Comentario biblico f.f bruce

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COMENTÁRIO BÍBLICO NVI ANTIGO E NOVO TESTAMENTOS F.F. Bruce Organizador

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  • 1. COMENTRIO BBLICO NVIA N T I G O E N O V O T E S T A M E N T O S F.F. Bruce O r g a n i z a d o r

2. Editor geral F. F. BRUCE Comentrio bblico NVI Antigo e Novo Testamentos Traduo Valdemar Kroker 1. edio, 2008 Ia reimpresso, 2009 is/ Vida 3. Vida 1979, de Pickering & Inglis Ltd. Ttulo do original NewInternationalBible Commentary edio publicada pela G rand R apids Uma diviso da Z ondervan (Grand Rapids, Michigan, EUA) Todososdireitos em lnguaportuguesa reservadosporEditora Vida. P roibida a reproduo po r quaisquer m eios, salvo em breves citaes, c o m indicao da f o n t e . Todas as citaes bblicas foram extradas da Nova VersoInternacional(NV1), 2001, publicada por Editora Vida, salvo indicao em contrrio. Todos os grifos so dos autores. E d ito r a V ida Rua Jlio de Castilhos, 280 CEP 03059-000 So Paulo, SP Tel: 0 xx 11 2618 7000 Fax: 0 xx 11 2618 7044 www.editoravida.com.br www.vidaacademica.net Editor responsvel: Snia Freire Lula Almeida Editor-assistente: Gisele Romo da Cruz Santiago Edio: Daniel de Oliveira Reviso: Josemar de Souza Pinto Assistente editorial: Alexandra Resende Diagramao: Efanet Design Capa: Arte Peniel 1. edio: 2008 I a reimpresso: mar. 2009 Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Bruce, F. F. Comentrio Bblico NVI : Antigo e Novo Testamento / editor geral F. F. Bruce; traduo: Valdemar Kroker. So Paulo : Editora Vida, 2008. Ttulo original: New International Bible commentary based on the NVI ISBN 978-85-383-0085-4 1. Bblia. A.T. Comentrios 2. Bblia. N.T. Comentrios I. Bruce, FFrederick Fyvie, 1910-1990. C D D -221.7 08-08636 -225.7 ndices para catlogo sistemtico: 1. Antigo Testamento : Bblia : Comentrios 221.7 1. Novo Testamento : Bblia : Comentrios 225.7 4. Sumrio Prefcios................................................................................................................ix Lista dos colaboradores..................................................................................... xi Abreviaes........................................................................................................xiv Livros e Revistas................................................................................................xv Abreviaes gerais........................................................................................... xvi P arte um: A rtigos gerais O A ntigo T estamento O Antigo Testamento e o cristo - F. F. Bruce..............................................3 O texto do Antigo Testamento - Alan R. M illard........................................14 As verses antigas - Robert P. G ordon...........................................................19 O cnon e os apcrifos - Gerald F. Haw thorne........................................... 33 A arqueologia e o Antigo Testamento - D. J. W isem an........................... 54 0 pano de fundo geral do Antigo Testamento - J. M. H ouston...............62 A teologia do Antigo Testamento - H. L. Ellison...................................... 76 A interpretao do Antigo Testamento - Harold H. Row don..................93 Introduo ao Pentateuco - David J. A.C lines...........................................109 Introduo aos livros histricos - L. OB.David Featherstone............... 117 A cronologia do Antigo Testamento - F.F. Bruce....................................123 Introduo aos livros poticos - F. F. Bruce.............................................125 Introduo literatura sapiencial - F. F. Bruce........................................131 Introduo aos livros profticos - G. C.D. Howley....................................137 P arte dois: O A ntigo T estamento Gnesis - H. L. Ellison; David F. Payne.....................................................151 xodo - Robert P. Gordon..............................................................................205 Levtico - Robert P. Gordon...........................................................................261 Nmeros - T. Carson....................................................................................... 295 Deuteronmio - Peter E. Cousins................................................................353 Josu - John P. U. Lilley.................................................................................390 Juizes - Carl Edwin Armerding.....................................................................422 Rute - Charles A. Oxley..................................................................................465 1 e 2Samuel - Laurence E. Porter.................................................................475 1 e 2Reis - Charles G. M artin.........................................................................537 1 e 2Crnicas - J. Keir Howard......................................................................604 Esdras - Stephen S. Short................................................................................668 Neemias - Stephen S. Short............................................................................680 Ester - John T. Bendor-Samuel.....................................................................694 J - David J. A. Clines......................................................................................711 5. Sumrio Salmos - Leslie C. Allen; John W. Baigent................................................. 756 Provrbios - Charles G. M artin.................................................................... ..905 Eclesiastes - Donald C. Fleming.................................................................. 957 Cntico dos Cnticos - R. W. O rr....................................................................973 Isaias - David F. Payne....................................................................................989 Jeremias - D. J. Wiseman.............................................................................. 1059 Lamentaes - W. Osborne.......................................................................... 1110 Ezequiel - F. F. B ruce.................................................................................. 1119 Daniel - Alan R. M illard............................................................................... 1174 Osias - G. J. Polkinghome ..........................................................................1209 Joel - Paul E. Leonard....................................................................................1228 Ams - J. Keir H ow ard..................................................................................1239 Obadias - W. Ward G asque................................................... .................. ....1269 Jonas - Michael C. Griffiths..........................................................................1272 Miquias - David J. C lark.............................................................................1289 Naum - E. M. Blaiklock................................................................................1303 Habacuque - Alan G. N u te........................................................................1309 Sofonias - Victor A. S. Reid...........................................................................1320 Ageu - F. Roy Coad........................................................................................ 1331 Zacarias - David J. E llis................................................................................ 1337 Malaquias - W. Ward G asque...................................................................... 1372 P arte trs: A rtigos gerais O N o vo T estamento A autoridade do Novo Testamento - G. C. D. H ow ley........................1383 Texto e cnon do Novo Testamento - David F. Payne........................1394 A lngua do Novo Testamento - David J. A. Clines...... ........................ 1403 Descobertas arqueolgicas e o Novo Testamento - Alan R. M illard...........................................................................................1413 O pano de fundo social do Novo Testamento - J. M. H ouston............1422 O pano de fundo histrico-poltico e a cronologia do Novo Testamento - Harold H. Rowdon..............................................1438 O pano de fundo religioso do Novo Testamento (pago) - Harold H. Rowdon....................................................................................1451 O pano de fundo religioso do Novo Testamento (judaico) - H. L. Ellison...............................................................................................1458 O desenvolvimento da doutrina no Novo Testamento - Walter L. Liefeld..................................................................... .................1467 O evangelho qudruplo - F. F. B ruce........................................................1485 A igreja apostlica - F. Roy C oad...............................................................1499 As cartas de Paulo - G. C. D. Howley.........................................................1515 As epstolas gerais - F. F. B ruce.................................................................1530 O uso neotestamentrio do Antigo Testamento - David J. E llis..... .1538 VI 6. Sumrio P arte quatro: O N ovo T estamento Mateus - H. L. Ellison...................................................................................1553 Marcos - Stephen S. Short.............................................................................1602 Lucas - Laurence E. Porter.......................................................................... 1637 Joo - David J. Ellis....................................................................................... 1702 Atos - Ernest H. Trenchard.......................................................................... 1753 Romanos - Leslie C. A llen.......................................................................... 1823 ICorntios - Paul W. M arsh...........................................................................1868 2Corntios - David J. A. Clines....................................................................1927 Glatas - F. Roy C oad.................................................................................. 1964 Efsios - George E. H arpur......................................................................... 1983 Filipenses - H. C. H ew lett.......................................................................... 2000 Colossenses - Ernest G. Ashby....................................................................2016 1 e 2Tessalonicenses - Peter E. Cousins................................................. 2029 1 e 2Timteo / Tito - Alan G. N u te..........................................................2046 Filemom - Ernest G. A shby........................................................................ 2082 Hebreus - Gerald F. Hawthorne.................................................................2085 Tiago - T. C arson.......................................................................................... 2130 IPedro - G. J. Polkinghorne........................................................................ 2153 2Pedro - David F. Payne............................................................................. 2173 1, 2 e 3 Joo - R. W. O rr................................................................................. 2183 Judas - David F. Payne.................................................................................2208 Apocalipse - F. F. Bruce...............................................................................2212 7. Mapas N? Ttulo Pgina N? Ttulo Pgina 1 A divisa Israel-Jud 23 Distritos de Salomo............................. ......548 (IRs 15; 2Cr 1316)................. 24 O Reino do N orte.......................................563 2 Cana dos patriarcas....................................112 25 Invases sria e assria............................ ......584 3 A pennsula do Sinai....................................260 26 A queda de Jud...........................................602 4 Jerico.............................................................394 27 O retomo terra......................................... 684 5 Ai e Betei.....................................................400 28 A terra dos profetas............................... .... 1037 6 As cidades dos heveus.................................401 29 O mundo dos profetas........................... ,... 1044 7 A campanha no sul.......................................402 30 As estradas principais na poca dos romanos ... 1426 8 A campanha no norte..................................404 31 A Palestina dos evangelhos....................... 1431 9 Palestina e Transjordnia...........................406 32 Asia Menor.................................................. 1433 10 O territrio oriental....................................407 33 As viagens de Paulo............................... .... 1434 11 Jud, a divisa ao norte.................................408 34 O Oriente Mdio nos tempos dos patriarcas ... 2261 12 Jud, a divisa ao sul......................................408 35 O xodo e a conquista de Cana.......... .... 2262 13 Jud ocidental............................. .................409 36 0 imprio de Davi e Salomo.................. 2263 14 Jud oriental............................... .................410 37 O reino dividido......................................... 2264 15 Efraim e Manasss.......................................411 38 A vida e o ministrio de Jesus.................. 2265 16 Benjamim.....................................................412 39 Primeira e segunda viagens missionrias 17 Simeo..........................................................413 de Paulo.................................................. .... 2266 18 D ................................................ .................414 40 Terceira viagem missionria de Paulo 19 Norte da Galilia.........................................416 e viagem a Roma....................................... 2267 20 Sul da Galilia............................ .................417 4 1 0 Imprio Romano na poca do 21 Guerras dos juizes........................................436 Novo Testamento..................................... 2268 22 Ataques dos filisteus....................................488 42 Mapa fsico da Terra Santa....................... 2269 Mapa 1 A divisa Israel-Jud (IRs 15; 2Cr 13 16) viu 8. Prefcio primeira edio Este volume representa uma ampliao surgida a partir da publicao do A New Testament Commentary, em 1969. Cristos evanglicos de todos os segmentos rece beram muito bem aquela obra, e houve muitos pedidos para que se publicasse um livro abrangendo a Bblia toda. Foi possvel aumentar anossa equipe inicial, e apresente obra o resultado disso. Fomos encorajados pela reao daqueles que to prontamente decidiram fazerparte do corpo de colaboradores. Uma alegriaespecial que experimentei que quase todos os membros da equipe de autores esto ligados amim por laos de amizade pessoal. Desde quando saiuo volume anterior, passeipor um perodo degraveenfermidade, que deixou suamarca, enopoderiaterassumido aresponsabilidadedeeditorgeralno fosse aajudae o conselho constantes do professor F. F. Bruce. Na parte do Novo Testa mento, o sr. H. L. Ellisonatuoucomo editorconsultor; naseodoAntigoTestamento, eletambmprestouajudavaliosaem umasriede questes, talvezespecialmenteno seu trabalho editorial no livro de Nmeros, alm do seu artigo sobre aTeologia do Antigo Testamento eo seu comentrio sobre Gnesis 1 11. Os estudos bblicos nunca podem permanecerestticos, pois apassagemdo tempo traz nova luz sobre o texto, seja com referncia adados histricos ou a outros dados factuais em conseqncia de novas descobertas, sejapor intermdio de percepes de estudiosos e outros que se aplicam a refletir sobre a Palavra de Deus. A atmosfera atual do pensamento teolgico tal que correntes muito diferentes so discernveis, tanto liberais quanto conservadoras. O propsito deste comentrio fornecer uma baseparaaexegesedas Escrituras que procuraestaratualizada. A naturezadaobraevita a nfase em aspectos devocionais ou exortativos; antes, ocupa-se em fazer um exame detalhado do texto como tal. Emboraaperspectivasejaconservadora, no ser (assim esperamos) obscurantista. Queremos colocar nas mos de cristos de todas as cor rentes e denominaes uma obraque estejaassentadasobre acrenahistrica e orto doxa na autoridade das Escrituras Sagradas. Procuramos evitar ser meramente acadmicos; nosso objetivo atrair a ateno tanto dos que no so expertsem teologiacomo daqueles que tm umaformao mais amplae percepes maisprofundas nessecampo de estudo. Emboratenhamos tentado nos atua-lizar em todo o material, compreensvel que em algumas questes talvez nuncase alcancemasconcluses definitivas, em virtude de novos fatores que surgem de tempos em tempos. Os artigos que precedem cada seo do comentrio cobrem um amplo leque de assuntos, e esperamos que se mostrem to valiosos como acrs cimos obraquanto o foram os artigos includos no A New Testament Commentary. Convidamos colaboradores de diferentes ramos da igreja crist, que no se limi tam a nenhum grupo ou denominao. Eles demonstram uma atitude objetiva e 9. Prefcios positiva no seu trabalho, com liberdade para expressar suas idias com relao aos assuntos que esto tratando, sem nenhuma tentativa de forar suas contribuies para que caibam em um molde comum e uniforme. A Revised StandardYersion da Bblia foi usada como texto-base, e expressamos nossa gratido ao Conclio Nacional das Igrejas de Cristo nos Estados Unidos pela permisso para usarmos esse texto. Como no volume anterior, lanamos esta obra com orao pela bno de Deus sobre ela e sobre todos os que consultarem suas pginas ou refletirem sobre seu contedo para a edificao e fortalecimento da sua vida espiritual. G. C. D. Howley Prefcio segunda edio A caracterstica marcante desta nova edio do Bible Commentaryfor Today a substituio da Revised Standard Version (Verso Revisada Padro) pela New InternationalVersion (NovaVerso Internacional) como texto-base. Aproveitamos a oportunidade para fazer algumas correes e atualizaes menores, especialmente nas bibliografias. Alm do falecido sr. Andrew Gray, cujo trabalho em adaptar o comentrio New International Version reconhecido a seguir, o dr. Robert P. Gordon e o sr. David G. Deboys fizeram contribuies muito valiosas no preparo desta edio. Desde que a primeira edio foi publicada em 1979, dois membros da equipe editorial faleceram sr. G. C. D. Howley e sr. H. L. Ellison. Esses dois homens investiram muito tempo de trabalho rduo neste Comentrio, especialmente o sr. Howley, editor-chefe, para quem esta obra se torna um monumento digno e permanente. E E Bruce Dedicado ao falecido sr. Andrew Gray D.S.C., M.A., que dedicou muitas horas ao preparo desta nova edio. 10. Lista de colaboradores L eslie C. Al l e n , M .A ., Ph.D., professor de Antigo Testamento no Fuller Theological Seminary, Pasadena, California, E U A . Salmos, Romanos. C arl E d w in A r m erd in g , B.C., Ph.D., reitor e professor de Antigo Testa mento no Regent College, Vancouver, B.C., Canad. Juizes. E r n est G. Ashby, B.A., B .D ., M .A ., A .K .C ., ex-diretor de Educao Reli giosa na Tottenham Grammar School (antiga T he Somerset School). Colossenses, Filemom. J o h n W. Ba ig e n t, B.D., A.R.C.O., professor de Bblia, pastor e conferencista em convenes, ex-professor snior e diretor de Estudos Religiosos no West London Institute of Higher Education. Salmos. J o h n T. B e n d o r -S a m u e l , M.A., Ph.D., v ic e - p r e s id e n te e x e c u tiv o n o W ycliffe B ible T ran sla to rs an d S u m m er In s titu te o f L in g u istics. Ester. E. M. Blaiklock (j falecido), O .B .E ., M.A., Litt.D., professor emrito de Estudos Clssicos na Auckland University, Nova Zelndia. Naum. F . F . B r u c e, MA., D.D., F .B .A ., professor emrito de Crtica Bblica e Exegese na Universidade de Manchester. 0 Antigo Testamento e o cris to, A cronologia do Antigo Testamento, Introduo aos livros poticos/ literatura sapiential, Ezequiel, 0 evangelho qudruplo, As epstolas gerais, Apocalipse. T. C arson, M.A., Dip.Ed, editor da Australian Missionary Tidings. Nmeros, Tiago. D avid J. C lark, M.A., B .D ., P h .D ., A.L.B.C., consultor de traduo na United Bible Societies, Port Moresby, Papua, Nova Guin. Miquias. D avid J. A. C l in e s , M.A., professor de Estudos Bblicos na Universidade de Sheffield. J, 2Corntios, Introduo ao Pentateuco, A lingua do Novo Testamento. F. R oy C oad, F.C .A ., autor e ex-editor da The Harvester. Ageu, Glatas, A igreja apostlica. P e t e r E. C ousins, M.A., B.D., diretor editorial em The Paternoster Press, Exeter, ex-professor titular de Estudos Religiosos no Gipsy Hill College, Kingston-upon-Thames. Deuteronmio, 1 e 2Tessalonicenses. D avid J. E l l is , B .D ., M.Th., ministro da American Community Church, Cobham, Surrey, Inglaterra, ex-professor titular e diretor de Estudos Religiosos no Trent Park College, Cockfosters. Zacarias, Evangelho de Joo, 0 uso neotestamentrio do Antigo Testamento. H. L. E ll iso n (j falecido), B.A, B.D., escritor, ex-missionrio e conferen cista no Bible College. Gnesis, Evangelho de Mateus, A teologia do Antigo Testamento, 0 pano de fundo religioso do Novo Testamento (judaico). L. OB. D avid F ea t h e r st o n e , M.A., diretor do Departamento de Estudos Religiosos na Godolphin and Latymer School, Londres. Introduo aos livros histricos. 11. Lista de Colaboradores D o n a ld C. F l e m in g ; L.Th., escritor, professor de Bblia na Austrlia, mis sionrio na Tailndia. Eclesiastes. W . W ard G asque, B.A., B.D., M.Th., Ph.D., vice-reitor e professor de Estu dos do Novo Testamento no Regent College, Vancouver, B.C., Canad. Obadias, Malaquias. R o b er t P. G o r d o n , M.A., Ph.D., professor de Divindade na Universidade de Cambridge. xodo, Levtico, A? verses antigas. M ich a el C. G r if fit h s , M.A., D.D., escritor, missionrio no Japo, diretor geral da Overseas Missionary Fellowship e atual reitor do London Bible College. Jonas. G e o r g e E. H a rpu r, professor de Bblia e conferencista em convenes. Efsios. G erald F. H a w th o rn e, B.A., M.A., B.Th., Ph.D., professor de grego no Wheaton College, Wheaton, Illinois, EUA. 0 cnon e os apcrifos, Hebreus. H . C. H e w l e t t (j falecido), professor de Bblia e conferencista na Nova Zelndia. Filipenses. J. M. H o u sto n , M.A., B.Sc., D.Phil., ex-chanceler do Regent College, Van couver, B. C., Canad. O pano de fundo social do Antigo Testamento, 0 pano de fundo social do Novo Testamento. J. K e ir H ow ard, M.D., B.D., M.Th., M.C.C.M. (N.Z.), M.F.O.M., D .I.H ., ministro batista. Ex-professor snior de Medicina Ocupacional na Uni versidade de Otago, Nova Zelndia. Professor de Bblia. 1 e 2Crdni- cas, Ams. G. C. D. H owley (j falecido), professor de Bblia, conferencista, ex-editor da T he Witness. Introduo aos livros profticos, A autoridade do Novo Testamento, As epistolas de Paulo. P aul E. L eo n ard, B.Sc., M.Th., Ph.D., ex-professor adjunto de Novo Tes tamento na Trinity Evangelical Divinity School. Deerfield, Illinois, USA. Joel. W a lte r L . L ie f e l d , Th.B, M.A., Ph.D., professor de Novo Testamento na Trinity Evangelical Divinity School, Deerfield, Illinois, USA. 0 desen volvimento da doutrina no Novo Testamento. Jo h n P. U. L illey , M.A., F.C.A., A.T.I.I., revisor contbil. Josu. P aul W. M a rsh , B.D., consultor bblico da Scripture Union, Londres. ICorintios. C h arles G. M a rtin , B.Sc. B.D., diretor do Bilborough College, Nottingham. I e 2Reis, Provrbios. Alan R. M illa r d , M.A., M.Phil., F.S.A., versado em lnguas semticas an tigas e hebraico na Universidade de Liverpool. Daniel, 0 texto do Antigo Testamento, Descobertas arqueolgicas e o Novo Testamento. Alan G. N u t e , professor de Bblia e conferencista. Habacuque, 1 e 2Timteo, Tito. R. W. O rr, Ph.C., D.B.A., missionrio e professor de Bblia. Cntico dos Cnticos, 1, 2 e 3Joo. xii 12. Lista de Colaboradores W. O sb o r n e , M.A., M.Phil., professor de Antigo Testam ento no Bible College of New Zealand, Auckland. Lamentaes. C h a r les A. O x ley , M .A ., A .C .P., diretor do Tower College, Rainhill; Scarisbrick Hall School, Hamilton College e Liverpool Bible College. Rute. D avid F. P ayne, B.A., M.A, oficial de registro no London Bible College. Genesis, Isat'as, 2Pedro, Judas, Texto e cnon do Novo Testamento. G. J. P o lk in g h o r n e, Dip.Th., funcionrio pblico aposentado, editor asso ciado da Harvester e professor de Bblia. Osias, IPedro. L a urence E. P o r ter (j falecido), B.A., diretor e professor no Bible College. 1 e 2Samuel, Evangelho de Lucas. V icto r A. S. R eid , B.D., A.L.B.C., Diretor do Belfast Bible College. Sofonias. H arold H . R o w d on , B.A., Ph.D., professor snior de Histria da Igreja e assistente residente snior no London Bible College. A interpretao do Antigo Testamento, 0 pano defundo histrico-poltico do Novo Testamento, 0 pano de fundo religioso do Novo Testamento (pago). STEPHENS. Sh o r t, M.B., Ch.B., M.R.C.S., L.R.C.P., B.D., A.L.B.C., profes sor de Bblia e conferencista. Esdras, Neemias, Evangelho de Marcos. E r n est H. T ren ch a rd (j falecido), B.A., A.C.P., ex-diretor de Literatura Bblica, Madri, missionrio e escritor. Atos dos Apstolos. D. J. W isem an, O.B.E., M.A., D.Lit., A.K.C., F.B.A., F.K.C., F.S.A., profes sor emrito de Assiriologia na Universidade de Londres. Jeremias, A arqueologia e o Antigo Testamento. 13. Abreviaes A n t ig o T e st a m e n t o Novo T e st a m e n t o Gn Gnesis Mt Mateus x xodo Mc Marcos Lv Levtico Lc Lucas Nm Nmeros Jo Joo Dt Deuteronmio At Atos Js Josu Rm Romanos Jz Juizes ICo lCorntios Rt Rute 2Co 2Corntios ISm ISamuel G1 Glatas 2Sm 2Samuel Ef Efsios lRs IReis Fp Filipenses 2Rs 2Reis Cl Colossenses lCr lCrnicas lT s lTessalonicenses 2Cr 2Crnicas 2Ts 2T essalonicenses Ed Esdras lT m lT im teo N e Neem ias 2Tm 2Tim teo Et Ester T t Tito J J Fm Filem om SI Salmos Hb Hebreus Pv Provrbios T g Tiago Ec Eclesiastes IP e IPedro Gt Cntico dos Cnticos 2Pe 2Pedro Is Isaas IJo ljoo Jr Jeremias 2Jo 2Joo Lm Lamentaes 3Jo 3Joo de Jeremias Jd Judas Ez Ezequiel Ap Apocalipse Dn Daniel Os Osias J1 Joel Am Amos Ob Obadias Jn Jonas Mq Miquias Na Naum Hc Habacuque Sf Sofonias Ag Ageu Zc Zacarias Ml Malaquias xiv 14. Livros e revistas ALUOS Annual oftheLeeds University JTVI JournaloftheTransactionsoftheVictoria OrientalSociety Institute ANEP Pritchard, AncientNearEastinPictures LA (Livro da) Aliana de Damasco ANET Pritchard, AncientNearEastern Texts LOB Aharoni, TheLand oftheBible Ant. Josefo, Antiquities oftheJews MBA Macmillan BibleAtlas AOOT K. A. Kitchen, Ancient Orientand Old NBC New Bible Commentary, 1953 Testament, 1966 NBC3 NewiBibleCommentary BA BiblicalArchaeologist Revised, 1970 BASOR Bulletin oftheAmerican Schools of NBCR NewBibleCommentary OrientalResearch Revised, 1970 BDB Brown, Driver, Briggs, HebrewLexicon NBD NewBibleDictionary BJRL Bulletin oftheJohn RylandsLibrary NCB New Clarendon Bible BKAT BiblischerKommentarzum Alten NCentB New CenturyBible Testament NICNT New InternationalCommentary BZAW Beiheftzur Zeitschriftfr die on theNew Testament alttestamentliche Wissenschaft NICOT New InternationalCommentary CB TheCambridgeBible on the Old Testament CBC CambridgeBibleCommentary NLC New London Commentary CBQ CatholicBiblicalQuarterly NTC G. C. D. Howley, ed., A New CBSC CambridgeBibleforSchoolsandColleges Testament Commentary, 1969 CH Cdigo de Hamurabi OIL OldTestamentLibrary CHB TheCambridgeHistory oftheBible PCB Peakes Commentary on theBible, ed. DBT Leon-Dufour, ed., DictionaryofBiblical rev., 1962 Theology, 1973 PEQ PalestineExploration Quarterly DOTT D. W. Thomas, ed., Documentsfrom RB Revue Biblique Old Testament Times SBT Studies in Biblical Theology EAEHL Avi-Yonah, ed., Encyclopaedia of SJT ScottishJournalofTheology ArchaeologicalExcavations in the Holy SVT Supplements to Vetus Testamentum Land, 1976 TB Tyndale Bulletin EB ExpositorsBible TB Talmude Babilnico EBT J. B. Bauer, ed., Encyclopaedia of TC Torch Commentary Biblical Theology, 1970 TDNT Kittel, TheologicalDictionary EQ EvangelicalQuarterly ofthe New Testament HDB J. Hastings, ed., Dictionary oftheBible TDOT Botterweck & Ringgren, Theological IB TheInterpreters Bible Dictionary ofthe Old Testatnent ICC InternationalCriticalCommentary Th.Rv. Theologische Revue IDB TheInterpreters Dictionary oftheBible TOTC Tyndale Old Testament Commentary IEJ IsraelExploration Journal Tyn.B. Tyndale Bulletin ISBE TheInternationalStandardBible UT Gordon, Ugaritic Textbook Encyclopedia VT Vetus Testamentum JBL JournalofBiblicalLiterature WC Westminster Commentaries JBR JournalofBibleandReligion WBC WycliffeBibleCommentary JJS JournalofJewish Studies WTJ Westminster TheologicalJournal JNES JournalofNearEastern Studies ZAW Zeitschriftfr die alttestamentliche JPOS Journal ofthe Palestine OrientalSociety Wissenschaft JSS JournalofSemiticStudies ZPEB The Zondervan Pictorial Encyclopedia JTS Journal of TheologicalStudies oftheBible XV 15. Abreviaes gerais AB Anchor Bible LXX Septuaginta ad loc. no lugar referido m. morreu (em) Aq. traduo grega do Antigo mg. margem Testamento de Aquila MS(S) manuscrito(s) ARA Almeida Revista e Atualizada n. nota aram. aramaico NAB T he New American Bible ARG Almeida Revista e Corrigida NASB New American Standard Bible art. artigo NEB New English Bible art. cit no artigo citado NIV The New International Version BJ Bblia de Jerusalm nr. nota de rodap c. por volta de (poca, tempo) NVI Nova Verso Internacional cap(s). captulo(s) op. cit. na obra citada acima cf. confira p- pgina(s) com. comentrio pi plural comp. compare p s Pentateuco Samaritano cont. continuao q.v. queira ver contra ao contrrio de RSV Revised Standard Version cor. correo RV Revised Version cp. compare ss e seguintes ct. contraste com sam. samaritano e.g. por exemplo scil. ou seja ed. editor (ou editado), edio sec. sculo esp. especialmente sim. Smaco GNB Good News Bible (Linguagem sir. Siraco de Hoje em ingls) s.v. sob a palavra (vocbulo) gr- grego T.I. traduo inglesa heb. hebraico targ. targum ibid. no mesmo livro (ou passagem) TM Texto Massortico in loc. no lugar citado trad. traduzido ou traduo infra abaixo V . versculo, versculos (ou ver) JB Jerusalem Bible V.I. verso(es) inglesa(s) lat. latim VA Verso Autorizada lit. literalmente viz. ou seja loc. cit. na passagem j citada Vulg. Vulgata 16. Parte 1 Artigos Gerais O Antigo Testamento 17. Parte 1 Artigos Gerais O Antigo Testamento 18. O Antigo Testamento e o cristo F. F. BRUCE O ANTIGO TESTAMENTO NA IGREJA Alm do seu status de Escritura sagrada, o AT uma obra literria das mais interessan tes e valiosas por si s, um objeto digno de estudos intensos e constantes. Posto na sua perspectiva histrica e interpretado corre tamente, ele se constitui em fonte primria indispensvel para uma fase importante da histria especialmente a histria religiosa do Antigo Oriente Mdio. Parte do seu contedo do mais elevado nvel literrio, e muito desse contedo ainda gera reaes de apreciao espiritual no leitor e proporcio na-lhe um meio de expressar as aspiraes mais profundas da sua prpria alma. Tudo isso vale tanto para leitores cristos quanto para os outros, mas os cristos tm de considerar ainda o seu status como parte das Escrituras Sagradas da igreja crist. O AT est investido de autoridade espe cial como Escritura sagrada no s para cris tos, mas tambm para judeus e muulmanos. Na ortodoxia judaica, a Bblia hebraica, que contm a Lei, os Profetas e os Escritos, toda a Palavra de Deus. A sua interpretao regu lamentada pela tradio e, por motivos po lmicos ou apologticos, a tradio tem recebido algumas vezes status equivalente ao do texto, mas tanto em princpio como de fato o texto escrito tem prioridade e normativo. No islamismo, o tawrat (as Escri turas judaicas), e o injil (as Escrituras crists) registram a revelao de Deus dada por meio de profetas anteriores, que seria ento final mente reiterada e confirmada na revelao dada por meio de Maom e registrada por escrito no Alcoro. J na igreja crist, o AT reconhecido tra dicionalmente como o texto que registra os estgios iniciais desse processo contnuo de revelao divina e de resposta humana, que teve seu cumprimento em Cristo, sendo o N T o registro desse cumprimento. Se o que Deus falou a nossos antepassados por meio dos pro fetas, muitas vezes e de muitas maneiras, est preservado no AT, o NT, por sua vez, nos conta que nestes ltimos dias falou-nos por meio do Filho (Hb 1.12). Mas, se colocarmos a questo dessa maneira, poderemos negligen ciar o fato de que nas primeiras geraes da sua existncia a nica Bblia da igreja crist era o AT, e ela se deu muito bem tendo so mente o AT. Quando nosso Senhor afirma que so as Escrituras que testemunham a meu respeito (Jo 5.39), ele est se referindo s Escrituras do AT. Quando dito a Timteo que toda Escritura inspirada por Deus, a referncia queles escritos sagrados com que Timteo estava familiarizado desde a infn cia ou seja, os escritos do AT (a propsito, na verso LXX). Timteo lembrado que esses so os escritos que so capazes de torn-lo sbio para a salvao mediante a f em Cristo Jesus e que proporcionam uma instruo abrangente e completa para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra (2Tm 3.15-17). Era do AT que os primeiros pregadores cristos, se guindo o exemplo do seu Mestre, extraam seus textos; e o faziam de maneira formal e expressa quando se dirigiam a audincias judaicas e de maneira implcita quando pre gavam aos gentios. Assim como Jesus afir mou que no viera abolir a Lei e os Profetas, 3 19. O Antigo Testamento e o cristo mas para cumpri-los (Mt 5.17), Paulo tam bm afirma que a Lei e os Profetas testemu nham do evangelho da justificao pela f (Rm 3.21,22). Mesmo j quase na metade do segundo sculo da era crist, os escritos do AT ainda desfrutavam dessa dignidade nica. Tem-se comentado muitas vezes quo expressivo o nmero de pagos cultos do sculo II, como Justino Mrtir e seu discpulo Taciano, que se converteram ao cristianismo e eles mesmos do testemunho disso por meio da leitura do AT grego. Nessa poca, natu ralmente, a maioria dos documentos que constituem o N T j existia e circulava havia dcadas, mas ainda no tinha recebido acei tao geral como uma coleo de escritos do mesmo nvel que o AT, como sendo o vo lume do cumprimento ao lado do volume da promessa. No entanto, quando falamos desse status singular do AT na igreja primitiva, estamos falando do AT interpretado e cumprido por Jesus. A igreja e a sinagoga compartilhavam do mesmo texto sagrado (faz pouca diferen a se, em algumas regies de fala grega, o cnon da igreja era ligeiramente mais abran gente do que o cnon da sinagoga), mas o texto era com preendido de formas to diversas pela igreja e pela sinagoga que po deria at parecer que estivessem usando duas Bblias diferentes. Em vo, Justino ten ta convencer Trifo, no seu Dilogo com o judeu Trifo, da verdade do cristianismo, re correndo s Escrituras que ambos reconhe cem como divinas: o apelo de Justino pressupe uma interpretao que Trifo no consegue aceitar. Essa interpretao pode ser resumida na afirmao de que Cristo e o evangelho so o tema do AT. Todos os profetas do teste munho dele, de que todo o que nele cr recebe o perdo dos pecados m ediante o seu nome (At 10.43). Os profetas podem at ter investigado e examinado cuidado samente as Escrituras procurando saber o tempo e as circunstncias para os quais apon tava o Esprito de Cristo que neles estava 4 (IPe 1.10,11), mas as pessoas que testemu nharam os eventos da salvao no precisa ram de tal investigao ou exame; elas sabiam. A pessoa era Jesus; a poca era ago ra. Essa compreenso do AT permeia de for ma to ampla e completa os escritos do N T que ela certamente vai alm desses escritos at o prprio Jesus, e este , de fato, o teste munho dos Evangelhos e de todas as cama das da tradio que podem ser identificadas na sua base. O anncio das boas-novas aos po bres, que de acordo com os profetas do AT caracterizava a proclamao do ano da bon dade do Senhor (Is 61.1,2), apresentado por Jesus como a essncia do seu prprio minist rio: Hoje, ele disse, se cumpriu a Escritura que vocs acabaram de ouvir (Lc 4.18-21; cf. 7.22). Ele deixou bem claro que isso fazia parte do advento desse reino que, de acordo com outro autor do AT, o Deus dos cus esta beleceria em dias futuros (Dn 2.44; 7.14, 22,27). Ele parabenizou seus discpulos por que eles viviam numa poca em que podiam experimentar coisas que profetas e homens justos de outros tempos tinham, em vo, de sejado ver e ouvir (Mt 13.15,16; Lc 10.23,24). E se no final seu ministrio seria coroado com a morte, ento isso tambm para que ele sofra muito e seja rejeitado com desprezo era algo que estava escrito acerca do Fi lho do homem (Mc 9.12). Seguro disso, ele submeteu-se a seus captores com as palavras: Mas as Escrituras precisam ser cumpridas (Mc 14.49). Os seus seguidores, portanto, descobriram que as Escrituras do AT estavam repletas de novo sentido medida que desvendavam seus mistrios mais profundos com a chave que o seu Mestre lhes dera. Quando seu testemu nho foi perpetuado de forma escrita, e os do cumentos que o perpetuaram foram, no devido tempo, reunidos e canonizados no NT, a au toridade do AT no foi, de forma alguma, diminuda. Tambm, quando na primeira me tade do sculo II Marcio afirmou que Jesus e o evangelho eram coisas completamente novas, no relacionadas a nada que havia ocor rido antes, negando assim que o AT tivesse 20. O Antigo Testamento e o cristo o direito de ser tratado como Escritura crist, a igreja no deu nenhuma guarida a ele nem s suas convices. Alguns argumentos usa dos para refut-lo talvez tenham sido tolos, mas havia uma s intuio de que o evange lho no floresceria com mais vigor se fosse cortado de suas razes do AT. A PALAVRA DE DEUS NO AT verdade que houve uma mudana de perspectiva na igreja desde os primeiros dias em que o AT era a sua nica Bblia, tornada compreensvel pelo seu cumprimento em Cristo. Hoje em dia a tendncia valorizar mais o N T do que o AT. Creio que h con cordncia geral de que o conhecimento do AT necessrio para a compreenso do NT. Em primeiro lugar, ele registra a preparao para o evangelho, o relato do que aconte ceu antes, sem o que o evangelho no pode ser com preendido adequadam ente. Alm disso, o N T est de tal modo repleto de cita es do AT que o conhecimento deste to essencial para sua apreciao quanto o conhe cimento dos clssicos gregos e latinos es sencial para a apreciao da obra de Milton (por exemplo).1 Mas para Milton os clssicos em grego ou latim no continham autorida de prpria; eles proporcionavam uma mina inexaurvel de aluses literrias. As aluses ao AT no NT, no entanto, no esto ali para efeitos literrios; elas implicam o reconheci mento da autoridade inerente ao prprio AT. Os autores do N T consideravam que o con tedo da sua mensagem estava organicamen te de acordo com a mensagem do AT, a ponto de o AT e o N T poderem ser considerados duas partes de uma mesma sentena, cada parte sendo essencial para a compreenso do todo. Essa percepo est destacada no ar tigo VII dos Trinta e nove artigos, que comea assim: O Antigo Testam ento no contrrio ao Novo; porquanto em ambos, !John Milton (1608-1674) o maior poeta pico da lngua inglesa. Sua obra-prima Paradise Lost [O paraso perdido, E diouro, 2000]. [N. do T.] tanto no Antigo como no Novo, a vida eterna oferecida ao gnero humano por Cristo, que o nico Mediador entre Deus e o ho mem, sendo Ele mesmo Deus e Homem.... A unidade da mensagem dos dois testa mentos no deve ser estabelecida por meio de exerccios tipolgicos fantasiosos, que encontram nos escritos do AT as mais diver sas doutrinas neotestamentrias, das quais nem os autores originais nem seus leitores poderiam sequer suspeitar. Essa unidade pode ser demonstrada de forma mais eficien te por meio do reconhecimento de um pa dro recorrente de ao divina e resposta humana, como traado, por exemplo, em ICo 10.1-11 ou Hb 3.74.13. Houve muitas tentativas de apresentar essa ininterrupta mensagem de uma forma que destacasse o seu significado bsico e a sua adequada plenitude em Cristo. Entre essas tentativas, provavelmente a mais bem- sucedida seja aquela que a apresenta como a histria da salvao (Heilsgeschichte), o rela to dos atos salvficos de Deus que tiveram sua consumao na obra salvfica de Cristo. D eus aclamado repetidam ente no AT como a salvao do seu povo. Ele se ma nifesta nessa qualidade em pocas sucessi vas da histria do AT, mas de forma especial no xodo do Egito e no retorno do exlio babilnico (cf. x 15.2; Is 45.15-17). O regis tro da primeira dessas libertaes fornece um modelo de narrativa no qual a segunda liber tao pode ser retratada, e o registro das duas fornece um modelo de narrativa usado no N T para retratar a obra salvfica de Cristo. A salvao de Deus e o seu juzo, no Anti go Testamento, so dois aspectos da mesma ao: se ele vindicou o seu nome ao permitir que seu povo fosse para o exlio por se rebelar contra ele, da mesma forma vindicou o seu nome ao traz-lo de volta. A salvao desse povo a sua vindicao (cf. SI 98.1-3). No ato culminante do evangelho, esses temas g meos de salvao e juzo coincidem: Jesus absorve o julgamento na sua prpria pessoa e assim realiza a salvao do seu povo. 5 21. O Antigo Testamento e o cristo Nessa histria da salvao, o ato divino e a palavra proftica andam de mos dadas: nenhum deles proporciona uma revelao completa sem o outro. A relao entre o mi nistrio de Moiss e a libertao realizada no xodo equiparada interao entre o ministrio de profetas posteriores e os atos de misericrdia e juzo que eles proclama ram ou interpretaram. Quando chegamos consumao do NT, o ato redentor e o mi nistrio proftico coincidem na mesma pes soa Jesus. Alguns estudiosos encontraram no tema da aliana um princpio unificador para o re lato do AT, que conduz ao cumprimento do evangelho. O Deus de Israel um Deus que faz alianas e as cumpre: ele estabelece um relacionamento especial com as pessoas e dispe-se a ser o seu Deus, entendendo que elas querem ser o seu povo. Nos dias de No, ele faz uma aliana com toda a raa humana (Gn 6.18; 9.8-17); por meio de Abrao, ele estabelece sua aliana com uma famlia espe cfica, com anncio de bnos para todas as outras famlias (Gn 15.8-21; 17.1ss; 22.15-18); e quando essa famlia cresce e se torna uma nao, ele confirma sua aliana com ela no monte Sinai, logo depois da sua libertao do Egito, com um cdigo simples de leis que so a constituio bsica dessa aliana (Ex 24.3-8; 34.10-28), e a reafirma em Siqum, logo de pois de o povo se fixar na terra prometida (Dt 27.1-28,48; Js 8.30-35; 24.1-28). Uma ali ana posterior e mais restrita foi feita com Davi, confirmando a ele e seus descenden tes o reinado sobre Israel (2Sm 7.8-17; SI 89.19-37; 132.11-18). A aliana de Deus com No recebe pouca ou nenhuma ateno no NT. O juramento que fez ao nosso pai Abrao (Lc 1.73) con siderado cumprido no evangelho da justifica o pela f (Rm 4.13ss; G1 3.6-18); a aliana com Davi considerada (especialmente nos escritos de Lucas) como cumprida na exal tao e soberania de Jesus (Lc 1.32,33; At 2.25- 36; 13.22,23,32-37; 15.16-18). Mas a aliana dos dias de Moiss contrastada com a alian a eterna introduzida por Jesus e selada com 6 seu sangue; esta aliana identificada como a nova aliana anunciada em Jr 31.31-34, que de fato deveria substituir a aliana de ficiente e quebrada feita com os antepassa dos de Israel, quando Deus os tomou pela mo para tir-los do Egito (cf. 2Co 3.4-18; Hb 8.69.22). A histria da salvao e a histria da ali ana so chaves valiosas para a compreen so crist do AT e do seu lugar na Bblia como um todo, principalmente porque no precisam ser importadas para dentro do re lato bblico como princpios de organizao, pois elas j esto presentes nesse relato. Mas elas no cobrem todo o AT, e ser lastim vel se sua importncia for exagerada a pon to de serem negligenciadas as partes do AT que no possam ser adequadamente relacio nadas com elas. A RESPOSTA HUMANA NO AT Os livros sapienciais do AT no podem facilmente ser reunidos sob a rubrica da his tria da salvao ou da aliana; mesmo assim, do uma contribuio indispensvel men sagem do AT. O sbio estava ao lado do sa cerdote e do profeta como comunicador da verdade divina para os seus compatriotas (cf. Jr 18.18). A literatura sapiencial da Bblia hebraica marcada por um aspecto interna cional, seja no tratamento das coisas obser vadas no dia-a-dia da vida e da natureza (como em Provrbios), seja no tratamento dos pro blemas mais profundos da existncia hu mana (como em J). A literatura sapiencial posterior (e.g., Sabedoria e Eclesistico) est mais intimamente relacionada ao panorama religioso de Israel e tende a identificar a sa bedoria com a Lei mosaica. O AT registra no somente a revelao que Deus fez de si mesmo no curso da hist ria do seu povo, mas tambm a resposta do povo a essa revelao. Junto com os livros poticos do AT (principalmente o Saltrio), a literatura sapiencial pertence em grande parte rea da resposta humana revelao divina. Homens e mulheres aos quais Deus se reve lou por meio de uma experincia pessoal, 22. O Antigo Testamento e o cristo como tambm por meio da histria nacional, contam o que ele passou a significar para eles, e, no seu testemunho, aprendemos mais sobre os caminhos de Deus no trato com o ser humano e aprendemos isso de tal ma neira que as palavras desse seu testemunho fornecem um meio aceitvel para o nosso prprio testemunho de como Deus lida co nosco. Isso explica, em grande parte, a popu laridade dos salmos como meio de louvor cristo. NOSSO SENHOR E O AT A avaliao que os cristos fazem do AT no pode ser dissociada do uso que Jesus fez dele. Est claro que Jesus o considerava a ltima instncia de apelao. Ele citou-o para justificar seu procedimento e expor as defici ncias tanto dos fariseus quanto dos saduceus. No AT, ele encontrou alimento e conforto para sua alma; nele encontrou tambm o pro grama para seu ministrio e a vontade de Deus para sua vida diria e seu sacrifcio derradeiro. O que foi indispensvel para o Redentor, tem-se dito com muita propriedade, precisa sempre ser indispensvel para os redimidos (G. A. Smith, Modem Criticism andthePreaching oftheOT.i 1901, p. 11). No entanto, mesmo se baseando indiscri minadamente na Lei, nos Profetas e nos Es critos, no o fazia sem discernimento. No h nada de estranho ou inadequado na sua aplicao do texto sagrado; tampouco ele o coloca, todo, em um mesmo plano. A letra da Lei precisa ser subserviente ao esprito da Lei. O descanso no sbado e a relao ma trimonial foram institudos para benefcio de homens e mulheres, e so cumpridos de modo melhor quando esse propsito promovido. At mesmo a pressuposio de Moiss de que o divrcio permitido (Dt 24.1-4) tra tada como uma concesso feita por causa da dureza de corao do ser humano; Jesus encontrou um caminho mais excelente em butido na ordenana do Criador (Gn 1.27; 2.24, citados em Mc 10.2-9). A observncia literal da lei do sbado pode dar lugar a uma necessidade maior, como ocorreu no caso da observncia da lei relacionada ao po da Pre sena, quando Davi e seus homens esta vam famintos (ISm 21.1-6, mencionado em Mc 2.25-28). A lei do olho por olho, dente por dente (Ex 21.24) mostrou um avano tico considervel na poca, ao substituir a vingana do sangue pelo princpio da retri buio estritamente limitada, mas a seus dis cpulos Jesus recomendou o princpio melhor da no-retaliao e, melhor ainda, o da re tribuio do mal com o bem (Mt 5.38-48). Ele resumiu toda a Lei (e os Profetas) no duplo mandamento do amor a Deus e do amor ao prximo (Dt 6.4,5; Lv 19.18); qual quer interpretao ou aplicao que no fosse condizente com a lei do amor estava conseqentemente descartada (Mc 12.28-31; cf. Lc 10.25-37). Ele figurou na linhagem dos grandes pro fetas de Israel, e tratou o ensino destes com a dignidade que merecia, no como se fosse uma srie de notas de rodap da Lei. Como eles, ele atribuiu mais valor s questes ti cas (interpessoais) do que s exigncias ri tuais (e.g., Mt 5.23,24), no esprito de Os 6.6: Pois desejo misericrdia, e no sacrifcios (citado em Mt 9.13; 12.7). De todos os profetas, o que mais demons tra afinidade com Jesus Jeremias, o profeta da nova aliana, que insiste na interioridade da verdadeira religio. Quando Jeremias faz uma retrospectiva do reinado do rei Josias, o que mais elogia no sua reforma do cul to, mas sua administrao justa, sua forma de julgar os pobres e necessitados: foi nisso que Josias manifestou seu conhecimento de Deus (Jr 22.15,16). H uma semelhana im pressionante tambm entre o conselho de Jeremias para a submisso ao governante gentio dos seus dias (Jr 38.17,18) e a orien tao de Jesus para dar a Csar o que de Csar (Mc 12.17) ou sua reprovao do esp rito de revolta contra Roma que um dia iria lanar Jerusalm ao cho (Lc 13.1-5; 19.41- 44; 23.28-31). Para concluir, o uso que nosso Senhor fez do AT exibe um mtodo exegtico criativo e original, que fornece um modelo para seus 7 23. O Antigo Testamento e o cristo seguidores; ele est baseado em [...] uma profunda compreenso do ensino essencial da Bblia hebraica e em um discernimento seguro da situao do seu tem po (T. W. Manson, BJRL 34, 1951-1952, p. 332). O AT COMO REGRA DE F Se a Bblia a regra de f e prtica do cris to, a contribuio que o AT faz a essa regra de f j foi sugerida. Comea com Deus, apresentando-o como um s, como o Criador do Universo em geral e da humanidade em particular, como justo e misericordioso no seu carter e como algum desejoso de ver esse seu carter reproduzido na vida de homens e mulheres. Quando se diz que ele criou o homem sua prpria ima gem, isso significa (talvez, entre outras coi sas) que a inteno era que os seres humanos vivessem em comunho no somente uns com os outros, mas tambm com ele. Eles devem atender a seus apelos e viver de forma responsvel diante dele, recebendo sua graa, prestando-lhe seu servio e exercendo sobre a terra a autoridade que ele lhes dele gou. Quando os homens se revoltam contra a sua lei, experimentam seu juzo, mas em meio ao juzo ele no se esquece de ser mi sericordioso. O juzo, sem dvida, sua obra muito estranha (Is 28.21), estranha e sem congenialidade com a sua natureza, qual ele se dispe com relutncia, ao passo que tem prazer em demonstrar misericr dia e graa perdoadora (Mq 7.18). Tudo isso explicado, no na forma de um sistema teolgico, mas no contexto histrico da re lao de Deus com a humanidade e, espe cialmente, com aqueles que ele chamou para serem seu povo. Se o AT usa linguagem antropomrfica e antropoptica quando fala de Deus, por que ela mais adequada ao retrato que o AT apresenta de seu ser e de seu carter do que o uso de abstraes metafsicas ou de artifcios medievais, como a via negativa ou a via da eminncia. Deus no ho mem... (Nm 23.19; ISm 15.29), pois ele o Criador e o homem sua criatura, mas o homem foi feito imagem de Deus e en corajado a ser como Deus, de forma que o uso de um vocabulrio comum tanto para Deus quanto para o homem mais do que natural. Em algumas reas do AT, a relao entre Deus e o homem regulamentada por uma legislao sacrificial e cerimonial. E impor tante notar quo rapidamente aqueles que reconheceram a eficcia redentora do sacri fcio de Cristo afastaram-se dessa legislao. Alguns, talvez, j anteriorm ente tivessem suas reservas em relao ao ritual do templo; mas as implicaes da obra de Cristo foram decisivas. O que para muitos cristos judai cos da primeira gerao deve ter sido uma questo de intuio espiritual recebeu com provao clssica na carta aos Hebreus, que argumenta muito bem em favor da abolio de todo o sistema, em Cristo. Os cristos de veriam ser muito gratos pela providncia que levou incluso dessa obra no cnon do NT: se a lei cerimonial foi abolida em Cristo, no precisamos perder tempo alegorizando seus detalhes para encontrar neles alguma som bra da sua obra redentora. Quando o autor de Hebreus compara o sacrifcio definitivo de Cristo com o sacrifcio do Dia da Expiao, repetido anualmente, ele destaca o contraste, e no alguma semelhana entre os dois. O N T est na linha da tradio daqueles salmistas e profetas do AT que sabiam se aproximar de Deus por meio da adorao sincera, sem ne cessitar da mediao sacerdotal (SI 73.23-28), e reconheciam que ele no habitava em tem plos feitos por mos, mas com o contrito e humilde de esprito (Is 57.15; 66.1,2). O AT E A CONDUTA HUMANA Se o AT usado como regra de conduta, fcil reconhecer sua insistncia fundamen tal na justia e na misericrdia, mas precisa mos reconhecer tam bm o fato de que a aplicao prtica dessas virtudes era feita em contextos sociais muito distantes do nosso. Elas precisaram ser reaplicadas mesmo nos tempos do AT, quando a vida pastoril deu lugar agricultura e depois, novam ente, 24. O Antigo Testamento e o cristo a retribuio dos cus so reinterpretados como referncia queles inimigos espiri tuais o mundo, a carne e o Diabo com os quais o cristo trava uma batalha intermi nvel, est bem; mas no se deve supor que esse seja o significado desses textos do AT. Essa alegorizao, com certeza, necessria por motivos devocionais naquelas tradies crists que prescrevem a repetio regular do livro inteiro de Salmos. Isaac Watts, para fraseando SI 92.11, pode at cantar: Todos os meus inimigos interiores devem ser mortos Satans no deve violar a minha paz de novo... mas no foi isso que o salmista quis dizer quando escreveu: Os meus olhos contem plaram a derrota dos meus inimigos; os meus ouvidos escutaram a debandada dos meus maldosos agressores. Mesmo sendo possvel perceber um avan o tico em alguns estgios da narrativa do AT, ou at um avano geral do incio ao fim, no se deve pressupor que uma linha cont nua possa ser traada desde os tempos pri mordiais at o fim da histria bblica. As histrias patriarcais do Gnesis refletem um nvel de comportamento civilizado que no pode ser facilmente equiparado quele visto durante o perodo da conquista ou sob a mo narquia. At na poca da monarquia, na ver dade, a pena imposta pelo rei Asa a Maaca, a rainha-me, por seu envolvimento em um ritual cananeu (2Cr 15.16), parece exagerada- mente branda em comparao com os padres mais rgidos dos comentaristas da Bblia de Genebra (1560), que o censuram por ceder a uma tola compaixo. Alm disso, problemas morais dessa ordem no so peculiares ao AT. Quando as aes em questo so executadas por moti vos polticos ou militares conhecidos, no constituem problemas no campo tico: sabe mos muito bem com que facilidade essas razes tornam-se mais fortes do que conside raes humanitrias. Mas constituem proble mas morais quando assumem a forma de terror em nome de Deus ou pelos interesses 10 do destino manifesto de uma civilizao supostamente mais elevada, pois a que se pode esperar que as consideraes humanit rias se tornem predominantes. E verdade, as formas de genocdio na histria de Israel pa recem marcantemente amadoras e ineficazes quando comparadas com os campos de ex termnio europeus do incio da dcada de 1940 ou, olhando um pouco mais para trs, com o desaparecimento total de tribos intei ras como os aborgines da Tasmnia. Mesmo assim, o Deus revelado no AT justo e mi sericordioso; sua justia e misericrdia so os padres da justia e da misericrdia do seu povo, e a conduta injusta ou sem misericr dia no combina com a sua natureza. H pou cas expresses mais refinadas acerca desse aspecto da sua natureza no AT do que a per gunta com a qual ele silenciou a reclamao patritica de Jonas: No deveria eu ter pena dessa grande cidade? (Jn 4.11). Esta ltima referncia nos lembra que o Deus de Israel o Juiz de toda a terra (Gn 18.25); o AT retrata em uma grande tela o trata mento de Deus com as naes em geral, ao longo dos sculos, mostrando que ele domi na sobre os reinos dos homens e os d a quem quer (Dn 4.17,25,32). Isso antecipa a percep o de Schiller quando diz que a histria do mundo o juzo do mundo, mas insiste em que esse juzo administrado pessoalmente. O AT E A ORDEM SOCIAL O AT destaca desde o incio que o ser humano um ser social. Isso est resumido na declarao do Criador em Gn 2.18: No bom que o homem esteja s; e desta cado tambm no relato da criao, de Gn 1.27, onde o homem a quem Deus criou a hum anidade, o homem na sociedade: Criou Deus o homem sua imagem, ima gem de Deus o criou; homem e mulher os criou. A unidade social mais simples, a fa mlia, prontamente instituda: pai, me e filhos. At mesmo Caim, expulso da vida de uma comunidade fixa para seguir uma vida nmade, no precisa suportar o exlio so zinho: ele no somente se casa e cria uma 25. O Antigo Testamento e o cristo famlia, mas at constri uma cidade talvez um modesto acampamento de tendas, mas, mesmo assim, um ambiente em que ho mens, mulheres e crianas podiam viver em sociedade (Gn 4.17). Tentativas de estabelecer comunidades independentes de Deus esto fadadas ao fra casso porque tm falta de coeso, como ficou demonstrado em Babel e, posteriormente, em outros lugares (Gn 11.1-9; Is 8.9,10); mas a sua graa une as pessoas em famlias, tribos e agrupamentos mais abrangentes (SI 68.6). As muitas genealogias dos livros do AT re fletem essa nfase na famlia e na solidarie dade tribal, alm de servir como esqueleto para ser revestido de uma narrativa viva. A valorizao disso demonstrada no N T nas duas genealogias do nosso Senhor (Mt 1.2-17; Lc 3.23-38), que fazem muito uso de dados do AT. Alis, a solidariedade familiar, tribal e nacional no AT s vezes to destacada a ponto de ser indicada pela expresso perso nalidade coletiva; isso pode nos preparar para a distino paulina das duas grandes solida- riedades humanas ou personalidades coleti vas em Ado e em Cristo (Rm 5.12-19; ICo 15.21,22). Alm disso, a responsabilidade do ser hu mano, no somente em relao a seus pares mas tambm em relao ao ambiente em que vive, destacada. H um vnculo entre as pessoas e a terra, no AT, que o leitor ociden tal moderno tem dificuldade de entender; alm disso, um vnculo que criado e man tido por Deus. Em Is 62.4,5 ele retratado como um vnculo matrimonial. Esse vnculo aplica de forma intensa a um pas a ordenan a de Gn 1.26-30, na qual o homem recebe, sobre a terra e as criaturas que a habitam, um domnio que deve ser exercido por meio de mordomia responsvel, e no de explorao egosta. Em Rm 8.19-23, Paulo olha para o futuro na expectativa da realizao universal dessa ordenana da criao, quando os filhos de Deus forem revelados. As exigncias sociais da lei de Deus so destacadas com detalhes especficos para a vida do seu povo, Israel. Espera-se das naes vizinhas que observem os bons costumes bsicos da boa f, a considerao pelos fracos e o respeito pela dignidade humana, e so censuradas quando os violam (Am 1.32.3), mas o conhecimento que Israel tem de Deus e de sua vontade muito maior do que o conhecimento desses povos, e a responsabi lidade de Israel, portanto, muito maior (Am 3.2). A reputao do Deus de Israel aos olhos dos outros povos depende, em grande parte, do comportamento do seu povo. A exigncia de Deus para o seu povo resumida de vrias maneiras no AT. Pode mos lembrar-nos do refro do cdigo de san tidade no Pentateuco: Eu sou o S e n h o r [...] o seu Deus; por isso, sejam santos, por que eu sou santo (Lv 11.45). Essa santidade uma caracterstica positiva e que abrange tudo; suas implicaes negativas so coro lrios da sua essncia positiva. Essa essncia positiva evidenciada em declaraes como a de Mq 6.8: Ele mostrou a voc, homem, o que bom e o que o Sen h o r exige: pratique a justia, ame a fidelidade e ande humilde mente com o seu Deus. A justia e a bon dade que as pessoas do povo de Deus devem mostrar umas s outras so a justia e a bon dade com que ele as tratou. Essas qualidades so aplicadas no somente na via principal da tica social, mas tambm em regras to raras quanto aquela que proibia a pessoa que emprestava dinheiro de ficar com o manto do devedor durante a noite como garantia, porque o manto a nica coberta que ele possui para o corpo (Ex 22.27,28). A lei da retaliao do AT olho por olho e dente por dente (Ex 21.24) qual j nos referimos, est mais intimamente re lacionada lei urea do que muitas vezes se pensa: que seja feito a voc como voc fez aos outros pode ser facilmente visto como corolrio de faa aos outros o que voc gos taria que fizessem a voc. At mesmo quando a monarquia foi insti tuda em Israel, o rei no estava acima da lei que regulamentava a vida dos seus sditos. Quando Nabote se nega a vender sua vinha a Acabe, este fica aborrecido, mas no pensa 11 26. O Antigo Testamento e o cristo em violar os direitos de Nabote at que Je- zabel, que fora criada segundo uma outra idia de reinado, d passos para garantir a vinha para seu marido por meio de uma seqncia de aes cruis e juramentos falsos, o que acabou ocasionando a denncia proftica contra toda a dinastia de Acabe (lRs 21.1- 24). E quando, na gerao seguinte, a cres cente prosperidade mercantil conduziu emergncia em Israel de uma nova classe abastada, que podia comprar todas as pe quenas propriedades e reduzir seus antigos proprietrios a meros escravos, foram os pro fetas que condenaram a quebra da aliana demonstrada na aquisio de campos e mais campos por parte dos ricos e no moer o rosto dos necessitados (Is 5.8; 3.15; cf. Am 4.1; Mq 3.1-3). Esse tratamento dispensado ao prximo era um pecado contra Deus. Na relao entre o povo de Deus e os povos vizinhos, h uma tenso no resol vida no AT. Por um lado, h advertncias duras contra o casamento de seus filhos com os filhos dos povos e contra a assimilao: um tesouro fora confiado a Israel o co nhecimento de Deus que poderia facil mente se perder ou ser dissipado se Israel no preservasse sua identidade nacional e religiosa. Da o chamado a Israel para se manter separado dos outros povos. Ao mes mo tempo, o tesouro confiado a Israel deve ria ser compartilhado com os outros, para que estes tam bm viessem a conhecer o Deus vivo. Nos primeiros tempos do povo de Israel, alguns grupos no-israelitas jun taram foras com ele e aceitaram a aliana com Jav. Mas quando Israel se mudou do deserto para Cana, a atrao dos rituais de fertilidade praticados na terra conquistada tornou-se to perigosa que foi imposta uma severa proibio quanto a fazer qualquer tipo de associao com os cananeus. Mesmo as sim, algumas pessoas, como Raabe e Rute, isso sem falar dos gibeonitas (Js 9.3-27), re conheceram a grandeza do Deus de Israel e foram aceitas na comunidade da aliana. Mas foi no contexto do exlio babilnico e do seu retorno que a misso de Israel no mundo foi expressa mais claramente. Quan do um grupo significativo de israelitas se achou vivendo como exilados em uma co munidade no-israelita, eles foram encoraja dos a participar de seu bem-estar e orar por sua prosperidade, porm no deveriam se envolver a tal ponto que no pudessem trans cender os valores dessa comunidade estran geira (Jr 29.4-10). Quando a permisso de voltar do exlio foi dada, a responsabili dade internacional de Israel foi descrita como a comunicao, em nvel mundial, do conhe cimento de Jav, cuja ao a favor de seu povo mostrava que somente ele era Deus (Is 45.22,23). A restaurao dos israelitas os qualifica a serem suas testemunhas (Is 43.10), mas sua misso deve ser assumida e con cluda pelo Servo do Senhor, que, alm de cumprir um ministrio para com Israel, en viado como uma luz para os gentios para que a salvao de Deus chegue at os con fins da terra (Is 49.6). Junto com essa nfase na difuso, o pero do subseqente ao retorno dos exilados tes temunhou uma nova poltica de segregao, sob o governo de Esdras e Neemias, que no tem sido fcil de conciliar com o chamado para a misso mundial. A tenso entre esses dois aspectos estava viva ainda na poca do N T, no somente no conflito entre a viso mais ampla de Jesus e o separatismo dos fa riseus; mas tambm na igreja primitiva, no conflito entre os defensores da misso, livre da lei, aos gentios e aqueles cristos judaicos que acreditavam que os convertidos dentre os gentios deveriam ser admitidos na comu nidade crist com salvaguardas semelhantes quelas que regiam a admisso de proslitos comunidade de Israel. Os defensores da misso aos gentios de fato apelaram para a comisso do Servo do Senhor como sendo sua prpria comisso (At 13.47). Nesse, como tambm em outros aspectos, o retrato do Servo em Isaas pode ser considerado o cl max do AT em sua funo de preparo para o evangelho. 12 27. O Antigo Testamento e o cristo BIBLIOGRAFIA A n d e r s o n , G. W., ed. Tradition and Interpretation. Oxford, 1979. B r ig h t , J. TheAuthority ofthe OT. London, 1967. B r u c e , F. F. The Time is Fulfdled. Exeter, 1978. ____ . This is That. Exeter, 1968. E ic h r o d t , W. TheologyoftheOT, 2v., London, 1961, 1967 [Teologia do Antigo Testamento, Editora Hagnos, 2005]. E l u s o n , H. L. TheMessage ofthe OT. Exeter, 1969. H a s e l , G. OT Theology. Grand Rapids, 1972 [Teologia do Antigo Testamento: questes fun dam entais no debate atual, 2. ed., JU E R P , 1992], J aco b, E. Theology ofthe OT. London, 1958. R o w ley , H. H. TheFaith ofIsrael. London, 1956 [A femIsrael: aspectos do pensamento do Anti- go Testamento, Editora Teolgica, 2003]. ____ . The Unity ofthe Bible. London, 1953. V o n R a d , G. OT Theology, 2 v., Edinburgh, 1962, 1965 [TeologiadoAntigo Testamento, 2 v., ASTE, 1986], ____ . Wisdom in Israel. London, 1972. V r ie ze n , T. C.An OutlineofOTTheology.Wageningen, 1958. 13 28. O texto do Antigo Testamento ALAN R. MILLARD A ESCRITA NO MUNDO DO ANTIGO TESTAMENTO Quando o homem inventou a escrita, ele descobriu uma forma de preservar suas idias e experincias para que atravessassem a barreira do tempo. Era natural que o Deus que estava preparado para falar a linguagem humana fizesse que suas palavras fossem registradas por intermdio desse meio hu mano. Pela sua providncia, a maior parte da sua revelao foi dada a um povo que tinha herdado um alfabeto pronto para o uso univer sal, para que qualquer pessoa que quisesse pudesse aprender a ler os livros sagrados. Moiss o primeiro israelita de que te mos notcia que escreveu algo (Ex 17.14), e ele certamente viveu num mundo em que a escrita era bem conhecida Entre 2000 e 1000 a.C., quase uma dezena de escritas eram usa das na Sria-Palestina. Entre elas, as mais im portantes eram os 600 sinais cuneiformes da Babilnia, inscritos com um buril em tabuinhas de barro, e os 700 sinais hieroglficos dos egp cios, na sua forma cursiva para o dia-a-dia, o hiertico, escrito com pena e tinta em papel (papiro) e sobre outras superfcies lisas. A escrita egpcia era pouco difundida fora de reas de forte e contnua influncia egpcia, como a Palestina e as cidades costeiras da Fencia, ao passo que a escrita cuneiforme era o meio internacional de comunicao em todo o Oriente Mdio. Este sistema e todos os outros eram complicados e empregados principalmente na administrao, nas leis, na religio e na diplomacia. Constituam pratica mente um monoplio da classe dos escribas. Um pouco antes de 1500 a.C., surgiu um ri val que, eventualmente, suplantou todos os outros: o alfabeto. Provavelm ente fam iliarizados com o egpcio, os inventores semitas do alfabeto descobriram como um pequeno conjunto de smbolos poderia substituir os incmodos hie rglifos: era necessrio um sinal para cada som da lngua, em torno de 30 ao todo. Os sinais eram imagens, escolhidas, podemos supor, de acordo com o princpio acrofnico dado=d. Como nenhuma palavra semtica comea com vogal, e j que as vogais so suplem entares s consoantes nas lnguas semticas, ainda que necessrias, no era vi tal registr-las. (Os sinais voclicos foram sistematicamente criados quando os gregos tomaram emprestado o alfabeto em torno de 900 a.C., pois sua lngua no podia ser escrita claramente sem esses sinais.) Ao final do se gundo milnio a.C., o alfabeto estabilizou-se e comeou a desalojar os outros sistemas. Ele gerou imitaes pelas mos de escribas trei nados na tradio babilnica, os quais produ ziram alfabetos de sinais cuneiformes para uso em superfcies de argila, especialmente em Ugarite, na Sria. Por menor que seja o nmero de exemplos do alfabeto nascente, serve para mostrar o amplo uso da escrita, que se tornou possvel por meio da simplici dade do sistema alfabtico, quebrando assim o monoplio dos escribas. A ESCRITA NO ANTIGO ISRAEL Na conquista de Cana, Israel tomou pos se de cidades em que a escrita era conhecida, 14 29. O texto do Antigo Testamento e o alfabeto bsico era familiar. Histria, leis, profecias, itinerrios, narrativas, listas de im postos, tudo j era registrado com facilidade (cf. Jz 8.14). Infelizmente, seguindo a prtica egpcia, o alfabeto era normalmente escrito em papiro, um papel vegetal que se desfaz em solo mido; por isso, no temos exem plos para mostrar a extenso e o estilo da es crita israelita antiga. Pequenas amostras de hebraico antigo sobreviveram, presentes em materiais mais durveis, cermica e pedra, que nos permitem ver como a escrita era usa da na vida diria e inferir a existncia de livros de couro e de papel em forma de rolo. Isso no nos permite, nem de longe, deduzir que todos sabiam ler ou escrever, mas nos tempos de Isaas e Jeremias parece provvel que havia poucas aldeias sem pelo menos um habitante que pudesse faz-lo. O Antigo Testamento tambm nos d essa impresso, embora qualquer obra de homens instrudos como o caso tender a destacar a ha bilidade deles! Esse pano de fundo ajuda-nos quando consideramos as origens e o desenvolvimen to dos livros do Antigo Testamento. Infor maes valiosas sobre os hbitos dos escribas podem ser tiradas dos prprios documentos antigos, e elas podem ajudar-nos a detectar os tipos de erro cometidos medida que uma gerao copiava os livros de outra. At mes mo notas insignificantes, escritas em fragmen tos de cermica, evidenciam a habilidade de uma eficincia prtica, o cuidado para que se alcanasse a legibilidade, um modo de escrita aceito. Um cuidado semelhante pode ser iden tificado nos manuscritos literrios assrios, babilnicos e egpcios de 2000 a.C em dian te, os quais fornecem uma analogia satisfat ria para a prtica israelita. Por um lado, existe uma grande preocupao em reproduzir um texto antigo de forma exata, talvez com a atualizao da ortografia, observando os da nos causados cpia mestra, contando as li nhas, acrescentando o nome do escriba, s vezes tambm o nome de um revisor, a(s) fonte(s) da cpia mestra (ou cpias mestras), a data e o destino da cpia rei, templo ou indivduo. Por outro lado, uma composio podia passar por mudanas editoriais e por reviso, criando uma ampla variao entre diversas cpias. Nesses casos, as diferenas so muitas vezes inexplicveis ou sem sen tido agora e no seguem padro algum; so impossveis de ser descobertas ou previstas com base em apenas um texto, fato que pre cisa receber peso especial na hora de recons truir a histria literria dos escritos do Antigo Testamento. Para leitura adicional acerca do tema desta seo, v. T he Practice of Writing in Ancient Israel, The Biblical Archaeologist 35 (1972), p. 98-111; A pproaching the Old Testament, Themelios 2 (1976), p. 34-9, am bos por este autor. O TEXTO HEBRAICO TRADICIONAL DO ANTIGO TESTAMENTO A escrita j existia em Israel, mas no sa bemos como e quando os livros que herda mos foram escritos pela primeira vez, pois no h cpias disponveis anteriores ao ter ceiro sculo a.C. As cpias mais antigas que ainda existem, os manuscritos do mar Morto, revelam certa diversidade que vai ser discu tida a seguir. Elas tambm revelam a exis tncia, entre 200 a.C. e 65 d.C., da forma textual conhecida em um estgio posterior como o Texto Massortico (TM) ou Tradi cional, no qual as tradues para as lnguas modernas so baseadas. A partir do exlio, o hebraico decaiu para o status de lngua de uma minoria entre os ju deus, embora um dialeto persistisse na Judia, sendo ento substitudo pelo aramaico, a linguafranca do Imprio Persa. A medida que o processo continuava, havia a necessidade crescente de preservar a pronncia correta do texto da Bblia hebraica na leitura da sina goga. Para ajudar o leitor, algumas consoan tes podiam representar vogais, um uso que se iniciou no perodo da monarquia e que al canou o seu pico na poca herodiana. Por volta dos sculos VII e VIII d.C., surgiram m todos mais precisos de representao de vo gais e acentos, que culminaram no esquema 15 30. O texto do Antigo Testamento de pontos e sinais colocados acima, abaixo e dentro das letras, usados desde ento para produzir os sons e a entonao aceitos. Os estudiosos judeus que aplicaram esse sis tema ao texto consonantal herdaram regula mentaes rgidas, designadas para manter a preciso nas cpias, as quais eram compar veis s antigas atitudes babilnicas e, talvez, derivadas delas. Eles tambm registraram variantes no texto escrito que lhes foram re passadas (a Massor). Algumas dessas variantes, na verdade, cor rigiam erros que foram conservados como re lquias no texto escrito; assim, em Is 49.5 est escrito l no, como est na ARC, enquanto a Massor nos instrui a ler l a ele, como na ARA, RV, RSV, NEB, NVI e manuscrito A do mar Morto de Isaas. Outras notas sugerem vogais alternativas para um conjunto amb guo de consoantes, como 2Sm 18.13, em que se eu tivesse atentado traioeiramente con tra a vida dele ou contra mim dependem de uap e napei respectivamente. As formas no texto escrito so denominadas kethlbh es crito, e as anotadas pela Massor, nas mar gens, Qer que se leia. A tradio tambm relata algumas passa gens em que o texto fora alterado para evitar idias inaceitveis, como em ISm 3.13, em que Deus diz que os filhos de Eli atra ram maldio sobre si mesmos (cf. VA, RV), em vez de me amaldioaram(cf. RSV, NEB; a NVI traz: seus filhos se fizeram desprezveis). Esse texto massortico representado hoje por alguns manuscritos copiados nos sculos nono e dcimo d.C., e os principais esto pre servados no Cairo, Jerusalm, So Petersburgo e Londres e por todas as Bblias hebraicas es critas ou impressas posteriormente. TEXTOS MAIS ANTIGOS A recuperao dos manuscritos do mar Morto provou a existncia de outros textos hebraicos alm do tipo tradicional, na Pa lestina, durante o sculo I a.C. at 68 d.C. Tem-se dado destaque a esses textos varian tes inevitavelmente porque so novos para ns, mas devemos observar que eles so mi noria entre os manuscritos do mar Morto e, alm disso, so muito fragmentrios. Suas di ferenas do texto massortico so mais do que erros acidentais resultantes de enganos dos escribas, embora estudos mais aprofun dados mostrem que muitas delas so desli zes, e no mudanas intencionais. (Assim, o acrscimo de Ex 20.11 a Dt 5.15, em uma das cpias, pode ter ocorrido em virtude de uma associao mental inconsciente.) No livro de Jeremias, um pequeno fragmento parece ter um texto mais curto do que o massortico, concordando de certa maneira com o texto da LXX, que um oitavo mais curto do que o TM , nesse livro. (Em Jr 10, os v. 6-8,10 so omitidos, e o v. 5 vem depois do 9.) Um texto de ISm 1 e 2 faz o contrrio: acrescenta vrias frases. Algumas delas, de novo, so encontradas na LXX (e.g., 1.25 pa rece ter comeado com Eles vieram peran te o Senhor, e o seu pai ofereceu o sacrifcio como ele fazia ano aps ano ao Senhor) e algumas no, como em 1.22, onde lemos ex plicitam ente que Samuel deveria ser um nazireu para sempre, como implica o v. 11 e como defende a tradio judaica posterior. Mais tarde, vamos discutir questes como: qual era a liberdade que os escribas tinham ao copiar um texto bblico, quo livres eram para acrescentar comentrios ou explanaes desse tipo, ou de omitir frases repetidas, e se havia classes diferentes de cpias, como mais tarde quando foram implantadas regras rgi das para a produo de textos para a leitura pblica. Havia claramente vrias tradies de texto, talvez desenvolvidas em comuni dades separadas (Palestina, Egito e Babilnia so lugares sugeridos), mas no necessaria mente as mesmas para cada parte da Bblia. Quando elas divergiam do texto ancestral comum a todas no se sabe, e uma questo relacionada histria do reconhecimento da autoridade dos livros do cnon do Antigo Testamento (v., a seguir, p. 33). 16 31. O texto do Antigo Testamento CRTICA TEXTUAL Esses diversos tipos de texto em he braico, agora revelados, realam o valor da crtica textual e complicam sua prtica. O objetivo dessa arte recuperar tanto quanto possvel as palavras do autor ou a primeira forma escrita do livro em estudo. Os erros que se introduziram ao longo de sculos de cpias precisam ser detectados e corrigidos sempre que possvel, acrscimos precisam ser descobertos e removidos e outras altera es precisam ser substitudas. Se no forem fundamentadas em evidncias de manuscri tos, essas atividades so meramente tericas e podem se tornar muito subjetivas. Comparar uma cpia com outra pode re velar os erros de um escriba; quando todas as cpias esto de acordo, a descoberta dos er ros mais difcil. Sinais de que algo pode estar errado so palavras gramaticalmente in corretas ou ininteligveis, divergncias com as verses antigas (v., a seguir, p. 19) ou com citaes antigas, e caractersticas singu lares que destoam do texto como um todo. Nenhum desses sinais conclusivo por si s; cada caso precisa ser analisado individual mente. Os tradutores antigos talvez tenham parafraseado, as citaes podem ser inexatas e uma peculiaridade irregular ou inintelig vel pode mostrar-se aceitvel por meio de uma nova descoberta. Mesmo assim, a crti ca textual tem tido muito sucesso, dando-nos um texto mais claro, com maior probabili dade de ser autntico, e uma compreenso melhor das palavras existentes. Alguns exem plos vo demonstrar os mtodos. Entre os erros simples, temos: a) Confuso de letras semelhantes como der. Gn 10.4: Dodanim; lCr 1.7: Rodanim. b) Transposio de letras, como em SI 49.11, em que o qirbm do TM traduzido por pensamento interior pela ARC (signifi ca interior, entranhas), mas deveria ser lido qibrm, seus tmulos como est na NVI. c) Repetio por engano (ditografia), e.g., 2Rs 19.23 TM brkb rkby, em vez de brb rkby com meus carros sem conta. d) Omisso por engano (haplografia) exemplificada em muitas cpias que omi tem Js 21.36,37 com um salto das palavras tribo de R ben para tribo de G ade, cf. lC r 6.63,64. O manuscrito A de Isaas do mar Morto tem um bom exemplo: o escriba saltou de templo do S e n h o r , no final de 38.20, para templo do S e n h o r , no final de 38.22, omitindo completamente os v. 21, 22; eles foram acrescentados mais tarde numa nota marginal. e) Separao incorreta de palavras. Um exemplo excelente Am 6.12 TM bbqrym AV, RV, NVI, ACF: lavrar-se- nela com bois?, a ser lido bbqr ym ser que os bois podem puxar o arado no mar? como a BLH em portugus, e tambm expresses equi valentes em ingls (RSV, NEB), dando sen tido e potica melhores. O grau de incerteza cresce com a exten so e a complexidade de qualquer suposto erro. Suponha que a haplografia em Is 38 (no item d citado) tivesse prevalecido em todas as cpias posteriores; seria muito difcil cor rigir o erro com base som ente no texto hebraico. Alm de mudanas resultantes de erros, pode ter havido alteraes intencionais fei tas para melhorar o texto. Substituies bem-intencionadas de amaldioe a Deus por abenoe a Deus, alm das que esto registradas na tradio, vistas anteriormente, podem ser observadas em J 1.11; 2.19; lRs 21.10 etc., e do nome do deus Baal por ver gonha, nos nomes pessoais Is-Bosete (2Sm 2; cf. lC r 8.33) e Mefibosete (2Sm 9.6; cf. lCr 8.34). A nota parenttica, esses nomes foram mudados, em Nm 32.38 pode ser uma orientao ao leitor para evitar nomes de divindades pags. Notas desse tipo, denomi nadas glosas, podem acrescentar informa es de atualizao, embora seja muitas vezes impossvel decidir se so obra do autor ou de um escriba posterior. Podemos ver alguns casos em Gn 14.2,3,7,8,17 (que ...); em Rt 4.7; e lRs 8.2 o stimo ms. A possibi lidade de rearranjos mais significativos nos 17 32. O texto do Antigo Testam ento textos, acidentais ou intencionais, como faz a NEB (em Is 27; 38; 53, por exemplo), deve ser admitida, mas uma questo de opinio e no pode ser comprovada. Descobertas em outros documentos anti gos podem lanar luz sobre passagens em que um erro textual no parece existir, mas mes mo assim o texto permanece obscuro, con tendo, talvez, uma das 1.500 palavras que s aparecem uma vez no texto hebraico. O ugartico, uma lngua prxima do cananeu e do egpcio, preservou uma palavra para navio que nos permite traduzir Is 2.16, e contra to das as pinturas desejveis (ARG), de forma mais satisfatria por e todo barco de luxo (NVI) ou por toda bela embarcao (RSV). Todos esses mtodos tm de ser usados com prudncia, com ateno a cada alternati va, com cuidado para no impor um sentido estranho ao texto. O texto tem sido preservado de forma extraordinria ao longo de muitas geraes; um tesouro a ser valorizado, estu dado e reparado nos lugares em que o tempo causou pequenas imperfeies. No pode ser distorcido ou remodelado para agradar gostos e opinies sempre em mudana. A todos os que esto dispostos a ouvir de forma reverente e atenciosa, ele transmite sua mensagem eterna. BIBLIOGRAFIA V. a bibliografia conjunta no final de As ver ses antigas, p. 31-2. 18 33. As verses antigas ROBERT E GORDON Enquanto os judeus permaneceram na Palestina e falaram sua lngua materna, no tiveram problemas em entender suas Escri turas Sagradas. Mas j no sculo VI a.C., e muito tempo antes de ser concludo o cnon do AT, muitos judeus viviam longe da terra natal de seus ancestrais. Alguns foram depor tados para a Mesopotmia depois que os babi lnios conquistaram Jerusalm, em 597 a.C.; outros mais ou menos na mesma poca seguiram o precedente estabelecido, muito tempo antes, de buscar refgio no Egito. Mas mesmo que essa disperso no tivesse ocor rido, os judeus dificilmente teriam evitado a exposio aos sons estranhos do aramaico e do grego nos sculos seguintes destruio do seu Estado. A hegemonia babilnica no Oriente Mdio teve vida curta; seu fim repentino aconteceu com a chegada dos persas Babi lnia, em outubro de 539 a.C. Nos 200 anos seguintes, os persas dominaram o Oriente Mdio, e sob o seu domnio o aramaico des frutou do status singular de lngua oficial do imprio. Tanto na Palestina quanto no Egito e na Mesopotmia, os judeus descobriram que era necessrio, para no dizer vantajoso, tor- narem-se fluentes na lingua franca do imp rio. Os arquivos da comunidade judaica de Elefantina, no Egito, mostram a profundidade com que o aramaico se arraigou nesse canto do imprio no quinto sculo a.C. Muito tem po depois que os persas foram expulsos por Alexandre e pelos gregos, o aramaico perma neceu como um m onum ento ao domnio persa, sendo falado e escrito em vrias partes do Oriente Mdio, incluindo a Palestina. Os feitos prodigiosos de Alexandre pavimentaram o caminho para a propagao da lngua e cul tura gregas no Oriente, e nenhum territrio vassalo foi mais afetado do que o Egito e sua recm-fundada Alexandria, de estilo grego. Foi em reconhecimento das necessidades dos judeus de fala aramaica, na Palestina, e dos judeus de fala grega, no Egito, que se fizeram as primeiras tentativas de traduzir o AT do original hebraico para essas lnguas. H vrias razes por que os estudiosos deveriam estar interessados nas verses an tigas do AT. Em primeiro lugar, as tradu es so im portantes para o estudo das lnguas em que foram escritas. Em cada caso, proporcionam informaes valiosas a respei to do vocabulrio, flexo e sintaxe dessas lnguas em estgios especficos da sua his tria. Em segundo lugar, nenhuma traduo feita num vcuo ideolgico. M uitos e diversos fatores deixam sua marca sobre a obra os pressupostos intelectuais que os tradutores herdam de sua prpria poca e cultura, as opinies religiosas e de outra na tureza que defendem ou s quais devem de monstrar respeito, os preconceitos ou desejos pelos quais so condicionados consciente ou inconscientemente, o seu grau de instruo, a sua prpria habilidade de se expressar e a amplitude dos conceitos da lngua para a qual esto traduzindo, alm de muitos outros fa tores.1 Alm disso, a objetividade profis sional e a neutralidade teolgica no eram 'E. W r t h w e in . The Texf ofthe OldTestament. Oxford, 1957, p. 33. 19 34. As verses antigas aspectos to valorizados pelas equipes de tra duo da Antiguidade se que havia equi pes como so hoje. A idia de sofrimento vicrio em Is 53 era inaceitvel para os que traduziram o texto para o aramaico, e assim reescreveram o captulo para adapt-lo sua teologia. Jernimo, por outro lado, no viu nenhum problema em introduzir na Vulgata idias neotestamentrias na sua traduo do AT. Quando traduziu SI 149.4 (ele coroa de vitria os oprimidos) por ele exaltar os mansos em Jesus, no precisamos pensar que ele tivesse deficincias no conhecimen to do hebraico. E possvel aprender muito acerca das posturas e tendncias teolgicas dos tradutores antigos, e de seus crculos de leitores, por meio da comparao entre o seu trabalho e o original hebraico. Em terceiro lugar, as verses antigas es to baseadas em manuscritos hebraicos mais antigos do que a maioria dos textos que es to disponveis hoje. Isso foi destacado por meio da publicao dos textos bblicos da regio do mar Morto; em muitos pontos, as verses antigas, especialm ente a Septua- ginta, concordam com esses textos em con traste com a tradio massortica padro. Aqui est a explicao de uma tendncia das ver ses inglesas e de outras lnguas modernas, como foi observado por Kubo e Specht: No AT, o Texto Massortico ainda fundamen tal, mas desafiado pelas verses antigas e pelos MSS dos rolos do mar Morto} Geral mente no muito difcil reconstruir o texto hebraico subjacente (o termo alemo Vorlage muitas vezes usado para denotar o texto- fonte) a dada verso ou leitura, e, em trechos em que s vezes o texto hebraico padro obscuro ou ininteligvel, essa retroverso vai proporcionar uma leitura melhor e um senti do mais compreensvel. E verdade que h muitas ciladas a serem evitadas nesse tipo de exerccio; quando o trabalho se tornava ZS . K u b o & W . S p e c h t , S o Many Versions? (Grand Rapids, 1975, p. 13. difcil, o tradutor antigo fazia emendas si lenciosas to prontam ente quanto o seu colega moderno.3 No h substituto para a familiaridade e a intim idade com os m todos de traduo e as caractersticas espe ciais de determinada verso, se quisermos avaliar de forma correta as diversas leituras. Em quarto lugar, as citaes que o N T faz do AT so, com freqncia, diferentes do texto hebraico padro. A explicao est, em parte, no fato de que os autores do N T citavam, com maior freqncia, de tradu es gregas, e, assim como hoje no h uma Bblia inglesa ou portuguesa padro, no ha via uma tradio-padro de Bblia grega naquela poca. No sculo I d.C. a chamada Septuaginta existia em vrias recenses, ou verses; os autores muitas vezes s tinham acesso a uma delas e geralmente se conten tavam em fazer citaes do seu exemplar, contanto que isso servisse satisfatoriamente a seu objetivo principal. Alm disso, h al guns lugares em que parece que os autores ou suas fontes fizeram uso de parfrases ara- maicas chamadas targuns. O rastreamento das citaes at as suas verses originais , em geral, cercado de muitas dificuldades e s pode ser facilitado por meio do bom co nhecimento das origens e do desenvolvimen to das verses antigas, em geral, e da tradio grega, em particular. O PENTATEUCO SAMARITANO O Pentateuco a nica parte das Escritu ras hebraicas que os samaritanos consideram cannica e investida de autoridade. Uma das conseqncias do cisma entre os judeus e os samaritanos foi que suas edies do Penta teuco foram transmitidas de modo indepen dente entre si, j a partir do sculo II a.C., no mais tardar. Mas embora no haja d vidas quanto antiguidade do Pentateuco 3A RSV em Isaas 2.6 traz dar as mos aos estrangei ros (NVI: fazem acordos com pagos). No h sinal de emenda do TM mudando byldy para bydy cf. filhos nas verses ARA e ARC, como o TM , para mos, na RSV. 20 35. As verses antigas Samaritano (denominado PS a partir de ago ra), ele no , nem de perto, to antigo quanto a comunidade samaritana sempre acreditou. Afirmaes inverossmeis so feitas especial mente em favor do rolo de Abisha;c diz-se que foi copiado por Abishua (ou Abisua), o bisneto de Aro (lC r 6.3,4), no dcimo ter ceiro ano da instalao dos israelitas em Cana. Isso, indubitavelmente, propagan da exagerada que visa a amparar as afirma es a favor da recenso samaritana contra sua rival judaica. Na verdade, o rolo consti tudo de duas partes costuradas. A cpia da parte mais antiga (contendo Nm 33.1 Dt 34.12) relativamente recente, pois foi feita no sculo XI d.C. A rigor, o PS na verdade no uma ver so, mas uma transcrio.4 Por ser a forma textual do Pentateuco que foi transmitida no norte de Israel, tem suas peculiaridades, mas suas discrepncias com a tradio massortica dificilmente podem ser consideradas subs tanciais. Pois, embora haja em torno de 6 mil diferenas entre o TM e o PS, muitas delas so meras variantes ortogrficas. Alm disso, o PS tem a tendncia de simplificar formas e construes difceis e, em geral, de fazer al teraes tpicas de textos populares.3 Algu mas das outras discrepncias do TM so resultado evidente de preconceitos e tendn cias sectrias em ao no PS. H vrias refe rncias, tanto explcitas quanto implcitas, a Gerizim, o monte sagrado dos samaritanos (cf. especialmente as interpolaes depois de Ex 20.17 e Dt 5.21). A inteno sempre apresentar Gerizim, e no Jerusalm, como o centro de adorao escolhido por Deus em Cana. Em muitos lugares as estimativas variam entre 1.600 e 2 mil , o PS concorda com a Septuaginta contra o TM; s vezes a evidncia conjunta dos dois pode ser usada para corrigir o TM, como em Gn 4.8, onde o TM no traz as palavras Vamos para o cam po (cf. nota de rodap na NVI). O PS, no 4S. J e l l ic o e . TheSeptuagintandModem Study. Oxford, 1968, p. 243. 5W r t h w e i n , op. cit., p. 32. entanto, no foi transmitido com a mesma preciso e fidelidade quanto o TM , e isso, em conjunto com a bvia colorao sect ria, responde