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1 Wi UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” CONTRIBUIÇÃO DOS JOGOS PARA O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR EM CRIANÇAS DE UM A TRÊS ANOS DE IDADE RENATA CARDOSO PIRES ORIENTADORA: PROFª. GENI LIMA RIO DE JANEIRO 2009

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Wi

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

CONTRIBUIÇÃO DOS JOGOS PARA O PROCESSO DE

DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR EM CRIANÇAS

DE UM A TRÊS ANOS DE IDADE

RENATA CARDOSO PIRES

ORIENTADORA: PROFª. GENI LIMA

RIO DE JANEIRO 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

Apresentação de monografia ao Conjunto Universitário Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Psicomotricidade.

RIO DE JANEIRO 2009

CONTRIBUIÇÃO DOS JOGOS PARA O PROCESSO DE

DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR EM CRIANÇAS

DE UM A TRÊS ANOS DE IDADE

RENATA CARDOSO PIRES

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, aos meus pais, namorado e amigos pela cooperação, amor e confiança em mim depositados. Á mestra Geni Lima pela compreensão e carinho. Aos meus sobrinhos pelos momentos felizes que me proporcionaram.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia aos meus pais e a todos que me ajudaram direta ou indiretamente para a elaboração desta pesquisa.

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RESUMO

O estudo tem por objetivo demonstrar a importância dos

jogos/brincadeiras no ambiente escolar, abordando questões relacionadas ao

processo de construção do conhecimento e conseqüentemente de

desenvolvimento infantil.

Bem como conscientizar professores de educação infantil sobre a

contribuição que os jogos, as brincadeiras e os brinquedos exercem para o

desenvolvimento Psicomotor da criança. Apresentando assim, um breve

histórico dos diferentes tipos de brinquedos e brincadeiras infantis e sua

relevância na educação. Bem como conceituar os diferentes níveis de

diferenciações do termo jogo.

Enfatizar sobre os benefícios dos jogos para o processo de

desenvolvimento e a aprendizagem humana segundo Piaget e Vygotsky.

Enfocar sobre a educação Psicomotora em ambiente escolar, na qual será

dada a ênfase ao desenvolvimento das funções cognitivas, sócias, afetivas,

psicológicas e biológicas.

Relatar sobre os estágios de desenvolvimento cognitivo segundo Piaget,

a fim de proporcionar os estímulos adequados a cada etapa e demonstrar os

benefícios atribuídos ao corpo/movimento como instrumento indispensável ao

desenvolvimento humano.

Palavras chave: jogos, brincadeiras, desenvolvimento infantil.

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METODOLOGIA

Os métodos utilizados para a realização desta pesquisa monográfica

foram artigos de revistas, pesquisas bibliográficas, conteúdos ministrados no

período da pós-graduação em Psicomotricidade.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Psicomotricidade e o desenvolvimento infantil 10

CAPÍTULO II

Interação e construção: o sujeito e o conhecimento no construtivismo de

Piaget 18

CAPÍTULO III

Brincar/jogar e suas contribuições para o desenvolvimento infantil 29

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA 42 ÍNDICE 43 FOLHA DE AVALIAÇÃO 45

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INTRODUÇÃO

A presente revisão discute alguns aspectos fundamentais na

estruturação do processo de ensino-aprendizagem, tendo em vista a

construção do conhecimento por parte da criança através do uso das

brincadeiras e jogos. Onde serão apresentados os referentes teóricos: Piaget e

Vygotsky. Teóricos que enfatizam a importância dos jogos para o processo de

desenvolvimento infantil, onde através de suas pesquisas contribuíram para

compreensão do desenvolvimento e da aprendizagem humana. Ambos

entenderam o conhecimento como adaptação e como construção individual e

compreenderam a aprendizagem e o desenvolvimento como auto-regulados.

Discordaram quanto ao processo de construção desse conhecimento, ambos

viram o desenvolvimento e a aprendizagem da criança como participativa, não

ocorrendo de maneira automática.

Os jogos são indispensáveis ao desenvolvimento das aptidões

físicas e mentais da criança, sendo um agente facilitador para que esta

estabeleça vínculos sociais com os seus semelhantes, descubra sua

personalidade, aprenda a viver em sociedade e preparar-se para as funções

que assumirá na idade adulta.

Movimentos estes que é a primeira manifestação de vida do ser

humano, nós nos movimentamos desde a vida intra-uterina, onde eles tomam

forma e exercem uma influência no comportamento humano.

Os jogos e as brincadeiras lúdicas são os principais meios utilizados

pela Educação Psicomotora na educação infantil. Onde o processo de

aprendizagem escolar é integrado aos diversos aspectos da vida da criança:

emocional, cognitivo, social e cultural. Pois corpo e mente são elementos

integrados ao desenvolvimento intelectual da criança.

O jogar/brincar é uma condição essencial para o desenvolvimento da

criança. Através do brincar, ela desenvolve capacidades importantes como a

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atenção, a memória, a imitação, a imaginação. Ao brincar, exploram e refletem

sobre a realidade e a cultura na qual estão inseridas, interiorizando-as e, ao

mesmo tempo, questionando as regras e papéis sociais. O brincar potencia o

desenvolvimento, já que assim aprende a conhecer, aprende a fazer, aprende

a conviver e, sobretudo, aprende a ser. Para além de estimular a curiosidade, a

autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do

pensamento, da concentração e da atenção.

A escolha deste tema surgiu da necessidade de abordarmos o

assunto "jogos e brincadeiras infantis" não apenas como simples

entretenimento, mas como atividades que possibilitam a aprendizagem de

várias habilidades. O objetivo do artigo é utilizar os jogos/brincadeiras como

recurso facilitador ao processo de construção do conhecimento infantil,

abordando o desenvolvimento das funções cognitivas, sócias, afetivas,

psicológicas e biológicas. É preciso que haja mudanças na preparação desses

alunos para a vida e não apenas para o mero acúmulo de informações.

No capítulo um a ênfase será para conceitos e definições sobre

Psicomotricidade; desenvolvimento e comportamento da criança; educação

Psicomotora em ambiente escolar e a importância do movimento para o

processo de desenvolvimento humano.

Para o segundo capítulo será apresentado à teoria de interação e

construção do conhecimento piagetiano, incluindo os fatores influenciadores e

dominantes do processo de desenvolvimento do sujeito; os estágios de

desenvolvimento segundo Piaget.

No terceiro e último capítulo será enfocado definição de jogos; os

níveis de diferenciações do termo jogo; um breve histórico do brincar; os

diferentes tipos de brinquedos/brincadeiras infantis, abordando suas

contribuições ao desenvolvimento infantil; e o jogo na concepção de Piaget e

Vygotsky.

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CAPÍTULO I

PSICOMOTRICIDADE E O DESENVOLVIMENTO

INFANTIL

1.1. Conceitos e Definições sobre Psicomotricidade

“A ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas.” (LUSSAC, 2008).

• Motricidade: por definição conceitual é a propriedade que têm

certas células nervosas de determinar a contração muscular.

• Psico (Gr Psyquê): vem representar a alma, espírito, intelecto.

• Psicomotricidade: condição de um estado de coisas corpo /

mente. “Visão global de um indivíduo, onde a base de

atuação está no conhecimento desta fusão.” (Idem, 2008).

Com base nas informações anteriores entende-se que a

Psicomotricidade envolve toda ação humana, que represente suas

necessidades e sua relação com o mundo interior e exterior. É a integração

psiquismo-motricidade.

1.2. Desenvolvimento da Criança

Ao falar em desenvolvimento, é preciso descrever sobre a

importância do movimento, assim como do exercício para o desenvolvimento

integral da criança, seja no desenvolvimento físico, integral e emocional. Onde

são fortalecidas suas estruturas ósseas e musculares. (ALVES, 2007, p.17).

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Os movimentos são de grande importância para o desenvolvimento

humano, pois abordam aspectos biológicos, sociais, culturais, psicológicos e

evolutivos.

É através dos movimentos que o ser humano interage com o mundo,

para alcançar seus objetivos e satisfazer suas necessidades.

“A capacidade do ser humano de se mover é mais do que

uma simples conveniência que lhe possibilite andar, jogar

e manipular objetos. Ela é um aspecto crítico do nosso

desenvolvimento evolucionário.” (SCHMIDT apud

MANOEL, 1988, p.11).

Nossos ancestrais utilizavam os movimentos para construção de

abrigos e ferramentas, e até a nossa tecnologia e cultura atual continuam a

utilizar os movimentos em prol da evolução do mundo e do próprio homem que

esta inserida neste contexto. Como já foram mencionados os movimentos

desempenharam e desempenham um papel fundamental para a evolução do

mundo, pois sem o qual o desenvolvimento não ocorreria.

Acrescenta ainda sua grande importância cultural e social. Pois é a

partir dos movimentos que o homem se relaciona com o outro, conhece a si

mesmo, o que é capaz de fazer.

A relação entre movimento e cognição. As primeiras respostas de

uma criança recém nascida são motoras. Para que a criança possa evoluir é

preciso que a mesma possa explorar o meio ambiente. (Idem, p.12).

Diante desta visão, as atividades motoras desempenham na vida da

criança um papel importantíssimo, em muitas das suas primeiras iniciativas

intelectuais. Enquanto explora o mundo que a rodeia com todos os órgãos dos

sentidos, ela percebe também os meios como quais fará grande parte dos seus

contatos sociais.

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O desenvolvimento da criança não pode ocorrer de forma

mecanicista, e sim harmônica, onde corpo e mente esteja associada,

equilibrando o desenvolvimento infantil.

Os esquemas de desenvolvimento são comuns a todas as crianças,

mas o desenvolvimento de uma criança com relação à outra pode acontecer de

forma mais acelerada. Esse processo ocorre mediante o contexto familiar e

sócio-cultural na qual a criança esta inserida. (Alves, op.cit, p.18).

Entende-se que não é adequado fazer o julgamento do

desenvolvimento de uma criança por um déficit em seu desenvolvimento, e sim

devemos levar em consideração o ambiente familiar, de seu caráter e suas

possibilidades físicas.

1.3. Comportamento da Criança

A educação não deve ser estabelecida com base em interesses

institucionais como: filosofia, tradição e nem tão pouco reduzir a educação pelo

ato de ensinar à escrita e a leitura. (Idem, p.18).

As necessidades e interesses das crianças devem ser levados em

consideração, mediante os estágios de desenvolvimento e comportamento

inerentes a cada faixa etária. Este critério é de estrema importância para que

se estabeleça uma conduta educacional efetiva, capaz de favorecer a

adaptação adequada da criança com o mundo em que vive.

Nos primeiros anos de vida é importantíssimo que o

desenvolvimento de condutas afetivas, sociais e intelectuais seja estimulado.

Pois será a partir das mesmas que grande parte das capacidades futuras

ocorrerá.

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O estímulo inicial deve começar por parte da família e

posteriormente deve ser reforçado por parte do meio institucional. Onde o bom

desempenho escolar é determinado pela sabedoria adquirida do meio familiar.

Os pais devem possuir a consciência de sua influência para evolução de seus

filhos.

As crianças de família desfavorecida possuem predisposição para

adquirir distúrbios de desenvolvimento, pois suas condições antes e após o

nascimento são desfavoráveis ao seu desenvolvimento intelectual (Ibidem,

p.19).

Para que o desenvolvimento da maturidade da criança ocorra de

forma normal, é preciso que se tenha um ambiente favorável ao seu

desenvolvimento intelectual.

1.4. A Educação Psicomotora nas Escolas

A educação Psicomotora objetiva desenvolver corretamente à

aprendizagem de caráter preventivo do desenvolvimento global do indivíduo

nas várias etapas do crescimento. (Ibidem, p.133).

Auxilia a criança a chegar ao estágio perfeito de desenvolvimento

motor, abordando os aspectos corporais, de maturação biológica, da palavra...

Através das experiências sensórias a ela atribuídas, a criança será capaz de

conhecer a si mesma e o seu mundo.

O psicomotricista através do seu conhecimento sobre as fases do

desenvolvimento cognitivo, o mesmo poderá detectar aspectos relacionados à

ordem patológica ou variações normais. No qual o objeto de estudo é o próprio

homem, através de sua inteligência, de seu corpo e de sua linguagem. Uma má

estimulação pode acarretar problemas de distúrbios Psicomotores, que vão

refletir em sua relação com a sociedade.

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É através da educação Psicomotora que a criança vivencia aspectos

relacionados às valências Psicomotoras, como: sensório-motor, esquema

corporal, lateralidade, estruturação espaço-temporal, entre outras. (Ibidem,

p.134).

Os aspectos relacionados acima devem ser inseridos através de

jogos e brincadeiras, atividades estas que proporcionam as crianças

conhecimentos de si; dos outros; do seu próprio esquema corporal, que

resultará na descoberta das dimensões corporais; reconhecimento das

estruturas corporais; em sua valorização; questões de ordem sócia afetivo;

cognitivo e psicomotora, em fim, todas estas experiências com o corpo são

indispensáveis ao desenvolvimento das funções mentais e sociais.

A educação Psicomotora atua no processo de ensino-aprendizagem,

pois é ela que auxilia os educadores a promover preventivo e de intervenção,

proporcionando resultados satisfatórios em situações de dificuldades no

processo de ensino-aprendizagem.

1.5. Valências Psicomotoras

1.5.1. Esquema corporal

Esquema corporal é a organização das sensações relativas ao

próprio corpo, das posturas e atitudes com os dados do mundo exterior.

(BRÊTAS, 2006, p.35).

Sua personalidade ou sentido de existência se desenvolve graças à

progressiva tomada de consciência de seu corpo, de seu ser, de suas

possibilidades de agir e transformar o mundo a sua volta.

O esquema corporal não é simplesmente o conhecimento que a

criança tem de seu corpo, e sim a consciência desse corpo, de suas partes e

de seus movimentos.

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O resultado de um esquema corporal mal estruturado acarretará em

transtornos nas áreas motora, perceptivas e social. Na área motora

apresentará dificuldades de coordenação, lentidão e má postura; na área

perceptiva dificuldades de estruturação espaço-temporal e na área social

problemas nas relações com outras pessoas originadas por perturbações

afetivas.

1.5.2. Lateralidade

A lateralidade representa o predomínio normal de um lado do corpo.

Afirma-se que a mesma corresponde a dados neurológicos. Neste período a

lateralidade deve ser fortalecida. Pois ela constitui a base para a orientação

espacial. (Ibidem, p.44).

Não devemos confundir lateralidade com a dominância de um lado

do corpo com relação ao outro e nem mesmo com o domínio dos termos

esquerdo e direito.

1.5.3. Estruturação espacial

A estruturação espacial é a tomada de consciência da situação de

seu próprio corpo em um meio ambiente, referindo-se primeiro ao “eu”

referencial, depois a outros objetos ou pessoas em posição estática ou em

movimento. (Ibidem, p.42).

A estruturação espacial quando bem definida possibilita a criança a

tomada de consciência da situação das coisas entre si, para o sujeito, de

organizar-se perante o mundo que o cerca de organizar as coisas entre si, de

colocá-las em um lugar, de movimentá-las.

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1.5.4. Orientação temporal

A orientação temporal é a capacidade que o indivíduo tem de situar-

se em função dos acontecimentos ocorridos: tempo curto, longo, antes, depois

e durante. (Ibidem, p.43).

A percepção temporal refere-se a três aspectos como: adaptação,

orientação e a estruturação. A adaptação é a capacidade de seguir ritmos

diferentes; orientação de lidar com noções referentes ao tempo e a

estruturação de interpretar sons segundo ritmo e duração.

1.5.5. O ritmo

O ritmo é o fator de estruturação temporal que é sustentada pela

adaptação ao tempo. Onde se é sustentado à noção de ordem, sucessão e

duração (Idem, p.43).

O ritmo do movimento não pode ser confundido com batimentos,

mas deve ser experimentado, percebido.

Esta capacidade é um fator de estrema importância para o processo

de desenvolvimento humano, pois quando a criança experimenta movimentos

rítmicos, ela mama, engatinha, anda, corre e escreve ritmicamente.

1.5.6. Equilíbrio

Equilíbrio é o estado no qual o ser humano é capaz de se manter

imóvel ou lançar-se no espaço em uma atividade ou gesto, utilizando-se da

gravidade ou resistindo-a (Idem, p.43).

O equilíbrio é fundamental para uma coordenação motora geral.

Existem duas formas de equilíbrio: estático e o dinâmico. O estático

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caracteriza-se pela ausência de movimentos e o dinâmico com a presença do

movimento.

Um mau equilíbrio afeta a construção do esquema corporal,

resultando na perda da consciência de algumas partes do corpo. Em casos

mais graves podem surgir problemas psicológicos como ansiedade e

insegurança.

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CAPÍTULO II

INTERAÇÃO E CONSTRUÇÃO: O SUJEITO E O

CONHECIMENTO NO CONSTRUTIVISMO DE PIAGET

2.1. Gêneses de uma Teoria

No construtivismo, o processo de construção do conhecimento se

estabelece a partir da interação do sujeito com o objeto, objeto este que esta

inserida no mundo físico e simbólico. Onde através dessa relação “o sujeito

que conhece e os objetos a serem conhecidos estão em um processo

permanente de construção.” (PIAGET apud MAHFOUD, 2004). Pois é através

dessa interação do sujeito com o objeto do conhecimento que o mesmo se

constitui.

Alguns filósofos têm discutido como alcançamos o conhecimento. A

partir deste questionamento algumas correntes se formaram, e cada uma delas

descreve de que maneira é adquirido o desenvolvimento humano. São eles:

Empirismo, Racionalismo e o Relativismo.

2.1.1. Empirismo

Afirma que o conhecimento ocorre em função da aprendizagem,

adquirida através de uma informação sensorial, informação esta

exclusivamente externa ao sujeito.

2.1.2. Racionalismo

Não nega a experiência sensorial, pelo contrario defende sua

importância como instrumento indispensável para descoberta da verdade.

Porém descreve o processo de conhecimento como uma capacidade inata.

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2.1.3. Relativismo

Posição defendida por Piaget. O autor afirma que apenas a

experiência sensorial em si, não leva a pessoa alcançar a verdade, pois

segundo ele o conhecimento não é adquirido pela internalização do meio

externo, nem tão pouco uma capacidade que o ser humano traz ao nascer.

Opôs-se ao Empirismo e ao Racionalismo. Para ele o conhecimento

consiste na constituição de uma relação entre sujeito e o objeto:

“(...) o conhecimento repousa em todos os níveis sobre a interação entre o sujeito e os objetos. (...) mesmo quando o conhecimento toma o sujeito como objeto, há construções de interações entre o sujeito-que-conhece e o sujeito-conhecido.” (Idem, 2004).

As estruturas cognitivas do sujeito não estão prontas ao nascer, e

sim o sujeito interpreta o mundo a partir das estruturas próprias. O

construtivismo refere-se a essa relação entre a estrutura e o processo, relação

esta que resultará na transformação da própria estrutura. Esse processo

origina-se a partir da interação entre o sujeito e o objeto, onde as estruturas

são construídas pela relação estabelecida entre eles, mediada pela ação do

sujeito, resultando como conseqüência desta ação à aquisição do

conhecimento.

A progressiva construção do real esta intimamente ligada à

construção do sujeito, implicando assim, na definição de dois conceitos

importantes para constituição do sujeito na teoria de Piaget: objeto e interação.

É através de sua relação com o objeto que o sujeito se transforma, o

objeto é, então, “a mediação entre o sujeito atual e o sujeito que se constrói a

partir dessa interação com o objeto.

Porém a visão construtivista ou dialética defende a tese de que não

basta apenas existir a presença do sujeito e do objeto para que a construção

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do desenvolvimento humano ocorra, faz-se necessário que a interação seja

mediada pela ação.

“(...) o estudo da tomada da consciência nos conduziu a colocá-la na perspectiva geral da relação circular entre o sujeito e os objetos, o primeiro não aprendendo a se conhecer senão agindo sobre estes e os segundos só tornando-se conhecíveis em função do processo das ações exercidas por eles.” (Idem, 2004).

2.2. Fatores Influenciadores do Desenvolvimento Cognitivo

Segundo Piaget

2.2.1. Experiência física

São todas as experiências do sujeito resultante das ações do

mesmo com objetos. São importantes, mas insuficiente, pois essas ações

dependem de coordenação interna do sujeito com o material envolvente.

2.2.2. Hereditariedade

A hereditariedade influencia, mas a mesma fica na dependência da

maturação do sujeito.

2.2.3. Transmissão social

Esta relacionada com a questão educacional, segundo Piaget a

referida questão é necessária, porém insuficiente. Pois para que a criança

possa adquirir informações inseridas pelos meios sociais e pelo adulto, se faz

necessário que a mesma possa assimilar o que o meio quer lhe transmitir. E

esta assimilação é aciona pelo desenvolvimento.

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2.3. Fator Dominante do Desenvolvimento Cognitivo Segundo

Piaget

2.3.1. Processo de equilibração

Fator determinante no processo de desenvolvimento do sujeito, onde

através do mesmo o indivíduo deve se adaptar em virtudes das exigências

provocadas pelo meio envolvente (mundo).

Este processo se caracteriza por equilibrar os outros três fatores

mencionados anteriormente e equilibrar a descoberta de uma nova noção,

associadas a outras já existentes, com objetivo de possibilitar o entendimento

da criança e do adulto.

Quando o sujeito se depara com a descoberta de uma nova noção

provocada por perturbações de ordem cognitiva se faz necessário que o

mesmo possa adaptar-se e organizar-se para que se atinja uma coerência

entre o que já se sabia com a novidade provocada pelo conflito, isto ocorre pela

lei da equilibração.

Esse processo interno de adaptação e organização se estabelece

através de mecanismos internos de assimilação e acomodação.

Ø Assimilação

“Pela assimilação, quando o sujeito age sobre o objeto este não é absorvido pelo objeto, mas o objeto é assimilado e compreendido como relativo às ações do sujeito... desde as coordenações mais elementares encontramos na assimilação uma espécie de esboço ou prefiguração do julgamento: o bebê que descobre que um objeto pode ser sugado, balançado ou puxado se orienta para uma linha ininterrupta de assimilação, que conduzem até as condutas superiores, que usa o físico quando assimila o calor ao movimento ou uma balança a um

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sistema de trabalhos virtuais.” (PIAGET apud VALENTINE, 2007).

Esse processo ocorre quando o sujeito se depara com uma nova

situação através de sua relação estabelecida pela ação do sujeito com o

objeto, e a partir dela a assimilação se torna possível, ou seja, o seu

entendimento, sem precisar modificar suas estruturas cognitivas, estruturas

estas que são internas do sujeito. Em outras palavras significa dizer que o

indivíduo age e se apropria do objeto de conhecimento, onde através dessa

interação, ele dar significado próprio a esse objeto, integrado às possibilidades

de seu entendimento (inteligência), que foi possibilitada pelas estruturas

cognitivas já construídas pelo sujeito.

“A importância da noção de assimilação é dupla. De um lado implica como acabamos de ver, a noção de significação, o que é essencialmente, pois todo conhecimento refere-se a significações (...). Por outro lado, exprime o fato fundamental de que todo o conhecimento está ligado a uma ação (...).” (Idem, 2007).

Ø Acomodação

Surge quando o sujeito se depara com um novo desafio, e este

desafio que se pretende assimilar impõe resistência às estruturas cognitivas já

existentes do sujeito. É a partir desta perturbação cognitiva que surgi à

acomodação, onde o indivíduo terá que mudar as hipóteses anteriores em

virtude das exigências do novo desafio ou novo contexto. Na acomodação, o

sujeito age no sentido de se transformar e de se ajustar as exigências impostas

pelo objeto de conhecimento. Exemplo: o bebê tenta a preensão de uma caixa

com o mesmo movimento de preensão de um bico. Deve então acomodar a

sua preensão para conseguir pegar o objeto. (Idem, 2007).

O conflito cognitivo resultará no desequilíbrio do organismo e,

conseqüentemente, de desenvolvimento. Pois segundo Piaget o desequilíbrio

se faz necessário, para que as novas estruturas possam surgir. Pois a partir

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deste conflito que são abertas as portas para o sujeito sobre as diversas

possibilidades de compreensão e relacionamento com o mundo.

2.4. Adaptação, Organização e a Inteligência

A adaptação e a organização são as características fundamentais de

qualquer ser vivo.

“Inteligência é um caso particular de adaptação biológica equivale, portanto, a supor que ela é, essencialmente, uma organização e que sua função consiste em estruturar o universo tal como o organismo estrutura o meio imediato.” PIAGET apud MAHFOUD, op.cit1.).

Autor completa:

“O organismo adapta-se construindo materialmente novas formas para inseri-las nas do universo, a inteligência prolonga tal criação construindo, mentalmente, as estruturas suscetíveis de aplicarem-se às do meio.” (Idem, 2004).

Adaptação é o processo dialético que permite uma transformação

constante tanto do sujeito quanto do objeto. E esse processo é regido por dois

mecanismos internos de assimilação e acomodação, que é desencadeado pela

ação do sujeito. “os dois pólos de uma interação que se desenvolve entre o

organismo e o meio, a qual constitui a condição indispensável de todo

funcionamento biológico e intelectual.” (Idem, 2004).

A adaptação é a relação estabelecida entre o sujeito e o mundo, ou

seja, o sujeito com o que é exterior a ele (experiência).

A organização é a relação estabelecida do sujeito consigo próprio,

onde através dessa relação o mesmo exerce atividades de cunho racional, que

1 Disponível em: <www.cienciasecognição.org>, acesso em 15 de Maio 2009.

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permite novas maneiras de adaptação, e conseqüentemente de novas formas

de organização (Idem, 2004).

Os processos de adaptação e de acomodação resultam nos

mecanismos de assimilação e acomodação, onde existe uma relação entre

estrutura e gênese, pois ambas não podem ser dissociadas, já que não existem

estruturas prontas. Através desses processos que são permitidos à construção

das estruturas, já que nas mesmas está inserida a construção do

conhecimento.

“A equilibração é o processo construtivo que conduz à formação de

estruturas.” (Idem, 2004).

É através dela que as possibilidades de entendimento e

relacionamento com o mundo são estabelecidas.

2.5 Estágios de Desenvolvimento Segundo Piaget

Delineou uma seqüência de quatro estágios do desenvolvimento

cognitivo: o estágio sensório-motor (0 a 2 anos), o estágio pré-operacional (2 a

6 anos), o estágio operacional concreto (6 a 12 anos) e o estágio operacional

formal (12 anos em diante). As crianças atravessam cada estágio segundo uma

seqüência regular, nenhum estágio pode ser omitido ou saltado. Isto ocorre

porque cada estágio se forma e deriva das realizações do anterior, por

exemplo, o estágio pré-operacional se deriva diretamente do estágio sensório-

motor. (PIAGET apud LEITE, 1988, p.217).

Segundo o autor (1988) as idades associadas aos estágios são

aproximações. Embora haja certo limite de idade para atingir cada um dos

estágios, pode haver alterações em torno de um padrão médio, dependendo de

fatores genéticos e experiências específicas da criança.

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25

2.5.1. O Período Sensório-Motor (dois primeiros anos de vida)

Ø Estágio 1 (do nascimento até um mês)

O comportamento do recém nascido é visto como nos reflexos inatos

dos bebês, inclusive sua capacidade para sugar, chorar, mover os braços e as

pernas, seguir um objeto que se movimenta e orientar-se para um som.

(BRÊTAS, op.cit, p.51).

Ø Estágio 2 (um a quatro meses)

Nesta fase através das descobertas acidentais, que foram

proporcionadas por seus reflexos, os bebês começam a definir os limites de

seu corpo. Repetem e combinam os movimentos, por exemplo, o olhar e o

agarrar, denominado preensão.

Ø Estágio 3 (quatro a oito meses)

Nesta fase existe maior interesse pelo mundo ao seu redor e menor

interesse pelo próprio corpo. Os bebês aprendem a adaptar os esquemas

habituais a novas situações, procurando preservar ou manter experiências

interessantes. Parecem ser orientados em direção a uma meta externa, onde

tentam alcançar os objetos que estejam apenas no seu campo de visão, pois

eles não possuem sentido de permanência do objeto e por conseqüência disso

todos os objetos que estiverem fora da sua visão serão considerados

inexistentes a ele.

Ø Estágio 4 (oito a doze meses)

Fase esta na qual iniciasse a noção de permanência do objeto, onde

as crianças procuram brinquedos parcialmente ocultos ou brinquedos que não

estão diante de seus olhos, como por exemplo, tentar levantar uma tampa, a

fim de retirar um brinquedo que viu seu pai colocar lá. Surgi o comportamento

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intencional, onde os bebês começam a afastar os obstáculos do caminho e a

utilizar recursos disponíveis (a mão do pai) para alcançar os objetos desejados.

Emprega os esquemas conhecidos coordenando-os e combinando-os para se

adequar às novas situações.

Ø Estágio 5 (doze a dezoito meses)

As crianças começam a experimentar objetos através de um

tateamento orientado, variando assim seus esquemas de ação. Empregam

novos esquemas sensório-motores para alcançarem os objetivos desejados,

exemplo, utiliza-se de bastões e barbantes para alcançarem um objetivo ou

encontrarem novos usos aos objetos já conhecidos. Provocam resultados

novos ao invés de reproduzi-los. Podem acompanhar instruções verbais e

reconhecem fotografias e objetos.

Ø Estágio 6 (dezoito a vinte quatro meses)

Este estágio as crianças inventam novos esquemas por dedução ou

combinação mental em que imaginam certos eventos e conseqüências. Os

bebês neste período não resolvem problemas por explorações de ensaio e

erro, mas por experimentação interna, uma exploração interna de maneiras e

meios. As imagens se libertam da percepção direta para tornarem-se

simbólicas, começam a imitar uma ação sem a presença do modelo, sendo

capaz de representar um objeto por outro. É nesta fase que as crianças

possuem a noção de que os objetos que estão fora de seu campo visual

também existem (permanência do objeto) e tem noção de seu próprio corpo.

2.5.2. Estágio Pré-Operacional (de dois a sete anos)

Ø Estágio Pré-Conceitual (dois a quatro anos)

A representação simbólica se faz presente, através de sua

linguagem, de seu desenho, de sua imitação, de sua memorização e

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dramatização. É a fase da fantasia, característica esta, muito presente neste

período.

A criança é extremamente egocêntrica, não consegue conceber

sobre o ponto de vista do outro. Conversa cozinha e brinca com seus

brinquedos, fazendo estórias ou reproduzindo situações vividas. Acredita que

todos os objetos naturais são vivos e possuidores de sentimentos e intenções.

Ø Estágio Pré-Lógico ou Intuitivo (quatro a sete anos)

Surge o pensamento pré-lógico, baseado na aparência, em que a

criança começa a adquirir a percepção global dos objetos. Porém o mesmo

considera apenas um único aspecto do objeto abolindo os demais. A linguagem

é usada de maneira egocêntrica, onde é utiliza como veiculo para a expressão

do pensamento. (Ibidem, p.53).

2.5.3. Estágio Operacional Concreto (de sete a doze anos)

As operações baseiam nos objetos, onde são capazes de raciocinar

lógica e quantitativamente, ao contrário do estágio anterior (estágio pré-

operacional). Diminuição do egocentrismo, onde o indivíduo consegue ser

simultâneo. Focalizam sua atenção em diversos atributos do objeto ou evento e

compreendem a relação entre as dimensões. (PIAGET apud LEITE, op.cit,

p.218).

Nesta fase a criança é capaz de considerar vários aspectos do

objeto ou evento, tais como: mais alto, mais baixo, mais escuro, noções de

peso e tamanho, onde conseguem diferenciar as relações dessas

características comparadas a outro objeto. Pois o mesmo possui o pensamento

relacional e também é capaz de analisar mais do que um evento

simultaneamente, pois tal ato exige do observador a comparação de dois ou

mais objetos.

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A criança manipula mentalmente objetos e eventos, e a mesma tem

dificuldades de resolver problemas hipotéticos (improváveis ou impossíveis).

A criança nesse estágio percebe que alguns conjuntos de categorias

se inserem ou se ajustam entre si. Através de uma operação a mesma poderá

separar mentalmente cada categoria de objetos e reagrupá-los de novo e o

mesmo compreende que as qualidades específicas dos objetos podem

pertencer a mais de uma categoria, chamada por Piaget de multiplicação de

classes ou relação.

2.5.4. Estágio Operacional Formal (de doze até a fase adulta)

É o estágio mais avançado do desenvolvimento cognitivo, onde

adolescentes buscam mentalmente as possíveis alternativas e possibilidades,

formulando hipóteses para resolução de problemas. (Ibidem, p.224).

Possuem capacidade de formar esquemas conceituais abstratos e

realizam com eles operações mentais, de ordem superior, pela lógica formal.

Tornam-se conscientes de seu próprio pensamento e reflete sobre

assuntos teóricos e abstratos de todas as espécies.

Adquire então capacidade para criticar os sistemas sociais,

propondo novos códigos de conduta, construindo valores próprios e questiona

os dos outros.

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CAPÍTULO III

BRINCAR/JOGAR E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O

DESENVOLVIMENTO INFANTIL

3.1. Definição de Jogo

Tentar definir o termo jogo é uma tarefa complexa. Pois a palavra

jogo pode ser entendida de diferentes maneiras. Ao falarmos de jogo podemos

estar falando de jogos de crianças, jogos de animas, jogos de adultos e entre

outros.

“Apesar de receberem a mesma denominação, cada um têm a sua especificidade. Por exemplo, para a construção de um barquinho exige a representação mental do objeto a ser desenvolvido, e da habilidade manual para construí-lo; no jogo de faz de conta exige a presença da situação imaginária.” (KISHIMOTO, 1993, p.16).

O jogo de uma criança que brinca com a bola é semelhante ao jogo

de um gato que se utiliza do mesmo objeto? A criança possui a consciência de

seus atos e opta por brincar ou não, e o gato, não seria seus instintos

biológicos que o estimularia a agir sobre o mesmo?

Um tabuleiro de xadrez feito de material nobre como o cobre,

exposto como objeto de decoração, teria o significado de jogo?

São as variedades de fenômenos que norteiam o jogo que mostra a

complexidade para defini-lo. (Idem, 2003, p.16).

O termo jogo ou não-jogo pode ser utilizado para uma mesma

conduta, pois depende de questões socioculturais e do significado a ela

atribuído.

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Nas tribos indígenas a boneca simboliza a divindade, objeto de

adoração, em quando em outros países é visto como um objeto que crianças

brincam de “filhinha”.

Atirar arco e fecha para os indígenas esta intimamente relacionada

ao ato da caça, ação esta necessária para a subsistência de sua tribo. Se um

observador que não seja originário desta região presenciar uma criança

caçando o mesmo definirá tal ação como se fosse uma brincadeira.

Compreende-se que se torna cada vez mais difícil definir o termo

jogo. Todos os jogos possuem peculiaridades que os aproximam ou

distanciam.

3.2. Os Três Níveis de Diferenciações do Termo Jogo

3.2.1. Resultado de um sistema lingüístico

“O jogo pode ser visto como: o resultado de um sistema lingüístico

que funciona dentro de um contexto social; um sistema de regras; e um objeto”

(BROUGÈRE apud KISHIMOTO, 2003, p.16).

As línguas funcionam como fontes disponíveis de expressão. Sua

designação tem por objetivo a manipulação simbólica dos desejos da vida

diária. A noção do jogo esta relacionada ao uso cotidiano. Devemos respeitar o

uso cotidiano e social da linguagem, onde a mesma exige interpretações e

projeções sociais.

Toda denominação esta intimamente ligada ao contexto

sociocultural, sendo expresso por meio da linguagem e aplicado ao real.

Pode-se considerar que um contexto cria sua concepção de jogo a

partir do momento em que um sistema lingüístico seja empregado, não por um

ato isolado e sim por um grupo social que o compreenda, fala e pensa da

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mesma forma. Cada sociedade atribui o sentido do jogo mediante seu modo de

vida e de seus valores, sendo assim, expressa por um ato lingüístico.

3.2.2. Um sistema de regras

Em cada jogo existe uma estrutura seqüêncial de regras específicas

a cada modalidade. São essas regras que distinguem um jogo de buraco ou

tranca, por mais que o objeto a ser utilizado seja o mesmo, o baralho. Essas

estruturas permitem que o praticante execute as regras do jogo e, ao mesmo

tempo, desenvolva uma atividade lúdica.

3.2.3. Um objeto

O jogo neste sentido é visto como objeto. Na confecção do mesmo,

existem materiais específicos que o diferencia de outros. São os materiais que

dão origem e representam o objeto empregado na brincadeira. Exemplo: o

xadrez e o pião.

3.3. Histórico

Desde a Antigüidade a brincadeira era uma atividade de adultos e

crianças. Onde crianças participavam das atividades festivas e jogos dos

adultos. Mas existiam ambientes separados e específicos para prática dos

jogos, tais como: praças públicas, espaços livres, onde os jogos eram

realizados em grupos de crianças com idades e sexos diferentes, sem a

supervisão dos adultos. (Velasco, 1996, p.41).

Naquela época as brincadeiras não eram vistas como mera

distração, mas como sinônimo de cultura, do folclore, entre outras. Onde

através das brincadeiras as crianças faziam representação da vida, da história

e do destino de sua humanidade.

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A partir do progresso social da civilização houve o surgimento da

sociedade moderna e da sociedade burguesa, que teve como conseqüência o

afastamento de um grupo de crianças separado da vida dos adultos e ao

mesmo tempo utilizava-se das atividades lúdicas como instrumento de

aprendizagem (Idem, p.41).

Baseado neste contexto o ato de brincar passou a ser utilizado como

um novo recurso pedagógico. Os pedagogos utilizavam este instrumento com o

objetivo de criar um novo homem.

Ao longo dos tempos, foi percebida a necessidade da socialização.

Passando a ser considerado como fator importante ao desenvolvimento

humano. A criança ao conviver com a sociedade ou a instituição, a mesma

estabelece uma relação de troca, onde a partir desta relação à criança

interioriza valores específicos daquele mesmo grupo. Essa interiorização

depende do caráter das interações sociais, natureza e da variedade de trocas

sociais.

3.3.1. O brinquedo

A relação existente entre brinquedo e a criança, é uma relação muito

íntima, ao contrário do jogo existe a ausência de regras que organizam sua

utilização. (KISHIMOTO, op.cit, p.18).

O brinquedo estimula a criança a representação e a expressão de

questões que envolvam aspectos da realidade. Onde através do brincar com a

boneca, a criança representa e ao mesmo tempo essa representação pode ser

associada a aspectos da realidade. Por exemplo: brincar com a boneca de

“mãe e filha” e ao mesmo tempo demonstrar um grande afeto ou agressividade

nesta relação.

O brinquedo leva a criança a fazer reproduções referentes à

natureza; construções humanas e tudo que existe no cotidiano.

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Através do avanço técnico e científico em que o mundo foi

submetido e a sociedade que nela se insere, hoje os brinquedos representam a

nossa realidade atual. Pois suas reproduções representam hoje não só o

objeto, mas uma realidade social. Realidade esta não idêntica, mas

representativa, tais como: bonecos, robôs, aviões. (Idem, 2003, p.18).

Os brinquedos podem também serem representados por um

imaginário preexistentes criados pelos desenhos, pelos contos de fadas,

monstros, super-heróis, que são na maioria das vezes introduzidos pelo meio

de comunicação chamado televisão.

O fabricante ou o sujeito que constrói o brinquedo possui um

referencial inerente a ele, que é utilizado para construção do objeto, referencial

este baseado na analogia que o mesmo faz ao seu tempo de criança, onde o

mesmo se utiliza da memória e da imaginação para construção do objeto. Ele

leva em consideração o seu próprio contexto sociocultural. Pois cada cultura

possui a sua maneira de ver, tratar e educar a criança.

3.4. Tipos de Brinquedos e Brincadeiras

3.4.1. Brinquedo educativo

Este brinquedo tem como finalidade ensinar, desenvolver e educar

de forma prazerosa. (Ibidem, p.36).

Para que o processo de ensino-aprendizagem e desenvolvimento da

criança ocorra se faz necessário que o jogo contemple aspectos relacionados à

construção de representações mentais (cognição), de interações sociais, afeto

e de experiências relacionadas à manipulação e o desempenho de ações

sensório-motoras, ou seja, o brinquedo/jogo educativo deve contemplar o ser

humano por inteiro.

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O jogo contempla as múltiplas inteligências das crianças,

contribuindo assim, para a aprendizagem e o desenvolvimento infantil.

Para que o brinquedo/jogo seja considerado como educativo, é

preciso que o adulto tenha a intenção de inserir a ludicidade como recurso

estimulante ao processo de ensino-aprendizagem e que esta ação (brincar)

seja intencional por parte da criança.

O brinquedo assume duas funções, tais como: educativa e lúdica.

(Ibidem, p.37).

• Função lúdica: o brinquedo proporciona diversão, desprazer,

prazer quando escolhido voluntariamente.

• Função educativa: envolve tudo relacionado ao processo de

construção do conhecimento. Como saberes sobre

conhecimentos do homem e do mundo.

3.4.2. Brincadeiras tradicionais infantis

As brincadeiras tradicionais infantis são consideradas como parte da

cultura popular, acredita-se que os hábitos e costumes de um determinado

povo em certo período histórico seja fator influenciador a sua utilização.

(Ibidem, p.38).

A cultura não-oficial se desenvolve pelo poder da expressão oral e

pela sua constante transformação. A transformação ocorre na medida em que

gerações comecem a inserir nas brincadeiras tradicionais novos conteúdos, ou

seja, criações anônimas.

As brincadeiras tradicionais possuem em sua essência o elemento

folclórico, sendo assim, a mesma assume características tradicionais,

anônimas, de conversação e de universalidade etc.

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A tradicionalidade e a universalidade das brincadeiras referem-se ao

fato de que povos distintos e antigos brincavam de amarelinha, de jogar

pedrinhas, e que até hoje as referidas brincadeiras são utilizadas pelas

crianças quase que da mesma maneira. O contexto sócio-cultural se faz

presente nas brincadeiras e na memória infantil. Sua origem é desconhecida e

seus criadores são anônimos.

As brincadeiras tradicionais têm a função de garantir o prazer de

brincar, de demonstrar formas de convivência social e de perpetuar a cultura

infantil.

A brincadeira deve possibilitar à criança a espontaneidade das

experiências transmitidas, garantindo assim, a presença do lúdico e da

situação imaginária.

3.4.3. Brincadeiras de faz-de-conta

As brincadeiras de faz-de-conta também são conhecidas como

sociodramática e simbólica, é a fase em que a situação imaginária se faz

presente. Surge por volta dos dois a três anos de idade, período este em que a

representação e a linguagem das crianças começam a surgir, quando a criança

começa a expressar seus sonhos, fantasias, alterando o significado dos

objetos, e a representar papéis presentes no contexto social. (Ibidem, p.39).

No faz-de-conta como já foi mencionado existe a forte presença da

situação imaginária, mas também se faz existente a expressão de regras

durante as brincadeiras. Na qual são impostas por uma ou mais crianças que

fazem parte da atividade. As regras são implícitas, ou seja, estão envolvidas,

mas não de modo claro, onde as crianças devem perceber o que não fora

exposto ou bem explicado.

Todas as idéias e ações adquiridas pelas crianças estão

relacionadas com o mundo social, que incluem o ambiente familiar, escolar, as

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pessoas com as quais se relacionam, em fim, o conteúdo do imaginário esta

intimamente relacionada às experiências adquirida pelo meio envolvente.

A brincadeira de faz-de-conta é de extrema necessidade, pois

através desta modalidade a criança adquire a função simbólica. No simbolismo

a criança altera o significado de objetos ou de situações por outra, ou seja,

atribui novos significados (símbolos) aos objetos. Exemplos: uma caixa de

papelão pode ser considerada pela criança como um carrinho; uma boneca

pode ser representada como sua filha. Esta modalidade garante a

racionalidade do ser humano.

3.4.4. Brincadeiras de construção

Os jogos de construção são importantíssimos, pois o referido jogo

contribui para a aquisição da experiência sensorial, das habilidades que são

adquiridas ao longo do processo e ao mesmo tempo estimula a criatividade da

criança. (Ibidem, p.40).

Não basta simplesmente manusear os tijolinhos de construção, e

sim transformar e construir casas ou móveis para as brincadeiras simbólicas.

Pois de acordo com as informações anterior existe uma relação entre o jogo de

construção e o jogo simbólico.

Ao construir, transformar e destruir, a criança demonstra sua

criatividade, e seus problemas. Pois ao representar uma casa, a mesma

utilizará da imaginação, do desenvolvimento afetivo e do intelectual.

Construindo a criança além de manusear objetos, a mesma atribuirá

nomes as brincadeiras e ao mesmo tempo utilizará suas representações

mentais. Sua complexidade esta relacionada com o desenvolvimento de cada

criança.

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3.5. O Jogo na Concepção de Alguns Autores

3.5.1. O jogo na concepção de Piaget

A origem das manifestações lúdicas acompanha o desenvolvimento

da inteligência que será vinculada aos estágios do desenvolvimento cognitivo.

Cada etapa do desenvolvimento está relacionada a um tipo de atividade lúdica

que acontece da mesma maneira para todos os indivíduos. Outro conceito

importante é sobre o jogo e a relação deste com o processo de adaptação, que

implica dois processos complementares: a assimilação e a acomodação.

(PIAGET apud KISHIMOTO, op.cit, p.52).

A assimilação se caracteriza como o processo pelo qual a criança,

quando se depara com determinados problemas do mundo externo, utiliza,

para resolvê-los, estruturas mentais já existentes.

A acomodação é o processo pelo qual a criança, quando se depara

com o problema e não consegue resolver com as estruturas existentes,

modifica-as. Para Piaget, as crianças adaptam-se ao ambiente, através do

processo de equilibração.

Este conceito se evidencia na atividade lúdica infantil à medida que

as crianças, ao jogarem, assimilam novas informações e acomodam-nas às

suas estruturas mentais.

Identifica três grandes tipos de estruturas mentais que surgem

sucessivamente na evolução do brincar infantil: o exercício, o símbolo e a

regra. O jogo de exercício representa a forma inicial do jogo na criança e

caracteriza o período sensório-motor do desenvolvimento cognitivo. Manifesta-

se na faixa etária de zero a dois anos e acompanha o ser humano durante toda

a sua existência, da infância à idade adulta. (Ibidem, p.59).

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O jogo de exercício não supõe o pensamento nem qualquer

estrutura representativa especificamente lúdica.

O jogo simbólico tem início com o aparecimento da função simbólica,

no final do segundo ano de vida, quando a criança entra na etapa pré-

operatória do desenvolvimento cognitivo. Um dos marcos da função simbólica é

a habilidade de estabelecer a diferença entre alguma coisa usada como

símbolo e o que ela representa seu significado.

“Quando brinca, a criança assimila o mundo à sua maneira, sem

compromisso com a realidade, pois sua interação com o objeto não depende

da natureza do objeto, mas da função que a criança lhe atribui.” Significa dizer

que a criança ao representar um objeto por outro ou atribuir ao objeto

significados diferentes, o mesmo não se preocupa com a realidade do contexto

ou do próprio objeto, para assim, lhe atribuir significados. Como por exemplo:

uma cama pode ser representada pela criança como uma aeronave. (PIAGET

apud LATAILLE, 1992, p.14).

Sendo assim, concebendo a estrutura do símbolo como instrumento

de assimilação lúdica, Piaget observa que durante o desenvolvimento da

criança, surgem novos e diversos símbolos lúdicos que determinam à evolução

do jogo simbólico.

O jogo de regras constitui-se os jogos do ser socializado e se

manifestam quando, por volta dos 4 anos, acontece um declínio nos jogos

simbólicos e a criança começa a se interessar pelas regras. Não se identifica

nos jogos de regras o processo de involução. Estes se desenvolvem e se

mantém por toda a vida, como é o caso dos esportes, cartas e outros. (Ibidem,

p.18).

Neste sentido, para o autor citado, o jogo de regras apresenta um

equilíbrio entre a assimilação ao eu e a vida social, marcando a passagem do

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jogo infantil para o jogo adulto. As regras conferem legitimidade ao jogo,

inserindo, na competição, uma disciplina coletiva e uma moral de honra.

Portanto, o autor forneceu uma percepção sobre as crianças que

serve como base de muitas linhas educacionais atuais. De fato, suas

contribuições para as áreas da Psicologia e Pedagogia são imensuráveis.

3.5.2. O jogo na concepção de Vygotsky

Estabelece uma relação estreita entre o jogo e a aprendizagem,

atribuindo-lhe uma grande importância. Para que possamos melhor

compreender essa importância é necessário que recordemos algumas idéias

de sua teoria do desenvolvimento cognitivo. A principal é que o

desenvolvimento cognitivo resulta da interação entre a criança e as pessoas

com quem mantém contato regular. Convém lembrar também que o principal

conceito é o de zona de desenvolvimento proximal, que ele define como a

diferença entre o desenvolvimento atual da criança e o nível atingido quando

resolve problemas com auxílio, levando à conseqüência de que as crianças

podem fazer mais do que conseguiriam fazer por si só. (VYGOTSKY apud

LATAILLE, 1992, p.25).

Não é todo jogo da criança que possibilita a criação de uma zona de

desenvolvimento proximal, do mesmo modo que nem todo o ensino o

consegue; porém, no jogo simbólico, normalmente, as condições para que ela

se estabeleça estão presentes, visto que nesse jogo estão presentes uma

situação imaginária e uma situação na qual o sujeito terá que submeter-se a

certas regras de conduta. Sendo assim, o autor, afirma que as regras são

partes integrantes do jogo simbólico, embora, não tenham o caráter de

antecipação e de reduzir a vários elementos a um sistema como nos jogos

habitualmente regrados (sensatos). Ao desenvolver um jogo simbólico a

criança ensaia comportamentos e papéis, projeta-se em atividades dos adultos,

ensaia atitudes, valores, hábitos e situações para os quais não está preparada

na vida real. (VYGOTSKY apud KISHIMOTO, op.cit, p.61).

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Também detecta no jogo outro elemento a que atribui grande

importância: o papel da imaginação que coloca em estreita relação com a

atividade criadora. Ele afirma que os processos de criação são observáveis

principalmente nos jogos da criança, porque no jogo ela representa e produz

muito mais do que aquilo que viu. Ou seja, segundo ele a imaginação é uma

atividade consciente. E sua origem se estabelece a partir da ação (Ibidem,

p.63).

A brincadeira, o jogo, é uma atividade específica da infância, em que

a criança recria a realidade usando sistemas simbólicos. Essa é uma atividade

social, com contexto cultural e social.

A noção de zona proximal de desenvolvimento interliga-se, portanto,

de maneira muito forte, à sensibilidade do professor em relação às

necessidades e capacidades da criança e à sua aptidão para utilizar a forma

mais adequada de exploração do meio a fim de dar-lhe a possibilidade de

passar do que sabe fazer para o que não sabe. Assim sendo, as brincadeiras

que são oferecidas à criança devem estar de acordo com a zona de

desenvolvimento em que ela se encontra, desta forma, pode-se perceber a

importância do professor conhecer a teoria de Vygotsky.

O papel do adulto e educador se faz necessário numa vivência em

todas as fases da infância, pois é importante que o adulto e o educador

possam agarrar-se ao seu autoconhecimento e autoconsciência, o

conhecimento teórico. Desta forma, ele estará preparado para intervir no jogo

infantil, de maneira adequada, destacando o progresso e proporcionando mais

crescimento. O adulto deve ser um facilitador do jogo e não um jogador. Brincar

com criança não é perder tempo, é ganhá-lo.

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CONCLUSÃO

O estudo permitiu concluir que os jogos e as brincadeiras

Psicomotoras permitem o desenvolvimento integral do aluno, possibilitam o

crescimento e a aprendizagem, dando à criança a oportunidade de descobrir,

aprender e explorar o mundo em que vive. A brincadeira favorece ainda o

desenvolvimento da auto-estima, da criatividade e da psique infantil,

ocasionando mudanças qualitativas em suas estruturas mentais. Através das

brincadeiras, as crianças desenvolvem também algumas noções de grande

importância para a vida em sociedade, como a noção das regras, dos papeis

sociais, do folclore, entre outras.

Verificou-se no capítulo três a existência de teorias sobre a

importante contribuição dos jogos no desenvolvimento e na aprendizagem

infantil, onde os referentes autores: Piaget e Vygotsky atribuíram aos jogos um

papel importantíssimo para construção do conhecimento. Ambos afirmam que

o desenvolvimento é resultado da interação com o meio, no qual o sujeito é

ativo e participativo.

Observou-se que os jogos/brinquedos educativos devem contemplar

a criança em suas múltiplas inteligências, abordando assim, aspectos

relacionados às representações mentais, de interação social, afeto e de

experiências relacionadas à manipulação e o desempenho de ações sensório-

motoras, ou seja, o brinquedo/jogo deve contemplar a criança por inteiro,

contribuindo assim, para o desenvolvimento e aprendizagem infantil.

Na pesquisa foi possivel perceber que o ato de brincar pode

incorporar valores morais e culturais, em que as atividades podem promover a

auto-imagem, a auto-estima, a cooperação, já que o lúdico conduz à

imaginação, fantasia, criatividade.

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BIBLIOGRAFIA

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BRETAS, José Roberto da Silva. Cuidados com o Desenvolvimento

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LATAILLE, Yves de. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenética em

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MANOEL, Edson de Jesus. Educação Física Escolar: fundamentos de uma

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KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogos Infantis: o jogo a criança e a educação.

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ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I Psicomotricidade e o desenvolvimento infantil 10 1.1. Conceitos e definições sobre Psicomotricidade 10 1.2. Desenvolvimento da criança 10 1.3. Comportamento da criança 12 1.4. Educação Psicomotora nas escolas 13 1.5. Valências Psicomotoras 14 1.5.1. Esquema corporal 14 1.5.2. Lateralidade 15 1.5.3. Estruturação espacial 15 1.5.4. Orientação temporal 16 1.5.5. O ritmo 16 1.5.6. Equilíbrio 16 CAPÍTULO II Interação e construção: o sujeito e o conhecimento no construtivismo de Piaget 18 2.1. Gêneses de uma teoria 18 2.1.1. Empirismo 18 2.1.2. Racionalismo 18 2.1.3. Relativismo 19 2.2. Fatores influenciadores do desenvolvimento cognitivo segundo Piaget 20 2.2.1. Experiência física 20 2.2.2. Hereditariedade 20 2.2.3. Transmissão social 20 2.3. Fator dominante do desenvolvimento cognitivo segundo Piaget 21 2.3.1. Processo de equilibração 21 2.4. Adaptação, organização e a inteligência 23 2.5. Estágios de desenvolvimento segundo Piaget 24

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2.5.1. O Período Sensório-Motor (dois primeiros anos de vida) 25 2.5.2. Estágio Pré-Operacional (de dois a sete anos) 26 2.5.3. Estágio Operacional Concreto (de sete a doze anos) 27 2.5.4. Estágio Operacional Formal (de doze até a fase adulta) 28 CAPÍTULO III Brincar/jogar e suas contribuições para o desenvolvimento infantil 29 3.1. Definição de jogo 29 3.2. Os três níveis de diferenciações do termo jogo 30 3.2.1. Resultado de um sistema lingüístico 30 3.2.2. Um sistema de regras 31 3.2.3. Um objeto 31 3.3. Histórico 31 3.3.1. O brinquedo 32 3.4. Tipos de brinquedos e brincadeiras 33 3.4.1. Brinquedo educativo 33 3.4.2. Brincadeiras tradicionais infantis 34 3.4.3. Brincadeiras de faz-de-conta 35 3.4.4. Brincadeiras de construção 36 3.5. O jogo na concepção de alguns autores 37 3.5.1. O jogo na concepção de Piaget 37 3.5.2. O jogo na concepção de Vygotsky 39 CONCLUSÃO 41 BIBLIOGRAFIA 42 FOLHA DE AVALIAÇÃO 45

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES Instituto de Pesquisa Sócio-Pedagógicas Pós-Graduação Lato Sensu Título da Monografia COTRIBUIÇÃO DOS JOGOS PARA O PROCESSO DE

DESEVOLVIMETO PSICOMOTOR EM CRIAÇAS

DE UM A TRÊS AOS DE IDADE

Data da Entrega: ___________________________ Avaliado por: ______________________________Grau: ________________

Rio de Janeiro, ______ de ______________________ de ________ _______________________________________________________________

Coordenação do Curso

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