Competências, Gestão de Competências e Profissões
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Competncias, Gesto de Competncias eProfisses: Perspectivas de Pesquisas
Competencies, Management of Competencies andProfessions: Perspectives of Research
Kely Csar Martins de Paiva*Doutora em Administrao pelo CEPEAD/FACE/UFMG.
Membro do Ncleo de Relaes de Trabalho e Tecnologias de Gesto - NURTEG(Faculdade Novos
Horizontes), Belo Horizonte/MG, Brasil.
Marlene Catarina de Oliveira Lopes MeloDoutora pela Universit de Paris IX, Dauphine, Frana.
Diretora Acadmica da Faculdade Novos Horizontes, Belo Horizonte/MG, Brasil.
*Endereo: Faculdade Novos Horizontes e Universidade FUMEC, Rua AlvarengaPeixoto, 1270, Bairro Santo Agostinho, Belo Horizonte/MG, 30180-120.E-mail: [email protected] / [email protected]
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RESUMO
Os objetivos deste ensaio foram refletir sobre os conceitos de competncia profissional,gesto de competncias e profisso, e indicar possibilidades de pesquisas. Aps a reflexo,procedeu-se reconceituao de competncia profissional e de profisso, considerando-se aspectos que implicam uma diversidade complexa e de difcil gerenciamento em mltiplasesferas e, inevitavelmente, um redimensionamento dos processos de profissionalizaode determinadas ocupaes. Para pesquisas, props-se uma agenda que contemplaaspectos metodolgicos (abordagens qualitativas para dar profundidade compreensodos temas e das suas inter-relaes, e abordagens quantitativas com vistas extenso deconcluses e validao de modelos) e temticos (um leque de opes contemplandoprofisses que se encontram em momentos diferenciados no que diz respeito ao processode profissionalizao, buscando compreender aspectos particulares e extensivos a outrasdemais). O cumprimento de tal agenda visa colaborar, tanto conceitual e academicamente,no sentido de precisar e expandir a delimitao dos construtos abordados, como prticae profissionalmente, para fornecer subsdios para um trnsito efetivo dos atores sociaisenvolvidos nos processos de profissionalizao a que se tem assistido e presenciado.
Palavras-chave: competncia; gesto de competncias; profisso; profissionalismo.
ABSTRACT
The objectives of this assay had been to reflect on the concepts of professional competence,management of competences and profession, and to indicate possibilities of research.After the reflection, a re-conceptualization of professional competence and professionwas done, considering aspects that imply in a complex diversity that is difficult to managein multiple spheres and, inevitably, in a redesign of the professionalization processes ofdetermined occupations. For research, it proposes an agenda that contemplatesmethodology (qualitative boardings to give depth to the understanding of the subjectsand their relations, and quantitative boardings that aim the extension of conclusions andvalidation of models) and thematic aspects (a fan of options contemplating professionsthat are at differentiated moments in terms of the professionalization process, searchingto understand particular and extensive aspects to others groups). The fulfilment of therelated agenda aims at to collaborate in two ways: conceptual and academic, in the directionto exact and to expand the delimitation of the boarded constructs; and practical andprofessional, to give subsidies for an effective transit of the involved social actors in theprofessionalization processes that we have attended and witnessed.
Key words: competency; management of competencies; profession; professionalism.
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INTRODUO
H quase dois sculos atrs, Alxis de Tocqueville realizou uma pesquisalongitudinal em que analisou o fenmeno das profisses liberais, ou livres, atentandopara disparidades em termos de remunerao. Esse estudo contemploufuncionrios pblicos e mensageiros de escritrio, comparando Estados Unidosda Amrica e Frana. Tocqueville associou as diferenas encontradas aos variadosnveis de democracia em perodos de tempo e pases distintos, ou seja, maisdemocracia nos EUA que na Frana e mais democracia na Frana em 1833 queem 1810, redundando em maiores salrios e status para diferentes categoriasprofissionais. Para ele, as questes polticas ditavam as normas salariais, pois aaristocracia nas referidas pocas tendia a privilegiar postos de trabalho que elaprpria, ou seus familiares, poderiam ocupar, no caso os funcionrios pblicos(Scitovisky, 1966).
Scitovisky (1966), por sua vez, debruou-se sobre alguns pases ocidentais(Canad, Dinamarca, Frana, Alemanha, Noruega, Sucia, Reino Unido e EstadosUnidos), em perodo que abrange praticamente a primeira metade do sculo XX,abraando os seguintes profissionais: advogados, mdicos, dentistas, funcionriospblicos e professores universitrios. Dois pontos foram alvo de anlise para oautor: a relao entre crescimento econmico e avano da democracia, e a perdade status econmico das classes profissionais e intelectuais. Segundo ele, aosfatores econmicos referenciados por Tocqueville, somam-se outros, sendo dignode destaque o aumento da disponibilidade de educao em nvel superior e, da, adiminuio do custo individual de formao. Aumentando-se a oferta deprofissionais, seus rendimentos caram. Do lado da demanda, a produtividadecorrelata era de difcil mensurao, implicando empecilhos quanto sua conexodireta com a remunerao. Apesar das limitaes de um estudo comparativo damonta do realizado por Scitovisky (1966), como as diferenas de poder aquisitivoentre pases / anos dos valores em estudo, processos inflacionrios, utilizao dedados secundrios de fontes distintas etc., o autor questiona a manuteno dostatus profissional em determinadas espaciotemporalidades, e as formas e osrecursos que os profissionais utilizam nesse trajeto, como associaes coletivas,presses institucionais etc.
No Brasil, a contribuio de Coelho (1999) instigante, pois retrata a evoluoprofissional, e os meandros desse percurso, em medicina, engenharia e advocaciano Rio de Janeiro, no perodo de 1822 a 1930. O autor destacou as influncias doEstado, das associaes coletivas, incluindo sindicatos, das instituies de ensino
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e dos prprios profissionais, na pessoa dos representantes das elites. Ele realouo aspecto processual da profissionalizao, isto , como uma profisso pode terseu status elevado ou diminudo na sociedade, em virtude das mudanas extra,inter e intra-profissionais.
Sob tica semelhante, Carvalho e Azevedo (2004) assinalam uma mudana destatus nas profisses liberais, na promulgao da Consolidao das Leis doTrabalho [CLT], em 1943, em virtude da institucionalizao dos sindicatos comorepresentantes de segmentos de trabalhadores, responsveis por contratoscoletivos, dissdios, acordos etc. Em 1953 foi criada a Confederao Nacionaldas Profisses Liberais [CNPL], entidade multiprofissional que abriga 28 das 34federaes nacionais, estaduais ou interestaduais. A importncia dessesprofissionais no atual contexto nacional pode ser ilustrada de vrias formas.Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral [TSE], cerca de 5% dos eleitorescaracterizam-se como profissionais liberais e de nvel superior. Nas eleiesmunicipais de 2000, quase 9% dos prefeitos e vereadores eleitos pertenciam atais categorias profissionais; j nas eleies gerais de 2002, eles somaram emtorno de 30% dos eleitos, com destaque para advogados, mdicos e engenheiros.Outro exemplo salientado por Carvalho e Azevedo (2004) a participao de10% dos profissionais liberais na arrecadao anual total do imposto sindical. Emtal reflexo, os autores atentam para a necessidade de um esforo conjunto noprocesso de profissionalizao, que contemple sociedades cientficas, acadmicase de pesquisa, e tambm conselhos profissionais, reguladores e fiscalizadores dasprofisses.
Assim, a nfase dada por Coelho (1999) e Carvalho e Azevedo (2004) sobre osdomnios sociais, polticos, econmicos e tcnicos que envolvem uma profissoest diretamente conectada construo de um sistema profissional pautado emcompetncias, conforme disserta Ramos (2001). Para esta autora, no bojo dessesistema estariam estrategicamente conciliados projetos individuais, institucionaise sociais. Segundo ela
O projeto individual implica a responsabilidade que tem o indivduo na gesto desua prpria carreira profissional. O projeto das empresas, seja qual for o tipo,deve cuidar das relaes de competitividade nas organizaes e de suasresponsabilidades em desenvolver as competncias individuais. Por fim, o projetosocial tem como foco a dimenso coletiva do profissionalismo e o papel assumidopelo governo e pela sociedade em geral (organizaes sociais e profissionais)em prover os recursos e oportunidades iguais s pessoas para se tornaremprofissionais e terem seu profissionalismo reconhecido. Os sistemas decompetncia profissional tm-se apresentado como tentativa de realizar essaconciliao (Ramos, 2001, p. 73).
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Dessa maneira, a competncia profissional e sua gesto no aparecemdescoladas da realidade prtica; pelo contrrio, como conhecimento manifestoem aes, comportamentos, potenciais e, fundamentalmente, resultados, acompetncia assume valor diferenciado e reconhecido no mercado. Esse fatotoma vulto ainda maior, quando se pensa em torno de profisses, como ocupaesque passaram por um processo que, conforme Elias (1987), Boudon e Bourricaud(1993), Waddington (1996), A. G. Johnson (1997) e Roos (2000), dentre outrosautores, contempla os seguintes aspectos: especializao acadmica, ou seja,incluem saber especializado, validado por instituies de ensino, normalmente deensino superior, e reconhecido socialmente; auto-regulao coletiva entre osprprios membros e via instrumentos legais; e autonomia, altrusmo e independnciana execuo de suas atividades provenientes da especializao e de uma relaosingular com o cliente.
Uma profisso pode ser compreendida, portanto, como estgio avanado,diferenciado ou refinado de ocupao, cujos praticantes conseguem certo graude monoplio em relao aos demais indivduos na sociedade em determinadaespaciotemporalidade. O processo de profissionalizao, isto , de trnsito destatus entre ocupao e profisso, como salienta Coelho (1999), envolve diferentesatores sociais: instituies de ensino, o Estado, seus prprios praticantes e asociedade. Nesse sentido, Veiga (1998) afirma que o processo de profissionalizaono movimento linear e hierrquico, no se tratando de questo meramentetcnica, implicando a relao entre profissionalismo e gesto de competncia.
Sendo assim, descortinam-se possibilidades de pesquisa sobre a figura(1) dosprofissionais liberais, tendo em vista as perspectivas que se abrem e as exignciasque se impem a cada profisso, as quais se realizam num ambiente ao mesmotempo amplo - no contexto organizacional, pautado em determinaes legais evinculado a instituies de interesse coletivo e especfico no mbito da formaoe do desenvolvimento de competncias, formais e informais, e do prprioprofissional, enquanto sujeito de sua histria.
Os objetivos deste ensaio, portanto, so dois: primeiro, refletir sobre os conceitosde competncia profissional, gesto de competncias e profisso; e, segundo,indicar possibilidades de pesquisas, tanto em termos metodolgicos comotemticos. Note-se que a terminologia gesto de competncias ser utilizada demaneira a sintetizar tanto os esforos organizacionais, mais conhecidos comogesto por competncias, como os individuais, coletivos e sociais. Evitar-se- aterminologia profisso liberal e profisso livre, em virtude de o adjetivo referir-se a caractersticas que no se mostram compatveis com a sociedadecontempornea, principalmente devido aos impactos antimonoplio eantiexclusividade que tm atingido as profisses liberais clssicas, como apontam
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Villa (1998) e Carvalho e Azevedo (2004). Conforme transcrevem estes ltimos,os estatutos da CNPL definem o profissional liberal como aquele legalmentehabilitado prestao de servios de natureza tcnico-cientfica de cunhoprofissional, com a liberdade de execuo que lhe assegurada pelos princpiosnormativos de sua profisso, independentemente de vnculo da prestao deservio (Carvalho & Azevedo, 2004, p. 15), definio esta que mais se alinha aoconceito proposto neste artigo.
Convm ressaltar que os estudos sobre profisses so escassos no pas (Barbosa,2003; Bonelli & Donatoni, 1996), assim como as pesquisas sobre competncias egesto de competncias, temas que comeam a ser discutidos em maiorprofundidade na Administrao, a partir do final da dcada de 90 (Bitencourt &Barbosa, 2004). Por outro lado, a aproximao de abordagens / paradigmas distintos(profisses / institucionalismo; competncias / fenomenologia) pode trazer, almdos riscos(2), ganhos interessantes para ambos, para o desenvolvimento de outrasteorias e, sobretudo, para uma melhor compreenso dos fenmenos, conformesublinham Lewis e Grimes (2005).
REFERNCIAS CONCEITUAIS
Competncia Profissional
A noo de competncia vem do latim competentia, derivada de competere,chegar ao mesmo ponto, oriunda de petere, dirigir-se para. Refere-se a oque convm; no francs antigo, significava apropriado (Dadoy, 2004, p. 108).
O conceito de competncia, segundo Le Boterf (2003), conceito em construo.Torna-se necessrio, portanto, elencar alguns autores que j se debruaram sobreo tema para, ao final, traar o conceito a ser utilizado para fins dessa reflexo.
Dutra, Hiplito e Silva (1998) sublinham que, para um grupo de autores(3) querealizaram seus trabalhos nas dcadas de 70 e 80, na maioria americanos,competncia significa o conjunto de qualificaes que um indivduo detm paraexecutar trabalho com nvel superior de desempenho. Segundo Dutra et al. (1998),aps a dcada de 80, outros autores(4), predominantemente europeus, contestaramesse conceito de competncia, associando-o s realizaes das pessoas, quiloque elas provem, produzem, entregam. Este segundo grupo percebe que o fatode uma pessoa possuir as qualificaes necessrias para determinado trabalhono garante que elas sejam realmente utilizadas e, conseqentemente, que serealize tal atividade produtiva.
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McLagan (1997) tenta resumir esta questo, afirmando que, no mundo dotrabalho, a palavra competncia tem assumido diversos significados normalmentealinhados a caractersticas dos indivduos ou das suas atividades produtivas eresultados decorrentes. Numa perspectiva semelhante, Woodruffe (1991)diferencia, na lngua inglesa, competency de competence. Segundo este autor, aprimeira refere-se a dimenses de comportamento por trs do desempenhopercebido como competente, enquanto a segunda designa reas de trabalho emque a pessoa vista como competente. Competency, nessa perspectiva, relaciona-se a caractersticas do indivduo e competence, por sua vez, diz respeito aodesempenho no cargo e aos resultados alcanados, aproximando-se do conceitode qualificao do Centro Interamericano de Investigao e Documentao sobreFormao Profissional [CINTERFOR] da Organizao Internacional do Trabalho[OIT] - muito difundido na Amrica Latina, conforme salienta Ramos (2001).Para o CINTERFOR, o conceito de qualificao incorpora um conjunto deconhecimentos e habilidades adquiridos pelas pessoas no decorrer dos processosde socializao e de educao / formao, que as capacitavam potencialmente adesempenhar tarefas num posto de trabalho de maneira satisfatria (CINTERFOR Projeto 128, citado em Brgido, 1999). J o conceito de competncia diz respeito capacidade real para atingir um fim em determinado contexto, capacidade estaconstituda por certos conhecimentos e habilidades necessrios do indivduo (idem).
Conforme ressaltam Brgido (1999) e Ramos (2001), qualificao refere-se organizao, ao posto de trabalho ou cargo, potencialidade de ao, possibilidade/ facilidade de transferncia, a algo esttico e absoluto no tempo e no espao; jcompetncia relaciona-se profisso (ou ocupao), ao indivduo, aos resultadosreais por ele obtidos, dificuldade / impossibilidade de transferncia, a algodinmico, processual, relativo: enfim, a competncia uma construo social(Tomasi, 2004a, p. 153).
Ainda sobre a diferenciao qualificao-competncia, as contribuiespresentes em Tomasi (2004b) so dignas de realce. Dugu (2004) explicita osataques frontais sofridos pelo conceito de qualificao, principalmente no final dadcada de 70 e emerso do conceito de competncia, como resposta s novasdemandas do mercado e da sociedade. Roche (2004) lembra a descrio deDemailly (1987) acerca da competncia como algo a mais, que torna eficiente aqualificao; a autora realizou, ainda, uma comparao entre o conceito decompetncia e trs dimenses da qualificao - social, experimental e conceitual-, mostrando pontos de interseo e de disperso entre eles.
Focando na conceituao de competncia, Le Boterf (2003) a define como aprtica do que se sabe em certo contexto, geralmente marcado pelas relaes detrabalho, pela cultura organizacional, pelas contingncias, por diversas limitaes
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etc. Para ele, competncia se traduz em ao, em saber ser e, da, a mobilizarconhecimentos em diferentes situaes.
Outros autores que trabalham sobre o construto, como Rop e Tanguy (1997),Dutra et al. (1998) e Fleury e Fleury (2001), pensam em competncia comosendo o resultado da soma das duas linhas apresentadas anteriormente. Dessaforma, eles alargam o conceito, evidenciando no apenas a presena de umconjunto de qualificaes, como a necessidade da sua manifestao prtica emdeterminado contexto. Assim, o conceito amplia sua abrangncia na medida emque engloba a gerao de resultados afinados aos objetivos organizacionais.
Dessa maneira, o conceito de competncia vai alm da simples qualificao.Zarifian (2001) afirma que ele se relaciona com capacidade do indivduo de assumiriniciativas, estar alm do prescrito, compreender e dominar situaes em constantemutao, ser responsvel e reconhecido por outros. A percepo desse autorderiva de basicamente trs pontos: a natureza contingencial do mundo moderno,o teor participativo da comunicao intra-organizacional e seus impactos na visode servios dentro e fora das organizaes. Le Boterf (2003) acrescenta aoconstruto variveis relacionadas aprendizagem, na medida em que situa acompetncia num ponto convergente entre a pessoa, sua formao educacionale sua experincia profissional. Esse autor afirma, ainda, que competncia umsaber agir responsvel que engloba saber mobilizar, integrar e transmitirconhecimentos, recursos e habilidades, em determinado contexto profissional.Assim sendo, tal saber gera uma conseqncia inevitvel, que seureconhecimento por outros.
Na mesma linha, Sparrow e Bognanno (1994) correlacionam o conceito a umleque de atitudes que permitam adaptao rpida a um ambiente cada vez menosestvel, incitem o uso produtivo do conhecimento, e promovam inovao eaprendizagem permanentes. Tais atitudes configuram-se como relevantes paraobteno de alto desempenho no exerccio de funes, ao longo de uma carreiraprofissional e no contexto de uma estratgia corporativa. Ruas (2001, 2005)compartilha dessas perspectivas em suas pesquisas e, a exemplo de Le Boterf(2003), rene os aspectos discutidos em trs grandes eixos percebidos comoclssicos: o conhecimento saber, as habilidades o saber fazer, e as atitudes o saber ser / agir. J Perrenoud (1999) recorre ao conceito de esquema paradefinir competncia. Para ele, os esquemas permitem a mobilizao deconhecimentos, mtodos, informaes e regras para enfrentar uma situao queexige uma srie de operaes mentais de alto nvel. Nas palavras do autor:
Uma competncia seria, ento, um simples esquema? Eu diria que antes elaorquestra um conjunto de esquemas. Um esquema uma totalidade constituda,que sustenta uma ao ou operao nica, enquanto uma competncia com
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uma certa complexidade envolve diversos esquemas de percepo, pensamento,avaliao e ao, que suportam inferncias, antecipaes, transposiesanalgicas, generalizaes, apreciao de probabilidades, estabelecimento deum diagnstico a partir de um conjunto de ndices, busca das informaespertinentes, formao de uma deciso etc. (Perrenoud, 1999, p. 24).
Indo alm dos conhecimentos, a conceituao de competncia de Perrenoud(1999) espelha dificuldades em termos da sua gesto nas organizaes, pois oesquema pode conter alguma rigidez, mas sua orquestrao no, em virtude deseu carter contingencial. Nessa tica, o conceito de competncia se aproximado de habitus de Bourdieu (2003), ou seja, um conjunto de esquemas quepermitem gerar uma infinidade de prticas ao mesmo tempo adaptadas a situaes,renovveis, mas no explcitas. Assim, toda competncia est, fundamentalmente,ligada a uma prtica social de certa complexidade e todas as prticas, incluindoas profissionais, admitem uma forma profissional, o que perfeitamente normal,pois toda competncia amplamente reconhecida evoca uma prtica profissionalinstituda, emergente ou virtual (Perrenoud, 1999, pp. 35-36).
Por sua vez, Fleury e Fleury (2001, p. 21) propem um conceito, segundo elesao mesmo tempo abrangente e preciso, em que competncia definida comoum saber agir responsvel e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferirconhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor econmico organizao, e valor social ao indivduo. Nessa abordagem, a competnciaprofissional seria composta por sete saberes: saber agir, saber mobilizar, sabercompreender, saber aprender, saber comprometer-se, saber assumirresponsabilidades e ter viso estratgica. O impacto de agregar valor , na visodesses autores, elemento de ligao entre indivduo e organizao: para o primeiroagrega-se valor social e, para a segunda, valor econmico. Desenha-se, portanto,a relao entre o contexto, o processo de aprendizagem e a gerao e manutenode competncias. Tal relao est em congruncia com a corrente terico-filosficaconstrutivista, de origem francesa, que percebe o processo de aprendizagem comomecanismo de desenvolvimento das competncias profissionais. Na viso deDesaulniers (1997), como o agir competente resulta de empreendimentosoriginrios de variadas fontes (indivduo, escola, Estado, sociedade), ele gera ganhospara todos, constituindo-se em uma estratgia que se presta ao desenvolvimentoe consolidao da cidadania.
Por outro lado, cabe frisar que os conceitos de competncia profissional, atento alinhados neste artigo, parecem no contemplar os aspectos polticos eideolgicos que permeiam o construto competncia, indicados por Ramos(2001), os quais legitimam diferenas intra-organizacionais e intraprofissionais,assim como individualizam uma construo que , de fato, coletiva. Sobre o
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dueto qualificao-competncia, a autora ressalta a individualizao do segundoconceito, fato que, segundo ela, gera conseqncias (danosas) coletividadepertinente.
Cabe, portanto, uma viso mais ampla da conceituao de competnciaprofissional, como a desenvolvida por Cheetham e Chivers (1996, 1998, 2000).Em seu modelo terico, estes autores buscam integrar vrias abordagens, queprivilegiam conhecimento tcito e sua aplicao, conhecimento acadmico-profissional, padres profissionais, atributos pessoais, controle, desenvolvimentoe mediao de outras competncias. Segundo eles, tal modelo considera aspectosprocessuais e dinmicos, assim como individuais, coletivos e sociais, alm deatentar para macrorresultados (da atividade profissional), microrresultados (deatividades especficas) e resultados parciais (de uma atividade especfica). Oncleo do modelo constitudo por quatro competncias centrais (cognitiva,funcional, comportamental ou pessoal, tica) compostas por grupos dehabilidades. Sobre essas competncias estariam as metacompetncias e,permeando todas elas, as transcompetncias, que poderiam ser assimexemplificadas: comunicao, criatividade, soluo de problemas, aprendizageme autodesenvolvimento, agilidade mental, anlise e reflexo. Como resultadosda competncia profissional, Cheetham e Chivers (1998) alinham os percebidospelo prprio sujeito e pelos outros, a que ele tem acesso atravs dos mecanismosde feedback. Tais percepes dos resultados (em termos macro, micro eparciais) levariam o profissional reflexo sobre a ao e tambm na ao(5),da sua incluso nas metacompetncias(6). Em funo disso, surgiu a necessidadede considerar no modelo as variveis personalidade e motivao, j que ambasinfluenciam decises pessoais acerca das necessidades e das possibilidadesreais e potencias de se fazer coisas. Por fim, os autores reconhecem aimportncia do contexto de trabalho e do ambiente de trabalho para acompetncia profissional: contexto como a situao particular na qual umprofissional requisitado a operar e ambiente como as condies fsicas,culturais e sociais que envolvem um indivduo no trabalho (Cheetham & Chivers,1998, p. 273).
Aps apresentarem e discutirem os resultados de suas pesquisas, Cheetham eChivers (2000, p. 374) frisaram que a adoo de seu modelo permitiu examinar
a natureza da prtica profissional (como os profissionais operam), a naturezadas modernas profisses, competncia profissional, como pessoas reconhecemcompetncias profissionais em outras e como pessoas adquirem sua competnciaprofissional (um exame da contribuio de ambos o desenvolvimento formal eoutros tipos de experincia formativa).
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Assim, esse modelo conceitual foi considerado metodologicamente til parafins das pesquisas propostas neste artigo, sendo necessrio acrescentar outrasvariveis com vistas a redimension-lo para o contexto das profisses.
Com o mesmo intuito, prope-se o seguinte conceito de competncia profissional:mobilizao de forma particular pelo profissional na sua ao produtiva de umconjunto de saberes de naturezas diferenciadas (que formam as competnciasintelectual, tcnico-funcionais, comportamentais, ticas e polticas) de maneira agerar resultados reconhecidos individual (pessoal), coletiva (profissional),econmica (organizao) e socialmente (sociedade). Concebe-se, ento,competncia profissional como a meta-reunio de maneira singular e produtivade competncias compostas por saberes variados. Acrescentou-se a competnciapoltica, com vistas a considerar as relaes de poder inerentes a qualquerestrutura organizacional e, da, as razes e formas de atuao do profissional nateia poltica intra e interorganizacional.
Resgatando a percepo do carter social da construo e da manuteno dacompetncia profissional, conforme sublinha Dubar (1997), nega-se uma formaopontual, esttica ou descolada da realidade prtica e da reflexo conceitual. Nesteponto, torna-se necessrio conceituar e discutir alguns aspectos relevantespertinentes gesto de competncias.
Gesto de Competncias
Zarifian (2001, p. 126) afirma que a lgica da competncia leva a revisitar oconjunto de prticas de gesto de recursos humanos, abraando os processosde recrutamento, de mudana da organizao do trabalho, de avaliao, deidentificao de potenciais e de construo de projetos individuais, assim comoas polticas de formao e de carreira. Segundo este autor, cabe gesto derecursos humanos dar coerncia global ao conjunto de aes e, dessa maneira,conciliar os interesses da organizao e os das pessoas.
Para Brando e Guimares (2001), a gesto de competncias faz parte de umsistema maior de gesto organizacional: a partir da estratgia organizacional, eladireciona suas aes de recrutamento e seleo, treinamento, gesto de carreirae formalizao de alianas estratgicas, entre outras, para a captao e odesenvolvimento das competncias necessrias para atingir seus objetivos(Brando & Guimares, 2001, p. 11), caracterizando um processo circular e demultinvel que engloba toda a organizao. Convm lembrar que, na viso dessesautores, o processo de gesto de competncias se constitui em mecanismos decontrole social de trabalhadores e de manuteno das estruturas de poder dasorganizaes (Brando & Guimares, 2001, p. 13).
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Dutra (2004) compartilha da viso anterior e disserta sobre o conceito decompetncia, considerando fases de sua utilizao: como central na definiodas polticas de seleo e desenvolvimento de pessoas; sobre a diferenciaopor nveis de complexidade; como conceito integrador da gesto de pessoas edestas com os objetivos estratgicos da organizao; e da apropriao porparte das pessoas dos conceitos de competncia. Segundo esse autor, um dosmaiores desafios relacionados gesto de competncias a identificaoprecisa das competncias demandadas pela empresa e pela sociedade, demaneira a garantir vantagens competitivas(7) e dar foco nos processoseducativos. Por outro lado, o autor recomenda que alguns efeitos perversossejam evitados, a saber: a desarticulao conceitual em relao prtica, aexplorao do trabalhador, o descolamento estratgico do modelo adotado, ea desarticulao com as pessoas.
J Ramos (2001) define a gesto por competncias como organizada a partirdos seguintes eixos: gesto previsional de empregos e competncias, a partir daindividualizao dos trabalhadores no que diz respeito s suas perspectivas epossibilidades de mobilidade horizontal e / ou transversal; desenvolvimento decompetncias individuais, diretamente relacionado com mudanas nas polticasorganizacionais de formao de pessoal; reconhecimento das competncias dotrabalhador, desconsiderando-se suas origens e formas, e incentivando suasprprias aes a esse respeito; e, estabelecimento de polticas avaliativas eremuneratrias por competncias. Ramos (2001) salienta as mudanas nasrelaes de trabalho e nas relaes educativas, tendo em vista a insero doconceito de competncias nas polticas e prticas de gesto. A autora frisa oenfraquecimento do poder de barganha tanto individual como coletivo, fruto dasaes institucionais individualizantes legitimadas sob a gide da gesto decompetncias, conforme tambm atenta Manfredi (1999). Na Frana, Pages,Bonetti, Gaulesiac e Descendre (1987) apontaram em direo semelhante,chamando ateno para o fato, relativamente insero de novas tecnologiasde gesto em organizaes, no mesmo sentido concluindo Lima (1995) e Melo(1991) em suas pesquisas no Brasil.
Por outro lado, Bitencourt e Barbosa (2004) chamam a ateno para dificuldadesoperacionais da gesto de competncias, principalmente no que se refere sestruturas remuneratrias e s polticas particularistas das empresas, sem seomitirem na nfase em resultados organizacionais, a despeito das expectativasde recompensas individuais. Tais dificuldades so, tambm, apontadas por Dutra(2004).
Por fim, percebeu-se ao analisar bibliografias pertinentes que muitos autores(8),ao se referirem gesto de (ou por) competncias, retomavam a conceituao
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do construto competncia, deixando lacunas sobre polticas e procedimentosefetivos, em termos das atividades particulares da gesto de pessoas. Taisatividades podem ser assim exemplificadas: descrio, anlise e avaliao doscargos; delineamento de carreiras; recrutamento e seleo; admisso e demisso;treinamento e desenvolvimento; avaliao funcional (desempenho, resultados epotencial); sade e segurana ocupacional; relaes com entidades de classe /sindicatos etc. Como essas atividades so conjugadas sob a gide da competnciaprofissional nessas bibliografias, mais se assemelham concepo de qualificaodo que efetivamente competncia. Gerir o intangvel, abraando a personalidadee a motivao dos profissionais, ainda se apresenta como questo naAdministrao, para a qual Dugu (2004) apresenta algumas pistas conceituaisno que se refere ao mbito da empresa (seu carter multifacetado: integrador nosistema hierrquico, orientador em termos de mobilidade, seletivo no sistema dereconhecimento) e ao mbito social (planificao de mercado e integrao entretrabalho e formao). J Heijden e Barbier (2004) so mais pragmticas: ogerenciamento de competncias deve preconizar seu desenvolvimento e aflexibilidade dos empregados, a partir de iniciativas que partam, ao mesmo tempo,tanto do gerenciamento como do empregado.
Refora-se, assim, a necessidade de construo de um sistema profissional pautadoem competncias que concilie, de maneira estratgica, projetos individuais, institucionaise sociais, conforme a descrio de Ramos (2001), citada anteriormente. A conexoentre profissionais, organizaes, educao e governo implicaria, inevitavelmente,certo redimensionamento do processo de profissionalizao relacionado, nos moldesdiscutidos pela Sociologia das Profisses, conforme se segue.
Profisso
Profession uma palavra da linguagem comum que entrou de contrabando nalinguagem cientfica; mas , sobretudo, uma construo social, produto de todoum trabalho social de construo de um grupo e de uma representao dosgrupos, que se insinuou docemente no mundo social (Bourdieu, 2003, p. 40).
De acordo com Gyarmati (1975), as profisses se distinguem das ocupaesbasicamente em virtude da propriedade da autonomia, enquanto direito de regulare controlar sua prpria atividade, e do monoplio profissional, fruto de leis queimpedem indivduos formalmente no considerados membros de determinadogrupo profissional de competir com seus profissionais. A autonomia profissional, segundo o autor, uma caracterstica ambgua, porquanto, por um lado, permites profisses se livrarem do controle da sociedade qual deveriam, em princpio,servir; por outro lado, a imagem da profisso diz de um poder cuja utilidade visaexclusiva e permanentemente ao benefcio da sociedade. O autor percebe as
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profisses como os mais importantes grupos de poder nas sociedadesindustrializadas.
De fato, a Sociologia das Profisses comeou a distinguir-se como disciplinaem decorrncia dos estudos de Durkheim (1978) acerca da diviso do trabalhosocial, no qual o autor salienta o papel de associaes profissionais reconhecidastanto pelo Estado quanto pela sociedade, as quais, investidas de poder formalassegurariam a integrao e a regulao social.
Parsons (1968), por sua vez, compreendia a identidade de uma profisso comopautada em uma competncia tcnica e prtica, formalmente desenvolvida porinstituies educacionais e cientficas, dando destaque para os aspectosuniversais (na aplicao de princpios gerais para soluo de problemasespecficos de clientes), sociais (relacionados responsabilidade de suas aesem face da sociedade, ressaltando aqui a questo da vocao profissional) eculturais (principalmente os de cunho coletivista). No entanto as relaes entregrupos profissionais e entre eles e estrutura social so aspectos no discutidospor esse autor. Sua preocupao, assim como a de Abott (1988), parece estarmais centrada em explicar o que os profissionais fazem do que como eles seorganizam para realizar tais atividades produtivas. Dessa forma, o domnio deum conhecimento assume papel central na abordagem desses dois autores. Poroutro lado, as percepes de Parsons (1968) e Abott (1988) permeavam algunspressupostos, a saber: o processo de profissionalizao unidirecional, umcaminho sem volta; a evoluo de uma profisso no depende explicitamentedo desenvolvimento de outra profisso; os apelos da estrutura social e culturalso mais importantes que o trabalho executado pelas profisses; no interior dasprofisses prevalece homogeneidade e as diversidades so tidas comocontingenciais; e o processo de uma ocupao tornar-se profisso no se alteracom o tempo. Tais pressupostos, que desconsideram fatores situacionais edinmicos do processo de profissionalizao, foram discutidos e combatidospor outros autores, que resistiam no contextualizao das profisses. Convmressaltar que a expresso sistema de profisses foi cunhada por Abott (1988),atravs da qual exprimiu sua crena de que profisses entravam em conflitopor jurisdio (controle e responsabilidade sobre problemas e solues pertinentes profisso), constituindo-se este um ponto central no processo de suaprofissionalizao.
A profissionalizao de determinadas ocupaes, Weber (1946) a percebecomo processo essencial da modernizao no que diz respeito aos estatutossociais como dependentes das atividades desenvolvidas pelos membros e doscritrios racionais de competncia e de especializao. Dubar (1997) aproveitaessa discusso para diferenciar ofcio - atividade herdada, cujos estatutos so
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atribudos via socializao prioritariamente comunitria - de profisso - atividadeescolhida, cujos estatutos so (re)estruturados via socializao fundamen-talmente societria -, apontando para uma dimenso comunitria estruturantedo sistema social global (Dubar, 1997, p. 127). Assim sendo, as principaiscategorias da abordagem weberiana seriam o poder, o mercado e o monopliodas profisses enquanto representativas de grupos sociais e, da, de interessesparticulares.
T. J. Johnson (1972), considerado um dos discpulos de Weber sobre o tema,chama a ateno para a varivel do poder, sublinhando que uma profissono ocupao em si, mas forma de exercer controle sobre ela. Desse modo,um dos aspectos centrais da abordagem desse autor diz respeito aos meiosde afiliao que as pessoas (individualmente e em grupo) manipulam com afinalidade de defender interesses particulares, at mesmo no que tange srelaes de trabalho, desviando o foco da prestao de servio, que exigeespecializao tcnica, para necessidades de determinados gruposprofissionais. Em decorrncia da perspectiva de T. J. Johnson (1972),processos de desprofissionalizao e de proletarizao de certas profissesso passveis de anlise. Essa linha de pensamento parece visvel no trabalhode Child e Fulk (1982), em que os autores sugerem que o controle ocupacionaldeve ser analisado a partir de quatro fatores: restrio de acesso base deconhecimento dos profissionais; contexto de emprego profissional; poder eautoridade na relao cliente-profissional; e relacionamentos entre a profissoe as agncias ou instituies governamentais.
Outra autora que iniciou seus trabalhos na perspectiva weberiana foi Larson(1977), cuja percepo acerca da ascenso e fortalecimento do profissionalismoretratava explicitamente o surgimento de um novo meio de desigualdadeestrutural. Ela entende que as transformaes que ocorreram na sociedademudaram sensivelmente os papis do mercado e do conhecimento e que aoprofissional cabia controlar, com exclusividade, uma expertise superior. Larson(1977) reconhece o processo de profissionalizao como algo dinmico quevaria conforme as contingncias histrico-culturais, sugerindo a existncia dediversos tipos de profissionalismo, com caractersticas tambm diferenciadas.Outra contribuio da autora foi a expresso projeto profissional, a qual retrataas estratgias que as lideranas profissionais adotam no sentido de caminharemrumo ao monoplio do mercado de servios e mobilidade (ascendente) coletiva,numa ordem social pautada na lgica econmica. Coelho (1999, pp. 51-53)diferencia projeto profissional de projeto coletivo, compreendendo que osegundo pode espelhar interesses coletivos, mas no efetivamente de controleda profisso.
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Voltando especialidade, Starr (1991) trabalha essa questo em consonnciacom os formatos organizacionais, avanando nas direes relacional e funcionaldo profissionalismo. Para o autor, a formao e o domnio de uma especialidade processo permeado por conflitos e, nesse sentido, ele introduz o conceito deautoridade cultural construo da realidade atravs de definies de direitose valores (Starr, 1991, p. 28) - diferenciando-o de autoridade social controle da ao por meio da emisso de ordens (Starr, 1991, p. 28) -,sendo que a primeira pode residir tanto nos atores sociais, como prescreve asegunda, mas tambm em objetos culturais e produtos de atividade intelectualpassada (Bblia, dicionrios, mapas, trabalhos acadmicos, leis etc.). Aautoridade cultural pode, ento, ser usada e consultada sem ser, efetivamente,exercitada ou alterada.
No entanto a perspectiva interacionista de Freidson (1998) traz contribuiesde natureza mpar para a compreenso da formao dessa autoridade cultural.Segundo este autor, o conhecimento tornou-se um poder na sociedade moderna eas profisses constituem-se em suporte de ligao entre os dois, ou seja, interessaa Freidson (1998) a relao entre criao, legitimao, transmisso e aplicaodo conhecimento formal e do poder que dele deriva, embebendo, dessa forma,determinadas profisses de um poder profissional no contexto da diviso dotrabalho que impera nas organizaes. Tal poder advm do monoplio doconhecimento e da autonomia de julgamento do profissional, mesmo em face denormas previamente estabelecidas. Para o autor, uma profisso pode serconsiderada como tal se pauta no seguinte elenco: na educao superior e nosconhecimentos formais abstratos que ela repassa; na sua capacidade de exercerpoder e de permitir a sobrevivncia do sujeito; na tomada da educao como pr-requisito seletivo ocupao de posies e nveis especficos no mercado detrabalho. Todavia Freidson (1998) percebe que, no mundo moderno, se encontraum profissionalismo que
est desprovido das instituies responsveis pela garantia de meio de vida aostrabalhadores, um profissionalismo expresso puramente como dedicao a umcompromisso com a prtica de um ofcio complexo que tem valor para os outros.Libert-lo do material interesse prprio a maneira mais radical pela qual oprofissionalismo pode renascer (Freidson, 1998, p. 43).
Agregue-se, aqui, a contribuio de Bourdieu (2003) no sentido de apresentar osistema de profisses como campo de poder simblico, ou seja, como elementoestruturado e estruturante que configura, e ao mesmo tempo configurado, elegitima a relao de dominao pertinente a determinada profisso em certocontexto histrico.
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Dessa maneira, no h como refletir sobre profisses sem considerar ascontribuies dos referidos autores, percebendo as complexas relaes queenvolvem o Estado, as instituies de ensino, as organizaes de interesse coletivoe os prprios profissionais.
Nesse ponto, conveniente esclarecer que, para fins dessa reflexo, se tomarcomo conceito de profisso o conjunto de atividades produtivas desenvolvidaspor um grupo de pessoas que possuem conhecimentos especficos, validadosacademicamente e reconhecidos socialmente, mediante instrumentos regulatriosformais ou informais que so compartilhados coletivamente, garantindo elevadograu de autonomia no exerccio de suas atribuies, movidas em certo nvel poraltrusmo(9).
Percebe-se, portanto, como fecundo o campo das profisses e seu embate como conceito e a gesto de competncias, possibilitando traar algumas perspectivasde pesquisa.
PERSPECTIVAS DE PESQUISAS
Aspectos Metodolgicos
Do ponto de vista metodolgico, pesquisas descritivo-comparativas comprofissionais que trabalhem com organizaes ou em organizaes de um mesmosetor de atividade podem permitir a identificao, compreenso e comparao deaspectos individuais e de gesto, presentes em tais locais de trabalho, no quetange formao e desenvolvimento de competncias profissionais. O enfoquede pesquisas que conecta os referidos temas pode ser, num primeiro momento,essencialmente qualitativo tendo em vista dois aspectos fundamentais: conceitual,pela busca da compreenso dos significados e das relaes subjacentes a situaese fatos descritos pelos profissionais (Cozby, 2003; Richardson, 1999; Trivios,1987); e pragmtico, pois os processos de profissionalizao e, tambm, osrelacionados gesto de competncias seguem percursos, estgios e ciclos muitasvezes diferentes (Carvalho & Azevedo, 2004; Coelho, 1999), carecendo detratamento particular e individualizado.
Em termos de instrumentos de coleta de dados, podero ser utilizados: pesquisadocumental (focando em dados legais e normativos, provenientes de entidadesde interesse coletivo, associaes de classe, sindicatos, conselhos profissionais,das prprias organizaes etc.), entrevistas no estruturadas ou semi-estruturadase observao direta, conforme tipificao de Bruyne, Herman e Schoutheete
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(1977). Conjugadas s entrevistas, as tcnicas projetivas de associao parecemser frutferas fontes de dados em pesquisas dessa natureza: Bailey (1982) e Bryman(1992) argumentam que elas envolvem a apresentao de um estmulo ambguopara os indivduos, cuja interpretao tomada pelo pesquisador para revelaralgumas caractersticas fundamentais da preocupao individual. Segundo Loizos(2002), as imagens constituem ricas fontes de dados, tendo em vista que acomunicao de entrevistador e entrevistado mais ampla do que a oralidadepermite, concretizando-se tal tcnica projetiva em profcua fonte de dados. Selltiz,Jahoda, Deutsch e Coo (1965, p. 320) concordam nesse sentido, afirmando queilustraes so valiosas na descrio de muitos tipos de situaes difceis dedescrio; assim, elas permitem a manifestao de reaes que de outro modoso difceis de obteno. Outras opes no mesmo sentido seriam os testesprojetivos adaptados, como os aplicados por Melo (1991); e as tcnicas projetivasde construo, como as grficas ou de desenho, conforme Kolck (1984) e Zuboff(1988), e as de histria oral temtica, de acordo com Meihy (2002) e Thompson(1992). O objetivo da aplicao dessas tcnicas seria tentar captar percepes econcepes que no foram ditas ou contempladas na entrevista ou no discursoformal do entrevistado. O uso do grupo focal e de indicaes subseqentes deentrevistados pelos prprios integrantes do grupo pesquisado so tcnicascomplementares de coleta de dados que permitem ir alm do conhecimentoconceitual e prtico do pesquisador.
No que tange ao tratamento dos dados, aqueles provenientes de fontessecundrias devero ser submetidos anlise documental (Bardin, 1977; Fiorin,1989; Orlandi, 2001). J aos dados primrios sugere-se tratamento e anlise emtrs etapas: preparao, tabulao quantitativa e tabulao qualitativa. Apreparao constituir-se- de:
a) transcrio na ntegra das gravaes, permitindo a apreenso de lapsos verbais,frases indicativas de contradies, repeties de frases etc., bem como aincluso de observaes (expresses corporais, por exemplo) percebidas nomomento de realizao da entrevista;
b) releitura dos dados e sua organizao preliminar em torno do roteiro deentrevista e aspectos relevantes colocados pelos entrevistados.
As duas outras etapas se sujeitaro aos critrios de repetio e de relevncia(Bardin, 1977; Melo, 2003; Turato, 2003) que dizem, respectivamente, de destacarreincidncias nos relatos e a essncia do fenmeno observado. Conformedescreve Melo (1991, pp. 20-21), a tabulao quantitativa se d a partir daidentificao de componentes das respostas dos entrevistados, permitindo oagrupamento de dados, a recuperao de conhecimento relativo a determinadasquestes e a construo de tabelas, pautando-se, portanto, na estatstica
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descritiva e, frise-se, apresentada posteriormente no formato de tabelas, demaneira a se obter viso mais ampla, quantificada e resumida das entrevistas.J a tabulao qualitativa, ou anlise temtica, ou ainda categorizao temtica, descrita pela autora como a definio de temas e agrupamento dos estratosmais significativos, retirados das entrevistas, dando destaque dimenso dodito ou da fala do entrevistado, permitindo a construo de uma planilha deanlise que considerar tanto a vivncia do sujeito, a partir do seu discurso,como ponto de partida para aplicao de teorias explicativas, mas de consider-lo tambm como objeto terico, e de estudar simultaneamente os diversoscomponentes de referncia dessa experincia dos entrevistados (Melo, 1991,p. 21). Assim, a partir de releituras de todas as entrevistas e da extrao detemas e idias que, a princpio, no foram enfatizados no roteiro, mas semanifestaram como alvo de preocupao dos entrevistados, essa metodologiapermite ir alm do prprio conhecimento e, mais uma vez, considerar o saber ea vivncia do entrevistado.
Para tanto, na anlise de dados, sugerem-se tcnicas de anlise de contedoe de discurso, comumente usadas em pesquisas dessa natureza. A primeira concebida por Bardin (1977) como um aglomerado de tcnicas de anlise dascomunicaes, o qual engloba procedimentos sistemticos e objetivos dedescrio do contedo das mensagens, incluindo-se aqui estruturas psicolgicase sociolgicas, com a finalidade de mostrar tanto o que foi dito explicitamente,como desnudar as condutas, ideologias e atitudes que o invadem. Isto se d pormeio de indicadores (quantitativos ou no) que permitem inferir conhecimentosrelativos s condies de produo e recepo (varveis inferidas) dessasmensagens. J na anlise de discurso, segundo Alvesson e Sklberg (2000), ofoco no est na linguagem como uma entidade abstrata, como o lxico ou umconjunto de regras gramaticais. Ela caracteriza-se como meio de interao eenfatiza o modo como as verses de mundo, de sociedade, de eventos e demundos psicolgicos interiores so produzidos no discurso. Orlandi (2001) vnessa tcnica de anlise de dados a possibilidade e o objetivo de compreendero significado que a linguagem tem para o sujeito e, portanto, inseparvel dasociedade que o produz.
Com intuito de integrar os conceitos relacionados competncia profissional,gesto de competncias e profissionalismo, apresenta-se um modelo terico-conceitual inicialmente adotvel em pesquisas dessa natureza, no qual se podevisualizar atores sociais, aspectos relevantes de sua atuao no campo dascompetncias e do profissionalismo, relaes entre eles e contextos que ospermeiam. Esse modelo proposto pode ser visualizado na Figura 1.
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Figura 1: Modelo Terico-conceitual Proposto para Pesquisa
Fonte: Levantamento bibliogrfico.
Aps privilegiar as abordagens qualitativas, os procedimentos quantitativos emodelos matemticos explicativos parecem ser apropriados na proposio econfirmao de variveis e premissas identificadas e passveis de extenso apopulaes ou universos profissionais mais abrangentes. Dessa maneira, avalidao de modelos e escalas atravs de questionrios parece ser o passosubseqente em pesquisas da natureza aqui proposta.
Cabe ressaltar, neste ponto, a contribuio de Demo (2002), autor que sublinha queo objetivo da pesquisa qualitativa desnudar os aspectos menos formais dos fenmenosem estudo, sem desconsiderar, no entanto, sua faceta quantitativa, j que tal dicotomiano , segundo ele, real. Para Demo (2002), todo fenmeno histrico quantitativo queenvolve o ser humano contm uma dimenso qualitativa; o qualitativo, por sua vez, histrico e guarda, dessa forma, um contexto material e espaciotemporal. O autorconclui que dicotomizao absoluta entre tais faces apenas uma fico conceitual.
Aspectos Temticos
Em termos de perspectivas temticas de pesquisas que abracem os construtoscompetncia profissional, gesto de competncias e profisses, percebem-se algumaspossibilidades:
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. Em profisses com vnculos de trabalho diferenciados, como o caso dosmdicos, considerando-se a formao e o crescimento das clnicas e dascooperativas de sade e de trabalho, as quais tm agregado grande nmero deprofissionais e viabilizado a prestao de servio e o relacionamento com clientes,atentando, por outro lado, s relaes que se travam com outras categoriasprofissionais, como enfermeiros, farmacuticos, terapeutas, nutricionistas etc.,que afetam o resultado final dos servios que os mdicos prestam a seuspacientes.
. Atentando para suas variaes no interior da profisso, como no caso deadministradores (em nveis hierrquicos diferenciados, em reas distintas, emsetores em ascenso como turismo, hotelaria, hospitalar, educao,cooperativas etc.), publicitrios (reas de planejamento, mdia, atendimento,criao etc.), engenheiros (engenharia civil, mecnica, eltrica, eletrnica, deproduo etc.) e policiais (militares e civis, principalmente em face daspossibilidades de aglutinao de ambos num s grupo), e para os vnculos comconselhos profissionais, com instituies de ensino e com polticas econmicas.
. Entre profissionais da iniciativa privada e do setor pblico, como no caso daadvocacia, enfatizando variaes no interior da profisso (direito civil, penal,criminal, processual, administrativo, internacional etc.), no seio dos escritrios,das organizaes, de tribunais (juzes, promotores), no relacionamento comrecm-formados e estagirios.
. Em partes de categorias profissionais pouco investigadas. Neste caso seencaixam, por exemplo, docentes de ensino superior, podendo-se enfatizar asproposies da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (1996), queafetam o quadro de pessoal e as prprias instituies de ensino, enquantoformadoras e tambm como meios de absoro desses profissionais e, da, osmovimentos de associaes de professores, sindicatos etc.
. Em termos das polticas e prticas de gesto de pessoas empreendidas pororganizaes, nas quais ou com as quais os profissionais trabalham, atentandopara tipo de vnculo, ou seja, como empregados, como cooperados (organizaescooperativas), como voluntrios (organizaes sem fins lucrativos ou do terceirosetor) etc.
. Acerca das relaes entre profissionais e seus respectivos conselhos, de umponto de vista mais institucional, com vistas a mapear seu grau derepresentatividade, sua colaborao com a formao e o desenvolvimento dascompetncias individuais e coletivas, seus mecanismos formais e informais defazerem face s leis de mercado.
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. Entre os grupos de profissionais, quer numa mesma profisso, quer em profissesdiferenciadas, em perspectiva mais fenomenolgica, com vistas a compreendercomo se articulam, individual, coletiva e socialmente, como se representamcoletivamente, como se percebem na sociedade e sob a gide das leis demercado; como se relacionam com suas competncias profissionais etc.
. Correlacionando com outros construtos: estresse ocupacional (como categoriasde anlise relacionadas ao profissionalismo e gesto de competnciascolaboram com o estresse, reduzindo-o ou alimentando-o), identidade (nasdiversas perspectivas de anlise pessoal, social, no trabalho e organizacional,conforme Machado (2003), e institucional, de acordo com Lawn (2000),colaborando na construo de uma identidade profissional mais fraca ou forte),funo gerencial (nas relaes de poder desenvolvidas no interior dasorganizaes, mediante um profissionalismo mais, ou menos, avanado e/ouuma gesto de competncias mais arcaica / moderna etc.), ao administrativa(sob a tica de vertentes estruturalistas, nos nveis individuais, profissionais,grupais e organizacionais).
CONSIDERAES
Os objetivos deste ensaio foram dois: refletir sobre os conceitos de competnciaprofissional, gesto de competncias e profisso; e indicar possibilidades depesquisas, tanto em termos metodolgicos como temticos.
Para tanto este trabalho apoiou-se em autores e perspectivas da Administrao(Teorias das Organizaes, Gesto de Competncias), da Educao (CompetnciasProfissionais), da Sociologia (Sociologia das Profisses), com vistas a introduziroutras perspectivas de anlise e, com isso, colaborar com a delimitao dosconstrutos envolvidos, principalmente acerca da competncia profissional e desua gesto e, ao mesmo tempo, ampliar e aprofundar seu entendimento, a partirde percepes diferentes e detalhadas de outros processos que as permeiam,como o caso da profissionalizao.
No que diz respeito competncia profissional, concorda-se com Le Boterf(2003): trata-se de conceito em construo, interdisciplinar e diferenciado dequalificao. Ao final da discusso, a proposta conceitual para competnciaprofissional refere-se mobilizao de forma particular pelo profissional na suaao produtiva de um conjunto de saberes de naturezas diferenciadas (que formamas competncias intelectual, tcnico-funcionais, comportamentais, ticas e polticas)de maneira a gerar resultados reconhecidos individual (pessoal), coletiva
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(profissional), econmica (organizao) e socialmente (sociedade). Tal conceitoresgata a percepo do carter social da construo e da manuteno dacompetncia profissional (Dubar, 1997), negando uma formao pontual, estticaou descolada da realidade prtica e da reflexo conceitual.
J a gesto de competncias foi percebida como componente fundamental dagesto de pessoas no interior das organizaes, porm a ela transcende, no sentidoque caractersticas individuais, como personalidade e motivao, influemdecisivamente nesses processos e implicam uma diversidade complexa e de difcilgerenciamento nas esferas tanto institucional, como coletiva e individual. Daoptou-se pela utilizao da terminologia gesto de competncias de maneira asintetizar tanto os esforos organizacionais, mais conhecidos como gesto porcompetncias, como os individuais, coletivos e sociais. Porm, nas bibliografiasvisitadas, as atividades relacionadas s polticas e prticas de gesto de pessoasconjugadas sob a gide da competncia profissional mais se referem qualificaodo que efetivamente competncia. Concorda-se com Ramos (2001), quando aautora refora a necessidade de construo de um sistema profissional pautadoem competncias que concilie, de maneira estratgica, projetos individuais,institucionais e sociais. A conexo entre profissionais, organizaes, educao egoverno implicaria, inevitavelmente, o redimensionamento do processo deprofissionalizao, chamando reflexo a questo da profisso.
Aps a leitura dos clssicos da Sociologia das Profisses, percebeu-se que osadjetivos liberal ou livre no cabem no sistema produtivo brasileiro e props-se o seguinte conceito de profisso: conjunto de atividades produtivas desenvolvidaspor um grupo de pessoas que possuem conhecimentos especficos, validadosacademicamente e reconhecidos socialmente, mediante instrumentos regulatriosformais ou informais que so compartilhados coletivamente, garantindo elevadograu de autonomia no exerccio de suas atribuies, movidas em certo nvel poraltrusmo.
Ressalte-se que, em relao aos indivduos, substancial para sua manutenono mercado de trabalho (independentemente de vnculo empregatcio) refletirsobre suas competncias, nos modos como as organizaes estruturam suaspolticas e prticas de gesto, na conformao de sua profisso nos nveis micro,meso e macroambientais, e no seu posicionamento particular em face de tudoisso. Aos grupos, normalmente unidos por rea de trabalho e por nvel hierrquico,instiga-se uma reflexo no mbito da profisso, com vistas manuteno dosprocessos de identificao e diferenciao, que tomam contornos diferenciados,quando analisados na tica apresentada neste estudo. No que diz respeito sorganizaes, um gerenciamento efetivo das pessoas contempla diretamente suascompetncias, fato que, muitas vezes, tem sido traduzido por prticas centradas
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em qualificaes que alimentam diversos processos pessoais e grupais, que podemestar alinhados, ou no, com a efetividade organizacional.
Nesses termos, foram apontadas algumas possibilidades de pesquisa, abrangendotanto aspectos metodolgicos como temticos. Quanto aos primeiros, props-seinicialmente abordagens mais qualitativas que permitissem dar profundidade compreenso dos temas envolvidos e das suas relaes inerentes; num segundomomento, abordagens mais quantitativas parecem ser frutferas na validao demodelos e escalas. Em termos temticos, apresentou-se um leque de opes, quecontemplava profisses que se encontram em momentos diferenciados no quediz respeito a processo de profissionalizao, buscando compreender aspectostanto particulares, como extensivos a outras demais.
Os intuitos da proposio de uma agenda de pesquisa foram de colaborar emdois sentidos: primeiro, conceitual e academicamente, em termos de precisar e,ao mesmo tempo, expandir a delimitao dos construtos envolvidos; e, segundo,prtica e profissionalmente, no que tange a fornecer subsdios para nova posturados atores sociais envolvidos nos processos de profissionalizao a que se temassistido e presenciado.
Convm ressaltar que no houve a pretenso de restringir ou exaurir a discussoem torno das temticas aqui tratadas, mas dar contribuies acerca de processoscomplexos, permeados de interesses diversificados, como o caso da gesto decompetncias e da profissionalizao.
Artigo recebido em 21.07.2005. Aprovado em 27.10.2005.
NOTAS
1 Villa (1998, p. 30) entende o termo figura como uma unidade que expressa mais que a soma daspartes, baseada mais na marca que foi criando a imagem mitolgica do professor, na impresso desua misso.
2 Conforme evidenciado por Silva, L. M. (2002). Qualificao versus competncia: um comentriobibliogrfico sobre um debate francs recente. Revista Brasileira de Informaes Bibliogrficas emCincias Sociais, 1(53), 103-117.
3 Autores como McClelland, D. C., & Dailey, C. (1972). Improving officer selection for the foreignservice. Boston: McBer. e Boyatzis, R. E. (1982). The competent manager. New York: Wiley.4 Le Boterf, G. (1999). Competnce et navigation professionnelle. Paris: Les Editions Dorganisation,Zarifian, P. (1996). A gesto da e pela competncia [Mimeo]. Centro Internacional para a Educao,Trabalho e Transferncia de Tecnologia, Seminrio Educao Profissional, Trabalho e Competncias,Rio de Janeiro, RJ. e Jacques, E. (1990). In praise of hierarchy. Harvard Business Review, 68(1),127-133, so alguns dos autores mais conhecidos dessa linha.
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5 Os termos reflexo-na-ao e reflexo-sobre-a-ao so utilizados pelos autores nos moldespropostos por Schn, D. A. (1983). The reflective practitioner. London: Maurice Temple Smith,Schn, D. A. (1987). Educating the reflective practitioner. San Francisco, CA: Jossey-Bass, emtermos do conhecimento na ao, reflexo na ao e reflexo sobre a ao e sobre a reflexo naao, denotando desenvolvimento do pensamento prtico num processo circular constante.
6 Essa perspectiva vai ao encontro de Demo (2002, p. 213), autor que sublinha que o aprender aaprender indica uma viso didtica composta de dois horizontes entrelaados, pervadidos pelacompetncia fundamental do ser humano, que a competncia de construir a competncia, emcontato com o mundo, com a sociedade, num processo interativo produtivo.
7 Sobre competitividade, Levy-Leboyer, C. (1997). Gestin de las competencias. Barcelona: Gestin2000, sublinha que um de seus sustentculos configurado por polticas de gesto de pessoas atentaao desenvolvimento dos indivduos.
8 Como Gramigna, M. R. (2002). Modelo de competncias e gesto dos talentos. So Paulo: MakronBooks, Quinn, R. E., Faerman, S. R., Thompson, M. P., & McGrath, M. R. (2003). Competnciasgerenciais. Rio de Janeiro: Elsevier, e Dalio, L. C. (2004). Perfis & competncias. So Paulo: rica,dentre outros.
9 O conceito proposto inclui as chamadas semiprofisses, terminologia cunhada por Etzioni, A.(Org.). (1969). The semi-professions and their organization. New York: The Free Press, em virtudede algumas ocupaes estarem submetidas autoridades formais intra-organizacionais, apesar debuscarem autonomia no processo de trabalho, reconhecimento, status e poder. Essa distino noparece importante no contexto atual pelos mesmos motivos que no cabem mais as terminologiasprofisso liberal ou profisso livre, conforme Villa (1998) e Carvalho e Azevedo (2004).
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