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contr mão a 11 ANO 3-2010 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA JORNAL LABORÁTORIO DO CURSO DE JORNALISMO MULTIMÍDIA - UNA - ENTREVISTA EXCLUSIVA COM O JORNALISTA SEBASTIÃO NERY - SER CRIANÇA OU SER ADULTO? - NOS EMBALOS DAS TARDES DE SÁBADO - VOCÊ SABE O QUE ACONTECE COM A ÁGUA QUE USAMOS? - O LIXÃO DA SAVASSI

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- Entrevista com Sebastião Nery -Ser Criança ou ser adulto -Nos embalos das tardes de sábado -Você sabe o que acontece com a água que usamos -O lixão da Savassi

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contr mãoanº11

ANO 3-2010DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

JORNAL LABORÁTORIO DO CURSO DE JORNALISMO

MULTIMÍDIA - UNA

- ENTREVISTA EXCLUSIVA COM O JORNALISTA SEBASTIÃO NERY- SER CRIANÇA OU SER ADULTO?

- NOS EMBALOS DAS TARDES DE SÁBADO- VOCÊ SABE O QUE ACONTECE COM A ÁGUA QUE USAMOS?

- O LIXÃO DA SAVASSI

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Crítica de mídia

EXPEDIENTE CONTRAMÃO

Jornal laboratório do curso de Jornalismo Multimídia doInstituto de Comunicação e Artes - Centro Universitário UNA Reitor: Prof. Pe. Geraldo Magela TeixeiraVice-reitor: Átila SimõesDiretor do ICA: Prof. Silvério Otávio Marinho Bacelar DiasCoordenadora do curso de Jornalismo Multimídia: Profª Joana ZillerContramão - Tel: (31) 3224-2950 - contramao.una.brCoordenação: Reinaldo Maximiano (MTb 06489), Tatiana Carv-alho e Jorge RochaProjeto gráfico original: Bruno Martinez, Bruno Teodoro, Gui-lherme Brandão, Fabrício Costa e Renata CoutinhoDiagramação: Ana Paula P. SandimEstagiários: Ana Paula P. Sandim, Daniella lages, Danielle Pinheiro, Débora Gomes, Henrique Muzzi, Iara Fonseca, João Marcelo Siqueira, Matheus de Azevedo, Marcus Ramos Tiragem:2.000 exemplaresImpressão: Sempre Editora

Foto da capa

EditorialHá 20 anos, a extinta Rede Manchete exibia a novela Panta-

nal, de Benedito Ruy Barbosa, reconhecidamente, um marco da teledramaturgia brasileira. A trama revolucionou as técnicas de filmagens em locações e foi pioneira ao focar, no enredo central, a questão do meio ambiente e da exploração pecuária extensiva, que destrói a natureza.

No último capítulo, um plano aberto, mostrava o pantanal e os seguintes dizeres: “Homem é o único animal que cospe na água que bebe, o homem é o único animal que mata para não comer, o homem é o único animal que corta a árvore que lhe dá sombra e frutos. Por isso, está se condenando à morte”.

A água é o recurso mais raro que existe e o maior dilema dos centros urbanos e industriais que ao longo do século 20 des-pejaram seus rejeitos nos rios que os abastecem. Economizar e tratar a qualidade da água, hoje, é uma obrigação e seu uso sus-tentável, sem exageros, determinará o nosso futuro.

O destaque desta edição é a reportagem sobre a Estação de Tratamento de Esgoto do Ribeirão do Onça, um dos afluentes do Rio das Velhas, nossa principal fonte de água em BH. O objetivo é mostrar como se desenrola o processo de tratamento da água que consumimos e alertar para outra necessidade urgente: o que fazer com o nosso lixo? Tema para uma futura reportagem.

Edição Anterior

Luciana no País das maravilhas

A personagem Luciana, interpretada pela atriz Alinne Mo-raes em “Viver a vida”, é uma jovem rica e que, devido a um acidente, está, hoje, em uma cadeira de rodas. Na novela, Luciana é tratada, em hospitais particulares, pelos melhores profissionais do Rio de Janeiro e do exterior. Em casa, a personagem dispõe de um quarto adaptado para sua situação de cadeirante, um carro também adaptado com motorista, uma sala de fisioterapia, além de receber a assistência de enfermeiras e fisioterapeutas particu-lares.

Os recursos que garantem a comunidade de Luciana são pro-venientes de sua situação econômica privilegiada, na ficção, mas isso está longe de ser uma realidade em nosso país. Se analisar-mos, apenas, o aspecto financeiro, a personagem parece viver no “Brasil das maravilhas”. O “Brasil da vida real” tem, aproxima-damente, um milhão de cadeirantes e quase nenhuma estrutura para acolhê-los, garantir a sua cidadania e torná-los independen-tes.

No “País das maravilhas”, Luciana vive bem, apesar dos problemas de mobilidade reduzida e, partindo para uma análise pessoal (considerando que a vejo pelos meus olhos de pessoa dita “normal”, que anda sobre duas pernas), imagino que ela seja um símbolo de conquista (mesmo que no terreno fictício) e porta-voz das pessoas com problemas semelhantes aos dela, espalhadas por todo o “Brasil da vida real”.

Os diálogos travados com especialistas e outros deficien-tes, neste núcleo da novela, confirmam a capacidade de um ca-deirante ter vida sentimental e sexual ativa (um tabu), além de incentivar essas pessoas a se tornarem cidadãos defensores de seus direitos. Os depoimentos que encerram o capítulo do dia são exemplos reais de superações.

No entanto, a simpatia que o público sente por Luciana, co-move menos se nos dispusermos a enxergá-la pela perspectiva de uma pessoa cadeirante. Por exemplo: Como as pessoas que se deslocam vários quilômetros para fazer fisioterapia dependendo do transporte coletivo e esperam horas na fila de uma clínica do Sistema Único de Saúde (SUS) enxergam Luciana? Será que um pai ou mãe de família que foi aposentado por invalidez e ganha um salário mínimo, se identifica com ela? O que sentem os cadei-rantes que saíram pelas ruas de Brasília entregando notificações aos estabelecimentos que não se preocupam em garantir o acesso de cadeirantes e demais portadores de comprometimento físico quando vêem a Luciana? O que diriam Mariana e Willian, alunos que processaram as sua escolas para conseguir ter acesso à edu-cação? Como será que o cadeirante que processou o condomínio onde morava por proibi-lo de permanecer no hall do prédio, pois “dificultava” o acesso das outras pessoas, interpreta a Luciana?

Não posso responder essas perguntas. Entendo que os desa-fios são infindáveis para essas pessoas que precisam lutar para superá-los. Todas as suas conquistas, extensivas ao grupo ou mesmo individuais são marcadas do esforço para “viver a vida” neste nosso “democrático” país.

É fato que a existência da Luciana, na novela, promove uma discussão na sociedade em torno do assunto. Mas não se pode enxergar na mídia televisiva apenas aquilo que nossos olhos que-rem ver. É necessário um esforço para que deixarmos o “Brasil das maravilhas” ao término de cada capítulo da novela e enca-rarmos um país cheio de pessoas reais, com problemas reais. Pes-soas que precisam de uma colaboração efetiva ou apenas de uma palavra de apoio e incentivo. Que tal fazer uma visita àquela se-nhora cadeirante que mora ao final da rua?

Por Danielle Pinheiro

Foto| Ana Paula P. Sandim Lixão da Savassi Av. Cristovão Colombo.

O conteúdo desta crítica não expressa a opinião do Jornal Contramão

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grande documentação históri-ca e fatos concretos.

Jornal Contramão - Como você avalia o jornalismo de hoje com o jornalismo de antes, quando começou a exer-cer a profissão?

Sebastião Nery - O jor-nalismo mudou como o país mudou também. Antes nós tí-nhamos um país que era antes de Juscelino, um país rural e comercial. E então a impren-sa era uma imprensa parti-dária, cada partido tinha seu jornal. Depois você tem uma imprensa empresa: os jornais pertencem a grupos econômi-cos, que, em geral quase todos pertencem aos selos de bancos. A imprensa não é mais aque-la imprensa: nem a imprensa partidária de antes, nem também uma imprensa ide-ológica. Hoje é uma im-prensa finan-ceira. É uma imprensa que defende os projetos econômicos dos gru-pos que a sustentam. Então, você não pode ter mais Carlos Lacerda. Por que você não tem Carlos Lacerda? Porque Carlos Lacerda tinha projeto político da UDN. Hoje não há nenhum jornal que tenha um projeto político. O projeto político do jornal, ou é o projeto do atual governo ou contra este gover-no. Foi isso que mudou. A im-prensa deixou de ser imprensa pra ser empresa.

Tem umas vantagens: que tecnologicamente ela melho-rou, ela tem mais condições, chega mais ao povo, mas por outro lado, ela não é opinativa. Ela é muito menos opinativa do que já foi. E isso faz com que ela comece a perder a bri-ga com a internet, porque a in-ternet é para dar notícia seca,

a internet é para dar a notícia com, como ela diz, em tempo real, mas o jornal tem que dis-cutir o jornal que tem que dar opinião, tem que debater. Se o jornal quiser pensar e fazer no dia seguinte o que a internet fez na véspera, morrem todos. Então os jornais têm que opi-nar, discutir o país, participar, senão, agrava-se o que já está acontecendo. É que você chega em casa a noite, entra na inter-

net e lê a pri-meira página do Globo, lê a primeira página do Estado de Minas, lê a primeira pá-gina do Cor-reio Brasi-

liense e fica sabendo a noticia. Quando chega no outro dia, o jornal está dizendo a mesma coisa, aí não adianta comprar o jornal. Por isso que, a Folha vendia um milhão de exempla-res e também o Jornal do Bra-sil e também o Globo e o Dia, vendiam um milhão de exem-plares no Rio de Janeiro no fim de semana. Hoje nenhum deles vende mais que 300 mil no fim de semana, de sábado pra domingo. Por quê? Porque as pessoas já viram no jornal e na internet as notícias. Então é preciso que o jornal seja um instrumento de debate, de opi-nião, senão vai apanhar muito da internet. E a juventude que maneja a internet vai a cada dia lendo menos jornal. Porque ela acha:“Pô já tenho aqui na in-

Foto: Ana Paula P. Sandim

“A imprensa deixou de ser imprensa pra ser empresa”

Jornal Contramão - Como foi o processo de cons-trução do livro “A NUVEM”?

Sebastião Nery - Foi um processo que se complicou, exatamente pela história do livro. A documentação que eu tinha, ficou muita parte pra trás. Em 1954 fui candidato a vereador aqui em Belo Hori-zonte e fui preso, entraram na minha casa e levaram meus documentos. Vou para Bahia, e vem o golpe de 61, a renún-cia do Jânio, fui preso de novo, entraram na minha casa, carre-garam todos os meus papéis. Chega o golpe de 64, aí devas-tou: pararam um caminhão e carregaram todo o meu apar-tamento, até o papel higiênico, sabonete phebo, tudo. Tinha um Guingnard, com uma de-dicatória para mim, tinha um Vicente de Abreu, presentes de meus amigos, pinturas, car-regaram tudo. Quando eu fui escrever o livro é que eu per-cebi que havia perdido uma documentação grande. Então eu tentei recuperar.

Passei algumas tardes aqui na biblioteca na Praça da Liberdade, pegando a do-cumentação do tempo que eu morei aqui em Minas. Mas o problema é que eu morei na Bahia, em São Paulo, no Rio, e também morei em Portugal, na Espanha, em Paris, na Itá-lia, em Moscou (...) E como a vida era muito ampla e a docu-mentação que eu tinha era pe-quena, fui recuperando-a aos poucos, e quando consegui, trabalhei nisso seis meses. Sen-tei e escrevi o livro também em seis meses. Consegui uma boa documentação. Outra coisa é o tempo. Muitos amigos mortos, muitas testemunhas mortas e então eu procurava pessoas que não encontrava mais. Mas o livro pegou. E eu acho que eu consegui documentar e contar a história de 1950 até 2000 com

ternet pra que eu vou comprar o jornal na banca ou assinar o jornal ou ler o jornal?”

Jornal Contramão – O que você espera hoje com o relançamento do livro “A Nu-vem”?

Sebastião Nery - Eu não tenho nenhum medo da con-corrência da internet em cima do livro. Claro que tem uma vantagem; as editoras e os au-tores vão ter que fazer cada vez mais livros que a juventude leia porque aquela linguagem excessivamente acadêmica, excessivamente técnica, afasta milhões e milhões de leitores que se acostumaram a ler na internet mais superficialmen-te. Então o livro tem que dis-putar aí. As pessoas têm que perceber o que o livro é, além da notícia. Então esse livro que está aqui, conta uma his-tória. Tem 50 anos de história, então se você for botar isso na internet tem que ‘botar’ muito. Mas é preciso que as editoras façam livros assim como esse e é preciso que a internet não se banalize demais para não ficar tão banal e medíocre que pre-judique a formação da juven-tude. Você não pode encher a internet de Big Brother. Uma besteira atrás da outra, não pode isso também, porque isso é um crime cometido contra o futuro do país.

Por Ana Paula P . Sandim Débora Gomes

O jornalista político, Sebastião Nery, lança 2ª edição do liv-ro 'A Nuvem, o Que Ficou do Que Passou' sobre os 50 anos de história testemunhados pelo autor.

“O jornalismo muda como o país mudou”

Confira o vídeo da entrevista completa no site: contramao.una.br

Sebastião Nery no lançamento da 2ªed. do livro “A nuvem” na Academia Mineira de Letras -BH

ENTREVISTA

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Sempre achei tutorial uma coisa chata. Tudo bem, eles estão lá para te ensinar, mas dá vontade de aprender “fu-çando” em vez de ficar lendo

aquele “blá blá blá” todo. Porém, como eu tinha que fazer uma reportagem so-bre o assunto resolvi lê-lo para me informar e confesso que ele me surpreendeu bastante, foi o tutorial mais cômico que já li. Logo de início veio com a fra-se: “Se tivéssemos de plantar tudo que precisamos no nosso país sede, as cidades america-nas seriam um amontoado de merda (não que não sejam, mas...) A plantação de soja e a criação de gado precisam de um monte de espaço, e a Ama-zônia é o melhor lugar para isso” e ele seguiu com ironia e bom humor.

É com um M amarelo meio estranho, uma copia do M da McDonald’s, um Ronald com uma cara nada feliz, que o jogo on-line McDonald’s ga-mes se apresenta. No texto ini-cial do game eles afirmam ao jogador que ganhar dinheiro com uma empresa como essa não é tão fácil como parece. E dizem a frase:

bem irritada e a seguinte frase:

“Game Over! Seu des-graçado! Levou nossa empre-sa à falência! Anos e anos para criar uma tradição e foram destruídos por você.” O jogo traz essa sensação de poder de que você está cuidando mes-mo daquela empresa. E o ob-jetivo é não levá-la a falência e para que isso ocorra o jogador, que quer ganhar o game, faz o que está escrito no tutorial, destrói a Amazônia, enche os bois de porcarias, usa os Publi-citários para enganar e atrair o público, e os Relações Públicas para subornar os políticos, nu-tricionistas, agentes de saúde e ambientalistas. O interessante e que quando você clica nes-sas funções aparecem descri-ções. Os publicitários têm o programa para terceiro mun-do que, segundo a descrição, serve para ganhar a confiança da classe média. Lanches para atrair as crianças, já que elas não têm uma mente critica e aceita facilmente o produto. E ao clicar na função de enganar dos Relações Publica, embai-xo deles aparece a frase: “Sim, nós chamamos isso de Rela-ções Publicas”. O game, além de cômico, é uma forte crítica a empresa McDonald’s.

“Você vai descobrir

toda a sujeira debaixo do

tapete que faz de nós uma

das maiores empresas do

mundo”

Sobre a sede da empresa, o tutorial diz: O “McDonald’s não é uma rede de fast food, mas sim uma marca, um es-tilo de vida, um símbolo da superioridade da cultura ame-ricana.” Quanto ao restauran-te, você não deve deixar que os funcionários fiquem tris-tes, para que isso não aconte-ça você pode premia-los com medalhas de funcionário do mês, discipliná-los e, em úl-timo caso demiti-los. Fiquei imaginando como aqueles funcionários devem ser felizes tendo que trabalhar nos finais de semana, feriados e com tan-tas pessoas para atender. Sim. Porque ter sua foto pregada como melhor funcionário do mês é equivalente à di-versão do final de semana. Mas a melhor parte do tutorial está quando ele fala da granja explicando que você tem que cuidar dos bois para que eles não peguem a doença da vaca loca ai, vem a incrível frase:

“Sim, vaca louca também dá em boi”

Eu ainda me surpreendi mais com o game. Nos outros jogos, quando você perde, ge-ralmente se limitam ao game over. Nesse abre-se um qua-drado com o Ronald e alguns empresários com uma cara

No jogo, você tem que cui-dar de quatro espaços, o cam-po, a granja, o restaurante e a sede da empresa. No campo, o jogador planta os bois e a soja que vão para a granja e depois para o restaurante, local em que o jogador é responsável pelos funcionários, A sede é onde sabemos do rendimento da empresa.

Tem os empre-sários, típicos carecas de terno, os Publicitários meio malucos, com cabelos verdes, moicanos e os Relações Publicas, que como a descrição do jogo diz, “são responsáveis pordesmen-tir os críticos”.

O tutorial fala a respeito desses quatro espaços. Sobre a granja diz para empanturrar os bois com forragem hiper-calórica, afinal todo bom con-sumidor gosta de hambúrguer gorduroso. Para economizar, você pode adicionar porcarias a forragem, como exemplo, “a água de esgoto que não faz bem, mas é conveniente.” Devemos encher os bois de hormônio para que eles engor-dem mais rápido, o jogo ressal-ta que isso “pode trazer alguns riscos à saúde dos consumido-

res, mas quem liga?”

Ela é engraçada.

“Sim, vaca louca também dá em

boi”

Crônica de Natália OliveiraIlustrações Débora Gomes

O conteúdo desta crônica não expressa a opinião do Jornal Contramão

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CULTURA

Foto: Ana Paula Sandim

Luz, câmera, ação! Entra em cena o cinema independen-te mineiro e os personagens desta história são diretores, estudantes e produtores de curtas e longas-metragens de ficção e documentários. O con-ceito de cinema independen-te pode ser compreendido de duas formas. No geral, é carac-terizada como independente toda produção que é realizada com recursos próprios do dire-tor e sua equipe, sem financia-mento público. Porém, existem os filmes que são realizados com recursos de leis governa-mentais de incentivo, mas que não possuem nenhum suporte grande de divulgação e nem atores famosos no elenco. Os filmes não-comerciais, volta-dos para público específico e que fogem da estrutura narra-tiva convencional das grandes produções também são classi-ficados como independentes.

O cenário independente cresce e ganha cada vez mais espaço em Minas, mas isso não é suficiente. Muitos per-sonagens dessa história pre-cisam encontrar outras fontes de renda, tendo assim, menos tempo para dedicar e colocar todas suas energias nas pro-duções. Grande parte do di-nheiro público destinado ao cinema se concentra no eixo Rio/ São Paulo. Depois desses dois estados, Minas é o que tem mais curtas circulando em festivais no país. “Não dá para ter o nível de profissionalismo e dedicação integral que seria certo ter. Em outros lugares do mundo existem propostas de financiamento e bolsas que fa-zem com que um cineasta pos-

sa trabalhar só com cinema.” diz o cineasta Sérgio Borges, 35, ressaltando a deficiência do apoio brasileiro ao audiovi-sual.

Apesar das dificuldades, os produtores independentes conseguem desenvolver óti-mos trabalhos. Borges é só-cio da produtora audiovisual Teia, em Belo Horizonte. Com várias premiações em festivais, o seu curta “Perto de Casa” foi produzido sem nenhum cus-to: apenas uma câmera acom-panhando as brincadeiras de duas crianças no quintal de casa.

A Teia teve vários projetos aprovados em editais de leis de incentivo e muitos filmes rea-lizados participaram de festi-vais nacionais e internacionais, recebendo algumas premia-ções. “Se for pensar pelos pro-jetos aprovados pela lei, a Teia não é uma produtora indepen-dente. Mas se for considerar

Diretores, produtores e estudantes de cinema revelam suas experiências e expectativas

Cinema Mineiro em Cena

Por Débora Gomes

Os atores Iel e Ravi Queiroz - Foto Divulgação do filme “Perto de Casa” do cineasta Sérgio Borges

roteiro, divulgação e formato de produção, ela é super inde-pendente.” diz Borges. Com personagens reais, a maioria das produções apresenta ao público realidades de diversas partes do mundo, pensando sempre nos conceitos artísti-cos, sem se preocupar em atin-gir o grande público, mas sim em cumprir o papel de trazer à cena novas experiências de se fazer cinema no Brasil.

FestivaisNo cenário independente,

há espaço, também, para os es-tudantes de Cinema. Maurílio Martins, 33, André Novaes, 25, e Gabriel Martins Alves, 22, montaram a produtora “Fil-mes de Plástico” em 2009. O passo decisivo para a produ-tora foi o curta “Descriação”, selecionado para o Festival de Cinema Universitário de Curitiba. O filme produzido com recursos próprios e equi-pamentos do Centro Universi-

tário UNA, foi o gancho para novas produções como “Fil-me de Sábado”, dirigido por Gabriel Martins, selecionado e premiado na categoria ‘Pes-quisa de Linguagem’ no 14º Festival Brasileiro de Cinema Universitário (FBCU), no Rio de Janeiro.

O curta-metragem “Fan-tasmas”, produzido pelo trio de jovens cineastas, foi sele-cionado em janeiro de 2010, no Festival de Cinema de Ti-radentes (MG), ficando entre os seis finalistas para o prêmio Júri Popular. “A repercussão foi tão grande que até hoje nos assustamos com as críticas. Um projeto tão particular, feito para nós três, atingiu o público de uma maneira que a gente nem imaginava”, revela Mau-rílio Martins, “esse reconhe-cimento validou ainda mais a produtora”, avalia. ‘Fantas-mas’ foi selecionado para o 3° Iguacine (Festival de Cinema de Nova Iguaçu) e para a mos-tra competitiva da “10ª Mostra do Filme Livre”, ambos no Rio de Janeiro, entre março e abril.

Para 2010, o grupo da Filmes de Plástico planeja a finalização de três curtas-metragens e as filmagens do primeiro longa estão progra-madas para o ano que vem. “Por ser o primeiro longa da produtora, optamos pela dire-ção coletiva. Vai ser um filme completamente independente, sem leis de incentivo. Vamos rodar com pouco dinheiro ou quase nenhum”, planeja Mau-rílio Martins.

Divulgação

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“Mas você deveria ter medo de mim, não é Hele-na?!”, diz Rafaela, persona-gem da atriz Klara Castanho, na novela “Viver a vida”, da Rede Globo de Televisão. De acordo com a sinopse redigida pelo novelista, Manoel Carlos, Rafaela é uma criança de, apro-ximadamente, oito anos que age e fala como uma adulta. Sempre com uma resposta na ponta da língua, deixa a mãe, Dora (Giovanna Antonelli), de “cabelo em pé” com os co-mentários da adulta precoce. Quando em determinadas si-tuações, a personagem se de-para com um segredo; Rafaela não hesita em armar um ardil, ela não conhece limites.

A personagem da nove-la, assim como muitas outras crianças no mundo, pensa já ser adulta, talvez pela liberda-de que lhe é dada ou pela pró-pria personalidade. Nos dias de hoje, crianças e adolescen-tes antecipam o modo de agir e de se portar como um adulto em diferentes modalidades do comportamento. As meninas escovam os cabelos, pintam as unhas, usam salto alto e os me-ninos já se sentem livres para saírem sozinhos e acessarem os conteúdos diversos da in-ternet sem vigília dos pais.

A estudante Luiza Fan-toni, 12, não gosta de ser con-siderada uma criança ou uma pré-adolescente. Luiza está na 7ª série do ensino fundamen-tal, cursa inglês, pratica vôlei e, nas horas vagas, gosta de navegar pela internet. Sempre

de cabelos escovados, unhas feitas e de maquiagem, Luiza reconhece o dilema que vive: “Apesar de ser mais evoluída, em alguns momentos eu ajo como uma criança”.

A mãe de Luiza, Lêda Soa-res, 43, se assusta com o desen-volvimento da filha e acredita que a juventude de hoje per-de a essência da infância aos 10 anos idade e não possuem maturidade suficiente para re-solver determinadas situações. “A Luiza, por exemplo, quer um cavalo de presente de ani-versário, mas na mesma hora, já quer outra coisa como uma

viagem à Disney. Ela pen-sa que é só querer, que tudo acontece, isto que é difícil ex-plicar”, desabafa.

Já Ana Carolina Silva,15, diz já ser adulta e fica brava quando alguém a chama de criança. Estudante do 1° ano do ensino médio, Ana Caro-lina cursa espanhol durante a semana e adora editar suas fotos no computador. Assim como Luiza, Ana Carolina anda bem arrumada, calça sapatos de salto alto, pinta as unhas e não sai de casa sem es-covar os cabelos e se maquiar. “Deixei a infância aos 9 anos de idade e sou mais madura que as minhas amigas de esco-la”, afirma.

Marilda Silva, 41, mãe de Ana Carolina, considera o comportamento da filha nor-mal, mas, no entanto, afirma que a filha ficou devendo bas-tante à infância devido à influ-ência das amigas mais velhas. “Ela é madura além da idade e para contornar a situação, eu imponho limites, mas, sem re-primir”, explica.

Limites

Segundo a psicóloga Re-nata Borges, os adolescentes, hoje, mudam o estilo, a apa-rência e o modo de agir, não só por influência dos amigos,

dos parentes e dos próprios pais, mas por questão de cul-tura. “Algumas atitudes como abandonar os brinquedos in-fantis e brincadeiras de crian-ça, deixaram de acontecer na-turalmente e passaram a fazer parte da cultura das jovens adolescentes “, explica.

As garotas mudam o modo de agir e vestir para se-rem aceitas por determinados grupos. Vivem de aparência, se espelham em outras pesso-as, em novelas e filmes. “Mui-tas vezes, os pais são responsá-veis pela mudança dos filhos, acham bonito, fofo e agradável as filhas se arrumarem, usarem maquiagem, esmaltes, roupas menos infantis. Eles reforçam

essas ideias às filhas”, avalia a psicóloga. Se os garotos e as garotas não se adaptarem ao comportamento dos outros, eles são tratados como bobos pelo grupo.

Sobre a relação dos filhos com os pais neste processo de mudança, Renata Borges acon-selha aos pais por limites nos filhos como forma de educar. “Uma vez que o limite não é colocado, é quase que impos-sível conseguir o respeito dos filhos mais tarde”, explica. De acordo com a psicóloga, é necessário, ainda, que os pais apontem quando o comporta-mento está excedendo os limi-tes e conversar com os filhos explicando quando o compor-tamento deles se adéqua ao de uma adulto ou ao de uma criança. “Em determinados momentos, grande parte dos adolescentes ficam perdidos quando os pais falam que são grandes pra uma coisa e pe-queno para outras, mas não explicam o por quê,” explica a psicóloga.

“Uma vez que o limite não é coloca-do, é quase que impossível conseguir o respeito dos filhos mais tarde”

Ser criança ou ser adulto? Jovens tentam “queimar” etapa para se tornarem adultos o quanto antes. Psicóloga aconselha

aos pais estabelecer limites

Andressa dos Santos Silva - 5° P Thaline Rachel Oliveira. De Araújo - 5° P

Lais Cristina Sena – 5° P Natalie Boscato – 3° P

Jornalismo

Foto| João Marcelo Siqueira

Foto|Ana Paula P. Sandim

COMPORTAMENTO

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Por Iara Fonseca

SAÚDE

Foto: Iara Fonseca

Ração Humana pode ter fatores anti-nutricionais e causar fragilidade no organismo

A dieta da vez pode apresentar riscos

Composta por fibra de tri-go, leite de soja em pó, linha-ça marrom, açúcar mascavo, aveia em flocos, gergelim com casca, gérmen de trigo, gela-tina sem sabor, guaraná em pó, levedo de cerveja e cacau em pó, a Ração Humana vem atraindo atenção dos brasi-leiros interessados em perder peso de forma rápida. O mix natural promete afinar a si-lhueta e auxiliar a regulariza-ção do trânsito intestinal.

Mas, de acordo com a nu-tricionista Daniela Amaral, a Ração Humana tem desvan-tagens. “A nutrição tem como adversário o modismo, as pes-soas procuram uma opção mi-lagrosa. Querem perder aque-les dez quilos que ganharam em um ano, em um mês, por isso a Ração Humana ganhou força no mercado”, explica. “Os indivíduos querem uma alternativa fácil, viável, que não exija mudanças em sua ro-tina. Mas isso nem sempre é a solução”, alerta.

Problemas

Segundo a nutricionista, o modismo que facilita a criação de “fabriquetas de fundo de quintal”. “Pessoas sem capa-citação necessária, produzin-do tal alimento de acordo com receitas de internet, sem a mí-nima garantia de higiene”, ad-verte. “O produto é vendido a granel, com possibilidades de má manipulação podendo ge-rar contaminação e, também,

correndo o risco de serem adi-cionados ingredientes que não constam no rótulo do produ-to”, alerta.

Aliado a isso, de acordo com a especialista, a mistura de muitos ingredientes podem provocar reações adversas. “A ingestão de fibras é interessan-te, mas, em excesso, pode re-duzir outros nutrientes, o que compromete a saúde”, explica Daniela Amaral. “A modifi-cação no cardápio alimentar, com refeições não habituais, faz com que as pessoas não si-gam a dieta por muito tempo e, assim, ao invés de perder, ganha os quilinhos que ha-

viam perdido”, enfatiza.Reeducação

O gosto amargo da Ração Humana fez a engenheira, Ma-ria Estela Faria Daibert, 38, in-terromper a dieta. “A ração hu-mana, misturada com iogurte, frutas traz saciedade, minha idéia inicial era tomar a fór-mula duas vezes ao dia, pela manhã e a noite, mas apenas consegui consumir o mix pela manhã”, relata. Maria Estela passou por sucessivas dietas, mas só obteve êxito quando recorreu ao acompanhamento médico e ao programa de re-

educação alimentar nos Vigi-lantes do Peso. ‘‘Estou ciente dos meus limites. Eu como de tudo, mas sem exageros”, ga-rante.

O representante comer-cial, Sebastião, 54, considera o uso da Ração Humana, aliada a exercícios físicos, um suces-so. Depois de 2 meses, ele con-seguiu perder seis quilos. “In-geria a ração com frutas, pela manhã, caminhava e controla-va a alimentação”, explica. “A única coisa que não consegui eliminar foi a cervejinha do fim de semana”, brinca.

Em entrevista para o jor-nal Contramão, João Carlos, preparador físico destacou a necessidade da união entre pratica de exercício físico e boa alimentação. “A alimentação ideal está ligada a necessidade de cada individuo, acompa-nhado de um preparador físi-co e nutricionista, que avaliam a melhor dieta para o indivi-duo chegar ao peso ideal”.

“Minha dica é procurar orientação médica, e seguir um plano alimentar. O profis-sional irá observar a melhor dieta e atividade física. Com o preparador físico, seguindo um plano alimentar, buscando balanceamento calórico e tam-bém associado a treino especi-fico.”

Deste modo, o ideal é fu-gir das formulas mágicas que prometam milagres e recorrer ao processo que cuide da esté-tica e ainda da saúde.

“Não vejo resultados em meus colegas. Eu sou praticante de atividades físicas, há 6 anos, com isso tenho mais ânimo e mantenho a saúde”. (Antônio Drummond, 56, conhece pessoas que usam o mix de cereais, mas alega não sentir a necessidade in-cluir o produto na dieta)

“Não utilizo essas fórmulas para auxiliar o emagreci-mento, mas já ouvi falar da Ração Humana. A mãe do meu filho usa, porém não sei dizer se é bom ou ruim. Ela consome, mas não faz exercícios. Acredito que não seja um composto milagroso”. (Guilherme de Morais, 27, praticante de exercícios físi-cos intensivos, há 6 meses).

“Depois que iniciei a prática de exercícios físicos minha coluna melhorou, sentia muitas dores”. (Iara Silva, moradora da Savassi, pratica caminha-das matutinas, na Praça da Liberdade, e, para auxiliar o emagrecimento, faz exercícios numa academia duas vezes por semana).

Opinião

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Você sabe o que acontece com toda água que usamos?

A água usada em nossas casas para lavar roupas, louças, tomar ba-nho, ou, simplesmente, dar a descarga no vaso sanitá-rio, tem um destino certo. A água que consumimos, e também a que é utilizada pela indústria, pelo comér-cio e por outras atividades cotidianas em nossas cida-des, desce pela rede coleto-ra da COPASA até chegar às Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) mais pró-ximas.

Esse é o processo pa-drão – a água, e tudo o que desce com ela – é tratada e, depois retorna para a rede hidrográfica.

Mas não é isso o que tem ocorrido na Região Metropolitana de BH. As ETEs recebem muito lixo dos esgotos e muita água das chuvas.

O crescimento popula-cional e a transformação do meio urbano são grandes responsáveis pelos proble-mas graves de saneamento enfrentados nas cidades.

De acordo com o Su-perintendente de Serviços e Efluentes da COPASA, Eugênio Álvares de Lima, o fato vem ocorrendo pela falta de informação. A po-pulação por desconhecer o real prejuízo, acha mais fácil jogar o lixo na rede de esgoto. Álvares conta que “diariamente, são re-tiradas cerca de 70 tonela-das de lixo só na ETE–AR-RUDAS, 30 toneladas na ETE ONÇA e o gasto com transporte desse lixo pode chegar a 800 mil reais, por ano para levar aos aterros sanitários”.

E para piorar esse ce-

Região Metropolitana tem 97% do esgoto coletado e tratado, mesmo assim muito lixo ainda vai parar nos esgotos Por Daniella Lages

nário, cerca de 2,5% da po-pulação da Região Metro-politana de Belo Horizonte (RMBH) ainda não possui o esgoto coletado e este, en-tão, é jogado, diretamente na natureza, causando po-luição, enchentes, provo-cando doenças e infecções à população ribeirinha.

A Bacia do Rio das Ve-lhas é o maior afluente, em extensão, do Rio São Fran-cisco, e recebe todo esgoto da RMBH. Prati- camen-te não existia v i d a nas águas d o Rio das Velhas n e s s a r e g i ã o , o que fez com que o rio fosse considerado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Es-tatística (IBGE) como o terceiro rio mais poluído do país, perdendo apenas para o Tietê, em São Paulo e para o Igua-çu, em Curitiba.

Pensando na importân-cia ambiental e histórica deste rio, em 1997, foi cria-do o projeto Manuelzão. Idealizado pelo médico e professor da UFMG Apolo Heringer Lisboa e outros membros da instituição, o projeto tem como obje-tivo trazer a Bacia do Rio das Velhas de volta à vida. Foram realizadas ações de mobilização da opinião pública e envolvimento das populações que vivem próximas ao rio. O projeto ganhou o apoio do Gover-no de Minas e de empresas que atuam na área da bacia

e, este ano de 2010 come-çou a ver resultados.

A união desses esfor-ços tornou possível o es-tabelecimento da ambicio-sa “Meta 2010: navegar, pescar e nadar no Rio das Velhas”. O objetivo é me-lhorar a qualidade da água possibilitando atividades destinadas ao abastecimen-to doméstico, irrigação de hortaliças e plantas frutífe-ras, além da criação de pei-xes. Para isso é necessária a eliminação total do esgoto e do lixo lançados diaria-mente no rio.

O presidente do Co-mitê do Rio das Velhas

e coordenador do Projeto

M a -

n u e l -zão, o engenheiro civil Ro-gério Sepulveda, explica a importância da população colaborar com a despolui-ção “O mais importante, são as atitudes coletivas da população de cobrar, incentivar e acompanhar o processo de revitaliza-ção do rio”. Mas você sabe o que nós cidadãos pode-mos fazer para ajudar ?

O que podemos fazer?

Segundo Eugênio Ál-

vares, três processos en-carecem muito o sistema, manutenção e gestão do tratamento sanitário. “A primeira delas são as águas pluviais que são jogadas, indevidamente, no siste-ma de esgoto”, explica. “A rede da COPASA não está preparada para receber as águas de chuva, por isso quando chove, muitos buei-ros transbordam. A chuva aumenta em mil ve-zes a vazão da á g u a

n a rede de

e s g o t o ” , conclui. Esta

água deveria ir para as galerias plu-

viais da COPASA, ou como outra alternativa, a mais inovadora segundo Rogé-rio Sepulveda, seria nós mesmos armazenarmos esta água para reutilização em nossas casas.

Outro problema apon-tado por Álvares é a areia que fica na rua, provenien-te das construções civis. “É muito nociva essa areia, pois, quando chove, ela desce e vai parar nas ETEs. Temos muito trabalho para separar e retirar essa areia

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Você sabe o que acontece com toda água que usamos?

Região Metropolitana tem 97% do esgoto coletado e tratado, mesmo assim muito lixo ainda vai parar nos esgotos

COMO FUNCIONA A COLETA DE ESGOTO E O TRATAMENTO DA ÁGUA

Belo Horizonte, hoje, é a única capital do Bra-sil a tratar o esgoto de forma secundária. No tratamento primário, 70% dos resíduos são retirados, já no secundário, pode-se retirar até 96% da sujeira da água. Toda água que usa-mos vai para a rede de coleta da COPASA. Essa rede leva a água para as ETEs onde começa a limpeza. Entenda como no infográfico. Confira o inforgráfico completo no site: contramao.una.br

Infográfico:

A – Tratamento PreliminarB – Emissário de concreto ArmadoC – Decantador PrimárioD – Reator BiológicoE – Decantador SecundárioF – Elevatória de Retorno de LodoG – Elevatória do lodo Secundário Excedente H – Prédio dos SopradoresI – Adensadores por gravidadeJ – Digestores AnaeróbicosK – Desidratação mecânicaL – Queimador de GásM – Aterro de resíduos do Tratamento Pre-liminarN – Aterro do lodo DesidratadoO – Subestação Elétrica AbaixadoraP – Prédios administrativos: Laboratório, Re-feitório e Oficina

Infográfico | ww

w.copasa.com

.br

da água” explica Álvares. O terceiro problema e

o mais conhecido é o lixo, que além de prejudicar as redes, dificulta o trata-mento. Entre os diversos elementos prejudiciais, um dos maiores vilões e o óleo de cozinha. Esse óleo tem a densidade maior que a da água e quando chega à ETE forma uma espuma no tan-

que decantador.

N e s s e tanque existem colônias de bactérias que limpam a água. A espuma formada pelo óleo mata essas colô-nias, que demoram a se re-constituir, chega a atrasar em até 60 dias o recomeço do tratamento. “Além de prejudicar as redes cole-toras. O óleo entope as re-des da mesma forma que o colesterol entope nossas veias”, ressalta Eugênio. Além do óleo, outros de-tritos que precem insigni-ficantes individualmente, também causam grandes danos: “aquela guimba de cigarro que o seu ami-go joga na rua, nós temos que ir lá e recolher esse lixo da água”, explica. Isso sem contar os objetos mais inesperados que caem nas redes coletoras. Um espa-

ço dentro da ETE Arrudas expõe estes objetos que vão de calça jeans, colchões, sofás, e utensílios domésti-cos.

E a meta do projeto Manuelzão?

Além de chamar a aten-ção para o problema da qua-lidade da água do rio das Velhas, a iniciativa já é um sucesso. E o coordenador Rogério Sepúlveda ressalta que o projeto não acaba em 2010. “Já recuperamos 60% do rio, falta muito, mas continuaremos a trabalhar até termos o rio limpo de novo” afirma. Depois de 13 anos, desde as primeiras ações do projeto Manuel-zão, finalmente foi consta-tada a presença de peixes

c o m o o dourado, su-

rubim e matrinxãs de volta ao Rio das Velhas; peixes que antes eram ti-dos como extintos devido à poluição. “Estamos mui-to perto de termos de vol-ta o rio cheio de vida, para isso, precisamos muito da colaboração da popula-ção”, salienta Sepulveda. Eugênio Álvares concorda com Sepulveda nesse sentido e ainda re-força: “hoje já temos pei-xes nadando em Sabará e a população não dá va-lor a isso. Existe também uma deficiência dos órgãos públicos de fazer agre-gar valores junto a CO-PASA” conclui Álvares. Colaborar com o meio ambiente é uma forma de termos qualidade de vida e o planeta agradece, por

isso, temos s e m p r e

que pen-sar antes

de jogar um papelzinho de

bala, uma guim-ba de cigarro, ou

qualquer outro tipo de lixo na rua.

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Sábado, começo da tar-de, em Belo Horizonte. Uma caminhada pela região central da cidade é interrompida por vocais poderosos de James Brown:

“Whoa-oa-oa! I feel good, I knew that I would,now/ I feel good, I knew that I would, now/ So good, so good, I got you”.

A Black Music invade o cruzamento das ruas Goitaca-zes e São Paulo, no centrão, há cinco anos, reunindo os aman-tes deste estilo musical de am-bos os sexos, das mais variadas idades, classes sociais e estilos.

Caravan 86

Tudo começou de forma inusitada. Valdeci Cândido, o Abelha, comprou CD músicas dos anos 70, do lavador de car-ros Geraldo dos Santos que tra-balhava na rua dos Goitacazes, há 35 anos, e o testou no som do carro, uma Caravan ano 86. Abelha abriu a porta traseira e

deixou a música ressoar pelo quarteirão. Em pouco tem-po, as pessoas que passavam por ali começaram a dançar. Dentre esses pessoas, estava Ronaldo Black, um dançarino de Soul Music, que exibiu o seu swing profissional. Desde então, o local passou a ser o Quarteirão do Soul, o nome foi dado por Geraldo e assim ficou.

Embalos

Hoje, Abelha e Geraldo se revezam no comando da fes-ta. Sobre uma mesa comum, Geraldo coloca as suas pick-ups e, empilhados, uma pe-quena amostra de um acervo de quase dois mil long-plays, os famosos LPs ou bolachões. Quando é o Abelha quem as-sume o posto de mestre de ce-rimônia, a atração passa a ser a veterana Caravan 86.

Com essa aparelhagem improvisada os maiores clás-sicos da black music são re-vividos, por horas a fio, nos embalos das tardes de sábado.

Os hits de James Brown estão no topo das mais pedidas. Ra-pidamente, o quarteirão vai ficando lotado. Pessoas que moram em bairros distantes, na Região Metropolina de BH, comparecem à festa para fazer uma única coisa: dançar. Pe-destres e curiosos se divertem ao ver este desfile de alegria e estilo.

Movimento

O Mr Black é uma per-sonagem fácil de ser reconhe-cida, sempre vestido à caráter ele é frequentador assíduo do Quarteirão do Soul. “Este en-contro é muito importante, porque traz um momento de distração para o corre-corre do dia a dia. Muitas pessoas se vestem o blazer, usam cha-péu e sapatos de várias cores e preparam coreografias para se apresentarem na rua”, revela, “aparecem aqui, pessoas que trabalham em locais próximos ao quarteirão, moradores de rua e, até mesmo, as famílias dos dançarinos”, informa.

A comerciante Helena Soares, 50 anos, presenciou pela primeira vez a festa do Quarteirão. “Estou impressio-nada com o que vejo. É tanta beleza, tanta alegria, que me lembra o tempo em que eu e o meu falecido marido íamos a festas black”, conta. A comer-ciante relembra as medalhas e os troféus que ela e o mari-do ganharam na antiga boate Orion, dedicada ao gênero e que, hoje, só existe na memó-ria.

Além do “Quarteirão do Soul”, há outros eventos de Black Music que o grupo organiza, como, por exemplo, o Baile da Saudade, em Venda Nova. Hoje, já se tornou um movimento mais consistente e organizado e é referência des-se estilo musical na região: co-memoram os aniversários do mês, fazem excursões levando o Quarteirão do Soul para ci-dades do interior do Estado.

Nos embalos das tardes de sábadoHá cinco anos, os amantes da Soul e da Black Music invadem o quarteirão da Goitacazes com São Paulo, no

centro de BH. Saiba como tudo começou

JAMES BROWN (1893-2006)

Mais conhecido como Mr Dinamite, o “padrinho do soul”, iniciou a carreira nos anos 1950, com o lançamen-to do álbum Try Me. Durante a década de 60, Brown lançou canções como “Papa’s Got a Brand New Bag”, “I Got You (I Feel Good)”, “Get Up (I Feel Like Being a Sex Machine)” e “I’m Black and I’m Proud”. Abandonado aos quatro anos por seus pais e deixado aos cuidados de parentes e amigos, James Joseph Brown Jr. cresceu nas ruas de Augusta (Geórgia), onde cantava e dançava para pagar por sua vaga no quarto de um bordel. James Brown além de cantor, era, também, compositor e produtor musical ficou conhecido como uma das figuras mais influentes do século XX, no cenário musical. Sua imagem chegou a ser registrada em alguns filmes, dentre eles “Os irmãos cara de pau”, do diretor John Landis.

Assista ao trailler do filme “Os irmãos cara de pau” (BLUES BROTHERS, 1980) no site do contramão: http://contramao.una.br

Por Natalie Boscato

Montagem

realizada a partir de foto divulgação Foto divulgação

MÚSICA

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A Praça Diogo de Vas-concelos, a popular Praça da Savassi, está localizada na confluência das avenidas Cris-tóvão Colombo e Getúlio Var-gas, e das ruas Pernambuco e Antônio de Albuquerque. O lugar é conhecido como sendo o coração da Savassi e é ponto de encontro de diferentes ge-rações e tribos urbanas. Atu-almente, a praça também é o “ninho” de procriação de ra-tos, baratas, moscas e demais insetos devido à quantidade de lixo que é despejada ali to-dos os dias por lojistas, pelos moradores e por pessoas que passam ali todos os dias.

Moradores e freqüentado-res da região reclamam da su-jeira do lugar e do incômodo causado pelo mau cheiro da praça do “lixão” que se forma ali. A estudante Ana Carolina, 17, acredita que o trabalho de-sempenhando pela Superin-tendência de Limpeza Urbana é insuficiente para a demanda

de lixo. “Há poucas lixeiras para coleta seletiva”, enfati-za. Já a empresária Mercedes Ferreira, reclama do aumento crescente de insetos e de ratos. “Em período de chuva, é co-mum o alagamento das ruas, pois o lixo acumulado entope os bueiros”, acrescenta.

O analista de meio am-biente, Carlos Geraldo Vieira, 50, explica que a praça pas-sou a oferecer as condições de sobrevivência e proliferação dessas pestes urbanas devido à falta de coleta seletiva dos resíduos orgânicos e dos de-mais resíduos. “Isto favorece a reprodução dos roedores, pois disponibiliza para a ninhada uma fonte de alimentação”, e continua, “a segregação do

lixo por meio da coleta seletiva minimizaria a disponibilidade da fonte de alimento, contri-buindo para reduzir o número dos indivíduos de uma popu-lação de ratos”, ensina.

Superintendência de Limpeza Urbana

O gerente de limpeza urba-na (SLU), da regional centro-sul, Denilson Pereira de Frei-tas, explica que, diariamente, são retirados de 40 a 50 tone-ladas de lixo em toda a região da Savassi. “A varrição é feita de domingo a domingo duas vezes por dia de 7h às 16h e, no período da noite, das 22h às 6h, além da coleta diária que

O acúmulo de lixo e dejetos no coração da Savassi causa transtornos para a população e mau cheiro.Especialista orienta sobre a necessidade da coleta seletiva

O lixão da SavassiCIDADE

ocorre às 20h”, informa.De acordo com Freitas,

os lojistas dificultam o traba-lho da SLU pois deixam o lixo exposto durante todo o dia em horários diferentes dos da varrição. Além dos mendigos e catadores de papel que, de acordo com o gerente, “espa-lham sujeira além de jogar lixo fora dos devidos lugares”. A SLU mantém 120 lixeiras na região, que são esvaziadas, to-dos os dias, durante a varrição. Denilson Freitas explica que a superintendência também promove campanhas de mo-bilização e conscientização da população por meio de teatros nas ruas, frases colocadas nas lixeiras e propagandas educa-tivas na televisão.

Para a vendedora Claudia Cristina, a responsabilidade pela sujeira deve ser estendi-da ao próprio cidadão que não cuida do patrimônio e joga re-síduos pelas ruas.

Fotos|Ana Paula P. Sandim

Por Henrique Muzzi

As cenas acima se repetem em outros pontos da cidade, confira nossas matérias e galerias relaciona-das ao assunto no site: contramao.una.br

Fotos|Ana Paula P. Sandim

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Conheça as caras do

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O Contramão On-line foi premiado como o melhor site produzido por um curso de Jornalismo da Região Sudeste. Concorrendo com repre-sentantes de MG, RJ, SP e ES, conquistamos o EXPOCOM 2010 Sudeste na categoria site jornalístico, mostrando, assim, a qualidade dos mate-riais produzidos pelos alunos de Jornalismo Multimídia, do Instituto de Comunicação e Artes (ICA) do Centro Universitário UNA.

O site foi apresentado pela ex-estagiária, Natália de Oliveira, no even-to realizado na Universidade Federal do Espírito Santo. O EXPOCOM é promovido pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) e, anualmente, premia os melhores trabalhos experimentais realizados por alunos de graduação.

É uma grande vitória para o curso e para o Contramão On-Line que tem apenas um ano de existência. O trabalho do site segue a linha do projeto pedagógico do curso, dando ênfase a uma articulação teórica e prática em Jornalismo Multimídia. Com a aposta na cobertura diária hiperlocal e convergente, indica rumos para o próprio mercado de jor-nalismo, em Minas Gerais.

No mês de setembro, o Contramão Online irá concorrer, também, à premiação nacional, no congresso da Intercom, em Caxias do Sul (RS). Para essa etapa, contamos com a torcida de todos os alunos, professo-res e, principalmente, a comunidade hiperlocal. Continuem acessando nosso site contramão.una.br!

Contramão On-line vence Expocom