Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

download Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

of 28

Transcript of Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    1/28

    ISSN 1517-8490

    Dezembro/2001

    0

    CONCEITOS E PRINCPIOS PARA O MANEJO ECOLGICO DO SOLO

    Empr esa Brasileira d e Pesquis a Ag ropecuria

    Agrob io log ia

    Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    Documentos

    Nmero, 140

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    2/28

    Repblica Federat iva do Bras i l

    PresidenteFernando Henrique Cardoso

    Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    Minist roMarcos Vincius Pratini de Moraes

    Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria - Embrapa

    Diretor PresidenteAlberto Duque Portugal

    DiretoresBonifcio Hideyuki Nakasu

    Dante Daniel Giacomelli ScolariJos Roberto Rodrigues Peres

    Chef ias da Ag rob iologia

    Chefe Geral

    Maria Cristina Prata Neves

    Chefe Ad j un t o de Pesqu isa e Desenvo lv im en t o

    Jos Ivo Baldani

    Che fe Ad ju n t o Admin i s t r a t i vo

    Valria Luza Pereira Magalhes da Silva

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    3/28

    DOCUMENTO N 140 ISSN 1517-8498

    Dezembro/2001

    CONCEITOS E PRINCPIOS PARA O MANEJO ECOLGICO DO SOLO

    Alberto Feiden

    Seropdica RJ

    2001

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    4/28

    Exemplares desta publicao podem ser solicitadas :

    Embrapa Agrob io log ia

    BR465 km 47Caixa Postal 7450523851-970 SeropdicaRio de Janeiro, BrazilTel.: (0xx21) 2682-1500Fax: (0xx21) 2682-1230e-mail: [email protected].

    Tiragem: 50 exemplares

    Expediente:Revisor e/ou ad hoc: Bruno Rodrigues AlvesNormalizao Bibliogrfica/Confeco/Padronizao: Dorimar dos Santos Felix

    Comit de Publicaes: Jos Ivo Baldani (Presidente) Jos Antonio Ramos Pereira

    Marcelo Grandi Teixeira Robert Michael Boddey

    Segundo Sacramento Urquiaga Caballero Vernica Massena Reis

    Dorimar dos Santos Felix (Bibliotecria)

    FEIDEN, A. Conceitos e Princpios para o Manejo Ecolgico do Solo.Seropdica:Embrapa Agrob io log ia, dez. 2001. 21. (Embrapa Agrobio logia. Documentos,140).

    ISSN 1517-8498

    1. Agroecologia. 2. Ecologia vegetal. 3. Agricultura sustentvel. 4. Agriculturaorgnica. 5. Fertilidade do solo I. Embrapa. Centro Nacional de Pesquisa deAgrobiologia (Seropdica, RJ). II. Ttulo. III. Srie.

    CDD 630

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    5/28

    S U M R I O

    1. INTRODUO...................................................................................................................................................4

    2. FORMAO DOS ECOSSISTEMAS TERRESTRES..................................................................................5

    3. CONCEITO E FERTILIDADE.........................................................................................................................9

    4. MANEJO ECOLGICO DO SOLO..............................................................................................................10

    4.1 - SISTEMAS DE PREPARO DO

    SOLO......................................................................................................104.2 - REDUO DAS PERDAS DENUTRIENTES........................................................................................11

    4.3 - FORNECIMENTO DE NUTRIENTES S PLANTAS E CORREO DAACIDEZ........................12

    4.4 - ESTIMULO ATIVIDADEBIOLGICA..............................................................................................16

    4.5 - MANEJO DE PLANTASESPONTNEAS..............................................................................................18

    5. CONSIDERAESFINAIS...........................................................................................................................21

    6. REFERNCIASBIBLIOGRFICAS...........................................................................................................20

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    6/28

    4

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    7/28

    5

    CONCEITOS E PRINCPIOS PARA O MANEJO

    ECOLGICO DO SOLO

    Alberto Feiden1

    1. INTRODUO

    Tradicionalmente se considera o solo apenas como um meio de crescimento

    para as plantas, um suporte de fixao, que embora possa fornecer nutrientes,

    geralmente no atende s demandas das culturas, principalmente em sistemas de

    alta produtividade. Assim, de acordo com este enfoque, a grande maioria dos

    nutrientes necessrios dever ser fornecida s culturas atravs de insumos externos.

    Considerando-se o solo como mero suporte, natural que as prticas de

    preparo tenham a nfase principal de preparar as condies timas como leito para

    as sementes ou mudas. A partir deste ponto de vista, em muitas situaes

    necessrio modificar radicalmente as condies naturais do solo, atravs de prticas

    agrcolas tais como sistematizao do solo, correo de acidez, fertilizao, irrigao,

    drenagem, descompactao, lixiviao de excesso de sais, etc. Isto geralmente tem

    como conseqncias a degradao do solo, atravs de processos como eroso,

    compactao, perda da matria orgnica, salinizao entre outros.

    Neste trabalho procura-se considerar o solo como um espao habitado por

    milhares de organismos, com infindveis interaes entre si e com os componentes

    no vivos, comportando-se como um componente vivo dentro do ecossistema,

    afetando e sendo diretamente afetado pelas praticas culturais utilizadas no processo

    de produo.

    Neste sentido, procurar-se- discutir elementos que permitam a otimizao

    destas interaes, com o objetivo de otimizar os fluxos de nutrientes, reduzir as

    perdas e melhorar as condies ambientais para proporcionar produtividades timas

    das culturas com sustentabilidade no longo prazo. Sob este ponto de vista, os

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    8/28

    6

    conhecimentos gerados pela pesquisa dentro do enfoque anterior, embora

    insuficientes, so vlidos. No entanto, estes conhecimentos necessitam ser

    reordenados dentro de uma viso global dos processos, considerando-se as suas

    inter-relaes e implicaes com e sobre o restante do sistema, e no apenas doponto de vista dos fenmenos isolados em si.

    Assim o enfoque deixa de ser apenas uma cultura, mas sim o

    agroecossistema, aqui entendido como o ecossistema modificado gerido socialmente

    para atender necessidades humanas. Tambm o objetivo deixa de ser a obteno de

    produtividades mximas de uma cultura, e sim a produtividade tima e constante ao

    longo do tempo.

    Dentro desta concepo, o solo um componente do ecossistema, e emborafundamental e determinante, tambm conseqncia da dinmica deste. Assim ao

    se falar de manejo de solos, na verdade est-se falando de uma parte do manejo do

    agroecossistema. Ao reduzir-se o foco somente componente solo, pode-se perder

    parte fundamental dos processos que tm por base o solo, mas que dependem de

    outros componentes do agroecossistema.

    2. FORMAO DOS ECOSSISTEMAS TERRESTRES

    O nvel de produtividade e o estado atual dos ecossistemas naturais, e em

    conseqncia o potencial e as limitaes dos agroecossistemas deles derivados, o

    resultado da histria climtica local. O clima, principalmente precipitao e

    temperatura, e suas variaes ao longo de milhares de anos, atuando sobre o

    material originrio, condicionado pelas condies topogrficas locais, deram origemao componente determinante da atual produtividade do ecossistema: o solo.

    O solo o resultado de um longo processo de formao, que iniciou a

    milhares de anos. Inicialmente houve um processo fsico de fragmentao da rocha

    matriz, causado inicialmente pelas variaes de calor e frio, seguido pela ao dos

    ventos. Reaes qumicas potencializadas pela presena de gua provocaram a

    1

    Eng. Agr. PhD. Tcnico de Nvel Superior, rea de Comunicao e Negcios, Embrapa Agrobiologia(Membro do Colegiado Estadual de Agricultura Orgnica do Rio de Janeiro), Caixa Postal 74505, Seropdica,RJ, CEP:23850-250 [email protected].

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    9/28

    7

    transformao dos minerais originrios da rocha, alm do transporte de materiais

    pela eroso. Com o surgimento da vida, iniciou-se a ao biolgica dos organismos

    vivos sobre o substrato mineral e o acmulo de matria orgnica no sistema. Nesta

    evoluo, ocorreram processos de perdas de elementos como silcio e bases,transporte de materiais por eroso, retirando elementos das reas de encosta e

    depositando-os nas regies mais baixas. A ao dos organismos vivos foi

    fundamental para a adio de matria orgnica, carbono e nitrognio, sendo

    tambm fundamentais na conservao de elementos no sistema. Com a evoluo

    dos ecossistemas em direo aos sistemas clmax, aumentou gradativamente a

    produo de biomassa no sistema, o fluxo de energia e a ciclagem de nutrientes

    dentro do sistema.Nos ecossistemas de regies temperadas, com temperaturas mais amenas e

    precipitaes menos intensas, os processos de perdas de bases e silcio foram

    menores, sendo o produto do intempersmo a formao de arglas do tipo 2:1 ou

    1:1, com capacidade relativamente alta de reteno de nutrientes no componente

    solo. Nas regies tropicais, com temperaturas mais elevadas e chuvas mais intensas,

    os processos de perdas foram mais intensos, ocorrendo a remoo quase que total

    do silcio e das bases, sendo que os minerais constantes so constitudospredominantemente por xidos de ferro, alumnio e titnio. Em conseqncia, este

    solos possuem baixa capacidade de armazenamento e reteno de nutrientes, sendo

    em geral considerados solos de baixa fertilidade. No entanto, nestas regies,

    ocorrem paradoxos como a existncia de ecossistemas naturais extremamente

    produtivos, como a Hilia Amaznica, sobre solos de fertilidade extremamente baixa.

    Isto ocorre, porque nos ecossistemas tropicais, os nutrientes esto armazenados

    principalmente na biomassa viva, e no no solo (Jordan, 1985).

    Como a cincia agronmica se desenvolveu principalmente no hemisfrio

    norte, em regies temperadas, o foco no manejo dos nutrientes dos

    agroecossistemas foi direcionado unicamente para o solo, e sob um ponto de vista

    predominantemente qumico, o que chegou a causar verdadeiras tragdias em

    alguns agroecossistemas tropicais frgeis.

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    10/28

    8

    De uma maneira geral, e extremamente simplificada, podemos dizer que a

    formao dos ecossistemas tropicais passou pelas seguintes seqncias, adaptado de

    Arl & Rinklin (1997):

    a) Uma fase abitica: Foi o perodo anterior existncia de vida na superfcie daterra. Neste perodo ocorreu a fragmentao das rochas originais por processos

    fsicos causados pelo variao entre frio e calor e ao erosiva dos ventos. Com a

    ao das chuvas, comearam a ocorrer as transformaes qumicas do material,

    processos de hidratao e hidrlise, destruio dos minerais primrios e formao

    de minerais secundrios, fortemente coloidais, os quais variam conforme a

    intensidade do processo (Vieira, 1975). Atualmente ainda existem algumas

    regies do planeta, em condies inspitas como os desertos, cumes demontanhas, plos e geleiras.

    b) Uma fase microbiolgica: Com o surgimento da vida, os minerais passaram a

    sofrer a ao de microrganismos como bactrias, lquens e algas, que alm de

    acelerar os processos qumicos, ainda passaram a acumular matria orgnica a

    partir de elementos e compostos formados principalmente de carbono e

    nitrognio. a partir desta fase que podemos considerar a existncia de um

    ecossistema. A ao biolgica nos processos to importante nestas condiesque no se pode mais separar o que ao qumica propriamente dita do que

    ao biolgica (Vieira, 1975). No entanto, o acmulo de matria orgnica

    promovido por microorganismos ainda muito pequeno, suficiente porm para

    propiciar a evoluo para a fase seguinte. Atualmente, ecossistemas nesta fase

    so representados, nas tundras geladas e nas rochas expostas.

    Nas fases abitica e microbiolgica os processos foram extremamente lentos,

    demorando cerca de 3 bilhes de anos.

    c) Fase das plantas espinhosas: So seres que j produzem uma maior quantidade

    de biomassa que os microorganismos, e esto adaptados a condies inspitas,

    com variaes bruscas de temperatura e umidade. J possuem estruturas

    prprias para reproduo, que so capazes de resistir a longos perodos de

    condies desfavorveis e ao final de seu ciclo de vida, incorporam a maior parte

    de seu corpo matria orgnica do solo. Possuem ciclo extremamente rpido

    para aproveitar curtos perodos com condies favorveis para o crescimente.

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    11/28

    9

    Concentram a energia acumulada para garantir sua reproduo. So condies

    que persistem atualmente nos ecossistemas desrticos e litorneos.

    d) Fase dos capins: Na fase dos capins h uma seqncia de trs tipos de capins

    que significam uma sucesso ecolgica evolutiva para solos mais profundos, maisdesenvolvidos e com maiores acmulos de matria orgnica. A cada passo da

    sucesso aumenta a quantidade de biomassa produzida por unidade de rea,

    tanto superficialmente como subsuperficialmente. Na primeira etapa predominam

    os capins duros, ainda com um certo nvel de adaptao a condies de grandes

    variaes climticas e condies adversas. A seguir temos a etapa dos campos

    naturais e em seguida a etapa dos capins moles. Nesta fase, predominam as

    plantas de ciclo anual, e predomina a energia biolgica direcionada aos processosde reproduo sobre a produo de biomassa, mas essa relao vai se igualando

    na seqncia da sucesso. Esta tambm tende a ficar mais preservada no

    ecossistema, j que a cobertura do solo pela vegetao o protege tanto da

    insolao como da eroso causada pelas chuvas. Diversos ecossistemas

    campestres so encontrados atualmente no mundo, representantes das trs

    etapas da fase dos capins

    e) Fase de capoeiras: O acmulo de matria orgnica e o aprofundamento do solopermitem o surgimento de plantas perenes e de maior porte, formando

    ecossistemas com dois ou mais estratos. Alm de produzir maiores quantidades

    de matria orgnica, isto cria um microclima prprio na superfcie do solo e

    permite uma intensificao da vida do solo. Nesta fase, o gasto de energia

    biolgica para garantir a reproduo ainda muito elevado. Diversos

    ecossistemas naturais se encontram nesta fase, desde os cerrados, que so a

    transio a partir da fase anterior at os cerrades, que j so a transio para a

    etapa seguinte.

    Nas fase das plantas espinhosas e dos capins, os processos ainda continuam

    muito lentos, sendo que estas fases devem ter durado cerca de 2 bilhes de anos.

    f) Fase das florestas: A evoluo do ecossistema vai no sentido de produzir

    vegetao cada vez mais alta, com um nmero cada vez maior de estratos, maior

    diversidade de espcies, com entradas cada vez maiores de matria orgnica no

    sistema e solos cada vez mais profundos, e com horizontes cada vez mais

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    12/28

    10

    diferenciados. As interaes entre as espcies vo se tornando cada vez mais

    complexas, e com maior interdependncia. Nesta fase, as espcies gastam a

    maior parte da energia biolgica na produo de biomassa e muito menos nos

    processos reprodutivos. Est uma fase muito mais rpida e uma floresta podeser formada a partir da fase anterior num tempo que varia de 500 a 1.000 anos.

    Este esquema de formao dos ecossistemas no linear, e o tempo no

    absoluto, sendo que a idade dos ecossistemas depende das condies climticas e da

    disponibilidade de recursos locais, que vo propiciar um maior ou menor

    intemperismo e desenvolvimento dos seres vivos. Quando as condies so

    favorveis os ecossistemas tendem a evoluir para a fase da floresta, porm este

    desenvolvimento pode ser interrompido devido s limitaes ao desenvolvimento dosseres vivos. De qualquer maneira, o ecossistema natural de um local sempre est em

    seu grau mximo de produtividade biolgica dentro das condies naturais do local.

    Esta situao deve ser considerada ao se modificar o ecossistema para converte-lo

    em agroecossistema. Mediante a correo de limitaes das condies naturais de

    um ecossistema (correo da acidez, adubao, irrigao etc.) possvel criar

    agroecossistemas muito mais produtivos que o ecossistema natural existente (como

    ocorreu por exemplo no cerrado brasileiro). No entanto, estas modificaes criamcondies diferentes das originais, e os mecanismos de controle do ecossistema que

    no evoluram para esta condio se tornam ineficientes. Os controles das alteraes

    dos sistemas passam a ser necessariamente feitos de forma artificial (controle de

    pragas, de plantas daninhas, de eroso, etc.). Em ecossistemas originariamente com

    alta produtividade biolgica, a implantao de agroecossistemas baseados na

    fertilidade natural do "solo", tambm cria agroecossistemas extremamente

    simplificados, onde os controles naturais so perdidos. Isto os torna extremamente

    frgeis, sendo que manejos inadequados podero fazer com que ocorra degradao

    dos solos e em conseqncia do agroecossistema. O processo de degradao em

    geral leva a uma regresso na sucesso ecolgica do agroecossistema. E esta

    regresso em geral extremamente rpida, podendo ocorrer em 50 a 5 anos para

    que ambientes de floresta tropical retornem ao estgio de capins duros, ou mesmo

    de pr desertificao.

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    13/28

    11

    3. CONCEITO DE FERTILIDADE

    Fertilidade do solo definida pelo Vocabulrio de Cincia do solo (Curi et al.,

    1993), como o "Status de um solo com respeito sua capacidade de suprir os

    nutrientes essenciais ao desenvolvimento das plantas". Embora a definio seja

    bastante abrangente, de maneira geral utiliza-se este conceito apenas pelo seu

    ponto de vista qumico, isto da disponibilidade de nutrientes no solo. Nos ltimos

    anos, tem se dado uma nfase um pouco maior aos nutrientes do compartimento

    representado pela matria orgnica do solo.

    Embora os principais fenmenos relacionados aos processos que resultam no

    fornecimento de nutrientes para as plantas ocorram no solo, no presente caso ser

    utilizado um conceito mais amplo de fertilidade do agroecossistema. Sero includos

    alm dos nutrientes do solo, tambm os da biomassa microbiana, da fauna do solo e

    da fitomassa, constituda tanto pelas plantas vivas (culturas e plantas expontneas)

    como pelos restos das culturas anteriores. Alm da chamada Fertilidade Qumica,

    que indica o tipo da reao do solo, o contedo de nutrientes essenciais s plantas e

    a presena ou ausncia de elementos txicos s plantas, sero utilizados tambm os

    seguintes conceitos: a) Fertilidade Fsica, que diz respeito principalmente

    acessibilidade das plantas aos nutrientes existentes. So elementos importantes a

    profundidade efetiva do solo, existncia de impedimentos penetrao radicular,

    porosidade, disponibilidade de gua e de O2, estrutura e grau de agregao do solo,

    etc.. b) Fertilidade Biolgica, que d indicao sobre a efetividade dos fluxos dos

    nutrientes nos diversos compartimentos do sistema. Dependem dos organismos

    vivos, constitudos pelas plantas (cultivadas e expontneas), fauna do solo emicroorganismos. Sua ao depende da quantidade, diversidade, atividade e das

    funes (servios) ecolgicas que exercem.

    4. MANEJO ECOLGICO DO SOLO

    Um ecossistema natural sempre est no seu nvel mximo de produtividade

    (clmax), dentro dos potenciais do ambiente, sendo limitado pela disponibilidade de

    gua, de radiao e de nutrientes. A interveno humana sempre interfere no

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    14/28

    12

    equilbrio natural e de maneira geral leva sua degradao. Quanto maior o seu

    grau de artificializao, mais precrios se tornam os mecanismos de recuperao das

    condies naturais de equilbrio. No entanto, como para atender as necessidades

    humanas necessrio a interveno no ambiente imprescindvel que sejam levadasem conta dois princpios bsicos:

    A interveno em determinada gleba no deve causar impacto em seu

    entorno.

    A rea sob interveno deve ser produtiva e continuar produtiva (com produtividades

    iguais ou maiores) ao longo do tempo.

    De maneira geral as intervenes devem ser muito mais no sentido de

    conviver com as limitaes ambientais, utilizando os ciclos naturais para otimizar osprocessos; ao invs de procurar corrigir e eliminar as limitaes.

    4.1 - Sistemas de preparo do solo

    Com o objetivo declarado de melhorar as condies do solo para facilitar a

    germinao das sementes, de aumentar a porosidade do solo e de controlar plantas

    expontneas, consideradas daninhas, foram importados para as condies tropicais,

    sistemas de preparo de solo originrios de condies temperadas. Estes sistemas,

    que em sua condio de origem tinham a finalidade de romper o ciclo invernal e

    antecipar a poca de germinao, em nossas condies se tornaram a causa de

    desagregao da estrutura do solo, adensamento ou compactao de camadas

    subsuperficiais, encrostamento superficial, queima acelerada da matria orgnica, e,

    em conseqncia, provocando eroso acelerada.

    Sistemas de manejo ecolgico utilizam cobertura mxima do solo, com plantas

    vivas ou com cobertura morta, com o objetivo de proteger a superfcie do solo da

    intensa radiao solar, evitando a queima da matria orgnica do solo, reduzindo a

    amplitude trmica da superfcie, a perda de gua por evaporao, o impacto das

    gotas de chuva sobre a superfcie e a velocidade do escorrimento superficial do

    excesso de gua das chuvas.

    Preconiza-se a reduo ou mesmo a eliminao da movimentao do solo,

    com sistemas de cultivo mnimo ou plantio direto. Para as culturas para as quais

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    15/28

    13

    ainda no se consegue dispensar o preparo do solo, este devera ser feito com menor

    intensidade possvel, equipamento mais adequado, umidade do solo ideal e

    mantendo-se o solo descoberto o menor tempo possvel.

    Utilizam-se combinaes de exploraes com espcies de razes agressivas eprofundas, que tenham a capacidade de romper impedimentos subsuperficiais,

    aumentando a capacidade de infiltrao da gua no solo, recuperando a reciclando

    os nutrientes arrastados s camadas mais profundas do solo.

    Maneja-se a superfcie do solo, atravs de culturas de cobertura, adubos

    verdes e da prpria vegetao expontnea ("plantas daninhas"), mantm-se ao

    mximo a cobertura do solo, promovendo grande entrada de matria orgnica no

    sistema, visando-se a estruturao do solo, o aumento da macroporosidade e emconseqncia aumentando a infiltrao da gua no solo. Durante o incio do ciclo das

    culturas deve-se manter as entrelinhas cobertas atravs de culturas de cobertura

    intercalares ou da vegetao expontnea, manejadas atravs de cortes, roada ou

    capina seletiva para evitar que cheguem ao ponto de competir com a cultura

    principal.

    Para evitar o escorrimento superficial da gua e a eroso, o plantio deve ser

    feito em nvel, sendo que podero ser feitos terraos de base estreita, cobertos devegetao permanente ou mesmo culturas arbreas, que tero o efeito adicional de

    sombreamento, quebra-ventos e barreiras ao deslocamento de pragas e propgulos

    de doenas. Deve-se evitar a implantao de prticas mecnicas que exijam grandes

    movimentaes de solo.

    4.2 - Reduo das perdas de nutrientes

    Enquanto nas regies temperadas os solos so ricos em nutrientes e a

    atividade biolgica lenta e sofre interrupes ocasionadas pelo inverno rigoroso,

    em regies tropicais e equatoriais midas, os solos so pobres e a atividade biolgica

    intensa. Como nas regies tropicais midas os processos de perdas de nutrientes

    so acelerados devido alta taxa de mineralizao da matria orgnica, baixa

    capacidade de reteno de nutrientes dos solos e s chuvas torrenciais, o estoque de

    nutrientes est concentrado principalmente na biomassa viva. Este o caso da

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    16/28

    14

    floresta amaznica, onde a floresta luxuriante esconde solos pobres, cuja riqueza

    est toda concentrada na floresta, e cada folha que cai imediatamente decomposta

    e reutilizada pelas razes das plantas.

    Assim em nossas condies, a melhor estratgia para conservar os nutrientesno sistema mant-los fixados na matria orgnica, tanto nas plantas vivas como na

    matria orgnica do solo. Neste sentido a estratgia de manuteno da cobertura do

    solo, alm de proteger o solo das perdas de nutrientes pela eroso, tambm atua no

    sentido de manter estes nutrientes na biomassa do sistema. Assim, a imobilizao

    dos nutrientes, que considerado como um aspecto que interfere negativamente no

    manejo convencional de fertilizantes, sob o enfoque agroecolgico passa a ser um

    mecanismo chave na manuteno dos nutrientes no agroecosistema.A diversificao de espcies no sistema, obtida atravs da rotao ou

    consorciao de culturas, cultivos em faixas ou alias bem como do manejo

    adequado das plantas espontneas, possibilita uma melhor ciclagem e conservao

    dos nutrientes devido s diferentes capacidades de extrao de nutrientes de cada

    espcie.

    O aumento da capacidade de infiltrao da gua no solo, se por um lado

    pode aumentar as perdas de nutrientes por lixiviao, por outro pode sercompensada com a introduo de espcies com sistema radcular profundo, capazes

    de recuperar e trazer para a superfcie os nutrientes lixiviados.

    O corte ou manejo dos adubos verdes na poca correta para que seus

    nutrientes mineralizados sejam aproveitados pela cultura alvo no momento da sua

    necessidade, evita perdas de nutrientes. Assim necessrio conhecer a velocidade

    de decomposio de cada espcie, informao nem sempre disponvel. A relao C:N

    e o contedo de lignina das espcies pode servir de indicador da velocidade de

    decomposio dos resduos.

    A incorporao de restos culturais, adubos verdes ou culturas de cobertura

    aceleram os processos de mineralizao em relao ao corte e deposio superficial,

    e uma estratgia que pode ser utilizada para sincronizar a disponibilidade de

    nutrientes mineralizados com a necessidade de absoro das culturas.

    Com relao s perdas de nutrientes por parte de adubos aplicados, observa-

    se de maneira geral que os adubos mais solveis so os que apresentam maiores

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    17/28

    15

    perdas. Assim a adio de formas menos solveis tendem a minimizar as perdas. A

    associao de fertilizantes minerais a adubos orgnicos tambm tende a diminuir as

    perdas de nutrientes, porque a matria orgnica estimula a atividade biolgica, e

    uma quantidade maior de elementos imobilizada em biomassa viva. Por exemplo ofsforo imobilizado na matria orgnica, no sofre o processo de fixao irreversvel

    pelos minerais do solo, enquanto que o nitrognio nas estruturas biolgicas no se

    perde por lixiviao ou volatilizao.

    4.3 - Fornecimento de nutrientes s plantas e correo daacidez

    Mesmo nos sistemas mais equilibrados, onde as perdas indesejveis so

    eliminadas ao mximo, continua havendo uma sada importante de elementos do

    sistema, pela exportao atravs dos produtos vegetais ou animais que saem do

    sistema como resultado do processo produtivo. Esta exportao varia com o tipo do

    produto vegetal ou animal produzido, parte do vegetal removido e do nvel de

    produtividade obtido. Assim, sistemas produtivos que removem quase toda biomassa

    vegetal produzida, como as capineiras, em geral exportam mais nutrientes que

    frutferas.

    Nestes sistemas de alta exportao, e mesmo nos outros, se torna

    necessrio a reposio dos nutrientes exportados e tambm aqueles cuja perda no

    possvel evitar. Tambm so feitas adies dos nutrientes cujos nveis originais do

    solo so baixos, porm neste caso evita-se adies massivas do elemento, no sentido

    de corrigir a deficincia. Neste caso a adio feita gradualmente ao longo do

    tempo.A anlise do solo, com todas as suas limitaes, continua a ser um

    instrumento fundamental para adubao e correo do solo em sistemas orgnicos.

    Porm to importante quanto a anlise do solo o histrico da gleba, que d a

    resposta real obtida nas intervenes anteriores, devendo-se considerar tambm o

    "feeling" do agricultor, nos casos em que ele mesmo realiza as operaes agrcolas.

    Para correo inicial da acidez do solo, no ha nenhuma restrio ao uso de

    calcrio, sendo que em funo da deficincia ou no de magnsio, se recomenda o

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    18/28

    16

    uso do calcrio calctico, dolomtico ou magnesiano. A dosagem recomendada para

    correo da deficincia de clcio e magnsio ou ento para neutralizao do alumnio

    trocvel. De maneira geral, no se recomenda a correo para saturao de bases, e

    evitam-se aplicaes superiores a 2 t/

    ha. Quando a recomendao, mesmo paracorreo do alumnio trocvel for superior a 2 t/ha, recomenda-se aplicar a

    quantidade limite e fazer nova anlise de solo no ano seguinte. Como no manejo

    agroecolgico no so utilizados adubos solveis de reao cida, alm de que vrios

    dos insumos utilizados, como esterco, termofosfato e cinzas tambm atuam como

    corretivos da acidez, em geral, uma vez feita a correo inicial, no necessrio

    repeti-la a cada 5 anos, como nos sistemas convencionais, como indicam os

    trabalhos realizados no Sistema Integrado de Produo Agroecolgica (SIPA)(Almeida et. al., 1998). Quando disponvel a preos razoveis, o gesso agrcola pode

    ser misturado ao calcrio, na proporo de 1:3 (gesso:calcrio). Com isto adiciona-se

    enxofre ao sistema alm de estimular o transporte de Ca e Mg para as camadas mais

    profundas, estimulando a penetrao das razes.

    A adio de nitrognio ao sistema pode ser feita totalmente atravs de

    fixao biolgica de nitrognio (FBN) e adubao orgnica. Para tal necessrio

    estabelecer uma estratgia de rotao e associao das culturas com adubos verdese culturas de cobertura. Tal estratgia nem sempre simples e muitas vezes esbarra

    na falta de conhecimento dos agricultores e tcnicos sobre os adubos verdes, bem

    como sobre a falta de informaes sobre o comportamento e adaptabilidade das

    diferentes espcies de leguminosas nas diferentes regies. Como o desempenho das

    leguminosas muito afetado pelas condies locais, uma estratgia interessante a

    utilizao de espcies nativas locais, que muitas vezes so consideradas "ervas

    daninhas" pelos agricultores. O manejo destas espcies espontneas pode ser uma

    componente importante para a adio de nitrognio ao sistema. No entanto, a

    estratgia mais utilizada para adio de nitrognio ao sistema a incluso de adubos

    verdes em rotao com as culturas principais. Muitas vezes, devido pouca

    disponibilidade de terra, ou condies climticas adversas, no possvel a

    utilizao desta estratgia. Neste caso, podem ser desenvolvidos sistemas de

    policultivos que incluam leguminosas no sistema, tais como cultivos em alias,

    cultivos intercalados, sobressemeadura, cultivos adensados de leguminosas em

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    19/28

    17

    curtos perodos em que o solo fica descoberto, cultivos em faixas, etc. No se deve

    subestimar a importncia de incluir culturas produtivas de leguminosas, mesmo que

    estas no sejam auto-suficientes em N, pois mesmo que o balano da cultura seja

    negativo, o dficit menor que o de uma no fixadora. As informaes sobre noleguminosas fixadoras de nitrognio ainda so poucas atualmente, mas a mdio e

    longo prazo podem fazer parte de uma estratgia de introduo de N no sistema.

    Apesar da pouca disponibilidade de informaes sobre adubao verde e rotao de

    culturas com leguminosas, mesmo sistemas de produo de gros com alta

    produtividade, com uma rotao adequada podem ser praticamente auto-suficientes

    em nitrognio (Feiden, 1999).

    Uma unidade de produo agroecolgica deveria sempre conter acomponente produo animal, pois permite otimizar os ciclos de nutrientes atravs

    do aproveitamento dos resduos da produo agrcola na alimentao animal e os

    resduos animais, principalmente fezes e urina como fontes de fertilizantes. A falta de

    fontes prprias de estercos pode se tornar limitante na transio de sistemas

    convencionais para orgnicos, pois com a importao de esterco, alm do aumento

    dos custos de produo, nem sempre se consegue um material de boa qualidade,

    livre de contaminantes. Os estercos podem ser utilizados curtidos, ou ento visandoaumentar o volume do material e reduzir as perdas de nitrognio, o mesmo pode ser

    processado na forma de composto orgnico ou como vermicomposto. Alguns

    compostos sofrem uma srie de adies de minerais ou outros componentes

    orgnicos para aumentar sua eficincia. Entre eles o Bokashi, composto complexo,

    recomendado pela Agricultura Natural. Tambm podem ser utilizados uma srie de

    biofertilzantes lqidos, em geral enriquecidos com micronutrientes, tais como o

    "supermagro", e o "agrobio" entre outros.

    Para reposio ou elevao dos nveis de fsforo no solo, em sistemas

    agroecolgicos no so utilizados fertilizantes solveis de reao cida, pois os

    mesmos alm de aumentarem a acidez do solo, ainda so muito facilmente fixados

    ao solo de maneira permanente. Nos sistemas agroecolgicos a adio do fsforo

    pode ser feita atravs de fosfatos de rocha sedimentares, que tem uma relativa

    solubilidade, e podem atender as necessidades das plantas. Estes fosfatos de rocha

    tm o inconveniente de serem importados, o que torna sua utilizao mais onerosa.

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    20/28

    18

    Os fosfatos de rocha nacionais, tm o inconveniente de serem de muito baixa

    solubilidade, e embora possam ser utilizados em culturas perenes e pastagens, no

    so indicados para culturas anuais e de ciclo muito curto, pois necessitariam de

    dosagens muito elevadas o que alm de aumentar os custos, traria o risco da adiode quantidades significativas de metais pesados (Amaral Sobrinho, 1992).

    Recomenda-se portanto a utilizao de termofosfatos, pois alm de terem

    solubilidade mdia, o que atende as demandas das culturas, ainda so fertilizantes

    de reao alcalina, o que auxilia a correo da acidez do solo. Como a aplicao do

    fsforo se d em um ambiente com alta atividade biolgica, a ao de

    microorganismos solubilizadores e de fungos micorrzicos potencializa o seu

    aproveitamento pelas plantas e a imobilizao biolgica competir com a fixaoqumica, aumentando a eficincia das aplicaes, esperando-se que ao longo do

    tempo as necessidades de aplicao de fsforo diminuam. Outra fonte de P muito

    interessante quando disponvel a farinha de osso, pois como o elemento est em

    forma orgnica, sua absoro facilitada e a fixao minimizada. Os estercos e

    compostos tambm veiculam pequenas quantidades de fsforo.

    O fornecimento de potssio em sistemas orgnicos ainda no est

    completamente resolvido, pela falta de uma fonte segura e largamente disponvel,tanto que a utilizao do sulfato de potssio em pequenas quantidades ainda

    tolerado em regies onde no se dispe de outra fonte de potssio. No entanto a

    utilizao do cloreto de potssio no recomendada, pois como o nitrognio, quando

    fornecido de fontes solveis, absorvido em excesso, causando desequilbrios na

    fisiologia interna da planta aumentando sua suscetibilidade a pragas e doenas.

    Como adubao mineral de potssio podero ser utilizados silicatos de potssio, que

    infelizmente ainda no so facilmente encontrados e sobre os quais ainda no se

    tem muita informao cientfica. Uma fonte relativamente abundante e geralmente

    desprezada so as cinzas de diversos tipos de fornos, que em geral no tem

    utilizao. So uma excelente fonte de potssio, veiculam um bom nmero de

    micronutrientes, alm de terem um efeito moderado como corretivo de acidez.

    Contudo deve-se ter muito cuidado com a origem das cinzas, pois dependendo do

    material queimado, as mesmas podem conter elementos txicos ou metais pesados.

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    21/28

    19

    Clcio e Magnsio so geralmente adicionados como calcrio, embora

    tambm sejam veiculados pelas cinzas e farinha de ossos. O enxofre fornecido em

    boas quantidades pelos estercos e biofertilizantes, e casos de deficincias no sistema

    podem ser corrigidos pela adio de gesso agrcola.Como fontes de micronutrientes podem ser utilizados os FTEs, termofosfatos

    com micronutrientes ou os biofertilizantes enriquecidos.

    Mais importante at mesmo que a fonte de origem dos adubos, a lgica

    que d embasamento a adubao na agroecologia. Neste sistema a preocupao

    bsica no o fornecimento de nutrientes para a produo mxima de uma dada

    cultura, mas sim a manuteno do equilbrio do sistema, Desta forma otimiza-se todo

    o conjunto de organismos vivos, provocando sinergia entre eles, otimizando os ciclosde nutrientes e as cadeias trficas, para ter um sistema sadio e equilibrado, visando

    produtividades timas e sustentabilidade ao logo do tempo.

    4.4 - Estimulo atividade biolgica

    Os conhecimentos sobre os solos evoluram junto com a evoluo da

    qumica, sendo que os processos qumicos do solo foram os primeiros a seremdesvendados e que proporcionaram as principais respostas s intervenes

    humanas. Assim, criou-se o mito que os processos qumicos do solo seriam os

    processos chaves para a fertilidade e produtividade dos solos. Os recentes estudos

    sobre a biologia do solo, ainda em seu incio e com grandes lacunas a preencher,

    tm indicado que estes processos qumicos do solo so profundamente mediados

    pela ao biolgica.

    Pontos chaves nos ciclos biogeoqumicos dos nutrientes so mediados oudependentes da ao biolgica. Assim uma interveno agroecolgica, dever

    necessariamente proporcionar estmulos s atividades dos organismos do solo, a

    compreendido o complexo de plantas, (culturas produtivas, culturas de cobertura e

    adubos verdes e o complexo de plantas expontneas) a fauna edfica e o conjunto

    de microorganismos.

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    22/28

    20

    A importncia da atividade biolgica do solo est relacionada com os

    processos de mineralizao e imobilizao dos nutrientes, entrada e sada dos

    mesmos do sistema, ao sobre organismos indesejveis e estmulo aos desejveis.

    Inmeros processos biolgicos so desejveis e podem substituir ou reduziro aporte de nutrientes externos. Entre os mais conhecidos est a fixao biolgica do

    nitrognio, principalmente por bactrias associadas s leguminosas. No entanto so

    importantes tambm as bactrias fixadoras de vida livre, as associadas rizosfera.

    As bactrias fixadoras associadas risosfera, alm da fixao do nitrognio, ainda

    produzem substncias promotoras de crescimento, que atuam estimulando o

    desenvolvimento das plantas associadas. Recentemente foram descobertas inmeras

    bactrias fixadoras endofticas, que atuam principalmente no interior de plantas depropagao vegetativa.

    Outro grupo de microorganismos de extrema importncia so os fungos

    micorrzicos que se associam s razes de diversas plantas aumentando o volume de

    solo explorado pelas mesmas em at 10 vezes, permitindo a estas plantas

    sobreviverem em condies muito mais inspitas que sem esta associao. So

    fundamentais para absoro do P, pois apesar de absorverem o elemento do mesmo

    "pool" que os plos radiculares, pela baixa mobilidade do elemento no solo,proporcionam condies de absoro muito superiores s normais. Com relao ao

    fsforo, so importantes tambm os microorganismos solubilizadores de fsforo, que

    conseguem solubilizar fsforo, que de outra maneira no estaria disponvel s

    plantas.

    Actinomicetos produtores de antibiticos, microrganismos do ciclo do

    enxofre, do ferro, complexadores de elementos txicos entre outros, esto

    recebendo ateno recentemente e o avano do conhecimento sobre estes

    organismos poder melhorar nosso conhecimento sobre as questes chaves do solo.

    Uma outra linha de pesquisa at a pouco relegada a segundo plano, o

    estudo da fauna do solo, mostrando que os pequenos animais do solo tm papel

    chave na reciclagem da matria orgnica do solo, tanto como fragmentadores do

    material mais grosseiro, como estimuladores da ao microbiana, atravs das suas

    fezes, como da disseminao dos microorganismos pelo solo, na incorporao da

    matria orgnica ao solo e na mistura de camadas minerais.

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    23/28

    21

    Num sistema de manejo agroecolgico no se necessita conhecer

    profundamente cada grupo de organismos. Alguns princpios simples seguidos pelas

    prticas agroecolgicas tem se mostrado positivos no estimulo diversidade de

    organismos e das funes ecolgicas realizadas por eles. Assim a eliminao daqueimada e a cobertura permanente do solo cria condies favorveis microfauna

    e aos microorganismos. A adio de massas de matria orgnica, tanto pelos

    resduos culturais no queimados, como pelas culturas de cobertura, adubos verdes

    e adubao orgnica fornecem substrato ao desenvolvimento tanto da fauna como

    da flora edfica. A rotao de culturas, policultivos e manejo de plantas espontneas

    aumenta a diversidade vegetal, e devido entrada de diferentes tipos de exsudatos

    e restos culturais, estimula a diversidade biolgica nestas condies.

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    24/28

    22

    4.5 - Manejo de plantas espontneas

    No sistema de manejo de solo convencional, h uma preocupao em

    eliminar toda e qualquer planta diferente da cultura que surja no sistema, e que so

    chamadas de plantas daninhas, mato , pragas ou inos. No manejo agroecolgico, as

    plantas diferentes da cultura so denominadas de plantas espontneas, pois surgem

    independente da vontade do agricultor, porm isto no significa necessariamente

    que sejam prejudiciais cultura. No que no haja preocupao com os possveis

    efeitos negativos destas plantas sobre as culturas, pois muitas, quando no

    manejadas adequadamente, podem causar graves perdas s culturas, tanto por

    competio por gua, luz e nutrientes, como por efeitos alelopticos negativos, isto , ao inibidora de algumas plantas sobre outras, causadas por exudatos de raiz ou

    substncias volteis.

    No entanto o enfoque dado muda, pois ao invs de uma eliminao completa

    das plantas espontneas, no manejo agroecolgico se procura conviver com elas.

    Para o planejarmento do manejo das plantas espontneas deve-se responder trs

    questes fundamentais:

    Qual a funo ecolgica de cada espcie? fundamental conhecer opapel ecolgico de cada espcie espontnea, e neste campo as informaes

    disponveis so muito poucas. Muitas vezes necessrio recorrer ao

    conhecimento prtico dos agricultores mais antigos, que possuem algumas

    informaes empricas sobre muitas espcies. Alm dos papis mais gerais de

    cobertura e proteo da superfcie do solo e estoque de nutrientes nos

    agroecosistemas, as diferentes plantas espontneas podem prestar servios

    ecolgicos tais como reciclagem e solubilizao de determinados nutrientes,estmulo a microorganismos benficos e inibio aos patognicos, atrao ou

    repulso de organismos potencialmente daninhos, hospedagem de insetos

    polinizadores, etc.

    Quais plantas realmente so problemticas? H plantas que realmente so

    problemticas nos ciclos de diferentes culturas. Com relao a estas, fundamental

    conhecer o nvel de dano econmico e o estdio a partir do qual passam a causar

    dano, para que se possa planejar as estratgias de manejo.

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    25/28

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    26/28

    24

    prticas agronmicas como calagem, descompactao, adubao entre outras

    tambm podem ser usadas para favorecer ou estimular determinadas espcies

    dentro do complexo de plantas espontneas.

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    27/28

    25

    5. CONSIDERAES FINAIS

    Embora neste texto as diversas atividades tenham sido separadas por

    questes didticas, na realidade, no manejo agroecolgico, ocorrem de forma

    integrada, onde uma prtica como por exemplo a adubao, tem reflexos sobre os

    diferentes componentes, tais como, mudana no complexo de plantas espontneas,

    atividade dos microorganismos e da fauna do solo, resistncia ou suscetibilidade a

    pragas e doenas, quantidade e qualidade da biomassa produzida, etc.

    Tambm no existem receitas generalizadas e aplicveis indistintamente em

    todos os locais. Na prtica, como os agroecossistemas so resultado da matriz

    ecolgica modificada de acordo com a histria de vida de cada agricultor, cada

    agroecossistemas ter potenciais e problemas prprios, exigindo desenhos e

    solues prprias para seu manejo, e que dever ser atingido com base nos

    princpios agroecolgicos gerais, recursos existentes e na criatividade conjunta do

    agricultor e do tcnico assessor.

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICASALMEIDA, D. L. de; SUDO, A.; EIRA, P. A. da; RIBEIRO, R. de L. D.; CARVALHO, S.

    R. de; FRANCO, A. A.; TEIXEIRA, M. G.; DE-POLLI, H.; RUMJANEK, N. G.; FEIDEN,

    A.; AQUINO, A. M. de; STEPHAN, M. P.; SILVA, E. M. R. da; ABBOUD, A. C. de S.;

    GUERRA, J. G. M.; LEAL, M. A. de; LIGNON, G. B.; PEREIRA, J. A. R.; BORJA, G. E.

    M.; RICCI, M. dos S. F.; SOUZA, E. R. Sistema Integrado de Produo

    Agroecolgica, Seropdica: Embrapa Agrob io log ia, 1998. 14p. (Embrapa -

    CNPAB. Documentos 70).

    AMARAL SOBRINHO, N. M. B.; COSTA, L. M.; OLIVEIRA, C. de; VELLOSO, A. C. X.;

    Metais pesados em alguns fertilizantes e corretivos. Revista Brasileira de Cincia

    do Solo, Campinas, v. 16, p. 271-276, 1992.

  • 7/25/2019 Conceitos_e_Principios_para_Manejo_Ecologico_do_Solo.pdf

    28/28

    26

    ARL, V.; RINKLIN, H. Livro Verde 2 - Agroecologia. Caador:CEPAGRI-Terra

    Nova, 1997. 70 p.

    CURI, N.; LARACH, J. O. I.; KMPF, N.; MONIZ, A. C.; FONTES, L. E. F.

    Vocabulrio de Cincia do Solo. Campinas: SBCS, 1993. 92p.

    FEIDEN, A. A dinmica do nitrognio em um solo dos Campos Gerais do

    Paran sob dois sistemas de cultivo. 1999. 154f. Tese (Doutorado em

    Agronomia) - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

    JORDAN, C. F. Ciclagem de Nutrientes e Sivicultura de Plantaes na Bacia

    Amazonica, In: ROSAND, P. C. Reciclagem de Nutrientes e Agricultura de

    Baixos Insumos nos Tpicos.Ilhus: CEPLAC /:SBCS, 1985. p. 187-202.

    MALAVOLTA, E. Manual de Qumica Agricola, Nutrio de Plantas eFertilidade do Solo.So Paulo: Ceres, 1976. 528p.

    VIEIRA, L. S. Manual da Cincia do Solo.SoPaulo: Ceres, 1975. 468 p.