COMPETÊNCIAS PESSOAIS E SOCIAIS DE JOVENS e o seu bem-estar

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1 AS COMPETÊNCIAS PESSOAIS E SOCIAIS ADQUIRIDAS EM LAR DE INFÂNCIA E JUVENTUDE E O BEM-ESTAR PSICOLÓGICO APÓS A SAÍDA DA INSTITUIÇÃO Ana Gabriela Lourenço 1 RESUMO: Este estudo procura determinar o nível de bem-estar psicológico de jovens que passaram algum tempo das suas vidas em acolhimento e que frequentaram um programa de promoção de competências pessoais, sociais e domésticas. Dotar os jovens de ferramentas e competências que lhes permitam ultrapassar as dificuldades e prosseguirem um percurso pessoal e social eficaz, deverá ser uma preocupação de todos os que trabalham com esta faixa etária. Neste trabalho, quatro jovens expressaram o seu bem-estar através da utilização de um instrumento desenvolvido para a avaliação do bem-estar psicológico de adolescentes, abrangendo duas vertentes: bem-estar psicológico como ausência de índices de dificuldades ou de perturbação e bem-estar psicológico como a presença de factores positivos ou recursos pessoais. Os resultados obtidos apontam para a existência de um razoável nível de bem-estar geral, porém não podemos afirmar que tenham sido apenas as competências pessoais e sociais a contribuir para esse estado, mas que, de acordo com a literatura, os resultados estão dentro do que seria espectável, caso se considere ter havido essa influência. . PALAVRAS-CHAVE: Acolhimento Residencial; Bem-Estar Psicológico; Competências pessoais e sociais ABSTRACT: This study seeks to determine the psychological well-being level of youngsters that spend some time of their lives in residential care and who attended a promotional program of personal, social and domestic skills. To give the youngsters the implements and abilities that allows them to overcome the difficulties and to follow a personal and social efficient stage, which must be a concern of everybody that works with this age group. In this work, four youngsters expressed their well-being with an instrument for the assessment of adolescent psychological well-being that addresses two domains: psychological well-being as an absence of disturbance signs and psychological well-being as the presence of personal resources. The results point to the existence of a reasonable level of general well-being, but we can’t claim to have been only the personal and social skills to contribute to this state, but that, according to the literature, the results are within the It would be expected, if it’s considered that there was this influence. KEY-WORDS: Residential care; Psychological well-being; personal and social abilities 1 Pós-Graduanda do Instituto CRIAP - Psicologia e Formação Avançada.

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AS COMPETÊNCIAS PESSOAIS E SOCIAIS ADQUIRIDAS EM

LAR DE INFÂNCIA E JUVENTUDE E O BEM-ESTAR

PSICOLÓGICO APÓS A SAÍDA DA INSTITUIÇÃO

Ana Gabriela Lourenço1

RESUMO:

Este estudo procura determinar o nível de bem-estar psicológico de jovens que passaram

algum tempo das suas vidas em acolhimento e que frequentaram um programa de

promoção de competências pessoais, sociais e domésticas.

Dotar os jovens de ferramentas e competências que lhes permitam ultrapassar as

dificuldades e prosseguirem um percurso pessoal e social eficaz, deverá ser uma

preocupação de todos os que trabalham com esta faixa etária.

Neste trabalho, quatro jovens expressaram o seu bem-estar através da utilização de um

instrumento desenvolvido para a avaliação do bem-estar psicológico de adolescentes,

abrangendo duas vertentes: bem-estar psicológico como ausência de índices de

dificuldades ou de perturbação e bem-estar psicológico como a presença de factores

positivos ou recursos pessoais.

Os resultados obtidos apontam para a existência de um razoável nível de bem-estar geral,

porém não podemos afirmar que tenham sido apenas as competências pessoais e sociais a

contribuir para esse estado, mas que, de acordo com a literatura, os resultados estão dentro

do que seria espectável, caso se considere ter havido essa influência. .

PALAVRAS-CHAVE: Acolhimento Residencial; Bem-Estar Psicológico; Competências

pessoais e sociais

ABSTRACT:

This study seeks to determine the psychological well-being level of youngsters that spend

some time of their lives in residential care and who attended a promotional program of

personal, social and domestic skills.

To give the youngsters the implements and abilities that allows them to overcome the

difficulties and to follow a personal and social efficient stage, which must be a concern of

everybody that works with this age group.

In this work, four youngsters expressed their well-being with an instrument for the

assessment of adolescent psychological well-being that addresses two domains:

psychological well-being as an absence of disturbance signs and psychological well-being

as the presence of personal resources.

The results point to the existence of a reasonable level of general well-being, but we can’t

claim to have been only the personal and social skills to contribute to this state, but that,

according to the literature, the results are within the It would be expected, if it’s considered

that there was this influence.

KEY-WORDS: Residential care; Psychological well-being; personal and social abilities

1 Pós-Graduanda do Instituto CRIAP - Psicologia e Formação Avançada.

As competências pessoais e sociais adquiridas em Lar de Infância e Juventude e o bem-estar psicológico após a saída da instituição

2 Lourenço, Ana Gabriela julho 2015

INTRODUÇÃO

Para que as pessoas se tornem indivíduos conscientes, autónomos, ativos e responsáveis,

necessitam de ter um desenvolvimento pessoal e social equilibrado, isto é, necessitam de se

conhecerem e de gostarem de si mesmos, de interagirem com os outros e com o meio, e de

compreenderem o contexto cultural em que vivem e que lhes serve de suporte ao seu

aperfeiçoamento intra e interpessoal. Será pois, de capital importância possuírem

competências pessoais e sociais que lhes permitam interpretar os desafios que lhe são

colocados, identificar oportunidades e investir em percursos que lhes possibilitem a sua

realização a nível profissional, familiar e social, e promovam o sentir-se bem, o

contentamento e a satisfação com a vida.

A adolescência é uma fase do desenvolvimento humano crucial para a construção de uma

identidade, de padrões de comportamentos e de desenvolvimento de competências pessoais

e sociais. Trata-se de um período de transição e de mudanças intensas, nomeadamente a

nível físico, cognitivo, emocional e social (Silva, 2004). Essas mudanças vão exigir aos

jovens, aptidões e vários recursos de adaptação (Elliott & Feldman, 1990).

A maioria dos jovens que viveram em instituições de acolhimento, ao saírem e por não

terem famílias que lhes possam dar apoio, contam apenas consigo próprios. É pois

fundamental que, durante o período de permanência nos Lares de Infância e Juventude

(LIJ), consigam adquirir competências que lhes permitam alcançar uma autonomização

com sucesso (Gomes, 2010). Reconhecendo-se o papel central assumido pelas instituições

de acolhimento na vida destes jovens, considera-se que deverá ser esta a linha orientadora

da sua intervenção.

A vida e o bem-estar dos jovens, após a sua saída de Lares de Infância e Juventude onde

permaneceram parte da sua infância e adolescência, são assuntos de bastante interesse e

que motivam o seu estudo e análise.

O termo bem-estar é um conceito abrangente e de delicada definição que tem como

referências a saúde física, a felicidade e o prazer, consoante a perspetiva em que é

abordado.

Jens Asendorpf (2004) indica que o bem-estar desdobra-se numa componente cognitiva,

designada de “satisfação com a vida” e numa componente afetiva chamada “felicidade”.

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O presente estudo tem como objetivo analisar o bem-estar psicológico de quatro jovens

que saíram de um LIJ há cerca de um ano e que frequentaram um programa de

competências pessoais e sociais.

COMPETÊNCIAS PESSOAIS E SOCIAIS

As competências pessoais são um conjunto integrado e estruturado de saberes, aos quais o

indivíduo recorre e mobiliza para a resolução de diferentes tarefas com que é confrontado

ao longo da sua vida, assumindo uma consciência crítica das suas potencialidades e

recursos, bem como dos constrangimentos psicossociais em que se contextualiza

(Gonçalves, 2000).

O conceito de competências sociais, na opinião de Matos (1997), pode ser visto como

competências de vida e de adaptação aos diversos contextos e ambientes do sujeito, que

nos permitem comunicar, relacionar e conviver com as outras pessoas.

Segundo Carneiro (2005), tendencialmente, as crianças e jovens que viveram em

instituição saem quando atingem a maioridade e saem com fracas competências ao nível da

autonomia e do seu desenvolvimento pessoal para se enquadrarem socialmente. Isto

implica repercussões negativas no seu futuro ao nível pessoal, profissional e familiar, que

muitas vezes estimulam o aparecimento e desenvolvimento de comportamentos

antissociais.

É essencial que todos os jovens que vivem em LIJ frequentem programas de preparação

para uma vida autónoma, para que aquando do momento da saída da instituição se sintam

seguros e confiantes. Estes programas deverão incidir na aquisição de competências ao

nível da assertividade, da capacidade de escuta activa, do relacionamento interpessoal, da

descentração entre outras, através de uma intervenção directa sobre o indivíduo e sobre o

seu envolvimento relacional (Matos, 1997; Biglan, Brennan, Foster, & Holder, 2004).

Barth et al. (2009) reconhecem também a importância do desenvolvimento de programas

de autonomia de vida e de desenvolvimento de competências sociais e pessoais em jovens

institucionalizados. A aprendizagem destas competências prepara as crianças/ jovens para

uma vida saudável em sociedade. Georgiades (2005) destaca ainda que, jovens acolhidos e

que nunca integraram programas de autonomia de vida dependem mais da ajuda financeira

e manifestam mais frequentemente comportamentos disruptivos do que jovens que

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participaram em programas de autonomia e de desenvolvimento de competências pessoais

e sociais.

O BEM-ESTAR

A análise do conceito de bem-estar tem sido um tema estudado pela civilização ocidental

desde a época dos antigos filósofos gregos e a própria conceção de bem-estar tem sofrido

alguma evolução ao longo do tempo.

Apesar do interesse por este assunto vir de época remota, o estudo do bem-estar no âmbito

psicológico no domínio da investigação científica só ocorreu na década de 1960,

impulsionado pelas grandes transformações que ocorreram nessa altura na sociedade e pela

necessidade de desenvolver indicadores sociais de qualidade de vida (Diener, 1984;

Galinha & Ribeiro, 2005; Keyes, 2006; Ryff, 1989).

Durante esse período, psicólogos sociais e do comportamento perceberam que, até então,

tinham-se explorado questões sobre as doenças mentais e o sofrimento humano, mas sabia-

se muito pouco sobre aspectos como a saúde mental e a felicidade (Diener, 1984; Ryff,

1989). Diversos termos eram empregados nessas pesquisas, tais como: felicidade,

satisfação, estado de espírito, moral, afeto positivo, avaliação subjetiva da qualidade de

vida, entre outros (Diener, 1984).

Bem-Estar Subjetivo

O trabalho de Diener (1984) é um marco na tentativa de sistematização dos estudos na

área, cunhando o termo Bem-Estar Subjetivo como forma de representação do bem-estar.

O Bem-Estar Subjetivo é assim, definido como um conjunto de fenómenos que incluem

respostas emocionais, domínios de satisfação e julgamentos globais de satisfação de vida.

É “a avaliação cognitiva e afectiva das pessoas sobre as suas vidas” (Diener, 2000),

mediante “julgamentos mais abrangentes acerca da sua vida como um todo, bem como

acerca de domínios tais como o casamento e o trabalho.” (Diener, 2000). Compreende as

componentes satisfação com a vida (julgamento global da própria vida), satisfação com

domínios importantes (como por exemplo a satisfação com o trabalho), afecto positivo

(experimentar várias emoções e humor positivos) e baixo nível de afecto negativo. Ou seja,

“é um estado no qual a pessoa sente e acredita que a sua vida está a correr bem” (Diener,

Kesebir & Lucas, 2008), sendo uma forma de avaliar subjectivamente a qualidade de vida

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pessoal. Este bem-estar subjectivo faz referência às componentes de satisfação com a vida

e felicidade geral (Allen, Carlson & Ham, 2007; Dush & Amato, 2005; Chavez et al.,

2005).

Bem-Estar Psicológico

Depois de se terem realizado muitas pesquisas sobre o Bem-Estar Subjetivo ao longo de

diversos anos e de acordo com as opiniões de Ryff, (1989) e Ryff & Keyes, (1995)

considerou-se que a tarefa essencial de definir a estrutura básica do bem-estar no âmbito

psicológico estava a ser negligenciada. Então para colmatar esta falha, Ryff, no final da

década de 1980, realizou uma extensa revisão da literatura em relação ao funcionamento

ótimo ou positivo do bem-estar no âmbito psicológico e ao mesmo tempo recuperou a

perspetiva da eudaimonia de Aristóteles, que encara o bem-estar proveniente da ação em

direção ao desenvolvimento dos potenciais únicos de cada pessoa (Ryff, 1989; Waterman,

1993).

O modelo de Bem-Estar Psicológico traçado por Ryff, encara o bem-estar como algo mais

do que a satisfação com a vida, afetos positivos e ausência de afetos negativos,

introduzindo um modelo multidimensional baseado em conceções de crescimento

edesenvolvimento pessoal, autorrealização e sentido de vida (Ryan & Deci, 2001; Ryff &

Singer, 1998; Waterman, 1993).

Este modelo integra seis conceitos: autoaceitação que retrata o nível de auto-

conhecimento, funcionamento óptimo e maturidade; autonomia que possui como indicador

o locus interno de avaliação e a independência das aprovações externas; controlo sobre o

meio, ou seja, a capacidade do indivíduo para escolher ou criar ambientes adequados às

suas características e a capacidade de controlo de meios complexos; relações positivas, ou

seja, a capacidade de estabelecer relação de empatia e afeição com os outros, capacidade

de amar e manter amizades; propósito na vida, ou seja, a capacidade de estabelecer

objectivos, atribuindo significado à própria vida; e desenvolvimento pessoal, ou seja, a

necessidade constante de crescimento pessoal, vivência de novas experiências e desafios

(Ryff, 1989 citado por Dush & Amato, 2005).

Ainda assim, há alguns autores que consideram que existem limitações na apresentação das

dimensões associadas ao funcionamento psicológico positivo, devendo integrar também

domínios ligados a índices de sintomatologia (Diener, 1994; Kazdin, 1993; Schlosser,

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1990; Heady, Holmstrom, & Wearing, 1985; Heady, Kelley, & Wearing, 1993, citado em

Bizarro, 1999).

Modelo Cognitivo-Comportamental-Desenvolvimentista de Bem-Estar Psicológico na

Adolescência

Como forma de integrar as perspectivas actuais de conceptualização de bem-estar, Bizarro

(1999, 2001) considera o modelo cognitivo-comportamental-desenvolvimentista, como o

mais adequado, porque assenta numa conceptualização do funcionamento psicológico que

evidencia a componente cognitiva e a sua relação com o comportamento e a expressão

emocional (Beck, 1976, 1991, citado em Bizarro, 2001) o que vai de encontro à concepção

de bem-estar psicológico como construto que inclui componentes cognitivos e afectivos

(Diener, 1994) e é encarado como desenvolvimentista, no sentido em que considera que os

instrumentos de avaliação deverão ter em conta as características da população a que se

destina (Ryff & Keyes, 1995).

Este modelo serviu de base para a elaboração de um instrumento de avaliação denominado

Escala de Bem-Estar Psicológico na Adolescência (EBEPA) que integra cinco dimensões.

Duas dessas dimensões avaliam índices de dificuldades nos adolescentes, são elas a

dimensão da Ansiedade (ANS) e a Cogntiva-Emocional Negativa (CEN), e as outras três

avaliam a presença de recursos pessoais que se consideram serem positivas para o bem-

estar psicológico dos jovens, são elas a dimensão Cognitiva-Emocional Positiva (CEP), o

Apoio Social (AS) e a Percepção de Competências (PC) (Bizarro, 2001).

A dimensão Ansiedade inclui algumas reacções típicas nos adolescentes, sejam elas

agitação, tensão e tremuras (sintomas fisiológicos), dificuldades em estar parado,

alterações súbitas de comportamento (sintomas comportamentais), dificuldade em

concentrar-se (sintomas cognitivos) (Kendall & Ronan, 1990; Oort, Greaves-Lord,

Verhulst, Ormel, & Huizink, 2009). Esta dimensão considera que estes sintomas são

relativamente comuns na adolescência, podendo ser transitórios neste período (Achenbach

& Howell, 1993; Oort, et al., 2009), no entanto estes poderão tornar-se presistentes,

podendo afectar o bem-estar psicológico do jovem (Clark, Smith, Neighbors, Skerlec, &

Randall, 1994). São vários os autores que estudaram a ansiedade no decorrer da

adolescência e é evidenciado que com o decorrer desta fase de desenvolvimentohumano,

os sintomas de ansiedade aumentam, pois aumentam igualmente as preocupações e a

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insegurança ao mesmo tempo que vai ampliando a procura de independência, elevando

assim o risco de desenvolver futuras perturbações (Oort, et al., 2009).

A dimensão Cognitiva-Emocional Negativa e dimensão Cognitiva-Emocional Positiva

assenta no facto de considerar as variáveis cognitivo-comportamentais como promotoras

do bem-estar psicológico ou promotoras da incapacidade de adaptação e dificuldades

psicológicas, podendo influenciar os estados emocionais e os comportamentos dos

adolescentes (Kendal, 1991). Estas dimensões incluem autoverbalizações e percepções das

situações de valência mais positiva ou negativa, típicas no período da adolescência

(Ambrose & Rholes, 1993). Vários autores e estudos relatam que as autoverbalizações e as

percepções cognitivas influenciam os estados emocionais (Schwartz & Garamoni, 1989),

assim como têm um papel importante na regulação a nível pessoal e social (Hardy, 2006;

Brinthaupt, Hein & Kramer, 2009).

A nível cognitivo existem vários factores de risco que poderão contribuir para uma

diminuição do bem-estar psicológico na adolescência, nomeadamente as distorções

cognitivas. Estas consistem num modo disfuncional de processar a informação que poderá

levar a uma perturbação emocional com consequências negativas para o sujeito (Kendall,

1991). As cognições descritas através destas dimensões reflectem uma maior

vulnerabilidade cognitiva para um maior ou menor bem-estar psicológico dos adolescentes

(Bizarro, 1999).

A dimensão Apoio Social foi concebida para avaliar a percepção que os adolescentes têm

relativamente ao apoio social disponível, o que se demonstra estar significativamente

associado ao bem-estar psicológico nos adolescentes. Segundo Cohen (2004) o apoio

social é definido como o apoio psicológico e material com a intenção de ajudar os sujeitos

em causa a lidarem eficazmente com o stress.

Vários estudos apontam para uma relação entre um défice no apoio social e a existência de

dificuldade psicológicas nesta faixa etária (Gotlieb, 1991; Kalafat, 1997).

O apoio social inclui o apoio emocional, a partilha de actividades, o companheirismo, a

revelação de pensamentos e emoções, a ajuda instrumental, o que poderá promover a

percepção de valor pessoal, de auto-eficácia, auto-estima e capacidade de resolução de

problemas sendo propício às tarefas desenvolvimentistas e estando correlacionado com o

bem-estar na maioria dos estudos (Sarason, Sarason, & Piece, 1990; Chu, Saucier, &

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Hafner, 2010). O apoio social pode ser encarado como um factor protector na adolescência,

contribuindo para o funcionamento adaptativo dos jovens (Dryfoos, 1997). São vários os

autores que estabelecem uma relação positiva entre o apoio social e o bem-estar

psicológico, sendo que o jovem que usufruir de uma ajuda nas dificuldades inevitáveis do

seu desenvolvimento desenvolverá a possibilidade de um maior bem-estar (Bizarro, 1999;

Chu, et al., 2010).

A dimensão Percepção de Competências inclui autoperceções de competências em áreas

consideradas importantes para os jovens, tais como fazer amigos, resolver problemas e

sucesso escolar (Hartup, 1992; Quamma & Greenberg, 1994, citado em Bizarro, 2001). A

percepção de competências tem sido considerada como relevante para o bem-estar

psicológico e adaptação dos adolescentes, pois está directamente relacionada com as

reacções afectivas e a orientação motivacional para os desempenhos. A percepção de

capacidade funcional é essencial para que o jovem adquira competências e se desenvolva

(Harter, 1990, 1992; Harter, & Whitesell, 1996). Desta forma para além de ser importante

o sujeito adquirir as competências, também seria importante este se sentir motivado a

desempenha-las nas várias situações por se sentir competente (Bizarro, 1999). Bandura

(1977) vem evidenciar a importância destes mediadores cognitivos, no sentido em que,

quanto maior percepção de competências o sujeito tiver, maior sentido de auto-eficácia

este desenvolverá, o que poderá resultar ter repercussões positivas ao nível dos

comportamentos e recursos que utiliza. Desta forma passa-se a dar maior ênfase ao

significado emocional e motivacional da avaliação e da expectativa que os sujeitos têm

sobre as suas competências. Vários estudos ligados às crianças e adolescentes vêm

evidenciar esta correlação anteriormente descrita (Bandura, 1977; Harter, 1992).

Estas evidências mostram-se extremamente importantes para estudar a influência de vários

factores na existência de maior ou menor bem-estar e na capacidade de adaptação.

PROMOÇÃO DE COMPETÊNCIAS PESSOAIS E SOCIAIS EM JOVENS EM

ACOLHIMENTO E BEM-ESTAR PSICOLÓGICO

A relação entre as competências pessoais e mais especificamente as sociais com o conceito

de bem-estar tem vindo a ser estudadas por diversos autores (Diener & Fujita, 1995; Segrin

& Taylor, 2007).

A promoção de competências para o aperfeiçoamento do relacionamento interpessoal e

ajustamento social dos jovens prenuncia uma tendência favorável na evolução ao nível do

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comportamento, da flexibilidade cognitiva e adequação do estilo interpessoal (Clavero et

al., 2006; Del Valle & Garcia Quintanal, 2006; Jardim & Pereira, 2006; Negreiros, 2008;

Rijo et al., 2007). Estas melhorias poderão influenciar profundamente a vida dos

participantes destes programas, tanto no momento presente como no futuro e este efeito

pode generalizar-se para todos os contextos da vida dos jovens, incluindo o social, o

escolar, o profissional e o familiar (Alberto, 2003; Barth et al., 2009).

Vários estudos fundamentam a importância da aquisição e desenvolvimento de

competências sociais para a promoção do bem-estar psicológico, porém outras

investigações (Headey, Holsmtrom, & Wearing, 1985, citadas por Bizarro, 1999)

evidenciam que uma falência a este nível poderá levar ao isolamento social, quando os

indivíduos apresentam fracas capacidades para a resolução de conflitos interpessoais e de

relacionamento assertivo. Quando demonstram poucas competências de regulação

emocional, nomeadamente ao nível da ansiedade e da agressividade, assim como quando

tem maiores dificuldades em desenvolver uma rede de amigos e de apoio social, que se

considera imprescindível para um maior bem-estar, estes indivíduos vêem diminuídas as

possibilidades de um bem-estar psicológico.

Tanaka, Aikawa, & Kosugi (2002) alegam que jovens com baixas capacidades de

competências pessoais exibem reacções psicológicas e comportamentais mais intensas e

disfuncionais do que jovens com boas competências sociais, nas interacções do dia-a-dia,

estando mais propícios ao desenvolvimento de problemas psicológicos como depressão

(Segrin et al., 2007).

Na opinião de Matos (1997) são vários os modelos explicativos que estão na base da

aquisição das competências pessoais e sociais, nomeadamente, o modelo comportamental

(aquisição e/ou extinção de comportamentos observáveis), o modelo cognitivo-

comportamental (aquisição e/ou extinção de comportamentos observáveis aliada a uma

reestruturação cognitiva e à redução da ansiedade associada a determinados

comportamentos) e o modelo introduzido por Bandura (1976) de aprendizagem social.

Da revisão de literatura que Matos (1997) fez, concluiu que o desenvolvimento pessoal e

social dos jovens (principalmente os que vivem em acolhimento) poderá ser optimizado

através de uma intervenção directa partindo dos pressupostos teóricos anteriormente

referidos, em que os técnicos ajudam os jovens a reflectir sobre as suas características

pessoais e sociais (tanto ao nível de comportamentos observáveis, ou seja, a comunicação

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verbal e não verbal, como comportamentos não observáveis, ou seja, estratégias cognitivas

de planeamento e resolução de problemas), ajudam a aumentar o reportório de respostas,

possibilitando assim uma melhoria do estatuto social, quando este não se desenvolveu num

percurso normal, o que acontece frequentemente com jovens em acolhimento (Romer,

2003). Mediante o sucesso neste contexto, o jovem poderá desenvolver um sentido de

autoeficácia, auto-estima e outras competências pessoais e sociais (Bandura, 1976; Segrin

Hanzal, Donnerstein, Taylor, & Domschke, 2007), o que pode contribuir para promover

maior satisfação e bem-estar e evitar a adopção de comportamentos de risco (Dryfoos &

Barkin, 2006) no momento e a nível futuro.

OBJETIVOS E METODOLOGIA

OBJETIVOS

Com este estudo pretende-se conhecer o bem-estar psicológico geral das 4 jovens que

frequentaram um programa de competências pessoais, sociais e domésticas durante a sua

permanência em LIJ, mais ou menos um ano após a sua saída e verificar quais das

seguintes dimensões, Ansiedade, Cognitiva-Emocional Negativa, Apoio Social, Perceção

de Competências e Cognitiva-Emocional Positiva se reconhecem níveis de bem-estar mais

significativos.

PARTICIPANTES

Participaram neste estudo quatro jovens que saíram de um LIJ há cerca de um ano tendo

frequentaram o programa de competências pessoais, sociais e domésticas durante a sua

permanência nesse espaço, que ocorreu em espaços de tempo diferentes, entre três e onze

anos (3; 4; 8; 11).

Estas quatro jovens têm idades compreendidas entre 18 e 21 anos (18; 20; 20; 21).

O programa de competências pessoais, sociais e domésticas

O programa de desenvolvimento das competências pessoais e sociais incide nos seguintes

matérias:

O desenvolvimento pessoal – promoção da autoestima e autocontrolo, saber lidar com

as emoções, gestão da ansiedade e raiva, resistência à frustração, mitos e crenças,

cuidados e higiene pessoal, saber lidar com a intimidade/sexualidade;

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As relações interpessoais – gestão de conflitos, saber tomar decisões, saber comunicar,

saber negociar, cumprimento de regras e limites;

Gestão de recursos – utilização e serviços da comunidade, gestão do dinheiro.

As sessões são dinamizadas por uma assistente social e uma psicóloga e realizam-se

individualmente ou em grupo.

A dinamização das competências domésticas decorre no dia-a-dia e incidem na realização

das tarefas domésticas da habitação, nomeadamente na confeção das refeições, na

higienização e limpeza da habitação e no tratamento da roupa. As jovens participam de

forma direta, de acordo com uma tabela de tarefas e com a supervisão e ajuda de uma

educadora.

MATERIAL E INSTRUMENTOS

Para este estudo foi utilizada a Escala de Bem-Estar Psicológico para Adolescentes -

EBEPA desenvolvida por Bizarro (1999). Este instrumento é composto por uma escala de

auto-relato, de 28 itens distribuídos por cinco subescalas consideradas componentes do

bem-estar psicológico dos adolescentes: Ansiedade (ANS) que avalia várias queixas

habitualmente associadas a sintomas de ansiedade; Cognitiva-Emocional Negativa (CEN)

que avalia aspectos cognitivos e emocionais do bem-estar psicológico com uma valência

mais negativa; Apoio Social (AP) que avalia a existência no espaço relacional dos jovens

de pessoas que lhes possam asseguram apoio socio-emocional; Perceção de Competências

(PC) que avalia a percepção de competências em geral, no domínio escolar e de resolução

de problemas interpessoais em particular; Cognitiva-Emocional Positiva (CEP) que avalia

aspectos cognitivos e emocionais do bem-estar psicológico com uma valência mais

positiva. Cada subescala é constituída por 6 itens, excetuando a subescala de Perceção de

Competências que tem apenas 4 itens.

Os jovens dão as suas respostas de acordo com uma escala de seis pontos relativa à auto-

avaliação da frequência de ocorrência. Os seis pontos estão ordenados numa escala Likert

(1 - Nunca, 2 - Raras vezes, 3 - Algumas vezes, 4 - Bastantes vezes, 5 - A maior parte das

vezes, 6 - Sempre).

Este instrumento ao avaliar o bem-estar psicológico nas suas duas vertentes: bem-estar

como a ausência de índices de dificuldades (duas primeiras subescalas – ANS e CEN) e

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bem-estar como a presença de factores positivos ou recursos pessoais (três últimas

subescalas – AP, PC e CEP) vai de encontro com a conceção defendida por Diener (1994).

Com instrumento obtém-se o valor relativo a cada subescala através do cálculo da média

do valor dos itens, sendo que os valores nas subescalas Ansiedade e Cognitiva-Emocional

Negativa os valores mais baixos correspondem a um nível de bem-estar mais elevado e nas

outras três subescalas Apoio Social, Cognitiva – Emocional Positiva e Percepção de

Competências verifica-se o inverso, o valor mais alto é que equivale ao nível mais elevado.

Em relação ao índice de Bem-Estar Total, a pontuação é obtida através da média das

médias encontradas em cada subescala, tendo sido invertidos os valores das subescalas

Ansiedade e Cognitiva-Emocional Negativa, de modo a que todos os itens pontuem na

mesma direção (Bizarro, 1999).

PROCEDIMENTO

A EBEPA foi preenchida pelas quatro jovens que frequentaram o programa de

competências pessoais, sociais e domésticas após mais ou menos um ano da sua saída.

Estas quatro jovens têm o seu projeto de vida individual, não estando a viver com a sua

família de origem. Duas vivem com os seus companheiros e outras duas dividem casa com

amigas.

A aplicação da escala foi realizada presencialmente com duas das jovens e via email com

as outras duas, durante o mês de maio de 2015, altura que perfaz mais ou menos um ano

relativamente à sua saída do LIJ.

RESULTADOS

A análise dos resultados realizou-se através de folha de cálculo do Microsoft Excel, onde

foram calculadas as respetivas médias das subescalas que compõem a EBEPA.

As duas dimensões que avaliam os aspetos negativos apresentam os seguintes resultados:

Tabela 1 - Dimensões que avaliam os aspetos negativos

Subescala Média Itens da Escala Valores

Ansiedade- ANS 2,79

6-Andei irritado(a). 3.00

11-Senti-me nervoso(a), tenso(a). 3.00

14-Senti-me a ponto de explodir. 2.25

17-Tive dores de cabeça. 3.25

20-Senti-me ansioso(a), preocupado(a). 3.00

23-Senti dificuldades em me acalmar. 2.25

As competências pessoais e sociais adquiridas em Lar de Infância e Juventude e o bem-estar psicológico após a saída da instituição

13 Lourenço, Ana Gabriela julho 2015

Cognitiva-Emocional

Negativa – CEN 2,29

4-Senti-me tão triste e desencorajado(a) a ponto de achar que já nada valia a pena. 2.75

8-Achei a minha vida sem qualquer interesse. 2.25

16-Achei que nada aconteceu como eu esperava. 2.75

21-Achei que não tinha nada a esperar do futuro. 2.00

22-Achei que não era capaz de fazer nada bem feito. 2.00

26-Senti-me tão em baixo que nada me conseguiu animar. 2.00

Os valores dos aspetos negativos de bem-estar destacam-se em relação à dimensão

Ansiedade com uma média de 2,79 em que a componente de bem-estar físico se encontra

mais evidente (dores cabeça, irritação, nervosismo, preocupação).

A dimensão Cognitivo-Emocional Negativa, com uma média de 2,29, apresenta valores

que transmitem pouca autoconfiança e alguma insegurança (“4-Senti-me tão triste e

desencorajado(a) a ponto de achar que já nada valia a pena”;“16-Achei que nada

aconteceu como eu esperava”).

Os valores das três dimensões, que avaliam os recursos pessoais positivos e que

contribuem para um maior bem-estar das jovens, estão indicados na presente tabela:

Tabela 2 - Dimensões que avaliam os aspetos positivos

Subescala Média Itens da Escala Valores

Apoio Social - AP 5,16

2-Tive um(a)amigo(a) íntimo(a)que me compreendeu mesmo.

4,75

9-Tive um/a amigo/a a quem pude contar os meus problemas.

5,5

15-Tive colegas ou amigos com quem pude passar os meus tempos livres.

4,75

19-Achei que tinha alguém com quem podia desabafar.

5,75

25-Achei que tinha alguém verdadeiramente meu amigo(a).

5

28-Tive colegas ou amigos(as) com quem gostei de estar. 5,25

Cognitiva-

Emocional

Positiva - CEP

4,04

5-Gostei de mim próprio(a).

4,25

7-Consegui ver o lado positivo das coisas. 3,75

10-Gostei das coisas que fazia. 4,25

12-Senti-me uma pessoa feliz. 4,00

13-Estive empenhado nas coisas que fazia. 3,75

24-Aconteceram coisas na minha vida de que gostei. 4,25

Perceção de

Competências - PC 4,50

1-Achei que era capaz de fazer coisas tão bem como os outros.

4,25

3-Achei que era capaz de ser suficientemente bom/boa no trabalho escolar.

4,00

18-Achei que era capaz de resolver os meus problemas do dia-a-dia.

4,50

27-Achei que era capaz de resolver os problemas que tive com os meus/minhas amigos(as). 5,25

A dimensão de Apoio Social é a que apresenta valores mais altos, o que transmite a

existência de suporte social e emocional na vida destas jovens, designadamente ao

considerarem que têm alguém com quem podem desabafar e partilhar os seus problemas,

sentindo-se acompanhadas no seu percurso de vida.

As competências pessoais e sociais adquiridas em Lar de Infância e Juventude e o bem-estar psicológico após a saída da instituição

14 Lourenço, Ana Gabriela julho 2015

O autoconceito e autoestima expressos na dimensão Cognitiva-Emocional Positiva

reconhecem-se na forma como manifestam as cognições e emoções positivas de si

próprias, das coisas que fazem e do que lhes acontece.

Em relação à dimensão Perceção de Competências, e aqui há a realçar o item “3-Achei que

era capaz de ser suficientemente bom/boa no trabalho escolar”dado que as jovens não

estão a estudar foi considerado a atividade laboral (todas estão integradas no mercado de

trabalho), nos valores encontrados há a salientar a integração das jovens no seu meio, quer

a nível das relações de amizade quer em contexto de trabalho.

O cálculo do valor de Bem-Estar Total é apresentado na tabela 3, apresentada de seguida:

Tabela 3- Índice de Bem-Estar Total

Subescalas Média das Subescalas Bem-Estar Total

Ansiedade- ANS 2,79 (3,21)

4,125

Cognitiva-Emocional

Negativa – CEN 2,29 (3,71)

Apoio Social - AP 5,16

Cognitiva-Emocional

Positiva - CEP 4,04

Perceção de Competências - PC 4,50

A maioria dos autores defende que para existir bem-estar não basta haver ausência de

cognições e emoções negativas, é necessário também estarem presentes os pensamentos

positivos (Kendall, 1991), ambos os pensamentos (positivos e negativos) são importantes e

necessários para um equilíbrio psicológico (Golfried, 1995, citado em Bizarro).

O valor do Bem-Estar Total situa-se ligeiramente acima do ponto médio da escala e

reconhece-se que as dimensões que avaliam os recursos pessoais e a presença de fatores

positivos foram as que mais contribuíram para esse valor, destacando-se o Apoio Social

como já referido anteriormente.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Os resultados deste trabalho, relativamente ao período em que ocorreram os inquéritos e de

acordo com o objetivo de conhecer o bem-estar de quatro jovens após a saída de um Lar de

Infância e Juventude, revelam que as jovens participantes apresentam níveis médios

razoáveis de bem-estar psicológico.

As competências pessoais e sociais adquiridas em Lar de Infância e Juventude e o bem-estar psicológico após a saída da instituição

15 Lourenço, Ana Gabriela julho 2015

As relações sociais são um preditivo de níveis elevados de bem-estar (Sheldon et al., 2007,

Sheldon, 2004) e como afirma Bizarro (1999), jovens com uma maior rede de apoio social,

contactos sociais, amigos, são os que reportam níveis mais elevados de bem-estar

desenvolvendo um auto-conceito positivo, maior auto-estima e autoeficácia. Os valores

que estas jovens apresentam relativamente a este item confirmam as afirmações destes

estudiosos.

De acordo com Bizarro (1999) tão importante, ou mais do que as competências

(cognitivas, emocionais, comportamentais e sociais) são as expectativas positivas e as

ideias que a pessoa tem acerca dessas mesmas competências e da sua capacidade de as

implementar e concretizar (Harter, 1990). Desta forma, constata-se que os valores da

percepção de competências positivas que estas jovens fizeram de si próprias são visíveis,

comprovando o que seria esperado.

Uma possível relação entre a promoção de competências pessoais e sociais desenvolvidas

com o programa que estas jovens frequentaram e o seu bem-estar nesta data poderá existir,

dado o que é afirmado pela revisão da literatura e pelos resultados apresentados. Porém, o

facto de apenas se ter usado a EBEPA poderá ter sido insuficiente e limitado a informação

sobre as reais competências pessoais e sociais adquiridas.

Apesar da pequena amostra e de várias limitações poderemos afirmar que este trabalho

promoveu o conhecimento sobre o desenvolvimento de jovens que passaram pelo

acolhimento residencial e de como as boas práticas realizadas nas instituições poderão

contribuir e, de algum modo, ter influenciado a qualidade de vida e bem-estar após a sua

saída.

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