Complementaridade Dos Contrários Em Nossa Visão de Mundo

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Uma Possível Complementaridade dos Contrários em nossa Leitura de Mundo Márcia C. F. Fusaro Tradutora, Especialista em Língua, Literatura e Semiótica, Mestre em História da Ciência pela PUC-SP e professora do ensino superior em São Paulo. “Há um ponto em que isto e aquilo, pedras e plumas, se fundem. E esse momento não está antes nem depois, no princípio ou no fim dos tempos. Não é paraíso natal ou pré-natal nem céu ultraterrestre. Não vive no reino da sucessão, que é precisamente o dos contrários relativos, mas está em cada momento. É cada momento.” Octavio Paz, Signos em Rotação A questão da dualidade manifestada pela essência humana e, por conseqüência, também no mundo lido a partir da perspectiva humana, já foi assunto para muitos apontamentos filosóficos ao longo dos tempos. No Ocidente, inúmeros pensadores trouxeram essa questão à baila e, de maneira geral, podemos dizer que o conceito da dualidade como forma de manifestações contrárias é aquela que se sustenta com uma ênfase mais acentuada até os dias atuais. Entretanto, é lícito ressaltar que no Oriente o conceito de dualidade é encarado de uma forma diferente e simbolicamente tão rica quanto no Ocidente, por vezes

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Uma Possível Complementaridade dos Contrários em nossa Leitura de Mundo

Márcia C. F. Fusaro

Tradutora, Especialista em Língua, Literatura e Semiótica,Mestre em História da Ciência pela PUC-SP e

professora do ensino superior em São Paulo.

“Há um ponto em que isto e aquilo, pedras e plumas, se fundem. E esse momento não está antes nem depois, no princípio ou no fim dos tempos. Não é paraíso natal ou pré-natal nem céu ultraterrestre. Não vive no reino da sucessão, que é precisamente o dos contrários relativos, mas está em cada momento. É cada momento.”

Octavio Paz, Signos em Rotação

A questão da dualidade manifestada pela essência humana e, por conseqüência,

também no mundo lido a partir da perspectiva humana, já foi assunto para muitos

apontamentos filosóficos ao longo dos tempos.

No Ocidente, inúmeros pensadores trouxeram essa questão à baila e, de maneira

geral, podemos dizer que o conceito da dualidade como forma de manifestações

contrárias é aquela que se sustenta com uma ênfase mais acentuada até os dias atuais.

Entretanto, é lícito ressaltar que no Oriente o conceito de dualidade é encarado de uma

forma diferente e simbolicamente tão rica quanto no Ocidente, por vezes “vendado”

pelas influências do empirismo cientificista, entre outros fatores cuja abordagem iriam

além da proposta deste estudo.

Signos como leve e pesado, claro e escuro, quente e frio etc. carregam em si

essências conceituais que, dependendo da abordagem empregada, podem ser

compreendidos de maneiras notadamente diversas no Ocidente e no Oriente. Desse

modo, por exemplo, aquilo que é visto no Ocidente como sendo “contrário” é, por

vezes, tido no Oriente como sendo “complementar”. Sobre tal perspectiva, Octavio Paz

nos lembra que:

“Desde Parmênides nosso mundo tem sido o da distinção nítida e incisiva entre o que é

e o que não é. O ser não é o não-ser. Este primeiro desenraizamento – porque foi como

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arrancar o ser do caos primordial – constitui o fundamento de nosso pensar. Sobre esta

concepção construiu-se o edifício das ‘idéias claras e distintas’, que tornou possível a

história do Ocidente, [mas] condenou a uma espécie de ilegalidade todas as tentativas

de prender o ser por caminhos que não fossem os desses princípios. Mística e poesia

viveram assim uma vida subsidiária, clandestina e diminuída. O desenraizamento tem

sido indizível e constante. As conseqüências desse exílio da poesia são cada dia mais

evidentes e aterradoras: o homem é um desterrado do fluir cósmico e de si mesmo. Pois

ninguém ignora que a metafísica ocidental termina em um solipsismo”1.

No entanto, segundo o pensador mexicano, “o pensamento oriental não sofreu

deste horror ao ‘outro’, ao que é e não é ao mesmo tempo”2. Assumindo tal concepção,

Paz anuncia que há um momento em que “o isto e o aquilo” se fundem não apenas no

pensamento oriental, mas também na literatura; e este seria o momento do emprego da

poesia. Por meio da poesia contrários se fundem, tornando-se complementares. Assim,

“pedras e plumas, o leve e o pesado, nascer-se e morrer-se, ser-se, são uma e a mesma

coisa”3.

A questão da dualidade em nossa leitura de mundo também foi brilhantemente

analisada por Italo Calvino, em seu livro Seis Propostas para o Próximo Milênio. Ao

tomar o tema do peso e da leveza como um dos interessantíssimos tópicos de seu

trabalho, Calvino nos mostra a relevância da dualidade não apenas na literatura, mas

também em nossa leitura de mundo. Sobre essa questão nos diz o escritor italiano:

“Cada vez que o reino do humano me parece condenado ao peso, digo para mim mesmo

que à maneira de Perseu eu devia voar para outro espaço. Não se trata absolutamente de

fuga para o sonho ou o irracional. Quero dizer que preciso mudar de ponto de

observação, que preciso considerar o mundo sob uma outra ótica, outra lógica, outros

meios de conhecimentos e controle. As imagens de leveza que busco não devem, em

contato com a realidade presente e futura, dissolver-se como sonhos... No universo

infinito da literatura sempre se abrem outros caminhos a explorar, novíssimos ou bem

antigos, estilos e formas que podem mudar nossa imagem de mundo”4.

Vista dessa forma, a literatura surge como um elo complementador, engendrado

pela amplitude de suas possibilidades interpretativas. Dentro desse universo

1 O. Paz, Signos em Rotação, p. 40.2 Ibid., p. 41.3 Ibid., p. 42.4 I. Calvino, Seis Propostas para o Próximo Milênio, pp. 19-20.

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interpretativo, voltando-nos mais uma vez à perspectiva de Octavio Paz, seria a

imagem5 o elemento detentor da possibilidade de complementar opostos: “Épica,

dramática ou lírica, condensada em uma frase ou desenvolvida em mil páginas, toda

imagem aproxima ou conjuga realidades opostas, indiferentes ou distanciadas entre si.

Isto é, submete à unidade a pluralidade do real. Conceitos e leis científicas não

pretendem outra coisa. Graças a uma mesma redução racional, indivíduos e objetos –

plumas leves e pesadas pedras – convertem-se em unidades homogêneas”6.

Seria essa, possivelmente, a magia da poesia: possibilitar a identificação de

contrários por meio do poder evocativo da imagem. Magia essa que a esquadrinhadora

racionalidade ocidental, vítima de seu solipsismo, por vezes tem ignorado. A “liberdade

poética” sustenta-se no fato de o poeta não aspirar a uma verdade, mas àquilo que pode

ser a verdade, tornando possível o impossível. “O poeta nomeia as coisas: estas são

plumas, aquelas são pedras. E de súbito afirma: as pedras são plumas, isto é aquilo. (...)

A pedra é um momento da realidade; a pluma, outro; e de seu choque surge a imagem, a

nova realidade”7.

Os signos do peso e da leveza conciliados por meio da evocação de imagens

poéticas também se faz presente nas citações de Calvino. Segundo o escritor italiano, o

mito de Perseu evoca tais signos e sua possível conciliação: “Para decepar a cabeça da

Medusa sem se deixar petrificar, Perseu se sustenta sobre o que há de mais leve, as

nuvens e o vento; e dirige o olhar para aquilo que só pode se revelar por uma visão

indireta, por uma imagem capturada no espelho. (...) Do sangue da Medusa nasce um

cavalo alado, Pégaso; o peso da pedra pode reverter em seu contrário”8.

Diante da relevância da complementaridade dos opostos em nossa leitura de

mundo, por meio da vivificadora manifestação da poesia, Calvino como que resgata o

“peso” da leveza poética em nosso contexto de vida: “Se quisesse escolher um símbolo

votivo para saudar o novo milênio, escolheria este: o salto ágil e imprevisto do poeta-

filósofo que sobreleva o peso do mundo, demonstrando que sua gravidade detém o

segredo da leveza, enquanto aquela que muitos julgam ser a vitalidade dos tempos,

5 Conforme a acepção de Paz, “designamos com a palavra imagem toda forma verbal, frase ou conjunto de frases, que o poeta diz e que unidas compõem um poema. Estas expressões verbais foram classificadas pela retórica e se chamam comparações, símiles, metáforas, jogos de palavras, paronomásias, símbolos, alegorias, mitos, fábulas etc. Quaisquer que sejam as diferenças que as separam, todas têm em comum a preservação da pluralidade de significados da palavra sem quebrar a unidade sintática da frase ou do conjunto de frases. Cada imagem – ou cada poema composto de imagens – contém muitos significados contrários ou díspares, aos quais abarca ou reconcilia sem suprimi-los”. O. Paz, op. cit., pp. 37-8.6 O. Paz, op. cit., p. 38.7 Ibid., pp. 38-9.8 I. Calvino, op. cit., pp. 16-7.

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estrepitante e agressiva, espezinhadora e estrondosa, pertence ao reino da morte, como

um cemitério de automóveis enferrujados”9.

A abrangência diferenciada do pensamento oriental permite, a partir mesmo de

seus textos sagrados, a possibilidade da identificação dos contrários. Situando-nos

novamente em face da perspectiva de Paz, temos que toda a história do pensamento

oriental parte da antiqüíssima afirmação “Tu és aquilo”, da mesma forma como a do

Ocidente é fruto da de Parmênides. Nas palavras do pensador mexicano: “[‘Tu és

aquilo’] é o tema constante da especulação dos grandes filósofos budistas e dos exegetas

do hinduísmo. O taoísmo revela as mesmas tendências. Todas estas doutrinas reiteram

que a oposição entre isto e aquilo é simultaneamente, relativa e necessária, mas que há

um momento em que cessa a inimizade entre os termos que nos pareciam

excludentes”10.

É justamente devido à evocação de imagens poéticas que o pensamento dessas

doutrinas orientais se torna compreensível, uma vez que seus textos revelam um alto

grau de poeticidade. Assim, a importância da poesia enquanto sensibilizadora e

complementadora de contrários se destaca mais uma vez em nosso parecer. Afinal, por

meio da imagem poética faz-se possível dizer-se o indizível, já que “a imagem é uma

frase em que a pluralidade de significados não desaparece”11.

Nesse caso, a poesia realiza algo que vai além de dizer a verdade, pois cria uma

realidade com uma verdade e uma lógica próprias. Por isso, no universo das

possibilidades poéticas, ninguém se espantaria com afirmações do tipo “a pedra tornou-

se pluma”. Dentro da verdade dessa imagem poética, o universo onde a pedra se

transforma em pluma é perfeitamente concebível e, diríamos, até mesmo desejável

diante de sua evocação esteticamente bela que, lembrando Calvino, explora nuanças de

complementaridade entre o leve e o pesado.

Conforme Paz, para o poeta “suas imagens nos dizem algo sobre o mundo e

sobre nós mesmos e esse algo, ainda que pareça um disparate, nos revela de fato o que

somos”12. Ou seja, em essência, somos seres que tendem a percepções movediças entre

a pluralidade e a unidade em nossa leitura de mundo. Quando não conseguimos

verbalizar linearmente um processo mais amplo de sensações, recorremos

freqüentemente a imagens que podem ou não ser poéticas, mas que, dependendo da

9 Ibid., p. 24.10 O. Paz, op. cit., p. 41.11 Ibid., p. 45.12 Ibidem.

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intensidade e amplitude da experiência a ser descrita, tenderão certamente a uma alta

dose de poeticidade. O êxtase místico é um exemplo disso. Nele, a complementaridade

dos opostos faz-se tão permissível quanto no vislumbre poético, sendo até mesmo

possível encontrarmos em ambos descrições de detalhes em comum feitas por aqueles

que os experimentam. Tanto no êxtase místico quanto no vislumbre poético, “a imagem

explica-se a si mesma. Nada, exceto ela, pode dizer o que quer dizer. Sentido e imagem

são a mesma coisa”13.

Até certo ponto, assim também se dá a nossa leitura de mundo em geral. De fato,

às vezes deixamos de apreciar os eventos da vida de uma forma mais enriquecedora por

nos esquecermos de que nossa própria leitura de mundo também ocorre de uma maneira

altamente poética. A exemplo da poesia que, conforme Paz, coloca-nos diante de uma

realidade concreta ou de um fato sem recorrer à demonstração14, também lemos o

mundo nos expondo a uma realidade concreta onde, à semelhança do universo poético,

“dentes, palavras, gelos, lábios, realidades díspares, apresentam-se de um só golpe

diante dos nossos olhos”15.

Entendida dessa forma, quanto de nossa “realidade” é poética e mística e quanto

daquilo que apreendemos como poético e místico seria a “realidade”? Diante da

possibilidade da complementaridade em nossa leitura de mundo, ambas as questões se

realizam ao se interpenetrarem, tornando-se possíveis por meio da imagem, elemento

viabilizador da complementaridade dos contrários. Desse modo, a exemplo do êxtase

místico, “a experiência poética é irredutível à palavra e, não obstante, só a palavra a

exprime. A imagem reconcilia os contrários, mas esta reconciliação não pode ser

explicada pelas palavras – exceto pelas da imagem, que já deixaram de sê-lo. Assim, a

imagem é um recurso desesperado contra o silêncio que nos invade cada vez que

tentamos exprimir a (...) experiência do que nos rodeia e de nós mesmos”16.

Na concepção pazeana, o vislumbre poético não difere essencialmente da

experiência de identificação com a “realidade da realidade”, tal como descrita pelo

pensamento oriental e uma parte do ocidental17. De fato, se situarmos a parte do

pensamento ocidental voltada à investigação da natureza da “realidade”, veremos na

13 Ibid., p. 47.14 Ibidem.15 Ibidem.16 Ibid., p. 48.17 Ibid., p. 50.

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física quântica aspectos que tocam de perto a necessidade de uma complementação dos

contrários18.

O físico quântico David Bohm considerou a complementação de contrários

possível por meio do uso da metáfora, cuja utilização enriquece, segundo ele, tanto o

campo da ciência quanto o da arte. O conceito de imagem explorado por Octavio Paz é

visto na concepção de Bohm como o poder do uso da metáfora enquanto elemento

conciliador de contrários. Nas palavras do físico norte-americano:

“A metáfora envolve simultaneamente a igualação e a negação de duas idéias, conceitos

ou objetos. O primeiro resultado do significado interno da igualação poética de objetos

muito diferentes é uma espécie de tensão ou vibração na mente, um alto nível de energia

em que a percepção criativa do significado da metáfora se efetua não verbalmente. (...)

Não obstante, alguns poetas vão mais longe para mostrar que os dois objetos diferentes,

tornados formalmente idênticos pela metáfora, são na verdade similares, de certo modo

muito significativo, embora fortemente implícito. (...) Esta noção de metáfora pode

servir para esclarecer a natureza da criatividade científica pondo em paralelo, no sentido

metafórico, uma descoberta científica e uma metáfora poética. E isto porque, ao

perceber uma nova idéia em ciência, a mente procede à percepção de uma metáfora

poética”19.

Segundo Bohm, pelo uso da metáfora ou, conforme diria Paz, pelo poder

conciliador da imagem, é que tornou-se possível aos físicos da segunda metade do

século XIX estabelecer as bases essenciais da moderna mecânica quântica por meio

justamente da exploração da metáfora “uma partícula é uma onda”20.

Na poderosa imagem surgida a partir da afirmação de que a base que se precipita

para formar a matéria do universo é partícula e onda ao mesmo tempo, ou partícula-

onda, sustenta-se um dos conceitos basilares da física quântica e a leitura de mundo

feita a partir desta. Assim sendo, por meio dessa associação que não deixa de ter um

caráter altamente poético, se entendida conforme as acepções dos pensadores

mencionados neste estudo, há que se rever nosso conceito do que seja a “realidade”. E é

18 Ao utilizarmos o termo “realidade”, enfatizado pelo uso das aspas, estaremos inferindo o conceito de realidade segundo a perspectiva da física quântica: “O termo ‘realidade’ indica uma totalidade de fluxo desconhecida e indefinível, que é a base de todas as coisas e do próprio processo de pensamento, bem como do movimento da percepção inteligente. Mas isso não altera basicamente a questão, pois se a realidade é assim desconhecida e incognoscível [conforme o princípio quântico], como podemos estar certos de que, no final das contas, ela está lá? A resposta, naturalmente, é que não podemos ter certeza”. D. Bohm, A Totalidade e a Ordem Implicada, p. 91.19 D. Bohm & F. D. Peat, Ciência, Ordem e Criatividade, pp. 50-1.20 Ibid., p. 61.

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justamente nesse ponto que o pensamento oriental e o ocidental se tocam em aspectos

que cada vez mais estão deixando de ser ignorados pelo pensamento ocidental, até então

fadado, conforme já mencionado, a um intenso solipsismo.

A possibilidade do “isto é aquilo”, citado por Paz como sendo admitido

inicialmente apenas no contexto oriental, atualmente é a base da física quântica, na qual

“uma partícula é uma onda”. Diante disso seria mesmo de todo ousado afirmar que a

base de nossa “realidade” poderia ser comparada a uma imagem poética? Considerando-

se o contexto científico da física quântica, provavelmente não. Cada vez mais a arte e a

ciência parecem se tocar em pontos antes sequer cogitados durante a existência da

espécie de abismo que separava o pensamento oriental do ocidental.

A resistência de alguns físicos em aceitar o caráter indeterminista da física

quântica talvez surja justamente da dificuldade inerente ao processo de tentar explicar

esses conceitos movediços por meio da linguagem prosaica. Em um universo onde

“pedras são plumas, isto é aquilo, partícula é onda”, a linguagem necessariamente exata

e precisa do fazer científico evidentemente entra em conflito. Talvez por isso também

não seja de todo ousado considerarmos que o cientista da atualidade que se proponha a

estudar esse amplo universo de possibilidades tenha também de possuir uma certa “veia

de poeta”, pois somente por intermédio do uso de uma sensibilidade mais apurada lhe

será possível explorar, entender e expor ao mundo essa nova realidade.

Em consonância com a possibilidade dessa conciliação de aparentes contrários, e

voltando-nos mais uma vez à bela poeticidade de Octavio Paz, temos diante de nós um

novo contexto de possibilidades onde “o universo deixa de ser um vasto armazém de

coisas heterogêneas. Astros, sapatos, lágrimas, locomotivas, salgueiros, mulheres,

dicionários, tudo é uma imensa família, tudo se comunica e se transforma sem cessar,

um mesmo sangue corre por todas as formas e o homem pode ser, por fim, o seu desejo:

ele mesmo”21.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOHM, D. A Totalidade e a Ordem Implicada. Trad. de M. de C. Silva. São

Paulo, Editora Cultrix, 1980.

_____& F. D. Peat. Ciência, Ordem e Criatividade. Trad. de J. da S. Branco.

Lisboa, Gradiva, 1989.

21 O. Paz, op. cit., p. 50.

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CALVINO, I. Seis Propostas para o Próximo Milênio. Trad. de I. Barroso. 2a ed.

São Paulo, Companhia das Letras, 1997.

PAZ, O. Signos em Rotação. Trad. de S. U. Leite. 3a ed. São Paulo, Perspectiva,

1996.