Connepi 2015 - Ifac Caso Sensacional - A Criação Do Pseudoentorno Pelos Jornais No Discurso Da...

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  • 7/25/2019 Connepi 2015 - Ifac Caso Sensacional - A Criao Do Pseudoentorno Pelos Jornais No Discurso Da Revoluo Acre

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    CASO SENSACIONAL: A CRIAO DO PSEUDOENTORNO PELOSJORNAIS NO DISCURSO DA REVOLUO ACREANA

    Gilberto Mendes d Sil!eir Lobo"

    1Mestrando em Letras: linguagem e identidade - UFAC. e-mail: [email protected]

    RESUMO:Este texto tem o objetivo de mostrar como o esan!ol Lui" #alve" de Arias

    utili"ou os jornais de $el%m e do Ama"onas ara con&uistar a oini'o (blica ara legitimarum con)lito internacional* a artir da assagem do navio de guerra norte americano

    Wilmingtonelos rios da Ama"+nia* sem r%via autori"a,'o do #overno do $rasil* no ano de

    1* criando um seudoentorno* teoria em &ue o jornalismo aresenta duas vis/es de mundo*

    na &ual metade % verdadeira e a outra arti)icial. 0sso or&ue uma )ra,'o do &ue se sabe %

    construda de narrativas contadas or meio do jornalismo* da !ist2ria ou de outros meios.

    Pl!rs#$%!e: enunciado*jornalismo* oini'o (blica* seudoentorno* revolu,'o acreana

    SENSATIONAL EVENT : T&E CREATION O' NE(SPAPERS INSPEEC& )* PSEUDOENTORNO REVOLUTION O' ACRE

    A)STRACT: 3!is text aims to s!o4 !o4 t!e 5anis! Luis #alve" o) Arias used t!ene4saers o) $el%m and t!e Ama"on to 4in ublic oinion to legitimi"e an international

    con)lict * )rom t!e assage o) t!e 6ort! American 4ars!i 7ilmington rivers o) t!e Ama"on

    4it!out rior aut!ori"ation )rom t!e #overnment o) $ra"il * in 1 * creating a

    seudoentorno * t!eor8 t!at journalism resents t4o 4orld vie4s * in 4!ic! !al) is true and

    t!e ot!er arti)icial. 3!at9s because a )raction o) 4!at is no4n is constructed )rom narratives

    told t!roug! journalism * !istor8 or ot!er media.

    +E*(ORDS: statement * journalism * ublic oinion* seudoentorno * Acre revolution

    INTRODUO

    ;o!ann #utenberg de Mani" criou em aroximadamente 1 uma rensa gr?)ica. 5egundo

    Asa $rigs e eter $ure B>>D* => anos deois* as m?&uinas de imress'o gr?)ica estavam

    esal!adas or mais de B=> regi/es da Euroa e cerca de 1 mil!/es de livros !aviam sido

    imressos. s autores destacam &ue ao lado da 2lvora e da bussola* a imrensa rovocou

    grandes mudan,as no estado e na )ace das coisas elo mundo. Mesmo n'o sendo unGnimes* os

    an)letos* os livros* os jornais e outras )ormas de imress'o gr?)ica estiveram resentes em*

    como citou $rigs e $ure B>>D* acontecimentos rotulados como a He)orma* as guerrasreligiosas* a guerra civil inglesa* a Hevolu,'o #loriosa de 1 e a Hevolu,'o Francesa de

    X Congresso 6orte 6ordeste de es&uisa e 0nova,'o* B>1= ?gina 1

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    1I e no caso analisado neste texto* o con)lito con!ecido elos bolivianos como #uerra del

    Acre* ou como )icou registrado na !istoriogra)ia o)icial brasileira* Hevolu,'o Acreana. A

    grande contribui,'o da imrensa nesses eventos re)ere-se J con&uista da oini'o (blica e a o

    surgimento da es)era (blica.

    Antes do invento de #utenberg* Kum evento se tornava (blico &uando era

    reresentado diante de uma luralidade de indivduos )isicamente resentes J sua ocorrncia

    3NM56* 1* . 11>>D exlica &ue:

    rimeiro jornalismo* de 1I J metade do s%culo P0P* )oi* assim o daKilumina,'o* tanto no sentido de exosi,'o do obscurantismo J lu" &uanto deesclarecimento oltico e ideol2gico. controle do saber e da in)orma,'o

    )uncionava como )orma de domina,'o* de manuten,'o da autoridade e do oder*assim como )acilitava a submiss'o e a servid'o. En&uanto eu n'o sei &ue o oder %

    algo dos !omens associado a seus interesses de domnio e exlora,'o de outros!omens* eu acredito &ue ele % Knatural* &ue Oeus e a nature"a criam !omens aramandar e outros ara servir. Fil!o* B>>>* . 11D

    0gn?cio Hamonet e 6aom C!oms8 B>>BD aresentam um bom exemlo dessa nova

    ublicidade baseada na )or,a da es)era (blica. Eles contam &ue 7oodro4 7ilson* &uando )oi

    eleito residente dos Estados Unidos em 11* decidiu &ue o as recisa articiar da

    5egunda #uerra Mundial* mas ara tal )eito seria necess?rio convencer a oula,'o de &ue

    !avia tal necessidade* )oi &uando utili"ou a imrensa como )erramenta ara indu"ir a

    sociedade a articiar da guerra. ara isso* )oi criado a Comiss'o de roaganda

    #overnamental. Em seis meses* a oula,'o ac)ica )oi convertida em oula,'o assustada earmada* ronta ara entrar no con)lito internacional K&ue &ueria ir a la guerra 8 distruir todo l2

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    &ue diera a alem'n* desre"ar a todos os alemanes* 8 salvar as e al mundo HAM6E3 e

    CNM5QR* B>>B* .. -D.

    Ao )inal do s%culo PP* estava )icando claro ara os ioneiros cientistas sociais deent'o &ue os novos veculos de massa S jornais* livros e revistas* todos os &uaisamlamente utili"ados na sociedade S estavam tra"endo imortantes mudan,as araa condi,'o !umana. A&ueles meios reresentavam uma )orma de comunica,'o &ue

    in)luenciava n'o aenas adr/es de intera,'o nas comunidades e sociedades* comotamb%m as ersectivas sicol2gicas dos indivduos. OEFLEUH* 1* . D

    E dentre as mudan,as* 7alter Limann B>>D destaca a r2ria mudan,a na

    erce,'o da realidade rovocada nas massas* no ovo. ara Limann B>>D* a vis'o demundo % dividida em duas artes: uma metade % verdadeira e a outra arti)icial. 0sso or&ue

    uma )ra,'o do &ue sabemos % construdo a artir de narrativas contadas or meio do

    jornalismo* da !ist2ria ou de outros meios. resultado dessa media,'o seria ent'o a

    constru,'o de um Kseudoentorno* semel!ante ao Mito da Caverna de lat'o* no &ual as

    sombras eram recon!ecidas como o re)lexo de uma oula,'o &ue vivia na caverna. Oessa

    )orma* o jornalismo tornou-se um mediador entre as artes Kverdadeiras e Karti)iciais do

    mundo.

    O LADO ARTI'ICIAL DA VERDADE

    5egundo Mi&uel Hodrigo Alsina 1D % )undamental ara a comreens'o de uma

    notcia o en&uadramento dela em um modelo de mundo re)erencial* um mundo real &ue

    rodu" os acontecimentos utili"ados na con)ec,'o da notcia. E o )ato encontrado &ue inicia

    uma s%rie de artigos* reortagens e transcri,/es em jornais do $rasil* rincialmente do

    Ama"onas* ar? e Hio de ;aneiro* com objetivo de legitimar um con)lito )inanciado elo

    governo do Ama"onas e con)iado ao jornalista esan!ol Lui" #alve" de Arias. E o )ato

    escol!ido )oi o destacado elo !istoriador Leandro 3ocantins B>>1D:

    A !ist2ria come,ou em $el%m do ar?* no ano de 1. Certamente ningu%m reviu&ue uma notcia ublicada em desta&ue* na rimeira ?gina dTA rovncia do ar?*

    na man!' de 11 de mar,o* daria inicio a uma intriga internacional cujos verdadeiros)undamentos at% !oje se ignoram* desautori"ando conclus/es ositivas ou negativasdo )ato* ermanecendo* assim* mescla inextric?vel de verdade e )antasia. registro

    da )ol!a araense* acoman!ado do clic! de uma unidade da es&uadra norte-americana* ois se re)eria J visita da can!oneira de nome 7ilmington* dava osdetal!es e caractersticas da belonave &ue )undeara no orto Js 1< !oras da tarde do

    dia antecedente 3CA63065* B>>1* . BD

    Cerca de um ms antes da notcia do navio de guerra norte-americano* o jornalista

    resons?vel ela ublica,'o* embora n'o a ten!a assinado* o &ue demonstra &ue ele n'o

    &ueria ligar seu nome J notcia* teria sado do Ama"onas em dire,'o ao ar? como anuncia o

    jornal Commercio do Amazonas* na edi,'o de 1 de )evereiro de 1* &ue di": Kara $el%m

    seguiu ontem o nosso ativo cooerador Lui" #alve"* &ue or algum temo esteve encarregado

    da gerencia do Commercio do Amazonas.

    s jornais da %oca di"em &ue o comandante da can!oneira c!amava-se C!aman 3odd. militar norte-americano a)irmou &ue a miss'o da e&uie comandada or ele seria de a". Mas

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    o &ue ajudou na ossibilidade do surgimento da narrativa construda or Lui" #alve"* com

    aoio de membro da delega,'o boliviana &ue montaria a Aduana no Acre* c!amado #ul!erme

    Ut!o))1)oi o detal!e destacado elo jornalista ;ailson 5oares Oantas B>1BD:

    Oe $el%m "ara a 7ilmington ara Manaus onde aguardava igual acol!ida orarte do governo e do ovo* sendo bastante visitada segundo anuncia o Com%rcio doAma"onas* em edi,'o de B de abril de 1. E na caital ama"onense vai ocorrer orimeiro incidente da s%rie de )atos &ue turvariam os ro2sitos da mission o))riends!i roclamados elo comandante 3ood. A come,a o encadeamento de uma!ist2ria constituda de retal!os* de suosi,/es* de misteriosos in)ormes* de

    a)irmativas e negativas reticenciosas. onto de artida )oi o estran!o

    rocedimento do comandante da can!oneira &ue* !avendo solicitado licen,a ao#overnador Hamal!o ;(nior ara subir o Ama"onas* e este recusado a conced-la*resolvera* de motu r2rio emreender o cru"eiro rio acima* saindo de Manaus*)urtivamente* durante a noite* com os )ar2is de navega,'o aagados. A atitude docomandante 3odd originou muitas crticas e restri,/es J sua miss'o de boa

    vi"in!an,a* tento em Manaus &uanto em $el%m* mormente &uando soube !aver oMinist%rio do Ex%rcito $rasileiro concedido a necess?ria licen,a. OA63A5* B>1B*. D

    ercebe-se &ue a incongruncia entre a )ala do comandante da Marin!a dos Estados

    Unidos e a,'o dele deixou margem ara a interreta,'o )eita or #alve"* criando um

    Kseudoentorno sobre o )ato* &ue vai se desenrolar at% um con)lito internacional. Leandro

    3ocantins B>>D di" &ue:

    Em Manaus reali"aram-se comcios (blicos em condena,'o ao rocedimento docomandante norte-americano &ue* recebido em car?ter o)icial elo #overnador* narimeira assagem elo orto* n'o contou* or%m* na volta de 0&uitos* com a menor

    aten,'o do governo* nem ao menos a visita da sa(de (blica.Em $el%m* aonde regressou a B de abril de 1* 7ilmington teve )ria rece,'o. c+nsul Qennded8 aressou-se a ir justi)icar na reda,'o dTA rovncia do ar? oinsensato gesto de seu comatriota. 3CA63065* B>>* . >>D

    3ocantins B>>1D relata ainda &ue os jornais lan,avam crticas ao edido de descula

    dos reresentantes dos Estados Unidos da Am%rica* in)luenciando a oini'o (blica. E

    como* segundo Mic!el Foucault 1ID* Kn'o se ode )alar em &ual&uer %oca de &ual&uer

    coisa* o esan!ol Lui" #alve" de Arias* re2rter do jornal Commercio do Ama"onas* sabia

    &ue os v?rios elementos como economia* cen?rio internacional e local* entre outros*

    )avorecia tanto a enuncia,'o como o enunciado de um con)lito b%lico or terras &ue o

    governo brasileiro considerava serem bolivianas* mas &ue eram ocuadas or brasileiros e

    &ue geravam volumosas ri&ue"as ara o Estado do Ama"onas e do ar?. Oessa )orma* de

    um lado existia o entorno real* a assagem do navio de guerra dos EUA or rios da

    Ama"+nia* antes da autori"a,'o do #overno Federal* ent'o do outro oderia existir uma

    vers'o dado elo jornalista Lui" #alve" &ue oderia ser o envolvimento da triula,'o norte-

    americana com a notcia de &ue:

    1Neste texto ser a dotada a grafa Utho, mas em vrios jornais o nome est escritodiversas ormas, como Hutho, Ulto e Uto.

    X Congresso 6orte 6ordeste de es&uisa e 0nova,'o* B>1= ?gina >.

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