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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE COMO EDUCAR EM VALORES NA ESCOLA Por: ADRIANA DE SIQUEIRA LEONARDO Orientador Prof. Ms. Marco A. Larosa Rio de Janeiro 2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

COMO EDUCAR EM VALORES NA ESCOLA

Por: ADRIANA DE SIQUEIRA LEONARDO

Orientador

Prof. Ms. Marco A. Larosa

Rio de Janeiro 2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

COMO EDUCAR EM VALORES NA ESCOLA

Rio de Janeiro 2004

Apresentação de monografia à

Universidade Cândido Mendes como condição

prévia para a conclusão do Curso de Pós-

Graduação “Lato Sensu” em Psicopedagogia.

Por: Adriana de Siqueira Leonardo.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Universidade Cândido Mendes pelo

curso de Psicopedagogia, aos colegas e professores, que

participaram junto comigo de mais esta jornada.

Agradeço ao meu orientador pelo apoio inestimável,

auxiliando-me na elaboração deste trabalho.

Agradeço principalmente a Deus pelo dom da vida, e

pela presença amorosa que me anima e me sustenta,

conduzindo cada passo da minha caminhada.

O Senhor fez em mim maravilhas, SANTO É O SEU

NOME!

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus filhos Franklin e

Filipe que me inspiraram neste tema.

Ao meu marido, César, pela paciência dedicada a

mim, e a minha mãe Catarina, pois sem ela nada disso

seria possível.

A todos vocês o meu muito obrigado.

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“A humanização do homem, que é a sua libertação

permanente, não se opera no interior da sua consciência,

mas na história que eles devem fazer e refazer

constantemente”.

Paulo Freire

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RESUMO

Pretendo com este projeto desmistificar a idéia que ainda reina em nós

educadores que há um tempo para a formação e outro para a informação, ou

seja, buscarei a quebra deste paradigma. Por conseguinte, conscientizar os

futuros educadores da importância de formarmos cidadãos, no sentido

etimológico da palavra, levando-os a refletir sobre o tipo de cidadão que

almejam formar.

Chamarei a atenção deles para o importante papel que um professor

exerce na vida de seus educandos, direta ou indiretamente, no processo de

crescimento e da construção de sua personalidade, e como, pelo contrário, os

movimentos podem ser exercidos sobre estes educandos tolhendo-lhes e

sendo prejudicial; impedindo ou dificultando o processo de construção de sua

personalidade.

Mostrarei que para uma formação integral dos alunos é necessário que

os professores atuem no processo construtivo e informativo da educação,

visando à orientação e à formação de cidadãos com espírito consciente e

crítico, com tomadas de decisões rápidas e eficazes, como exige o convívio

social.

Que os professores possam ser estimuladores da construção da

sociedade, a partir do projeto educativo indispensável para que a humanidade

progrida em direção aos ideais de liberdade, paz e justiça social. Sabendo que

a parceria escola / família, escola / comunidade é vital para o sucesso do

educando. Espero que a pesquisa aqui feita sirva de estímulo para a prática

educativa de professores comprometidos com a formação do caráter do aluno.

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METODOLOGIA

“Se alguém, ao ler este texto, me perguntar, com irônico sorriso, se acho que, para mudar o Brasil, basta que nos entreguemos ao cansaço de constantemente afirmar que mudar é possível e que os seres humanos não são puros espectadores, mas atores também da história, direi que não. Mas direi também que mudar implica saber que fazê-lo é possível”. Paulo Freire

Pretendi com este trabalho mostrar o dia-a-dia do professor, utilizando

minha experiência e também de outros professores , o papel que desempenha

e /ou deve desempenhar o professor na formação do aluno. Para isso, elaborei

uma pesquisa que inclui depoimentos de alunos e de professores, discutindo o

tema proposto e a importância de cada um (professor e aluno) dá ao tema. Por

exemplo, não é raro, muitas vezes, o professor representar um papel mais

importante nas vidas de seus alunos do que sua própria família, de onde estes

alunos absorvem os seus conceitos e, por conseguinte, formam o seu caráter.

O tempo que o aluno convive com o professor deve ser valorizado. A

Convivência cria-se, desenvolve-se e cultiva-se; não é algo que nos seja dado;

exige tempo, cuidado e, sobretudo presença, estar com e sentir com o outro.

O interessante nesse processo é que a construção de tal caminho

muda tanto os que fazem como aqueles a que se destina. Aprender a viver

juntos, “a conviver”, desenvolve pontencialidades do ser mais profundo e

originário da pessoa. Dessa ótica, podemos criar e recriar uma cultura genuína

de paz, da tolerância e da democracia.

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A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica sobre o tema,

utilizando livros, artigos, pesquisa e textos reflexíveis sobre o tema.

Procurei mostrar aos professores e alunos através de textos reflexivos

que esta pesquisa tem como objetivo ensinar a conviver em sociedades

democráticas, ou seja “aprender a viver juntos”, a dialogar, a estar com o outro,

a valorizá-lo e a desfrutar de sua companhia. Que a educação tem que se

preocupar com a formação integrada de valores. Que devemos preparar os

jovens para que se envolvam ativamente na vida civil e política, participem de

eleição de seus líderes e do controle destes, assim como da tomada de

decisões para a melhoria individual e social das condições de vida.

A educação em valores é uma tarefa complexa, cheia de riscos e

incertezas, para a qual se necessita de uma formação adequada, assim como

acalentar conscientemente a idéia de que é possível a mudança e a melhoria

da sociedade.

A educação às vezes fracassou porque nos esquecemos do

compromisso com a ação e também das urgências que a realidade do dia-a-dia

apresenta aos professores. A ação sempre teve um papel prioritário na

dimensão educativa. Esse tema não é novo, pois já Aristóteles, em sua Ética a

Nicomano (II,2), expressa-se desta maneira: “Tudo o que temos a fazer depois

de Ter aprendido, nós aprendemos fazendo”.

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SUMÁRIO

Introdução .............................................................................................................10

Capítulo I – Valores e Educação...........................................................................17

Capítulo II – Os valores no currículo formativo .....................................................31

Capítulo III – Os valores institucionais das escolas ..............................................45

Capítulo IV – Os valores na ação pessoal dos professores..................................58

CONCLUSÃO .......................................................................................................67

BIBLIOGRAFIA .....................................................................................................72

ANEXOS ............................................................................................................... 74

ÍNDICE.................................................................................................................. 87

FOLHA DE AVALIAÇÃO....................................................................................... 89

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INTRODUÇÃO

Venho do sopro do Espírito que Deus deu ao homem e sou fruto do

amor de duas pessoas. Recebi o nome de Adriana. Fui criada numa família

com dois irmãos onde a mãe é dona de casa e o pai metalúrgico.

Cresci num ambiente estruturado, pois comecei cedo na escola. Era

uma excelente aluna, tinha respeito aos meus professores e amava estudar,

tinha um sonho de tornar-se advogada quando crescesse. Terminei o primário,

depois o ginásio e depois fiz o 1º ano básico não tinha certeza do que iria fazer,

afinal já estava trabalhando para ajudar em casa. Só tinha certeza de uma

coisa: eu não queria mais ser advogada.

Muitos fatos aconteceram na minha vida e que me fizeram detestar essa

profissão. Decidi, por sugestão da minha mãe, fazer o curso normal, e aí eu

descobri que ser professora seria a minha vida. Estagiei em uma escola com

as crianças do maternal e percebi como era maravilhoso estar no meio delas,

sentindo as suas aflições, alegrias, esperanças, sonhos e tomando,

diariamente, um banho de sinceridade.

Eu me encantei, me apaixonei e me vi enamorada pela profissão que

havia escolhido. Logo depois que assumi a turma fiquei extremamente feliz. É

incrível o poder encantador que as crianças têm. As vezes eu chegava com

problemas mas ao me deparar com aqueles olhinhos sinceros, para mim é

como se um enorme refrigério inundasse o meu ser e dava uma sensação de

paz inexplicável.

Infelizmente não pude continuar naquela escola, tive que sair e ao sair

parecia que um pedaço de mim tinha ficado. Parecia que eu estava sem chão,

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mas graças à Deus tudo passou, logo me recuperei e dei continuidade a minha

vida.

Entrei para a faculdade de letras e logo comecei a trabalhar em uma

escola no centro do Rio. Fiz uma prova e dentre tantos professores eu

consegui a vaga. Lecionei os dois turnos na Classe de Alfabetização dessa

escola substituindo uma professora que estava de licença maternidade.

A experiência foi ótima, mas muito cansativa, acordava muito cedo,

enfrentava um trânsito caótico no percurso Rio/Caxias, e na volta a mesma

coisa. Depois ainda tinha que pegar uma outra condução para chegar até a

faculdade. E assim fui levando amando cada dia mais a minha prática escolar e

aprendendo mais e mais a cada dia. Só que de repente o pânico me fez deixar

a faculdade de Letras, um dia ao sair da Faculdade, já chegando em casa, a

rua era um pouco deserta e o ônibus me deixava no centro. Eu tinha que andar

mais ou menos uns dois quilômetros. Um rapaz bonito estava andando atrás de

mim. Num primeiro momento pensei tratar-se de uma paquera. Só que na

verdade não era um Dom Juan. Quando atravessei a rua ele imediatamente

atravessou e acelerou o passo, passando assim a minha frente. Pensei que

queria falar comigo, mas ele me abordou com uma arma engatilhada em minha

barriga. Pensei, então que era um assalto só que na verdade não era. Ele me

confundiu com uma tal de Andréia e queria me levar para uma rua escura, creio

que para me maltratar, mas a Graças a Deus ele percebeu o engano e me

deixou praticamente na porta de casa.

Por esse motivo eu larguei a faculdade. Continuei trabalhando naquela

escola, mas as fofocas logo me desestimularam, o clima era extremamente

competitivo, não havia um trabalho em equipe, não havia respeito entre os

colegas de trabalho e, pior, todo esse atrito era causado pela dona da escola,

que não queria a sua equipe trabalhando em conjunto para que juntas não

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tivéssemos forças para questionar nada e sim aceitar tudo que fosse imposto

por ela.

Eu me desentendi com a dona da escola porque ela aprovou um aluno

meu que eu julgava sem condições, não respeitando a minha avaliação

enquanto profissional. Esses motivos me levaram a sair de lá, não fui demitida

eu me demiti, não consigo imaginar um local de trabalho que me cause

desprazer, prefiro sair.

Após um ano voltei para a Faculdade de Letras e fiz uma prova para

trabalhar no CIEP (Centro Integrado de Educação Pública). Como só havia

vaga para estagiar à noite, por causa da faculdade não foi possível

compatibilizar horário. Na primeira tentativa não passei porque fiz uma redação

que contrariava a idéia do construtivismo. Logo depois tive outra chance e fiz

outra prova exaltando o construtivismo e o resultado foi o esperado, fiquei em

segundo lugar. Pude, então escolher o horário de trabalho e

conseqüentemente a escola.

Escolhi o CIEP 126 Wilson Macedo que ficava em frente a faculdade, lá

aprendi na prática a responsabilidade e o poder que o professor tem de usar a

educação como instrumento de intervenção no mundo. Como diz Paulo Freire,

“Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no

mundo”.

Pude perceber que o papel do professor é um ato político, e por ser um

ato político, não se pode ser professora se não se percebe cada vez melhor

que não pode ser neutra, a prática pedagógica exige uma definição. Uma

tomada de posição, uma decisão. Exige que escolha entre isto e aquilo.

Tive o privilégio de trabalhar neste CIEP com uma diretora que era na

prática o que eu conhecia na teoria. Uma diretora comprometida com a sua

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profissão, que nos mostrava o tempo todo que a mudança era possível, que ser

educadora é ser a favor da esperança contra qualquer tipo de discriminação,

que ser professora era um ato de risco, mas que só se arrisca quem tem

coragem para transformar. Fui extremamente feliz por ter trabalhado ao lado de

uma mulher vitoriosa, que em meio as tempestades, com sabedoria, fazia com

que seu grupo superasse qualquer obstáculo.

Lembro-me de um fato que aconteceu naquele CIEP. Era um dia lindo

de sol quente, estávamos reunidas para discutir, entre outras coisas, as faltas

que estavam ocorrendo com freqüência com alguns de nossos alunos nas

sextas-feiras. Descobrimos que o motivo era um lugar chamado “poção” e que

os alunos deixavam de ir a escola para namorar nesse lugar. A nossa diretora

já havia esquematizado tudo, sugeriu que fôssemos até este lugar para que

pudéssemos ver de perto como era e porque atraía tanto nossos alunos. Após

sugestão fomos conhecer o local, claro que algumas professoras detestaram a

idéia mas outras, que de fato tinham comprometimento, adoraram.

Andamos muito até chegar ao local. Ao chegar nos surpreendemos com

o que vimos; um lugar feio, um buraco enorme com água de chuva acumulada,

um lugar propício à doenças e que era usado como motel e para o uso de

drogas. Ficamos perplexas. Não posso esquecer dessa experiência grandiosa

que vivi e que me mostrou uma realidade que eu desconhecia, afinal somos

preparadas para trabalhar com um padrão de criança, com um modelo de

família (papai, mamãe, irmão) como se todas fossem iguais e tivessem as suas

estruturas bem fortalecidas.

Não somos preparadas para lidar com a realidade, nem os livros

didáticos abordam tais questões que permeiam a vida das crianças com as

quais lidamos. Por esse motivo que a educação idealizada se distancia da

prática, é muito importante conhecer e entender a realidade em que nossa

escola está inserida para que possamos, de fato, trabalhar com um significado

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para o nosso aluno. Conhecendo-o você dará a ele subsídios necessários para

a superação daquilo que for preciso. Não consigo ver uma educação de

qualidade se ela não der ao seu aluno condições de perceber o mundo que o

cerca; que ele é peça fundamental neste processo; que o futuro depende dele

como cidadão comprometido com os seus deveres mas conhecendo os seus

direitos e participando da construção do que seria direito e dever; que até a

sustentabilidade do planeta depende de suas decisões. Enfim, uma educação

que pense em formar futuros homens e mulheres para um mundo melhor e

mais humanizado.

Quando voltamos do “poção” tivemos várias idéias que colocamos em

prática e que conseguimos em um trabalho de equipe, afastar nossos alunos

daquele local. Fizemos várias atividades, palestras, mobilizamos a comunidade

e vimos que o resultado foi melhor do que esperávamos. Trabalhar naquela

escola foi um prazer incomparável. Amo aquela diretora, ela deixou em mim,

como em tantas outras muitas e grandes lições de valores.

Casei e saí do CIEP e da faculdade, mas algo em mim batia mais forte.

Era o grande desejo de abrir uma escola, que eu pudesse trabalhar do meu

jeito, pudesse ensinar aquilo que eu acredito ser a base de nossa existência,

que é o amor, o respeito, a solidariedade. Paulo Freire diz que ensinar exige

querer bem aos educandos, que jamais a educação deve ser uma experiência

fria, sem alma, que a prática educativa é como um exercício constante em

favor da produção e do desenvolvimento da autonomia de educadores e

educandos. Portanto, somos seres programados, tanto para aprender como

para ensinar, para conhecer e para intervir.

O autor de Pedagogia da Autonomia no capítulo 3 – 3.9, “Não nega a

competência, por outro lado, de certos arrogantes, mas lamento neles a

ausência de simplicidade de que, não diminuindo em nada seu saber, os faria

gente melhor. Gente mais gente”.

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Abri a minha escola e entrei na faculdade de Pedagogia. O

conhecimento que adquiri é o meu maior prêmio, ninguém pode tirar de mim, é

meu porque também forjado minha prática. O motivo que me levou a escolha

do tema: “Como educar em valores na escola”, é justamente por tudo que vivi

na minha prática escolar enquanto professora, tudo que vivi e vivo enquanto

estudante de pedagogia e tudo que vivi e vivo enquanto diretora de uma

escola. A falta de solidariedade, de amor, de responsabilidade faz com que

queremos pouco, menos do que poderíamos.

É necessário uma educação comprometida com esses valores, que

contribua para que o mundo seja melhor, que o mundo saia do caos que está,

que a sociedade seja melhor, a sociedade está em coma e é necessário

reverter este quadro. Segue em anexo um desabafo de uma mãe, mostrando

sua indignação com o descaso da sociedade com a formação do caráter das

crianças e a inversão de valores. Este relato foi feito pelo Jornal da cidadania 1

a 31 de maio de 97. Por isso, desejei muito trabalhar este tema em minha

monografia.

No primeiro capítulo falarei de valores e Educação, que é impossível

separar educação de valores, pois a própria prática educativa é um valor. No

segundo capítulo abordarei a importância dos valores no currículo formativo, as

escolas devem explicitar tais valores, com temas transversais e projetos. No

terceiro capítulo estarei fazendo uma análise que não adianta só querer educar

em valores é necessário que a prática educativa dessa instituição seja coerente

com os valores que deseja transmitir, que verdadeiramente haja coerência

entre o que é dito e feito. No quarto capítulo estarei abordando sobre a

importância do papel do professor na formação do aluno, já que o mesmo é um

referencial e até mesmo um modelo a ser seguido pelo aluno.

Vivemos um momento de intolerância e de desrespeito, e os professores

podem dar uma resposta neste momento, situando os jovens diante da

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realidade e orientando-os na busca e análise dos fatos. Precisamos recuperar

o diálogo e a amizade e lutar com todas as forças contra o preconceito, a ira

mais que nunca, precisamos exercer nossa capacidade de lidar com as

diferenças, pois se soubermos aguçar o olhar da garotada, esse jeito de

ensinar trará à tona a importância da educação para os valores.

Os valores que acompanham as sociedades são como um código de

ética, grandes orientações, mais ou menos gerais, que cada sociedade estipula

para seus membros. De forma compatível com o seu momento histórico e com

sua produção cultural, cada grupo social desenvolve um conjunto de valores

relativamente coerentes. Já faz parte do senso comum dizer que a nossa

sociedade está em crise e esta crise passa por fatores econômicos, sociais,

culturais e, naturalmente, atinge seus valores. Esse movimento dinâmico das

sociedades exige uma resposta das instituições que a compõem. Nesse

contexto, qual o papel da escola na transmissão e questionamento dos valores

da nossa cultura?

Existem valores universais independentes das culturas? A escola pode

ou deve se comprometer com tais valores? Que valores são desejáveis. Como

eles podem ser inseridos em um currículo escolar? Buscarei nesta monografia

enfrentar tais questões, não de forma definitiva, mas de maneira abrangente.

Acredito que a escola precisa estar sintonizada com os movimentos sociais e

atenta às transformações que estes movimentos apontam. Uma das funções

que a sociedade delegou à escola é a transmissão de valores que lhe

identificam, caracterizam e permitem a vida em grupo. Espero que os pontos

aqui abordados permita a reflexão a partir de diferentes olhares. “O que mais

dói no coração é saber que poderemos, em breve, estar visitando as estrelas e

outros planetas sem termos aprendido a viver juntos aqui na terra como amigos

e irmãos.” (autor desconhecido)

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CAPÍTULO I

VALORES E EDUCAÇÃO

“A educação não é a única salvação, mas não há salvação sem ela.”

(Paulo Freire)

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CAPÍTULO I – VALORES E EDUCAÇÃO

Dizer que não há educação sem valores não deixa de ser uma

redundância: a educação trata justamente dos valores. Mas dito isso, o certo é

reconhecer que o dilema não está entre valores sim ou valores não, mas sim

entre quais valores e de que maneira se pode ter acesso a eles por meio dos

mecanismos de influência que, supõe-se, as escolas e os educadores

possuem.

Nenhuma concepção de educação tem sentido se não está

comprometida com valores. São essas grandes orientações que ajudam a dar

sentido à vida, a formar-se como pessoa ajustada, responsável e

comprometida. Este é sem dúvida, um dos grandes problemas da Educação

nos dias de hoje, que tornaram confusos e vagos esses perfis sutis do que há

por trás da boa educação. Ir à escola não deve significar apenas que se

aprendem coisas para esquece-las em pouco tempo. Ir à escola deve significar

ter oportunidades para formar-se, para desenvolver-se como pessoa, para ir

crescendo em todas as dimensões humanas não apenas no conhecimento,

mas também nas atitudes e no afeto, na imaginação, no respeito aos demais,

na curiosidade, no apreço por si mesmo e pelo que nos rodeia, na capacidade

de assumir compromissos.

Acredito, sinceramente, que a questão dos valores é um aspecto crucial

de uma boa educação. É também um tema complicado, porque os valores que

possuímos nem sempre são coincidentes com os de outras pessoas, em

muitos casos podem sar lugar a divisões na comunidade educativa. Por isso, a

primeira distinção a ser feita é entre valores básicos e genéricos (comum a

todos e parte essencial de toda a educação) e valores opcionais (igualmente

valiosos, mas que correspondem ao compromisso particular que cada pessoa,

família ou grupo está disposto a ouvir).

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Algumas pessoas, por exemplo, possuem fortes convicções religiosas e

gostariam que seus filhos e filhas fossem educados na mesma orientação

religiosa. Outros, pelo contrário, preferem manter uma postura distante em

relação à religião, mas desejariam que seus filhos tivessem uma educação

fortemente comprometida com as posturas ideológicas ou políticas que elas

mesmas possuem.

Mas junto com esses valores existe outro conjunto de posicionamentos

em relação aos quais a oposição das escolas, de todas as escolas, não pode

ser senão de aceitação e de claro compromisso educativo. São os valores que

refletem a particular sensibilidade que a escola deve ter em relação a certos

problemas do momento. Nesta ocasião, deve-se mencionar o compromisso das

escolas com umA educação que estimule a autonomia dos alunos; que os

oriente para o respeito a si mesmo e aos demais, para a solidariedade, para o

compromisso com os mais frágeis, que os prepare para respeitar a natureza,

ser sensíveis ao multiculturalismo, para fazer o que estiver ao seu alcance para

trabalhar pela paz e pela igualdade entre os povos e as pessoas.

São aspectos com os quais estamos todos de acordo quando falamos

deles, mas costumamos ter mais problemas quando se tenta articula-las e

coloca-las em prática nas escolas. Neste caso, as escolas não podem ceder

nunca, inclusive mesmo que o contexto social na qual se situam se mova em

outra direção ou mantenha uma orientação diferente.

Li um caso na revista “Pátio” que há alguns anos, o diretor de uma

escola pública espanhola preferiu fecha-la (por alguns dias) a ceder diante dos

pais que se negavam levar seus filhos à mesma escola freqüentada por uma

criança portadora do vírus da AIDS. Ele defendia, com razão, que a escola não

podia negar-se a aceitar essa criança e que isso não significava riscos para os

demais. Os pais insistiam no contrário, mas ele não cedeu. Acreditava que o

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valor do direito de toda criança a procurar uma escola deveria prevalecer sobre

os temores e movimento de exclusão da comunidade.

O mesmo se deveria dizer em relação a questões relativas à

solidariedade (em um mundo tão competitivo), à igualdade (quando o próprio

mundo está marcado por tantas diferenças entre sexo, entre classes sociais,

entre culturas), ao cuidado e respeito pelo próprio corpo (apesar da sedução

das drogas) etc.

A escola não pode fazer milagres, mas tão pouco deve renunciar ao

cumprimento de sua função formadora, seja qual for o meio social e cultural no

qual se move.

Este conjunto de valores não é opcional, pelo menos no que se refere ao

compromisso da escola, é na minha opinião um dos aspectos básicos no

momento de valorizar a qualidade de uma escola. Com quais valores está

comprometida a ação educativa? Em que se nota esse compromisso?

Estamos diante de um grande desafio de futuro no mundo da educação.

Nos últimos anos, muitos professores renunciaram a ser educadores e limitam-

se a explicar suas matérias. Mas isso deixa o ensino sem um de seus

componentes básicos: formar-se não é apenas aprender, mas também

melhorar como pessoa.

Sabemos que existem quatro pilares básicos da educação que é:

aprender a conhecer (não apenas aprender coisas, mas também aprender a

aprender, porque a formação continuará durante toda a vida); aprender a fazer

(de forma que sejamos cada vez mais capazes de resolver os problemas

práticos da vida e melhoremos nossas competências técnicas em um mundo

que colocará à nossa disposição muitos e os mais variados recursos); aprender

a viver juntos, a viver com os demais, respeitando o outro (como é importante

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isso para que possamos falar em educação!); aprender a ser (de que serve

todo o restante, se ao final não somos capazes de desfrutar de nós mesmos e

da vida? Nosso principal compromisso é desenvolver todas as nossas

capacidades, inteligência, afeto, sensibilidade, compromisso, honestidade,

gosto pelas coisas, etc.). Esta é a primeira característica de uma boa educação

e deve ser, portanto, a primeira qualidade de uma escola que seja de

qualidade.

Por isso é que digo que a educação não é mero conhecimento, é ação.

Significa a prática de valores humanos na vida diária, e não apenas as

palavras: verdade, retidão, paz, amor e não-violência. É preciso haver uma

perfeita harmonia entre pensamento, palavra e ação. Deve haver unidade entre

coração e mãos: estes são os verdadeiros valores.

1.1 - O QUE SÃO VALORES

“Um homem do povoado de Neguá, na costa da Colômbia, pôde subir ao alto do céu. Na volta, contou que havia contemplado, lá de cima, a vida humana. E disse que somos um mar de foguinhos.

– O mundo é isso, revelou.. Um montão de gente, um mar de foguinhos. Cada pessoa brilha com luz própria entre os demais. Não há dois fogos iguais. Há fogos grandes, fogos pequenos e fogos de todas as cores. Há pessoas de fogo sereno, que nem percebem o vento, e pessoas de fogo louco, que enchem o ar de faíscas. Alguns fogos, fogos bobos, não iluminam e nem queimam, mas outros ardem na vida com tanta vontade que não se pode vê-los sem pestanejar, e quem se aproxima se acende.”(Galeano, El Libro de Los Abrazos, Siglo XXI)

Diante de pessoas e coisas, estamos constantemente fazendo juízos de

valor. Esta caneta é ruim, pois falha muito. Este moço é atraente. Este vaso

pode não ser bonito, mas foi presente de alguém que estimo bastante, por isso,

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cuidado para não quebrá-lo! Gosto tanto de dia chuvoso, quando não preciso

sair de casa! Acho que José não está ajudando você.

Isto significa que fazemos juízos de realidade, dizendo que esta caneta,

este moço, este vaso existem, mas também emitimos juízos de valor quando o

mesmo conteúdo mobiliza nossa atração ou repulsa. Nos exemplos acima

referi-me, entre outros, à valores que encarna, a utilidade, a beleza, a bondade.

Mas o que são valores? Embora a preocupação com os valores seja tão

antiga como a humanidade, só no século XIX surge uma disciplina específica, a

teoria dos valores ou axiologia (do grego axios, “valor”). A axiologia não se

ocupa dos seres, mas das relações que se estabelecem entre os seres e o

sujeito que os aprecia.

Diante dos seres somos mobilizados pela afetividade, somos afetados

de alguma forma por eles, porque nos atraem ou provocam nossa repulsa.

Portanto algo possui valor quando não permite que permaneça, os indiferentes.

Os valores são, num primeiro momento, herdado por nós.

O mundo cultural é um sistema de significados já estabelecidos por

outros, de tal modo que aprendemos desde cedo como nos comportar à mesa,

na rua, diante de estranhos; como, quando e quanto falar em determinadas

circunstâncias; como andar, correr, brincar; como cobrir o corpo e quando

desnuda-lo; qual o padrão de beleza; que direitos e deveres temos. Conforme

atendemos ou transgredimos os padrões, os comportamentos são avaliados

como bons e maus.

A partir da valorização, as pessoas nos recriminam por termos seguido

as formas da boa educação ao não ter cedido lugar à pessoa mais velha; ou

nos elogiam por sabermos escolher as coisas mais bonitas para a decoração

de um ambiente; ou nos admoestam por ter faltado com a verdade. Nós

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próprios nos alegramos ou nos arrependemos ou até sentimos remorsos

dependendo da ação praticada. Isso quer dizer que o resultado de nossos atos

está sujeito à sanção, ou seja, ao elogio ou à reprimenda, à recompensa ou à

punição, nas mais diversas intensidades, desde “aquele” olhar da mãe, a crítica

de um amigo, a indignação ou até a coerção física (isto é, a repressão pelo uso

da força).

Quando criamos valores, não o fazemos para nós mesmos, mas

enquanto seres sociais que se relacionam com os outros. Os valores são como

os Deuses da antiga Grécia, ou seja, como grandes e contraditórias fontes de

energia e de força que movem as pessoas e os grupos em uma direção ou

outra. Estimulam-no, dão-lhe força, salvam-no, mas podem também destruí-lo.

Os valores que assumimos e a forma como os vivemos são o que fazem de

nós esses foguinhos, no início desse capítulo, dos quais determina seu vigor e

sua capacidade de contagiar. No fundo, embora não sejam algo especialmente

nítido e consciente, não podemos mover-nos sem eles, e, de uma maneira ou

de outra, impregnam o que fazemos, dão-lhe um certo sentido.

Por isso, o tema valores foi e será um tema chave em qualquer processo

de ação e de reflexão sobre as pessoas e suas ações: desde a religião à

filosofia, desde o pensamento social às doutrinas econômicas e políticas,

desde a educação à psicologia. Em geral, tudo está envolto em valores que

dão sentido às idéias e às propostas que em cada âmbito são estabelecidas.

Os valores humanos não são possíveis de serem obtidas de um texto e

nem fornecidas por qualquer companhia, não podem ser presenteadas por

amigos e nem compradas no mercado. São uma atitude natural que provém do

oração. Estão presentes naturalmente em nós.

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1.2 - POR QUE E PARA QUE UMA EDUCAÇÃO EM VALORES.

“Integrar na educação normal formal e aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.” (Candau, Vera)

Falar em educação em valores na escola pode parecer um discurso um

tanto retrógrada, pois sempre foi difundido por determinadas instituições

docentes, em sua maioria privadas.

Hoje, podemos garantir que a preocupação pelos valores é algo latente

em todos os sistemas educacionais internacionais. O motivo é que, em

diferentes âmbitos de nossa sociedade, percebe-se uma preocupação

generalizada por fomentar uma postura de atuação que sirva para estabelecer

as bases de convivência de nossa sociedade. Quando esta sente alguma

necessidade ou tem consciência de algum problema, reclama exige alguns

códigos ontológicos que organizem as pautas de comportamento ético de seus

integrantes e é assim que aparecem códigos éticos nos diferentes campos

profissionais: meios de comunicação, medicina, direito, etc.

Esse enfoque da sociedade também projeta na escola responsabilidade

sobre o sistema educacional, esperando que dele surjam alternativas e

compromissos apresentados por nossa sociedade, seja ela mais próxima ou

mais distante.

Esses problemas com os quais a escola deve comprometer-se

aparecem mediadas por alguns conhecimentos do momento presente; por um

lado, as constantes mudanças de nossa sociedade, originados de um maior

pluralismo e de uma maior diversidade e, por outro, as mudanças em nossos

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alunos, motivados por formas de se comportar diante dos diferentes conflitos

sociais.

Diante desses condicionantes, a escola não pode permanecer

impassível e, embora sejam atribuídas responsabilidades que por serem

excessivos tornam-se inalcançáveis, ela deveria assumir plenamente sua

função educativa. Isso nos leva a questionar o que entendemos por educação.

Relacionar a educação com valores tem muito a ver com a qualidade de

ensino. Qualidade não significa apenas nas salas de aula, mais bibliotecas,

mais recursos tecnológicos, mais laboratórios – aspectos estes quantificáveis e

mais caras - , mas também uma educação em valores, embora seja a parte

mais barata e às vezes mais altruísta da educação.

Portanto, devemos parar para pensar sobre o que entendemos por

educação. Segundo Paulo Freire o essencial da educação é o diálogo que

compartilha e provoca; que o educar como o ensinar a viver, relacionando o

educar com a ética, não tanto com as grandes teorias, mas com uma

aprendizagem de vida que contribua para o desenvolvimento do indivíduo em

sua socialização, tarefa difícil, dizia ele mas possível de mudar para melhor o

homem e a sociedade. Isso implica uma educação mais humanizada, o

compromisso de conciliar ciência e humanismo, aproximando o científico e a

disciplina, que são adquiridos de forma sistemática, que conformam o saber ao

“aprender a ser”, dos saberes que emanam espontaneamente da realidade e

das experiências, que são adquiridas de forma sistemática e que são mais

complexas e diversificadas.

Fazer uma síntese equilibrada entre o “aprender a aprender” e o

“aprender a ser” seria válida para responder ao “para que” da educação. Por

trás do discurso de qualidade de ensino estaria essa tarefa humanizada, de

educação em valores.

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Devemos estar muito atentas a quais são os valores determinantes

existentes em nosso país, para, em primeiro lugar, termos consciência de que

existem regiões, países e quase continentes inteiros onde a vida humana

desenvolve-se em condições socialmente dramáticas. Do mesmo modo,

devemos ser sensíveis às normas, às relações e às inter-relações que os

alunos constroem e utilizam na escola, normalmente como contrapeso

daquelas que gostaríamos que assumissem.

Nesse sentido, será necessário levar adiante um projeto compartilhado e

definir quais valores devem ser potencializados e quais contravalores devem

ser erradicadas, não somente em relação à sua formulação mas também em

relação as atitudes concretas derivadas de ambas.

Esses valores não podem ser outros senão aqueles que regulam nosso

sistema de convivência e que definem a finalidade principal de nossa educação

favorecer nos alunos o pleno desenvolvimento da personalidade que configura

o ser pessoa.

Devemos adotar posturas em relação aos problemas atuais que tenham

repercussão na escola e, diante desses problemas, não podemos ficar na

indefinição total e contínua.

Em síntese, educar na dimensão moral da pessoa significa educar sua

autonomia, sua racionalidade, sua capacidade de diálogo, a fim de que

construa princípios e normas que atuem sobre seu conhecimento e sobre sua

conduta, que envolvem o pensar e o agir de cada ser humano, para que,

respeitando a liberdade de todas as pessoas, sua maturidade ética seja

possível. (Vide anexo1)

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1.3 - COM QUAIS VALORES DEVE ESTAR COMPROMETIDA A

AÇÃO EDUCATIVA

“Como posso continuar falando em meu respeito ao educando se o testemunho que a ele dou é o da irresponsabilidade.” (Paulo Freire)

A mensagem educativa, hoje, não mais se realiza apenas em um única

direção (professor-aluno), é multidimensional. A criança encontra-se num

mundo em transformação, no qual outros elementos, como a família, a turma, o

bairro, os amigos e os meios de comunicação social desempenham um papel

importantíssimo e proporcionam uma infinidade de informação.

A escola deve oferecer aos alunos propostas éticas, não porque os

educadores se consideram capazes de transformar a sociedade, mas porque

só assim estarão educando para a paz e para a liberdade responsável e,

portanto, preparando para a vida, forjando um projeto nobre e digno, que parta

de uma verdadeira educação em valores. No entanto, ainda existe ações

educativas escravizantes, que transformam os alunos em seres passivos,

resignados, sem criatividade e sem participação, enche-os de conhecimentos,

mas não os ensinam a pensar de maneira crítica, a raciocinar e a crescer

enquanto pessoas...

Hoje precisamos educar para a tolerância, para a saúde. Mas isso é

difícil porque não se aprende paz, saúde e tolerância para dar aulas; são

valores legados pela vivência, e para vive-las devem significar valores sociais,

visivelmente acima de todas as coisas. Não se pode educar para a paz dando

gritos, ou para a saúde com um cigarro na boca, ou para a tolerância com

atitudes intransigentes. A educação através da percepção é o melhor caminho;

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os alunos devem perceber no seu ambiente primeiro no professor que esses

valores são do próprio sistema de vida e que formam a base da sociedade.

O professor forma com o exemplo (FREIRE). A escola deve ter uma

prática educativa que leve a vinculação da ética com a educação, precisa criar

um novo estilo na qual a pessoa possa aprender a conviver consigo mesma, a

sentir amor, a desenvolver interesse e gosto pela cultura e pela vida.

Como a escola é o espaço capaz de contribuir ativamente para esse

aprendizado, deve implementar uma reforma educativa que vise à melhora da

qualidade de ensino e que impulsione com clareza os fins essenciais da

educação; pleno desenvolvimento da personalidade; educação integral em

conhecimentos, aptidões e valores em todas as áreas da vida pessoal, familiar,

social e profissional. Cito abaixo alguns dos valores universais que devem

estar comprometida com a ação , aqueles que humanizam o homem e que faz

deste um contribuinte para uma sociedade mais justa, onde, com certeza

poderemos conviver em harmonia.

1 – Ser solidário: Solidariedade é um laço que nos vincula aos outros

indivíduos. Hoje é uma palavra de ordem para a harmonia social. Prestar o

bem aos semelhantes, ajuda-las, mostrar compreensão, honestidade e

preocupação com as pessoas.

2 – Ter respeito: seja no trânsito, na escola, no trabalho, na rua ou

dentro do ônibus, respeitar as outras pessoas é princípio básico para também

ser respeitado. Não esquecendo que a liberdade de uma pessoa termina onde

começa a liberdade de outra.

3 – Ser sincero: Quando buscamos a confiança de outras pessoas,

devemos ser sinceros em tudo o que fazemos, em nossas palavras, em nossas

ações e em nossos pensamentos. Na sinceridade não existe espaço para a

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hipocrisia, para a mentira, para a falsidade e para a traição. Sendo sinceros,

ganhamos a lealdade, a confiança e mais facilmente a amizade de outros.

4 – Dizer sempre a verdade: Dizendo a verdade ganha-se confiança.

Pela confiança, ganha-se a amizade. A harmonia e o progresso social

dependem e muito dessas qualidades.

5 – Cooperar: Participar é sempre fundamental. A cooperação mútua

entre as pessoas de bons valores constrói caminhos de esperança para toda a

sociedade.

6 – Não agredir o seu semelhante: Seja por palavras ou mesmo por

agressão física, violência sempre gera mais violência. Devemos sempre dizer

não a qualquer tipo de violência ou agressão.

7 – Ter bondade, educação e responsabilidade: Ser educado e procurar

sempre fazer o bem são dois dos valores de maior prestígio dentro da

sociedade. Os bons exemplos são sempre seguidos, por isso quem bondade

dá com bondade será retribuído. Devemos ser também responsáveis,

assumindo tudo aquilo que fazemos. Ter liberdade é saber arcar com todas as

nossas obrigações, com nossas responsabilidades. Como diz a música Há

tempos de Legião Urbana: “Disciplina é liberdade, compaixão é fortaleza, ter

bondade é ter coragem...”

8 – Perdoar – Ao manter ressentimentos de alguém, nunca se tem o

repouso devido para o corpo e para a alma. O rancor não leva a lugar nenhum,

apenas serve para criar mais problemas.

9 – Dialogar: Muitos problemas, brigas, discussões e incompreensões

poderiam ser facilmente resolvidos se existisse diálogo entre as pessoas

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envolvidas. Procure sempre conversar, trocas idéias, experiências, buscar

explicações e, antes de tudo, aprenda a conhecer as outras pessoas.

10 – Agir conforme a consciência: Não estamos no mundo sozinhos e

tudo aquilo que não queremos para nós não devemos fazer às outras pessoas.

Aprender a conviver é essencial para melhor saborearmos nossa vida e é um

dos pilares da educação abordado anteriormente.

Esses valores supracitados constituem uma ética maior, sem a qual a

qualidade do ser humano se dilui. É obrigação da escola educar numa

dimensão ética, formar para a cidadania, consolidar a democracia. Existem

escolas que os alunos fazem o trabalho social na comunidade colocam em

prática sua cidadania. È preciso que a escola resgate a experiência dos

grêmios, os Diretórios, das academias literárias. A escola deve ser um núcleo

de formação política, com P maiúsculo. Aliás é estranho que a escola

mantenha o tabu em relação aos temas fundantes da existência. Quase não

trata do sexo, morte, perda, ruptura afetiva, doença, política. Não forma para a

vida, forma para um emprego. Ora, a ética deve permear todas as disciplinas e

vigorar nas relações escolares. Por que não há debates entre alunos,

professores e funcionários?

Na escola em que trabalho, cada semana colocamos no mural, a foto e o

minicurrículo de um funcionário. Então, os alunos e professores descobrem que

a dona Maria da faxina é gente, tem família, história, idéias próprias. Os valores

universais devem estar inseridos no cotidiano de uma ação educativa de

qualidade que prioriza a existência humana.

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CAPÍTULO II

OS VALORES NO CURRÍCULO FORMATIVO

“ O objetivo que nos devemos propor na educação de um jovem é o de formar-lhe o coração, o juízo e o espírito.” (J.J.

Rousseau)

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CAPÍTULO II – OS VALORES NO CURRÍCULO FORMATIVO

O mundo do ensino escolar nunca foi alheio ao desenvolvimento, à

consolidação ou à modificação de atitudes e de valores. Sempre se entendeu

que tais aspectos são a parte substancial – o coração – das mensagens

educativas que a escola transmite a seus estudantes. Mas também é certo que

a formação de valores fazia parte do currículo “implícito” mais que do explícito .

Há pouco tempo, não era freqüente que os currículos escolares compilassem

explicitamente os valores e atitudes que eram incluídas na formação. Apenas

eram feitos alusões leves e genéricas, quase sempre formais e no capítulo dos

objetivos, que, então, costumavam mostrar uma concretização específica nos

conteúdos e nas atividades planejadas.

Os atuais processos de reforma do currículo escolar retornaram a este

tema com uma intensidade redobrada e com a intenção de que valores e

atitudes passem a ser uma parte substantiva de conteúdos explícitos que as

escolas devem transmitir aos estudantes. Dessa forma, as correspondentes

propostas curriculares oficiais costumam compilar não apenas os conteúdos de

informação que os alunos devem assimilar nas diferentes matérias do currículo,

mas também as atitudes e os valores que se pretende comunicar-lhes ao

abrigo do trabalho escolar nas diferentes áreas curriculares.

Na Espanha a fórmula adotada foi a introdução de uma série de

conteúdos transversais que figuram questões de alto poder formativo em

valores e que são propostas como aspectos a serem abordados em todas as

disciplinas do currículo. Os conteúdos transversais foram construídos em torno

de três grandes eixos de especial relevância formativa no mundo atual:

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1 – O eixo da saúde e do cuidado com o próprio corpo. Neste item,

aparecem como conteúdos transversais a educação para a saúde, a educação

sexual e a educação para o consumo.

2 – O eixo da vida social. Neste item, aparecem como conteúdos

transversais a educação moral e cívica, a educação para a igualdade entre

sexos, a educação para a paz e a educação viária.

3 – O eixo de conservação do próprio meio. Neste item, aparece

basicamente, a educação ambiental.

Cada um desses conteúdos transversais está, como se pode comprovar,

carregado de valores: a qualidade de vida, a solidariedade, a tolerância, a

conservação da natureza, a convivência, etc. Nem todos tem a mesma

essência, mas, evidentemente, todos são grandes desafios da educação em

nossos dias.

Visitei uma escola em Duque de Caxias no bairro Parque Lafaiete que

se chama ISEM, pela curiosidade que tive ao saber que nesta escola trabalham

de forma explícita a questão dos valores. Conheci o trabalho feito pelo

professor César Moraes que dá aulas de filosofia para alunos do ensino

fundamental nesta escola. Pude ver a grandiosidade do trabalho elaborado por

essa escola a fim de dar aos alunos uma educação de qualidade, o professor

disse que este trabalho é o resultado da inquietação dele durante o tempo em

que lecionou para turmas universitárias, que durante essa experiência ele pode

observar a tamanha dificuldade que os alunos tinham em trabalhar em grupo,

respeitar o amigo, em colaborar, enfim, a falta de solidariedade era explícita,

por esse motivo.

O que ele propôs foi um trabalho que pudesse minar o problema pela

raiz, oferecendo aos alunos a possibilidade de uma caminhada mais humana,

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mais solidária, uma formação em valores. Segue em anexo alguns dos temas

abordados pelo professor César Moraes nas aulas de Filosofia ministradas por

ele.

Vale ressaltar que os alunos correspondem às expectativas do professor

o que fortifica mais e mais o seu trabalho.

VIRTUDE

Virtude é a disposição para prática do bem. Uma pessoa virtuosa (que

tem virtudes) preocupa-se com o bem estar doas outras pessoas. Fazer

amigos, ajudar o próximo, cumprir com as obrigações, entre tantas outras

coisas, são exemplos de virtudes. Qualquer pessoa possui virtudes, a questão

é que, enquanto uns põem em prática as suas virtudes, outros as escondem.

Quando colocamos as nossas virtudes em prática, toda a sociedade

ganha, pois a partir da prática das virtudes conseguimos construir uma

sociedade mais tolerante e mais justa.

A virtude não é capaz de apagar os nossos defeitos, mas, com certeza,

é capaz de nos tornar mais aceitáveis perante os outros. Quem nunca ouviu,

por exemplo, alguém dizer que um coleguinha de sala-de-aula tem uma letra

feia, mas é inteligente. Assim é a virtude: capaz de nos colocar bem entre as

pessoas mesmo que tenhamos defeitos.

Durante toda a vida encontraremos pessoas de todos os tipos: uns com

muitos defeitos, outros com poucos defeitos, outros até achando que não têm

defeitos, mas certo é que todos têm virtudes, cabe-nos então a capacidade de

poder ver estas virtudes e não só os defeitos. E ter a capacidade de poder

enxergar virtudes nos outros, também é uma virtude.

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Ainda que no decorrer de nossa vida venhamos a desenvolver muitos

defeitos, não podemos nos esquecer de fazer com que as nossas virtudes,

sobressaiam mais aos olhos dos outros, pois, certamente, o que vão lembrar

de nós é aquilo que deixarmos mais amostra. Portanto, é importante

ressaltarmos as nossas virtudes para que os nossos defeitos não venham a

nos trazer sérios problemas no futuro.

Segundo o professor César após a leitura coletiva do texto eles

dramatizam e discutem situações problemas.

1 – Os alunos se interessam por essas aulas?

R: Sim, gostam muito, são aulas instigadoras.

2 – Professor, você acha possível provocar mudanças, ensinando tais

valores em suas aulas, que acontecem uma vez por semana?

R: Perfeitamente possível! Haja vista as reações participativas dos

alunos durante e depois das aulas. Percebo neles um interesse radiante em

discutir coisas que normalmente não são abordadas nos livros didáticos, sejam

de Língua Portuguesa ou de outras Matérias, que lhes são oferecidos.

Estes alunos, como quaisquer outros, apesar da tenra idade,

apresentam uma capacidade ímpar de “abstratizar” conceitos como virtude,

ganância, solidariedade, entre tantos outros. O que lhes falta, de fato, é quem

os estimule a isso.

Nunca me esqueço de uma certa ilustração, a qual deveria ser um

ingrediente a mais para todos os educadores desacreditados nos efeitos

positivos de suas atuações, enquanto agentes formadores de gente:

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Conta-se que todos os dias um certo homem percorria toda a orla da

praia, recolhendo as estrelas-do-mar que o mar despejava na areia. Este

homem, pacientemente, as apanhava, retirava-lhes os grãos de areia e as

devolvia novamente ao mar. Até que um determinado dia foi abordado por um

outro homem que, fazia tempo, observava-o:

- Você não se cansa de todos os dias, fazer a mesma coisa? Dizia o

intrigado observador. – Não vê que você nunca vai conseguir liquidar de vez

com esse problemas? Afinal todos os dias, fazendo você isso ou não, o mar

vai continuar jogando fora de suas águas uma quantidade incontável de tais

criaturas. Esse seu trabalho de nada adianta, não faz a menor diferença!

- Olhando dessa forma, realmente, não faz a menor diferença, mas,

certamente, para as estrelinhas que consigo apanhar e lançar novamente no

mar faz muita diferença.

Uma discussão sobre valores não pode escapar de uma reflexão sobre a

realização meios e fim. E uma discussão sobre educação tampouco pode

escapar dessa relação que se traduz em afirmações sobre a importância da

educação. São valores associados à ação educativa. Espera-se o efeito da

ação educativa no comportamento dos indivíduos. E a estratégia de ação

educativa que é o currículo, tem portanto, como finalidade o comportamento

dos indivíduos que passam pelo processo. Como o currículo é baseado em

saberes e fazeres, somos levados a uma questão maior: como se relacionam o

conhecimento e o comportamento?

Sempre ficamos chocados quando vemos uma pessoa com um bom

nível de conhecimento comportando-se de maneira criticável, algumas vezes

até abominável. Por que o conhecimento não influi no seu comportamento?

Paradoxalmente, o conhecimento é muitas vezes utilizado para um

comportamento ainda mais criticável.

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Quando pensamos em comportamento social, com o consumismo

irresponsável, a ganância desmedida e a corrupção comuns na classe média e

alta, perguntamos por que indivíduos que tiveram educação esmerada não são

capazes de ter um comportamento adequado. Para abordar essas questões

devemos entender a natureza humana e o fenômeno conhecimento, que é

característico da nossa espécie.

Ao longo de sua curta história o homem tem avançado muito no

conhecimento do ser humano. Mas a grande angústia existencial, que resulta

de não se encontrar uma resposta satisfatória à questão maior: “por que sou?”,

da origem a contradições na qualidade do ser humano.

As distorções da maneira como o homem tem se acreditado induziram

poder, prepotência, ganância, inveja, avareza, arrogância, indiferença. O

combate a esses anti-valores deve ser o objetivo maior dos sistemas

curriculares educacionais. (Vide anexo 2)

2.1 - O MÉTODO DOS TEMAS TRANSVERSAIS

“É nos indivíduos e nos grupos que se encontram os temas, os

problemas, a realidade percebida e sentida”(Paulo Freire). Só se pode

conceber a educação ética como uma educação em valores e em atitudes

ocupando determinado espaço e tempo da vida escolar, mas principalmente

integrando e permeando todas as áreas e todos os processos de

aprendizagem. Dessa forma, a educação pode ser consolidada como uma

atividade intrinsecamente moral, voltada para a promoção de julgamentos

críticos, atitudes e formas de comportamento de caráter moral,.envolvendo,

portanto, conceitos, procedimentos e atitudes.

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A estratégia de utilizar temas transversais para educar em valores

possibilita concretizar realidades de especial relevância para a vida das

pessoas, e para a positiva e harmoniosa construção da sociedade

contemporânea. No fundo, a utilização dos temas transversais é uma resposta

ao desafio do plano de ação educativa que a sociedade exige hoje de nós.

Devem ser ministrados em todas as áreas, criando um ambiente educativo

profundo, e concretizadas numa proposta curricular para todo o centro

educativo e para todos e cada um dos alunos.

Os temas educativos transversais são conteúdos educativos valiosos

para um projeto eficaz de educação e de sociedade. São temas que têm

relação com uma base ética social e pessoal. No fundo trata-se de uma

autêntica educação ética em valores e por isso esses temas devem fazer parte

do projeto e da programação, relacionadas ao sistema valorativo que dentro

sido consensuada. Devem ser ministrados simultaneamente com as disciplinas

e não de maneira isolada, e aqui temos um desafio: encontrar a identificação, a

relação dinâmica que pode existir entre o tema transversal e os objetivos gerais

do curso e sua concretização de objetivos de diferentes áreas do currículo.

Segundo Ciriaco Izquierdo Moreno (2001), os temas transversais devem

ser tratados em três níveis: no nível teórico, que permite aos alunos descobrir a

realidade e a profundidade contida no desenvolvimento de cada tema; no nível

pessoal, que permite aos alunos descobrir e analisar criticamente os

comportamentos e as atitudes que devem adotar diante da realidade

descortinada no estudo e interiorização dos temas; no nível social, que permite

aos alunos considerar os comportamentos e as posturas que serão adotadas

pelos grupos ou coletivos humanos.

A utilização dos temas transversais constitui um excelente programa de

humanização que fundamenta e dimensiona o trabalho educativo como um

todo. Mas educar em valores exige um método novo, capaz de formar em

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humanidades e ensinar a pensar com rigor, para descobrir as diferentes

possibilidades criativas de se forjar um projeto de vida, de engrandecer a

própria existência, de saber expressar-se de maneira persuasiva e de prever as

conseqüências de se adotar uma atitude ou outra diante de certas questões

chave da vida.

Segundo Ciriaco Izquierdo Moreno (idem), o método dos temas

transversais apresenta características bastante fecundas: a primeira delas é

que um método interativo, como deve ser toda boa didática. Apresenta-se um

tema, dá-se um exemplo, realiza-se um exercício para concretiza-la e, na

seqüência, indica-se um outro, similar, que os alunos devem realizar com os

professores. Depois, os trabalhos são comparados de modo que esse

intercâmbio vai exercitando nosso poder de discernimento, bem como nossa

capacidade de diálogo. A segunda característica é que as questões e temas

propostos são analisados a partir da ótica interna, a partir de dentro, como se

estivéssemos pesquisando e recriando o assunto por iniciativa própria. Não nos

esqueçamos de que os valores são vitais e vivenciais.

O método da transversalidade é um procedimento educativo que

envolve: fundamentação, ou seja, o conhecimento mais preciso possível do

que a realidade humana e a sua relação com o meio ambiente e com as

pessoas. Implica em uma análise do que são os objetos e os ambientes, os

processos e os acontecimentos ou fatos significativos, e na descoberta do seu

conteúdo; articulação, que consiste em descobrir de que maneira, a partir do

conhecimento fundamental podem ser conhecidos outras facetas da vida

humana, como as experiências do encontro humano, do seu veículo expressivo

(linguagem silêncio) e de suas experiências, como a verdade, a confiança, a

abertura, a disponibilidade, a simpatia e a imaginação criadora.

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O estudo aprofundado do tema permite penetrar no núcleo da

criatividade e dos valores, pois ser criativo significa assumir valores para agir

com sentido e dar sentido à vida.

Assim, a educação em valores no ambiente escolar introduz o jovem na

área da irradiação dos grandes valores. Quando ele passa a compreender

todas as possibilidades que a realidade oferece, estabelece uma forte unidade

com ela. E essa base é o ideal humano, do qual depende tudo na vida e é,

portanto, fruto do encontro com os valores. Afinal quem se deixa impregnar

pelo ideal humano e escolhe em função dele tornar-se um ser interiormente

livre, capaz de orientar-se na vida afetiva, na vida estética, na vida religiosa e

na vida social.

2.2 - EDUCAÇÃO PARA A PAZ NO CURRÍCULO: UM VALIOSO

TEMA TRANSVERSAL

“Num contexto mundial, marcado pela interdependência crescente entre os povos, pressupõe-se que é preciso aprendermos a viver juntos no planeta. Mas como faze-lo, se não formos capazes de vivermos em nossas comunidades naturais de pertinência: nação, região, cidade, bairro, participando da vida em comunidade?” (Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs)

A educação para a paz é o mais adequado e definido tema transversal

que pode ser integrado ao currículo como parte essencial do contexto de todas

as áreas curriculares.

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Como ponto de partida, a educação para a paz deve ter em conta a

análise crítica dos preconceitos que os jovens possam ter sobre ela,

provocando, se preciso, conflitos cognitivos capazes de abrir-lhes o campo de

sua percepções e de enriquecer o campo de sua experiências, de seus

conhecimentos, de suas atitudes. Segundo Glória Perez (2002), em todos os

programas de educação para a paz devem ser estabelecidos dois campos

básicos de reflexão e de ação.

Em primeiro lugar, a educação na não-violência e na criação de

estruturas e situações de justiça, tanto no plano das vivências internas ou

pessoais quanto no das relações sociais mais próximas e de projeção

universal; lembro-me da barbaridade cometida por cinco adolescentes que

mataram um índio pataxó, que dormia tranqüilo, numa estação de ônibus, em

Brasília. Disseram à polícia que estavam brincando de matar; é muito estranho,

como diz Paulo Freire em Pedagogia da Indignação, “ Que coisa estranha,

brincar de matar índio, de matar gente. Fico a pensar aqui, mergulhado no

abismo de uma profunda perplexidade, espantado diante da perversidade

intolerável desses moços desgentificando-se, no ambiente em que

decresceram em lugar de crescer.”

Em segundo lugar, a educação na resolução positiva, dialogante e

harmoniosa dos conflitos, buscando formas criativas para resolve-los e

soluções que considerem o respeito à pessoa e, muito especialmente, a

dignidade e os direitos dos mais fracos.

Em um programa de educação para a paz e no contexto dos dois

campos de reflexão acima propostos, é preciso abranger de forma concreta os

seguintes pontos, profundamente relacionados a ela: educação para a

convivência; educação para a tolerância e o respeito; educação para a

compreensão dos colegas; educação para os direitos humanos.

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É muito importante assinalar que a educação para a paz, no âmbito

escolar, significa, necessariamente, uma profunda mudança de atitudes nas

relações que se estabelecem no cotidiano escolar e dentro da sala de aula,

pois essa relações muitas vezes tem caráter negativo, em conseqüências de

estruturas acadêmicas que propiciam a competitividade, o individualismo e a

discriminação.

Se a escola quiser, verdadeiramente, educar para a paz, deve faze-lo

em clima relacional de igualdade, tolerância, justiça, solidariedade e liberdade.

Eu tive uma professora de história que dizia que mais do que nunca,

precisávamos exercer nossa capacidade de lidar com as diferenças; que

intolerar e não admitir nos outros maneiras de pensar diferentes das nossas e

chamava a escola de laboratório de respeito, porque ao reunir pessoas de

várias raças, religiões, habilidades, posições sociais, costumes e ideologias,

ela se torna um laboratório perfeito para criar e alimentar as nações de respeito

à diversidade. Vale ressaltar quais são esses valores e atitudes básicas,

capazes de configurar e desenvolver na personalidade dos alunos o valor

nuclear da paz.

A tolerância, compreensão, aceitação e respeito para com os demais e

para com os direitos fundamentais; valorização da afetividade e do sentimento

nas relações interpessoais; atitude de perdão e de acolhida, manifestando em

todos os momentos uma grande capacidade para o amor e a ternura;

sensibilidade, abertura, flexibilidade diante dos posicionamentos e das opiniões

das outras pessoas; interesse e respeito pela diversidade. Rejeição a todo tipo

de desigualdades e discriminações sociais e pessoais; justiça e solidariedade;

tomada de consciência dos problemas de violência, de agressão, da injustiça

com que se depara a vida sobre a terra; incorformismo e rejeição diante de

situações de desigualdade e injustiça; rejeição da violência em qualquer tipo de

situação ou conflito; sensibilidade para perceber e sentir os problemas dos

demais e para chegar até eles com generosidade e desprendimento;

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desenvolvimento da capacidade de amar e de sentir ternura na construção de

uma cultura universal fraterna; criatividade, colaboração e cooperação na

resolução fraterna dos conflitos e de problemas das pessoas e dos povos; luta

e compromisso permanente pela justiça, igualdade e de forma genérica, pelo

desenvolvimento imediato e universal dos direitos humanos. Liberdade, o

desenvolvimento da autonomia pessoal e da auto-afirmação, confiança e

atitude de esperança nas próprias capacidades como requisito fundamental

para a auto-realização, para enfrentar os problemas e os conflitos e para

conseguir estabelecer uma comunicação positiva e criadora, coerência e

autenticidade pessoal nas ações e nos comportamentos individuais e sociais;

atitude crítica para discernir livremente diante de qualquer tipo de situação e

para não se sentir, consciente ou inconsciente, manipulado.

Definido o marco pedagógico no qual deverá ser proposto o tema

transversal da educação para a paz e fixado o sistema de valores e atitudes

sobre o qual deverá ser desenvolvido o tema, a seguir apresento uma relação

de objetivos educacionais que devem estar presentes em todas as atividades e

tarefas executadas; descobrir, sentir, valorizar e viver com esperança as

capacidades pessoais como realidades e como meios eficazes que podemos

colocar a serviço dos demais e que podem contribuir para um desenvolvimento

positivo e harmonioso da vida e do humanismo; reconhecer e valorizar a

própria agressividade como uma maneira positiva de auto-afirmação da

personalidade e ser capaz de canaliza-la, permanentemente, para condutas e

atividades que promovam e favoreçam o bem comum; desenvolver a

sensibilidade,a afetividade e a ternura na descoberta e no encontro com as

pessoas que nos rodeiam, tanto em termos mais próximos quanto universais;

sentir a alegria produzida no encontro interpessoal quando este se desenvolve

em um clima de afetividade, confiança, respeito, colaboração e ajuda mútua;

construir e otimizar relações de diálogo, paz e harmonia no ambiente escolar e,

em geral, em todas as nossas relações cotidianas; reconhecer e tomar

consciência de todas as situações de conflito que podem ocorrer, descobrindo

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e refletindo sobre suas causas e tendo capacidade de tomar decisões de

maneira criativa, fraterna e não violenta; desenvolver a atenção, o interesse

frente à diversidade como um grande valor, agindo sempre, diante dela, com

uma atitude aberta, respeitosa e tolerante; promover, a partir do auto-

conhecimento e da auto-estima, o conhecimento de outras realidades culturais,

sociais e pessoais, colaborando para a auto-afirmação, o desenvolvimento e o

enriquecimento dos povos; conhecer e potencializar os direitos humanos e

desenvolver a sensibilidade, a solidariedade e o compromisso diante das

situações, próximas ou distantes, em que se atente contra eles; mostrar

especial atenção e sensibilidade diante de situações de violência, injustiça e

subdesenvolvimento, vividas hoje no planeta; conhecer as organizações

governamentais e não-governamentais comprometidas na luta contra a miséria

e a injustiça no mundo e, em especial, com o desenvolvimento das nações

menos favorecidas, e colaborar ativamente com elas.

A educação para a paz é uma dimensão contínua e permanente do

sistema educacional, não a única, mas sim fundamental, insubstituível e

urgente, que afeta a todos e cada um dos elementos que compõem a estrutura

escolar, desde a filosofia educacional, os valores e os objetivos até a

organização, os métodos de aprendizagem, as relações professor-aluno e

comunidade educacional e que tem como objetivo a formação de pessoas

solidárias, críticas, pacíficas, felizes e ativas tanto no terreno escolar como

social. (Vide anexo 3)

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CAPÍTULO III

OS VALORES INSTITUCIONAIS DAS ESCOLAS

“Precisamos diminuir a distância entre o falado e o vivido”.

(Rubens Alves)

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CAPÍTULO III: OS VALORES INSTITUCIONAIS DAS ESCOLAS

Não adianta de nada declarar que se quer educar em valores os

estudantes que procuram as escolas se a própria instituição escolar não

assume como compromisso próprio os valores que deseja transmitir.

Como pode educar na democracia e na autonomia uma escola que

tenha um funcionamento ditatorial? Que tipo de mensagens sobre igualdade

entre pessoas transmite uma escola que exclui certos sujeitos por suas

características? Quem pode supor que os alunos sejam educados em um estilo

de cooperação e ajuda mútua se a escola que freqüentam, se move em uma

cultura da competitividade e do conflito permanente?

Enfim, quando falamos de valores no ensino não devemos nos referir

apenas aos valores que desejamos transmitir e exigir de nossos alunos. Mais

importantes, a propósito, são valores que nós, como instituição e como

comunidade educadora, possuímos, já que grande parte de nossa comunidade

educadora. Aos meninos no que se refere aos valores dependerá disso. Em

grande parte, os valores são aprendidos na família, no grupo de amigos, na

escola, na comunidade, sendo vivenciadas nas ações cotidianas. Os valores

que mais se impregnam nos sujeitos são sem dúvida, aqueles que fazem parte

de seu “estilo de vida” habitual.

Por isso, é tão importante que nós, as escolas, analisemos nosso estilo

de funcionamento, a dinâmica institucional que foi criada em nossa instituição e

o modelo educativo que “é respirado” entre nós. O principal porém, é que os

valores sejam uma preocupação permanente da escola, que permitiu as aulas

e a conduta de professores e funcionários.

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È fundamental a coerência entre o que se pretende ensinar e o que se

pratica, em outras palavras, não faz sentido empurrar às crianças hábitos de

higiene se a escola vive suja e não vale falar de tolerância sem ser tolerante.

Eu sinto esta incoerência no dia-a-dia no meu curso de Pedagogia a distância

entre a teoria e a prática e bersante. Percebo que é muito, mas muito mais fácil

falar, exigir mandar do que ter uma postura coerente, não é fácil, Paulo Freire

(em seu livro Pedagogia da Autonomia) diz que um dos saberes necessários a

prática educativa é justamente a coerência à (saber fazer e saber-se), pois sem

ela a nossa ação política se desfaz. È preciso aprender a ser coerente, de nada

adianta o discurso competente se a ação pedagógica é impermeável.

A escola deve resgatar o ser humano na sua proposta pedagógica e

conscientizar seus alunos que se o mundo tecnológico é volúvel, a humanidade

é permanente. Sendo assim, o equilíbrio emocional e as relações sociais serão

sempre peças chaves para o convívio social e a inserção no mercado

profissional. Por fim, a escola tem uma função importante na sociedade

moderna e ela deve ser exercida fundamental como promotora de valores, que

hoje estão escassos na sociedade, por isso, o cotidiano escolar deve ter na

prática esses valores vivenciados. (Vide anexo 4)

3.1 “AS PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS E PEDAGÓGICAS”.

“Hoje o destino da democracia, definida como uma política do sujeito é

definida na escola e na cidade” (Touraine 1997, Pg 291). Trata-se de que o

indivíduo não seja um mero consumidor de educação ou de conhecimento,

mas que se torne um ator, que se afirme e construa-se expressando a sua

liberdade, que se manifeste e vá reconstruindo-se com suas singularidades, o

que significa a exigência de ser admitido em algo único. A educação

democrática tem uma segunda condição, a primeira é a discriminação, a não

repressão para tornar-se possível a confiança no exercício da liberdade que

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sirva de base para a construção e a expressão das singularidades individuais.

Não se trata de combater apenas o dogmatismo, o castigo ou o autoritarismo,

instalando a tolerância, o respeito à diferença e as boas relações humanas,

mas de fomentar decisivamente a liberdade de expressão dos sujeitos em

todos os âmbitos da educação. Assim como a democracia é o sistema de

organizar a convivência e administrar a coisa pública para tornar viável e

estimular a pluralidade na sociedade, a educação democrática deve fazer o

mesmo no tratamento da diversidade real e desejável dos sujeitos.

Quais são nesse sentido já que dispõe de mecanismos formais de

participação nas instituições educativas, resta muito a fazer no caminho da

mudança das atitudes e das práticas educativas favoráveis a liberdade. Uma

opção que é compatível com o caráter reprodutor de cultura que o ensina

possui e com a preposição de normas e de regras básicas. A escola

democrática é uma escola aberta ao conhecimento, pois precisa do mesmo. A

recreação da cultura e da sociedade precisam partir de conteúdos prévios.

Não apenas se deve formatar, então os métodos que colocam os

estudantes em situações nas quais podem ser treinadas para o governo

coletivo, o intercâmbio de posições, o respeito ao outro, a tomada de decisões

dialogadas ou a participação através da representação delegada, como se

fossem pequenas repúblicas escolares. A democracia na escola não se esgota

uma participação, mas significa que todas as suas práticas refletem e

transpiram valores básicos da democracia; a liberdade, a não discriminação, a

solidariedade e o respeito a cada um, a partir da organização de um sistema

abrangente que dê lugar à diversidade social à gestão com autonomia dos

centros educativos, às liberdades dos professores, ao método pelo qual é

abordado qualquer conteúdo ou à avaliação.

Os princípios da liberdade de pensamento, de expressão, de

informação, o respeito às condições vinculadas a uma concepção democrática

da verdade e da moral em que não há nada em que seja absoluto e definitivo, o

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estímulo à honestidade intelectual, o hábito de dizer a verdade, a manutenção

do sentido da linguagem (em vez de usá-la para camuflar e ocultar realidades)

são critérios essenciais para fundamentar uma cultura democrática. Entretanto,

a dimensão participativa da democracia que completa e corrige as orientações

liberais e individualistas exige, como afirma Battislone (1985), a possibilidade

de ser autônomo, reconhecendo o papel das contribuições dos outros. São

requeridos, portanto concepções (psicológicas) sobre as possibilidades

humanas que entendam o desenvolvimento das mesmas como resultado da

interação, do intercâmbio e do diálogo com os demais.

Não é preciso estender-se, pela sua obviedade, na trancedência que

possuem as relações pessoais em educação através das quais se configura o

referencial de comunicação que possibilita ou não o fluxo das potencialidades

pessoais, o diálogo, e portanto, a possibilidade da própria racionalidade.

Tradições humanas e de grupo, a psicanálise, entre outras, destacam a

importância do clima social para o desenvolvimento da personalidade livre e

para a boa dinâmica dos grupos. Os valores da democracia devem ser vividos

como experiências pedagógicas. (vide anexo 5).

3.2 - RELAÇÕES ENTRE ESCOLA E COMUNIDADE

“Vida seja bem vinda à escola.”

Em uma série de idéias e princípios podemos concordar. A educação

cultiva sujeitos que não devem ser concebidos como individualidades isoladas.

Seus efeitos repercutem na sociedade em geral e, por isso, não pode ser

propriedade somente dos professores, dos empresários, dos pais ou dos

governos. A escola não é toda poderosa e precisa, inclusive para levar adiante

os requisitos do currículo de apoios externos. Ela pode ser um agente de

serviços da comunidade. A educação enfim, é dever de toda a sociedade e

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esta deveria envolver-se totalmente em sua melhor realização. O

desenvolvimento democrático da sociedade leva consigo o compromisso com a

educação, como empresa de todos embora uns e outros sejam chamadas e

desenvolver papéis diferentes, inclusive seja conveniente delimitar deveres.

Esses enunciados adquirem realidade prática, quando a educação é pensada,

projetada e realizada com o envolvimento da sociedade, quando em torno de

cada escola são criados vínculos comunitários a partir desta para as famílias e

a sociedade imediata e vice-versa.

Conforme afirmam Apple e Beane (1997); “As escolas democráticas

precisam estar baseadas em uma definição ampla de nós, um compromisso

para construir uma comunidade que seja tanto da escola como da sociedade

na qual a escola existe.

A sociedade democrática deve fazer da educação uma autêntica esfera

pública, um espaço para o diálogo, a participação e o consenso. È evidente

que nesse modelo é mais inclinado à escola pública apoiada no compartilhar

dos poderes. Na democracia, ninguém tem todas as certezas ou a única

certeza.

A aspiração a estabelecer laços com a comunidade não deve ser

ingênua. Em primeiro lugar, lembrarei não deve ser ingênua. Em primeiro lugar,

lembraremos que a possibilidade de participação e, portanto de constituição de

uma comunidade aberta estará limitada pelas desiguais possibilidades de

participar; devido a isso é preciso praticar uma pedagogia social que tenha

como destinatários todos aqueles mais diretamente interessados no que as

escolas fazem. Em segundo lugar, não quero dizer que os membros da

comunidade sejam os únicos aos quais compete a orientação da educação

pela simples razão de que esta serve a interesses e valores que devem

transcender os da comunidade.

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A educação democrática, como podemos ver, não é algo

especificamente metodológico que, de maneira instrumental, contribua de

forma para a conquista de um modelo de sociedade, mas é a condição

resultante dos empreendimentos mais nobres que tenham sido ensaiados na

sociedade e que se pressupõem um exercício de regeneração da mesma e da

educação.

3.3 - A FAMÍLIA E ESCOLA

“A humanidade entrou num período de mudanças cuja amplitude, profundidade e, sobretudo, rapidez provavelmente nunca tiveram um equivalente na história. A intercionalização da mundialização, os problemas do meio ambiente, as tensões e os conflitos de um novo tipo, bem como a generalização de certas normas e de certos comportamentos culturais que entram em conflito com valores mais complexos, dos quais nem os indivíduos nem as sociedades podem escapar, são alguns dos fatos relevantes da nossa época. As sociedades,as relações entre indivíduos, entre estes últimos e as instituições, entre diversos grupos e entre nações tornam-se cada vez mais complexas. Um nível inicial de educação cada vez mais elevado e uma educação constantemente renovada e completada no decorrer da vida passaram a constituir necessidade absoluta para todos os seus seres humanos, a fim de que eles possam levar uma vida com sentido, obter um rumo da sociedade, enfrentar os inúmeros novos desafios e evitar cair numa atuação sem identidade e objetivos claros.”(Frederico Mayor)

Todos nós, educadores, certamente temos acompanhado com

apreensão crescente preocupação, os inúmeros incidentes ocorridos nas

instituições escolares. Diariamente somas informadas sobre bombas

colocadas, incêndios e mortes provocadas por jovens em espaços destinados à

jovens. A violência vem crescendo e não se limita mais à periferia, à rua, aos

espaços circunscritos. A violência nas escolas tornou-se uma forma e um corpo

que exige uma reflexão mais aprofundada das suas razões e raízes. Ela

estrapolou a falta de disciplina, a exacerbação verbal e moral.

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Recentemente li um comentário de Carlos Eduardo Lins e Silva acerca

do massacre ocorrido na escola em Denver, intitulado “explicações ignoram a

relação de pais e filhos”. Através desse comentário constato, que a discussão

em torno de fatos de violência é ampliada para além da felicidade de aquisição

de armas por adolescentes, da violência dos filmes na TV e nos vídeo-games.

O comentarista traça um perfil dos pais nascidos nos anos 50 e constata

que a falta de limites desde os primeiro anos de vida da criança, a falta de

clareza dos pais em relação à educação de seus filhos são o cerne do

descalabro que estamos vivendo. Sem dúvida nenhuma, a facilidade com que

as crianças e jovens têm acesso à armas, drogas e filmes aterrorizantes são

elementos que compõem a razão para a escalada da violência. Porém, creio

que restringir-se a tais razões é limitar-se à superfície, é não querer

aprofundar-se, e não querer enxergar que as razões estão muito mais próximos

de nós, educadores, do que gostaríamos de reconhecer.

Gilberto Dimenteím, em seu artigo “Escola concentra raiva e frustrações

sociais”, pontua que a raiz das raivas, das frustrações e dos ressentimentos

dos jovens encontra-se na família e discute quais falares encontradas na

escola que contribuem para ser bem-sucedida no trabalho educativo com os

jovens: “Um direito motivado, interessado no desempenho dos alunos, atuando

com líder; professores entusiasmados, com um currículo avançado; e

envolvimento comunitário.”

Não é de hoje que se discute a participação da família na vida escolar de

seus filhos. Há décadas se vem refletindo sobre como envolver a família, como

co-responsabilizá-la e torná-la parte do processo educativo. Há um leque

imenso de posições quanto a essa questão e, sem dúvida nenhuma

argumentação suficiente para defender cada uma delas. Há os adversários

ferrenhos da participação dos pais na vida escolar. Não é raro ouvir a frase

“seria muito melhor trabalhar com os alunos se não tivessem pais”. E á os que

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não conseguem dar um passo sem consultá-los, abdicando de sua autoridade

e autonomia no espaço escolar.

Entre um extremo e outro, movimentam-se praticamente todas as

instituições escolares. Para inúmeras escoas, essa é uma questão não

resolvida. Afinal, é preciso envolver a família? É necessária envolvê-la? É

possível envolvê-la?

Estamos vivendo em um cenário de incertezas e hesitações que

caracterizam este final do século. Nesse quadro complexo e desafiador, a

educação passou a assumir um papel de grande relevância, pois é para ela

que convergem os olhares no sentido de que seja capaz de resgatar e

preservar o que a humanidade tem de humano.

Com a crescente globalização, com a concorrência acirrada, com as

seríssimas questões de empregabilidade, com os problemas éticos cada vez

mais complexos, constitui-se uma necessidade absoluta para os seres

humanos o resgate de valores, a busca de uma vida com significado, a

construção de uma identidade e a clareza de objetivos. Com a qualidade total

tão propagada no meio empresarial e tão confundida nas escolas, as famílias,

por um lado, passaram a confundir a escola com uma gôndola de

supermercado e a escola, por outro, passou a confundir educação com

procedimentos.

“Disto eu gosto, disto eu não gosto” passou a ser o padrão de avaliação.

“Se eu não gosto, é porque não vale”, “meu pai paga” passou a ser tônica na

fala dos adolescentes e, com certa freqüência, os alunos e suas famílias

passaram a ser meros consumidores de um “serviço vendido”, e os

professores, simples “prestadores de serviço”. A gravíssima conseqüência

dessa mentalidade cada vez mais disseminada é a de que pais e filhos não se

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sentem mais co-partícipes do processo de construção educativa. A educação

passou a ser objeto de consumo.

Se, como educadores, futuras gestões, reconhecermos a absoluta

importância da escola na reversão deste nefasto quadro precisamos com

urgência, arregaçar as mangas e passar a ver a família como parceria nessa

empreitada.

Acredito que tal tarefa não seja das mais fáceis, uma vez que, dadas as

inseguranças, incertezas, angústias individuais e coletivas, cada um se juntou

no seu lado. Se o diálogo entre pais e filhos está difícil, também está difícil o

diálogo entre pais e professores. Cada qual depende, com veemência, o seu

ponto de vista e não rara a escola passa a ser depósito de raivas, frustrações e

ressentimentos por parte dos pais.

Construir uma parceria pressupõe de ambas as partes, enxergar-se com

co-partícipes da educação. Os pais não podem delegar essa responsabilidade

única e exclusivamente para a escola, e a escola não pode eximir-se de ser co-

responsável no proceso firmativo do aluno. Não basta construir conhecimento:

é preciso viabilizar que o aluno construa sua identidade, sua autonomia com

responsabilidade, sua cidadania. E isso só é possível se a família e a escola

andarem juntos, sendo ambas sujeitos do processo educativo do jovem

cidadão.

Para que isso seja possível na prática, em primeiro lugar os pais

precisam ter oportunidade de entender o projeto pedagógico da escola. Esse

entendimento, entretanto, não se faz de cima para baixo, “jorrando pedagogês”.

Não é através da informação mera e simples que viabilizamos aos pais

compreenderem o trabalho desenvolvido na escola. Não podemos esquecer

que muitos deles têm como padrão de escola a que vivenciaram e, certamente,

aquela é muito diferente da que hoje é necessária. os pais precisam ser

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colocados “dentro do problema”, dentro da escola. É necessário a

comunicação entre escola e família. Deixá-los de lado é ruim para todos. Pais

e professores quando bem entrosados, podem provocar mudanças

substanciais no modo de ser da escola e na qualidade da educação que ela

oferece. Abaixo uma obra de arte feita pelo pintor Antonio Henrique Amaral

(1935).

Incomunicação, 1966 Óleo sobre tela 120 x 90 cm, que mostra a

Incomunicação que para o pintor não é o silêncio, mas o barulho de muitas

bocas a falar. Qual é o espaço da comunicação na escola. (Vide anexo 6)

Li uma reportagem na revista de Educação que tem uma escola em São

Paulo, uma escola de Ensino Médio, que pretende tornar os pais parceiros do

seu trabalho. A solução encontrada foi colocar a família dentro da escola

através de reuniões sistematicamente realizada para todas as famílias desse

segmento. As reuniões não são organizadas por série, comumente é a prática

escolar , e sim por temas. Em um mês, é discutida o projeto pedagógico, em

outro a avaliação, em outro a orientação profissional, em outro o problema de

álcool e drogas, em outro a violência na sociedade e na escola, em outro a falta

de diálogo e de respeito, e assim por diante.

Para tais reuniões são convidadas as famílias, ou seja, pai, mãe, filhos,

irmãos, tios, avós, enfim, quem da família quiser participar. Os alunos

participam das reuniões, tornando-se interlocutores da família e dos

professores. Estas são concebidas através de situações, problemas em

relação ao tema que será discutido. Os professores do ensino médio

participam da elaboração da reunião e tem participação ativa durante a mesma,

superando o papel de meros espectadores. Os participantes são subdivididos

em grupos, tendo-se o cuidado de incluir tanto pais como mães, alunos e

professores.

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Cada grupo discute a sua situação – problema e propõe

encaminhamento, os quais são apresentados em plenária por um

representante de cada grupo, que pode ser tanto um pai quanto qualquer outro

membro do grupo e, a partir daí, são discutidas todos os elementos que

compõem o problema. O que se constata é que, através dessa estratégia, as

famílias são colocadas dentro do problema e, como co-partícipes, envolvem-se

e procuram soluções reais para o mesmo. Passam a ser parceiros da escola e

deixam de ser meros receptáculos. Passam a ser coadjuvantes, co-

responsáveis, e não delegam à escola a responsabilidade solitária do

encaminhamento e da solução das dificuldades.

Através dessa forma de trabalho, constata-se também que mal-

entendimento e dúvidas não esclarecidos e, de parte a parte, aumenta o

entendimento e a compreensão. As “armas”são deixadas de lado, iniciando-se

um verdadeiro diálogo, sem agressões, sem culpas, sem medos. Paulo Freire

diz que ensinar exige disponibilidade para o diálogo, que nas relações com os

outros, que não fizeram necessariamente as mesmas opções, no nível da

política, da ética, da estética, da pedagogia, não podemos partir de que

devemos conquistá-las, não importa a que custo, nem tampouco devemos

temer que pretendam conquistar-nos. É no respeito às diferenças, segundo

ele, entre nós e os outros, na coerência entre o que fazemos e que dizemos,

que nos encontramos com os outros.

Sem dúvida, esse é somente um dos modelos possíveis. As

possibilidades, certamente, são múltiplos como diz o ditado popular que “quem

quiser enxergar, vê”. Mas é preciso ver de verdade, de peito aberto, com

disposição para enfrentar o desafio de aproximar a família e a escola. Com

disposição para rever-se como educador, como gestor, seja na célula familiar,

seja como professor. Trabalhando juntos, transcendendo a mentalidade da

escola como gôndola de supermercado, é que vamos conseguir aproximar-nos

dos quatro pilares do conhecimento sugeridos pelo Relatório para a UNESCO

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da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI para a

construção de um novo paradigma que valoriza a vida e as pessoas, a saber:

aprender a conhecer, aprender a viver juntos, aprender a fazer e aprender a

ser.

É necessário não se iludir com uma visão imediatista e instrumental da

educação. É importante abrir e construir espaços para considerá-la em toda a

sua plenitude: realização da pessoa que, na sua totalidade, aprende a ser. E,

ao meu ver, essa proposta somente é possível em parceria com a família.

Com essa parceria, todos ganham e passam ser, de fato, sujeitos da educação

e a escola um espaço democrático que vivencia o respeito e o diálogo.

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CAPÍTULO IV

OS VALORES NA AÇÃO PESSOAL DOS PROFESSORES

“Nenhuma criança nasce boa ou má – os valores são aprendidos; a responsabilidade do professor na formação do

caráter dos seus alunos é imensa”. (Paulo Afonso Ronca, A Clara e a Gema)

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CAPÍTULO IV - OS VALORES NA AÇÃO PESSOAL DOS PROFESSORES

Tudo o que foi dito anteriormente para as escolas poderia ser repetido

aqui em relação aos professores. Transmitimos valores não apenas quando os

ensinamos, mas também quando nós mesmos os transformamos em nosso

estilo de vida, pois os professores são sempre “modelos”. Tanto se a

pretendemos quanto se não, transformamo-nos, nós mesmos, em instrumento

de persuasão, ainda mais, inclusive, do que somente por nossas palavras?

Aqui, já aparece uma das mais fortes dificuldades no que possamos

denominar “ensino das atitudes e dos valores”: as atitudes e os valores se

transmitem ou se contagiam?; é possível que um professor ensine um valor se

ele não o possui em um nível que se transforme em disseminador natural da

mesma? Vejamos alguns casos concretos:

Os programas curriculares oficiais das correspondentes etapas

educativas identificam uma série de valores cujo “ensino” é prescrito. Coisas

como, por exemplo: a curiosidade diante das coisas, o espírito crítico, o

respeito às opiniões dos demais, a aceitação da igualdade plena entre os

sexos, o compromisso na defesa da natureza, etc.

Os professores podem viver cada uma dessas dimensões com maior ou

menor convicção (que é, ao mesmo tempo fruto de nossas próprias

experiências e de nossa educação). Essa posição de partida será um forte

condicionamento de nossa ação como agentes de persuasão. Se um de nós

não sabe matemática, é certo que será um professor medíocre, mas mesmo

assim podemos esperar dele ou, inclusive, exigir-lhe que aprenda mais

matemática. Poderíamos dizer o mesmo do tema das atitudes? Podemos

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esperar ou exigir de um professor que seja mais ecologista ou menos machista,

ou que possua uma atitude mais aberta do novo, ou mais espírito crítico, ou

maior rigor intelectual no momento de fazer afirmações?

Talvez lhe possa ser solicitado que fale a seus alunos da paz, que

defenda publicamente a igualdade de sexos, ou que realize atividades com

uma orientação ecologista, mas é improvável que tudo isso, se não está

temperado com uma carga de empenho e vontade pessoal (na qual estejam

combinados o intelectual, o emocional e a própria ação nesse sentido), produza

efeitos relevantes na direção do desenvolvimento das atitudes desejadas.

A ação do professor como modelo de atitude faz com que o tema do

ensino dos valores transcenda a natureza fundamental técnica do ensino de

outra de outros conteúdos. No ensino de atitudes, o técnico profissional se

superpõe ao pessoal. Às vezes, as duas mensagens são confluentes e somam

sua capacidade de influência. Em outras ocasiões, é produzido um

desdobramento da mensagem: a mensagem instrutiva é diferente da

mensagem pessoal e o poder de influência do professor fica reduzido ou,

inclusive, anulada.

A cultura popular manteve sempre o velho ditado (aplicada a professores

e políticos) de “faça o que dizem, mas não o que eles mesmos fazem”. No

âmbito dos valores, essa dupla mensagem é pouco capaz de exercitar” uma

persuasão eficaz”. Pelo contrário, quando um professor “vive” com intensidade

um determinado valor, este acaba sendo transmitido com força aos alunos. Há

pouco tempo tive a oportunidade de assistir na TV Cultura a entrega de

prêmios a diversos grupos de professores e alunos. Tratava-se de um prêmio

para trabalhos escolares sobre temas da natureza. Eram trabalhos muito bons,

mas o que mais chamava a atenção era a intensidade com que professores e

alunos de cada grupo viviam e descreviam o trabalho realizado. A impressão

que se tinha, à margem da qualidade específica de cada um dos trabalhos, era

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que aqueles jovens seriam ecologistas sinceros toda a sua vida. O papel

“modelador” dos professores sobre aqueles alunos havia transcendido, e muito,

a dimensão técnica do planejamento e da orientação daqueles trabalhos

premiados. Eles haviam sido contagiados pelo amor à natureza.

4.1 - O PAPEL DO EDUCADOR NA FORMAÇÃO DE VALORES

“O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum desses passa pelos alunos sem deixar sua marca”. (Paulo Freire)

Segundo Ronca (Abril 1998) cai por terra a visão secular e dicotômica de

educação, que insista em um tempo para a formação e outro para a

informação. O conteúdo científico de cada disciplina e moralidade estão

unidas, juntas, assim como a clara e a gema. Interdependentes! E tal

aprendizado não se dá por meio de definições contidas em antigos livros de

educação moral e cívica, mas vivenciada e introjetada via atividade perceptiva

global do aluno, pouco a pouco. O professor que de fato estiver comprometido

com a formação de valores de seu aluno, estará continuamente vivendo isto na

escola.

Ao lermos o poema (Vide anexo 7) poema fica claro para nós, que se

trata de uma professora que trabalha a organização, a criação, a participação e

que objetiva a cooperação, a troca, em uma prática social ativa. Promovendo

assim uma ação de cidadania.

O ingresso na escola representa para a criança uma abertura para a

convivência e para a sociedade. Cada sociedade, cada cultura, cada estrutura

social, política ou econômica, gera um tipo de escola e mantém um

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determinado conceito de educação. A escola pode significar abertura à

curiosidade pelo mundo exterior, abertura à imaginação e à criatividade,

aprisiona o aluno obrigando-o acumular conhecimento – pode ser fonte de

alegria ou caminho para pesadelos, pode ser um paraíso de felicidade ou um

inferno de sofrimento.

O professor, definitivamente, tem de ensinar a viver; tem de preparar

para a vida. Para realizar a tarefa educativa transmissora de valores

vivenciado no processo educativo, precisa estar em uma escola de vanguarda,

que lhe possibilite ampliar a capacidade dos alunos, descobrir as suas

potencialidades, ajudá-las a aceitar suas limitações e a superar dificuldades.

Pode obter resultados eficazes com as seguintes estratégia de trabalho:

favorecer o desenvolvimento pessoal dos alunos; estimular hábitos de trabalho;

cultivar a originalidade e a criatividade; preparar para a vida; corresponder às

exigências de demanda da sociedade; incentivar o espírito crítico; impulsionar

a solidariedade e o trabalho em equipe; ensinar a tolerância; educar para a paz

e a saúde; consolidar as capacidades de base para o trabalho; possibilitar o

amadurecimento; conscientizar o aluno de seus direitos e obrigações.

O professor que educa em valores tem uma grande implicação no

ambiente escolar, já que os valores relacionam-se sobretudo às atitudes que

se formam a mecanismos inconscientes que ocorrem na relação professor –

aluno. Um valor não é comunicável em si mesmo; só pode ser transmitido com

base na vivência. O professor surge diante dos alunos em sua realidade

pessoal, é a pessoa dele que vai influenciar os demais. Suas atitudes e

critérios de valor estão quase que o tempo todo em evidência, pos partilha suas

experiências e os significados delas e tem como ponto de referência a própria

vida.

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A via de transmissão dos valores é a relação professor-aluno, mas

quando a escola tende a profissionalizar-se, a deixar-se absorver pela

estrutura, perde a referência aos valores pessoais. Então, as exigências do

currículo escolar obrigam os professores a procurar a segurança no

rendimento, na parte financeira.

Por outro lado, não podemos nos esquecer de que tudo o que está

relacionado com a escola tem a grande qualidade de poder ser sistematizada.

Os valores, sem esquecer seu aspecto transferencial, podem ser dotados

desse privilégio, de forma que: possam ser realmente transmitidas por meio do

ensino sistemático; possam ser conhecidos pelo aprendizado de sua filosofia e

de seu conteúdo; possam converter-se em realizações concretas pela

aquisição de atitudes e comportamentos aos quais a escola pode oferecer um

acompanhamento de grande valor.

Portanto, educar os jovens para que sejam uma força moral na

sociedade não significa impor-lhes um programa de doutrinação que sufoque

seu espírito e anule o indivíduo. Significa oferecer-lhes a oportunidade de

desenvolver um sentido de responsabilidade, de colocar em suas mãos a

chave que os ajude a reconhecer os verdadeiros valores da vida e a organizá-

las numa hierarquia. Esse aspecto da educação é, hoje, mais essencial do que

nunca, dada a tendência tão difundida de considerar a educação em termos

genéricos demais, reduzindo-a a um adestramento profissional, com enfade

exagerada em garantir um bom retorno econômico.

Os professores e mestres de hoje muitas vezes têm receio de impor

valores. No entanto, os valores morais não são opinião pessoais – essa é a

lição que os educadores podem ministrar aos alunos, junto com consciência da

importância das decisões pessoais no campo da vida pública ou privada. Os

valores, entendidos como realidade significativa, ou como aquilo que permite

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dar significado à existência humana, têm influência na educação porque dão a

possibilidade de que a humanidade cresça em plenitude.

Os valores têm também uma dimensão intersubjetiva, ou seja,

comunitária. Decididamente, não são como os gostos ou os sentimentos

pessoais, que variam de pessoa para pessoa, mas possuem uma capacidade

de coesão, de unir inteligência e vontade; de serem, portanto fonte e alma da

cultura.

Li um livro chamado “a última grande lição” e neste livro pude ver a

importância do professor na vida de seus alunos. O livro trata da história de

um aluno que encontra seu querido professor anos mais tardes nos últimos

meses de vida do seu velho professor. Visitou-o durante 14 terças-feiras, até a

sua morte. Nesses encontros, trataram de termos fundamentais para a

felicidade e a realização humana.

Foi essa a última grande lição: um ensinamento sobre o sentido da vida.

Essas reflexões, transmitidas de forma simples e comovente transformaram a

vida do aluno (autor do livro), que registrou sua preciosa experiência, com seu

professor, como uma dádiva do mestre para o mundo.

“Tanta gente anda de um lado para o outro levando vidas sem sentido.

Parecem semi-adormecidas, mesmo quando ocupadas em coisas que julgam

importantes. Isso acontece porque estão correndo atrás do objetivo errado.

Só podemos dar sentido à vida dedicando-nos a nossos semelhantes e

à comunidade e nos empenhando na criação de alguma cosia que tinha

alcance e sentido. (Professor Morrie, 1995)

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4.2 - O PROFESSOR E A AVALIAÇÃO

A avaliação é um dos pontos mais complexos que o professor precisa

enfrentar. Ela deve ser contínua e orientada para o processo de aprendizagem

do aluno, assim como a própria prática docente.

A avaliação na educação de valores, deve ser preferencialmente de tipo

qualitativo, tendo sempre presente o desafio e o risco que implica a avaliação

nesses campos. Entretanto, teremos de avaliar as tendências de condutas

para a cooperação, a solidariedade, compartilhar, etc., a fim de tratar

potencializar esse tipo de competências.

Na medida de suas possibilidades, a avaliação deve ser compartilhada e

dialogada com os próprios envolvidos, desse modo, pode ter mais incidência

educativa. A título de indicação, na linha de Jares (1992; ´p.70), assinalei

algumas normas que podem ser levadas em conta na avaliação.

Nível de participação nas atividades de grupo e grau de respeito às

normas de funcionamento: participação; aceitação e respeito aos outros;

cumprimento das regras de comunicação em grupo (pedir a palavra, respeitar a

vez, escutar atentamente, etc).

Grau de cooperação: criou-se um clima de cooperação? Os alunos

conseguem trabalhar e relacionar-se entre si? Que tipo de habilidades e

estratégias são as dominantes? Grau de iniciativa e formas que costumam ser

adotadas na tomada de decisões.

Como se enfrentam os conflitos: atitude adotada; estratégias que podem

ser postas em jogo; grau de respeito às soluções adotadas. Como se julgam as

pessoas, os grupos sociais, as etnias, etc: grau de aceitação da diferença e da

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diversidade (cultural, lingüística, racial, social,etc.); grau de tolerância e

respeito; grau de solidariedade para com os desfavorecidos.

Nível de compromisso com os valores de uma cultura do paz, justiça,

solidariedade, tolerância, não-violência, direitos humanos, desarmamento.

Como síntese de tudo que foi dito com relação à avaliação na dimensão

da educação para a solidariedade de valores, julgo conveniente destacar que

em todos os aspectos vinculados aos valores é preciso ter muito presente que

tipo de relações de aprendizagem reforçam-se, o que se persegue, o que

subjaz no ambiente, que conotações pessoais e sociais existem sobre um

determinado tema.

Nesse sentido o grande desafio que o professor deverá enfrentar na

educação para a paz e para a solidariedade consistirá precisamente em

alcançar a carência entre o conteúdo implícito e o explícito, entre o currículo

oculto e manifesto.

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CONCLUSÃO Coração de estudante

Quero falar de uma coisa, Adivinha onde ela anda

Deve estar dentro do peito Ou caminha pelo ar

Pode estar aqui do lado Bem mais perto que pensamos

Folha da juventude É o nome certo deste amor.

Já podaram seus momentos

Desviaram seu destino Seu sorriso de menino

Quantas vezes se escondeu Mas renova-se a esperança

Nova aurora a cada dia E há de se cuidar do broto

Para que a vida nos dê flor e fruto.

Coração de estudante Há que se cuidar da vida

Há que se cuidar do mundo Tomar conta da amizade

Alegria e muito sonho Espalhados no caminho

Verdes: plantas e sentimentos Folhas, coração, juventude e fé.

(Milton Nascimento. CD Amigo. Autores: Milton Nascimento e

Wagner Tiso Warner Music, 1995)

Ao finalizar esta pesquisa, ficou claro para mim que a escola que pratica

a justiça, a tolerância e a generosidade é a que vai ter a possibilidade de

formar verdadeiros cidadãos. Quanto maior for a repressão no ambiente

escolar, menos chance teremos de trabalhar a cidadania.

Como diz Ronca (1998) em seu livro A Clara e a Gema: “Quem confia,

confia na honra da outra pessoa. Quem confia estimula e espera que esta

pessoa possa honrar o combinado. Quem confia, “ensina” que a recíproca da

confiança é a honradez”. Esta pesquisa é o resultado da minha inquietação em

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relação as diversas e diferentes atitudes dos professores. Gostaria de ir mais

além, de saber porque as muitas e muitas escolas não priorizam a educação

por inteiro, já que não somos método, nos informando e nos formando,

preparando-nos para a vida, dando de fato sentido à educação? Este trabalho

mostrou-me que é na prática que estabeleceremos uma ponte entre o que se

faz e o que se diz. E que a teoria sem a prática é como um corpo sem

espírito, é morto, assim como é morta a teoria sem a prática.

Quando se fala em escola, fala-se principalmente em professor, afinal é

ele que enfrenta o cotidiano na sala de aula. É ele que deve ter conhecimento

didático, boa capacidade de comunicação, empatia e respeito da identidade do

outro. Assim, os fios invisíveis que ligam o professor e o aluno estão

ancorados mais em seus aspectos pessoais, que serão decisivos, do que nos

aspectos cognitivos.

Claro, que deparar-se com alunos difíceis se tornará um desafio se o

professor estiver comprometido com o seu papel de educador. A ilusão e o

desejo de criar um ambiente de silêncio absoluto durante 4 horas diárias,

visando unicamente transmitir conteúdo, muitas vezes o impede de ver mais

longe. Percebemos que a parceria escola / família, escola / comunidade é vital

para o sucesso do educando. Sem ela a já difícil compreensão do mundo por

parte do aluno se torna cada vez mais complexa. Juntas sem delegar

responsabilidades, a família, a escola, a comunidade podem significar um

avanço efetivo nesse novo conceito educacional: a formação do cidadão.

Cabe à escola, ao administrador escolar estar sempre em comunicação

com os pais, pois a participação dos pais tem um grande valor. Se unirmos as

nossas forças a favor da boa educação, uma educação formativa e informativa,

amanhã teremos indivíduos, qualificados e preparados para serem inseridos

numa sociedade humanista.

Cada escola depende do que está a sua volta, o em torno deve ser

sempre considerado, se a escola estiver integrada a ele, abrindo o seu espaço,

privilegiando e valorizando não só o aluno, como também a comunidade, ela

estará expressado laços de coletividade, elos capazes de gerar, com

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experiência em educação, a solidariedade. Que possamos retornar e

aprofundar a dimensão cidadã da ação educativa e cultural.

É papel e dever da escola, promover a auto-estima, a alegria de conviver

e cooperar; desenvolver um clima de respeito e auto-respeito, buscar a

pesquisa e a vivência de valores.

Vamos ler um texto que nos ajuda a pensar:

O ECO DA VIDA Um filho e seu pai caminhavam pelas montanhas. De repente, o filho cai, machuca-se e grita: “Aai!”. Para sua surpresa, escuta a voz a se repetir, em algum lugar da montanha: “Aai!” Curioso, pergunta: “Quem é você?” Recebe como resposta: “Quem é você?” Contrariado, grita: “Seu covarde!” Escuta como resposta: “Seu covarde!” Olha para o pai e pergunta aflito: “O que é isso?” O pai sorri e fala: “Meu filho, preste atenção”. Então o pai grita em direção à montanha: “Eu admiro você!” A voz responde: “Eu admiro você!” De novo o homem grita: “Você é um campeão!” A voz responde: “Você é um campeão!”

O menino fica espantado e não entende, mas o pai explica: “As pessoas

chamam isso de eco, mas na verdade isso é a vida. Ela lhe dá de volta tudo o

que você diz ou faz. Nossa vida é simplesmente o reflexo das nossas ações.

Se você quer mais amor no mundo, crie mais amor no seu coração. Se você

quer mais competência da sua equipe, desenvolva a sua competência. O

mundo é somente a prova da nossa capacidade. Tanto no plano pessoal

quanto no profissional, a vida vai lhe dar de volta o que você deu a ela”.

Sua vida não é uma coincidência e sim uma conseqüência de você. Que

possamos juntos dar a educação o verdadeiro sentido da vida. Que a escola se

proponha a desenvolver projetos pelos quais:

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Os alunos tornem-se responsáveis por cuidar de jardins e praças

públicas, próximos da sua escola;

Os alunos possam recolher, de porta em porta, o lixo reciclável, que os

membros daquela comunidade tenham guardado durante um

determinado tempo;

Os alunos façam com literatura, artes e música trabalhos de recreação

com crianças em hospitais ou em instituições;

Os alunos façam com literatura, artes e música trabalhos de recreação e

de entretenimento com idosos, em axilos;

Os alunos possam ser responsáveis para promover na escola ou na

comunidade, eventos culturais, sociais ou de recreação (principalmente

para os desiguais, aqueles possuidores de alguma dificuldade física,

motora ou mental);

Os alunos sejam responsáveis pela manutenção, na escola, de uma

horta e as hortaliças sejam doadas, por eles mesmos, para hospitais,

creches ou asilos;

Os alunos mais velhos sejam preparados ou se preparem, para poderem

ministrar cursos práticos ou de extensão cultural para pessoas da

comunidade que desejam.

Pois, acredito que quando os jovens ou crianças vêem ou percebem a

dor ou os dramas humanos desenvolvem a sensibilidade perante a vida e

quando estão frente a frente às tristes contradições de nossa sociedade eles

podem rever valores que elegem sua vida. A escola e o professor que

introduzem no seu quotidiano escolar atitudes de cooperação, de

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responsabilidade, de sensibilidade e de amor fará a diferença em nosso meio,

estará contribuindo para uma sociedade mais justa, mais humana, e mais feliz.

Sabemos que uma escada de mil degraus começa sempre por um

primeiro, por isso devemos começar sabendo que o viver-na-escola deve

desenvolver necessariamente a participação comunitária e a responsabilidade

social.

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BIBLIOGRAFIA

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__________,Revista Pátio ano 1 nº 4 Fevereiro/Abril 1998 editora Artmed.

__________,Revista Pátio ano 2 nº 5 Maio / Junho 1998 editora Artmed.

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SERRANO, Glória Perez. Educação em valores:como educar para a

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ANEXOS

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ANEXO 1

Ilustração do capítulo I: Foto da Escola em que trabalho.

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ANEXO 2

Quinto, Toda Mafalda, São Paulo, Martins Fontes, 1991

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ANEXO 3

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ANEXO 4

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ANEXO 5

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Anexo 6

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ANEXO 7

MORADA DO INVENTOR Elias José

A professora pedia e a gente levava,

achando loucura ou monte de lixo:

latas vazias de bebidas, caixas de fósforo,

pedaços de papel de embrulho, fitas

brinquedos quebrados, xícaras sem asa,

recortes e bichos, pessoas, luas e estrelas,

revistas e jornais lidos, retalhos de tecido,

rendas, linhas, penas de aves, cascas de ovo,

pedaçoes de madeira, de ferro ou de plástico.

Um dia, a professora deu partida

E transformamos, colamos e colorimos.

E surgiram bonecos esquisitos,

Bichos de outros planetas, bruxas

E coisas malucas que Deus não inventou.

Tudo o que nascia ganhava nome, pais,

Casa, amigos, parentes e país.

E nasceram histórias de rir ou de arrepiar!...

E a escola virou morada do inventor!

(Nova escola, N] 133 / junho / julho, 2000)

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ANEXO 8

Há Tempos

(Legião Urbana)

Parece cocaína

Mas é só tristeza

Talvez tua cidade

Muitos temores nascem do cansaço

E da solidão

E o descompasso

E o desperdício

Herdeiros são agora da virtude

Que perdemos

Há tempos tive um sonho

Não me lembro, não me lembro

Tua tristeza é tão exata

E hoje o dia é tão bonito

Já estamos acostumados

A não termos mais nem isso

Os sonhos vêm

E os sonhos vão

O resto é imperfeito

Disseste que se tua voz

Tivesse força igual

À imensa dor que sentes

Teu grito acordaria

Não só a tua casa

Mas a vizinhança inteira

E há tempos nem os santos

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Têm ao certo a medida da maldade

E há tempos são os jovens

Que adoecem

E há tempos o encanto

Está ausente

E há ferrugem nos sorrisos

E só o acaso estende os braços

A quem procura abrigo e proteção

Meu amor

Disciplina é liberdade

Compaixão é fortaleza

Ter bondade é ter coragem

Lá em casa tem um poço

Mas a água é muito limpa.

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ANEXO 9

PAPO DE MÃE

Rosa Amanda Strauz

Sábado e Domingo. Dezenove e vinte de abril. Abri os jornais com

certa expectativa. Afinal, dia 18 tinha sido Dia Nacional do Livro Infantil. Quem

sabe, naquele fim de semana, os jornais dariam um espacinho para a literatura

infantil e juvenil?

Em vez disso, encontrei a notícia da morte estúpida do índio Galdino

dos Santos, assassinado por jovens de classe média em Brasília. Nos dias

seguintes, a palavra que mais se lia nos jornais era “barbárie”, uma palavra que

é bom lembrar – acompanha a humanidade há milênios. Antigamente, bárbaro

era diferente, era aquele em que os civilizados não reconheciam qualquer

humanidade – logo podia ser massacrado, dizimado ou escravizado sem mais

delongas.

Chamar de bárbaros rapazes que assassinam um índio ( porque

pensavam se tratar de um mendigo) é uma novidade em termos históricos.

Mostra que o sentido de “bárbaro” se inverteu, e hoje indica aquele que, sendo

civilizado, não reconhece validade humana no outro. Hoje, bárbaros são os

incendiadores de mendigos, os policiais que brutalizam a população, os

neonazistas, os espancadores de travestis. São aqueles que julgam que

imigrantes, gente pobre ou pertencente a um grupo social ou religioso diferente

do seu não faz parte da humanidade.

Se a História seguisse sempre em linha reta, meu coração de mãe

ficaria tranqüilo. Nos próximos anos, provavelmente, passaríamos a chamar de

bárbaros os executivos que triplicam o lucro de suas empresas demitindo

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milhares de trabalhadores, os governantes que arrotam eficiência econômica à

custa da miséria da população, todos aqueles que dão ataque de piripaque

quando alguém apresenta idéias diferentes das suas etc.

O problema é que esses últimos são chamados de heróis. E, aí, meu

coração de mão começa a ter taquicardia. Fico aqui conversando com as

fraldas: se o contrário de bárbaro é civilizado, quem vai me ajudar a civilizar

meus rebentos? A escola, que sonha formar os futuros executivos eficientes? A

TV ? O Videogame? A Carla Perez ? A publicidade ? Os filmes infantis? Os

desenhos animados ?

Agora, voltando ao meu papo lá de cima sobre o dia do livro. Quem

pensa que livro de criança só fala de bichinho e florzinha, vai se surpreender

ao descobrir que ele é, sobretudo, literatura. E é nessa qualidade que fala do

ser humano, das relações sociais, de preconceito, de liberdade, de sonhos com

um mundo mais justo. Fala daquilo que a TV, a publicidade, o videogame,

calam.

Talvez por isso o 18 de abril tenha passado despercebido. E eu tenha

que esperar do Dia das Mães para deixar registrado o meu agradecimento a

Monteiro Lobato, Bartolomeu Campos Queiroz, Ana Maria Machado, Sylvia

Orthof, Ziraldo, Ruth Rocha, Joel Rufino dos Santos e tantos outros cujos

leitores jamais tocarão fogo numa pessoa que dorme.

Jornal da Cidadania – 1 a 31 de maio de 97

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO ..............................................................................................02

AGRADECIMENTO ..............................................................................................03

DEDICATÓRIA......................................................................................................04

EPÍGRAFE............................................................................................................05

RESUMO ..............................................................................................................06

METODOLOGIA ...................................................................................................07

SUMÁRIO .............................................................................................................09

INTRODUÇÃO......................................................................................................10

CAPÍTULO I – VALORES E EDUCAÇÃO.............................................................17

1.1 – O que são valores? ......................................................................................21

1.2 - Por que e para que uma educação em valores.............................................23

1.3 - Com quais valores deve estar comprometida a ação educativa ...................27

CAPÍTULO II – OS VALORES NO CURRÍCULO FORMATIVO ...........................31

2.1 – O Método dos Temas Transversais ............................................................37

2.2 – Educação para a Paz no Currículo: Um Valioso Tema Transversal ............40

CAPÍTULO III – OS VALORES INSTITUCIONAIS DAS ESCOLAS .....................45

3.1 – As Práticas Organizacionais e Pedagógicas................................................47

3.2 – Relações entre Escola e Comunidade .........................................................49

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3.3 – A Família e Escola .......................................................................................51

CAPÍTULO IV – OS VALORES NA AÇÃO PESSOAL DOS PROFESSORES .....58

4.1 – O Papel do Educador na Formação de Valores...........................................61

4.2 – O Professor e a Avaliação............................................................................65

CONCLUSÃO .......................................................................................................67

BIBLIOGRAFIA .....................................................................................................72

ANEXOS ............................................................................................................... 74

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - PROJETO A

VEZ DO MESTRE

Título da Monografia: A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

ENTRE OS PROFISSIONAIS NÃO DOCENTES NO PROCESSO

EDUCACIONAL.

Autor: Aline Lima Rangel de Araújo

Data da entrega:_________________________

Avaliado por:______________________________ Conceito:__________

Avaliado por: _____________________________ Conceito:__________

Avaliado por: _____________________________ Conceito:__________

Conceito Final:____________________________