Conhecimento do Trabalho: um desfio para os educadores

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XII Fórum de Educação Profissional SENAC/BAHIA

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XII Fórum de Educação Profissional

SENAC/BAHIA

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CONHECIMENTO DO TRABALHO: UM DESAFIO PARA OS EDUCADORES

Salvador, 24 de julho de 2012 – Jarbas Novelino Barato

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CONVIDADOS

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Exercício preliminar

CORTE DE CABELOConvite para observação e reflexão

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Na execução de um corte...

“[ele] está pensando por meio da tesoura que tem nas mãos...” (Mike Rose,

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Observem

Mãos e tesouraMãos e olhar

Mãos, tesoura, cabelo

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Anotem

As palavras que forem surgindo em suas mentes, sugeridas pela

observação da foto.

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O que entrou no jogo?

• Movimento• Proporção• Fluência gestual• Coordenação mão/olhar/intenção• Execução de uma etapa adequada a uma meta• Harmonia

tesoura/pente/cabelo/mãos/olhar/tato

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Os detalhes observados sugerem

Riqueza e diversidade de saberes necessários para domínio da técnica.

Necessidade de longo percurso de aprendizagem.

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PRESSUPOSTOS

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O fazer é um saber...

• Integral não aplicação de um outro saber, não é parte de,

• Intencional quem faz tem querer, quem olha ou examina o fazer ‘de fora’ costuma ignorar intencionalidade e se convence de que esta é um atributo

‘teórico’, cujo desenvolvimento dependerá de algum processo de ‘conscientização’

• Independente não há pensar prévio e necessário para o fazer, o fazer é um tipo especial de pensar

• Fluente gestos e andamento não são passos sequenciais e independentes, fazer bem dominado reduz consideravelmente número de passos, resultando numa

tensão entre entendimento do analista e entendimento do especialista (profissional), numa análise que fiz, banho no leito em enfermaria foi de 42 para sete passos

• Sintético dispensa discurso, dispensa explicação, [não o confunda com automação], discursos internos e externos desaparecem, resurgindo apenas em

momentos críticos (que podem exigir atenção consciente ou mudança no padrão de execução)

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TESE GERAL

O saber do trabalho não é nem aplicação de conhecimento tecno-científico, nem resultado de articulação teoria/prática

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Tese EspecíficaO saber no trabalho é..

Integral, compartilhado, artístico, grávido de significados, socialmente

distribuído

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Alguns enganos

• Primeiro a mente, depois a mão mito da concepção intelectual precedendo a ação na

história, na evolução da espécie, na aprendizagem

• Sem teoria não há compreensão e espírito crítico ignorância de que aspectos axiológicos do trabalho estão profundamente enraizados em domínio da execução, provável preconceito de intelectuais contra os

trabalhadores manuais

• A teoria facilita a aprendizagem da execução execução – knowing how – é um saber completamente distinto do saber declarativo – knowing that ; ambos os saberes ser articulam logicamente, não psicologicamente ou historicamente

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Constatação

Saberes do trabalho têm natureza própria. Submetê-los a outros

saberes é um engano.

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Proposta de método

Olhar com atenção e partir do saber dos trabalhadores para tomar

decisões em educação.

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O que quero ressaltar?

Ou, quais são minhas intenções?

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Intenções

• Instalar dúvidas sobre a necessidade de uso do par teoria/prática

• Sugerir que o fazer tem status epistemológico próprio

• Insistir na tese de que a manipulação é uma necessidade para apreender a essência das coisas

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Intenções

• Mostrar que a técnica – processo, execução, fazer – é conhecimento que exige muito da nossa inteligência

• Sugerir que, no trabalho, a estrela que orienta o saber é a obra

• Alertar que o pensamento hegemônico sobre formação profissional ignora a obra

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Intenções

• Desafiar educadores de formação profissional e tecnológica a desliteralizar o ensino de técnicas

• Introduzir dúvidas sobre necessidades de fundamentos teóricos para o fazer

• Apoiar reflexões sobre a práxis docente na formação de trabalhadores

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Johnson (em Filosofia do Corpo)

• Observação sobre dificuldade vocabular para superar pares dicotômicos fixados em nossa cultura pelo poderosos cartesianismo.

• Corpo e mente, conhecimento e habilidade, teoria e prática criaram certo conforto para descrever a vida, mas perpetuam preconceitos contra o ser biológico, a capacidade de realizar, o trabalho.

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Um educador no salão de beleza

Olha severamente aquela falta de organização e propõe método,

planejamento, sequência

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EQUIVOCADO, DE VISÃO CURTA, SEM SIMPATIA, BOBO.

Um observador:

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Conheço-o bem.

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Seu nome é...

Jarbas Novelino Barato

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O que eu não sabia?

Profissões se aprendem em comunidades de prática.

Anos mais tarde, escrevi anotações de que nosso curso de cabeleireiro tinha ainda fortes traços de aprendizagem corporativa. Essas, anotações, porém ainda tinham manchas de preconceito com raízes na academia

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Segundo impacto no salão de beleza

• Conversa sobre conteúdos• Proposta: enriquecer o curso com

fundamentos teóricos• Demanda de empresas: trabalhadores

flexíveis, capazes de aprender

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Segundo impacto... Donos de rede de rede de salões

• propõem redução de ensino de técnicas• sugerem mais conteúdos de “educação” para

cabeleireiros• afirmam que o SENAC está distante das

demandas efetivas dos salões• dizem que técnicas são conteúdos que os

profissionais aprenderão, no trabalho, conforme necessidades das empresas

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Definição de perfis trabalhador:

• Flexível• Com bons fundamentos teóricos• Com espírito de iniciativa• Responsável• Atento para necessidades dos clientes

Qualquer semelhança com fala de certos educadores não é mera coincidência

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Domínio de Técnicas

MÍNIMO NECESSÁRIO. MAIS INICIAÇÃO QUE

CAPACITAÇÃO.

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Reação

Senti que havia algo errado naquela proposta.

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Sabia que a empresa

• Utilizava uma ideia de ‘especialização’ que podia condenar um auxiliar de cabeleireiro a realizar apenas um repertório muito limitado técnicas

• Não tinha uma política transparente de promoção e desenvolvimento de seus quadros

• Não primava pelo cumprimento da CLT

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Não podemos cair na armadilha dessa visão mercadista, pois:

• Ao definir curso de acordo com eventuais demandas do mercado de trabalho, ignora-se educação como fator de mudança. Trabalhador com repertório pobre de técnicas não tem ferramentas suficientes para executar mudanças etc.

• Nesse caso estamos no nível de uma macrovisão das relações educação/trabalho. Bom observar que nossas concepções de educação podem significar trabalhadores alienados. Alienados do saber do trabalho...

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Bom lembrar aqui Barbiana

Dom Milani argumentava que a educação dos trabalhadores devia ser muito mais exigente que a educação dos ‘filhos de

papai’.

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Vamos examinar um caso em detalhe

Um caso acontecido no SENAC

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Onde está a ética?Análise de uma situação que pode

clarear as coisas

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Situação

• Sou supervisora pedagógica no Centro X desde 2007. Foi minha primeira e única experiência com Educação Profissional e tenho aprendido muitas coisas ao longo desses três anos. A unidade em que estou locada trabalha mais com os cursos de Idiomas, Comunicação e Informática. Neste último eixo, em alguns cursos de capacitação contamos com um componente (o qual sempre foi apresentado como teórico) de Trabalho e Cidadania.

• Alunos saem do laboratório

• Ensino passa para sala de aula

• O professor não pertence à comunidade dos profissionais de informática

• O professor tem sólida formação na área humanística

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A proposta tem como orientação as seguinte ‘competências’:

• Estabelecer relações entre os conceitos de sociedade, moral, ética, trabalho e cidadania e as questões ambientais.

• Aplicar conceitos /vivência da excelência da qualidade na prestação de serviços e do atendimento ao cliente interno e externo.

• Conscientizar e Reconhecer os problemas ambientais que afligem e põem em risco a humanidade.

• Desenvolver características e habilidades de comportamento empreendedor.

• Empregar a política do diálogo com uma postura participativa, flexível e criativa que favoreça o trabalho em equipe e a solução de possíveis conflitos.

• Entender a evolução e as tendências do mercado, identificando oportunidades.

• Conhecer e identificar o novo perfil dos clientes.

• Conhecer e aplicar o Código de Defesa do Consumidor e suas implicações.

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Tempo

Vinte Horas

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Minha opinião

Sonha-se com um milagre

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Que dizem os alunos?

• Ensino de blá-blá-blá• Conteúdos sem significado• Tempo perdido• Teorias sem ligação com a formação

pretendida

Resumo da ópera: insatisfação, muita insatisfação

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Tentativa de Correção

• Professor da área, com formação humanística• Tentativa de vincular conteúdo com o trabalho

concreto

Resultado:INSATISFAÇÃO CONTINUOU

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Tipo de Ensino

• Oral/Literário• Discursivo: aprende-se a falar sobre• Individualista: cada aluno adquire “sua”

competência• Nenhuma vinculação com o fazer concreto da

profissão

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Onde está a ética no trabalho?

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Algumas constatações

• Compromisso com a obra• Orgulho de fazer bem feito• Compromisso com uma comunidade de

prática• Afirmação de identidade por meio da ação• A ética não se descola da ação• Ética se aprende fazendo e participando de

uma comunidade de prática (prática social)

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Para amar o que faz é preciso fazer, não ser doutrinado sobre importância, significado do trabalho. Valor do trabalho é intrínseco, não é atribuído de fora por valores abstratos. Há um jogo interessante do ponto de vista ontológico. Os objetos tem sua propriedades que resistem àquilo que queremos fazer. Por isso nos ensinam. Nos dizem o que são. Que virtudes tem. Aprendemos propriedades dos seres em nossas relações com os objetos de nossa ação. Um bom carpinteiro “respeita” a madeira, pois a conhece. Esse entendimento, desenvolvido por um dos filósofos (Heidegger) que escreveu textos teóricos muito difíceis, afasta do horizonte teorias que não são “práticas”, pois tais teorias desconhecem a essência das coisas que fazem parte de cada ofício.

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Fala de Alexander Kojeve

• O homem que trabalha reconhece seu próprio produto no mundo que realmente foi transformado por seu trabalho: ele se reconhece na sua obra, vê nela sua própria realidade humana, nela descobre e revela para os outros a realidade objetiva de sua humanidade, da ideia que tem de si mesmo originariamente abstrata e puramente subjetiva. (Crawford, p.14-15)

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Exemplos

• Respeito pelas ferramentas de um ofício: relato de Cláudio Moura Castro

• Assinatura de obras na construção civil: relato de Mike Rose

• Descompromisso de profissionais cujo trabalho foi esvaziado de significado: relato de Matthew Crawford

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Não quero, ao destacar a ética dos ofícios

• Dar lição de moral• Propor como trabalhar com ética em cursos

de educação profissional

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Quero destacar que

• Um conteúdo supostamente teórico está entranhado na execução do trabalho

• Identificação com a obra e com a comunidade de prática são essenciais na construção de valores para os trabalhadores

• Não se distingue, no caso, saber, fazer, ser *

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*• Trabalhadores sabem porque fazem• Trabalhadores são o que fazem• Cidadania, ética ou valores não são um plus a

mais para enriquecer a formação de trabalhadores

• FAÇO, por isso SEI, por isso SOU

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Moral de História

Nosso desafio é o de desenhar uma metodologia que parta do trabalho, em sua

dinâmica de saber , em seus jogos de aprender

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Meu nome para o que deve ser ponto de partida e de chegada em educação profissional

A OBRA

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TEORIA DA ATIVIDADEQue linha de análise, investigação e proposta podemos adotar?

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Não chegamos o fim, propus apenas um começo

Obrigado pela atenção, carinho, e disposição em me escutar.

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Onde estou?

[email protected] no Facebook com Jarbas Novelino

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