Contra a Banalização

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pena passar pelo período deadaptação e pelos riscos de con-trair alguma infecção, antes deiniciar o seu uso.”

Para ele, também é precisolevar em consideração outrosaspectos, como a disponibilida-de que o paciente terá para cui-dar das lentes — elas exigemmuito mais atenção em relaçãoà limpeza e à higiene que os ócu-los — e a facilidade de adapta-ção individual. De acordo comArruda, é comum receber pa-cientes que, por causa do usoindevido das lentes, desenvol-veram problemas oculares gra-ves, como úlceras na córnea,que podem levar à cegueira.

ConscientizaçãoO vice-presidente do Conse-

lho Federal de Medicina (CFM),Rafael Dias Marques Nogueira,defende a tese da limitação. Paraele, as pessoas têm de se cons-cientizar que utilizar lentes não éum procedimento banal. “As len-tes precisam ser adaptadas exclu-sivamente para os olhos que asutilizarão. Quando você as adqui-re pela internet, elas não têm essapersonalização. Queremos queas pessoas percebam que com-prar esse tipo de lente é tão peri-goso quanto comprar remédiosem receita médica”, afirma.

A pedagoga Maria Luci de Lima,

64 anos, sabe bem como a adapta-ção às lentes pode ser difícil. Elapossui alto grau de hipermetropia,e o uso de óculos é imprescindível.Há cerca de cinco anos, Maria ten-tou trocá-los pelas lentes de conta-to. O resultado foi desastroso.“Meus olhos ardiam o tempo todoe ficavam inchados e vermelhos.Era eu colocar a lente que começa-va a lacrimejar”, conta. “Pareciaque eu estava com um imenso cis-co no olho.”

Ela optou pelas lentes em bus-ca da comodidade, mas o resulta-do foi inverso. “Eu as procurei porachar que seria mais cômodo doque ter que carregar meus óculospara todos os lugares, mas foi

uma decepção.” Maria Luci de-sistiu de usá-las com medo deque algo pior pudesse acontecerà sua visão. “Preferi assumir oprejuízo financeiro e voltar aosvelhos óculos, a ter que insistirmais um pouco com as lentes.Comigo realmente não funcio-nou”, resume.

De acordo como oftalmologis-ta Paulo Augusto de Arruda, exis-tem algumas pessoas que real-mente não se adaptam a elas. Se-gundo ele, isso ocorre por umareação natural do organismo. “Is-so é bastante pessoal, tem pes-soas que apresentam uma reaçãoleve às lentes, e em poucos dias oorganismo já se acostumou com

seu uso. Em outros casos, essareação pode ser mais forte, che-gando a impossibilitar o uso.” Eleconta ainda que, mesmo comboa adaptação, nem todo mundopode utilizá-las. “Pessoas que te-nham problemas de lubrificaçãonos olhos, baixa imunidade ouqualquer outro problema que fa-cilite o desenvolvimento de in-fecções devem evitar o seu uso.”

Elas são contraindicadas, tam-bém, para pessoas que vivem emambientes com muita poeira e fu-maça ou que manipulam produ-tos químicos. Foi esse o caso doestudante de farmácia RayssonFarias, 21 anos. Ele nunca teveproblemas com as lentes até en-trar na universidade. No laborató-rio em que estudava, alguns pro-dutos químicos evaporaram e en-traram em contato com as lágri-mas. A combinação resultou emsubstâncias ácidas, que penetra-ram atrás da lente, causando for-tes dores no estudante.

O rapaz conta que, a princí-pio, não sabia o porquê da rea-ção. “Meu olho começou a ardermuito e a ficar muito vermelho,mesmo sem estarmos trabalhan-do com ácidos naquela hora. Foiaí que eu descobri que não po-deria usar mais lentes no labora-tório”, conta. Depois de limparos olhos com água, as dores pas-saram. “Por sorte, não aconteceunada grave, mas se eu não tives-se percebido rápido, eu poderiater causado algum dano mais sé-rio aos meus olhos”, completaRaysson, que desde então voltouaos óculos.

C M Y K C M YK

Saúde Editora: Ana Paula Macedo [email protected]

3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155

17 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, segunda-feira, 28 de setembro de 2009

www.correiobraziliense.com.br

Ouça entrevista com o presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia,

Paulo Augusto de Arruda

Contra a banalizaçãoConselho Federal de Medicina quer restringir venda de lentes de contato. Uso indiscriminado pode causar sérios problemas de saúde

Maria Luci teve problemas de adaptação às lentes e voltou a usar os óculos: “Meus olhos ardiam o tempo todo e ficavam inchados”

P ara corrigir problemasde visão ou mesmo porrazões estéticas, muitagente opta por substituir

os tradicionais óculos por lentesde contato. A ampla oferta facilitao uso dos dispositivos, encontra-dos em qualquer ótica ou até pelainternet. Médicos alertam, entre-tanto, que, mesmo aparente-mente inofensiva, a adoção delentes merece cautela. Se usadasde maneira incorreta, elas po-dem causar sérios problemas devisão, inclusive cegueira. Por essarazão, o Conselho Federal de Me-dicina (CFM) pretende proibir acomercialização de lentes pelainternet e restringir sua venda emóticas. Pela proposta do CFM, avenda de lentes poderia ser feitaapenas com receita médica, e suaadaptação ao paciente passaria aser um procedimento exclusivodo oftalmologista.

O presidente do ConselhoBrasileiro de Oftalmologia(CBO), Paulo Augusto de Arru-da, explica que a principal des-vantagem das lentes de contatoem relação aos óculos está nofato de elas dificultarem a oxige-nação dos olhos. “A superfíciedos nosso olhos precisa do oxi-gênio do ar. Quando colocamosuma barreira entre ela e o am-biente, estamos dificultando arespiração deles”, explica. Senão for controlada, com o pas-sar do tempo essa dificuldadede respiração pode gerar pro-blemas como perda de transpa-rência da córnea ou desenvolvi-mento de infecções.

Segundo o médico, antes deoptar pelas lentes de contato éimportante observar , com a aju-da de um oftalmologista, os be-nefícios que as lentes trarão. Co-mo todo tratamento, as lentesoferecem riscos, e é importanteavaliar a relação custo-benefí-cio. “É preciso pensar se vale a

Cadu Gomes/CB/D. A Press