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A CONSULTA HOMEOPÁTICA: A ARTE DE INTERROGAR Ao escolher um assunto, escolhi como tema a Consulta Homeopática – a arte de saber interrogar - em que a maioria dos principiantes se inspira e pelos quais eu sigo, de facto, não descobri realmente referências úteis e suficientes na minha literatura homeopática, contudo extensa. Por outro lado, aprendi por frequentar os dispensários e hospitais o quanto era difícil os especialistas saberem como aplicar exactamente os ensinamentos recomendados pelo mestre, à cerca da interrogação da semiologia etiológica e homeopática; será que para a maior parte dos homeopatas, depois de terem ouvido o paciente, dimensionam a interrogação numa certa direcção, ou para um presumível diagnóstico patológico ou logo para um remédio sugerido pelo primeiro recital feito pelo paciente? Ou devíamos, ir contra tudo o que tínhamos aprendido nos nossos estudos, interrogar sem nenhuma consideração no que diz respeito ou ao remédio ou ao diagnóstico, mas fazer o que nós chamamos uma interrogação sistemática? Por outro lado, todos sabemos os princípios teóricos, mas quantos deles se põem completamente em prática? Em relação à interrogação será que ela tem um interesse simplesmente teórico ou é só uma questão de aplicação na prática? É somente um simples “vue de l’ espirit?”. Haverá um tratado real entre a teoria e a prática? 2

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A CONSULTA HOMEOPÁTICA:

A ARTE DE INTERROGAR

Ao escolher um assunto, escolhi como tema a Consulta Homeopática – a arte de saber interrogar - em que a maioria dos principiantes se inspira e pelos quais eu sigo, de facto, não descobri realmente referências úteis e suficientes na minha literatura homeopática, contudo extensa.

Por outro lado, aprendi por frequentar os dispensários e hospitais o quanto era difícil os especialistas saberem como aplicar exactamente os ensinamentos recomendados pelo mestre, à cerca da interrogação da semiologia etiológica e homeopática; será que para a maior parte dos homeopatas, depois de terem ouvido o paciente, dimensionam a interrogação numa certa direcção, ou para um presumível diagnóstico patológico ou logo para um remédio sugerido pelo primeiro recital feito pelo paciente?

Ou devíamos, ir contra tudo o que tínhamos aprendido nos nossos estudos, interrogar sem nenhuma consideração no que diz respeito ou ao remédio ou ao diagnóstico, mas fazer o que nós chamamos uma interrogação sistemática?

Por outro lado, todos sabemos os princípios teóricos, mas quantos deles se põem completamente em prática?

Em relação à interrogação será que ela tem um interesse simplesmente teórico ou é só uma questão de aplicação na prática?

É somente um simples “vue de l’ espirit?”.

Haverá um tratado real entre a teoria e a prática?

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Agora que a Homeopatia se desenvolve e cresce, e isto especialmente na Europa, Portugal, Espanha, Reino Unido, França, Suíça, Itália e América do Sul, em toda a parte ouvimos os praticantes novos perguntarem: “mas como questionar o paciente?” “qual é a melhor e a pergunta mais útil a fazer?” qual é a diferença entre a consulta Alopática e Homeopática?”.

Teoricamente falando, temos certamente algumas sugestões práticas precisas no que diz respeito ao questionário; Hahnemann, no seu Organon, dedica mais de 63 parágrafos aonde ele fala sobre o exame do doente. Von Boenninghausen dá-nos um conselho excelente como fazer a toma de um caso. Jahr fornece-nos também um questionário, tais como outros também, Mure, Perussel, Molinari, Landry, Chaude, em seguida, mais recentemente, Close e Kent, este último foi o único que nos deu um questionário completo e compreensível, com mais de trinta e duas páginas, intitulado “o que o homeopata precisa saber para fazer uma prescrição com sucesso”.

Finalmente, aqui está escrito o que a Dra Margaret Tyler defendia num questionário.

Mas penso também na famosa leitura de Constantine Hering, publicada em 1833 na “Biblioteca Homeopática de Genéve”, na qual ele expôs fortemente o tema, como traçar um quadro da doença; as suas regras eram resumidas em quatro palavras:

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Ouvir, escrever, questionar e coordenar.

Não é a minha tarefa desenvolver teoricamente estes quatro preceitos, a minha proposta é essencialmente apontar o lado mais útil e prático das perguntas em geral.

Consequentemente, não discuto a arte de ouvir o paciente, não o melhor caminho para escrever as suas observações, nem mesmo a técnica de estudo e a coordenação dos sintomas, ou as perguntas do exame físico. Vamos dedicar-nos somente ao terceiro preceito, o questionário ou exame, falando rigorosamente.

Nunca entro numa teoria extensa e detalhada sobre este assunto, nem proponho um grande questionário, o qual será o mais completo e o mais perfeito. Compilei um questionário desse género depois de anos de estudo dos meus casos crónicos, que são mais do que trinta e seis páginas, obviamente não os posso discutir aqui.

O principal objectivo da consulta alopática é estabelecer um diagnóstico patológico, para rotular a doença na moda nosológica mais moderna. É dito e ensinado em todo o lado que sem isso nenhum tratamento deve ser tentado. Para a escola velha, a investigação do objectivo dos sintomas patológicos é essencial. Nesta investigação a interrogação joga um tanto com um papel secundário, a consulta alopática está sempre mais ocupada com exames com mais ou menos variedades complicadas de instrumentos físicos ou análises químicas, mas num momento de reflexão somente nos mostram que todos estes procedimentos apontam só para uma determinação única ou a maioria dos órgãos que estão afectados e determinam o quanto estão envolvidos.

Se esses resultados ainda não se manifestarem num objectivo e numa conduta precisa, e se a pessoa doente sofrer de problemas funcionais somente, ou mesmo se eles ainda não estão presentes e o paciente só se queixa de problemas subjectivos, o seu caso está decidido arbitrariamente. É um caso imaginário, psíquico e nervoso!

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Na consulta homeopática, nós não estamos completamente satisfeitos só com esta investigação. O seu objectivo é estabelecer como uma afecção mórbida se desenvolveu a ela própria num dado assunto, e para explorar todos os detalhes possíveis da evolução de cada doença individualmente, e como precisamente este paciente difere de todos os outros apresentando o mesmo diagnóstico.

Por exemplo, um médico alopata, depois de ter examinado a garganta de um paciente, marca que está inflamada e coberta com umas membranas pelas quais ele pode tirar uma parte para exame laboratorial. E, se o resultado do exame for difteria, ele aplica-lhe uma injecção de soro. Se disser que é uma simples infecção, dá-lhe para gargarejar um anti-séptico e um antibiótico.

Se ele tiver dez pacientes seguindo o mesmo diagnóstico, os dez são tratados de maneira igual.

Pelo contrário, um homeopata investigaria todos os detalhes que diferencia este paciente particular de outros dez; um poderia ter a membrana direita inflamada o outro a esquerda, e o outro no véu palatino.

A aparência da membrana poderia variar na cor de verde a amarelo, preta ou branca, de acordo com o caso; em outros a consistência poderia, no entanto, mudar, mas, sobretudo o mais interessante para o homeopata são os problemas funcionais e subjectivos do paciente. Um poderia ter dores ardentes ou em picada, ou poderia queixar-se de secura ou de estar em carne viva.

Certos pacientes poderiam aliviar a sua dor bebendo água fria ou quente, ou comendo comida sólida. A extensão do problema poderia ser da esquerda para a direita ou vice-versa, ou desde a garganta à laringe ou para o nariz, todas estas diferenças poderiam levar-nos para um remédio homeopático diferente.

Muitos detalhes, vistos com importância secundária, completamente inúteis para o médico alopata, observados patologicamente, em que todavia permitem não só um diagnóstico da doença mas especialmente o diagnóstico dado pelo paciente, o

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homeopata estará apto para encontrar o seu remédio particular. Quer dizer, o remédio adapta-se a ele próprio, precisamente para todas as diferentes características e particularidades do Caso.

Existem mais de cinquenta e sete remédios para a difteria, mas há um pequeno número correspondendo realmente a todos os sintomas relativos a este paciente em particular. E é aqui que a tarefa do homeopata começa.

Para saber bem como observar, como exactamente interrogar, é o primeiro passo neste questionário indispensável, o qual nos leva a que o remédio verdadeiro seja encontrado.

Assim vos darei o melhor questionário para ser utilizado pelo homeopata na sua prática diária.Um questionário que satisfará o seguinte querer:

• O mínimo das melhores perguntas para perguntar ao paciente quando o tempo é limitado.

• O mais importante e o mais necessário nessas perguntas para descobrir, não o diagnóstico patológico, mas o diagnóstico terapêutico, o remédio geral correspondendo ao paciente.

• As perguntas ao serem feitas, são aquelas em que temos a certeza que correspondam aos nossos Repertórios e Matéria Médica Homeopática.

A interrogação, sobretudo, tem que ser metódica.

É claro que não vamos fazer as perguntas de acordo com os princípios puros da Homeopatia, isto é:

• Para evitar perguntas directas, apesar do que sabemos, se as respostas do paciente forem com sim ou não, a questão foi mal formada.

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• Nunca faça uma pergunta pondo uma resposta, obrigando deste modo o paciente a dizer da sua boca essa palavra, assim tem a certeza que não influenciou a sua resposta.

• Para evitar todas as perguntas onde o paciente se vê obrigado a escolher entre duas alternativas diferentes, e respeitando a regra sagrada, conduzindo o paciente sempre na sua escolha.

É claro, que o homeopata tem que pôr a linguagem, como o Dr Kent diz, num nível de linguagem que o paciente entenda. A sua atitude de seriedade e de compreensão ajudam a estimular a confiança do paciente.

Por outro lado, tem que saber suficientemente a Matéria Médica, deste modo o questionário adaptar-se-á à comparação que o fará prosseguir. “Acumule a sua Matéria Médica assim tanto quanto a use, e ela assim sairá como a sua linguagem também” Frase bem conhecida de Kent.

O homeopata, pelo seu modo de interrogação e pelas questões gerais, tem que fazer tudo, não para definir, mas deixar o paciente ele próprio caracterizar os factos particulares.“Fala o menos possível, mas deixa o paciente falar e ajuda-o a ficar próximo e a cingir-se com o assunto”.

Nunca faça o paciente apressar-se, estabeleça um hábito fixo de exame que ficará consigo. Somente quando você manter um tipo de trabalho mais cuidado, iniciando a sua reputação e cumprir o seu maior uso (Kent).

Nós sabemos o quanto é difícil a arte de interrogar, e devemos dar-lhe muita importância. “Poderemos aprender muito com Sócrates”, diz Hering, “e o estudo de Platão é importante para nós como Hipócrates”.

Para evitar toda esta ambigüidade, primeiramente tenho que vos dar algumas questões que no decorrer da vossa prática irão ouvir,

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demonstrando assim que muitos médicos mostram pelos seus questionários que fazem aos pacientes, que não seguem o pensamento de Individualização; como por exemplo:

• Perguntas directas: (a) tem sede? (b) é uma pessoa irritada? (c) tem dor no estômago?

• Perguntas sugestivas: (a) você não agüenta muito o frio, pois não? (b) certamente prefere ser certamente consolado? (c) eu penso que você não gosta muito de gordura e comida rica?

• Perguntas em que o paciente tem que escolher: (a) prefere o tempo seco ou chuvoso? (b) sonha com coisas tristes ou alegres? (c) as suas regras são escuras ou vivas?

Em relação às perguntas directas, é muito freqüente que o paciente diga: “sim, eu tenho sede”, porque ele pensa no seu café de manhã e na sua sopa à noite, mas realmente não bebe nada, além disso. Outro diria “não” porque ele pensava que beber chá preto, vinho, limonada e soda não era ter sede, isto seria reservado apenas somente para a água.

Então, sobre a gordura e a comida rica, ele diria que não gostava porque o médico disse “muita gordura”. E em relação às regras, ouviria que seriam escuras, sendo realmente vermelhas, porque um paciente tímido, não tinha escolha para dizer se seriam escuras ou vivas, responderia uma cor ou outra para responder rapidamente.

Penso que é desnecessário discutir cada resposta possível ou erro que resulte do questionário, a minha proposta é que se faça uma lista de questões evitando precisamente estes erros, para apresenta-los ao critério da sua longa experiência e para submetê-los a uma crítica. É claro que você está consciente da vantagem agradável em ter um homeopata experiente, e com cerca de 14 anos de experiência em questionário, assim ficarão aptos a fazer as melhores perguntas

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na prática, e para que nas respostas sejam capazes de encontrar uma correspondência semelhante à nossa patogenesia.

Qual seria realmente o uso de um questionário sobre o qual nós sabemos que não corresponde ao remédio? Claro, que tudo é útil, mas repito que estamos aqui para trabalhar por resultados práticos e não para propostas de teorias. Temos que nos adaptar aos quadros patogenésicos da nossa Matéria Médica, quadros que são muito ricos e preciosos.

Para finalizar com esta introdução, não posso criticar suficientemente o método citado no livro recentemente editado “A Doutrina da Homeopatia Francesa” onde o homeopata depois de um curto exame físico, pergunta ao paciente sobre os sintomas de Sepia indicados por uma pequena ferida amarela que ele tinha observado no nariz do paciente, ou de Lycopodium num homem irritável que se queixa do seu fígado. Isto é o que podemos chamar “Método Torpedo”, em Francês “le torpillage”. Se um paciente tem os lábios vermelhos e lhe perguntar: “tem alguma sensação de vazio no estômago antes da meia-noite?” “Não acha que é desagradável manter a mesma posição bastante tempo?” “Não se vê obrigado a pôr os pés fora da cama à noite porque eles estão queimando”.“Provavelmente bebe muito e come pouco, etc...”

Nestes dois métodos torpedo, o último que é baseado somente em questões sugestivas, num ou em dois sintomas externos, é o mais perigoso, especialmente para o principiante, como um paciente que esteja impressionado pelas perguntas sugestivas que o médico fez, achará que esses sintomas estão presentes em si.

Poderemos ver assim o que os médicos fazem para escoar o medicamento em acréscimo a outros quatro ou cinco, para ser capaz de obter algo a que chamamos um resultado.

É como matar um bacamarte, senhores e senhoras, para principiantes é claro que uma tentação forte, pode ser até mesmo um método agradável, mesmo talvez uma fase necessária para algo

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melhor. Mas o praticante que não tem medo de trabalhar a sua Matéria Médica, de estudar os seus Repertórios e compreender o Organon, assim obterá excelentes resultados, porque a metódica e séria interrogação dar-lhe-á um quadro cheio da doença, sobre a qual será capaz de considerar o que representa realmente o paciente num todo.

Considerarei este assunto mais tarde.

Classificamos o nosso trabalho da seguinte maneira:

• Quais são as bases da interrogação? (isto é, em que bases as perguntas são feitas?)

• Qual é a melhor classificação a adoptar na interrogação?

• Como formular as perguntas, qual o caminho que devem ser seguidas.

• Como sabemos se as perguntas foram bem feitas e conseqüentemente bem respondidas?

Digo outra vez, não apresento aqui um questionário completo, mas o melhor e curto questionário calculado para obter os resultados máximos, o tempo fica limitado. Isto constituirá o questionário corrente do homeopata tendo ao seu dispor 30 minutos ou 1 hora para a interrogação e exame do seu paciente.

(A) QUAIS SÃO AS BASES DA INTERROGAÇÃO?

Isto é, como são as bases do questionário homeopático?

Para isto, responderei que estas questões têm que ser pautadas pela semiologia homeopática, respeitando o valor dos sintomas, considerando sempre o paciente na sua totalidade e não por partes (como Descartes via o Homem); não a doença, não a

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patologia, não o diagnóstico, mas sim o paciente, a sua vida, os seus sentimentos e os pensamentos.

É claro que, não considerarei só a anamnese, a parte sobre a hereditariedade e antecedentes pessoais; todas as referências que são uma parte, evidentemente, da interrogação de cada paciente, mas não necessariamente para um desenvolvimento, onde não oferece dificuldade ao homeopata em comparação com a interrogação activa, depois do paciente ter exposto livremente todos os seus sentimentos e sintomas ao seu terapeuta. Toda a gente deveria ter muito conhecimento da exposição magistral dada pelo Kent na sua Filosofia Homeopática, leituras 23-26.

(B) QUAIS AS CLASSIFICAÇÕES QUE SERÃO ADOPTADAS?

Por um lado, temos o conselho dado por Hahnemann no seu Organon, depois o estudo extraordinário de Kent nos seus 32-33 capítulos sobre o valor dos sintomas, depois as numerosas classificações estabelecidas por Grimmer, Gladwin, Green, Loos, Margaret Tyler, Del Mas, Stearns, para citar somente aqueles dignos de notícia. É impossível discutir aqui cada uma das classificações propostas, as linhas traçadas de cada um, todavia, convergindo na mesma direcção: Primeiro os sintomas mentais relacionados com o sono e com os sonhos, e finalmente, nas mulheres, aqueles relacionados com as regras se for possível faze-lo. As questões relacionadas com a esfera sexual geralmente não se devem fazer na primeira consulta, especialmente numa consulta curta. Às vezes pode perguntar-se quando se fala da hereditariedade ou história pessoal.

Para fechar com isto, é bom reconsiderar alguns dos sintomas afirmados pelo paciente, especialmente aqueles que são considerados raros, peculiares e impressionantes, estranhas ou não comuns, e para examinar as suas modalidades em relação a ver se realmente merecem uma consideração importante.

Aqui está a lista dos sintomas para se ter em consideração:

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(1) Sintomas gerais – horário de agravação, agravação periódica das estações; pelo tempo: seco, chuvoso, quente, nublado, ventoso, com sol. Mudanças de tempo: neve, tempestades, agravação da temperatura, correntes de ar; tendência a ficar constipada (resfriado), desejo ou agravação pelo ar; agravação de posição, pelo movimento ou pelo repouso, andando de carro, velejando, agravação prandial, apetite e sede, agravação por algumas comidas, vinho, tabaco, drogas, vacinações, banhos quentes ou frios, mar ou montanha, roupas, feridas que demoram a sarar, hemorragias, desmaio em quartos com muita gente, lateralidade (lado afectado).

(2) Sintomas mentais – o estado mental do ser humano pode, num todo, ser resolvido em quatro ou cinco pontos essenciais: vida ou morte, emoções, medo, irritabilidade e tristeza; e todos estes debaixo de manifestações hiper e hipo.

A classificação teórica será assim:

• Sintomas relatando ao instinto de auto-estima (morte, suicídio, etc..).

• Queixas por dor, vexação, mortificação, indignação, raiva, más notícias, rompimento amoroso, etc..

• Medo, angústia, ansiedade.

• Irritabilidade, raiva, violência, impaciência, precipitado.

• Tristeza, choro, desespero, efeito do consolo.

Assim, certos sintomas não tendo nenhuma relação com estas categorias, como por exemplo, ciúmes, mentalmente distraído, concentração, modificações de carácter antes, durante e depois das regras.

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Em vez de seguir este questionário pela sua ordem, será melhor seguir pela ordem oposta; porque poderá começar com sintomas mais superficiais, não indo tão profundamente à mente do paciente, que mais tarde descobrirá.

Para o praticante que tem os olhos bem abertos assim como a sua compreensão há numerosos sintomas mentais que podem ser observados sem dizer uma simples palavra, como por exemplo: timidez, loquacidade, egoísmo, facilmente ofendido, embaraçado, alegre, facilmente assustado, arrogante, inútil, desconfiado, riso excessivo, mesmo com alguns problemas de memória, disposição quieta ou apressada, pacientes que cantam, irrequietos, choram quando falam de certos sintomas os quais não são precisos perguntar aos pacientes porque eles falarão, mesmo porque eles vêm por este propósito, ou sofrem realmente muito ao cantá-los. Muitas vezes, também, amigos ou parentes podem ter escrito esses sintomas para si antes da consulta, se eles são suficientemente mal encarados, como, por exemplo, recusarem-se a comer, desejo de escapar, muitas vezes medo do suicídio, etc...

(3) Aversões e desejos alimentares – (a) doces, pastelaria, delicias; (b) comidas salgadas; (c) comida ácida, forte e condimentada; (d) gordura e comida rica, manteiga; (e) pão, fruta, peixe, carne; (f) leite, café, vinho, cerveja; (g) estado de apetite e apetite.

(4) Sono e sonhos – posição do corpo, cabeça e extremidades durante o sono; (b) o que o paciente faz durante o sono: começa a rir, falar, gritar, chorar, com medo, range os dentes, mantém os olhos e a boca aberta, etc. (c) qualidade do sono: horas e maneira de acordar, uma noite em claro, sonolência; (d) tudo sobre sonhos.

(5) Sintomas a respeito das regras e da esfera sexual – menstruação muito tarde, duração, cor, qualidade, consistência, mais de dia ou de noite, influência do carácter ou outros sintomas

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particulares antes, durante e depois do período menstrual, breve, aquilo a que nós chamamos “Molimen”.

(6) Sintomas, raros, estranhos e peculiares - indicados pelo paciente, com as suas modalidades e fenómenos relatados, fazer com que na consulta os sintomas principais sejam mais precisos.

Agora, deixem-nos ver esta lista de questões teóricas realizadas num modo prático, de acordo com os princípios de hahnemann.

Propus escolher questões correspondendo às rubricas do Repertório, que são pequenas e contêm, dois ou três graus de remédios (itálico e letra sem ser em Negrito) e evitando os parágrafos longos, como aqueles de tristeza, agravação nocturna, sede, etc... Que contêm quase todos os remédios.

Aqui está o verdadeiro questionário para ser submetido à sua crítica:

(C) COMO FORMULAR ESTAS QUESTÕES

Não é um bom procedimento dizer ao paciente nesta altura: “ouvi-o até agora sem interromper, agora vamos mudar o papel, e, por favor, não fique admirado se o interromper enquanto responde, para lhe fazer a pergunta seguinte, porque isto quererá dizer que a resposta que eu esperava é obtida. Não acredite que eu ao fazê-lo, não subestime a sua resposta, mas isto só significa que uma explicação longa trará nenhuma utilidade nem detalhes no caso”.

(1) Sintomas Gerais

(1) Em que altura durante as 24 horas se sente pior?

(2) Em que estação do ano se sente menos bem?

(3) Como suporta o tempo frio, calor, seco ou húmido?

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(4) Como o nevoeiro o afecta?

(5) Que sente quando fica exposto ao sol?

(6) Que mudança de tempo o afecta?

(7) E a neve?

(8) Que tipo de clima é desagradável para si, e aonde escolhe para passar as suas férias?

(9) Como se sente antes, durante e depois de uma tempestade?

(10)Quais são as suas reacções ao vento do Norte, Sul, ao vento em geral?

(11)E em relação às correntes de ar e mudanças de temperatura?

(12) E em relação ao calor em geral, calor da cama, do quarto, da lareira?

(13)Como reage aos extremos de temperatura?

(14)Que diferença fazem em você as roupas de Inverno?

(15)E em relação a ficar constipado (resfriado) no Inverno e em outras estações?

(16)Como deixa a sua janela à noite?

(17)Qual a posição que gosta mais de estar, sentado, de pé e deitado?

(18)Como se sente ficando um pouco de pé, ou ajoelhado na igreja?

Anote esta questão de manter a posição, pois ela virá outra vez. Vai descobrir que este caminho de repetição é intencional aqui e

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lá no questionário. É um procedimento muito útil e necessário para verificação.

(19) Que desporto gosta mais?

(20) Em relação a andar de carro ou andando de barco?

(21) Como se sente antes, durante e depois das refeições?

(22) E o seu apetite, como se sente se não tomar uma refeição?

Muitas vezes vão-lhe responder: “facilmente não tomo uma refeição, mas não consigo suportar um grande jantar ou banquete.” Uma pergunta que não deve fazer, mas que demonstra que a questão foi bem formulada, pois fez o paciente falar e ver a sua própria escolha.

(23) Que quantidade e o que é que bebe? E sobre a sua sede?

(24) Quais são as comidas que o fazem ficar doente, e porquê?

(Se o paciente não responder depois de um tempo, pergunte olhando-o de perto: suores, coisas salgadas, doces, comida gordurosa, ovos, carne, porco, pão, manteiga, vegetais, couves, cebolas, frutas?)

(25) E em relação ao vinho, cerveja, café, chá preto, leite, vinagre?

(26) Quantos cigarros fuma por dia, e como se sente depois de fumar?

(27) Quais são os remédios que o deixam mais sensível ou doente?

(28) Quais as vacinas que fez, e os resultados delas?

(29) E em relação aos banhos frios ou quentes, banhos de mar?

(30) Como se sente perto do mar, ou nas montanhas?

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(31) Como colares, cintos e roupa apertada o afectam?

(32) Quanto tempo demoram as suas feridas a sarar, quanto tempo sangram?

(33) Em que circunstâncias sentiu que ia desmaiar?

(2) Sintomas Mentais

(34) Quais foram os maiores desgostos ao longo da sua vida?

(Muitas Vezes o paciente baixa a cabeça e olha lentamente,então, será preciso uma palavra do Terapeuta para levantar a moral. Assim que o paciente faz a expressão de desanimado, estas seguintes questões farão com que o paciente olhe para você outra vez admirado, e muitas vezes com um sorriso).

(35) Quais foram as maiores alegrias que teve na sua vida?

(36) Em que altura do dia se sente bem, depressiva, triste, pessimista?

(37) Como agüenta as preocupações?

(38) Em que ocasiões chora?

(Se o paciente não conseguir responder, fazemos a pergunta de outra maneira não perdendo tempo, em que tempo do dia? Certas pessoas conseguem evitar chorar, outras não).

(39) Que efeito tem o consolo em si?

Se a resposta for: “depende por quem”, pode dizer: “pelas pessoas que você gosta”, porque muitas vezes dizem que não gostam de ser consolados porque pensam em membros da sua família que odeiam.

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(40) Em que ocasiões sente desespero?

(41) Em que circunstâncias sentiu ciúmes?

(42) Quando e em que ocasiões se sentiu assustado ou ansioso?

(Se o paciente não responder, pergunte: “algumas pessoas têm medo da noite, da escuridão, estar sozinha, de ladrões, de certos animais, da morte, de certas doenças, de fantasmas, de perder a razão, de ruídos à noite, das trovoadas, da água. De acordo com a maneira como responde, rapidamente vai ver os medos, e será capaz de discriminar aqueles que não são para levar em consideração).

(43) Como se sente numa sala cheia de pessoas, na Igreja, numa palestra?

(44) Fica vermelho ou branco quando se zanga, e como se sente depois?

(45) Como se sente esperando?

(se o paciente não responder, questione-o só sobre a impaciência).

(46) Caminha, come, fala ou escreve rápido?

(47) Quais são as doenças ou efeitos depois de desgostos, dor, amor não correspondido, vexame, mortificação, indignação, más notícias, medo?

(48) Em tempo de depressão, como vê a morte?

Certos pacientes têm pressentimentos da morte, pensamentos de morte, mesmo desejo de morrer; outros têm tendências ou desejos de suicídio, alguns são corajosos para fazê-lo, outros têm medo, em vez do desejarem.

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(49)Fale-me sobre ser consciencioso e escrupuloso em excesso, sobre ninharias; algumas pessoas não se importam muito com os detalhes e com muita ordem.

(50)E o seu carácter antes, durante e depois das regras?

Durante estas questões, o homeopata tem que por palavras suaves, pôr o paciente à vontade, mas tem que o observar muito próximo, sem que o paciente note.

(3) Desejos por comida e aversões

(a) Qual é o tipo de comida pela qual você tem um desejo ou uma aversão marcados, ou quais são as que o fazem ficar doente ou não pode comer?

Aqui também é muito importante observar cuidadosamente a expressão do paciente, porque é muito fácil ler na face observando os cantos da boca vindo para baixo se o paciente está enojado, ou ao contrário, vindo para cima com os olhos bem abertos e brilhantes se tem um desejo enorme de comer, isso sente-se. Assim podemos adicionar uma pergunta, por exemplo:

(b) Então e as gorduras e os doces?

(c) Então e as comidas ácidas e picantes?

(d) Então e as comidas ricas ou gordurosas?

(e) Utiliza muito sal na comida?

(f) Então e a sua sede, o que é que bebe? Café, vinho, cerveja?

É claro, todas estas questões já foram feitas no princípio do questionário, mas fazendo-as outra vez, será capaz, fazendo

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perguntas atravessadas, determinar se foram bem respondidas na primeira vez ou não.

(4) Sono

(a) Em que posição dorme, e desde quando tem essa posição? Aonde põe os braços, e como gosta de ter a cabeça?

(b) O que faz durante o sono?

(Se o paciente não responder, você acrescenta: algumas pessoas falam, riem, gritam, choram, são irrequietas, têm medo, rangem os dentes, tem a boca ou os olhos abertos.).

(c) A que horas acorda, ou vai dormir? O que o faz irrequietoou sonolento?

(d) E sobre os sonhos?

(5) Para mulheres, menstruações

(a) Em que idade começaram as menstruações?

(b) Como costumam aparecer?

(c) E a sua duração, abundância, cor, odor, e coágulos?

(d) Durante as 24 horas em que altura há mais fluxo?

(e) O que sente antes, durante e depois da menstruação?

(6) Retomar o caso

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É necessário pegar outra vez nos sintomas ditos pelo paciente, aqueles que são estranhos, raros e peculiares, por exemplo: sensação de uma unha na cabeça; sensação de um cordão arrastar as pálpebras, sensação de um torrão na garganta, sensação de opressão no coração, sensação de constrição como uma banda ou cinto à volta dos joelhos.

Todos esses sintomas devem ser anotados cuidadosamente, para que o homeopata possa verificar que não há uma causa ocasional que os provoque.

Então, sobre alguns outros sintomas excepcionais, é importante anotar as modalidades sobre a agravação ou melhoria pelo movimento, repouso, calor ou frio, fora de casa, posição, comendo, pressão, etc.

(D) COMO SABER SE AS QUESTÕES SÃO BEM FEITAS E, POR CONSEGUINTE, BEM RESPONDIDAS.

Há duas maneiras de saber:

(1) Durante toda a interrogação, o homeopata deve cuidadosamente estar atento ao seu paciente e observar o caminho das respostas.

Como na Fábula de la Fontaine, “Os ramos” têm que condizer com a “Plumagem”, isto é, a entoação da sua voz, a peça e a expressão da sua fisionomia, especialmente na boca e olhos, tem que ser bem observado e compreendido.

Um paciente que diz, “sim, eu gosto de carne, mas não bebo leite com prazer” sem nenhuma mudança na sua expressão, não indica de maneira nenhuma algum sintoma. Mas, se ele diz, “eu não

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faço nada sem carne, e odeio leite”, dizendo isto com uma expressão sorridente e um aumento dos olhos mencionado a carne, mas mencionado o leite com uma expressão irónica, ao mesmo tempo em que viram a cabeça para o outro lado, saberá assim que terá bons sintomas.

É claro, de qualquer modo a questão dos sintomas úteis e inúteis, nos sintomas úteis há ainda uma ordem:

Há alguns sintomas bem marcados e outros menos importantes, mas só os consideramos somente se tivermos um número suficiente deles. Na primeira interrogação, mesmo tendo poucos sintomas para considerar, poderemos ficar felizes por termos um número suficiente de sintomas.

(2) Durante a interrogação, o homeopata anota cuidadosamentetodas as respostas do paciente. Sublinha ou marca com uma cruz os sintomas que têm mais importância para serem, além disso, contra-interrogados ou verificados para que seja assegurado que o paciente percebeu bem e respondeu correctamente às questões.

Isto é para pô-lo à prova.

Então, temos que considerar seriamente fazendo um número total de contra-interrogações. Por exemplo:

Se o paciente nos disse que se sentia pior depois das refeições, pode perguntar-lhe: “se tivesse um assunto importante para decidir ou uma carta delicada para escrever, ou um telefonema importante para fazer, o faria às 2 horas da manhã?”

Se ele lhe disser que dormiu com as suas mãos estendidas sobre a sua cabeça, poderia perguntar-lhe: “Durante o sono, o calor dos cobertores da cama fazem as suas mãos transpirar?”

Se ele lhe disser que detesta comida gordurosa: “prefere o peixe temperado, frito, ou em manteiga escura? E como gosta de bacon?”.

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Se ele disser que a compaixão ou a consolação o agrava, pergunte-lhe se tem um amigo em quem ele confia quando está preocupado.

Se ele afirmar que nunca se zanga, pergunte-lhe se fica vermelho ou branco quando se zanga. Muitas vezes, a resposta será: “Vermelha, mas passa rapidamente”.

Para ter a certeza que os sintomas mais importantes ficam anotados, alguns exemplos que foram mencionados anteriormente indicam como poderá fazer estas questões.

Muitas vezes, o paciente diz que é muito impaciente, mas você pode observar que, depois dele estar sentado meia hora na sala de espera do consultório, entra no gabinete e responde a maioria das vezes calmamente às suas questões.

Outro lhe dirá que tem um temperamento calmo, mas você descobrirá que ele é divorciado ou que deixou a sua família por causa da incompatibilidade do seu carácter.

Se dois ou mais remédios vêm à sua cabeça depois de um exame, e está hesitante entre um e outro, é a única ocasião em que se deve fazer algumas perguntas, sempre baseadas nos mesmos princípios, mas relativamente às características dos sintomas do remédio sugerido, sempre, obviamente tentando evitar as questões directas e os métodos torpedo que já foram referidos. Muitas vezes, será melhor e mais prudente dar um remédio que tenha poucos sintomas, do que administrar um remédio que não está certamente indicado, sobre o qual nós não temos a certeza, e ter a coragem de esperar a segunda consulta para completar o quadro da doença.

A proposta deste livro não é para examinar o que é para ser feito com os sintomas assim obtidos ou como classificá-los, ou como achar um correspondente similimum na matéria Médica. Se seguirem esta classificação, a segunda parte do trabalho, o grau e a classificação dos sintomas ficam quase completos para o homeopata.

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Observei que certas questões eram sempre respondidas da mesma maneira, por quase toda a gente, e conseqüentemente considerei todas essas más questões. Às vezes, também, o paciente indicava alguns sintomas que pareciam ser importantes, e que na realidade não tinham importância. Ele informava que tinha algumas habilidades ou qualidades, e você observava justamente o contrário.

Então é por isso que penso que um questionário estabelecido com método e reflexão é indispensável, por isso submeti isso aqui, desejando saber as suas experiências pessoais e quais são as questões para suprimir, para desenvolver, ou em que ordem as posso perguntar.

Sempre tentei praticar o conselho do meu estimado professor, Dr. Austin de Nova York, que um bom homeopata deve ser capaz de fazer o seu paciente na primeira consulta rir ou chorar, e ao fazê-lo, fica assegurado que o contacto foi feito, e será capaz de pôr em vibração o ser humano que pede por ajuda.

Se, na consulta alopática, fazemos como nos foi dito e ensinado nos nossos estudos alopáticos, não podemos acreditar nos nossos pacientes, temos que fazer o mínimo de perguntas possíveis e acreditar somente no que pode ser observado pelo próprio médico, é muito diferente da consulta homeopática, porque o homeopata tem que fazer o seu melhor para criar à sua volta uma atmosfera de confiança e benovelência, e tentar compreender especialmente o Ser Humano que vem para ser ajudado. A tarefa mais importante na Homeopatia é a individualização e a distinção de sintomas, mas, a individualização e a comparação são inseparáveis, e ai há uma diferença na natureza das coisas muito semelhante, um ponto que deve ser cuidadosamente considerado.

A substituição de um remédio por outro em Homeopatia não pode ser quando nós queremos, temos que reflectir muito, e Kent repete o que Hahnemann dizia: “Em Homeopatia, os remédios nunca

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devem substituir um ao outro e nem serem melhores um do que o outro”.

Um não pode ser repetido suficientemente se o primeiro exame é bem estabelecido, bem feito, bem realizado e bem interpretado, a procura depois do remédio será somente uma pequena coisa, e se o caso for bem feito e o remédio baseado realmente nos maiores sintomas importantes, se tudo isto for bem feito na primeira consulta, o trabalho para o homeopata será considerado fácil porque ele descobriu a linha e só tem de segui-la. Pelo contrário, estes tratamentos baseados no exame local ou na interrogação insuficiente obrigam-no a ir em zig zag e, em vez de sentir a sua prescrição baseada num edifício com fundações fortes, fica com a impressão de ter uma rolha a flutuar no oceano.

Nada é mais culpável do que dizer, “Thuya é o seu remédio, porque eu vejo o seu lábio superior transpirado!” (o Repertório tem 70 remédios só para este sintoma) ou, “és Lachesis porque os teus lábios estão azulados e brilhantes”, ou “és um caso de Condurango porque tem rachaduras nos cantos da boca”.

Se eu falar aqui sobre Condurango, é para confessar a minha mea culpa.

À 11 anos atrás, quando vim para o Hospital Homeopático de Londres pela primeira vez, fui gentilmente autorizado para seguir a visita do médico aos pacientes.

Aconteceu por ser o dia de Sir J. Weir. Não o conhecia; seria ele um homeopata bom ou mau? Saberia ele alguma coisa? Brevemente estaria eu capaz de decidir por mim.

Vindo de Genebra, depois de ter estudado Homeopatia no “catecismo do Dr. Dewey” e o “Organon de Hahnemann” pensei que tinha todo o conhecimento e sabedoria da Homeopatia. Isto foi mais do que tratar alguns casos com sucesso, tendo recebido o benefício da experiência de um homeopata que me deu o conselho em alguns casos mais difíceis.

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Depois de ver alguns pacientes, parámos numa cama onde tinha chegado um novo paciente, e lembrei-me e pude ver Sir John Weir, a sua cabeça inclinada em direcção ao paciente, fazendo inúmeras questões. Assim que ele respondia, eram logo rapidamente formuladas.

No começo, isso impressionou-me, mas rapidamente vi que o paciente tinha no canto da boca uma área bastante vermelha com uma rachadura profunda.

Isto faz lembrar-me um caso semelhante onde estava a tentar encaixar as peças sobre o remédio a indicar e onde um homeopata me disse: “é um caso de dor do Condurango”. Logo que o Sir John Weir sentiu a superioridade marcada pelo meu conhecimento, procurou logo depois do questionário elaborado e longo não mencionar nenhum remédio, eu disse-lhe, “Não vê que é um caso de dor de Condurango”.

Calmamente ele virou a cabeça e, sem ironia ou repreensão, mas inclinando a sua cabeça, disse muito educadamente: “agradeço-lhe, Sir; discutiremos isto mais tarde”. Toda a gente à minha volta olhou para mim com um olhar agradecido pela minha destreza.

Depois da visita descemos, e então tive uns quinze minutos maus (mauvais quart d’ heure) – o meu duche frio.

“Bem”, disse Sir John, porque é um caso de Condurango? “Simples, por causa das rachaduras nos cantos da boca”.“Mas”, disse ele, “então e todos os outros sintomas dele?”

“Oh, não têm muita importância. Se olhar cuidadosamente para a língua dele, certamente vai achar algumas áreas desnudas e alguns sintomas gástricos e isto confirma e prova o seu Condurango”.

“Bem, bem”, disse Sir John, “vamos ver isso”. Ele simplesmente abriu um livro enorme como a bíblia e

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perguntou-me se eu o conhecia. “Não”. Disse eu; “Houve algum Homeopata que escreveu livros tão grandes?” “É o Repertório de Kent”, ele respondeu, “e veja aqui o que vinte e dois remédios além do Condurango têm as rachaduras no canto da boca”.

Com gentileza e com persuasão ele rapidamente tirou todas as minhas ilusões e certezas.

Ele convenceu-me que isto era um caso de Sepia, explicando-me com paciência porque é que com tantos sintomas havia uma descriminação a ser feita, que interessante porque é que a classificação hierárquica uma das mais importantes tinha que ser feita, e essas regras e princípios eram para ser seguidos para o estudo, porque Sepia era o remédio para este paciente e não Condurango. Foi a lição mais bonita de modéstia que eu tinha recebido.

Sequei por dentro e transpirei por fora. Demonstrei brilhantemente a minha profunda ignorância e destapei a minha incapacidade, mas provavelmente ainda não estaria preparado, como quando fui para Nova York, o Dr. Austin na minha primeira entrevista perguntou-me quais eram os remédios homeopáticos para o reumatismo e, depois de eu ter falado sobre Rhus toxicodendron e Bryonia, ele deu-me o último toque para o meu conhecimento, dizendo simplesmente: -“Bem, meu amigo, penso que é necessário estudar Homeopatia”.

Desta maneira aprendi a viver fora desta famosa frase filosófica: “Só sei que nada sei”.

Do mesmo modo, se a sua interrogação não é baseada nos princípios essenciais da Doutrina Homeopática, se levar por capricho ou imaginação e interrogar só sobre os sintomas

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pelo qual o paciente se queixa, acabará por acabar em fracasso. Este fracasso só vai demonstrar a sua própria ignorância.

Se um paciente diz que tem veias varicosas e dor nos membros inferiores e você lhe der-lhe Fluoric acid, Calcarea flurica ou Hamamelis, somente vai tratar as paredes vasculares, mas não toda a varicose do paciente. Isto é só uma brincadeira da Homeopatia. É a aplicação de um remédio ao diagnóstico, é uma prescrição alopática com remédios homeopáticos.

Se o paciente acrescenta que tem os olhos colados de manhã e que os seus cabelos caem, pensaria logo em Graphites ou Sulphur. Mas se ela, contudo, acrescentasse que sangrava pelo nariz, que tinha muita cede e desejava ácidos, o remédio escolhido seria Phosphorus.

Poderia então perguntar se ela tinha uma sensação de vazio no estômago e sofria de azia, para confirmar se seria Phosphorus. Mas na segunda consulta, ela confessava-lhe que ela sofria pelo abdómen muito distendido, que tinha prisão de ventres, o seu sono não era repousante, gostava mais de estar fora de casa, e você iria dizer: “Agora está bem claro, é Lycopodium”, e assim, constantemente. Como a pessoa errante, você está neste labirinto, perdendo a sua cabeça e muitas vezes a paciência. Porquê? Porque não fez um exame metódico e sistemático, estabelecido de acordo com as regras anteriormente dadas.

Se for pelo caminho curto, mas com uma interrogação bastante completa dada antes, aprenderá que este paciente tem as menstruações mais à noite, e o estudo deste caso lhe mostrará muito rapidamente e claro como a água que só um remédio cobre todos estes sintomas, excepto as veias varicosas, isso é verdade, e aqui o remédio é magnesia carbonica, não para ou contra as veias varicosas, mas para o paciente ficar curado, e, além disso, as veias varicosas também.

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Descrevo este caso um grande passo porque é precisamente uma das minhas curas de veias varicosas com grande sucesso. O paciente curou-se, as suas veias varicosas desapareceram, como todos os outros mistérios: gastrite, epistaxes, etc..... Não ficará admirado ao saber que este paciente depressivo agora é alegre e empreendedor, e a quantidade de cabelo preto dele justifica o seu legítimo orgulho.

O interrogatório homeopático inclui, como vê, regras para serem seguidas e uma técnica para ser observada.

Esta interrogação, feita de acordo com as sugestões dadas no começo deste livro, permitem ao homeopata individualizar cada caso depois de uma interrogação bem feita, uma pedra preciosa nos tijolos de um edifício terapêutico.

Os homeopatas têm que ter parcialidade ao influenciarem o paciente pelo qual ele vai extrair sintomas, relacionados com os remédios pelo qual ele pode pensar, e que vem à sua mente pela primeira resposta dada pelo paciente. “Ele tem uma chave para o paciente, que é, como Kent diz, pela droga, uma prática má e que nunca deve ser recorrida a não ser em último recurso e em pacientes estúpidos”. Assim, estamos no caminho errado que acabará somente em armadilha.

Quanto mais objectivos forem os sintomas, menos valor têm. Pelo contrário, quanto mais expressarem a vivacidade, a sensação, e o pensamento do ser humano, mais importante serão.

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Estabeleci um questionário realmente útil para o homeopata ocupado na sua prática diária, um questionário baseado na Doutrina pura da Homeopatia, tal como foi o meu objectivo ao longo deste livro. O meu esforço será mais do que uma grande recompensa e uma compensação se eu puder dizer que ajudarei muitos terapeutas a fazer um questionário que os levará ao remédio certo.

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