoso

Diretor do Museu Aeroespacial (MUSAL)

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alguma coisa sobre a Divisão de Museologia, de longaduração, temporária e itinerantes, as visitas monitoradas– alguns eventos nós fazemos durante o ano –, as ati-vidades na Divisão de Comunicação Social, RelaçõesPúblicas, Associação de Amigos do Museu e os pro-jetos para o futuro.

O Campo dos Afonsos. Estou tentando vender essaidéia do Centro Histórico da Aeronáutica, porque, em1912 nasceu a aviação brasileira naquele local. OAeroclube Brasileiro nasceu, em 1912, no Campo dosAfonsos. Lá também foi criada a aviação militar, em1919, até 1941, quando foi criado o Ministério daAeronáutica. Logo depois da criação do Ministério daAeronáutica, em 1943, o então Ministro Salgado Fi-lho, Ministro civil, idealizou o Museu da Aeronáuti-ca. Ele só pôde ser concretizado aqui em 1973, sendoaberto em 1976. Por quê? Porque nas viagens que fa-zíamos e no treinamento de vôos dos cadetes sobre aárea do Rio de Janeiro, na década de 1960 para 1970,percebemos ser impossível voar em segurança sobreo Rio de Janeiro, tanto para os aviões comerciais comopara os próprios cadetes. Então, a Escola da Aero-náutica, que estava no Campo dos Afonsos, foitransferida para a cidade de Pirassununga, no interiorde São Paulo. Hoje, a denominação foi mudada. Cha-ma-se Academia da Força Aérea. Com isso, foram li-berados todos os hangares.

Nossa estrutura organizacional, de maneira bem sin-tetizada, é: direção, assessorias e comissões e quatrodivisões. O chefe da Divisão de Comunicação Social,Sr. Ivan, está aqui hoje. Temos a Divisão de Restau-ração, que coloca os aviões em condições de seremexpostos. Temos uma Divisão de Administração e umaDivisão de Museologia, que é a principal do museu.

Nosso Museu tem todos os requisitos exigidos pelacomunidade internacional para ser denominado mu-seu. Temos museólogos, arquivistas, bibliotecários,um corpo técnico completo.

Temos uma visitação de, aproximadamente, cem milpessoas por ano. Recebemos a visita do MinistroBierrenbach, do Superior Tribunal Militar (STM). Euo coloquei aqui de propósito, porque ele é um amanteda aviação. Ele tem um avião Navion 260. É o mes-mo avião no qual a Anésia Pinheiro Machado, a pio-neira da aviação brasileira, voou na década de 1950.Essa é a razão de ele estar aqui.

Temos muitas visitas escolares e do pessoal do exte-rior. Comitivas de escolas correspondentes à Escolado Estado Maior nos visitam todos os anos, vindasde Argentina, Índia, Portugal, Estados Unidos. A visi-tação da parte escolar é bastante variada e bastantegrande. Temos uma visão do crescimento dos visitan-tes: em 2001, recebemos a visita de 46 mil pessoas.No ano passado, recebemos a visita de 89 mil. Esteano, com certeza, vamos passar de 100 mil visitantes.Isso se deve à intensa preocupação do Museu em apa-recer. Estamos fazendo um trabalho intenso junto àmídia para que o carioca ou o pessoal de fora do Riodescubra o Museu. Está constatado aqui esse cresci-mento. Nas nossas festas, estamos aumentando o nú-mero de visitantes a cada ano, pois a mídia tambémestá nos ajudando. A Rede Globo e outros meios decomunicação têm nos ajudado. E vocês podem per-ceber que nesta semana já está sendo veiculada umavinheta de 30 segundos. É uma espécie de radar pas-sando nos quatro quadrantes convidando a popula-ção para ir ao Museu no domingo, onde vai haver umgrande evento em comemoração a Santos Dumont.

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Quanto custa essa vinheta? Possivelmente, em horá-rio nobre, R$ 800 mil. E a Rede Globo está fazendode graça para nós. Quer dizer, está verificando o va-lor, pelo alcance cultural que o Museu tem junto àpopulação.

Fazemos exposições de longa duração e temporárias.É claro que o melhor é que vocês se proponham avisitar o Museu. Vou passar bastante rápido. Temosuma sala dedicada à primeira voadora brasileira, quevoou sozinha, em 1922, quando nem votar a mulherpodia. Anésia Pinheiro Machado é uma decana pio-neira da aviação, muito corajosa e persistente. O Mi-nistro Gandra a conhece bem, pois conviveu com ela.Foi uma pessoa que engrandeceu o nome da aviaçãobrasileira no mundo.

Esta é a Sala Salgado Filho.

A Sala Santos Dumont. Isso merece uma explicação.Não será possível, a médio prazo, criarmos um Mu-seu Santos Dumont, com todo o acervo do SantosDumont. Por quê? Porque estamos com um acervomuito diversificado. Temos no Museu Aeroespacial,temos em Petrópolis, na Casa Encantada, temos emCabangu, em Minas Gerais, onde ele nasceu, temoscom a família Vilares e com a família Dodsworth, dePetrópolis, e também na Fundação Santos Dumont,em São Paulo, e no Museu Paulista. Essas entidadesnão querem doar ou mesmo deixar sob guarda essepatrimônio em um só local. Primeiro porque não exis-te um museu só para Santos Dumont e, depois, por-que essa retenção do patrimônio também significapoder. Então, as pessoas não querem entregá-lo. Oque importa é saber que existe, mas ainda está muitodiluído.

Mas essa Sala Santos Dumont é muito interessante.Temos uma réplica do Demoiselle. Estamos com umaprevisão de, no mês que vem, um Demoiselle réplicavoar no Museu. Este é o ano do centenário do vôo do14 Bis. O Demoiselle é um avião que voou em 1907.Então, está dentro desse contexto das invenções deSantos Dumont. Nessa sala também temos, vamosdizer assim, o acervo mais importante da história deSantos Dumont: o próprio coração de Santos Dumont,que está conservado no Museu. É o coração real dele.

Temos a sala dedicada ao 1º Grupo de Aviação deCaça, que, como os senhores sabem, foi a única forçaarmada do Brasil. O Brasil foi o único País que en-viou tropa para a Segunda Guerra Mundial nas Amé-ricas, exceto, é claro, os Estados Unidos e o Canadá.

Temos a Sala da Esquadrilha da Fumaça, onde estafoi criada. Hoje, a sede é na Academia da Força Aé-rea de Pirassununga, em São Paulo. Mas a Esquadri-lha da Fumaça nasceu em uma das salas do Museu.

Temos uma Sala das Velhas Garças, onde estão osaviões mais antigos do Museu, inclusive uma réplicado 14 Bis.

Neste ano do centenário, existe uma empresa em Cal-das Novas, em Goiás, que está construindo o 14 Bis.Esse 14 Bis já fez vôos aqui no Brasil. Eu diria quenão há nenhuma controvérsia, nenhuma disputa en-tre Brasil e Estados Unidos pela primazia do vôo. Nãovamos negar a história e dizer que os irmãos Wrightnão voaram. Aceitamos que eles tenham voado. Sóexiste uma foto do vôo, em 17 de dezembro de 1903.Eles não voaram perante uma comissão de arbitra-gem internacional nem nas condições exigidas pelaépoca, ou seja, levantar vôo por meios próprios. Em

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1908, dois anos depois que Santos Dumont voou emParis, os irmãos Wright se apresentaram lá e fizeramlongos vôos, porém ainda com o Catapulta. Isso cria-va um problema operacional muito grande, porquedecolava-se e, onde pousasse, alguém teria de ir até lápara recolher o avião, de modo que as condições nãoforam cumpridas. É mais ou menos como alguém quetem uma piscina em um sítio, treina muito, faz os 100metros rasos em 45 segundos, mas não pode homolo-gar o recorde.

Os irmãos Wright voaram em uma situação muito con-fortável, com bom vento de frente, o que facilita adecolagem, em um local com rampa e catapultado, elevaram apenas 12 segundos. O Flyer original, que éo nome do avião deles, foi perdido nesse mesmo dia,porque capotou com a ventania, de modo que nãoexiste também registro histórico palpável desse avião.De qualquer maneira, vamos deixar tudo bem tran-qüilo e transparente. Naquela época em que a tecno-logia fervilhava e Paris era o centro do universo tec-nológico, todos eles foram grandes homens. Vamosprestar nossas homenagens aos irmãos Wright e a San-tos Dumont, porque todos eles, de alguma maneira,contribuíram para o progresso da aviação.

Temos também os hangares. O primeiro Bandeiran-tes do mundo está aqui. Eu, por acaso, tive a sorte deassistir ao vôo dele em 1968.

Temos a Sala de Controle Espaço Aéreo. Os senho-res sabem que o Brasil, hoje, está totalmente contro-lado por radares. Onde quer que decolemos o radarestá nos vendo. Nosso sistema de controle do espaçoaéreo é o mais moderno das Américas, comparávelaos melhores do mundo.

Temos uma Sala Armas de Aviação e uma Sala deSimuladores Antigos. Este simulador é da Sider Link,de 1935, e ainda funciona. Eu e o Ministro Gandrafizemos treinamento nesse simulador no Campo dosAfonsos. Era muito engraçado, porque, na época, es-tava faltando luz aqui no Rio de Janeiro e era comumos cadetes voarem nesse simulador. E quando faltavaluz, usando o jargão aeronáutico, ele colocava o narizpara cima – porque avião não tem bico, tem nariz – eentrava em parafuso. E o sargento que o controlavatinha de segurar lá dentro, com tudo apagado. Enfim,ele foi restaurado por nós e ainda está funcionando.

Temos exposições de longa duração. Essas salas fo-ram inauguradas no ano passado. Nosso projetoarquitetônico ganhou o primeiro lugar, em outubrodo ano passado, em um concurso internacional de pro-jetos arquitetônicos de museu, aqui do Rio de Janei-ro. Trata-se de uma empresa do Rio de Janeiro comassessoria nossa. São salas muito bonitas, que mere-cem ser visitadas, pois contam a história da aviação,entrando um pouco na mitologia grega, passando pelacriação do Centro de Treinamento da Aeronáutica.

Os senhores sabem que construímos muitos aviõesno Brasil. Desde 1910 se constroem aviões no Brasil.Mas somente com a criação do Centro de Treinamen-to da Aeronáutica o genial Marechal Casimiro Mon-tenegro criou o CTA-ITA, que se tornou uma basecientífico-metodológica que desembocou na Empre-sa Brasileira de Aeronáutica S. A. (EMBRAER).

Então, tudo o que temos hoje em termos de engenha-ria aeronáutica e da EMBRAER devemos ao gêniode Casimiro Montenegro, um homem que deveria terum monumento em cada organização da Aeronáuti-

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ca. Estas salas foram construídas com doação em di-nheiro da EMBRAER. Temos a Sala EMBRAER, quemostra toda a evolução dessa empresa, desde 1969.

Não estou aqui fazendo propaganda da EMBRAER,embora seja um apaixonado por ela, pois praticamen-te a vi nascer. Recebi muitos aviões Xavantes lá. Esteavião é o EMBRAER 145. A EMBRAER já está atin-gindo a mil aviões. Quanto ao Bandeirantes, que éfamoso, chegamos a 500; quanto ao 145, já temos milaviões.

Existe um problema que afeta a todos nós, que é oproblema do câmbio. Essa queda do dólar provocaum problema que as pessoas que não são economis-tas não entendem. Houve um baque na EMBRAER,mas eles estão se recuperando.

Temos algumas exposições temporárias. Não vou per-guntar aqui, para que os senhores não fiquem cons-trangidos, mas tenho a impressão de que alguns dossenhores nunca visitaram o Museu. Os que visitaramvão dizer: “Eu já fui”. A pior coisa que pode aconte-ce no Museu é você responder ao Diretor: “Eu já fuilá”. Já preencheu o quadrinho. Então, temos moder-nizado. E uma das idéias é fazer exposições temporá-rias. Fazemos duas a três exposições.

Esta é a Exposição de Caricaturas do Santos Dumont.Estamos no ano do centenário. Elas foram desenha-das por Fortunato Câmara de Oliveira, que foi heróide guerra, lutou no Grupo de Caça, na Itália, e eratambém artista plástico. Morreu há dois anos e nosdeixou uma obra-prima, que é um livreto com carica-turas. E fizemos essa exposição temporária. A ante-rior foi Aeromodelismo – Voando sem sair do chão. E

já temos exposições temporárias reservadas para ospróximos três anos.

Exposições itinerantes. Participamos de várias expo-sições e fazemos também consultoria. No ano passa-do, colaboramos com a exposição feita na França, noMusée de L’ Air et de L’Espace. Temos a honra de terum dos maiores museus do mundo, que é o Museu deAeronáutica e Espaço da França, em Paris, e uma ré-plica perfeita do 14-Bis. Essa réplica foi doada aoGoverno francês, por intermédio do Presidente Lula,em julho do ano passado. E o Museu Aeroespacialcolaborou com a entrega dessa réplica e também coma exposição, que ficou lá até outubro do ano passadoe também em outros locais. Chamo a atenção dos se-nhores para a Broa Fly-In, uma festa aviatória queocorre todos os anos no interior de São Paulo, ideali-zada e organizada pelo empresário Fernando Botelho,da Camargo Corrêa. O Museu também esteve lá fa-zendo exposição itinerante.

O que está previsto para este ano? Existe uma Co-missão do Centenário, criado pelo decreto de marçodo ano passado. O que ocorre é que a Comissão foicriada, por meio do decreto de 10 de março. E aquinão há uma crítica à área governamental, pois perten-ço a ela hoje. Estou na reserva trabalhando, de voltaà área governamental. A Comissão foi criada, mas ossenhores sabem qual foi o orçamento dela para come-morar o Centenário do Vôo 14-Bis. E se nós perder-mos esse centenário, teremos de esperar o bicentenário.Vai ser um pouco difícil, pois acho que a maioria denós não estará aqui. O orçamento foi zero. Então, oque acontece? A Comissão está dando murro em pontade faca, tirando água de pedra, a fim de poder promo-

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ver o engajamento dos senhores, empresários, paragerar recursos por meio de qualquer tipo de incentivofiscal ou doação, para que o ano do Centenário doSantos Dumont seja bem comemorado.

Está no site da Aeronáutica: há mais de 60 projetos,filmes, livros, teatro, etc. O que está mais evidente éessa réplica do 14-Bis , que está voando pelo Brasil edeve, inclusive, ser apresentada na feira de aviaçãode Oshkosh, a maior do mundo, que vai acontecernos Estados Unidos no final deste mês. Mas vai ficarem exposição estática. E está previsto um vôo, emBrasília, para esse avião em setembro ou outubro. Éuma réplica perfeita do avião; um trabalho magníficodesse grupo de Caldas Novas.

Visitas monitoradas. Conforme eu havia mencionadoantes, o Museu presta, por motivos óbvios – pois temde prestar mesmo esse serviço –, um trabalho muitoimportante na área educacional. Recebemos cerca de600 escolas por ano, do nível fundamental. Este ano,então, aumentou demais. Mais ou menos 30 mil alu-nos nos visitam por ano. Imaginem os senhores o fa-tor multiplicador, pois o aluno chega em casa e dizpara o pai e para o irmão o que viu lá. Então, é umtrabalho que me deixa – e a todo o pessoal do museu– muito reconfortado pelo trabalho que temos reali-zado. Temos monitoria para essas escolas na Sala San-tos Dumont, na Sala de Grupo de Caça, na Sala deArmas de Aviação. Temos quase 5 mil grupos por ano.E inauguramos, no ano passado, um sistema de co-municação visual – é o segundo museu no Brasil quetem. A comunicação é para crianças também. NossoMuseu necessita ter um sistema de multimídia, masisso vai ficar para o final, no projeto que vou apresen-

tar. É o segundo museu – o primeiro é de Petrópolis –que faz comunicação própria para criança. Não sei seserá possível os senhores lerem, mas é uma mensa-gem para as crianças. Vou ler.

Cada avião tem um placar desse, com o nome do aviãoaqui, uma descrição sucinta do avião, as característi-cas e a tradução para o inglês, pois recebemos visitasde fora. Aqui está o Bisinho. É uma figura feita por umartista plástico. Ele diz: “Este avião é o 14-Bis”. Dizaqui: “Olá amiguinho. Este sou eu, o Bisinho . Fui oprimeiro avião a voar. Nasci em 1906; e você?” En-tão, cada avião tem uma mensagem diferente. O ou-tro museu no Brasil que eu conheço e que tem isso éo Museu Imperial de Petrópolis.

Temos alguns projetos educativos. Este é um dia defesta no Museu, com trabalhos de dobragem, traba-lhos em argila, construção de pequenos aviões. Esteé um dos nossos funcionários, que, por sua dedica-ção, acabou de ser agraciado com a Medalha MéritoSantos Dumont. Ele vai recebê-la na semana que vem.

Temos também incorporação de aeronaves. A tendên-cia de qualquer museu aeronáutico é cada vez rece-ber mais aviões, por motivos óbvios. Quando vejo aForça Aérea Brasileira (FAB) comprando um avião,digo: “Que bom. Daqui a 30 anos, ele vai para o mu-seu”, porque os aviões duram muito; são como osautomóveis. A tecnologia agregada, a estrutura, émuito forte. O que muda é a aviônica – a parte eletrô-nica. Os aviões duram muito. O avião de caça mo-derna custa US$ 60 milhões. Recebemos um Mirageem perfeito estado. O Mirage deixou de voar no Brasilem dezembro do ano passado. Um avião Xavante estáno Museu. A FAB comprou o Xavante da África do

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Sul. Então, prolongamos a vida dele. Tivemos o lan-çamento do Selo Centenário de Santos Dumont noMuseu. Aqui está um flash da cerimônia, com o nossoComandante Bueno fazendo a obliteração.

Um exemplo de nossas incorporações. No próximomês de agosto teremos mais duas incorporações: umF-5 vai entrar para o Museu e já está pronto. Serãodoadas ao Museu as Medalhas da Ordem do Rio Bran-co, que Santos Dumont recebeu, este ano, a títulopóstumo. Será no dia 18 de agosto, às 10 horas, e,obviamente, todos estão previamente convidados.

Eventos para 2006. Tivemos a Semana Internacionalde Museus. A Organização das Nações Unidas (ONU)tem vários órgãos. Um deles é o Conselho Internacio-nal de Museus, ao qual o nosso Museu acaba sendoafiliado. O dia 18 de maio é o Dia Internacional deMuseus, que foi comemorado em todo o Brasil peloDepartamento de Museus do Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico Nacional (IPHAN). Entramostambém com a Semana Internacional de Museus.

O aniversário de Santos Dumont é no dia 20 de julho,mas vamos comemorar no dia 16, próximo domingo.

Projeto Carioquinha, em agosto. O pessoal do turis-mo conhece bem. O carioca vai ao Museu. Participa-mos desse projeto.

Sobre a incorporação do F-5 eu já falei.

Em outubro, teremos outra festa aviatória no Museu.Não é fácil fazer uma festa como essa, pois temos detomar todas as providências, como segurança hospi-talar, banheiros químicos, barraqueiros, autorizações,enfim, trata-se de uma centena de providências. Mas

estamos ali porque sabemos da nossa responsabilida-de social e de lazer para o público. Nessa festa deoutubro, teremos a Esquadrilha da Fumaça.

Teremos um Seminário de História Militar, tambémem outubro, e um Encontro Internacional de MuseusAeronáuticos Ibero-Americano, incluindo Espanha,Portugal e todos os países de língua hispânica. O nos-so também está incluído. Vai acontecer no Brasil, emnovembro. Serão 15 países. É uma oportunidade muitointeressante. Para os senhores que captam o pessoaldo turismo é muito interessante. Estamos organizan-do esse congresso e vamos enviar informações para oConselho Nacional de Turismo.

Aqui, algumas fotos do ano passado. Eu havia fala-do de algumas atrações espetaculares. Este conjuntose chama Marta e Pedrinho. Ela decola na cabine doavião e, depois que decola, ela sai, se amarra aqui evoa sobre o avião com acrobacias e tudo. É incrível.É o único conjunto que existe fora dos Estados Uni-dos. Vale a pena ser visto. Ele vai se apresentar nodomingo.

A visitação ao museu custa R$ 2. Não recebemos ver-ba externa para todo o financiamento de pilotos e paraas acrobacias, com seu cachê artístico. Esse conjuntonão voa de graça; não faz isso por amor à aviação. Épago. Então, arrecadamos alguns recursos por meioda entrada. A parte externa é gratuita. Algumas em-presas também nos ajudam, como a Nestlé, a Hi-drafoto, a Faculdade Cândido Mendes e a própriaAssociação de Amigos do Museu.

Aqui, vemos as pessoas visitando os aviões em expo-sição. Este aqui é um Thunderbolt, um avião da Se-

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gunda Guerra Mundial usado pelo Grupo de Caça naItália. Está em perfeitas condições. Aqui está a Varig,que nesse dia fez um vôo. Esta é uma vista das pes-soas, em outubro. O total nesse dia foi de 25 mil, semnenhum problema, a não ser a insolação; é muito quen-te em outubro. Mas não há nenhum problema de bri-gas. O pessoal é muito pacífico nesses dias.

Aqui está uma parte da demonstração da Esquadrilhada Fumaça.

A Comunicação Social, por meio do trabalho incan-sável do senhor Ivan e de sua equipe de colaborado-res, está vendendo a imagem do Museu. Também ce-demos as áreas externa e interna do Museu para algu-mas gravações, principalmente de novelas e anúncios.Novela: Começar de Novo. Este avião esteve no Projac,da Rede Globo. Filme: Olga. Boa parte foi gravadainternamente no Museu. Mad Maria teve uma partede Portobelo construída na área externa do Museu.

Temos uma Associação de Amigos desde 2002, queestá totalmente legalizada e cuja função principal écriar e prestar auxílio ao Museu, principalmente noque tange a doações. Isso tem facilitado bastante anossa atuação. Temos, hoje, quase 300 sócios. A men-salidade é ínfima – R$ 10 por mês. Isso dá R$ 100 porano. É só para manter a parte administrativa. Na ver-dade, o trabalho da Associação se dá por meio daobtenção de doações externas por parte de seus asso-ciados e da promoção do engajamento da sociedadeem favor do Museu Aeroespacial.

Projetos futuros. Gosto muito do atual Museu, masele tem alguns problemas. Por exemplo, já estou com11 aviões do lado de fora, sofrendo as intempéries do

Rio de Janeiro: sol, chuva, químicos, sal, essa coisatoda. E tenho mais 20 aviões guardados, aguardandorestauração. Se eu for montá-los, não tenho ondecolocá-los. É um museu que precisa ser expandido.

Há alguns problemas de inundação. Vocês viram queé um pouco complicado chegar em Marechal Hermes.Então, nossa idéia é que esse Museu do Campo dosAfonsos seja transformado no Museu da História daAviação Brasileira, dentro do Centro Escola da Aero-náutica. Já estamos com um projeto pronto. Está nasmãos do Comandante da Aeronáutica. Vamos implan-tar um novo Museu da Aeronáutica aqui no Rio deJaneiro.

Vamos passar rapidamente qual é a idéia, onde seráesse novo museu e como vamos construir, em termosde recursos.

Vai ser na Barra da Tijuca. A Aeronáutica tem umaárea de 500 mil metros quadrados em um dos pontosnobres da Barra da Tijuca, que fica ao lado da Av.Ayrton Sena, perto do Clube da Aeronáutica – entreo Clube da Aeronáutica e o Aeroporto de Jacarepaguá.Os senhores imaginem o valor financeiro do metroquadrado ali. E é nosso. Então, qual é a idéia? Im-plantar o Museu lá. Vamos continuar com o Museudos Afonsos, que é um museu histórico, mas vamosfazer lá um museu moderno, interativo, que seja umcentro cultural e de lazer.

Vou mostrar a situação atual, o MUSAL na Barra, oprograma, o cronograma de intenções/custos, as fon-tes de recursos e as considerações gerais.

A situação atual do Museu os senhores já viram. Estánestes hangares aqui. Há algumas vantagens. Temos

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uma oficina de grande porte da Aeronáutica, aí ao lado,que nos apóia em algumas restaurações, pois não te-mos equipamentos. A área para demonstração, que élivre, os senhores viram que é realmente muito boa.Temos alguns problemas a serem resolvidos.

A localização do atual museu. Vamos ser sinceros:não é fácil chegar ao Museu Aeroespacial. Estamoshá uma hora de distância de lá. As edificações serãoadaptadas. Vocês devem se lembrar que eram edifi-cações dos antigos hangares da Escola Aeronáutica.Minha luta lá é com a poeira o dia todo. Entra poeirae também alguns animais silvestres.

Hangaragem insuficiente. Estamos com 11 aviões dolado de fora e 20 aguardando.

Conservação de edificações. São edificações de maisde 60 anos.

A segurança é boa. Estamos dentro de uma áreamilitar.

O apoio da universidade e do Parque da Aeronáuticados Afonsos eu já mencionei a vocês.

Estrutura satisfatória. Acervo é o que temos de maisimportante. Esteja onde estiver, mais de 80 aviões éum acervo fantástico. Levou muito tempo para sererguido; poucos museus do mundo têm o acervo deque dispomos lá.

O museu terá uma área de 500 mil metros quadrados.Não é pouca coisa. É uma área muito interessante evaliosa.

A Diretoria de Engenharia e o Museu Aeroespacialtrabalharam em conjunto. As especif icações estão

prontas e aguardando uma licitação para a empresade engenharia desenhar o museu. Aí, então, vamossaber o valor real, o valor total.

O espaço será moderno, dinâmico e atraente. Tere-mos várias exposições específicas. Construir um mu-seu é fácil. Qualquer arquiteto ou engenheiro faz aparte de levantar a estrutura. O difícil é fazer as salasambientadas – ambientação da Segunda Guerra Mun-dial, ambientação da FAB na Amazônia, etc. Então,teremos de desenhar tudo isso. O projeto da SalaEMBRAER levou um ano e meio, e a construçãodurou seis meses. Então, a construção é muito maisrápida do que a parte intelectual do projeto. Vai en-trar muita cenografia também.

Teremos vários locais para simuladores, para descan-so, auditório, etc.

Nossa idéia é que, na Barra, o Museu seja um âncorade um complexo de lazer. As pessoas vão ao Museu,mas também vão ao centro de convenções, a restau-rantes, lojas, área de simuladores, etc. Não vai ficarsó no Museu. Será um complexo de lazer e cultural. Ecom uma vantagem – é muito comum que um visi-tante termine uma visitação no Museu e pergunte:“Como é esse negócio de voar?” No Campo dosAfonsos isso não é possível, porque é uma área mili-tar. Na Barra, podemos constituir uma empresa, umamicroempresa com pequenos aviões civis, a fim deque os visitantes possam fazer um vôo de pelo menos15 minutos.

A chegada e a saída serão próximas. Em qualquermuseu que se preze, você chega no local, visita lojade suvenires, lanchonete, etc. e volta para o mesmo

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local. Lá, fizemos o programa assim. Você chega, vi-sita o Museu e volta para o mesmo local.

Previsão para expansão. Conforme eu disse, não que-remos levar para a Barra o que aconteceu no Campodos Afonsos. Se chegarem mais aviões, teremos umplano de expansão.

Integração com o Clube da Aeronáutica. Estudo doimpacto ambiental. Esse estudo está previsto no pro-jeto.

Todo museu, principalmente de aviação, tem de serclimatizado. A temperatura e a umidade precisam sercontroladas. No Campo dos Afonsos, começamos,hoje pela manhã, com 20 graus e à tarde já estavamais de 30 graus. Aquele material todo de madeira etecido sofre muito com isso. Será totalmente climati-zado; não haverá nenhuma interferência, porque,como está mais perto do mar, alguém pode dizer: “Vaidanificar o acervo”. Não vai, porque vai ser totalmenteclimatizado.

Segurança física, ambulatórios.

Qual é o desenvolvimento temporal disso? Se tudoder certo, em 2007 vamos fazer essas quatro etapas.Visitas a museus já são uma etapa ultrapassada. Jáforam feitas no ano passado. Fizemos visitas aos prin-cipais museus do mundo para pegar idéias. A quartafase será em 2010. Então, é um projeto que ultrapas-sa governos. Teremos de fazer uma coisa muito bemorganizada, a fim de que, futuramente, ninguém de-sista no caminho. Por isso, faremos um trabalho, quevou mostrar aqui, de captação de recursos em váriasfontes: incentivos fiscais, permutas, comodatos, etc.

Em 2007, pretendemos começar as obras.

Quais são os recursos? Permutas, comodatos. Porexemplo, a empresa ou o pool de empresas que se dis-puser a construir o seu, vai ter direito. É claro que vaihaver um contrato de exploração dos espaços do pró-prio Museu e do entorno. Vocês devem se lembrardaquele eslaide que mostrou 500 mil metros quadra-dos. As áreas não utilizadas pelo Museu, que vai ocu-par apenas 100 mil metros. Poderão ser utilizadas den-tro dos limites de construção permitidos pela Prefei-tura.

Apoio institucional/empresarial – Ministério da Cul-tura e do Turismo. Não vou querer ensinar aqui aossenhores a questão do turismo, mas é claro que turis-mo cultural é muito importante. Vamos incluir esteMuseu no circuito cultural.

Os senhores e as senhoras sabem quantos museusexistem na Barra da Tijuca, hoje? Nenhum.

Aqui, temos alguns dados, mas para outra platéia quenão conhece estes limites: a Lei Rouanet, que é fede-ral, a Lei do Imposto sobre Circulação de Mercado-rias e Serviços (ICMS), que é estadual, e a Lei do Im-posto sobre Serviços (ISS), que é municipal. Pode-mos fazer um mix para obter recursos.

Aqui, alguns exemplos de imóveis disponíveis na Ae-ronáutica em locais, para se fazer permuta.

Tudo será terceirizado, com exceção da Administra-ção Central. A Administração será da própria Aero-náutica, ou seja, será feita por museólogos, arquivis-tas e bibliotecários. Mas a parte de segurança e derecepção poderá ser terceirizada.

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Está prevista a construção de restaurantes, lancho-netes, lojas, estacionamentos, como contrapartida,além de outras atividades, como centro de conven-ções, cinemas, teatro, etc.

Acredito que cumpri o que eu havia proposto, ou seja,conhecer superficialmente o projeto de construçãodo novo museu aqui no Rio de Janeiro. Isso não vaiinviabilizar o Museu atual. Teremos dois: o do Cam-po dos Afonsos será o Museu Histórico do Campodos Afonsos; e teremos um novo museu na Barra.Haverá, inclusive, uma interligação física, por meiode um ônibus que fará a ligação entre os dois mu-seus, com rodomoças. É meia hora de viagem entre ume outro.

Vou deixar, na saída, um guia atual do MUSAL paraser distribuído aos senhores.

12 de julho de 2006

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Boa-tarde. A cultura é definida como um sistemade valores e crenças que partilhamos com os outros eque nos dão uma identidade. Cada cultura apresentasistemas diferentes de valores e crenças que, diretaou indiretamente, afetam a maneira como as pessoaspercebem a realidade e reagem a ela.

Hoje, com o elevado número de turistas internacio-nais vindo de países asiáticos, é necessário observarum aperfeiçoamento dos princípios sociais e gerenciais,assim como o conhecimento do Capital Humano des-sas diferentes culturas, costumes, tradições, princípiose filosofia de vida, a f im de permitir e promover li-nhas de comunicação mais claras em prol de melho-res relações, resoluções de conflitos, negociações emelhora da produtividade. Quanto melhor os parcei-ros conhecem o processo, tanto mais podem se tornarmutuamente conscientes das diferenças culturais quesurgem e, então, lidar adequadamente com elas.

Hoje, mais do que nunca, vivemos em um contextomulticultural e transcultural. Por isso, devemos pres-tar atenção redobrada não só às semelhanças, mas,principalmente, às diferenças decorrentes da preser-vação da cultura e das tradições nesse mundo glo-balizado.

Pensando nisso, resolvemos fazer um curso de treina-mento com ênfase no tratamento para o segmento denegócios de Hospitalidade & Turismo em Gestão deRelações Comerciais com Países Asiáticos, em que seexploram as questões-chave para o gerenciamento denegócios internacionais, desenvolvendo os perfis paracomunicação, negociação e resolução de conflitosdentro da própria empresa e com os países asiáticos.

Damos, a seguir, alguns exemplos de diferenças trans-culturais que, corretamente entendidas, podem trazer

PROGRAMA DE TREINAMENTOTRANSCULTURAL PARA O TURISMO E

HOSPITALIDADE

Carlos Alberto Raggio Davies

Diretor de Turismo e Hotelaria do Instituto Internacional de Desenvolvimento Gerencial

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grandes benefícios para o setor de negócios e de hospi-talidade.

Quando falamos de países asiáticos, todos acham quejaponeses, chineses e coreanos são a mesma coisa. Sãopessoas como nós, mas há diferenças entre elas. Porexemplo: se você vai pela rua no Japão e esbarra emalguém, vai ter de pedir desculpas e fazer uma reverên-cia para essa pessoa. Na Coréia do Norte não. Na Coréiado Norte é comum você esbarrar em alguém na rua enada acontecer. Eles estão acostumados a isso.

Com base nessas diferenças de cultura, vamos dar, aqui,alguns exemplos, para que vocês tenham idéia de comoé o processo transcultural no mundo.

Está comigo o Presidente do Instituto de Desenvolvi-mento Gerencial, Professor Julio Pitombo, que me aju-dará a explanar os diferentes contextos multiculturais etransculturais de diferentes países.

Então, qual é a nossa missão?

Ampliar conceitos e processos de comunicação, sob aótica da globalização, traduzindo, na prática, as novascompetências nas relações interpessoais e de negóciosem todos os níveis, bem como difundir e exercitar osconhecimentos essenciais sobre a diversidade de cul-turas, costumes, tradições, princípios e filosofia de vidade outros povos e civilizações.

Qual é o nosso objetivo? Desafios e respostas ao novoambiente socioeconômico, abordando questões cruciais,tais como: changing environment e changing management (mu-dança e transição), administração e resolução de con-flitos, team building (formação de equipes), marketingestratégico, negociação estratégica, empowerment estra-tégico e liderança e motivação.

Logicamente, isso vai fazer com que tenhamos umainformação, depois de um bom treinamento; e, depoisvocês podem, tranqüilamente, fazer uma boa consul-toria sobre isso.

O que é cultura?

A cultura é definida como um sistema de valores e cren-ças que partilhamos com os outros e que nos dão umaidentidade.

Cada cultura apresenta sistemas diferentes de valores ecrenças que, direta ou indiretamente, afetam o como aspessoas percebem a realidade e reagem a ela.

Diferentes culturas podem impedir – e muitas vezesimpedem – o desenvolvimento de um processo de co-municação e do estabelecimento de relações pessoaise de negócios.

Diferenças culturas têm diferentes origens: lugar denascimento, nacionalidade, etnia, status familiar, ida-de, educação, idioma, sexo, condições físicas, orienta-ção sexual, religião, profissão, lugar de trabalho e cul-tura corporativa da empresa anterior.

Efeitos: sentimento de isolamento, ansiedade e inse-gurança, stress e queda de produtividade, conflitos pes-soais e profissionais.

Antes de falar de países asiáticos, é preciso dizer quenão é apenas em relação aos países asiáticos que temosproblemas transculturais. Isso aconteceu comigo nosEstados Unidos. Falo como se fosse um ianque, comose fosse de Nova York. Então, logicamente, indo parao Sul dos Estados Unidos tenho um problema grave.Eu trabalhava, naquela época, para um milionário cha-

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mado John Paul Getty. Ele tinha 2.456 poços de petró-leo e tinha uma mania: ao entrar em um hotel, se gos-tasse, me mandava comprar o hotel e depois fazer ohotel rentável. Ele comprava o hotel e dane-se. “Deixeo Davies resolver.” Ele se hospedou em um hotel emAmarillo, no Texas. Ligou para a secretária e disse:“Mande o Davies vir aqui para comprar o hotel.” E foipara o escritório. No dia seguinte, cheguei lá para falarcom Mr. McAdam, que era o dono do hotel. Cheguei láe fui atendido por uma loura texana. Cheguei 10 minu-tos adiantado e disse: “Lamentavelmente, cheguei 10minutos adiantado.” Ela disse: “Não há problema. Osenhor pode ficar sentado aí.” Ela se levantou, pegou omeu cartão, levou-o ao Mr. McAdam, que devia estarem sua sala, voltou. Passados 10 ou 15, levantei-me edisse: “O meeting era para às 10 horas; são 10h15.” Eladisse: “Ele não vai lhe atender.” Eu disse: “O quê?Não vai me atender?” Como, lamentavelmente, sou umapessoa de pavio curto, levantei-me e dei três pontapés naporta pela qual ela havia entrado e fui falar com o indi-víduo. Ele disse: “Não falo com pessoas que têm olhosmarrons e que são ianques.” Aconteceu isso nos Esta-dos Unidos. Quer dizer, você vê que cultura também lásofre, isso e outras coisas.

Só para vocês terem uma idéia da diferença de um ges-to em várias culturas:

Agora quem vai falar um pouco é o Professor JulioPitombo.

Há uma pessoa chamada Vich Hofstetter que traba-lhava para a IBM, em 1992. A empresa encomendoua ele um estudo mundial para saber quais os proble-mas relacionados a choques culturais que a IBM so-fria em vários países. Então, ele desenvolveu um pro-jeto que, hoje, é mundialmente conhecido – acabouextrapolando a IBM – e orienta as relações. Trata-sedas chamadas Dimensões Culturais . O que seriam essasdimensões culturais? Temos o Universalismo versus oParticularismo; o Individualismo versus o Coletivismo;o Específico versus o Difuso; a Conquista versus a Atri-buição; e o Neutro versus o Emocional.

Há cerca de 20 anos, negociei pela primeira vez comos japoneses. Fui enviado sem nenhum conhecimen-to. Passei um mês e meio indo todas as semanas a SãoPaulo, fazendo reuniões com o grupo Sumitomo. Oneutro é exatamente aquela expressão que os japone-ses têm, em que você fala muito, acaba se incomo-dando, e eles não dizem nada. Ao final, você pergun-ta: “E aí?” Eles respondem: “Vamos pensar, né.”Marcavam outra reunião para a semana seguinte. Nasemana seguinte, então, lá estava eu. Havia uma ouduas pessoas que haviam participado da reunião an-terior. As restantes eram todas novas – umas oito oudez. Então, eu explicava tudo de novo, durante 5, 10,15 ou 20 minutos, e, ao final, perguntava: “E aí?”Eles respondiam: “Vamos pensar, né. Vamos marcarnova reunião.” Eu dizia ao meu Presidente: “Não es-tou entendendo nada.” Ele dizia: “Continue indo lá”.Ao final de quase dois meses, eles vieram de São Pau-lo, sentaram-se com o Presidente, fecharam o negó-cio e não disseram nada. Então, perguntei ao meu

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Presidente: “Não me chamaram?” Ele disse: “Não;hierarquia.”

Esses exemplos são muito interessantes, porque, al-gumas vezes, nos colocam em uma posição de vanta-gem; outras vezes, nos colocam em uma posição dedesvantagem em uma negociação.

Aqui, eu trouxe uma dimensão cultural que é a cha-mada de visão de longo prazo. O Brasil, no índice deHofstetter, está mais ou menos em torno de 60 pon-tos. Imaginem negociar com os chineses, que têm umavisão de longo prazo de 100%. Não fecham nenhumnegócio sem terem a certeza absoluta de que aquelarelação será duradoura. Em contrapartida, a Rússia,está lá embaixo, pensando a curtíssimo prazo. Nósestamos um pouco mais na frente.

Vejam as diferenças:

Muitas vezes, os negociadores ou as pessoas que saemdo Brasil buscando negócios para exportação ou im-

portação não têm conhecimento dessas diferenças. Aí,acabam estragando o início de uma relação com o país.

Só para vocês terem uma idéia, 56% das alianças,parcerias, fusões e incorporações de empresas falham.Essa é uma pesquisa Cultural Intelligence & ModernManegement feita em 2004, por causa de conflitos. Es-tes geram os choques culturais, afetam a liderança e,por conseguinte, impedem todo um processo deintegração. Já vi isso acontecer várias vezes; já passeipor isso em duas empresas. Por incrível que pareça, aúltima delas foi adquirida pelos ingleses; e a empresaera americana. Houve problemas.

Quais os benefícios que adquirimos ao conhecermose estudarmos as outras culturas?

1) Desenvolvimento Pessoal. Durante o treinamento,os participantes são expostos a fatos e informaçõessobre suas próprias culturas, preconceitos, mentali-dades e pontos de vista que, de alguma forma, aindanão contemplam.

2) Quebra de Barreiras. Todos temos limitações e nosdeparamos com certas barreiras e defesas naturais. Emuitas delas decorrem da nossa própria cultura, taiscomo preconceitos, prejulgamentos e estereótipos queobstruem nossa visão, compreensão e, em muitos ca-sos, aceitação em relação a outras pessoas. Aprenden-do sobre outras culturas essas barreiras se dissipam,permitindo o aprimoramento dos diálogos e a cons-trução de relações mais abertas.

3) Autoconfiança. Quando caem as barreiras, o en-tendimento se descortina e a confiança surge. Umavez estabelecida essa confiança, tendências altruísticas

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naturalmente se manifestam, permitindo a coopera-ção e uma relação muito mais produtiva.

4) Motivação. Um dos efeitos mais sentidos, comoresultado do treinamento, é que os participantes co-meçam a vislumbrar seus papéis de forma mais clara.Por meio da auto-análise eles passam a reconheceráreas que precisam ser melhor exploradas e desenvol-vidas.

5) Habilidades. Aprendendo sobre outras culturas eseus diversos fatores que influem no comportamen-to das pessoas, há uma sensível melhora da sensibili-dade e da percepção. E como resultado, há o desen-volvimento das habilidades e da capacidade de ne-gociação.

6) Capacidades. Saber ouvir se traduz no principal ele-mento para uma efetiva e produtiva comunicação. Otreinamento aprimora a capacidade de como ouvir, oque ouvir e como interpretar o que ouvem – mesmo osilêncio –, ampliando o espectro do entendimento dascomunicações.

Eu tive problemas relacionados a um choque culturalna Suécia. A pior coisa para os suecos é você inter-rompê-los, seja onde for, até em um botequim. A mes-ma coisa se dá com os japoneses.

Vejam como é que funciona o Princípio Social no Ja-pão, na China e na Coréia. Acredito que alguns devocês já devem ter ouvido falar que, no Japão, Kaosignifica perda de “face” (honra, dignidade). Há, tam-bém, o conceito de Omoiyari , significando que umarelação é baseada em confiança e percepções de esta-do de espírito.

Nós, os ocidentais, normalmente temos uma lingua-gem de baixo contexto, enquanto eles têm uma lin-guagem de alto contexto. Aí já temos um choque.

Na China, tem Miansi e Liansi, que significam a mes-ma coisa que o Kao. Ocorre que são dois conceitosseparados, porém relacionados entre si. Liansi é a con-fiança que uma sociedade deposita em um indivíduoe expressa o caráter e a moral, enquanto Miansi repre-senta as percepções dessa sociedade quanto ao pres-tígio desse indivíduo, ou seja, o indivíduo pode per-der a autoridade, mas não o respeito. Mas se ele per-der o respeito, perde também a autoridade.

Na Coréia, chama-se Kibun, que significa perda de“face”, tal qual no Japão e na China. Há, também, oconceito de Munshi, com o mesmo significado deOmoiyari no Japão.

Agora uma coisa engraçada: na Coréia, quase 70% dapopulação é católica. No Japão são xintoístas.

Princípios Gerenciais. No Japão chama-se Wa, quesignifica harmonia, lealdade e consenso. A lealdade àorganização (Sogo Socha e Keiretsu) é colocada acimada lealdade individual, ou seja, a empresa, para os ja-poneses, é mais importante.

Já na Coréia chama-se Inhwa; fica entre o Japão e aChina. Na Coréia há uma predominância muito gran-de das empresas familiares, chamadas de Chaebol.

Na China, chama-se Guanxi – normalmente definidacomo relação de partilha e troca de favores entre osindivíduos. A lealdade entre os indivíduos é mais im-portante do que a lealdade para com a organização ouempresa. E a outra é o Renxi, que são essas relações.

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Um exemplo de um processo decisório no Japão: va-mos supor que uma empresa resolva mandar ou trans-ferir um funcionário para os Estados Unidos. Esseprocesso é feito de baixo para cima, chamado de RengiSei. Primeiro, circula, na empresa toda, a idéia de trans-ferir aquele indivíduo para os Estados Unidos, a fimde sentir como a própria empresa se comporta em re-lação a isso. Depois, é feita uma reunião chamadaNemawashi, que é mais ou menos informal, em que éfeita a indicação daquele indivíduo a ser transferidopara os Estados Unidos. A seguir, essa reunião se trans-forma em uma reunião formal chamada Kyougikai, emque as pessoas votam, como se fosse um conselho. Sealguém, por acaso, se abster de votar, isso significaque deve haver algum problema.

Os japoneses nunca dizem não. Então, o que eles fa-zem? Uma outra reunião chamada Nijikail, em quevão todos para um bar ou restaurante – os únicos lu-gares onde eles bebem – e a hierarquia é quebrada.Apenas lá o gerente pode conversar com o Presidenteda empresa de igual para igual. E acabam dizendo:“Ah, não, fulano, eu tenho alguma dúvida e tal”.E resolvem. Se houver necessidade, eles fazem umaoutra reunião, quantas forem necessárias, porque osjaponeses precisam do consenso. Nada é aprovado nasempresas japonesas sem o chamado Manjouichi, que éo consenso geral.

Lembro-me que o Presidente e dono da empresa Sony,quando inventou o walkman, teve de convencer a Di-retoria em relação à sua idéia. Isso levou quase seismeses. Então, não são como nós, ocidentais, em queo Presidente decide: “Vamos fazer isso” e chama osdiretores, que, por sua vez, chamam os gerentes e le-vam o projeto adiante.

No Japão, temos os chamados Keiretsu. O que seria oKeiretsu? Ele tem uma relação com a época feudal doJapão. E isso nos remete aos dias de hoje, ou seja, oJapão não rompeu os seus laços com os séculos XIV,XV e XVI, em que existiam os chamados daimyos, queeram os senhores feudais e os seus samurais. Estespossuíam os feudos, chamados de han.

O que acontece hoje? Esse sistema feudal se trans-portou para a modernidade. O que temos, hoje, sãohans contemporâneos com os seus daimyos.

Os Keiretsu mais importantes são: Mitsui, Mitsubishi,Sumitomo, Fuyo, Sanwa e Da-Ichi.

Apenas para dar mais uma idéia aprofundada do gru-po Mitsubishi: são todas essas empresas. E o maisformidável é que Mitsui, Mitsubishi e Sumitomo umastêm ações das outras. Então, é extremamente compli-cado, às vezes, você negociar com uma dessas empre-sas. É preciso ter em mente que você está negocian-do, na realidade, com Keiretsu. As negociações são sem-pre lentas.

Agora, o Professor Davies.

Falamos o mesmo idioma? Não sei. Vejam as diferen-ças entre Brasil e Portugal em relação a algumas pala-vras.

Brasil Portugal

grampeador agrafador

injeção pica

monitor ecran

açougue talho

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Brasil Portugal (continuação)

terno fato

sobrenome apelido

sítio quinta

Quer dizer, é tudo diferente. Lá existe também essadiferença cultural; não é só nos países asiáticos.

Entre Estados Unidos e Inglaterra é a mesma coisa.

Estados Unidos Inglaterra

truck lorry

exit junction

subway underground/tube

elevator lift

cigarette fag

candy sweets

busy engaged

ticket bill

Então você tem essa situação. Quer dizer: falamos omesmo idioma? Sim, porém, é diferente. O significa-do das coisas é diferente.

Agora as piores de todas as situações são as seguin-tes: você está em uma negociação entre ingleses e ame-ricanos. Aí, os ingleses dizem: “Let’s table.” Para osamericanos isso quer dizer: “Deixe isso para depois.”

Para os ingleses é: “É para agora.” É a mesma coisaPiss off, que, para neozelandeses significa partir: “Es-tou me levantando; estou indo embora.” Para os in-gleses isso significa brincar, e para os americanos sig-nifica irritar.

Essa é a maneira de falarmos o mesmo idioma.

Agora continua o Julio Pitombo, com a Televisão naChina.

Então, demos uma visão panorâmica do que vamospassar em um curso com mais tempo. Usei esse exem-plo porque ele é muito interessante. Normalmente,quando fazemos pesquisa de mercado, nos referimosa três fatores: idade, sexo e renda. Basicamente, nos-sas pesquisas – até para potencial de consumo – sãocalcadas sobre esses três pontos fundamentais. Só queno início dos anos 80 os fabricantes de aparelhos deTV europeus quiseram entrar no mercado chinês. Apósuma pesquisa, chegaram à conclusão de que a rendaper capita dos chineses era muito baixa. Então, nãoseria interessante entrar no mercado naquele momen-to; resolveram esperar mais um pouco. Só que os ja-poneses, com uma sensibilidade maior, sabiam exata-mente que a renda era baixa, mas que é costume, naChina, as famílias fazerem uma poupança de dois, trêsou quatro anos para investir em aparelhos como esse.Assim, o Japão domina, hoje, o mercado chinês deTVs.

Há um outro exemplo que eu não trouxe aqui. A In-glaterra descobriu que perde em torno de US$ 46 mi-lhões por ano por causa de comunicação, esquecendonão a faixa etária, não a idade, não a renda, mas osimigrantes, cujo número é bem grande na Inglaterra.Quando foram contabilizar, descobriram, por exem-

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plo, que os asiáticos eram os que mais assistiam à te-levisão na Inglaterra. Mas por que as comunicações,as inserções comerciais não os atingiam? Não fala-vam a língua deles. Não é o seu idioma. Não haviauma comunicação direcionada a eles.

Neste momento, quero apresentar a vocês uma frasede impacto, para reflexão em termos de turismo: “Nãoestamos no negócio de turismo para oferecer às pes-soas, mas em um negócio de pessoas para lhes ofere-cer turismo”. Por isso é tão importante entender, com-preender, conhecer a cultura de outros povos, paraque possamos melhor recebê-los, recepcioná-los,atendê-los e tratá-los.

E falando em atendimento e tratamento, vou devol-ver à palavra ao Professor Carlos Davies, para falarsobre receptividade, hospitalidade e atendimento nocaso dos japoneses.

Vamos falar do grupo japonês que chega a um hotel.Na recepção o que vai acontecer? A pessoa que estáatendendo a esse grupo não pode ser terceirizada. Elatem de pertencer ao empreendimento, porque os ja-poneses não gostam de terceirização. Eles não achamque aquela é uma pessoa que deve lhes atender, e simum segundinho e tal. Então, há um processo muitogrande de excelência no atendimento e no tratamen-to. Se você não tem excelência no tratamento, esque-ça isso, porque há várias coisas que não podemos fa-zer com grupos japoneses. Por exemplo: aqui está apalavra shi , que quer dizer quatro, e ku, que quer dizernove. Devido ao fato de sua pronúncia (shi) ser a mes-ma da palavra morte (shi), é muito comum encontraredificações que não possuem o quarto andar.

Além do número quatro, outros números também são

discriminados, devido a crenças e superstições, taiscomo 42, que, pronunciado separadamente (shi-ni),significa morrer e 420 (shi-ni-rei), que significa espírito.Portanto, é de bom tom não designar unidades habita-cionais no quarto andar. A pior coisa para um recep-cionista de um hotel é entregar o quarto andar paraum grupo japonês ou para um japonês, porque signi-fica morte. Nos Estados Unidos é o número 13. Nãohá 13º nos Estados Unidos. Vai do 12º para o 14º.

Os números ímpares são bem aceitos, com exceçãodo número nove (ku), cuja pronúncia significa dor epreocupação. Assim, esqueça o nono andar também.

Agora, o Júlio vai falar.

Uma coisa interessante é que os japoneses, em suascasas, têm uma coisa chamada Tokono-ma, que é umaespécie de santuário no qual eles colocam pergami-nho, flores ou cerâmica e rezam. Então, uma sugestãoque fazemos na área de hospedagem é que se possater alguma forma não apenas de atender a uma expec-tativa, mas de dar um tratamento diferenciado a umadelegação japonesa, disponibilizando, talvez, um pe-queno Tokono-ma na unidade de habitação.

Outra forma de boas-vindas são os Omamori, que sãoamuletos em tamanho reduzido, colocados em saqui-nhos, e que contêm nomes de divindades e palavrasde oração para proteger dos maus espíritos e catástro-fes. Divindade em japonês é kami. Vocês devem selembrar dos pilotos Kamikaze. Kami (deus) e kaze (ven-to): os deuses do vento.

Outro welcome gift pode ser o Daruma-san, uma espéciede boneco que representa Bodhidharma, um monge daÍndia que fundou o Zen Budismo na China. Ele atin-

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giu à iluminação budista após meditar por um períodode nove anos.

O Daruma é vendido. Há uma lenda que diz: “Com-pre e faça o pedido. Você pinta um olho (ele vem semos olhos pintados). Então, pinte um olho com um pin-cel e, quando o seu desejo for atendido, pinte o outroolho, pegue o Daruma e jogue ao mar.”

Carlos Davies – Outra coisa é que não custa nadadar, como complemento, o Yukata , uma espécie derobe confeccionado em algodão próprio para o verão.

E last but not least, por que não folhetos, brochuras,cardápio de room service e frigobar e demais impressostambém no idioma japonês? É uma coisa importante.

Nos Estados Unidos, sobretudo na Califórnia, os ho-téis de cinco estrelas já estão fazendo isso.

Aqui, temos a etiqueta e o protocolo: os japonesessão muito conservadores com relação ao vestuário.Ao se recepcionar um grupo de turistas que chegamou que estão a negócios, recomenda-se que seus anfi-triões vistam-se com terno escuro (preto ou azul-ma-rinho são as cores mais recomendadas). Receber umapessoa japonesa em manga de camisa não é bom; nãopode acontecer nunca. Se for mulher, nada de deco-tes, roupas justas e curtas. Aos turistas de lazer, de-pendendo da ocasião e do lugar, use esporte fino. Dequalquer maneira, tenha em mente o seguinte: aindaque um evento seja informal, vista-se como se esti-vesse indo trabalhar. É dessa maneira que você devefazer as coisas.

Júlio Pitombo – Para referendar uma parte do que eujá havia falado, nunca interrompa alguém quando es-

tiver falando, mesmo que seja para dizer: “Ah, sim, jáentendi... Pode deixar, não se preocupe...” Interrup-ções denotam falta de educação e respeito para osjaponeses e para os chineses – para os asiáticos emgeral.

Ao falar, não gesticule demais, não faça olhar de de-saprovação ao que quer que seja e jamais espirre empúblico. Assoar o nariz também não.

Pontualidade é imprescindível. Atrasos e contratem-pos são vistos como sinal de falta de educação, faltade respeito, falta de responsabilidade e de considera-ção, etc.

Todos os japoneses têm um lugar (e posição) na hie-rarquia, seja na família, no ambiente social, nas esco-las, nos esportes, nas artes marciais ou nos negócios.Mesmo os jovens e crianças não fogem à regra.

A pessoa mais velha do grupo (sempai) é reverenciadae honrada e será sempre servida primeiro.

Em um jantar, por exemplo, terá acento ao centro damesa. À sua esquerda, os mais jovens (kohai), em or-dem decrescente. Nós, ocidentais, geralmente temoso assento à cabeceira da mesa. Os japoneses sentamo principal, o mais velho, ao centro da mesa e o maisdistante da porta, os mais jovens à sua esquerda e osmais velhos à sua direita. Se vocês olharem, por exem-plo, as artes marciais, verão que as pessoas sempreperguntam: “Por que fulano está sentando do ladoesquerdo, do lado do sensei, do mestre? Não está sen-tado do lado esquerdo. Mas aquele é faixa preta, porque ele está sentado ali se o outro é faixa marrom?”Então, embora o sujeito seja faixa preta ele é maisvelho. Então, ele é o sempai.

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Presentes. Temos o hábito de presentear as pessoasquando elas chegam, durante a visita. Para os japone-ses é importante que isso seja feito ao final das visi-tas. Então, delegações empresariais e até diplomáti-cas devem entregar os presentes somente ao final davisita. E eles apreciam demais presentes de griffe. Porfavor, nada de relógios, ainda que sua empresa sejafabricante de relógio. Relógio, para eles, significa queo tempo está contando que vão morrer. Eles não gos-tam. Nunca dê presentes em uma caixa contendo umnúmero quatro, como, por exemplo, quatro coisinhasem uma caixa. Que sejam três, cinco, seis, sete, etc.Quatro e nove nunca. Eles nunca vão abrir os presen-tes na sua frente, como é o nosso costume. Eles abremdepois, porque, se o seu presente tiver algum proble-ma, isso não vai fazer com que alguém perca a face.Não são só eles que perdem a face. Não fazer alguémperder a face também é muito importante para eles.

Outro detalhe: há pessoas que compram várias cane-tinhas e, ao final da visita da delegação, saem distri-buindo as canetinhas para todos, esquecendo-se dahierarquia. Imaginem o chefe ou o líder daquela dele-gação recebendo a mesma canetinha que o mais novo.Os presentes também precisam ser diferenciados.

Ao contrário dos chineses, os japoneses dão uma im-portância enorme a como você embrulha o presenteque vai dar. Os chineses gostam muito de saber o quehá dentro, mas os japoneses têm muito carinho com amaneira com que você embrulha o presente ou atécomo dobra uma correspondência, uma carta. Sugiroque ninguém se arrisque a fazer isso. É preferível pe-dir a alguém que conheça os costumes para fazê-lo,senão, acaba-se entrando em uma problemática de co-municação.

Ao dar e receber um presente, faça-o com a duas mãos.Não esqueça a reverência. Isso é engraçado, porqueouvimos coisas do tipo: “Ah, mas os japoneses dão amão.” Dão. Da Segunda Guerra Mundial para cá aprópria modernização do Japão contribuiu para quehouvesse mais espaço, mas eles vão reverenciar e cum-primentar.

Obviamente, há aquela história do cartão. Como en-tregar o cartão? A primeira coisa que os japoneses fa-zem quando são apresentados é entregar seus cartõescom as duas mãos. Nós também devemos receber comas duas mãos e entregar o nosso, preferencialmentecom a face virada, escrito em japonês e em outro idio-ma, que pode ser português ou inglês. Eles dão muitovalor a isso. Só depois eles vão ler o cartão e identifi-car: 1) Qual é a sua empresa – nós, normalmente, iden-tificamos as pessoas pelo nome e sobrenome. Para osjaponeses a coisa mais importante é a empresa à qualvocê pertence. 2) Qual é o seu cargo. 3) O seu nome.Por que isso? Porque ele vai ver de que forma vai fa-lar. Os japoneses têm quatro formas de dizer a mes-ma coisa: a humilde, a formal, a de respeito e ahonorífica. Você pode cumprimentar um indivíduocom um bom-dia de quatro maneiras diferentes. En-tão, é importante para eles, quando pegam o cartão,identificar a empresa, o cargo e o nome.

É costume humildemente recusar presentes, como par-te do ritual, duas a três vezes antes de serem aceitos.

Estamos desenvolvendo um curso. E o approach paraa parte turismo e hospitalidade seria: boas-vindas, reu-niões e eventos, comunicações, proccemics (seria a par-te da distância ao falar com as pessoas; como utilizaressa distância), serviços e gastronomia cultural.

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Só para vocês terem uma idéia, na gastronomia cultu-ral, a origem do tempura, um prato conhecidíssimo dacozinha japonesa, por incrível que pareça, não é japo-nesa, é portuguesa. Foi introduzido no Japão no sécu-lo XVI e eles aperfeiçoaram. Hoje, todos conhecemcomo prato da cozinha japonesa.

Nossas temáticas são: Sociedades e Tipologia das Perso-nalidades ; Cultura, Memória e Construção da Identidade;Perfil do País; Gestão de Hospitalidade Transcultural; Cos-tumes e Práticas Comerciais; e Gestão Cultural de Alimen-tos e Bebidas.

Carlos Davies – Para finalizar, fazemos mensalmenteo newsletter. Logicamente, quando vamos fazer o cur-so sobre o Japão e sobre a China temos um Guia Prá-tico para Turismo e Negócio, que entregamos no iní-cio do curso, para acompanhamento.

23 de agosto de 2006

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Separei a minha apresentação em duas partes. Aprimeira constitui-se na estrutura da Abeoc propria-mente dita; a segunda, no setor de eventos, focandomais o Rio de Janeiro, sobre o qual tenho maior co-nhecimento, ou, pelo menos, pretendo ter.

Vamos começar pela apresentação da Abeoc.

Abeoc significa Associação Brasileira das Empresasde Eventos. Houve uma época em que era Associa-ção Brasileira de Empresas Organizadoras de Con-gressos. Nós achamos, já há algum tempo, que a áreade eventos era muito mais abrangente do que apenasos organizadores de congressos. Não mudamos a si-gla porque a Abeoc já era bastante conhecida no Bra-sil. Guardamos a mesma sigla. A Abeoc é compostapor pessoas jurídicas que têm por objetivo social odesenvolvimento de atividades para eventos, que se-rão representadas por seu delegado, com exceção da

categoria de honorários, que será constituída por pes-soas físicas.

As associadas da Abeoc são divididas nas seguintescategorias: Titulares, Colaboradoras, Fundadoras eHonorárias.

A Abeoc compreende os seguintes órgãos institu-cionais: Assembléia Geral – composta por todos as-sociados; Conselho Deliberativo – delegados eleitospelos associados das Estaduais, que, por sua vez, ele-gem seus Presidentes e Vice-Presidentes, os cargosdo Conselho de Administração e os do Conselho Fis-cal; e Conselho de Administração – responsável pelaadministração da Abeoc –, que é composto, atualmen-te, por sete membros: Presidente, Vice-Presidente,Diretor-secretário, Diretor Financeiro, Diretor de Re-lações Internacionais, Diretor de Comunicação eMarketing e Diretor de Capacitação, Pesquisas e

A IMPORTÂNCIA DO SETOR DE EVENTOSPARA O TURISMO E PARA A ECONOMIA

DE UMA CIDADE E A AÇÃO DA ABEOC

Constança Ferreira de Carvalho

Vice-Presidente da Abeoc-Nacional e Sócia-Diretora da C&M – Congresses And Meeting

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Serviços; Conselho Fiscal – é composto por cincomembros: Presidente, Vice-Presidente e três Conse-lheiros; Associações Estaduais. – a formatação dasregionais segue a estrutura da nacional e devem tercomo estrutura mínima sete associadas e ser consti-tuída por uma Diretoria Regional e um Conselho Fis-cal Regional.

Foi fundada há 30 anos. Hoje, temos 13 Abeoc Esta-duais: Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo,Goiás, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Gran-de do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Ser-gipe e São Paulo; cinco Representações em formaçãoAlagoas, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco e To-cantins. Na verdade, essas cinco representações exis-tem, mas têm um prazo – acho que são dois ou trêsanos – para se constituírem como Estadual.

Atualmente, elas congregam 441 associados, tendoquase 50% concentrado no eixo São Paulo e Rio deJaneiro.

No Rio de Janeiro, são 35 organizadores e promo-tores de eventos, 10 fornecedores de serviços, 13hotéis e centros de convenções e 10 agências re-ceptivas.

Atualmente, no Ministério do Turismo, há quase duasmil empresas organizadoras de eventos e de feirascadastrados.

Quem Somos? Somos organizadores de congressos,convenções e eventos em geral, prestadores de servi-ços, promotores, fornecedores e centros de conven-ções, hotéis, agências de viagem e outros, sempre li-gados à área de eventos.

Representação política: em todas as esferas gover-namentais, com estreita relação com o Ministériodo Turismo, Conselho Nacional do Turismo e Ins-tituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR), o quenos permite participar amplamente dos projetos,convênios e ações que envolvem o Turismo deEventos do Brasil.

No Ministério do Turismo, a Abeoc tem assento: noConselho Nacional de Turismo, onde são aprovadosos projetos para o desenvolvimento do setor, e nosConselhos Estaduais de Turismo, por meio das AbeocEstaduais.

Câmaras Temáticas:

A Abeoc participa de todas as Câmaras, em funçãode sua abrangência: Legislação, Regionalização, Qua-lificação Profissional, Financiamento e Investimento,Segmentação, Infra-estrutura, Promoção e Apoio àComercialização e Superestrutura

Últimos eventos: Congresso Nacional das Empresase Profissionais de Eventos – 24ª edição e a Exposi-ção Paralela de Produtos e Serviços para Eventos –2ª edição, ambos em março de 2006, no Rio de Janei-ro; Seminário Avançado de Capacitação em Capta-ção de Congressos Internacionais; Reuniões Nacio-nais de Dirigentes da Abeoc – 36ª edição; I Seminá-rio Multidisciplinar Abeoc/RJ; Reuniões Estaduaismensais.

Teremos um próximo evento, em março de 2007, queserá a 25ª edição do nosso Congresso Nacional, emSão Paulo.

Principais benefícios dos associados: Consultoria ju-

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rídica representatividade política, interatividade e in-tercâmbio de informações entre os associados, parti-cipação “Acordo de Cooperação Embratur/ABEOC”(Promoção de Congressos Internacionais) e o Decre-to nº 5.406, de 30 de março de 2005.

Esse “Acordo de Cooperação”, na verdade, foi firma-do no ano passado, com a Embratur, em que tínha-mos algumas políticas que incentivavam a captaçãode novos eventos para o Brasil. E junto com a Abeoc,conseguimos dar um outro enfoque, que foi a capta-ção de maior número de participantes para os even-tos já captados.

O Decreto nº 5.406, de 30 de março de 2005, assina-do no Governo Lula, obriga os eventos a terem umaempresa organizadora regularizada junto ao Ministé-rio tomando conta do evento. Não precisava perten-cer à Abeoc. Na verdade, não é todo e qualquer even-to; evento universitário e evento que se faz só para osassociados estão excluídos. Estamos falando mais deeventos em que há uma taxa de inscrição, um valoraberto, um universo maior que os associados e, mui-tas vezes, eventos internacionais. Qualquer pessoafazia, sem o menor profissionalismo; isso era muitoruim para o mercado.

Principais ações Abeoc-RJ:

Captação do Congresso Nacional da entidade para2006.

Redução da alíquota de 2% para o setor de eventos.

Empenho em Centros de Convenções para a cida-de: privatização do Riocentro, Cidade Nova e, maisrecentemente, Marina da Glória.

Viabilização no mercado por meio da grande im-prensa e da imprensa especializada.

Aumento do número de associados e busca de as-sociados na cadeia produtiva de eventos: centrosde convenções, hotéis, prestadores de serviços,além de organizadores de eventos.

Agora, vou falar sobre o setor de eventos.

Há uma mudança em evolução no comportamentodo empresariado do setor turístico brasileiro em rela-ção ao mercado de eventos.

Em 1976, aconteceu no Rio de Janeiro o Congressoda Agência Internacional de Energia Nuclear, no sau-doso Hotel Nacional. Meu pai presidiu a organizaçãopelo Ministério das Relações Exteriores; e eu, comouniversitária, trabalhei na organização por mais de 30dias. Pude constatar a importância política para o Bra-sil, ainda sob o regime militar, e para todo um seg-mento, que ia desde a aviação até os hotéis, estabele-cimentos comerciais e turísticos, passando por diver-sos profissionais, como tradutores, secretárias, jorna-leiros, taxistas, faxineiros, seguranças, marceneiros,eletricistas, jornalistas, etc. O difícil era citar um se-tor que não estivesse, em algum momento, envolvidonaquele evento.

Em fins dos anos 70, o senhor Trigueiros, Diretor deVendas da Varig, criou o Departamento de Congres-sos e Eventos Internacionais, pela demanda do mer-cado de atender a essa parte do setor. Em época dachamada baixa estação, fora do verão, das férias, dosferiadões, tanto os vôos como os hotéis e os pontosturísticos ficavam às moscas (época em que os GCsconseguiam embarcar). O mercado internacional já

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cobrava de nós, brasileiros, uma resposta a esse setor,que vinha surgindo muito rápida e prosperamente parao setor de turismo. Não eram apenas as viagens daPolvani Tours para a Europa ou da Stella Barros Tu-rismo para a Disney. Falava-se em movimentação deprofissionais com outro propósito; não era mais o lazer,mas os negócios, a reciclagem profissional, os avan-ços tecnológicos e científicos que criavam eventos emobilizavam os vôos, as redes hoteleiras, etc.

Optei pela formação em relações públicas e, uma vezmais, no mundo acadêmico, constatava o que signifi-ca um evento. Antes de mais nada, constatei a impor-tância para o segmento envolvido seja em um eventosocial ou familiar até um momento de fortalecimentode uma categoria, de uma descoberta científica. E aí,ficou claro para mim a importância do profissional deeventos. Não só daquele que cria, que elabora, queinventa, que deseja um evento, seja este qual for, masdaquele que é responsável pela coordenação de todasas atividades, o carregador de piano, que, pelo distan-ciamento do acontecimento, é capaz de arrumar a casade forma profissional.

Um evento é tudo: um casamento, uma competiçãodesportiva, uma exposição cultural, um show, um se-minário, um curso, uma convenção, um congresso, etc.Sua abrangência também é diversa: familiar, política,empresarial, profissional, etc. Sua dimensão tambémé extensa: 30, 100 pessoas, milhões, como no Rock’nRio ou no Reveillon. Sua durabilidade, então, vai des-de a concepção até sua avaliação, passando pela ela-boração, pela preparação e pela realização propriamen-te dita.

O profissional de eventos é aquele que tem uma vi-

são idônea, clara, com o distanciamento necessáriode um projeto e de sua realização.

Para a economia de uma cidade, para que serve umevento? A resposta é fácil: para movimentá-la, paratrazer renda e trabalho. O aproveitamento racionalda realização de eventos traz o desenvolvimento so-cial e econômico.

Infelizmente, ainda há pouco reconhecimento em re-lação à importância do setor por parte das autorida-des municipais e mesmo do setor privado. Descon-sideram nosso valor econômico. No ano passado, euestava na abertura do Congresso da Abav e havia umamesa com várias pessoas. E não havia nenhum repre-sentante da Abeoc. Estavam lá todas as entidades,todos os Presidentes. Na época, o Juarez era o Presi-dente. Ele estava lá e não foi sequer citado. Todas asentidades ligadas ao turismo estavam sentadas à mesa,mas a Abeoc não foi convidada. Havia 95 pessoas,quer dizer, não era por ter uma cadeira a mais ou amenos. Então, acho que ficamos sentindo, novamen-te, que voltamos a ser o patinho feio nessa história.

Por outro lado, nesse mesmo ato, o então Presidenteda Embratur, Eduardo Sanovicz, passou uma fala es-petacular para o Presidente Lula, em que apresentouos números do evento Abav: mais de 7 mil profissio-nais estavam envolvidos na montagem do evento; ataxa de ocupação de hotéis era de mais de 90%.

Podemos, então, imaginar a movimentação financeirapróspera para esses meses de agosto e setembro, quesão épocas, digamos, de baixa temporada turística.Tivemos o Mundial de Saúde Pública, no Riocentro,com mais de 15 mil pessoas entre congressistas, ex-

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positores e visitantes. Tivemos o Mundial de Educa-ção à Distância, com quase 4 mil pessoas envolvidas.Tivemos, também, o Congresso e Exposição de Pe-tróleo & Gás, que, diariamente, recebeu 10 mil visi-tantes, lotando cinco pavilhões do Riocentro por cin-co dias. E nesta semana teremos a Convenção Mun-dial da Interpol. Não contabilizamos os inúmeros con-gressos, seminários e reuniões que, diariamente, lotamhotéis, centros acadêmicos, universidades e centrosde convenções.

O segmento de turismo de eventos é um dos que maiscrescem no mundo, movimentando cerca de US$ 4trilhões anualmente. No Brasil, o setor envolve cercade 80 milhões de participantes, gerando 2,9 milhõesde empregos diretos e indiretos, causando impacto em56 setores da economia.

No Brasil, ocorre, por ano, uma média de 330 mileventos e 160 feiras comerciais de grande porte.

Em função do expressivo crescimento do setor no fi-nal de 2005, as Nações Unidas reconheceram o setorde feiras e eventos como categoria econômica dife-renciada no Padrão Internacional de Classificação deAtividades Econômicas (ISIC).

Estima-se, pelo calendário do Rio Convention &Visitor Bureau, que, na Cidade do Rio de Janeiro, em2005, a receita gerada pelos eventos tenha sido deaproximadamente US$ 215 milhões, atraindo 235 milparticipantes. Calculem uma permanência média decinco dias e gastos per capita de US$ 240 para os parti-cipantes de eventos internacionais, e US$ 160 paraeventos internacionais. Esse é um outro diferencial.O turista consome bem menos do que um participan-

te do congresso. Primeiro porque, muitas vezes, seusgastos não são pagos do próprio bolso, mas do bolsoda empresa; e segundo, ele não tem tempo para sairpara almoçar ou jantar; é muito mais fácil ele consu-mir e pagar o preço do hotel. Ele não vai ao super-mercado comprar um sanduíche e trazer uma garrafade água. Ele consome o que está lá.

A América Latina cresceu 2% em sua posição comosede de eventos internacionais. O Brasil é o 8º Paísem número de participantes em eventos internacio-nais e o 11º em número de eventos (138). Em 2002,ocupava o 21º lugar, com 59 eventos; em 2003, o 19ºlugar, com 62 eventos; e em 2004, o 14º lugar, com106 eventos.

No Brasil, a indústria de congressos, convenções efeiras vem crescendo mais de 80% anualmente desde2004.

Nos últimos 11 anos (até 2005), pode-se dizer queum terço, ou seja, cerca de 35% dos estrangeiros quevisitaram o Brasil vieram ao Rio de Janeiro, sendoque 40% a 50% (entre 2000 e 2005) por motivo denegócios e trabalho, e de 12% a 14% (no mesmo pe-ríodo) por motivo de convenções, congressos e/oufeiras – contra um percentual de 25% a 35% que vi-eram a lazer no mesmo período.

Pelo 9º ano consecutivo, a cidade do Rio de Janeiro éapontada como a cidade das Américas que mais rece-be eventos internacionais, e a 29ª no mundo, com 39eventos. São Paulo recebeu 29 eventos, e Salvador,18, ocupando a 59ª posição.

A demanda por eventos e feiras no Rio de Janeiro cres-ce, em média, 8% ao ano.

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Quero explicar que a International Congress & Con-vention Association (ICCA) é uma entidade interna-cional, quer dizer, ela tem um padrão ICCA de even-tos. São eventos itinerantes que acontecem regular-mente e que têm de ter uma periodicidade. Então,eles têm seus patamares; e os países concorrem. Even-tos ICCA são itinerantes pelo menos por três países,têm periodicidade fixa e um mínimo de 50 participan-tes.

Pesquisa. A pesquisa foi realizada pela Escola Brasi-leira de Administração Pública, com o Ministério doTurismo e a Embratur. E todas as empresas da Abeocque eu conheço responderam. Então, acho que elesconseguiram um universo autêntico. Quando há reu-nião da Abeoc, incentivamos, primeiro, a resposta àpesquisa, porque, hoje, só conseguimos mostrar quetemos importância quando temos números. Então,incentivamos as empresas a nos passarem esses nú-meros para podermos ter credibilidade.

Vou mostrar a última que foi feita. Foi publicada emmarço e fechada até dezembro do ano passado.

Aqui foram sinalizadas apenas as respostas das em-presas organizadoras e promotoras de feiras e even-tos dentre as 80 maiores empresas do setor de turis-mo. O conjunto dessas 80 empresas, em 2005, fatu-rou cerca de R$ 25,6 bilhões, o equivalente a aproxi-madamente 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB)nacional.

Na avaliação dos empresários promotores de feiras eeventos, a economia brasileira, no ano de 2005, apre-sentou um melhor desempenho que no ano anterior.Segundo os resultados da pesquisa, 61% do setor afir-

ma que o mercado brasileiro de feiras cresceu em re-lação a 2004. Entre os fatores que explicam esse re-sultado, destacam-se a estabilidade econômica e umamadurecimento do mercado de feiras.

Para a totalidade dos pesquisados, o faturamento brutodas empresas aumentou cerca de 13,8%. Tal incre-mento pode ser explicado por melhor aproveitamen-to do espaço das feiras, aumento do porte dos even-tos e incremento do preço cobrado. No entanto, al-guns fatores, como a falta de espaços adequados paraos eventos, escassez de capital de giro e falta de fi-nanciamento de longo prazo, foram apontados comoinibidores de um crescimento maior do setor.

Apesar do crescimento do faturamento verificado em2005, o mercado de trabalho nesse segmento perma-neceu estável, uma vez que o número de feiras dimi-nuiu. Ressalte-se que a grande sazonalidade apresen-tada tradicionalmente nesse segmento afeta direta-mente o faturamento das empresas pesquisadas.

Em relação aos custos operacionais, ficou constadoum aumento de, aproximadamente, 7,2% em 2005,influenciado principalmente pelo custo do pavilhão,serviços contratados e divulgação. Esse aumento in-fluenciou os preços cobrados com uma majoração de7,4%.

Um fato positivo desse setor é que 52% do mercadopretende realizar investimentos em 2006. As priori-dades de investimentos para esse setor são tecnologiae marketing.

Para encerrar vamos citar duas premissas que consi-dero bastante importantes: participar e trabalhar poruma entidade é fundamental para o fortalecimento e

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para a representatividade de qualquer segmento. Achoque nós, da área de eventos, tomamos posse justa-mente por isso, porque é um trabalho cuja importân-cia vimos mostrando. E a viabilização de negócios éo nosso grande objetivo.

20 de setembro de 2006

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Esta palestra, na verdade, trata um pouco do tra-balho que estamos realizando, em nível de Governo,de Secretaria da TurisRio, apresentando alguns dadose uma política da TurisRio, da Secretaria de Estado,entendendo o Turismo como uma atividade econô-mica.

Nosso Estado tem uma área de 43.798 km2 – 0,5%da área do País. É o principal pólo turístico eirradiador de cultura e de tendências do Brasil. Di-versidade: basicamente todos os segmentos da ati-vidade turística.

Sabemos que, sendo o Rio de Janeiro o principal des-tino, independentemente do tamanho da Cidade e doEstado, suas regiões, seus pontos turísticos, seus atra-tivos são muito representativos e, sem dúvida nenhu-ma, os principais do País.

Tenho certeza absoluta de que os senhores já têmconhecimento dos números que vou apresentar ago-ra. De qualquer forma, em toda e qualquer palestra éimportante ser registrado, porque, muitas vezes, háalterações; e nós nos baseamos nas informações obti-das em nível de País.

Então, temos: Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil:US$ 450,882 bilhões; PIB do Rio de Janeiro: US$ 72bilhões (16,3% do PIB do Brasil); participação do tu-rismo no PIB do Rio de Janeiro: US$ 2,9 bilhões (3,9%do PIB do Rio de Janeiro). [Fonte: Centro de Infor-mações e Dados do Rio de Janeiro (Fundação Cide).]

Então, vejam a representatividade que a nossa cida-de, o nosso Estado tem no segmento do turismo.

Crescimento da demanda internacional no Brasil e noRio de Janeiro (em milhões). Em 2001: 4,773 milhões

TURISMO COMO ATIVIDADE ECONÔMICA

Nilo Sergio Félix

Subsecretário de Estado de Turismo do Rio de Janeiro

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de turistas estrangeiros; e o Rio de Janeiro, 1,373 mi-lhões. Em 2002: 3,783 milhões de turistas estrangei-ros; e o Rio de Janeiro, 1,450 milhões. Em 2003: 4,133milhões de turistas estrangeiros; e o Rio de Janeiro,1,525 milhões. Em 2004: 4,704 milhões de turistasestrangeiros; e o Rio de Janeiro, 1,709 milhões. Em2005: 5,358 milhões de turistas estrangeiros; e o Riode Janeiro, 1,8 milhões. Vejam que há um crescimen-to nesses últimos cinco anos. Não sei se vamos atin-gir à meta do Governo Federal até 2007, quer dizer,acho até que não vamos conseguir. De qualquer for-ma, há um crescimento expressivo, independentementedos próprios recursos, que, no passado, eram maisescassos. Hoje, a política de investimento em propa-ganda e marketing tem pelo menos uma definiçãodessa política. E é importante para cada Estado, paracada cidade saber, por meio dos recursos descentrali-zados, o que pode aplicar e investir no turismo.

Perfil do turista estrangeiro hoje. Permanência mé-dia: 13,5 dias; e o gasto médio é de US$ 88 per capita .Motivo de viagem: lazer, 53,9%; negócios, 26%. Hoje,o turismo de negócios está se aproximando mais doturismo de lazer.

Ranking das cidades mais visitadas por motivo de lazerem 2005. 1º) Rio de Janeiro-RJ, com 31,5%; 2º) Fozdo Iguaçu-PR, com 17,0%; 3º) São Paulo-SP, com13,6%; 4º) Florianópolis-SC, com 12,1%; 5º) Salva-dor-BA, com 11,5%; 6º) Balneário Camboriú-SC, com6,7%; 7º) Fortaleza-CE, com 6,4%; 8º) Natal-RN, com5,8%; 9º) Búzios-RJ, com 5,4%; 10º) Manaus-AM,com 4,0%; e 14º) Paraty-RJ, com 2,2%.

Nos dados hoje apresentados pelo Ministério do Tu-rismo foi separado turismo de lazer de turismo de ne-

gócios. A vocação do Rio de Janeiro é lazer, entrete-nimento. Então, estou apresentando o quadro de lazer,que, para nós, é da maior importância. Temos Búziosem 9º lugar e Paraty em 14º no ranking. Paraty, em2005, foi a quinta cidade do País que mais recebeuturistas ingleses e franceses. E em dados consolida-dos, em 2006, a tendência é que Paraty vá para o 11ºlugar no turismo de lazer.

Vôos charters . O Rio de Janeiro recebeu, em 2004,1.116 e, em 2005, 6.728 – um crescimento de502,87%. O Rio de Janeiro, em relação às demais ci-dades – levando em consideração, obviamente, o RioGrande do Norte e o Ceará, pela proximidade, com aEuropa e também com investimentos feitos no vôocharter – teve os números bastante expressivos. Dequalquer maneira, o Rio de Janeiro está em uma ten-dência de crescimento; e agora, em 2006, vamos su-bir mais 25%. São dados da Infraero.

Oferta turística do Rio de Janeiro. Meios de Hospe-dagem: 2.847; agências de viagens: 1.790; transpor-tadoras turísticas: 496; organizadoras de eventos: 205;guias de turismo: 6.530.

Todos esses números são cadastrados na TurisRio,como órgão delegado do Ministério do Turismo.

Evolução da oferta turística – período 2003 a 2006.Verificamos que nos meios de hospedagem subimosde 2.655 para 2.847 em três anos. São mais 200meios de hospedagem. São investimentos na área dehotelaria e pousadas, não só na capital, como tam-bém no interior. Os guias também aumentam, a partirdo momento em que incentivamos a categoria, bemcomo as agências de viagens, os transportadores tu-

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rísticos e os organizadores de eventos. Também do-bramos, hoje, esse cadastramento e a própria ativi-dade.

Ampliação do parque hoteleiro – período 2006-2007.Cidade do Rio de Janeiro: número de empreendimen-tos – 7; número de unidades habitacionais – 1.503;investimento (milhões de reais) – 200; empregos ge-rados – 1.695. No interior do Estado: número de em-preendimentos – 10; número de unidades habitacionais– 1.516; investimento (milhões de reais) – 285; em-pregos gerados – 8.044.

Então, tivemos, de um ano e meio para cá, um totalde 17 empreendimentos, 3.119 unidades habitacio-nais, investimentos de R$ 485 milhões e 9.739 em-pregos gerados.

Taxa de ocupação média anual da hotelaria no Rio deJaneiro. Ocupação média, em 2005, de 59,65% e, em2006, de 66,99%. [Fonte: Associação Brasileira da In-dústria de Hotéis (ABIH).] Apesar de todas as crises,das notícias, da mídia, muitas vezes desfavoráveis,houve crescimento da ocupação média da hotelariana Cidade. Estamos esperando, obviamente, fechar oano com uma ocupação de mais de 70%, levando emconsideração o período de dezembro.

Cidades organizadoras de eventos internacionais: Riode Janeiro – 34; São Paulo – 16; Salvador – nove;Porto Alegre – oito; Florianópolis – seis.

Assim, o Rio de Janeiro também se destaca como ci-dade organizadora de eventos internacionais. É a 27ªcidade no mundo no ranking de eventos internacio-nais realizados em 2004. Fonte: International Congress& Convention Association (ICCA).

Cruzeiros marítimos – 2003-2006. Atracações: em2003-2004 = 78; em 2004-2005 = 81; em 2005-2006= 113. Passageiros: 2003-2004 = 92.800; em2004-2005 = 126.102; em 2005-2006 = 186.351.Dados do Píer Praça Mauá.

Houve um crescimento bastante expressivo. Nesteano, devemos ter um crescimento de mais de 20%.

Resultados da temporada 2005-2006. Em média, 80%dos passageiros desembarcam nos portos; o gastomédio dos passageiros no Rio de Janeiro é de US$104; o gasto médio dos tripulantes nos portos do Riode Janeiro é de US$ 72. Essa foi uma arrecadação paraa Cidade de cerca de US$ 15 milhões. Hoje, há umadiscussão dos resorts, dos hotéis de lazer, com relaçãoaos cruzeiros marítimos. Eles são de opinião que oscruzeiros marítimos atrapalham a ocupação dos ho-téis de lazer. Mas há um estudo, já apresentado, mos-trando que a verdade não é bem essa; que é o contrá-rio; vai acabar trazendo negócios para a Cidade e parao Estado. É um estudo que já está desenvolvido e jáfoi apresentado. Trata-se da importância dessa reu-nião do setor dos cruzeiros marítimos, dos operado-res com os próprios diretores dos hotéis de lazer,mostrando que existe, sim, uma participação, umacontribuição, não com um inimigo deles, mas com umconcorrente.

Geração de empregos no Rio de Janeiro: em 2004 =219.338 empregos diretos; em 2005 = crescimentoem torno de 10%, com a mesma perspectiva para2006. Atualmente = cerca de 260.000 trabalhadoresdiretamente ligados ao setor. No Brasil, a cada 11 tra-balhadores um está ligado diretamente ao turismo.[Fonte: Fundação Cide.]

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Programa: Promoção e Marketing. A Secretaria deEstado de Turismo e a TurisRio desenvolveram, nagestão do Sérgio Ricardo como Secretário, materialdidático novo de todas as regiões. Reformulamos todoo material de marketing. Fizemos ações promocionais,com DVDs, CDs, Discovery Rio de Janeiro, showfolders,showletters; participamos de quase todas as feiras. Fi-zemos campanha publicitária em São Paulo e em BeloHorizonte, uma campanha de férias, e vamos repetiragora em novembro. Fizemos campanha em outdoor ,rádio, jornal e televisão. Desenvolvemos ações den-tro de shopping centers , uma ação dirigida ao públicofinal, distribuindo brindes, sorteando final de semanae fazendo reserva diretamente também, com um linkcom a Abih. Vamos repetir essa ação.

Temos um programa de promoção de marketing quese chama: O Rio é de Vocês. Ele foi fundado em 1990pelo setor privado. Hoje completa 16 anos. A hotelariado Rio de Janeiro entendeu que deveria mudar o for-mato das apresentações dos encontros comerciais. Eaí, devo dizer e registrar que um dos incentivadoresdo O Rio é de Vocês, que na época era Presidente daRiotur, foi o meu amigo Trajano Ribeiro. Participa-mos de um evento da Riotur na época. Vou contaruma pequena estória. A Riotur tinha um programachamado: Conheça o meu Produto. E fomos ao encontro– eu, Alfredo Lopes e Júlio Biasi – em Curitiba. Acon-tece que o formato era, realmente, produto. Então,de um lado, eu vendia o hotel, de outro, vendia pro-grama de computador, brindes, etc. Na época, junteimeia dúzia de colegas presidentes e disse: “Temos defazer um evento somente com hotelaria, que, a rigor,é o que se precisa promover e divulgar mais; e que sedivulguem os seus destinos, o destino do Rio de Ja-

neiro.” Então, criamos esse programa. Fizemos comsucesso dois ou três eventos. E aí, o Trajano Ribeironos chamou e fizemos uma reunião com o GeraldoLessa, na época vice-presidente. O Trajano Ribeironos chamou, na época, e disse: “Vocês não vão fazeresse workshop. A partir de agora, vamos incorporar oprojeto no O Rio de Vocês. Então, Trajano Ribeiro éum dos responsáveis pelo apoio público da Riotur aoprojeto O Rio é de Vocês.

Fizemos, nesses 16 anos, 320 encontros comerciais econtatamos 92 mil agentes de viagens. São, em mé-dia, 22 eventos por ano. E outra coisa: esse não é umprograma do Governo; é um programa da iniciativaprivada. É viabilizado pela iniciativa privada, por umgrupo de empresários. E aqui, faço questão de regis-trar que um dos principais coordenadores desse pro-jeto é o meu amigo Sávio Neves, Diretor do Trem doCorcovado. E estamos com o calendário de eventosnacionais e internacionais. Ganhamos um prêmio, tam-bém, da Escola Superior de Propaganda e Marketing,como um dos melhores movimentos de divulgação epromoção de um destino.

Obviamente, começamos um trabalho sempre procu-rando os nossos estados, as nossas cidades vizinhas,pois entendemos, conforme o próprio registro da Or-ganização Mundial do Turismo (OMT), que o turis-mo que mais cresce é o de curta distância. Então, vocêtem de trabalhar primeiro os seus vizinhos; e não só omercado nacional, mas também o internacional. Co-meçamos em Buenos Aires, no Chile, Montevidéu e,depois, atingimos também a Europa: Portugal, Lis-boa, Porto, Madri, Barcelona, etc. E estamos com umcalendário bem intensivo. Vamos participar, agora, umdia antes das feiras internacionais, ou seja, vamos pegar

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já o empresário a caminho das feiras internacionais emontar o nosso cenário para o agente/operador, ven-dendo, especif icamente, o Rio de Janeiro, com as açõesde shopping, que são balcão com uma recepcionistadistribuindo brindes e fazendo reservas para os ho-téis que participam desse projeto.

Participamos do Espaço Brasil, na França, com todoo nosso material em cinco idiomas.

Tivemos, agora, também em Berlim, junto com o RioConvention & Visitors Bureau e a Prefeitura. Foimontado um espaço do Rio de Janeiro em Berlim,durante todo o mês da Copa do Mundo, com distri-buição de folhetaria e de outros materiais: Pelé Station.

Hoje, a Secretaria, juntamente com os nossos outrosparceiros, além de ter o calendário dos nossos even-tos, do O Rio é de Vocês, está participando de todas asfeiras do calendário da Embratur: as feiras internacio-nais e as feiras nacionais. Então, existe essa política,não só da TurisRio, como também da Riotur e doConvention & Visitors Bureau, da Abih, do Sindica-to. Então, formamos um grupo de amigos, apartidários,que entendemos que, para o turismo, é importanteestarmos sempre juntos. Com esses esforços, redo-bramos a promoção. Sendo assim, você aumenta ovolume de negócios para nós. Participamos assim:Festival de Turismo de Gramado – Rio Grande doSul; Feira Internacional de Turismo (FIT) – Argenti-na; Brazilian International Tourism Exchange (BRITE)– Rio de Janeiro; Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL) –Lisboa/Portugal; Feira Internacional do Turismo(FITUR) – Madri/Espanha; Salão do Turismo – SãoPaulo/SP; Associação dos Agentes de Viagens deRibeirão Preto (AVIRP) – Ribeirão Preto/SP;

Adventure Sports Fair – São Paulo/SP; AVIESTUR– Feira de Turismo da Associação dos Agentes deViagens Independentes do Interior do Estado deSão Paulo (AVIESP) – Águas de Lindóia/SP; eFórum Mundial de Turismo. Realizamos articula-ção com diplomatas, autoridades e profissionais damídia internacional visando a divulgação do pro-duto turístico do Estado, trazendo-os, periodica-mente, para conhecer o Rio de Janeiro – a Cidade eno interior do Estado.

O mercado português: estamos, agora, olhando commuito bons olhos, porque há um crescimento bempontual. Fizemos, no ano passado, uma missão com aGovernadora Rosinha Garotinho; participamos dafeira da BTL e levamos o projeto O Rio é de Vocês aPortugal, a Lisboa e ao Porto. Foi o evento nosso maisexpressivo na Europa. Conseguimos, nessas duas ci-dades, reunir mil agentes de viagens.

A presença do mercado português, em 2004, foi de61.542, com crescimento de 28,3%. E o Estado doRio de Janeiro, obviamente, apresentou 2,7% de cres-cimento.

Resultado: o Estado do Rio de Janeiro arrecadou cer-ca de US$ 65 milhões em 2004 com o mercado portu-guês (considerando gasto médio de US$ 80 ao dia epermanência média de 13 dias). [Fonte: Anuário Es-tatístico da Embratur de 2005.]

Vejam que o mercado português, hoje, já é bastanteexpressivo.

Para obtermos um crescimento representativo no seg-mento turístico, será necessário seguir a recomenda-ção da OMT: o destino turístico deverá aplicar em

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promoção e marketing o correspondente a 2% da re-ceita gerada pela sua atividade turística no Estado.Lembramos que cada dólar investido representaUS$ 6 de retorno para o Estado.

O que é importante? É exatamente isso: muitas ve-zes, o destino, Estado ou Município, não observa es-ses dados pontuais da OMT. Se tivéssemos os 2%dessa receita da nossa atividade aplicada em mar-keting, com certeza absoluta estaríamos aqui, hoje,falando com outros números sobre o nosso destino.

De qualquer forma, acho que os políticos, hoje, en-tendem a importância da nossa atividade, a impor-tância dessa geração que consegue diminuir as diver-gências sociais. Você consegue dar emprego, desen-volver essa atividade da indústria sem chaminé, daindústria do crescimento. Acho que hoje existe umaconsciência política, não só nas esferas municipal eestadual, mas também na esfera federal, da importân-cia de incentivar e de valorizar. Entendemos, tam-bém, que os recursos conquistados mostram que houveum crescimento nesse investimento, um crescimentoda importância dessa política dos recursos descentra-lizados, que são captados por meio do Fórum do Tu-rismo, dos Conselhos Estaduais de Turismo. Obvia-mente, esperamos que esses recursos melhorem, mas,de qualquer maneira, não deixa de ser uma contribui-ção clara para que possamos utilizar, obviamente agre-gando aí os recursos do Estado e do Município.

Certamente todos os senhores têm conhecimento dasinformações mostradas nesta apresentação, pois co-nhecem o assunto tanto quanto ou mais do que eu,mas é importante sempre falarmos dos números. En-tão, trouxe algumas coisas que entendi serem impor-

tantes. Este é o fórum dos Conselheiros e vocês co-nhecem muito bem a nossa atividade; não há nada denovo, mas há essa importância de estarmos semprejuntos, falando uma linguagem comum no Rio de Ja-neiro, pois todos querem que o Rio de Janeiro cresçacada vez mais, que possamos trazer mais turistas, ge-rar mais emprego, conseguindo arrecadar mais, nãosó para o Estado, mas também para o Município. Édessa forma que estamos hoje, aqui na CNC, Presi-dente Trigueiros, neste trabalho, nessas reuniões, nes-ses encontros com excelentes palestrantes. Com cer-teza, já participei aqui de palestras brilhantes que trou-xeram muitas novidades, mas entendemos que temosde mostrar, de apresentar os nossos dados, a nossapolítica.

Quero agradecer a todos os senhores e cumprimentá-los, mais uma vez, esperando que, obviamente, pos-samos estar juntos mais vezes. Esta é uma Casa deamigos. Aqui é difícil apresentarmos uma palestra,pois eu gostaria de citar cada um dos senhores. Sãopessoas que, além do conhecimento profissional, sãoamigas, carinhosas. E eu me sinto muito à vontadepara falar, para estar aqui, porque faço parte integran-te, embora, muitas vezes, esteja ausente por conta daatividade; mas sinto-me em casa. Esta é uma casa deamigos; uma casa na qual consegui aprender muito; econseguimos formar esse grupo sob a liderança domeu amigo, Presidente Trigueiros. Nós nos conhece-mos há muitos anos, quando você era Diretor da Varig.Tive o prazer e a honra desse convívio, por intermé-dio do meu amigo pessoal Guilherme Cartolano, queé um craque de marketing. Ele veio da sua época naVarig. Vocês desenvolviam trabalhos excepcionais pelo

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Brasil afora. A Varig é uma referência. Ela represen-tou e representa ainda o Brasil com muita dignidade.

Então, nesses encontros comerciais aprendi a fazer ea criar muito em função dessa sua escola. Tive a hon-ra de participar desde o início da sua gestão e da ges-tão do Cartolano, desenvolvendo os encontros comer-ciais. Foi aí que tivemos essa oportunidade de criar ORio é de Vocês. E também tive a honra de ser gerenteda Cruzeiro do Sul, sendo este o meu primeiro em-prego no turismo, e, depois, na Celta Hotéis, que erauma subsidiária da Cruzeiro do Sul, também dentroda minha especialidade no turismo, organização emétodos – este é um breve currículo, porque o meumandato está terminando em 31 de dezembro. De-pois da Celta Hotéis, fui implantar o Ducal PalaceHotel, em Natal, em 1974-1975. Depois, durante 20anos, estive implantando também os hotéis do Frade,em Portobelo. Fui Diretor e tive a concessão da partede alimentos e bebidas do Trem de Prata, trem Rio-São Paulo. E em 1994 fui convidado pelo meu queri-

do amigo Caio Luís de Carvalho para dirigir a Embraturaqui no Rio de Janeiro. Depois, o relacionamento e aamizade do meu querido Senador Francisco Dornellesconduziu-me a uma vertente política. A rigor, sou téc-nico, mas estou muito orgulhoso. Estou junto com oSérgio Ricardo na Secretaria de Turismo. Temos umaamizade muito estreita; coisa de amigos. Fazemos ascoisas juntos, temos um compromisso muito grandeum com o outro. Tenho muito carinho e muita admi-ração pelo Sérgio, que é pupilo do meu querido amigoTrajano Ribeiro. Mas como sou 18 anos mais velhoque ele, faço o teu papel lá, Trajano.

É isso. Quero, mais uma vez, agradecer e dizer quevocês podem contar comigo para qualquer coisa. Es-tou à disposição para qualquer pergunta que vocêsqueiram fazer. Muito obrigado.

18 de outubro de 2006

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Vamos apresentar o Instituto. O Presidente, Tri-gueiros, disse que sou Presidente do Instituto Brasi-leiro de Estudos Estratégicos e de Políticas Públicasem Transporte Aéreo. Já que estamos falando em Ins-tituto de Transporte Aéreo, em uma palestra sobretransporte aéreo, cabe colocarmos, aqui, um pensa-mento de um dos maiores líderes do transporte aéreoque o mundo já conheceu, o Herb Kelleher, ex-Presi-dente e atual chairman da Southwest Airlines.

Ele diz: “Quando se está em um setor em que os ati-vos viajam a 900 km/h, deve-se ser rápido e proativo”.Desde o início, falávamos a todos na empresa: “Ques-tione! Desafie! Décadas de conceitos, práticas e pen-samentos estáticos e inflexíveis levaram as empresasaéreas a uma constante de prejuízos e falências”.

Essa é uma realidade gritante no transporte aéreo nosEstados Unidos. Nos últimos anos todas as grandes

empresas americanas entraram no Chapter 11, menosa American Airlines, a única que conseguiu sobrevi-ver nesses últimos 5 ou 6 anos sem ingressar na pro-teção do regime de concordata.

O que é o Instituto? É uma associação civil de ca-ráter técnico-científico sem fins lucrativos, dotadade personalidade jurídica de direito privado e pa-trimônio próprio. Tem a missão de ser um agentede transformação do pensamento, dos conceitos,do planejamento e das políticas de transporte aé-reo no Brasil e no mundo.

Estamos aqui com uma visão bastante entusiasmada.Não temos nem um ano de existência, mas, com bas-tante ímpeto, pretendemos chegar a 2016 como umdos 10 mais atuantes think tanks de transporte aéreodo mundo. E, com certeza, estamos contando com ossenhores.

TRANSPORTES AÉREOS NO BRASIL:DESAFIOS E OPORTUNIDADES

Respício Antonio do Espírito Santo Junior

Presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Estratégicos e de Políticas Públicas em Transporte Aéreo

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O primeiro dos nossos valores é o Compromisso coma Sociedade. Somos totalmente voltados para a socie-dade. No website os senhores encontrarão uma sériede análises e discussões que têm por objetivo buscardesmistificar o transporte aéreo para a sociedade bra-sileira. Buscamos fazer com que os assuntos relativosàs políticas públicas do transporte aéreo se tornemmais populares, mais fáceis para a sociedade com-preender, e não apenas para os especialistas discuti-rem e entenderem. Nossos outros valores são: o profis-sionalismo, a integridade, a flexibilidade, a simplici-dade, a modernidade e a publicidade.

Vocês poderão ver, depois, tudo isso em detalhes nowebsite: www.institutocepta.org. O que estou fazendoaqui é apenas uma brevíssima apresentação.

O objetivo do Instituto, como eu estava dizendo, é:tornar os assuntos considerados relevantes para otransporte aéreo acessíveis à sociedade brasileira, ouseja, discutir os assuntos de transporte aéreo junto àsociedade, para a sociedade. Não importa se você éespecialista, se já viajou de avião ou não. O transpor-te aéreo precisa ser conhecido por todos, sem exce-ção; precisa ser desmistificado.

Estamos aqui no Conselho de Turismo. Tenho umpensamento de que o transporte aéreo, como qual-quer meio de transporte – e aqui enfatizo que ele éum meio –, não deve ser visto da maneira como osamericanos gostam de se referir a ele: airline industry.Com isso, quero dizer que não considero o transporteaéreo uma indústria. Considero-o um setor que auxi-lia uma infinidade de indústrias, entre as quais figurao turismo. Veremos, um pouco mais à frente, exata-mente a continuação desse pensamento. Já adianto

um pouco que, na nossa visão, as políticas de trans-porte aéreo deveriam ser elaboradas respeitando aspolíticas de turismo, as políticas de comércio exte-rior, de relações internacionais. Sustento a opinião deque as políticas de transporte aéreo não podem serfeitas de modo completamente independente, comose ele existisse sozinho. É esta a nossa visão para otransporte aéreo: ele é um meio para que outras in-dústrias floresçam.

Se o Instituto trabalha diretamente com transporteaéreo, trabalhamos, com certeza, com turismo. E setrabalhamos com transporte aéreo e com turismo, tra-balhamos também com transportes de um modo ge-ral. Por exemplo: transporte no entorno de um aero-porto; vias de acesso para um aeroporto. Não pode-mos nos esquecer de que o transporte aéreo dependedos outros meios de transporte...

As outras áreas de atuação do Instituto são: planeja-mento estratégico, análise econômico-financeira etecnologia da informação, tudo voltado para o trans-porte aéreo e para o turismo.

E quem somos nós? Somos mais de 50 membros pre-vistos em ata, em estatuto, sendo a maioria de nósbrasileiros. São 30 membros aqui no Brasil e 22 mem-bros estrangeiros, divididos por Estados Unidos, Ca-nadá, França, Itália, Inglaterra, Espanha, Holanda,Finlândia, Grécia, Suíça e Taiwan.

Como destaques desses membros temos três colegasdaqui do Conselho que são membros do Instituto.Vamos, inclusive, fazer uma homenagem a um delesdaqui a pouco. Vamos deixar essa surpresa para o fi-nal da palestra.

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Outros membros que se destacam no Instituto são: oDiretor do International Aviation Law Institute e vice-coordenador para assuntos de transporte aéreo daOrganização Mundial do Comércio (OMC) nas roda-das 2003-2004; o Vice-Presidente de Estudos Futu-ros da Boeing; o assessor-sênior do Chief InformationOfficer da Federal Aviation Administration (FAA); oex-chief executive Officer (CEO) da Ryanair; um pro-fessor emérito da Universidade Braz Cubas (UBC);um Coordenador de cursos de extensão da Universi-dade de Cranfield; e mais professores doutores daUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), doInstituto Militar de Engenharia (IME), da PontifíciaUniversidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro (PUC-Rio), do Rio Grande do Sul (PUC-RS), de São Paulo(PUC-SP), da Universidade Federal Fluminense(UFF), da University of British Columbia, da ToulouseBusiness School, da Embry-Riddle AeronauticalUniversity, da Leiden University, entre outras insti-tuições.

Temos, portanto, um leque bastante expressivo demembros. Apesar de o Instituto ser novo – foi criadoem agosto/setembro de 2006 –, se somarmos todasas nossas experiências, teremos perto de 900 anos deexperiência acumulada em transporte aéreo e turis-mo. O Instituto já nasceu com essa solidez.

Após a apresentação do Instituto, é hora de olhar parao futuro. Temos de pegar nossa experiência, nossavivência do passado. E esta é uma coisa pela qual oInstituto preza muito: a experiência do passado. Te-mos de olhar para frente. Em relação a esse olhar parafrente, escolhemos este provérbio japonês para co-meçarmos, efetivamente, a palestra sobre transporte

aéreo: “Quando se está com muita sede já é tarde de-mais para começar a cavar um poço”.

Temos de estar sempre atentos às mudanças, não im-portando se gostamos ou não delas. E podemos lutarcontra as mudanças? Claro, é um direito que todostemos. Entretanto, temos de estar sempre atentos aelas. Precisamos estudar as mudanças. Será que essa éa única alternativa? Vocês devem se lembrar da épo-ca da Margareth Thatcher. Um de seus lemas era:“There is no alternative”. Mas existem várias alternati-vas, sim, e não apenas uma. Temos de estar sempreatentos a esse leque de alternativas; sempre estudan-do, analisando, perguntando muito mais que respon-dendo. De preferência, que nunca façamos corpo molepara aquela única alternativa que está sendo jogadasobre nós. Não. Temos de pensar que existe sempreum leque de alternativas. Então, vamos lá.

São alguns poucos slides, mas nossa vontade era colo-car dois mil slides. Que tal começarmos com o mundointeiro? População por região: 5% na América doNorte; 8% na América Latina; 15% na África; 3% noOriente Médio; 56% da população mundial na ÁsiaPacífica; e 13% na Europa. Produto Interno Bruto:temos 23% na América do Norte. A ordem de gran-deza da América Latina continua mais ou menos amesma, apesar de ter mudado o referencial completa-mente – 7%; 4% na África; 37% na Ásia Pacífica;26% na Europa; e 3% no Oriente Médio – ficouinalterado em relação à população. E o transporte aéreoem termos de passageiros transportados por região?Temos 36% de tráfego regular concentrado nos Esta-dos Unidos e no Canadá; 31% na Europa; 23% naÁsia Pacífica; e 10% em dois continentes e meio:

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América Latina, África e Oriente Médio. E aqueles23% da Ásia Pacífica, a International Air TransportAssociation (IATA) e a International Civil AviationOrganization (ICAO) prevêem que, daqui a 15 ou 20anos, ela passe para a Europa, para os Estados Uni-dos e para o Canadá.

E qual seria a divisão do transporte aéreo com rela-ção à oferta, se considerássemos a aeronave, o veícu-lo? A aeronave é uma unidade de produção. Então, seconsiderarmos as aeronaves a jato acima de 50 assen-tos e a população de alguns países, constataremos queos Estados Unidos têm 22,3 aeronaves para cada mi-lhão de habitantes. Aqui ao lado vemos a China, commenos de uma aeronave a jato acima de 50 assentospor milhão de habitantes. O mesmo ocorre com a Ín-dia. E nós, aqui no Brasil? Bem, estamos muito bem,se nos compararmos com a China e com a Índia, quepossuem populações monumentais. Mais ainda: elestêm um transporte aéreo quase engatinhando em vá-rias frentes. Nesse ponto, estamos muito à frente de-les. A Rússia tem um pouquinho mais. A Europa Con-tinental tem aproximadamente três aeronaves a jatoacima de 50 assentos por cada milhão de habitante.

Com isso, vemos que, por exemplo, os Estados Uni-dos estão muitíssimo bem atendidos. China e Índiaestão muito mal atendidas. Nós, por incrível que pa-reça, estamos também mal atendidos com relação àprodução da oferta do transporte aéreo. Muito maismal atendidos ainda depois da redução do tamanhoda Varig.

Com relação à média. Qual é o número de viagens,por ano, por habitante, desses continentes e subcon-tinentes?

Não chegamos nem a 0,1 viagem por habitante porano. Em compensação, a América do Norte registra1,7 viagem por habitante. Com isso, mais uma vezconstatamos: estamos viajando muito pouco. Não te-mos uma distribuição de renda capaz de fazer comque a população se aproxime do transporte aéreo.

Eu tive a oportunidade de estar presente em Santiagodo Chile em 2004, quando a Airbus apresentou estegráfico. Disseram que essa parte em que estamos éuma área excelente, pois a cada incremento mínimona renda registramos um grande aumento no númerode viagens; e isso é muito bom. Vejam nestes outrospaíses como o mercado parece estar um tanto quantosaturado: Noruega, Suíça, Nova Zelândia. Você podeter um grande incremento na renda que eles não vãoviajar tanto mais assim. Por quê? Porque já viajammuito. Se houver mais crédito para a população brasi-leira, se existir uma melhor distribuição de renda, comcerteza mais do que absoluta, vamos começar a viajarmuito mais.

Se estamos falando em transporte aéreo, estamos ven-do o mundo como um todo, para, depois, chegarmosaté o Brasil. E vamos saber o por que estamos vendoo mundo primeiro, para, depois, chegarmos ao temado nosso País.

Alguém se habilita a comprar algumas destas empre-sas aéreas?

Agora, no final do ano, houve uma corrida, digamosassim, para aquisições forçadas, aquisições hostis deempresas aéreas. Uma delas é esta: em dezembro de2006, a US Airways ofereceu US$ 10,2 bilhões pelaDelta Airlines.

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Vamos considerar a Southwest Airlines, que até o anopassado era tida como a empresa aérea de passageirosde maior valor de mercado no mundo: US$ 11,8 bi-lhões. Faço questão de ressaltar “de passageiros”. Porquê? Porque tanto a UPS quanto a FedEx valem mui-to mais que isso.

E uma das empresas de maior valor de mercado é bra-sileira: a Gol. Esta empresa conseguiu aproveitar,obviamente com um mapa astral muito bem-feito, umaconjunção de fatores realmente impressionantes quefizeram com que ela se transformasse no que é hoje.Competência? Com certeza. Mas uma infinidade defatores externos também fez com que a Gol chegasseonde chegou.

Muitos dizem que as empresas aéreas cobram caro,além de outras coisas. Que tal agora conhecermos umpouco do que está em volta, digamos assim, das em-presas aéreas? Elas são tão cruéis assim? Não, nemum pouco. Elas são em grande número, aos milhares,enquanto os principais provedores de serviços, os prin-cipais reguladores do setor são muito poucos. O quese observa é que as empresas aéreas estão sempre àmercê de monopólios, duopólios ou grandes oligo-pólios. Quem é uma American Airlines para dar umalição em uma Shell? Não é ninguém. A Shell tem umpoder político-econômico em escala mundial inúme-ras vezes maior do que uma American Airlines. Eestamos falando apenas dos fornecedores de combus-tível. Se formos falar dos fabricantes de motores, ve-remos que existem apenas três ou quatro representa-tivos no mundo. Se falarmos dos fabricantes das ae-ronaves, aí, sim, teremos apenas quatro grandes fa-bricantes mesmo. Sim, são apenas esses quatro forne-cedores para mais de mil empresas aéreas. Então, te-

mos de aprender a ver o outro lado também. Comopassageiros, como executivos, como cidadãos, comosociedade, como estudiosos, temos de estar atentosao outro lado da história. E este aqui é o outro lado,ou seja, sempre que uma empresa aérea começa a co-brar um pouquinho mais, ou, então, transfere um pou-co daquele custo para os passageiros, temos de pen-sar: “Puxa vida, eles têm algumas boas razões parafazer isso”. Se você mexe no combustível, que é osangue da aviação, imediatamente impacta as empre-sas aéreas. E elas não são uma obra de caridade; têmde repassar uma parte do custo. Até mesmo as obrasde caridade, às vezes, repassam um pouco do custopara os seus colaboradores, certo? E fazem isso por-que estão precisando de mais recursos ante o aumen-to nos custos, não porque são gananciosas; estão pre-cisando. A mesma coisa acontece com as empresasaéreas. É esse outro lado da história que temos deaprender a analisar também.

Estou falando só de passageiros. Mas e a carga? Isso émuito interessante. Vejamos: nos últimos 30 anos oPIB mundial cresceu 154%, enquanto o comérciomundial cresceu, em termos de valor, cerca de 355%.Entretanto, o valor médio da carga transportada viaaérea cresceu o impressionante índice de 1.395%. Issoquer dizer que o equivalente a cerca de 40% do valorcomercial de todos os bens produzidos no mundo,representando algo na casa de 1% do peso total, étransportado via aérea. Para os Estados Unidos, sig-nifica dizer que mais de 50% de todas as suas expor-tações, avaliadas em mais de US$ 550 bilhões, saemdo país via aérea.

Essa é a importância do comércio exterior, das im-portações e exportações. Por quê? Porque estamos aqui

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construindo um pensamento a respeito de política detransporte aéreo. Se começarmos a nos esquecer des-sas coisas, simplesmente deixaremos de considerarimportações e exportações via aérea no estilo “Não,aqui isso não importa”, como ouvi de uma autorida-de: “Carga aérea não importa aqui, não”. Isso é dechocar qualquer um. Quando ouvi isso de uma auto-ridade sentada à mesa de negociação dos acordos deserviços aéreos aqui no Brasil, fiquei estarrecido, sempalavras e extremamente triste. Passageiro é impor-tante? É fundamental. Carga é importante? Tambémé fundamental. Então, estamos vendo, aqui, a impor-tância da carga aérea no mundo de hoje. Vamos falar,agora, da nossa terra verde-amarela.

Por que falamos até agora em termos de mundo? Por-que no transporte aéreo, assim como em inúmerosoutros setores ou indústrias – na indústria do turismo,nas telecomunicações, na parte de informática, nosprodutos farmacêuticos, etc. – o que acontece lá foracom certeza acontecerá aqui. É uma questão de tem-po, mas, com certeza, acontecerá. Pode ser amanhã,daqui a 10 anos ou daqui a 25 anos, mas acontecerá.Por isso, temos de estar sempre com o olho lá foratambém, a fim de aprendermos com os acertos e, prin-cipalmente, com os erros dos outros, porque se osoutros lá cometem erro atrás de erro, não podemossimplesmente deixar para lá, e, na hora de fazer nossapolítica de aviação, nossa política de transporte aé-reo, cometermos o mesmo erro. Para mim esse tipode comportamento tem um nome.

Quem somos nós?

Somos um País maravilhoso, com mais de 180 mi-lhões de habitantes. Nosso território é maior que o

dos Estados Unidos continental. Só se incluirmos oAlasca é que vamos perder territorialmente para osEstados Unidos. Em 2005, 38,7 milhões de passagei-ros embarcaram em vôos domésticos (um crescimen-to de 5%, se comparado a 2004). Passageiros em vôosinternacionais das empresas aéreas Brasileiras totali-zaram 5,56 milhões em 2005 (um crescimento de14,3%, se comparado a 2004). Obviamente, esse dadoregistrou uma queda significativa em 2006; e sabe-mos a razão. Foi exatamente a quase paralisação daVarig.

Seis empresas de transporte aéreo regular são respon-sáveis por cerca de 97% do movimento de passagei-ros em âmbito doméstico. Até aí, tudo bem. O pro-blema mesmo é que duas empresas concentram maisde 85% do tráfego. Esse é o grande problema. Nãoimporta se a empresa é rosa, laranja, verde ou azul; oque importa é que são apenas duas empresas contro-lando mais de 85% do tráfego. E isso não é nada bompara a grande maioria do País, pois os preços aumen-tam, há uma forte concentração na concorrência, nacompetição. Então, temos de torcer muito pelas ou-tras quatro empresas e pelas empresas regionais. Ve-jam bem: não vamos torcer contra as duas empresasque dominam os 85% do tráfego; não é isso. Vamostorcer muito pelas outras quatro empresas, e as regio-nais também. Elas precisam ficar fortes, porque, seficarem fracas, teremos um problema maior ainda.Quanto mais aqueles 85% do tráfego forem aumen-tando, pior vai ficando a situação para todos nós. Onosso lado, enquanto passageiros, agenciadores decarga, enquanto agentes de viagens, está ficando cadavez pior com aqueles 85% crescendo nas mãos de duasúnicas empresas. Novamente, ressalto: não importa

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quais são essas duas empresas; o que importa é quesão apenas duas.

Vejamos este slide de janeiro de 2000 até dezembrode 2006.

Temos a TAM, a Varig, a Transbrasil, a VASP, a Gol,a OceanAir, a BRA e a Webjet. O que foi ruim nesteperíodo de 2006 foi a queda abrupta da Varig, princi-palmente com relação à capacidade, à oferta de as-sentos e ao espaço de carga. Isso foi e continua sendodanoso para a economia brasileira, tanto em âmbitodoméstico como em âmbito internacional.

Quais são essas empresas? Neste slide temos as em-presas tradicionais – Transbrasil e VASP –, que já seforam. Podem voltar. Não vamos considerar, aqui, opode voltar. As chances são muito pequenas. Sobre aVarig, colocamos uma interrogação. A LAN vai en-trar? A Air Canada saiu? O que vai acontecer? Nãosabemos até agora. Mas temos de torcer para que cha-mada Nova Varig se dê muito bem.

Estas, aqui, são as duas que atualmente concentram85% ou mais do tráfego: TAM e Gol. Estas outrassão as novas esperanças: Nova Varig, BRA, OceanAire Webjet.

Empresas regionais: TEAM, TRIP, NHT, CRUISER,AIR MINAS, SETE, TAF, RICO, PANTANAL, TO-TAL, ABAETÉ e outras que podem vir por aí.

Por que essas novas esperanças sobre a Webjet, aOceanAir, a BRA e, vamos chamar assim, a NovaVarig? Porque elas precisam aumentar aqueles 15%que têm no mercado, para o bem de todos nós, para obem da economia do País. E há espaço para isso, sem

prejudicar diretamente as duas empresas envolvidascom os 85%. É importante, também, que se diga isso.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-tica (IBGE) sobre a população brasileira: temos ape-nas 10% das famílias com ganhos familiares – não éganho per capita – acima de 20 salários mínimos pormês. Isso é o quê? Isso é aquela famosa falta de distri-buição de renda. Ainda sobre esses 10%, você pegauma parte pequenina, que concentra uma riqueza enor-me do nosso País, e não tem, praticamente, poder decompra nenhum para o restante das famílias brasilei-ras. Ultimamente, temos visto mais e mais pessoasviajando. Maravilha! É a migração do passageiro queutiliza transporte rodoviário, de longo curso, indo parao transporte aéreo. Os preços das passagens de trans-porte aéreo caem cada vez mais. “Ah, mas, então, asempresas são maravilhosas!” Bem, com tanta oferta,com tanta capacidade, é o que elas têm de fazer: bai-xar os preços dos seus assentos vazios. Faz-se assimaqui. Faz-se assim nos Estados Unidos, na Tailândia,na Rússia, em qualquer lugar; é natural. Você temmuito lastro, muita capacidade? Tem de vender a umpreço módico, senão, vai ficar com tudo encalhado,sem comprador.

Neste slide vemos um histórico do transporte regularde passageiros pelas nossas empresas aéreas. Vemosque no transporte doméstico temos um crescimentoquase contínuo. Tivemos um grande pico, aqui, em1998 e, depois, tivemos uma mididesvalorização doreal, em janeiro de 1999, que segurou o bolso de todomundo. “Opa! Vamos parar e pensar”. Se considerar-mos que temos, aproximadamente, 70% a 75% dospassageiros viajando por motivos de feiras e congres-

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sos, a negócios e por outros motivos profissionais,entendemos por que aquela queda de 1998 para 1999,motivada pela mididesvalorização do real.

Agora, vamos ao tráfego internacional. De e para osEstados Unidos. Temos um pico exatamente naquele1998 maravilhoso. A mididesvalorização de 1999 fezo tráfego cair. É mais do que natural. O dólar aumen-tou o seu valor com relação à nossa moeda. Obvia-mente, temos aqui uma queda de 2001 para 2002,motivada pelo 11 de Setembro, e temos a retomadabastante acentuada do tráfego para os Estados Uni-dos desde então. E isso é bom? Bem, depende. Te-mos de ver as histórias por trás dos números, e nãoapenas mostrar um número ou um gráfico: “Puxa, quelindo, sensacional; vamos mudar a cor do gráfico ago-ra!” Isso é fácil. Mas temos de ver por trás desses nú-meros. Quem está transportando quem aqui? Qual éo marketshare das nossas empresas? Qual é o market-share das empresas estrangeiras? Quanto de divisa estásaindo do País porque as empresas estrangeiras estãotransportando mais passageiros e mais carga? A mes-ma coisa serve para a Europa. A Europa é uma dançadas cadeiras bastante interessante.

Vejamos este slide: chegamos a ter, inclusive, a Fran-ça como o maior destino em questão de volume depassageiros. Bem, voltamos à fase de aproximação comPortugal. Fernando Pinto está lá como CEO da TAP.Conhece o mercado brasileiro; é um homem extrema-mente inteligente. Então, Portugal já passou à lide-rança novamente. Está cada vez voando mais alto.

O transporte aéreo sofre muito mesmo com as cri-ses econômicas. A elasticidade do transporte aéreocom relação não ao PIB, mas à movimentação de

riquezas em geral, é muito grande. O Brasil estánaquela posição confortável, em que um mínimoincremento na renda faz com que mais e mais bra-sileiros viajem pelo transporte aéreo, que não é ocaso da Noruega, da Nova Zelândia, da Suíça,como vimos lá atrás. Isso aqui também é para mos-trar que temos um mercado bastante interessante.Então, precisamos de quê? Precisamos fortaleceras empresas aéreas verde-amarelas.

Neste próximo gráfico estamos falando de turismo.Estamos falando, especificamente, de dados de anuá-rios do Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR).Em relação ao total de turistas da América do Sul, acrise da Argentina fez com que tivéssemos mais turis-tas europeus e do Oriente Médio do que turistas sul-americanos nos últimos anos. Essa é uma coisa naqual temos de prestar muita atenção. Temos de estu-dar se essa tendência vai continuar. Há uma recupe-ração bastante interessante nos últimos anos. Isso vaicontinuar? Qual é a tendência desse mercado? Qual éa tendência do mercado europeu? Que impacto tem oeuro com relação à viagem do brasileiro lá fora? Me-lhor ainda: qual é o impacto do euro para que o euro-peu venha para o Brasil? É isso que tem de ser estu-dado, analisado. O Instituto está se propondo a fazerisso e muito mais.

Eu estava conversando com o meu amigo SérgioKuczynski, da Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A.(EMBRAER), pouco antes desta palestra, e falamosdos problemas do ano de 2006. Se a Gol teve aquelemapa astral fenomenal, para começar a operar em2001, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC)teve o pior mapa astral da face da terra para começar

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a sua operação em 2006. Enfrentou um problemaseriíssimo, que foi a quase falência da Varig. Mal res-pirou depois, vamos chamar assim, da aquisição daVarig pela Volo, viu um Legacy cortando a asa de umavião da Gol, ocasionando a perda de 154 vidas. Mala Anac se recuperou, houve crise dos controladoresde tráfego aéreo e pane geral próxima ao Natal. En-tão, 2006 foi o ano que a Anac deveria apagar de suahistória, porque foi extremamente turbulento, caóti-co. Motivos: “Ah, tudo isso é motivo para ter caos!?”Bem, vamos dizer que esses motivos são. Mas have-ria o caos com todos esses motivos? Não necessaria-mente, uma das coisas não necessariamente está emuma efetiva e verdadeira profissionalização do setorem todos os aspectos, sob todas as formas. Enquantonão tivermos uma liderança, em questão de transpor-te aéreo, profissional, vamos cada vez mais sentir es-ses grandes impactos.

Vamos bater na tecla de que precisamos ter muito maisinteligência e consistência ao traçar políticas para otransporte aéreo no Brasil. Por que fiz questão abso-luta de colocar isto: muito mais inteligência e consis-tência? Mas que presunção! Não. Vocês se lembramda importância da carga aérea? Bem, então vou con-tar-lhes uma história. Eu estava na reunião da Supe-rintendência de Relações Internacionais da Anac – queum dia se chamou Cernai; todos ainda devem conhe-cê-la como Cernai; até eles mesmos ainda se referema ela como Cernai –, ex-Cernai e atual SRI, em que asempresas aéreas estavam pleiteando: “Novas ligaçõespara Milão, novas ligações para Roma, Cidade doMéxico, Lima Peru, Los Angeles, etc”. E as empresasaéreas brasileiras, obviamente, iam à frente de umgrande plenário dos conselheiros da SRI, dos técni-

cos, dos especialistas, e defendiam sua posição. “Bem,eu vou voar para Los Angeles por causa disso, daqui-lo, com apoio assim, assado. Os passageiros serão es-ses, e tudo mais.” Eu estava vendo que era: passagei-ro, passageiro, passageiro. Eu pensei: “Meu Deus, nin-guém está falando em carga, aqui. Por quê?” Na nos-sa visão, as defesas das empresas aéreas devem sertanto mais sistêmicas quanto possível, olhando coma maior amplitude que puderem para a ligação queestão pleiteando. Então, pergunto aos senhores: al-guém esqueceu os produtos brasileiros sendo expor-tados? Alguém esqueceu que precisamos importar al-guma coisa também? Qual é o valor desse frete, desseespaço, dentro de uma aeronave, dado que temos maisaquelas aeronaves de grande porte da Varig voandopara o exterior? O preço do espaço de porão das aero-naves obviamente aumentou, quer sejam das aerona-ves da TAM – que, por enquanto, ainda é a única quevoa para o exterior com aeronaves de grande porte –ou das empresas aéreas estrangeiras. Isso ocorreu por-que se reduziu a capacidade drasticamente; o espaçoficou mais escasso. Então, é natural que se cobre maiscaro por esse espaço. Isso é natural também em qual-quer lugar do mundo. Por que o diamante é caro? Por-que ele é escasso e todo mundo o quer. Temos escas-sez de espaço de carga e todos precisam continuarexportando e importando. Vamos aumentar o valordaquele espaço. É natural? Com certeza. É danosopara o Brasil? Muitíssimo. Então, naquela reunião daSRI eu já estava começando a suar frio e não me con-tive. Levantei-me de onde estava, dei a volta na mesae fui direto para o profissional de um ministério quedeveria estar muito atento com a importação e a ex-portação. Eu disse a ele: “Com licença, senhor fula-

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no, estou estarrecido. As empresas aéreas não estãofalando a respeito de carga aérea. Nenhuma delas falaa respeito de espaço de carga. Nenhuma delas falaque pode pegar uma fatia desse mercado para o Bra-sil, a fim de reduzir o preço do frete. E eis o que ouvido representante do ministério: “Meu filho, carga aé-rea não importa aqui, não. Importação e exportaçãonão são aqui, não”. Se estarrecido eu estava, tenhamcerteza de que fiquei muito mais. E ainda por cimafiquei triste ao ver aquela falta de visão em uma reu-nião que acontecia para conceder ligações internacio-nais regulares a empresas aéreas brasileiras.

Se a carga aérea e o comércio exterior com cargasimportadas e exportadas via aérea não eram motivode análise e discussão naquele fórum, onde é, então?Se estamos concedendo ligações internacionais àsempresas brasileiras e carga aérea não é importante,fica difícil fazer uma política decente para o transpor-te aéreo.

Agora vamos tocar em outro ponto nevrálgico: preci-samos de menos regulação político-econômica sobreas empresas aéreas. Vamos deixar as empresas aéreasfazerem mais, planejarem mais. O Governo precisatransferir um pouco da responsabilidade para as em-presas aéreas. Essa é uma tendência no mundo intei-ro. Comecei a nossa conversa dizendo o quê? Quetemos de prestar atenção. Podemos até não gostar,mas temos de prestar atenção ao que está acontecen-do lá fora. E essa é uma tendência, eu diria, que já érealidade em vários países, não apenas em um ou emoutro. Vamos dar mais liberdade para as empresasaéreas. Precisamos fazer isso. Mas vamos continuarolhando para elas, acompanhando, monitorando? Com

certeza, mas vamos dar mais liberdade para que elaspossam planejar, para que elas mostrem ao que vie-ram; mostrem a inteligência os profissionais capazesque têm.

Outro ponto nevrálgico: que o regulador e os demaisórgãos influentes raciocinem muito mais de formasistêmica. Esse caso da SRI, ex-Cernai, é um exemploclaro dessa necessidade. “Carga aérea não importa.Importação e exportação não importa, aqui.” Jamaisse pode pensar assim. Há uma necessidade urgentede se considerar o transporte aéreo e as demais ativi-dades e setores da economia de forma sistêmica. Te-mos de considerar – como começamos nossa palestra– que o transporte aéreo faz parte, ele é um meio,para outras indústrias e setores. Ele não está sozinhono mapa. Ele não sobrevive sozinho, de forma algu-ma. Nenhum meio de transporte sobrevive sozinho.A palavra está dizendo: meio.

Mais um ponto de vital importância: muito maiorintegração com a indústria do turismo. Isso é absolu-tamente imprescindível. Tive a honra e a oportunida-de de coordenar tecnicamente o V Congresso Brasi-leiro da Atividade Turística (CBRATUR), em 2003.E este foi o grande mote do evento: o transporteaéreo inserido na indústria do turismo. Vejamos: emtoda a segmentação de turismo que conhecemos, seretirarmos todos os turistas a bordo das aeronaves,quer sejam brasileiros, indianos, italianos, não impor-ta, no mundo inteiro sobram quantos? Muito poucospassageiros, pela definição de turismo, pela definiçãode turista. É o que estamos colocando aqui: as políti-cas de transporte aéreo, aquelas políticas que apre-sentamos nas primeiras linhas do slide, profissio-

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nalização do setor, inteligência e consistência no tra-çar das políticas, e outras mais, essas políticas têm deser 100% alinhadas com as políticas de turismo, comas políticas de comércio e de relações exteriores, comas importações e exportações. Será que ninguém vêque o transporte aéreo é um meio? Vou bater nessatecla aqui sempre.

Estamos precisando, também, urgentemente, de umamaior eficiência na administração aeroportuária. Po-demos ter maior eficiência na administração aeropor-tuária? Com a mais absoluta certeza. Então, vamosbuscar essa maior eficiência na administração aero-portuária. “Ah, por meio da privatização de aeropor-tos?” Não necessariamente. Mas repetindo: acreditopiamente que podemos ser muito mais eficientes nes-se aspecto, mas não com o modelo que aí está.

Este outro item do slide é sobre a demanda. Era o queestávamos falando antes: temos uma péssima distri-buição de renda neste País maravilhoso chamado Bra-sil. Como se não bastasse, temos uma demanda realrelativamente baixa. Somos um País de característicafundamentalmente rodoviária. Temos uma concentra-ção geográfica da demanda em que tem dinheiro nobolso para viajar. E ainda temos outro contratempo,aqui: a cultura de movimentação dessa demanda. Pelanossa característica, não nos movimentamos muitono que tange a fixar residência em outros lugares. Porexemplo: faz parte da cultura americana o filho estu-dar em Nova Iorque, os pais morarem em Salt LakeCity e a filha estar estudando em Vancouver, no Ca-nadá. É extremamente normal. Aqui, não. Ou seja:temos uma baixa movimentação. Isso é da nossa cul-tura. Isso é ruim? Não, é um fato. Não é ruim, nem

bom; é um fato. Isso impacta, com certeza, o trans-porte aéreo, porque aquela filha que está estudandoem Vancouver vai visitar os pais em Salt Lake. De-pois, eles pegam um avião e vão para Nova Iorqueencontrar com o outro irmão. Depois, os quatro pe-gam um vôo para a Flórida para visitar os avós quemoram perto de Miami. Não faz parte da nossa cultu-ra esse espalhamento das nossas famílias.

Chegamos a mais um problema nevrálgico do trans-porte aéreo no Brasil: o preço do combustível. Preci-samos acabar com esse negócio, ou, então, minimizaro máximo possível o problema do preço dos combus-tíveis. A política de preços do QAV é – vamos usar,aqui, uma palavra bonita – incongruente. Algumacoisa tem de ser feita. Do jeito que está fica difícil.Cada vez que um vento sopra mais forte no Golfo doMéxico, estoura o preço do combustível aqui. O quetemos a ver com isso? Nada. Mas é uma fórmula bo-nita de reajuste que alguns gênios fizeram e foi apro-vada para uso desde então. Mas isso tem de mudar.

Outro ponto importantíssimo: precisamos, no trans-porte aéreo, dessa maravilhosa parceria que existe comos agentes de viagem; mas precisamos reinventar essaparceria. Assim como a Internet reinventou a distri-buição do produto do transporte aéreo, temos dereinventar essas parcerias. Então, uma das parcerias aserem reinventadas no setor é a das empresas aéreascom os agentes de viagens.

Neste slide temos a Organização das Nações Unidas,a nossa ONU, vendo as Américas em 1985 e proje-tando-nos em 2025. Bem, 2025 está um pouquinholonge ainda, mas a projeção da ONU é de que tere-mos, aqui na América Latina, dois megacentros gera-

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dores de viagem: São Paulo e Cidade do México; doiscentros médios geradores de viagem: Rio de Janeiro eBuenos Aires; e outros centros geradores de viagemmuito importantes, mas de pequeno porte, se os com-pararmos com a Cidade de México e com São Paulo:Brasília, Belo Horizonte, Lima, Santiago e Bogotá.Então, temos a visão das Nações Unidas com relaçãoaos principais pólos geradores de viagens da AméricaLatina. Os senhores podem observar que estamosmuito melhores do que os próprios Estados Unidos,que têm apenas um megapólo gerador de viagens, queé Nova Iorque. É para esse tipo de análise que todostemos de estar atentos. Estamos preparados para isso?Nossas políticas com relação ao transporte aéreo es-tão preparadas para isso? É bom, não é? De qualquerforma, é importante não fazermos julgamentos preci-pitados.

Precisamos, então, estudar e analisar com detalhes,mergulhar fundo. Por que dar atenção apenas a umadeterminada parte da história? Vamos tentar escutar,analisar todas as partes, ou o maior número de partespossível.

Neste ponto, volto a frisar: temos de atentar para oque está acontecendo lá fora nas relações das empre-sas aéreas com as administrações aeroportuárias evice-versa. O que começa a acontecer lá fora, agora,pode não acontecer no curto prazo aqui no Brasil, mas,com certeza, cedo ou tarde pode acabar acontecen-do: empresas aéreas participando diretamente da ad-ministração de aeroportos, como é esse o caso da Thai,anotado no slide. E por que não vice-versa, ou seja,administração aeroportuária participando da adminis-tração de empresas aéreas? É claro que pode; e se

pode, precisamos estar atentos, acompanhando estu-dando, analisando. E o nosso Instituto já está fazen-do isso. Em outubro do ano passado, tive a oportuni-dade de estar no International Aviation Summit, emChicago. Havia dois profissionais da América Latinanesse evento. Um era o Alex de Gunten, Presidenteda Associação Latino-Americana de TransporteAéreo (ALTA), e o outro era eu. O discurso de aber-tura do evento feito pelo Presidente da UnitedAirlines, Sr. Glenn Tilton. Foi uma benção. Por quê?Porque ele disse em alto e bom som aos representan-tes do Departamento de Estado, do Departamentode Transporte, do Departamento de Justiça, todos doGoverno dos Estados Unidos, e aos representantesde autoridades aeronáuticas da Ásia, da Europa, daÁfrica, executivos de várias outras empresas aéreasali presentes: “Dirijo-me ao Governo dos EstadosUnidos e afirmo: o nosso transporte aéreo (o trans-porte aéreo dos Estados Unidos) está ficando paratrás. Estamos perdendo terreno. E não é terreno emvolume de passageiros; é terreno em questão de inte-ligência de negócios, de prática de negócios, de capa-cidade de planejamento.” Ele continuou: “Quando mesento à mesa, junto com o Presidente da Lufthansa,que é o meu parceiro na Star Alliance, não tenho con-versa, não tenho quase o que conversar com ele. Aspreocupações dele estão muito além das minhas; sãomuito mais amplas, mais complexas. São com relaçãoà parceria que a empresa dele tem com o trem da altavelocidade, com relação às administrações dos aero-portos com os quais eles têm parceria, são relativas àsoutras empresas aéreas européias das quais eles sãocontroladores, e muito mais. Não sei o que é isso. Nãofaz parte do meu negócio; não faz parte da realidade

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da minha empresa ter um trem de alta velocidade comoparceiro, ter uma administração aeroportuária na qualsomos acionistas, administrar um aeroporto do outrolado do mundo ou controlar outras empresas de reno-me internacional que voam para o mundo todo. Nadadisso faz parte da minha realidade. Então, eu quasenão tenho conversa com o Presidente da Lufthansa.”Depois de escutar tudo isso, então, pensei: meu Deus,se o americano está falando isso, o que está aconte-cendo com o Brasil? Será que estamos prestando aten-ção a essas coisas que estão acontecendo lá fora? Seráque estamos considerando que isso, cedo ou tarde,pode acontecer aqui? Cadê a fortaleza? Cadê a soli-dez das nossas empresas aéreas? Não sei onde está.Deve estar em algum lugar, talvez na cabeça daque-les que pensam que carga aérea não é importante, ig-norando a importação e a exportação.

Mas o crescimento do transporte aéreo (e do turismo)nos megamercados mundiais é uma realidade: China,Índia, Rússia, Ásia-Pacífico, Brasil, México. A libera-lização internacional é uma questão de “quando”, enão mais de “e se”. E essa liberalização vai fazer comque o transporte aéreo e o turismo floresçam aindamais. Uma efetiva popularização mundial do trans-porte aéreo e do turismo (este via uma das suas prin-cipais ferramentas, o próprio transporte aéreo) é ape-nas uma questão de tempo. Em decorrência de umaampla liberalização, a concentração de parcela signi-ficativa do tráfego mundial sobre algumas poucas de-zenas de megaempresas é quase inevitável. Em para-lelo, os atuais formatos das alianças internacionaispodem estar com os dias contados. A contínualiberalização dos mercados domésticos e do interna-cional tende a fortalecer as empresas moldadas no

baixo custo/baixa tarifa, ao passo que muitas empre-sas e mercados surgirão e desaparecerão em curto es-paço de tempo. Uma plêiade de novos modelos denegócios dinamizará o setor e a indústria do turismocomo um todo. Um maior fortalecimento das empre-sas baixo custo/baixa tarifa, uma maior concentraçãosobre algumas dezenas de megaempresas e o surgi-mento de novos modelos de negócios no setor con-cretizarão, no mínimo, a total reinvenção e, no máxi-mo, a extinção de alguns dos atuais atores da comer-cialização dos produtos do transporte aéreo. Os jatosexecutivos ultraleves (os VLJs) e a supremacia dosjatos regionais de grande porte (LRJs) são fatos, e ten-dem a fazer explodir pequenas e médias cidades (eseus respectivos aeroportos) nos países e regiões maisdesenvolvidos. Na esteira dos dois primeiros vem anecessidade urgente de se reinventar, de se reconhe-cer praticamente tudo o que diz respeito ao controlede tráfego aéreo. A era da supremacia dos aeroportosestá apenas começando. Hoje em dia, os grandesaeroportos, no exterior, prestam consultorias para asempresas aéreas. Não são as empresas aéreas que fa-zem os estudos de em relação ao custo de uma liga-ção de A para B, ao perfil da demanda, etc. É o pró-prio aeroporto que bate à porta das empresas aéreas ediz: “Venha voar para o meu aeroporto, porque o cus-to dos seus vôos vai ser menor comigo. Não voe paraoutro aeroporto. Ou seja, as administrações aeropor-tuárias influenciam diretamente o planejamento dasempresas aéreas. É aquela realidade dita pelo Presi-dente da United, ou seja, que ele não tem mas, queestá acontecendo lá fora e sobre a qual ele está come-çando a ficar preocupado; começando a ficar com re-ceio de não poder acompanhar. Então, se ele está commedo – e a empresa dele é enorme; está nos Estados

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Unidos, um país ultra e superpoderoso –, imaginemnós aqui no Brasil. Talvez não estejamos com receioporque não saibamos que está acontecendo tudo isso.Isto é o pior que poderia acontecer: não saber ou, ain-da pior, ignorarmos os acontecimentos, as mudanças.O nosso pensamento é de que devemos estar prepa-rados para correr, e correr bem, ou então construiruma casa melhor. Prefiro tentar construir uma casamelhor do que sair correndo.

Então, apenas uma descomunal descontinuidade, tipoo 11 de Setembro, pode alterar esses fatos e essas ten-dências. Por isso, volto a frisar: temos de estar sempreatentos.

Quero agradecer, mais uma vez, a todos os senhorespor essa oportunidade, em especial ao Dr. Trigueiros.Gostaria, agora, de fazer uma homenagem ao Dr. Tri-gueiros, em nome do Instituto. Convido a nossa Dire-tora de Turismo do Instituto, Sra. Fátima Priscila Edra,para, juntos, entregarmos a placa de membro bene-mérito do Instituto ao Dr. Trigueiros. Muito obrigado.

14 de março de 2007

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Vou dividir minha apresentação em três partes.

1) Considerações gerais sobre o planejamento turísti-co e a sustentabilidade dos pólos receptores.

2) A segurança, como mola-mestra de viabilização dedestinos turísticos.

3) Sugestões para o planejamento e a segurança tu-rística.

A apresentação que lhes faço, hoje, está baseada naminha tese de doutorado, pela Universidade do Esta-do do Rio de Janeiro (UERJ). Apresentarei algunsdados dessa tese. Não posso fazê-lo na íntegra, por-que serão lançados em um livro.

O que significa planejar uma cidade turisticamente?

Esta será a primeira pergunta que farei: o que é o pla-nejamento turístico de uma cidade?

Em um segundo momento, vou me fazer a seguintepergunta: será que é possível fazer planejamento emum país como o Brasil? E se for possível, que ferra-mentas devemos utilizar? E como conceber um planode turismo para o Brasil?

Essas foram as primeiras perguntas que me fiz e quevão nortear minha palestra.

O que é planejar turisticamente uma cidade? É estru-turar essa cidade para que ela possa receber fluxosturísticos. Esse é o objetivo do planejamento. Quan-do se faz um planejamento, estamos estruturando umacidade para receber fluxos turísticos.

E o que o planejamento pressupõe? Um conjunto deobjetivos e metas que permitirão o desenvolvimentoefetivo e sustentável de uma determinada localidade.

Por que o Governo Lula funcionou tão bem nos anos

PLANEJAMENTO E SEGURANÇA NOTURISMO

Bayard do Coutto Boiteux

Diretor da Escola de Turismo e Hotelaria da Univercidade

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em que o Ministro Walfrido dos Mares Guia esteve àfrente da pasta do turismo? Não posso falar da Minis-tra Marta Suplicy, pois ela acaba de assumir. Não sa-bemos ainda muito bem quais serão os procedimen-tos. Por que o Governo Lula funcionou tão bem? Por-que ele trabalhou com metas mensuráveis. O grandeequívoco dos planos de turismo é que eles não apre-sentam metas ou elas não são mensuráveis. Se nãotivermos metas mensuráveis, não temos como ava-liar nenhum planejamento turístico e nenhum gover-no. Só se avalia um governo quando ele conseguiuestabelecer metas mensuráveis.

Ontem, na Marina da Glória, Sua Excelência o Secre-tário Municipal de Turismo, Rubem Medina, apresen-tou o novo plano de turismo da Cidade do Rio deJaneiro – “Rio Mais” –, em que o Prefeito César Maia,pela primeira vez na recente história do turismo,preestabeleceu metas. O que ele disse? Que nos pró-ximos 10 anos a Cidade vai ganhar 25 milhões de tu-ristas. Uma coisa muito interessante, também, é queo Prefeito esteve presente. Normalmente, o Prefeitonão costuma comparecer. Ele é um homem que tra-balha muito low profile. O Prefeito César Maia tem umacaracterística muito interessante: trabalha muito emprol da Cidade do Rio de Janeiro; está constantemen-te trabalhando para esta cidade, mas trabalha lowprofile .

Planejar também significa adequar uma cidade às ca-racterísticas específicas dos consumidores turísticos.

Quando estamos planejando uma cidade, vamosdescaracterizando-a no que diz respeito a todas as suascontradições. Morar em uma cidade como o Rio deJaneiro, por exemplo, é morar em uma cidade repleta

de contradições; é morar em uma cidade em que po-breza e riqueza convivem lado a lado. É extremamen-te difícil planejar uma cidade em que a maior partedos seus habitantes nunca usufruiu da atividade tu-rística, nunca passeou, nunca entrou em um hotel,nunca teve a possibilidade de viajar. Então, é muitodifícil querer o planejamento efetivo de uma cidadeonde os próprios moradores desconhecem o conceitode turismo. Fiquei muito feliz quando ouvi a MinistraMarta Suplicy dizer que uma das suas metas seria, narealidade, fazer com que a população mais des-favorecida pudesse, pela primeira vez, ter acesso àatividade turística neste País. E aí, vi também, noFórum Panrotas, do qual participei na semana passa-da, em São Paulo, o Guilherme Paulus, da CVC, quedizia: “A partir de agora, vamos ter pacotes em 36parcelas. Toda a população vai poder viajar.”

Lembro a vocês o seguinte: planejar uma cidade comtantas contradições é extremamente difícil. O únicolugar no mundo que vi pobreza e riqueza convivendolado a lado, sem problema nenhum, foi na Índia. Háseis anos, fui participar de um casamento em Bom-baim. Fiquei hospedado em um palácio com 350 apar-tamentos. O casamento era de uma riqueza que eununca tinha visto. Só para vocês terem uma noção,cada um dos convidados recebia um diamante de pre-sente – uma coisa que eu nunca tinha visto. Estáva-mos no palácio e, ao lado dele, havia uma minifavela,uma minicomunidade. E passávamos todo dia naquelacomunidade quando íamos para a cidade e as pessoasnos agradeciam por estar passando e olhando para elas.Por quê? Porque é uma sociedade de castas; e as pes-soas que nascem nas castas inferiores nunca almejamchegar às castas superiores. Essa é uma contradição

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que vemos em um país como a Índia, mas que, noBrasil, é inconcebível.

Então, quando falamos sobre planejamento turísticotambém, temos de pensar nos impactos negativos daatividade turística. Sempre que se planeja o turismo,dizemos: “Não, o turismo é importante; ele vai trazerdinheiro novo para a economia; as pessoas vão me-lhorar.” Absolutamente, vamos colocar na nossa ca-beça que o turista, em via de regra, não tem nenhumcompromisso com a cidade que ele visita. Ele nãotem compromisso efetivo. Então, se sai daqui e deixauma série de mulheres grávidas, para ele isso não re-presenta absolutamente nada. Ele vai embora para oseu país de origem e o que vai representar para ele,sinceramente, deixar aqui uma série de adolescentesgrávidas?

Em última instância, o que o turista leva de uma via-gem? Uma fotografia, um souvenir, uma lembrança. Ocompromisso dele com a cidade é bastante provisó-rio. Por isso que quando estamos fazendo planejamen-to turístico temos de ensinar às pessoas os impactospositivos e os negativos. O grande plano de turismotem de prever o que é positivo e o que é negativo daatividade turística.

Outra coisa também com a qual temos de acabar édizer que o turismo é prioritário nos discursos eleito-rais. Vamos terminar com isso de uma vez por todas.Turismo só é prioritário se tiver orçamento e dinhei-ro. Não adianta criar secretaria de turismo se não temdinheiro, efetivamente, para fazer absolutamente nada;e o que os governos têm feito é se aproveitar da ativi-dade turística para se eleger. Então, eles vão para opoder e começam a dizer que o turismo é importante,

que eles vão fazer. Só para os senhores terem noção,no Governo passado do Estado do Rio de Janeiro, dasenhora Rosinha Garotinho, não existiu quase orça-mento nenhum para promoção turística. O SérgioRicardo Martins de Almeida, com o seu trabalho, coma sua vontade é que conseguiu alguns resultados efe-tivos para o Rio de Janeiro, porque dinheiro não haviaabsolutamente nenhum.

Então, vejam bem: entender que o turismo é impor-tante é entender que existe orçamento para poderviabilizar as coisas.

Gostaria, também, de ponderar com os senhores oseguinte: temos uma idéia muito errônea de turismo.Pensamos que turismo é, basicamente, o quê? Fre-qüentar coquetéis, ir a jantares, mas não vemos a ati-vidade turística como capaz de reduzir as desigualda-des sociais. É para isso que serve o turismo. O turis-mo tem como objetivo reduzir desigualdades sociais.A atividade turística tem como objetivo melhorar aqualidade de vida das pessoas. É óbvio que o nossodia-a-dia se reveste de coquetéis, de jantares, de al-moços, de uma série de coisas. Mas o nosso objetivoé reduzir essas desigualdades. E para reduzir essasdesigualdades precisamos, em um primeiro momen-to, de quê? De ter, efetivamente, uma cidade bem pre-parada para receber turistas.

O Caio de Carvalho dizia: “Uma cidade só é boa parao turista quando ela é boa, em primeiro lugar, para oseu habitante.” Como é que o habitante, por exem-plo, de uma cidade como o Rio de Janeiro pode teralgum entendimento de qualidade de vida quando elevive em uma cidade dominada pelo tráfico? É isso. Arealidade é essa. Aí, quando vamos tentar desalojar

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uma favela, em uma determinada área da cidade, nãoconseguimos. Por quê? Porque a proteção do tráfico étão importante naquele lugar que eles não queremnunca mais sair dali. Digo a vocês: a Rua NascimentoSilva, nº 4, é um exemplo. É um prédio de classe mé-dia alta em Ipanema. A favela está ao lado do prédio.Então, pobreza e riqueza convivem lado a lado.

Vamos, agora, às considerações gerais que eu queriatecer. Vamos pensar um pouco que ferramentas po-demos utilizar no planejamento turístico e como é queessas ferramentas vão acontecer.

A primeira ferramenta é reduzirmos as desigualdadessociais por meio da geração de empregos, da melhoriade habitação para as classes mais desfavorecidas.

Vamos acabar com esse negócio de que a segurança éo grande vilão do turismo brasileiro. Ela não é. Não éa segurança a grande vilã; é a má gestão. O grandevilão do turismo brasileiro não é, sem dúvida alguma,apenas a falta de policiamento ostensivo nas ruas. Nãoé esse o grande problema; é a corrupção. Imaginem ossenhores que quando o Zé ninguém vê a corrupção noGoverno Federal, ele se sente no direito também decorromper. Outro dia, fiquei estarrecido quando ouvi:“Presidente Collor retorna como senador. E seu pri-meiro discurso é justificar o seu impeachment: ‘Não, eusaí deste País porque recebi uma série de pressões’”.Meu Deus, que País é este?! Ele vai para lá, faz o seudiscurso, uma grande entrada, e aí o Zé ninguém come-ça também aceitando a corrupção.

A segunda ferramenta é a seguinte: um plano de turis-mo só acontece se houver participação efetiva da ini-ciativa privada. Não existe plano de turismo só do

Poder Público. Na realidade, o plano de turismo esta-belece, basicamente, que todas as ações que serãocolocadas em prática têm de ser colocadas juntamen-te com a iniciativa privada. Quando o Prefeito CésarMaia teve a idéia de fazer o primeiro plano de turismoda Cidade do Rio de Janeiro – devemos a ele o planode turismo – só foi colocado em prática depois, pelooutro Prefeito, mas quem fez o plano de turismo foiele, só que ele não teve tempo, ele elegeu outro pre-feito e este colocou em prática, ele dizia, basicamen-te, que aquele plano tinha sido constituído com o apoiode todos os integrantes da sociedade: a iniciativa pri-vada, o poder público, as faculdades, os jornalistas. Esó ali ele conseguiu, efetivamente, um plano em con-junto com várias pessoas.

A terceira ferramenta é uma das piores para a cabeçade muitas pessoas. É termos banco de dados. Precisa-mos redimensionar o turismo por meio de um bancode dados. Precisamos fazer, urgentemente, com que oturismo saia das colunas sociais e vá para a página deeconomia. É engraçado que, quando um aluno de tu-rismo chega para o seu pai, ele diz: “Papai, estou es-tudando turismo”, o pai toma um susto e diz: “Vocêadora viajar, meu filho. Você vai gostar muito de via-jar.” Ele não entende, porque a percepção que o sen-so comum tem do turismo é de viajar, se deslocar. Seo turismo começar a passar para a página da econo-mia, isso vai mudar.

Qual é a terceira ferramenta? É criar um banco dedados. É pesquisar o turismo. E temos o Instituto dePesquisas e Estudos do Turismo da UniverCidade(IPETUR), que desenvolve uma série de pesquisaspara poder criar um verdadeiro banco de dados turís-ticos. Com esse banco, poderemos saber exatamente

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quem é o turista que nos visita, quanto ele gasta, paraque ele vem ao Rio de Janeiro; poderemos, também,orientar os futuros investidores nacionais e internacio-nais. Então, um plano de turismo só pode ser conce-bido por meio de um banco de dados.

Uma outra coisa também: temos de gerar programaspara que os habitantes de uma determinada cidadeentendam o potencial turístico dela. A UniverCidade,por exemplo, realiza um programa chamado Conheça oRio a pé, em conjunto com a Fundação Cesgranrio ecom a Planet Work. O que é esse programa? São visi-tas a locais de interesse turístico, totalmente gratui-tas, que oferecemos várias vezes durante a semana.Qual é o objetivo do Conheça o Rio a pé? No primeiromomento, é permitir que o morador da Cidade tam-bém conheça a Cidade do Rio de Janeiro; que se crienele também a auto-estima.

Como é que deve ser concebido um plano de turis-mo? Quais são as áreas de ênfase que um plano deturismo deve apresentar? Melhoria da infra-estruturaé fundamental. Pensar o turismo está sempre aliado àmelhoria das vias de acesso, à construção de novosmeios de hospedagem, à melhoria da qualidade dacapacitação, auditoria de qualidade. Em um segundomomento, pensar na capacitação turística, na melhoriae reciclagem dos recursos humanos. O terceiro mo-mento, seria pensar na promoção turística. No quar-to, seria o aprimoramento da legislação turística. Oquinto, seria a democratização do turismo. E o sexto,a pesquisa e informação turística. Essas são as seislinhas que devem nortear qualquer plano de turismo.Qualquer planejamento de turismo passa por essas seislinhas.

Como é que deveria ser o modelo de planejamentopara um país ou uma cidade como o Rio de Janeiro?

Temos de levar em conta quatro itens. Por que umturista visita uma determinada cidade? Porque elecome, dorme, visita e compra. Esses são os quatroitens que formam a chamada roda da fortuna do turismo.Ele vem visitar uma cidade basicamente por essasquatro razões.

Quero apresentar a vocês o modelo Werner/Boiteuxde planejamento turístico, um modelo que foi conce-bido e que está na minha tese de doutorado. Na reali-dade, foi concebido para qualquer cidade em vias dedesenvolvimento. Como é esse modelo de planejamen-to turístico?

É um modelo que apresenta seis grandes linhas detrabalho. Todo planejamento turístico começa com oinventário. Não tem nenhum planejamento turísticoque não tenha inventário. O que é o inventário? Équando você levanta o potencial turístico de uma de-terminada localidade. E esse potencial turístico vaipermitir criar novos produtos, direcionar as pessoaspara aquilo que elas querem. Hoje, no inventário tu-rístico, a metodologia parte do seguinte pressuposto:os atrativos turísticos são hierarquizados; e em fun-ção dessa hierarquia eles se destinam a segmentosespecíficos.

Posteriormente, não existe cidade turística que nãotrabalhe o conceito de informação. O que é informa-ção? São os postos que devem ser distribuídos pelacidade. Por que há tanta necessidade de postos de in-formação? Porque cada vez mais o turista que nosvisita o faz por conta própria. As estatísticas demons-

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tram que o turista que visita uma determinada cidadenão vem por intermédio de uma agência de viagem;ele vem, normalmente, por conta própria. Mais de 50%dos turistas que viajam pelo mundo o fazem por con-ta própria. Quando digo “fazem por conta própria”,pode ser até que eles adquiram o bilhete aéreoem uma agência, que eles façam a reserva do ho-tel em uma agência. Mas o usufruto da cidade, quan-do estão aqui, fazem por conta própria. Esse turis-ta precisa de informação.

O terceiro item do nosso modelo de planejamento é acapacitação, que estabelece dois itens: a qualificaçãodos recursos humanos e a constante reciclagem da-queles que trabalham no turismo. Não adianta apenasvocê qualificar; você tem de estar constantementereciclando, sobretudo as médias gerências. Aqui noBrasil as pessoas acham que não precisam fazer MBA,que não precisam fazer pós-graduação. Perguntam:para que serve uma pós-graduação? Uma pós-gradua-ção, hoje, um MBA, é um estudo de caso para umprofissional de sucesso no mercado. Quando alguémtem sucesso de mercado vai lá para ouvir outros ca-sos de sucesso. Então, precisamos estar constantemen-te qualif icando, mas também reciclando as pessoas,até porque as coisas mudam muito rapidamente nestePaís. Só para os senhores terem uma noção, ontemtivemos um seminário de transportes na UniverCidade.Estava lá o Diretor da Varig, se apresentando. Ele fezuma palestra e ninguém imaginava que hoje fôssemosdescobrir, por uma notinha no jornal, que a Varig serávendida para a Gol. A coisa é muito rápida. E quetodos os vôos da Varig da Ponte Aérea Rio-São Paulopassarão para a Gol; os vôos internacionais continua-rão com a Varig. É uma loucura! As coisas vão mu-

dando rapidamente. Então, para que as coisas pos-sam mudar, precisamos reciclar, aprender o tempotodo.

Outra coisa que também temos de prever sempre noplanejamento turístico é a criação de um ConselhoMunicipal de Turismo; a criação de um Fundo de Tu-rismo, para poder viabilizá-lo. E que esse ConselhoMunicipal de Turismo seja um órgão efetivo de asses-soria ao governo. Vou contar a vocês uma coisa mui-to engraçada: na maior parte das prefeituras de cida-des pequenas as pessoas adoram levar grandes canto-res. Todo o orçamento da Prefeitura é direcionado paraesses eventos: Chitãozinho e Chororó, por exemplo.E com isso eles acham que estão dedicando parte doorçamento à atividade turística. Eles esquecem, emúltima instância, que Chitãozinho e Chororó não têm,na realidade, nenhum poder de captar turistas parauma determinada cidade. São esses eventos aleatóri-os que acontecem na nossa cidade. O show do PetShop Boys poderia ter sido muito bem trabalhado sesoubéssemos com bastante antecedência que eles vi-riam ao Rio de Janeiro. Mas aqui as coisas vão sendojogadas aleatoriamente. De repente, sabemos que vaiacontecer um show em Copacabana. Somos uma ci-dade que não tem calendário de eventos. Os únicoseventos que temos certeza de que vão acontecer sãoo carnaval e o reveillon. E alguns eventos foram cap-tados pelo Rio Convention & Visitors Bureau. Essejá se sabe, porque os demais, não. Os demais vão apa-recendo repentinamente. E aí, o que acontece? Asprefeituras do interior aproveitam o dia nacional parafazer um grande show em praça pública; o dinheirovai todo e se esquecem do inventário, da formação,

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da capacidade. Elas se esquecem de tudo e o dinheiroé jogado ali.

Outra coisa importante, também, é que os eventos,em uma estrutura de turismo, não podem ficar com aempresa de turismo. Isso não dá certo. Então, porexemplo: a Riotur tem de ser uma empresa voltadaexclusivamente para a promoção, como está fazendohoje o Secretário Rubem Medina. O que o PrefeitoCésar Maia fez muito acertadamente? Retirou os even-tos da Riotur e criou uma subsecretaria de Turismo.Esse talvez seja o modelo mais correto, para que pos-samos, efetivamente, trabalhar tanto a promoçãoquanto os eventos.

Quando falamos em promoção turística, vamos tam-bém partir para o pressuposto de que a promoção es-tabelece o papel da iniciativa privada e do Poder Pú-blico. Todo mundo quer que o Governo faça a pro-moção; todo mundo quer que o Governo gaste di-nheiro. É óbvio que o Governo tem de gastar. Mas ainiciativa privada tem de acompanhar também os in-vestimentos da promoção.

Quero dizer uma coisa a vocês: qualquer planejamen-to turístico tem de estar baseado, primeiro, em umplano de turismo. Esse plano de turismo tem de termetas mensuráveis, e essas metas mensuráveis têmde ter sido estabelecidas pelo Poder Público e pelainiciativa privada. Só, assim, uma cidade vai triunfar.E volto a dizer a vocês: o exemplo do Governo Lula émarcante nesse sentido. Você fala com qualquer pes-soa e pergunta: o que o Walfrido fez? Todo mundosabe o quanto ele aumentou o número de turistas. Tudoo que ele fez foi mensurado. Espero que o Rio Mais,que é o novo plano de turismo da Cidade do Rio de

Janeiro lançado ontem, possa também ser concebidocom todas as metas mensuradas.

Vamos falar, agora, sobre segurança, que é a segundaparte da minha apresentação. Começamos falando umpouco sobre planejamento.

Queria dizer a vocês que o problema da segurançanão é mais local, não é mais nacional. Hoje, o proble-ma da segurança é internacional. Desde o atentadode 11 de Setembro mudanças radicais foram feitas nomundo inteiro. Hoje em dia, vocês vêem o seguinte:podemos estar em uma estação do metrô, em Paris, euma bomba explodir. Podemos estar dentro de umavião e o avião cair. Podemos estar na Cidade do Riode Janeiro e uma bala perdida nos atingir. Hoje, o fe-nômeno da segurança não é mais um fenômeno loca-lizado; é um fenômeno mundial que começou a partirdo atentado de 11 de Setembro. E ele foi fortalecidotambém pelo desrespeito do homem pela segurança,pela natureza e pelas diferenças.

Hoje, moramos em condomínios fechados que sãoverdadeiras prisões. Hoje, nosso dia-a-dia é uma ver-dadeira prisão. Digo aos senhores: moro em um apart-hotel que tem televisão no elevador, nos corredores,segurança na porta, segurança na entrada; não pode-mos nem ir à academia porque tem um big brother ládentro tomando conta. Tomam conta da gente o tem-po inteiro, para podermos sobreviver, para não acon-tecer alguma coisa. E isso aconteceu por quê? Porqueestamos perdendo um pouco dessa nova visão globa-lizada de respeito ao próximo, de respeito às diferen-ças, de respeito às pessoas que não pensam como nós.É isso que foi prejudicando o conceito de segurançacomo um todo.

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Outra coisa: o problema da segurança, hoje, passa peloConselho de Segurança da Organização das NaçõesUnidas. Na realidade, temos um grupo de países quequerem mandar no mundo, que são aqueles que saí-ram vitoriosos da Segunda Guerra Mundial e que nãoaceitam nenhuma modificação nesse Conselho deSegurança. O Brasil pleiteia uma vaga, assim comooutros países, e, enquanto o mundo estiver nas mãosdesses países, não conseguiremos sobreviver e me-lhorar a segurança, pois são as nações mais ricas quemandam no mundo. E essas nações mais ricas têmpoder de veto em qualquer decisão do Conselho deSegurança. Em última instância, o que esse poder deveto acarreta? Eles são chamados donos do mundo.Imaginem vocês que os Estados Unidos descumpriramuma orientação do Conselho de Segurança no que di-zia respeito à invasão ao Iraque. Eles não estão nemaí para a Organização das Nações Unidas (ONU),para o Conselho de Segurança, etc. Vivemos, hoje,então, uma crise mundial de segurança.

Mas falar em segurança não é falar apenas em policia-mento ostensivo. Falar em segurança é falar na segu-rança alimentar, na segurança dos aviões e no espaçoaéreo, na segurança nos meios de hospedagem e nasegurança pública.

Imaginem vocês um país onde as marquises dos ho-téis caem, como vimos acontecer no bairro de Copa-cabana. Queremos dizer: coloquem mais policiais.Tomem conta da sua casa primeiro.

Segurança alimentar diz respeito a como preparamosos alimentos que serão servidos às pessoas que fre-qüentam os nossos hotéis, as nossas lanchonetes. Quesegurança alimentar é essa em que um cozinheiro é

encontrado, em pleno bairro de Copacabana, sentadoem um vaso sanitário descascando batatas? Foi publi-cado na primeira página do jornal. Que segurança ali-mentar é essa?

Então, vamos pensar que o conceito de segurança émuito maior: é a segurança nos meios de hospeda-gem, a segurança alimentar, a segurança nos aviões edo espaço aéreo.

Como é que um País como o nosso concebe, até hoje,o problema do Aeroporto de Congonhas? O Aeropor-to de Congonhas não tem mais condição de receber ofluxo de aviões que recebe. Por uma questão bairristaentre São Paulo e Rio de Janeiro, não conseguimoscaptar esses aviões para cá. Então, é aquele infernoem Congonhas. Você passa o dia inteiro no aeroportopara poder chegar a algum lugar. E outra coisa: osaviões, hoje, para poder aterrissar em Congonhas, têmde ficar sobrevoando o aeroporto por 30, 40 ou 50minutos. Teremos, brevemente, um acidente também.Então, a segurança do espaço aéreo também precisaser preservada.

Mas só pensamos na segurança pública. Vejo o pes-soal de turismo dizer: “Precisamos melhorar, pois es-tão assaltando as pessoas.” Não. Precisamos melho-rar a segurança alimentar, a segurança dos aviões, doespaço aéreo, a segurança dos meios de hospedagem.É muito mais do que uma mera segurança e policia-mento ostensivo na rua.

Vamos falar um pouco, agora, sobre segurança públi-ca. O primeiro problema do Brasil é a inexistência deuma política nacional de segurança turística. O mi-nistério apresentou um plano de turismo muito inte-

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ressante, mas nunca ninguém falou neste País sobreuma política nacional de segurança turística. Temosde criar, no âmbito do Ministério do Turismo ou Mi-nistério da Justiça, um departamento específico paratratar do problema da segurança turística, sobretudoda segurança pública. Hoje, o problema não é da Ci-dade do Rio de Janeiro ou do Estado. É um problemanacional. Graças a Deus, o Governador Sérgio CabralFilho tem demonstrado um apreço muito grande pelaCidade do Rio de Janeiro e pelo Estado do Rio deJaneiro. Neste final de semana ele foi chamado denamoradinho do Rio. E ele tem conseguido uma coisaque, infelizmente, aqueles dois que estiveram no po-der – cujos nomes não gosto nem de citar, porque,graças a Deus, eles já se foram –, já voltaram para aterra do chuvisco, para a nossa felicidade. Vejam bem,o Governador Sérgio Cabral Filho tem um entendi-mento muito bom com o Governo Federal, o que vaifacilitar, sem dúvida alguma, a questão da segurança.Já tivemos a Força Nacional atuando nas ruas.

Outro problema que temos aqui é que não existe ne-nhuma sistematização das ocorrências com turistasno Brasil inteiro. Então, posso assaltar um turista aquie fugir para São Paulo, não vai haver nenhuma siste-matização dessas informações. Precisamos criar umcadastro geral de todas as ocorrências com turistasestrangeiros no Brasil. Por isso refiro-me àquela polí-tica nacional de segurança turística.

Outra coisa: não há diálogo entre Polícia Militar, Po-lícia Civil, Polícia Federal e Guarda Municipal. Nãohá diálogo entre as polícias. Cada um faz o que quer.É um secretário de segurança que toma conta de tudo.As polícias nunca são chamadas para participar dosprojetos do Governo. O policial militar e o policial

civil se sentem muito mal. O policial federal se senteum pouco melhor, porque o salário é um poucomaior; os guardas municipais se sentem como absolu-tamente nada, porque, inclusive, eles não são nem ar-mados no nosso País.

Outra coisa: falta um órgão que busque as soluçõespara o problema da segurança.

O que proponho e o que eu queria que vocês vislum-brassem?

Vamos falar um pouco sobre segurança turística noRio de Janeiro. Só como exemplo pontual: a Cidadedo Rio de Janeiro.

A segurança turística no Rio de Janeiro vai se dividirem três grandes setores: Batalhão de Policiamento emÁreas Turísticas (BPTur) e Delegacia Especializadaem Atendimento Turístico (DEAT), ambos do Go-verno Estadual, e Grupamento de Atendimento Tu-rístico (GAT), da Guarda Municipal. Vamos analisaralguns dados que vou mostrar a vocês.

No caso do BPtur, por exemplo, de acordo com umapesquisa feita pelo Instituto de Pesquisas e Estudosdo Turismo da UniverCidade, 70% dos policiais nãofalam outros idiomas. Então, temos um contingentede, aproximadamente, 250 policiais militares atuan-do na área turística e 70% não falam outro idioma.Como é que você pode colocar alguém que vai fazerparte de Batalhão de Policiamento em Áreas Turísti-cas se este alguém não fala outro idioma. E mais: 65%deles nunca fizeram nenhum curso de turismo. Elessaíram e, automaticamente, foram lotados nesse ba-talhão. Outra coisa: 70% deles nunca puderam se com-portar como turistas hospedando-se em hotéis.

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Então, desses policias, na realidade, temos um con-tingente de homens atuando na segurança do turistaque desconhecem o que é o turismo.

Estes dados não são alarmantes. Estes dados que apre-sento da Cidade do Rio de Janeiro se repetem nosoutros Estados da Federação. É só para entendermosum pouco que esse homem não está pronto para fazerpoliciamento ostensivo.

Outra coisa: a população se recente muito da descon-fiança que ela tem no policiamento ostensivo da Polí-cia Militar. Normalmente, as pessoas já tiveram al-gum problema ou tiveram de dar dinheiro para umpolicial militar, como elas deveriam ter problemas comadvogados, com engenheiros, com médicos. Mas sóque aquele problema com o policial militar passa aser um problema do dia-a-dia dessas pessoas; e a po-pulação, em via de regra, adora denegrir a polícia. Douaula para a polícia. Então, sei que a maior parte delessão oriundos das classes mais desfavorecidas, ganhamsalários miseráveis e estão se expondo o dia inteiro.Na realidade, corrupção existe em todas as forças. Nãoé uma coisa exclusiva da polícia. Só que acabamostendo uma percepção negativa por ter vivenciado al-guma situação escusa.

Qual é a minha opinião? Retirem a Polícia Militar docontrole de trânsito. É no controle de trânsito queacontecem normalmente essas ocorrências escusas.Retirem a Polícia Militar do controle de trânsito quevamos melhorar bastante a imagem da polícia junto àpopulação.

Existem outros problemas de segurança também, so-bre os quais não tenho tempo suficiente para falar aqui.

Trata-se da população de rua, da prostituição, do trá-fico, etc.

Vamos, agora, a algumas sugestões para terminar aminha apresentação.

A primeira sugestão que faço é a criação de conjuntoshabitacionais para os policiais. Os policiais não po-dem mais morar nas comunidades. Não é possível maisum policial viver em uma comunidade. Ele não temmais condições. Como é que ele pode viver em umacomunidade que é chefiada pelo tráfico? Ele tem deesconder o uniforme, não pode dizer para ninguémque trabalha na polícia. Então, a primeira coisa que oGoverno tem de fazer é criar conjuntos habitacionaispara a moradia dos policiais. Isso acontece com o Exér-cito, com a Marinha, com a Aeronáutica. Temos defazer a mesma coisa com a Polícia Militar.

A segunda coisa é que temos de melhorar os saláriosque são pagos aos policiais. Por que existe tão poucacorrupção na polícia norte-americana e na polícia fran-cesa? Foram as duas que eu estudei. Porque, basica-mente, os salários são extremamente diferenciados emrelação aos outros profissionais. Se você convive, dia-riamente, com a violência urbana, só pode sobreviverse o seu salário for diferenciado. Temos de estudar,novamente, a política de salário.

E outra coisa: temos de incentivar os policiais a tra-balharem em áreas turísticas. Eles não querem traba-lhar em áreas turísticas. Por quê? Porque elas não re-presentam absolutamente nada para eles. Você pegaum contingente de policiais nas áreas turísticas e per-cebe que eles estão totalmente desmotivados. Os sa-lários são baixíssimos. Então, o que temos de fazer?

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Incentivar os policiais por meio de um diferencial sa-larial. Acho que todo policial que se dedicar à ativi-dade turística, subordinado àquela política nacionalde segurança turística, deveria receber um diferencialno seu salário. Talvez isso fosse uma sugestão para amelhoria.

Outra coisa é criar, na formação dos policiais, umadisciplina denominada: Turismo do Rio de Janeiro. To-dos os policiais militares e civis deveriam ter essa dis-ciplina na sua formação. Não precisaríamos, depois,ficar pedindo dinheiro à Associação Brasileira da In-dústria de Hotéis (ABIH) e à Associação Brasileirade Agências de Viagens (ABAV) para dar curso parapoliciais militares e civis. Isso poderia ser resolvidoatravés dessa disciplina. E como vamos ter isso? Umpolicial que tivesse cumprido a disciplina, pelo me-nos, teria uma percepção do que é atividade turística.

Outra coisa: tornar obrigatório que todos os policiaisque atuam em áreas turísticas dominem outros idio-mas. Isso tem de ser obrigatório, porque, se um turistase dirige ao policial e ele não sabe falar absolutamen-te nada, f ica rindo, fazendo mímica. Vou ser francocom os senhores, o BPTur e o Deat fazem muito maisparte da promoção turística do que da infra-estruturaturística. Eles estão muito mais para promover, paradizer: “Temos batalhão, temos uma delegacia.” OLeonel de Moura Brizola criou a Deat e o primeiroGrupamento de Atendimento ao Turista. Quando eleolha o que acontece hoje aqui no Estado, deve se re-moer no caixão. Não era essa a idéia dele. Eu me lem-bro e vou dizer a vocês: o José Eduardo Guinle, naépoca, era Presidente da Associação de Hotéis deTurismo, o Carlo Gherardi era Presidente da Associa-ção Brasileira de Turismo Receptivo (BITO) e o Dr.

Trajano Ribeiro era o Presidente da Riotur. Foi nessaépoca que começamos a cuidar da segurança turísti-ca. Imaginem vocês, e imagine o Dr. Trajano, háquantos anos isso começou. E estamos outra vez dis-cutindo esse problema. Continuamos falando no pro-blema de capacitação do policial. Parece que nadaacontece neste País. Cada Governo desenvolve umacoisa. Outra coisa: todos esses policiais terão de fa-zer, pelo menos, um curso de reciclagem por ano. Elesterão de se reciclar para que possam continuar traba-lhando na atividade turística.

A política nacional de segurança turística que o Brasiltem de criar tem de ter diretrizes específicas. E essasdiretrizes têm de contemplar verbas para os Estados.Como é que podemos conceber que um turista assal-tado na Cidade do Rio de Janeiro pegue um carro todoquebrado para ser conduzido à Deat. É preferível nãotermos Delegacia Especializada em Atendimento aoTurista. Essa política tem de prever o quê? Que oGoverno Federal vai, realmente, entender que a segu-rança turística é um problema de Estado e que vairepassar recursos específicos para os Estados e paraos Municípios.

Outra coisa que proponho em minha tese de doutora-do é a criação de um programa chamado O policial éum amigo. É um programa do qual o Dr. Trajano devese lembrar. Na administração do Dr. Trajano eu eragerente do Centro de Estudos Turísticos da Riotur,que desenvolvia esse programa. Ao final de todo anodávamos uma premiação, que era outorgada pela Abave pela Abih, aos policiais que mais se destacassem.Com isso, eles tinham um programa efetivo de incen-tivo durante o ano inteiro.

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Outra coisa é que temos de criar no Brasil um Conse-lho Nacional de Segurança Turística. Quem criou oConselho Estadual de Segurança Turística foi o Pre-feito César Maia. Ele pediu que eu criasse esse Con-selho. Esse Conselho foi se desvirtuando ao longo detodos os anos, até que um Presidente da Riotur, cujonome não vou citar, resolveu acabar com o Conselhode Segurança. Depois, foi retomado. Eu ainda tenteisalvar o Conselho de Segurança, trazendo-o para oâmbito da TurisRio, quando o Roberto Gherardi eraPresidente. Ainda conseguimos fazer alguma coisa.Mas se tivermos uma política, vamos ter um Conse-lho de Segurança Turística que se reúne, que tem di-retriz, como, por exemplo, se reúne o Conselho Esta-dual de Turismo.

Se a segurança é um problema de Estado, ela tem deestabelecer parâmetros específ icos.

Vou fazer, agora, algumas sugestões no âmbito do pla-nejamento.

A primeira é a seguinte: um município só vai poderreceber recursos do Governo Federal se ele criar umplano de turismo com metas mensuráveis. Isso obrigatodo mundo, doravante, a trabalhar em cima do pla-nejamento com estas metas. O Governo federal sóvai liberar recursos se as metas forem mensuráveis.

Fortalecer o acesso das camadas mais populares aoturismo. Eu disse a vocês, no princípio de minha apre-sentação, que a Ministra Marta Suplicy tem como gran-de meta, hoje, fazer com que as pessoas mais caren-tes possam viajar. Coisa muito fácil. As colônias deférias do Serviço Social do Comércio (SESC) funcio-nam muito bem. Os Village Vacance en Famille

(VVF), na França, também funcionam muito bem. Sãouma espécie de Clube Med para os trabalhadores fran-ceses que não têm dinheiro para viajar. Então, temosde buscar uma solução para que essa população debaixa renda possa ter acesso ao turismo, à atividadeturística, melhorando a auto-estima dessas pessoas.

Outra coisa que penso é que temos de incluir nas cam-panhas publicitárias e nos vídeos o policiamento os-tensivo que existe nas ruas. Vejam bem: se somos ca-pazes de fazer grandes eventos, como o carnaval e oreveillon, sem grandes problemas de segurança, temosde aproveitar também essa marca específica na horade promover a Cidade do Rio de Janeiro. Não vejonenhuma promoção da Cidade do Rio de Janeiro: apresença de um policial militar uniformizado, a visitaa uma Delegacia Especializada de Atendimento aoTurista. Seria interessante que isso também fosse in-cluído.

Finalmente, temos de fortalecer o bacharel em turis-mo, o gestor em hotelaria, como alguém que possa,decisivamente, participar das políticas de planejamen-to e segurança turística em nosso País.

Quero agradecer a vocês pela atenção. Isso não foibem uma palestra, vim aqui mais para compartilharalgumas idéias com vocês. Aproveitei-me de minhatese de doutorado, o que muito me deixou feliz, por-que estou propondo um modelo de segurança turísti-ca para o Rio de Janeiro. Penso que cada um de nós,aqui, pode fazer alguma coisa, pode mudar este País.O Brasil pode ser mudado com o esforço individualde cada um de nós. Sigo o exemplo do meu pai, quefoi um homem que sempre lutou por um País melhor,que se exilou, que foi para fora, que esteve preso.

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Então, olho para o meu pai e vejo nele alguém querealmente lutou pela melhoria deste País. Acho quetemos de sair, hoje, daqui com o compromisso da mu-dança. Todos aqui temos de fazer alguma coisa paramudar o status quo deste País, da segurança e do pla-nejamento.

Queremos cidades planejadas, com segurança, quesejam boas para todos os indivíduos. Queremos umPaís mais democrático e que tenha metas mensuráveis.Queremos pessoas motivadas. Queremos um Brasilmelhor, um Brasil que consiga mudar alguma coisa.Vamos nos levantar, por favor. Peço uma gentileza avocês: vamos gritar que queremos paz, que só compaz o turismo vai f lorescer no nosso País. Vamos lá,por favor: queremos paz. Paz! Paz! Muito obrigado.

28 de março de 2007

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Agradeço a todos pela presença. Os que não es-tão presentes estão conosco no coração. Tenho certe-za de que o momento é extremamente delicado parao turismo, a partir dessa ótica que nos tem dado aimprensa, mas, acima de tudo, pela história que a avia-ção já tem. Temos de ter a preocupação maior emsairmos daqui com algo concreto, pelo menosalicerçando algo que se possa fazer em um futuro maispróximo possível.

A aviação, no momento, não pode ser vista por umúnico ângulo. Temos, necessariamente, vários momen-tos na aviação. Em 2003, fiz uma palestra aqui, peloMovimento Asas da Paz, enfocando alguns detalhessobre o que teria ocorrido de 1993 a 2003. Estáva-mos vivendo uma crise, portanto; uma outra crise,não esta que se instalou mais recentemente. E de cri-se em crise, esses momentos vão sendo motivos paraque se possa traduzir, em um planejamento mais am-

plo, uma visão estratégica, que é o que eu pretendo,ao final desta palestra, ter oferecido a todos nós.

Não lerei, eu vou dar seqüência. Nessa ótica, cadaum vai poder perceber, se estiverem lendo. Mas aquio que existiu foi em 2003. Não vou me deter em to-dos os quadros, porque existem em número maior doque o tempo disponível. Exatamente por isso, a leitu-ra vai ficar em segundo plano, ou seja, todos vão po-der ler. Aqueles que desejarem vão poder fazer as suasanotações, mas vou dar seqüência. Eu havia prometi-do ao Presidente Trigueiros citar esse momento emque tínhamos um plano de rotas. É claro, estou mos-trando a Varig, em 1993. Em confronto, existiu umprocesso já desencadeado. Então, vejam, hoje nãotenho o mapa de rotas da Varig, mas acredito que nãohaja essa densidade nem no doméstico nem no inter-nacional.

A AVIAÇÃO NO MOMENTO ATUAL E ASUA PROMOÇÃO

Conselheiro João Flávio Pedrosa

Presidente da Sociedade Náutica Brasileira

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Mas chamo a atenção para estes pontos: em 1993, aindústria aeronáutica americana decidiu investir US$130 bilhões para fazer, com esse aporte, que essa in-dústria americana fosse vigorosa e pudesse competirem todos os cantos do mundo. E nós, aqui, encolhía-mos. Nós, aqui, tínhamos não mais essa frota, ven-cendo todos os ares do mundo, como era a frota daVarig. Não tínhamos mais planejamento.

Os princípios da decisão americana: o sistema detransporte aéreo americano deve ser eficiente etecnologicamente superior; e esse transporte deveter o poder financeiro para responder a mudançasrápidas de cenários. Vejam que isso não foi aqui.Vivemos o mesmo tempo e não adotamos as mes-mas posturas.

O que estamos pensando, dizia eu naquela ocasião, ésubsidiar, com reflexões, o que teremos de enfrentarno futuro, caso essa crise da aviação civil se instale deforma mais dura ainda.

E a primeira questão levantada naquela reunião foi:quais são os desafios que uma empresa aérea deveenfrentar se, por exemplo, for envolvida em um aci-dente aéreo?

Então, vejam: não havia intenção de prognósticos nemexpectativas de tragédias; havia uma reflexão. E ca-bia essa reflexão? Claro que sim.

Como essa empresa aérea pode voar com um tipo deaeronave acidentada? O Concorde foi descartado. De-pois dos acidentes, ele ficou stand by e, posteriormen-te, foi desabilitado em todas as rotas internacionais.

Como uma empresa pode praticar um tipo de gestão

administrativa ou comercial quando é apontada comofragilizada?

Será que comprando uma outra empresa ela mostrapoder?

Como uma empresa pode assegurar que sua imagempermaneça a mesma, para que o seu futuro não sejaameaçado?

Então, naquela ocasião, as reflexões diziam respeito aum quadro teórico de um acidente aéreo, para alicerçaritens das nossas reflexões.

O conceito de confiança do passageiro não se refere,portanto, apenas à aeronave, mas também a essa ima-gem que se forma do segmento, do setor aéreo comoum todo.

Estudando um acidente aéreo, não se analisa apenasa parte técnica e as suas causas. Existem inúmerasoutras situações que nos permitem, agora – e, evi-dentemente, em 2003, porque fazíamos referência aofatídico 11 de Setembro, e, agora, evidentemente, sãoos especialistas e todas as autoridades que estudamessas questões –, trilhar um novo rumo. Isso em 2003,não foi em setembro de 2006. Três anos antes já nosreuníamos aqui para pensar a esse respeito.

E o nosso apagão aéreo? É preciso que entendamosque essa expressão apagão veio dos Estados Unidos,inicialmente, quando houve, efetivamente, um apagãoe o território americano ficou quase todo às escuras.E muitos filmes foram produzidos a esse respeito. Anatalidade, inclusive, cresceu. Enfim, vários itens arespeito deram essa conotação, essa cunhagem deapagão. E é evidente que no Brasil o escândalo do

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apagão se referiu também a uma questão de energia,que foi transferida pelos fenômenos da imprensa, quefazem o aporte de outras informações, quando, emcascata, a partir de um núcleo de problema. E chega-mos ao apagão aéreo.

No Brasil, no entanto, o processo de planejamento éconcomitante e se confunde com a execução, sendopreparado geralmente para atender a compromissosou necessidades imediatas. Ou seja, somos um Paísde bombeiros. Nossas autoridades, muitas vezes, sãopegas de surpresa e obrigadas a tomar decisões deafogadilho. E essas decisões nem sempre, por não se-rem tão bem pensadas, fazem parte de um escopomaior. Então, é importante que se reverencie aquelesque trabalharam no passado com planejamento e quehoje ficam abismados de ver a ausência de planeja-mento. Temos alguns itens que compõem um conjun-to possível de objetivos, mas não um planejamento.

Pontos que estão sendo hoje discutidos lá no Con-gresso. Pode-se ou não se pode desmilitarizar agora?Vocês sabem do que eu estou falando; não adiantadetalhar. O Governo devolveu, realmente, ao coman-do da Aeronáutica o sistema de controle? O que ficado alerta de uma possível ampliação da quebra dahierarquia feita nos dois sentidos (dos controladorese do Ministro do Planejamento, em nome do Presi-dente da República, Chefe Supremo das Forças Ar-madas)? Como restabelecer a normalidade, não tran-sitória, mas a normalidade?

Podemos contratar controladores estrangeiros? Essaimagem é tipicamente uma imagem de normalidadeno Kuwait, depois de uma guerra, chamada Guerrado Golfo, na qual houve quase um extermínio de todo

o sistema aéreo daquele país. Então, eu trouxe, bem apropósito, porque eles falam inglês. Reclama-se que onosso controlador não fala bem o inglês. Eles falambem o inglês. Mas será que podemos contratar os es-trangeiros para exercer esse domínio do controle aé-reo do espaço aéreo brasileiro?

Haverá novas negociações com os controladores, an-tes amotinados?

O que estamos fazendo aqui chama-se problematização.É uma etapa anterior a qualquer linha de pensamentoque leve a um planejamento. Então, somos obrigadosa fazer esse questionamento, sob uma ótica, a maisampla possível, visando um possível planejamento.

As decisões, quaisquer que forem, serão por medidaprovisória? Os possíveis afastamentos dos julgadosvão gerar protestos na classe? As companhias aéreasestão preparadas para enfrentar novamente essa situa-ção? Os passageiros estão sendo preparados para pos-sibilidades efetivas de novos acontecimentos?

Sim, eu não quis definir a palavra planejamento por-que não cabe, em uma palestra desse nível, entrar-mos em aspectos técnicos do planejamento, mas simrefletir e poder colocar alguns itens, como, por exem-plo, os objetivos do turismo ante o futuro da aviação.Quais são eles? Como pensar o futuro da aviação, in-dependentemente do turismo? O que o turismo espe-ra da aviação? O que a aviação espera do turismo? E,afinal de contas, quais são os pensamentos atuais efuturos do passageiro de avião?

Sem que façamos essas reflexões não teremos basepara nada, para alavancar algum projeto futuro. Por

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quê? Porque esses mesmos pensamentos vêm da base,vêm da historicidade da aviação.

Quais foram os impactos sobre o turismo? As altera-ções de destino, em duplo sentido. Pessoas que cha-mamos aqui de vítimas do apagão tiveram o seu des-tino mudado, e não apenas o destino turístico, mas daprópria vida, com a redução dos fluxos do turista, compassageiros sem apoio das agências e das companhiasaéreas.

E os riscos sistêmicos, como o efeito dominó, quepercebemos ao longo de todo o processo, de toda acrise, e o isolamento de empreendimentos turísticos?O Presidente da Associação Brasileira da Indústriade Hotéis (ABIH) deve refletir sobre o que angustia-damente lhe falaram alguns setores em que o aviãonão conseguiu levar o seu passageiro. A redução dosinvestimentos é uma conseqüência natural; não hou-ve investimento, não haverá reinvestimento; não hou-ve caixa para reinvestir, e a conseqüência é a quebrados empreendimentos afetados.

Usei esta frase com base no conceito do ComandanteÁlvaro José de Almeida Júnior, a quem faço, aqui, umagradecimento por poder utilizá-la, mesmo em suaausência: “Não há aviões voando sem tripulantes.”Ele diz: “Não há navios sem marinheiros.” E é, efeti-vamente, um ponto fundamental. Os controladoresde vôo constituem apenas uma das categorias de todoo sistema do transporte aéreo no Brasil e em qualquerparte do mundo. Há meteorologistas no Centro deVigilância Meteorológica que já estão se articulando,é evidente, com os mesmos propósitos. E alguns di-rão: “Mas eles não interferem. Eles não têm nenhumapreocupação com o nosso sistema de controle de trá-

fego aéreo?” Erro. Sem meteorologista não há metar;e sem metar não há informações em relação ao que opiloto vai encontrar em rota. É como voar, mesmoque acompanhado, em um sistema magnífico de con-trole radar? Ele voa no escuro? Só o seu sistema ésuficiente? Não. Há necessidade, sim, do especialistaem meteorologia. Há pilotos e tripulantes preocupa-dos, portanto. E eu diria: a formação de toda essagama de especialistas, de profissionais, de homens emulheres que trabalham no setor é intensa e, ao mes-mo tempo, complexa, impedindo que 70% dos candi-datos consiga assumir qualquer uma dessas catego-rias. Eles não conseguem; 70% dos que pretendemficam fora, à margem, e apenas 30% consegue passare se habilitar.

Mais uma preocupação para o nosso Conselho: esta-mos há dias do Pan. Preparamo-nos para enfrentaruma crise no Pan? Preparamo-nos para estabelecerestratégias de ação, quando o Pan é o elemento extre-mamente poderoso de venda mercadológica do pro-duto turístico brasileiro e do Rio de Janeiro? Prepa-ramo-nos ou vamos ser pegos, como no Natal, no AnoNovo e na Semana Santa? É importante que haja essapreocupação.

Vamos à prova dos nove aqui mesmo.

Temos de construir aviões para competir no cenáriomundial, para conquistar novos mercados e manter,de modo suficiente, a expansão da nossa aviação co-mercial. Esse é um recorde que é, efetivamente, umaintenção governamental? Há esse sentido, há essa preo-cupação de estabelecermos uma indústria aeronáuti-ca forte, para termos uma aviação forte, para poder-mos competir, tanto no território nacional quanto fora?

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É preciso impor aos nossos governantes um intensi-vo programa de reorganização aérea para modernizare reforçar nossa aviação. Isto cabe a nós como cida-dãos: exigir que sejamos competitivos, e não derra-marmos lágrima em todas as circunstâncias de crisese mais crises que se sucedem ao longo da nossa histó-ria. Eu quase perdi minha agência de turismo por oca-sião da perda da Panair do Brasil, porque estávamosacoplados a um programa com a MPM, na época, umadas maiores agências de propaganda do Brasil, fazen-do Plano Tricampeão para a Copa do Mundo. Naque-la ocasião, 50% dos valores eram oferecidos pelaPanair e os outros valores cabiam dentro de um pro-cesso da Eldorado. No entanto, não pudemos reali-zar, porque houve uma decisão governamental queinterferiu em todo o planejamento. Então, é impor-tante sabermos quais são as decisões governamentaisque vão afetar os nossos negócios no turismo, e nãoapenas sermos caudatários dessas decisões, já em umafase do esperneio, da situação sem volta. É importan-te conhecermos previamente.

Peço que cada um raciocine, levante em sua menteessas três sugestões para cada uma destas questões:como modernizar a nossa aviação? É fácil ler jornal ever que a crise está instalada. Mas como modernizar anossa aviação? Como reorganizar o setor aéreo? “Ah,não é da minha competência. Estou indo em um chur-rasco na Bahia e o problema é do comando da Aero-náutica.” Negativo. Todos estamos envolvidos, sim,e, com a nossa possibilidade de argumentar, os nos-sos sofrimentos, as nossas visões, podemos obter essaresposta da autoridade. Ou seja, precisamos reforçara nossa aviação. Como? A aviação brasileira só en-contrará o seu verdadeiro rumo quando este for ali-

cerçado no desenvolvimento da tecnologia e da cons-trução nacional. Isso não implica redução das aquisi-ções no estrangeiro, porque elas devem cobrir as la-cunas críticas que sempre existirão em um programade longo prazo. Não estou pretendendo ensinar padre arezar missa. Mas pelo exercício de macroprojetos, queme foram cometidos ao longo de anos e anos no Go-verno Federal, sinto essas lacunas no planejamento.E é evidente que a Aeronáutica se ressente tambémdo nível em que as decisões possam ser tomadas.

Uma política industrial para a aviação civil. Diversifi-cação dos pólos construtivos por meio da criação deCentros Tecnológicos de Aviação Civil. Alguém pen-sou nisso na ocasião das três sugestões? Alguém tevea possibilidade de pensar em diversificar? Em sair deSão José? Vamos colocar também em outros locaiscentros produtivos. Alguém pensou nisso? Mas va-mos pensar. Atrair para cada um desses pólos, dessesCentros Tecnológicos de Aviação Civil a economiadiversificada resultante. Existem aeroportos espalha-dos por todo o Brasil. Existem aeroclubes formadospor todo o Brasil. Mas existe carência por todo o Bra-sil. Então, a destinação desses centros, ocupando po-sições estratégicas, poderá, sim, ser projetada.

Consolidar os ganhos tecnológicos do desenvolvimen-to obtido anteriormente. Ninguém vai rifar a Empre-sa Brasileira de Aeronáutica S. A. (EMBRAER). Nin-guém quer se desfazer de absolutamente nada dessepotencial magnífico que o Brasil conquistou ao longodesses 50 anos.

Usar a diversificação para adequar mercados internos.Garantir o aproveitamento, a excelência da mão-de-

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obra técnica já preparada. Criar e desenvolver facili-dades e infra-estrutura produtiva diversificada. Incre-mentar o interesse dos diversos setores privados eempreendedores industriais, especialmente aquelescapazes de produzir e fornecer componentes aeronáu-ticos, para substituição dos itens de maior custo deimportação.

Lamento a ausência do Gilson, que foi nosso compa-nheiro; pelo menos estivemos lado a lado, sem nosconhecermos, na Focker Indústria Aeronáutica, ondetive meu primeiro emprego. Considero que foi umamagia trabalhar em uma organização como aquela.Mas a intenção era boa; o projeto não foi bem articu-lado.

Propor aos governos, de forma seletiva, a privatizaçãode segmentos industriais ou de serviços em infra-es-trutura que intensif iquem a implantação e a expansãodos novos empreendimentos aeronáuticos. Se nãohouver marinheiros, não haverá navios, pois eles nãovão sair do porto. Se não houver a excelência dessamão-de-obra, não vamos construir absolutamentenada, nem no nível do planejamento, nem no nível daoperacionalidade. Promover, portanto, a parceria emprojetos industriais, de indústrias compatíveis, ouintercomplementares, para consolidar os programasde produção.

Vou dar uma referência histórica. Todos devem se lem-brar do incêndio do Edifício Joelma, em São Paulo.Naquela ocasião, participei de uma reunião noAnhembi, em que tive a oportunidade de expor, apedido do Governo Federal, um projeto sobre a áreade nutrição. Naquele instante – e estou falando demuito tempo –, o Brasil não produzia o alimento para

colocar na merenda escolar. Com todo o nosso celei-ro do mundo, não conseguíamos botar uma fruta, umovo na merenda escolar. Vinha tudo de fora. Era tudodoado pelo governo americano e de outros países. Emconseqüência disso, coloco a tal reunião. A partir da-quela reunião, nós brasileiros fizemos uma indústriaalimentar no Brasil. É evidente que os industriais queestavam em São Paulo naquela ocasião se interessa-ram pelas 140 mil toneladas de alimento que serviama 23 milhões de crianças diariamente, em todo o Bra-sil. Não sei se isso funciona hoje, mas, na época, fun-cionou. E era distribuído por todo o País por inter-médio de uma logística, que muita gente, por não co-nhecer, acha que não existiu, e foi abandonado.

Atrair investimentos nacionais e internacionais diver-sificados, ressaltando oportunidades produtivas, asaúde dos mercados compradores potenciais, bemcomo o amplo acesso aos mercados internacionais.

A Embraer é a bandeira. Mas por que a única? Porque legitimamos por meio de um investimento quefoi da população brasileira, por meio de uma tributa-ção recolhida pelo Governo Federal, aplicada dentroda Embraer, enquanto empresa brasileira de aeronáu-tica do Governo brasileiro, e posteriormente foiprivatizada? É claro que podemos fazer; é claro quetemos a capacidade outra vez de encetar projetos au-tênticos, privados. Não há necessidade do Governo?Claro que há. É evidente que o Governo tem de teruma parceria, uma comunhão de entendimentos, deacordos, para que isso ocorra. Por isso, é da nossacompetência exigir que as autoridades se movimen-tem no sentido de um grande plano nacional para aaviação civil.

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Incentivar indústrias a promover alianças estratégi-cas com empresas aéreas para a adoção de tecnologiaavançada compatível com o desenvolvimento de pes-quisas para suprir necessidades operacionais mediatase futuras.

Muito bem. Vejam que é uma lista sobre a qual preci-sa-se dialogar; precisa ser exaustivamente verificada,contestada, debatida, eliminada se quiserem, mas épreciso que se ponha alguma coisa em objetivos cla-ros e definidos, para que se possa, em um futuro pró-ximo, falar em uma política de aviação civil.

O item educação é evidente que não poderia faltar.Assim como garantir aos educandos e treinandos, acada fase de progressão, a seletividade indispensávela uma reorientação e pleno emprego nos diversos se-tores aeronáuticos.

É evidente que a população teria de participar. Quan-do me refiro a população, refiro-me não apenas àque-les que viriam, com seus investimentos de pequeno,médio ou grande porte, mas também àqueles que fos-sem se envolvendo em todas as etapas do projeto.

Aqui, a proposta está calcada exatamente sobre aquelalinha de pensamento. É preciso financiar tudo isso. Ecomo financiar? Como obter recursos? Então, é pre-ciso que se estabeleça um fundo livre. E esse fundolivre, que tem a característica de transformar os plei-tos em algo factível, tem de comportar investimentosde todos os interessados na melhoria da aviação. Seos investidores forem apenas dirigidos às empresasaéreas, não vamos conseguir sair das situações de cri-se. As empresas aéreas, sim, tem de se transformartambém em investidoras de um grande programa. É

preciso, nessa nova fase de expansão e fortalecimen-to, uma nova lei de apoio promocional. Quando falode apoio promocional, estou me referindo a incentivopor uma contralinha que não caracterize apenas aquelarelação que nós conhecemos de: estou investindo pararetirar do Imposto de Renda. Não. Esta não funciona,não nesse momento.

Consolidar medidas existentes e propostas, ampliaros mercados no Brasil e no exterior e estabelecer in-centivos adequados.

Condições de Financiamento: por aeronave projeta-da, por linha construtiva – famílias, por encomendade série, por sistemas, instrumentos e equipamentos,por centros de formação, por pleitos empresariais, porpleitos individuais.

As condições desse financiamento podem ser pro-jetadas dessa ou de uma outra forma: percentual definanciamento, até 100%; prazo de amortização: de 2até 20 anos; prazo de carência, de 2 até 5 anos; juros,de 4% até 6% ao ano; atualização monetária; garan-tias: critérios estabelecidos pelo tomador no respecti-vo projeto, desde que aceitos pelo Agente Financeiro.

Um sistema de financiamento on line, porque, hoje,pela praticidade, os aplicadores estão em seus escri-tórios, e o sistema deve garantir a capacidade compe-titiva do setor, com todo esse elenco de definições.

Ele poderá gerar milhares de novos empregos em todoo País. Alguém aqui se lembra que estamos em crisena aviação? Estou falando aqui há 15 ou 20 minutos;alguém ainda lembra de crise na aviação? Estou ten-tando motivá-los a perceber que a nossa aviação éviável, é capaz, que pode ser aperfeiçoada. Ela pode

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se tornar competitiva. Acima de tudo, é nisso que te-mos de nos basear, quando em confronto com as nos-sas realidades. E é uma visão para a qual, por contes-tação, cabe o debate.

Todos esses itens fazem parte do planejamento; temsua base em uma política; não é feito isoladamente.

O equipamento. É evidente que se faz avião não ape-nas civil, mas também militar, dependendo, evidente-mente, das encomendas.

Quero apenas detalhar esse ponto. Em 12 de setem-bro – é importante a data – um avião novo, com ape-nas 234 horas de operação, foi entregue à companhiabrasileira Gol Transportes Aéreos. Era um Boeing 737-800 SFP (Short Field Performance), prefixo PR-GTD.

Doze dias depois, em 24 de setembro de 2006, ocor-reu um churrasco em Brasília organizado pelo Depu-tado Federal Alberto Fraga (PFL-DF). Vejam bem acoincidência de datas – estou apenas citando coinci-dência de datas. Mas os convidados foram os contro-ladores de vôo. Essa reunião teria ocorrido com a in-tenção de angariar votos para a eleição do referidoDeputado. Foram feitas promessas de “apoio logísticopara os controladores em suas reivindicações sala-riais”. A intenção era o voto, mas o compromisso foimais do que o voto; o compromisso foi a sublevação.Por que a sublevação? Porque os controladores sãomilitares, e não se pode esquecer esse ponto funda-mental na nossa estrutura de governo, na nossa estru-tura democrática, na nossa estrutura de País, de Na-ção, enfim. Houve uma intenção; houve a revelaçãode que um grupo internacional estaria interessado naprivatização do sistema de controle aéreo brasileiro .

Eu não estou criando isso. Está na Revista Isto É de29 de novembro de 2006.

Tornado público o fato, cinco dias depois, 29 de se-tembro, aquele mesmo Boeing 737-800 SFP (ShortField Performance) da companhia brasileira Gol Trans-portes Aéreos, prefixo PR-GTD, com 154 pessoas abordo, desapareceu dos radares aéreos às 16h48, en-quanto cumpria a etapa de Manaus (MAO) a Brasília(BSB) do vôo 1907. A primeira notícia, às 17h55 (ho-rário de Brasília), apontava uma queda fragorosa. Apartir daí, conhecemos muito dessa história; podemosseguir: os destroços em 30 de setembro, a consterna-ção nacional pela tragédia, o Presidente Lula decretaluto de três dias. Oito controladores foram afastadospara investigação sobre possível falha operacional. Issoé norma; não há nenhum descalabro, nenhuma pres-são, nenhuma intenção malévola da autoridade, dosoficiais, absolutamente. É norma. Sem controladoressobressalentes, outros tiveram de ser deslocados parasuprir a falta dos que estavam afastados.

No entanto, no mesmo dia 30 de setembro de 2006,nos depoimentos prestados pelos ocupantes do Legacyà Polícia Civil de Mato Grosso, aos quais a imprensateve acesso, todos nós conhecemos a história das de-clarações, que começaram em uma ponta e quase ter-minaram em uma outra, em uma modificação de po-sições a cada dia; posições essas que estavam sendoesclarecidas. E sabemos onde chegou. Houve umainvestigação nos aeroportos nacionais e internacio-nais, o Legacy conseguiu fazer um pouco, etc.

O Boeing e o Legacy colidiram a 37 mil pés, aproxi-madamente 11.200 metros acima do nível do mar. Aíexistem os níveis de cruzeiros, cuja utilização está

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apontada: quem vai de 000 a 179, quem vai de 180 a359, enfim. São práticas tradicionais.

Reconstituição. Essa reconstituição foi obtida combase no que o Conselho de Segurança de Transportesdo Canadá elaborou. Não é a animação oficial do aci-dente, mas ela mostra o que foi propalado. Vejam bem:estou usando a expressão propalado. Não temos aces-so a informações fidedignas e, evidentemente, nãopoderíamos deixar de fazer essa definição de que nãoé uma animação oficial do acidente. Inclusive os in-vestigadores canadenses que tiveram acesso às caixaspretas concluíram que a asa esquerda e parte da cau-da do Boeing foram danificadas em uma colisão.

Admite-se que ambas as aeronaves voavam nivela-das, o que ainda não foi confirmado pelos dados dascaixas-pretas, já disponíveis para a comissão, mas nãoapresentadas no referido relatório; 37 mil pés.

Esse ponto de contato produz efeitos em ambas asaeronaves e, no entanto, apenas o Boeing se viu emuma situação de ter perdido uma parte importante dosseus comandos de vôo. Em função disso, naqueleponto em que houve esse primeiro impacto, houve orompimento da ponta da asa e, com ela, lá se foi oavião.

Aqui disse o co-piloto do Legacy que viu uma som-bra. Uma sombra, segundo os que fizeram a verifica-ção dessa declaração, teria sido possível, no nível emque eles estão. Às 17h55 o rompimento aconteceu. Eaqui começa a haver a falta de sustentação da asa.

Estavam a bordo 148 passageiros, sendo 144 brasi-leiros, um francês, um alemão, um português e umamericano. O Legacy permaneceu voando mesmocom aquele tipo de avaria. Isso é muito importantepara que possamos avaliar a capacidade construtivabrasileira. A construção não é apenas da Embraer,é brasileira. É importante que se diga isso.

Não vou dar seqüência porque teríamos vários outrositens a comentar, muitas outras facetas desses pro-blemas. É importante que se façam, agora, as consi-derações e os debates. Agradeço a todos por teremme ouvido neste momento em que se projeta uma si-tuação nova para a aviação. Espero que tenha passa-do essa visão promocional, para resolvermos, de umaforma mais ampla, problemas que hoje são tópicos emomentâneos. Muito obrigado.

11 de abril de 2007

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Começo dizendo que o título não corresponde àverdade. Quando me ligaram eu não sabia bem o títu-lo. Acho que estava entusiasmado, talvez indignado,e coloquei esta história de Controle do Tráfego Aéreo –Verdades. Primeiro, não sou dono da verdade. Segun-do, deve haver muitas verdades além da minha pales-tra. Hoje aprendi isso com o Brigadeiro VenâncioGrossi. Pedi que ele me fizesse um aparte, porque háalgumas verdades que eu não conhecia.

Agora, sim, uma verdade que considero séria e quevou registrar: ontem li no jornal O Globo que em umareunião no Diretório Nacional do Partido dos Traba-lhadores (PT) este se posicionou firmemente favorá-vel à desmilitarização do sistema de tráfego aéreo.Completaram dizendo que acreditavam no Presiden-te Lula e no Ministro da Defesa como detentores docontrole do instamento militar.

Não concordo com essas posições. Não reconheço noDiretório Nacional do PT competência para decidirou opinar sobre o problema de militarização ou des-militarização do setor. Não concordo porque não con-cordo também que o Ministro da Defesa tenha o con-trole do instamento dos militares desta nação. Entre-tanto, concordo quando dizem que o Presidente Lulatem o controle do instamento militar. Ele tem o res-paldo de 60 milhões de brasileiros que nele votaram.

Fiz esse registro porque achei muito grave. Quem temo direito de fazer isso ou aquilo é o Congresso Nacio-nal, assessorado pelas pessoas que conhecem o pro-blema, e que devem assessorar o Presidente da Repú-blica, o qual já foi assessorado, convenientemente in-clusive, em parte por mim indiretamente e por outrosex-ministros.

CONTROLE DE TRÁFEGO AÉREO –VERDADES

Brigadeiro Mauro José Miranda Gandra

Ex-Ministro da Aeronáutica

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Tenho uma outra desculpa. Era minha idéia apresen-tar não só hoje, mas ontem, quando fui agraciado pelaFecomercio por meio da indicação da Câmara de Tu-rismo, cujo Presidente é o nosso Conselheiro DaltroNogueira. Fui acolhido em Belo Horizonte, abriram-me as portas como se rei fosse. Lá, pretendia fazeruma apresentação – que não era minha, mas que acheiexcelente – do Comandante Juniti Saito no Senado, aqual provavelmente muitos dos senhores e senhorasviram.

Vou fazer essa palestra a qual chamei de palestra acapela. E por quê? Quando um cantor canta sem acom-panhamento, canta a capela. Então, esta palestra semaudiovisual vai ser uma palestra a capela.

Começo com a gênese da crise da aviação civil sobum aspecto macro. Cito a Federal Aviation Adminis-tration (FAA), órgão que regula, que trata em grandeparte da aviação civil, embora não trate dos aero-portos. Os aeroportos, na América são geralmentetratados por Prefeituras. A FAA tem uma organici-dade parecida com a de uma orquestra gerida porum maestro.

Em 1941 tivemos a felicidade de ter um maestro, oPresidente Getúlio Vargas. Ele criou uma orquestraque foi gerida magistralmente por Salgado Filho, reu-nindo em um só órgão tudo o que se relacionava àaviação, tirando do Ministério da Viação e Obras Pú-blicas o então Departamento de Aviação Civil, da Ma-rinha e do Exército a parte da aeronáutica. Tudo so-bre a égide do Ministério da Aeronáutica.

Assim era a aviação civil brasileira até oito anos atrás,quando começamos a fatiar o sistema de aviação ci-

vil, o modal de transporte que funcionava neste País.Se os senhores fizerem uma regressão, verão que hásete meses o modal que funcionava neste País era oaéreo. Sessenta por cento das estradas do modal ter-restre são esburacadas; 20% delas talvez sejam intran-sitáveis. Perdemos o transporte marítimo para o exte-rior. Chegamos a ter mais de 40%. Hoje temos apenasnavios de bandeira de conveniência, salvo alguns daPetróleo Brasileiro S.A. (PETROBRAS) e da Com-panhia Vale do Rio Doce, que hoje também estãoterceirizando. A Vale não tem mais seus navios. Afi-nal, temos a cabotagem marítima. Não havia cabo-tagem de passageiros depois que a Lloyd faliu e foiembora.

A aviação, não, funcionava. Então, fatiamos, criandoo Ministério da Defesa. Não vamos mudar, porqueisso é lei. A lei pode ser mudada pelos homens, masela foi feita anteontem. Só quero registrar o fato. Cria-mos o Ministério da Defesa e tiramos uma fatia. Tira-mos a Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aero-portuária (INFRAERO) da égide da Aeronáutica etiramos outra fatia. Tiramos o Departamento de Avia-ção Civil (DAC) e criamos a Agência Nacional deAviação Civil (ANAC). Tiramos a terceira fatia.Estamos na iminência de perder a última fatia. É umafatia que também tem uma organicidade; está abaixode um departamento chamado Departamento de Con-trole do Espaço Aéreo (DCEA).

De maneira jocosa, com humor negro – e pedi descul-pas, porque estava na terra do nosso herói nacional –,chamei isso de operação Tiradentes. A aviação civilbrasileira foi esquartejada. Se não foi esquartejada,está na iminência de sê-lo, porque ainda temos umquarto vigendo.

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Convencionou-se chamar o divisor de águas desseproblema de apagão. É interessante o uso desses ter-mos. Reagi, inicialmente, ao termo Sucatão, mas de-pois que o Sucatão foi para o Líbano e para a Turquia etrouxe dois mil e quinhentos brasileiros que lá esta-vam, mostrou-se que ele era tão importante que o ape-lido passou a ser simpático. Assim como o Sucatinha.Então, o apagão passa a ser um apelido simpático.

A análise que faço é a seguinte: quando uma pessoafaz um exame de rotina, pensa que está bem. Chegalá, acha um determinado problema, uma massa no fí-gado. O médico diz que não é muito grave, mas apessoa começa a somatizar, sentir coisas que não sen-tia, achando que é muito mais grave.

Bem, a queda do Gol 1907 foi a massa no fígado. Oorganismo tem problemas? Tem. Não tenho dúvidas.Vamos ver no decorrer da palestra. Mas os problemasforam maximizados, somatizados – se podemos fazeressa transferência de somatização do orgânico para oadministrativo.

Tudo o que vou dizer tem ligação direta com cada umde nós; atinge diretamente o turismo. Não existe tu-rismo em um país de 8,5 milhões de metros quadra-dos, em um país do hemisfério sul que dista sete ouoito mil milhas do hemisfério norte, sem aviação. Nãoexiste. Na Europa é mais fácil. A pessoa pega um car-ro e vai a todos os lugares. Aqui é difícil fazer isso.

A investigação tem um objetivo, como todos sabe-mos: evitar que um novo acidente possa acontecer.Ao mesmo tempo, em um acidente em que há lesãocorporal ou morte há obrigatoriedade de se abrir um

inquérito policial com outro objetivo: a busca de cul-pados. Um inquérito como esses, com essa magnitu-de, deveria ter sigilo de justiça. Infelizmente, essa fi-gura não existe no País. Não existe sigilo de justiça,não existe reunião sigilosa da Câmara e do Congresso.No dia seguinte está nos jornais.

Então, o que acontece? Há o acidente, os oito contro-ladores que estavam na sala, segundo a norma (comoacontece também com os pilotos), são afastados. Aí,começa a história da culpabilidade ou da probabilida-de de culpa dos controladores. Por empatia, 27 outroscontroladores pedem licença médica por problemaspsicológicos. É fácil entender. A carga psicológica deum controlador de vôo é muito forte, embora eles te-nham uma série de vantagens: conforto na sala de tra-balho, monitor colorido de 21 polegadas, um contro-lador e um assistente para cada monitor. Nos doismonitores são quatro e mais um supervisor. Portanto,não é um controlador, mas cinco. Dizem que ocontrolador não fala inglês. O controlador fala muitobem inglês. O assistente é a muleta; está ali ao lado sepreparando para falar muito bem inglês. Falar inglêsna fraseologia aeronáutica é um pouco mais fácil. Eainda há o supervisor atrás, aquele que tirará todas asdúvidas. Portanto, isso é uma falácia. Pode acontecer,mas é uma falácia.

Temos de penalizar o Comando da Aeronáutica, que,alertado, não formou no momento certo os contro-ladores que deveria ter formado. En passant, vamostratar disso também. Estamos falando de mais de 30controladores retirados de um núcleo de 160. Essenúcleo, sentindo-se penalizado, começa a agir absolu-tamente dentro das normas mais rígidas. Só que quan-

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do ele começa a agir dentro das normas rígidas, tam-bém fere a segurança de vôo, porque começa a au-mentar o espaçamento, ou seja, os aviões ficam para-dos no chão.

Esse é o divisor de águas do apagão: o medo da culpae a somatização por empatia dos demais controladorescom os 27. Muitos outros não pediram licença médi-ca, mas estavam com o mesmo problema.

Gostaria de falar sobre o motim – o Presidente e oComandante Juniti Saito. Por empatia, coloquem-seno lugar do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, umhomem de viés sindical; um sindicalista, portanto.Como ele mesmo diz, um negociador. Sobre o Caribe,a 35 mil pés, recebe o telefonema de alguém dizendo:“Há 49 aeroportos fechados, 18 mil passageiros nassalas de embarque, nos átrios, etc. O Comandante daAeronáutica está indo lá prender os controladores.”Alguém diz: “E há controladores para substituí-los?”“Não.” O Presidente Lula decide: “Vamos negociar.”

Nessa hora, estava dando uma entrevista para a rádioJovem Pan. Foi uma entrevista tão longa que o redatorchefe disse: “Brigadeiro, estou vendo que o Presiden-te Lula mandou suspender a prisão. O senhor achaque eles não vão ser punidos?” Ele disse: “Não, achoque vão ser punidos, porque existe uma figura cha-mada Ministério Público Militar, que independe doPresidente, do Judiciário e do Legislativo. Ele vai cum-prir a sua ação; vai cumprir o que está prescrito noCódigo Penal Militar para o motim; e o cabeça serápenalizado em mais um terço.”

Temos reclamado muito, e esse é um dos casos. Ou-tro dia prenderam um sargento em Salvador que tinha

feito declarações no livro de registros. Apareceu natelevisão um advogado. Uma prisão administrativa nãotem advogado. Ora, é um regulamento disciplinar dasForças Armadas – no caso, da Aeronáutica. O outrofoi transferido, chamou um advogado. É triste ver queas Forças Armadas, em um ato normal, administrati-vo, disciplinar, passa a conviver com problemas judi-ciais. Ele dizia: “Isso é democracia. Graças a Deus, ademocracia tem um outro lado: o Ministério Público,para dizer ao Presidente, ao Legislativo, se for o caso,ao Judiciário e ao Diretório do Partido dos Trabalha-dores (PT) que existe o Ministério Público para fazercumprir a lei e a ordem. A lei e a ordem são os pilaresda democracia. Por sorte, o Comandante Saito nãohavia lavrado, por intermédio do Procurador do Mi-nistério Público, o auto de insubordinação. Se tivesselavrado, teria sido muito mais grave.

Em relação a esse problema do divisor de águas gos-taria de fazer uma pergunta, respondendo a sua pri-meira brincadeira: Por que há mais de 20 dias não te-mos problemas de desconforto de tráfego aéreo nosaeroportos? Por um passe de mágica os equipamentospassaram a funcionar. Por que há sete meses não tí-nhamos o problema do apagão aéreo? Então, é umproblema de somatização. Somatização inclusive daimprensa. A imprensa é louca para somatizar. Quan-do neste País uma pomba saiu na primeira página dojornal O Globo? Lembram-se dessa história? Uma pom-ba morta na pista do aeroporto de Congonhas saiu naprimeira página do jornal porque o aeroporto foi in-terditado por 15 minutos. Quantas vezes o aeroportofoi interditado? Quantas vezes o aeroporto de SãoPaulo foi interditado? E não estou falando de bestei-ras – das reformas que deveriam ter sido feitas –, mas

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de chuva mesmo, para valer, que fecha aeroporto. EmCuritiba isso é típico, se eu morasse lá só andaria decarro.

Gostaria, rapidamente, de lembrar como funciona osistema de tráfego aéreo e defesa aérea, o sistema cha-mado Sistema de Defesa Aérea e Controle de TráfegoAéreo (SISDACTA). Vou ler parte do trecho de umartigo que será publicado na Aero Magazine, revistaem que tenho uma coluna. Diz assim: “O sistema in-tegrado, explicitado por sua própria sigla, DACTA,Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo, operacio-nalmente é exercido em ambientes (salas operacionais)distintos, que dispõem de treinamentos diferenciados,mas sob a mesma filosofia de gestão, com a integraçãototal dos suportes de: meteorologia aeronáutica, co-municações, telecomunicações, manutenção, adminis-tração, busca e salvamento, cartografia aeronáutica einspeção de vôo.” Volto a perguntar: Será que odiretório do PT sabe que só quem tem essa compe-tência no País, hoje em dia, são 13,5 mil homens emulheres do Departamento de Controle do EspaçoAéreo (DCEA)?

O Dacta foi feito por quê? Ele deve ter sido inspiradopelo próprio Getúlio Vargas, que juntou tudo. Por queGetúlio Vargas fez isso? Ele sabia que o Brasil é umPaís pobre que não disporia de recursos para cada umadas facetas da aviação. No caso do tráfego aéreo amesma coisa foi feita. Nessa época, surgiu realmentea defesa aérea no País, porque estávamos comprandoos aviões Mirage. Eles não foram comprados para fa-zermos o Dacta, o Dacta já estava programado naEscola de Comando do Estado Maior da Aeronáuti-ca, nas mesas da inteligência militar aeronáutica. É

preciso lembrar que militares são cidadãos que fazemcursos, concursos; são inteligentes.

Criou-se o primeiro Dacta, e mudou-se a sigla paraCINDACTA – Centro Integrado de Defesa Aérea –,que pega o quadrilátero mais importante do País:Brasília, São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro eum pedaço do Tocantins e de Mato Grosso. Isso evo-luiu para o Cindacta II, em Curitiba; o Cindacta III,em Recife; e, finalmente, o Cindacta IV, em Manaus,que, em termos de controle de tráfego aéreo e defesa,o sucedâneo do Sistema de Vigilância da Amazônia(SIVAM) é muito maior do que o Dacta, porque pas-sou a ser o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM).

Por que quatro Dactas? Porque eles também se com-binam com as quatro regiões de defesa aérea, as RDAs.Isso começou a ser estudado em 1970 e 1971 pelohoje Tenente Brigadeiro reformado Moreira Lima, quefoi Ministro da Aeronáutica. Ele foi responsável peloinício do estudo das regiões de defesa aérea. Por umaquestão de economia de meios pensou-se em juntartudo: a meteorologia, as comunicações, etc. E se hou-ver guerra? Tenho duas salas: a sala da defesa podedeletar tudo o que está na tela do radar da aviaçãocivil; mas a avião civil não pode acessar a sala da de-fesa aérea. Se quiser, em um determinado momento,posso raciocinar só como defesa aérea ou aviação ci-vil. Foi feito por uma questão de economia; somosum País pobre.

Será que não? Talvez não. Ontem eu soube que naInfraero foram colocados mais de 300 assessores. Façonovamente uma empatia: um funcionário da Infraerode carreira vê chegarem trezentas pessoas, deve serhorrível, não? Garanto que esses 13,5 mil homens e

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mulheres da aeronáutica só chegam por concurso.Dependendo do nível, o topo da carreira de um mili-tar tem quatro estrelas, mil e quinhentas pessoas fize-ram concurso para minha turma. Duzentos e cinqüentae seis passaram pela minha turma como cadetes e alu-nos: 102 saíram oficiais; três chegaram a quatro estre-las. É o sistema do mérito que funciona.

Esses órgãos como a Anac, o DAC e a Infraero são doEstado, como é a diplomacia e as Forças Armadas.Não podem seguir ordens de partidos e nem de con-veniência. Vamos desmilitarizar? Se desmilitarizarem,não coloquem assessores, porque vai haver, em fren-te aos dois monitores, 10 controladores. O contro-lador, o assistente, o assistente do assistente, etc.

O Comando da Aeronáutica cometeu uma falha, sim.Vinha sendo alertado pelo próprio DCEA de que ha-via falta de controladores de vôo, falta que já se afi-gurava com a criação do Sivam e a vinda do Cindacta,e não se preparou convenientemente. Além disso, te-mos o problema da evasão não só de controladoresde vôo. Em Manaus, tínhamos recentemente oito en-genheiros, capitães e tenentes. Desses oito, cinco pe-diram demissão e fizeram concurso para empregospúblicos, talvez para a Assembléia Legislativa ou parao Judiciário, para ganhar o dobro do que ganha umtenente na Aeronáutica. É uma coisa com a qual te-mos de conviver. Provavelmente, essa é uma das ta-refas das Forças Armadas: preparar pessoas para queelas saiam e façam coisas boas em outros lugares daNação. Não é só nas Forças Armadas que conduzi-mos a Nação, não?

Afinal de contas, temos hoje 2.132 militares e 490civis controladores. Se raciocinarmos que o sistema

de controle de tráfego aéreo é uma grande ópera, ve-remos que há 13.500 figurantes e participantes. Oscontroladores de vôo são as primas-dona que dão oagudo final em uma das árias da ópera. Mas sem osbastidores a ópera não vai ao ar.

A Aeronáutica está tentando resolver o problema.Recebeu autorização para contratar 60 militares dareserva por quatro anos e mais 100 militares. Os 60estão incorporados; os 100 estão sendo incorporados.Isso é um alívio. E está incorporando mais 299 mili-tares e 64 civis no final de 2007, portanto, 363, quevão precisar de pelo menos dois anos para adquirirexperiência. Quando adquirirem experiência, serãoassistentes dos controladores. Teremos mais 513 con-troladores, mas não nos esqueçamos de que teremos,também, defecções, saídas, gente que passa para areserva, etc.

Essa ópera tem nos seus bastidores cerca de 5.700equipamentos. São equipamentos menores, mas 567são principais, a saber: 81 radares, 32 ILS e 86 VOR.Os radares são os mais conhecidos dos senhores, oILS ficou conhecido quando houve aquele problemado ILS categoria II, em Guarulhos. Quando cai umraio em um ILS a equipe técnica vai lá e está pronto.

Esse é um dos números dessa grande ópera. São seteBandeirantes-laboratórios, aviões que fazem a verifi-cação de todos esses equipamentos. São seis aviõesmoderníssimos, comprados dentro do orçamento doSivam, o H-800-XP, um sucedâneo daquele H-S-125,aqueles jatinhos, quando tínhamos três laboratórios.

Bem, a equipe vai lá, conserta e manda um avião paraver se a rampa do ILS está certa, se o rumo está certo.

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Se não estiver certo, volta-se a mexer. Na terceira vez,pousou, recolheu o trem, mas os outros aviões esta-vam em manutenção. Infelizmente, não é comum, emmarço, nevoeiro em Guarulhos. Foi um fim de sema-na com três nevoeiros. Há um pouco de Lei de Murphy.

Tem se falado muito em contingenciamento de recur-sos. Tenho um dado de jornal, tirado do Contas Aber-tas e do Sistema Integrado de Administração Finan-ceira (SIAFI), que demonstra que no ano de 2004 osistema de controle do espaço aéreo teve um contin-genciamento de 38%. Em 2005, 38%, melhorandoum pouco em 2006, com 28%. De qualquer maneira,isso é muito pesado. Esse sistema precisa de revi-talização permanente. O Cindacta I já foi revitalizadoduas vezes; o Cindacta II foi revitalizado uma vez; oCindacta III está em iminência de ser revitalizado.Digo revitalizado para modernizar, mas também temde ser mantido. Às vezes, é preciso até trocar o equi-pamento. Trezentos engenheiros, arquitetos e técni-cos de eletricidade trabalham nisso.

Durante um ano servi na antiga Diretoria de Eletrô-nica e Proteção ao Vôo, hoje DCEA. A coisa que maissurpreendeu foi o chamado antenista. Alguém sabe oque é isso? O antenista tinha 60 anos e subia em umaantena de comunicação de 60 ou 70 metros. Nessaópera há um figurante que trabalha a -7,4 graus, comsensação térmica de -20 graus, em Morro da Igreja,onde o radar precisou de um radome, porque comventos de mais de 100 quilômetros por hora o radarnão funciona. Ao mesmo tempo, em São Gabriel daCachoeira – por acaso o primeiro radar do Sivam queinaugurei – as temperaturas chegam a 40 ou 45 graus,e os equipamentos têm de estar com absoluta refrige-

ração, climatização. Não temos capacidade de fabri-cação de radar. Levamos 30 anos para fabricar umradar e não conseguimos. São poucos os países radaris-tas, e todos no hemisfério norte, onde o clima é tem-perado. Temos de lidar ainda com esse problema. Como aquecimento global, provavelmente vão ter de re-frigerar os shelter dos radares e computadores. Esperoque não chegue tão cedo.

A Força Aérea Brasileira (FAB) e o Comando da Ae-ronáutica, nos diz que o estado dos equipamentos ébom. Parece-nos que sim. Estamos falando de 24 diassem problemas. Isso não quer dizer que um equipa-mento não possa falhar. Todos esses equipamentostêm backup, um equipamento reserva. Mas isso tam-bém acontece nos bancos. Quantas vezes chegamos aum banco e o sistema caiu? Na aeronáutica não podefalhar. Há geradores nos aeroportos, em cada um des-ses shelters. Por isso, tem de haver um técnico moran-do ao lado de um desses shelters. Alguns se automantêm.A pessoa resolve a pane por um sistema de telecomu-nicações. Outros, entretanto, precisam que a pessoapegue um helicóptero e pouse lá para consertá-los.Um equipamento como esse para ser trocado ou ins-talado requer pelo menos dois ou três anos. Um ILS,além de estar perto do aeroporto, tem dois marcadoresque devem ser instalados longe do aeroporto. Às ve-zes, é preciso desapropriar o terreno e a pessoa nãoquer sair. É muito complicado.

Estamos no liminar de uma nova era no controle detráfego aéreo, que, aliás, a meu ver, já era para teracontecido porque vem sendo alardeada há mais de10 anos: o Communication, Navigation System-Air TrafficManagement (CNS/ATM), iniciado com o Futur Air

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Navigation System (FANS), um termo mais amplo, énada mais nada menos do que o GPS. O GPS é frutode uma constelação de satélites colocados principal-mente pelos Estados Unidos e em menor número pelaRússia. A Organização de Aviação Civil Internacio-nal (ICAO), que congrega 196 países, pretende ter osseus. O Brasil tornou-se membro dela desde o primei-ro momento, integrando-se ao primeiro grupo, com-posto de 10 países. Quando presidi a delegação daAssembléia, em 1992, tivemos votação unânime. Umfrancês perguntou por que havia votado no Brasil.Havia uma norma que impedia que o País votassenele mesmo. Eu disse: “Voto no Brasil porque gostodo Brasil!” Estamos lá, portanto, desde que foi criadaa Icao.

Vemos controladores de vôo de um sindicato e mili-tares virem a público dizer que a aviação não é segu-ra. O relatório de perigo é uma obrigação do pilotopor quê? É mais ou menos a figura da tolerância zero,do que não pode ser feito nem repetido. São dezenasde relatórios de perigo por mês. A aviação tem sem-pre um risco. Aliás, a vida é assim.

Com esse novo sistema os nossos controladores vãodeixar de ser simplesmente controladores, vão passara ser gestores de navegação aérea.

O Brigadeiro Sócrates da Costa Monteiro, ex-Minis-tro da Aeronáutica, fez uma observação válida, apli-cável: na Primeira Guerra Mundial os pilotos dosaviões eram sargentos; o tenente viajava atrás parafazer o controle de tiro. Os aviões começaram a ficarsofisticados. Chegou-se à conclusão de que o nívelintelectual e técnico de um sargento era pouco paraum piloto, que passou a ser um oficial. Agora, está

acontecendo isso. O controlador de vôo, para ser umgerente de navegação aérea, trabalhando com essenovo sistema, o CNS-ATM, ou seja, com comunica-ção, navegação, supervisão e gerenciamento do tráfe-go aéreo, vai ter de ter nível superior. Essa é uma daspropostas que fizemos. O Presidente está sabendodisso, já foi informado. Aliás, o Comandante Saitofalou da ida do controlador até coronel. Temos decriar uma carreira para os militares controladores, paraos civis, por meio de convênio com uma universida-de, a obrigação de que tenham nível superior. Isso épossível. O controlador trabalha 156 horas por mês,com algumas grandes folgas. Quase todos fazem cur-so universitário.

Brasília foi o fulcro da questão. Provavelmente, osfilhos daqueles sargentos e suboficiais mais antigos jáfizeram exames para o Congresso, para o Judiciário, eganham o dobro do que ganham os pais. Não nos es-queçamos de que um sargento ganha mais ou menosR$ 1,8 mil a R$ 3 mil, mas tem alguns benefícios.Aliás, o Comandante Saito disse que se quisesse ficarrico não estaria ali. Mas temos alguns benefícios: se-gurança, casa, o melhor sistema de saúde público doBrasil, de quatro em quatro anos recebe uma gratifi-cação para troca de uniformes, rancho, em um Paísonde oito milhões de famílias vivem com o Bolsa Fa-mília. Não estamos na América do Norte, onde umcontrolador de vôo ganha o dobro do que ganha umtenente brigadeiro, ganha US$ 10 mil.

A proposta é que se faça esse upgrade. Enquanto nãoacontece, que se dê a gratificação que já existe. Épequena, mas não pode ser muito grande, porque, se-não, o homem que está lá, com aquele casaco

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siberiano, a 7,4 graus abaixo de zero, vai se sentir tãomal quanto se sente aquele funcionário de carreira daInfraero ao ver chegar assistentes que ganham muitomais do que ele.

Essas não são, como disse no início, as verdades, maspartes das verdades. Estamos em uma democracia.Se quiserem desmilitarizar o setor, que o façam, masfaçam inteligentemente. Fui questionado por uma re-pórter da Band News: “Por que a Aeronáutica querficar com o sistema de controle de tráfego aéreo?” Eudisse: “O Comando da Aeronáutica não quer ficarcom o sistema. Estamos em uma democracia. O quefor decidido será feito. Assim foi feito com o Ministé-

rio da Defesa, com a saída da Infraero, com a Anac.Agora, é uma responsabilidade do Ministério da Ae-ronáutica alertar seus superiores, o Presidente, oLegislativo de que isso não é brincadeira, que umdiretório político não pode chegar e dizer que a des-militarização do setor é a solução para o problema.Isso tem de ser feito com respeito a quem entende doassunto.” No momento, até segunda ordem, quementende desse assunto é o Comando da Aeronáutica.Obrigado.

25 de abril de 2007

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Por enquanto, estamos trilhando uma linha reta,racional; e vamos procu!rar chegar lá. Até agora nãotenho sofrido nenhum tipo de pressão. Acho que hojea pasta da Segurança Pública é a mais espinhosa doserviço público brasileiro. Mas como diz o gaúcho:“Eu não nasci de sete meses.” Não vamos entregarassim.

Desde a transição, fazendo alguns estudos, emboracom parcas informações, tínhamos de colocar umamesa em pé; e para isso, normalmente precisamos dequatro pilares. Posso até colocar com dois, com três,mas quatro seria o ideal. Então, listamos três. A quar-ta seria gestão; mas como gestão é intenção e atosque estão sendo feitos para todas as secretarias, é umaproposta de governo, então, suprimimos aquilo quenós, como Secretaria de Segurança, pretendemosfazer.

Três pilares: integração, inteligência e Corregedoria.

Integração. Acho que os senhores, como empresários,sabem que a união faz a força. Acho que, absoluta-mente, não podemos mais trabalhar de modo que adelegacia X não saiba o que acontece na delegacia Y;o Batalhão 32 não fale com o Batalhão 38; e mais: osserviços de inteligência dessas instituições, cada um,isoladamente, sem se comunicar. O serviço de inteli-gência da Polícia Civil não fala com o P2 da PolíciaMilitar. E nós conseguimos trazer para esse processoa Polícia Federal, da qual sou oriundo.

Inteligência. Acho que os senhores também são dou-tores. É uma palavra que, particularmente, acho queestá, hoje, no cenário nacional. Na minha opinião, estámuito banalizada. Tudo vira inteligência. Inteligên-cia, na verdade, acho que muito pouca gente sabe o

SEGURANÇA PÚBLICA NO ESTADO DORIO DE JANEIRO

José Mariano Benincá Beltrame

Secretário de Estado de Segurança do Rio de Janeiro

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que é. Pelo que lemos nos jornais, todo mundo falaem inteligência. “A polícia não age com inteligência.”Eu gostaria de perguntar se eles sabem o que é inteli-gência. Hoje, a importância dela é muito presente.Hoje fala-se em inteligência empresarial. Acho que ainteligência tem ocupado espaço, principalmente nomundo policial. E a referência disso são as operaçõesque a Polícia Federal vêm desencadeando. Não querodizer que a Polícia Federal é melhor ou pior que aPolícia Civil. São competências, são estruturas orga-nizacionais e são recursos vindos de fontes totalmen-te diferentes. Mas temos um norte para esse tipo detrabalho. Inteligência, efetivamente, é o que pode que-brar uma série de paradigmas, de atividades que vi-nham sendo feitas anteriormente, que, na nossa ava-liação, foram pífias.

A Corregedoria, no nosso entendimento, tem de pararcom aquele estigma de que ela é para punir, para co-locar a polícia na rua e para colocar o pessoal parafora. Não. A Corregedoria está lá não para punir sim-plesmente as pessoas. Mas na medida em que ela puneo mau policial, o mau servidor, ela reconhece o bomservidor. O bom servidor vê: “Fulano de tal desviou,errou. Então, está lá. Vale a pena, efetivamente, serum bom funcionário.” Precisamos dar essa transpa-rência à Corregedoria. E isso foi feito. Foram feitasvárias mudanças.

Isso posto, tenho de me reportar, um pouco, a 1º dejaneiro de 2007, considerando que os problemas desegurança não nasceram nessa data. Também acho quenão adianta vir com esse discurso político de que oRio de Janeiro é um problema complexo, um proble-ma histórico, um problema cultural; que aqui foi capi-

tal da colônia, a capital da República, a capital doImpério. Essa é uma história. Temos de fazer segu-rança pública hoje, aqui e agora. Todos queremos sairdaqui e ir para casa tranqüilos. Acho que a sociedadenão agüenta mais essa conversa de colocar a culpaem planejamentos, em estratégias que se perderam notempo.

Então, começamos o ano assim. Os senhores devemse lembrar que tivemos aqueles atos bárbaros na vira-da do ano: pessoas descendo com coquetel molotovna Av. Brasil, incendiando pessoas; gente que desceucom metralhadoras, com armas automáticas, fazendotodo aquele estrago. Tivemos, naquele momento, dejuntar o que tínhamos em termos de conhecimentode inteligência para determinadas áreas e fazer umaatuação rápida. Temos de contar as crises, porque senão dividirmos a Secretaria de Segurança em atacadoe varejo, não faremos nada. Caso contrário, ficaremosassim: todos os dias há uma crise; todos os dias háisso, há aquilo. E o planejamento? E o gerenciamentodo que se quer lá na frente, daqui a quatro anos, da-qui a três anos? Então, não podemos fugir dessas cri-ses. O que fizemos? Conseguimos, de certa forma,pegar aqueles focos de violência. Fizemos uma con-tenção. O esforço da Polícia Militar foi incrível. Tive-mos de fazer as contenções em todas as entradas ondeachávamos que o Comando Vermelho poderia fazeralguma ação. Tivemos, depois que tudo passou, aquestão das milícias, aquele arrastão no Rebouças, oproblema na Linha Amarela, a crise do caso do JoãoHélio, na Zona Norte, e toda essa problemática queia, de certa forma, nos desviando. Aí, o que temos defazer? Eu disse: “Pára. Vamos parar aqui. Vamos terde agir de uma maneira estratégica.” O que fizemos?

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Começamos a reunir as informações que tínhamos, atrabalhar esses dados, a analisá-los, a puxar algunsinquéritos mais antigos, alguns processos judiciais maisantigos, a procurar nos arquivos da inteligência. Pos-so dizer aos senhores que montamos um banco dedados. E temos um planejamento já feito para, nomínimo, seis áreas de atuação no Rio de Janeiro ondeesses focos de violência estão instalados. Para quê?Para que possamos agir.

O que fizemos? Para os senhores terem uma idéia,são 328 – não gosto de dizer a palavra favela – áreascarentes que já têm influência do tráfico. Só que oRio de Janeiro dispõe de 759 favelas . É importantepassar isso para os senhores, a fim de que calculem adimensão disso. Vamos fazer uma conta por baixo: seeu colocar 10 policiais por favela – 10 policiais nãofazem nem cócegas – em um dia e multiplicar isso por750, considerando que para cada policial que traba-lha eu preciso de três, porque eles trabalham em tur-no, então, tenho de multiplicar por 40. E aí, os senho-res verão o efetivo do qual vamos precisar para colo-car 10 por favela. Então, pergunto aos senhores se épossível fazer alguma coisa sem usar a cabeça, sempensar: o que vou fazer primeiro? É como diz aquelevelho ditado: “Com que roupa eu vou para o sambaque você me convidou?” É uma expressão usada atépelo Governador. Então, como vou agir? Temos denos sentar diariamente, planejar, analisar dados. Te-mos um Instituto de Segurança Pública, que é umaferramenta fantástica. O que encontramos foi aquelequadro de crise que gerou toda essa sensação de inse-gurança. E aí, historicamente, acho que o cidadãocarioca não tem mais o tecido, seu tecido está saturadode tanto suportar isso; não agüenta mais. E como é

que vamos fazer para pelo menos transmitir às pes-soas, para que elas se sintam um pouco seguras emuma crise como aquela, com um contingente reduzi-do, sem condições? Enfim, foi uma situação bastantecomplicada.

O Rio de Janeiro, hoje, só para os senhores terem umaidéia, tem na capital seis mil policiais. Temos aqui umapopulação de mais ou menos seis milhões de pessoas.Bogotá tem cinco milhões e oitocentas mil pessoas, etem 20 mil policiais. Eu estive lá e assisti a uma apre-sentação do Doutor Hugo Acero (ex-Secretário deSegurança de Bogotá). O requisito número um: mas-sificação de polícia. Outra coisa: dos 38 mil policiais,que são o efetivo, perdemos de mil a mil e duzentospor ano. Como perdemos esse contingente? São pes-soas que morrem, que ficam lesionadas, com insufi-ciência permanente para trabalhar, e pessoas que sãoafastadas por processos disciplinares; e, ainda, pes-soas que vão para outros empregos, porque um poli-cial ganha R$ 850,00, e a possibilidade dele ganharisso fora da Polícia Militar é muito grande. Sessenta ecinco por cento da frota não funcionava; estava para-da. E ainda hoje conseguimos diminuir de 65% para40% da frota, porque há, aqui, uma situação que é atéengraçada. Para mim, é nítido que seria muito maisfácil comprar uma viatura do que criar um sistema demanutenção dessa viatura. Eu tinha a impressão queera mais fácil pegar 50 ou 60 caminhonetes ou carrosda polícia, fazer uma cerimônia, balançar a cha-vezinha, entregar o carro novo do que fazer um siste-ma de manutenção e controle daquela viatura. Estão,falando muito do legado dos Jogos Pan-americanos,vai ser uma maravilha. Digo aos senhores que vai ser.Não digo nem a Secretaria, porque ela não é minha,

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mas o Rio de Janeiro vai ficar muito bem. Vamos re-ceber em torno de mil veículos. Já pensaram como éque vamos sustentar os mil veículos? O custeio dis-so? Quanta gasolina, quanto óleo, quanto pneu, quantapastilha de freio? Isso é custeio. Isso tinha de estar noorçamento do estado.

Aí, pergunto: o que é inteligência? Será que a inteli-gência se usa só para fazer operação na Vila Cruzei-ro? E isso é uma coisa que a inteligência não resolvemais, porque os carros estão chegando aí. Então, eu,particularmente, não penso mais no Pan; não pensonem no legado. Já estou pensando em sustentar esselegado, em provisionar a Polícia Civil e a Polícia Mili-tar para receber esse legado. Há duzentas motos che-gando. E aí? Pneu da moto, marca da moto – como éque vai ser isso? Há oficina para consertar moto, nãohá? Pensaram nisso na hora de colocar no papel? Nãoquero ser mais realista que o rei, muito menos pessi-mista. Mas eu não estou dizendo novidade nem estoureinventando a roda. Então, são situações que encon-tramos e que têm de ser resolvidas.

Salário de um policial. Já disse aos senhores que é deR$ 850,00. O soldado do Batalhão de Operações Po-liciais Especiais (BOPE) ganha mais R$ 500,00 emfunção de sua atividade. Quer dizer, o risco do poli-cial do Bope vale R$ 500,00 a mais que o risco dooutro policial. Aí, começamos a tomar as primeirasmedidas. O que fizemos?

Primeiramente, mandamos todos aqueles presos em-bora daqui. Pegamos aquele povo e dissemos: saiam,porque temos convicção da participação desse pes-soal nos comandos do crime no Rio de Janeiro. Esse éum problema crônico, e isso se multiplica como rato.

O indivíduo cai e já há outro subindo; quando ele caie vai preso, da cadeia exerce o mesmo comando. Éum processo sistêmico. O pessoal confunde isso comcrime organizado. Não tem nada a ver com crime or-ganizado. Se fosse crime organizado aqui no Rio deJaneiro, estaríamos perdidos. Aqui é crime esculhamba-do, o que ainda é a nossa sorte. Então, mandamos essepovo embora. O Comando Vermelho ficou mais cal-mo, mais quieto. De um limão tínhamos de fazer umalimonada. Eu disse: do que preciso? Preciso colocargente na rua – medida de curto prazo, hoje, aqui eagora. O que preciso fazer para melhorar a sensaçãode segurança deste povo? A primeira medida é políciana rua. Não temos alternativa. Por que a polícia narua? Porque se há um policial ali naquela porta, al-guém aí fora que queira fazer uma bobagem, em umacidade como o Rio de Janeiro, diz: “Olha, vou fazermais ali para frente. Por que vou fazer exatamenteaqui?” Então, precisamos colocar gente na rua. O quefizemos? Extinguimos os Grupamentos Táticos Mili-tares (GTAMs). E o Prefeito, por meio de um convê-nio, assumiu o trânsito no Centro da cidade. Issodisponibilizou 650 homens. E conseguimos relocar ecolocar esse pessoal na rua. Encurtamos um pouco ocurso de formação desses 800 policiais, que eram doconcurso do ano passado. Conseguimos colocá-lostambém na rua. Formamos logo e colocamos o pes-soal para trabalhar. E aí, o que fizemos? Vamos fazerconcurso, não temos alternativa. Como se não bas-tassem todos os problemas do nosso cotidiano, aindaencontramos um outro problema, que é o conhecidosenhor Joaquim Levy (Secretário do Tesouro Nacio-nal). Não sei se os senhores o conhecem. Dissemos:vamos fazer concurso, preciso de quatro mil vagasemergenciais para a Polícia Civil. Ele disse: “Não há

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dinheiro, é impacto na folha. Não dá; não vai sair.”Não conseguimos fazer o concurso. O Doutor Joa-quim Levy pediu no mínimo um ano para que ele pu-desse adquirir uma gordura para depois fazer. Conse-guimos com muito custo dois mil homens. As inscri-ções já estão, inclusive, fechando. Mas aí, também é oseguinte: dois mil homens em uma instituição que põemil e duzentos para a rua; vão sobrar oitocentos. Issonão é nada. Mas aí, atrelamos isso a um projeto degoverno de colocar sete mil e quinhentos homens emquatro anos. Foi o que conseguimos fazer para a Polí-cia Militar. Para a Polícia Civil ainda estamos brigan-do com ele – uma briga de foice no escuro.

Convocamos a Força Nacional, porque aqui vem umsegundo problema. Sou particularmente contra a pre-sença de forças externas ao Estado, seja a Força Na-cional, seja o Exército, seja a Marinha, por um moti-vo muito simples – espero que os senhores me enten-dam: qualquer força externa que vier para o Rio deJaneiro e fique aqui um mês, dois meses, seis meses,um ano, ela vai embora, gente. Esse povo vai embo-ra. E aí, como é que vai ser depois? É efêmero. Éefêmera a vinda desse pessoal. “Ah, mas é uma cri-se?” Então, vem, traz para uma crise e tira. Aí, vemuma outra crise. Então, na semana que vem, tragamesse pessoal novamente para cá. Querem colocar aForça. Não tenho nada contra: interdita o Estado,passa tudo para a União, vem o Exército e toma con-ta. Ótimo, sem problema. Mas enquanto houver for-ça externa aqui, que se crie, se estruture e se estabele-ça uma Polícia Civil e uma Polícia Militar, que elesfiquem aqui cinco anos, três anos. Quando eles foremembora, devolvam à comunidade fluminense duasinstituições que são obrigadas constitucionalmente a

fazer o trabalho de polícia judiciária e polícia ostensi-va para a população. Então, eu disse: Acho que é umtiro no pé. Temos de fazer a lição de casa. Vamos criaruma sensação mentirosa. Mas se trouxermos isso comdados, vamos fazer o seguinte: vamos colocar essepessoal e fazer uma cortina aqui, um cerco no Estadodo Rio de Janeiro. Isso, de certa forma, ajuda. E aju-dou, está ajudando muito. Sei que é difícil a compreen-são disso, porque eles não têm uma ação palpável:pegamos 200/300, meia tonelada de droga. Mas aavaliação disso é exatamente o contrário: é o que dei-xou de passar e como estão querendo furar isso, por-que o que já pegamos aqui foi por outras rotas. Quemvinha pela Dutra está vindo por Paraty, aqui por bai-xo. Então, é um trabalho que muitas vezes faz comque as pessoas mudem o seu modus operandi; e mudan-do a situação fica mais fácil fazermos isso. Mas agoravamos trazê-los aqui para dentro.

Então, pedimos a Força. Eles vieram e fizeram a ope-ração divisão integrada.

No início, tínhamos aquelas crises, das quais vocêsdevem se lembrar: Linha Amarela, Linha Vermelha.Estão assaltando, porque pegaram turistas e não seimais quem. Vamos criar um móvel. Não é batalhão,não é companhia, não é nada. É um grupo que vaitrabalhar só ali. Apareceu um problema sério. Onde éque vamos colocar a polícia na via expressa? Ondeparo um carro naquele Paulo de Frontin? Não temcomo. E outra: se eu colocar um policial lá, como éque esse policial vai ao banheiro? Ele vai ter de tirar12 horas de serviço ali. Como é que eu vou fazer?“Ah, vamos derrubar a mureta.” Tudo bem, vamosderrubar a mureta. Aí, temos de fazer uma coisa cha-

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mada licitação. Feita a licitação, temos de contratarempreiteira, licitar o saco de cimento, etc. Eu disse:“Olha, pessoal, com licença. Vou falar com a PM, va-mos colocar esses policiais aqui. Coloquem lá um guar-da-sol – aquela coisa ridícula que vocês vêem ali. Masprecisamos fazer alguma coisa.” E colocamos lá. Enão houve mais nenhuma ocorrência na Linha Ama-rela e na Linha Vermelha, a não ser naquelas saídas,quando descem. Só que aí há um detalhe: são 34 saí-das na Linha Amarela. Mas não houve nada. E agora,está aqui, na presença dos senhores, o Doutor Fer-nando Veloso, que tem um trabalho de inteligência.Ele conseguiu fazer esse favor para o Estado, para acomunidade, com o qual acabou-se com essas qua-drilhas que atuavam no Galeão. E o mais importanteali não é a questão da droga, o mais importante ali é ainformação privilegiada: pessoas que estavam naque-le mundo – porque o Galeão é um mundo, uma cida-de. E tínhamos ali uma delegacia totalmente inope-rante. Tínhamos ali pessoas que não estavam com-prometidas com metas, porque a delegacia naquelelocal tem de conhecer aquele mundo: quem é o cida-dão da lancheria, quem é o cidadão que está transi-tando para cima e para baixo –, porque ninguém, se-nhores, sai de casa às 2h30 e diz assim: “Hoje vouassaltar um ônibus de turistas” e pega um carro e vai.Isso é inteligência. É que ele tem uma estrutura que oalimenta com informações no Galeão. Então, nãoadianta colocar a PM aqui no Flamengo: “Vamos co-locar a PM no Flamengo. Vamos colocar um carrobatedor quando vem.” Vocês já pensaram na idéia decolocarmos um batedor de PM para cada ônibus deturista que desce? E tem o seguinte: se o turista ame-ricano vem aqui, eu coloco um batedor para ele, e oturista do Recife não merece o mesmo tratamento?

Não temos de dar o mesmo tratamento à pessoa quevem de Florianópolis, quem vem de Porto Alegre? “Ah,não, mas a pessoa é da Dinamarca e você é gaúcho.Então, te vira.” As coisas têm um critério. E eu sei queisso demora um pouco. E aí, as pessoas, como estãosaturadas, não têm paciência. Mas o Fernando sabiade cara e disse: “Olha, temos de fazer um trabalho di-ferenciado no aeroporto. Não tem nada de patrulha-mento. Temos de mexer lá, que é o nascedouro detudo isso.” Acho que demos um passo importante.Posso morder a língua, sem problema nenhum, achoque isso não vai acabar de uma hora para outra, masfizemos um combate diferenciado.

Passadas as crises, resolvidos os problemas, vamosvoltar para os pilares: a questão da integração, inteli-gência.

Inteligência. Deixem-me dizer uma coisa rápida aossenhores sobre as ações que pretendemos fazer comrelação à inteligência policial e ao que fizemos naPolícia Federal. Aliás, a primeira coisa que mudou foium paradigma simples, mas complicado de se fazer,porque exige um pouco mais de qualidade; e tudo quetem um pouco de qualidade normalmente demandamais tempo. Nós, na Polícia Federal, estamos fazen-do isso aqui, esse serviço também da Delegacia Es-pecial de Atendimento ao Turista (DEAT). Foi em-blemático, não podemos mais nos preocupar em pren-der as pessoas. Temos de nos preocupar em oferecerprova. Temos de nos preocupar com uma condena-ção. E mais do que uma condenação, com uma boacondenação. Tenho de dar subsídios ao MinistérioPúblico para que este ofereça ao Poder Judiciário acapacidade de bater o martelo , como dizemos, mas ba-ter o martelo pesado, para que essa pessoa não saia da

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delegacia junto comigo, como já aconteceu na minhavida. Hoje se discutia muito: “Ah, mas a milícia...”Eu disse: “Acalmem-se com a milícia, porque ela éuma figura penal que não existe no Código.” Agora,há o quê? O desvio de conduta, um oferecimento desegurança, a facilitação de venda clandestina de gás,de televisionamento a cabo, de van. E como faço paraprender essas pessoas? Já fizemos uma infinidade detrabalhos nos lugares onde os jornais diziam que ha-via. Eles dizem que há e há mesmo. Se formos à VilaKelson acharemos uma pessoa com uma arma na cin-tura, à paisana. Você pergunta: “O que você está fa-zendo aí?” Ele diz: “Estou aqui. Não posso estar aqui?A minha tia mora ali, meu amigo mora aqui; vim aobar tomar uma cerveja; estou de folga.” Como é quevou provar que ele está fazendo segurança? Aí, vou àcasa da esquina, bato na porta e digo: “Esse indiví-duo está fazendo segurança para a senhora?” Quemvai me dizer isso? Quem é que vai se propor a sair dalie ir à delegacia e botar na mesa que paga R$ 10 pormês para ele fazer segurança? Não posso. Quem é quevai me dizer que ele gerencia uma rede do gatonet –televisionamento da net?

Então, em relação à milícia, tenho de compor um con-junto de ações; tenho de provar, de oferecer ao Mi-nistério Público que a pessoa vende segurança, queele usa a carteira, que ele usa a instituição, que ele usaarma da instituição, que ele cobra, sem fundamentonenhum, a van, a instalação de gás, a instalação clan-destina de luz, de água, etc. Isso tudo eu tenho dejuntar em uma figura penal. Isso não é fácil. Não adian-ta ir para o jornal, pois isso não é fácil. Se eu prendouma pessoa que está lá com a arma, chego à delegaciae saio junto com ela. Se é que ele não sai primeiro do

que eu, e eu ainda fico respondendo por abuso deautoridade. Então, isso não é brincadeira. Só que nãopodemos nos deixar levar pela força da própria im-prensa, muitas vezes: “Ah, não agüento mais pagar aomiliciano.” Calma, temos de fazer um trabalho de in-teligência, e está sendo feito.

Outra coisa: tínhamos aqui as delegacias. O chefe depolícia estabeleceu metas para essas delegacias. Tí-nhamos delegacias que tinham, hipoteticamente, 300Registros de Ocorrência (ROs). Aí, você analisava e,daqueles 300 ROs saíam sete, dez inquéritos. E aí?Aí, usou-se o seguinte argumento: vamos estabelecermetas para essa delegacia. De acordo com o númerode ROs, faça-se um número aproximado de inquéri-tos: você tem 400 ROs? Você vai ter de ter uns 70inquéritos, por baixo. E isso foi feito. Esse também éum dado silencioso, porque só chega em nós quandoas coisas estão ruins. Quando o filho é bonito todo mun-do quer ser o pai. Então, aqui tivemos um aumentode 2% dos crimes elucidados na capital, porque seexigiu que houvesse inquérito relatado; e não apenasinquérito relatado, porque você pode relatar e dizerqualquer coisa. Mas falamos de inquérito relatado comautoria. E aí, estabeleceram-se essas metas e come-çou-se a se trabalhar nisso. Alguns delegados foramdecapitados por não atingirem àquelas metas; e outroscontinuarão sendo. E vamos fazer essas mudanças nosentido de que essa máquina trabalhe mais afinada.Posso dizer a vocês que isso funcionou.

Ontem, divulgamos dados de criminalidade aqui doRio de Janeiro. Realmente, não estão bons. Mas osdados institucionais, ou seja, apreensão de arma, coi-sas da delegacia, foram fantásticos. Aquilo que o che-

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fe de polícia pôde supervisionar funcionou. Está lápara ver.

A outra grande transformação que será feita aqui noRio de Janeiro – acho que em 20 ou 30 dias estaráfuncionando – é que os senhores terão o maior centrode inteligência da América Latina. Eu já trabalho comisso desde 1992. O que está vindo aqui para o Rio deJaneiro é um equipamento de altíssima geração, comuma capacidade maior do que a que a Polícia Federaltem aqui no Rio e em São Paulo. Teremos condiçõesde fazer excelentes trabalhos. A Polícia Civil vai tercondições de atingir outros horizontes, que não essacriminalidade barata, porque, infelizmente, a crimi-nalidade que nos assusta é a do asfalto; é o crime derua, o crime do sangue, o crime da sirene aberta, ocrime do pára-brisa quebrado, o crime do tiro. Essenos assusta. Mas o mais danoso é o crime organizado.É o crime silencioso, o crime da evasão de divisas, ocrime da sonegação fiscal. Mas se esse equipamentonão for bem aproveitado, se ele não for potencializado,se não houver um treinamento das pessoas, isso vaiser um macaquinho em uma loja de louça. Vai ser um ab-surdo, porque é um equipamento que é totalmenteauditável. Tudo o que se faz nele, qualquer cruza-mento de dados, de informações que se fizer, as pes-soas vão ficar logadas ali e eu vou ter como cobrarisso. Mas precisamos de treinamento. Precisamos trei-nar essas pessoas. Na sexta-feira nós conseguimosformar 200 analistas de informação. Vamos dividir ,agora, a partir da próxima semana, em grupos de 15pessoas, para que façam um estágio na Polícia Fede-ral, onde há esse equipamento, para ver como se tra-balha com ele, a fim de que, quando começarmos aqui,no mês de junho, tenhamos o mínimo de capacidadehumana para trabalhar com ele.

Operações planejadas. O que vamos fazer com rela-ção à operacionalidade da polícia? Tínhamos já infor-mações com as quais, no início do ano, montamosaquele cronograma de atividade operacional – aque-les cinco ou seis locais nos quais tínhamos e temoscomo prioridade agir. Começamos agindo aos poucose tivemos um êxito muito bom: Vila Cruzeiro.

Os senhores devem se lembrar daquela operação naqual pegamos 15 mil cartuchos. Tivemos algumasoutras operações aqui. Eu só gostaria de deixar claro,aproveitando a questão da Vila Cruzeiro, que, sendohoje um profissional de polícia, de segurança pública,se tenho conhecimento de que em um espaço destetamanho aqui existe um arsenal de 15 mil cartuchos,existem duas metralhadoras ponto 30, seis traficantescom uma ficha criminal imensa, como não vou agir,gente? Como não vou agir? Vou deixar que essas pes-soas resolvam, ao seu bel prazer, pegar essas armas evir para o asfalto assaltar um chefe de família, umamãe que está levando um filho para a escola? Voudeixar que esse pessoal beba, fume e cheire e umahora diga: “Quero dez reais” e vai para o asfalto pegarno sinal do trânsito? Eu vou permitir? Os senhoresme desculpem, mas vou até o fim combatendo essesnúcleos de violência, porque os núcleos de violência,hoje, no Rio de Janeiro são indiscutivelmente os fo-cos do tráfico de drogas. É o tráfico de drogas que usaa configuração geográfica do Rio de Janeiro. Falamtanto no coitado do Rio de Janeiro, mas temos cida-des que têm índices de criminalidades maiores. Só quenormalmente a criminalidade, nos outros lugares, estána periferia. Então, o pessoal troca tiro, traçante, bom-ba, seja lá o que for, e ninguém vê. Mas aqui no Riode Janeiro não. A configuração geográfica fez com que

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o tráfico se estabelecesse nesses locais. Ela é propíciaa que as pessoas fiquem lá em cima, nos lugares dedifícil acesso. E outra coisa: se a pessoa é consumido-ra de drogas em Copacabana, ela não precisa ir a Acaripara comprar drogas, como em São Paulo ou em ou-tros lugares. É só ele descer. Se a pessoa mora na Bar-ra da Tijuca, compra na Rocinha. Se ela mora emCopacabana, compra no Pavãozinho. Se ela mora noCentro, vai à Providência, à Mangueira. Na Tijuca,então, ela escolhe. Mas em um outro lugar ela tem depegar um táxi, pegar um ônibus; tem de mandar ummoto táxi, tem de marcar uma ponte, como chamamos.

Então, a configuração geográfica do Rio de Janeiroproporciona isso. Mas proporciona em nós o quê? Amaldita sensação da insegurança, porque os senhoresestão em casa, na Tijuca, ou em Copacabana, ondepegamos duas metralhadoras ponto 30 roubadas doForte Copacabana, e nas suas costas estão dando tiro.Em Brasília, que está cheia dos nossos políticos, acidade de Ceilândia é uma das mais horrendas comrelação à criminalidade. Só que ela está a 40 quilôme-tros do Plano Piloto. As pessoas se matam lá e nin-guém fica sabendo. Mas aqui estamos sujeitos a isso atodo instante. O senhor está lendo um livro na Tijucae escolhe: “Ah, esse é um 45; aquela lá é 9mm.” Jásabe de cor se é pistola. Então, temos também essaquestão.

Mas se o meu serviço de inteligência produz uma in-formação como essa, e sei onde é que está, não estouindo aos lugares a esmo, sei que está lá na rua tal,esquina com rua tal, se sei que a pessoa tem na ruatal, na Providência, o fulano de tal está lá com essamercadoria, eu vou atrás. Se eu não for, estarei preva-

ricando, ou serei um covarde. A melhor solução, hoje,talvez fosse colocar a cabeça embaixo da mesa. Asolução em curto prazo para nós não é boa. Não va-mos fazer um bolo sem quebrar os ovos. Temos depensar que se um de nós tiver um câncer, um carcino-ma em um determinado lugar do corpo, ele tem de serextirpado. Não existe, mesmo que ele seja benigno,cirurgia com risco zero. Pode dar um enfarto, umadiverticulite, pode reagir mal, etc. Não temos comofazer isso aqui.

Eu fico perguntando: como é que essas pessoas con-seguiram 15 mil cartuchos, em um lugar deste tama-nho? Os batalhões, hoje, não têm isso para o prontoemprego. Para o pronto emprego pode haver muitomais, mas vai ter de trazer daqui e dali. Se eu sei ondeé que está e sei quem tem, vou atrás. Mas o problemaé o conflito. Não posso bater na porta da pessoa edizer: “Entregue-me.” Até agora ninguém quis meentregar. Então, vem o conflito. Vem a questão dabala perdida, dos homicídios. Eu sou pai e lamentoisso, acho pesaroso. Mas como é que vamos fazer?Vamos deixar que isso cresça?

Vocês viram: o Comando Vermelho saiu do Alemão,veio aqui para a Mineira, no Centro da Cidade, às 8horas, a fim de resolver as mazelas com outra facção.“Vamos lá resolver as nossas desavenças.” Mas é umasituação crítica, complicada. Vinte e quatro pessoassaem de lá com 24 fuzis e vêm aqui, ao centro dacidade, para fazer isso. Vamos agir. Se soubermos, seanteciparmos isso, vamos agir. “Ah, o auto de resis-tência subiu 100%.” Subiu porque saímos de uma ati-tude reativa. As coisas aconteciam e depois a políciaia. Agora, é uma atitude ativa. É uma antecipação.

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Eu sei, então, vou atrás. Aí, acontece isso, porque eunão tenho como ir ao meio da favela e pinçar, içaraquela casa de lá. Como é que eu vou entrar lá? Nãohá essa situação. Só se entra em favela, hoje, pagan-do. Isso também não é da nossa legenda.

Aqui, posso dizer que temos duas ferramentas de in-teligência fantásticas. Uma delas é o Instituto de Se-gurança Pública, que é alimentado com informaçõesque chegam via Delegacia Legal. O sistema Delega-cia Legal tem muito potencial. Por quê? Porque a pes-soa faz o registro e, on line, vai a um banco de dadosdo Instituto de Segurança Pública. Então, sabe-se detudo a todo momento. Por exemplo: hoje roubaram Xcarros na Tijuca, mataram tantas pessoas. Eu sei di-reitinho onde é que estão as incidências criminais. Eisso nos proporciona o quê? Formar mapas da cidadecom manchas criminais. Essa zona teve mais homicí-dio, aqui foi mais lesão corporal, aqui foi roubo decelular, aqui foi roubo à residência, etc. Com base nis-so, o que eu faço? Direciono o meu pequeno efetivopara aquelas áreas. Foi o que fizemos no mês que pas-sou. E conseguimos diminuir em 50% o roubo de veí-culos na Zona Oeste. O que fizemos? Só para dar umexemplo: pegamos os seis batalhões da área e elabo-ramos, dentro da área de cada batalhão, nove pontosque consideramos mais críticos. Multiplicando isso,são 54 pontos onde realizamos as blitzen. Mas não sãoaquelas blitzen que a PM às vezes fazia no Aterro doFlamengo, sexta-feira, às 18 horas. Ficavam ali para-dos duas ou três horas. São blitzen itinerantes feitasem um espaço de tempo relativamente curto, ou seja,das 21 horas às 2 horas do dia seguinte, ou coisa as-sim. Ficam 45 minutos ou uma hora aqui e vão mu-dando para esses pontos. Os dados do Instituto estão

ali. Conseguimos diminuir 50% do roubo de veículos.Agora, o que temos de fazer? Procurar multiplicar asações da PM nas outras áreas. E estamos progredindonisso também. É difícil, mas estamos estendendo essadinâmica a todos os lugares.

Delegacia legal. No momento em que tenho a inci-dência, em que foi feito o registro, ela alimenta o Ins-tituto de Segurança Pública e este me permite fazerestes mapas.

Outra coisa: antes eram analisados 10 itens criminais.Aumentamos isso para 39 e estamos divulgando, men-salmente, colocando a cara à tapa. Todos os meses nósdivulgamos. Se aumentarem os índices criminais, vemo puxão de orelha . Se diminuírem, fica ótimo; ninguémdiz nada. Então, o silêncio é um elogio.

Fizemos o Gabinete de Gestão Integrada. Seu primeirogrande ato foi essa ação do Tio Patinhas, das maqui-ninhas, que pensávamos fazer. Desde que assumimos,dizíamos: “Temos de pegar a questão contravencio-nal.” É uma prioridade, porque ela tem toda uma par-te histórica dizendo que acabou com as polícias civile militar por meio do poder de corrupção, que ela fi-nancia o tráfico e outras coisas mais. Então, precisa-mos fazer a questão das máquinas e do jogo. Mas comovamos fazer? Aí, vem o problema. É fácil: “Vai lá,prende, tira a máquina, pronto.” Mas aí, há o proble-ma logístico, a respeito do qual todos nós temos desaber. Sempre que faço apreensão de uma mercadoriailícita dentro de um carro, esse bem fica atrelado aoinquérito policial, e esse inquérito corre na Justiça por10 ou 12 anos; e aquele carro fica ali. Não posso me-xer naquele bem. Assim também com uma arma. Elafica presa, adstrita ao inquérito. O senhor sabe quantas

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armas estão presas na Divisão de Fiscalização de Ar-mas e Explosivos (DFAE) aqui no Centro da cidade?Duzentas e vinte mil armas. Se eu fosse vagabundonão iria ao Paraguai; daria um jeito de estourar oDFAE, o que é mais fácil, porque elas estão adstritasao inquérito. Com carro é a mesma coisa. “Ah, temum Audi A4. A polícia deixa o Audi A4 na rua, compneus arreados.” Não posso mexer, isso está atreladoao inquérito policial. E com a maquininha é assim.Houve uma operação aqui em 2003, se não me enga-no, em que prenderam uma infinidade de armas. Foiuma lambança na Justiça. E as máquinas estão aí nasmais diversas unidades da Polícia Civil, apreendidas,já sem condição nenhuma e só atrapalhando, ocupan-do espaço e criando rato. Fui ao Instituto de Crimi-nalística Carlos Éboli (ICCE) e vi as viaturas que ti-veram de ser retiradas da garagem. Os carros ficaramna rua, para colocar as máquinas lá dentro, pois elasestavam presas. E estão lá as máquinas. Isso foi dis-cutido em uma mesa com esse povo. Como vamosfazer? Aí, apareceu a seguinte idéia da Receita Fede-ral. O Doutor Barbeiro, que, por sinal, também é deSanta Maria, disse: “Vamos para a rua: Polícia Mili-tar, Polícia Civil e Receita. Aí, vocês prendem – quan-do digo ‘prende’ quero dizer ‘retira’ – e eu, adminis-trativamente, faço a apreensão e levo para o depósitoda Receita. A pessoa tem 30 dias para se apresentarcomo dona da máquina.” É lógico que ninguém seapresentou; e nem vão se apresentar. “Em 30 dias ojuiz dá perdimento, e eu posso queimar as máquinas.”Resolvemos o problema logístico. A operação TioPatinhas vai continuar, porque não adianta apreendermáquina para, depois, criar um outro problema. Vãodizer que a polícia está roubando o chip da máquina,

que está vendendo o chip por fora. Então, são coisasnas quais temos de pensar um pouco e agir com inte-ligência, para encontrar uma solução prática na fren-te. Agora, sim: vamos, recolhemos, deixamos com aReceita e esta notifica: “O dono tem 30 dias para apa-recer.” Não vai aparecer, porque, se fizer isso ele teráde justificar o contrabando, o Imposto de Renda dele.“O que o senhor faz com o dinheiro que aufere dojogo?” Então, não vai aparecer. O juiz, agora, já deu operdimento das duas mil e poucas que há lá, e vamosencher o depósito novamente. E agora ficou mais fá-cil, porque eles começaram a tirar e a colocar em de-pósito. Então, a viagem fica menor. Essa é uma ope-ração do Gabinete de Ação Integrada de SegurançaPública (GAISP), do Grupo de Gestão Integrada.

No Aeroporto de Jacarepaguá fizemos uma ação mui-to boa. A Marinha tem nos ajudado muito no trans-porte de tropa. Ela transportou os presos de Bangupara o Galeão, porque não íamos com essas pessoasde ônibus para chegar na Avenida Brasil e aconteceralguma coisa. Estamos fornecendo, aqui, uma sériede carregadores para o BOPE e para a Coordenadoriade recursos Especiais (CORE). Então, essa questãoda integração está tendo muita validade. Vai levar opessoal do BOPE para Brasília no sábado. Consegui-mos também com a Aeronáutica. Fizemos também oGrupo de Ação Integrada do Sudeste (GAISP), comquatro Estados. Por quê? Porque temos pessoas quemoram aqui e atuam na criminalidade em Minas Ge-rais; moram aqui e atuam em São Paulo; moram emSão Paulo e roubam carga aqui. O que fizemos? Con-seguimos, por meio de um sistema de senha, um sis-tema reservado de acesso em que os bancos de dadosdaqui podem ser acessados pelo pessoal de São Paulo

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e pelo pessoal de Minas. E nós acessamos o deles. Élógico que isso é feito por meio de senhas específicaspara esse fim. Esse foi o primeiro grande passo. Espe-ramos dar outros.

A Corregedoria era o pilar do qual falamos. Sou funcio-nário público já há algum tempo e, em seguida, passa-mos por uma situação muito constrangedora: se eusou delegado de polícia e um colega meu, delegado,comete uma infração, uma irregularidade administra-tiva, como delegado, sou nomeado por um superiorpara fazer uma apuração a respeito do meu colegapolicial. E aí, digo que é uma situação muito compli-cada. Imaginem o Fernando fazendo uma apuraçãosobre mim ou eu fazendo uma sobre ele. É uma coisaque nos atinge diretamente, queiramos ou não. É umaexperiência própria. É a mesma coisa que os senhoresjulgarem um membro deste Conselho. Isso atrapalhamuito, porque as pessoas ficam tolhidas de uma açãomais rápida. O que fizemos? Vou pegar um procura-dor, um desembargador aposentado e colocar lá. Eainda pegamos um desembargador que era corregedordo Tribunal de Justiça. Está funcionando maravilho-samente bem. De certa forma desobrigamos as pes-soas, a própria instituição de fazer isso. Colocamosuma pessoa lá que, além de ter o conhecimento jurí-dico e administrativo, tem muita experiência. E aquestão da impessoalidade está garantida. Então, es-ses processos, além de ter essa apuração centralizada,têm uma rapidez muito grande. De pronto, abriram-se aqui 62 processos. Cometi um crime de lesão e es-tou respondendo, então, criminalmente na Justiça; mastenho de responder administrativamente também. Aí,o que o pessoal, acho que por questões de impessoa-lidade, fazia era: “Este aqui nós não vamos apurar,

vamos deixar a Justiça se manifestar. Depois, vamosna carona .” Só que, juridicamente, não tem nada a ver.O administrativo pode correr paralelamente com ocriminal. E analisando lá, em questões de dias ele jápegou 62 casos iguais a esse e já tocou para frente.

As ações da Corregedoria também são divulgadas men-salmente. Os senhores podem ver pelo site ou pelaimprensa – se a imprensa não publica é porque nãoquer – a quantas pessoas foram atribuídas culpas nasações tanto da Polícia Civil quanto da Polícia Militar.Há total transparência nisso. Só neste ano 100 ho-mens foram expulsos da corporação da Polícia Mili-tar. A Polícia Militar erra muito. Mas ela está suscep-tível a isso, porque é a polícia que se apresenta. Ela éa polícia ostensiva, não é a polícia de gabinete. En-tão, podem achar que esse número é um horror, é umnúmero alto. Olhando para trás é um número alto,sem dúvida. Mas se olharmos para o contingente dapolícia, veremos que é um número aceitável.

Criou-se, também, a Ouvidoria de Polícia, onde colo-camos um outro desembargador. Nós o trouxemos defora. A comunicação para essa Ouvidoria nos chegadiariamente. E o que procuramos fazer? Se você ligarpara ela e quiser se identificar, deixando um telefone,para que retornemos, estamos fazendo isso. Estamosretornando e dizendo ao cidadão: “Aquele teu caso,assim, assim, está caminhando da seguinte maneira.”

Deste eu não gosto muito de falar, mas em relação aessa questão das nomeações, das delegacias, muda-mos 23 batalhões, sem nenhum tipo de interferência.Para não dizer sem nenhuma interferência, houve umado prefeito de uma cidade até com destaque aqui nocenário carioca. Primeiro, esse povo chega, nos elo-

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gia, diz que é um trabalho bonito. Na hora de ir em-bora, ele diz: “A única coisa da qual queríamos falarcom o senhor é que o senhor tirou de lá o meu delega-do e o meu comandante do batalhão.” Eu disse: “Ti-rei o seu e coloquei o meu.” Pedir todo mundo pode.Vou dar o que puder. A lição que fica disso é a pessoase achar no direito de fazer esse tipo de interpelação.Essa ação se revelou um costume, porque pedir: “Omeu amigo está lá na delegacia X, o fulano está nobatalhão tal. Não dá para vir para cá, que ele estácom...”. Tudo bem. Não vejo problema em pedir, masacho muita cara de pau a pessoa dizer que o coman-dante ou o delegado é dele.

As promoções também tinham um mecanismo meioobscuro, que era o seguinte: o merecimento – enten-da-se por merecimento qualquer coisa, como antigui-dade. O que fizemos? Os senhores sabem que poli-ciais militares, em especial, estão prestando serviçoem uma série de outras unidades. O que dizemos?Onde você está? Você está lá no Ministério Público.Então, você não vai concorrer à promoção por mere-cimento. Você vai ser promovido por antiguidade, mas,por merecimento, vai concorrer quem está na linha defrente. E isso proporcionou, na semana passada, 75promoções na PM, coisa que não se fazia há muitotempo.

As visitas técnicas que fizemos às delegacias. Temosum grupo que está visitando as delegacias. Embora jásaibamos o que vai vir de lá, fui a Teresópolis. Então,estamos fazendo essas visitas técnicas pelo menos parater o argumento formal na mão; para que, daqui a ummês ou dois, eu olhe e veja Petrópolis, Friburgo e as-sim por diante.

Outra coisa: se eu não posso, de pronto, dar um salá-rio para um policial, tenho de procurar levantar o élandessa pessoa; preciso motivá-lo. E como vou fazerisso sem dinheiro? Estou passando em todos os con-sulados. Se os senhores puderem nos ajudar nisso, es-tou procurando cursos de aperfeiçoamento para opolicial. Acho que um curso que ele faça em São Pau-lo, em Brasília, e quem sabe no exterior, é uma manei-ra indireta que temos de dignificar a carreira do poli-cial. “Fiz um curso em Israel.” “Fiz um curso na Itá-lia.” “Fiz um curso nos Estados Unidos.” Isso qualifi-ca a pessoa. Ela viaja, conhece mentalidades diferen-tes, pessoas diferentes, povos diferentes, lugares di-ferentes. Estamos conseguindo. Na sexta-feira irei aSão Paulo. Vamos fazer um convênio com o BancoInteramericano de Desenvolvimento (BID). Isso jánão é obra minha; é do Governador. Vamos fazerum convênio com o BID no sentido de colocar aquino Rio de Janeiro, via Secretaria de Segurança, tra-balhos sociais mais pesados. Não mais esse traba-lho com linha muito assistencial. É um trabalho so-cial mais profundo.

Conseguimos, com a Organização das Nações Uni-das (ONU), cursos a distância via web. O policial podefazer o curso em casa ou via academia. Esses cursosestão sendo traduzidos e deverão estar logo à disposi-ção, para que possamos oferecer ao policial.

A Fundação Getúlio Vargas é a nossa grande parceirano que diz respeito à gestão de processo, que, no ser-viço público, é um queijo suíço. A pessoa entra comum pedido para trocar óleo de um carro e isso leva400 carimbos, 300 assinaturas. O motor do carro fun-de e, no outro dia, sai a autorização. É uma coisa fan-tástica. Então, estamos de certa forma assombrados

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com o que a Fundação Getúlio Vargas está fazendo.Ela está fazendo para nós, também, uma carteira deprojetos. “Ah, porque polícia não tem um projeto.”Vamos disponibilizar uma carteira de projetos.

As 7.500 vagas das quais falei. Quanto a essas Casasde Custódia que temos de inaugurar, inauguramos deNova Friburgo para baixo; são as próximas a seremcontempladas.

O Instituto Médico Legal (IML) foi uma experiênciamuito traumática para mim. Fui até lá com quatro diasde Governo e os senhores não imaginam o que vi.Não convido, mas desafio os senhores a irem até osetor de necropsia do IML. Ele faz qualquer coisa,menos serviço à comunidade. Não sei como não ofecharam antes. É uma coisa para a qual não ligamosporque não precisamos ir até lá para ver um corpo.Mas aquilo é uma casa dos horrores. Então, não há ou-tra saída. É fechar, tem de fechar. Só que eu não pos-so fechar, porque não sou sanitarista. Chamem o Sér-gio Cortes e perguntem: “O que você acha?” “Fecha.”Vamos colocar onde? Não sei, mas vamos correr atrás.Não há a mínima condição.

Agora estou com um projeto que vou tentar fazer deuma maneira mais ecológica, mais higiênica e com umpouco mais de sensibilidade: cabines dos policiaismilitares. Um local em que esse pessoal tenha, nãovou dizer nem prazer, mas dignidade para ficar. Es-tou aqui com um projeto para seis cabines emCopacabana – vamos começar por ali – nos moldesdaquela cabine que há no Cantagalo, na descida doMetrô. Vai ter uma televisão, um ar-condicionado, umfrigobar e um sistema de rádio. Tudo é dinheiro, nãoresta dúvida. Mas vamos tentar fazer.

Em relação ao Pan-Americano, só para os senhoresterem uma idéia, o nosso legado é mais ou menos oseguinte: na questão de equipamentos para o Rio deJaneiro, vamos dar um pulo muito grande. O que vaicontinuar faltando para nós é efetivo. Esse, sim, é umproblema sério, além do problema salarial.

Para concluir, diria aos senhores o seguinte, em umavisão muito pessoal. Temos de pagar à polícia, dar oequipamento à polícia, aperfeiçoar o nosso policialde maneira rápida, assim como tudo nessa vida seaperfeiçoa, a roupa muda, a moda muda. A web estáaí. Hoje você usa um tipo de sapato, amanhã outro.Então, com a polícia não é diferente. Essas três coi-sas têm de ser analisadas com seriedade. Espero queassim como tivemos um Programa de Aceleração doCrescimento (PAC) tenhamos um PAS, agora, no dia30 de maio – um Plano de Ação para Segurança Pú-blica, em que se contemple a estrutura da polícia, abase da polícia. Caso contrário, vamos enxugar gelo.Não estou mais enxugando gelo. Temos um horizon-te. Estamos olhando para frente e para cima. Estamostrabalhando no atacado e no varejo. Estamos traba-lhando com ações de curto e de longo prazo.

Finalizando, gostaria de deixar um recado tambémmuito pessoal. Acho que esse problema de segurançapública só será resolvido se dermos dignidade ao ci-dadão. Não vamos sair dessa situação se não dermosescolas, saúde, água encanada, se não tivermos esgo-to, rua pavimentada, calçamento, iluminação públi-ca, ponto de ônibus, área de lazer, etc. Digo a vocêscomo técnico: quanto mais dignidade, quanto maisvalor à vida o Estado fornecer, quanto mais políticaspúblicas o Estado tiver, menor será o índice de cri-minalidade. Essa conta é inversamente proporcional.

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Então, acho que a polícia tem de fazer e está fazendo,como nós estamos fazendo. Mas precisamos que exis-tam políticas públicas e ações associadas do poderpolítico como um todo nesses lugares onde acriminalidade está instalada. Não temos outra saída.Digo a vocês: entrem no Complexo do Alemão e ve-rão de 130 mil a 150 mil pessoas. Isso não é conto dovigário. Vão até lá e observem: onde está o Estado?Onde o Estado está representado ali? Os senhoresnão vão achar nada. Vão achar um Deteozinho , que éum Grupamento de Policiamento em Áreas Especiais(GPAE) da PM. Eu já chamo aquilo de GMÃE, umaviatura de um policial, o qual chegou a me dizer:“Olha, Secretário, temos de aceitar o dinheiro, não énem para nós. Pode parecer desculpa, mas temos deaceitar o dinheiro para ir até lá tirar o serviço, senãonão chegamos lá.” E aí, perguntei: “O que vocês fa-zem aqui?” “O senhor quer saber, Secretário?” “Que-ro.” “Aqui levamos grávidas para o hospital e velhoscom problema cardíaco, porque eles não têm comocaminhar para pegar um ônibus, para pegar um táxi.”Então, não há, ali, a presença do Estado. O cidadãosai de casa e não pode pegar um ônibus, não podetransitar. Há esgotos a céu aberto.

Então, é isso: é proporcionarmos dignidade ao cida-dão via segurança pública. Se para ele faltam coisasmais básicas, fica muito mais difícil. Sou contra a quea iniciativa privada contribua com dinheiro em umaação assistencialista ao Estado. Acho até que as insti-tuições privadas ajudam muito: trocam pneus, fazemreformas, etc. Acho isso ótimo. Mas digo sempre as-sim: se a iniciativa privada comprar essa idéia, quesejam embaixadores desse pensamento. Vamos agirno sentido de fazer campanhas de cidadania. Vamosproporcionar cidadania, valorização da vida; vamosfazer pressão para outras coisas, ao invés de simples-mente ter uma ação assistencialista, doando dinheiro.

Fico aqui à disposição. A Secretaria está aberta a to-dos os senhores. É liturgia do cargo recebê-los. É sóquestão de agendar. Mais uma vez, peço desculpaspelo atraso. Estou à disposição para alguma pergun-ta. Muito obrigado.

23 de maio de 2007

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Então, vamos pegar o caso específico de CaboFrio e ver como é que esses planos diretores podemser instrumentos proativos. Não são instrumentos parabloquear o desenvolvimento, muito pelo contrário.

Na verdade, quando começamos a falar de planos di-retores vemos que não há muita coisa nova. São do-cumentos que foram postos desde a promulgação daConstituição de 1988, mas que visavam apenas osmunicípios com mais de 20 mil habitantes. Para ter-mos uma idéia, hoje os municípios cujo número dehabitantes beira a 5 milhões muitas vezes têm planosdiretores absolutamente retrógrados, retroativos, jáultrapassados; não acompanham a dinâmica do cres-cimento de várias regiões. Entretanto, recentementea Lei do Estatuto da Cidade, promulgada em 2001,trouxe novidades no sentido de que, além dos muni-cípios com mais de 20 mil habitantes, também passa

a ser necessária a elaboração desses instrumentos pararegiões e municípios que integrem regiões metropoli-tanas, para municípios onde o Poder Público tem esseinteresse específ ico, mas, mais especificamente no quenos interessa hoje, sobre integrantes; municípios quesejam integrantes de áreas de especial interesse turís-tico ou de regiões turísticas, ou, especificamente, emáreas que recebam grandes projetos de investimento.

Vamos pegar especificamente Cabo Frio. Esse traba-lho foi contratado pela Prefeitura de Cabo Frio dire-tamente à Fundação Getúlio Vargas. Portanto, tem achancela específica da instituição. Foi um trabalhodesenvolvido durante um ano e que se consubstanciounão só na Lei do Plano Diretor, mas também em ou-tras leis, as quais esperamos que sejam, realmente,leis imã, para atração de grandes negócios turísticos,temáticos, hoteleiros para o território, com benefíciosem várias áreas aí agregadas.

CABO FRIO EM 10 ANOS: JANELAS DEOPORTUNIDADES NO SETOR TURÍSTICO

– HOTELEIRO E OS COMPROMETIMENTOSIDENTIFICADOS PARA A EXPANSÃO

Denise Vogel Custódio

Consultora de Assuntos Relacionados a Planejamento Urbanístico, Municipal, Regional e Ambiental

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A metodologia de todos esses trabalhos passa porquatro etapas. Na primeira etapa, tentamos construiruma visão atual do Município, uma visão tendencial,principalmente para regiões turísticas. Hoje, o quechamamos de população flutuante é muito mais resi-dente do que flutuante. Então, os impactos são fortís-simos. Não adianta mais entender que é um processosazonal. Ele não é mais sazonal; ele é muito mais per-manente do que imaginamos. E com essa visãotendencial, temos de tentar compreender os compro-metimentos que estão impedindo ou dificultando ocrescimento da atividade turística, a fim de chegar-mos ao cenário ideal de desenvolvimento e, automa-ticamente, consolidar o desenvolvimento municipalsob forma de lei. Como determina a própria Lei doEstatuto da Cidade, o trabalho é todo entremeado poraudiências públicas. Portanto, existe a participaçãopopular. Dentro do possível, a comunidade interagede alguma forma com esse processo.

O cenário atual de Cabo Frio. Estamos localizadosna Região dos Lagos, na Baixada Litorânea, uma re-gião absolutamente potencializadora da atividade tu-rística, de um modo geral, com algumas dificuldadesbastante visíveis hoje sob o ponto de vista da exten-são, do alargamento da mancha metropolitana. Todossabem que, recentemente, Maricá perdeu a sua con-dição turística, passando a ser integrante da RegiãoMetropolitana. Basta irmos até o Terminal MenezesCortes que veremos mais de 10 ônibus que saem de10 em 10 minutos para a Região de Maricá. Isso acon-tece em Petrópolis também. Portanto, a condição tu-rística vai se perdendo. O alargamento dessa RegiãoMetropolitana vem, hoje, de um certo modo, causan-do impactos bastante negativos na potencialização da

atividade turística. Por uma questão estratégica, oGoverno do Estado – e muito bem colocado – trans-formou novamente o Município de Maricá em um in-tegrante da Região da Baixada Litorânea, especifica-mente da Região dos Lagos, tentando potencializar,mais uma vez, essa atividade – uma decisão tambémbastante apropriada.

Falamos de um município que tem uma condição derepasse de royalty bastante interessante. Acho que valea pena termos essa concepção. Esse foi um dos pon-tos da solicitação do Prefeito de Cabo Frio para o PlanoDiretor, ou seja, tentarmos potencializar o uso dessesrecursos: foram feitas várias obras, vários investimen-tos, sob o ponto de vista paisagístico, mas foram obrasestruturais; obras que fazem jus à vocação turísticado Município. Talvez tenha sido esse o tom da solici-tação do Plano Diretor para a Fundação GetúlioVargas.

Situação político-administrativa. Falamos muito deCabo Frio, mas não conhecemos Cabo Frio. O Muni-cípio, na verdade, é uma bota sem calcanhar , onde te-mos o 1º Distrito e o 2º Distrito, que é o Distrito deTamoios. O 1º Distrito é exatamente o que conhece-mos, é a cidade de Cabo Frio, é o grande coraçãopulsante de Cabo Frio. Mas temos um território abso-lutamente subaproveitado, com uma capacidade deatração de negócios infindável. Precisamos entenderisso. Um dia, talvez, esperamos – não é Gustavo? –que não aconteça mais a perda dos royalties , a perdadesse grande benefício financeiro; mas se isso acon-tecer o Município não precisa se preocupar. Certamen-te, existe um potencial absolutamente abençoado pelaluz divina. Então, de alguma forma, acho que é im-

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portante percebermos isso. O Município tem algunsbairros que hoje em dia já estão demarcados (maistarde falo nisso sob o ponto de vista de leis), mas re-parem que os grandes bairros dele estão aqui ondetemos a cidade de Cabo Frio propriamente dita.

Há alguns aspectos que considero importantes de se-rem observados: certamente Cabo Frio é uma regiãomuito conhecida por todos. Visivelmente, nos feria-dos de curta duração estamos permanentemente naRegião dos Lagos. Mas Cabo Frio tem algumas coisasmuito interessantes que, sob o ponto de vista históri-co, ainda interferem hoje no dia-a-dia da cidade, prin-cipalmente em relação à pouca capacidade que oMunicípio tem, hoje, de crescer. Se Cabo Frio, hoje,tiver de crescer apenas naquele núcleo, ela não temmais como licenciar uma pousada. E é óbvio que nãoé isso que queremos. Na verdade, Cabo Frio começacom o Forte Santo Inácio, em 1615; com o Forte SãoMateus, que é um ponto turístico da cidade, em 1620;com a Igreja Nossa Senhora da Assunção, que tam-bém é um ponto marcante, em 1615; com o Conven-to Nossa Senhora dos Anjos, que também é absoluta-mente fantástico, em 1686; com patrimônios aindahoje existentes no Município, na cidade; com a Igrejade São Benedito, em 1701.

Se pegarmos uma planta histórica da cidade de 1900,que resgatamos, veremos que esses mesmos pontosse encontram em posições absolutamente antagôni-cas para o crescimento da cidade. A Igreja Nossa Se-nhora da Assunção gerou o crescimento no sentidoleste e no sentido do litoral, o mar atrai todos, a águaatrai todos de um modo geral; a Igreja de São Benedi-to fez um movimento oposto no sentido oeste e tam-

bém em relação ao mar. Mais tarde, em 1950, houve aocupação da orla: a Praia do Forte, a ocupação litorâ-nea de Cabo Frio, que todos conhecemos bem, geroutambém outros vetores e foi criando um imbróglio. Separarmos para observar, veremos: Cabo Frio, hoje,transformou-se em um imbróglio. Não temos maiscomo gerar um carro no dia-a-dia, o que dirá em épo-cas de pico. Estou citando muito o Gustavo porquefalamos muito, em vários momentos, na possibilida-de até de construirmos hoje, em Cabo Frio, um edifí-cio-garagem. Não há mais onde parar o carro em CaboFrio. Quem mora lá já não tem onde parar. Quem vaipara lá vai parar onde? Então, a verdade é esta: va-mos interromper Cabo Frio? Vamos congelar CaboFrio? Não, muito pelo contrário. Vamos fazer CaboFrio crescer. Há janelas de oportunidades, mas quetêm de ser construídas no sentido do sol, no sentidodo vento, no sentido correto. Automaticamente, fi-cam claras, portanto, algumas situações de difícil cres-cimento.

Em uma planta mais nova, em uma imagem de satéli-te vemos o Forte São Mateus, a Igreja Nossa Senhorade Assunção, o Convento dos Anjos, São Benedito eos vetores que coloquei ainda há pouco. Fica muitoclaro quando começamos a perceber isso no dia-a-diada Cidade.

Algumas fotos, só para ilustrarmos. Uma planta de1975 nos mostra o que era Cabo Frio. Chamo a aten-ção dos senhores para o canal do Itajuru, ao sul. Aonorte não havia nada – é uma maneira de falar, haviamuito pouco, era uma ocupação absolutamente rare-feita. Mas se pararmos para observar, hoje, ou, basi-camente, o cenário de 2000, vejam o que tínhamos e

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o que temos. Então, houve essa expansão além docanal do Itajuru. E hoje falamos muito em Club Med.Que bom que o Club Med está indo para lá, que elestenham consciência ambiental para serem absoluta-mente responsáveis pelo seu projeto, por sua implan-tação. Mas esse vetor de crescimento (vamos falardisso um pouco mais à frente) certamente está cami-nhando para um rumo que precisa ter controle, por-que há problemas ambientais sérios que futuramentevão gerar grandes investimentos e prejuízos para oempreendedor, seja ele hoteleiro, seja da área comer-cial, seja da área social.

Algumas fotos históricas da Praça Nossa Senhora deAssunção. Essas fotos antigas, de acervos fantásti-cos, nos foram cedidas pela Secretaria de Planejamen-to, por intermédio da Doutora Rosane. Aqui, a IgrejaNossa Senhora de Assunção; a Avenida Assunção, quetodos conhecemos bem, está aqui; o que era o canalde Itajuru; prédios históricos que são pontos turísti-cos e que têm de ser valorizados. Começamos a per-ceber o que transformou a cidade. A cidade, hoje, éum emaranhado de prédios, em uma área que não temmais para onde crescer. E nós – fluminenses de ummodo geral –, que amamos Cabo Frio, precisamos to-mar cuidado, porque hoje esses patrimônios perde-ram a sua escala. Eles deixam de ser atratores para serdispersores de público turístico. A mudança na escalavertical faz perder a visão de referência dos monu-mentos históricos.

Uso do solo. Acho que é importante observarmos umacoisa. Eu disse, ainda há pouco, que Cabo Frio é umabota. Conhecemos a Lagoa de Araruama, o mar, o ca-nal de Itajuru e era isso. Mas por que Cabo Frio nunca

cresceu? Cabo Frio não cresceu porque é um grandepântano. O Município tem, nessa sua porção centro-norte, uma área que é uma verdadeira piscina. Já che-garam, inclusive, a pensar em fazer um grande parqueaquático, com hotéis, com grandes investimentos tu-rístico-temático-hoteleiros. Não sei se este é o mo-mento ainda, porque os investimentos são muito ca-ros. Quem lida com a área de construção civil sabeque fazer rebaixamento de lençol custa caro. Para vocêfazer uma fundação mais profunda – desculpem a re-dundância –, certamente você vai gastar quatro oucinco vezes o que estava previsto. Será que aquelecapital retorna, ou você está jogando a fundo perdi-do? Então, na verdade, acho que, antes disso, preci-samos entender e respeitar o que a região pode ofere-cer dentro de sua potencialidade turística – eu digoturística porque esse foi, basicamente, o foco destetrabalho. Na verdade, temos um grande miolo, queexige certos entendimentos antes de ser ocupado. Osul já está consolidado; e o norte hoje tem algumaspossibilidades muito interessantes de aproveitamen-to do agronegócio, até porque naquela época não es-távamos falando ainda do ciclo do etanol. Hoje, vi-rou pauta obrigatória em todos os encontros nacio-nais e internacionais em que o Brasil participa. E, naverdade, se pararmos para observar, veremos que hoje,aqui, temos uma indústria de álcool – a AgroindustrialSão João S. A. (AGRISA). Não estou fazendo propa-ganda da Agrisa, só estou localizando a indústria.Certamente, com todos os impactos ambientais quepodemos observar por meio dos resíduos provenien-tes desse tipo de indústria, certamente, hoje, temosalguma possibilidade de aproveitamento do territóriode Cabo Frio para turismo corporativo e para o

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agronegócio, sim. Acho que precisamos observar issocom muito carinho e com muito cuidado.

De um modo geral, essas categorias estão postas aí, evamos perceber no detalhe o sul e o norte do Municí-pio. Informações que são fundamentais para enten-dermos: 35%, aproximadamente, de Cabo Frio, hoje,serve para cultivo e pastagem; campo inundável, comoeu disse ainda há pouco, 24,32% – quase 25%; deflorestas, quase 11%; de área urbanizada são apenas14%; corpos hídricos, formações vegetais, mangue,mineração, praias e dunas, restinga, afloramento ro-choso, enfim, tudo isso compõe o cenário do restantedo uso do território.

Mas chamo a atenção para as áreas de cultivo e paraas áreas de campo inundado. Será que não podemoster janelas de oportunidades em cima disso? As sali-nas, hoje, representam apenas 4%. Já representaramuma grande vocação primária de extração do sal. Hoje,foram basicamente substituídas pelos grandes lotea-mentos, pelos condomínios. Acho até que, talvez, umaunidade testemunhal fosse muito bem recebida. Co-locamos isso, inclusive, como proposta no Plano Di-retor. De qualquer maneira, não é, certamente, a for-ça motriz da região hoje. Setenta por cento do Muni-cípio, portanto, é ocupado por florestas, uso agro-pecuário e campos inundáveis.

Mas temos alguns problemas. O lado sul do Municí-pio está totalmente, densamente e desorganizadamenteocupado até o canal de Itajuru, crescendo largamen-te, a olhos vistos, sobre o canal de Itajuru ao norte,com grande piscinão – desculpem o termo. É umaárea inundável no centro e ao norte, com uma poten-cialidade muito grande. Temos hoje ameaças absolu-

tamente preocupantes em Cabo Frio, como aconteceem todo o Brasil: as favelas. Tenho até evitado usar apalavra favela, porque nem todo mundo mora em fa-vela porque quer. Eu até disse isso outro dia, na nos-sa apresentação na FGV. Mas as comunidades caren-tes, hoje, assustam demasiadamente os investidoresde Cabo Frio. O que vamos ver aqui é que se nãotomarmos cuidado, se o Plano Diretor não for real-mente um instrumento de otimização do uso do solo,veremos um filme absolutamente dramático que jávivemos aqui. Então, há essa sensação desagradável.Temos de pegar um feriado, um final de semana pro-longado, e sair daqui para um lugar mais protegido.Daqui a pouco vamos buscar outro lugar, porque oque estamos vendo é realmente assustador.

Há um uso irregular em Cabo Frio, por várias situa-ções. E não estou falando só de Cabo Frio, porqueesse Município não é situação sine qua non; temos issocomo regra básica, como loteamentos clandestinos,centros especiais, aglomerados urbanos, que são asfavelas, área de baixa renda, irregularidades fundiárias,etc. Essas irregularidades por infra-estrutura, pela áreaambiental são muito comuns na Região dos Lagos deum modo geral. Mas muitos desses loteamentos setransformaram em favelas. E eles estão localizadosem pontos estratégicos do território. Ao norte, certa-mente, há uma área que tem um potencial turísticonão tão grande como a Praia do Forte, como a Praiado Peró, muito menos como a Praia das Conchas, quetodo mundo conhece bem, mas certamente tem umgrande potencial – como veremos daqui a pouco. Ese não tomarmos cuidado com essas ocupaçõesindevidas, como temos observado há muito tempo, acondição veranística vai se sobrepor à condição turís-

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tica e a capacidade de atração de negócios em CaboFrio tenderá a diminuir cada vez mais.

De um modo geral, estamos percebendo isso ao nor-te. E na medida em que se desce, a situação fica maisalarmante. Claro, pois nos principais bolsões de ocu-pação do território até o canal do Itajuru ao norte e,ainda, aqui ao sul, todas essas áreas vermelhas sãofavelas. Reparem a proximidade do Peró. Onde é quenós estamos? Onde vai haver o Club Med. Uma dasgrandes preocupações do empreendedor era esta: oClub Med está dentro de uma área de proteção am-biental. No primeiro momento, isso foi um problema.Se por um lado determinar unidade de conservaçãoambiental no Brasil é um aspecto muito positivo, poroutro é um problema, porque, na medida em que oórgão de competência, seja ele estadual, federal oumunicipal, determina essa unidade de conservação,na maioria das vezes ele não tem recursos financeirospara fazer um plano diretor, para fazer um plano demanejo. Então, o que acaba acontecendo? Leva cincoou sete anos para esse plano ser feito. Qual é o inves-tidor que vai esperar? A área já foi desvalorizada, asfavelas já cresceram. Até bem pouco tempo atrás tí-nhamos uma condição naturalmente posta pela natu-reza, certamente não temos mais essa condição a pre-servar, porque já foi totalmente antropizado.

O que fazem os grandes investidores hoje no Brasil?Lamentavelmente, pagam para ter o plano diretor; cla-ro que posto pelas instruções técnicas corretamentedeterminadas – no caso do Rio de Janeiro, pela Fun-dação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente(FEEMA); em outros estados, pelos seus órgãos decompetência –, para tentar, de alguma forma, se pro-

teger dessas externalidades. O Club Med de Cabo Frioé o maior da América Latina. Temos a possibilidadede colocar o Peró, hoje, no noticiário internacionaldo mundo turístico. A informação que temos – nãosei se essa informação ainda é correta – é que asreservas já estão basicamente garantidas para os pró-ximos três anos de operação do empreendimento. Issoé absolutamente fantástico. Por quê? Temos um Paísque não tem sazonalidade climática. Se vier para cáé sol, é calor, é praia. É isso. Então, não existe risco.Felizmente, ainda somos abençoados por não termostsunamis. Felizmente, os ataques terroristas estão lon-ge. Então, temos um cenário que é só positivo. Nãohá o negativo. Mas infelizmente há essas externa-lidades.

Quem é que pode controlar isso? Será que o PoderPúblico municipal sozinho pode? Será que é o PoderPúblico municipal, estadual ou federal? Será que é asociedade? Não sei. Não estou aqui para falar de so-lução, estou aqui para falar das janelas de oportunida-des, que, muitas vezes, vamos perder, se não obser-varmos que esses planos podem, de alguma forma,minimizar esses problemas.

Eu trouxe um vídeo. Vou sair desta apresentação uminstante, porque acho que é, realmente, exemplar. Essevídeo é feito em cima de imagem digital, imagem desatélite, é um sobrevôo digital mostrando as favelasem Cabo Frio.

Onde temos os círculos vermelhos são pontos hojenecrosados, sob o ponto de vista do tecido da baixarenda. Comunidade de Morumba, perto da praia; pon-tos turísticos do Forte e de outras áreas bastante ex-pressivas, onde já temos pequenos núcleos de favela;

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áreas absolutamente atrativas sob o ponto de vistahoteleiro. Se não cuidarmos certamente, teremos pro-blemas dramáticos daqui a uns cinco ou seis anos.Algumas são mais expressivas do que outras – vamosver daqui a pouco. Esta favela já é um pouquinhomaior. Esta é lamentável. Reparem a comunidade deJacaré subindo as encostas. Ela está em um cenárioque conhecemos bem no Rio de Janeiro pela configu-ração físico-geográfica em que nos encontramos. Háoutra comunidade subindo as encostas, em Copa-cabana, e outros focos menores, que já vimos.

No sul, sentido aeroporto. Manoel Corrêa. Enfim, nãoimporta o nome da comunidade. O que importa é oalargamento que essas comunidades podem represen-tar sob o ponto de vista de perda de oportunidades denegócios com os mais variados fins.

Se continuarmos no nosso foco, veremos que em CaboFrio não há apenas ocupação irregular, claro. Temosas outras áreas, que chamamos de cidade formal, comuso residencial, regular. Depois desse instrumento doPlano Diretor a Prefeitura tem todas essas informa-ções cadastradas, georreferenciadas em um banco di-gital – loteamentos que foram aprovados, loteamentosque estão em processo de aprovação, grandes proje-tos de investimentos em situação atual e com consul-ta pela Prefeitura, etc. Esses empreendimentos estão,portanto, todos listados.

Por que estou dando essas informações também? Por-que isso está disponível para o investidor. O investi-dor que queira chegar em Cabo Frio e fazer uma con-sulta na tela do computador do Secretário, obviamen-te autorizado pelo Prefeito, consegue ter informaçõesque, muitas vezes, o tiram do risco, ou pelo menos

tentam minimizar as margens de investimentos nega-tivos. Alguns dados são importantes. Aí temos umainformação sobre o Habite-se, concedida por bairro,em 2004. Reparem o expressivo crescimento do Bair-ro do Peró. O que o Club Med não fez em Cabo Frio?Ele simplesmente potencializou uma órbita de pou-sadas, de pequenos negócios, de centros comerciais,de shoppings e de casas de veraneio. Quer dizer, é grandea probabilidade do bairro de Peró perder a qualidadede vida se não forem feitos certos investimentos. Da-qui a pouco estaremos dando um tiro no pé, como cos-tumamos dizer popularmente.

Algumas outras informações que considero absoluta-mente relevantes. Reparem os dados de densidadedemográfica em 1991. A mancha de ocupação era aquino canal do Itajuru, ao sul. Pouca coisa ao norte, che-gando à densidade demográfica de apenas 300 habi-tantes por hectare – isso no cenário do início da déca-da de 1990. Se pegarmos um detalhe, aqui, do canaldo Itajuru, veremos que essa ocupação estava aqui,na Teixeira e Souza, que é uma das vias principais dacidade de Cabo Frio. Essa densidade ainda é bastantelindeira nessa via, pouco expressiva ainda no litoral emenos ainda aqui ao norte do canal do Itajuru. Voltoa dizer: chegando até 300 habitantes por hectare.

No 2º Distrito, o que tínhamos aqui limítrofe à Barrade São João? A ocupação do Centro Hípico. De qual-quer maneira, essa é uma área bastante inexpressiva,também chegando a 300 habitantes por hectare.

Em 2000 o que já percebemos? Uma situação bastan-te diferenciada, em que já temos uma ocupação quechega a passar de 300 habitantes por hectare.

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No detalhe do 1º Distrito, vemos já totalmente pul-verizada essa ocupação ao longo da Estrada do Buriri.O Club Med vai ficar aqui, chegando a mais de 300habitantes por hectare. Essa situação nem é mais aatual, é a de 2000. Essa área já pulverizou, já se alas-trou, em termos de ocupação também, chegando al-guns trechos a mais de 300 habitantes por hectare.

Acho que a renda média é uma informação muitoimportante para janelas de negócios, porque vamosperceber onde é que estão localizados os principaisbolsões de autonomia financeira no Município. Cer-tamente, a maior renda é aqui no Bairro do Algodoal.Esses bairros litorâneos certamente têm famílias queperfazem mais de 20 salários-mínimos, enquanto no2º Distrito a renda é um pouco mais baixa. Mas játemos algo que pode ultrapassar cinco salários-míni-mos por mês.

Economia. São algumas informações rápidas que es-tou trazendo para chegarmos, depois, às janelas deoportunidades. A extração do sal, que certamentefoi uma vocação do Município, não é mais a princi-pal. Algumas áreas estão desativadas. São essas áre-as de cor rosa mais clara. Mas temos outras que es-tão ativas – o Sal Cisne e a Salinas Perynas. Aqui,temos um detalhe da localização dessas áreas – de-pois eu explico porque estou mostrando isso comoopção de negócio.

Extração mineral. O Município de Cabo Frio é umaárea que vai sofrer com problemas ambientais bas-tante sérios, se não houver um controle bastante rigo-roso da extração de areia. É um Município que, deum certo modo, abastece o segmento secundário daconstrução civil em outros municípios limítrofes. E

essas áreas estão dispersas no 2º Distrito. São áreasonde existem, muitas vezes, licença do Departamen-to Nacional de Produção Mineral DNPM. Outras têmconcessão apenas de pesquisa. Outras, ainda, têm li-cença para exploração – o que não exclui a idéia e ofato de existir exploração clandestina, que pode tam-bém interferir com a questão das oportunidades denegócios.

Pesca. Gostaria de uma atenção especial para isso.Nos países mais bem resolvidos turisticamente domundo a pesca é uma atividade cluster, é um arranjoprodutivo local. A pesca pode ser aproveitada nãoapenas do ponto de vista primário, mas também doponto de vista secundário, agregando valor das maisdiversas formas à parte terciária, com a comercia-lização e a Festa do Peixe. Eu tive o privilégio de co-nhecer senhoras, grupos – não sei se ainda estão lá –que fazem bijuterias com escamas de peixe. É umacoisa fantástica. Se pararmos para analisar a pesca hojeveremos que ela está totalmente concentrada na La-goa de Araruama, obviamente com espécies de águadoce e de água salgada no canal, e localizadas poraqui. Podemos abrir janelas de oportunidades muitointeressantes para isso.

Todas essas informações são georreferenciadas e es-tão disponíveis na Prefeitura de Cabo Frio.

O comércio do centro e dos bairros, os shoppings centerse os mercados estão totalmente concentrados aqui.Como queremos potencializar o 2º Distrito se não te-mos nada, se toda essa mão-de-obra e esses investi-mentos nos centros comerciais estão localizados nocoração pulsante, no 1º Distrito e no sul do canal deItajuru, e nada no norte?

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Hospedagem. A atividade de hospedagem é totalmenteconcentrada em pousadas. O que observamos, demodo mais expressivo, são atividades de pousadas.Se hoje formos analisar Cabo Frio e suas pousadas,veremos que esses dados provavelmente já estão ul-trapassados do ano passado para cá. Estamos falandode 73% de estabelecimentos, de hospedagem, parapousada. O potencial que temos é imenso. Quandoolhamos, hoje, a capacidade de atração de negóciosque Angra dos Reis tem em relação a Cabo Frio, per-guntamos: por que em Angra há uma capacidade deatração de hotéis como Angra In, Blue Tree, Meliá,etc.? Por que o Club Med está indo para Cabo Frio?Existe uma enorme demanda reprimida. Mas precisa-mos começar a entender que não é só o Club Med.Certamente temos capacidade de vislumbrar outrosnovos negócios.

Cultura, esporte e lazer. Também é uma parte pobre,para um Município que tem uma possibilidade imen-sa, e é também bastante concentrado. Existe uma ca-rência de estabelecimentos culturais que podem serabsolutamente interessantes sob o ponto de vista degeração de emprego e de renda.

Corredores gastronômicos, restaurantes, bares e afins.Também estão localizados e concentrados. Hoje acarência de Cabo Frio, em termos de estabelecimen-tos menores, é muito grande, porque os restaurantesocupam 65% do mercado.

E chegamos a algumas situações que, futuramente,vão aparecer como propostas e janelas de oportuni-dades – a questão dos transportes. Há algum tempo,quando eu coordenava esse trabalho, tive a oportuni-dade de conversar com um empreendedor que me dis-

se: “Professora, eu precisava conversar com a senho-ra.” E marcamos para conversar em Cabo Frio. Eledisse: “É inadmissível como o carioca, de um modogeral, pega um pequeno feriado e corre para Cabo Frioe não se preocupa com as horas de engarrafamentoem que vai ficar absolutamente congelado.” E se pa-rarmos para observar isso hoje, será que não podería-mos potencializar outros tipos de transporte? Olhan-do para a nossa vida doméstica percebemos que en-frentamos de seis a sete horas de engarrafamento. Fi-camos sujeitos a toda uma situação de violência, sa-bendo que poderemos ficar à deriva. Mas o aeroportode Cabo Frio é uma realidade, e o transporte hidro-viário pode ser também. Se pararmos para observar,veremos que hoje existem picos. A consultoria do Pro-fessor Fernando Mac Dowell integrou a nossa equipe,mas eu gostaria de chamar a atenção para o seguinte:é claro que o pico de distribuição horária aconteceaqui nesta área de temporada. Mas já temos o períodonormal crescendo, a curva média já começa a sertangenciada pelos meses de junho e julho. De repen-te, podemos potencializar essa sazonalidade. O siste-ma viário em Cabo Frio se distribui de uma formaainda bastante concentrada aqui no canal do Itajuru,e ligando, obviamente, as pessoas aos locais onde pre-cisam chegar. É este o corredor viário principal. Estálocalizado aqui. Portanto, não há nada para o 2º Dis-trito. E sem investimentos em transportes não vamosconseguir resolver problemas de acesso. Hoje, pas-sam cerca de 22 ônibus por hora das principais linhaspor aqui. Mas para cá, às vezes, não há nem um ôni-bus para passar de duas em duas ou de três em trêshoras. Os investidores nos procuraram muitas vezes,dizendo: “Como fazemos, então?”

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O aeroporto de Cabo Frio fica magnificamente loca-lizado aqui no sul. Depois falamos mais sobre os cor-redores viários. O hidroviário também está totalmen-te concentrado aqui, mas com grandes possibilidadesde novos negócios.

Vamos pegar, então, os comprometimentos, para che-garmos às propostas, a fim de não ultrapassarmos otempo que tenho.

Vamos ver, agora, algumas imagens que mostram ocomprometimento de Cabo Frio e, automaticamente,a impedância que podem causar – já estão causando,em alguns aspectos, sob o ponto de vista de negócios–, bem como outras com as quais, certamente, issoestá muito próximo de acontecer. Depois, pegamosas propostas.

Quais são as tendências do crescimento sobre territó-rios previsto para Cabo Frio? O que vai ser Cabo Friodaqui a 10, 15 ou 20 anos?

Projeção demográfica. É alarmante, por um lado, e,por outro, é uma imensa demanda reprimida para gran-des negócios.

A população total de Cabo Frio. A previsão paraaté 2020 ou 2025 é que ultrapassemos a faixa dos450 mil. Se pegarmos a população flutuante, vere-mos que, muitas vezes, ela é maior do que a popula-ção residente.

Pontos importantes para analisarmos e para sairmosdaqui com um pouco dessa preocupação.

A população de Cabo Frio, mantidas as taxas atuaisde crescimento demográfico, tanto o vegetativo quan-

to o migratório, deverá dobrar em 25 anos. Isso signi-fica dizer que, nesse tempo, teremos de construir umaoutra cidade do tamanho da atual; uma outra CaboFrio inteiramente nova. Isso é alarmante. Qual é acidade, portanto, que vamos querer?

Em termos de tendências de crescimento, alguns as-pectos são interessantes para o 1º Distrito, conside-rando uma escala gráfica de 20 mil, 50 mil ou 100 milhabitantes. Para 2000, a previsão era de 105 mil habi-tantes, aproximadamente, no 1º Distrito e 21 mil no2º Distrito. Para 2006, já chegando a 123 mil, aproxi-madamente, no 1º, e 25 mil no 2º. Portanto, o cresci-mento é bem menor, mas ainda bastante positivo. Para2010, é menor no 1º Distrito. Para 2020, é maior nosanéis periféricos. Portanto, a idéia é de que trabalhe-mos Cabo Frio para receber esse crescimento popula-cional de um modo positivo. Em 2000 a espacializa-ção da população residente estava totalmente con-centrada nesses bolsões, e a população chegava à fai-xa dos 20 mil habitantes. E temos a população flutuan-te, que é basicamente a população turística. Vejamcomo é que essas áreas litorâneas acabam concentran-do muito mais gente.

Será que existe infra-estrutura para todo mundo? Hááreas, aí, que já chegam a 20 mil habitantes. A popu-lação flutuante, portanto, é imensa. Para 2006 essecenário se apresenta da mesma forma. Essa foi umaestimativa próxima da realidade. Para 2020 a popula-ção residente está bastante concentrada nas favelas,ponto que nos preocupou muito durante os estudos.Essas áreas vão chegar a quase 25 mil habitantes. Eaqui, a população flutuante nas áreas litorâneas. Éclaro que não temos população flutuante nas áreas

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dos bolsões de favela. Portanto, precisamos traba-lhar esses dados que hoje são instrumentos de pla-nejamento.

Essas informações também estão disponíveis em ter-mos de movimento pendular. Acho muito interessan-te observar a população total e a população fixa. Emtermos de escala gráfica, a população total de CaboFrio, hoje, no 1º Distrito, é amplamente maior; é me-nor no 2º. Afixa no primeiro e no segundo. Mas exis-tem movimentos muito interessantes de deslocamen-to para Búzios. No movimento pendular de Cabo Frio,hoje, para Búzios, essa interação é muito grande; eexiste também em relação a outros municípios. É cla-ro que esse movimento é também de entrada.

Acho que aqui chegamos a um ponto importante.Quais são os vetores de expansão do Município deCabo Frio hoje? Há alguns que merecem atenção. CaboFrio vai crescer, pelo que estamos vendo, não só des-se miolo pulsante para o sul, mas também para o sen-tido de Perynas, para o sentido do aeroporto, bemcomo, ao norte, para o Peró e para os bairros maisinterioranos, obviamente tomando os devidos cuida-dos em relação às ocupações de baixa renda. Mas tam-bém há alguns outros vetores ao norte que podem serpotencializados e significar a produção expressiva denovos negócios. No 1º e no 2º Distritos, temos essaporção de Aquários, o Centro Hípico, etc., que são osbairros litorâneos. Não é só uma densif icação maior.Talvez haja uma verticalização dessa ocupação. Masvão crescer também em outras direções, balizados pelaReserva da Marinha, que é uma área naturalmenteposta, mas com algumas impedâncias de crescimentopara o interior, porque há áreas alagadas. Mas preci-samos observar isso.

Esta é uma foto que mostra loteamentos nas áreasainda bastante amplas para ocupação do território eque nos permite chegar ao mar e perceber como te-mos áreas que podem ser potencializadas e, de algu-ma forma, ser ocupadas.

As taxas de crescimento. Vou passar por isso desta-cando o grande crescimento do bairro do Algodoal –mais que 5% ao ano, um crescimento espantoso parao bairro litorâneo. Então, está posta, aqui, a taxa decrescimento, que é de 2,8% ao ano, aproximadamen-te. Temos alguns bairros, como Jardim Flamboyant,Braga, Algodoal e Peró, que já estão basicamente nolimite desta taxa. São os bairros que certamente esta-rão apresentando esse grande crescimento.

Acho que cabe alguma análise interessante, aqui, nosentido da distribuição etária, sob o ponto de vista deatração de negócios. A população do Município deCabo Frio é predominantemente jovem, porém, elaperde em números de nascimentos nos últimos 15anos; e há perdas nas faixas de maior atratividade ede produtividade até os 34 anos. As mulheres supe-ram os homens naquelas faixas acima dos 25. Isso sig-nifica dizer que a faixa produtiva está saindo. O queestá ficando, de um modo alarmante, é o crescimentoda marginalidade – com a qual precisamos tomar cui-dado – e, obviamente, o crescimento da populaçãoacima dos 60 anos, da melhor idade, na qual tambémtemos um mercado bastante interessante para novosnegócios.

Estou passando rápido, mas esses dados estão todosdisponíveis na Prefeitura. Esta é a distribuição dessapopulação por faixa etária ao longo do território. Issoé muito procurado por investidores em shoppings centers.

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A rede Cinemark Downtown procura muito essas in-formações para potencializar os seus negócios. Estoupassando mais rápido para chegarmos a algumas fo-tos que considero fundamentais.

Todos sabem que Cabo Frio tem um problema sériode infra-estrutura. As áreas de abastecimento de água,marcadas em vermelho – volto a dizer que essas in-formações são de 2006, não sei se houve algumamudança –, são áreas comprometidas por falta de abas-tecimento de água. Fica claro que esse crescimentoda função turística e hoteleira começa a comprome-ter o empreendedor. Se há ou não água é um proble-ma muito sério. Com relação aos bairros Rasa, Bota-fogo, Nova Califórnia e Centro Hípico, estão postosaí os detalhes para quem tiver interesse nessas infor-mações. Se não houver investimentos mais pesados,certamente eles poderão apresentar falta de água.

A questão do esgoto é mais dramática. Todos sabemque o problema do esgoto, hoje, em Cabo Frio é aindamuito sério. Apesar dos esforços, dos investimentosda Prolagos S. A. – Concessionária de Serviços Públi-cos de Água e Esgoto, esses dados ainda preocupama todos. Apenas a título de informação: a área emvermelho é a não atendida por rede, sem tratamentocoletivo e que trabalha com soluções individuais.Muita gente tem casa em Cabo Frio e sabe que tem defazer limpeza periódica da sua fossa, em razão da fal-ta de investimento em rede. Temos a área com previ-são de atendimento até 2018, pela Prolagos, que éeste miolo, mas lá para cima não há nada. Certamen-te, são empecilhos para o crescimento de novos ne-gócios. Os bairros estão mencionados. Essa informa-ção está totalmente georreferenciada.

Vou passar para outro eslaide, então, pulando algu-mas coisas para chegar a algumas informações queconsidero bastante expressivas.

É a ocupação de áreas em toda essa expansão queestamos observando e que precisa de um cuidadomuito grande. Aqui, vemos as ocupações de áreas deaclive, com possibilidade de deslizamento de encos-tas. Estou falando de Cabo Frio, que é uma cidadeplana, baixa. Ouvimos falar de deslizamento de en-costas em Petrópolis. Em Cabo Frio não é bem essa aquestão, mas ainda existe essa possibilidade.

Em relação à ocupação das encostas, volto a dizer,no Morro do Mico, que é uma área tombada, há umcasario subindo as encostas. São fotos que consideroexemplares. Aqui temos o convento, como dissemos,e alguns pontos turísticos, que estão relativamenteameaçados. Não estão exatamente ameaçados, masprecisamos tomar certos cuidados. Acho que o maiordetalhe hoje são as dunas, o avanço do campo de du-nas. Há toda essa expansão que vimos para 2006, para2010, para 2020. As pessoas estão ocupando. Mas seráque não temos alguns limites que têm de ser controla-dos? Hoje, se pararmos para observar, veremos que oClub Med estará aqui e que as dunas do Peró estãoavançando. Muitos investidores em Cabo Frio se sen-tiram prejudicados, porque tiveram suas casas soter-radas; não digo totalmente soterradas, mas bastanteimpactadas pelo avanço de dunas. Vamos ver fotosque são verdadeiramente impressionantes. A verdadeé que não podemos segurar esse avanço. As dunasavançaram por casas, pelo sistema viário e vão conti-nuar avançando. Precisamos estabelecer limites paraa ocupação de território e tirar partido do que CaboFrio pode mostrar.

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Este é um patrimônio natural. Não é uma área de pre-servação permanente apenas no papel. Ela tem deser permanentemente preservada, para podermosaproveitá-la para as gerações futuras. Reparem estascasas. Algumas delas estão com propostas turísticaspara serem pousadas, balneários, e se sentiram umpouco prejudicadas. A culpa é de quem ocupou? Nãosei. Da duna é que não é. Então, na verdade, o queprecisamos fazer, de um modo geral, é estabelecer umzoneamento e olhar para esse Plano Diretor. Isso vaiacontecer em outras situações, mais lá para perto dapraia do Foguete.

Aqui vemos algumas outras situações em áreas ala-gadas, como eu disse no começo, e as ocupações. Te-mos algumas fotos que são bastante preocupantes,como, por exemplo, o loteamento de Nova Califórnia.Se quisermos atrair empreendimentos de agronegócio,como vamos ver daqui a pouco, temos de nos cons-cientizar que são áreas que começam a causar proble-mas. As fotos mostram bem isso.

Loteamento Nova Califórnia. São áreas planas total-mente loteadas. Em áreas de unidades de conserva-ção isso também vai acontecer. São várias unidades –federal, estadual e municipal – no Município. Chamoa atenção para a Área de Preservação Ambiental(APA) do Pau-Brasil, onde estará o Club Med – Praiado Mico Leão Dourado, Praia do São João, etc. Sãoáreas fantásticas. Acho que temos de tirar partido dis-so para atrair negócios e hotéis, principalmente.

Que propostas pensamos para Cabo Frio, dentro des-se quadro? Certamente, a primeira delas é resolver oimpasse do acesso viário. Se queremos atrair investi-dores, novos negócios para o 2º Distrito, para o Dis-

trito de Tamoios, precisamos permitir que as pessoascheguem. Então, um dos grandes detalhes certamen-te é a questão do investimento em sistema viário –propostas que foram compartilhadas com o ProfessorFernando Mac Dowell. Algumas vão tentar ligar oaeroporto de Cabo Frio à Cidade, à malha urbana,outras vão tentar levar para o 2º Distrito.

Portanto, esse é o cenário ideal para o desenvolvimen-to – e isso está totalmente consubstanciado em lei naPrefeitura, foi entregue à Câmara.

Hoje, o Município ficou determinado em macrozonas:macrozona urbana. São as áreas já consolidadas, paraas quais chamo a atenção dos senhores. Essas são áreasem relação às quais deixamos o convite para atraçãode grandes empreendimentos turístico-temáticos ehoteleiros. É a área de Perynas, a área próxima ao Peróe, lá para cima, certamente, a área dos agronegócios.

Em termos de possibilidades de investimentos viá-rios, nossa proposta foi, especificamente: estamosaguardando que isso se consubstancie em alguma coisamais concreta.

Vamos criar um terminal rodoviário para interligar asduas partes do Município – para o norte, no sentidode Barra do São João, e, obviamente, para o sul. Hoje,sem essa interligação certamente não vamos conectaressas duas porções do território do Município.

Outras propostas. Quais são as outras propostas queestamos trazendo? O Terminal Pesqueiro e uma mari-na pública. Queremos tirar partido de um cluster turís-tico, de um arranjo produtivo local. Há exemplos fan-tásticos, extremamente bem resolvidos na Itália. Porque não fazemos isso? Até em Bento Gonçalves te-

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mos essa possibilidade. Vamos levar isso para CaboFrio, implementando esses projetos lá – um porto, umterminal turístico, que é fundamental. Cabo Frio nãoestá se beneficiando de uma lei do Governo Federal,que é a atração de portos turísticos. Podemos, certa-mente, trabalhar isso; um transporte intermodal, aero-viário, rodoviário e hidroviário.

Pólo de desenvolvimento econômico. Temos de ten-tar, de alguma forma, conectar o agronegócio com asatividades. Imaginem o celeiro de turistas que temosaqui, na Praia do Peró? É impressionante. Quem teveoportunidade de ficar em Clubs Med sabe que o turis-ta entra nesses clubes e fica. Se tiver de passar doismeses ali, ele fica; dentro do clube ele tem tudo o queele precisa. Se estamos falando de uma cidade turísti-ca, precisamos fazer do Club Med um celeiro de turis-tas, fazendo com que estes gastem dinheiro no Muni-cípio, gerando emprego e renda. Portanto, se o turistasair do Município e voltar, simplesmente para opatrimônio histórico da cidade, estamos deixando deaproveitar uma possibilidade imensa no território.

O aproveitamento da zona agroindustrial e das viasde integração. Esta é uma pequena idéia do que seriao transporte hoje, já que estamos falando de uma tra-ma intraurbana absolutamente comprometida. Comoeu disse desde o começo, não há espaço, hoje, paraparar mais um carro em Cabo Frio. Por que não lança-mos mão, como acontece em cidades turísticas muitobem resolvidas, de um transporte de veículos levessobre trilhos? Seria muito interessante se pudéssemoster esse tipo de traçado a partir do aeroporto, interli-gando a cidade, pelo menos em um tecido mais den-so, em propostas que teriam um círculo de diâmetrode 423 metros de distância, aproximadamente, masque certamente poderia fazer as suas derivações para

atender a bolsões bastante interessantes, com deman-das reprimidas de transporte, podendo, inclusive, aten-der a novas áreas de expansão urbana até chegar aoaeroporto internacional de Cabo Frio, que é o segun-do maior da história.

O sistema de transporte que melhor se adaptaria aessas condições seria, certamente, o aeromóvel, ou oveículo leve sobre trilhos. É um transporte que já estásendo utilizando em Jacarta.

Esta é uma visão do que seria esse sistema em CaboFrio à noite. Poderia passar sobre a Avenida Teixeirae Souza, com interligações para shoppings e pontos in-teressantes. Também pode ser um sistema de superfí-cie. Não tenho nada contra, mas a nossa proposta nãoé essa. Internamente, é exatamente o equivalente auma unidade de metrô. Também não estou fazendopropaganda – esse processo está todo na internet –,mas isso é absolutamente guindado. Portanto, manu-tenção não seria exatamente o problema.

Para terminarmos, vamos assistir a uma pequena ani-mação dos projetos que imaginamos para os pólosturísticos, para o porto turístico, para o terminal ma-rítimo e para o terminal rodoviário. Espero que, dealguma forma, isso seja posto como âncora, digamosassim, para a oportunidade de novos negócios emCabo Frio.

(Procede-se à projeção de um vídeo.)

Este é um porto turístico que ficaria localizado no 2ºDistrito, em Tamoios. Hoje, se pararmos para anali-sar, veremos que o Queen Mary traz aproximadamen-te 4.500 turistas. É uma verdadeira cidade flutuante.A demanda reprimida que teríamos para grandes ne-

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gócios, para condomínios fechados, seria interessan-tíssima, em uma paisagem que hoje é muito rarefeita.É, inclusive, uma oportunidade de unidades hotelei-ras no próprio terminal portuário. A legislação brasi-leira – volto a dizer – permite, faculta isso às cidadesturísticas; e em uma paisagem já acoplada, o que issosignificaria dentro do 2º Distrito?

Aqui é a marina pública, já tentando conectar umaproposta para o 2º Distrito e também no 1º Distrito,com a idéia do aproveitamento da pesca, não só comomarina pública, mas também como terminal pesquei-ro. Estamos com uma proposta na Boca do São João,obviamente sendo observadas todas as legislações daFundação Estadual de Engenharia do Meio Ambien-te (FEEMA) e dos órgãos de competência. Essa éuma proposta que obviamente o Município está ana-lisando e, dentro do possível, levando adiante.

Esta é a Ponte Caída, para quem conhece bem aqueletrecho de Barra de São João. Seria, portanto, a inser-ção desse projeto nessa paisagem, ancorando aí ou-tras possibilidades de negócios.

O pólo de desenvolvimento certamente está preci-sando de estudos muito específicos, por sua localiza-ção em uma área tombada pelo Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico Nacional (IPHAN), que é a Igrejade Campos Novos. Fizemos essa proposta, mas elasestão sujeitas a todas as análises ambientais e dos ór-gãos públicos que protegem o patrimônio. Esta igreji-nha, da época dos jesuítas, em Cabo Frio, é patrimôniotombado. A idéia foi aproveitar uma via expressa paraabrir uma perspectiva belíssima nessa igreja. Mas ob-viamente – volto a dizer – tudo isso é passível de aná-lise. A idéia é que nesse pólo de desenvolvimento te-nhamos indústria náutica, indústrias agregadas, diver-

sos valores agregados, não só sob o ponto de vista daindústria náutica, mas também do agronegócio, e coma possibilidade de indústrias de cosméticos, de indús-tria farmacêutica. Há muita coisa que certamente podeser aproveitada como pólo de desenvolvimento no 2ºDistrito. O agronegócio seria absolutamente relevante.

Para terminar, temos aqui o Terminal Rodoviário. Aidéia é que próximo à Amaral Peixoto haja o Termi-nal Rodoviário, para fazer o link de acesso para osinteressados, para os empreendedores, para a popula-ção de um modo geral; não só para o próprio Municí-pio, como também para a população de fora. E certa-mente aqui há a possibilidade de centros comerciais,shoppings, etc.

Acho que a possibilidade, hoje, de, em uma visão maisampla, conseguirmos aproveitar essa região, que é deuma ocupação rarefeita, em um terreno – volto a di-zer – aquático, é muito grande.

Há outras idéias, mas, para não cansá-los muito, an-tes de mais nada agradeço, novamente, pela oportu-nidade e peço desculpas se a palestra foi mais longado que deveria. É uma apresentação que, durante trêsaudiências públicas, foi muito longa. Passamos umano com a sociedade, um ano com a Prefeitura, ten-tando mostrar a realidade, obviamente mostrando pro-blemas, mas, mais do que isso, entendendo que CaboFrio é ali; e se não aproveitarmos os negócios quecertamente podem surgir daí, acho que não estaremosaproveitando a nossa vocação turístico-hoteleira.

13 de junho de 2007

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É difícil imaginar como a construção do monu-mento do Cristo Redentor, com suas 1.145 tonela-das, foi parar em cima da montanha do Corcovado.

Por isso, vamos falar um pouco dessa História.

Afinal, ela é a razão da Campanha.

Se essa história não estivesse escrita, tão bem-feitapor operários e engenheiros brasileiros e sonhadores,não teríamos essa maravilha que estamos podendocontemplar e que, com certeza, será uma das setemaravilhas do mundo moderno.

Quando os primeiros viajantes aqui chegaram, em 1ºde janeiro de 1502, além do Rio e das ilhas observa-ram encantados as montanhas próximas ao mar.

É um desafio para a nossa vista.

Dentre elas, uma bem alta chamava a atenção de to-dos. Era ali que ele estava. Já estava vendo. Alguémjá estava sentindo que dali sairia alguma coisa de maisbelo para o nosso Rio de Janeiro, para o nosso Brasil.

Passados os dois primeiros séculos, com a ocupaçãoda cidade, ela continuou chamando a atenção, poisganhara o nome de “Pináculo da Tentação”, fazendoum pouco daquela comparação quando o Cristo foilevado aos montes no deserto para passar pela tenta-ção. E ali vimos, já naquele momento, já pensandoem cima de um futuro que nós estamos vivendo, quemsabe, essa maravilha do Cristo Redentor, é que nóstivemos aqueles sonhadores da época.

Com a chegada da Família Imperial, em 1808, as des-cobertas do jovem D. Pedro eram feitas a cavalo, seembrenhando nas matas em busca de aventuras e pai-sagens.

A CAMPANHA PARA ELEIÇÃO DO CRISTOREDENTOR COMO UMA DAS 7

MARAVILHAS DO MUNDO MODERNO,INSERIDA NO TURISMO

Luiz Brito Filho

Assessor de Relações Institucionais da Presidência da TURISRIO

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O nosso imperador realmente gostava de caminhar;gostava de fazer um turismo ecológico ou algo assim.

E assim, um dia D. Pedro chegou ao alto daquelamontanha, de onde conseguia se sentir um conquista-dor da natureza. É o que cada um sente quando che-ga ao Rio de Janeiro ou quando o está sobrevoando.Eu trabalhei na Ponte Aérea (ouviu, Caio, nosso eter-no ministro?) e era um problema muito sério, porquetodos, principalmente os paulistas, queriam janela paraobservar essa maravilha que está aí.

E assim, já adulto e Imperador do Brasil, D. Pedro Iqueria chegar ao “Pináculo da Tentação” para con-templar a maravilhosa vista, mas não mais a cavalo.

Dom João VI, seu pai, como amante da natureza, criarao Jardim Botânico, aos pés daquela montanha.

Já D. Pedro I desejava construir estradas através damata para atingir os pontos turísticos em companhiade seu séqüito e de ilustres convidados.

Mas a vida da cidade crescia e muito poucos se atre-viam a subir ao Corcovado. O Príncipe se fora e dei-xara seu filho, Pedro II, ainda menino. E aqui f icaratambém a escravatura. Até quero abrir um parêntese:sou de São Gonçalo, lá do outro lado. Então, puxa-mos sempre para a nossa terra, porque alguns municí-pios sempre dizem: sou o terceiro clima do mundo. Edizem que D. Pedro, ainda na fase de regente, teriaficado em uma fazenda, no bairro de Mangueira, pró-ximo à parada 40, justamente onde o amigo, que estáaqui hoje conversando com os senhores, nasceu. En-tão, quero acreditar nisso. Vamos fazer com que issoseja verdade.

Coube à Princesa, por meio da Lei Áurea, em 1888,libertar os escravos.

E a D. Pedro II coube vencer os obstáculos para al-cançar, com uma ferrovia, o alto do Corcovado, jánão mais apenas uma tentação, mas um objetivo iné-dito: fazer a primeira ferrovia turística do ImpérioBrasileiro e talvez do mundo.

Surgem, então, as ferrovias.

Naquela época, Irineu Evangelista de Sousa, o Barãode Mauá, que havia organizado o Banco do Brasil em1851, já conseguira, em 1854, inaugurar a primeiravia férrea, ligando Magé a Petrópolis. Ela ia, inicial-mente, até Raiz da Serra. Depois, veio a Grão Pará,que fazia o restante da viagem em cremalheira,adentrando a rua Teresa, que era onde o imperadorpegava a carruagem e seguia até o Palácio Imperial.Então, existe na cabeça dos nossos parceiros dessesetor o projeto: “Venha a Petrópolis, como vinha oimperador”, resgatando essa passagem histórica.

As ferrovias passaram, então, a ter sua função no ce-nário do Segundo Império, movimentando as cargas eas pessoas que antes dependiam apenas das mulas edos cavalos. Vimos ali mesmo o caminho do ouro, apassagem justamente do ouro chegando até o portode Mauá/Magé, vindo das Minas Gerais. Então, vi-mos ali que só temos história nesse caminho, mas co-meçou a ser feito aí.

D. Pedro II entendeu que podia vencer, em definitivo,o Pináculo da Tentação.

Mas quem faria uma ferrovia chegar ao alto do Cor-covado, que continuava sendo visitado apenas a ca-valo?

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Por essa época, em 1859, alguém falou, pela primeiravez, em se construir uma estátua no alto do Corcovado.

Foi o padre Pierre Marie Boss quem escreveu, referin-do-se ao topo da montanha: “Aqui está o pedestalúnico no mundo! Quando vem a estátua colossal,imagem de quem me fez?” Aí, volto à campanha: ain-da falta consciência ao povo que detém esse pedes-tal, que detém essa obra da natureza, pois não estáainda nas ruas pedindo votos, como as mulheres fize-ram, pedindo dinheiro, jogando os lençóis e fizeram20 mil assinaturas para que o monumento fosse cons-truído. Precisou, então, que esse padre fizesse essadeclaração e acendesse uma fagulha: “Quando vem aestátua colossal, imagem de quem me fez?” Bonito!

A vista maravilhosa esperava, portanto, não só pelaferrovia, mas pela estátua do Cristo Redentor.

D. Pedro II conheceu, então, o engenheiro FranciscoPereira Passos, que realmente se destacara na época ese tornaria, depois, um dos mais ilustres prefeitos doRio de Janeiro. E seu sócio era João Teixeira Soares.

Foram eles que trouxeram a proposta da construção eseu estudo, mostrando a viabilidade do empreendi-mento.

Assim, por decreto imperial, D. Pedro II concedeu aosengenheiros o direito de construir e explorar comercial-mente a primeira Estrada de Ferro com fins exclusi-vamente turísticos.

Antes, a cavalgada pela espessa mata até o “Chapéude Sol” não mostrava quão difícil seria a estrutura doprojeto de engenharia.

No final do século XIX nenhuma outra obra seme-lhante existia no mundo. A construção de uma viaférrea para alcançar o topo do Corcovado a 710 metrosde altitude espelha a grandeza desse desafio. Metro ametro ele foi vencido, com o auxílio de sua modernamáquina a vapor, movida a carvão, que desenvolviauma velocidade de 7 quilômetros por hora e carrega-va até 8 toneladas.

A arte da fotografia, recém-chegada ao Brasil, atestahoje o que foi a realização dessa grande obra de enge-nharia.

A via férrea precisava vencer os precipícios, algunsdeles exigindo a construção de pontes sobre o abis-mo, como o Vale do Silvestre e 75 metros de vão.

A obra da engenharia brasileira causava espanto naépoca, mas todos se orgulhavam das conquistas queiam sendo mostradas pelas lentes de Marc Ferrez, umfotógrafo que se especializou em documentar as obrasdo Rio de Janeiro, em seu crescimento já aceleradodesde então.

Finalmente, a Estrada de Ferro do Corcovado é inau-gurada, em 9 de outubro de 1884.

Seu primeiro trecho sobe até a Estação das Paineiras,onde há aquele hotel abandonado, que é um dos pro-blemas para resolvermos. Aquilo é um crime contratudo o que já aconteceu nesta cidade, neste País, emforma de beleza, de construção. É um desafio paranós do Conselho que estamos aqui levantarmos essabandeira.

Seu primeiro trecho sobe até a Estação das Paineiras– na foto, sendo inaugurada na mesma data.

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Faltava ainda o trecho das Paineiras até o topo, cujoponto final ficaria a 670 metros acima do nível domar, para que toda a população do Rio de Janeiropudesse conhecer a vista maravilhosa do alto do Cor-covado, este, sim, a 710 metros de altitude. Hoje, so-mos levados pelos elevadores, com conforto maiorpara os visitantes. Em 30 de junho de 1885 o trechofinal foi inaugurado.

Os engenheiros imaginavam que o primeiro trem, sain-do do Bairro do Cosme Velho e atingindo o alto doCorcovado, atrairia uma multidão. Entretanto, os cus-tos da obra e a situação político-financeira do Brasiltornaram a continuação da construção da Estrada deFerro inviável.

O Hotel das Paineiras torna-se um atrativo a maispara a subida ao Corcovado, porém as dificuldadespermanecem.

Em 1887 e 1889 a concessão passa por sucessivoscontroles.

Teria, então, partido da Princesa Isabel a idéia de re-tomar o sonho do Padre Boss e fazer uma homena-gem ao Cristo, no alto do Corcovado, tendo recebido,naquela ocasião, o apoio do Cardeal Arcoverde, quepersistiu no empreendimento.

No entanto, em função da Abolição da Escravaturaas condições políticas do Império se modificam. Éproclamada a República. Vejam vocês quanta coisaaconteceu nesse meio tempo. História forte, pulsante;história que vivemos. Estamos aqui porque esses bra-sileiros fizeram essa história. Os prejuízos da Estradade Ferro do Corcovado são muito grandes e, em crise,ela é penhorada.

A ferrovia foi a leilão público e os arrematadores, de-pois de grande reforma, também não conseguiram le-var adiante o empreendimento.

Em 1906 a Ferrovia do Corcovado, já então commuitas dívidas, foi à bancarrota.

Nessa época o transporte público do Rio ainda erafeito em bondes puxados por burros, com diversasempresas operando em regime de livre concorrência.

Antecedido no emprego da eletricidade por Campos,Rio Claro, Juiz de Fora, Piracicaba, São Carlos do Pi-nhal, Ribeirão Preto, São João Del Rei, Belo Horizon-te, Petrópolis, Manaus e Belém, o Rio de Janeiro co-meçava, então, a ser eletrificado.

A Rio de Janeiro Light and Power Company Limited,firma canadense de capitais britânicos, foi constituí-da em Toronto, a 9 de junho de 1904.

Um mês depois recebeu a denominação definitiva deRio de Janeiro Tramway Light and Power CompanyLimited – a Rio Light, ou simplesmente Light.

Em 1906 a Ferrovia do Corcovado, sob o controle daCompanhia Ferro Carril, por autorização do GovernoFederal passa ao controle da Light, por meio de umacordo de concessão inédito para a época, que envol-via outras avenças de energia, discussão sobre ener-gia, algumas coisas mais.

A Light, empresa ainda nova no Rio de Janeiro, jáhavia eletrificado o transporte de São Paulo, e seu jo-vem advogado Alexander Mackenzie, que havia fica-do impressionado com a dimensão da reforma urbanalevada a cabo pelo então Prefeito Francisco Pereira

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Passos (1903-1906), compromete-se a usar o exce-dente de energia para eletrificar a linha turística doCorcovado, no Rio de Janeiro.

Assim, em 1910 passa a funcionar a primeira ferroviaeletrificada do Brasil, com condições de levar pessoase cargas ao alto do Corcovado.

Após a Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918, osentimento religioso cristão fica acentuado entre asNações, em função das atrocidades entre os comba-tentes na Europa. Quer dizer, uma guerra sempre trazreflexões e, nesse momento, os povos, principalmen-te os europeus, acharam na religião, na introspecçãoum apego no sentido de se livrar da atrocidade quehavia sido cometida.

No Brasil, e principalmente na cidade do Rio de Ja-neiro, seu Distrito Federal, a idéia da construção daestátua do Cristo Redentor, como no sonho do PadreBoss, falecido em 1916, continua lentamente. Estavalá, latente, no fundo do baú. Os sonhos não são osonhador. O sonho, quando é forte, é difícil de serderrubado. John Kennedy dizia que quem não sonhanão realiza.

No início foram os morros disputando onde ficaria aestátua: Pão de Açúcar, Santo Antônio, etc. Ganhouo Corcovado.

Houve concursos, desenhos, formas, coletas, etc.

A população se envolveu, realizando um abaixo-assi-nado de mais de 20 mil assinaturas.

Mulheres da sociedade, das paróquias, que deveriamestar aqui, participando nas ruas, da forma que elas

participaram naquele momento da construção domonumento. Mas eu não as culpo por isso. Culpo adesinformação e o desinteresse de alguns que, até pordisputas pequenas, talvez entendam que o Rio de Ja-neiro não merecesse ter a maior maravilha do mundo.

A população ia se envolvendo, as mulheres reivindi-cando. E as mulheres quando reivindicam são fortesnisso; e conseguiram entregar ao Presidente EpitácioPessoa essas reivindicações.

Chegaram a pensar em um Cristo segurando uma cruze um globo terrestre, que ganhou o apelido de Cristoda Bola, sendo, então, reprovado. Somos o rei da bola,mas de futebol e do vôlei, não era o caso. Então, sabia-mente, esse projeto não passou.

Entre o lançamento do projeto e sua construção de-correram 34 anos. O projeto vencedor do antigo con-curso foi do Engenheiro Heitor da Silva Costa, umespecialista em monumentos.

Ele contou com a colaboração do pintor Carlos Oswalde do escultor franco-polonês Maximillien Paul Lan-dowski.

Depois de vários estudos, conseguiram chegar ao de-senho final, que agradou a todos: o Cristo de braçosabertos.

A estrutura em concreto armado, uma novidade paraa época, foi toda feita no alto da encosta do Corco-vado.

Alguns operários chegaram a morar no local para cui-dar da continuidade da obra.

O Trem do Corcovado levava sacos de areia, cimen-

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to, vigas de ferro e todo o revestimento de pedra-sa-bão, no total de 1.145 toneladas de material.

O Cardeal D. Sebastião Leme, que substituiu o Car-deal Arcoverde, tornou-se um entusiasta do projeto,para dar vida ao sonho do Padre Boss, e prosseguiuna campanha de coleta de fundos.

O fato é que toda a população da cidade acabou abra-çando a campanha de doação promovida pelaArquidiocese.

As paróquias do Rio de Janeiro, de moeda em moeda,arrecadaram cerca de 2 mil e 400 contos de réis, queforam empregados na obra. Hoje significariam cercade 6 milhões de reais.

A obra foi considerada abençoada.

Apesar das condições difíceis e perigosas em que otrabalho era realizado, com operários balançando-sea mais de 710 metros sobre o abismo, nenhum delesse acidentou gravemente durante os cinco anos emque o monumento foi construído.

A pedra fundamental do monumento havia sido colo-cada em 5 de abril de 1922, ano do Centenário daIndependência, mas só quatro anos depois a obra ga-nhava velocidade com os recursos e decisões finais.

A forma do Cristo de braços abertos foi inspirada nasantenas que existiam no alto do morro para fazer asconexões telefônicas.

Uma forte ventania chegou a derrubar todos os andai-mes de madeira do alto do morro e a estrutura de apoiofoi refeita com trilhos de bondes da Light.

As obras do Cristo, que começaram em 1926, no finaldo governo do Presidente Arthur da Silva Bernardes,viram a chegada do Dornier DO-X, que dava a voltaao mundo e vencia o Atlântico de hidroavião.

Havia um sonho daquele construtor aeronáutico desobrevoar o Cristo Redentor.

Dois anos antes da inauguração do monumento doCristo, a imprensa internacional cobre aquela aventu-ra do Dornier Wall pousando na Baía de Guanabara.

O fato repercute pelo mundo todo. Era o Rio de Ja-neiro se abrindo para o turismo pelo transporte aéreo,que hoje infelizmente está praticamente fechado pe-las crises dos aeroportos. Coloco isso como ex-aero-viário, homem de aviação durante 30 anos. Deixa-memuito doído o que está acontecendo.

Um ano antes da inauguração, em 24 de outubro de1930, Dom Sebastião Leme, que liderava a campa-nha de arrecadação de fundos, acompanha o ex-Pre-sidente Washington Luís, que é levado de carro até oforte Copacabana, onde foi detido, antes de seguirviagem exilado para os Estados Unidos da América.

As obras acompanharam a revolução de 1930, a de-posição de Washington Luís e a ascensão de GetúlioVargas ao poder.

Mas não pararam, graças ao esforço do Cardeal DomSebastião Leme e à equipe de Heitor da Silva Costa,envolvidos com uma missão que era fruto do desejode todos os cariocas.

A enorme estátua em construção já podia ser vista dequalquer lugar da cidade. Pensem bem no carioca vi-

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vendo aquele momento no Rio de Janeiro. Hoje, aspessoas param para olhar; às vezes há uma fila. Obrasileiro adora uma fila, se alguém olha para cima,logo há muita gente olhando para cima para ver o queé. Avaliem as filas que se formariam para olhar paraessa beleza que já estava se afigurando sobre a nossacidade.

Da França vieram os moldes de gesso da cabeça, pro-duzidos pelo escultor Paul Landowski. O rosto leve-mente inclinado para frente, com o semblante sereno.A montagem final, em concreto armado, foi feita nosítio de Heitor Levy, em São Gonçalo.

As mãos da escultora, pianista e poetisa MargaridaLopes de Almeida serviram a ela mesma de modelo,já que fora encarregada por Heitor Levy de dar formaàs mãos do Cristo.

Em 10 de outubro a estátua ainda estava coberta comos andaimes e era motivo de ansiedade por parte dapopulação, que pretendia assistir à iluminação do Cris-to, que simbolizaria a inauguração, já que poucos po-deriam estar presentes ao local.

Realizada em 12 de outubro de 1931, a solenidade dabênção e da inauguração do monumento ao CristoRedentor foi um grande espetáculo de fé cristã, com apresença do Presidente Getúlio Vargas, do Prefeitodo Rio de Janeiro, Pedro Ernesto, do cardeal D. Se-bastião Leme, do cardeal Legado D. Eugenio Pacelli,mais tarde Papa Pio XII, de ministros e de várias ou-tras autoridades religiosas, civis e militares.

Mario Michelotto, em nome dos operários que cons-truíram o monumento, fez uso da palavra.

Durante toda a solenidade uma esquadrilha coman-dada pelo Major Eduardo Gomes, mais tarde Minis-tro da Aeronáutica e Patrono da Força Aérea Brasilei-ra, lançava flores sobre a imagem do Cristo.

Os sinos de todas as igrejas da cidade tocavam festi-vamente.

A noite de 12 de outubro de 1931 chegara, escuracomo sempre, e a expectativa aumentava. Então, ofamoso inventor italiano da telegrafia sem fios Gugliel-mo Marconi (1874-1937) aciona uma pequena chavede onda eletromagnética e faz a ligação. São as ondasde rádio. Marconi estava a bordo de seu iate Electra,ancorado no Golfo de Gênova, e deu-se a luz.

Fez-se a luz. Atravessando o Atlântico, diretamenteda Itália, chegam os impulsos de rádio da EstaçãoRadiotelegráfica de Coltano para acionar as lâmpa-das, que vão iluminar, pela primeira vez, o Cristo Re-dentor no Rio de Janeiro. São 19h15 e está ele aí, ilu-minado, majestoso; iluminado diretamente da Itália.

Os jornais do dia seguinte só tinham uma manchete:Iluminado!

Enquanto em toda a cidade a alegria tomava conta dapopulação, pelo mundo a repercussão atingia os gran-des operadores turísticos, que, pela primeira vez, pas-savam a ter um novo produto no Rio de Janeiro: omonumento do Cristo Redentor. Está aí a importân-cia da eleição do Cristo. Estamos fazendo o grandelink.

A Cidade cresceu. O Monumento do Cristo Redentorvirou seu símbolo. A Arquidiocese do Rio de Janeiroconsagrou o Monumento como um Santuário. A Ci-dade continuou crescendo muito, a cada dia.

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O Cristo Redentor continuou recebendo nossos visi-tantes de braços abertos, representando para o Turis-mo mais que um produto turístico: é a verdadeira facedos cariocas, símbolo da recepção que o Rio de Janei-ro oferece a todos os que aqui chegam.

O Cristo passou a ser a maior das atrações turísticasda Cidade.

Chegaram mais turistas, viajantes, desportistas e aven-tureiros, sempre desejando ser fotografados tendo oCristo Redentor, no alto do Corcovado, como panode fundo para suas proezas.

Em 2006 o Dornier DO-24 confirmou o sobrevôo deseu avô feito em 1929.

Em 2006 surge a Eleição das sete Maravilhas doMundo Moderno e o Monumento do Cristo é indica-do como um dos candidatos.

Mas a cidade crescia e tocava sua vida sem percebero que acontecia.

Andamos por aí e vemos tantos problemas. Tudo bem.Foi assim que Maradona ganhou como melhor joga-dor do século, porque foi feito pela internet e nin-guém ficou sabendo. Outro dia Copacabana ganhoutambém. Foi para o bem que alguns orkuts entraram evotaram nela como a melhor praia do mundo. Masonde estão os votos do Cristo, que já era para estareleito agora? Ele vai ser eleito. Mas já era para tersido eleito. Não precisava ir para o segundo turno.Estivemos em décimo-oitavo e agora estamos entreos dez. Então, estamos disputando.

O entorno do Sítio Turístico do Corcovado, visto nafoto, começa a sofrer o impacto do intensivo cresci-

mento da Cidade, que exige cada vez mais o cumpri-mento de seu Plano Diretor de Turismo.

Então, já vamos vendo o castigo na mata acontecen-do. Temos mais lá adiante. Neste momento, chamotodos para uma reflexão. Este Conselho tem a obriga-ção de se posicionar. Vemos entrada por todos osflancos, já subindo pela mata.

O Plano Diretor de Turismo do Estado. Existe umPlano Diretor, mas não vou entrar em detalhes. É sópara ajudar no raciocínio. A principal intenção deleera consolidar o turismo como um dos principais se-guimentos econômicos do Estado.

Era o Turismo gerando novos empregos, incremen-tando a captação de receitas e valorizando das comu-nidades locais, por meio da elevação do seu nível dequalidade de vida.

Então, vemos que o Sítio Turístico do Corcovado, como monumento ao Cristo Redentor, era e é um dos prin-cipais sítios do Turismo do Rio de Janeiro que consta-va do Plano Diretor. Eu e o Trajano Ribeiro começa-mos isso em 1993 – comecei o planejamento com você,quando você era o Presidente.

Mas o estudo aprofundava a análise macroeconômicaem todas as demais regiões, porque se não tiver o ca-samento dos planos dos municípios você não conse-gue. Há 15 dias tivemos uma bela exposição em que aexpositora falou sobre Cabo Frio. Então, eu gostariade saber: onde está o Plano Diretor para esta cidadeque venha se casar com o Plano Diretor de Turismo,que elegeu esse sítio turístico e que não pode receberesse tipo de penetração, de invasão?

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Em 1993 Luiz Brito, então Diretor de Planejamentoda TurisRio, havia iniciado o primeiro estudo que deuorigem ao Plano Diretor de Turismo do Estado doRio de Janeiro.

O Plano visava atender aos preceitos da constituiçãodo Estado e, na época, seu objetivo era diagnosticar asituação do turismo, no sentido de identificar propos-tas de desenvolvimento para o setor.

Quando finalizado, o Plano Diretor se propunha a res-gatar e sistematizar as informações e dados sobre todaa atividade turística no Estado.

Por exemplo, um dos pontos que elencamos foi o casodos cruzeiros marítimos, sobre o qual eu já falei aqui.Fizemos o primeiro encontro um ano antes de sair aEmenda nº 7, em 1994, no Hotel Acapulco, em CaboFrio – lembra-se, Doutor Trajano? Vimos que maisadiante haveria condições para isso.

Gostaria até de fazer um parêntese aqui, porque sa-bemos a posição e a preocupação dos nossos compa-nheiros hoteleiros, que é muito justificada. Comungode suas preocupações, mas não podemos, em hipóte-se alguma, abrir mão do que conquistamos, ou seja,de 35% de aumento a cada ano. Muita gente não aten-tou, por exemplo, para o fato de que quando chegaum navio com mais de dois mil passageiros, temoscerca de 100 ônibus esperando; e são 100 motoristastrabalhando. São 100 motoristas que vão levar paracasa alimentos para os seus filhos e recolher impos-tos. Então, é fonte de renda, sim, com toda certeza.Precisa ser disciplinado? Com toda certeza, porqueexiste ainda a Emenda nº 7, que, infelizmente, persis-te até hoje. Nosso Parlamento ainda não a atualizou.

E uma grande parte dos turistas, senão a maioria ab-soluta, faz a visitação ao Cristo Redentor, que é oponto principal.

Dessa forma, a criação e qualificação da infra-estru-tura turística no porto, além da formação de umamentalidade de valorização da atividade receptiva quepossibilite o seu desenvolvimento, constitui-se hojeem um programa de trabalho do Grupo de Apoio efomento ao Turismo Marítimo e Náutico, coordena-do pela TurisRio, sempre articulando com os diversossegmentos envolvidos.

Na primeira temporada – 1995-1996 –, após a Emen-da Constitucional nº 7, tivemos a chegada de 35 milpassageiros no Rio de Janeiro.

Na última temporada foram cerca de 250 mil passa-geiros – um acréscimo de cerca de 714% em 11 anos,ou 65% na média anual. Nas duas últimas tempora-das foi de 35% ao ano a média de crescimento. Ototal de passageiros já sobe hoje a quase 8 milhões.

Todo esse potencial aponta para uma vitória do Cris-to e do Rio de Janeiro na eleição das sete Maravilhasdo Mundo Moderno.

A atual eleição é um empreendimento do produtor decinema e aviador canadense-suíço Bernard Weber, quepode se transformar na maior votação mundial da his-tória.

Esse evento começou em 7 de dezembro de 2006 evai terminar dia 7 de julho de 2007.

A partir de uma lista de 77 opções, uma comissãopresidida por Frederico Mayor Zaragoza, ex-Diretor-

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Geral da Organização das Nações Unidas para a Edu-cação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), escolheu 20monumentos que preenchem os seguintes pré-requi-sitos: ser uma construção humana (não da natureza)– construção mais humana e espiritual que a nossanão há, ter valor cultural, e ter reconhecimento inter-nacional.

O concurso acaba no dia 6 de julho de 2007, e meta-de dos fundos arrecadados no projeto serão destina-dos à restauração de patrimônios em risco ao redordo mundo. E se o Cristo Redentor vencer, vai ficarassegurada sua manutenção pela organização em suasrestaurações.

No dia 7 de julho de 2007 (7 de 7 de 2007) será feitaa divulgação da Declaração Universal das “Novas SeteMaravilhas do Mundo”. O palco será o estádio doSport Lisboa e Benfica, em Lisboa. Lá também serãoapresentadas as Sete Maravilhas de Portugal. Esseevento será transmitido pela canal de televisão TVIpara todo o mundo.

A votação pode ser feita pelo celular ou pelo sitewww.new7wonders.com. Pode-se entrar pelo “VoteCristo”. Com a inclusão do Cristo entre as sete Mara-vilhas do Mundo Moderno, mais de 1 milhão de turis-tas poderá vir ao Brasil a cada ano.

Ministro, não tenho nenhum receio de dizer: se tivés-semos investido de forma mais pesada nessa eleição,poderíamos ficar cinco anos, no mínimo, sem precisarfazer feiras ou gastar um centavo em promoção inter-nacional, porque o retorno seria maior do que cincoanos de promoção.

A Fundação New Seven Wonders divulgou as 10 con-

correntes, sendo a Acrópole, em Atenas, e as ruínasmaias, em Chichen Itza, no México, as mais votadasna lista que vai escolher as Sete Maravilhas do SéculoXXI.

Não se divulgou o número de votos para não influen-ciar os votantes.

Os organizadores do New Seven Wonders of theWorld (www.new7wonders.com) continuam indican-do que o resultado ainda hoje segue absolutamenteindefinido.

Conheça as Sete Maravilhas da Antiguidade: As Pirâ-mides de Gizeh – que realmente são uma maravilha,ninguém pode desconsiderar isso; o Templo deÁrtemis, em Efeso; a estátua de Zeus, em Olímpia,na Grécia, construída em ouro e marfim, com 12metros de altura – só se tem idéia pelas moedas deElis, onde foi cunhada a figura da estátua de Zeus; oColosso de Rhodes; o Mausoléu de Helicarnasso; osJardins Suspensos da Babilônia; o Farol de Alexandria,onde se deu uma tragédia na invasão do Iraque.

O Cristo, no Rio de Janeiro, está competindo com osmonumentos que correspondem a destinos turísticosem outros países. Aí temos uma lista: Ilha de Páscoa;Taj Mahal, na Índia; Acrópole; Chichen Itza; Mura-lhas da China; Machu Picchu; Petra; Torre Eiffel;Coliseu.

Em determinado momento fui para a rua. Com a li-cença do meu Secretário, do meu Presidente, DoutorEduardo Paes, a quem agradeço muito por estar dan-do força para que possamos fazer esse trabalho, digoque a campanha do Cristo não estava chegando aindaao eleitor, às pessoas do povo. E fomos até o povo.

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O nosso Cristo Redentor agora está entre os 10 maisvotados, de acordo com a última relação divulgadapelos organizadores, o que aponta uma linha ascen-dente na votação do monumento brasileiro peranteas demais candidaturas. Mas o fato é que a posição doCristo Redentor melhorou acentuadamente na rela-ção dos monumentos mais votados para a escolha dassete Novas Maravilhas do Mundo Moderno graças àpopularização da campanha.

A Popularização

Como a campanha do Cristo não estava chegandoainda ao eleitor, que em síntese são as pessoas dopovo, decidimos levar aos locais de concentraçãopopular urnas eletrônicas com orientadores para avotação, o que foi plenamente aceito pela Comis-são Organizadora.

Embora já estejamos ligados ao mundo pelainternet, somente 17% da população brasileira temacesso a ela.

Em face dessa dificuldade e da falta de informaçãopara o povo, foram lançados os Pontos de Votação.

O primeiro ponto de votação popular foi inauguradoem 2/4/2007, no subúrbio de Madureira.

O Mercadão de Madureira era detentor da ComendaCristo Redentor e, de pronto, seus dirigentes seprontificaram a entrar na campanha.

Em 5/4/2007 foi inaugurado o ponto de votação naRodoviária Novo Rio.

Sucederam-se o Aeroporto Internacional do Rio deJaneiro, o Aeroporto Santos Dumont, a CEASA-Rio,

a Prefeitura Municipal de São Gonçalo, o ShoppingMadureira, o Shopping Santa Cruz, o Shopping RioSul, o Shopping Passeio Campo Grande, o ShoppingSão Gonçalo, entre tantos outros. Amanhã já estare-mos em Colégio São Gonçalo, na Fundação de Apoioà Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro(FAETEC) depois de amanhã, e estamos na estrada.Já há até um samba sobre isso.

Por outro lado, entendia-se que existia um desconhe-cimento e até mesmo um certo constrangimento porgrande parte da nossa população suburbana, que ain-da não tem acesso às nossas atrações turísticas. Foi oque constatei. Já fiz muitas palestras no subúrbio paraas faculdades e agora ficou registrado. Precisamos tra-zer esse povo para visitar as nossas atrações. Pensa-mos em captar em outros estados, mas ainda não cap-tamos as nossas próprias cidades.

Em tempos de Jogos Pan-Americanos o turismo temde ser popularizado, para envolver toda a populaçãoda cidade na preservação desse espírito do carioca,que sempre foi de receber muito bem todos os quenos visitam.

Os habitantes desta cidade, que é o melhor receptivodo mundo, que é o que melhor recebe, têm de saber oque está acontecendo. Não é falta de competência dequem está fazendo a campanha, de forma alguma. Éque os meios que nos deram, o tipo do jogo que nospassaram, não alcançava o nosso povo. Na Rodoviá-ria Novo Rio, no início de um feriadão, uma senhoraparou em frente ao banner grande e disse: “Meu filho,o Cristo é candidato a quê?” Eu disse a ela: “Já foi hádois mil anos. Elegeu-se. Hoje ele já é o nosso eleito.”Aí não tem mais discussão. Mas o nosso monumento

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é que é candidato agora. “Meu filho, ensine-me a vo-tar.” E aí já se juntaram mais três ou quatro. Faltaconhecimento. Precisamos de conscientização, desensibilização; é o que falta à nossa população. Elestêm tudo, mas isso não chega até eles. Eles são inteli-gentes, eles entendem.

E quem visita o Rio quer dar um passeio até o Cor-covado para pagar uma promessa aos pés do Cris-to, para andar no trem histórico e conhecer a estra-da que passa pelos abismos, contemplando a Cida-de Maravilhosa.

Para os jovens estudantes vai ser muito importante aeleição do Cristo, pois vai se abrir para eles um cam-po de trabalho. Por isso é nossa obrigação.

O mais importante, porém, não é a simples conquistados números, mas sim levar ao povo que freqüenta oslocais citados a existência dessa eleição, pois eles nãosabiam o que estava acontecendo. E somente ele podedecidir. Não vamos decidir; só eles.

Afinal, meus prezados colegas de Conselho, meu Pre-sidente, nossos convidados, precisamos deixar as vai-dades e o bairrismo de lado, pois o Cristo Redentor éde todos nós.

Eu já lancei um desafio: onde estou fazendo palestradigo que estou fazendo do dia 29 o ponto da viradaabsoluta. Eu desafiei as operadoras a mudarem a sis-temática na eleição; em vez de esperar que o clientetome a iniciativa, que eles passem a mandar um sim-ples torpedo. Você quer votar no Cristo? Se devolve-rem, está votado. É simples, gente. O que precisamosneste país, Ministro, é de simplicidade; é fazer as coi-sas como o povo gosta, mas com competência e semvaidade. Obrigado a todos.

27 de junho de 2007

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O título da palestra é “O Modelo de Desenvolvi-mento Brasileiro”, que é a matéria à qual me dedicoespecificamente nos últimos 20 anos, talvez um pou-co mais; desde 1982, quando da consolidação doatual estágio de fundamento democrático brasileiroque se constituiu com a introdução dos partidos polí-ticos múltiplos no Brasil.

Só para recordar: a primeira eleição direta para gover-nadores, desde 1967, foi a de 1982; exatamente 25anos atrás. Um marco importante na história políticabrasileira. Nessas eleições concorreu uma quantidadesuperior a 20 partidos políticos constituídos no Brasilàquela época.

Eu quero lhe agradecer muito, Machado, por essastantas referências otimistas que você fez a respeitoda minha presença, da minha capacidade de formula-

ção e de apresentação. Só fico preocupado em decep-cionar a todos. Francamente, não estou aqui com essabola toda. Sou engenheiro, sim, mas considero-me,hoje, mais um estudioso do processo de desenvolvimen-to do que de qualquer outra coisa. O que estou hojeaqui narrando apresentei na hora do almoço na Light,em uma reunião restrita a 20 ou 30 pessoas. Tenhofeito isso baseado em estudos, em observações quesão colecionadas com muita metodologia, de formasistemática, capaz de ter fundamento, de ter começo,meio e fim. Não uso a tática ou a técnica de apresen-tações em power-point. Parece-me que essas coisas per-turbam a audiência. A pessoa fica preocupada com oque está escrito, e não com o que se está falando.Acaba-se perdendo a ênfase. Não quero fazer qual-quer correção ao que você leu no meu currículo, queestá completamente errado. Acho que fui eu mesmoque forneci.

O MODELO DE DESENVOLVIMENTOBRASILEIRO

Márcio Fortes

Diretor-Presidente da João Fortes Engenharia S.A.

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Eu fui deputado federal por 10 anos e vice-presiden-te da Firjan parece que por dois ou três anos. Tam-bém não faz falta, porque não é grande coisa. Atual-mente, um deputado e um zero são mais ou menos amesma coisa.

Trabalhei muito na Firjan, mais tempo do que está aícolocado. E tenho, acreditem, uma história de vidapública e de participação privada que só me orgulha eme autoriza a abranger um tema como esse com atranqüilidade que faço aqui, hoje, contando, certamen-te, com a boa vontade de todos os senhores. Nestamesma sala eu já fiz palestras semelhantes – não noConselho de Turismo exatamente. Vim aqui no Con-selho de Turismo umas duas vezes, talvez, no passa-do. Fui Secretário de Indústria, Comércio e Turismodo Estado do Rio de Janeiro durante dois anos, 1996e 1997. E antes eu estive no Banco do Estado do Riode Janeiro (BANERJ); antes, ainda, estive no BancoNacional de Desenvolvimento Econômico e Social(BNDES).

Então, como estive aqui muitas vezes, sinto-me emcasa, muito familiarizado com o ambiente no Conse-lho de Turismo e, particularmente, na ConfederaçãoNacional do Comércio, onde encontro guarida parauma série de propostas e postulações que são bemacatadas na Casa.

Esse título – “O Modelo de Desenvolvimento Brasi-leiro” – remete-me ao tempo em que eu era aluno decolégio secundário. Havia um livro de geografia e umportuguês era o professor. O professor tinha um livrode geografia que dizia: “Vamos estudar agora os ma-res da lua.” Aí, começava a aula e dizia: “Vamos estu-dar os mares da lua. Vamos começar e acabar com a

seguinte frase: não há mares na lua.” Pronto. E é oque está acontecendo. Não há um modelo de desen-volvimento brasileiro em curso. Não posso me julgarconfortável com um País que, como bem disse o Ma-chado, aspira a ser uma potência se ele não sabe exa-tamente o que quer ou como formular isso. E faze-mos isso em comparação com diversos estágios davida recente brasileira, que foram objeto de projetosde médio e de longo prazos, mas que tinham um foco,um objetivo; tinham começo, meio e fim e aponta-vam para rumos que orientavam a sociedade brasilei-ra – os que tinham capacidade de decisão; os que ti-nham recursos para investir; os que tinham como orien-tar a sua própria vida profissional; os que tinham deencontrar um caminho na disputa política. Isso acon-tecia. Refiro-me, com muita tranqüilidade, à minhaprópria vida. Sou mais velho que a maioria dos queestão aqui. Tenho 63 anos, para deixar claro. Portan-to, eu vi as coisas. Acabamos de lembrar, Maria Luiza,que eu tive dificuldade de convidar o Cid Heráclitode Queiroz. Eu sou padrinho de casamento dele. Foiele quem disse. Sou mesmo, para ver como sou velho.

Mas o fato é que a observação da vida brasileira podecomeçar em muitos momentos. A vida brasileira co-meçou formalmente quando Dom João VI se mudoupara cá, e não antes. O Brasil só existe a partir de1808. Antes ele era dependente de Portugal. A vidabrasileira é muito curta. Ela teve 80 anos de Impérioe 40 anos de República. São períodos muito curtos.Quarenta anos é um tapa na história de um país. Todaaquela coisa que estudamos e aprendemos na escolasecundária em relação aos velhos Presidentes da Re-pública, como Epitácio Pessoa, só durou 40 anos.Depois, de 1930 a 1970, tivemos também 40 anos

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bastante tumultuados. Houve a questão militar nomeio do caminho, que é um regime, evidentemente,não convencional na questão da política democráti-ca. O fato é que a regularidade brasileira na área polí-tica foi marcada pela instabilidade em todos os seusaspectos. De 1950 para cá todo tipo de acidente acon-teceu com a política brasileira. Basta imaginar que em57 anos, a partir de 1950, houve suicídio de presiden-te, parlamentarismo, renúncia, impeachment, morte deTancredo Neves, enfim, todo tipo de consideração atéo momento em que houve a posse de FernandoHenrique Cardoso, em 1995, com a durabilidade – jádura 12 anos – de um processo político mais ou me-nos consolidado. Ainda não está completamente con-solidado. Mas do lado do desenvolvimento, mesmonesse período, acabada a Segunda Guerra Mundial,houve projetos de desenvolvimento, claro, na décadade 1950.

O segundo mandato de Getúlio Vargas foi extrema-mente fecundo em formulação. Isso é curioso, porquetodos acham que a marca histórica que ficou de Ge-túlio Vargas foi o seu suicídio, além do episódioGregório Fortunato e de episódios que culminaramcom o suicídio do Presidente. Mas foi nesse períodoque se constituiu a Petróleo Brasileiro S.A. (PETRO-BRAS), que se fez as Centrais Elétricas BrasileirasS.A. (ELETROBRÁS), que se criou o BNDES, etc.Tudo isso foi no segundo mandato de Vargas.

A década de 1960 teve formulação, a formulação decriação de indústrias de base, a tentativa brasileira,bem-sucedida, de conceder ao Brasil a sua auto-sufi-ciência, com o derivativo da sua riqueza mineral enatural. A década de 1970 foi marcada pela substitui-ção de importação, com uma política muito bem-su-

cedida, que nos tornou, àquele momento, pioneirosno Brasil naquilo que significava fazer com que ospaíses se julgassem – era a política mundial em vigor– capazes de se desenvolver sozinhos.

A década de 1970 foi a negativa da globalização, querdizer: cada um se vire como pode. Criamos o Progra-ma do Álcool, o Programa Nuclear, entre outras coi-sas. A existência de instrumentos financeiros paragerenciar isso não está em consideração no momento,estou falando da formulação. Um contra-argumentopara tudo o que estou dizendo seria: “Mas não há maisdinheiro, não há mais crédito. Não há nada disso.”Estou falando que houve formulação.

A década de 1980 foi muito interessante pelo aspectodo desenvolvimento político, quer dizer, o País vol-tou-se para uma visão de construção de uma socieda-de. Esqueceu um pouco a economia e foi para valo-res de outra natureza: os intangíveis e os humanos.Redigiu-se uma nova Constituição. Não se pode, nes-te momento, julgar se ela foi boa ou ruim, não impor-ta. Importa que havia uma movimentação nessa di-reção. A nação projetou o que seria uma nação coma participação popular na escolha do seu tipo degoverno.

E a década de 1990, sobretudo marcada pelo Gover-no Fernando Henrique Cardoso, foi uma década dedefinição clara e precisa das relações do Estado coma sociedade, não só em função das privatizações, maspela criação e instituição das agências reguladoras deserviços públicos, pela responsabilidade fiscal, portantos fatos que informaram a nação, mesmo que elanão percebesse que havia um projeto. O projeto erade que, na década de 1990, o País pertencesse não só

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ao Governo, e a formulação e a execução fossem umatarefa comum, em que os representantes do Estado,na forma de governo, os representantes da nação, naforma de sociedade civil, pudessem trabalhar irma-nados na mesma direção. Um contraponto na barreiraque havia até então entre o estatal e o privado. Issofoi eliminado.

No momento, primeira década do século XXI, o quetemos é a ausência absoluta de formulação no senti-do amplo, ou seja, o que um País quer para si. Elepretende ser uma democracia? Ele quer que o Estadoseja governado pela vontade popular, ou que ele sejagovernado por uma faceta da vontade popular, comoa que hoje se apresenta? O Estado pretende assumirpessoalmente, diretamente, com os seus meios, a cria-ção e o desenvolvimento da infra-estrutura necessá-ria para o desenvolvimento empresarial, ou ele pre-tende conceder e confiar nos seus membros? Ele pre-tende que as agências de regulação de serviços públi-cos sejam o contraponto, como foram fundadas, umponto de equilíbrio entre o interesse de concessioná-rias do Estado e dos usuários, ou pretende que as agên-cias sejam organismos de governo e, portanto, com-prometidas não com os usuários e os concessionáriosou com a tarefa, mas sim com o Governo a que pos-sam servir?

O resultado prático da ausência de formulação ou deprojeto é a ausência de Governo que vemos hoje.

Digo isso com muita tranqüilidade. Sou político, e nãoestou com qualquer partido nisso nem por ser oposi-ção nem por ser de situação. O que se verifica é quenão há Governo. O Governo não apresenta, quandofaz um Programa de Aceleração do Crescimento

(PAC), uma formulação que oriente os investidores.Ele diz: “Vamos fazer tais obras. Se você é constru-tor, apresente-se para realizar aquelas obras comocontratado.” Mas ele não propõe uma coisa sólida,qual seja: como fazer o tratamento na Amazônia, daindústria, da pobreza, do desenvolvimento urbano, etc.Você pode procurar, ler, se informar, o que você qui-ser, não há projeto em curso no Brasil. O que se temé listagem de iniciativas. Se não há, estamos correndoum sério risco, porque estamos subordinando todo oprocesso brasileiro a uma iniciativa bem-sucedida, queé o tratamento da questão macroeconômica. A ques-tão macroeconômica, a economia, os indicadores,sobretudo os indicadores macroeconômicos, quer di-zer, inflação, câmbio, juros, essas coisas macroeco-nômicas, o que afeta as contas nacionais, devem sersubordinados a uma formulação de natureza política,e nunca condicionadores daquilo que afetam. Nãoadianta você dizer: “Não posso formular por causado câmbio.” Uma coisa não tem nada a ver com aoutra. A economia é subalterna e conseqüente da po-lítica em curso. Como não há política, a ausência depolítica em curso passa a ser subordinada aos indica-dores macroeconômicos.

Então, o que se verifica? Temos ganhos macroeco-nômicos. Mas o ganho macroeconômico em curso –isso é hoje marcante nos indicadores de natureza in-dustrial, comercial, nos níveis de emprego, na rendadas famílias – compromete muito o futuro brasileiro.

Agora vejam bem: o que é a capacidade que um Paístem? Qual o futuro brasileiro? Um País como o Brasilnão tem como encontrar outro futuro que não seja ode ser uma nova edição dos Estados Unidos da Amé-rica na primeira metade da primeira década do século

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XX, ou seja, uma nação aberta, livre, capaz de absor-ver tecnologias, contribuições de recursos humanos,de cérebros ou de braços, de se abrir para a importa-ção e a exportação, de forma absolutamente tranqüi-la, de desenvolver tecnologias, ampliar a criatividadena produção industrial, agregar valor pela produçãoindustrial e ombrear-se com as nações mais desenvol-vidas. O escape que a macroeconomia nos oferece deapresentar indicadores de contas externas positivas,pela exportação, pelos investimentos baseados emconjuntura de sobra de recursos estrangeiros, sobrasde divisas, e tantas outras características que conhe-cemos hoje pode nos condenar ao passado, a voltar-mos a ser uma nação simplesmente exportadora deprodutos primários, que é o que está acontecendo.Você não pode apresentar o Brasil como tendo ga-nhos de conquistas na área externa se esses ganhossão na exportação de minério de ferro, de soja e sucode laranja para a China, porque torna-se vulnerávele comparável a países que estão fazendo neste mo-mento o mesmo esforço e, eventualmente, com maissucesso.

Há cerca de um mês eu estive no exterior, em umdebate sério sobre esse assunto. Trata-se de condenara criatividade e a competitividade da indústria brasi-leira à falência por razões macroeconômicas e subor-dinar uma coisa a outra. Diz-se: “Não faz mal, por-que voltaremos a ser exportadores de minério de fer-ro.” Ou: “O Brasil é o celeiro do etanol no futuro.” Ocombustível do futuro é o álcool de cana, que aqui seproduz com muito mais economia do que a beterrabaou o milho nos Estados Unidos. Pouco importa, por-que, neste momento, a África está produzindo canacom indicadores de produtividade melhores que os

nossos e até aprendendo conosco. Ficamos preocu-pados com os Estados Unidos e com a beterraba eu-ropéia e esquecemos que Angola, Moçambique,Tanzânia, etc. são também capazes. Aí, todos os ar-gumentos são imbecis, do tipo: “Mas lá não tem gen-te.” Não tem? A China está comprando a África. Vocêpõe 100 milhões de chineses trabalhando de graça naagricultura africana. Você vai produzir álcool muitomais barato, com igual padrão de qualidade. Daqui apouco, se quiser, vai extrair minério de ferro e petró-leo, porque é o único caminho que você pode ter paraum País como o Brasil, ou seja, criar uma marca pró-pria, como os Estados Unidos fizeram, no seu tempo– vamos comentar isso em seguida –, na identificaçãodas suas qualidades, da sua dimensão, da sua diversi-dade, das suas lacunas, das suas deficiências e conse-guir formular um País que aproveite isso, tudo embenefício de uma abertura que agregue valor ao restodo mundo, e não de uma abertura que simplesmentereceba as sobras do resto do mundo, que é o que estáacontecendo hoje.

Acabei de ler um livro interessante. Já o tenho há al-gum tempo, mas às vezes compramos um livro e odeixamos; lemos um pouco e paramos. O título é: Tem-pos muito estranhos. Alguns talvez tenham lido, é a his-tória dos Roosevelts nos Estados Unidos. É um livrobem escrito, cativante, sedutor no curso da leitura,que retrata os Estados Unidos no período de FranklinRoosevelt, de 1930 até a sua morte, nos meados daSegunda Guerra Mundial, quando o Harry Trumanassumiu como Vice-Presidente. A América, em 1930,era uma desgraça: um país corrupto, pobre, institucio-nalmente racista, excludente, portanto; não tinha in-dústria competente; tinha indústria competente para

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eletrodoméstico, mas era uma indústria incompleta,não agregava tecnologia. O livro é muito interessan-te, muito cáustico. Os americanos roubavam tecno-logia da Inglaterra, produziam com mais competên-cia, com mais volume, mais economia naquilo quenão criavam.

Na corrida armamentista, que ocorreu por conseqüên-cia da Segunda Guerra Mundial, Churchill pediu, porfavor, aos americanos que ajudassem a fabricar des-troyers, aviões, navios, etc., e ofereceu o que os ame-ricanos não tinham: engenheiros. Eles tinham fábri-cas, mas não tinham cuca. Não tinham projeto.

Então, é muito engraçado você ver a posse de Roose-velt, em 1932. Havia um acampamento em Washing-ton com quase 100 mil desabrigados, sem-teto queeram soldados da Primeira Guerra Mundial, desvali-dos, largados às traças. A Primeira Guerra Mundialhavia acabado mais de 10 anos antes e era uma des-graça, não havia nada. Havia muita pobreza. Então,foi-se construindo um país. É claro que houve acele-ração devido ao esforço de guerra, mas o fato é que aAmérica conseguiu encontrar o seu caminho por sejulgar capaz de produzir, olhando para frente, vendoqual era o seu projeto, que incluiu iniciativas na áreaenergética, não sem luta. A primeira dama, Eleanor,era oposição ao marido o tempo todo. Mas ela se dei-tou no rio, no curso d’água, para impedir a criação deuma barragem hidrelétrica ao norte do Arizona, por-que era uma reserva natural ou coisa que o valha.

O fato é que encontrar um projeto de desenvolvimentonão é coisa que se faça sem dor. E não há de ser comexemplos internacionais de minutos, como o atualGoverno brasileiro formula ao apresentar o seu pro-

jeto macroeconômico, comparando com baixa infla-ção em Singapura. O Henrique Meirelles adora dizer:“Em Singapura...” Singapura tem dois milhões de ha-bitantes. Cabe em Nova Iguaçu. É uma coisa elemen-tar, não faz sentido esse tipo de coisa.

O que se propõe, então? Sem projeto não se sabe aon-de se vai. Não se sabe se fica dependente de favoresou de migalhas. Quer dizer, as grandes corporaçõesbrasileiras, as de natureza industrial, hoje, estão to-das, quase sem exceção, voltadas para levar a sua pro-dução para o exterior. O grupo Gerdau não investemais no Brasil, investe no exterior, constrói fábricasno exterior – nos Estados Unidos. A Companhia Valedo Rio Doce está migrando de alguma forma. Nãoque ela deixe de extrair o minério aqui, mas ela temrecursos, ela cria canais de enriquecimento do seuproduto e tantas coisas fora do Brasil. Grandes em-presas entenderam que os fatores ligados à produtivi-dade do Brasil, por falta de orientação, não têm capa-cidade de subsistir quando se trata de investimentosde longo prazo, de alto valor, e que exigem regulaçãoe um projeto.

Qual é o projeto brasileiro que se espera ter? Aqueleque informe que a nação gosta de empreendedorismo,que ela preza a criatividade, que ela valoriza o desen-volvimento científ ico, enfim, que ela estimula a melho-ria tecnológica e que mostra que ela gosta do trabalhoe da livre iniciativa.

Os sinais que a nação recebe do seu atual Governo éde que ela não gosta do empreendedorismo, não esti-mula a criatividade, pune os que trabalham, não puneos que se capitalizam de forma indireta. Não há nissoqualquer ilegalidade, mas é uma forma um pouco ar-

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tificial de capturar recursos que são obtidos por co-missões fora de propósito no mercado financeiro in-ternacional e tantas outras características. E ficamosaqui aguardando que o dia chegue, aumentando asdespesas públicas, que são cobertas por aumentos sis-temáticos da carga tributária, tratando da questão fi-nanceira como se fosse uma mera questão de juros,não entendendo que o crédito tem de ser uma coisautilizada com especificidade muito mais sofisticadado que se fez perguntar, qual é o juro, mas quais sãoas garantias, quais são os prazos, quais são os condi-cionamentos, e com todos os defeitos que significa oenfrentamento não formulado e não conseqüente daquestão social brasileira. Não formulado e não con-seqüente porque ele é sujeito a pressões de curto pra-zo, a questões menores, a improvisações que são de-correntes de interesses políticos localizados. E tudoisso amparado pelo Governo Federal, capaz de for-mular projetos de desenvolvimento, uma coalizãopolítica, que é o que estamos assistindo diariamente.E não é só por causa do Renan Calheiros. Acontecehá anos, a partir do momento em que se descortinouaquilo que muitos já conheciam, mas de cujo deta-lhamento não tinham tomado conhecimento, por cons-ciência, por recursos de toda natureza, de parlamen-tares que deveriam dever seus mandatos, sua obriga-ção àqueles que os elegeram, como é próprio, e quepromessas podem ser adiadas sistematicamente.

Não acredito que no atual estágio de formulação téc-nica, de segurança jurídica, de amparo legislativo, deconservadorismo na atividade parlamentar, como ovemos, e de tantas outras características, possa acon-tecer nos próximos dois anos qualquer tipo de inicia-tiva parlamentar conseqüente no sentido do desen-

volvimento. Não estou querendo dizer que não vaihaver reforma. Aqueles que dizem que vai haver es-tão iludidos. Aliás, fala-se há tanto tempo e não acon-tece nada. Só vejo a confirmação disso, promessasvazias de que vai acontecer a famosa reforma tributá-ria. Reforma tributária coisa nenhuma. Não vai acon-tecer nenhuma enquanto não acontecer uma reformamuito mais sofisticada do próprio pacto federativobrasileiro, uma vez que os governadores dos estadosnão podem acreditar ou aceitar que vai haver umaredução em suas receitas pela atuação junto ao Im-posto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços(ICMS), como se pretende, de forma superficial. Nãovai haver reforma política porque não há iniciativagovernamental que pretenda fazer marola nessa ques-tão. Muito menos a reforma previdenciária, que é umaquestão que se estuda e se fala, mas que não se co-nhece. Então, se não há essa possibilidade, muitomenos a da aceitação, de orientação fundamentada.

Para culminar o quadro da lamentável ausência deformulação, o Presidente da República convida oMangabeira Unger para ser Ministro do Futuro. Nãosei se algum dos senhores o conhece pessoalmente. Éuma pessoa adorável. É capaz de falar sobre qualquerassunto com igual impropriedade. É o contrário daspessoas que falam com propriedade sobre qualquerassunto, ainda que desagradavelmente. Não é dissoque estamos tratando. Estamos tratando da capaci-dade de mobilizar a sociedade para escrever o quequeremos. Temos bases sólidas de natureza institu-cional para isso – essa irreversível aceitação brasileirapelo processo democrático, pela liberdade individual,pela liberdade de locomoção, pela liberdade de cren-ça, de raça e tantos valores que foram consagrados

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não só na legislação, mas na cultura brasileira. Nossoponto de partida é admirável, excepcional. O perfildemográfico apresenta-se de forma mais positiva, coma queda dos índices de natalidade, com o trabalho queé feito com a juventude e tantos ganhos que se têmno Brasil por sua capacidade de mobilizar.

Jomar, você falou do Cristo Redentor. Esse é umexemplo claro disso. A sociedade brasileira é umabobagem. Não sei se posso dizer que é uma bobagem,mas votei mais ou menos 300 vezes no Cristo Reden-tor. Bastava ficar apertando o botão. O mundo nãosabia que havia tanta gente, tantos eleitores aqui. Masse você mobiliza a sociedade por qualquer questão,não entendo porque não se consegue mobilizar porvalores e por projetos que possam ser, efetivamente,consagrados em um País em que se consegue inculpara Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, pelos atra-sos no licenciamento de duas hidrelétricas no rio Ma-deira, que têm uma importância relativamente baixana questão energética brasileira, como se isso fosse apanacéia de todos os nossos males, quando a culpa éda ausência do Ministro da Minas e Energia, do Presi-dente da Eletrobrás, do Presidente de Furnas, do Pre-sidente das Centrais Elétricas do Norte do Brasil(ELETRONORTE) há meses. Estruturas sem dire-ção. E no jogo político menor que se faz resolvematacar uma parte que parece mais frágil, que é o Insti-tuto Brasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosNaturais Renováveis (IBAMA), porque ele é mais frá-gil que a Eletrobrás. Só que a Eletrobrás não existemais, não tem Presidente, não tem Diretor, não temnada. Então, não consegue formular as coisas. Nessequadro, acho que a sociedade não governamental naqual estamos poderia com muita propriedade tomar a

iniciativa. Tenho falado isso aqui muitas vezes, e nãovejo uma resposta positiva a isso.

Eu dirijo duas ou três organizações. Uma delas é aFundação Bio-Rio, na Ilha do Fundão, que lida comtecnologia, com criatividade, com ciência. Na área daciência biológica o campo é fértil, mas ninguém querse machucar, porque os campos políticos, muito mar-cados, condenam, dentro de uma universidade comoa Universidade Federal do Rio de Janeiro, o fato devocê levantar uma voz que atrapalhe o estamentocorporativo da universidade, é quase a morte. É algocomplexo. Você acaba ouvindo: “Não podemos su-bordinar o interesse público ao interesse privado.” Ointeresse privado é: eu sou um empresário e querodesenvolver um produto na base da ciência e datecnologia. “Ah, você não é do Governo. Você certa-mente tem algum interesse escuso. Alguma coisa comoo lucro, por exemplo, pode ser a sua motivação. Issonão é possível, é inaceitável.” Então, não anda.

A mesma coisa acontece no Instituto Brasileiro deExecutivos de Finanças (IBEF), que é um institutointeressante aqui no Rio que trata da parte financeirae congrega não empresários na aceitação clássica dapalavra, ou seja, donos de empresas ou responsáveispelo capital, mas sim executivos da parte contábil, daparte de planejamento, do controle de empresas. OIbef tenta formular regras de auditoria, mas esbarranas barreiras do conservadorismo, porque não há noPaís nenhuma orientação de natureza libertária quepermita assim: vamos deixar fluir idéias. As universi-dades estão cada vez mais fechadas sobre os seus prin-cípios corporativos, e temos grande dificuldade de teresse tipo de aceitação.

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Falando aqui no Conselho de Turismo, sempre pode-mos lembrar que existem assuntos e setores que são,naturalmente, chave para o desenvolvimento brasi-leiro. Podem-se listar 100 deles. Mas certamente umadas atividades na qual poderíamos estar avançadís-simos é o desenvolvimento do turismo em uma épocada globalização, em que as barreiras de natureza polí-tica cada vez mais são derrubadas, em que a UniãoEuropéia dá o show que está dando; tendo sido criadahá mais de 20 anos, começa a se mostrar já há algumtempo. Se fosse um colóquio na mesa de um bote-quim, eu diria: “Os Estados Unidos já eram, estãoconstruindo um muro entre a América e o México,um muro físico, de concreto, de quatro metros de al-tura, como se isso fosse eficaz para manter um proje-to.” Ao mesmo tempo, está a Europa estudando a en-trada da Turquia, juntando todos aqueles países docentro europeu: Hungria, Tchecoslováquia, Polônia,novos pólos de desenvolvimento, agregando tecno-logia, com cargas de trabalho e intercâmbio excelen-tes. Acabou a questão internacional dentro da Euro-pa, e ficamos brincando de Hugo Chávez, como sefosse uma coisa do tipo: vamos ser todos contra os

Estados Unidos. É a palavra de ordem lida na mentedo Marcos Aurélio Garcia, no Palácio do Planalto.Então, não dá para pensarmos de brincadeira nisso.Não há modelo de desenvolvimento brasileiro.

O chamamento que se pode fazer no momento é queas nossas lideranças, fora do Governo, assumam issode forma coordenada. Não é fácil, porque não há tam-bém identificação clara de quais são essas lideranças,sendo que a maioria delas, se não está cooptada, éadesista, dados os ganhos de natureza macroeco-nômica e o sucesso efetivo – que é real – da questãodo dinheiro no bolso da população. Só que estamosplantando um problema seriíssimo no futuro quandoperdemos a liquidez internacional, quando perdermosa indústria que temos, aquela que se relaciona com oexterior, e quando o nosso agronegócio é definitiva-mente punido pela ousadia de se basear na iniciativaprivada.

11 de julho de 2007

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“Histórico do Turismo no Brasil, compreen-dendo os anos de 1955 a 2007.” É um trabalho depesquisa interessante que ela fez. Ao buscar a funda-ção deste Conselho, encontrou dados interessantíssi-mos e fez um estudo comparativo da evolução do tu-rismo daquela época até hoje, falando das tendênciase das sugestões dadas naquela ocasião.

Eu me diverti muito fazendo este trabalho. E fiqueimuito triste também. Essa idéia foi pesquisada da se-guinte forma: o Presidente, Oswaldo Trigueiros, mecedeu, gentilmente, a Ata de fundação do nosso Con-selho, que data de 10 de agosto de 1955. Essa Atatem vários anexos que estavam separados. Mas pelodocumento que tenho, exceto por esses anexos (nosanexos, geralmente, estavam as grandes falas de al-guns dos Conselheiros), acho que podemos, juntos até– porque é uma palestra bastante informal desta veze que diz respeito à vida e à história profissional de

todos nós –, comentar um pouco o que era o turismoem 1955, quais eram as angústias, os desejos, daque-les empresários que aqui estavam, há 52 anos, e quaissão hoje as nossas angústias e as tendências do turis-mo. A primeira coisa que eu gostaria de perguntar aossenhores e às turismólogas presentes é: quais são asgrandes tendências e o que acontece no turismo hoje?

Sávio, você que é um empresário muito atuante, diga-me: qual é a grande preocupação do turismo hoje?Cite dois problemas, preocupações ou angústias.

O SR. CONSELHEIRO SÁVIO NEVES FI-LHO – Acho que uma é a promoção do destino; ea outra são os meios de atingir uma maior visitaçãodo destino.

A SRA. CONSELHEIRA MAUREEN FLORES– Aumento do número de turistas. Podemos traduzirassim, Sávio?

HISTÓRICO DO TURISMO NO BRASIL(1955-2007)

Maureen Flores

Pesquisadora de Estudos Avançados de Turismo e Hotelaria da Fundação Getúlio Vargas

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O SR. CONSELHEIRO SÁVIO NEVES FILHO– Podemos.

A SRA. CONSELHEIRA MAUREEN FLORES– Luiz Brito, que está atuante na Companhia de Tu-rismo do Estado do Rio de Janeiro (TurisRio).

O SR. CONSELHEIRO LUIZ BRITO FILHO –Pelo lado positivo do nosso colega Conselheiro, con-cordo com ele, mas vejo o outro lado da história. Anossa via sempre foi a operacional.

A SRA. CONSELHEIRA MAUREEN FLORES– Cite um problema, não conte uma história.

O SR. CONSELHEIRO LUIZ BRITO FILHO –Aeroportos e infra-estrutura.

A SRA. CONSELHEIRA BEATRIZ HELENABIANCARDINI SCVIRER – Insegurança.

A SRA. CONSELHEIRA MAUREEN FLORES– Insegurança ou segurança? Segurança.

O SR. CONSLEHEIRO HARVEY JOSÉSILVELLO – A falta de conscientização dos órgãosconstituídos – municipais, estaduais e federais –, queprecisam tratar o turismo com mais profissionalismo.

O SR. CONSELHEIRO ORLANDO MACHA-DO SOBRINHO – É preciso que as portas dos ga-binetes estejam abertas para discutir o turismo.

A SRA. CONSELHEIRA MAUREEN FLORES– Quer dizer, um apoio maior do setor público.

O SR. PRESIDENTE (OSWALDO TRIGUEI-ROS JR.) – Acho que o Governo, que é nosso princi-pal parceiro, planeja muito e realiza pouco.

Planejamento

A SRA. CONSELHEIRA MAUREEN FLORES– O que você chama de agente de turismo? Defina.

O SR. CONSELHEIRO JOÃO FLÁVIOPEDROSA – Aquele que antes considerávamoscomo agente de viagem.

A SRA. CONSELHEIRA MAUREEN FLORES– Eu ia perguntar a ele.

O SR. CONSELHEIRO GEORGE IRMES –Transportes em geral.

A SRA. CONSELHEIRA MAUREEN FLORES– Transportes em geral.

O SR. CONSELHEIRO GEORGE IRMES –Transportes em geral, seja ele aéreo, rodoviário ouferroviário. Rodoviário nós não temos nenhum. Emsegundo lugar, a capacitação dos próprios empresá-rios. Eles se capacitam muito pouco e praticamentenão se reciclam.

A SRA. CONSELHEIRA AQUILÉA CORREAHOMEM DE CARVALHO – Uma preocupaçãoque ainda temos é a qualificação da mão-de-obra.

O SR. CONSELHEIRO DALTRO ASSUNÇÃONOGUEIRA – Considero muito importante a falên-cia do relacionamento entre agentes de viagens e decompanhias aéreas, que antigamente eram parceirose hoje se tornaram inimigos íntimos. Um depende dooutro e o mais forte sufoca o mais fraco.

O SR. CONSELHEIRO GEORGE IRMES – Pos-so complementar? Na realidade, todos os fornecedo-res são, hoje, nossos inimigos. O hoteleiro já está

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vendendo com diárias mais baratas do que aquelasque você negociou durante seis meses.

A SRA. CONSELHEIRA MAUREEN FLORES– Na verdade é um novo ambiente para o agente deviagem. Existe, hoje, um ambiente hostil.

O SR. CONSELHEIRO DALTRO ASSUNÇÃONOGUEIRA – Maureen, o agente de viagem do meutempo acabou, não existe mais. As agências de via-gem, hoje, são completamente diferentes.

O SR. CONSELHEIRO MAURO JOSÉ DEMIRANDA GANDRA – Quero dizer uma coisa queo Irmes me ensinou. Aprendi com ele há cerca de 15anos. Acho que o maior problema do nosso turismointerno é o desvio dos recursos que seriam de lazerpara pagar plano de saúde, segurança e educação. Fizuma conta, há algum tempo, e custava mais ou menosR$ 12 mil para uma família de classe média viajar paraa Europa, se não tivesse que pagar esses serviços, quedeveriam estar embutidos nos impostos que pagamos.Não foi isso que você me ensinou, Irmes?

O SR. CONSELHEIRO GEORGE IRMES – Aocontrário, foi o senhor quem me ensinou isso.

A SRA. CONSELHEIRA MAUREEN FLORES– Nely, algum comentário? Um ou dois grandes pro-blemas do turismo hoje para você.

A SRA. CONSELHEIRA NELY WY SEABAURRE – Você freqüentou, graças a Deus, osbastidores do Banco Interamericano de Desenvolvi-mento (BID) e de outras entidades financeiras mun-diais. Fiquei pensando em todo esse dinheiro que vem

para o Brasil, sobre o qual se pagam tantos juros – oPrograma de Desenvolvimento do Turismo (PRODE-TUR) e Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo(PROECUTUR) –, que não é pouco. Poderíamos terfeito uma revolução neste País se deixássemos essedinheiro nas mão dos técnicos. E até hoje isso nãoocorreu. Gostaria de receber notícias dessa caixa pre-ta que é o dinheiro do BID e do Banco Mundial quevem para cá. É um mistério. Sabemos que ele existe,mas não o vemos aqui. Isso não é novo, já existe háseis ou sete anos. Será que podemos saber onde está odinheiro que veio para alavancar o turismo no Brasil?

O SR. CONSELHEIRO ORLANDO MACHA-DO SOBRINHO – Precisamos, também, de umpouco de seriedade nessa área de segmentos econô-micos. Estamos percebendo que não existe serieda-de. Trabalha-se com números majorados. Trabalha-secom verbas? Trabalha-se para não fazer o que é deverdas autoridades. Aquilo que o funcionário público temo dever de fazer e não faz.

Outra coisa: vou dar um nome apenas, mas ainda nãoposso estruturar. Estou até pensando em pedir as lu-zes da nossa Conselheira Maria Luiza de Mendonça,que é Procuradora da Fazenda.

O SR. CONSELHEIRO GEORGE IRMES –Maureen, há mais duas coisas: o câmbio e uma outra,da qual me esqueci.

A SRA. AQUILÉA CORREA HOMEM DE CAR-VALHO – O problema do visto.

A SRA. CONSELHEIRA MAUREEN FLORES– Perfeito. Eu estava esperando chegar a esse.

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Então, vamos lá. Eu fiz um sumário de 14 itens queforam mencionados aqui:

Promoção – temos um problema da parte da deman-da. A demanda para o turismo opta por outras açõesque reduzem essa capacidade de consumo; infra-es-trutura; segurança; planejamento; ambiente hostil paraas agências de viagem; temos vários recursos – não édo meu conhecimento essa idéia dos projetos com fi-nanciamento internacional e como esses mecanismosse aplicam no desenvolvimento desses projetos; te-mos vários problemas: de capacidade empresarial; deausência de pesquisa – já há pesquisa, mas não é sufi-ciente; de transportes; de qualificação; de câmbio evisto.

Pode passar para a próxima tela.

No dia 10 de agosto de 1955 os empresários, aquireunidos na primeira reunião deste Conselho, quandoele foi instalado, apontaram os seguintes problemasdo turismo:

Vistos para cidadãos norte-americanos – esse era omaior problema há 52 anos.

O outro problema era a cooperação entre o poderpúblico e a iniciativa privada.

Outro era a Balança Comercial. Nesse sentido é atépositivo hoje, porque naquela época havia um pro-blema sério de instabilidade. Hoje a Balança Comer-cial está mais equilibrada.

Um problema que se discutia fortemente era a neces-sidade de haver uma legislação específica para o tu-rismo.

Rotina burocrática – isso foi dito pela pessoa que re-presentava o que seria hoje a Empresa de Turismo doMunicípio do Rio de Janeiro (RIOTUR), que estavasentada à mesa – no final, vou mostrar os nomes. Aexpressão “rotina burocrática” eu tirei da própria ata,porque não se entendia, naquela época, como é que oturismo poderia se desenvolver, porque eles não conhe-ciam o mecanismo da rotina pública de ação deste.

Um outro problema é que o setor privado não tinhacapital suficiente para fazer os investimentos. Então,havia necessidade do aporte do setor público. Se nãohouvesse aporte do setor público, não haveria inves-timento.

Um outro problema seriíssimo era a qualidade dasrodovias.

Vocês estão começando a ver porque eu ri e porqueeu chorei.

E a última coisa, que achei bastante interessante –era a verdade daquela época –, é que não havia ne-nhuma preocupação ambiental com nenhum tipo deinvestimento a ser feito. Essa não era uma considera-ção na mesa. Essa é uma colocação minha, não exis-tia. Eu documentei a ausência.

Então, vamos, agora, pegar cada um daqueles temas.Vou começar a comentar a extensão deles.

Para minha surpresa, descobri que em 1955 – há 52anos, portanto – o Conselheiro Umberto Straman-dinoli, que era do Serviço Internacional de Viagens,disse nesta casa que havia uma lei que tinha sido re-gulamentada no Congresso Nacional que proibia asolicitação de visto para cidadãos norte-americanos.

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Essa lei existe, foi regulamentada. Só que havia umgrande problema: apesar dessa lei ter sido regulamen-tada, a embaixada brasileira nos Estados Unidos con-tinuava a obrigar o cidadão americano a comparecerà embaixada brasileira para receber um carimbo depassaporte que dizia: “Isento de visto”. Isso em 1955.

Eu até pergunto ao Pedro Fortes, que advoga até hojeessa causa – parece que agora vamos ter o GeorgeBush ao nosso lado, pois eles estão querendo eliminarde lá para cá – se existe uma lei regulamentada. Nãosei se ela foi revogada. Achei bonita a expressão (tudoo que está entre aspas eu tirei da ata): “Conseguimosno Congresso Nacional após ingente luta regulamen-tar a lei que autoriza o Governo a dispensar o visto.Entretanto, o regulamento obriga o cidadão america-no a comparecer ao Consulado para receber no seupassaporte o carimbo: o visto foi dispensado.”

O SR. PRESIDENTE (OSWALDO TRIGUEI-ROS JR.) – Que absurdo!

A SRA. CONSELHEIRA MAUREEN FLORES– É de 1955. Está documentado em ata.

O SR. CONSELHEIRO SÁVIO NEVES FILHO– Esse carimbo custa US$ 100.

A SRA. CONSELHEIRA MAUREEN FLORES– Rodovias. Os senhores notem que, há 52 anos, nes-ta mesa não existia nenhuma companhia aérea. Eramtodos representantes de transportes que estavam re-lacionados a rodovias – era o Automóvel Clube ou oTouring Club. O Automóvel Clube fez um apelo àCasa. Eles precisavam de apoio ao DepartamentoNacional de Estradas de Rodagem (DNER) para me-lhorar a qualidade das rodovias, sinalizá-las e conse-

guir informações sobre elas – sobre o estado da artedas rodovias.

O SR. CONSELHEIRO ORLANDO MACHA-DO SOBRINHO – O autor disso deve ter sido oGeneral Santa Rosa.

A SRA. CONSELHEIRA MAUREEN FLORES– Então, vejam: há 52 anos havia aqui, nesta Casa,um grupo de empresários discutindo a má qualidadedas nossas rodovias e como isso impossibilitava osucesso do turismo brasileiro.

Quais eram os principais destinos turísticos nacionais?Toda essa agenda fala de um movimento de turismodoméstico e só o turismo internacional como nós sendoreceptivo do internacional; não se fala nessa agendado exportativo.

Por favor, lembrem-se de que estou me referindo aum documento, a uma ata, na qual havia um grandedestino: Campos de Jordão. O que se discutia nestamesa era o problema da circulação entre Minas Ge-rais – Caxambu, principalmente – e Campos de Jordão.

Eles tinham péssima qualidade nas rodovias, um pro-blema sério de infra-estrutura e não havia informa-ção sobre a qualidade das rodovias. Quer dizer, ondeestivesse eu não conseguia saber como estava a qua-lidade da rodovia, e não havia sinalização. Na verda-de, houve uma grande vitória do setor, que foi narra-da nesta Casa: eles conseguiram uma redução de per-curso. Foi feita uma obra perto de Itajubá. Para ir deMinas a Campos de Jordão você tinha de dar uma voltade quase 15 quilômetros por Lorena ou São João dosCampos, se não me engano. Quer dizer, descia parasubir. E conseguiram fazer um novo curso. Achei

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muito engraçada a expressão “cidade de veraneio”,porque já não a ouvimos ou usamos.

O SR. CONSELHEIRO ISAAC HAIM – Gosta-ria de lembrar também que entre 1953 ou 1955 – te-nho uma agência desde 1953 – tínhamos muitos pro-blemas no turismo. Por exemplo, precisávamos de vistode saída. Para sair do País, na época, precisávamoster declaração negativa do Imposto de Renda paraconseguir o visto. Tínhamos muitos problemas tam-bém no turismo.

A SRA. CONSELHEIRA MAUREEN FLORES– Obrigada. É porque isso não está mencionado, e eunão sabia. Muito obrigada por sua contribuição.

Da hotelaria, que eu também achei muito interessan-te. Nessa ata de 1955 o Presidente da Associação Bra-sileira da Indústria de Hotéis (ABIH), aqui sentado,disse que desde 1949 já existia aquela prática da rea-lização dos eventos anuais. E o que eu achei muitointeressante foi o seguinte: o objetivo maior da ABIH– essa frase foi retirada da ata – era “Criar a mentali-dade turística no povo brasileiro, fazendo dos hote-leiros também ‘hóspedes de vez em quando’ nos con-gressos que realiza em diferentes cidades.”

Hoje, entendemos essa prática do rodízio, vamos di-zer assim, entre cidades. Isso vem de uma cultura de50 anos atrás, quando havia essa visão de que o hote-leiro também precisava ser hóspede.

É interessante ver as cidades que são mencionadascomo pólos importantes: Belo Horizonte, Poços deCaldas, Campos de Jordão, Santos, Petrópolis, Curitibae Salvador, na Bahia. Quer dizer, aqui já temos Poços

de Caldas e Santos, cidades que hoje já não constammais no mapa do turismo, vamos dizer assim.

Da oferta hoteleira

A grande discussão desta mesa sobre oferta hoteleiraem 1955 era que havia uma demanda grande para umprojeto que aumentasse a capacidade hoteleira da Ci-dade do Rio de Janeiro. Dizia-se que se tentássemosrealizar um evento para 1.500 pessoas, por exemplo,não haveria capacidade hoteleira suficiente para essasobrecarga. E eles queriam que fossem hotéis de qua-lidade, porque se pensava, naquela época, que os tu-ristas norte-americanos – que constituíam o nossomercado prioritário – tinham alto poder aquisitivo.

E aí fala-se sobre esse mercado de eventos. Naqueleano aconteceu o 36º Congresso Eucarístico Interna-cional, que, pelo que pude ler na ata, foi um grandeevento. Quando um dos empresários presentes tomoua palavra, disse: “Acabamos de realizar o 36º Con-gresso Eucarístico Internacional. Havia muito pessi-mismo em relação à realização deste evento. Espera-va-se uma enorme confusão, as maiores dificuldades,que os transportes da cidade não fossem suficientes;e esperava-se que no momento deste evento todas asoutras deficiências da cidade fossem acentuadas.” Naverdade, senhoras e senhores, dizia o Conselheiro:“Tudo transcorreu como uma verdadeira maravilha.”Para uma cidade que acabou de sair dos Jogos Pan-Americanos, tenho a impressão de ter lido isso hoje.

E o empresário finaliza desta forma o seu aparte:“Quando há boa vontade esses empreendimentos sãobem realizados.”

Da participação de todos os atores. Aqui se via, na-

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quele momento, a participação da sociedade para odesenvolvimento do turismo. A hotelaria achava quenão somente o setor privado tinha de participar dodesenvolvimento do turismo. Eu achei interessante egrifei um pensamento deles: “Ou” – achei interessan-te o “ou” – “as Forças Armadas ou o setor científico,o povo, no sentido da ciência, têm de contribuir parao desenvolvimento do turismo.” Vemos a idéia queexistia, naquela época, em 1955, de que o saber, apesquisa só poderia sair das Forças Armadas, porquenão existia um arcabouço acadêmico, científico quepudesse dar fundamento à atividade turística.

E qual era a visão do turista?

Estes empresários aqui tinham uma grande preocu-pação: eles achavam que o turista chegava aqui e eraexplorado. Eles tinham muito medo da segurança doturista e achavam que este Conselho deveria intervirjunto aos órgãos competentes para que houvesse maiorsegurança.

Da propaganda, promoção

Havia, naquela data, o Departamento Nacional deIndústria e Comércio. Não sei bem o que seria isso,mas imagino que era alguma coisa como a Federaçãodas Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN)ou como o Ministério do Desenvolvimento, Indústriae Comércio Exterior. A pessoa que representava esseDepartamento colocou à disposição do Brasil e daCidade do Rio de Janeiro seus 15 escritórios no exte-rior e disse que veicularia toda e qualquer propagan-da nas suas revistas. Essa era a estrutura de propa-ganda inicialmente imaginada.

Como esses empresários enxergavam o turismona economia nacional?

Achei muito interessante esta frase desse empresário:“Apesar do seu aspecto idealístico – o turismo, na-quela época, era uma coisa muito ligada a sonho, emuito pouco ligada à atividade econômica –, o turis-mo precisa ser encarado com senso objetivo em ter-mos de economia.” Isso há 52 anos. “O turismo pre-cisa ser uma expressão de riqueza, como o café, a ex-pansão da produção agrícola e o desenvolvimento daindústria.”

Essa é a minha favorita. Esse era, naquele momento,o maior projeto imaginado para o turismo brasileiro.A idéia era construir um grande centro chamado Cen-tro Balneário Turístico de Copacabana, com 1.500apartamentos em quatro prédios naquela área vaziado Arpoador que pertence ao Exército, e criar um tú-nel chamado Linha Oceânica por trás, com marina,que ligasse o Arpoador a Copacabana. Imaginem umprojeto como esse hoje. Imaginem se haveria licençaambiental para uma coisa como essa. Nunca. E qualera o objetivo? Primeiro, argumentava-se que era pre-ciso aumentar a oferta hoteleira. O segundo argumentoera que o Brasil, o Rio de Janeiro – naquela épocaBrasil e Rio de Janeiro meio que se fundiam – nãotinha nenhum hotel de beira de praia, como há noCaribe, e que já era muito tarde para que isso aconte-cesse, o que eles chamavam de gávea, porque já esta-va começando a passar aquelas primeiras avenidas.Então, continuaríamos sem um hotel na areia, comohá no Caribe, com a rua passando atrás do hotel. Nãopassa pela frente. E o grande objetivo era construirum centro no qual o turista pudesse ficar sete dias,

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sem sair. Quer dizer, exatamente o contrário do quese advoga hoje para a atividade turística, ou seja, queo turismo tem de interagir com a cidade, e não ficardentro de um complexo.

A proposta de financiamento era: o setor privado vaiconstruir 1.500 UH – unidades habitacionais e o se-tor público vai construir todo o complexo e abrir paraconcessão de todos esses empreendimentos. Um ou-tro problema é que eles queriam construir teatros,porque diziam que naquela época o único teatro bomdesta cidade era o do Copacabana Palace. Esse proje-to não aconteceu por causa do Exército – graças aDeus! Esse tipo de empreendimento é que a Espanhaestá implodindo hoje. Era um momento do turismode 50 anos atrás e que não existe mais. As prefeiturasda Espanha estão implodindo vários hotéis com essemodelo.

Quais eram as tendências de mercado naquela época?Isso é muito interessante, senhores, quando olhamosex-post, ou seja, quando olhamos o fato já passado.Naquela época, esses empresários – pessoas sérias,competentes e donos dos seus próprios negócios –acreditavam que a tendência do Brasil de receber tu-ristas internacionais era vantajosa em relação ao Mé-xico, no sentido do poder aquisitivo do cliente. Porquê? Porque já era do conhecimento desses empresá-rios que éramos um destino de longa distância e que oMéxico era um destino próximo, com fronteira comos Estados Unidos e com o Canadá.

Vou fazer um parêntese: neste documento não hámenção à Europa. Os únicos mercados aqui são Es-tados Unidos e Canadá.

Então, o raciocínio, a análise de tendência, a visão decenário naquela época era a seguinte: se o México estápróximo dos Estados Unidos, irá para o México oamericano de baixa renda, porque a viagem custa pou-co; e virá para o Brasil aquele americano rico, dispos-to e apto a pagar mais. Por isso, precisamos ter umahotelaria luxuosa, para que possamos receber o turis-ta norte-americano ou canadense que possa e estejadisposto a vir para o Brasil.

Quer dizer, há 52 anos, low cost, sem internet, sem arevolução completa que aconteceu no mundo globa-lizado, onde esse tipo de tendência e raciocínio nãose aplica mais de jeito nenhum. Essa era a visão demercado na época.

Aqui foi que pensei em você, Irmes: American Societyof Travel Agents (ASTA). Eu ainda peguei a Astacomo uma coisa forte. Ela congregava todas as gran-des agências de viagens dos Estados Unidos. E comotudo nos Estados Unidos é muito grande, eles têmsempre aquela tendência de tornar tudo deles mun-dial. Então, a Asta era quase uma associação mun-dial. E naquela data, em 1952, eles estavam se esfor-çando para criar um comitê pró-Asta para trazer umcongresso, que acho que aconteceu aqui no Rio deJaneiro.

O SR. PRESIDENTE (OSWALDO TRIGUEI-ROS JR.) – Aconteceu.

A SRA. CONSELHEIRA MAUREEN FLORES– Ela ainda existe. A Confederación de OrganizacionesTurísticas de la América Latina (COTAL) também.São entidades que a garotada que está estudando tu-rismo hoje não conhece.

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Mas elas perderam a sua força. Eu cheguei a pegar aforça da Asta.

Dos atrativos. Também achei isso interessante. O quese vendia como atrativo na cidade do Rio de Janeiroem 1955?

Corcovado, Tijuca (aqui está escrito Tijuca, mas euimagino que seja a Floresta da Tijuca), Pão de Açú-car, Petrópolis e Teresópolis. Só saiu Teresópolis. Achoque entrou Búzios e Paraty. Mas eu diria, senhores,que não houve uma grande revolução. Houve, Irmes?

Esta é uma coisa triste – acho que isto nós, infeliz-mente, não perdemos: o ufanismo brasileiro. Um dosConselheiros, falando da importância do turismo, donosso território, das nossas belezas, me disse esta pé-rola: “No Brasil se aplica a frase relativa aos domí-nios do Carlos V: onde o sol nunca se punha.” Nãoperdemos isso, continuamos com essa idéia de nosfazer mais importantes no mundo do que realmente omundo nos vê.

O SR. CONSELHEIRO ORLANDO MACHA-DO SOBRINHO – Está aí a vã filosofia também: amentira muitas vezes repetida soa melhor do que averdade.

A SRA. CONSELHEIRA MAUREEN FLORES– Está dito. Acho que vi mudanças positivas. Entreelas está a ação do Instituto Brasileiro de Turismo(EMBRATUR). Não estou dizendo que ela é ótima,que é boa ou que é mais ou menos, mas vemos queem 50 anos há uma estrutura de promoção no País.Em 50 anos ela evoluiu para uma reunião em que sediscutia que o primeiro movimento era uma ação deuma cessão de escritórios para veicular propaganda.

Hoje temos uma estrutura de promoção com o PlanoAquarela, com eventos. Pode-se discutir a verba, aforma, mas ela está estruturada no País.

Vimos, também, a saída Governo/empresário, queacho positiva. Essa saída do Governo/empresário dosetor de turismo e a característica do turismo comoum setor de natureza privada. O papel do Governofoi definido como de um ajudante, um facilitador, nãocomo empresário. No turismo brasileiro o Governonão tem mais hotel. Isso já ficou no passado.

Outra coisa que eu acho positiva é que, realmente, aoferta hoteleira se consolidou. Em alguns lugares elaaté cresceu demais, mas foi consolidada.

Acho também – aí é a minha área – que a preocupa-ção ambiental, a consciência ambiental é uma revolu-ção em todos os projetos. Mas ela não tem nem 50anos – eu diria que tem pouco mais de 20. Não temmais de 30 anos. E acho que o turismo, na sua nature-za, mudou. Em 50 anos, discutimos aqui este modelode turismo enclave, all-inclusive, que é o modelo doCaribe. Foi o modelo da costa mexicana por muitotempo, e hoje esses países entendem que isso está er-rado; estão gastando muito dinheiro para mudar, parase reposicionar. Não apenas para mudar em termosde obra civil, mas para mudar o seu perfil de hotelaria.O Caribe principalmente ainda sofre muito com oreposicionamento do seu parque hoteleiro, para ser“o tal” do turismo sustentável, que não permite maisessa configuração de all-inclusive, com o turista imerso.Já quer a integração.

Então, acho que esse papel do turismo como um ins-trumento integrador entre o turista e a sociedade fi-

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cou muito bonito e muito mais amplo. Acho que oturismo, nesse sentido quase de um instrumento so-cial, no seu sentido maior, globalizado, cresceu e seembelezou. Ele ficou maior, mais nobre do que eraimaginado há 52 anos.

Não vou me deter nos aspectos negativos, pois achoque isso vai ser objeto de discussão de todos nós.

Vou dar apenas mais alguns dados: em 1955 o Presi-dente deste Conselho era o Presidente da CNC, paraque os senhores tenham uma idéia da importância queesta Casa dava ao setor de turismo. O Presidente des-te Conselho era o Presidente da CNC. E no dia-a-dia,quando não podia comparecer ele delegava a Presi-dência ao seu Tesoureiro – Rivadávia Caetano da Sil-va. Eu tenho apenas um nome aqui: João Vasconcellos– não sei quem é.

Esses eram alguns dos Conselheiros que estavam aquipresentes que eu consegui identificar, porque havia onome, mas nem sempre havia a organização, a insti-tuição à qual ele pertencia.

Os que consegui identificar foram o representante doDepartamento de Turismo e Certames da Prefeiturado Distrito Federal – que é a nossa Riotur hoje –, oTouring Club, o Departamento Nacional de Indústriae Comércio – que eu já citei –, a Associação Brasilei-ra de Hotéis, Associação Brasileira de Turismo – queeu não sei bem o que é, não sei se é uma avó da Asso-ciação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV).

Será que é, Irmes?

O Centro de Navegação Transatlântica – único re-presentante da área de transportes que não era rodo-

via. Na ata verifica-se que ele fez apenas um apartepara falar sobre uma revista que estava sendo publi-cada em inglês e que ele também gostaria que fossepublicada em francês. Também achei interessante, poishoje seria alguma coisa que não estaria na mesa.

A hotelaria era representada pelo José Tjurs – destetambém me lembro; para quem não sabe, Hotel Na-cional; Silvio A. Santa Rosa, do Automóvel Club, e osenhor Umberto Stramandinoli, do Serviço Interna-cional de Viagens e Turismo S.A., que é o nosso PedroFortes de 52 anos atrás. Há outros membros, que nãoidentifiquei pela instituição.

E qual era a função deste Conselho, definida em ata –porque essa era a sua ata de abertura? Organismoeminentemente prático, de ação positiva, de planifi-cação possível.

Agora vou falar de algumas das limitações deste tra-balho. Quero que vocês entendam que há muito tem-po peço ao Presidente que me dê acesso a essa ata.Eu já havia comentado com o Presidente, dizendo:“Presidente, acho que vamos encontrar tantas repeti-ções do presente que vai ser até assustador. Mas tam-bém acho que vamos encontrar alguma coisa boa; eeu tinha muita vontade de saber que coisas boas sãoessas, onde é que elas estão.” Há uma passagem nes-sa ata, que fala exatamente o que um dos senhoresmencionou aqui. Essa Diretoria de Certames, que é aRiotur, se oferece para participar desse esforço doturismo. Ela entende que é da sua competência. Masela diz textualmente: “Temos poucos funcionários eeles não são capacitados. O setor público no Brasilnão está preparado para essa investidura, para essemovimento.”

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Então, dentro das possibilidades de tempo e de ou-tros documentos que eu teria de acessar, conseguipinçar isso que eu trouxe para os senhores hoje. Achoque esse é um objeto de reflexão, tamanha a coinci-dência que existe entre o passado e o presente, comintervalo de cinco décadas.

Eu gostaria, sinceramente, de fazer uma proposta, umapelo, uma solicitação a esta Casa, ao Presidente, aosConselheiros se acharem que essa é uma idéia produ-tiva, importante. Pelos meus cálculos deve haver, hoje,umas 3 mil atas. Eu gostaria que todas essas atas fos-sem tratadas e transformadas na história do turismopelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial(SENAC), porque reparei que no final há nomes deconselheiros sem as suas instituições. Eu confesso quenão quero que alguém leia o meu nome, daqui a 50anos, e me coloque em “outros”. Acho que nenhumdos senhores e senhoras aqui presentes gostariam dis-so. É impressionante como os documentos, que exis-tem nesta Casa hoje são o retrato deste setor. Achoque se pudéssemos tratar esses documentos, teríamos

quase uma curva histórica para olhar para frente. Eveja que essa pesquisa científica que começa a acon-tecer hoje não existia há cinco décadas. A garotada quesai da universidade hoje está procurando um norte.Essas pessoas precisam ter acesso ao que fez e ao quefaz a história do turismo. O retrato está aí.

Imaginem se no início da discussão dos vistos o PedroFortes tivesse tido acesso a toda essa luta dos vistosde 52 anos atrás. Não creio que isso fosse reduzir aluta dele, mas seria uma argumentação histórica, comvalor documental, e até com valor legal – não sei seessa lei foi revogada ou não. Acho que é um apoio.Precisamos conhecer a nossa história e passá-la adian-te. Quem sabe assim evitamos que alguns erros se re-pitam.

Muito obrigada. Espero que os senhores tenham gos-tado da palestra.

8 de agosto de 2007

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Vou falar rapidamente sobre o conceito implan-tado. É importante definir alguns aspectos que seimplementaram a partir desse processo. Na verdade,o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Simila-res do Município do Rio de Janeiro começou comoAssociação de Cafés Finos, fundada em 1911, na Ci-dade do Rio de Janeiro. Ganhou a estrutura represen-tativa patronal a partir da legislação de Vargas, nosidos do Governo Getulista, quando se definiu a legis-lação sindical.

Nossa formação é contábil, mas militamos na hotela-ria. Nosso grupo familiar entrou no ramo da hotelariano final dos anos 70; e eu comecei a me aproximar dapolítica empresarial a partir do final dos anos 80, quan-do a situação do Rio, vamos dizer assim, estava umpouco difícil. Eu achava que um empresário sozinhonão poderia lidar com todas as dificuldades que se

apresentavam naquela época. Nesse momento, pas-sei a militar na Associação Brasileira da Indústria deHotéis (ABIH) Rio de Janeiro, na qual passamos adesenvolver um processo de gestão financeira que noslevou a nos aproximarmos do Sindicato, que há cercade cinco anos e meio atrás passou por uma grandereformulação. Um grupo de empresários de grandeporte do Rio de Janeiro se aproximou do Sindrio eentendeu que ele estava sendo, vamos dizer assim,mal potencializado. E em um processo de participa-ção ativa da gestão, à época, conseguiu, então, se apre-sentar como alternativa e se elegeu para a diretoria doSindicato.

A proposta de trabalho desse grupo, do qual faziamparte redes hoteleiras como a Luxor, e grandes ca-deias de alimentação como Bob’s e outras empresasde grande porte no Rio de Janeiro, entendia que era

SINDRIO - FUNCIONAMENTO, ATUAÇÃO,PROJETOS, PROPOSTAS E POLÍTICAS

Alexandre Sampaio de Abreu

Presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Município do Rio de Janeiro

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importante democratizar. O Sindicato, na época, ti-nha quatro diretorias somente. Era uma gestão extre-mamente fechada, e a proposta desse grupo era nosentido de democratizar e trabalhar proativamentepara a categoria. Para os senhores terem uma idéia,passamos de quatro diretorias para 23 diretorias, oque permitiu a democratização e a transparência to-tal, com objetivos definidos a partir do planejamentoestratégico feito à época.

Então, temos premissas básicas de funcionamento doSindicato, que se dão em um suporte logístico opera-cional para pequenos e médios empresários.

Vocês sabem que o Sindicato lida com um espectrode base extremamente diversificado. Trabalhamoscom microempresas, como bares, em variados bairrosna Cidade do Rio de Janeiro. Essas microempresas, àsvezes, têm dois ou três empregados, e o próprio pro-prietário faz a lide no dia-a-dia. Trabalhamos tambémcom empresas sofisticadas, como hotéis cinco estre-las, com um grande número de empregados. Então,essa variedade de diálogo ou de necessidades que es-ses empresários enfrentam tem de levar o Sindicato ater também uma flexibilidade no tratamento a essesuporte, no entendimento com essa base empresarial.

Temos suporte logístico para as pequenas e médiasempresas; temos prestação de serviço para a catego-ria como um todo e atuação política no apoio ao setoreconômico. Ou seja: era importante, a nosso ver, queo setor de alimentação e hotelaria do Rio de Janeirotivesse uma representatividade política mais ativa,juntando forças com outras entidades patronais quejá militavam no meio – especificamente a ABIH, naparte de hotelaria –, mas que ainda careciam, na área

de alimentação, de um canal, de uma verbalização quepudesse ser proativa em relação aos pleitos e às difi-culdades que se apresentavam até então.

Relacionamento institucional. É claro que entende-mos que o Sindicato tem de desenvolver um processoplural de diálogo com as entidades patronais, como aCNC, da qual fazemos parte umbilicalmente a partirda vinculação à Federação Nacional de Hotéis, Res-taurantes, Bares e Similares (FNHRBS), no desenvol-vimento de uma teia de relacionamentos que poten-cialize a nossa ação. E procurarmos definir a formade atuação em regiões, transcendendo o Municípiodo Rio de Janeiro.

Qual é o objetivo? Desenvolver produtos, serviços,técnicas e ferramentas que facilitem a vida de empre-sas associadas.

Temos uma enorme gama de serviços que são presta-dos à nossa categoria. Elas se dão no âmbito da rela-ção sindical, ou seja, existe uma relação apenas ins-titucional, sob o aspecto legal, e existe um relaciona-mento com aquelas empresas que são associadas. Paraestas, que são hoje um pouco mais de duas mil no Riode Janeiro – algumas até fora do Rio de Janeiro –,fazemos um processo de prestação de serviços jurídi-cos gratuitos, inclusive na lide trabalhista, na área cível,comercial, criminal, com plantão de 24 horas, paraatendimento a qualquer tipo de dificuldade que oempresário tenha em seu funcionamento diário, en-volvendo amparo legal, assessoria jurídica, no tocan-te também às três esferas públicas. Também inte-ragimos na parte da municipalidade, principalmentepara hotéis, e em nível de impostos federais também.

Capacitamos pessoas por meio de cursos direcionados

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aos segmentos. O Sindicato, nesses últimos cinco anos,por intermédio da Coordenadoria de Formação eQualidade formou e capacitou inúmeros funcionáriospara as mais diversas áreas do setor de alimentação ehospedagem.

Temos um banco de empregos extremamente ativo eoferecemos mão-de-obra às diversas categorias. Ouseja, reciclamos essa mão-de-obra e aperfeiçoamosessa gestão de pessoal a partir de capacitação especí-fica ou genérica.

De que forma? Dividimos a nossa estrutura funcio-nal, administrativa em coordenadorias: CoordenaçãoJurídica, Coordenação de Qualidade e Formação,Coordenação de Comunicação & Marketing. E temosuma Subcoordenação de Informação de Web e umaSubcoordenação de Pólos Gastronômicos.

Estamos sediados no centro com 41 funcionários ati-vos. Temos uma subsede no Recreio dos Bandeiran-tes já funcionando, em parceria com a Associação Co-mercial e Industrial do Recreio dos Bandeirantes.Estamos, agora, implantando duas subsedes: uma emBangu, com a Associação Comercial de Bangu, e aoutra no Campo de São Cristóvão, com a Prefeitura,por meio de uma parceria com a Secretaria Municipalde Trabalho. E segundo o nosso planejamento,estamos abrindo uma grande área de treinamento naZona Sul do Rio de Janeiro. Isso está em curso. En-tão, prefiro não adiantar os detalhes, mas vamos abriruma grande sede de treinamento, que vai ser a nossavolta à Zona Sul do Rio de Janeiro, porque o Sindica-to já teve uma sede na torre do Rio Sul. Aliás, temosum andar inteiro ali que está locado. Preferimos, nes-sa fase em que assumimos, fazer uma racionalização

administrativa. Era importante fechar aquele setor,reformulando todo o processo funcional, e, a partirdaí, reiniciar a expansão.

Para vocês terem uma idéia da nossa diretoria, o nos-so Primeiro Vice-Presidente é o Manuel Marques,empresário do ramo de alimentação extremamenteconhecido como dono do Petisco da Vila, do Baiãode Dois e do Restaurante da Quinta, que muitos denós freqüentamos. O Segundo Vice-Presidente é oPaulo Bezerra de Mello, da Rede Othon. Temos umadiretoria eclética, mesclando hoteleiros e empresáriosde Gastronomia. Temos, por exemplo, o RicardoBomeny, que é o Presidente da Rede Bob’s, o MárioChady, que é Presidente da Rede Spoleto, o AlfredoLopes, que é Presidente da ABIH e é também nossodiretor. Em suma, mesclamos, trazendo empresáriosextremamente representativos da área de alimentação,de entretenimento e de hotelaria. Temos uma direto-ria plena, que se reúne trimestralmente, que avalia aconsolidação do planejamento e que tem uma direto-ria executiva que se reúne mensalmente, fazendo cum-prir todos os projetos aprovados. Ela é formada peloFernando Pinheiro, do Restaurante Rian, pelo PauloAntônio Ubach, um dos sócios da rede Delírio Tropi-cal, pelo Pedro De Lamare, proprietário da Rede GulaGula, e pelo Luis Antônio Cunha, proprietário do gru-po Nova Ipanema e que tem inúmeras casas, no Riode Janeiro. Para que vocês possam se lembrar, é con-cessionário da Rodoviária do Rio de Janeiro e proprie-tário do Barril 1800, que foi reinaugurado ao lado doFasano, na praia de Ipanema. Temos a superintendên-cia do José Darcílio Junqueira Reis, empresário tam-bém da área de alimentação que nos ajudou e queestá trazendo seu expertise gerencial. Por ter sócios na

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sua rede de alimentação, ele pôde se dedicar um pou-co mais à gestão do Sindicato. Procuramos dar a linhamestra de atuação, cobramos a questão da eficiência,dos resultados práticos, mas nossas Coordenadorassão as grandes atrizes de todo o processo. Estão aquipresentes a Carla Riquet, da Coordenação de Quali-dade e Formação, a Kátia P. Watts, Coordenadora deComunicação e Marketing, a Maria Neuriam Almeida,da Coordenação Jurídica, a Sheila Bassoul, da Coor-denação de Web, e a Flávia Almeida, da Subcoor-denação de Pólos Gastronômicos.

Voltando para as empresas, como já foi mencionadoanteriormente, desenvolvemos produtos, serviços etécnicas que facilitem o funcionamento das empresasassociadas. Fornecemos amparo legal e assessoria ju-rídica, criamos relacionamento de acesso para solu-ção de dificuldades, realizamos encontros mensalmen-te, em vários pontos da Cidade do Rio de Janeiro, emque, com uma dinâmica de duas horas, ouvimos osempresários e procuramos facilitar o diálogo com asautoridades na especificidade da área em que ele temproblemas e também levamos expertise e inovaçãotecnológica e inovação gerencial.

Dentre os produtos que podemos mencionar, criamos,agora, uma pesquisa dinâmica que já é referencial paraa política de cargos e salários. Esse é um grande pro-blema que havia no Rio de Janeiro, havia uma distorçãomuito grande em relação à massa salarial. Então, oSindicato criou parâmetros que representam real econcretamente o que a média do mercado paga. Apartir de um detalhamento muito interessante e bas-tante dinâmico e fácil, que o empresário pode consul-tar via web, ele afere se o potencial de colocação da

demanda de mão-de-obra que ele precisa está de acor-do com o mercado ou se aquela especificidade queele procura tem algum plus no sentido da remunera-ção a ser dada. Essa ferramenta encontra-se on line,para consulta das empresas associadas.

O Banco de Oportunidades é uma via de mão de du-pla, pois é alimentado por solicitação das empresas etambém por nós, que fazemos uma pré-seleção. En-tão, se a empresa precisa selecionar algum profissio-nal, nós nos habilitamos a fazer essa pré-seleção paraeles. Uma estrutura funcional permite fazer isso; e jáestamos ampliando, por meio de parcerias, comterceirização, para casas que abrem e precisam, porexemplo, de cerca de 200 funcionários de uma vez só.Fazemos todo o processo seletivo. Entrevistamos se-gundo os parâmetros colocados pelo empresário, fa-zemos todo o processo de pré-seleção e entregamosao RH da empresa o processo seletivo já definido. Nãoé somente para o nível operacional; ele vai até o nívelgerencial, passando por especificidades que são mui-to próprias de casas, com determinado nível de atua-ção, um pouco mais direcionado.

Dados de empregabilidade do setor no Rio de Janeiro.Desenvolvemos um grande trabalho de pesquisa. Pre-cisávamos criar, em uma sistemática de desenvolvi-mento de propostas políticas, alguns números confiá-veis com o levantamento de dados estatísticos. En-tão, contratamos o economista Mauro Osório e esta-mos desenvolvendo um ferramental de trabalho quevai se materializar a partir de agora, no segundo se-mestre, com uma divulgação de dados trimestrais quese baseiam em três propostas básicas. Fizemos umgrande estudo sobre a empregabilidade do Rio de Ja-

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neiro no setor de alimentação e hospedagem nos últi-mos 10 anos. Analisamos sob o aspecto do empregoformal, Relação Anual de Informações Sociais (RAIS)e Cadastro Geral de Empregados e Desempregados(CAGED), e sob o aspecto do emprego informal, coma Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios(PNAD). Fizemos um comparativo dos últimos 10anos, acrescentamos 2005 e levantamos alguns da-dos importantes. Conjugados, agora, com um convê-nio com a Secretaria Municipal de Fazenda no tocan-te ao Imposto sobre Serviços (ISS) e ao Imposto Pre-dial e Territorial Urbano (IPTU), e com a SecretariaEstadual de Fazenda no tocante ao Imposto sobreCirculação de Mercadorias e Serviços (ICMS), vamosconseguir consolidar isso em uma pesquisa de campo,em que será feita uma amostragem de 100 empresas,mensalmente. E vamos publicar um estudo, o momen-to comparativo sobre o impacto do Produto InternoBruto (PIB) na economia do Município. E aí talvezvamos tentar usar isso para o Estado também, ou seja,falar sobre a importância do setor de alimentação,hospedagem e entretenimento na economia carioca.Isso vai se dar a partir da experiência de emprega-bilidade, pegando a tendência de geração de impos-tos. E a partir das informações das empresas, serágerado um dado estatístico confiável.

Verificando rapidamente esses dados de análise parafazer esse estudo, notamos uma coisa muito interes-sante: o Rio de Janeiro registrou a maior participaçãodo setor de alimentação na geração de empregos for-mais de todo o Brasil. Durante o ano de 2005 gera-mos 4,2% de empregos. Foi o dado nominal da avalia-ção do Rio de Janeiro, que é, simplesmente, quase odobro de outras cidades. Então, isso é importante, pois

caracteriza o Rio de Janeiro como um tremendo em-pregador na área de serviços de entretenimento e ali-mentação. E é, possivelmente, o setor que vai conti-nuar liderando na questão da empregabilidade. Ve-mos que nesta década crescemos 26% em relação aesse processo. Na análise da década, o setor de em-pregos dos setores multidiversificados cresceu resi-dualmente muito pouco, e o setor de alimentação cres-ceu exponencialmente no mesmo período. E o Rio deJaneiro continua mantendo o segundo lugar, em âm-bito nacional, quanto ao número de empregos gera-dos – 60.456 em 1995 e 76.164 em 2004. É um nú-mero muito próximo da cidade de São Paulo, que con-tinua sendo a maior empregadora.

Em relação à Hospedagem há até um detalhe: o Riode Janeiro ultrapassou a cidade de São Paulo comomaior empregadora de hospedagem no Brasil no to-tal. Aqui cabe uma ressalva: é lógico que a Cidade deSão Paulo tem muitos flats, mas os de aluguel não es-tão atrelados à nossa base sindical. Muitos se caracte-rizam como unidade vinculados ao Secovi, que sãofuncionários dos chamados Sindicatos de Porteiros oufuncionários afins. De qualquer maneira, é um dadoimpactante nesse processo. Mesmo havendo um de-créscimo de 20% nos estabelecimentos, uma quedana década, uma diminuição do número de estabeleci-mentos, continuamos liderando no processo de maiorcidade empregadora.

Quanto ao emprego formal, o setor de restaurante temcontribuído fortemente no total de empregos compu-tados em 2005. É um dado curioso. É claro que SãoPaulo, sendo uma cidade onde houve um processo degeração de emprego mais robusto do que no Rio de

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Janeiro, tem de ter um número sobre o processo totalda economia das empresas maior que o Rio de Janei-ro. Entretanto, no tocante ao aspecto do nosso setor,somos percentualmente mais expressivos.

Cursos. Temos parcerias com diversas instituições.Fazemos também cursos indoor. Também fazemoscursos com outras instituições por meio de processosde convênio. No ano passado, por meio de um convê-nio com o Serviço Nacional de Aprendizagem Co-mercial (SENAC), oferecemos cursos com uma assi-natura conjunta – isso está para ser renovado. Nãoqueremos entrar na área da academia. Entretanto, te-mos de potencializar esses processos. Queremos par-cerias com as universidades, para que possamos ofe-recer descontos para funcionários do nosso sistema.Nas mais diversas instituições – algumas aqui presen-tes – oferecemos descontos e conveniamos descon-tos para os profissionais das empresas associadas.

Clube de negócios. Entendemos que todo processode portal de compras no Rio de Janeiro – ou em qual-quer lugar do Brasil – há uma dificuldade básica. Qualé? Um portal de compras tem de ser auto-sustentável.Ele não pode funcionar sem cobrar de alguma ponta– na ponta vendedora ou na ponta compradora. Éfundamental que ele se remunere. Como não estamosnecessariamente voltados para a questão de geraçãode lucros, somos uma estrutura que é mantida peloempresariado, dando a ele todos os recursos e funcio-nalidade, concebemos um produto de última geraçãoque não tem custo. Qual é? É totalmente auto-sus-tentável pelo Sindicato e cria um ambiente extrema-mente prático, objetivo e moderno de gestão de com-pras on line.

O SindRio oferece assessoria jurídica, orientações,pareceres, defesas e recursos nas áreas Trabalhista,Cível (locações, contratos, consumidor, Responsabi-lidade Civil, etc.), Tributária (IPTU, ICMS, ISS, Sim-ples, etc.) e Administrativa (Procon, Vigilância Sani-tária, Feema, Ministério do Trabalho, Comlurb e ou-tros), com conhecimento específico adquirido navivência dos principais problemas da categoria. E te-mos, hoje, um corpo de advogados de 14 profissio-nais, a maioria voltada para a área trabalhista. Algunsestão voltados para a área comercial, cível, e outros,voltados para a área criminal, funcionando 24 horas.Hoje o pequeno empresário paga uma mensalidadede praticamente R$ 30 até, no máximo, para um ho-tel cinco estrelas, abaixo de R$ 400,00, gozando degrande benefício da gratuidade plena de todos os ser-viços.

Além da ação pontual, como, por exemplo, o aspectoque envolve a nossa atividade jurídica, também atua-mos em um processo proativo, às vezes em conjuntocom a Federação, quando envolve ações federais. Emprocessos de situações municipais e estaduais, às ve-zes ajuizamos contra a inconstitucionalidade de algu-mas legislações promulgadas pelas Casas Legislativas.

Recentemente tivemos um caso, com uma lei queobrigava que todos os temperos fossem acondiciona-dos em sachês, e entendemos que não era possível.Como você vai acondicionar uma mostarda Dijon emsachê? É uma coisa meio complicada.

O SindRio obteve inconstitucionalidade da lei dos10%, que aconteceu no ano passado, que obrigavaque todo o recolhimento de 10% fosse destinado ape-nas aos garçons. Primeiro, isso tem de ser facultativo,

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não pode ser obrigatório. Segundo, os 10% são arre-cadados para todo o corpo de funcionários, e não ape-nas para os garçons. E conseguimos a vitória jurídica.

Ninter (Órgãos do Núcleo Intersindical). Na premis-sa que vocês conhecem da legislação que criou osNúcleos de Conciliação Trabalhista, o Ninter atua naconciliação regulada por lei, mediante a tentativa deacordo entre empregado e empregador. Para cumpriresse papel, é dotado de comissões paritárias compos-tas por representantes dos patrões e empregados. OSindRio interage com três núcleos de sindicatos labo-rais: Sindicato dos Garçons, Barmen e Maîtres do Es-tado do Rio de Janeiro (SIGABAM), somente de maî-tres e garçons, o Sindicato de Trabalhadores nas em-presas de Refeições Coletivas, Refeições Rápidas (fastfood) e Afins do Estado do Rio de Janeiro (SINDIRE-FEIÇÕES), somente de fast food, e Sindicato dos Tra-balhadores no Comércio Hoteleiro e Similares. En-tão, lidamos com três convenções salariais. São todasda mesma base, mas temos de ter três níveis de diálo-go, com espectro extremamente amplo.

O Ninter é considerado, hoje, pela Delegacia Regio-nal do Trabalho (DRT), pela Justiça Trabalhista doRio de Janeiro e pelo Ministério Público do Trabalhodo Rio como um exemplo de gestão isenta de Nú-cleos de Conciliação, que presta serviços significati-vos à categoria sem gerar nenhum tipo de atrito oucontestação judicial sobre o que ali está acordado.

De janeiro a julho de 2007 o Ninter realizou 606 con-ciliações, sendo que no ano passado realizou pratica-mente mil conciliações.

Na parte de Comunicação e Marketing, o SindRio temum informativo produzido mensalmente, com tiragem

de 4.000 exemplares, que são distribuídos às empre-sas associadas, trazendo novidades, conquistas, notí-cias, alertas, esclarecimentos para todo o segmentode hotelaria e gastronomia.

Estamos criando uma nova revista específica para oano que vem, um pouco mais sofisticada. Estamostentando segmentar um pouco essa nossa comunica-ção, para ter mais eficácia.

Além disso, temos uma participação na Folha de Turis-mo com uma coluna mensal e apoiamos sites insti-tucionais, que interagem através de um link com onosso site, como Malagueta, VRio e Sabores e Letras,todos ligados à área de gastronomia – exceto o VRio,que é ligado ao turismo.

O Sindicato tem sindicatos itinerantes, que são visi-tas a regiões da cidade, fazendo uma dinâmica de par-ticipação junto com os empresários no tocante às suasdificuldades. Os temas são escolhidos de comum acor-do com a base e geralmente convidamos um órgão,uma autoridade, para poder facilitar o processo dediálogo em busca de soluções. Muitas vezes um em-presário pequeno tem muita dificuldade para resolvero problema com a Companhia Estadual de Águas eEsgotos (CEDAE). O Sindicato faz essa ponte, esselink, levando a autoridade envolvida para se explicar,detalhar, esclarecer o que afeta o problema da região.Geralmente, a presença é extremamente representati-va. Procuramos limitar ao máximo a 40 ou 50 pes-soas. Quem vai é o dono, o gerente ou o sócio.

Fóruns. Fóruns de Governança, Manutenção, Con-troller, A&B – que fazemos em conjunto, inclusive,com a ABIH – e RH. Essa troca de experiência é ex-tremamente significativa e enriquecedora.

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Campanhas institucionais. Atualmente, estamos fa-zendo uma campanha fundamental. Entendemos quedepois do acidente do ano passado que matou aque-les cinco jovens na Lagoa seria importante que o se-tor se posicionasse, para poder conscientizar o jovemno tocante à direção segura, sem beber. Então, procu-ramos incessantemente uma comunicação, ou pelomenos uma visão prática de como é que poderia seresse diálogo. Encomendamos um estudo a uma em-presa e ela idealizou uma campanha chamada “Anjosda Night”, que está em curso, acontecendo na Cidadedo Rio de Janeiro às sextas e sábados, em que umgrupo de jovens vestidos de anjos ficam parados nasportas das boates em determinado momento, quandoos jovens começam a acessar essas casas, por voltadas 23 horas, com mensagens lúdicas e conclamando-os a ter consciência. Assim: “Não se esqueça de queestou aqui te esperando, não beba.” Eles voltam àstrês ou quatro horas da manhã, quando os jovens es-tão saindo, e têm um comportamento proativo. To-dos são atores contratados; e se percebem que algu-ma pessoa está um pouco mais alcoolizada, acompa-nham-na até o carro, tentando fazê-la desistir da idéiade pegar o seu carro, e ir de táxi. Há outras peças muitointeressantes, que são colocadas nos banheiros dascasas noturnas, com mensagens também, incitandoos jovens a não dirigir, caso se encontrem em estadoalcoólico exagerado. E há alguns itens muito engraça-dos. Por exemplo, fazemos adesivos que não vão arra-nhar o carro, mas que são colocados ao redor da fe-chadura do automóvel, com a mensagem: “Se vocênão acertar na primeira tentativa, desista e pegue umtáxi.”

O programa Trilha Jovem. Entendíamos que era fun-

damental nos envolvermos no processo de formaçãode qualidade de jovens de localidades carentes e queseriam aliciados para o crime. Então, em conjunto como Governo Federal, por intermédio do Ministério doTurismo, com parceiros como o Instituto de Hospita-lidade e Unisuam, executamos, desde 2006, o progra-ma Trilha Jovem, de capacitação de jovens para o se-tor de hospedagem e alimentação no Rio de Janeiro.Já fizemos duas turmas. Estamos indo para a terceira.Eles passam por um processo seletivo bastante eficien-te na questão da potencialidade desses jovens. Va-mos dar um curso com capacitação plena para queeles possam se empregar. Então, ele sai dali com umavisão, com capacitação, podendo realmente ser apro-veitado pelo mercado de trabalho de maneira rápida.

Dos 109 jovens formados na turma de 2006, 65% seencontram inseridos formalmente no mercado de tra-balho.

Dos 230 jovens da turma de 2007, 167 trabalharamdurante os Jogos Pan-Americanos como voluntáriosou como contratados das empresas prestadoras deserviços.

Tivemos a presença da Ministra do Turismo na últi-ma turma formada recentemente.

Hoje o Sindicato do Rio de Janeiro é o maior do Bra-sil da nossa categoria em termos de associados ati-vos, maior que São Paulo, inclusive. O Sindicato doRio é municipal. A maioria dos sindicatos do Brasilsão intermunicipais ou estaduais. O Rio de Janeiroherdou essa sistemática por causa do antigo Estadoda Guanabara. Somos um Estado com oito sindica-tos, e temos no Rio de Janeiro o maior sindicato em

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termos de associados. Como eu disse, maior que SãoPaulo, que é um sindicato intermunicipal. Ainda é oprimeiro Sindicato da FNHRBS em termos de ação,orçamento e atuação. E, com certeza, hoje, em ter-mos de representatividade, superamos São Paulo. Emtermos de hospedagem a nossa relação é bastante sig-nificativa, quase metade dos hotéis do Rio de Janeirosão nossos associados.

Cursos. Podemos ser acessados não apenas pelas em-presas, mas também por pessoas que queiram se ha-bilitar e se empregar no nosso setor. Fazemos a pré-seleção, inserimos no nosso banco de mão-de-obra online e os nossos associados conseguem consultar onosso Banco de Oportunidades, on line, podendo,eventualmente, selecionar ou identificar aquele pro-fissional que tenha a qualificação por ele desejada.

Para os senhores terem uma idéia, tivemos, de janeiroa julho de 2007, 49 turmas, 464 participantes e 824horas/aula.

Currículos recebidos: 8.985. Currículos encaminha-dos: 5.132. Empresas solicitantes: 419. E colocamosaté agora 1.350 funcionários nesse processo.

Novos projetos. Empreendedorismo. MBA em ges-tão de Negócios de Alimentação – parceria com aUniversidade Veiga de Almeida (UVA). O Sindicatocoloca-se à disposição de todas as entidades da aca-demia no sentido de agregar valor ou de colocar a suamarca em conjunto. Na modelagem pedagógica, nãovamos fazer curso de MBA. Apenas assessoramos coma nossa consultoria e passamos a integrar o conselhopedagógico desses cursos. O Sindicato coloca-se àdisposição de outras instituições inclusive para assi-

nar a questão de oferta de cursos, como, por exemplo,na área de MBA de hotelaria ou de alimentação. Acha-mos que é necessário expandir a oferta, principalmentea mão-de-obra gerencial para o nosso setor.

Relacionamentos – Comunicação. A comunicaçãodesenvolve todo o processo de divulgação comercialde eventos, cursos, Banco de Oportunidades, Aten-dimento ao Cliente e Jurídico. Além disso, temos paraos nossos associados e para os seus funcionários oGuia de Descontos e Benefícios, um amplo guia dedescontos que vão desde cursos de inglês até droga-rias que oferecem descontos substanciais para os as-sociados.

Eventos. Acabamos de assinar um convênio com oConselho Regional de Contabilidade (CRC) no qualvamos iniciar uma série de palestras não só para em-presários, mas para os contadores também em rela-ção à aplicabilidade do Supersimples.

Os pólos. Estamos interagindo junto com o Senac ecom o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Peque-nas Empresas (SEBRAE), no sentido de levar proje-tos para os pólos que potencializam suas atuações.Temos financiado, por exemplo, guias e diretórios.Estão sendo feitos cursos para esses empresários dospólos e temos trabalhado em sinergia com a Prefeitu-ra para desenvolver essa sistemática, que é um gran-de diferencial para o Rio de Janeiro. Estamos, agora,participando do projeto do Centro de Abastecimentodo Estado da Guanabara (CADEG), que é voltadopara uma feira naquele espaço. Para quem não conhe-ce, o Cadeg é uma área muito interessante de vendade atacado para empresários da área de alimentação ehotelaria. Estamos fazendo ali um projeto de partici-

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pação mais direta e desenvolvendo uma ação com aAssociação dos Supermercados do Rio de Janeiro, pormeio de um grande evento que eles realizarão no Riode Janeiro, que é o Super Rio Expo Food, um Con-gresso Fluminense de Supermercados.

Campanhas promocionais. Somos co-realizadores doBoa Lembrança, que teve uma versão gastronômicade hotelaria. Pretendemos, no ano que vem – já esta-mos em gestão –, ser o co-realizadores do Boa Mesa,que acabou de acontecer em São Paulo, na semanapassada. Por incrível que pareça, a cidade do Rio deJaneiro não tem um evento gastronômico de impacto.Temos o Prêmio Vejinha, o prêmio da área de gas-tronomia do jornal O Globo; mas não temos um even-to aberto à população com um conceito gastronômico.Tivemos há algum tempo, mas o Sindicato está que-rendo resgatar esse processo. Eu não diria que estamosrivalizando direto com São Paulo porque São Paulotem uma diversidade um pouco maior do que a nossa.

Mas em termos de qualidade não ficamos devendonada a São Paulo. É importante resgatar um grandeevento gastronômico para o Rio de Janeiro, trazendonovas técnicas, incentivando os nossos chefs e a garo-tada que está se formando nas escolas de gastronomiano Rio de Janeiro.

A sede do Sindicato é na Praça Olavo Bilac 28/17°andar – Centro, telefone: 3231-6651. E a Subsede éna Av. das Américas 19.019 – sala 302 – ShoppingRecreio, telefone: 2138-9609. Possivelmente, a partirdo mês de setembro devemos inaugurar em São Cris-tóvão e Bangu mais duas subsedes, para atender a todosvocês.

Era isso o que eu queria dizer. Estou à disposiçãopara responder às perguntas.

22 de agosto de 2007

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Boa-noite a todos. É uma satisfação estarmos aquino Conselho de Turismo da Confederação Nacionaldo Comércio. Para mim é uma dupla satisfação, Pre-sidente. Sou membro desta Casa, integro este Siste-ma já há algum tempo. E a partir de janeiro deste anoo nosso Governador, Blairo Maggi, que é um empre-sário, um grande empreendedor do Estado de MatoGrosso e que tem procurado desenvolver políticaspúblicas com o perfil de modelo gestão empresarialdentro do Governo, nos convocou para que estivés-semos à frente da contribuição do Estado de MatoGrosso. E estamos aí com esse desafio.

Tenho a satisfação de mostrar um pouco do nossoEstado. Antes de passar algumas lâminas, quero mos-trar aqui um vídeo que já vai dar um certo panoramado que representa o Estado de Mato Grosso noecossistema, nos seus biomas, em suas definições eco-

lógicas e no ecoturismo do Estado. Eu gostaria, pri-meiro, que todos assistissem e, depois, vamos con-versar um pouco, mostrando o que representa o Es-tado de Mato Grosso hoje no contexto econômiconacional.

Depois dessa rápida viagem que todos fizeram pelabeleza do Estado de Mato Grosso, quero falar umpouco sobre esse Estado, sobre o que ele representa.Ele tem quase 12% de todo o território nacional. É oterceiro maior Estado brasileiro. Possui 141 municí-pios, 55 dos quais com potencial turístico, seja noecoturismo seja no turismo de negócios.

É lógico que o Estado tem uma diversidade muitogrande, e isso tem suscitado até uma certa demandapara a realização das políticas turísticas no Estado deMato Grosso. Hoje o turismo é uma política de Esta-

O TURISMO NO ESTADODO MATO GROSSO

Pedro Jamil Nadaf

Secretário de Estado de Desenvolvimento do Turismo do Mato Grosso

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do. É prioridade do Governo do Estado um trabalhocom políticas turísticas para o Estado de Mato Gros-so, como mostrou o vídeo. No final, vou exibir umoutro vídeo que mostra a nossa potencialidade eco-nômica. O Estado é hoje o maior produtor de grãosdo País. Representamos 24% de todo grão brasileiroproduzido no Estado de Mato Grosso. Somos omaior produtor de soja. Quarenta e sete por cento doalgodão brasileiro é produzido no Estado de MatoGrosso. Temos um rebanho bovino de 31 milhões decabeças.

Então, o Estado tem o seu potencial para o agro-negócio e também um diferencial: vamos realizar, nomês de setembro, o I Seminário Nacional de TurismoTecnológico, porque estamos recebendo muitos tu-ristas para conhecer a tecnologia de produção do al-godão e da soja no Brasil. Não sei se os senhores sa-bem, mas o Estado detém a maior produtividade desoja do País e uma das maiores das Américas. Chega-mos a produzir quase 80 sacos de soja por hectare emalgumas propriedades. Produzimos também o algodãode fibra longa, que é um dos poucos algodões pro-duzidos no Brasil – também é produzido no Estadode Mato Grosso. No entanto, na Bolsa de Chicagotemos a cotação do algodão de Mato Grosso dife-renciada do algodão brasileiro. Então, temos essesdiferenciais.

Em algumas regiões do Estado estão sendo implanta-das usinas de biodiesel, e esperamos, até 2010, ter asmaiores plantas de produção de biodiesel e de produ-ção de suíno e frango do País, transformando os grãosem produto de carne para a economia regional.

Cuiabá é o Centro Geodésico da América do Sul. Te-

mos 906.807 quilômetros quadrados. O Estado temuma dimensão muito grande – cerca de 12% do terri-tório nacional – e é muito pouco habitado, com 2,8milhões de habitantes. Temos três biomas muito dis-tintos. O Estado de Mato do Grosso, na sua totalida-de, faz parte da Amazônia Legal, que começa no pa-ralelo 16. O Estado todo é incluído na AmazôniaLegal. Entretanto, nem todo o Estado tem mata ama-zônica. Por isso, temos muito bem definidos os trêsbiomas, que são: o Cerrado, o Pantanal e a Amazô-nia, que são regiões que exploramos como ecoturismotambém.

O clima é tropical, semi-úmido e tropical de altitude,com chuvas de verão. Chove quase todos os dias noverão. Esse período de inverno é seco. Por isso es-tamos sofrendo com algumas queimadas, o que há unstrês ou quatro anos não tínhamos. Este ano estamoscom uma baixa umidade. Hoje a Região Metropolita-na de Cuiabá chegou a mais ou menos 18% de umida-de, com tendências de queda, porque, geralmente, emtempos passados, já teríamos chuvas ocasionais nes-ta época. E nos últimos três anos isso vem se prolon-gando. No ano passado choveu quase no final de se-tembro. Então, tivemos uma estiagem de quase 80dias no Estado, com alguns focos de incêndio. AChapada dos Guimarães já queimou cerca de 70% dasua reserva ambiental, e estamos também com umpequeno foco de incêndio na reserva da LPTN doSesc, que tem 106 mil hectares, 250 quilômetros defronteira. Esse projeto já foi apresentado aos senho-res, é o maior projeto desta Casa em termos de pre-servação ambiental. É maior do que a Holanda, e estáacoplado a um ecoresort, que tem todo o projetoambiental.

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Temos cinco pólos definidos pelo processo turísticode descentralização:

Pólo Amazônia, que pega as áreas de transição docerrado para a mata amazônica.

Pólo Araguaia, que é a região na divisa com Goiás ecom Tocantins, regiões que têm as melhores praias deágua doce do Brasil; praias brancas, de areias finas. Éuma região de muita água e produção de gado.

Pólo Cerrado, que é onde está concentrada a maiorprodução de grãos do Estado e a maior concentraçãode cavernas e cachoeiras. Temos uma região calcáriamuito parecida com Bonito, em que temos a nascentedo rio Paraguai, onde se fazem as contemplações demergulho e de flutuação.

Pólo Pantanal e a Região Metropolitana, onde vivecerca de 45% da população do Estado de Mato Gros-so. Nosso Pantanal tem uma diferença em relação aoPantanal do Sul, pois há menos água no nosso Panta-nal. Conseqüentemente, temos mais fauna e mais flo-ra. O Pantanal do Sul é mais de pesca, porque elecontém uma maior concentração de água. O nossoPantanal tem uma concentração maior dos berçáriosdas aves e da diversidade do bioma existente do Pan-tanal. E a vantagem: Cuiabá está a 250 quilômetros,por asfalto, para a Amazônia. Estamos a 110 quilô-metros do Pantanal e a 60 quilômetros da Chapada,sendo que temos vôos regulares de Brasília e de SãoPaulo direto, diariamente – cerca de 14 vôos diáriospara Cuiabá pela TAM, pela Gol, pela BRA e pelaOcean Air, fora as outras companhias regionais.

Estamos ampliando toda a nossa rede aérea e estamostambém com uma ligação oceânica, porque estamos

há mais ou menos 250 quilômetros da Bolívia e a1.900 quilômetros do Pacífico, com transporte diáriode ônibus até Santa Cruz de la Sierra.

Temos participado – inclusive com o apoio da CNC eda Federação em todos organismos – da Feira Inter-nacional de Santa Cruz de la Sierra. Estamos fazendoum trabalho na área turística lá, para integração lati-no-americana, que é uma das políticas do Governo.Estamos levando um vôo charter com 148 empresá-rios que vão participar de uma roda de negócios emSanta Cruz de la Sierra daqui a duas semanas, paraessa integração. Já estamos acertando com duas com-panhias aéreas – a Gol e a Passaredo – vôos diáriospara Santa Cruz de la Sierra, que, de avião, fica a maisou menos 50 minutos de Cuiabá e é uma região degrande produção econômica na Bolívia.

Temos o gasoduto, pois recebemos o gás da Bolíviatambém. Mas temos usinas alimentadas. Temos oXingu, que é dentro do Estado de Mato Grosso. Nãosei se todos têm conhecimento disso, mas a tocha dosJogos Pan-Americanos passou por uma reserva indí-gena no Estado de Mato do Grosso – foi a única quepassou por uma reserva –, em Campo Novo, e houvea recepção por 150 veículos de comunicação. A tochafoi recebida e de lá foi para o Rio de Janeiro. Houve,também, a abertura dos Jogos Nacionais Indígenasrealizados nessa região.

Cuiabá recebeu este ano um jogo da Liga Mundial deVôlei. Os dois jogos de Brasil e Finlândia foram reali-zados lá. E no ano que vem já está acertado: teremosos jogos da Copa América de Vôlei, porque inaugura-mos um ginásio com 12 mil cadeiras. Estamos dispu-tando, também, para ser subsede da Copa, em 2014.

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Na semana retrasada eu fiz uma apresentação aquipara o Comitê da Fifa, porque, se querem um lugardiferente, é o Estado de Mato Grosso, porque temosesses três biomas na América do Sul como CentroGeodésico desta.

Todo o Estado está dentro da área amazônica, comos benefícios fiscais da Superintendência de Desen-volvimento da Amazônia (SUDAM), mas a única áreaque é considerada Amazônia Legal, efetivamente,como mata amazônica, tem 20% do território do Es-tado de Mato Grosso e mais 25% que são áreas detransição para a Amazônia e o Cerrado. A grande dis-cussão que tivemos no ano passado foi em relação aproblemas ambientais com o Instituto Brasileiro doMeio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis(IBAMA), que foram as derrubadas nessa área. Aquinesta área podem ser derrubados 50 e 50; quer dizer,se tenho mil hectares, posso derrubar 500 hectares.Na Amazônia, se tenho mil hectares só posso derru-bar 200 hectares. E na área de transição eu posso der-rubar 50% também. Só que há uma discussão em re-lação ao que é área de transição e o que não é. Foiessa a grande problemática. Hoje já se definiu muitobem, pois se fez um inventário sobre essa questão daárea de transição.

O Pantanal representa 10% do Estado de Mato Grosso,e 45% é onde está a nossa produção. E a soja, que é agrande discussão, a vilã, só utiliza 6,5% do territórioagricultável do Estado de Mato Grosso. E assim mes-mo temos quase 18 milhões de toneladas de grãosproduzidas neste ano. No ano que vem deveremoschegar a quase 19 milhões de toneladas de grãos naprodução só de soja no Estado de Mato Grosso.

O norte de Mato Grosso é coberto, em grande parte,pela alta floresta, onde temos algumas reservas. NoCristalino, por exemplo, que tem quase 35 mil hecta-res, há uma grande contemplação e uma grandevisitação de turistas. Hoje já temos um vôo noturnodireto, diariamente, que desce em alta f loresta; e commais 30 minutos já se está nas reservas de mata ama-zônica, efetivamente, para o turista internacional.

De um total de 5,1 milhões de quilômetros quadra-dos, 18% estão em Mato Grosso, sendo que 25% doEstado é mata amazônica.

Vou falar um pouco mais sobre a Amazônia: temoshotéis de selva, com infra-estrutura completa. Temosa BR-163, na qual queremos fazer saída para o Pará,chegar a Belém para escoar o nosso grão e fazer umaligação também que amplia. Transamazônica aberta,na época da ditadura, que foi o que desbravou a gran-de parte do Estado de Mato Grosso. Metade do Esta-do foi construída economicamente com a abertura daBR-163, que estamos procurando pavimentar. Faltamcerca de 300 quilômetros para a sua pavimentação,na parte do Pará, sendo que no Estado de Mato Gros-so já está 100% pavimentada.

O turismo indígena está na Amazônia. Temos essarota, esse produto já definido, que é o Parque Nacio-nal do Xingu, uma região de muita importância para oEstado de Mato Grosso e muito procurada tambémcomo turismo exótico. Anualmente se realiza a dançae a reunião de todas as tribos indígenas, em que elesfazem as grandes comemorações. Isso aconteceu nomês passado.

O rio Teles Pires, que é um dos rios da Região Ama-zônica. Seus peixes são todos da Região Amazônica.

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O Estado tem dois tipos de peixe, com sabores total-mente diferentes, que são os peixes da Bacia Amazô-nica e os peixes da Bacia do Pratina. O sabor e a es-pécie são totalmente diferentes.

Araguaia, de onde se podem contemplar os botos. Nasemana passada tivemos um grande evento na regiãodo Araguaia, em Barra do Garças, que foi uma grandeação turística naquela região, e nossa chefe de gabi-nete ao lado dos botos no rio Araguaia, que ainda temmuitos botos.

A região é um cenário perfeito para a pesca esportiva,para esportes radicais, para ecoturismo e para misti-cismo. Barra do Garças tem um Discoporto. É umaárea para receber visitas de extraterrestres. Há, inclu-sive, muitas seitas que freqüentam aquela região anual-mente. Eles fazem congressos, porque acreditam queé por ali que se entra para o centro do universo. EsseDiscoporto foi construído para poder receber as visi-tas extraterrestres. Algumas religiões têm as suas uni-dades naquela região.

Alguém me perguntou sobre o Véu de Noiva, se ofogo já havia chegado lá, pois a Chapada dos Guima-rães está queimando. Essa queda de água aqui está amais ou menos 35 quilômetros de Cuiabá, é na regiãodo Parque Nacional da Chapada dos Guimarães. Umafauna e uma flora totalmente diferenciada por causado Cerrado. Temos, inclusive, alguns APLs (ArranjosProdutivos Locais) de produção da flora regional, queestá sendo exportada e que é dessa região do Cerrado.Em Nobres, nesta região de calcário, há roteiros defi-nidos de flutuação, de mergulhos. Há a Gruta Azul,de águas cristalinas, porque o calcário decompõe emantém essa beleza da região.

A Chapada e a Região do Cerrado é o berço das águas.No seu subsolo brotam rios que dividem três das prin-cipais bacias hidrográficas do País, que são o Platina,a Amazônica e o Tocantins, pois o Tocantins cai tam-bém no Amazonas. Temos mais de 10 mil espécies deplantas diferentes, exóticas.

O Parque Nacional da Chapada dos Guimarães temcerca de 12 mil hectares, com cachoeiras, cavernas,trilhas e sítios arqueológicos. No passado também jáforam encontradas várias ossadas de dinossauros naregião da Chapada dos Guimarães, porque lá foi mare, depois, na sua época pré-histórica de seca, fizeramesses sítios arqueológicos.

No Estado de Mato Grosso temos muitos mananciaisde água quente em várias regiões. No Araguaia, emCuiabá e em alguns municípios próximos isso tam-bém é explorado.

Temos grande turismo de aventura em Jaciara, a maisou menos 130 quilômetros de Cuiabá.

Pantanal. É um paraíso ecológico no coração do Bra-sil – bioma único no planeta. São 230 mil quilôme-tros de vida silvestre. Grande parte dela está em MatoGrosso, onde nasce e se forma.

Não sei se todos sabem por que existe o Pantanal. Éporque temos uma depressão de dois metros do níveldo mar. Então, forma-se toda essa bacia do Pantanalnessa região.

É área de preservação. O Pantanal foi declarado pelaOrganização das Nações Unidas para a Educação, aCiência e a Cultura (UNESCO) “Reserva da Biosfera”e “Patrimônio Natural da Humanidade”. É a maior

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superfície úmida do planeta. Sua flora e fauna são ex-tremamente exuberantes.

O Brasil tem cerca de 20% da água doce do mundo, e oEstado de Mato Grosso tem 6% da água doce do pla-neta. Então, temos aí uma moeda para o futuro muitoimportante, além da sua beleza natural.

Os principais destinos que temos são: Rota do Peixe,que é uma região onde temos a pesca e a alimentaçãopelo peixe. A Rota das Baías – temos baías maravilho-sas. Algumas baías chegam a ter ondas em período devento. Há ondas de dois metros em nossas baías. ARota dos Pousos Pantaneiros, que é das pousadas. ARota do Turismo Rural – as pessoas fazem questão dese hospedar em ex-fazendas. Temos cerca de 50 ex-fazendas que hoje são pousadas. Os turistas preferemestar nesse ambiente rústico, alimentado-se do alimen-to natural da região.

Temos uma grande produção de gado nessa região, por-que o pasto é natural. A cada seis meses ele se renovanaturalmente pelo ciclo da água.

Temos o maior barco de água doce do País. Ele tem 40cabines para receber até 100 hóspedes nesse hotel flu-tuante.

A primeira capital que o Estado teve foi Vila Bela. Éuma parte do Estado de Mato Grosso na região do Valedo Jaurú, extremo Oeste do Brasil. Essa parte não per-tencia ao Brasil, mas o Estado de Mato Grosso é atéonde o Tratado de Tordesilhas foi estendido. Essa re-gião, que pertencia à Espanha, mas da qual Portugaltomou conta, era a primeira capital do Estado de MatoGrosso, Vila Bela. É onde ainda há os quilombolas,uma grande comunidade negra, e está sendo preserva-

da pelo Governo do Estado como turismo cultural.Inclusive toda a sua cultura regional – suas danças, osseus ritos, etc. – é muito parecida com as culturas es-panhola, chilena, boliviana e paraguaia.

Ainda temos muitas onças, principalmente recupera-das pela preservação do Sesc Pantanal. Com a reservado Sesc Pantanal, nos últimos 10 anos, houve uma gran-de migração para a reserva de onças. Nos primeirosdois ou três anos, tivemos problemas de desequilíbrioambiental na reserva, porque foi retirado todo o gadodaquela região e começou a faltar alimento para as on-ças. Hoje já há um equilíbrio. Nesses últimos dez anosa natureza se acomodou nesse processo. O que temoshoje é um desequilíbrio em relação à nossa populaçãode jacaré. Estamos com cerca de 3 milhões de jacarésno Pantanal. Imaginem cada jacaré comendo, mais oumenos, três quilos de peixes por dia. Por isso é quecomeça a faltar peixe. É um problema seriíssimo. Já hátrês projetos sendo desenvolvidos no Estado de MatoGrosso. Um deles, inclusive, em Paconé, tem o apoiodesta Casa, e é a criação e a comercialização da carnedo jacaré, em que você pode retirar do processo natu-ral até 40% das ovas existentes no ninho de jacaré.Então, se ele tem 10 você pode pegar quatro. Vai até aincubadora e esse jacaré será comercializado com a suapele e a sua carne. Já estamos exportando essa carne. Acarne de jacaré é a que tem o menor índice de colesterolde todas as carnes existentes. Cada jacarezinho dessesé comprado por um real o ovo. Na sua matéria-primafinal é comercializado em torno de US$ 80, que é opreço final desse produto, em um ciclo de dois anos. Apele sai com lacre do Ibama e a carne sai com acertificação para exportação, também com certificadode autenticação pelo Ibama.

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Então, são três projetos que estão sendo desenvolvi-dos para geração de renda para o pantaneiro. E em al-gumas áreas de preservação estamos com outro proje-to, que é da produção do mel, porque a abelha pastasem agredir o ambiente. Foi a maior produção por col-méias do País, só se igualando ao Canadá. Tivemos noEstado de Mato Grosso, na reserva do Sesc, a maiorprodução de mel. Chegou a 70 quilos por colméia. Entãoé uma alta produção, que só foi alcançada no Canadápor alguns apicultores. Temos a vantagem de que tudoisso o turista quer ver. Estou falando nisso porque te-mos gente para visitar esse tipo de produto, que é ex-tremamente interessante para as pessoas que queremconhecer um pouco mais a natureza.

Cuiabá e Várzea Grande são duas cidades juntas. Cuiabátem quase 300 anos. O Estado de Mato Grosso foidescoberto pelo ouro. Foi uma das províncias que maismandou ouro para a colônia portuguesa. E hoje temoso ouro no solo, que é a nossa produção agrícola.

A cidade é o Centro Geodésico, como eu disse. Temosquase um milhão de habitantes entre Cuiabá e VárzeaBranca. É uma cidade que tem uma culinária e umavida noturna riquíssima. Temos um espaço com o anti-go Arsenal de Guerra construído quando da invasãoNapoleônica, quando a família real portuguesa veio parao Brasil e Dom João mandou construir três fortifica-ções de proteção das fronteiras brasileiras. Uma é emMato Grosso, que protegia o Brasil contra as invasõesparaguaias, era uma fábrica de armas que servia aoExército até a década de 1980. Depois, em 1989, oSesc adquiriu esse imóvel do Exército Brasileiro, e hojeé um grande centro cultural de 12 mil metros. O piso

de entrada desse Arsenal de Guerra é com balas apre-endidas na Guerra do Paraguai que foram conserva-das. Temos canhões ainda do Brasil. Eu consegui. Naépoca eu era o Secretário Municipal de Indústria, Co-mércio e Turismo e consegui deslocar os últimos ele-mentos de guerra, os últimos dois canhões que haviaainda no cemitério dos ex-combatentes. Estão no Ar-senal hoje as duas últimas peças de defesa do Brasil naGuerra do Paraguai – hoje uma grande usina de culturae artesanato do Estado. Lá há cinemas, anfiteatros, sa-las de dança, oficinas de arte, e é preservado. É umcentro de grande visitação turística também. Ao lado,temos a Casa do Artesão, que também é uma unidadedo Sesc. Era do Governo, que repassou para o Sesc.Hoje todo o artesanato é comercializado e trabalhado.

Temos um aparelho turístico muito grande nesse senti-do do que o Sistema faz no Estado de Mato Grosso.

Temos uma ponte, construída no Governo anterior, comuma estrutura totalmente diferenciada. Temos uma igrejaque é uma réplica da Notre Dame. Há até um símboloda região. Aí está o endereço eletrônico da Secretaria.

Agradeço a todos pela atenção. Estou à disposição.Gostaria de tomar mais cinco minutos para que os se-nhores assistam a um outro vídeo sobre um pouco doEstado de Mato Grosso, a fim de que conheçam o ladoda nossa economia, do que representa hoje esse Esta-do que está cravado no coração no Brasil. Muito obri-gado, e que Deus ilumine a todos nós.

5 de setembro de 2007

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O Governo anunciou uma série de medidas deincentivo ao turismo. Uma delas foi a redução de 10%para 5% do Imposto sobre Produtos Industrializados(IPI) para as fechaduras eletrônicas indispensáveis aoshotéis que estão sendo construídos. Até aí, tudo bem.Faltou anunciar também maior abertura para a cria-ção de cursos técnicos necessários ao provável boomque se espera no setor.

Principalmente no Rio de Janeiro, cuja vocação é oturismo – que não se faz apenas de belezas naturais –,é preciso que existam políticas públicas urgentes. Omelhor exemplo pode ser dado pelo Estado, que tem85 cursos técnicos em suas escolas de ensino médio,com baixa presença daqueles destinados a hotelaria,tradutores, intérpretes, etc. Para sermos justos, comuma eficiente exceção representada pelo Serviço Na-cional de Aprendizagem Comercial (SENAC), cujasações são sempre bem-vindas.

A capital cultural do País espera grandes eventos, comoaconteceu com os Jogos Pan-Americanos. O início deoperações do Centro de Convenções do Centro dacidade e o maior profissionalismo no Reveillon e noCarnaval, além da inauguração da Cidade da Música,como revelam as autoridades municipais, trarão parao Rio de Janeiro novas levas de turistas de dentro e defora do nosso território, exigindo uma preparação derecursos humanos mais sofisticada. O exemplo é oaprendizado de uma segunda língua, o que não podeser feito de forma amadora. Rubem Medina chamaesse processo de “a revolução silenciosa do turismo”.

O Governo Federal está interessado em evoluir nosprogramas “Caminhos do Futuro” (para alunos e pro-fessores) e “Viaja mais – melhor idade”, destinado aaposentados e pensionistas com mais de 60 anos quepoderiam se deslocar para cidades predeterminadas a

EDUCAÇÃO E TURISMO

Arnaldo Niskier

Professor e Membro da Acadêmia Brasileira de Letras

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preços especiais e com desconto em folha (InstitutoNacional do Seguro Social – INSS). No pacote doMinistério do Turismo, seria também contemplado oImposto de Renda das pessoas jurídicas, com incenti-vos para cobrir a desvalorização de bens móveis. Comohá crise de empregos, as medidas são de grande al-cance. A Ministra do Turismo Martha Suplicy explicaque para cada R$ 20 mil investidos no setor é geradoum posto de trabalho. Na indústria são necessáriosR$ 120 mil para a criação de um emprego.

Aproveitando-se a baixa estação (de setembro a maio),prevê-se um grande incremento na ocupação de ho-téis em cidades como Belém, Natal, Fortaleza, Salva-dor, Porto Seguro, Campos do Jordão e Rio de Janeiroe na Serra Gaúcha. O que se deseja é que idênticamedida, com investimentos oficiais, seja estendida aprofessores e estudantes brasileiros, sobretudo no mêsde março, quando as aulas ainda estão no começo,valendo essas viagens culturais como dias de aula. Éo aprendizado prático de geografia, história e educa-ção ambiental e até de literatura e língua portugue-sa, contabilizados nos 200 dias obrigatórios, comoreza a lei.

Se o programa, em uma primeira etapa, abrange cercade 17 milhões de pessoas acima dos 60 anos de idade,não é menos apropriado que abranja igualmente mi-lhares de alunos e mestres, especialmente os da redepública, para que se atinja o ideal democrático de ofe-recer oportunidades a todos. Se o objetivo é aumen-tar o emprego e a renda, como afirma Oswaldo Tri-gueiros Jr., não pode ficar de fora a questão educa-cional, tão ou mais importante que os fatores anun-ciados.

A INDÚSTRIA SEM CHAMINÉ

O Estado do Rio de Janeiro, capitaneado pelo Muni-cípio da capital, tem como atrativo principal a veiaturística.

As cidades de Rio de Janeiro, Búzios, Angra dos Reis,Arraial do Cabo, Cabo Frio e Paraty são reconhecidasinternacionalmente, algumas já se tornando portoobrigatório para os turistas que, no verão, saem daEuropa e vêm ao nosso País.

Por outro lado, surpreendem Macaé e Campos dosGoytacazes, com as indústrias da área petrolífera;Porto Real, com as fábricas de automóveis e pneus;Resende, no seu distrito Penedo, com tradição finlan-desa; Nova Friburgo, com a descendência alemã esuíça, sendo que esta última, inclusive, instalou umaqueijaria para profissionalizar jovens da comunidade,além do pólo de lingerie que lá progride; Niterói e An-gra dos Reis, com a construção naval; em breve,Itaboraí e São Gonçalo, quando implantada a novarefinaria; Itaguaí, com a inauguração do pólo petro-químico; e o renascimento da Parmalat, em Itaperuna.São destaques que podem ser reconhecidos como in-dicadores do turismo comercial.

Note-se que ainda não falamos dos outros investimen-tos em Itaguaí – siderurgia; em São João da Barra,com uma previsão de investimento da ordem de R$ 5bilhões para a construção do Porto Açu, levando parao Noroeste fluminense uma compensação pelos in-centivos federais que são dados para o Espírito San-to; Duque de Caxias – Petroquímica; Barra Mansa –siderurgia; o quarto forno da Companhia SiderúrgicaNacional (CSN), em Volta Redonda e, no Municípiodo Rio de Janeiro, também siderurgia.

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Ainda não foram descobertas pelo grande público asFeiras Agropecuárias, realizadas em diversos municí-pios fluminenses, a exemplo da Feira de Barretos; aregião integrada pelos municípios de Valença, Vas-souras, Miguel Pereira, Paty do Alferes, EngenheiroPaulo de Frontin e Mendes, com seus festivais reali-zados anualmente e que já mobilizam milhares depessoas; as ruínas existentes em Magé, que desperta-ram interesse de um grupo italiano, ou a primeira Si-nagoga do Rio de Janeiro, construída no Município deNilópolis.

Para atender a toda essa demanda, o Estado tem dese preocupar com a formação de recursos humanospara ocupar os novos postos de trabalho, não comoeventuais, mas como atividade permanente.

Onde entra a Educação?

Exatamente na formação da mão-de-obra necessária;na formação de técnicos para as diferentes especiali-dades. São conhecidos alguns esforços para que co-mecemos a profissionalizar nossos jovens.

As diretrizes emanadas da Lei no 9.394/96 impõemmedidas para a reestruturação da educação profissio-nal, rompendo com o antigo modelo de organizaçãocurricular e introduzindo uma nova estrutura de ensi-no mais dinâmica e f lexível, conforme preconiza oDecreto no 2.208/97, que regulamenta o § 2o do arti-go 36 e os artigos 39 a 42 da Lei de Diretrizes e Bases(LDB).

Como tem crescido muito a demanda do Ensino Mé-dio (quase 1,5 milhão em quatro anos), busca-se umaampliação da oferta, mas com a garantia de qualida-de. A reforma estipulada que se encontra explicitada

no Decreto antes referido e na Portaria no 646, de 14de maio de 1997, mostra um ensino técnico comple-mentar e não sucedâneo do ensino médio. A capaci-dade crítica do aluno e a sua formação humanísticanão serão prejudicadas.

O Decreto no 2.208/97 prevê a implantação, nas es-colas técnicas, de cursos básicos destinados à qualifi-cação e requalificação de trabalhadores, independen-temente do seu nível de escolaridade. Essas mudan-ças deverão ser implantadas gradativamente, para umaabsorção mais adequada por parte dos sistemas esta-duais de educação.

O DUALISMO

O dualismo existente no sistema de ensino brasileiro,que desde algum tempo se constitui uma séria preo-cupação para os nossos educadores, passou a ser fun-damentalmente condenado, a partir de 1945, pelosdefensores da democratização da educação no Brasil.

Esse dualismo, que se traduziu na existência, por umlado, de um ensino secundário clássico, com funçõespropedêuticas, absorvendo mais de 80% da clientela,e, por outro, de cursos profissionais, destinados às“classes menos favorecidas”, foi amplamente critica-do em 1958 na Câmara Federal durante a discussãodo projeto da Lei de Diretrizes e Bases da EducaçãoNacional – mais tarde, Lei no 4.024, de 20/12/61.

A Lei no 5.692, de 11/8/71, trouxe como aspectomarcante da reforma de ensino a profissionalizaçãono ensino do então 2o grau, hoje legalmente nomeadocomo ensino médio.

Essa tentativa bastante ousada de dar aos estudan-tes, por meio da terminalidade, uma profissão de nível

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intermediário encontrou resistências no sistema deensino. Dentre as causas: a ausência de professoresespecificamente habilitados a ministrar a profissiona-lização e de recursos financeiros que possibilitassema montagem de laboratórios e oficinas e a compra doequipamento necessário, a falta de entrosamento como mercado de trabalho e também a incompreensãonatural dos alunos e dos seus pais, em face dos dispo-sitivos legais.

A profissionalização compulsória não correspondeu,porém, às necessidades nem às aspirações dos jovensbrasileiros. Em 1981, exatamente 10 anos após a Leida Reforma de Ensino, defrontávamo-nos com umaexigência inadiável: a situação precisava ser modifi-cada. As razões eram várias: o volume e a diversidadeda demanda de ocupações de nível médio; as rápidasmudanças científicas e tecnológicas do mundo; a au-sência da integração escola/empresa, da qual deriva-vam a irregularidade da procura de profissionais denível médio pelos setores produtivos; as alteraçõesdos requisitos educacionais; o desejo dos pais, atécerto ponto compreensível, de proporcionarem a seusfilhos, muitas vezes, mais do que eles próprios rece-beram, tornando-os doutores ou portadores de diplo-mas de nível superior, mas excedentes profissionais.

Por sua vez, os jovens estiveram sempre, na esmaga-dora maioria, especialmente nos grandes centros,muito mais interessados em ter um tipo de ensino emque predominassem as disciplinas de caráter geral, quelhes propiciassem a oportunidade de disputar as va-gas oferecidas nos exames vestibulares das universi-dades, o que se tornava cada vez mais difícil, na me-dida em que crescia, ano a ano, o número de candida-tos a elas.

(Mapa elaborado por Paulo Pimenta.)

Quanto aos currículos, tiveram eles a parte de educa-ção geral diminuída, para que o tempo daí decorrentefosse ocupado pelos conteúdos de formação especial,os quais, muitas vezes, interferiram nas matérias queconcorriam para a formação humanística dos jovens.

A intercomplementaridade – que, em alguns casos,levou os estudantes, ao longo do dia, das escolas ondetinham as aulas das disciplinas de educação geral paraaquelas em que recebiam a formação especial profis-sionalizante – se, por um lado, atendia ao disposto nalei, por outro, sobrecarregava, de algum modo, os alu-nos, quanto mais não fosse, fisicamente.

O interesse dos empresários pelos técnicos de nívelmédio formados nas escolas não foi tão grande e ime-diato a princípio, porque normalmente lhes pareciamais viável que eles se formassem profissionalmenteem seu próprio âmbito, por meio do estágio nas em-presas.

Esses e outros aspectos levaram as autoridades doensino e os educadores brasileiros a se deter no as-sunto para encontrar os caminhos mais convenientesà profissionalização em nível do antigo 2o grau.

Os tempos em que vivíamos e vivemos hoje nos per-mitem dizer que devemos dar aos jovens a liberdadede escolha em assuntos referentes ao seu futuro, poisna faixa de idade em que estão – mais ou menos 15anos – já são capazes de deliberar, com maior ou me-nor dificuldade, sobre aspecto tão relevante do futu-ro de suas vidas.

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TENTATIVAS DE MUDANÇAS

Com o objetivo de estudar a sério e profundamente oassunto, a Secretaria de Estado de Educação e Cultu-ra do Rio de Janeiro realizou uma pesquisa entre dire-tores, professores e estudantes da 2a e da 3a séries doentão 2o grau, constituindo estes alunos 56% da clien-tela.

Os dados foram colhidos em questionários respondi-dos por 21.743 estudantes, 2.493 professores em exer-cício e 91 diretores de estabelecimentos de ensino darede pública estadual, chegando-se a um diagnósticoda situação no Estado, no que tocava aos corpos do-cente e discente, aos recursos materiais e à carga ho-rária das diversas disciplinas.

Verificou-se que, de um modo geral, havia algumacoerência entre a habilitação básica que os alunoscursavam e a função que exerciam no trabalho. Tal-vez tenha sido esse um dos fatores que contribuírampara o grande interesse dos alunos em relação ao en-sino profissionalizante nas áreas de maior carência,como, por exemplo, a Baixada Fluminense, onde agrande maioria dos alunos procurou os cursos volta-dos para o trabalho, como meio de melhoria do seunível de vida.

Em termos percentuais, 70% dos alunos considera-ram o ensino profissionalizante de grande interessepara o seu futuro, enquanto 59% julgou boa a orien-tação dos professores das habilitações básicas e 87%se queixaram da falta de aulas práticas. Sessenta e trêspor cento desses declararam-se dispostos a cursar uma4a série que lhes daria um certificado de técnico, masa grande meta continuava sendo a universidade, pois

73% pretendia ingressar no 3o grau. Via-se que per-manecia vivo o mito do diploma, o desejo de ser dou-tor, o que é, ainda, hoje, um traço bastante profundona nossa cultura.

EDUCAÇÃO PARA TODOS

A Política Educacional não deve ser formulada paraalguns poucos, mas deve ser capaz de “promover ainserção profissional e social dos jovens”, como lem-brou o ex-Conselheiro Paulo Nathanael de Souza, doextinto Conselho Federal de Educação, ao citar Ber-trand Schwartz.

Os economicamente favorecidos sempre foram aten-didos, enquanto um enorme contingente de desas-sistidos, estimados em alguns milhões, não é incluídono sistema. Apesar das tentativas de correção dadicotomia entre os estudos acadêmicos e os voltadospara a profissionalização, por meio da equivalência, opreconceito continuou a existir de forma sub-reptícia.

Diante dos rápidos resultados obtidos em alguns paí-ses devastados pela Segunda Guerra Mundial, a teo-ria econômica voltou-se para a preparação dos recur-sos humanos e para o porquê dessas recuperações. Emplena época do chamado milagre econômico brasilei-ro, a Lei no 5.692/71 pareceu sintetizar a teoria men-cionada e a modernização então em voga. Ao mesmotempo em que objetivava a preparação de recursoshumanos, deveria levar à modernização da sociedadecom a introdução da tecnologia, a expansão indus-trial e o aproveitamento maciço de técnicos de nívelmédio, desafogando indiretamente as pressões no cur-so superior.

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A ainda discutida correlação entre educação e desen-volvimento (aquela influindo de forma predominantesobre este, e não o inverso) determinou uma guinadade 180 graus nas propostas curriculares, que, por de-terminação legal, voltaram-se todas para a obriga-toriedade da profissionalização. Perderam-se de vistaas particularidades de cada sujeito da educação, pra-ticamente tirando-lhe o direito de optar, apesar de umadas premissas da lei ser a da auto-realização.

Felizmente, as leis não são imutáveis. Historicamen-te, tendem a refletir novas necessidades e incorporarexigências de todos os cidadãos. Sabiamente, a Lei no

7.044/82 veio retocar a anterior, alterando o disposi-tivo de qualificação para a preparação para o traba-lho, sem excluir a primeira hipótese. Tivemos partici-pação intensa na mudança desse instrumento legal,que acabou com a obrigatoriedade compulsória.

FILOSOFIA PARA O TRABALHO

Em plena Revolução Francesa, Condorcet reconhe-cia em toda criança o direito de saber, porém admitiaque a simples gratuidade do ensino não resolveria oproblema da igualdade de oportunidades. A essa crian-ça, não a de classe mais alta, seria impossível ir à es-cola, porque constituía também mão-de-obra não-qualificada. Seu Projeto de Instrução Pública, apre-sentado à Assembléia Legislativa em 1792, incluía,ainda, o saber técnico por grupos de profissões, demodo que certo número de conhecimentos pudesseservir a várias delas até que fosse feita a escolha defi-nitiva por uma.

Interessante também é o projeto reconhecer a diver-sidade de talentos e, para os mais capazes, o Estado

proporcionaria um grau mais elevado de instrução, pormeio de bolsas. Apesar dos altos propósitos desse pro-jeto, e de outros semelhantes surgidos em vários paí-ses e em épocas diversas, sente-se de forma dissimu-lada a prática discriminatória em relação à classe tra-balhadora. As escolas técnicas de melhor gabarito ecom experiência de longos anos viram decrescer seuprestígio, embora não estivesse em causa a qualidadedo saber ministrado.

A bem da verdade, alguns estabelecimentos de ensi-no conseguiram harmonizar estudo acadêmico eprofissionalizante sem prejudicar um e outro, mas aduras penas e com sobrecarga de encargos financei-ros e sociais. O follow-up realizado por alguns deles,apesar de em pequena escala, não desmereceu a vali-dade de aquisição de um saber profissionalizante emensino médio, porque coincidia tal saber com as aspi-rações de uma clientela reduzida, voltada para o in-gresso ao ensino superior.

Em 1981, a encíclica Laborem Exercens, do Papa JoãoPaulo II, sublinhou três questões fundamentais sobreo homem e o trabalho:

A primeira, o trabalho é uma dimensão básica da exis-tência do homem sobre a terra. A segunda, o sujeitodo trabalho, ou seja, o homem importa mais que oobjeto do trabalho, e isso em qualquer circunstância.A terceira, a finalidade do trabalho do homem é ohomem, feito à imagem e semelhança de Deus.

O emprego do particípio verbal exercens remete depronto ao dicionário e ao substantivo exercício, cujossignificados aparecem em escala ascendente: prática,uso, atividade e treinamento.

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Infere-se daí que “exercitando o trabalho” encerra aidéia de processo, de comportamento dinâmico e per-manente, com ordenação de atividades laborativasharmoniosamente integradas.

A especialização precoce além de ser uma agressãoao ser humano, mais prejudica que beneficia. Já estácomprovado por estudos recentes que “uma sólidacultura geral é o melhor sustento para o treinamentoem serviço de qualquer ocupação”.

Outras pesquisas prevêem que logo haverá necessi-dade de o homem adaptar-se várias vezes a novas pro-fissões ou a instrumentar-se de outras formas, impe-lido pelas mudanças tecnológicas, sociais, culturais epelas exigências de sobrevivência, havendo, também,a necessidade da aquisição de mais um instrumentocapaz de promover maior eficiência na ocupação, evi-tar desperdício, diminuir a margem de erros e projetarpara o futuro. Hoje já é comum a medicina socorrer-se da engenharia, em uma troca de conhecimentos eaté na formação de um outro tipo de engenheiro. Jánão existe há um bom tempo a medicina nuclear?

FORMAÇÃO PARA O TRABALHO

Os dispositivos constitucionais de 1988 estabelecemdiretrizes fundamentais para a elaboração do PlanoNacional de Educação. Os incisos IV e V do artigo214 são complementares: a formação para o trabalhoe a promoção humanística, científica e tecnológica doPaís.

Pode-se inferir que esses incisos sejam dirigidos a to-dos, e não apenas a alguns, como os milhões de desas-sistidos brasileiros. São válidas, portanto, as preocu-pações quanto aos aspectos pedagógicos, sociais, eco-

nômicos e psicológicos que deverão ser levados emconsideração pelos legisladores, excluídas quaisquerfiliações político-partidárias, uma vez que o menornão tem ideologia, a não ser a provocada pela indife-rença.

Os cursos pós-secundários não-universitários pode-riam ser a concretização da formação para o trabalho,acrescida de tecnologias educacionais, conciliando,assim, a previsão constitucional. Faltam, porém, in-formações completas sobre as ocupações possíveis emum País em desenvolvimento.

Com o surto industrial, a aceleração do progresso, ointercâmbio de comunicações internas e externas, oesforço para a modernização mudou o perfil do Brasilno que se refere à necessidade de mão-de-obra e derecursos humanos qualificados. Industriários, operá-rios, comerciários, bacharéis e doutores procuravamintegrar-se ao mercado de trabalho, impulsionados unspela necessidade de sobrevivência, outros para per-petuar um status familiar e alguns mesmo pelo apelode uma vocação.

Os avanços da psicologia, as modernas teorias daaprendizagem e uma nova conceituação dos fins daeducação levaram ao reconhecimento das diferençasindividuais, das potencialidades e aptidões de que cadaum é portador.

A introdução obrigatória da orientação educacionalna dinâmica escolar e, mais recentemente, a aceita-ção de ser a informação ocupacional um de seus com-ponentes, alargaram o campo de atuação dos orien-tadores educacionais e pedagógicos. Procura-se con-ciliar, entre os fins da educação, os de caráter prático,

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os morais, os econômicos e os educativos, em umasíntese de “desenvolvimento do indivíduo, do carátere da inteligência, do saber teórico e do prático”.

Há uma grande dispersão de dados e perfis ocu-pacionais acumulados em empresas, centros de pes-quisa e orientação profissional, gabinetes de orienta-ção educacional e entidades como Senac e ServiçoNacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), da-dos esses setorizados e para atender a uma determi-nada clientela. Como faz também, na sua inteligentepolítica de estágios, o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE).

É imprescindível que o País possua um banco de da-dos relacionado com a informação ocupacional, nãosó como um catálogo de profissões e ocupações emtodos os níveis e setores, mas que se complete com orol de aptidões, conhecimentos, habilidades, requisi-tos e perfis concernentes a cada uma, além das possi-bilidades de reconversão de uma para outra. São in-formações preciosas.

SITUAÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

A situação da rede pública estadual, hoje, é dramáti-ca, não só pela falta de recursos financeiros para pa-gar melhor aos professores, mas por uma razão histó-rica: temos 85 cursos técnicos espalhados pelo Rio deJaneiro, com um lamentável pormenor: 90% deles sãode Administração e Contabilidade, se excluirmos oscursos de formação de professores.

Vejamos a real situação e comparemos com as neces-sidades do Estado do Rio de Janeiro.

CURSOS DE FORMAÇÃO DE TÉCNICOS

QUADRO RESUMO

Habilitações Número de Municípios

Administração 11

Agropecuária 06

Contabilidade 23

Desenho/Arquitetura 01

Edificações 01

Eletrônica 02

Eletrotécnica 01

Enfermagem 04

Informática 05

Mecânica 01

Meio Ambiente 02

Metrologia 01

Normal 74

Patologia Clínica 03

Prótese Dentária 02

Química 02

Secretariado 02

Turismo 05

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MUNICÍPIOS SEM ENSINO PROFISSIONAL(14)

Areal

Cantagalo

Carapebus

Comendador Levy Gasparian

Duas Barras

Itatiaia

Paraiba do Sul

Porto Real

Quatis

Quissamã

Rio das Flores

São José de Ubá

São José do Vale do Rio Preto

Tanguá

Em uma visita ao interior do Estado, quando dirigi-mos a Secretaria de Estado de Educação pela segun-da vez, percebemos a angústia da Direção do CEMoura Brasil, de Paraty, por não conseguir implantaro curso de turismo para atender aos jovens daqueleMunicípio que, caracteristicamente, têm aquela des-tinação; da Direção do CE Barão do Rio Bonito, deBarra do Piraí, vendo-se impedida de implantar umcurso de técnico em química, considerado neces-sário devido à presença de uma indústria de alto

porte nas proximidades. E quantas outras estariamnessa situação?

Nesses mesmos nove meses, reimplantamos o Corre-dor Agrícola, com menos escolas do que quando ocriamos entre 1979 e 1982. Assim, cuidamos de umadas vertentes econômicas de nossos municípios – aagropecuária. Foram seis escolas que se tornaram re-ferência e receberam o auxílio básico para se transfor-marem em auto-sustentáveis.

O Colégio Antonio do Prado Junior, na Tijuca, é umexemplo do esforço do Estado do Rio de Janeiro paraimplantar um Curso de alta qualidade na área do Tu-rismo.

Há muito tempo, as direções que se sucedem foramaprimorando os conteúdos, alterando a matriz cur-ricular, conseguindo as autorizações dos organismosda área federal de Turismo e muito mais.

Falta pouco para que o Curso de Guia Turístico ofe-recido naquele Colégio Estadual seja completo. Em-bora registrado pelo Instituto Brasileiro de Turismo(EMBRATUR), há certos detalhes que precisam serobservados.

Uma das exigências é que os jovens matriculados na-quela habilitação tenham de realizar uma viagem deâmbito nacional e outra pela América do Sul que oEstado ainda não pode oferecer.

Ao todo, na Rede Pública Estadual há cinco Colégiosoferecendo a habilitação Turismo, atendendo perto de200 jovens e abrangendo os Municípios de Armaçãodos Búzios, Miguel Pereira, Nova Friburgo, Rio deJaneiro e Valença.

Quanto à matriz curricular, além das matérias de cu-

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nho propedêutico (não podemos deixar de atender àpossibilidade de o aluno ingressar em uma instituiçãode ensino superior por meio de um processo seletivo)– Português, Matemática, História, Geografia, Física,Química, Biologia –, temos as de cunho profissiona-lizante, que, de modo geral, são as seguintes: Funda-mentos de Turismo, Fundamentos de História da Arte,Turismo e Sociedade e Línguas Estrangeiras – Fran-cês, Inglês e Espanhol.

Quanto ao ensino superior, em um estudo realizadosobre a situação quantitativa do atendimento à áreado Turismo, o Exame Nacional de Desempenho deEstudantes (ENADE)/2006, no Estado do Rio deJaneiro, nos apresenta 10 instituições privadas e umaestatal (Universidade Federal do Rio de Janeiro –UFRJ), no Município do Rio de Janeiro, outra estatal(Universidade Federal Fluminense – UFF), em Niterói,e mais sete privadas, nos seguintes Municípios: BarraMansa, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Niterói,Petrópolis (2) e Valença.

Se observarmos o aspecto qualitativo, tendo por baseo mesmo estudo do Enade, verificaremos que três ins-tituições obtiveram conceito 5; três, o conceito 4; cin-co, o conceito 3; duas, o conceito 2, e ficaram semconceito outras cinco instituições.

No total dos 807.140 alunos avaliados, em todas asáreas, nos seus 13.399 cursos, os pesquisadores veri-ficaram que 50,5% dos inscritos cursaram o ensinomédio em Escolas Públicas, tendo 90,7% deles infor-mado que tinham acesso à Internet, sendo este o se-gundo meio que utilizam para se atualizar (39,2%),ficando em primeiro lugar a televisão, com 41,3%.

Quanto ao indicador da performance individual, os

alunos matriculados na área de Turismo, no ensinosuperior, ficaram em terceiro lugar, com a média 45,5,enquanto seus colegas da região Sul obtiveram a mé-dia 46,6, e os do nordeste, 45,8.

Fica evidente que a Educação é parte preponderantepara o sucesso da área do turismo. Os números, porvezes, surpreendem: “Visitaram o Rio de Janeiro, noúltimo ano, 1.700.000 turistas.” Mas como foram tra-tados? E a segurança? E os responsáveis pelos cuida-dos com o turista? E o tratamento que é oferecidoaos que nos visitam? Quantos retornam, quantas ve-zes e por que voltam? E a formação dos guias? Osgarçons estão capacitados? As portarias dos hotéispodem responder às indagações dos turistas estran-geiros e nacionais? Conhecem história, geografia, ospontos turísticos, os acessos àqueles locais? Por fim,são profissionais qualificados, ou tão-somente habili-tados?

Louve-se o trabalho desenvolvido pelo SistemaSenac/Serviço Social do Comércio (SESC), que vemoferecendo cursos de tradutor e intérprete, línguasestrangeiras, formação de recepcionistas e todo o pes-soal necessário para as áreas de gastronomia (gestão,bar, serviços e culinária) e hotelaria (guia de turismoregional e técnico em guia de turismo). Trata-se, semdúvida, de um bom caminho.

Então, quero deixar esses 30 minutos finais para quepossamos conversar um pouco. E eu me coloco à dis-posição para as perguntas, agradecendo a todos pelaatenção. Muito obrigado.

19 de setembro de 2007

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Quero falar de estratégia de segurança pública eárea conflagrada nas metrópoles. Na verdade, o temaaborda quatro aspectos: estratégia, segurança públi-ca, metrópoles e áreas conflagradas.

Aqui, há um sumário do que vamos apresentar: perío-do do descobrimento; colonização do Brasil; proble-mas das drogas; uma abordagem rápida sobre aspec-tos jurídicos; uma comparação com o caso norte-ame-ricano: Lei Seca, o narcotráfico, as conclusões e, de-pois, para a melhor parte, que é a do debate, em queas perguntas podem surgir e nos auxiliar.

Costumo dizer que o Brasil é um País de antíteses.Sempre começo dizendo isso. Por que antíteses? Por-que é o lugar em que uma invasão é chamada de des-cobrimento. Nada tenho contra os europeus; nada te-nho contra os portugueses, mas não temos dúvida de

que em 1500 tivemos uma invasão, porque terra ha-bitada não pode ser descoberta.

Realmente, foi uma invasão.

Mas por que há uma opção de Portugal chegar atéaqui e outros países da Europa chegarem às Américas– “Passaram ainda além da Taprobana”, na percep-ção de Camões: “Mares nunca dantes navegados pas-saram ainda além da Taprobana”?

Nossa análise, baseada em alguns historiadores, é quefoi simplesmente uma estratégia militar, uma estraté-gia bélica e comercial – não necessariamente nessamesma ordem. Se analisarmos, perceberemos o Bra-sil fica em uma rota que já havia sido descoberta.

Havia necessidade de trabalhar essa rota para trazermercadoria das Índias e outras coisas.

ESTRATÉGIA DE SEGURANÇA PÚBLICA: ODILEMA DAS METRÓPOLES COM ÁREAS

CONFLAGRADAS

Coronel Ubiratan de Oliveira Ângelo

Comandante Geral da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ)

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Outros países optaram por caminhos terrestres, masficavam muito longe.

Era muito difícil transportar grandes cargas só por essecaminho. Depois de descoberto esse caminho para asÍndias, ou a busca de um caminho para Índias, perce-beram que para chegar a esse caminho, tinham de teralgo chamado “um porto seguro”, que seria o meio docaminho, por razões comerciais. Obviamente tambémhavia razões bélicas. Quanto mais terra se conquista-va, mais mercadoria teria, maior poder comercial,maior poder bélico, etc. Razões estratégicas.

E essa percepção das antíteses que acontecem nonosso Brasil vem nos acompanhando até hoje.

A partir dessa estratégia bélica e comercial, começa-mos a entender o que é a colonização brasileira, parapodermos entender o dia de hoje.

Àquela época não existia uma coisa chamada “penaprivativa de liberdade”. Não existindo pena privativade liberdade, os condenados por crime tinham diver-sas penas, dentre elas serem condenados às galés. Osprimeiros momentos de colonização normalmenteeram feitos exatamente por condenados. Era uma penasofrida. Isso dá todo um mote diferencial no que vema ser a colonização. Ou seja: se estou sendo lançado àgalé, lançado a uma terra que até antes dessa minhaida era considerada além do fim do mundo, além daTaprobana, não tenho expectativa de voltar, ou que-ro criar uma expectativa de voltar, que carinho tereicom essa terra? Por outro lado, de tão longe que era aterra, como colonizá-la, como trabalhá-la, se o índio,aquele que no primário aprendemos que era indolen-te, não queria ser escravizado?

Então, começa toda uma característica do nosso Bra-sil, que começa a ser colonizado primeiramente emrelação aos índios. Depois, houve o tráfico de negrosda África para o Brasil e a separação do Brasil emCapitânias Hereditárias.

E o que acontece no Brasil, naquele momento, é queas riquezas da terra descoberta são extraídas e leva-das para a Europa, em especial para o colonizador:Portugal.

Dando um salto nessa história, temos – recomendoaos senhores o livro 1808 – um acontecimento no final doano de 1807. O que aconteceu? Aquele ponto estraté-gico comercial e bélico passa a ser alvo da FamíliaReal. Por quê? Invasão dos franceses em Portugal.

Protegida pelos ingleses, a Família Real vem para oBrasil. E começa exatamente o quê? A terra passa aser preparada para o caso de ser habitada pela nobre-za, até que Dom João conseguisse responder a pelomenos duas perguntas que pairavam na sua cabeça. Aprimeira: quando volto para Portugal? A segunda: seráque volto para Portugal?

Talvez fosse esta a mais contundente. E uma série desituações são incrementadas no nosso Brasil.

Aliás, aqui há uma parte de uma música do Djavan,Pedro Brasil, que diz:

“Quem descobriu o Brasil foi Pedro,

Quem libertou o Brasil foi Pedro,

Quem construiu o Brasil foi Pedro,

Quem descobriu...

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Quem libertou...

Quem construiu...”

Por quê? Havia alguma coisa nessa percepção. PedroÁlvares Cabral é o invasor chamado descobridor.

A partir de 1808, quando Dom João vem, de 1807, ese instala, começa a se preocupar com a civilização,especialmente do Rio de Janeiro, porque aqui se ins-talara a nobreza portuguesa.

Então, algo que aprendemos como benesses na ver-dade eram necessidades para que se tornasse um lo-cal habitável. Por exemplo: necessidade de estratégiacomercial e militar; abertura dos portos às naçõesamigas. É óbvio. A Inglaterra tinha tido um bloqueiocomercial pela França.

Então, tinha de haver um porto aberto naquele pontoanteriormente descoberto. A Inglaterra era uma na-ção amiga; a França não era. Outra benesse: as ques-tões arquitetônicas; a criação da Intendência Geralde Polícia da Corte, em 1808. Esse é um ponto fun-damental para o nosso entendimento. Em 1808 oIntendente Viana foi nomeado Intendente Geral dePolícia da Corte. Ele era um misto de secretário desegurança e prefeito, porque toda a sua obra era vol-tada para a higienização do Rio de Janeiro.

Tanto que dois grandes assessores de Viana erammédicos. Um era cirurgião geral da Corte e fizeram otrabalho de aterramento de pântanos – isso dentro daárea de segurança pública, de demolição de morro.

O projeto do Morro do Castelo acontece nesse perío-do, de 1808 a 1821, embora ele só venha a acontecer

em 1920, me parece, ou 1940, que o Morro do Caste-lo é demolido. Mas o projeto acontece naquele perío-do em que a Família Real está aqui no Brasil, de 1808a 1821. E o Rio de Janeiro era muito habitado; o cen-tro da cidade era muito freqüentado por escravos ain-da, que jogavam a sua capoeira, faziam os seus rituaisem praça pública e ali eram açoitados. Não ficava bemaçoitar escravos quando a Família Real habitava o Riode Janeiro. Então, a cidade tinha de ser civilizada.

Em 1808 é criada a Intendência Geral de Polícia daCorte e, em 1809, a Divisão Militar da Guarda Realde Polícia da Corte.

A partir de 1808 e 1809, algumas coisas passaram aser consideradas crime. Por exemplo: o contrabandoe o descaminho não eram reprimidos no Brasil; sópassaram a ser a partir de 1808, ou, mais especifica-mente, em 1809, quando foi criada a Divisão Militarda Guarda Real de Polícia da Corte, a célula mater daPolícia Militar, nos moldes da existente em Lisboa,com função de patrulhar, reprimir contrabando edescaminho, sendo híbrida, ou seja, militar, mas comfunção de polícia.

Acima de tudo, como está no Decreto de Dom JoãoVI, era função dela “manter a paz e o sossego públi-co”. Mas o conceito de paz e sossego público, que sãoos pais do conceito de segurança pública, vai variarno tempo e no espaço, de acordo com os interessesdo Estado.

Segurança pública ou ordem pública, para o qual sevolta a Intendência Geral de Polícia da Corte, é o queatende às necessidades da Corte na Divisão. As prin-cipais figuras históricas iniciais da minha Polícia Mili-

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tar vêm do Intendente Viana, que não era da PolíciaMilitar, mas tinha uma função similar à de secretáriode segurança hoje. Ele dava ordens à Divisão Mili-tar da Guarda Real da Polícia Corte a partir da suacriação.

E aparece uma outra figura sensacional, muito bemretratada no livro Memórias de um Sargento de Milícias ,que é o Major Nunes Vidigal, o mesmo que era o donodas terras que lhe foram doadas pelos frades – esque-ci o nome da ordem –, onde hoje é a favela do Vidigal.Ela passou a ser invadida depois. Mas aquela terra foidoada pelos feitos do Major Nunes Vidigal. É só lerem Memórias de um Sargento de Milícias como é mostra-do o Vidigal, um cumpridor da lei, da ordem, umapessoa séria, austera, violenta, que tentava manter aordem pública a qualquer preço. Mas a ordem públicaera o que era ditado pelos interesses da Corte.

Aquele momento tem algumas características. Essascidades, Rio de Janeiro e São Paulo, têm as mesmascaracterísticas, sofrendo uma grande influência a par-tir da vinda Família Real para o Brasil. O Rio de Ja-neiro cresce no período de 1808 a 1888 com os fenô-menos que vão acontecendo.

Com a saída de Dom João fica Dom Pedro, PríncipeRegente, influenciado, obviamente, por ideais liber-tários. E aí temos instituições que atuam fortementena libertação do Brasil, podemos dizer com os mes-mos interesses dos ingleses que fizeram o descobri-mento, que protegeram a vinda da Família Real parao Brasil; são os mesmos interesses ingleses na Inde-pendência do Brasil. O Brasil teve o apoio dos ideaisfomentados pelos ingleses, da mídia, do jornal da épo-ca, dos jornalistas e dos intelectuais da época, dentre

os quais podemos citar Joaquim Gonçalves Ledo.Gosto de citar o Joaquim Gonçalves Ledo porque melembro da terceira instituição, que é a Maçonaria. Eleera jornalista, escrevia no Jornal do Comércio e era ex-tremamente influente na ordem Maçônica, que, aliás,chega no Brasil oriunda da Inglaterra. Fecha-se, as-sim, um ciclo de idéias em relação ao que aconteceno descobrimento do Brasil, na Independência doBrasil e, posteriormente, na libertação dos escravos.Até porque havia a Lei do Ventre Livr e, dossexagenários, a proibição do tráfico de navios ne-greiros.

Conseqüentemente, a Abolição já havia sido decreta-da. Era uma questão de tempo. Mas o tempo urgiapara que os interesses comerciais falassem mais alto.Então, há uma antecipação da conseqüência dessastrês leis com a Lei Áurea, de 1888, que decretava ofim da escravidão. Entretanto, ficamos com a seguin-te situação: uma mão-de-obra não qualificada, semmercado de trabalho, sem local de habitação, uma si-tuação extremamente austera no Rio de Janeiro, e opessoal liberto. Eles apanhavam, se alimentavam male trabalhavam. Agora não tinham emprego, não apa-nhavam mais, mas não tinham comida e outras coisasmais.

Começa, assim, uma nova fase da habitação em umadas maiores metrópoles do Brasil, que é o Rio de Ja-neiro. Não podemos nos esquecer que Engenho Novo,Méier e Tijuca eram longe àquela época.

Basta analisar pelo meio de transporte. Então, essepessoal que sai, como mão-de-obra desqualificada, semeira nem beira, em um linguajar mais moderno, vai terde ficar próximo de onde poderia ter possibilidade de

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ter alguma atividade laborativa; de ter renda, seja poratividade laborativa de subplano ou até mesmo porpequenos furtos e outras coisas mais. Então, come-çam a habitar o entorno. E o primeiro deles a ser ha-bitado – é a chamada primeira favela do Rio de Janei-ro – foi o Morro da Providência. E vão habitando,porque habitar nos morros, naquela época, não eramuito fácil. Vão ocupando. E também é só pegar aquestão dos quilombos. Veremos que alguns delesficavam no entorno. Um deles f icava entre Copa-cabana, Botafogo e Lagoa. Próximo à rua Sacopã ha-via um deles. Isso tudo vai explicando essa distribui-ção social na topografia complicada do Rio de Janei-ro. O Rio de Janeiro tem uma topografia diferente dasdemais cidades. Ele é cercado por morros e por mon-tanhas. Não montanhas, mas elevações.

Ele está entre o mar e a montanha. O Rio de Janeiro,de uma forma geral, tem elevações. Abertura sem ele-vações só na Baía de Guanabara. Então, ela é cercadapelos dois lados, onde há a região Serrana, com eleva-ções mais altas. Por isso há muitos túneis. Por issoprocurou-se habitar diversas elevações. E esses locaisde elevação foram buscados por pessoas que não ti-nham qualificação para o mercado de trabalho, que,àquela época, eram 100% negras. Eram ex-escravos,filhos de escravos, netos de escravos, enfim, toda essasituação. Isso está sujeito a todo tipo de crítica, mas éuma tentativa de explicação do que encontramos ain-da hoje em termos de distribuição geográfica na gran-de metrópole do Rio de Janeiro.

O que temos agora? A partir dali encontramos diver-sas situações. A primeira delas é que o Rio de Janeirosempre foi tracejado por inúmeros delitos contra o

patrimônio. Aliás, há relatos de que a Polícia do Riode Janeiro, em um livro chamado A História da Políciado Rio de Janeiro ou 1808, mostra como a cidade eraextremamente violenta, onde a preocupação com avida do outro era banalizada. Tenho uma extremaaversão à expressão: “hoje em dia”, porque quandofalamos “hoje em dia” significa que ontem não eraassim. Então, quando falam “hoje em dia” eu pergun-to: “O hoje começou quando?” Os relatos históricosque encontramos mostram que as pessoas andavamarmadas e que havia inúmeros homicídios no Rio deJaneiro. Os assaltos eram feitos com arma branca. Oque não havia era arma de fogo. A diferença está nis-so. O que não havia era a utilização de arma de fogo.Por quê? Porque ter uma arma de fogo e mantê-lamuniciada era muito caro. Era difícil conseguir o ma-terial necessário para isso.

Mas arma branca era tranqüilamente utilizada.

Pois bem. Essa dicotomia social, ou essa dif iculdadepara se conseguir uma igualdade social que nunca ti-vemos no Rio de Janeiro, por razões históricas, fezcom que o crime contra o patrimônio proliferasse bas-tante e que a maioria dos autores dos crimes contra opatrimônio, como era natural, f izessem parte da socie-dade menos abastada, que era composta por negros efavelados. Isso traz uma dicotomia: como resolver essaquestão? A solução sempre dada no Rio de Janeiro éjurídica e de enfrentamento do crime pela ação dapolícia. Então, historicamente a polícia do Rio de Ja-neiro foi criada, nasceu para combater o criminoso, enão para combater o crime, porque o crime se comba-te nas causas, mas o criminoso se combate nas conse-qüências. Então, a formação das polícias no Brasil,

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em especial no Rio de Janeiro, sempre jogou a políciacontra o criminoso, e não para a busca da solução docrime. Essa é uma característica. Basta dizer que aorigem da Polícia Civil foi a Intendência Geral de Po-lícia da Corte. A origem da Polícia Militar foi a Divi-são Militar da Guarda Real de Polícia. O que querodizer com isso? Primeiro, propõe-se criar o pessoalque ia investigar e reprimir o crime, para, depois, criara tropa ostensiva, que iria fazer a prevenção. Isso jánasce historicamente assim. Então, a preocupaçãosempre foi maior com a repressão ao criminoso, a bemda verdade, e não com a redução do crime.

Nesse cenário que vimos até então, temos diversasfases históricas do Brasil e das polícias. A minha polí-cia, por exemplo, atuou em episódios como a Guerrado Paraguai e a Proclamação da República, protegen-do a população no momento em que havia uma ver-dadeira revolução, uma mudança de regime de gover-no, regime de Estado.

Em 1964 não foi diferente. A Polícia Militar estevebastante voltada para a ordem política e social. Derepente, termina o período de 1964 a 1982 e dizem:“Bom, senhores policiais, os senhores estão no Esta-do democrático de direito, o que significa que, de hojeem diante, estão voltados para a segurança e a ordempública, em um Estado democrático de direito.” Ditopor mim isso pode não ter muita graça. Vocês imagi-nem se estivesse aqui o Sérgio Porto contando essapassagem, explicando como ficaria a cabeça do PMquando lhe disseram isso. Ele começaria com aquelacélebre frase do Samba do Crioulo Doido : “Ai o PMendoidou de vez.” Ele diz: “Aí, o crioulo endoidou devez.” Porque é uma mudança de concepção para aqual não havia preparação.

Formei-me em 1978 – entrei em 1976. Ela é extrema-mente voltada para a defesa interna e territorial, con-tra guerrilha e um pouco de ordem e segurança públi-ca. Eu fui formado mais como militar do que comopolicial. Nada contra a formação militar e nada con-tra as funções das Forças Armadas. Entretanto, o mi-litar da minha instituição é um adjetivo, e não um subs-tantivo. O militar do Exército, da Marinha e da Aero-náutica é um substantivo, não é um adjetivo. Para aPE polícia é adjetivo, e para a PM polícia é substanti-vo, ou seja, as missões são distintas. Então, a forma-ção tem de ser distinta, porque se colocar o militardas Forças Armadas, com a formação que temos hojepara o nosso oficial da Polícia Militar, vai ser umaloucura; e a recíproca também é verdadeira. Então, aformação que tivemos foi muito mais voltada paraessa questão do enfrentamento do inimigo. Tanto queum dia tive oportunidade, já como Major, de encon-trar o meu instrutor de Guerra Revolucionária. Sem-pre tive o hábito de guardar coisas curiosas.

Devolvi a ele, com uma dedicatória, o Manual deGuerra Revolucionária, terminando com a seguintefrase: “Lamento ter falhado na missão, porque até hojenão consegui encontrar o inimigo interno.”

Aí, devolvi a ele, porque o meu preparo deveria tersido para a preservação da ordem pública, para en-frentar o transgressor da norma, para evitar que atransgressão da norma prevalecesse, e não para en-frentar o inimigo interno. Não deveria ter sido essa aformação do policial. Mas essa é a formação.

Então, a partir do final dos anos 70 ou 80, a políciacomeçou a se preparar para o enfrentamento na ques-tão da segurança e da ordem pública, e começa umatentativa de mudar o foco do cliente.

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Estou aqui entre pessoas que têm atividade comer-cial; cada um com um tipo de clientela. A visão daempresa dos senhores e a missão determinada têmcomo foco principal o quê? Para que eu possa estabe-lecer uma visão, para que o nível institucional estabe-leça uma visão e que possamos estabelecer qual é amissão da nossa empresa, tenho de definir, necessa-riamente, quem é o meu cliente, como ele é, o que elefaz, o que ele quer, do que ele gosta e do que ele pre-cisa. Pois bem: a primeira pergunta provoca uma con-fusão na cabeça do PM.

Quem é o cliente da segurança pública? Ora, querovoltar àquela premissa de que a polícia foi feita, àépoca, para enfrentar o criminoso, e não o crime. Clien-te da polícia é o criminoso, quando, na verdade, o clien-te da polícia é o cidadão de bem. É justamente o con-trário. Polícia vem de politia, que vem de politeía, queera quem mantinha a ordem na pólis; era o braço ar-mado do Estado, o poder de força do Estado, comcapacidade de usar a força em nome do Estado emfavor da pólis, ou melhor, em favor da urbi, para me-lhor entendermos, que era a noção de nação. Então,é justamente isso. Se o criminoso interfere na quali-dade de vida do cidadão, ele é foco, mas não é ocliente. O cliente é o cidadão. Então, cada problemaque se interpõe entre a empresa e o cliente deve serresolvido.

Como resolver esses problemas? São estratégias quedevem ser desenvolvidas. Mas a estratégia sempre foivoltada para o criminoso, como se ele fosse o princi-pal cliente da polícia, ou seja, como se a polícia fosseapenas para prender, para combater o crime. E isso jáfoi por água abaixo, porque 70% a 80% das nossas ações

não são criminais. De 20% a 30% são ações crimi-nais. E dentre as ações criminais temos um leque enor-me de ações de crimes de pequeno potencial ostensi-vo, até chegarmos ao homicídio. Mas as demais açõessão voltadas para o atendimento com foco no cliente,desde atravessar a rua, desde simplesmente orientaronde está a rua tal, o endereço tal, desde tirar a preo-cupação da pessoa quando ela diz: “Fui roubada, le-varam o meu carro.” Ela não se lembra bem onde co-locou e o carro está à sua frente, mas ela chegou àtarde e, à noite, a iluminação fez com que mudasse apercepção da cor do carro, de coisas simples, até oque aconteceu na semana passada, quando tivemosum parto feito por um policial militar. Pelo contrário,são questões materiais.

Temos também as questões criminais. Então, políciatem uma razão de ser muito maior do que o enfren-tamento do crime em termos de quantidade e de qua-lidade. O que percebemos hoje é que o enfrentamentodo crime é um problema da polícia. Aí, é ação da po-lícia. Mas na solução do crime ou das causas do cri-me, a polícia é uma pequena parcela de outros atoresque têm de estar envolvidos nisso. Há alguém sendoroubado. Vai chamar quem? A polícia. Mas por queaquela pessoa roubou? Aí, não é uma questão de po-lícia; outros atores têm de estar presentes nisso. E essamudança é a que insere o pensamento no cliente.

Pois bem, só que temos um outro cenário no Rio deJaneiro, uma outra questão: o número de atos violen-tos no Rio de Janeiro aumentou em relação a 1808,em relação aos anos que passaram. Lógico, a popula-ção aumentou muito. Então, o índice de ocorrênciasaumentou bastante, porque é natural.

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Se analisássemos o percentual atual e comparássemoscom o percentual daquela época, talvez percebêsse-mos que, em termos absolutos, ele aumentou, mastalvez em termos relativos estivesse igual ou abaixodo nível de 1808/1809, por assim dizer. Mas o queacontece? Existe um fenômeno que faz com que qual-quer ato bom ou ruim chegue para nós muito maisrápido.

E a sensação é de que ele aconteceu aqui. Quandoaconteceu aquele trágico episódio das Torres Gêmeas– que me desminta alguém que não tenha passadopor isso –, no dia seguinte, quando subimos um edifí-cio alto, no elevador, àquela cena nos veio à cabeça.Ninguém correu achando que um avião ia ser jogadoali, mas se um avião passasse por perto, a sensação doperigo, que não existia até no dia anterior, passou aser motivo de preocupação. No final dos anos 80,quando houve um acréscimo dos crimes de extorsãomediante seqüestro, muitas pessoas tinham medo deser seqüestradas, de ter seus entes queridos seqües-trados, inclusive que as pessoas que não tinham pos-ses pudessem ser cobiçadas em nível de extorsão me-diante seqüestro. Por quê? Porque a velocidade da in-formação faz com que a força que está do outro ladodo globo terrestre pareça que está ao lado.

Então, o que acontece com alguém no bairro seguin-te, sentimos muito aqui ao lado. E quando aconteceao lado, achamos que foi dentro da nossa casa.

Essa percepção transfere para as pessoas uma coisachamada “sensação de insegurança”, e isso é muitoforte. Tanto que é hábito as pessoas dizerem: “O nú-mero de assaltos na minha rua aumentou.” Eramquantos e passaram para quantos? “Não sei, mas que

aumentou, aumentou.” Porque ele tomou ciência dosfatos com maior velocidade. Essa percepção é muitoclara.

Outra coisa: há uma tendência da mídia brasileira, emespecial a mídia fluminense. E eu comparo a cariocacom a paulista; em especial a mídia fluminense e amídia de São Paulo têm um enfoque diferenciado. Sepegarmos os jornais de São Paulo e os jornais do Rio– podem fazer essa experiência –, veremos que o focode violência e criminalidade no Rio tem muito maisquantidade do que nos jornais de São Paulo. Não meperguntem por que, pois eu não sei a razão. Se eu sou-besse já estaria denunciando.

Mas que tem, tem. A ponto de, em um debate, umjornalista de São Paulo me fazer uma pergunta agres-siva.

Eu disse a ele, respondendo, o seguinte: “No Rio sedá muito mais ênfase ao índice de criminalidade doque vocês dão em São Paulo.” Tenho parentes quemoram em São Paulo e eles ligam e dizem: “Olha, tevi na televisão, te vi nos jornais”, quase nos mesmosníveis do Rio de Janeiro. Aí, perguntei a ele: “Quem éo comandante geral da Polícia de São Paulo?” Ele dis-se: “Não sei.” Ele não sabe quem é o comandantegeral da Polícia Militar de São Paulo. Mas estava noRio cobrindo violência e criminalidade.

Então, qual é a mídia que está correta? Não querofazer essa análise.

Estou apenas mostrando fatos. Isso traz a sensação.O clima acelera o crime. Tanto é que as empresas,quando querem ter aumentado o seu número e a

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qualidade de seus clientes, buscam um sistema de mar-keting. E a mídia é um dos veículos de marketing.Pois bem, essa percepção aumenta. Isso acontece emqualquer metrópole. A nossa tem uma característicaespecífica.

Outra coisa é que nas metrópoles do Brasil, em espe-cial o Rio de Janeiro, os crimes são violentos namaioria das vezes. Porque temos crimes passionais,temos crimes de diversas características, mas os cri-mes violentos, de uma forma geral, estão ligados, di-reta ou indiretamente, às drogas lícitas ou ilícitas, masna sua maioria ilícitas. Por quê? Porque, primeiro, quan-do se fala das drogas lícitas – vamos falar aqui doálcool especificamente –, temos os acidentes, que sãoconsiderados os crimes culposos; de uma forma geralos acidentes de trânsito. Mas os crimes com a inten-ção de agir normalmente estão ligados às drogas, ouporque a pessoa está drogada ou porque está ligada,direta ou indiretamente, ao tráfico de drogas. Issomudou totalmente o cenário do Rio de Janeiro.

Como poucas pessoas aqui têm menos da metade daminha idade, o que acontece? Podemos lembrar dealgumas fases, não buscadas nos livros de história,mas que nós vemos acontecer. Todos têm saudade dotempo de Cosme & Damião, que era uma função quea polícia desempenhava fazendo o patrulhamento apé no tempo que as ruas ficavam mais vazias e que amaioria dos carros eram pretos e os bondes andavamnos trilhos, sendo, depois, substituídos por ônibus elé-tricos; era uma função da patrulha militar. Cosme &Damião era uma dupla de militares adjetivados depoliciais, porque o exercício da polícia efetivo era fei-to pela Polícia Civil, pela Guarda Civil, inclusive à

noite pela Vigilância Privada, que era o guarda-notur-no. Lembrando dessa época: àquela época, que com-põe o nosso cenário, vamos lembrar o seguinte: nes-ses guetos, em elevações, chamados de favela, quan-do foi para lá aquela população despreparada para omercado de trabalho, tínhamos pontos de revenda dedroga. Qual era o nome dado ao ponto de revenda dedrogas? Boca de Fumo, porque vendia maconha. Se-não seria boca de álcool, boca do pó, boca do lança,boca da bolinha e outras coisas. Mas não, era boca defumo. Mas já naquela época tínhamos outras drogasque perpassavam a sociedade, como o LSD. Os ído-los da juventude já estavam morrendo de overdose poraí afora.

Pois bem, naquela época o LSD e outras drogas erammuito caras.

Então, não fazia parte do mercado consumidor, queaumentava. Havia uma divisão de mercado: o que usa-va maconha e o que usava outras drogas mais caras.Esse mercado era separado por uma razão econômi-ca, porque era caro. Os senhores se lembram de umgrande fornecedor de LSD que foi preso naquela épo-ca? Não. Mas podem se lembrar dos traficantes deboca de fumo que foram presos. Por quê? Porque adistribuição das drogas mais caras não estavam próxi-mas da violência. Lembrem-se que a polícia foi feitapara combater o criminoso, e não o crime.

Então, as estratégias de polícia eram voltadas paraprender os criminosos da boca de fumo. Aí, vão selembrar, porque os filmes e a mídia mostravam diver-sos chefes de quadrilhas donos de boca de fumo. Eesses donos de boca de fumo foram muito retratadosna nossa poesia cotidiana; não só nos jornais, mas na

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nossa poesia cotidiana. E foram endeusados; algunssaíam nos jornais – quando eram presos ou quandomorriam. A maioria deles eram presos. E quando che-gavam a uma certa idade eles tinham uma relaçãomuito simples, muito fácil com o entorno da boca defumo. Era uma relação de proteção. O Estado nãoestava lá. Então, eles ajudavam com bolsa de com-pras, melhorias, etc. Era uma relação de quase comu-na, quase Robin Hoodiana. A palavra não existe, mastodo mundo tem o seu neologismo, e eu tenho direitoa ter o meu. Isso foi retratado em uma poesia quecantamos e que costumo até citar. Vocês devem selembrar que cantamos:

Oba, oba, oba, Charles!

Como é que é, my friend Charles?

Como vão as coisas, Charles?

Charles, anjo 45,

protetor dos fracos e dos oprimidos,

Robin Hood dos morros, rei da malandragem.

Um homem de verdade,

com muita coragem.

Só porque um dia

Charles marcou bobeira

e foi tirar, sem querer,

férias em uma colônia penal.

Foi preso.

Então, uns malandros otários

deitaram na sopa,

e uma tremenda bagunça o nosso morro virou.

E o morro, que era um céu,

sem o nosso Charles um inferno virou.

Vejam só: a saída do Charles provocou uma mudan-ça. Alguém assumiu a boca de fumo.

Aí, vem a oração que nós, que cantamos essa música,fizemos.

Mas Deus é justo e verdadeiro,

antes de acabar as férias

nosso Charles vai voltar.

Rezando para o Charles fugir. Vocês se lembraramdisso? Rezando para o Charles fugir da cadeia.

Paz, alegria geral,

todo o morro vai sambar,

antecipando o carnaval.

Vai ter batucada,

uma missa em ação de graças,

vai ter feijoada,

whisky com cerveja

e outras milongas mais.

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Muita queima de fogos

e saraivadas de balas pro ar,

prá quando nosso Charles voltar.

E o morro inteiro feliz

assim vai cantar:

Oba, oba, oba, Charles!

Como é que é, my friend Charles?

Como vão as coisas, Charles?

Lembram-se de que eu disse que o nome do lugar eraa boca de fumo?

Agora, vejam como ele descreve a festa: vai ter feijoa-da, missa e ação de graças; vai ter batucada – coisa domorro; missa e ação de graças – também coisa domorro. Porque àquela época, oriundo dos escravos,prevalecia nos morros a religião umbandista, de raizafro-descendente.

E o sincretismo fazia com que o umbandista freqüen-tasse o terreiro, mas também a Igreja de São Jorge.Faz parte disto aqui. Então, vai ter batucada, missa eação de graças, whisky com cerveja e outras milongasmais. Saiu do morro ou foi alguém do morro que nãoé de lá, porque whisky não tinha no morro; cervejamuito menos. Na verdade, era um samba do Rio, comcachaça, mas cerveja tudo bem. E as outras milongasmais não eram a maconha, porque senão seria fuma-ça. Ou seja, quando o Charles voltasse, antes de aca-bar as férias, outras pessoas estariam no morro para

antecipar o carnaval. Muita queima de fogos e sarai-vada de balas para o ar, para quando o Charles voltar;o morro inteiro assim vai cantar. Disseram que elenão vinha, olha ele aí. Cantamos isso, ovacionamos oCharles desde 45, que possivelmente era 45 por cau-sa da arma, e não por causa da idade, se bem quenaquela época ele podia ter 45 anos, o que não temoshoje. Aquele cenário bucólico mudou totalmente. Porque mudou? Razões estratégicas e comerciais.

Vejam só: daquela época para cá muda o cenário dedrogas. Por quê?

O consumo de drogas aumentou de tal forma que,em relação às leis imutáveis – há leis que são imutá-veis, como a lei da procura e oferta –, aumentou aprocura. Aumenta a oferta e baixa o preço, para poderatender à demanda. Então, o capital de giro é maisimportante do que o lucro acumulado. Vamos fazer ocapital de giro. Aumentou o número de pontos de re-venda. A boca de fumo passou a ser, agora, clínicageral. Tinha de tudo. E vamos ficar cada vez maisperto do mercado consumidor – é óbvio. Pois bem, háum racha. Em algum lugar talvez um racha em cima,nos grandes fornecedores. E esse racha provoca umamudança de cenário. Unido a outras características,começam a surgir as facções, porque elas querem omelhor ponto de revenda de droga. Quando eu eratenente – podem não acreditar os mais jovens, maseu já fui tenente –, havia uma ritualística no morroonde havia boca de fumo. Havia três motivos paraqueima de fogos: uma festa, chegaram as drogas ouestão chegando os policiais. Todo mundo sabe disso.Então, quando chegava a droga, avisavam o quê? Queo comprador podia se aproximar. De um momento

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para cá pararam de soltar fogos quando chegavam asdrogas para não avisar o grupo rival, porque senãoseria invadido. Depois, mais adiante, começaram a terde buscar a droga mais longe, mas mais bem protegi-dos. Qual é a melhor proteção? É ter um bom meio detransporte, pessoal e armamento para protegê-los. Aí,surgem os “bondes”. Onde eles compraram esse car-ro? Não compraram. Então, o número de roubo deveículos aumenta. As armas mais potentes chegampara proteger a droga e enfrentar os seus inimigos,que eram justamente as gangues rivais. O ponto derevenda de droga, perto do mercado consumidor, co-meça a ser alvo dessas gangues, porém, o local de che-gada também. E um bom ponto de estocagem de dro-gas também. É só ver a característica das favelas quetêm venda de drogas. Favela da Maré – que, aliás, nãoé favela. Não existe mais Favela da Maré. São Fave-las da Maré. São 17 favelas separadas. Por que 17 fa-velas? Porque há a divisão das facções. Não são 17facções. Ontem a minha tropa fez prisões lá. O jornalO Povo escreveu assim: “Tráfico Futebol Clube”.

Quando vi aquilo eu disse: “O que houve?” TráficoFutebol Clube foram os doze que foram presos pelo22º Batalhão. Eles fizeram uma brincadeira dizendoque um time de traficantes foi preso pelo 22º Bata-lhão, com granada e tal. O pessoal da Vila do Pedroestava atacando o Timbau. Eles foram lá e fizeramprisões. Então, há facções ali dentro. Onde fica a Maré?Na Linha Vermelha, na Av. Brasil, cortada pela LinhaAmarela, pela Baía de Guanabara e perto do Aero-porto Internacional do Rio de Janeiro. É um pontobom para colocar uma grande indústria, porque estáperto da chegada da matéria-prima.

Quem não gostaria de ter o seu site ali dentro? É lógi-co. Chegou de navio, de avião, de carro, de caminhão.Está muito próximo. Então, são essas características.

Morro do Alemão. Colocam Complexo do Alemão pelacomplexidade topográfica do lugar. É difícil subirmossem sofrermos ação de comandamento . Comandamento éuma visão militar de quem tem, de cima para baixo, ocomandamento visual, ou seja, leva uma vantagem es-tratégica, uma vantagem tática, digamos assim. Quemconhece o Morro do Alemão, o Complexo do Ale-mão, com as drogas, sabe que é um ponto ótimopara se estocar drogas e armas, para esconder fugi-tivos ou pessoas que sejam alvos da polícia ou deoutras facções.

É difícil de ser invadido. Para invadir o Morro do Ale-mão e ter sucesso é preciso ser uma verdadeira tropade elite.

Pois bem, Maré e Alemão são altamente violentos.

Rocinha. Vamos pegar Maré, Alemão e Rocinha. Dastrês, na opinião dos senhores, Maré, Alemão e Rocinha.

Viu como está difícil? Agora, vamos dizer qual é amenos violenta das três?

Rocinha.

Ninguém teve dúvida, porque ninguém quer ser vio-lento perto do mercado consumidor. É lógico que não.Não vou provocar briga onde vendo.

Então, são dilemas da nossa estratégia. São coisas nasquais temos de pensar como administrador de polí-cia, na nossa estratégia de enfrentamento.

Um outro dilema que vivemos nessa situação. A polí-

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cia, muitas vezes tem de intervir quando há confron-tos interfacções. Eles estão trocando tiros entre si ecom a polícia. Aumenta o tiroteio, não temos dúvida,mas é a única forma de fazer parar. E quando a polí-cia vai há um vasto tiroteio em cima dela.

Então, os intelectuais em segurança pública pergun-tam: por que a polícia não desenvolve ações mais in-teligentes para impedir o tráfico de drogas?

Em primeiro lugar, não somos tão tapados – como di-ria a minha avó – como pensam. Em relação a essasintervenções da polícia, primeiro sabemos que nãovamos acabar com o tráfico de drogas. Segundo, nãoestamos fazendo essas intervenções por causa dasdrogas, mas por causa das armas. Porque a droga traza arma, que provoca a violência. Quando digo quenão é por causa da droga, não significa que não va-mos apreender drogas. Hoje, agora há pouco, apreen-demos 200 quilos em uma operação no Morro doJacarezinho. O que mais provoca prejuízo para o meucliente? A droga ou a arma? A arma. Então, o meufoco é a arma. Quanto menos armas estiverem circu-lando, menos chance de risco há para o meu cliente;menos chance de ele ser vitimado. Mas são irmãs gê-meas. No nosso cenário, nas metrópoles, são irmãsgêmeas. Então, vamos atrás das drogas e das armas.Nossa linha de investigação é pela droga, porque aarma não é comercializada como a droga é. Então,droga deixa mais rastro investigativo, mais sinais derastreamento do que arma; e vamos atrás exatamentedisso para reduzir o índice de violência. Esse é umoutro ponto.

Agora, uma característica que colocamos. Lembram-se de que eu disse que o nosso país é extremamente

jurídico e penalista? Há algumas coisas no nosso Paísque, se bem usadas, seríamos o melhor País da galá-xia. O nosso País tem uma costa invejável, recursoshídricos invejáveis, um clima invejável, recursos ve-getais, Amazônia, fora o resto, o que ainda sobrou doresto do País, como os recursos minerais. Então, osnossos recursos naturais são suficientes para sermosa maior potência econômica no mundo.

Temos recursos minerais, recursos naturais mal utili-zados. Se fossem bem utilizados, estaríamos em ou-tro patamar. Quando pensamos no bom chocolate,pensamos em que lugar? Na Suíça. Há plantações decacau na Suíça?

Não. Pois é. Mas nós temos. É interessante isso. ASuíça não tem cacau e tem o melhor chocolate domundo. Quando pensamos em comer um bom peixe,em que lugar pensamos? Na Itália. Pois é, mas temosrios e mares à vontade aqui. Não vou dizer que é omelhor peixe do mundo, pois paladar não se discute,mas é bom para o nosso mercado consumidor e a pre-ço barato. Então, o que temos em termos de recursos,de templos religiosos, de todas as religiões, e de legis-lação, era para sermos ricos, com a moral elevadíssimae com a solução jurídica para tudo, porque o que háde lei neste País não está no gibi. São as três coisas quemais há neste País: templos religiosos, recursos e le-gislação. Dizia um professor meu da faculdade: “NoBrasil só falta uma lei com dois artigos. Artigo primei-ro: cumpram-se todas as leis em vigor. Artigo segun-do: revogam-se as disposições em contrário.” Bom,se essa lei fosse cumprida, estaria resolvido o nossoproblema geral. Pois bem, então, temos toda essa ri-queza jurídico-penal no Brasil. Mas o que acontece?

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Há um aspecto jurídico que eu não me canso de reba-ter, que é a questão que considero uma verdadeirasandice, pois traz problemas para a polícia. Ela temde ser repensada. É justamente a questão das drogas.O artigo 281 do Código Penal Brasileiro não fazia dis-tinção entre usuário e traficante de drogas desde 1940ou 1941, quando houve a última edição.

Em 1976, tivemos a edição da Lei nº 6.368/76, quetrata exatamente das substâncias tóxicas e entorpe-centes. Essa lei, no artigo 12, deu um tratamento todoespecial ao traficante de drogas. E há aqueles inúme-ros verbos: “Importar ou exportar, remeter, preparar,produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda ouoferecer, ainda que gratuitamente, ter em depósito,transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, mi-nistrar ou entregar, de qualquer forma, a consumosubstância entorpecente ou que determine dependên-cia física ou psíquica, sem autorização ou em desa-cordo com determinação legal ou regulamentar.”

A pena: reclusão de três a quinze anos – uma penarelativamente alta. Eles separaram o usuário do trafi-cante pela percepção do crime.

Ali no artigo 12 está o traficante. No artigo 16 estáescrito: “Adquirir, guardar ou trazer consigo, para usopróprio, substância entorpecente ou que determinedependência física ou psíquica, sem autorização ou emdesacordo com determinação legal ou regulamentar.”

Pena: detenção de seis meses a dois anos; a máxima émenor do que a mínima da outra.

Pois é. O sistema jurídico penal brasileiro diz o se-guinte: a figura reprovada no direito penal vem com overbo no infinitivo. Mostre-me o verbo usado no

infinitivo: usar. Não há. Desde 1976 que usar droganão é crime neste País.

Por quê? Porque o direito penal brasileiro diz o se-guinte: “O que é proibido tem de vir com o verbo noinfinitivo.” Voltem o slide. “Importar...” Olhem osverbos. Estão todos no infinitivo. “Guardar, a consu-mo, entregar...” Agora, voltem para o outro: “Trazerconsigo para uso...” Consumo e uso é a mesma coisa.Trazer não significa usar. Significa estar de posse.Então, a bem da verdade, é do portador para consu-mo. Como saber quem está portando para consumoou para vender? Qual é a diferença? Então, eu per-gunto: o cidadão é pego com um grama de cocaína. Épara o quê? Para consumo.

Um quilo? E se eu disser: “Sou usuário, sou depen-dente, tenho dinheiro para comprar um quilo, para usardurante um mês?” A pena era diferente para quempossuía para uso próprio. Não eram apenados porqueusavam, e sim porque traziam com eles; e a distinçãoentre usuário e traficante era condição econômico-social. A lei diz isso, e não mudou. Mudou só um pou-co. Mudou a legislação. Lei nº 11.343/2006, artigo33: o artigo é comparável ao artigo 12 da Lei nº 6.368/76. Aquele artigo 12 passou para a detenção de um atrês anos para traficante. O artigo 16, que fala emadquirir e guardar para consumo pessoal, passou a terpena de advertência, prestação de serviço, medidaseducativas, ou seja, acabou a pena privativa de liber-dade. Se observarmos, veremos que lá havia umaquestão. Se foi fornecida, ainda que gratuitamente,está em uma festa, um deu para o outro, era trafican-te. Hoje nem pena há para isso. Onde quero chegar?

Não vou dizer se deve ou não liberar o uso de drogas,

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porque seria muito simplista a minha posição. Mas deuma coisa eu não tenho dúvida: na década de 1920,nos Estados Unidos, no auge a Lei Seca, era proibidousar álcool. Foi proibida a venda, o transporte, a fa-bricação de álcool. No que deu aquilo? Fabricação noparalelo, fabricação ilegal, transporte ilegal, venda ile-gal, gangues, os chamados gangsters, da máfia, seja lá oque for, mais violência e corrupção. Violência entreas gangues, entre as gangues e a polícia, com o siste-ma de fiscalização, o sistema de repressão, a polícia, oMinistério Público, os juízes. Os filmes retratam bemisso. Não foi no que deu? Como é que eles resolveramo problema? Com a polícia não foi. Foi com a regula-mentação. Eles regulamentaram. Tomaram uma deci-são social: vamos regulamentar isso. Tanto é que osímbolo dos mafiosos daquela época era o Al Capone.E quem destruiu Al Capone foi Eliot Ness, que eraFiscal de Rendas. Ele não era policial. Então, a solu-ção não foi policial. Eles encontraram uma soluçãoestratégica para prender, o que não resolveu o proble-ma. Foi a regulamentação que resolveu. Agora, aquieu vivo em uma sandice: é permitido usar, mas é proi-bido vender, o que faz com que a polícia se volte parao criminoso, e não para o crime. Se o problema é adroga, tenho de combater a droga. E sou obrigado acombater o criminoso, e não a droga, porque na mãodo usuário não é proibido. No máximo, que seja, seestiver portando, posso dizer: “Olha, não faça isso.”Se está na mão do traficante, a pena é alta, e ele vaificar violento. Então, isso aumenta a violência e acorrupção em todas as esferas. A sociedade decide:ou a droga é proibida para todo mundo ou é permiti-da para todo mundo, inclusive para vender. Essa éuma decisão que tem de ser tomada, porque senão a

polícia vai continuar enxugando gelo. Não há comofazer outra coisa neste sistema: voltar a ser somentecontra o criminoso, e não voltado para a solução docrime. Quem espera que a polícia acabe com o tráficode drogas pode mudar de opção, pois não é possível.É juridicamente impossível a polícia acabar com otráfico de drogas. Não conseguiram acabar nos Esta-dos Unidos com o álcool. Deram o seu jeito. Agora,só há um detalhe: quem fabricava no mercado parale-lo, quem transportava no mercado paralelo e quemvendia no mercado paralelo nos Estados Unidos pas-sou para o mercado formal, como as grandes indús-trias e as transportadoras de vendas. E foi regulamen-tado o uso do cidadão. Ninguém está proibido de be-ber nos Estados Unidos, mas há municípios em que,se o cidadão beber em via pública ostensivamente,sofrerá uma pena no mínimo administrativa. Se esti-ver bebendo na rua piorou. Há hora para beber.

Há cidades em que os bares fecham às duas horas damanhã ou até mais cedo. Eles têm a sua regulamen-tação conforme a característica da sociedade. E co-mo diz o Governador: lá os Estados têm capacidadepenal.

Não podem desobedecer a Constituição, mas têm ca-pacidade penal. A Flórida não é igual a Oregon, quenão é igual à Califórnia. São três coisas totalmentedistintas. Todos são Estados, mas são distintos, comsociedades distintas, embora seja sociedade norte-americana.

Têm as suas características. E os Municípios têm ca-pacidade administrativa diferenciada. Nós não, pega-mos uma lei penal, pena única, e vemos que no Acreele sofre a mesma sanção penal que sofre aqui no Rio

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de Janeiro, ou sofre as mesmas restrições legais doRio de Janeiro no Acre. E eu não falei ainda em rela-ção à floresta Amazônica, em uma cidade qualquerdo Acre ou da Amazônia, que têm características dis-tintas, bem diferenciadas. Vivemos com essas carac-terísticas.

Outra coisa: o que faríamos hoje se regulamentásse-mos a droga? Se fosse permitida a venda, o trabalhomanufaturado, a armazenagem, o transporte, a reven-da, a fabricação, qualquer um de nós nesta sala pode-ria vender drogas. Desde que fosse legal não haverianenhuma questão. Quanto à questão moral, não seise alguém aqui que tem comércio de bebida, mas be-bida é uma droga, só que não é ilícita; é lícita. Então,a maconha entraria no campo. Pois bem, quem temqualquer tipo de comércio em que os clientes utili-zam bebidas alcoólicas – é só olhar para mim, nãorespondam, vamos pensar para dentro – colocaria paratrabalhar, caso abrisse, se legal fosse um comércio devenda do que hoje é considerado droga ilícita, a pes-soa que está nesses guetos com um fuzil na mão, mui-tas vezes mal encarado, ou pessoas bem preparadaspara atuar nesse mercado, fazer vendas, com lojas bemcolocadas? Logicamente, sabem qual é a resposta,porque comércio é comércio, negócio é negócio. En-tão, vão buscar dentro do mesmo padrão das ativida-des que têm nas suas empresas hoje o padrão de aten-dimento ao cliente. E o que faria o Estado com essesjovens que estão com fuzis na mão nesses morrosfluminenses, em especial na grande metrópole, sempreparação para o mercado de trabalho, e que hojetêm uma perspectiva de vida de até no máximo 20anos. Porque se tem 20 anos e está no tráfico é coroa,porque com 20 anos ou está preso ou está morto. Essa

é uma lamentável verdade estatística. Essa é a razãopela qual se busca muita comunicação de dentro dopresídio para fora. Porque os senhores imaginem oseguinte: essa garotada sem preparação, sem contato,sinceramente, são eles que trazem as drogas para den-tro do morro? Não. Então, o ponto de contato comquem traz não pode ser multiplicado de uma hora paraoutra, sob pena de quebra de sigilo.

Então, enquanto ele estiver preso busca-se esse con-tato com ele, sim, para que ele não passe para outro.É como o segredo da lenda dos Cavaleiros Templários,ou seja, aquilo ele só pode morrer quando passar paraoutro. Essa é uma das características do que acontecehoje. São dilemas que a polícia vive.

Logicamente que temos estratégias, táticas e açõesreativas. Em 28 de dezembro do ano passado o Go-verno que saía enfrentou um problema chamado ondade ataques, e a Segurança Pública enfrentou à altura.Foi pega de surpresa, mas respondeu à altura. Come-çamos este ano, no auge dessa crise de onda de ata-que. Tivemos de pegar os nossos planos de políciainterativos, relação comunitária, etc. E muitas mo-dernizações que queríamos fazer tivemos de deixarna gaveta.

Deixamos a gaveta aberta, mas deixamos na gaveta; etivemos de partir para o confronto, para o enfren-tamento, mesmo sabendo que teríamos de tornar maisrarefeita a ostensividade. Eu não poderia permitir queessas ondas chegassem cada vez mais e que mais víti-mas inocentes, policiais ou não, fossem feitas. Tive-mos de partir para o enfrentamento, mesmo sabendoque os nossos policiais estavam cada vez mais em ris-co. Então, viemos, no ano, com a mesma quantidade

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de policiais mortos que havia no ano passado; umaumento do número de criminosos mortos em con-fronto com a polícia; um número muito maior de con-frontos; o número de prisões, de detenções diminuin-do. E apanhamos muito, porque diziam: “Isso não éestratégia de segurança pública.” E sabíamos. Real-mente, não é. Só não podíamos dizer o que estavaacontecendo, senão o cidadão ia ouvir e a pessoa iadizer: “Professor Hélio Alonso, a sua rua pode serassaltada. Eu preciso desse policial para fechar ali,senão eles vão descer e vão matar o senhor.” “Esperaaí; ou vou ser roubado ou vou morrer. Que história éessa?” Vou para uma área de confronto fora do País,que está mais segura.

E tivemos de fazer certas coisas, de ter a coragempara fazer, para partir para o confronto com os poli-ciais. Os meus policiais tiveram de ter coragem paraconfrontar, para encarar todas as críticas, em silêncio,até que chegou o momento em que pudemos falar.Foi um dos momentos mais emocionantes da minhacarreira de 31 anos e meio. Isso foi em Vila Cruzeiro,quando a sociedade que mora lá procurou o jornalistae disse:

“Olha, os bandidos estão atirando na gente para dizerque é a polícia.”

Quando os traficantes deram uma ordem para que afavela toda descesse, eu fui para um programa de te-levisão e disse: “Não desçam, porque vamos protegervocês.” E a favela não desceu. Foram momentos emo-cionantes, quando conseguimos o apoio daquela co-munidade. A mídia, percebendo, deu o foco e a polí-cia teve uma credibilidade de 53% na pesquisa deopinião do Galup. Não chegávamos a 20%. Foi o

momento mais emocionante da minha carreira. Se nodia seguinte daquela estatística eu morresse ou fossedemitido do meu cargo, eu já sairia satisfeito. Mascomo não saio, tenho de buscar momentos de satisfa-ção, porque o povo merece. Não morri, não estou compressa. O povo merece exatamente isto: que possa-mos, agora, a partir de outras coisas que acontece-ram, trazer novas estratégias, novas idéias. O Gover-nador tem apoiado as nossas estratégias. Já era parater acontecido há mais tempo a terceirização da frota.A licitação está em andamento agora, e dá uma dife-renciação grande no emprego de tropa, na adminis-tração. Outra: são planos sobre os quais falei desde oano passado, quando foi anunciada a mudança dasgestões dos batalhões, de responsabilidade territorial esem o símbolo de batalhão, aquele símbolo grande, quefaz com que as pessoas acreditem. Se for colocado umbatalhão ao lado da minha casa, eu vou me sentir segu-ro. Mas não é possível colocar um batalhão ao lado dasua casa sem aumentar o efetivo da polícia. Se a sededa polícia aumenta, vou ter de tirar de algum lugar; vaiser um outro batalhão policiado; vou ter de colocar de50 a 60 pessoas na administração do batalhão, porquetoda empresa precisa de uma área administrativa, queé o suporte da área operacional. E a nossa administra-ção pesada faz com que isso aconteça.

Então, estamos tirando aos poucos, de dentro daque-la gaveta, que estava aberta, os nossos planos, a nos-sa estratégia. E com certeza temos cada dia mais umavirada. O número de prisões aumentou; não caiu onúmero de bandidos mortos porque são ousados eenfrentam a polícia. E o meu policial vale muito paramim, para a família dele e para os senhores. Ele é muitocaro. Não estou falando em valor pecuniário.

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Ele é muito caro. Há um investimento moral e socialmuito grande em cada policial. Cada policial que tom-ba em um confronto os senhores se sentem atingidos,não tenham dúvida disso. Sente mais quem é policial.Mas o cidadão de bem se sente atingido. Ele diz: “Seo policial tombou, o próximo posso ser eu.” E senho-res, desde julho que não morre um policial em con-fronto. De lá para cá, já morreram cinco policiais emserviço: quatro em acidente de trânsito e um enfartado.

Lamento a morte dos meus policiais, mas não foi emconfronto. A perda é a mesma, mas há um outro sen-timento dentro de mim que é bem diferente.

Quanto ao que morreu enfartado eu posso até partirmais para uma percepção religiosa em relação ao quemorreu com um tiro covarde, como morreu um solda-do do Batalhão de Operações Policiais Especiais(BOPE) descendo do blindado na Vila Cruzeiro, quan-do decidi invadir a Vila Cruzeiro, depois o Alemão,com o apoio do nosso secretário e do nosso governa-dor e com o sacrifício da minha tropa. Isso foi muitoimportante.

Vou contar uma história para os senhores. Obrigado.

Deixe-me contar a história. Normalmente, fecho apalestra com a história, porque sua construção é ba-seada exatamente nessa linha da palestra que eu apre-sentei. Todos conhecem a história do ChapeuzinhoVermelho. É justamente essa história que vou contar.Chapeuzinho Vermelho, aquela menina bonita, de pelebranca, rosto rosado, recebe a seguinte missão de suamãe: Chapeuzinho, está aqui a cestinha de doces quevocê vai levar para a vovozinha. Mas olhe só, ela moralonge, lá do outro lado da floresta. Cuidado com o

lobo mau, pois ele está aí à solta. Vá pela estrada, nãová pelo bosque, não vá pela floresta. ChapeuzinhoVermelho vai e, daí a pouco, entra no meio da flores-ta e pega uma trilha. O lobo mau aparece, enganaChapeuzinho, ludibria Chapeuzinho, corta um atalho,vai na frente, se alimenta da vovozinha, e quando elevai pegar a sobremesa, que é a Chapeuzinho, os caça-dores chegam e conseguem salvar Chapeuzinho e avovó. Essa é a metade da história. Essa é a metadeconhecida e a minha versão da história. Qual é o nomeda menina da história mesmo?

(O plenário responde: Chapeuzinho.)

Pois é. Chapeuzinho Vermelho é alcunha, apelido, nãoé nome.

“Atende por”, não tem nome. A menina não temnome. Não tem porque não tem referência familiar.Quem é o pai da Chapeuzinho? Não aparece na histó-ria. Aliás, na história só aparecem dois elementosmasculinos: os caçadores e o lobo mau. Os demaissão elementos femininos: a mãe, aquela desmiolada,que manda uma criança, que não sabe diferenciar ocerto do errado, o bem do mau, o caminho correto.Olha o que a história faz com a figura feminina. Elamanda a menina enfrentar o perigo, escolher o cami-nho, para levar o doce para a vovozinha, que mora noperigo, lá do outro lado da floresta, abandonada, sozi-nha, sem nenhum amparo ao idoso. Deve ser mãe dopai da Chapeuzinho, que não aparece na história. Nãoaparece se a mãe é viúva, se o pai a abandonou; éincompetente e não merece ser citado. Aí, no meio docaminho, Chapeuzinho, desobediente – a mãe mandair por um caminho ela vai por outro –, fala com estra-nhos na rua – o lobo mau está ali representando o

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estranho –, faz tudo o que a mãe disse para não fazer,e ainda vai cantando, que é para chamar bem a aten-ção. É quando aparece o lobo mau. Por que ele é mau?O lobo só ataca para se defender ou para se alimen-tar. Ele atacou para quê?

Para se alimentar. O ser humano ataca para se defen-der, para se alimentar, por vingança, por ódio, poregoísmo, por ciúme, por inúmeros motivos que já vi-mos e outros que ainda vão surgir. Mas o lobo só ata-ca por dois motivos. E por que ele é mau e nós não?Aliás, não sei se tem alguém formado na área de bio-logia ou zoologia, mas que eu saiba criança e velhi-nha não fazem parte da cadeia alimentar do lobo. Nãofazem.

Quem é o filho daquela senhora que está abandona-da. Não é ele, porque ele vai atacar a velhinha tam-bém. E quando o lobo mau, que só foi se alimentar,

se alimenta da velhinha e vai pegar a sobremesa, quemchega? A patrulha de caçadores de lobo mau, que re-solve o problema como? Matando. Aquela história eessa terminam da mesma maneira. Elas são construí-das da mesma maneira e terminam da mesma manei-ra, fazendo um paralelo com a nossa sociedade atual,não com a Idade Média, mas com a média da nossaidade. Já é outra história, o que mostra exatamentetoda uma questão social que é deixada de lado, a ques-tão da prevenção na qual o senhor tocou. E quandotudo falha, chamam a polícia para resolver, tal qual apatrulha de caçadores. Por isso é que a polícia destePaís trabalha em cima do criminoso, e não do crime.

10 de outubro de 2007

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Senhoras e senhores, para mim é um grande pra-zer estar aqui diante de tão seleto auditório e de pes-soas ligadas ao mundo turístico, ligadas a essa fasci-nante área de trabalho que é o turismo.

Falar sobre a Rússia é até um pouco difícil. Pode pa-recer contraditório o que vou dizer, mas é difícil por-que eu poderia abordar muitos itens que vão desde asvárias possibilidades de turismo até a parte do turis-mo de eventos, que é um turismo complexo. Vou ten-tar, então, sintetizar, falar sobre o país, que eu acredi-to que também tem um interesse bastante importan-te, porque a Rússia é conhecida com alguns estigmas.E nós aqui vamos tentar trocar idéias, porque exis-tem pessoas aqui, como o Professor Mângia, que játrabalha com a Rússia há mais de 30 anos. Ele foiuma das primeiras pessoas a desenvolver projetos coma Rússia, conhece a forma de negociação. Existem

outras pessoas que também têm essa bagagem, maseu desconheço. Então, para podermos unificar, voufalar algumas coisas enquanto os slides estão sendoapresentados. Depois, vamos falar especificamentesobre as regiões da Rússia, a começar pela área daRússia: são 17 milhões de quilômetros quadrados; umpaís que tem 11 zonas de tempo e que, além do terri-tório contínuo, ainda possui um Kaliningrado, que ficapróximo à Alemanha e que faz parte também daRússia. A Rússia tem 143 milhões de pessoas, é umpaís com mais de 100 nacionalidades. Depois da que-da da União Soviética, são 15 repúblicas com nacio-nalidades muito específicas, como a Geórgia, a Ucrâ-nia, a Estônia, a Letônia. Ainda dentro da Rússia co-existem mais de 100 nacionalidades, ou seja, aRússia é uma federação. E essa federação possui 49regiões. Vinte e uma repúblicas não menores em ter-mos de povos, de nacionalidades, que têm os seus

RÚSSIA – UMA PARCEIRA ESTRATÉGICANO CONCEITO DO TURISMO

Sérgio Palamarczuk

Diretor da Câmara Brasil-Rússia de Comércio, Indústria & Turismo

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costumes e falam até outro idioma, muitas vezes.Moscou e São Petersburgo são cidades sob controlefederal, ou seja, o Prefeito de Moscou e o Prefeito deSão Petersburgo são designados pelo Presidente daFederação Russa.

Falando sobre o sistema político, o Presidente tem oseu Primeiro-Ministro, que também exerce uma fun-ção dentro do controle do ministério. Existe a Assem-bléia Federal, que é composta pelo conjunto federal,que são os Senadores, e a Duma, que são os Deputa-dos Federais.

Então, dentro desse sistema de multinacionalidades,temos um outro ponto que são as religiões tradicio-nais na Rússia, que são: a religião ortodoxa, que é apraticada por mais de 50% da população – porque50% deles são ateístas – porém de 2% a 3% freqüen-ta, aos domingos, as igrejas. Logo depois dos ortodo-xos, estão os muçulmanos, que são 13 milhões. Sãobasicamente os que vivem na região do Cáucaso e naregião do Azerbaijão, Usbequistão. existem os budis-tas, que são 900 mil, também na Sibéria, e existe opessoal que professa o judaísmo. Essas são as reli-giões tradicionais da Rússia. Isso define a complexi-dade que o país tem de ter, ou seja, em razão dessadiversidade de idiomas e religiões. Foi uma das razõespelas quais houve uma mudança, para se dar ênfase aessa idéia de nacionalidades e religiões, ou seja, o dia4 de novembro foi definido como o dia da identidadede todos os povos, porque na época do czarismo essadata era comemorada como a data do chamado “Na-rodny Idinrsvo”, quer dizer, da identidade, da unida-de, das nacionalidades. Então, essa data está sendocomemorada. Eu tive oportunidade de participar no

Kremlin desse almoço com o governo, por uma ques-tão de laços que meus avós deixaram na Rússia logodepois da revolução. Então existe bastante interessehoje nas pessoas que vivem e falam o idioma. Houveuma mudança total de postura em relação à que exis-tia no governo soviético. É uma volta às tradições, aoprograma da nacionalidade e da forma, independen-temente da religião.

A Rússia tem esse estigma, que veio da antiga UniãoSoviética, evidentemente com uma forma em que hojeas mudanças ocorridas são tão grandes que é necessá-rio colocar o ponto principal das mudanças de costu-mes. Por exemplo: Moscou, pelas alterações que ocor-reram, pela quantidade dos bens materiais que lá exis-tem, é uma cidade, hoje, em que um jantar, em umrestaurante de nível não muito elevado, custa de US$100 a US$ 150. Não existem hotéis três estrelas nocentro da cidade, só cinco estrelas. Acabou de ser inau-gurado o Hotel Carlton Ritz no centro de Moscou.Então, o turismo de Moscou é, realmente, de altíssimocusto. Por isso muitas pessoas têm dificuldade, querdizer, a pessoa que vai querer ficar só no hotel temdificuldade; vai ter de ficar longe do centro da cidadeem função dessas características. O preço de umaquitinete de 50 metros quadrados é de US$ 125 mil.É um preço exorbitante. Essa informação é impor-tante para saber o tipo de mudança que houve. Anti-gamente, no período de 1992 até 2004, existia o hotelRossia, no centro da cidade, que foi derrubado, o ho-tel Moskva e o Hotel Intourist. No lugar do HotelIntourist foi criado o Carlton Ritz, ou seja, em umhotel em que a diária com café da manhã custava US$50, hoje você tem de pagar US$ 700. Então, realmen-te, é uma situação que não conseguimos entender. Mas

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é claro que se os homens de negócios estão fazendoisso é porque a renda advém de um hotel de maiorpreço. Já São Petersburgo tem uma característica umpouco diferente. Lá existem hotéis menores, commenor quantidade de quartos e o preço é um poucomais aceitável.

Eu falei rapidamente disso para mostrar a dificulda-de, a forma, a diferença que existe no turismo da ci-dade de Moscou. Tanto isso é verdade que basica-mente as grandes empresas de receptivo de Moscoupreferem começar o tour de três noites chegando nasexta-feira, fazendo o sábado e o domingo, inclusivepelo preço dos hotéis e também porque é mais fácil semovimentar, pois a cidade de Moscou tem três mi-lhões e duzentos mil automóveis. Ela é radial e comanéis. Tem um anel periférico e mais dois anéis. Comisso, não consegue fazer a movimentação de automó-veis. Eu, por exemplo, quando estou em Moscou, pre-firo andar de Metrô. Pego o Metrô e vou até ondedesejo. Depois de lá tomo um táxi, porque se eu forde táxi de um ponto a outro, posso levar de três aquatro horas. É semelhante a São Paulo. Dizem quese chegar a quatro milhões de automóveis a cidadevai parar. A característica da cidade é um movimentomuito grande e de carros. Por exemplo: Mercedes,BMW, todos esses carros são comuns; você vê nor-malmente. Moscou é uma cidade com vários cassinose com restaurantes caríssimos. Então, ela tem um altopadrão, quer dizer, para as pessoas que querem gastardinheiro, realmente é uma cidade que tem todas essascondições. Já na cidade de São Petersburgo existe tam-bém essa característica de gasto de dinheiro, mas tam-bém é uma cidade muito mais cultural pela sua tradi-ção, pela forma como foi construída, em 1703, onde

foi dada uma atenção muito grande à arquitetura, àforma, à arte, da qual toda a cidade está impregnada.

No decorrer da apresentação eu vou falar sobre asregiões.

Eu gostaria de começar pela Sibéria. A região daSibéria é que para o turismo está dando início. É umaregião que corta a Transiberiana, que sai de Moscou evai a Vladivostok. Vamos dizer assim: é a mais longaestrada de ferro, tendo sido construída no século XIX.Na Sibéria, além da Transiberiana, o Lago Baikal étambém uma das atrações. Na Sibéria buscam-se acaça e a pesca. A caça na Rússia não é proibida. En-tão, pagando uma taxa os caçadores podem abater umanimal. Por exemplo: um urso ou então a pesca; até apesca do salmão é permitida. Então, é uma região queainda permite, pela dimensão, a caça e a pesca. Aquitemos o famoso xamã. Os xamãs habitam a Sibéria e,evidentemente, também são elementos turísticos emfunção dessa incógnita.

O único lugar do mundo onde o xamanismo é reco-nhecido como uma religião oficial é na Rússia; e vemde um dialeto siberiano – o Ksamân: é aquele queestá conectado. O Xamanismo na Rússia é oficial.

Nós tivemos a viagem do Paulo Coelho, e tivemos ahonra de organizar a parte da Rede Globo, a parte daGlória Maria com o seu cinegrafista, que fez toda aTransiberiana, saiu de Moscou e foi até Amuroa. Ele,não se sabe por que – até tentamos entender –, nãoquis um encontro com os xamãs. Ele realmente nãofez nenhum encontro. Foi algo que estranhamos, por-que realmente não houve isso. Ele deve ter as suasrazões. Mas ele ficou muito tempo no Baikal, que é o

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maior lago do mundo, é o lago mais profundo. OBaikal, para o turismo de ecologia, é, ainda, algo nãodesbravado, porque não temos resorts. Não há, ainda,uma infra-estrutura que possibilite um turismo emgrande escala. Então, são locais potenciais, com umabeleza diferente, que permitirão, para o futuro, inves-timentos, digamos, com uma probabilidade muitogrande de acerto.

Já eu diria que a única maneira hoje de se conhecer aSibéria é por duas formas. Há dois tipos de trens. Háo trem superluxo, que sai de Moscou e vai a Vladi-vostok, ou até Pequim. É um trem cinco estrelas man-tido por uma companhia inglesa. Inclusive, com doisanos de antecedência há necessidade de se fazer a re-serva, porque está sempre lotado. Eles têm um tremque é como os ingleses gostam: a famosa maria-fuma-ça, uma locomotiva que ainda se faz, além das de-mais. E existe também a possibilidade de se fazeresse turismo usando o trem comum, que faz o per-curso de Moscou a Vladivostok. Mas é um trem maissimples, mais para os mochileiros. Então a Sibérianos oferece a parte de turismo ecológico e também acaça e a pesca.

Já em linha com a parte do Baikal, o rio Volga é consi-derado a mãe da Rússia, porque era por onde se escoa-vam todos os produtos, a riqueza. O rio Volga, atra-vés de seus canais, consegue chegar a Moscou com omar do Norte. Então, é possível você navegar no del-ta do Volga até Moscou e São Petersburgo. E existemcruzeiros regulares no verão Moscou-São Petersburgoe São Petersburgo-Moscou até o delta. Também é umadas formas de turismo.

Esta é a famosa estátua de Volgogrado, que tem

mais ou menos 70 metros. Volgogrado é a antigaStalingrado.

Esta cidade fica em um dos canais do cruzeiro Mos-cou-São Petersburgo. São cidades do Norte da Rússianas quais é possível fazer cruzeiro. Para as pessoasque gostam, que se interessam pela parte da cultura,pela arquitetura, pela história, é possível conheceressas cidades por meio desses cruzeiros que ligam SãoPetersburgo a Moscou. Esses cruzeiros – é bom quedigamos – não são marítimos. Os barcos são meno-res, porque o rio não permite os de tamanho grande.Mas esses cruzeiros são muito comuns para as pesso-as que gostam de aprender música, quer dizer, é umturismo mais ligado à cultura. Não é um turismo supercaro, por exemplo. Eu diria que é um turismo até ba-rato. Até diria que a pessoa que não quer gastar muitopode fazer uma visita de cruzeiro, em que está tudoincluído, a própria cidade de Moscou e São Peters-burgo. A pessoa fica no próprio barco. É a maneiramais barata de se conhecer as duas cidades.

Dentro do Kremlin existem cinco catedrais. Quandovocê visita o Kremlin, então, você opta por duas ca-tedrais. Esta é a mais famosa – a Catedral de SãoMiguel Arcanjo. Lá estão as criptas de quase todos osczares russos. Uma coisa interessante, inclusive, é quevocê não tem nem espaço para participar da missa.Até mais, na parte de cima. É um exemplo especialde arquitetura.

Este é o Palácio do Kremlin, e aqui fica a Sala de SãoGeorge. É madeira com ouro, a exemplo do nossobarroco. A Praça Vermelha com o canhão que nuncadeu um tiro, mas que tem cinco metros de compri-mento. Aqui, a Igreja de São Basílio, em que cada tor-

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re foi construída fazendo referência a cada uma dasbatalhas das quais Ivan, o Terrível, participou. Cadauma destas torres refere-se a uma dessas batalhas. OTeatro Bolshoi e a Igreja de São Salvador. Esta igrejatem uma história interessante. Os comunistas derru-baram a igreja que ali havia e queriam construir aliuma sede do Partido Comunista, e não se sabe porque eles nunca conseguiram. A região é um poucopantanosa, e não conseguiram, com a tecnologia da-quela época, construir. Depois resolveram, já que ti-raram a igreja, transformar aquilo em uma piscina pú-blica. Com a queda da União Soviética, a igreja, en-tão, solicitou de volta o terreno e construiu esta igrejano mesmo local, mantendo os desenhos. E ela estáem pé até hoje.

Uma outra história sobre São Basílio é que um dosimediatos de Stalin, quando passava, durante as festi-vidades, na Praça Vermelha, disse: “Temos de derru-bar essa igreja, porque ela está atrasando”. Aí, fize-ram um projeto. Quando o apresentaram a Stalin, eledisse: “Nada disso. Essa igreja tem de ficar onde está.Não tem de mudar. Ela é que faz a beleza da PraçaVermelha”.

Este aqui é o Convento Novodenich. Ao lado do con-vento existe um cemitério onde estão todos os gran-des artistas, grandes escritores.

Aqui é a Galeria Tretiakov, onde estão basicamenteos artistas de origem russa. Este é um prédio interes-sante. Existem cinco prédios como este que foramconstruídos na década de 1950, todos com mais oumenos 40 andares e todos nesse estilo. O sétimo estáem Varsóvia. E foram construídos dessa maneira,creio eu – é uma interpretação minha. Stalin, quandoconstruiu isso, quis mostrar o seu poder e estilo.

Este é o Metrô. O Metrô de Moscou é, realmente,uma coisa muito interessante, porque ele é todo demármore. Você anda em todas as estações do centroe tem a impressão de que está andando em um palá-cio subterrâneo. É uma experiência muito interessan-te, porque você vê que cada estação é diferente daoutra. E não são pichadas.

Se bem que a situação está complicada também, por-que a quantidade de policiais que existem nas esta-ções é inacreditável. Às vezes, os turistas vão à Rússiae recomendamos sempre que, de algum jeito, regis-trem-se, porque quando você chega no hotel, quandovocê passa pelo controle do passaporte, você preen-che um papel. E quando você vai para o hotel, o pas-saporte fica uma hora preso. E eles carimbam atrásdesse papelzinho dizendo que você está naquele ho-tel. É uma tradição ainda que se chama Trapista.Trapista é um registro na cidade.

Então, todos que moram na cidade têm um registro.Se a pessoa sai de Vladivostok e vai para lá, tem de seregistrar. Se ela não se registra, está ilegal na cidade.O sistema soviético copiou direitinho isso com ou-tras finalidades, e os estrangeiros também. Entãoquando você vai a Moscou, tem de se registrar no hotelonde está. Você não pode ficar sem esse registro, por-que isso facilita as coisas para os policiais. Hoje, maisdo que nunca, toda comunicação se faz pelo Metrô.E com esse problema estratégico de terrorismo, é olocal onde existe o controle. As pessoas param. Vocêestá andando e o policial pára para ver os seus docu-mentos. Você está andando com um pacotinhomaior, ele te pára e verifica. Todo mundo aceita isso,porque é uma situação de segurança. Há um controlemuito grande.

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Este é o estádio de Lujniky. Aqui é a famosa rua Arbat,à qual todos os turistas têm de ir. Aqui é Kuskovo,que era uma propriedade do Conde Sheremetev. E elesmantiveram isso. Inclusive eu tive a oportunidade deconhecer o Igor Petrovich Sheremetev, que é descen-dente da família proprietária disso, inclusive nascidona Tunísia. Foi muito interessante conversarmos, por-que eu sou um africano, mas ele é descendente dafamília Sheremetev. É um dos famosos proprietáriosde grandes terras na região. Daí o nome do aeroportoao Norte de Moscou: Sheremetev.

São Petersburgo foi construída às margens do rio Neva.Era uma região muito baixa e, para a construção, houvea necessidade de fazer muitos aterros. Então, realmen-te, é uma cidade em que a quantidade de canais émuito grande. Vamos observar nas fotos que é consi-derada a beleza do Norte, pela forma, pela constru-ção, ou seja, vamos ver aí uma dezena de palácios eigrejas construídas nos séculos XVIII e XIX e nos re-monta a uma época.

Aí, o famoso Mariinsky, ópera, ballet e o teatro. SãoPetersburgo, no meu entendimento, é uma cidade paraaqueles que são adoradores da arte, da arquitetura.As pontes de São Petersburgo, por exemplo, ficamabertas à noite para o tráfego, mais ou menos de umahora até às cinco horas da manhã. Se você estiver emuma ilha, tem de calcular, porque não tem como pas-sar para outra ilha. Aquela ponte abre-se daquelamaneira. E essas pontes são levantadas. Por muitasdelas passam o trailerbus, e todos os postes tambémsobem. É uma engenharia muito interessante. Real-mente, São Petersburgo tem essa característica.

Aqui nesta região há um fato muito interessante, que

é o Kutscamera. Este museu é o único local, que eusaiba, onde existe um cocar dos índios brasileiros. Háuma seção exatamente com cocar e vários utensíliosindígenas, que estão lá desde 1827/1828. Ao que meconsta, o senhor Gregório Langsdoff fez várias ex-cursões científicas e comprou isso na época em queviajou pelo Brasil. Ele foi o primeiro cônsul. Ele le-vou isso para lá e encontra-se em uma sala até hoje. Amaioria das fotos que temos daquela época são depessoas contratadas por ele na expedição. O Debret,por exemplo, foi contratado pelo Langsdoff para virao Brasil, a fim de participar da expedição dele. Te-mos muitos desenhos, e eles se encontram no MuseuNaval de São Petersburgo. E mais do que isso: há maisou menos cinco ou seis mil espécies de plantas. Oherbário continua lá sem ninguém nunca ter mexido.Está lá em um dos departamentos, porque até hojenão houve nenhum interesse em pesquisar tudo issoem conjunto. O rio Tietê, em São Paulo, está estu-dando o restabelecimento da flora e estão buscandoos desenhos feitos pelo pessoal da expedição, parapoder restabelecer. São coisas interessantes que, ape-sar de a cidade de São Petersburgo estar longe da gen-te, são muito próximas de nós, são coisas que conhe-cemos.

Vou passar agora o Anel de Ouro, uma região que ficapróxima de Moscou.

Observem que a estrutura das cidades tem uma certasemelhança. Por exemplo, você vê que o Kremlin deMoscou, que é uma fortaleza, está vermelho hoje, masele era branco. Podemos ver que nas cidades menoresa fortaleza tem a cor branca. Kremlin significa forta-leza em russo.

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Gostaria, depois, de fazer apenas um comentário fi-nal sobre a Igreja de São Sérgio.

A cidade de Zagorsk, que é onde a igreja ortodoxa seconcentrou durante o período comunista, tem um sim-bolismo muito grande. Esta cidade fica a 60 quilôme-tros de Moscou. O interesse da visita a essa cidade épor essa característica. Era aí que o patriarca vivia,aí, portanto, eles tiveram oportunidade de manter ocentro da religião durante o período. Ela tem um grandevalor histórico. E foram todos mantidos intocáveis, àparte. Da minha parte é isso. Agora, estou aberto aperguntas.

21 de novembro de 2007

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Há um pensamento de um célebre filósofo fran-cês, Montesquieu, que me acompanha. Ele disse, noséculo XVII: “O desconhecimento é que gera o pre-conceito”. É um grande pensamento. Em torno disso,cheguei à conclusão, por esses meus estudos e pes-quisas sobre a China, que Montesquieu tinha toda ra-zão. Realmente, as pessoas que não conhecem come-çam a criar preconceito. Eu estudo a China. Apaixo-nei-me por esse tema antes de 1971, quando escrevio primeiro artigo. Era uma reportagem sobre o Co-mércio Exterior da República Popular da China. Delá para cá, tenho me dedicado intensamente ao estu-do da China. É uma paixão. Tenho de apresentar omeu currículo sobre a China. Desculpem-me. Depois,vou falar sobre o turismo; há tempo.

Desde 1971 lutei pelo reatamento das relações, quesó veio três anos depois, em 1974. De lá para cá es-

crevi mais de 500 artigos e reportagens sobre a China.No O Globo, por exemplo, foram cerca de 300. Escre-vi duas séries de reportagens em 1990 e 1992. ORoberto Marinho era uma pessoa genial, de uma luci-dez fora do comum. Em 1990 havia sido convidadopara ir à China pela Associação dos Jornalistas Chine-ses. Como os senhores sabem, a China está riquíssima,com muito dinheiro. Mas eles seguram um pouco odinheiro. Então, convidaram-me pela metade – a partirde Pequim. Tinha de chegar em Pequim. Quer dizer,a passagem era por minha conta. Pequim é do outrolado do mundo. E por conta da China, que era donados hotéis. Tudo estava nas mãos do Estado. Então, adespesa era pequena. Mas não faz mal, tudo bem. Foiuma honra ter sido convidado. Então, ao doutorRoberto Marinho, que era uma boa pessoa, mas quetambém era um pouco duro, eu disse: “Fui convidadopara ir à China, mas preciso da passagem. Eu sou jor-

A EXPLOSÃO DO TURISMO NA CHINA

Carlos Tavares de Oliveira

Jornalista e Assessor do Comércio Exterior da Confederação Nacional do Comércio

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nalista; vou escrever”. Ele, então, perguntou-me:“Você acredita na China? Acredita que a China vaiser boa para o Brasil?” Eu disse: “Roberto, se a Chinaé boa para os Estados Unidos, que estão cercando omercado chinês, acredito na China”. Ele me disse:“Então, vou apostar nisso; vou pagar a passagem”.Eu fui e escrevi uma série de 10 reportagens e umlivro. Em 1992, fui novamente convidado, nas mes-mas condições, e O Globo pagou a passagem. Voltei aescrever sobre a China. Cheguei à seguinte conclu-são: tinha ido aos Estados Unidos, também a convitedo governo americano, e percebi que aquele país es-tava interessadíssimo na China. Se os Estados Uni-dos estavam interessados, penso que nós devemos terinteresse também. Há uma reportagem do Departa-mento de Comércio dos Estados Unidos que dizia oseguinte: “A China ia ser um grande parceiro mundial;talvez chegasse a ser a primeira potência no séculoXXI”. Fiquei impressionado com aquilo e comecei ame dedicar e a estudar a China. Daí, surgiu esse meuinteresse de me aperfeiçoar.

O que aconteceu, então, com esses contatos que tivea partir daí? Aí entra Montesquieu. Há um preconcei-to – essa é a realidade – contra a China por falta deconhecimento. Não se conhece a China. Ninguémsabe. É impressionante esse desconhecimento. Euproferi uma palestra para os professores de história egeografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ). Quando acabou a palestra, abriu-se o debate.A primeira pergunta de um professor de história foi aseguinte: “Doutor, o senhor falou sobre a China. Gos-taria que o senhor me explicasse qual é a diferençaentre Taiwan e Formosa.” Bom, começou a primeirapergunta. Eu disse: “A diferença é a seguinte: Formo-

sa foi o nome dado pelos portugueses, em 1547, quan-do estiveram lá em Taiwan. E Taiwan é um nomechinês que significa plataforma sobre o mar. Mas ailha é a mesma”. Depois dessa pergunta ninguém maisfez nenhuma outra.

Não conhecem, é um preconceito. Eu sei que nestaplatéia talvez sejam poucos os que tenham precon-ceito com a China, mas, se tiverem, deixem o pre-conceito de lado.

Qual é a origem do preconceito, segundo Montesquieu?O desconhecimento. Primeira questão: questão polí-tica. Não há política. O Partido Comunista está nopoder. E daí? O Partido Comunista está no poder noBrasil. Há vários ministros comunistas. O Ministroda Justiça era secretário do Partido Comunista. Nãohá problema nenhum, é partido político. A AméricaLatina está cheia de comunistas no poder – na Vene-zuela, no Chile. Também a Europa, enfim, o mundointeiro. Então, não há problema nenhum. É um parti-do político, discutem-se as idéias. Mas no Brasil ficouessa prevenção.

Outra prevenção: a liberdade de imprensa. Vamosdevagar. Sou jornalista há 40 anos. Não posso escre-ver em qualquer jornal. Eles agora levantaram muitascalúnias e injustiças contra a China em relação a esseproblema do Tibete. Eu já escrevi cartas, mas nãopublicam. Mando cartas para jornais, retificando ascoisas, mas não publicam. Não sou convidado paradebate nenhum na televisão ou em qualquer lugar.Estou aberto, não cobro nada para esclarecer. Sigoum princípio do pensador chinês Confúcio, que diziaque as pessoas boas têm de aprender, para divulgar,para ensinar. Então, esse é o problema. A liberdade

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não. A liberdade das empresas de imprensa, essas, sim,têm liberdade, mas o jornalista não tem liberdade deescrever no jornal. Claro, porque são donos, é umaempresa privada. A pessoa não pode ir contra a dire-ção. E a imprensa na China está nas mãos do governo.

Outro problema é a religião. Os chineses não são reli-giosos. São 100 milhões, 8% da população tem reli-gião; são budistas e protestantes. E quatro milhões decatólicos em uma população de 1,3 bilhão. Aqui é ocontrário: 95% tem religião, acredita em Deus, e 5%não acredita. Mas os chineses respeitam os ateus eagnósticos. Nós, aqui, não respeitamos. Se a pessoadiz que não acredita em Deus, é comunista.

É um conjunto de preconceitos contra a China. En-tão, não se estuda a China. Não procuram saber a ori-gem. É um desafio. Eu escrevi um livro intituladoChina, o que é preciso saber, no qual conto essas histó-rias, resumindo-as. Acabei de terminar o livro China,Origens da Humanidade. A grande recomendação do li-vro é o prefácio, escrito pelo meu amigo EmbaixadorChen Duqing. Quer dizer, ele dá um respaldo técnicoao livro, no qual focalizo 70 invenções chinesas. Porexemplo, estou todo de chinês, aqui. Minha roupa échinesa. Este terno é de seda chinesa. A seda foi des-coberta pelos chineses há seis mil anos. Minha grava-ta é chinesa também. Os chineses são humildes. Lánão havia registro de patente. Quem inventou a pól-vora? Ninguém sabe. Quem inventou a bússola? Nin-guém sabe. Porque eles não têm registro de patente.Na China há um fato interessante: copiar é uma arte.A pessoa pinta um quadro e os outros copiam. Mara-vilha! Copiar uma estátua. Maravilha! Aqui no oci-dente é vendido, custa dinheiro. O Luis Vuitton, fa-

bricante de bolsas, ao examinar uma bolsa copiada naChina, como pirata, disse que era melhor que as dele.

Então, existe preconceito. Mas vamos ao nossotema. Estou trazendo o meu currículo para vocêsentenderem.

Nessa minha luta, tenho uma recomendação do pri-meiro empresário que foi à China, Horácio Coimbra.Dei assistência a ele e mencionei essa viagem: no li-vro China, a superpotência do século XXI, que escreviem 1992. O Horácio Coimbra escreveu o seguinte nofinal do prefácio desse meu livro: “Carlos Tavares,persistentemente, procura abrir os olhos do empre-sariado brasileiro para a imensa potencialidade domercado chinês. Só isso basta para consagrar este li-vro como um desafio que o empresariado japonês,americano e europeu já aceitaram”. Quer dizer, infe-lizmente, no Brasil somente bem mais tarde, apósaquela série de reportagens de O Globo , a exportaçãode fato se expandiu. A China já é o segundo parceirodo Brasil. Acho que será o primeiro daqui a cinco ouseis anos. Para vocês terem uma idéia da potencia-lidade e do crescimento, se China e Estados Unidosobedecerem à mesma taxa de crescimento dos últi-mos 10 anos, no ano 2018 a China ultrapassará osEstados Unidos em tudo. Os Estados Unidos estãocrescendo a 1%, e a China, no primeiro trimestre, cres-ceu 10,8%. Então, ela vai ultrapassar os Estados Uni-dos. Essa é a realidade. E os chineses são humildes.Eles ficam na deles; quem quiser que aceite.

O que aconteceu com a abertura? Foi Deng Xiaoping,um gênio, que, em 1978, baseado mas idéias do ZhouEnlai – outro homem genial – fez a abertura. Ele di-zia o seguinte: para entender a abertura política é preci-

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so ter educação, é preciso saber. Então, promoveu umacampanha e acabou com o analfabetismo na China.Hoje, os analfabetos na China correspondem a 3% ou4%, e são pessoas acima de 50 anos. Quer dizer, to-dos entendem as reformas econômicas de DengXiaoping. Infelizmente, no Brasil não seguimos essesensinamentos.

O que aconteceu com abertura? O que a China tem,hoje, por exemplo, no comércio exterior, na balançacomercial, são US$ 3 trilhões. Um fato interessante,porque, nas estatísticas não se contam Hong Kong eMacau. Os chineses são muito espertos, não fazemquestão de dizer que Hong Kong agora é subordinadaà China. Hong Kong, hoje, é como Rio Grande do Sule Santa Catarina. É uma região da China. Quer dizer,a economia está vinculada e é controlada pelo gover-no. É lógico. Com Macau é a mesma coisa. Os chine-ses não discutem isso, porque eles têm três votos nasreuniões. Hong Kong e Macau estão separadas, inclu-sive na área do turismo, da Organização de Turismo.Na última relação de turismo Hong Kong está sepa-rada da China e de Macau. É a mesma coisa. Os chi-neses não fazem questão disso. Então, são US$ 3trilhões da balança comercial. E as reservas chega-ram, no mês passado, a US$ 1,6 trilhão. Desse total,800 bilhões são de bônus americanos. Por que o Pre-sidente George Bush trata a China assim e não querdiscussão? Porque se a China colocar esses bônus nomercado e exigir o pagamento a economia dos Esta-dos Unidos e do mundo vai para o espaço, porque são800 bilhões de bônus nas mãos dos chineses. Então,vejam a potência dos chineses. A China tem a maiorfrota mundial, porque, juntando Hong Kong e a Chi-

na Continental – eles não precisam falar em Taiwan –,é recorde sobre recorde.

Agora, vamos entrar no turismo. Pela estatística daOrganização Mundial do Turismo, em 2006 a primei-ra colocada era a França, que tinha 75,9 milhões devisitantes; a China estava em 4º lugar, com 49 mi-lhões. Só que Hong Kong tinha 16 milhões e Macau,10 milhões. O que acontece? Somando esses três aChina é a primeira em turismo, com 76,1 milhões deturistas recebidos.

Com a abertura da China, com todos esses dados queestou mencionando, este ano o turismo vai crescermais ainda com as Olimpíadas. Vai crescer e, então,sobrepujar a França.

Os maiores países emissores de turistas no ano passa-do foram: Coréia do Sul, Japão, Rússia e Estados Uni-dos – isso em termos de turistas estrangeiros que en-traram na China. Do Brasil foram apenas 67 mil, oque já foi muita coisa. Aliás, foi um recorde de toda aAmérica Latina. Em 2007 houve um crescimento de41%: foi para 67 mil. Em 2006, havia sido 36 mil. Oschineses, que estão invadindo os espaços, estão man-dando menos do que o Brasil manda para lá.

Nessa organização de turismo da China, que se cha-ma Administração Nacional do Turismo da China, elestêm, atualmente, 18.475 agências de turismo; 1.654são estrangeiras. A maior dentre as chinesas, a Cits,tem mil funcionários, duas mil filiais e atendeu a ummilhão de turistas estrangeiros. Existiam na China, atédezembro, 10.980 hotéis – 1,5 milhões de quartos;302 hotéis cinco estrelas. Depois dos Estados Uni-dos, é a China que tem o maior número de hotéis. São

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1.369 hotéis quatro estrelas; 4.779 três estrelas. AChina é o país que tem os maiores sítios de patrimôniocultural e natural da Humanidade. São 33 locais –destaque para a Grande Muralha – que tem 2.500 anos,6.300 quilômetros de extensão – a Cidade Proibida, oPalácio Imperial, o Templo do Céu, o resto do HomusPequinense, com 800 mil anos. Tudo isso na capital,em Pequim. Há o mausoléu do Imperador Shi Huang– com oito mil guerreiros de Terracota –, a Casa doConfúcio – que é um mausoléu – as Grutas de Mogao– cuja visita aconselho – e também o Museu de Xian,que foi uma antiga capital da China. Lá eles têm to-das as relíquias, inclusive os primeiros carrinhos demão, enxadas, arados. É, realmente, um museu sensa-cional. Uma outra coisa interessante é o famoso patolaqueado, de Pequim. Cometi uma gafe que todos osque visitam Pequim pela primeira vez cometem. Euhavia sido convidado com um grupo de jornalistas,mas eles não falavam português, e eu, infelizmente,não falo mandarim. Estávamos nos entendendo eminglês dos dois lados. Sentamos à mesa e começarama servir uns salgadinhos maravilhosos. Era o pé depato cortado com aspargos; a asa do pato cortado; ofígado. Fui me enchendo com aquilo; eu e minha mu-lher, comendo e dizendo: “Está uma delícia”. Virei-me para ela – outra que está me fiscalizando ali –,depois de ter comido três daqueles pratos, e disse:“Agora não vou comer nem sobremesa; e pato só da-qui a um mês”. Quando tinha acabado de dizer isso,abre-se uma porta, o Presidente da Associação de Jor-nalistas se levanta e entram com um enorme pato la-queado, que é colocado na minha frente. Eu nãoagüentava mais. Já havia me enchido de miúdos. Pen-sei que o pato laqueado fosse o que eu havia comido,

mas não era, era aperitivo. Não entrem nessa históriade aperitivo. Resultado: tive de comer o pato, que éservido em lascas. Ele vem dentro de um pão commolho de soja e salsinha. É uma delícia, mas eu nãoagüentava mais. Mas tive de comer. Então, aviso avocês: cuidado com o pato laqueado. Esperem pelopato, é uma maravilha.

Uma outra coisa importante que surgiu na China naárea de turismo. Aliás, vocês sabem quem inventou oturismo? Eles inventaram o turismo. Foi criado noperíodo Primavera/Outono, no ano 722 antes da nos-sa era.

Eles costumam transformar o limão em limonada comuma facilidade enorme. Surgiram, agora, duas fontesde turismo na China. A primeira fonte foi Macau. AInglaterra assaltou e levou a ilha de Hong Kong. Mas,Hong Kong, reanexada em 1997 – há 11 anos, por-tanto –, está uma maravilha. Hong Kong, hoje, estámelhor do que na mão dos ingleses. Vou contar umfato engraçado e interessante: em 1994, na era Mar-garet Thatcher, os ingleses queriam ficar em HongKong, que é uma bela cidade e a economia mais aber-ta do mundo, e o Deng Xiaoping era o primeiro minis-tro. Ele tinha 1,60, e a Margaret Thatcher tinha quasedois metros. Era a Primeira Ministra. Houve um en-contro em Hong Kong para a entrega, 150 anos de-pois da vergonhosa Guerra do Ópio, em 1846, e aInglaterra queria mais 50 anos a partir de 1997. Hou-ve o encontro do Deng Xiaoping com a MargaretThacher. Isso foi filmado. Eu assisti a esse filme. Foiuma coisa sensacional – o Deng Xiaoping, baixinho, ea Margaret Thacher. Ela tentou entregar um papel aele, dizendo que a Inglaterra continuaria com Hong

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Kong por mais 50 anos, depois de 1997. DengXiaoping não o recebeu. Ele, sorridente, ao lado dela,não recebeu o papel e disse a ela que a China cumpri-ria o compromisso que os ingleses tinham assumido eque dava a ela, então, 24 horas para pensar no assun-to, ou seja, no dia seguinte, reunir-se-iam novamente.Isso foi filmado pela imprensa chinesa e eu assisti aesse filme no teatro Municipal de Niterói. Foi um es-petáculo. No dia seguinte, a Margaret Thacher reco-nheceu e admitiu o retorno de Hong Kong à sobera-nia chinesa. Em relação à Macau, foi mais fácil comos portugueses. Então, Macau voltou em 1999. MasMacau, como vocês sabem, era um centro de jogo daÁsia. Os chineses mantiveram o centro de jogo e oampliaram. Para vocês terem uma idéia do resultado,a Organização Mundial do Turismo informou queMacau recebeu, no ano passado, 10 milhões de turis-tas. Mas a informação da Região Administrativa deMacau diz que foram 20 milhões. Então, os dados dojogo em Macau: o faturamento, ano passado, foi deUS$ 7 bilhões. Ultrapassou o total de Las Vegas, quechegou a US$ 6,5 bilhões. Havia um grupo do StanleyHo, empresário chinês, que tomava conta, mas a Chi-na resolveu abrir o negócio. Então, a multinacionalLas Vegas Sand & Corporations, a maior do mundoem jogo, construiu enorme complexo inaugurado noano passado, composto por um hotel com três milsuítes, 350 lojas e investimento total de US$ 11 bi-lhões. Chama-se Venetian Macau. Além desse, nessailha há outros hotéis. Então, todos os grandes gruposde hotelaria e jogo do mundo, as multinacionais FourSeasons, Sheraton, Hilton, Vermont, Intercontinen-tal, Trump entre outras, têm lá mais 22 cassinos comenorme faturamento. O que acontece? Qual é a ren-da? Eles fizeram uma proposta: o imposto do jogo é

de 35%, e toda renda é em benefício da educação eda saúde. O índice de analfabetos é zero. Isso aca-bou. É tudo fiscalizado, com estrutura organizada,mecanizada, e o turismo criando empregos e dandodinheiro em benefício da educação.

Vamos ver o nosso lado do Brasil, cuja situação é atéridícula, mas estou em uma platéia com pessoas cul-tas e evoluídas. O que acontece no Brasil? É o maiorlobby que já se fez, em que se unem as igrejas com acontravenção. Quer dizer, as igrejas e a contravençãonão querem o jogo legalizado. Estão aí os contra-ventores com os melhores carros e apartamentos. Elestambém não querem a legalização do jogo. Quem maisnão quer? Uruguai, Argentina, Mar del Plata. O cassi-no de Punta del Este manda toda semana um avião aSão Paulo, o Conrad, para buscar as pessoas para jo-gar. Então, o Brasil está cercado de jogo por todos oslados: Uruguai, Argentina, Paraguai, Venezuela, todoo Caribe. Por mar são 154 rotas de navios com cassi-nos, só para uma classe privilegiada. Na América, semjogo, o Brasil tem a companhia de Haiti e Cuba. Nomundo inteiro, também sem jogo, temos Blangadeshe Etiópia. Se tivermos a legalização do jogo, o Brasilvai ter mais emprego. E tem mais: estamos dando lu-cro para os países de registro dos navios e para osempresários estrangeiros. Não ficamos com nada.Estamos pagando para os outros, prejudicando asempresas de turismo. A Costa do Sauípe está paran-do, e todos aqueles grandes complexos de turismo daBahia, daí para cima, estão em dificuldade com a en-trada dos navios-cassinos, que cobram barato, afetan-do o turismo nacional. E ninguém fala nisso. Mandocartas para os jornais, que não as publicam. Não gos-to de jogo, não estou interessado no jogo. Mas acho

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um absurdo estarmos dando lucro para Uruguai, Ar-gentina Paraguai e para os armadores dos navios es-panhóis, italianos, franceses e americanos. Por quenão se legaliza, como acontece no mundo inteiro?

Voltamos à China. Eles vão ganhar cada vez mais.Agora, então, neste ano, vai ser uma explosão comesse novo grupo que está lá. Imaginem o tamanhodesse hotel com três mil suítes. E já está lotado. Foium espetáculo a inauguração.

Outra transformação deles, o assunto delicado, é oproblema do Tibete. As pessoas sabem pouco sobre ahistória do Tibete, sobre o qual escrevi. Vou falar ra-pidamente sobre o Tibete, que foi incorporado à Chi-na no século VII. Exatamente no ano 641, o Impera-dor Taizong, da Dinastia Tang, casou uma parente como filho do rei do Tibete, fazendo a união com a China,que estava separada em feudos. Ele casou a princesaWencheng com o rei Gambo. Começou aí, realmente,a união do Tibete com a China. O Tibete fica em umaposição geográfica interessante, pois sua comunica-ção com o mundo exterior é através das outras re-giões chinesas, porque, do lado sul, fica o Nepal e oHimalaia, a cadeia de montanhas com oito mil metrosde altura. Então, a comunicação normal é a descidapela província de Siclman, que é uma das mais ricas.Com essa união, no século VII, começou também apenetração do budismo no Tibete. O budismo, segun-do vocês devem saber, é originário de um pensador efilósofo indiano. No Tibete, o rei Gambo era casadocom duas mulheres que eram budistas. O budismo édividido em cinco ramos na China. O tibetano é umaetnia com cerca de 2,5 milhões de pessoas – uma mi-noria na China. E os budistas, então, diante dessa

minoria, são menos ainda. Mas esse ramo do budismono Tibete era o pior. Havia uma religião antiga lá, aSlita Beijoin, se não me engano. Essa seita misturou-se com o budismo e surgiu o Lamaísmo. Lama querdizer chefe superior. Então, surgiu isso lá e ficou umaregião religiosa. E os lamas tomaram conta do poder.Mas é uma região chinesa. Como houve a revoluçãona China, em 1912, depois a república, em 1924, coma disputa entre o Partido Comunista e o Partido Nacio-nalista, a região do Tibete ficou praticamente aban-donada. Mas antes disso houve um fato muito inte-ressante: no século XIII, no ano de mil, duzentos esessenta e tantos, o Imperador Kublai Khan, um mon-gol, imperador da China, neto do famoso GengisKhan, fez um acordo com o rei do feudo que estavadominando o Tibete, consolidando, então, a anexa-ção. Então, a administração do Tibete passou a serfeita pela China – isso no século XIII. O Brasil nemhavia sido descoberto, e já o Tibete estava subordi-nado diretamente à China, durante o Império do Ku-blai Khan. Eles terminaram com o exército e o KublaiKhan mandou os administradores para lá. O GengisKhan, quando dominou o mundo, no século XIII, em1240, saiu de Pequim e foi até a Rússia, invadindotudo. A China tinha 11 milhões de quilômetros qua-drados, e eles, então, f izeram a fronteira da China como Himalaia, ao Sul, e ao norte com a Rússia. A Chinaficou com esse território de nove milhões e seiscen-tos quilômetros quadrados, que tem até agora, incluin-do o Tibete, que corresponde à oitava parte. Mas issoestava vinculado desde do século XIII. Os mongesbudistas lamaístas, com a revolução tomaram contada estrutura do poder, firmaram dentro dos monas-térios o monopólio não apenas da educação, como

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também da economia. Quer dizer, só podia aprenderquem era budista, quem era lamaísta. Eles controla-vam a educação. Em 1950, quando Mao Tse-tung re-tomou o controle sobre o Tibete, reafirmou porqueera uma possessão chinesa e os ingleses já estavaminfiltrados na economia. O Tibete tinha 95% de anal-fabetos; era a região mais atrasada do mundo. Só osmonges administravam e dominavam a educação. Osalfabetizados eram budistas e lamaístas. Essa era aparte mínima da população do Tibete. Pois bem: de1950 para cá a situação mudou. No ano passado oanalfabetismo havia caído para 40% apenas. O ensi-no passou a receber orientação chinesa, tornando-seobrigatório por nove anos. O Tibete foi lá para cima.Aí, entrou o turismo no Tibete. O Palácio de Potala,por exemplo, uma construção original, de madeira, foireformado em 1970, é uma atração turística. Para ne-cessária conservação, agora só 2.500 pessoas podemvisitá-lo diariamente. No passado, o turismo era zero.Mas em 2007 já existiam 40 agências de turismo emLhasa, capital do Tibete. A ferrovia vai de Pequimdiretamente a Lhasa, que é a capital. Essa ferroviadeu grande incentivo ao turismo. No ano passado, oTibete recebeu quatro milhões de turistas, com cres-cimento de 60%. Foram 365 mil estrangeiros, commais 120%. A renda foi de US$ 668 milhões e corres-pondeu a 14% do Produto Interno Bruto (PIB).

Agora, um fato interessante que os jornais do mundo,principalmente os brasileiros, não veiculam, esclare-cendo as reivindicações dos monges. Qual é a reivin-dicação dos lamas? Vocês sabem qual é? Ninguémsabe. Os lamas são contra o turismo porque achamque ele está prejudicando a estrutura histórica do paíse está atingindo a ecologia, o meio ambiente. Foram

contra a estrada de ferro. Eles são contra essas açõesde desenvolvimento. Eles dizem que estão acuados,mas, na verdade, estão levando a vida deles contra oprogresso e a abertura que o governo chinês está im-plantando com toda a calma.

Qual é o país que não tem dissidentes? O jornal deontem trouxe a notícia de que há um grupo que querseparar o norte da Itália, com boa votação no con-gresso, tornando-o independente. Existe um grupo noRio Grande do Sul ainda a favor da independência doEstado. O Tibete é da China. E Porto Rico é dos Es-tados Unidos? O Havaí é dos Estados Unidos? AsIlhas Virgens? O Alasca? E a população desses luga-res? Mas não se discute isso. Na Catalunha, há doisanos, houve um atentado em que morreram muitosespanhóis. Tempos atrás, nos Estados Unidos, houveum atentado racista em Los Angeles em que morre-ram dezenas de pessoas. Quer dizer, essas divergên-cias, essas dissidências são uma ocorrência normal nospaíses. Mas as da China são ressaltadas, vão para osjornais de todo o mundo. É o preconceito que eu digoa vocês. Agora está nos jornais de hoje: o recall daVolkswagen, o recall da Renault. Quando há um recallde um produto, de um carro, eles dão o nome da em-presa fabricante. Quando é de empresa da China, são“brinquedos chineses”; o recall dos chineses. É o pre-conceito. Em São Paulo, prende-se qualquer vietna-mita, filipino, tailandês, Indonésio e dizem sempre quesão chineses. Ninguém é chinês apenas porque tem oolho puxado. Quer dizer, trata-se de um preconceitoque temos em relação aos chineses.

Estou com 84 anos, mas vou continuar lutando paraesse esclarecimento. Vou continuar estudando e di-

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vulgando, para melhorar esse entendimento sobre aChina. Fico revoltado com esse desconhecimento so-bre a China.

As conquistas dos chineses. Essa Olimpíada foi umagrande conquista chinesa, e também a Feira de Xan-gai, em 2010. Essas manifestações minoritárias nãovão atrapalhar as Olimpíadas. No fundo, os EstadosUnidos não se manifestam. Agora vejam vocês o queaconteceu na França, após a descabida declaração doPresidente Nicolas Sarkozy, um direitista. Na China,a juventude se levantou, nos sites, dizendo que os chi-neses têm de deixar de ir ao Carrefour, a maior cadeiade supermercados da China. Dizem os chineses: “Ospatriotas não podem comprar mais produtos france-ses, como Vuitton, Lancôme e Cartier!” Estão apavo-rados. Mas essa é uma reação natural. Caiu a freqüên-cia no Carrefour em Xangai e Pequim. Os chinesesreagiram. Essa é uma reação natural do povo chinês.Não podem fazer essa campanha difamatória com aChina sem nenhuma base. Primeiro deveriam divul-gar o que os lamas estão querendo. O Dalai Lamatem uma mesada dos Estados Unidos de US$ 100 mil.

Quer dizer, essa campanha mundial enfraquece a Chi-na nos confrontos econômicos. Fui representante doBrasil em vários centros e reuniões internacionais esei que essa parte política enfraquece a posição dopaís. Então, essas manifestações enfraquecem na horada discussão. Felizmente, aqui no Brasil elas não exis-tem. Reparem bem como elas ocorreram: em Atenas,na saída da tocha, foram duas pessoas, e a mídia deuum destaque enorme. Em Paris havia cerca de 20 ou30 pessoas. Quer dizer, a imprensa dá o destaque porcausa do preconceito, do problema da liberdade de

imprensa, e faz uma onda que se formou contra a Chinapor causa disso.

Sobre o problema dos direitos humanos. Vou contar avocês um episódio muito interessante em relação aqual é o conceito de direitos humanos. Há cerca detrês anos o Presidente da China, Jiang Jemin, que euconheci pessoalmente, proferiu uma palestra históri-ca na Universidade de Harvard, falando, inclusive,sobre a Guerra do Ópio, sobre a invasão, sobre o sa-que do Palácio de Verão, em Pequim, que não tinhanada a ver com o porto – Pequim fica a 1.500 quilô-metros de Xangai –, referindo-se às nações que ha-viam invadido Xangai, sob o comando da Inglaterra,mas com a ajuda de França, Itália, Alemanha, Espanha,não citando os Estados Unidos. Quando acabou a reu-nião, o reitor da Universidade disse a ele: “Mas osEstados Unidos participaram da invasão de Xangai”.Jiang, então, disse: “Eu não ia cometer essa indeli-cadeza de citar, para estudantes, os Estados Unidoscomo um dos que participaram desse saque, desseassalto”. Na resposta sobre a questão dos direitoshumanos, ele disse: “Os direitos humanos das pes-soas são os dos pobres, das pessoas do mundo, dopovo em geral; correspondem ao direito à educação,ao direito à saúde, ao direito à alimentação e ao di-reito à moradia. Os direitos políticos virão em umasegunda etapa”. Aliás, coisa semelhante está no mau-soléu do Karl Marx, em Londres. Ele também disseque a parte política deveria vir após esses direitos docidadão.

O que acho interessante nos chineses – esta é minhaposição particular – é a humildade. Outro dia umempresário brasileiro me disse: “Os chineses estão

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pagando um royalty, uma sobretaxa sobre a manivelada corrente de bicicleta. Foram os chineses que in-ventaram esse mecanismo”. Os chineses inventarama manivela. Então, eles estão pagando uma sobretaxaque foi criada em cima de um invento deles que nãofoi registrado. Eles não registraram o futebol, o vi-nho, a cerveja, a seda, não registraram nada. Acha-ram que aquilo era benefício para a Humanidade.Nunca registraram coisa nenhuma. Mas se eles come-çassem a cobrar o registro da invenção do ferro, doaço, do bronze, da pólvora, da bússola, das cartasmarítimas... Mas não cobram. Eles estão pagando osroyalties das invenções dos outros e até de suas pró-prias invenções.

Vamos voltar ao tema básico desta conversa, que éinteressante, estou à disposição de vocês. Muita coisapode ter escapado. Eu ouvi uma declaração do chefedeste Departamento de Turismo, que transformounovamente o limão em limonada. O lema da Chinaagora é o seguinte: “A China é um dos países mais

seguros para o turismo”. Eles estão dizendo que aChina tem polícia, que há repressão, etc., mas, emcompensação, não tem assalto no turismo.

Então, o que queremos fazer aqui, no final, é acabarcom os preconceitos, porque agora os chineses nãosão apenas os que vão receber mais turistas. No anopassado, 45 milhões de chineses viajaram para o exte-rior e apenas 36 mil vieram ao Brasil.

Outro fato interessante: todos os anos vou a Paris, jámorei lá quatro anos e, em 2007, uma estatísticapublicada no jornal Le Figaro dizia: “O turista chinêsé o que mais gasta no mundo”. Isso é infernal. NaEuropa, são despesas pessoais de 248 euros por dia;mais que o americano, o inglês, o alemão, o turistachinês é, de longe, o que mais gasta por dia.

16 de Abril de 2008

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O SR. PRESIDENTE (GILSON GOMESNOVO) – Boa tarde, senhores Conselheiros.

Vamos dar início aos trabalhos.

Primeiramente, gostaria de lamentar a ausência donosso Presidente Oswaldo Trigueiros Jr., que está comuma pequena enfermidade. Mas as informações quetemos é de que ele estará conosco em breve.

Ele me solicitou – e conto com a colaboração de to-dos os Conselheiros para isso – que presidisse estamesa, nesta noite em que, além de agradecer pela pre-sença de todos, principalmente do Dr. GuilhermePaulus, que será o palestrante, quero dizer que o Con-selho de Turismo se sente muito honrado em recebê-lo e também ao Paulo Henrique Coco, Presidente daWebjet Linhas Aéreas, empresa do Grupo CVC, e ao

Paulo Patrício, Diretor de Vendas do grupo. Sabemosque, com certeza, teremos uma excelente palestra.

Dr. Guilherme Paulus é Presidente do Conselho deAdministração do Grupo CVC Turismo, nascido emSão Paulo, casado com Luíza Paulus, pai de Fábio eGustavo Paulus. Sua formação: Administração deEmpresas.

Ele é um empresário de espírito empreendedor, atuan-do há 38 anos na área de turismo. Seu primeiro em-prego como agente de viagem foi em 1971, na CasaFaro Turismo. Um ano depois, em 1972, fundou aCVC. Ao lado do sócio, o então Deputado CarlosVicente Cerchiari, deu início às atividades de umaagência de viagens, instalada no centro de SantoAndré.

CASE DA CVC

Guilherme Paulus

Presidente do Conselho de Administração do Grupo CVC Turismo

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Em 1974, Cerchiari vendeu sua parte na sociedade aGuilherme Paulus, que continuou suas atividades in-vestindo no turismo rodoviário, com excursões queatendiam principalmente aos grêmios de trabalhado-res das grandes empresas instaladas no ABC paulista.

Trinta e cinco anos depois, Guilherme Paulus conti-nua à frente da CVC Viagens, hoje a maior operadorade viagens do País, com mais de 200 pontos de vendae apoio ao agente de viagens, representada em 25 es-tados brasileiros e com cinco lojas no exterior (Ar-gentina, Uruguai, Chile e França), com mais de 10milhões de passageiros transportados no Brasil e noexterior. São mais de 3.200 colaboradores diretos eindiretos da operadora, sem contar os mais de mil for-necedores e prestadores de serviço em todo o Bra-sil e no exterior.

Guilherme Paulus está à frente do Conselho de Ad-ministração do Grupo CVC e tem sob sua gestão aHolding CVC, que compreende as empresas CVCOperadora de Viagens, CVC marítima, GJP Adminis-tradora de Hotéis e CVC Companhia Aérea/Webjet.Mais especif icamente na área de hotelaria, o grupoconta com o complexo hoteleiro Serrano Resort & Spa,em Gramado, no Rio Grande do Sul, considerado “Omelhor hotel de serra do Brasil”; responde pela admi-nistração do Toscana Hotel e do Alpenhaus Grama-do Hotel, ambos também em Gramado; e prepara vôoainda mais alto, com a construção do seu primeirohotel, um eco-resort no Estado de Sergipe, na cidade deAracajú, empreendimento que será inaugurado até ofinal de 2008.

Seu currículo conta com diversos prêmios, entre osquais a Medalha de Honra Presidente JK, concedida

pelo Governo de Minas Gerais; o título de Personali-dade do Ano de 2003, 2004 e 2005, concedido pelarevista Viagem e Turismo, da Editora Abril. E também,pela sétima vez consecutiva, a Melhor Operadora deTurismo Nacional e, pela segunda vez (em 2007), aMelhor Operadora de Turismo Internacional. Ganhouo prêmio Top of Mind, em São Paulo capital e regiãodo ABC e também em Porto Alegre, no Rio Grandedo Sul, por presidir a marca mais lembrada por seushabitantes. E foi eleito, em março de 2007, pelo jor-nal Valor Econômico, “Executivo de Valor”, por ter sedestacado no comando da companhia ao longo de2006.

Considerado um dos maiores empresários do ramo deturismo, Guilherme Paulus é membro do ConselhoNacional de Turismo, indicado pelo Presidente daRepública, e foi homenageado pela TAM Linhas Aé-reas, que disponibilizou para a CVC, pela parceriacomercial, um avião personalizado com a marca daoperadora de turismo.

O executivo também coleciona uma série de títulosde Cidadão Honorário. Já foi agraciado com os títulosde Cidadão Natalense, Gramadense, Baiano (Grão-mestre da ordem do mérito do grau de Comendador),Cidadão Noronhense, Cidadão Andreense, Cidadãodo Estado do Rio de Janeiro, Iguaçuense da Cidadede Foz de Iguaçu, Recifense e Paraibano. Em setem-bro de 2006, também foi agraciado pelo Governo deAlagoas com a Medalha de Honra ao Mérito Mare-chal Floriano Peixoto, uma homenagem em reconhe-cimento aos serviços prestados pela CVC ao desen-volvimento turístico e econômico da região. Em se-tembro de 2007, assumiu a cadeira de número 28 da

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galeria de imortais da Academia Brasileira de Mar-keting.

Por serviços prestados ao turismo, Guilherme Paulusrecebeu inúmeros reconhecimentos internacionais,como os das Prefeituras de Cancun (México), IslaMargarita (Venezuela), Miami (Estados Unidos),Buenos Aires e Bariloche (Argentina).

A operadora turística CVC é considerada, hoje, a maioroperadora turística da América Latina e está entre as10 maiores do mundo.

O Dr. Guilherme Paulus vai fazer a sua exposiçãosobre o “Case da CVC”.

Espero que nossa introdução não tenha sido uma boaparte. Aproveitamos, também, para colocar os dadosde conhecimento de todos. Mas desejamos ao senhoruma boa palestra. A palavra é sua.

O SR. GUILHERME PAULUS – Boa noite a to-dos. É um prazer estar aqui. Obrigado, Gilson. Senti-mos a ausência do Trigueiros, nosso amigo, mas eleestá gripado. Precisa se recuperar logo, porque essagripe no Rio é um pouco perigosa. É o que dizem asreportagens: é a famosa Dengue.

É preciso descobrir, Gilson, quem executa o serviçode informações da Casa, pois levantaram a minha fi-cha direitinho. Muito obrigado.

Agradeço pela oportunidade de estar aqui com todos.Agradeço ao meu Presidente, Norton Luiz Lenhart,que faz parte da Casa, e também agradeço ao EraldoAlves da Cruz, que é da Câmara Brasileira de Turis-mo (CBTUR) desta Casa.

É uma oportunidade muito grande estar revendo co-nhecidos, bons amigos; lembrando um pouco da nos-sa Varig, do nosso turismo. Enfim, faz parte da nossahistória de turismo. O Hélio Lima Duarte é o nossogrande escritor de turismo, colaborador de muitos anosda Soletur, e hoje colabora conosco na CVC e CVCRio. Tenho muito orgulho de ter a presença, aqui, doHélio. E tenho muito carinho e respeito por todos.

Vou falar um pouco da CVC. São dois temas. Algunsaté já conhecem, mas procuramos atualizar o que vemacontecendo.

Os desafios e conquistas de um gigante em cresci-mento. Sempre o gigante em crescimento não é a CVC,mas sim o Brasil, que é um gigante sempre em cresci-mento. Um País como o nosso, com pouco mais de180 milhões de habitantes, um País com uma diversi-dade cultural fantástica, místico, com folclore mara-vilhoso, com um dos destinos turísticos que está co-locado como uma das sete maravilhas do mundo mo-derno, que é o Cristo Redentor. Quer dizer, o Brasil,com todas as dificuldades que enfrenta, de um Paísde terceiro mundo, é sempre um gigante em cresci-mento. E estamos sempre, pelo menos dentro dosemergentes, com uma grande possibilidade de cresci-mento. Temos demonstrado isso para o mundo emvários aspectos, não só na arte e na cultura. Mas sen-timos que na hora em que houver governantes comfé, com credibilidade, com honestidade, vai para fren-te. O que precisamos, realmente, é eleger os melho-res, escolher melhor os nossos políticos e cobrar maisdeles. Às vezes, votamos em um vereador, em um de-putado, em um senador, em um prefeito, e até esque-cemos em quem votamos, porque votamos por votar,

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e não cobramos. Então, quando falo em desafios deconquista de um gigante em crescimento, falo do Bra-sil. E a CVC se espelha muito nisso.

Turismo: uma indústria que cada dia cresce em im-portância. E o que pode ser feito para melhorar o de-sempenho do setor? Porque não adianta pensar den-tro da minha empresa. Acho que tenho de pensar, hoje,em termos globais. Tenho de pensar no setor. Fui con-vidado a participar do Ministério. É claro que eu esta-va lá mostrando um pouco da minha cara, mostrandoum pouco os números que a CVC tinha, porque o tu-rismo nunca teve números. O turismo sempre foi umaindústria marginalizada. Não temos até hoje uma leipara nos reger. Qual é a lei do turismo no Brasil? Nãotemos. Brigamos em relação a isso com o Ministério,já faz seis anos que ele está para aprovar a Lei Geraldo Turismo. Até foi um desafio que aceitei, com al-guns dos nossos companheiros, para que essa lei saia,para que se possa ter números reais de entrada de di-visas no nosso País. As operadoras e as agências deviagem têm de poder abrir claramente os seus núme-ros, porque hoje não podemos fazer isso. Todos sa-bem do problema que temos com as notas fiscais, como movimento da nossa conta bancária. Não podemosaparecer, porque a Receita vai autuar – o Programade Integração Social (PIS), a Contribuição para o Fi-nanciamento da Seguridade Social (COFINS), etc. –com base naquele montante. Não encaram esse di-nheiro como uma intermediação, porque o que nósrecebemos, quando vendemos um bilhete, não é nos-so, o nosso é uma parte muito pequena: é 6% ou 8%.Hoje, as companhias aéreas nem dão mais comissãopara o agente de viagem. Somos obrigados a aplicarum over price em cima para bater. Mas só que, quando

esse dinheiro entra na nossa conta, a Receita conside-ra como receita bruta e quer taxar. Quando se vendea reserva de hotel, a Receita também não entende queesse dinheiro que entra na nossa conta é repassadopara o hotel. Então, estamos brigando para conse-guir isso. Foi por isso que perguntei: o que podemosfazer para melhorar o desempenho do setor? Muito.Acho que cada um do segmento de turismo, tanto aárea de hotelaria, comércio e eventos, como toda acadeia produtiva do turismo pode fazer muito paramelhorar.

Brasil presente

População: 186,4 milhões.

Produto Interno Bruto (PIB): US$ 1,57 trilhões (cres-cimento 2,9% em 2005).

3,1% anual composto em 5 anos.

As companhias aéreas fazem muito cálculo. Multipli-quem isso por quatro. Então, vai crescer 12%. AWebjet vai crescer 12% este ano.

A CVC também planeja crescer de 12% a 15%.

A renda per capita, hoje, melhorou muito: US$ 8.400,claro que dentro de uma composição. Não é toda ca-mada social brasileira que tem essa renda.

Taxa de desemprego: 9,8%. Quer dizer, tínhamos nú-meros absurdos de 15%. Com a estabilidade, o bommomento que o País vive hoje, é claro que a taxa dedesemprego está caindo.

O que acontece é que, quando há uma grande movi-

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mentação nas regiões, acabam fixando as pessoas nassuas áreas.

Muita gente criticou o Bolsa Família, até que desen-volveu algumas regiões do Nordeste, que eram total-mente subdesenvolvidas, porque a família que rece-beu o Bolsa Família começou a comprar alimentosem uma pequena venda, que se tornou um minimer-cado; outras tornaram-se mercado e acabaram con-tratando os próprios familiares da região para traba-lhar. Tenho exemplo disso na cidade de Gramado, ondeacompanhei com o Pedro o investimento do BolsaFamília, que foi feito em algumas regiões, e o desen-volvimento, principalmente na área da colônia, e nóspercebemos isso. Realmente, houve condições de terestudo.

Quer dizer, bem aplicado, é claro que o Bolsa Famíliagera grandes frutos. Isso não foi criação do governodo PT, vem do Governo Fernando Henrique. Mas éque o Lula pegou bem e aplicou bem.

Ambiente econômico favorável

Exportações: 134,4 bilhões; importações: 97,8 bi-lhões; balança comercial positiva: US$ 40 bilhões em2007; investimentos estrangeiros diretos: US$ 34,6bilhões em 2007; dívida externa: 188 bilhões, prati-camente totalmente paga, porque temos a entrada dedinheiro; temos a reserva cambial de 180 bilhões. Querdizer, praticamente, temos a nossa dívida quitada, faltamuito pouco.

Taxa de Inflação (IPC): 6,9%; dívida externa: US$ 188bilhões; reserva cambial: US$ 180 bilhões; taxa de

juros: 11,25% a.a. – até abr./2008. Subiu um poucoagora para conter a inflação. Acho que o Banco Cen-tral e o Ministério da Fazenda foram bastante inteli-gentes, porque era preciso segurar mesmo. Eu estavalendo um artigo do Antônio Ermirio de Moraes nodomingo, e percebi preocupação e medo, porque a criseamericana, não que venha a afetar agora o Brasil, maspode vir a afetar daqui a um ano ou seis meses. Preci-samos nos preocupar em conter a demanda de consu-mo. E você só consegue conter a demanda de consu-mo quando aumenta a taxa de juros e segura, freandoum pouco a economia, para que não se gaste tanto,porque não há produto para entregar, e aumenta opreço. Assim, você não pode comprar, começa a dis-parar a cadeia e não pára mais. Então, para conter umpouco aumentou-se um pouco a taxa de juros.

Salário mínimo: R$ 415,00 a partir de março/2008.Quem diria que um dia teríamos o salário mínimobeirando US$ 200. O Lula cumpriu a promessa deque o brasileiro iria ganhar US$ 100. Estamos ganhan-do quase US$ 200.

Gera na economia: R$ 14,45 bilhões, que entraramapenas com esse aumento do salário mínimo. Claro,um País de 180 milhões de pessoas realmente... Eperguntamos: onde estava esse dinheiro? Como essedinheiro apareceu? Ele estava nas aplicações, estavadentro dos bancos, estava nas empresas que aplica-vam, porque, a partir do momento em que aumentouo salário, houve obrigatoriedade de desembolsar, detirar esse dinheiro de algum lugar, do próprio lucro ouaplicações.

Adiantamento do 13º aos aposentados. Até o natal aeconomia vai jogar R$ 88,7 bilhões. Quer dizer, po-

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demos vender muitos produtos, muito seguro a R$ 60por mês. Há muito espaço para você crescer, vender.Por isso é que se vendem muitos celulares. Vendem-se automóveis em 60 meses, porque você vai dandocrédito, não importa quanto vai pagar. A pessoa sabeque pode pagar aquele valor por mês e esse dinheiroestá entrando em toda a economia; vai girando a roda;vai fazendo a roda girar.

E fomos muito felizes, porque fomos capa da revistaVeja, que disse: “O dólar em queda barateia as via-gens, compras, estudo no exterior e muda (para me-lhor) o rosto da economia; um Brasil mais forte, umreal bem forte”.

Receita Cambial Turística: US$ 4.484,00 (acumula-dos até novembro de 2007). E chegamos a 5,6 nofinal do ano de 2007. Nesses primeiros quatro meses,já tivemos um recorde. Se compararmos os quatromeses de 2007 com os quatro meses de 2008, vere-mos que já tivemos um crescimento de um pouco maisde 25% no valor. Gira em torno de US$ 1,6 milhões oque entrou em termos de divisas para o nosso País,com a entrada de turistas no Brasil vindos do exterior.

O turismo foi a quinta atividade em importância paraa economia do País em 2007, perdendo somente paraminério de ferro, petróleo bruto, soja em grãos e auto-móveis.

Esse noticiário do turismo nunca teve tão presentena economia. A Ministra Marta Suplicy nos deu isso.Ela nos deu mídia. O Walfrido dos Mares Guia deucorpo; ele fez um bom trabalho; criou um corpo forteno Ministério do Turismo, fazendo-o aparecer. Foramcriadas várias câmaras setoriais, e o turismo ganhou

corpo e cresceu. E a Ministra nos deu a mídia. Fezisso de forma meio errada no começo, mas deu certo;pelo menos continuamos na mídia. Ela está sempresaindo na mídia. Isso deu força para o turismo, a fimde sair do outro noticiário e passar para as páginaseconômicas.

O turismo no Brasil é um setor em que os empreendi-mentos movimentam 52 outros setores da economia,promovendo impactos positivos até mesmo em res-ponsabilidade social. É muito forte, porque, quandofalamos em uma rede de hotéis ou em um hotel único,o que se está gerando ali, o que se está movimentan-do com a construção de um hotel, na construção ci-vil, é bastante. Quantos trabalhadores estarão traba-lhando diretamente? Você tem o ferro que vai para aconstrução, o cimento, a areia, enfim, todo o mate-rial, até você erguer o esqueleto do hotel. Depois, vema elétrica, toda a f iação, os cabos, o ar-condicionado,o frigobar, a cama, a indústria de móveis, os colchões,a fábrica de colchões, etc. Quanto que movimenta?

Vou dar um exemplo a vocês. Peguei do Firmino, dogrupo Accor, em uma palestra que ele proferiu. Acheitão interessante esses números, que vou mostrar avocês. Meios de hospedagem, consumo e impacto naeconomia: 23.290 meios de hospedagem nas 27 Uni-dades da Federação em 2002; 52 tipos de equipamen-tos e bens duráveis. Isso é o que a Accor tem anual-mente.

Item: a) televisão tem em estoque 615.494, e repõe100.541/anual; b) frigobar tem em estoque 462.082, erepõe 61.354/anual; c) ar-condicionado tem em es-toque 427.740, e repõe 62.823/anual; d) cama, mesae banho tem em estoque 17.146.430, e repõe 7.011.941/

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anual; e) cadeira tem em estoque 1.214.507, e repõe159.981/anual; f) cama tem em estoque 1.217.525, erepõe 160.046/anual.

Então, vocês vêem o quanto movimenta apenas umarede como a Accor, que é a maior do Brasil. O que elamovimenta em estoque de televisão, frigobar, ar-con-dicionado, cadeira, cama, mesa e banho, cadeira ecama é um número espetacular. Às vezes nem imagi-namos que possamos movimentar tanto. A indústriase movimenta.

Situação da indústria do turismo em 2007: compa-nhias aéreas com crescimento de 12%; aviões com69% de aproveitamento. Acho que o Brasil vive umbom momento nesse aproveitamento, embora venden-do a tarifa a um real, a 49 reais; mas está lá. Vamoscontar. Na média e na baixa você tem de vender bara-to mesmo, e na alta tem de cobrar caro. Então, estãoaproveitando.

A ocupação média da hotelaria brasileira melhoroumuito: 62% (previsão para 2008). O Rio sofre umpouco hoje por causa, vamos dizer, das irrespon-sabilidades dos governos, porque acho que a denguejá poderia ter sido erradicada há muitos anos. Todoano convive-se com ela. Parece que se tornou um bemou um mal necessário.

Temos muitos hotéis em construção.

Temos 15 navios na costa brasileira. Nunca tivemostantos. E são navios moderníssimos. Hoje não perde-mos nada para o Caribe ou para o Mediterrâneo. To-dos os navios que estão no Caribe ou no Mediterrâ-neo estão na costa brasileira. Isso, realmente, nos en-che de orgulho; e, futuramente, acredito que um dos

grandes pontos turísticos do Brasil serão os cruzeirosmarítimos. Quando melhorarmos as condições deportos, os cruzeiros marítimos no nosso País serãoum espetáculo.

Metas do Turismo 2007 a 2010

O Governo precisa de metas. Todos precisamos demetas. Isso foi criado na época do Walfrido dos MaresGuia. O Brasil precisa ter metas. E temos de ter me-tas na nossa vida. Aliás, quando nos casamos, traça-mos uma meta para a nossa vida. Namoramos, noiva-mos e nos casamos. Atualmente, acho que as pessoassó “ficam”. É mais fácil. Mas há meta para “ficar”. Oturismo também cria as suas metas. As empresascriam metas. Então, precisamos criar condições paragerar três milhões de novos empregos; aumentar em12 milhões o número de turistas estrangeiros; gerarUS$ 9 bilhões em divisas; aumentar para 75 milhõeso número de turistas; e ampliar a oferta de produtos edestinos brasileiros. Não vamos pensar apenas na ci-dade do Rio de Janeiro. O que podemos fazer? Vamosdesenvolver Angra dos Reis, Paraty, Cabo Frio, Bú-zios, Região dos Lagos, Niterói. Temos de pensar. Te-mos de ter criatividade; temos de nos movimentar.Temos de buscar novos destinos. Temos sempre depesquisar, porque há sempre gente para viajar. Turis-ta sempre descobre um ponto para fazer um passeioagradável.

O turismo não é mais um bem de consumo supérfluode acesso apenas aos mais favorecidos e abastados.Antigamente, quem viajava era rico, hoje não. E te-mos uma classe emergente surgindo no País, que éfabulosa. Precisamos aproveitar isso. Você imaginaque são mais de 60 milhões de novos consumidores

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que o Brasil está recebendo hoje de mão beijada , que éa classe D, que passou para a C, que, por sua vez,passou para a B; e a B, por conseguinte, passou umpouco para a A; e a cadeia se movimentou. A rodavirou, e nós temos de aproveitar. Como aproveitar esseconsumo? O setor de automóveis está aproveitando.A construção civil, com casa própria, apartamentos,está aproveitando, e o turismo também tem de apro-veitar esses novos consumidores. Turismo não foi fei-to só para rico. Acho que turismo foi feito para todasas camadas sociais. Acho que você pode fazer desdeum passeio de um dia, um passeio de final de semana,um passeio de um feriado prolongado, férias. Todostemos direito a férias. O Brasil é um dos poucos paí-ses do mundo em que você ganha para tirar férias.Você ganha um terço do seu salário para tirar férias,para gastar com turismo. Acho que temos de aprovei-tar. Nós que trabalhamos com turismo temos de apro-veitar e bater na porta: o senhor está saindo de férias;o senhor recebeu um dinheirinho; dê um pouco paramim. Temos de ir lá pegar o dinheiro também. Temosde estar atentos a isso, porque os outros estão aten-tos. As Casas Bahia dizem: “Troque a geladeira”. Outrodiz: “Troque o carro”. Outro, ainda: “Troque de apar-tamento”. Nós temos de dizer: saia de férias, viaje.Há uma propaganda de cartão de crédito que mostrauma pessoa se imaginando em uma agência de via-gens. É tão bonito para nós, na nossa indústria doturismo, ver isto: a propaganda de um cartão de crédi-to dizendo a uma pessoa que ela tem de sair de férias;dizendo ao consumidor que vá a uma agência de via-gem comprar uma viagem com cartão de crédito.

O que o turismo brasileiro precisa é de governos,empresários e trabalhadores. É um rito normal.

Temos sempre de cobrar do Governo, porque ele éacomodado, governo é público. Temos sempre de co-brar do Governo. Dos funcionários do Governo te-mos de cobrar que atuem com mais eficácia. E doGoverno temos de cobrar cada dia menos impostos,porque senão ele vai sempre aumentar os impostos.Ele acha que sempre pode aumentar porque ele pre-cisa de dinheiro para movimentar o outro lado. En-tão, nós, como empresários, temos de brigar para quehaja menos impostos e burocracias, mais educação,saúde, saneamento básico e segurança. E o que acon-tece no Rio de Janeiro com a dengue é uma vergonhapara nós. O empresário tem de falar. Vocês que mo-ram nesta cidade, que vivem aqui têm de falar. A ci-dade é de vocês. Vocês têm de ir a público e dizer queé um absurdo haver dengue no Rio de Janeiro. É umabsurdo as pessoas ficarem doentes por causa da den-gue. Isso afasta o turista internacional. Eu tinha umgrupo de franceses que vinha para o Brasil e que nãoveio por causa da dengue. Vou cobrar de quem? DoCésar Maia? Vou cobrar do Governador? Vou cobrardo Lula? Temos de cobrar de alguém. Pagamos im-postos para isso. Acho que temos de cobrar do Go-verno.

O empresário tem de fazer novos empreendimentos,de acreditar. A cadeia hoteleira no Rio de Janeiro pa-rou de crescer. Ela tem de crescer, tem de ter novosempreendimentos, tem de se modernizar. Há hotéiscomo o Pestana, o Marriot. O Glória foi compradopelo Eike Batista. Espero que ele, realmente, faça uminvestimento e modele totalmente o Glória, para queele fique como nos velhos tempos. Tenho orgulho dedizer: sou cliente do Hotel Glória há 34 anos. Já atra-sei fatura, já me pôs no protesto, já paguei no cartó-

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rio. Mas tenho orgulho de dizer que sou cliente doHotel Glória há 34 anos. Fiquei chateado quando oEike fechou e não me avisou. É um despropósito. Éum desrespeito com o cliente você fechar e não avi-sar que fechou. Fiquei sabendo pela imprensa. Eledeveria chamar os grandes clientes do Hotel Glóriaou mandar uma cartinha pelo menos. Como empresá-rio, ele cometeu um lapso muito grande. Ele jamaispoderia ter feito isso, porque somos clientes há 34anos do hotel, e ele comprou e não mandou uma car-ta sequer. É um absurdo! Mas precisamos acreditarque os empresários têm de criar novos empreendimen-tos, novos hotéis, porque o turismo vive de novida-de, nós vivemos de novidade. Foi inaugurado, recen-temente, o Fasano, no Rio de Janeiro. Para a cidadedo Rio de Janeiro, ter um hotel da categoria do Fasano,que tem um restaurante bom, uma boa piscina, umabela localização é muito bom.

Os trabalhadores. Acho que precisamos de mais agen-tes de viagem, profissionalismo e treinamento, que émuito importante, porque, para você vender um des-tino turístico, você tem de ter bons vendedores, pes-soas que conheçam realmente as atrações turísticas.As pessoas têm de acreditar e investir nos seus profis-sionais. Isso é muito importante. Uma boa informa-ção gera uma boa venda e uma boa venda gera tam-bém o fator agradável, do outro lado, da pessoa queestá visitando aquela cidade e que conta com umainformação boa e adequada. Então, exigir mais profis-sionalismo das agências de viagem, e treinamento dasuniversidades de turismo e dos cursos técnicos de tu-rismo. Precisamos ter mais formadores de opinião. Oturismo tem de ser igual a farmácia, tem de ter umaagência de viagem em cada esquina. Todo mundo iria

viajar. Igual a supermercado. Turismo está presente,hoje, em todos os shopping centers. Antigamente não. Oturismo, hoje, fica aberto das 10 às 22 horas. Há lojasque abrem aos domingos, aos sábados, até às 22 ho-ras, porque o tipo de consumidor mudou. Antigamen-te, a agência de viagem ficava no 12º andar do prédio,principalmente em São Paulo. Todo prédio, hoje, temcâmera, segurança, elevador, etc. Para o cliente com-prar é a coisa mais difícil do mundo. Já não há ondeestacionar o carro; é difícil o trânsito. E quando eleconsegue chegar à portaria, tem de apresentar identi-dade, é filmado, fotografado, até chegar ao 12º andardo prédio, que é todo fechado, tem de bater na porta,alguém olha no olho mágico para ver se o cliente podeentrar para comprar uma viagem. Vejam o sacrifícioque o cliente faz. E o turismo tem de se modernizar.O grande exemplo do crescimento da CVC foi a suaida para os shopping centers. Ela abriu as portas para osclientes poderem comprar. Antigamente, o marido tra-balhava e a mulher ficava em casa, e a mulher é que ialá comprar a viagem. Hoje não. A mulher trabalha maisque o marido. Então, os dois é que vão à noite, ou elevai decidir, à noite, a viagem.

Uma melhor distribuição de renda (como eu já disse)fixa o homem em sua região, evita a baixa auto-esti-ma, evita o êxodo rural do interior e do litoral para ascapitais.

Hoje, um em cada 10 brasileiros já trabalha direta ouindiretamente no turismo.

O que pode ser feito para melhorar mais o desempe-nho do setor. Desculpem-me os senhores, mas clienteestá tão difícil que é como uma mulher bonita: quemquiser ter uma tem de conquistar a de alguém.

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Para que o turismo seja uma indústria ainda mais for-te no País, é necessário nos prepararmos para dispu-tar com outros setores, tornando as viagens algo es-sencial às suas vidas.

É fácil vender uma viagem? Para quem quer compraro destino é fácil. Mas se você não quiser ir para PortoSeguro, tenho de te convencer que Porto Seguro ébonito, gostoso e agradável. E tenho de disputar comoutros setores que também estão atentos a isso.

Disputa pela atenção do consumidor

Celulares. Todos têm celular. Tem gente que tem dois,três celulares. Ele também toma o nosso cliente. Éuma grande realidade. E estamos sempre em disputacom ele. Tem celular sofisticado que custa uma via-gem para um resort brasileiro ou mesmo quatro noitesem Nova York. Então, o preço de um celular é bas-tante compatível. Se todos têm um celular, por quenem todos podem ir para Nova York ou para um resortbrasileiro? É porque não oferecemos. Temos de co-meçar a oferecer também.

Computadores. Todos têm computador em casa. Háum exemplo de um brasileiro, o Walter Zagari, da RedeRecord. Ele diz que a Record veio para o Rio de Ja-neiro, para Barra, e a Record, em São Paulo, está naBarra Funda. Nunca em minha vida vou dizer que abarra é funda, é outra Barra lá. É um exemplo que eledá. No Rio de Janeiro, você diz: “Vou para a Barra”.Em São Paulo, vai para Barra Funda. “Funda não, euvou para a Barra”. E está sempre rumo à liderança.Um dia ele vai conseguir, de tanto que insiste. É umapessoa extraordinária.

Conversando hoje com um motorista de táxi eu disse:“Se você tiver um computador, acesse este site”. Eledisse: “Claro que tenho”. O motorista de táxi tem umcomputador em casa – não desfazendo do motoristade táxi, pelo amor de Deus. Mas hoje todos têm umcomputador. Se é assim, será que todos não podemfazer uma viagem? Um computador custa de R$1.300,00 a R$ 1.500,00. É uma viagem a Fortaleza, aNatal, a Porto Seguro. Todo mundo tem. Por que todomundo também não viaja?

Há mais de 120 milhões de celulares. Seriam 120 mi-lhões de pessoas viajando. Computadores devem ser80 milhões. São 80 milhões de pessoas que poderiamestar viajando.

Eletrônicos: Televisor de plasma. Na passagem daCopa do Mundo nós sofremos. Em junho, venderammuitos televisores de plasma, e não vendíamos a tem-porada de julho, porque todos compravam a televisãoe não compravam a viagem. Descobrimos isso. Fo-mos atrás para saber por que estavam vendendo tele-visores de plasma e não estávamos vendendo o nossopacote de férias. É a maldita Copa do Mundo. Então,corremos atrás, criamos um modelo para combater avenda do televisor de plasma. Hoje, você compra te-levisor de plasma por menos de R$ 3 mil reais. Naépoca da Copa, ele custava R$ 4 mil ou R$ 5 mil reais.E nós descobrimos. Todos têm televisor de plasmaem suas casas.

Automóvel. É um sonho nosso. Estou conversandocom o banco para podermos vender viagem em 36meses ou em até 60 meses. A pessoa pode compraruma viagem a Porto Seguro em 36 meses, vai custaroito reais por mês; a Brasília, por dois reais por mês.

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Mas é um sonho. Acho que você vai buscar a classe Ce trazê-la para cá, para poder ter o gosto de começar aaprender a viajar.

Automóvel é um exemplo disso. Por isso o nosso trân-sito está caótico, porque muita gente tem carro.

Imóvel – casa própria, apartamento. Os imóveis es-tão dando um show nos cadernos de jornais. Você abreum jornal, hoje, e vê páginas e páginas. Brinco muitocom a hotelaria, dizendo: “Vocês têm de ficar esper-tos”. A hotelaria brasileira tem de ficar muito esperta,porque estão fazendo apartamentos, hoje, prédios quesão verdadeiros resorts, e não são apartamentos caros.Além de 98 metros quadrados, com área de lazer es-petacular, fitness, piscina, spa . Os hotéis têm de ficarmuito preocupados, porque, de repente, a pessoa nãovai sair de férias porque prefere ficar em casa, que émuito mais confortável do que nos hotéis que temospor aí. Esse é um alerta que eu sempre faço para ahotelaria brasileira: acompanhar essa modernidade dosapartamentos de hoje. Eles têm de ficar muito aten-tos a essa mudança que está havendo.

Outro concorrente forte nosso é a casa de campo ecasa de praia. Isso é um terror. Nos feriados, a pessoavai de carro. Eu vejo no Jornal Nacional: 600 mil au-tomóveis desceram para a Baixada Paulista, e ninguémviajou com a CVC nesse feriado. Vão todos para San-tos. Eles foram para a casa de praia, para o aparta-mento de praia, para a casa de campo. Vão paraPetrópolis e Teresópolis. Ninguém comprou aqui naCVC do Rio. É um concorrente forte. Agora, eu peçoajuda às mulheres. Elas são poderosas para isso, por-que, quando vão com o marido para a casa de campoou de praia, mesmo que leve ajudante, empregada,

sempre acaba sobrando para ela. O marido quer co-mer batatinha frita. Vai ela fazer a batatinha frita.Comprar no restaurante não, porque tem muito óleo.Um bifinho com cebola. Feijoada. Coitada. De ma-nhã, café da manhã para os filhos, aquela bagunça. Ofilho joga a camisa para cá, o marido joga o chinelopara lá. Vai para o hotel e não faz nada disso. Nãoprecisa fazer café, não precisa fritar batatinha, a ca-mareira vai lá, arruma o quarto, fica tudo bonitinho,dobra tudo. E o marido também curte à vontade, por-que pode ir para a piscina. Fica muito mais tranqüilo.Então, peço ajuda às mulheres: esqueça casa de praiae casa de campo e viaje com a CVC.

Não se trata de trabalhar para que o turista/consumi-dor deixe de comprar celulares, computadores, ele-troeletrônicos, automóveis ou imóveis, mas de tornaro turismo algo tão atraente que faça com que as pes-soas reservem recursos para viagens periódicas.

Cinco sugestões para incrementar o turismo interno:

1. É essencial reforçar investimentos em infra-estru-tura turística. O consumidor é ávido por qualidade enovidade.

Navio é sucesso porque é novidade. Cada navio mo-derno que você traz é mais novidade ainda. Vejo quecada navio novo que trazemos lota mais rápido. Aqueleque repetimos durante dois ou três anos é o último alotar. Mas a novidade vende rápido, porque o consu-midor é ávido por novidade.

Fatores limitantes. Deficiência do destino é o fatorque mais afasta os turistas – 23,7% das pessoas. Adengue no Rio é uma deficiência do destino. A vio-

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lência do Rio é uma deficiência. A violência e o trânsitode São Paulo são deficiências. Isso afasta o turista.

Falta de divulgação. Não se divulga porque acha quenão é preciso divulgar. Por que vou divulgar o carna-val no Rio de Janeiro se todos conhecem? Não preci-sa. Na última hora, dá desespero na hotelaria, nasEscolas de Samba. Tem de vender ingresso: “Guilher-me, ajude-me. Vamos fazer uma promoção”. É tarde.Não se vende mais o produto com um mês. Você temde trabalhar com pelo menos 90 dias para tirar umproduto da prateleira e pôr em destaque no mercado.Antigamente, eram 40 dias. Hoje, você precisa de 90dias, porque tem muita concorrência.

Deficiência do pacote. Serviço mal prestado. Defi-ciência da agência de viagem, que dá informação er-rada; operador que opera errado; o receptivo que atrasae não vai buscar o passageiro no aeroporto; o hotelque tem má qualidade de serviço – café errado, camaruim, lençol cheirando a cigarro, travesseiro cheiran-do mal, etc. Temos muito isso no Brasil.

Falta de opções de pacote.

Desconhecimento pelo cliente. O cliente é tão malinformado que é obrigado a ter informações. “Ele temde viajar, ele tem de se preocupar. Nós não temos dedar nada.” Mal entregamos o voucher ao passageiro.Imagine se pudéssemos dar um bom compêndio. Apessoa vai a Nova York? Então, dê a ela o mapa deNova York, o histórico da cidade, os melhores res-taurantes, os melhores shows. Isso é informação. É otrabalho de um agente de viagem.

Desconhecimento pela equipe de vendas e outros.

2. O turista consegue entender que “errar é humano”,mas ele não perdoa se o erro persistir. Por isso, é funda-

mental investir cada vez mais em treinamento da mão-de-obra. E vejam que o cliente é fantástico, porque,às vezes, ele diz: “Seu Guilherme, o serviço não foibom, o ônibus era muito velho, o hotel não estava emboas condições”. Ele nos telefona, pede-nos satisfa-ção. Temos de aprender com os nossos erros e valori-zar isso. O cliente é que está nos trazendo a informa-ção, e não damos muito valor a isso. Tem muita genteque nem dá importância e ainda diz: “É um chatoaquele cara; foi viajar de novo; o cara é um chato;reclama de tudo, não está satisfeito com nada”. Não,ele está. Ele quer um bom serviço, um bom atendi-mento. Então, é fundamental investir em mão-de-obrae treinamento. É importante.

Por que se perde um cliente? 1% por morte; 5% poramizades comerciais; 5% por mudança de endereço;10% por maiores vantagens em outras empresas; 14%por reclamações não atendidas; 65% por deficiênciasno atendimento.

3. Cada estado e região do Brasil tem uma vocaçãoturística. É necessário posicionar melhor cada desti-no, para que o turista seja atraído por algo mais que“sol e lindas praias”.

O Rio de Janeiro é maravilhoso. O apartamento emque eu estava, em Copacabana, tinha uma vista sen-sacional. Ontem à noite estava bonito, mas começoua chover hoje de manhã, estava triste. É lindo o sol esão lindas as praias. Se choveu, o que eu faço? Se nãohá sol e lindas praias, o que faço no Rio de Janeiro?Você tem de ter opções.

O que leva o brasileiro a viajar? 52,7%, visita a ami-gos e parentes; 41,2%, sol e praia; 13,8%, turismocultural; 8,3%, negócios; 6,3%, ecoturismo; 2,3%,resorts, hotéis-fazenda.

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Você tem 93% entre amigos e parentes e sol e praia.Em relação a amigos e parentes, temos, cada dia mais,de fazer um trabalho dizendo que é melhor ficar emhotel do que ficar na casa do amigo ou do parente,perturbando, amolando. Por isso é que temos de fazeresse trabalho, ainda, para mudar. E aí, vamos ter umgrande movimento no turismo.

4. Resultados de curto prazo não trazem crescimentosustentado. Por isso, é preciso planejar cada etapa doprocesso com horizonte de anos, e não de meses.

É aquela história: se você olhar para a ponta do seunariz e andar, vai tropeçar e cair. Se você olhar láembaixo, na frente, pode ir, que nada vai te atrapa-lhar. Quando você aprende a dirigir um automóvel, seolhar o pára-brisa do automóvel, você bate. Se olharlá embaixo, você nunca vai bater.

Dois exemplos: um deles é a Disney. Surgiu em LosAngeles, na Califórnia. A World Disney estava felizcom a Disney lá. Por que será que foi levada para aFlórida? Foi levada para a Flórida e fez o Epcot Center.Por que foi feito o Animal Kinder? Por que trouxeoutros atrativos, como a Universal e a MGM? Por quetrouxe outros atrativos para a Flórida? Porque precisamodernizar. E nós precisamos estar sempre atentos aisso. Se não fizermos isso, acabamos perecendo, de-saparecendo. Os destinos têm de ser modernizados.O Parque Beto Carrero, em Santa Catarina, o Parqueda Xuxa, se não se modernizarem, vão acabar. É pre-ciso criar atrativos, fazer novas atrações. O BetoCarrero faleceu. O que vamos fazer? Vamos conti-nuar a imagem do Beto ou vamos criar alguma coisaem torno dele? É preciso fazer alguma coisa.

Las Vegas surgiu como a cidade do jogo. Jogo se liga àprostituição. Ficou jogo e prostituição. De repente,disseram: “Jogo e prostituição não dá certo”. Então,ficou jogo e eventos. Cresceu. E hoje é um grandedestino de entretenimento, com hotéis moderníssimos.As pessoas vão lá, implodem um hotel e levantam umoutro melhor ainda, mais lindo ainda, com grandesshows. O Cirque du Soleil tem cinco ou seis espetá-culos. Os cassinos. E a indústria do entretenimento érica, forte. É preciso acreditar e investir. Por isso éque são dois destinos fortíssimos. Há outros exem-plos, mas estou citando dois dos principais, que acre-dito serem os dois principais.

5. No turismo, mais do que nunca, “a propaganda é aalma do negócio”. Divulgar suas qualidades é regrabásica para estar no jogo. Se não dissermos que exis-timos, ninguém saberá que existimos. Se eu estiveraqui contando a história da CVC, muita gente até podeconhecer um pouco, mas não vai conhecer a fundo.Foi lá, contou um monte de história, acabou conhe-cendo um pouquinho da imagem da CVC. Então, aregra, para estar no jogo é contar histórias para vocês,vendendo o meu peixe para vocês, como vocês vendempara mim, de vez em quando. Esta é a regra básica: apropaganda é a alma do negócio.

Vou mostrar a vocês.

Comunicação. Fazemos 300 mil cm/ano, três páginaspor dia nos principais jornais.

Exemplos de comunicação.

Somos especialistas em um único tipo de férias: asinesquecíveis. Para todo mundo existe uma CVC.

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A chamada é forte. É preciso apelar para o sentido doconsumidor.

Nova York. A cidade que nunca dorme a preços quenão vão fazer você perder o sono.

Brincamos um pouco com o consumidor e mostra-mos um casal tirando a foto da Estátua da Liberdade.

Com a CVC, o feriado não precisa ser prolongado paraser feriado.

Bariloche. Não é todo dia que você tem a chance dever neve. Quer dizer, agora é, sim, para todo mundoexiste uma CVC. Campanha nossa de Bariloche co-municando a viagem.

China. Faça como a economia chinesa: conheça ou-tros lugares do mundo. Para todo mundo existe umaCVC.

Comunicação: mídia eletrônica: 45 mil. seg./ano.

Comercial de rádio.

Grupo CVC hoje.

Os prêmios já foram até comentados no currículo, maseste é um dos que considero mais importante, porqueé o reconhecimento dos clientes. Na revista da Edito-ra Abril, Viagem e Turismo, é a maior revista que temosde turismo, os leitores, por sete anos consecutivos,elegem a CVC como a melhor operadora turística bra-sileira e, há três anos, 2005, 2006 e 2007, como amelhor operadora turística internacional.

Há 35 anos a CVC era uma agência em Santo André;tinha a Varig, a Cruzeiro, a Transbrasil, a Vasp, Passa-gens Aéreas e a CVC.

A CVC, 35 anos depois, tornou-se o maior grupo dosetor de turismo na América Latina. Tem a CVC, aCVC Cruzeiros, a GJP Administradora de Hotéis Ltda.e a Webjet.

Missão CVC: tornar o turismo acessível a todas aspessoas, oferecendo produtos, serviços e atendimen-to de qualidade a preços justos, dedicando-se diaria-mente a realizar o sonho de cada cliente.

Visão CVC: formatar produtos e adaptar o preço des-ses produtos à capacidade de pagamento dos clien-tes; desenvolver novos mercados nacionais e interna-cionais; incentivar o desenvolvimento de fornecedo-res e de receptivos locais.

Os valores que temos: acreditar sempre; ter orgulhoda empresa; amar o trabalho; ousar e criar; ter humil-dade: reconhecer os erros e aprender com eles; con-servar e respeitar os clientes; exceder as expectativasdos clientes e ter prazer em fazer bem-feito; valorizare fidelizar clientes, fornecedores e colaboradores; tercompromisso com o Brasil; nunca abandonar os so-nhos.

Um valor fundamental: pessoas e relacionamentos es-tão e sempre estarão acima de números. Turismo vivede experiências, e não de transações “frias e burocrá-ticas”. Quer dizer, é o calor humano, o olho no olho quetemos com os nossos fornecedores, com os nossosclientes. É muito importante. É um valor que temosmesmo dentro da empresa.

Hoje, estamos em um prédio de 12 andares, em SantoAndré, onde está toda a matriz, toda operadora CVC.No dia em que vocês quiserem conhecer, está à dis-

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posição para uma visita, para conhecer um pouco omundo; porque o mundo é diferente, porque pensaque uma agência de viagem é um mundo pequeno,mas o que se movimenta ali... A CVC deve movimen-tar um milhão e 700 mil pessoas este ano. O que hápor trás: bolsa de viagem, sistema de reservas, siste-ma de organização total, nacional e internacional,operacional, os horários de trabalho; há turnos quecomeçam as quatro horas de manhã, porque temosdiferença de fuso-horário de cinco horas. Quer dizer,há um pessoal que começa às quatro da manhã, tra-balha das quatro às 14 horas. Enquanto o pessoal estáchegando para trabalhar, eles estão saindo para tomarcafé. É bem diferente. As lojas da CVC, hoje, são to-das padronizadas em qualquer parte do Brasil.

Rede de distribuição nacional: 244 pontos, mais de7.850 agentes de viagem; estamos em 25 estados e 91cidades do Brasil. A previsão até 31/12/2008 é de306 pontos.

Rede de distribuição internacional.

Argentina. Há um ponto em Buenos Aires. Atende1.050 agentes de viagem.

Chile. Há um ponto. Atende mais de 218 agentes deviagem.

Uruguai. Há um ponto. Atende mais de 256 agentesde viagem.

França. Há um ponto. Atende mais de 48 agentes deviagem. Começamos agora e fizemos um acordo coma Carrefour Voyage, que vai distribuir os produtos daAmérica. Temos um produto não só o Brasil; nós te-mos Brasil e também lincado com o Peru, o Chile, na

parte da Patagônia, e a Argentina, pegando os gla-ciais, o Perito Moreno, porque realmente os europeusgostam muito desse tipo de turismo. Quando você falaem Peru, Machu Picchu e tal, você tem a selva Ama-zônica. Então, estamos fazendo muito esse tipo deroteiro na França, para atrair franceses para cá.

O histórico. Passageiros transportados. Até dezem-bro de 2005: oito milhões e meio; até dezembro de2006: 10 milhões; até dezembro de 2007: 12 milhões.Neste ano vamos chegar a quase 14 milhões de pas-sageiros.

O grupo GJP – Administradora de Hotéis. Temos oSerrano Resort (Gramado/RS); Hotel Alpenhaus (Gra-mado/RS); Marupiara Hotel (Porto de Galinhas/PE);Hotel Sete Coqueiros (Maceió/AL) e ECO ResortAracajú (Aracajú/SE), que está em processo de cons-trução.

A Webjet Linhas Aéreas. Destinos operados: BeloHorizonte (Confins), Porto Alegre, Rio de Janeiro,Salvador, Porto Seguro, Natal, Brasília, Curitiba, For-taleza, Ilhéus, Recife, Maceió, Campo Grande eCuiabá. Daqui a 20 anos seremos a maior empresaaérea deste País.

Quando recebi o prêmio Cidadão do Rio de Janeiro,eu disse: a CVC quer dizer: “Com vocês cariocas”.Então, dá certo.

Eu me espelho em frases. Há uma sobre JuscelinoKubitschek, que muitos criticam, que diz que se fos-se nos dias de hoje, Juscelino não faria Brasília comofez. Comentamos que se Juscelino estivesse aqui hoje,não faria Brasília como ele fez, porque a burocracianão deixaria fazer em cinco anos. Se analisarmos o

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mapa do Brasil dos anos 70, na região Centro-Oestedo País, que é a região central do País, e comparar-mos com o mapa do Brasil hoje, veremos o que de-senvolvemos nessa região com a criação do PlanaltoCentral e com a visão dele de trazer as montadoras,as fábricas da Alemanha, dos Estados Unidos. Trou-xe para São Bernardo do Campo as indústrias meta-lúrgicas, as fábricas, e foi daí que surgiu o Sindicatodos Metalúrgicos e o Lula – nem tudo é perfeito. Masfoi o Juscelino quem fez isso. Foi um grande Presi-dente. E ele sempre dizia: “O otimista pode errar, maso pessimista, com certeza, já começa errando.”

Para terminar, vou mostrar mais um filme a vocês e,antes de tudo, uma das coisas mais importantes deestar com vocês, quem nos guia e nos faz estar pre-sentes aqui é Deus. Se não fosse ele, na pessoa de Seufilho, que é Jesus. Um momento ímpar para qualquerser humano, para qualquer homem ou atividade, é vocêpoder ter a oportunidade de agradecer a Deus por es-tar presente aqui. Posso dizer a vocês muito obrigado.Encerro com o último comercial. Tenham fé, acredi-tem sempre, sonhem e tenham muita fé Nele, porqueEle nos ajuda a crescer cada dia mais. Muito obrigado.

Essa propaganda foi feita com os funcionários da CVC.

O SR. PRESIDENTE (GILSON GOMESNOVO) – Dr. Guilherme Paulus, ao iniciarmos anossa apresentação, nós o fizemos com um extensocurrículo, que deixa ainda um pouco mais de respon-sabilidade para aquele que vai ser o palestrante, desustentar, de substanciar, de comprovar todos os inú-meros títulos, tudo o que foi apresentado. Acho quenão tivemos nenhuma dúvida, pelo menos da minhaparte, de que o resultado do que lemos no início era o

que foi apresentado pela visão empresarial. Para mim,foi excepcional.

Também me chamou a atenção – e aí nós vemos cla-ramente o resultado. Tudo o que foi apresentado é oresultado de uma arquitetura, de uma cadeia de negó-cios que vem desde as vendas e distribuição, trans-portes aéreo, rodoviário e marítimo, a hospedagem, oserviço. Acho que fomos brindados com essa fontede conhecimentos, com essa informação do case CVC,que é hoje a maior empresa de turismo do País.

Inclusive, hoje acabamos de receber uma informaçãoque também vai ajudar ainda mais: é que o Brasil aca-bou de ganhar um investment grade. Isso também vaimelhorar. Na Bolsa já tivemos um aumento de quase7%. Então, é mais um processo que indica o que foiiniciado nesta palestra.

Meus parabéns. Vamos passar, agora, como de praxe,para as perguntas dos nossos Conselheiros. Peço, comosempre – o nosso Presidente também o faz –, que umdos Conselheiros que seja o regulador do horário. Peçoao Conselheiro Pedro Fortes os três minutos para asperguntas, indicando apenas 12 conselheiros para fa-zerem perguntas. Que sejamos breves, por causa dotempo do Dr. Guilherme Paulus.

O Conselheiro Eraldo Alves, por favor.

O SR. CONSELHEIRO ERALDO ALVES DACRUZ – Boa-noite a todos. Guilherme, você me fezlembrar, com sua palestra, um saudoso colega cariocada hotelaria, o nosso Caribé da Rocha, que foi diretorda Rede Horsa e fez grandes eventos no Rio de Janei-ro durante toda a sua vida. E pouco antes de morrer,ele escreveu um livro sobre o José Tjurs, intitulado

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Um homem de fazimentos. Então, não resta a menor dú-vida de que uma das suas grandes virtudes é ser umhomem de fazimentos, mas especialmente um fazedorde amigos. Seu extenso currículo foi muito bem com-pilado pela nossa querida Joseneide, que está aqui eque assessora o nosso Presidente Trigueiros. Ela nãodeixou faltar nada, mas, certamente, ainda não tinhaconhecimento de que você tem uma das principaisvirtudes: ser não um administrador de empresas, masum administrador de talentos, pois você tem dentroda sua empresa um dos maiores e melhores talentosdo nosso País. Tem pessoas extraordinárias trabalhan-do com você, e um dos exemplos hoje, aqui, na nossamesa: o nosso querido Hélio Lima Duarte, que é umempresário que goza de todo conceito e prestígiojunto a todos nós e junto a todo o trade turísticobrasileiro.

Quero finalizar minhas palavras agradecendo a vocêpor estar aqui, junto a todos nós, despendendo o seuprecioso tempo, que sabemos que é extremamenteprecioso. Finalizo com um agradecimento e fazendouma pergunta a você. Você sabe que o mundo da pu-blicidade é um dos mais sérios, controvertidos e ca-ros que existem no mundo. Até questão de dois anosatrás, vimos a televisão brasileira fazer bastante pu-blicidade de turismo, mas capitaneada pelas compa-nhias aéreas. Elas é que sempre detinham os princi-pais horários. E, de repente – corrija-me se eu estivererrado –, um ano ou um ano e meio, repentinamenteo Guilherme Paulus, a CVC, entrou com toda força.E sabemos que isso implica um dispêndio, um inves-timento considerável, porque vimos algumas fazeremtentativas nas TVs de menor prestígio. Mas você en-trou direto na Rede Globo e comprando horários no-

bres da TV Globo. E esse foi um investimento extre-mamente sério e grande. Gostaria de saber o que issorepresentou no antes e no depois, porque sabemosque há empresas que fizeram essa tentativa e tiveramde recuar. Você fez o contrário, você está criando no-vas mídias e expandindo cada vez mais. O que repre-sentou, em termos de números, o antes e o depois doseu ingresso corajoso nas TVs brasileiras com o turis-mo. Muito obrigado.

O SR. GUILHERME PAULUS – Eraldo, obrigado.Lembrando Caribe. Lembrando Hotel Nacional. É umgrande patrimônio do Rio que está lá parado. É preci-so que se tomem algumas providências para que vol-te ao nosso Hotel Nacional glorioso. O José Tjurs, daRede Horsa, também é patrimônio da hotelaria brasi-leira.

Acho que tudo na vida é passageiro. E como dar con-tinuidade a esse trabalho? Quando pensei em conti-nuidade, pensei em publicidade. Como você mesmodisse, foi a primeira vez que fizemos um anúncio depágina inteira no jornal. Eu sempre me espelhei como meu pai, que dizia: “Meu filho, sempre procure an-dar com gente que realmente te dê algo de melhor.Nunca ande com alguém que seja pior que você. Vocêtem de andar com alguém melhor que você. Tem deandar com boas companhias, bons amigos”. E eu ti-nha um sonho: toda vez que eu passava em frente aoMappin, em São Paulo, eu via aquele prédio enorme,e dizia: “Aberto até às 24 horas”. O sonho do consu-midor também era ter uma agência de viagem que fi-casse aberta até às 24 horas. Eu consegui. Não fica-mos abertos até às 24 horas, mas até às 22 horas, comos shoppings, como eu disse. Quando vi os grandes

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comerciais de TV das Casas Bahia, que é a granderede de varejo, vizinho na nossa região, e vimos quecada comercial que ele fazia, ou mesmo o supermer-cado, anunciando um produto que custa R$ 2, R$ 3,em um comercial que você paga R$ 30 mil, em horá-rio nobre, pensava: por que eles fazem isso? O super-mercado anunciando verdura a R$ 0,25 em um co-mercial que custa R$ 80 mil. Ele estava vendendo amarca. O produto era o que menos dizia. O que diziaera a marca que estava vendendo. E eu comecei aolhar a venda da marca. Quando você olha a tua mar-ca e a projeção dela é que você começa a se refletir,porque a venda vai acontecer automaticamente. Apartir do momento em que você atrai o consumidorpara a sua loja, para fazer uma compra, ou pelo agen-te de viagem, você está atraindo o consumidor paraalgum lugar, a fim de que ele compre, está chamandoa atenção dele. E começamos a acreditar. Para mar-car, todos assistem ao jornal da manhã e ao jornal danoite, na Rede Globo. Então, começamos a marcartodo dia no jornal da manhã, no da noite e no Fantás-tico. Todos lançam produtos no Fantástico. Por que nãopodemos lançar um produto no Fantástico? E tambémo que muito nos ajudou foram as campanhas coope-radas. Usamos um comercial com o Raul Cortês, cer-ta vez, mostrando o Rio Grande do Norte, por inter-médio da família Barreto, que tinha muita amizadecom o Raul. Ele se dispôs a fazer um comercial para asua cidade Natal, convidando as pessoas para irem aNatal. E teve uma repercussão muito grande. Sempreprocuramos marcar marcando a marca. Hoje, vendemosmuito mais a marca CVC. Vocês vêem que esses co-merciais que veiculamos estão vendendo um sonhocomum, para todo mundo existe uma CVC. Então,

vendemos a marca CVC no contexto geral, de mídia,porque pegamos: 3% do que vamos ter de faturamentono ano dedicamos à publicidade. Seguimos isso à ris-ca, e é feito no Brasil inteiro. Aqui no Rio é feito no OGlobo, nos cadernos de turismo. A mídia eletrônica noRio de Janeiro tem feito algumas chamadas no O Glo-bo. Estamos fazendo um investimento bom tambémna Record, porque é uma rede popular que cresce emuma camada social que a CVC atinge fortemente.Então, sempre temos de procurar olhar esse lado demarca, justamente vendendo, não só o produto, mas amarca. E deu muito certo, porque a CVC também cres-ceu nesse setor. Espelhamo-nos também em campa-nhas que a Varig fez no passado e que marcaram mui-to; a própria TAM faz e, futuramente, a Webjet vaifazer.

O SR. CONSELHEIRO ERALDO ALVES DACRUZ – Que aumento representou isso a partir domomento em que usaram a Rede Globo?

O SR. GUILHERME PAULUS – A Rede Globo éum negócio fantástico. Tenho certeza absoluta de quehouve pelo menos de 12% a 15% de incremento navenda. Lembro-me de que há um mês nós anuncia-mos na Rede Globo, devido ao aumento da passagemaérea, porque tínhamos um prazo com as companhias,e ficamos sabendo nos bastidores que haveria um au-mento da passagem aérea em mais de 20%. Então,fizemos uma chamada na Rede Globo, no domingo ànoite, no Jornal Nacional, dizendo que na segunda-feira não estaríamos cobrando o aumento de 20%.Naquele dia, vendemos um caminhão de pacotes. Ostelefones das lojas ficaram congestionados. Em umaloja tínhamos de distribuir senha. É impressionante.

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É muito forte. É um canhão.

O SR. PRESIDENTE (GILSON GOMESNOVO) – Com a palavra o Conselheiro Dr. NortonLenhart.

O SR. CONSELHEIRO NORTON LUIZLENHART – Na condição de Diretor desta Casa,Guilherme, quero, inclusive, a pedido do Dr. Anto-nio, dar-lhe um abraço e agradecer por tua presença.É uma honra para nós recebê-lo aqui. Evidentemen-te, não é apenas um agente de viagem que estamosrecebendo. Estamos recebendo o maior empresárioda área de turismo do nosso País e, evidentemente,da América Latina, não tenho dúvidas disso. Então,fica o abraço do Dr. Antonio, da nossa Diretoria e onosso agradecimento.

Vou me permitir dar o tempo para que os demais Con-selheiros possam fazer perguntas. Não vou fazer per-gunta, até porque eu acompanho a trajetória do Gui-lherme desde quando ele tinha um ou dois ônibus.Ele dava uma parada de uma noite em Porto Alegre e,depois, subia a Serra Gaúcha. Desde aquela época euacompanho o Guilherme. Portanto, tenho um conta-to permanente com ele. Conheço bastante a vida e otrabalho do Guilherme. Então, não vou fazer pergun-ta, vou deixar para os senhores fazerem. Quero ape-nas agradecer por sua presença e dizer que foi um pra-zer recebê-lo aqui na nossa Casa.

O SR. GUILHERME PAULUS – Obrigado, Nor-ton. Também estenda ao Dr. Antonio os meus cum-primentos. Quem se sente honrado de estar aqui comvocês sou eu, recebendo de vocês a oportunidade deconversar e contar um pouco da minha história. Eu é

que agradeço ao Dr. Antonio e a todos os Conselhei-ros. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (GILSON GOMESNOVO) – Com a palavra o Conselheiro Mário Braga.

O SR. CONSELHEIRO MÁRIO BRAGA – Gui-lherme, não sei se você se lembra da minha fisionomia,mas estivemos juntos no escritório do Valter. Vocêdisse que a sua empresa tem talentos. O nosso queri-do amigo é conhecido desde os áureos tempos, emquase 30 anos de turismo. Você é um excelentecomunicador e – eu não sabia – um administrador detalentos, não há a menor dúvida. Você nos deu umaaula muito interessante, muito importante. Creio queseja um ponto de cultura, quer dizer, informação lim-pa, clara, perfeita, direta, objetiva para cada um denós aqui presentes.

Você se pergunta, muitas vezes, por que as CasasBahia faz isso, por que o Mappin faz aquilo. Esse éum exercício excelente, componente vital de um pro-gresso empresarial. Você está de olho no que fazem osoutros, que não são concorrentes – Casas Bahia eMappin não são seus concorrentes. Sem revelar ne-nhum segredo, na minha missão junto à sua empresa,eu abandonei alguns clientes para me dedicar à CVC,o Patriani sabe disso. É que a sua empresa se preocu-pa em aferir a qualidade dos trabalhos, serviços e equi-pamentos que você põe à disposição dos seus clien-tes. Essa é a minha contribuição, trabalhando com oValter, e agora com o Varsão. Estou muito satisfeito,quer dizer, sou uma pessoa deste Conselho, tenho aquivários amigos, trabalhei muito tempo com o meu que-rido Paulo Henrique, e disse a ele que estou viajandona Webjet, que já teve mudanças positivas. Mas eu

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gostaria de deixar bem claro que você e sua empresa,além de tudo isso, sabem atrair talentos, respeitar asopiniões, mesmo que antagônicas, críticas, persegui-doras. Acabei de fazer Manaus e Belém e visitei todasas lojas da CVC e os seus agentes credenciados. Voucolaborar e contribuir com o Valter, que é tambémum cativador de pessoas; continuarei contribuindocom o Valter, para que a CVC continue nesse cami-nho do progresso. Muito obrigado.

O SR. GUILHERME PAULUS – Obrigado, Mário.É um prazer revê-lo. Sabemos da qualidade com quevocê trabalha e temos um respeito enorme pelo seutrabalho. Temos aprendido muito com você e sempreestamos em busca da perfeição. Esse é um objetivomeu e de toda a equipe da CVC. A CVC não é Gui-lherme Paulus, é um conjunto. Sempre brinco com ooffice boy quando o encontro no elevador: “Como é? Jáestá preparado para assumir o meu lugar amanhã?”Ele fica assustado e diz: “Não, não, Sr. Guilherme”.“Mas amanhã você tem de assumir o meu lugar aqui,cara”. É um preparo que tem de ter. Tenho colabora-dores na CVC de mais de 30 anos. Isso tudo nos en-che de orgulho. Não porque as pessoas fiquem lá 30anos, mas porque acabam gostando da CVC, acabamgostando do turismo e da forma como procuramosconduzir a equipe. Aquilo lá é uma grande família. Sevocê tem respeito pela família, vai ter respeito peloseu trabalho. Nós procuramos transmitir – eu, a Luiza,o Gustavo e o Fábio, quando estava conosco – essaforma de trabalho. Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (GILSON GOMESNOVO) – Com a palavra, o Conselheiro Luiz BritoFilho.

O SR. CONSELHEIRO LUIZ BRITO FILHO –Boa-noite. Foi muito importante a sua presença aqui.Acho que um País se faz de homens como você. OPaís precisa de empresários da sua estirpe, como umdia existiram o Ruben Berta, o Rolim Amaro, o BentoRibeiro Dantas e vários outros que passaram pelaHistória deste País e deixaram uma grande história.Acho que você pegou uma bandeira e está tocandoem frente.

Suas explicações foram muito bem dadas, foram di-dáticas e dadas por quem faz realmente. Várias vezesestivemos frente a frente em alguns trabalhos – comcerteza, você na sua CVC e eu no Galeão, trabalhan-do pela nossa Varig. Nosso berço é a aviação – Varig,com muito prazer. Continuo falando nesse Conselhosempre que posso.

Entendo – e isso é uma aferição minha – que tivemosuma desconstrução no transporte aéreo brasileiro apartir da retirada abrupta da Varig dos céus brasilei-ros e mundiais. Vejo também que poucos pegaram abandeira – volto a falar – como vocês estão tentando,por meio da Webjet, na qual experimentei voar comvocês. O Patrício está me olhando e sorrindo e foimeu colega de Varig também. Não estou falando paraagradar você nem o Paulo Henrique, mas vocês estãoprocurando uma qualidade envolvida na segurança,sem misturar o que seja um avião e um ônibus. NaVarig, zelávamos para que o passageiro voasse deavião, sentindo que estava em um avião, com toda aqualidade e segurança nesse vôo. Esse é o grande moteda aviação comercial vencedora no mundo. É a gran-de escola.

Eu perguntaria: o que o senhor acha do desenho do

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transporte aéreo brasileiro atual e da infra-estruturaaeroportuária? Isso é importante, porque não adiantacomentar a sua palestra, mas sim ouvir de quem faz,de quem é um vencedor.

O SR. GUILHERME PAULUS – Não sendo sau-dosista, aprendi a trabalhar com a Varig. Surgi no tu-rismo com a Varig. Acho que todos aprendemos coma Varig. Até o próprio Rolim aprendeu com a Varig. Oque aconteceu com a Varig foi uma pena. Uma sériede coisas poderiam ter sido feitas.

A aviação comercial é um negócio muito difícil nomundo todo. O mundo todo atravessa uma crise mui-to grande. Nos Estados Unidos, agora, com a crise dopetróleo, as companhias aéreas estão se reorganizan-do, estão se juntando – Continental com United. Jáhouve a fusão de outras duas. Fala-se de AmericanAirlines com outras e assim por diante. Sentimos queo mercado de aviação é muito difícil, principalmenteno Brasil, onde os impostos são muito altos. Hoje,o custo do combustível – pelo menos na Webjet – éum pouco mais de 50%. É um negócio muito com-plicado.

A infra-estrutura. Um grande problema que sofremossão os aeroportos brasileiros. Pensamos em trazer umaCopa do Mundo para cá e é um caos. Como é quevamos transportar? Como é que vamos fazer estádios?Estamos em 2008. Para 2014 faltam 6 anos. Um está-dio de futebol precisa ser bem-feito. Não digo em SãoPaulo, Rio ou Belo Horizonte, mas há estádios queenganam e dá para se fazer uma Copa do Mundo. Mashá outros que querem trazer, como Florianópolis eacho que o Rio Grande do Sul – o Grêmio está fazen-do uma arena, mas se formos pegar a Bahia, veremos

que há problemas. Santa Catarina tem problemas.Como fazer um bom estádio em 6 anos? E a infra-estrutura de aeroportos que não temos? O aeroportode Florianópolis é um caos. Temos de nos preocuparmuito com isso. O próprio desmando que tivemos,recentemente, com a criação da Agência Nacional deAviação Civil (ANAC) – não sei por que criaram aAnac, se havia o Departamento Nacional de AviaçãoCivil (DAC). Ou melhor, acabem com o DAC. Fica-ram com meio DAC e meia Anac, ou melhor, não fi-caram com nada. Em síntese: puseram como Minis-tro da Defesa o Nelson Jobim, que não entende por-caria nenhuma, que coloca gente que entende menosainda. No fim, quem consertou foi o Alemander Pe-reira Filho, que saiu agora. É difícil. Este País é com-plicado. Aqui tudo é difícil; nada é fácil.

Estamos lutando – eu, Norton, Eraldo e outros com-panheiros. E companheiros que eu digo não do PT,mas amigos. Sou do PT – Partido do Turismo. Temosuma preocupação muito grande, porque tudo é muitodifícil. Temos de fazer um esforço como empresários,como o Antônio Ermírio, como o Gerdau e como tan-tos outros grandes empresários, até como o Eike Ba-tista, aqui no Rio de Janeiro, empresários novos e no-vas lideranças que estão surgindo no País. Vamos ob-servar melhor em quem votamos, quem escolhemos,porque se não houver ninguém, não votemos em nin-guém, até que apareça alguém que realmente defendaos interesses do pólo. Sabemos da força que tem oque chamamos de Parlamento, em Brasília – o Con-gresso Nacional. Só que ali é tudo muito costurado;não se pode melindrar um, porque há o outro Partidoque tem de entender. No final do dia, você sente náu-seas. Você sai de lá totalmente neurótico. Parece que

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você está louco. Chego em casa e minha mulher diz:“Não vá mais a Brasília. Fique aqui em casa, que émelhor.” Acabamos sofrendo muito.

A própria guerra que houve entre as tarifas, a próprialuta pelo poder dentro da Varig, a própria Fundação –porque o Governo deveria ter separado a Fundaçãoda Varig. Existem mil planos para tentar mexer ou re-mexer e pintar e bordar. Mas que é difícil é. Sabemos oquanto estamos lutando pela Webjet, que tem um pla-no diferente, porque tem agregado, por trás – e aí eume lembro e me espelho na Varig, nas lojas que a Varigtinha em cada região: em Santo André, em São Ber-nardo, aqui no Rio de Janeiro em vários locais e haviatambém promotores de venda que visitavam os agen-tes de viagem. O que planejamos para o futuro daWebjet é a rede de distribuição que a CVC tem. É aúnica empresa que tem uma rede de distribuiçãofortíssima. Temos hoje 306 lojas e vamos ter 500 queestarão vendendo produtos Webjet. Foi como o Pau-lo disse: se cada loja da CVC vender 2 passageirospor dia, quantos passageiros darão em um mês? E maisos agentes de viagem. Então, nascemos com essa for-ça. Força que na própria TAM acabou, porque descre-denciou todas as suas lojas. Primeiro, o Rolim fez umplano: terceirizou as lojas. Depois, o Bolonha foi lá ecomprou: desterceirizou; deixou as pessoas confusas. ATAM não sabe o que faz. É complicado. Para os maisnovos, tudo bem: é um novo começo. E os mais anti-gos? E as pessoas que têm formação da época doRolim? Como ficam? É complicado. Quando você fazuma mudança em uma empresa, tem de pensar no queestá acontecendo do outro lado. A vinda do Baglionifoi excelente para a TAM, porque colocou alguém doramo. Colocaram o Bolonha, que é do ramo financei-

ro. Ótimo! Abriu Initial Public Offering (IPO), colo-cou um caminhão de dinheiro dentro da TAM, quecomprou aviões, se modernizou, está uma empresalucrativa, está bem na fita, como dizem os outros: ex-celente! Mas depois dos acidentes, as ações foram lápara baixo. E acidentes na aviação não acontecem poracaso. Fala-se em acidente, mas, no fundo, se vocêfor observar, verá que há falhas. Sempre há. A Varigvoava e raramente acontecia um acidente. Raros osacidentes da Varig. Houve o de Orly, houve aqueleque se perdeu e acabou morrendo, o cargueiro quedesapareceu, mas se formos eem umerar os da TAM,desde a época dos Brasílias, veremos que já houvemuitos. Tudo é presença – tem de haver uma admi-nistração muito forte. A manutenção é uma coisamuito importante. É uma coisa que prezamos mui-to na Webjet. Temos planos de crescer; e a TAM ea GOL sabem que vamos incomodar. Podemos nãoincomodar no momento, mas futuramente vamosdisputar mercado – viemos para disputar mercado.Não viemos para ficar quietos, mas para chegar juntomesmo.

Uma coisa que eu gostaria de dizer do Mário é que eletrouxe uma frase de um passageiro nosso que acheifantástica. O Valter tem na sala dele, Mário: “Na vida,tudo é passageiro; e, na CVC, passageiro é tudo”.

O SR. CONSELHEIRO MÁRIO BRAGA – Foiuma sugestão, quando falamos em Webjet, e, conver-sando depois da reunião, o Valter foi para o quadro,escreveu e disse: “Mário, posso usar a sua frase?” “Cla-ro que pode!” Quando vestimos a camisa, vestimosmesmo.

A comparação que eu quis fazer é que na vida tudo é

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passageiro, mas para a Webjet e para a CVC passagei-ro é tudo.

O SR. GUILHERME PAULUS – É tudo. É isso aí.

O SR. PRESIDENTE (GILSON GOMESNOVO) – Com a palavra, professor Maurício Werner.

O SR. CONSELHEIRO MAURÍCIO DEMALDONADO WERNER FILHO – Parabéns,Guilherme, pela palestra, pelo otimismo e pela cora-gem. Aliás, a palavra coragem tem um significadomuito importante – cor, de coração e agem, do verboagir: agir com coragem é fundamental.

Uma coisa que impressiona na sua vida empresarial éjuntar o que chamamos de volume de venda, volumede negócio e qualidade, tendo sido apontada por al-gumas revistas de renome como uma empresa volta-da também para a qualidade. Quando falamos de vo-lume e de qualidade, conseguimos criar diferenciaiscompetitivos com preço. Os preços normalmente ten-dem a aumentar, e na CVC o que eu vejo ainda sãopráticas populares de preço. Então, gostaria de enten-der, primeiro, essa equação, que é diferente do que sepratica no mercado.

Uma outra curiosidade é que a CVC, certamente, nãosignifica com você carioca; significa alguma coisa. E eugostaria de saber qual é o significado destas letras:CVC.

Uma outra coisa para sintetizar, e aproveitando a opor-tunidade, porque não é sempre que temos o Presiden-te da CVC aqui conosco. Fala-se muito da consolida-ção de marca e, hoje, eu estava lendo que o Google,por exemplo, é a maior marca, seguida da GE. Hoje, a

CVC, dentro do trade turístico, talvez seja a maiormarca, pelo menos top of mind – vocês receberam esseprêmio. O primeiro nome que vem à cabeça do con-sumidor, quando pensa em turismo, é CVC. Hoje jáhá um valor para essa marca?

A última pergunta – é um bombardeio: o que foi apren-dido com a saída da Soletur do mercado, em que ocu-pava o top of mind do consumidor turístico brasileiro?O que aconteceu na sua cabeça vendo outros exem-plos de marcas não tão concorrentes, como CasasBahia? Qual foi o maior aprendizado nessas diferen-ças competitivas?

O SR. GUILHERME PAULUS – Obrigado, Mau-rício. São cinco perguntas. Vou começar pela última,porque a primeira eu já esqueci. A última impressão éa que fica. Então, fica a pergunta.

Em relação à quebra da Soletur, é claro que temos deaprender com o erro dos outros e com os nossos tam-bém, não é? Aprendi o seguinte: nunca ponha os seusovos todos em uma cesta só. Lembro que a Soleturera fortíssima no turismo rodoviário – foi líder – e, derepente, começou com o turismo aéreo e abandonoupraticamente os ônibus, vendeu a frota, acabou comos pacotes rodoviários, que ficaram reduzidos a mui-to poucos. Eles estavam fortes no turismo aéreo nacio-nal, com a TAM. De repente, começaram com o tu-rismo internacional – fortíssimos –, com a Varig, narota Nova York e, depois, com fretamento para Can-cun. E foi um grande filão. Foi a época em que a Soleturmais cresceu, mais ganhou dinheiro. Só que, em umPaís como o nosso, que é complicado, em que é preci-so estar muito atento à moeda, principalmente o re-flexo do câmbio – a economia brasileira vive disso –,

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uma das principais pautas é a exportação – a importa-ção e a exportação. Temos de ficar muito agregados,especialmente quando mexe com o turismo internaci-onal. A Soletur tinha muitos compromissos, fretamen-tos, diárias pré-compradas. O americano é muito es-perto nesse sentido: ele vende o apartamento comdiárias garantidas, pré-pagas, e você tem de tomar umcuidado muito grande.

O que eu aprendi com a Soletur é que ela não deveriater abandonado. Enquanto a CVC não saiu do merca-do nacional, tínhamos 3 fretamentos para Cancun, tí-nhamos fretamento para Havana, tínhamos rota fortede Buenos Aires, tínhamos Europa também e, em re-lação aos Estados Unidos, mandávamos uma médiade 1.200 pessoas para a Disney por semana. Desmis-tificamos a Disney na época da Stella Barros, da TiaAugusta, principalmente no mercado de São Paulo.Até brincamos: “Não viaje com a vovó, não viaje maiscom a titia. Viaje com a CVC”. Eram jovens. Nin-guém quer viajar com a avó, ou com o avô – amolecada queria viajar. E as pessoas com mais idade– com 18 ou 20 anos – queriam viajar sozinhas. Ten-tamos desmistificar e conseguimos. Mas nunca para-mos com o turismo nacional e nunca paramos com oturismo rodoviário. Sou a única empresa brasileira noturismo há 30 anos que mantém um ônibus direto noNordeste fazendo a rota Salvador-Fortaleza/Fortale-za-Salvador. Hoje atendo muito ao mercado argenti-no e ao mercado chileno, porque para eles é novida-de. Para os brasileiros, quase todo mundo já fez essedestino. Temos trazido portugueses para fazer essarota. Aprendemos que sempre temos de estar muitoatentos. Ah, navio está vendendo muito, porque o dólarestá favorável. No momento em que o dólar for a quase

R$ 3, vai diminuir a venda dos cruzeiros marítimos.Temos de estar muito atentos ao preço do petróleo.O barril de petróleo hoje chegou quase a 200 – tenhode ficar atento a isso. Se você pegar a nossa tabela depreços dos navios, verá que aumentou 5%. Por quê?Porque aumentou o petróleo. Temos de ficar atentos,e o consumidor tem de estar ciente de que tem depagar. Tem de ficar muito ligado e preparado. Se odólar está favorável agora, chame o seu fornecedorinternacional e pegue o dinheiro antecipado que vocêtem nas mãos – porque o grande problema é o recebi-mento do dinheiro antecipado. Trabalhamos com di-nheiro muito grande. A mesma coisa a TAM, a Gol, aprópria Varig, antigamente. O caixa delas girava mui-to forte com venda antecipada. O Canhedo comproua fazenda, fez milagres, ficou rico. E a Vasp ficoupobre, porque movimentava muito dinheiro. Nós, com5 aviões, movimentamos muito dinheiro na Webjet,mas só que, desse dinheiro, 50% é para combustível;o que fica é muito pouco. As pessoas acabam se ilu-dindo com isso. É muito perigoso. Um dos segredosda CVC é que a família do Guilherme Paulus vivemuito bem, tem bons carros, tem bom apartamento,tem boa casa de campo, etc., mas a CVC é uma em-presa milionária – isso eu tenho orgulho de dizer. Éuma empresa milionária que vive muito bem, mas eunão, eu tenho a minha vida regrada. “Ah, o Guilher-me é pão duro.” Sou pão duro, porque o dinheiro nãoé meu, é dos outros, e não posso ficar distribuindo.Não posso pegar o dinheiro do Mário, que comprou aviagem, antecipou, programou-se 6 meses antes, pa-gou direitinho, e sair por aí torrando tudo, como mui-tos fizeram. Por isso, quebraram e coitado do consu-midor. “Que se dane o consumidor.” Um dos segre-dos é esse.

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Preço. Saber comprar – sempre me espelhei muito nis-so. Quando fazíamos excursão aqui para o Rio de Ja-neiro, meu grande sonho e de todo brasileiro era umfinal de semana no Rio de Janeiro, no Hotel Glória,no Copacabana Palace, no Hotel Nacional. Quandofui falar com o José Tjurs, no Rio de Janeiro, mandarturista de São Paulo de ônibus para o Hotel Nacional(RJ) era um absurdo. O gerente dele, cujo nome nãome lembro agora, era um moreno, com boa aparência,queimado de sol, e estava na piscina de tanguinha bemfininha. Chegava com a sacolinha – ele, a mulher edois filhos –, o hóspede não tinha cadeira, mas eletinha cadeira na piscina. Por isso o Sr. José Tjurs que-brou. Eu cheguei lá, como dono da CVC, cliente dele,e eu e minha mulher tivemos de nos sentar no chão.Clientes dele. Isso jamais aconteceria. Turismo é a artede bem receber as pessoas; sempre foi. As compa-nhias têm de dominar a arte de servir bem aos seusclientes. O que as companhias aéreas hoje fazem éum absurdo. O avião da TAM, o A-321, tem 210 lu-gares. Vocês já entraram nesse avião? Eu disse aoMariano: “Mariano, é um crime isso que vocês fazem.Uma pessoa de 1,80 m não consegue. Em qualquersituação de emergência que você tenha de baixar acabeça, veja se você consegue. Esse é um dos des-mandos do nosso setor aéreo também. Temos de to-mar cuidado com isso. Ninguém se preocupa. A Anacse preocupa com isso? Não. O técnico da Anac nemsabe direito a distância das poltronas. Antigamente,na DAC, sabiam.

Quanto à qualidade, todos vão querer viajar por ummelhor preço para um melhor lugar. Meu sonho é fa-zer com que você viaje comigo de uma forma econô-mica, boa e barata, porque, caso contrário, você vai

comprar direto. Hoje você vai na internet, vê um ho-tel e pensa: “Quero ficar no Copacabana Palace” –diária: R$1.200,00. Se tenho dinheiro, eu pago. Hádisponibilidade? Há. Faz a reserva. Você está em BeloHorizonte, entra no site da TAM e vê BH – Rio – BH:quanto custa? “Ah, tem promoção de meia-noite às 4horas e custa R$ 40,00. Legal!” Você procura sempreo melhor preço para você. O Copacabana Palace, àsvezes, tem alguma promoção, mas, se não tiver, vocêpaga aquele apartamento mesmo. Se tiver dinheiro,compra uma suíte; se não tiver, compra um Standard.Se tiver promoção, você compra a de R$ 40,00. Senão tiver, você compra o bilhete aéreo de R$ 1.000,00.O consumidor é ávido por isso e fica atento. Minhaobrigação, como agente de viagem, como fazedor depacote, como vendedor é procurar ir discutir com ohoteleiro e dizer: “Não quero vender o seu hotel queestá lotado, mas quero vender o que você não ven-deu; o que você não vende durante o ano. Qual a suaocupação média anual?” “Ah, uns 60%.” “Se vocêaumentar para 80%, é bom?” “Ah, claro! São 80%!”“Vou lhe dar 20% a mais por ano. Que tarifa que vocêquer?” “Quero a tarifa normal.” “Mas você dorme coma cama vazia. Você já fez a conta? Se eu não lhe dernada, já estou lhe dando lucro, porque estou colocan-do gente aqui dentro do hotel que vai consumir água,poderá fazer uma refeição, poderá jantar, poderá ir àlojinha e fazer uma compra...” “Mas quem é que pagao lençol?” “Tome, eu lhe ajudo a pagar o lençol. Quan-to custa a lavagem do lençol?”

Aí, eu começo a fazer a conta com ele. Ele queria quea diária fosse de 200 reais. Eu digo: “Dá para pagar50.” E a pessoa diz: “Bolas, você vai me quebrar, cara!”“Não, eu não vou lhe quebrar. Você já não tem 60

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garantidos? Estou lhe dando mais 20! Vou melhorar asua receita!” E aí, quando está quase tudo fechado,você diz: “E a quanto você me faz se eu pagar anteci-pado?” Vamos buscando os argumentos e consegui-mos um bom preço.

Acontece a mesma coisa com as companhias aéreas.Não adianta querer fretar avião da TAM ou da Webjetno horário nobre do Paulo Henrique. Ele vai cobrarcaro mesmo. Se não vender para mim, tem quem com-pre no horário nobre. Então, ele vai dizer: “Guilher-me, quer fretar meu avião da meia-noite às 6 horas?Pague o que quiser pagar.” Pagando o combustível, oresto está pago. Pelo menos ele está girando, está en-trando dinheiro. Claro que ele vai colocar uma mar-gem, mas é um grande negócio. Se eu for fretar nohorário nobre, a hora/vôo dele custa US$ 12 mil, masà noite custa US$ 6 mil. Se você tiver um bilhete paravoar às 6 horas da manhã a R$ 40,00 e um às 10 horaspor R$ 800,00, em qual você vai? Vai no de R$ 40,00.Não tem jeito: dinheiro no bolso é outra coisa, gente.O turista e qualquer um faz contas antes de mais nada.

Essa era a terceira pergunta. Faltam 2, não é?

O SR. CONSELHEIRO MAURÍCIO DEMALDONADO WERNER FILHO – O valor damarca. Quanto vale a marca CVC hoje? E a outra é oque significa CVC.

O SR. GUILHERME PAULUS – O que significaCVC. Quando montei a sociedade com o Carlos, pen-samos em vários nomes. O Carlos era um deputadoestadual por Santo André; já tinha sido Vereador emduas eleições. Ele era uma pessoa muito querida, muitoconhecida na cidade, e dizia que a primeira cidade a

ter impeachment era Santo André, quando ele era Presi-dente da Câmara de Vereadores. Ficava todo orgu-lhoso quando dizia isso. Quando o Fernando Collorfoi eleito ele já era falecido e não viu. Ele tinha odobro da minha idade. Eu tinha 24 e ele tinha 48 anos.Quando começamos a conversar em montar a agên-cia de viagens, pensamos em Aladim Turismo, mas jáhavia uma empresa. Pensamos em Marco Pólo, mastambém já havia. Aí, pensamos: vamos fazer sigla? Ecomeçamos a ensaiar. CGC – mas aí seria CadastroGeral de Contribuintes, e não Carlos Guilherme Cer-chiari. Era a resposta dele. Não dava. CGL – não,também não era bom. Então, eu disse: CVC. E eledisse: Mas são as minhas iniciais. Veja, são três con-soantes fortes, com uma tônica no meio, que é o V.Acho que é legal. Deputado e vereador o pessoal dámais valor. Se colocar Guilherme do Turismo, nin-guém vai dar valor aqui em Santo André. Claro, aca-bei mexendo com a vaidade da pessoa – quem é quenão quer ter o seu nome ligado à empresa? Aquilo foibacana, porque ele concordou e deu certo. Ficamossócios de 1972 a 1976 – quatro anos. Ele perdeu aeleição por querer perder, porque, se tivesse sido elei-to deputado federal, teria sido eleito. Preferiu sair comodeputado estadual. Era um político honesto que tematé nome de Escola e de rua em Santo André. Já fale-ceu. Foi uma homenagem que fiz, na época, com onome dele e também porque havia marcas fortes naépoca, como IBM e outras com siglas. Acho que fun-cionou.

Quanto vale a marca? É difícil dizer quanto vale aCVC hoje. Fizemos um ensaio para um IPO da CVC– e agora não é o momento de fazer também – e deuum valor bastante agregado. Deve valer um bilhão de

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dólares. Não venderia por menos, mas se aparecer al-gum louco...

O SR. CONSELHEIRO MAURÍCIO DEMALDONADO WERNER FILHO – Obrigado,Guilherme.

O SR. GUILHERME PAULUS – De nada.

O SR. PRESIDENTE (GILSON GOMESNOVO) – Com a palavra, o Conselheiro HarveySilvello.

.O SR. CONSELHEIRO HARVEY JOSÉSILVELLO – Prezado Guilherme Paulus, sua pales-tra foi, para mim particularmente, e certamente paraos outros também, muito importante, porque me fezfazer uma reflexão sobre a minha vida. Como empre-sário e economista, no início da minha vida empresa-rial, na década de 1970, tive a felicidade de escolhero nome da empresa também pelo nome dos meus com-panheiros que comporiam, naturalmente, o quadrosocial dela – HPA. Tivemos a felicidade de fazer comque essa marca crescesse muito. Trabalhávamos comprevidência privada, com montepios e tivemos umperíodo extremamente grande, com possibilidade dedistribuir em todo o território nacional. Estou falan-do um pouco de mim só para dizer que realmente es-tou sentindo até felicidade e orgulho de tê-lo ouvidofalar. Conseguimos distribuir para o Brasil inteiro umaprevidência privada. Tivemos, na época, mais de 6mil agentes, e vi que você superou com mais de 7 milagentes.

Para começar, quero dizer meus parabéns. Isso de-monstra que você é realmente um grande empresário,e não apenas um ganhador de dinheiro. Esse é o meuponto de vista pela minha experiência como econo-

mista. Realmente, foi uma aula de marketing, até cor-roborando as palavras do Maurício e do companheiroMário. Ao ouvirmos uma palestra desse nível, senti-mos até orgulho.

A primeira pergunta que eu gostaria que você esclare-cesse rapidamente é a seguinte: pela experiência quevocê tem, você acha que hoje, na condição que vocêteve há mais de 30 anos, você conseguiria fazer umaempresa nesses moldes sem ter uma soma financeiragigantesca?

A segunda: conhecemos bastante a sua empresa, masgostaria de conversar sobre essa parte pecuniária. Qualo resultado final da CVC como operadora com rela-ção a lucros? Entre os seus produtos, qual o que maisrepresenta? São os pacotes, os bilhetes aéreos, ou sóa parte terrestre? Esse é o segundo questionamentoque faço.

Você mostrou um levantamento figurando os utensí-lios que são utilizados na hotelaria. Eu pergunto avocê, que tem bastante experiência nisso: eles são fei-tos por meio de locação, ou são comprados pelas em-presas de hotelaria?

Você disse também que a propaganda é a alma donegócio. Certa vez, fizemos um questionamento –passamos 30 segundos, cedidos por um colega quetrabalha com publicidade, que é o Haroldo Araújo.Ele fez um questionamento sobre publicidade e eufiz uma pergunta a ele: o que é mais importante e emqual circunstância é aplicada? A propaganda é a almado negócio, ou o segredo é a alma do negócio?

Essas são as perguntas. Meus parabéns. Ficamos feli-zes em conhecê-lo e em ouvir a sua palestra.

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O SR. GUILHERME PAULUS – Obrigado,Harvey. Vou começar pela última, que é sempre a maisfácil e está mais fresquinha na memória. A propagan-da é a alma do negócio. Acho que o segredo você guar-da muito e ninguém fica sabendo. Com a propaganda,você diz que tem um produto e expõe na prateleira,ou tira da prateleira e expõe na vitrine. Temos utiliza-do muito hoje as vitrines dos shoppings. É oferta, etodos param para ler. Parece até meio cafona, aquelenegócio todo poluído, mas o pessoal pára para ler. Aliestá a oferta clara: Porto Seguro – tanto; Natal – tan-to; Nova York – tanto; Cancun – tanto; Cruzeiro Marí-timo – tanto. É aquela confusão toda, mas o pessoalestá olhando. São ofertas de viagem. A propagandarealmente é a alma do negócio. Só é lembrado quem évisto. Se não aparecer, ninguém se lembra de você. Éincrível! Vejo por mim, pois, às vezes, quando deixode participar de alguns eventos, o pessoal pergunta seestou com algum problema, se estou doente. As pes-soas perguntam mesmo. Você sempre tem de apare-cer e estar sempre em evidência, porque as pessoasesquecem. Não é que o brasileiro tenha memória cur-ta; o mundo tem memória curta. O mundo se esquecemuito rápido das pessoas. O marketing é tudo. A vidaé marketing. Certa vez fizemos uma pesquisa na pró-pria CVC: O que é mais importante – o homem ou aempresa? E na CVC eu e o Valter Patriani, que é oatual Presidente da Operadora, coordenamos isso evimos que o mais importante nas empresas são oshomens. São eles que fazem as empresas. Sempre. Asempresas nunca fazem ninguém. Quem faz as empre-sas são os homens. Citem uma empresa que fez ho-mens. Quem fez a Microsoft? Tirem o Bill Gates daMicrosoft e vejam quanto tempo ela vai durar. Pode

durar até eternamente, mas vai deixar de ser a Micro-soft. Esse é apenas um exemplo dentre tantos por aí.Claro, você poderá dizer: o dono da Coca-Cola, o quí-mico, que criou a Coca-Cola. Primeiro ela foi criadapor um químico e, depois, foi para as mãos de ban-queiros. Quantos banqueiros foram donos da Coca-Cola? Quando começou, era de um químico. Será quese ficasse apenas nas mãos do químico seria a Coca-Cola? Por que ela coloca “Always Coke”? Por que“Sempre Coca-Cola”? Porque é sempre coca-cola.Vocês acham que a Coca-Cola precisa de propagan-da? Não. Mas no dia em que ela deixar de fazer, aPepsi passa e a engole; ou aparece outra.

O SR. CONSELHEIRO HARVEY JOSÉSILVELLO – É claro que o marketing é indispensá-vel para o desenvolvimento de qualquer produto. Sóquis fazer essa comparação, porque é uma coisa meiocapciosa.

O SR. GUILHERME PAULUS – As outras per-guntas, por favor.

O SR. CONSELHEIRO HARVEY JOSÉSILVELLO – Dos produtos, qual o que se destacanaturalmente e quais os percentuais?

O SR. GUILHERME PAULUS – Acho que em todoproduto você tem de trabalhar com lucro. Todos. Lu-cro é essencial para a subsistência da empresa. Todosos nossos colaboradores têm de dar lucro. Se não de-rem lucro, lamentavelmente, terão de dar a vaga paraquem dará lucro. Claro que existe um nível de investi-mento – vou investir tanto tempo em tal produto.Vamos lançar um produto. Ninguém nasce médico:tem de pagar a carreira, tem de fazer uma faculdade,

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estudar, fazer exame e passar, ter o diploma, fazerestágio... até ser um bom cirurgião. A mesma coisaquando você lança um produto. É difícil lançar umproduto hoje e estourar a venda já no dia seguinte. Anão ser que seja um produto excepcional ou que vocêesteja dando – de graça. Você tem de amadurecer oproduto, formatar direito – vão 2 passageiros, vão 10,20, 30, 100, 200, 300, 500, 1.000, 2.000 e assim pordiante. Aí, o produto vai embora – já pegou. Mas vocêtem de acreditar e investir. Há um grau de investi-mento sobre o produto. Ganha dinheiro sempre? Nemsempre, mas em 90% dos casos procuramos ganhar.Se não der certo, é melhor parar com o produto. Diziao saudoso Comandante Rolim: “Quando você estiverperdendo dinheiro com um negócio, pare imediata-mente de perder e comece a ganhar”.

O SR. CONSELHEIRO HARVEY JOSÉSILVELLO – Qual é o carro-chefe dos produtos dasua empresa?

O SR. GUILHERME PAULUS – São os produtosnacionais ainda; são os fretamentos dentro do Brasil:Porto Seguro, Natal, Fortaleza, Serra Gaúcha. Sãopacotes formatados para uma semana. É o grandeproduto da CVC. É o Nova York, uma semana, é oCancun, uma semana. São os produtos formatadosque têm o preço fora de concorrência. Também pro-curamos fazer produtos que não tenham concor-rência.

O SR. CONSELHEIRO HARVEY JOSÉSILVELLO – Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (GILSON GOMESNOVO) – Com a palavra, o Conselheiro Luiz Strauss.

O SR. CONSELHEIRO LUIZ STRAUSS DECAMPOS – Bom, Guilherme, quero apenas registrare parabenizar pela exposição. Das nossas palavras aqui,quero registrar que a CVC, hoje, representa umamultinacional brasileira, o que é muito difícil. Na áreada indústria, temos raras – são muitas, mas, mundial-mente, são poucas empresas: a Tripway, nos EstadosUnidos; a Qvatui, na Europa; na Ásia, vemos umaoutra, e, aqui no Brasil, podemos ver uma que temuma representatividade – não sei, vou chutar, mas achoque a CVC representa mais de 65% do mercado, con-tra os outros 35% de uma dúzia de operadoras. Não éverdade?

O SR. GUILHERME PAULUS – Está certo. É esseo número.

O SR. CONSELHEIRO LUIZ STRAUSS DECAMPOS – Acho que é um orgulho para o brasileiropoder dizer que tem uma multinacional nessa área.Resta a nós, empresários dessa área, como já dizia oComandante Rolim também: “Quem não tem capaci-dade ou competência para fazer que tenha para co-piar”. Era isso o que eu queria registrar. Parabéns.

O SR. GUILHERME PAULUS – Obrigado, Luiz.É bem isso mesmo. Você tem de ter capacidade paracriar e para copiar. “Nada se cria, tudo se copia”, jádizia o Chacrinha, mestre entre os comunicadores.Uma grande virtude da CVC é o trabalho em equipe.Você tem de ter um time para jogar. Você tem de ter oexperiente, o pensador e o matador lá na frente. Te-mos de jogar pelas pontas. Mas você tem de ter umtime. Se não tiver uma equipe formada, não vai parafrente. É aquela história: uma andorinha não faz ve-rão. Temos de ter várias andorinhas para fazer verão.

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O contexto da CVC é aquele exército que temos lá,hoje, com mais de 800 colaboradores diretos e cercade 3.800 indiretos. Esse é o grande segredo da CVC.E a liderança. O Valter Patriani tem uma liderançaforte; é um grande comandante. É o grande líder daempresa, hoje. E o time joga muito junto com ele.Isso é importante. É por isso que dá resultado.

O SR. CONSELHEIRO LUIZ STRAUSS DECAMPOS – Deixem-me apenas complementar, por-que, na verdade, não fiz nenhuma pergunta. Vocêpoderia nomear os seus três maiores concorrentes?

O SR. GUILHERME PAULUS – Ah, todos. Os trêsmaiores são: a TAM Viagens, que é uma grande con-corrente; aqui no Rio de Janeiro temos a Urbi et Orbi,a Shangri-la, a Marsans; em São Paulo, a TAM Via-gens também; a Monark Turismo rouba um pouco dosclientes; a Teresa Perez, que também rouba um pou-co de clientes; a Queensberry, a Visual Turismo, a ABStem uma forte atuação com os agentes de viagens; naBahia temos grandes concorrentes – no Brasil todo.Em cada lugar há um concorrente. Mesmo em SantoAndré temos concorrentes. Sempre há. Você tem deolhar o seu concorrente ali, tem de estar junto.

O SR. CONSELHEIRO LUIZ STRAUSS DECAMPOS – O concorrente ajuda a crescer, não é?

O SR. GUILHERME PAULUS – Ajuda. Faz vocêacordar mais cedo. Se não tiver concorrente, vocêdorme. Eu estava conversando com o Valter outrodia: “Como é, Valter? As nossas vendas estão bem?”Sabem como é, sempre cobramos mais um pouco nareunião de diretoria. Ele disse: “Olha, patrão, estádifícil. Eu estou com um exército de galinhas. Preciso

de águias, mas não há águias. Acho que vou arrumarum bando de urubus”. Eu disse: “Me traduz isso, cara”.Veja: “Bando de galinhas por quê? Você já viu gali-nha no poleiro quando vai voar? Faz um barulhão ecai ali pertinho. Águia não, voa direto. É difícil teráguia. Mas com o urubu é mais fácil: voa alto e, quan-do vê a carniça, vai direto”. O Valter está atrás de umbando de urubus.

O SR. PRESIDENTE (GILSON GOMESNOVO) – Com a palavra, o Conselheiro João FlávioPedrosa. Penúltima pergunta.

O SR. CONSELHEIRO JOÃO FLÁVIOPEDROSA – Eu gostaria de cumprimentar o Gui-lherme como administrador, mas principalmente comoo maior vendedor do mundo. Trabalhar no turismopara o mundo com esse espírito de vendas me lembramuito aquele vendedor que se apresentou em umshopping para ser o maior vendedor do mundo. Nin-guém o conhecia, até que ele conseguiu convencer ogerente a contratá-lo, pelo menos a título de expe-riência. Ele recebeu a visita de uma pessoa que esta-va de short e não apresentava grandes qualificaçõescomo comprador, mas, ao final, ele encheu 4 ou 5carrinhos de compras para aquele comprador com asua capacidade de vendas. Efetivamente, o gerentefoi perguntar: “Mas, afinal de contas, o senhor com-prou por quê? Ele lhe vendeu?” E o comprador disse:“É... e eu vim aqui só para comprar um rolo de papelhigiênico”.

Realmente, hoje vimos o maior vendedor do mundopresente aqui e me atraiu muito. Essa é a razão deuma das minhas perguntas sobre a sua visão geomé-trica da administração. É diferente de todas as estru-

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turas que já vi funcionando, em termos práticos, por-que existe uma outra geometria nessa sua administra-ção. Ela nem é matricial, talvez seja múltipla em rela-ção a esse complexo que se formou em torno daquelalojinha de 35 anos atrás. Eu gostaria de saber como éque foi o crescimento da geografia dessa administra-ção. Não pergunto sob forma de estrutura organi-zacional, quero a história dessa geografia da adminis-tração.

Uma outra pergunta seria em relação à eleição da Mi-nistra Marta Suplicy, em São Paulo. Ela vai abrirum espaço? Qual é o futuro nome? Você aceitariaesse encargo em nome do Turismo no Brasil? Mui-to obrigado.

O SR. GUILHERME PAULUS – A história foi oque eu disse. Você tem de acreditar no sonho. Quan-do o deputado me convidou para montar a agência,eu estava muito bem empregado. Tinha 23 para 24anos de idade, trabalhava na Windsor Turismo. Co-mecei na Casa Faro, que foi interditada, e saímos delá. Fomos trabalhar na Tunibra, que era uma empresajaponesa, para vender o que vendíamos na Faro paraos japoneses. Eu não me dei bem, porque era difícilfalar japonês. Então, foi curta a vida no Japão. Aí, eufui para a Nacional, onde acabei não me dando bemcom o pessoal. Eu ia parar com o turismo. Chegou oAdel Auada, que era Presidente da Müller, na época,e depois foi Presidente da Associação Brasileira deAgências de Viagens (ABAV), ligou para minha casae disse que tinha uma oportunidade: “O AlbertoGrahal está comprando uma agência de viagens e queralguém para tomar conta. Indiquei a ele o seu nome”.Eu disse: “Está bem”. Fui, conversei com o Sr. Alberto

e lá fiquei. Era o homem de confiança do Sr. Alberto.Foi aí que, em uma viagem para Buenos Aires, no navioPasteur, eu conheci o Carlos. Eu havia vendido cercade 10 cabines, e o Carlos havia comprado para come-morar a sua vitória nas eleições como deputado. Ele ea Lecy, sua esposa. Ele gostou muito da viagem. Erauma viagem em um navio francês e, às 22 horas, to-dos iam dormir. O cinema era em francês – ninguémentendia nada. Era uma tristeza. Eu comecei a inven-tar bingo, gincana e aquilo atraía as pessoas. E o De-putado Carlos gostou muito. Era uma pessoa muitocomunicativa e agradável. Ele disse: “Poxa vida! Voumontar uma agência de viagens, em Santo André, sópara fazer esse tipo de viagem. Como é gostoso! Vi-nho francês e tal...” O Carlos era um bon vivant tam-bém. Gostava de tomar whisky. Ele vivia bem. Quan-do voltamos, combinamos de ver as fotos e ele meconvidou para ir à sua casa com a minha noiva. Eleme perguntou como montar uma agência. Eu disse aele que tinha um sonho de um dia montar a minhaprópria agência de viagens. “Só saio da Windsor nodia em que for para montar o meu próprio negócio”.Aquilo passou e, certo dia, ele me telefonou e fomostomar um whisky no Terraço Itália, em São Paulo. Elefalou da agência novamente, convidando-me para irtrabalhar com ele. Eu disse que não iria, que estavamuito bem. Ele me fez um convite de ir novamente àsua casa para almoçar. Fui em um domingo e ele per-guntou qual o lugar que seria bom para abrir uma agên-cia de viagens. Eu não conhecia Santo André tão bemassim, mas perguntei: “Onde fica a rua dos bancos?Onde fica a principal rua de comércio? Em bancostodo mundo vai; no comércio, todos vão comprar.Então, tem de ter uma agência de viagens no meio,

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onde todo mundo anda”. É aquele instinto de quemnasce vendedor e quer ser vendedor sempre. Mostreia ele o local. Passaram-se mais alguns dias e ele meligou: “Guilherme, aluguei aquela casa que você fa-lou. Já estive no Instituto Brasileiro de Turismo (EM-BRATUR) pegando todos os documentos; vou abrira agência, mas preciso conversar com você”. Então,eu disse: “Está bem. O que é que o senhor quer, de-putado?” “Passe aqui na Assembléia”. Eu passei naAssembléia e ele me mostrou um contrato social:“Olha, seu nome está aqui. Você tem 33% e vai mepagar com o seu trabalho. Não era o seu sonho? Es-tou realizando o seu sonho”. Eu disse: “Obrigado,deputado, mas eu não vou aceitar”. Fui falar com omeu pai, com a minha mãe e com a minha noiva. Mi-nha mãe – sabem como é mãe – disse: “Não, meufilho. Você está bem empregado”. Meu pai disse:“Você é maior de idade e sabe o que quer fazer da suavida”. A Luiza, mais segura na época, disse: “Não.Está tão bom aqui. Você vai lá para Santo André. Élonge. Tem de pegar trem e ônibus. Teu carro não vaiagüentar chegar lá”. Eu tinha um Dauphine. Em sín-tese, fui falar com o meu patrão, o Sr. Alberto. Foi umdos maiores exemplos que eu tive na minha vida. Todofinal de semana eu fechava o caixa da Windsor Turis-mo. Eu ia, com o meu Dauphine, para Águas deLindóia e comia feijoada de graça – o Sr. Alberto sem-pre me convidava. Eu disse: “Sr. Alberto, preciso fa-lar com o senhor”. “Algum problema, Guilherme?”“Não, problema nenhum. Queria trocar umas idéiascom o senhor e pedir uns conselhos.” “O que é que é,meu filho?” “Sr. Alberto, eu recebi uma proposta as-sim, assim, assado... e eu queria saber o que é que osenhor acha.” “Há quanto tempo que você já conver-sa com o deputado?” “Faz uns 90 dias, quase 100

dias. “É... faz 90 dias que você não trabalha mais paramim direito.” “Não, Sr. Alberto. Está tudo aí direito.A venda está boa.” “Não, Guilherme, eu acho quevocê deve ir. Você deve aceitar. Você está sonhando,você mesmo disse que o seu sonho era ter a sua pró-pria agência. Então, o deputado está realizando o seusonho. Você está perguntando para mim por quê?”“Porque eu posso ir para lá e não dar certo, e o senhordeixa a porta aberta e eu volto.” “Não, negativo, aporta aqui está fechada a partir de hoje.” “Não, Sr.Alberto, eu só estou pensando. “Negativo, Guilher-me. O caixa e tudo o mais está em ordem?” “Tudo.”“As vendas que têm, tem alguém para tomar contalá?” “Claro! O Mendes, o Jairo e o Irineu tocam tran-qüilamente.”

Eu procurei nunca trabalhar sozinho, tendo sempremais dois ou três. Tinha o Mendes, que era o meubraço direito. Eu sei que acabamos nos entendendolá dentro.

“Então, não tem problema nenhum, Guilherme. Vátocar a tua empresa. Vá embora.” “Está bem, Sr.Alberto. Obrigado.”

Não havia celular na época, senão eu teria ligado ime-diatamente para o deputado e dito que estava tudocerto e que estava chegando lá. Cheguei em casa etive aquele medo de ligar para o deputado e ele dizerque tinha pensado bem e tinha desistido. Mas deu certo.Liguei e disse: “Deputado, está tudo certo. Segunda-feira, às 9 horas eu estou aí”. Desliguei o telefone enão deixei nem ele responder. Ele me ligou em segui-da e perguntou: “Por que você desligou o telefone?”“Porque se o senhor me disser não, agora não adiantamais; agora estou indo e sou seu sócio.”

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E aí, começamos. Foi o começo da CVC. Não foi fá-cil. Todo começo é difícil. São 36 anos de história.

A segunda pergunta é sobre a eleição da Marta. Elasai como candidata mesmo. Ela me chamou, na se-mana passada, no Gabinete e me comunicou que vaisair; e pediu, não só a mim, mas a outras liderançastambém, que mantivéssemos o staff atual, porque vemdesempenhando um bom trabalho – e vem mesmo.Se mudar o Ministério agora, se trocar toda a equipe,vai por água abaixo todo o trabalho que foi feito des-de que ela entrou. Tudo na vida precisa de continui-dade. Entra um novo Ministro lá e muda tudo, por-que todo mundo que assume um lugar, principalmen-te em um cargo de Ministro, quer trazer pessoas desua confiança. Assim foi com a própria Marta, quan-do levou a equipe. Ela manteve o staff debaixo doWalfrido dos Mares Guia, mas a equipe de frente elalevou e colocou lá. Até essas pessoas entenderem tudo,o sincronismo e tal, nós – o Norton, eu e o Eraldo –sofremos um pouco para acertar as cadeiras em seusdevidos lugares. Agora é que as pessoas estão enten-dendo, sabem o que é, com planos, com diretrizes,com tudo pronto; não pode mudar. Concordei com aMinistra e disse que entregaria um documento ao Pre-sidente. Ontem, na hora do almoço, encontrei-me como Presidente e entreguei a ele o documento. Conver-samos rapidamente, falei da proposição e ele concor-dou. De fato, ele disse que, quando houve a eleiçãopassada, alguns ministérios não foram alterados quan-do alguns ministros saíram para ser candidatos. Foimantido o staf f com um Ministro Interino.

Agora, como homem público, não tenho pretensão. Édifícil, porque vai ter de se tornar político; e a própria

palavra já diz. O político nunca pode ser objetivo comnada. Ele sempre vai responder: “Vou pensar”. É di-fícil você encontrar um político que diga que vai fa-zer agora; antes diz que tem de conversar com a ban-cada, com fulano e com beltrano. Ele mesmo não de-fine na hora. Estamos acostumados a tomar decisões,resolver é mais fácil. O Walfrido sofreu muito no co-meço do Ministério, porque ele saiu da iniciativa pri-vada, embora tenha sido Vice-Governador em Minas.Hoje ele está tranqüilo, cuidando da sua faculdadeem Minas. Outro dia ele me disse: “Guilherme, issoaqui é um paraíso”. Saiu uma reportagem na Isto é outrodia e eu liguei para dar os parabéns pelo crescimentoda Universidade Pitágoras. Ele me disse que apren-deu muita coisa no Governo, mas que estava feliz porestar de volta à iniciativa privada e poder cuidar dosseus negócios, e não do interesse dos outros, pois,por mais que você cuide dos interesses dos outros,vão sempre achar que você está cuidando dos inte-resses próprios. É muito difícil. Acho que não me adap-taria à vida de político. Convivi com o Carlos na polí-tica, na época era bastante jovem. Convivi com gran-des personalidades da política brasileira, como UlyssesGuimarães, Franco Montoro – políticos de São Paulo–, mas foram experiências não muito agradáveis. Te-nho medo de político. Acho que devemos brigar comos políticos pela nossa classe. Acho que eu não seriaum bom político.

O SR. PRESIDENTE (GILSON GOMESNOVO) – Vamos passar à última pergunta. Com apalavra o Conselheiro Sávio Neves.

O SR. CONSELHEIRO SÁVIO NEVES FILHO– Guilherme, na verdade, mais do que uma pergunta,

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gostaria de parabenizá-lo pela forma como se apre-sentou. Eu já havia assistido à sua palestra em Brasília.Ontem, estivemos juntos, em Brasília, na reunião daCâmara Empresarial, na CNC. Realmente – os outroscolegas aqui já disseram –, a sua capacidade de co-municação é inegável. Outra frase do Chacrinha é esta:“Quem não se comunica se trumbica”. Você vendeu oseu peixe aqui para todos nós que somos, de algumaforma, formadores de opinião e levamos essa suamensagem para outros ambientes. Nós, lá do Trem doCorcovado, temos muito orgulho de ter um clientecomo a CVC, que tem outros 14 milhões de clientes.Também fazemos parte dessa família CVC. Como foidito aqui, a CVC tem atuação em 25 entes da Federa-ção e tem, assim, concorrentes em quase todos osEstados e mais o Distrito Federal. E em todos eles, élíder nesse mercado. No Trem do Corcovado, que éum pouco desse termômetro, a CVC também é o nos-so maior cliente, por meio de uma operadora de vocêsaqui no Rio.

Mais do que tudo, quero parabenizá-lo. Não tenhoperguntas. Você teve tanto talento na sua comunica-ção que prendeu a atenção de todos nós e nos emocio-nou em alguns momentos. Parabéns. É uma honra tê-lo conosco aqui no Conselho.

O SR. GUILHERME PAULUS – Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (GILSON GOMESNOVO) – Para finalizar os nossos trabalhos, primei-ro quero agradecer a todos os Conselheiros pela com-preensão e ajuda na condução dos trabalhos, agrade-cer aos amigos que nos visitaram, acompanhando aequipe do Guilherme Paulus. Agradeço, também, aoHélio Lima Duarte, ao Paulo Patrício e ao PauloHenrique Coco, que vieram aqui também nos dar oprazer da presença.

Quero agradecer a você, principalmente, Guilherme,por tudo aquilo que nos trouxe e que nos faz sair da-qui melhores do que entramos. Aprendemos muito.Como você citou, que Deus o abençoe e abençoe assuas empresas e que você tenha contínuo sucesso. Oseu retorno será sempre bem-vindo aqui neste Conse-lho. Muito obrigado.

Em nome do nosso Presidente, Oswaldo Trigueiros,quero lhe conceder este certificado pela participaçãoe pedir a todos uma salva de palmas.

Convido a todos para um coquetel. Não é tão bom quan-to o serviço de bordo da Webjet, mas vamos tentar.

(Encerra-se a reunião às 20h20.)

30 de abril de 2008