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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
CONCEPÇÃO DE SUBJETIVIDADE EM BUTLER NO JOGO DE
TABULEIRO VIOLETAS: CINEMA&AÇÃO NO ENFRENTAMENTO DA
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER - AGENCIAMENTOS DE GÊNERO E
CIDADANIA
Maria Raquel Gomes Maia Pires1
Resumo: O jogo de tabuleiro Violetas: cinema&ação no enfrentamento da violência contra a
mulher é uma tecnologia lúdico-educativa que ambienta de forma inventiva as reflexões sobre as
questões de gênero. Num possível diálogo entre a filosofia de Butler e a perspectiva do lúdico,
questiono: de que forma a concepção de subjetividade, em Butler, articulada à perspectiva agonista
do lúdico, produz discursos subversivos de gênero e de cidadania, no jogo Violetas? Os
argumentos são: i-a concepção performativa de subjetividade - entendida como uma construção
plural de sentidos, de ações e de afetos delineada provisoriamente por ambíguas formas de
expressão de sexo, de gênero e de desejo do ser humano - coaduna-se com o caráter agonista do
lúdico, ao produzir subversões de identidades sobre gênero, poder e cidadania; ii- no jogo Violetas,
a perspectiva agonista de subjetividade produz discursos sobre as identidades de gênero que
agenciam novos sentidos de poder e de cidadania para as mulheres. Objetivos: discutir as
características agonistas do lúdico na concepção de subjetividade de Butler; analisar as
possibilidades de agenciamentos discursivos sobre gênero, poder e cidadania no jogo. Faz-se uma
discussão conceitual da subjetividade presente no Violetas e nos depoimentos das/os jogadoras/es
(profissionais das políticas para as mulheres). Nas partidas, os agenciamentos são induzidos por
estratégias que possibilitam discursos disruptivos sobre gênero, poder e cidadania.
Palavras-chave: Subjetividade, Gênero, Poder, Cidadania, Violência contra a mulher, Tecnologias
educativas.
Introdução
A violência é uma relação social imersa em disputas de poderes com múltiplas faces na
sociedade e, no caso das agressões contra a mulher, é uma das formas de expressão da desigualdade
entre os gêneros. A perspectiva de gênero, na epistemologia feminista, diz respeito às relações
sociais opressivas baseados unicamente nas diferenças visíveis entre os sexos, à revelia das práticas
discursivas inscritas nos valores simbólicos, normativos, políticos e nas subjetividades identitárias
que as constituem. O gênero é uma relação socialmente construída e uma forma de significar as
relações de poderes entre homens e mulheres, na qual o portador da genitália masculina assume
uma pretensa primazia, forjada na cultura e numa heteronormatividade compulsória (SCOTT, 1995;
BUTTLER, 2015).
Numa suposta trajetória pensada para as meninas e mulheres em situação de violência no
âmbito das políticas públicas, poderíamos hipoteticamente prever que, caso elas escapem dos pais,
1 Doutora em Política Social (UnB), pós-doutorados em arte, lúdico e tecnologias educativas (UnB) e em sociologia do
gênero (ISCT/IUL/PT). Professora adjunta da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UnB),
Brasília-DF, Brasil.
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dos irmãos ou dos companheiros violentos em seus lares e nas ruas, elas estariam mais seguras e
protegidas nos serviços de políticas para as mulheres. Porém, as chamadas violências invisíveis,
como a simbólica (coerções que se baseiam nos acordos não conscientes entre as estruturas
objetivas e mentais das pessoas) e a institucional (aquela praticada por ação e/ou omissão nas
instituições prestadoras de serviços públicos), desvirtuam este caminho. Acerca disso, diversas
investigações denunciam as práticas de omissão ou de tolerância institucional das/os agentes
públicos, oriundas de julgamentos morais que reforçam os estereótipos de gênero2 sobre as
mulheres, o que resulta em revitimização no âmbito dos serviços de atendimento às vítimas da
violência (BOURDIEU, 2014; BRASIL, 2011; CFEMEA, 2014; DINIZ et al, 2014;
BRAGAGNOLO et al, 2015).
Neste cenário complexo, em que a violência simbólica e institucional se manifestam nas
políticas públicas que deveriam promover os direitos das meninas e mulheres, cabe um retorno à
epistemologia feminista, em sua crítica desconstrutora3 à naturalização da violência de gênero.
Segundo Swain (2016), precisamos ficar atentas aos muitos modos de produção do patriarcado, que
passeia novamente em roupas renovadas do neoliberalismo, muitas vezes com apoio dos próprios
movimento feminista. Como exemplo, ela ressalta a defesa cega de algumas feministas às
‘trabalhadoras do sexo’ que, segundo a autora, esquecem de denunciar o agenciamento patriarcal
que mantém e reproduz as mulheres como mercadorias à disposição dos homens.
Dentre as temáticas discutidas na epistemologia feminista, em sua crítica à exploração das
mulheres em distintos contextos, destacam-se dois temas imbricados: a- o redesenho do político no
questionamento da dicotomia entre o público e o privado; b- a redefinição da noção de sujeito para
o enfrentamento das desigualdades de gênero. Denuncia-se que a legitimidade da opressão dos
homens sobre as mulheres fora realizada sobretudo por discussões filosóficas, doutrinárias e
científicas que privilegiam o predomínio do sujeito da razão universal, masculino, pretensamente
neutro e determinante nas decisões da esfera pública (MIGUEL E BIROLI, 2013).
Em contraponto, a epistemologia feminista influenciada pelo pós-estruturalismo defende
uma perspectiva não fixada de sujeito que se forja a partir de identidades múltiplas. Para Butler
2 Conforme Cook e Cusack (2010), os estereótipos são conceituados como visões fixas ou preconceituosas de atributos
que as pessoas possam ter, ou que a sociedade espera que possuam, independentemente de suas capacidades. Embora
atinjam os homens e as mulheres, a questão de gênero imprime uma discriminação negativa e mais dolosa às mulheres,
portanto merece olhares apurado. 3 O conceito de desconstrução, neste artigo, inscreve-se na filosofia de Derrida. O termo consiste numa operação
linguística denunciadora, num determinado texto, daquilo que é valorizado e em nome de quê para, ao mesmo tempo,
destacar o que foi estruturalmente dissimulado nesse texto. Baseamo-nos em especial nas reflexões de Derrida acerca da
sua resposta à questão se a desconstrução assegura ou permite a justiça. Em sua argumentação, a ‘desconstrução é a
própria justiça’, na medida em que ela permite a experiencia do possível, justo ali onde é impossível (Derrida, 2010).
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(2015), a noção de sujeito é uma construção plural de sentidos, de ações e de afetos, delineada
provisoriamente por ambíguas formas de expressão performativas de sexo, de gênero e de desejo do
ser humano. Ela defende uma subjetividade para o feminismo multifacetada, plural e diversa,
caracterizada por uma incompletude essencial - imersa em relações de poderes e de linguagens que
produzem múltiplos significados contestados. Esta subjetividade seria uma subversão das
identidades binárias de sexo (homem/mulher), de gênero (masculino/feminino) e de desejo
(hegemonia do discurso heterossexual), como ambiência para a produção de sentidos e de
enfrentamentos das desigualdades.
No bojo dessas reflexões, aparece a necessidade de desvelamento de padrões discursivos que
se apresentam como ‘naturais’, pré-requisito da educação crítica que privilegia a cidadania. Diante
da complexidade da violência de gênero que discrimina as mulheres na sociedade, muitas vezes
reproduzida pelas/os próprias/os agentes públicos, urge a necessidade de fortalecer estratégias
pedagógicas que ambientem reflexões desconstrutoras dos estereótipos de gênero no enfrentamento
das violências. O caráter irreverente da educação crítica pode ser motivado, muitas vezes, pela
experiência lúdica, expressa no caráter irreverente, disruptivo, imaginativo e criativo das relações
sociais, inerente às culturas. As manifestações lúdicas ocorrem nas diversas expressões de
convivência humana e não se restringem aos jogos propriamente ditos - mas também nas artes, na
política, nos relacionamentos, nas organizações, ou mesmo na religião, há sempre um tenso e
ambíguo conflito, nem sempre explícito (HUIZINGA, 2008; CALLOIS, 1990).
Neste sentido, como ambiência para as discussões reflexivas de graduandas/os e
profissionais interessados nas questões de gênero, produzimos, com financiamento do Cnpq, o jogo
VIOLETAS: cinema & ação no enfrentamento da violência contra a mulher4, uma tecnologia
lúdico-educativa centrada nas discussões e nas ações de enfrentamento da violência no âmbito das
políticas públicas, no tabuleiro. O desenho do jogo foi orientado pelas seguintes categorias oriundos
da epistemologia feminista: a- subjetividades plurais e em disputa por espaços de cidadania; b-
redes de poder e políticas para conter a opressão sobre o feminino; c- as violências visíveis e
invisíveis como alvo; d- o campo do lúdico e o lúdico no campo (Pires et al, 2017).
No Violetas, cujo campo simbólico, social e lúdico se estabelece em torno de um tabuleiro
em forma de rosa dos ventos, composto por cidades brasileiras com nome de mulheres, a violência
se espalha pelo tabuleiro sempre que as/os jogadoras/es desconhecem as distintas faces da violência.
Por seu turno, a ação em rede, o reconhecimento das situações de violência nas cartas e as múltiplas
4 Doravante, simplesmente Violetas.
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realidades produzidas pelas narrativas fílmicas produzem as saídas estratégicas e imaginativas para
desvelar, combater e vencer a violência, mesmo que de maneira provisória. O jogo aborda as redes
de políticas e de serviços para o enfrentamento da violência contra a mulher, entrecortado por
filmes que destacam as questões de gênero e de cidadania, na esfera pública ou privada das relações
sociais.
Na busca de um possível diálogo entre a concepção de subjetividade de Butler com a
perspectiva do lúdico, a questão central deste artigo é: de que forma a concepção de subjetividade,
em Butler, articulada à perspectiva agonista do lúdico, produz discursos subversivos de gênero e de
cidadania, no jogo Violetas? Para isso, parto dos seguintes argumentos: i-a concepção performativa
de subjetividade - entendida como uma construção plural de sentidos, de ações e de afetos delineada
provisoriamente por ambíguas formas de expressão de sexo, de gênero e de desejo do ser humano -
coaduna-se com o caráter agonista do lúdico, ao produzir subversões de identidades sobre gênero,
poder e cidadania; ii- no jogo Violetas, a perspectiva agonista de subjetividade produz discursos
sobre as identidades de gênero que agenciam novos sentidos de poder e de cidadania para as
mulheres. Os objetivos do trabalho são: discutir as características agonistas do lúdico na concepção
de subjetividade em Butler; analisar as possibilidades de agenciamentos discursivos sobre gênero,
poder e cidadania, no jogo.
Trata-se de um artigo de reflexão teórica, seguida da análise de alguns dos relatos das/dos 12
jogadoras/es (profissionais das áreas de educação, de políticas públicas para as mulheres, dos
movimentos sociais e da justiça) que participaram da oficina de especialistas para validação do
conteúdo do jogo, na primeira etapa da investigação. Os depoimentos são tomados como
exemplaridades vivas dos processos de subjetivações das/os jogadoras/res durante as partidas, como
forma de visualizar as resistências crítica e a manutenção de normatividades discursivas
hegemônicas, agenciada pela dinâmica do jogo. Portanto, o material empírico não se constitui em
evidencia científica, o que contrariaria a própria corrente teórica pós-estruturalista adotada, mas
uma mera ilustração da discussão teórica realizada, cerne do estudo.
Subjetividades performática em Butler e o agonismo lúdico
Para melhor articulação dos conceitos de performatividade e do lúdico, como faces de uma
mesma dimensão agonista da política, sigamos inicialmente a discussão da obra ‘problemas de
gênero’, de Butler (2015). Uma vez discutida a subjetividade no âmbito de sua performatividade,
articularei este conceito ao princípio do agon (termo grego que significa luta, combate, disputa),
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inerente ao universo do jogo como um elemento constitutivo da cultura, no intuito de potencializá-
los como uma teorização pertinente às desconstruções subversivas de gênero, de poder e de
cidadania (MOUFFE, 2013;HUIZINGA, 1998).
A performatividade do gênero, em Butler, é vista como uma fabricação discursiva de
interditos e de normas que conformam e, ao mesmo tempo, são subvertidas pela produção de
subjetividades discursivas. Com isso, a restrita concepção binária de gênero, assente nos
essencialismos e nos interditos de uma heteronormatividade compulsória, é denunciada em sua
falibilidade, a despeito de sua hegemonia nas práticas regulatórias das relações sociais. O gênero
performativamente construído e subvertido está exposto à processos de repetição constitutiva da
própria subjetividade humana. Este conceito revela a forma com que nós lidamos, subvertemos e
reinventamos singularmente as normas, no âmbito da produção discursiva da nossa subjetividade
(BUTLER, 2015).
No capítulo ‘atos corporais subversivos’, do citado livro, a autora analisa a inscrição dos
processos intrapsíquicos na ‘política da superfície do corpo’ como um jogo de ausências e de
presenças que formam o corpo e seu gênero por meio de ‘uma série de exclusões e negações,
ausências significantes’ (Butler, 2003:234). Os atos, gestos e desejos que forjam as identidades de
gênero são imersas ambiguidades de luz e de sombra que sugerem, mas nunca revelam, o que de
fato organiza e conforma as normas que são introjetadas psiquicamente pelos seres humanos. Essa
dissimulação normativa fabricada que se expõe e se esconde perfaz os ‘performativos’, defende a
autora.
O entendimento do ‘corpo gênero’ como uma produção performática de ‘desejos, atos e
gestos’ denuncia a ausência de qualquer status ontológico, uma vez que a realidade é sempre uma
fabricação imersas nas intenções mundanas e temporais humanas, sejam conscientes,
fenomenológicas ou não5. A ilusão de que há um ‘núcleo interno e organizador do gênero’, como
qualquer normatização essencialista que dita o que é ser homem ou ser mulher, mantém uma
regulação heteronomartiva reprodutora. Esta produção performática se ampara numa visão sujeito
‘eu’ que unifica estas regulações políticas, fazendo-as desaparecer sob as identidades fixas de
5 A respeito do significado de ‘intencional’ e de sua relação com a repetição inteligível de atos, numa entrevista em que
Judith Butler conversa sobre psicanálise, ela esclarece: “(...)há dois sentidos de intencional, um deles que significa
deliberado, voluntário, uma escolha, mas o outro vem da fenomenologia, e aí ele, de fato, significa que, se eu digo
algo, a estrutura do meu discurso é intencional, significa que ele se refere a alguma coisa no mundo. (...) Se pensarmos
na performatividade nesse sentido fenomenológico, eu pratico um gênero, mas não pratico num mundo solipsista, estou
sempre, em certo sentido, me referindo a, comentando, habilitando, retrabalhando um conjunto de normas de gênero
que estão em mim e também fora de mim, então isto é intencional no sentido de que está se referindo a um mundo
exterior. Mas não quero dizer que o gênero seja totalmente consciente ou que seja totalmente voluntário, pois acho que
não é” (Kudsen, 2010:169).
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gênero. Trata-se, aqui, de um deslocamento da origem política e discursiva da identidade para um
núcleo psicológico que impede o seu desmascamento (idem).
Ora, o gênero visto sob o enfoque de uma fabricação performativa, portanto imerso em
formas reveladas e veladas de se expressar, remete a ideia de que o ‘gênero verdadeiro é uma
fantasia instituída e inscrita sobre a superfície de corpos, então parece que os gêneros não podem
ser nem verdadeiros nem falsos, mas somente produzidos como efeito de verdade de um discurso
sobre a identidade primária e estável’ (idem, p.236). O gênero, portanto, é uma performance
discursiva produtora e constituída por subjetividades que podem imitar ou mesmo parodiar o que é
real ou aparente; o fixo ou o moldável; o externo ou o interno; o binário ou o plural; o identitário ou
o contingente. A figura da travesti, para a filósofa, representa a ‘paródia’ crítica da rigidez binária
do gênero. Na imitação, a travesti e a ‘drag’ zombam dos modelos fixados de gênero, subvertendo
suas próprias identidades. A performance dos transexuais explicita a falácia da coerência do sexo e
do gênero, explicitando o mimetismo e a contingência dos mesmos. Esses atos dramatizados são
igualmente subversivos da coerência heterossexual e da naturalização estereotipada do binarismo do
sexo e do gênero.
O recurso da paródia, isto é, a ‘uma produção que se coloca como imitação’ (ibidem, p.238),
imprime uma fluidez e uma abertura a novas reconfigurações identitárias. Além disso, a expressão
do ‘riso’, inscrito na paródia, é uma prática discursiva que ironiza o normal, ao mesmo tempo em
que desmascara a sua pretensa uniformidade. O rizível inverte o que é real e o que é imaginário,
produzindo disrupturas nas hegemonias culturais. Porém, nem toda paródia é efetivamente
subversiva ou ‘perturbadora’, uma vez que muitas delas são meras repetições da indústria cultural.
Butler reflete sobre a performance do gênero como um ‘ato’ ou uma ‘construção dramática e
contingente de sentido’. Essas fabricações são também estratégias de sobrevivência em sistemas
culturais compulsórios, em que a performance do gênero pode ter consequências punitivas das
transgressões. Isso porque as proibições dos atos performáticos são forjadas em ‘ficções culturais’
tidas e reproduzidas pela cultura como naturais, reguladas pelas sanções sociais à desobediência
disciplinar dos corpos. Noutras palavras, as normatividades compulsórias na manutenção do gênero
binário são difíceis de identificar, pois os sentidos sobre o gênero se sedimentam nos indivíduos por
meio das ‘performances repetidas’. “Essa repetição é a um só tempo reencenação e nova
experiencia de um conjunto de significados já estabelecidos socialmente; e também uma forma
mundana e ritualizada de sua legitimação (ibidem, p.242)”.
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Nessa discussão sobre a performatividade como uma sequência de atos que ratificam a
heteronormatividade se incluem a noção de subjetividade e da ‘ação’. A ideia de que exista um ‘eu’
ou ‘self’ coerente por detrás da ação, ou de que é preciso consolidar uma identidade social para que
as ações políticas possam advir, é expressamente contestada por Butler. Seu argumento é que não
existe um ‘agente’ atrás do ato, mas que este ‘agente’ é diversamente construído ‘no e através do
ato’. O sujeito não é passivamente determinado pelas regras nas quais é gerado, pelo fato de que o
processo de significação não é ‘um ato fundador’, mas um ‘processo de regulado de repetições que
tanto oculta quanto impõe suas regras’. A ação, nesses termos, é situada justamente como ‘uma
variação dessa repetição’, como uma subversão inscrita na própria normatividade reproduzida.
Como todo ato, as repetições sobre o gênero estão expostas às fissuras, às cisões e às
‘paródias de si mesmo’. É na própria redundância velada das normas, dos discursos e das práticas
que produzem as ficções binárias de gênero e de um sujeito ‘fazedor’ de coisas que se encontram as
possibilidades de rupturas desses mesmos atos, como variações à regra que estão nela contidas. A
tarefa crucial do feminismo, para Butler, consiste propriamente em situar essas estratégias
subversivas e afirmar as possibilidades de resistência crítica.
As noções de performatividade, de paródia e de repetição que produzem identidades e
subversões de gênero dialogam intrinsecamente com a concepção agonista do lúdico, especialmente
com o caráter disruptivo, incerto e imaginativo que lhe é próprio. O jogo transita ao mesmo tempo
entre a regra e a subversão da mesma, entre o real e o ilusório, entre a descontração e a apreensão,
entre a espontaneidade e o disciplinamento das ações humanas. Tais elementos geram e subtraem
imagens, símbolos e interpretações sobre o mundo, as quais ampliam as múltiplas formas da
compreensão humana. A ambiência lúdica se caracteriza, ainda, pela disputa, pelo envolvimento
participativo e pela ambiguidade das emoções vivenciadas, em geral embebidas de sensações
concomitantes de prazer e de dor, que inerente à vida (HUIZINGA, 1990; CALLOIS, 1990;1988).
Nesse sentido, uma subjetividade constituída e produtora de atos performativos de poder,
inscrita em ambiguidades que tanto reproduzem, como subvertem normatividades, pode ser
entendida como uma das manifestações do agon. Os atos repetitivos dessa performance podem se
assemelham à repetição e à subversão das regras, no jogo. O jogo é forjado por regras de repetição
que o produzem, assim como fabricam as/os jogadoras/es que aderem às mesmas. Um jogo pode ser
jogado novamente porque há sempre um final incerto, uma imprevisibilidade intrínseca que mantém
o desejo das/os jogadoras/es em continuarem na partida, em persistir no exercício do combate cujo
final é impreciso, tal qual a vida (HUIZINGA, 1990).
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A tensão entre a sujeição às regras e a renúncia à ação impulsiva como requisito de acesso
ao prazer faz parte do sentido do brinquedo e do jogo na infância, com repercussões sobre a
formação humana. O desenvolvimento psíquico e histórico-cultural das pessoas na maneira de lidar
com o desejo, passando-se da necessidade instintiva de realização imediata para uma unidade de
contrários entre o desejo e o controle, inclui a experiência do brincar na infância e na vida. A regra
como parte inerente do jogo é, ao mesmo tempo, fator de submissão e de subversão do real,
ambiguamente, constituindo-se ele mesmo em objeto de desejo (VIGOTSKY, 1991).
Outra característica explicitamente lúdica na concepção de subjetividade performática é a
possibilidade do riso e da paródia, exemplificada nas performances transexuais, como uma
subversão dos binárismos de gênero. Como se sabe, a imaginação, a mimese e a descontração são
elementos intrinsecamente lúdicos, próprios das artes dramáticas e teatrais, dentre outras formas de
expressão na cultura. O riso propicia a ruptura da situação comunicativa, que se transforma em
máscara, em teatro, em ritual. Ele é a própria expressão da subversão inserida no universo lúdico e
nas formas performativas declaradamente falsas, como ironia do real. (CALLOIS, 1990;
LARROSA, 2016).
Do entrelaçamento disruptivo entre a subjetividade performática e o agonismo lúdico,
possibilita-se a produção subversiva de novos sentidos para o gênero, na esfera do político como
cerne da cidadania. No âmbito da teoria agonista de democracia, a cidadania é um princípio
articulatório que afeta as diferentes posições do sujeito, com espaço para a pluralidade e o respeito
da liberdade individual. Esta noção corresponde à centralidade do político como constitutiva do
antagonismo humano, capaz de forjar convergências conflitivas e de permitir o engajamento de
pessoas diferentes em projetos éticos comuns. Com isso, assume-se a perspectiva de que a
inexistência do sujeito da razão universal, denunciada pela crítica feminista, não significa o fim da
capacidade de agir, do discurso e do debate político, mas uma reinvenção performática das práticas
de poder e da cidadania, imersa em subjetividades contingentes (MOUFFE, 2016; BUTLER, 1998).
Performatividade de desejos, de gestos e de atos no jogo Violetas: disrupturas e continuidades
A concepção performática e agonista de subjetividade discutida no tópico anterior fundamenta
a dinâmica produtora de discursos disruptivos de gênero e cidadania no jogo Violetas, dentre as
outras categorias teóricas relacionadas a esta concepção, mencionadas na introdução. Para tornar
mais clara a forma com que isto aparece no Violetas, neste item analiso alguns depoimentos das
jogadoras como exemplaridades discursivas agenciadas pela dinâmica do jogo. O conceito
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deleuziano de agenciamento6 é utilizado por dialogar intrinsecamente com a noção de
performatividade, em Butler, como produtores de discursos que engendram suas próprias
subversões ou linhas de fuga.
Em sintonia com a concepção de performatividade, organizei os depoimentos em três
blocos: a- desejos de agon; b-gestos disruptivos de gênero e cidadania; c- atos regulatórios de
continuidades normativas. No primeiro, tratarei dos afetos surgidos a partir do jogo, induzidas pela
sua ludicidade. Em seguida, passarei a algumas indicações de rupturas dos estereótipos de gênero e
de potencialidades ao engajamento cidadão, contidas nos depoimentos das participantes. No último
tópico, identifico as continuidades normativas que persistem nos comentários, como forma de
refletir sobre as cristalizações disciplinadoras contidas nos atos de repetição de regras. Passemos a
discussão de cada uma delas, com a respectiva ilustração dos depoimentos, constante no quadro 1.
De início, esclareço que o componente da performance é fortemente reforçada na ludicidade
do Violetas. No jogo, as/os jogadoras/es assumem papeis de personagens de uma rede de
enfrentamento da violência que se espalha pelo tabuleiro, formada pelos integrantes:
educadora/r/pesquisadora/r (EP); cidadã/ão no movimento de mulheres (MM); integrante de política
pública/profissional de saúde (IPP); operadora/r de direito (OP). Elas/es agem em equipe para
vencer a violência que se espalha pelas cidades, sempre que as ‘cartas omissões’ são retiradas ou
quando erram as perguntas ambientadas nos filmes. No Violetas, todas/os jogam juntas contra o
tabuleiro, o que torna a dinâmica diferente do habitual, pelo menos no Brasil. Cada personagem
realiza ações em conjunto, mas possuem habilidades especiais que as diferenciam, que se somam às
demais.
Outras performances induzidas no Violetas são as narrativas fílmicas e suas diversas
situações convidativas à imaginação, como uma aposta na potência lúdica produtora de sentidos.
Além da performatividade contida no Violetas, os elementos gráficos e as metáforas foram
cuidadosamente pensados para seduzir as/os jogadoras ao universo lúdico. Como se observa nos
depoimentos contidos no quadro 1, isso resultou em desejos e curiosidades de jogar, de vencer e de
repetir o jogo, constituindo-se numa estratégia potencialmente ambientadora de experiencias
lúdicas, no sentido da abstração reflexiva do pensar que não se restringe ao universo da técnica
(LARROSA, 2013).
6 “A unidade real mínima não é a palavra, nem a idéia ou o conceito, nem o significante, mas o agenciamento. É
sempre um agenciamento que produz os enunciados. Os enunciados não têm por causa um sujeito que agiria como
sujeito da enunciação, tampouco não se referem a sujeitos como sujeitos de enunciado. O enunciado é o produto de um
agenciamento, sempre coletivo,que põe em jogo, em nós e fora de nós, populações, multiplicidades, territórios, devires,
afetos, acontecimentos.” (Deleuze e Parnet, 1998:65)
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No segundo bloco de temas, gestos disruptivos de gênero e cidadania, ilustram-se alguns
caminhos para a desconstrução dos estereótipos de gênero. A forma com que estas reflexões são
agenciadas no jogo ocorrem tanto pelas perguntas ambientadas nas narrativas fílmicas, como nos
ditados populares e música sexistas presente nas ‘cartas omissões’. Uma vez retirada essa carta, a
violência se espalha impreterivelmente pela cidade em que a/o jogadora/r se encontra, sem chance
de reação. Elas foram cuidadosamente pensadas com dois propósitos: i-aumentar a tensão na partida
pela eminencia de derrota;ii- gerar desconfortos indutores da desnaturalização dos estereótipos de
gênero. Os depoimentos contidos no quadro 1 demonstram a potência dos gestos e das intenções
produzidas nas jogadoras, em seu sentido disruptivo.
Por fim, no último bloco de temas, atos regulatórios de continuidades normativas, verifica-se
a tendência em cristalizações das normas disciplinares da educação, na voz de uma
educadora/pesquisadora (EP). A despeito dela ter gostado do jogo, disse sentir falta de um
‘fechamento’ por parte do professor, para as coisas não ficarem ‘soltas’. Ou seja, presa às normas
tradicionais da educação, ela reivindica o aprisionamento do caráter irreverente do lúdico e de sua
potência libertária, às normas disciplinadoras dos corpos dóceis. Isso exemplifica que a
desconstrução de práticas discursivas arraigadas por atos repetitivos de performances culturais são
processos contra-hegemônicos difíceis de induzir, como todo processo histórico.
Quadro 1- Exemplaridades de depoimentos das jogadoras após as partidas do VIOLETAS nas oficinas com
especialistas para validação do conteúdo do jogo. Brasília, maio, 2015
Tema
Depoimentos das jogadoras especialistas
Des
ejos
de
agon
“Nossa! Que legal! As cidades têm nomes de mulheres!”.(OP-3)
“O jogo é lindo, é lúdico... o visual dele é interessante. Você abre (o jogo) e tem
vontade de jogar, as cores, a diagramação, tudo é bonito” (EP-9).
“A ideia de trazer a violência para o universo do lúdico, porque é uma coisa muito
dura, é talvez uma estratégia que diminua o stress de se abordar a violência, ajuda as
pessoas a terem um distanciamento lúdico da coisa para poder refletir”. (MM-17)
“Uma coisa bem legal é o fato de não ser um jogo competitivo, de ser um jogo
cooperativo, em que é o coletivo que ganha. O jogo na verdade é um jogo divertido
quando você entende a lógica, tanto que o nosso grupo quando perdeu eu falei vamos
jogar de novo agora q a gente entendeu. Eu fiquei com vontade de jogar de novo e
dessa vez acertar como que joga de acordo com as regras” (EP-12)
Ges
tos
dis
rup
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“As cartas omissões provocam desconforto. Se era isso que vocês queriam, vocês
conseguiram. Quando a gente lia, é um chavão, é uma coisa tão arraigada... é o
contrário de tudo o que se quer. Eu me senti desconfortável.” (EP-12)
“Eu também achei as cartas omissões fantásticas, porque revela essa coisa da piada..
porque quando a gente fala explicitamente o quanto piada é violência é machismo fica
uma coisa chata, parecendo que a gente é que não tem sendo de humor, alguma coisa
assim. Mas ali quando você ouve uma coisa que é tão comum e que você se omite na
maior parte das vezes que você ouve uma piada ou um jargão e a violência se instaura,
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aquilo assim realmente provoca um mal estar muito interessante”. (OP-3)
“Ao invés de colocar as respostas você continuar com a ideia do jogo, mas não
colocar as respostas, a partir do momento em que surge a questão deixar as pessoas
responderem. A partir daí você levantaria as representações sociais que existem,
naturalizadas como você falou, o primeiro passo para a desconstrução, levantar essas
representações sociais e a partir de então trabalhar com essas representações sociais,
por exemplo, a mulher apanha porque gosta de apanhar. A partir desse levantamento
não dar respostas fechadas, mas deixar as pessoas construírem ” (MM-18).
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“O jogo da forma como está constituído não dá para ter as perguntas abertas, a não
ser que tivesse um moderador. Para ter perguntas como você sugere só se tiver um
moderador. (...) Considero também que é superimportante que exista alguém que
possa fazer o fechamento do jogo. Ele é lúdico, ele traz questões importantes, ele bota
a gente para refletir, ele deixa a gente desconforme, mas precisa um fechamento que
eu considero que, por exemplo, o professor que está utilizando o filme, o profissional
da saúde que está conduzindo as oficinas, alguém que se dispõem a fazer esse
fechamento, porque você vai amarrando todas as questões que ficaram solta.
Considero fantástica a forma como está (...), mas acredito que isso seja importante
também.” (EP-8)
Conclusão
A articulação conceitual da subjetividade performática, em Butler, com a concepção agonista
do lúdico é possibilitada principalmente pelo caráter da fabricação repetitiva, da ambiguidade, da
multiplicidade descentrada, da ficção e da disrupção presente em ambos os conceitos. Essas
concepçãos teóricas subsidiaram uma ludicidade produtora de sentidos no jogo Violetas, na
perspectiva desconstrutora dos estereótipos de gênero e indutoras do engajamento em redes cidadãs
de enfrentamento da violência contra a mulher. A partir dessas teorizações, os depoimentos das
jogadoras após as partidas foram analisados em sua potência disruptiva ou reprodutora de
normatividades arraigadas. Identificaram-se agenciamentos reflexivos e subversivos nos blocos de
temas ‘desejos de agon’ e ‘gestos disruptivos de gênero e cidadania’, ao lado de reproduções
performáticas de poder cristalizadas e persistentes, no bloco ‘atos regulatórios de continuidades
normativas’.
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Conception of subjectivity in Butler in the board game Violets: cinema & action in coping with
violence against women: gender and citizenship agency
Abstract
The board game Violets: cinema&action in coping with violence against women is a ludic and
educational technology that inventively sets out the reflections about gender issues. In a possible
dialogue between Butler’s philosophy and the perspective of the ludicity, I question: how does
Butler’s conception of subjectivity, articulated to the agonist conception of the ludic, produce
subversive discourses of gender and citizenship in the Violets? The arguments are: i- the
performative conception of subjectivity – understood as a plural construct of meanings, actions, and
affections provisionally delineated by ambiguous forms of expression of sex, gender, and desire of
the human being – is in line with the agonist character of ludic, by producing subversions of
identities about gender, power and citizenship; ii- in the game of Violets, the agonist perspective of
subjectivity produces discourses about the gender identities that agitate new senses of power and
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citizenship for women. Objectives: to discuss the agonist characteristics of the playful in Butler’s
conception of subjectivity; and analyze the possibilities of discursive agency about gender, power
and citizenship in the game. A conceptual discussion of the subjectivity present in the Violets and in
the testimonies of players (professionals of politics for the women) is conducted. In the games, the
agency are induced by strategies that allow disruptive discourses about gender, power and
citizenship.
Keywords: Subjectivity, Gender, Power, Citizenship, Violence against women, Educational
technologies.