Conceitos Básicos do Manejo Integrado de Pragas€¦ · parâmetros econômicos, ecológicos e...

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Conceitos Básicos do Manejo Integrado de Pragas

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Conceitos Básicos do Manejo Integrado de Pragas

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Conceitos Básicos do Manejo Integrado de Pragas

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma filosofia de controle de pragas que

procura preservar e incrementar os fatores de mortalidade natural, através do uso

integrado de todas as técnicas de combate possíveis, selecionadas com base nos

parâmetros econômicos, ecológicos e sociológicos, visando a manter a densidade

populacional de um organismo abaixo do nível de dano econômico.

A compreensão dos preceitos do MIP requer o conhecimento de alguns conceitos

básicos, que são comumente usados por pesquisadores, técnicos e produtores que

lidam com a entomologia. Para entendê-los devemos conhecer a relação inseto-

fitófago x planta (Figura 1).

FIGURA 1. Esquema ilustrando a relação inseto x planta, que caracteriza o conceito de praga

Os insetos fitófagos alimentam-se das plantas para sobreviverem e, como

conseqüência, as plantas deixam de produzir a mesma quantidade de produtos que

outras que não foram danificadas por eles. Do ponto de vista do manejo integrado de

pragas, esse inseto, ao se alimentar de uma planta cultivada provoca nela uma

Injúria , que é definida como qualquer alteração deletéria decorrente da sua ação.

A planta injuriada perde produção, que pode ser quantificada monetariamente,

recebendo o nome de Dano Econômico, que é definido como qualquer perda

econômica decorrente de uma injúria. Quando esse dano se torna significativo diz-se

que esse inseto se tornou uma Praga . A dúvida é saber quando o dano econômico

se torna significativo, e, para isso, foi criado o conceito de Nível de Dano

Econômico (NDE), que é a densidade populacional de uma praga capaz de causar

um prejuízo (dano econômico) de igual valor ao seu custo de controle.

Para calcular o NDE é necessário saber que a produção da cultura é reduzida à

medida que a densidade populacional da praga ou a sua injúria aumenta (Figura 2).

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FIGURA 2. Modelo do efeito da injúria provocada por insetos sobre a produção.

Conforme visto, a produção será máxima quando a população da praga estiver

próxima de zero. Para obter isso, devemos investir recursos para reduzir a

densidade populacional da praga. Quanto maior o valor investido no controle, menor

é a densidade populacional da praga e, conseqüentemente, maior será a produção

da cultura (Figura 3).

FIGURA 3. Relação custo-benefício do controle de pragas, conceituando nível de dano econômico.

O que se espera obter em qualquer investimento florestal é o máximo lucro; então, a

tomada de decisão (aplicação ou não de um ou outro método de controle) envolve

um custo, que deve ser minimizado, e uma receita, que deve ser maximizada. A

diferença entre a receita e o custo produz um lucro, que é descrito matematicamente

como:

L = pQ(x) - C(x),

em que: L = lucro; p = preço do produto; Q(x) = quantidade do produto que se obteve

em função da aplicação do método de controle (x); x = método de controle; e C(x) =

custo da aplicação do método de controle (x).

O lucro será máximo quando as curvas de receita da produção e custos de controle

de pragas se afastarem o máximo, ou seja, quando a derivada de L em função de (x)

for igual a zero: (dL/dx) = p[dQ(x)/d(x)] - [dC(x)/d(x)] = 0. Nesse ponto, temos o NDE,

ou seja, a densidade populacional da praga (eixo X) em que devemos aplicar o

controle.

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Na Figura 4 temos a derivada do lucro (dL/dx). Verifica-se que a curva de incremento

dos custos aumenta quando a intensidade de controle aumenta. Isso porque

aumentam os custos para se obter: boa estimativa da densidade populacional da

praga; maior eficiência de controle; melhoria da metodologia de aplicação; etc. Por

outro lado, a curva de incremento das receitas decresce com o aumento da

intensidade de controle, devido aos maiores custos de sua implementação. O lucro é

representado pela área formada pelo triângulo “abc”, que é derivado da diferença entre

as duas curvas e é maximizado quando elas se interceptam no ponto X..

O preço dos produtos e dos insumos afeta o nível ótimo de intensidade de controle de pragas. Quando o preço do produto sobe, o retorno (ou benefício) do controle de pragas

também deve aumentar, pois o produtor deve investir mais no controle de pragas,

para reduzir mais os danos e obter maior produção e maior lucro. Assim, a

intensidade de controle deve aumentar se o preço do produto aumentar, pois a curva

de incremento dos custos intercepta a das receitas num nível de intensidade maior

X1.

Como foi visto acima, o produtor terá o maior lucro se utilizar uma intensidade de

controle igual a X 0 ou X 1, dependendo da variação no preço do produto. A

partir destes pontos, qualquer investimento para reduzir, ainda mais, a população da

praga (e conseqüentemente os seus danos) produzirá uma perda econômica para o

produtor, que é representada pela área formada pelo triângulo “bdX2”. O ponto X 2

representa a intensidade de controle necessária para se eliminarem todos os

indivíduos de uma espécie de inseto-praga de uma área (e, conseqüentemente,

todos os seus danos) e, também, representa a perda econômica máxima que se

pode obter no controle de pragas, devido ao aumento no custo de controle.

FIGURA 4. Derivada da relação custo-benefício do controle de pragas, onde P1 = produtos com baixo

preço e P2 = produtos com alto preço.

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O nível de dano econômico é dinâmico e pode variar segundo: Preço do produto

(quanto maior o preço do produto, menor o nível de dano); Custo de controle (quanto

maior o custo de controle, maior o nível de dano); capacidade da praga em danificar

a cultura; suscetibilidade da cultura à praga.

Outro conceito muito usado no MIP é o do Nível de Ação ou de Controle (NA ou

NC), que é a densidade populacional de uma praga em que devem ser tomadas as

medidas de controle, para que não causem danos econômicos. A diferença entre os

valores do ND e do NC é igual à velocidade de ação dos métodos de controle. Isso

ocorre porque se o método de controle for lento, a densidade da praga pode crescer

por certo tempo após a aplicação do controle e causar danos acima do tolerável.

Na prática, o produtor terá que acompanhar a flutuação populacional da praga no

tempo e somente aplicar o controle quando essa densidade atingir um valor igual ou superior ao NC, para manter a densidade populacional do inseto no Ponto de

Equilíbrio (Figura 5).

FIGURA 5. Esquema representando o comportamento da densidade populacional de um organismo no tempo com relação ao nível

de dano econômico.

Com a implantação dos conceitos de NC e NDE, o MIP avançou em algumas

culturas em relação aos mét odos tradicionais, mas estava focalizado apenas na

avaliação da densidade populacional das pragas, sem considerar o efeito do controle

biológico natural na tomada de decisão. Isso foi mudado com a determinação do

Nível de Não-Ação (NNA), que é a densidade populacional dos inimigos naturais

capaz de controlar a população da praga sem a intervenção humana.

Esses conceitos passaram a integrar o MIP e são utilizados rotineiramente nas

atividades regulares da cultura florestal.

Procedimentos par a implementação e gerenciamento de programas

de manejo integrado de pragas

A implantação e o gerenciamento de programas de MIP são fundamentais para a

correta condução da floresta sob o ponto de vista do controle de insetos-praga. Isso

pode ser implementado em cinco etapas:

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1o – Definição da unidade de manejo

A unidade básica de manejo de pragas florestais é o talhão. Essa unidade consiste

numa área delimitada fisicamente por estradas, aceiros ou trilhas (Figura 6) e são

consideradas independentes umas das outras. Isso significa que a tomda de decisão

de combate é específica para cada uma. Cada unidade deve conter a cultura em

condições homogêneas de tratos culturais, idade, espécie ou cultivar, tipo de solo,

micro-clima, entre outros, de forma que o comportamento da praga seja semelhante

em toda a área da unidade, para que a amostragem dos insetos seja representativa.

O seu tamanho é determinado pelo sistema de manejo da cultura e pela capacidade

operacional de ação de combate. Isso é, deve ter uma área que permita a aplicação

de um método de controle em tempo suficiente para não haver alteração no status

populacional da praga durante as operações de monitoramento e combate.

FIGURA 6. Esquema de unidades de manejo (talhão).

2º - Eleger as pragas-chave

As pragas-chave são as mais importantes da cultura que se está manejando.

Elas são selecionadas de uma lista de insetos que ocorrem ou podem ocorrer nessa

cultura. Essa lista é feita com base em consultas à literatura, entrevistas com

técnicos ou protutores, ou estudos de campo. As espécies listadas devem ser

classificadas em basicamente quatro tipos: as não-pragas, as secundárias, as

primárias e as severas, sendo as duas últimas as mais importantes, conforme

mostrado aseguir.

a) Organismo não-praga : é aquele organismo cuja densidade populacional nunca

atinge o nível de controle (Figura 7). Ex. a maioria dos insetos presentes nos

agroecossistemas que usa recursos que não comprometem a produção.

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FIGURA 7. Esquema representativo da flutuação populacional de um organismo não-praga. PE (Ponto de Equilíbrio); NC (Nível de

Controle); ND (Nível de Dano).

b) Praga Secundária ou Ocasional: é aquela que raramente ou ocasionalmente

atingem o nível de controle (Figura 8).

FIGURA 8. Esquema representativo da flutuação populacional de uma praga

secundária. PE (Ponto de Equilíbrio); NC (Nível de Controle); ND

(Nível de Dano).

c) Praga freqüente ou primária: é aquela que freqüentemente atingem o nível de

controle (Figura 9).

FIGURA 9. Esquema representativo da flutuação populacional de uma praga freqüente ou primária. PE (Ponto de Equilíbrio); NC (Nível de Controle); ND (Nível de Dano

Combate

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d)Praga severa : é aquela que apresenta o ponto de equilíbrio sempre acima

donível de controle ou de dano econômico (Figura 10).

Das espécies selecionadas como chave, é necessário ter conhecimento geral sobre

elas com relação à sua biologia, ecologia, comportamento, principais inimigos

naturais, técnicas de amostragem e de controle, etc, para poder manejá-las

adequadamente.

3º - Aplicar os componentes do MIP

Os componentes do MIP são os passos que devem ser tomados sempre que

surgirem problemas de ataque de insetos à cultura e compõem as ações rotineiras

do programa. Eles são constituídos de três etapas:

a) Avaliação do ecossistema

É necessária uma avaliação local do problema, onde devem ser analisados quatro

componentes do ecossistema: a planta, a praga, os inimigos naturais e o clima.

Deve-se identificar e quantificar a população do inseto que está causando o

problema em questão;

deve-se identificar e quantificar a população dos inimigos naturais desse organismo;

deve-se avaliar o estágio fisiológico da planta; deve-se avaliar as condições climáticas do local.

É importante considerar a necessidade de se utilizarem métodos de levantamento

populacional de insetos que possam ser diretamente correlacionados com a injúria

provocada e conseqüentemente com os danos. Esse levantamento permitirá a

determinação não só de nível populacional para a adoção de medidas de controle,

como também indicará a tendência das populações em crescer ou decrescer

possibilitando a tomada de decisão mais coerente. Não existe um método universal

de levantamento, sendo que, freqüentemente, um método empregado para uma praga

não se aplica a outra, e às vezes, o mesmo método não serve para a mesma praga

em condições diferentes. Normalmente ela depende da espécie e da fase da praga,

da idade do plantio, da área afetada, dos recursos disponíveis, etc.

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O MIP está fundamentado na amostragem das populações das pragas -alvo e de

seus inimigos naturais, bem como no conhecimento da cultura e das condições

climáticas do local. Todas as duas fases posteriores estão baseadas nessa

amostragem.

b) Tomada de decisão

A tomada de decisão é efetuada através da análise dos aspectos econômicos da

cultura e da relação custo/benefício do controle de pragas, que é determinado pelo

NDE. Com base na avaliação do ecossistema combate-se a praga se: - a densidade populacional da praga for igual ou maior que o nível decontrole; e - a densidade populacional dos inimigos naturais for menor que o nível de não-ação; e

- a planta estiver no estágio suscetível à praga; e

- as condições climáticas estiverem favoráveis à praga.

c) Escolha dos métodos de controle

Uma vez tomada a decisão de adotar medidas de controle, será necessário fazer a

opção por um programa que poderá envolver um ou mais métodos de redução populacional de insetos.

Para isso deve-se ter um bom conhecimento de todas as técnicas de controle e

escolher as mais adequadas, levando-se em consideração os fatores técnicos

(eficiência, modo de aplicação, etc.), econômicos (custo de combate),

ecológicos (impactos ambientais) e sociológicos (toxicidade e perigo durante a

aplicação). Uma análise prévia do histórico da área com relação a culturas,

clima, ocorrência de pragas, resultados de combate, entre outros, possibilitará

uma previsão dos problemas que deverão ser enfrentados.

4º - Planejamento das ações

Em função das informações sobre a praga, inimigos naturais, cultura e clima

poderá ser feita uma programação para o emprego das medidas de controle

selecionadas, visando a reduzir o problema atual e dificultar a ocorrência de

novos surtos de pragas. Esse planejamento envolve a elaboração de um

cronograma físico-financeiro, incluindo a relação das unidades de manejo que

serão combatidas, os equipamentos de aplicação, materiais, produtos

fitossanitários, mão-de-obra, transporte, alimentação, EPIs, taxas administrativas

e impostos. Todas essas informações são relacionadas no tempo e no espaço,

propiciando um planejamento detalhado das ações de combate que se seguirão,

conforme exemplificado na Quadro 3.

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5º - Acompanhamento dos resultados

Após o combate da área é necessário acompanhar a flutuação populacional das

pragas e dos seus inimigos naturais e verificar os efeitos dos métodos de

redução populacional empregados, sobre os insetos visados e sobre os insetos

não-alvo, a fim de avaliar a necessidade de novas intervenções. Para isso,

adotam-se, geralmente, os mesmos métodos de amostragem empregados na

avaliação do agroecossistema ou outro método dependendo do caso. Essa

etapa, geralmente, é o inicio do processo novamente, como a nova avaliação do

agroecossistema, conforme Quadro 4.