Comentário Sobre a Peça - Visitando o Sr. Green

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COMENTÁRIO SOBRE A PEÇA

Visitando o Sr. Green

Curso Superior de Teatro

Projeto Experimental IProf.ª Deborah Serretiello de Arruda Camargo

Lucas Cavalcante de Almeida R.A. 20732500São Paulo, 08 de outubro de 2015.

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O Espetáculo Visitando o Sr. Green, com aproximadamente 110 minutos de

duração, com a direção de Cássio Scapin, está na sua melhor fase. Foi a primeira

peça do dramaturgo Jeff Baron e teve mais de 500 produções diferentes. Peça

montada e premiada em diversos países, entre eles Grécia, Alemanha, México,

Turquia, Israel, Chile e Uruguai. Com certeza o texto que iniciaria toda a carreira

bem sucedida do autor.

As montagens brasileiras encarnaram com a mesma força vinda do exterior.

Contando com personagens vividas por grandes atores do nosso cenário, entre

eles Paulo Autran e o próprio diretor da nova montagem, Cássio Scapin.

Atualmente é encenada com Sergio Mamberti e Ricardo Gelli.

A peça surpreende pelos temas que aborda. Começa a partir de um

suposto acidente que ocorrera envolvendo as duas personagens mostrando o que

aquele acidente havia estipulado. O Sr. Ross Gardner (Ricardo Gelli) teria que

prestar serviços comunitários acompanhando a vida e possíveis traumas do Sr.

Green (Sergio Mamberti). Ninguém espera que temas como a homossexualidade

e outras questões íntimas de ordem religiosa e regionalista, de costumes e de

épocas seriam tratados e de forma tão natural e sem grandes pretensões.

O cenário é rico na naturalidade de um apartamento em Nova York.

Detalhes de louças e mesas, o design do apartamento é todo referenciado e muito

semelhante aos que podemos encontrar em seriados realistas e filmes nos quais

adentramos as casas inglesas.

Os personagens são reais e possíveis. O primeiro, um senhor que já viveu

momentos históricos e repugnantes junto a sua cultura judaica. E o outro, um

jovem rapaz que vive o dilema da não aceitação social por ser homossexual.

A trama é desenvolvida a longos passos. A princípio sem tanto

aprofundamento os personagens são apresentadas cada um ao seu modo. O Sr.

Green é uma pessoa difícil e não aceita de início a ajuda e os serviços que Ross

precisará lhe prestar. Ele é muito duro consigo mesmo e evitou qualquer forma de

contato com outras pessoas. Até então tinha como companheira a sua esposa,

mas após sua morte, não cozinhava e se quer arrumava, limpava o apartamento

em que vivia. Ross, que já havia aceitado a ideia do que precisaria fazer, vai aos

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poucos, a cada semana de encontro, mudando hábitos até então já cristalizados

pelo Sr. Green. Voltou a fazer as refeições e aos poucos começaram a criar uma

boa relação. Os problemas surgem apenas quando Ross se revela “gay” ao Sr.

Green e como se não bastasse descobre ainda cartas da suposta filha do Sr.

Green. Este nega e desvia o assunto até o fim e acaba por começar a aceitar

aquilo que Ross fala. Os dois tem uma grande discussão sobre todas essas

questões que junto às repressões sentidas por ambas as partes por fim, os coloca

do mesmo lado. Sr. Green ao fim, aceita a sugestão de Ross de ele deva procurar

sua filha para contar sobre o falecimento de sua mãe.

O enfrentamento das causas com o público é feito de modo reto. Ross não

era e não transparecia ser homossexual no início. E inclusive uma das defesas

feitas ao Sr. Green é que nem todo homossexual age como ele imaginaria que

fosse um. O jogo é limpo, o único que tinha algo a esconder era o Sr. Green. E era

claro o ato de se fechar para o mundo para se fixar em suas opiniões. Tanto que a

filha do Sr. Green mantinha contato com a mãe as escuras – com o contato

cortado pelo pai - mesmo depois de tudo que havia ocorrido entre eles.

A conquista da causa que cada um defende é mostrada através do modo

de lidar do Sr. Green com suas certezas absolutas da vida. A cada virada de

opinião, o público acompanha junto com Sr. Green e se empolga por ver que no

final ele busca um melhor caminho para lidar com suas emoções. O final que

simula o dia do encontro com a filha é emocionante. A filha não é apresentada na

cena, mas o bater da porta nos coloca num lugar de que “sim” até as mais

profundas verdades absolutas podem ser modificadas ou revisadas por conceitos

novos e ideias diferentes. Não é preciso nem entrar em um consenso sobre o

“certo” e o “errado”, somente as relações naturais de família e do ser humano já

dão conta de tudo.