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CONTRIBUIÇÕES DE P+L NA GESTÃO DE RESÍDUOS DAS ATIVIDADES DE PANIFICAÇÃO: ESTUDO DE CASO EM PANIFICADORAS DA CIDADE DE CAMPINA GRANDE - PB SHARITA SANTANA DA SILVA (UFCG ) [email protected] Adriana Salete Dantas de Farias (UFCG ) [email protected] Durante muito tempo os problemas ambientais eram restritos a alguns países, no entanto, com o aumento da produção e do consumo, a degradação ambiental passou a assolar todo o planeta. Além disso, o crescimento da população mundial, fez com que as empresas produzissem mais, afetando a disponibilidade e a qualidade dos recursos naturais. Diante deste contexto, algumas organizações começaram a adotar práticas gerenciais responsáveis, a fim de minimizar a geração de resíduos. Uma ferramenta que pode auxiliar no alcance dessas práticas é a Produção mais Limpa. Esta ferramenta foi adaptada pelo CNTL/SENAI-RS (2007) para aplicação em vários setores de atividades econômicas nacionais. Por isso, foi escolhida como base teórica para realização deste trabalho, cujo objetivo foi identificar as atividades de tratamento dos resíduos gerados em processos produtivos de panificação em Campina Grande à luz dos princípios de P+L. Essa pesquisa é de natureza descritiva, em função de que foram identificados os resíduos gerados em três panificadoras locais e as respectivas formas de tratamento. Os resultados evidenciaram que embora as panificadoras realizem atividades de tratamento dos principais resíduos gerados, como: o reuso e a reciclagem interna, porém a natureza dessas atividades é corretiva, visto que os resíduos continuam sendo gerados. Palavras-chaves: P+L; Gestão Ambiental Empresarial; Atividades de Panificação. XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

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CONTRIBUIÇÕES DE P+L NA GESTÃO DE

RESÍDUOS DAS ATIVIDADES DE PANIFICAÇÃO: ESTUDO DE CASO EM PANIFICADORAS DA

CIDADE DE CAMPINA GRANDE - PB

SHARITA SANTANA DA SILVA (UFCG ) [email protected]

Adriana Salete Dantas de Farias (UFCG ) [email protected]

Durante muito tempo os problemas ambientais eram restritos a alguns países, no entanto, com o aumento da produção e do consumo, a degradação ambiental passou a assolar todo o planeta. Além disso, o crescimento da população mundial, fez com que as empresas produzissem mais, afetando a disponibilidade e a qualidade dos recursos naturais. Diante deste contexto, algumas organizações começaram a adotar práticas gerenciais responsáveis, a fim de minimizar a geração de resíduos. Uma ferramenta que pode auxiliar no alcance dessas práticas é a Produção mais Limpa. Esta ferramenta foi adaptada pelo CNTL/SENAI-RS (2007) para aplicação em vários setores de atividades econômicas nacionais. Por isso, foi escolhida como base teórica para realização deste trabalho, cujo objetivo foi identificar as atividades de tratamento dos resíduos gerados em processos produtivos de panificação em Campina Grande à luz dos princípios de P+L. Essa pesquisa é de natureza descritiva, em função de que foram identificados os resíduos gerados em três panificadoras locais e as respectivas formas de tratamento. Os resultados evidenciaram que embora as panificadoras realizem atividades de tratamento dos principais resíduos gerados, como: o reuso e a reciclagem interna, porém a natureza dessas atividades é corretiva, visto que os resíduos continuam sendo gerados.

Palavras-chaves: P+L; Gestão Ambiental Empresarial; Atividades de Panificação.

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1. Introdução

A questão ambiental tornou-se um dos temas mais debatidos nos últimos anos.

Durante muito tempo acreditou-se que o planeta Terra teria capacidade ilimitada, podendo

receber e assimilar resíduos indefinidamente. Consequentemente, os recursos naturais se

tornaram escassos. Essa condição de escassez fez com que a sociedade passasse a exigir um

maior controle no uso dos recursos naturais e no descarte de resíduos urbanos e industriais,

favorecendo o estabelecimento de legislações próprias e submetendo quase todos os

segmentos industriais a regulamentação ambiental.

Neste contexto, algumas organizações tiveram que adotar práticas estratégicas de

destinação e tratamento de resíduos, a fim de minimizar os impactos gerados por seus

processos produtivos. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de

Resíduos (ABTRE, 2006). O Brasil tem gerado cerca de 3,3 milhões de toneladas de resíduos

industriais por ano e somente 10% desse total é tratado. A maior parte dos rejeitos é

depositada em lixões a céu aberto e/ou em lençóis freáticos.

Para auxiliar as organizações na adaptação das novas exigências legais e/ou para

desenvolver nos processos produtivos atividades com menor impacto ambiental, várias

ferramentas de gestão empresarial ambiental têm sido desenvolvidas. Uma dessas ferramentas

é a Produção mais Limpa ou P+L. Esta ferramenta atua de forma preventiva em relação aos

aspectos ambientais, analisando a origem dos resíduos com o objetivo de eliminá-lo na fonte,

ou, na impossibilidade, minimizar a geração de resíduos e seu descarte sem tratamento na

natureza.

Para Gasi e Ferreira (2006) a Produção mais Limpa reflete uma mentalidade de

produzir com mínimo impacto, dentro dos atuais limites tecnológicos e econômicos, não se

contrapondo ao crescimento e considerando que os resíduos são produtos com valor

econômicos negativo, que geram despesas e podem ser evitados.

No Brasil a Produção mais Limpa (P+L) tem sido empregada nos mais variados

setores e atividades econômicas, a exemplo do setor de alimentos, construção civil,

confecções, gráficas, matadouros, frigoríficos e panificadoras. Entre estes setores, pode-se

destacar o setor de panificação, que é um dos segmentos industriais que mais cresce no Brasil.

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Formado por micro e pequenas empresas que atendem em média 44 milhões de

clientes por dia (21,5% da população nacional), o setor de panificação nacional constituindo-

se num importante gerador de emprego e renda. Atualmente, em função desse setor, são

gerados cerca de 802 mil empregos diretos e 1,85 milhões de forma indireta (PROPAN,

2013).

Pela importância deste setor, é necessário que haja desenvolvimento de suas atividades

no sentido de torná-las menos impactantes ambientalmente e, assim, possa gerar benefícios

sociais e econômicos. A P+L pode contribuir para a melhoria do desempenho ambiental das

atividades de panificação, promovendo a eficiência no uso de matérias-primas e a

minimização de resíduos industriais. Com bases nessas argumentações, o problema proposto

para investigação nessa pesquisa é apresentado da seguinte forma: Como são realizadas as

etapas produtivas de empresas de panificação na cidade de Campina Grande-PB e como

são tratados os resíduos gerados? Para responder a essa questão, é objetivo desse trabalho

identificar o tratamento dos resíduos gerados em processos produtivos de empresas de

panificação de Campina Grande – PB, à luz dos princípios da P+L.

A utilização da P+L como ferramenta de gestão ambiental, pode permitir, com base na

observação de seus princípios, uma avaliação das diferentes etapas produtivas do setor, a fim

de verificar em que medida os princípios da P+L já estão presentes nas empresas e quais ainda

necessitam ser incorporados.

2. Modelos de Produção mais Limpa (P+L)

2.1 Modelo de Gasi e Ferreira (2006)

Para Gasi e Ferreira (2006), o processo de implantação de P+L tem início com o

reconhecimento da necessidade de sua aplicação, que é proveniente do cumprimento da

legislação ambiental específica, do atendimento as exigências dos clientes, da pressão

exercida pelos concorrentes, do alinhamento as políticas ambientais e do atendimento à

demanda da comunidade. As ações de P+L obedecem a uma hierarquia de prioridades

balizadas pelos pressupostos dessa ferramenta.

O primeiro nível visa à eliminação dos resíduos, através do ecodesign, reformulação

de produtos, substituição de matérias-primas e inovação tecnológica. Se a eliminação total

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não for possível, um segundo nível é desenvolvido a fim de minimizar a geração de

resíduos descartados pelo processo produtivo, através da reintegração ou reutilização na

fonte. Na impossibilidade de reintegração, um terceiro nível objetiva desenvolver processos

de reciclagem dentro do processo produtivo, através da revalorização e retorno de resíduos

na forma de material reciclado.

O quarto nível consiste no desenvolvimento de reciclagem fora do processo

produtivo, trata-se de um canal reverso de reciclagem que tem como suprimento de seu

sistema produtivo, os resíduos gerados nos outros processos que são revalorizados e voltam

para os ciclos produtivos de outras empresas como matéria-prima secundária. Por fim, quando

não há mais nenhuma possibilidade de revalorização o modelo de P+L prever o tratamento e

disposição dos resíduos de forma ambientalmente segura na natureza.

2.2 Modelo do CNTL/SENAI-RS (2007)

O modelo do CNTL/SENAI-RS (2007) propõe que a priorização das oportunidades

esteja fundamentada na prevenção da geração dos resíduos, onde as possíveis modificações

ocorrem nos níveis de aplicações de P+L. O primeiro nível sugere observações de caráter

preventivo, como forma de reduzir os resíduos na fonte. Esta ação é alcançada através da

modificação do produto, que pode incluir substituição completa do produto; uso de materiais

recicláveis; redução do número de componentes; melhor aproveitamento da matéria-prima,

entre outros.

Uma alternativa para alcançar a minimização dos resíduos na fonte é a modificação

no processo produtivo, através de:

Boas práticas de P+L: consistem em limpezas periódicas, uso cuidadoso de matérias-

primas, alterações no layout físico, treinamento e capacitação de funcionários.

Substituição de matérias-primas: reduz perdas por manuseio operacional, através da

substituição de materiais tóxicos por atóxicos e não renováveis por renováveis.

Modificação tecnológica: ocorre pela utilização de equipamentos mais eficientes e

substituição completa da tecnologia, permitindo o rastreamento de perdas e a diminuição do

risco de acidentes de trabalho.

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A redução de resíduos e emissões também pode ser alcançada através de ações de

reciclagem interna, nível 2. Onde se considera que os resíduos não podem ser evitados,

busca-se reintegrá-los ao processo produtivo, através da utilização de sobras de matérias-

primas. Quando essa prática não elimina totalmente os resíduos, procede-se então para a

reciclagem externa ou reintegração do ciclo biogênico através da segregação de resíduos na

fonte. Após a aplicação dessas etapas, o programa de P+L pode ser considerado como

implementado.

Diante deste contexto pode-se observar que o modelo proposto por Gasi e Ferreira

(2006) visa à conceituação de P+L e a identificação de uma hierarquia de prioridades.

Enquanto que o modelo do CNTL/SENAI-RS (2007) parte do conceito para a prática

adaptando os princípios de P+L para setores específicos. Dessa forma, os modelos

examinados se mostram complementares podendo contribuir significativamente para a

solução dos problemas ambientais no âmbito empresarial, uma vez que a prioridade está na

identificação de opções de não geração de resíduos e prevenção da poluição na fonte.

3. Metodologia da Pesquisa

A presente pesquisa é descritiva, pois buscou identificar e descrever as etapas do

processo produtivo de empresas do setor de panificação, à luz de P+L. Segundo Hair Jr et al

(2005) esse tipo de pesquisa pode ser muito útil quando se busca investigar práticas

inovadoras de produção e gestão, e quando se aplica a temas de estudos relativamente novos,

como é o caso dos estudos de P+L. Em relação aos procedimentos técnicos, adotou-se o

estudo de caso, que consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos,

permitindo o amplo e detalhado conhecimento destes (GIL, 2002).

O presente trabalho analisará o processo produtivo de três empresas: uma panificadora

pública que utiliza o forno elétrico na sua produção, e duas de iniciativa privada (uma que

utiliza o forno elétrico e outra que utiliza o forno à lenha). Os nomes utilizados para

identificar as empresas estudadas nessa pesquisa são fictícios, a fim de preservar a identidade

das organizações.

A primeira etapa da pesquisa consistiu na revisão da literatura em torno dos conceitos

e metodologia de aplicação da P+L, tendo como base o modelo de Produção mais Limpa em

panificadoras e confeitarias, desenvolvido pelo Centro Nacional de Tecnologias Limpas -

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CNTL, que permitiu a estruturação de um roteiro para coleta e análise dos dados primários da

pesquisa. O tratamento dos dados ocorreu de modo qualitativo, através da análise comparativa

entre os conceitos contidos no modelo do CNTL/SENAI-RS (2007) e a prática da empresa.

4. Apresentação e análise dos resultados

4.1 A Panificadora Superpão

A primeira empresa é Panificadora Superpão, localizada na cidade de Campina

Grande, Paraíba. Essa empresa faz parte de um Projeto da Prefeitura Municipal de Campina

Grande que busca beneficiar famílias carentes e Instituições vinculadas a Prefeitura.

Inicialmente o Projeto se limitava a distribuição do leite de soja, mas com o passar dos anos

foi incorporado à fabricação do pão francês. Hoje são produzidos diariamente cerca 4.000

pães e 350 litros de leite, que são doados de segunda a quinta-feira no próprio

estabelecimento.

Todos os materiais são acondicionados em cima de paletes de madeira na área de

estoque. O critério de utilização dos materiais é o FIFO (First-In-First-Out ou primeiro que

entra é o primeiro que sai). Desta forma, a matéria-prima é consumida conforme o prazo de

validade, os mais antigos são colocados em cima, facilitando a reposição no processo

produtivo e a organização do ambiente de trabalho.

O processo de fabricação do pão francês inicia-se com a pesagem dos ingredientes:

farinha de trigo, fermento, sal, açúcar e reforçador. Em seguida esses componentes são

misturados na mexedeira com o acréscimo da água, batendo por alguns minutos até atingir o

aspecto ideal. Depois, a massa é cortada, pesada, dividida e prensada. Nesse instante o pão é

fracionado em unidades de 50 gramas com tamanhos e volumes iguais para posterior

modelagem. Depois de modelados os pedaços de massa crua são colocados em assadeiras e

postos para fermentar em câmaras de crescimento por aproximadamente uma hora. Neste

momento são feitos pequenos cortes em cima da massa a fim de estabelecer o formato padrão.

Devido à perecibilidade do pão, ele não poderá ser armazenado por muito tempo.

Tendo em vista esta situação, a Panificadora Superpão só possui um ciclo de produção,

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assando os pães uma hora antes da entrega, proporcionado assim a satisfação dos

consumidores e reduzindo a armazenagem dos produtos acabados. No entanto, quando o

número de beneficiários é menor do que a quantidade produzida, os pães são doados aos

funcionários e a Instituições vinculadas a prefeitura.

No que diz respeito à distribuição do pão, tanto as famílias cadastradas no Programa,

quanto as Unidades atendidas, se dirigem a empresa para pegar a sua quantidade diária de

pães (5 pães por família) eximindo a Superpão de qualquer responsabilidade de transporte.

4.1.1 Principais resíduos gerados na Panificadora Superpão

A pesagem de ingredientes é de fundamental importância na qualidade do pão. No

entanto, ainda existe a geração de alguns resíduos durante esta etapa do processo produtivo. A

seguir serão apresentados os tipos de resíduos e sua destinação:

Sacos de ráfia: Semanalmente são gastos cerca de 16 sacos de farinha, que são doados

uma vez no mês para armazenagem de ração animal, sendo de total responsabilidade dos

beneficiários o transporte do material doado.

Embalagens plásticas: Por semana são gastos cerca de 4 sacos de açúcar e 5 de

reforçador, que são jogados diretamente no lixo.

Embalagens de papelão: Servem para acomodar os pacotes de reforçador. Depois de

usadas, são reaproveitadas para depositar o lixo da Empresa.

Para a Superpão todos os resíduos gerados na pesagem dos ingredientes são

considerados poucos, correspondendo a 10% da quantidade do material utilizado na produção.

Durante o corte da massa, é verificada a presença de:

Garrafas plásticas: Semanalmente são gastos cerca de 3 garrafas de óleo na produção

do pão, correspondendo a 10% do material utilizado, que são destinados a Coleta Urbana.

Terminado o processo produtivo do pão, ainda existe:

Farelo de pão: Quando os pães são dispostos nas caixas de armazenagem, caem farelos

que correspondem a 10% da produção. Este resíduo é destinado à doação.

Após ter sido verificado os tipos de resíduos e sua destinação, foi verificada que a

Superpão realiza ações de reuso externo (nível 3), quando a empresa faz a doação dos sacos

de ráfia e do farelo de pão para a criação de animais. Embora a quantidade de resíduos, seja

considerada pouca (10% da quantidade de material utilizado na produção) ainda existe a

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oportunidade de melhorias, tendo em vista que a maior parte dos rejeitos é jogada no lixo e

não se sabe qual o seu destino.

4.2 A Panificadora Megapão

A Panificadora Megapão (nome fictício), instalada na cidade de Campina Grande,

Paraíba. Quando foi fundada em 1998, a empresa não possuía produção própria, todos os

produtos eram comprados e revendidos na instituição, até que em 2002 a produção passou a

ser interna. Atualmente a Megapão produz cerca de 4.000 pães e 200 itens diversificados, que

são produzidos de segunda a sábado das 05h às 18h.

A entrega de materiais na Panificadora Megapão é feita pelos fornecedores, através de

carros e caminhões. Estes itens são armazenados e organizados no estoque, segundo o prazo

de validade, que varia de 75 dias a um ano. Sendo de total responsabilidade dos padeiros a

verificação dos produtos em falta e a vencer.

Para uma produção de 1.300 pães, é preciso: 50 kg de farinha de trigo; 1,1 kg de sal;

1,5 kg de fermento biológico; 0,5 kg de reforçador e 28 litros de água. Esses ingredientes são

misturados na mexedeira por aproximadamente 15 minutos, em seguida a massa é cilindrada

até ficar lisa. Quando atingir o aspecto ideal, será cortada e dividida em unidades de 2,2 kg,

que serão fracionadas na máquina de prensar, assumindo a quantidade de 30 pães com o peso

médio de 50g. Neste momento os pedaços de massa, passam pela modeladora, sendo

polvilhados com fubá. Depois de modelados, os pães são dispostos em assadeiras e

encaminhados para descansar em armários climatizados por um período de 1 hora.

Os produtos acabados são expostos em balcões e prateleiras. Porém permanecem por

pouco tempo, uma vez que, a procura por alimentos frescos, tem aumentado gradativamente.

Porém quando a quantidade de pães produzidos é superior a procura, as sobras são doadas

para os funcionários. Neste caso, podemos verificar que todos os itens fabricados, são

vendidos na própria empresa, desta forma o cliente é responsável pelo transporte dos

produtos.

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4.2.1 Principais resíduos do processo produtivo na Panificadora Megapão

De acordo com o levantamento realizado na panificadora Megapão, os resíduos estão

presentes em praticamente todas as etapas do processo de produção do pão francês. Na parte

de pesagem é possível identificar os seguintes resíduos:

Sacos de ráfia: São gastos semanalmente 24 sacos de farinha, que são guardados e

vendidos de forma trimestral para uma distribuidora de alimentos.

Embalagens plásticas: Envolvem o açúcar, o sal e o reforçador, sendo destinados a

Coleta urbana.

Embalagens de papelão: Servem para acomodar os pacotes de reforçador. Depois de

usadas, são reaproveitadas para depositar o lixo da Empresa.

Para a Megapão todos os resíduos gerados na pesagem dos ingredientes são

considerados de médio porte, com um percentual entre 10% e 20% da quantidade do material

utilizado na produção.

Durante a cilindragem o desperdício se torna mais evidente:

Resíduo de massa cilindrada: Diariamente são gerados cerca de 1,8 kg de resíduo de

massa cilindrada. Esse valor é considerado alto, representando um percentual acima de 20%

dos resíduos, que são guardados e doados uma vez por semana.

Resíduo de farinha de trigo: O resíduo de massa que fica depositado em máquinas e

equipamentos corresponde a 10% da produção, que são guardados e doados.

Durante o corte da massa, é verificada a presença de:

Garrafas plásticas: Semanalmente são gastos cerca de 8 garrafas de óleo, que são

destinadas a Coleta Urbana.

Durante a modelagem, observa-se a presença de:

Resíduo de fubá: Ao final de cada dia, todo o resíduo de fubá que

recolhido e reservado para doação. Sua representatividade é de 10% da produção.

Encerradas as atividades produtivas, ainda existe:

Farelo de pão: Caem durante a saída dos pães para as caixas de armazenamento.

Correspondendo a 10% do material utilizado, sendo reservado para doação.

Dados os resíduos listados anteriormente, é possível verificar apenas ações de reuso

externo (nível 3), quando a empresa vende os sacos de farinha de trigo para uma distribuidora

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de alimentos e quando doa seus dos resíduos de massa, farinha e fubá para a criação de

animais.

4.3 A Panificadora Sotrigos

A terceira pesquisa foi realizada na sede da Sotrigos (nome fictício), na cidade de

Campina Grande, Paraíba. A empresa atua no mercado desde 1950, produzindo diariamente

cerca de 6.500 pães e diversos tipos de alimentos.

A ordem da produção de pães é feita com base na demanda do dia anterior. O padeiro

inicia o processo produtivo com a pesagem dos ingredientes (farinha de trigo, açúcar, sal e

reforçador) que são misturados na mexedeira com o acréscimo de água. Em seguida a massa é

passada diversas vezes pelo cilindro, até atingir um aspecto consistente. Depois de cilindrada,

é cortada e pesada em unidades de 2,2 kg, que serão prensadas e fracionadas por uma divisora

em unidades de 50 g. Com o tamanho definido, a massa é modelada e colocada em assadeiras

que serão encaminhadas para câmaras de fermentação. Nessas câmaras, o pão obtém o

tamanho ideal para ser assado.

Nem todos os produtos fabricados pela panificadora, são vendidos no mesmo dia em

que são feitos. Itens como: pão de forma, biscoito e bolachas são fabricados em grandes

quantidades e colocados em prateleiras a disposição do cliente. Caso algum deles esteja perto

de se vencer, são doados para funcionários e instituições de caridade. Quanto à sobra de pão,

ela é reutilizada para a fabricação de farinha de rosca e torrada.

4.3.1 Principais resíduos do processo produtivo da Sotrigos

Na etapa de pesagem de ingredientes encontramos os seguintes resíduos:

Sacos de farinha de trigo: São gastos semanalmente 30 sacos de farinha de trigo. Estes

resíduos são guardados e vendidos uma vez no mês para uma distribuidora de alimentos.

Resíduos de embalagens plásticas: São decorrentes do fermento e reforçador, essas

embalagens, são destinadas a Coleta Urbana.

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Para a Panificadora Sotrigos todos os resíduos gerados na pesagem dos ingredientes

são considerados poucos, correspondendo a 10% da quantidade do material utilizado na

produção.

Na etapa de mistura, verificamos a presença de:

Resíduo de massa misturada: Normalmente os resíduos de massa, correspondem a

10% da produção. Estes resíduos são reintegrados na produção para a fabricação de torradas e

farinha de rosca.

Na cilindragem encontramos:

Resíduo de farinha na cilindragem: O resíduo de massa que fica depositado em

máquinas e equipamentos corresponde a 10% da produção. Estes resíduos são reutilizados

para fazer torradas.

No cozimento, é usada a lenha para assar os pães. Ela gera os seguintes resíduos:

Fumaça: é emitida através do forno a lenha.

Resíduo de madeira: Quanto ao volume de resíduos verificou-se um percentual acima

de 20% da quantidade de material utilizado para assar os pães, o que constitui uma grande

quantidade de resíduos, que são destinados a coleta Urbana.

Tomando como base os níveis de aplicação da Produção mais Limpa, proposto pelo

CNTL, pode-se verificar que a Sotrigos contempla ações de nível 2 e 3: Reciclagem interna

(nível 2) - todo o resto de massa e de farinha de trigo, são reutilizados para fazer torradas e

farinha de rosca; Reciclagem externa (nível 3) - ocorre durante a venda de sacos de ráfia para

outras empresas.

4.4 Análise comparativados resultados das panificadoras Superpão, Megapão e

Sotrigos

A Empresa Superpão utiliza o forno elétrico no seu processo produtivo. Seus resíduos

são considerados poucos, correspondendo a 10% da quantidade de material utilizado. Estes

resíduos são destinados a doação e a coleta urbana, contemplando desta forma, apenas o nível

3 de aplicação de P+L.

A Panificadora Megapão também utiliza o forno elétrico na sua produção. Porém nesta

empresa os resíduos são considerados mais evidentes, estando presente em todas as etapas do

processo produtivo, chegando a 10% nas etapas de pesagem, corte, modelagem e resfriamento

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e acima de 20% na cilindragem. Estes resíduos são destinados a venda, doação e coleta

urbana, contemplando assim, apenas o nível 3 da Produção mais Limpa.

A Panificadora Sotrigos ainda utiliza o forno à lenha na sua produção. Esse forno é o

grande gerador de resíduos da organização, chegando a gerar um percentual acima de 20% de

resíduos durante o cozimento. No entanto não foi verificada uma grande incidência de

resíduos nas demais etapas do processo produtivo, visto que toda a sobra de massa e farinha

de trigo é destinada a fabricação de torradas e farinha de rosca. Bem como os sacos de farinha

são vendidos para uma Distribuidora de alimentos. Desta forma a empresa consegue

contemplar os níveis 2 e 3 de aplicação de P+L.

Diante do exposto, pode-se afirmar que cada uma das empresas estudadas consegue

perceber ainda que limitadamente a importância de produzirem de forma mais limpa. A

tendência, diante dos novos hábitos de consumo, do apelo pela sustentabilidade e das

exigências das legislações vigentes, é que o processo de panificação venha a contemplar todos

os níveis de aplicação da Produção mais Limpa. Este é um grande desafio que só pode ser

experimentado através do esforço das panificadoras em aplicarem esta ferramenta em seus

processos produtivos.

5. Considerações Finais

Em relação aos resíduos gerados em cada etapa do processo produtivo, verificou-se

que as empresas Superpão e Megapão, geram menos resíduos durante a produção do pão. No

entanto se limitam a ação de nível 3, através da doação dos resíduos de massa e da venda dos

sacos de farinha. A panificadora Sotrigos, por sua vez, tem um processo produtivo mais

impactante por conta da lenha, porém, em termos de aplicação dos princípios de P+L é a

empresa que tem o maior número ações, aplicando o nível 2 e 3 em sua produção, através da

reintegração dos resíduos de massa para confeccionar outros produtos.

No processo de cilindragem, recomenda-se a padronização no processo produtivo de

todas as panificadoras, através da reutilização dos resíduos de massa. Neste sentido sugere-se

que a panificadora Megapão utilize uma bandeja de maior diâmetro abaixo do cilindro,

fazendo com que 1,8 kg de farinha de trigo, retornem a produção. Com a reutilização deste

resíduo a empresa conseguirá atingir as ações de nível 2, aumentando assim o seu ganho.

Quanto à panificadora Sotrigos, sugere-se a substituição do forno à lenha pelo elétrico, desta

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forma a empresa ganhará o respeito das pessoas que moram nas proximidades do

estabelecimento e preservará o meio ambiente.

REFERÊNCIAS

ABETRE – Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de resíduos. Disponível em:

<http://www.abetre.com.br>. Acesso em: Agosto, 2013.

BARTHOLOMEU, D.B.; CAIXETA-FILHO, J.V. Logística ambiental de resíduos sólidos. São Paulo:

Editora: Atlas, 2011.

CNTL/SENAI- RS. Produção mais Limpa em padarias e confeitarias. Departamento Regional do Rio Grande

do Sul. Porto Alegre: Centro Nacional de tecnologias Limpas - SENAI, 2007.

GASI, T. M. T.; FERREIRA, E. Produção Mais Limpa. In: VILELA JR., A.; DEMAJOROVIC, J. Modelos e

ferramentas de gestão ambiental: desafios e perspectivas para as organizações. São Paulo: SENAC, 2006.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. Ed. São Paulo: Atlas, 2002.

PROPAN - Programa de Desenvolvimento da Alimentação, Confeitaria e Panificação. Disponível em:

<http://www.propan.com.br>. Acessado em Jul. 2013.

HAIR JR, J. F; BABIN, B; MONEY, A. H; SAMOUEL, P. Fundamentos de Métodos de Pesquisa em

Administração. Porto Alegre: Bookman, 2005.