Confraria do Java : Relato de Experiência de um Grupo de Estudos de Linguagem de Programação
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Confraria do Java : Relato de Experiência de um Grupo de
Estudos de Linguagem de Programação
Profa. Ms. Karen Selbach Borges
Mestre em Ciência da Computação
Professora dos cursos de Ciência da Computação e Sistemas de Informação
Campus de Canoas e Gravataí
E-mail: [email protected]
Endereço: Rua Sete Povos, 130/1201, Canoas/RS, CEP 92020-340. Fone: 465.5336
Prof. Heitor Boeira dos Reis Filho
Especialista em Informática para Aplicações Empresariais
Professor do Curso de Ciência da Computação
Campus de Gravataí
E-mail: [email protected]
Endereço: Av. Brasil, 876 , Gravataí-RS, CEP 94150-000. Fone: 488-4036
RESUMO: Grupos de estudo têm surgido como uma alternativa para complementar
os conteúdos vistos em sala de aula e desenvolver/aprimorar habilidades. Entre
elas, destacam-se o “aprender a aprender”, a aprendizagem pela ação, a resolução
de problemas e o trabalho cooperativo. Neste contexto, o presente artigo destina-se
a relatar as atividades realizadas por um grupo de estudos voltado, especificamente,
à linguagem de programação Java. Além disso, serão detalhados a metodologia
empregada na implantação e desenvolvimento das atividades do grupo e os
resultados obtidos até o presente momento.
Palavras-chave : grupo de estudos, Java, metodologia.
ABSTRACT: Study groups have been developed as an alternative to complement
the contents seen in classroom and to develop/improve abilities, such as “learn to
learn", the learning by the action, the resolution of problems and the cooperative
work In this context, this paper relates the activities done by a study group that has
the Java programming language as it main subject. Besides, it will describe the
results of this one year project and the methodology used to create the group, to
develop and maintain the group´s activities.
Key-words: study group, Java, methodology.
INTRODUÇÃO
Java é hoje a linguagem de programação orientada a objetos de maior uso
comercial no mundo. Segundo (FREIRE, 2004), “o JavaOne 2004 (oficialmente
chamada de “Sun´s Worldwide Java Developer Conference”), apresentou números
impressionantes da tecnologia Java, como 650 milhões de computadores com JRE
instalada, 4 milhões de desenvolvedores Java no mundo, com crescimento 30% ao
ano e já são mais de 550 Grupos de Usuários Java no mundo”. Mesmo assim, o
mercado de trabalho brasileiro é carente por profissionais com conhecimento e
experiência no uso desta linguagem, capazes de atuar no desenvolvimento de
sistemas de grande porte, multiplataforma e distribuídos, que possibilitem a
integração com outros sistemas e usuários via Internet.
Em função disso é crescente o interesse dos alunos, tanto da graduação e pós-
graduação quanto dos cursos de extensão. Até o ano de 2004, os cursos de
Bacharelado em Sistemas de Informação e Ciência de Computação da Universidade
Luterana do Brasil (ULBRA), ofereciam uma disciplina onde eram abordados os
fundamentos do paradigma orientado a objetos (OO) e introduzidos os aspectos
básicos do uso da linguagem Java. Observou-se que, devido à sua complexidade e
abrangência de aplicação, havia a necessidade de mais prática no uso da
linguagem, além de momentos para troca de conhecimentos e experiência entre
alunos e profissionais da área.
Com vistas a oferecer uma formação complementar surgiu a proposta de formação
de um grupo de estudos voltado para a linguagem Java e para as tecnologias
utilizadas no desenvolvimento de sistemas de informação baseados no paradigma
Orientado a Objetos (OO). A (UFJF, 2005) define grupos de estudos como “o
processo educativo que envolve o aluno em atividades de estudos temáticos, sob a
orientação de, no mínimo, um professor. A proposta será definida em uma
programação prévia e aprovada no Colegiado de Curso”. Assim, foi encaminhado e
aprovado pelo conselho de curso um projeto experimental para o primeiro semestre
de 2004 que, devido ao efetivo interesse e participação dos alunos, se prolongou e
consolidou no segundo semestre do mesmo ano. Neste projeto foram definidos os
principais objetivos do grupo, os quais são :
1. Aumentar o conhecimento em Java através da troca de experiências e
conhecimento entre os membros do grupo;
2. Promover o crescimento profissional dos integrantes;
3. Promover eventos de caráter técnico-científico;
4. Ampliar o network de relacionamentos dos integrantes com profissionais da área;
5. Preparar os integrantes do grupo para o mercado de trabalho.
A coordenação dos trabalhos ficou a cargo da Profa. Karen Selbach Borges (campus
Canoas e Gravataí), contando com o apoio do Prof. Heitor Boeira dos Reis Filho
(campus Gravataí). A participação dos alunos é gratuita e aberta a todos os campi e
todos os cursos da área de Computação oferecidos pela universidade. As presenças
são registradas em atas e semestralmente contabilizadas para fins de lançamento
como horas de atividades complementares.
HISTÓRICO
A primeira reunião do grupo ocorreu na manhã de sábado, dia 08 de maio de 2004.
Nesta houve a participação do RSJUG (Grupo de Usuários Java do Rio Grande do
Sul), que ofereceu um overview sobre a tecnologia Java, além de contribuir com
esclarecimentos sobre o que são as Comunidades Java e os Grupos de Usuários
Java, tipos de atividades que podem ser realizadas pelos grupos de estudos, como
estes podem se organizar e quais os melhores canais de comunicação.
Esta reunião inicial contou com a presença de quatorze pessoas, entre elas três
professores, nove alunos (oriundos dos campus de Canoas e Gravataí) e dois
representantes do RSJUG. As reuniões seguintes tiveram, em média, a participação
de dez pessoas.
Em julho, a pesar das férias escolares, ocorreram encontros semanais onde era
discutida a elaboração de um sistema de informação orientado a objetos que
servisse como estudo de caso. Determinou-se, então, que seria desenvolvido um
sistema para o controle de horas de atividades complementares. Destes encontros
resultou a análise e a modelagem inicial feita com o uso de UML (Unified Modeling
Language) e da ferramenta case Jude.
O segundo semestre de 2004 foi destinado a revisão e aprimoramento da
modelagem e estudo de ferramentas que pudessem auxiliar no desenvolvimento do
sistema escolhido. Assim, cada integrante do grupo se dispôs a estudar uma
determinada ferramenta e realizar uma oficina sobre o funcionamento da mesma.
Além disso, em 2004/2 foram realizadas outras duas importantes atividades :
Concurso de programação Java: patrocinado pela empresa e-Core
Desenvolvimento de Software, como parte do seu programa de Novos Talentos,
contou com 51 inscritos, dos quais 6 trabalhos foram selecionados para
apresentação perante uma banca examinadora. O trabalho vencedor foi
anunciado durante o III Seminário de Informática(Seminfo), ocorrido no mês de
novembro em Torres e o aluno premiado recebeu, além da premiação em
dinheiro, uma vaga de estágio remunerado na empresa e treinamentos no uso
da diferentes tecnologias Java.
Maratona4Java1 Brasil: ocorrido no dia 23 de outubro, organizado a nível
nacional pelo JUG JAVAcomBR, de Brasília/DF, foi promovido pelo RSJUG em
parceria com a Ulbra Canoas e contou com a presença de representantes da
SUN Microsystems, empresas e desenvolvedores Java, além de professores e
acadêmicos dos cursos da área de computação de diferentes universidades do
estado. Este evento teve dois momentos especialmente marcantes para o grupo
de estudos: a premiação do aluno Rogério Antônio Peixoto Figueiredo com a
segunda colocação na prova da Maratona Java e a definição, pelo grupo de
coordenação do RSJUG, da Confraria do Java como a terceira regional do
RSJUG, representando a cidade de Canoas.
Nos meses de dezembro/2004 e janeiro/2005 foram realizados encontros visando,
especificamente, a preparação para a prova de certificação para programador Java.
Inscreveram-se sete alunos, sendo que um é oriundo do campus de Torres, o que
1 http://www.rsjug.org/m4j/
mostra que as atividades do grupo têm se sobressaído e atraído a atenção de
alunos de outros campus.
O histórico completo dos encontros do grupo pode ser obtido a partir da página do
mesmo, disponível através do endereço http://www.ulbra.tche.br/~java. Através do
link “agenda” é possível ter acesso ao material produzido durante os encontros. Já o
link “álbum de fotos” oferece algumas fotos dos encontros realizados.
METODOLOGIA
A base do trabalho desenvolvido é a cooperação. Segundo (FERREIRA, 2005)
existe uma distinção entre os termos cooperação e colaboração. O termo colaborar
“relaciona-se com contribuição sem necessariamente ter que haver trabalho
conjunto, envolvendo, na maioria das vezes, patamares diferenciados em termos de
conhecimento. Cooperar, por sua vez, além de exigir colaboração, envolve trabalho
conjunto visando alcançar objetivos compartilhados”.
Desta forma, desenvolveu-se uma metodologia de trabalho própria, onde as
decisões e as estratégias de ação são definidas em conjunto com os integrantes do
grupo. Assim determinou-se :
1. O nome do grupo: definido através de uma votação, o nome Confraria do Java
foi escolhido por representar bem a concepção da “comunidade de prática” que
se deseja formar. Comunidades de prática são, conforme definido por
(MAYWORM,2005) “grupos de pessoas que dividem interesse, conjunto de
problemas ou mesmo paixão por um tópico, aprofundando seus conhecimentos e
expertise em determinadas áreas, através de interações sobre a existência de
um fundamento”. Já o termo confraria, por definir um “conjunto de pessoas da
mesma categoria, dos mesmos interesses ou da mesma profissão”
(FERREIRA,1975), entende-se que pode ser usado como um termo que abrange
as comunidades de prática.
2. A periodicidade dos encontros: no período de 2004/1 foram realizados
encontros mensais (aos sábados pela manhã) no período de aulas e semanais (à
noite) no período de recesso. Já em 2004/2 o grupo decidiu intensificar os
estudos, estabelecendo um calendário com encontros quinzenais (aos sábados
pela manhã) no período de aulas.
3. As atividades a serem realizadas: foram definidas e distribuídas entre os
integrantes do grupo, de acordo com o interesse dos mesmos, mas tendo como
foco o estudo da linguagem Java, ferramentas de desenvolvimento e tecnologias
associadas ao desenvolvimento de sistemas de informação baseados no
paradigma OO. No período de 2004/1 trabalhou-se sobre as questões
conceituais de orientação a objetos, análise, projeto e modelagem de sistemas
OO. Já em 2004/2 foram realizadas oficinas sobre Javadoc, JUnit, Netbeans,
PostgreSQL, Eclipse, JSmoooth e CVS. Todas estas ferramentas serão
efetivamente utilizadas no desenvolvimento do sistema de controle de atividades
complementares.
4. As ferramentas a serem adotadas: Segundo (FREIRE, 2003), “apesar do Java
não ser software livre e sim um padrão aberto, este apresenta-se como uma
ótima escolha para o desenvolvimento de soluções livres” Assim, o grupo optou
por trabalhar com ferramentas gratuitas e padrões abertos, montando um
ambiente de desenvolvimento sem custos e que pode ser replicado livremente.
5. Os canais de comunicação a serem utilizados: atualmente conta-se com o
apoio de uma lista de discussão, um fórum eletrônico e um site, que serve de
repositório de informações. Este é mantido por um dos integrantes do grupo e
disponibiliza todo o material desenvolvido pelo grupo até o presente momento,
além de uma série de referências eletrônicas para tutoriais e links para outros
sites relacionados. Através da lista de discussão do grupo acabou se
estabelecendo um serviço informal de divulgação de vagas de estágio e
empregos na área de TI (Tecnologia da Informação), independente de envolver
ou não desenvolvimento Java.
A avaliação deste tipo de trabalho não pode ser feita apenas de forma quantitativa.
O interesse e participação dos alunos no primeiro semestre demonstrou que o
trabalho realizado neste período foi produtivo e bem aproveitado pelos alunos. Em
dezembro, foi aplicado um pequeno questionário para fins de registro. Foi
questionado o seguinte:
1. Qual a contribuição do grupo de estudos para a sua formação acadêmica,
profissional e pessoal ?
2. Destaque pontos positivos das atividades do grupo.
3. Destaque pontos negativos das atividades do grupo. Sugira como melhorar estes
aspectos.
4. Sugira atividades para 2005.
O parecer dos alunos, junto com os números levantados, constituem alguns dos
resultados obtidos e são indicativos da qualidade do trabalho desenvolvido.
RESULTADOS OBTIDOS
Dos questionários recebidos, todos indicam a satisfação de participar deste trabalho,
como pode ser observado a partir dos seguintes depoimentos:
“Não recebi nenhuma "vantagem" tipo emprego ou promoção mas obtive horas de
atividades complementares, conhecimento e principalmente,
tema/bagagem/coragem para fazer o TCC sobre J2ME” – Andréa Amorim –
Sistemas de Informação
“A contribuição do grupo de estudos para a minha formação academica/profissional
foi muito boa, pois só teríamos esta experiência trabalhando numa empresa. O
pessoal se mantém disposto a ajudar.” – Elias da Silva Nogueira – Matemática
Computacional
“O Grupo de estudos Java, me ajudou bastante na formação acadêmica, profissional
e pessoal, pois me proporcionou mais conhecimentos, busca e resolução na área de
informática e desenvolvimento de programas, fora as pesquisas e matérias que
ainda não tinha visto, mas aprendi pois as tarefas solícitas no grupo precisavam
deste aprendizado.” – Sandro Rogério da Silva – Ciência da Computação
Ao longo dos encontros realizados, houve a participação de 31 alunos, sendo que
destes, 7 são assíduos freqüentadores. Cabe ressaltar a participação de alunos de
diferentes níveis e oriundos dos diferentes cursos da área de computação: Ciência
da Computação, Sistemas de Informação, Matemática Computacional, Tecnológico
em Redes de Computadores e Tecnológico em Desenvolvimento de Software. Além
disso, observou-se a presença de alunos dos campus de Canoas, Gravataí e Torres.
O serviço informal de divulgação de vagas de estágio e empregos parece estar se
tornando conhecido. Semanalmente a administração da lista recebe e encaminha
emails de diversas empresas procurando por profissionais qualificados, além das
oportunidades divulgadas através da parceria com o RSJUG. Por ter surgido sem
qualquer tipo de planejamento, não há registro da quantidade de vagas divulgadas.
Sabe-se, porém, de diversos casos de alunos que conseguiram colocação no
mercado de trabalho através deste serviço. Tem-se hoje alunos atuando em
empresas como CWI, eCore, AdvancedIT, Procergs, entre outras.
Há um notável interesse das empresas por este tipo de grupo dentro da
universidade. Duas empresas já fizeram contato com a coordenação do grupo com
vistas a estabelecer futuras parcerias tanto à nível de formação de recursos
humanos, quanto para desenvolvimento de projetos e financiamento de pesquisas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A parceria entre professores da área de engenharia de software (Prof. Heitor) e de
linguagem de programação (Profa. Karen) foi de fundamental importância para :
A divulgação do grupo nos dois campus;
Fornecer uma visão integrada entre as etapas de modelagem e implementação
de sistemas OO;
Oferecer um panorama de como se dá o desenvolvimento de sistemas de
informação à nível de mercado;
Esta interdisciplinaridade constitui outro ponto que vem agregar valor ao trabalho
desenvolvido neste projeto, pois tem possibilitado aos alunos a oportunidade de não
só aprofundar os conhecimentos adquiridos através das disciplinas como de poder
combinar estes conhecimentos para a resolução de problemas reais. Ao contrário do
que se possa imaginar, a diferença de nível entre os alunos não constitui obstáculos
para o andamento dos trabalhos. Observa-se uma forte interação entre os
integrantes do grupo e o prazer em dividir o conhecimento adquirido. Relações se
estabelecem a partir da experiência de pesquisar, aprender e resolver problemas
juntos. Conforme (MAYWORM,2005), “um senso comum de identidade é
desenvolvido, e essas pessoas tornam-se uma comunidade de prática”.
Para o ano de 2005, pretende-se iniciar um trabalho de divulgação das atividades do
grupo junto aos outros campi da Universidade e junto a outras Universidades do
Estado. A proposta é incentivar a criação de outros grupos de estudos e transmitir a
experiência e metodologia de trabalho da Confraria do Java. Além disso, a
consolidação do grupo como representante regional do RSJUG é ponto chave. Para
tanto, será necessário um maior envolvimento com a equipe de coordenação da
entidade e com as atividades desenvolvidas pela mesma.
A continuidade dos estudos fica por conta da etapa de implementação do sistema de
controle de atividades complementares, a qual irá exigir um aperfeiçoamento no uso
da linguagem e a pesquisa de soluções que envolvam novas tecnologias. As oficinas
continuarão fazendo parte das atividades do grupo e cursos de extensão serão
oferecidos de modo a atender a demanda por recursos humanos qualificados no uso
das tecnologias Java.
REFERÊNCIAS
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa.
Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1975.
FERREIRA, Jairo. Ensino à distância – questões pedagógicas. Disponível on-line
em http://penta.ufrgs.br/~jairo/2ensdis2.htm. Jan, 2005.
FREIRE, Alexandre. Contribuindo com o Incrível Potencial do Software Livre.
Revista Mundo Java, edição nro 3. 2004.
FREIRE, Herval e GUAPO, Marco Antonio. Java Timeline. Revista Mundo Java,
edição nro 7. 2004.
MAYWORM, Marcelo. Comunidades de Prática: Um estudo de caso baseado em
Grupo de Usuários Java. Disponível on-line em
http://www.mayworm.com/comunidades/. Jan, 2005.
WILDT, Daniel. Como criar um grupo de estudo na sua instituição de ensino.
Disponível on-line em http://wiki.java.net/bin/view/JUGs/ComoCriarGruposDeEstudo.
Jan, 2005.
JUGs World Atlas. Revista Java Magazine, edição nro 6. Ago.2004
UFJF. Resolução do Conselho Setorial de Graduação Quanto à Flexibilização
dos Currículos de Graduação da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Disponível on-line em http://www.producao.ufjf.br/arqufjf/res018.htm. Jan, 2005.