COMUNICACAO CORPORATIVA_CAP1

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A VISÃO “DO TODO” DA COMUNICAÇÃO CORPORATIVA A comunicação corporativa de uma empresa é um conjunto de ações que ela executa para interagir com os públicos que são essenciais para a sua reputação (imagem), negócio (desempenho financeiro) e sustentabilidade. Seu principal objetivo é fazer com que a empresa seja corretamente percebida pelos seus stakeholders, os grupos com os quais quer se relacionar. Para que isso aconteça, é preciso um plano de comunicação muito bem estruturado e ali- nhado com o planejamento estratégico, o farol que mostra aonde a empresa quer chegar no curto, médio e longo prazos. Os stakeholders variam conforme o perfil e setor do negócio, mas, em linhas gerais, podem ser: empregados, acionistas, clientes, investidores, fornecedores, governo, organizações do terceiro setor, órgãos de defesa do consumidor ou regulatórios como aqueles que estabelecem as regras para o funcionamento de determinado setor, casos da aviação comercial, energia elétrica, telecomunicações e outros. A imprensa e os internautas são públicos-alvo que, ao Para quem está chegando agora

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Corporativa

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  • A viso do todo dA ComuniCAo CorporAtivA

    A comunicao corporativa de uma empresa um conjunto

    de aes que ela executa para interagir com os pblicos que so

    essenciais para a sua reputao (imagem), negcio (desempenho

    financeiro) e sustentabilidade. Seu principal objetivo fazer com

    que a empresa seja corretamente percebida pelos seus stakeholders,

    os grupos com os quais quer se relacionar. Para que isso acontea,

    preciso um plano de comunicao muito bem estruturado e ali-

    nhado com o planejamento estratgico, o farol que mostra aonde

    a empresa quer chegar no curto, mdio e longo prazos.

    Os stakeholders variam conforme o perfil e setor do negcio,

    mas, em linhas gerais, podem ser: empregados, acionistas, clientes,

    investidores, fornecedores, governo, organizaes do terceiro setor,

    rgos de defesa do consumidor ou regulatrios como aqueles que

    estabelecem as regras para o funcionamento de determinado setor,

    casos da aviao comercial, energia eltrica, telecomunicaes

    e outros. A imprensa e os internautas so pblicos-alvo que, ao

    para quem est chegando agora

  • Comunicao corporativa

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    mesmo tempo, transmitem as informaes aos outros. Nos ambien-

    tes das redes sociais esto espalhadas pessoas que podem fazer

    parte de todos os grupos como jornalistas, empregados, clientes

    e autoridades.

    O processo de comunicar, quando bem integrado, cria uma

    identidade para a empresa e suas marcas, que passam a ser reco-

    nhecidas pelos atributos informados aos seus stakeholders. Pode

    ser o caso de uma instituio financeira que aderiu ao tema da

    sustentabilidade e quer ser lembrada por meio desse atributo. Ou

    uma rede de varejo com clientes das classes d e e que percebeu o

    desejo que seus consumidores tm de serem reconhecidos como

    classe c ou b. Para atender a esse anseio, passa a fazer mudanas

    nas suas lojas e linhas de produtos que, bem comunicadas, man-

    tero a fidelidade de seus consumidores.

    O ideal que a comunicao corporativa no ande isolada do

    planejamento publicitrio ou de propaganda. Apesar de a forma de

    transmisso do contedo ser diferente e de a propaganda pagar pela

    sua exposio, as mensagens tm que ser as mesmas. Se a ideia,

    por exemplo, reposicionar uma marca popular de lingerie e dar

    a ela uma percepo de produto que pode ser comprado tambm

    por clientes de maior poder econmico, o plano de comunicao

    corporativa ter como objetivo informar esse pblico sobre os

    atributos que atendem aos seus anseios. importante considerar o

    novo design e as cores, os investimentos, se o algodo utilizado

    produzido em fazendas que respeitam o meio ambiente e valorizam

    sua relao com a comunidade, entre outros. Pautas com esse foco

    sero oferecidas imprensa e a blogueiros especializados em estilo,

    moda, sustentabilidade e marketing. Sua publicao depender do

    interesse despertado pelo tema. A propaganda, por sua vez, criar

    anncios que passem as mesmas ideias e cuja veiculao tem a

    garantia do espao pago. No anncio de uma unio de empresas

    ocorre o mesmo. Haver um plano de comunicao estruturado para

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    informar os stakeholders atingidos pela operao e pelos anncios

    pagos que reforaro as mesmas mensagens.

    ningum sAbe tudo

    Um projeto de comunicao que tenha essas premissas pro-

    move a interao e o dilogo com todos os pblicos de interesse

    da organizao. Por meio dessas trocas, a empresa vai criando a

    sua rede de relacionamentos com a sociedade. No se trata mais

    de um movimento de cima para baixo ou com uma direo precisa

    e calculada, mas um intercmbio em que vrios atores interferem

    porque detm conhecimento e ferramentas para exercer esse papel.

    Prestar ateno ao universo virtual das redes, blogs e co-

    munidades quase uma garantia de pblico futuro porque esse

    o mundo que as pessoas mais jovens consumidores de seus

    produtos, defensores e divulgadores de suas marcas habitam.

    tambm o espao em que seus detratores podem exercer poder

    de crtica. Por isso importante conhec-lo, ver como funciona e

    comear, desde j, a trabalhar com ele.

    Um estudo do Boston Consulting Group (bcg) prev que,

    at 2015, dobrar o nmero total de usurios da internet no grupo

    de pases Brici Brasil, Rssia, ndia, China e Indonsia. Sero 1,2

    bilho de usurios, trs vezes mais do que nos Estados Unidos. O

    estudo afirma que esse crescimento ser estimulado principalmente

    pelos jovens. No Brasil, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domi-

    clios (pnad) de 2009, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

    Estatstica (ibge), mostrou que 71,1% dos jovens com 15 a 17 anos

    j acessavam a internet. Em pessoas entre 18 e 19 anos, essa taxa

    era um pouquinho menor, 68,7%, mas caa abruptamente entre os

    indivduos com 50 anos ou mais, 15,2%. No levar em conta esse

    movimento significa trabalhar para informar e se relacionar com

    uma espcie em extino.

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    poder distribudo

    O advento das redes sociais acabou com a sensao de

    controle que significa entrevista, anlise da reportagem publicada,

    contabilizao dos centmetros ocupados pela matria nos jornais

    e entrega do resultado ao porta-voz do assunto. Mesmo que a

    opo seja por uma estratgia de divulgao com foco apenas na

    imprensa, a repercusso pode vir dos blogs, comunidades virtuais,

    Twitter ou at mesmo de um simples sms, o popular torpedo, que

    pode ser enviado pelo mais rudimentar dos aparelhos celulares.

    Mesmo que o plano inicial tenha desconsiderado os internautas,

    talvez seja necessrio interagir diretamente com eles para evitar

    que o projeto anunciado seja colocado em risco e para inform-los

    sobre o contedo da comunicao que est sendo feita.

    O professor de Sociologia e diretor do Instituto Interdiscipli-

    nar de Internet da Universitat Oberta de Catalunya, em Barcelona,

    Manuel Castells, lembrou, em uma entrevista imprensa, o poder

    de fogo que pode ter uma mensagem disseminada por meio de

    sms. Em 2004, o governo do espanhol Jos Maria Aznar foi acusado

    de ter mentido sobre a autoria do atentado terrorista em trens que

    se dirigiam estao de Atocha, em Madri, que causou a morte

    de 192 pessoas. Atribuiu o atentado ao grupo separatista basco

    eta, quando, na verdade, se tratava da Al Qaeda. A descoberta da

    verdade, na vspera da eleio presidencial espanhola, foi compar-

    tilhada por sms e levou milhes de jovens s urnas. E isso mudou o

    resultado do pleito. O socialista Jos Luis Zapatero venceu Aznar.

    os Anos 1990

    Para entender melhor o que essa mudana significou para

    o mercado e para o trabalho de quem entra no mundo da comu-

    nicao, vamos voltar um pouco no tempo. At os anos 1990,

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    a atividade de divulgao de uma empresa e seus produtos era

    focada principalmente nos jornalistas. Por meio deles, tentava-se

    chegar populao. A preocupao de identificar os stakeholders

    mais importantes para o negcio e definir qual seria a maneira

    adequada para se comunicar com cada um desses grupos no era

    to presente, como passou a ser nos anos que se seguiram.

    A comunicao com os empregados, por exemplo, restrin-

    gia-se principalmente s informaes formais sobre salrios e be-

    nefcios emitidas pela rea de recursos humanos. No prevalecia

    uma comunicao integrada e focada na estratgia de negcios e

    de imagem da empresa.

    Informava-se as novidades como lanamento de produtos,

    inauguraes de novas fbricas, entrevistas de executivos por meio

    de press releases enviados s redaes pelo correio ou por office

    boys. No era prtica muito comum o contato mais direto com o

    jornalista da redao. Na maioria das vezes, essa interao se res-

    tringia ao follow up (ligao telefnica para confirmar o recebimento

    da correspondncia com o press release). Atualmente, o follow up

    continua sendo uma atividade da comunicao especialmente em

    relaes com a mdia mas o modo de fazer adaptou-se aos novos

    tempos. O contato tambm feito por e-mail ou at mesmo por

    meio de torpedo. Na maioria das situaes j no se limita a uma

    ao mecnica para checar se a informao chegou. Ao contrrio,

    h o intuito de colocar a equipe disposio para elucidar dvidas

    sobre o assunto, explicar melhor a pauta que foi oferecida, ser, enfim,

    um apoio efetivo para que o trabalho tenha o resultado esperado.

    Naqueles anos, era mais rara a prtica do assessor em sugerir

    uma pauta que tivesse interesse jornalstico e que, ao mesmo tempo,

    provocasse uma exposio positiva para o seu cliente. Quem andou

    pelas redaes nessa poca lembra bem de envelopes chegando

    com informaes que muitas vezes no tinham apelo algum, e de

    editores que no se davam sequer ao trabalho de abri-los. Havia

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    um descasamento entre a informao produzida pela assessoria

    de relaes pblicas ou imprensa e aquela que poderia ser uma

    pauta para uma reportagem. Isso tudo sem falar na relao confli-

    tuosa que existia entre o reprter e o assessor. Para o jornalista de

    redao, o assessor de imprensa barrava o seu trabalho. Era visto

    como uma espcie de porta-voz oficial que mascarava a verdade.

    Para o assessor, o reprter era o profissional que avanava o sinal

    e perguntava mais do que devia.

    Quando algo negativo acontecia casos como acidentes de

    trabalho ou suposto envolvimento de donos ou executivos em

    ilegalidades , respondia-se algo evasivo e apenas se houvesse

    o vazamento da informao ou se algum reprter descobrisse.

    Pensar em tomar a iniciativa para comunicar opinio pblica no

    era algo que passava pela cabea da maioria dos executivos e seus

    assessores. Agir assim, atualmente, um suicdio corporativo,

    porque a informao flui para todos os lados e vem de inmeras

    direes por meio das redes sociais e at do torpedo. A sociedade

    no aceita mais respostas evasivas. H cada vez mais meios para

    fiscalizar, questionar e emitir a sua opinio sobre produtos, marcas

    e o comportamento empresarial.

    potenCiAl pArA CresCer

    Existem indicaes evidentes de que h ainda muito para

    evoluir na cultura da comunicao dentro das empresas. O Data-

    berje instituto de pesquisas da Aberje consultou uma amostra

    de 200 companhias entre as mil maiores do ranking do jornal Valor

    Econmico, em novembro de 2010. O objetivo era saber o que os

    seus presidentes pensam da comunicao corporativa. Somente 35

    responderam ao questionrio. Outros 38 decidiram no participar.

    O restante havia solicitado prorrogao do prazo para a devoluo

    dos formulrios preenchidos. Em entrevista ao jornal, a diretora da

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    Aberje, Suzel Figueiredo, diz que o resultado sugere que muitos

    comunicadores ainda no tm acesso fcil aos presidentes das

    empresas onde atuam. Entre os que enviaram as respostas, 66%

    informaram que o reporte da comunicao se d diretamente com

    a presidncia, mas 21% consideraram que o engajamento das suas

    diretorias com o tema est abaixo do esperado.

    Publicada com exclusividade pelo Valor Setorial Comuni-

    cao Corporativa, a pesquisa revelou outro dado interessante e

    que se refere aos pblicos com os quais os lderes se sentem mais

    vontade. Os clientes esto na dianteira e foram apontados em 75%

    das respostas, o que era esperado, j que o relacionamento com

    esse pblico muito bem sedimentado porque est diretamente

    relacionado atividade principal para os negcios da empresa

    (core business). Em compensao, ONGs, governo e imprensa so

    os pblicos que causam mais desconforto.

    Outra pergunta feita pela pesquisa visava identificar os

    stakeholders que deveriam receber mais ateno dos presidentes

    no futuro. Os funcionrios apareceram em primeiro lugar, com

    78%, seguidos dos clientes, 66%, e da imprensa, 60%. As ONGs

    foram citadas apenas por 33% dos presidentes e ficaram em ltimo

    lugar, atrs dos investidores, com 45%, e do governo, 42%. Mesmo

    com as diferenas de importncia concedidas aos pblicos, Suzel

    Figueiredo aponta como um fator positivo que todos os lderes

    que participaram da pesquisa j dedicam parte de seu tempo ao

    relacionamento com seus pblicos.

    cada vez maior o nmero de empresas que enxergam

    a comunicao como uma parceira importante para informar a

    sociedade sobre como funcionam os seus processos de gesto e

    o modelo de trabalho que adotam. Wilson Amaral presidente

    da Gafisa, uma das maiores companhias da rea imobiliria no

    pas e a nica do setor com aes negociadas na Bolsa de Nova

    York, e defende o trabalho de construo da percepo de gesto

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    da empresa como fator essencial no trabalho de recrutamento

    e seleo de profissionais talentosos. Comunicar bem e direto

    um instrumento muito poderoso para o desenvolvimento da em-

    presa. Ele estima que 60% de sua jornada diria absorvida por

    situaes que envolvem comunicao nos vrios nveis do negcio

    que preside.

    Revelar para o pblico externo como a empresa trabalha

    internamente, seus valores e objetivos uma forma certeira de

    atrair os talentos que se encaixam no perfil do seu negcio. Ne-

    nhuma empresa igual outra e a estratgia de comunicao

    aplicada precisa atrair quem realmente importa e tenha a cara do

    seu negcio.

    Para colocar em prtica o projeto de comunicar preciso

    escolher ferramentas certas, alm de informaes relevantes, e des-

    cobrir onde esto esses talentos em potencial. Uma superexposio

    na mdia impressa ou uma pulverizao pura e simples nas redes

    sociais nem sempre trar o retorno esperado.

    Para muitas empresas, a medida outra. O quanto o trabalho

    de informar e comunicar fez a diferena, efetivamente, para a meta de

    contratao de pessoas com o perfil desejado pela empresa? Esse

    um desafio permanente.

    QuAndo tudo Comeou

    Os primeiros registros da prtica da assessoria de imprensa

    e relaes pblicas no Brasil so do incio do sculo xx. Em 1914,

    a companhia Light (The So Paulo Trainway Light and Power

    Company Limited), antiga Eletropaulo, criou uma rea interna

    de relaes pblicas. Nove anos depois, fundou o Boletim Light,

    considerado o primeiro house organ nome que dado a veculos

    de comunicao, jornais ou revistas, produzidos por empresas

    do Brasil.

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    Os imigrantes italianos e espanhis que, nessa poca, de-

    sembarcavam em So Paulo aos milhares, trouxeram com eles o

    anarquismo. Para divulgar suas ideias, panfletos e jornais eram pro-

    duzidos. Distribudos em portas de fbrica, serviam de contraponto

    ao contedo dos veculos oficiais das empresas. A efervescncia do

    momento estimulou o nascimento de outras fontes de divulgao

    por parte da indstria. A revista General Motors, lanada pela gm

    do Brasil em 1926, um exemplo.

    Os anos 1930 marcaram a chegada de Getlio Vargas ao po-

    der. A poca foi um marco no uso da informao para fortalecer a

    imagem do governante e do regime. Foi nesse perodo, em 1935,

    que nasceu o programa radiofnico A Voz do Brasil, que continua

    sendo transmitido. Sua funo bsica era disseminar as notcias do

    governo, poderes judicirio e legislativo, por meio da imposio de

    cesso de um horrio por todas as emissoras de rdio do pas. Nos

    anos mais recentes, o setor, liderado pela Associao Brasileira das

    Emissoras de Rdio e Televiso (Abert), tem atuado institucional-

    mente para conseguir flexibilizar a transmisso do programa. Uma

    de suas justificativas que, na poca da criao da Voz do Brasil,

    havia apenas 41 emissoras no pas. Em 2011, j so mais de nove mil,

    sendo que 684 formam a rede governamental e educativa de rdio

    e tv. Outros argumentos so a queda da audincia no horrio do

    programa de uma mdia de 19,42% para 2,44% e as mudanas

    nos meios de transmisso das notcias.

    Voltando era Vargas, em 1937, Getlio tornou-se ditador e,

    por meio de um golpe, instituiu o Estado Novo. Dois anos depois,

    criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (dip), que co-

    manda a censura e glorifica Getlio, o Pai dos Pobres, definio

    que est em A ditadura derrotada, do jornalista Elio Gaspari. O

    modelo do dip foi copiado do aparato de comunicao nazista, que

    teve como lder e mentor Joseph Gebbels, ministro da propaganda

    de Hitler. Os censores do regime getulista, que proibiam a publica-

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    o de matrias consideradas por eles nocivas ao governo, eram

    tambm os responsveis pela propaganda e divulgao oficial. O

    dip foi extinto em 1945, com o fim do Estado Novo. A partir da, at

    o golpe militar de 1964, a prtica de relaes pblicas seria tema

    de estudos e encontros, inclusive nas universidades. Integrada aos

    cursos de Administrao, tornou-se matria especfica em 1969,

    conta Maristela Mafei em seu livro Assessoria de imprensa: como

    se relacionar com a mdia.

    No regime miliar, o governo passou a contar com a Asses-

    soria Especial de Relaes Pblicas (aerp). Criada por intermdio

    de um decreto do General Arthur da Costa e Silva, foi concebida

    e chefiada pelo coronel Hernani dAguiar, egresso do curso de

    Relaes Pblicas da puc do Rio de Janeiro. A aerp tinha a funo

    bsica de propagandear o regime autoritrio, alm de estimular

    campanhas ufanistas sobre o pas e seus governantes. Fez uso

    ostensivo de assessores de imprensa com a funo de garantir a

    acolhida dos press releases oficiais nas redaes. No era raro

    profissionais trabalharem como assessores de comunicao no go-

    verno ou seus rgos e, ao mesmo tempo, exercerem cargos nos

    veculos da imprensa. No governo Mdici, a aerp ganhou status de

    ministrio e tornou-se um rgo ainda mais estratgico no uso e

    na manipulao da informao com o suporte da censura para

    fortalecer o regime e suas lideranas. A grande maioria dos press

    releases oficiais que pousavam nas redaes tinha um portugus

    sofrvel e eram generosos em adjetivos elogiosos aos governantes.

    No havia a preocupao em divulgar os fatos que realmente eram

    de interesse pblico. E isso contribuiu para que, durante muito

    tempo, os jornalistas tratassem os assessores de imprensa com

    preconceito ou indiferena.

  • Para quem est chegando agora

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    surgem A Aberje e A AbrACom

    Se, por um lado, havia o esquema governamental de divulgao

    e imposio de informaes, por outro, o setor privado preocupava-se

    com a profissionalizao da atividade de comunicao das empresas.

    A fundao da Associao Brasileira de Comunicao Empresarial

    (Aberje), em 1967, significou um passo muito importante nessa

    direo. Com a viso de ser o centro de referncia da produo e

    disseminao de conhecimento e prticas de comunicao e relacio-

    namento, inspirando as organizaes e suas estratgias de gesto, a

    Aberje uma das entidades mais importantes do setor. Em seu site

    possvel acompanhar a programao de cursos e treinamentos, alm

    de artigos e notcias sobre experincias e cases do setor. Periodica-

    mente, realiza pesquisas algumas citadas neste livro essenciais

    para traar cenrios sobre a atividade.

    A partir da redemocratizao, no final dos anos 1980, trs

    fatores deram um forte impulso profissionalizao da comuni-

    cao corporativa. Houve a abertura do mercado para o setor au-

    tomobilstico, logo no comeo da dcada, seguida pelo processo

    de privatizao de empresas de telecomunicaes, de energia e da

    Vale, e pelo nascimento do Cdigo de Defesa do Consumidor (cdc).

    Com a lei, os consumidores ganharam um novo status ju-

    rdico na garantia dos seus direitos, e os meios de comunicao

    passaram a dar mais espao s relaes de consumo. Jornalistas

    especializaram-se no tema e foram criadas colunas com reclama-

    es, denncias e pautas que esmiuavam os direitos garantidos

    pelo cdc, sempre que um fato novo vinha tona. E o movimento

    no parou mais. Para fazer valer o que julga ser os seus direitos, o

    consumidor passou a utilizar redes sociais e ferramentas de tecno-

    logia, induzindo empresas e profissionais de comunicao a uma

    melhoria constante nos seus servios e formas de interao com o

    pblico que compra seus produtos.

  • Comunicao corporativa

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    A privatizao de servios pblicos mudou a estrutura de ca-

    pital e de poder de empresas muito importantes para a populao

    e o mercado. Os novos donos eram grupos privados que tinham

    que atender a uma populao vida por servios pblicos de qua-

    lidade. No setor automobilstico, o acesso a marcas e modelos s

    comercializados no exterior exigiu investimentos em comunicao de

    quem j estava no pas e precisava garantir o seu espao, e de quem

    vinha de fora e ainda era um ilustre desconhecido dos brasileiros.

    Esses fatores provocaram um aumento na demanda por

    profissionais de comunicao. Jornalistas experientes deixaram as

    redaes rumo s agncias ou ento para estruturar as reas de

    comunicao das empresas. Houve uma mescla de experincia.

    Quem vinha dos jornais ou emissoras de rdio e televiso trazia

    para dentro das empresas e das agncias algumas das prticas que

    fazem um bom reprter, como a curiosidade e certa dose de ceti-

    cismo como estmulo a questionamentos sempre necessrios para

    se produzir uma pauta de interesse pblico. O trabalho passou a

    considerar o perfil dos veculos de imprensa, o funcionamento das

    redaes, a sua hierarquia e a rigidez dos horrios de fechamento.

    Do lado dos assessores e executivos de empresas, havia a

    convivncia estreita com o mundo corporativo e dos negcios,

    algo muito distante do ambiente informal dos jornais. Nasceu um

    novo perfil de profissional mais completo. E ele chegava em boa

    hora. A sociedade queria respostas e as empresas entenderam que

    respond-las era fundamental para a construo de sua imagem

    e reputao.

    A comunicao para as companhias ganhou status de negcio.

    Cresceu o nmero de empresas de assessoria de imprensa que, ao

    longo do tempo, tornaram-se agncias de comunicao que busca-

    vam atender crescente demanda do mercado. No ano de sua cria-

    o, em 2002, a Associao Brasileira das Agncias de Comunicao

    (Abracom) contava com a participao de 56 agncias. No final de

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    2010 j possua cerca de 350 associados, que, juntos, faturavam em

    torno de R$ 1,5 bilho.

    Os nmeros, no entanto, so bem maiores porque boa parte

    das assessorias e agncias ainda no faz parte da entidade. Seu pre-

    sidente, Ciro Dias Reis, credita globalizao e internacionalizao

    das empresas a evoluo dos servios e crescimento do mercado

    de comunicao corporativa. Foi um processo da economia que

    se refletiu na nossa atividade de comunicao. Para atender s

    necessidades de seus clientes, as empresas de comunicao fecha-

    ram acordos e parcerias com redes e agncias internacionais que

    derrubaram as limitaes geogrficas e possibilitam o atendimento

    a demandas em qualquer lugar do mundo sem restries de logstica

    ou horrio. Essa interao facilita a troca de conhecimentos e de

    experincias, algo sempre muito saudvel ao mundo dos negcios.