CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CÂMPUS DE JABOTICABAL CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS Thiago Fernandes Bernardes Engenheiro Agrônomo JABOTICABAL – SÃO PAULO – BRASIL Agosto de 2006

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS

CÂMPUS DE JABOTICABAL

CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE

SILAGENS

Thiago Fernandes Bernardes Engenheiro Agrônomo

JABOTICABAL – SÃO PAULO – BRASIL Agosto de 2006

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS

CÂMPUS DE JABOTICABAL

CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

Thiago Fernandes Bernardes

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Andrade Reis Co-Orientador: Prof. Dr. Giorgio Borreani

Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, Câmpus de Jaboticabal, como parte das exigências para a obtenção do titulo de Doutor em Zootecnia.

JABOTICABAL – SÃO PAULO – BRASIL Agosto de 2006

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Bernardes, Thiago Fernandes

B522c Controle da deterioração aeróbia de silagens / Thiago Fernandes Bernardes. – – Jaboticabal, 2006

vii, 103 f. : il. ; 28 cm Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de

Ciências Agrárias e Veterinárias, 2006 Orientador: Ricardo Andrade Reis Banca examinadora: Antonio Ricardo Evangelista, Clôves

Cabreira Jobim, Luiz Gustavo Nussio, Paulo Henrique Mazza Rodrigues

Bibliografia 1. Estabilidade aeróbia. 2. Inoculante. 3. Perdas. I. Título. II.

Jaboticabal-Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias.

CDU 636.085.52:636.2

Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação – Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de Jaboticabal.

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DADOS CURRICULARES DO AUTOR

THIAGO FERNANDES BERNARDES – filho de Paulo Renato Bernardes e

Marisa Celi Fernandes Bernardes, nasceu na cidade de Ibitiúva – SP em 24 de maio de

1977. Ingressou no curso de Agronomia da Universidade Federal de Lavras - UFLA, em

agosto de 1995, onde foi membro (coordenador) do Núcleo de Estudos em

Forragicultura – NEFOR e bolsista de IC-CNPq no período de 1998 a 2000, obtendo o

título de Engenheiro Agrônomo em julho de 2000. Em março de 2001, ingressou no

curso de Pós-graduação em Zootecnia, Área de Concentração em Produção Animal,

pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências Agrárias e

Veterinárias, Campus de Jaboticabal onde obteve o título de Mestre em fevereiro de

2003. Iniciou o curso de Doutorado em março de 2003 nesta mesma instituição, onde

exerceu o cargo de Professor Bolsista da disciplina Forragicultura e Pastagens no

período de agosto de 2004 a fevereiro de 2005. No período de julho a dezembro de

2005 realizou Estágio de Doutorando no Exterior junto a Università Degli Studi di

Torino, Itália, como bolsista da CAPES e em agosto de 2006 obteve o título de Douto

r.

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Nunca ande pelo caminho traçado, pois ele conduz

somente até onde os outros já foram

Alexander Graham Bell

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À Deus pela vida, pela saúde, pelo lar, pelos amigos, pela coragem nos momentos

difíceis, por iluminar meu caminho e guiar meus passos na direção certa.

Aos meus pais Paulo Renato e Marisa. Durante toda minha vida, ouvi poucas palavras,

apenas os observei. Exemplos de garra e amor. São meus heróis. Tenho o maior

orgulho de vocês.

Dedico

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Ricardo Andrade Reis pela orientação, competência e acima de tudo por ter acreditado no meu trabalho. Essa confiança foi traduzida em oportunidades que fizeram-me crescer como ser humano e pesquisador.

Ao Prof. Giorgio Borreani da Università degli Studi di Torino - Itália pela orientação precisa e demonstração de interesse permanente à pesquisa e no meu progresso. Suas contribuições fizeram-me enxergar uma pesquisa que eu ainda não conhecia.

Ao Gustavo Rezende Siqueira (Fofo) pela amizade e parceria. Tenho maior respeito profissional pela sua pessoa. Homem de competência, honesto e paciente. Espero estar ao seu lado nos trabalhos que virão pela frente.

Ao Rafael Camargo do Amaral (Girdo). Foram quatro anos e meio de amizade sincera e verdadeira. Nos tornamos irmãos e parceiros profissionais. Choramos e sorrimos juntos pelas nossas derrotas e vitórias. O destino nos afastou fisicamente, mas você mora aqui no meu coração... Meu primeiro filho de “Os dois filhos de Thiago”...

À Anna Paula de Toledo Piza Roth (Dequinha) pela sua amizade, dedicação e entusiasmo. Sua ajuda foi fundamental nos trabalhos à campo e nas análises laboratoriais.

Ao Rafael Monteiro (Zóio). Sempre com um sorriso no rosto e demonstrando boa vontade em tudo o que foi solicitado. Meu segundo filho de “Os dois filhos de Thiago”...

À Marcella de Toledo Piza Roth (Curica) pela sua simplicidade e sempre estar disposta a ajudar.

Ao Bruno Natarelli (Bassora) pela humildade e força de vontade. Quantas serenatas ao lado do Girdo fizemos juntos...

Ao Ernesto Tabacco da Università degli Studi di Torino - Itália pela competência e oportunas contribuições. Ao lado do Prof. Borreani forma uma grande dupla no desenvolvimento dos trabalhos na área de conservação de forragens.

Ao Daniele Giaccone e à Mara Scaiola da Associazione Regionale Produttori Latte Piemonte - Itália pela simpatia e sorrisos compartilhados.

À Laura Cavallarin e à Sara Antoniazzi do Istituto di Scienze delle Produzioni Alimentari - Itália pela colaboração e muitos ensinamentos compartilhados. Durante o estágio nos

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tornamos amigos e companheiros de “balada”. Presença feminina, que foi fundamental para que a vida longe de casa se tornasse mais doce.

Ao diretor do Dipartimento di Agronomia da Università degli Studi di Torino - Itália Prof. Aldo Ferrero e aos Professores Carlo Grignani e Dario Sacco pela contribuição e simpatia durante a minha permanência na Itália.

Aos Professores da banca examinadora que pacientemente leram a tese, corrigindo os erros e contribuindo com toda experiência profissional.

À Anna Ciolino Scaduto. Minha brilhante Professora da língua italiana. Uma das almas mais puras e sensatas que conheci nestes últimos anos. Sua competência foi fundamental na realização do meu sonho.

Aos Professores do Departamento de Zootecnia, em especial à Ana Claudia Ruggieri, Alexandre A. M. Sampaio, Luis R. A. Rodrigues (in memória), Mateus J.R. Paranhos da Costa, Mauro D. S. de Oliveira e Telma T. Berchielli por estimular minhas ações, reconhecer minha contribuição e confiar no meu trabalho.

Aos colegas de pós-graduação, que ao omitir os nomes, manifesto minha gratidão pelo carinho, amizade e incentivo.

Aos meus familiares que sempre me deram forças e me completaram com bons exemplos.

À minha namorada Camila pelo incentivo e amor, trazendo-me confiança e o símbolo da mulher.

À Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP/Jaboticabal pela oportunidade de realização do curso.

À Università degli Studi di Torino - Itália pela oportunidade de realização do Estágio no Exterior.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelas concessões das bolsas de estudo.

Muito Obrigado! Grazie Mille!

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SUMÁRIO Página

RESUMO................................................................................................................ iv

SUMMARY.............................................................................................................. v

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS......................................................... 1

1. Introdução......................................................................................................... 1

2. Revisão de Literatura........................................................................................ 4

2.1 Fatores que influenciam na deterioração aeróbia....................................... 4

2.2 Penetração de ar......................................................................................... 4

2.2.1 A Porosidade da silagem e a penetração de ar................................ 5

2.2.2 A lona de cobertura e a penetração de ar......................................... 7

2.2.3 O desabastecimento do silo e a penetração de ar............................ 9

2.3 O paradoxo: Fermentação e estabilidade aeróbia...................................... 12

2.4 Retrospectiva do uso de inoculantes para silagem.................................... 12

2.4.1 Inoculantes contendo bactérias homoláticas.................................... 12

2.4.2 Inoculantes contendo bactérias heteroláticas................................... 16

2.5 Microrganismos envolvidos com a deterioração aeróbia............................ 21

2.5.1 As leveduras........................................ ............................................. 212.5.2 Os fungos e as micotoxinas........... .................................................. 23

2.5.3 Bactérias esporogênicas................................................................... 24

2.5.3.1 O ciclo dos esporos de Clostridium e os produtos lácteos.... 25

3. Referências......................................................................................................... 28

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CAPÍTULO 2 – AVALIAÇÃO DA SILAGEM DE CAPIM-MARANDU TRATADO COM ADITIVO QUÍMICO E INOCULANTES CONTENDO BACTÉRIAS HOMO E HETEROFERMENTATIVAS................................................................................

38

1. Introdução......................................................................................................... 39

2. Material e Métodos............................................................................................ 41

2.1 Experimento 1 – Perfil de fermentação e estabilidade aeróbia.................. 41

2.2 Experimento 2 – Consumo e digestibilidade aparente............................... 43

3. Resultados e Discussão................................................................................... 46

3.1 Perfil da fermentação e estabilidade aeróbia............................................. 46

3.2 Consumo e digestibilidade aparente.......................................................... 54

4. Conclusões....................................................................................................... 57

5. Referências...................................................................................................... 58 CAPÍTULO 3 – INOCULANTES CONTENDO BACTÉRIAS HOMO OU HETEROFERMENTATIVAS NA ENSILAGEM DE MILHO E DE SORGO GRANÍFERO............................................................................................................

64

1. Introdução......................................................................................................... 65

2. Material e Métodos........................................................................................... 66

2.1 Localização, condução das culturas e colheita.......................................... 66

2.2 Tratamentos, inoculação e silos experimentais.......................................... 67

2.3 Avaliação da estabilidade aeróbia.............................................................. 67

2.4 Recuperação de matéria seca.................................................................... 68

2.5 Análises químicas e microbiológicas.......................................................... 68

2.6 Delineamento experimental e análises estatísticas.................................... 69

3. Resultados e Discussão................................................................................... 69

3.1 Fermentação.............................................................................................. 69

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3.2 Estabilidade aeróbia................................................................................... 72

4. Conclusões...................................................................................................... 80

5. Referencias...................................................................................................... 81

CAPÍTULO 4 – AVALIAÇÃO DE FILME DE BAIXA PERMEABILIDADE AO OXIGÊNIO NA VEDAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DA SILAGEM DE MILHO EM DUAS REGIÕES DO SILO TIPO TRINCHEIRA...............................................

85

1. Introdução........................................................................................................ 86

2. Material e Métodos.......................................................................................... 88

2.1 Condução da cultura, colheita, silo e plásticos utilizados.......................... 88

2.2 Perdas de MS e perfil de temperatura....................................................... 90

2.3 Amostragens e preparação das amostras................................................. 91

2.4 Análises químicas...................................................................................... 91

2.5 Análises microbiológicas........................................................................... 92

2.6 Análise dos dados..................................................................................... 92

3. Resultados e Discussão................................................................................. 92

4. Conclusões..................................................................................................... 98

5. Referências..................................................................................................... 99

CAPÍTULO 5 – IMPLICAÇÕES............................................................................... 102

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CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

RESUMO - Com o objetivo de avaliar técnicas, como o uso de aditivos direcionados ao controle de microrganismos aeróbios, bem como a utilização de filme plástico de baixa permeabilidade ao oxigênio no controle da deterioração aeróbia durante a armazenagem e na remoção da silagem, foram conduzidos três estudos. No primeiro, objetivou-se conhecer o perfil de fermentação e a estabilidade aeróbia das silagens de capim-Marandu (Brachiaria brizantha cv. Marandu) submetido a inclusão de benzoato de sódio e inoculantes bacterianos, bem como o consumo e a digestibilidade aparente das rações contendo esta gramínea ensilada com bactérias homo e heterofermentativa. No segundo estudo, o objetivo foi de avaliar a estabilidade aeróbia das silagens de milho (Zea mays) e de sorgo granífero (Sorghum bicolor cv. Kalblanc) inoculadas com Lactobacillus buchneri e L. plantarum. No terceiro, objetivou-se avaliar as perdas na região periférica e central do silo e o efeito do filme plástico com baixa permeabilidade ao oxigênio na vedação de silagem de milho, armazenada em silo tipo trincheira. As plantas de capim-Marandu, quando ensiladas com alta concentração de umidade (20 % de MS), apresentaram perdas elevadas na fase fermentativa e foram estáveis em condições de aerobiose. O uso de benzoato de sódio ou de bactérias não reduziram as perdas de matéria seca durante a fermentação e nem favoreceram a estabilidade aeróbia das silagens de capim-Marandu com alta concentração de umidade. A inoculação com bactérias homo e heterofermentativas, isolada ou associada, não alterou o consumo ou a digestibilidade das rações. A inoculação com L. buchneri na ensilagem de plantas de milho e de sorgo granífero promoveu fermentação heterolática e reduziu a deterioração aeróbia destas silagens após a abertura do silo. No terceiro estudo, a silagem localizada na região central do silo apresentou fermentação lática mais acentuada, desenvolvimento inferior de leveduras e de fungos, bem como menores perdas de matéria seca em relação à região periférica. O uso de filme com baixa permeabilidade ao oxigênio pode reduzir as perdas na estocagem quando o fechamento do silo é adequado. Entretanto, pode aumentá-las durante o período de utilização se a remoção da silagem não for gerida adequadamente.

Palavras-chave: estabilidade aeróbia, gramínea tropical, inoculante, lona, perdas

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AEROBIC DETERIORATION CONTROL OF SILAGES

SUMMARY - Aiming to evaluate techniques, as additives specific for aerobic

microorganism control and plastic film with low oxygen permeability for aerobic

deterioration control during silage storage and removing, three trials were carried out.

The first trial aimed to describe the fermentation profile and the aerobic stability of

Marandu grass (Brachiaria brizantha cv. Marandu) silages submitted to treatment with

sodium benzoate or bacteria inoculates, as well as to evaluate intake and apparent

digestibility of diets containing this grass silage with homo and heterofermentative

bacteria. The second trial was for evaluating the aerobic stability of corn (Zea mays) and

sorghum (Sorghum bicolor cv. Kalblanc) silages inoculated with Lactobacillus buchneri

or L. plantarum. The third trial goal was to evaluate losses in peripheral and central

regions of silo and the effect of plastic film with low oxygen permeability on corn silage

covering in bunker silo. When Marandu grass was ensilaged with high levels of moisture

(20 % of DM) there was great losses during fermentation and was stable at aerobic

conditions. The use of sodium benzoate or bacteria did not reduce the dry matter losses

during fermentation and even did not help aerobic stability in silages of Marandu grass

with high moisture concentration. The inoculation with homo and heterofermentative

bacteria isolated or associated did not change diet intake or digestibility. Inoculation with

L. buchneri promoted heterolactic fermentation and reduced aerobic deterioration of

corn and sorghum silages after silo opening. During the third study, the silage located in

central region of silo in relation to that of peripheral region showed more accentuated

lactic fermentation, inferior developing of yeast and fungi and smaller losses of dry

matter. The use of plastic film with low oxygen permeability can reduce losses during

storage when silo covering is adequate; but, it can increase losses during silo

manipulation when silage is not removed adequately.

Key-words: aerobic stability, film cover, inoculant, losses, tropical grass silage

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CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS 1. Introdução

A conservação de forragens mediante o uso da ensilagem se baseia na

fermentação lática espontânea que se instala num ambiente anaeróbio, em que os

principais agentes fermentadores são as bactérias láticas que metabolizam os

açúcares, prevalecendo a produção de ácido lático. Desse modo, a manutenção da

anaerobiose e a queda do pH constituem os fatores que são responsáveis pela

preservação da forragem que está sendo estocada (DRIEHUIS et al., 1999; PAHLOW

et al., 2003), pois os microrganismos capazes de deteriorar a silagem são inibidos pelo

efeito sinérgico dos ácidos produzidos durante a fermentação, pela pressão osmótica

elevada (determinada pela correta concentração de matéria seca na colheita) e pela

ausência de oxigênio (WOOLFORD, 1990).

Quanto aos fatores ligados à acidificação da massa, estes são obtidos quando

ocorre predominantemente fermentação homolática (DRIEHUIS et al., 1999) e podem

ser alcançados com facilidade, por exemplo, na cultura de milho devido às

características positivas ligadas a ensilabilidade (alta concentração de carboidratos

solúveis, baixo poder tamponante e umidade) que esta espécie possui (ALLEN et al.,

2003).

O contato da massa com o oxigênio é um pouco mais complexo e se torna

inevitável durante algumas fases que compreendem o processo de ensilagem

(abastecimento do silo, armazenagem e remoção). Segundo Sprague (1974), citado por

WOOLFORD (1990) e PAHLOW et al. (2003), em um silo bem fechado o O2 presente

na massa é consumido rapidamente pelo processo de respiração celular e pela

microbiota (microrganismos aeróbios facultativos), pois em 15 minutos cerca de 90% do

oxigênio é removido e menos de 0,5% permanece após 30 minutos. Pelo fato do silo

não ser um ambiente hermético, durante a estocagem o ar penetra no seu interior

(MUCK et al., 2003), principalmente no topo e nas zonas laterais em contato com a

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parede (BOLSEN et al., 1993), sendo que este problema pode se agravar, sobretudo

durante o fornecimento da silagem aos animais (HONIG, 1991).

A presença de O2 desencadeia a proliferação de microrganismos oportunistas

presentes na massa (leveduras, fungos e bactérias aeróbias) que se desenvolvem a

cargo de substâncias energéticas presentes na forragem, levando ao consumo desses

nutrientes, o que acarreta perdas no valor nutritivo da silagem e redução do consumo

pelos animais (LINDGREN et al., 1985).

No Brasil, a inobservância dos processos de oxidação de nutrientes pelos

microrganismos aeróbios e a conseqüente deterioração da silagem tem tido pouca

importância na prática por se tratar na maioria das vezes de um problema

assintomático. A impossibilidade de mensurar as perdas totais por manejo inadequado

que ocorre nas propriedades rurais e a dificuldade de as determinarem quantitativa e

qualitativamente através de trabalhos experimentais, resultam em falta do estimulo à

percepção e à divulgação de resultados para a economia de produção (BERNARDES

et al., 2005). Dificilmente os produtores acreditam em perdas elevadas pelo problema

de oxidação da massa, pois só consideram aquelas que são visíveis (com presença de

fungos), o que subestima as reais perdas envolvidas na ensilagem (SIQUEIRA et al.,

2005).

Os estudos com deterioração aeróbia intensificaram-se nas décadas de 60 e 70,

quando surgiram as pesquisas sobre utilização de aditivos (ácido fórmico, acético e

propiônico), procurando controlar o crescimento de leveduras e de fungos (OHYAMA et

al., 1975; WOOLFORD, 1975).

O alvo dos trabalhos até o momento sobre deterioração aeróbia continua sendo

a inclusão de ácidos durante a ensilagem (MILLS & KUNG, 2002) doses de amônia e

uréia (HILL & LEAVER, 2002), emurchecimento e/ou adição de inoculante microbiano

(CASTRO et al., 2006), aditivos absorventes e disponibilizadores de substrato

(BERNARDES et al., 2003), bem como métodos de alteração da fermentação com a

utilização de bactérias heteroláticas produtoras de acetato e/ou propionato

(HIGGINBOTHAM et al., 1998; DRIEHUIS et al., 2001).

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Apesar de antigo e muito estudado, o problema instabilidade aeróbia de silagens

tem sido freqüentemente relegado a segundo plano. Várias causas podem estar

relacionadas a este fato, pois poucos são os trabalhos, como os de RUPPEL et al.

(1995) e KUZIN & SAVOIE (2001) que estudaram a importância dos fatores inerentes

ao manejo, como: compactação, tempo de enchimento do silo e peso de compactação

sobre as perdas após a abertura, e mais raros os que caracterizam o efeito da silagem

deteriorada e de seus produtos (aminas biogênicas, micotoxinas) sobre a ingestão e

metabolismo dos animais, como os trabalhos de BOLSEN et al. (2002) e TABACCO &

BORREANI (2002a).

O assunto deterioração aeróbia não se limita as questões relacionadas com as

perdas, porque o desenvolvimento de microrganismos, como algumas espécies de

bactérias (Bacillus, Clostridium e Listeria) e alguns fungos filamentosos podem

influenciar nos aspectos ligados a sanidade da silagem (LINDGREN et al., 2002). A

multiplicação de clostrideos pode reduzir a qualidade do leite e de determinados tipos

de queijo. O crescimento de fungos pode vir acompanhado pela produção de

micotoxinas na massa. Dessa forma, os animais que são alimentados com grandes

proporções de silagem na ração (vacas leiteiras) podem intoxicar-se, causando efeitos

indiretos ao homem, ao longo da cadeia alimentar (WHITLOW & HAGLER Jr., 1997).

Por estas razões, se faz necessário colocar em ação todas as tecnologias para

reduzir a penetração de O2 no silo, evitando seus efeitos deletérios, seja durante a

armazenagem ou durante o consumo da silagem.

Os objetivos dos trabalhos subseqüentes foram de avaliar técnicas, como o uso

de aditivos direcionados ao controle de microrganismos aeróbios, bem como a

utilização de filme plástico de baixa permeabilidade ao oxigênio no controle da

deterioração aeróbia durante a armazenagem e na remoção da silagem.

Page 17: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

2. Revisão de literatura 2.1 Fatores que influenciam na deterioração aeróbia

O grau de anaerobiose alcançado após o fechamento do silo e a sustentação

desta durante a utilização do mesmo determinam o êxito da silagem confeccionada,

revelando o O2 como o protagonista do processo de ensilagem (ASHBELL & LISKER,

1988; WOOLFORD, 1990; McDONALD et al., 1991). Segundo PITT (1990) a “vida útil”

da silagem é determinada pela estabilidade em aerobiose da massa e esta é

influenciada por diversos fatores que interagem entre si, envolvendo:

a) temperatura ambiental;

b) espécie forrageira;

c) conteúdo de umidade da cultura;

d) concentração de O2 e CO2;

e) população de microrganismos aeróbios;

f) concentração de ácidos orgânicos.

Ao longo desta revisão será discutido cada tópico, de uma forma direta ou

indireta, procurando compreender as causas e os efeitos da instabilidade aeróbia de

silagens.

2.2 Penetração de ar Os efeitos danosos do ar na qualidade da silagem são manifestados por dois

caminhos (SAVOIE & JOFRIET, 2003). O primeiro ocorre na camada superficial durante

a armazenagem, freqüentemente visível pelo crescimento de fungos. O segundo está

ligado à estabilidade aeróbia durante o período de remoção e fornecimento da silagem,

usualmente manifestado pelo aquecimento da massa.

A troca de gases durante o período de estocagem é fundamentada, segundo o

modelo de McGECHAN & WILLIAMS (1994), por dois efeitos físicos: o fluxo

volumétrico e a difusão. O fluxo volumétrico é dependente dos gradientes de pressão,

sendo que estes são influenciados principalmente pelo movimento de CO2 (principal

gás produzido na fermentação) entre o silo e o ar (HONIG, 1991). Após o término da

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fermentação, a concentração interna de CO2 é de 90%, muito superior à externa

(McGECHAN & WILLIAMS, 1994). Se o silo apresenta algum ponto de escape, ocorre

saída de CO2, o qual é substituído por O2 e N2 (ASHBELL & LISKER, 1988). A

intensidade do fluxo é dependente dos gradientes de temperatura, presença de fendas

na parede do silo, do filme plástico utilizado na vedação e da porosidade da silagem

(WEINBERG & ASHBELL, 2003).

2.2.1 A Porosidade da silagem e a penetração de ar Quanto mais a massa é porosa, mais facilmente o ar poderá penetrar no seu

interior, portanto, a redução da porosidade é a prerrogativa principal para conter a

deterioração aeróbia. RUPPEL et al. (1995) observaram que as perdas durante a

estocagem são inversamente proporcionais aos valores de densidade. Quanto mais

matéria seca (MS) é estocada dentro de um mesmo volume, menores serão os custos

fixos de armazenagem por unidade de MS (MUCK et al., 2003; D’AMOURS & SAVOIE,

2004).

A densidade, a permeabilidade e a porosidade são propriedades inter-

relacionadas, sendo dependentes do conteúdo de umidade (WILLIAMS, 1994),

estrutura da forragem, espécie forrageira, estádio de maturidade e tamanho de partícula

(HONIG, 1991). A redução de 20 kg de MS/m3 na densidade da silagem, segundo

HONIG (1991), pode duplicar o fluxo de gás entre o silo e o ambiente.

No silo, as zonas mais porosas estão localizadas nas camadas superficiais e

laterais (Figura 1), principalmente pela dificuldade de compactação durante o

abastecimento. Os valores de densidade, em silos do tipo trincheira, nas zonas

periféricas são de 70-100 kg MS/m3 e nas zonas centrais variam de 230-240 kg MS/m3,

segundo estudo de TABACCO & BORREANI (2002b).

Page 19: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

Região do silo com intensa troca gasosaentre o seu interior e o ambiente

Figura 1 - Face de um silo tipo trincheira e a zona onde ocorre intensa troca gasosa

D’AMOURS & SAVOIE (2004) avaliaram silos do tipo bunker e verificaram que a

densidade da massa próxima à parede (média de 236,5 kg MS/m3) é inferior 7% quanto

comparada com a região central do silo (média de 255,5 kg MS/m3), em função

principalmente, da dificuldade que o operador tem em compactar próximo às laterais e a

presença mais acentuada do trator no centro do silo.

No estudo desenvolvido com silagem de capim-Elefante, RODRIGUES et al.

(2002a) encontraram que na densidade de 600 kg/m3 os valores de digestibilidade in

vitro foram superiores (média 40,5%) quando comparada à densidade de 400 kg/m3

(27,6%) em silos do tipo trincheira.

De maneira geral, a densidade no silo pode ser afetada pela concentração de

umidade da forragem, percentagem de grãos na massa, processamento ou não dos

grãos, tamanho de partícula, habilidade dos operadores, altura da camada distribuída

no silo durante o enchimento, peso do veículo e a pressão que este exerce, tempo de

compactação e altura do silo (RUPPEL et al., 1995; HOLMES & MUCK, 1999; BOLSEN

et al., 2000; MUCK & HOLMES, 2001; D’AMOURS & SAVOIE, 2004). Estes fatos

indicam que a porosidade pode ser influenciada por diversos fatores, compreendendo

desde a condução da cultura até a etapa de consumo da silagem.

Page 20: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

2.2.2 A lona de cobertura e a penetração de ar A proteção da lona que veda o silo com terra, areia ou cascalho aumentam a

adesão entre esta e a massa e diminuem a incidência de raios solares e as trocas

gasosas com o ambiente. Porém, podem representar grande demanda de mão de obra,

seja durante a confecção ou na retirada da silagem, principalmente quando o silo é

extenso. Por estes motivos, quando materiais extras não são adicionados na cobertura,

a lona passa a ter uma contribuição mais expressiva na etapa de vedação do silo,

objetivando a redução da penetração de ar do ambiente externo para o interior.

Em silos do tipo superfície, a presença da lona também se torna relevante,

devido à falta de paredes laterais para proteção (SAVOIE & JOFRIET, 2003), e a

demanda por filmes mais espessos (0,18 a 0,2 mm) acaba sendo superior, segundo o

modelo proposto por SAVOIE (1988).

Os filmes de polietileno utilizados na cobertura apresentam permeabilidade ao

oxigênio, a qual tende a aumentar notavelmente com a elevação da temperatura

ambiental (DEGANO, 1999). Isto significa que durante o período do verão as silagens

podem se tornar mais propensas à deterioração aeróbia, devido ao aumento da

permeabilidade das lonas, com o conseqüente movimento gasoso devido à diferença

de temperatura e pressão.

KUZIN & SAVOIE (2001) desenvolveram um modelo com o objetivo de estudar

diferentes espessuras de filmes de polietileno e qual o impacto que os diversos níveis

de permeabilidade ao oxigênio teria sobre as perdas da silagem. Considerando uma

profundidade de 3 m ao longo do perfil, o filme com espessura entre 0,1-0,2 mm

(comumente comercializado) promoveu menos de 2% de perdas de matéria orgânica

após 7000 horas de armazenagem, enquanto que na espessura de 0,001 mm verificou-

se 10% de perdas, observando o mesmo tempo de estocagem (Figura 2). Segundo os

autores, quando o período de estocagem for próximo de 125 dias pode-se utilizar filme

com espessura de 0,1 mm e se o tempo for estendido para 300 dias a espessura

deverá ser de 0,2 mm.

Page 21: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

0

2

4

6

8

10

12

0,001 0,01 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4

Espessura do filme (mm)

Per

das

de M

O (%

)

t=500h t=1000h t=3000h t=5000h t=70000h

Figura 2 – Perdas de matéria orgânica (MO) em função da espessura do filme e do tempo de estocagem Fonte: KUZIN & SAVOIE (2001)

FORRISTAL et al. (1999) avaliaram em silos do tipo “big bale” (silos/fardos) a

influência do número de estratos do filme plástico (2, 4 e 6) e da coloração deste

(preto, branco, transparente, verde e verde claro) sobre as perdas e a composição do

gás ao longo da armazenagem. A coloração não influenciou sobre os parâmetros

estudados, porém, nos silos onde estavam presentes seis estratos houve maior

recuperação de MS e crescimento inferior de fungos. Em relação aos gases, a

concentração de CO2 foi reduzida e as concentrações O2 e N2 foram elevadas ao longo

do tempo de estocagem nos 20 cm superficiais de cada silo (1,2 x 1,2 m) em todos os

tratamentos estudados.

SNELL et al. (2002) utilizaram silos experimentais (0,3 m3) para avaliar a

influência de variações na coloração e na espessura do plástico sobre as condições de

preservação e qualidade da silagem, sendo comparados cinco tipos de filmes plásticos:

a) branco/0,09 mm, b) transparente/0,15 mm, c) branco/0,15 mm, d) preto/0,15 mm, e

e) branco/0,2 mm. As características de fermentação da silagem não foram afetadas

pelo tipo de filme. Houve diferença na temperatura da superfície externa dos plásticos,

Page 22: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

sendo que os plásticos preto e transparente tiveram valores superiores. Foi observada

diferença de temperatura na camada de silagem próxima ao filme (0 a 20 cm), porém

esta diferença de tempo foi insuficiente para influenciar as condições de

desenvolvimento de microrganismos.

A coloração do plástico apresenta efeito indireto, uma vez que a permeabilidade

do gás é altamente dependente da temperatura do plástico (HONIG, 1991). Entretanto,

no estudo realizado por SNELL et al. (2002) a variação na permeabilidade do plástico,

devido às diferentes temperaturas de acordo com a cor do mesmo, não afetou a

qualidade da silagem, mesmo na camada mais exposta do silo.

Segundo as normas da American Society for Testing and Materials Standards

(AMST D3985-81), com a elevação da temperatura de 23 a 50 oC a permeabilidade ao

ar dos filmes plásticos aumentam de 3 a 5 vezes. Na escolha da lona é preferível optar

pela cor branca, pois filmes de outras cores, especialmente os escuros, aumentam a

permeabilidade ao O2 pela característica de absorver calor (TABACCO & BORREANI,

2002b).

2.2.3 O desabastecimento do silo e a penetração de ar Um grande número de fazendas tem produzido silagens de qualidade satisfatória

devido aos cuidados tomados durante todo o processo de ensilagem (corte, colheita,

picagem, compactação, vedação e uso de aditivos). No entanto, com freqüência

significativa têm dimensionado erroneamente suas estruturas de armazenagem, devido

ao aproveitamento de silos existentes na propriedade e/ou a construção destes,

desvinculados da previsão da fatia diária a ser removida, em função do número de

animais a serem alimentados, o que tem provocado perdas durante o fornecimento da

silagem (EVANGELISTA et al., 2004; BERNARDES et al., 2005; BORREANI et al.,

2005; SIQUEIRA et al., 2005).

Após a quebra da vedação, a silagem da face frontal do silo que não é

rapidamente removida permanece exposta ao O2. A partir do momento em que isto

ocorre, o principal fator que determina a estabilidade da silagem (anaerobiose) é

perdido e a massa se torna potencialmente instável (WEINBERG & ASHBELL, 2003).

Page 23: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

O ingresso do O2 na face do silo será influenciado pela densidade alcançada

durante a fase de abastecimento (HONIG, 1991; PITT & MUCK, 1993; WEINBERG &

ASHBELL, 2003). Portanto, nas regiões mais porosas da massa (áreas periféricas) os

riscos de deterioração aeróbia aumentam (D’AMOURS & SAVOIE, 2004). Na remoção,

a densidade poderá ser afetada principalmente pelo modo como a silagem é retirada

(por exemplo: equipamento utilizado no corte), devido às perturbações que poderão ser

provocadas na estrutura da massa remanescente (WEINBERG & ASHBELL, 2003), o

que pode levar a maior susceptibilidade à penetração de O2. D’AMOURS & SAVOIE

(2004), estudando a densidade de silagens de milho em silos bunker, avaliaram o

painel em duas profundidades (0 a 18 cm e 18 a 36 cm) e verificaram que na camada

mais profunda a silagem é 9% mais densa quando comparado com a camada de 0 a 18

cm.

O processo de deterioração aeróbia é originado pela atividade de

microrganismos aeróbios. Desse modo, as perdas durante o desabastecimento também

serão influenciadas pela disponibilidade de nutrientes (assunto que será discutido no

tópico 2.3), pela temperatura ambiental (ASHBELL et al., 2002) e pelo tempo de

exposição da silagem ao O2 (WEINBERG & ASHBELL, 2003) e, segundo OHYAMA et

al. (1975), estes três fatores são interdependentes.

O quanto a face do silo é exposta se torna um ponto fundamental e, por este

motivo, é indispensável assegurar uma velocidade de avanço do painel que possa

reduzir o fenômeno de deterioração. Os estudos desenvolvidos com a composição do

gás (CO2, O2 e N2) mostraram que a profundidade de penetração do ar é cerca de 1 m

(HONIG, 1991). Se a progressão do painel for de 1 m/semana, toda a silagem estará

exposta ao oxigênio por uma semana. Porém, os riscos de deterioração podem ser

reduzidos drasticamente se o avanço for de 2 m/semana (RUPPEL et al., 1995; HONIG

et al., 1999; TABACCO & BORREANI, 2002a), principalmente quando as temperaturas

ambientais estiverem mais elevadas (Figura 3) pelo favorecimento no desenvolvimento

de microrganismos (PAHLOW et al., 2003).

Verifica-se na Figura 3 que o painel das silagens apresentam avanço discreto (10

cm/dia), porém não se evidencia deterioração aeróbia. Segundo os autores, estas

Page 24: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

silagens apresentavam valores elevados de densidade (240 kg MS/m3) e sobre a lona

de cobertura havia pesos extras pela presença de terra, areia ou cascalho, o que

contribuiu para diminuir os efeitos negativos do O2 durante o desabastecimento do silo,

sendo que o peso mínimo, para ser eficaz, deve ser de pelo menos 150 kg/m2

(TABACCO & BORREANI, 2002b).

Inverno

30

25

20

15

10

0

5

Verão

Silos sem deterioração aeróbiaSilos com deterioração aeróbia

Ava

nço

diár

io (c

m)

30

25

20

15

10

5

0

Figura 3 – Silagens de milho (silos trincheira) com e sem deterioração aeróbia evidente em relação ao avanço diário do painel durante a remoção nas estações de inverno e verão em 50 fazendas

Fonte: BORREANI et al. (2005)

Page 25: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

2.3 O paradoxo: Fermentação e estabilidade aeróbia Teoricamente, a rota fermentativa mais desejável durante a conservação da

forragem na forma de silagem é a do tipo homolática (conversão de uma molécula de

glicose em duas de ácido lático), pois não propicia perdas de MS ou de energia, o que

pode resultar em maior consumo de silagem (McDONALD et al., 1991).

Entretanto, o perfil de fermentação desejável nem sempre evita as perdas após a

abertura dos silos, ou em alguns casos pode aumentá-las (KUNG et al., 2003). A alta

concentração e a predominância de ácido lático em silagens, necessariamente não

representa feito positivo na estabilidade aeróbia. Silagens adequadamente

fermentadas, com altas concentrações de ácido lático e açúcares remanescentes, são

mais afetadas pela deterioração aeróbia (WEINBERG & MUCK, 1996). Os fungos, as

leveduras e algumas espécies de bactérias promovem a assimilação aeróbia de lactato

da silagem, reduzindo o seu potencial de conservação (PAHLOW et al., 2003).

Portanto, a estratégia de restringir a formação de ácido acético aumenta os

riscos de silagens serem instáveis durante a aerobiose (NUSSIO et al., 2002). O

conceito de que a concentração de acetato menor que 2% MS classifica a silagem

como excelente, como proposto no trabalho de DULPHY & DEMARQUILLY (1981), não

existe na atualidade.

A habilidade em se estimar os riscos de deterioração aeróbia, de acordo com o

perfil de fermentação, ainda é incerta. Porém, além de todos os cuidados relacionados

com o manejo, a maior chance em obter sucesso na ensilagem está na premissa que

as silagens devem conter ácido acético em associação ao ácido lático e isto será

discutido no tópico a seguir.

2.4 Retrospectiva do uso de inoculantes para silagem 2.4.1 Inoculantes contendo bactérias homoláticas

Os inoculantes bacterianos abrangem a classe de aditivos com mais rápido

desenvolvimento e adoção em todo o mundo, devido principalmente à facilidade de

Page 26: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

manipulação, ausência de toxicidade para os mamíferos e grande disponibilidade no

mercado.

O princípio básico de atuação destes produtos é de incrementar a população de

bactérias homofermentativas e que elas sejam capazes de competir com a microbiota

epifítica existente na forragem, de maneira que se possa elevar a concentração de

ácido lático (PAHLOW, 1991), conforme é ilustrado na Figura 4.

Glicose Frutose

Frutose-6-Fosfato

2 Piruvato

2 Gliceraldeído-3-Fosfato

2 Lactato

Glicose (ou Frutose) + 2ADP + 2Pi = 2 Lactato + 2 ATP + H2O

Figura – 4 Síntese da fermentação da glicose e da frutose pelas bactérias ácido láticas Fonte: Modificado de McDONALD et al. (1991)

Um ponto fundamental, quando se utiliza um aditivo, é conhecer o quanto ele

pode melhorar o processo fermentativo, o consumo voluntário, a digestibilidade, o

desempenho animal e ser economicamente viável (HENDERSON, 1993). Infelizmente,

são poucos trabalhos na literatura que abordam todos esses parâmetros; normalmente,

os estudos se limitam somente aos aspectos ligados a análise química das silagens e,

portanto, não permitem uma posição segura quanto a utilização destes em larga escala

(KUNG et al., 2003).

Page 27: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

Na teoria, a utilização dos inoculantes bacterianos promove a elevação na

eficiência fermentativa (relação superior ácido lático/acético), diminuindo a proteólise e

a deaminação da proteína, com o uso mais adequado dos carboidratos solúveis e,

conseqüentemente, maior retenção de nutrientes na silagem (KUNG et al., 2003). A

maioria dos produtos comerciais são compostos pelas bactérias do gênero Pediococcus

e Streptococcus, com atividade em pH entre 6,5 a 5 e espécies de Lactobacillus

homofermentativas que são efetivas na produção de ácido lático em pH mais ácido

(KUNG et al., 2003).

MUCK & KUNG (1997) sumarizaram os resultados de estudos realizados com o

uso de inoculantes contendo bactérias láticas entre os anos de 1990 a 1995 e

verificaram que em 60% dos casos houve menor pH e maior fermentação lática;

também em similar percentagem houve menor produção de amônia, mostrando melhor

preservação da proteína. Em aproximadamente 30% dos casos houve aumento de

cinco unidades percentuais na digestibilidade da matéria seca e, de 67 experimentos

consultados, em 28% deles houve acréscimo no consumo. Com relação ao

desempenho animal, em 53% dos casos houve aumento no ganho de peso e em 47%

de elevação da produção de leite.

Segundo KUNG et al. (2003), estes resultados devem ser analisados com

cautela, porque algumas condições de estudo variam significativamente quanto à

viabilidade do inoculante a cultura, espécie de bactéria e concentração de umidade da

forragem. Ainda segundo os autores, numerosos estudos onde as respostas dos

inoculantes são negativas, em geral, não são publicados. KUNG et al. (2003) relataram

que a dose de aplicação também é relevante e deve ser de 105-106 bactérias por grama

de forragem (PAHLOW, 1991; WEINBERG & MUCK, 1996) de modo que as bactérias

exógenas possam dominar o processo fermentativo (Tabela 1).

Page 28: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

Tabela 1 – Efetividade do inoculante em função do número de unidade formadora de colônia (ufc) adicionada por grama de forragem

Adição (ufc/g forragem) Efetividade (%) 100 (102) 15

1.000 (103) 25 10.000 (104) 45

100.000 (105)* 70 1.000.000 (106) 85 10.000.000 (107) 95

*Concentração mínima recomendada Fonte: PITT & LEIBENSPERGER (1987)

O desempenho superior dos animais que são alimentados com silagem

inoculada ainda é uma causa desconhecida entre a comunidade científica. Alguns

trabalhos indicam a hipótese que as bactérias presentes nos inoculantes possam

propiciar um efeito probiótico ou também interagir com as bactérias ruminais

(WEINBERG et al., 2003), melhorando a funcionalidade do rúmen e,

conseqüentemente, o desempenho animal. Observa-se na Figura 5 que, quando são

comparadas as respostas positivas dos inoculantes na fermentação e na produção

animal, os resultados são inferiores para o desempenho animal. Acredita-se que a fase

de transição entre estes dois parâmetros (deterioração aeróbia) esteja contribuindo

negativamente. Dessa forma, os nutrientes que foram preservados ou produzidos

durante a fermentação (ácido lático) pelas bactérias láticas são degradados quando o

silo é mal manejado (WOOLFORD, 1990), indisponibilizando-os para os animais.

RODRIGUES et al. (2001) encontraram maior disponibilidade de nutrientes e

consumo de matéria seca quando ovinos foram alimentados com silagem de alfafa

submetida à inclusão de BAL. Em outro estudo, este efeito positivo não foi observado

quando os animais foram alimentados com silagem de milho, não havendo diferença

significativa entre as silagens com e sem inóculo (RODRIGUES et al., 2002b).

Com o objetivo de criar um balanço positivo entre fermentação, deterioração

aeróbia e desempenho animal, algumas alternativas estão sendo estudadas e entre

elas estaria o uso de aditivos, no qual a bactéria inoculada possa produzir ácido acético

em associação com o ácido lático, com a função de controlar os microrganismos que se

desenvolvem na presença de O2.

Page 29: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

0

20

40

60

80

pH

Lacta

to/Ace

tato

Ganho

de pe

so

Res

post

as p

ositi

vas

(%)

36 15

67

221 148 221

Figura – 5 Percentagem de trabalhos publicados (1990 a 1995) em que os inoculantes bacterianos

melhoraram a fermentação ou o desempenho animal O valor acima de cada barra indica o número de experimentos consultados Fonte: Modificado de MUCK & KUNG (1997) 2.4.2 Inoculantes contendo bactérias heteroláticas

Até a metade da década de 90 o principal objetivo das indústrias era desenvolver

tecnologias a base de bactérias homofermentativas. Entretanto, o meio científico iniciou

pesquisas com uma cepa heterofermentativa (Lactobacillus buchneri), com o objetivo de

empregar alternativas que controlam a deterioração aeróbia durante a exposição da

silagem ao ar (DRIEHUIS et al., 1996; WEINBERG & MUCK, 1996).

Segundo PAHLOW et al. (2003), as bactérias heteroláticas fermentam glicose,

produzindo ácido lático e etanol, sendo que a frutose é fermentada a ácido lático,

acético e manitol (Figura 6). Contudo, a espécie L. buchneri não possui a enzima

acetaldeído desidrogenase, responsável pela redução de acetaldeído a etanol. Desse

modo, a produção de etanol é praticamente nula (OUDE ELFERINK et al., 2001) e,

conseqüentemente, ocorre aumento na concentração de ácido acético como produto

final de sua fermentação (McDONALD et al., 1991), conforme exposto na Figura 7.

Page 30: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

A fermentação heterolática pode ser considerada desvantajosa, devido a

possibilidade de maiores perdas de matéria seca durante o processo fermentativo

(McDONALD et al., 1991) e também porque elevadas concentrações de acetato na

massa ensilada poderia reduzir o consumo voluntário por parte dos animais

(CHARMLEY, 2001). Entretanto, onde a penetração de ar no silo não pode ser

controlada adequadamente (áreas marginais) e na redução da produção de etanol,

como ocorre em silagens de cana-de-açúcar (NUSSIO et al., 2003), algum incremento

no controle de perdas pode ser obtido utilizando este microrganismo.

O acetato é considerado um ácido pouco eficiente, quanto a função em reduzir o

pH da silagem. No entanto, a sua ação ocorre sobre o metabolismo de leveduras e

fungos filamentosos (MOON, 1983). Segundo DAVIDSON (1997), este ácido em pH

inferior ao seu pKa (4,73) permanece na forma não dissociada, onde a membrana dos

microrganismos se torna permeável a ele, ocorrendo a entrada do ácido na célula via

transporte passivo. Dentro da célula, o ácido é dissociado (RCOO- + H+) devido ao pH

ser próximo de 7,0, liberando íons H+, o que reduz o pH intracelular. Para manter uma

acidez constante, o microrganismo deve eliminar os íons H+, perdendo energia neste

processo, retardando o seu crescimento e podendo chegar a morte da célula (Figura 8).

Page 31: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

Glicose Frutose

Glicose-6-Fosfato

Piruvato

Lactato

Manitol

Xilulose-5-Fosfato

Gliceraldeído-3-Fosfato Acetil Fosfato Acetato

Acetil-CoA

Acetaldeído

Frutose-6-Fosfato

Acetaldeído desidrogenase

Etanol Glicose + ADP + 2Pi = Lactato + Etanol + CO2 + 2ATP + H2O

3 Frutose + 2ADP + 2Pi = Lactato + Acetato + 2 Manitol + CO2 + 2ATP + H2O

Glicose + 2 Frutose + 2ADP + 2Pi = Lactato + Acetato + 2 Manitol + CO2 + 2ATP + H2O

Figura – 6 Síntese da fermentação da glicose e da frutose pelas bactérias heterofermentativas Fonte: Modificado de McDONALD et al. (1991)

Page 32: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

Glicose Frutose

Glicose-6-Fosfato

Piruvato

Lactato

Manitol

Xilulose-5-Fosfato

Gliceraldeído-3-Fosfato Acetil Fosfato Acetato

Acetil-CoA

Acetaldeído

Etanol

Frutose-6-Fosfato

Acetaldeído desidrogenase

[ ]

Figura – 7 Caminho proposto na fermentação do Lactobacillus buchneri em condições de anaerobiose Fonte: Modificado de McDONALD et al. (1991)

Page 33: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

Exterior pH=4,0

RCOOH

RCOO- + H+

RCOOH IN Intracelular

pH=7,0 RCOO- + H+

ATP ADP + Pi

ATPase

H+

Figura 8 – Destino do ácido orgânico em ambiente de baixo pH e na presença da célula microbiana Fonte: Modificado de DAVIDSON (1997)

DRIEHUIS et al. (1999) verificaram que a presença de L. buchneri em silagens

de milho (92 dias de fermentação) reduziu a concentração de ácido lático e a de ácido

acético foi elevada conforme a população da bactéria aumentou. Segundo OUDE

ELFERERINK et al. (2001), o L. buchneri consegue degradar o ácido lático em

condições de anaerobiose, transformando-o em ácido acético, 1,2 propanodiol e traços

de etanol. Além desta observação, DRIEHUIS et al. (1999) verificaram elevadas

concentrações de 1-propanol e ácido propiônico (236 e 106 mmol/kg MS,

respectivamente) quando a silagem de milho foi inoculada com L. buchneri (1x106 ufc/g

forragem). No entanto, estes metabólitos não foram observados quando o L. buchneri

foi isolado em experimentos in vitro, sugerindo que o metabolismo destes produtos é de

responsabilidade de outros microrganismos. Desse modo, KROONEMAN et al. (2002),

utilizando técnicas envolvendo biotecnologia aliado a um meio de cultura contendo 1,2-

propanodiol como substrato, provaram que a cepa Lactobacillus diolivorans sp. nov.

Page 34: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

possui a capacidade de degradar 1,2-propanodiol a 1-propanol e ácido propiônico,

conforme a equação a seguir:

1,2-propanodiol 0,53 1-propanol + 0,45 ácido propiônico

O ácido propiônico em combinação com o ácido acético apresenta efeito

sinergístico capaz de reduzir o crescimento de leveduras e fungos (MOON, 1983),

elevando a estabilidade aeróbia da silagem.

RANJIT & KUNG (2000), estudando a deterioração aeróbia em silagem de milho

e utilizando o L. buchneri (1x106 ufc/g forragem) como um dos tratamentos, observaram

aumento de 3,6% na concentração de ácido acético em comparação com a silagem não

tratada. As populações de leveduras foram de 106 e 102 ufc/g de silagem, no tratamento

sem e com inóculo, respectivamente. Em relação ao aumento da temperatura da

massa, a estabilidade aeróbia foi de 26,5 h para o tratamento controle e mais de 900 h

para o tratamento com L. buchneri.

Com o objetivo de pesquisar o desempenho de ovinos alimentados com silagem

de milho tratada com L. buchneri (4x105 ufc/g forragem), RANJIT et al. (2002)

verificaram que os tratamentos (tratado e não tratado) não apresentaram diferença

entre si sobre o consumo voluntário, porém, os animais apresentaram ganho médio

diário superior quando foram alimentados com silagem inoculada. Segundo os autores,

a silagem de milho sem inóculo apresentou estabilidade aeróbia inferior ao tratamento

com inoculante, o que poderia explicar os resultados obtidos.

2.5 Microrganismos envolvidos com a deterioração aeróbia

2.5.1 As leveduras

Os fungos, em particular as leveduras, são os microrganismos responsáveis pelo

início da deterioração aeróbia em silagens (WOOLFORD, 1990; PAHLOW et al., 2003),

embora as bactérias ácido acéticas (SPOELSTRA et al., 1988) e outros microrganismos

Page 35: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

(LINDGREN et al., 1985; BERNARDES et al., 2003) possam determinar a deterioração

inicial.

As leveduras envolvidas com a deterioração aeróbia podem ser classificadas em

dois grupos: as espécies que utilizam ácidos orgânicos (Cândida, Endomycopsis,

Hansenula e Pichia) e as que consomem açúcares, como as espécies que pertencem

ao gênero Torulopsis (JONSSON & PAHLOW, 1984). Segundo McDONALD et al.

(1991) as leveduras são capazes de se desenvolverem em baixas concentrações de

oxigênio e em ambientes com pH muito ácido (pH < 4,0), ocorrendo a sucessão de

populações ao longo das etapas de ensilagem.

O número de leveduras na silagem, segundo Beck (1963) citado por

WOOLFORD (1990), pode variar de < 102 a 1012 ufc/g MS em menos de três dias. Após

o fechamento do silo, as leveduras competem com os outros microrganismos por

substratos fermentescíveis e, durante as primeiras semanas de ensilagem, a população

pode chegar a 107 ufc/g, ocorrendo um decréscimo gradual durante as etapas

subseqüentes de armazenagem (JONSSON & PAHLOW, 1984), sendo que a

sobrevivência das leveduras na estocagem depende do grau de anaerobiose, do pH e

da concentração de ácidos orgânicos.

As áreas do silo mais próximas à atmosfera são, por natureza, mais sujeitas a

infiltração de ar, freqüentemente devido a maior porosidade da massa e aos materiais

utilizados na cobertura. Desse modo, a multiplicação das leveduras pode continuar

lentamente durante todo o período de estocagem e chegar ao momento de abertura do

silo com carga em torno ou superior a milhões de ufc por grama de silagem

(BORREANI et al., 2002).

McDONALD et al. (1991) relataram que a aeração da massa na ensilagem,

devido ao tempo prolongado em contato com o O2, promove a multiplicação das

leveduras, o que eleva à susceptibilidade da silagem em sofrer deterioração após a

abertura do silo. Em silagens de milho, quando a massa entra em contato com o ar

durante o desabastecimento do silo, populações de leveduras superiores a 105 ufc/g

podem quebrar a estabilidade em poucas horas (KUNG et al., 1998; BORREANI et al.,

2002; MUCK, 2004).

Page 36: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

2.5.2 Os fungos e as micotoxinas

Os fungos filamentosos podem ser considerados coadjuvantes na deterioração

aeróbia de silagens, pois, durante o desabastecimento do silo, o desenvolvimento deles

acontece em sucessão ao crescimento das leveduras (McDONALD et al., 1991).

Contudo, a deterioração aeróbia dos alimentos de uso zootécnico causado por fungos

filamentosos determina perda de elementos nutritivos e de energia, além do risco de

contaminação com micotoxina (LINDGREN et al., 2002). A presença destas substâncias

prejudica não somente os animais que ingerem alimento contaminado com

conseqüentes perdas econômicas, mas também o homem. Isto se dá pelo efeito

residual ao longo da cadeia alimentar, isto é, transferindo as micotoxinas ingeridas pelo

animal aos alimentos (carne e leite) destinados à alimentação humana (OLDENBURG,

1991).

Segundo JOBIM & GONÇALVES (2003), entre os ruminantes as vacas leiteiras

são altamente expostas à ação de micotoxinas devido à dependência de volumosos

conservados como feno ou silagem. Assim sendo, é possível que no Brasil os prejuízos

na bovinocultura, em razão da ingestão de alimentos contaminados, geralmente não

identificados, representem um entrave para atingir-se alta produtividade no setor.

Um grande número de espécies tem sido isolado de silagens deterioradas,

incluindo membros do gênero Monascus, Geotrichum, Bissochlamys, Mucor, Monilia,

Aspergillus, Penicillum e Fusarium (McDONALD et al., 1991). Entretanto, os

deuteromicetos representados pelos gêneros Fusarium (brancos/róseos), Aspergillus

(amarelo/verde) e Penicillium (azul/verde) são considerados os mais importantes

produtores de micotoxinas dos alimentos para os humanos e para os animais

(OLDENBURG, 1991; SEGLAR, 1997).

As aflatoxinas representam a família mais estudada das micotoxinas e são

produzidas pelas espécies Aspergillus flavus e Aspergillus parasiticus, presentes

geralmente no solo, nos tecidos vegetais em decomposição, nas forragens e em grãos

armazenados. A zearalenona se acumula, sobretudo, nas folhas localizadas na base da

planta e é produto das espécies Fusarium graminearum e Fusarium culmorum. Quando

Page 37: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

ocorre o desenvolvimento das espécies Fusarium moniliforme e Fusarium proliferatum,

se verifica alta presença de fumosina B1 (WHITLOW & HAGLER, 1997).

CAVALLARIN et al. (2004) realizaram o monitoramento em 20 fazendas

localizadas no norte da Itália sobre a distribuição espacial de micotoxinas (zearalenona,

aflatoxina B1 e fumosina B1) presentes em silagens de milho (Tabela 2). Nas zonas

periféricas que estavam evidentemente deterioradas foram observados valores até 40

vezes superiores àqueles relacionados com a forragem que deu entrada no silo.

Entretanto, nas zonas centrais e nas áreas não deterioradas os valores se mantiveram

semelhantes à forragem original. Elevados conteúdos de zearalenona também foram

observados nas áreas próximas àquelas com presença evidente de mofos, sendo que

estas zonas apresentavam temperatura elevada, indicando forte atividade

microbiológica naquele momento. Tabela 2 – Ocorrência de Zearalenona, aflatoxina B1 e fumosina B1 em silagens de milho, expresso

em percentagem, em relação ao numero total de amostras (n=186) Zearalenona NDA 30-300 ppb >300 ppb Forragem 48 50 2 Zona CB 40 55 5 Zona TC 40 47 13 Aflatoxina B1 ND 0.6-4.0 ppb >4.0 ppb Forragem 21 79 0 Zona C 8 78 14 Zona T 5 87 8 Fumosina B1 ND 0.9-10 ppm >10 ppm Forragem 18 75 7 Zona C 12 84 4 Zona T 3 88 8 AND = não detectado; BC = centro do silo; CT = topo do silo Fonte: CAVALLARIN et al. (2004) 2.5.3 Bactérias esporogênicas

Os gêneros Clostridium e Bacillus são bactérias formadoras de esporos, o que as

tornam indesejáveis nos sistemas de produção de alimentos (LINDGREN et al., 2002).

A passagem dessas bactérias de um ambiente para o outro ocorre geralmente através

dos esporos, forma de sobrevivência muito resistente ao oxigênio, ao calor, aos ácidos

orgânicos e às enzimas digestivas (PAHLOW et al., 2003).

Page 38: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

A presença de Bacillus no leite cru está associado ao alto número de esporos

nas fezes das vacas, pois os esporos podem passar da silagem para as fezes através

do sistema digestivo dos ruminantes. A espécie Bacillus cereus é considerada uma das

principais bactérias inimigas dos laticínios, pois os esporos crescem no leite

pasteurizado, inclusive aqueles estocados a baixa temperatura (Te Giffel, 1997, citado

por LINDGREN et al., 2002).

2.5.3.1 O ciclo dos esporos de Clostridium e os produtos lácteos Durante a colheita na ensilagem, a cultura é impregnada com partículas de solo

e a contaminação com esporos de Clostridium na forragem se torna inevitável, sendo

transportados para o silo (RAMMER, 1996; PAHLOW et al., 2003). Os clostrideos estão

presentes em um número muito variável em cada tipo de solo e possuem função

importante na degradação da matéria orgânica. Entretanto, o esterco é um ambiente

adaptado a proliferação destas bactérias, o que pode elevar o número de clostrideos no

solo quando o esterco é depositado como adubo (RAMMER, 1996), conforme

demonstrado na Figura 9.

As espécies do gênero Clostridium são bactérias estritamente anaeróbias e o

seu desenvolvimento na silagem durante a fermentação está ligado a uma lenta e

insuficiente acidificação (pH > 4,5), que é atribuída a uma excessiva aquosidade da

forragem, a insuficiência de açúcares fermentescíveis e a uma considerável

concentração de nitrogênio na planta (SPOELSTRA, 1983; PAHLOW et al., 2003).

A espécie de clostrideo mais conhecida que se desenvolve principalmente

durante a fase de fermentação é o Clostridium tyrobutyricum, amplamente estudada no

passado e denominada o vilão do processo de ensilagem. Contudo, nas silagens com

concentrações de MS acima de 30% e pH reduzido (silagem de milho) geralmente não

se verificam condições que favorecem o crescimento durante a fermentação e a

problemática de desenvolvimento de clostrideos se encontra nas áreas do alimento que

estão sujeitas à deterioração aeróbia. Quando a silagem é exposta ao ambiente

atmosférico, o oxigênio penetra na massa e então os microrganismos aeróbios

consomem os ácidos que foram produzidos durante a fermentação. O consumo destes

Page 39: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

ácidos e a presença de oxigênio levam à formação de micro-nichos, onde os fatores

que inibiam a multiplicação dos clostrideos são reduzidos ou ausentes e, nestas

condições, é que os clostrideos podem se multiplicar (JONSSON et al., 1991;

BORREANI et al., 2002; DRIEHUIS & Te GIFFEL, 2005).

Silagem < 102 – 107

Fezes < 102 – 108

Esterco < 102 – 107

Solo < 102 – 105

Cultura < 102 – 104 Vaca

Leite

< 10-1 – 102

Figura 9 – Ciclo dos esporos de clostrideos em fazendas produtoras de leite Fonte: Modificado de PAHLOW et al. (2003)

Os esporos que estão presentes na silagem, depois de ingeridos, passam pelo

aparelho digestório dos animais e chegam até as fezes. Durante a ordenha, o leite que

chega ao interior da mama é praticamente estéril, porém os microrganismos presentes

no ambiente, inclusive nas fezes, contaminam o leite (Figura 9), onde o grau de

contaminação está ligado diretamente com a carga microbiana de esporos de

clostrideos nas fezes (LINDGREN et al., 2002).

Quando o leite produzido é destinado à produção de queijos, o problema da

contaminação se agrava (DEMARQUILLY, 1998), pois, uma vez presente na matéria-

prima, os esporos se mantêm vitais durante a caseificação, principalmente nos queijos

que possuem prolongado período de cura (Grana Padano; Parmigiano Reggiano),

Page 40: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

sendo que nem o aquecimento promovido durante a produção é capaz de eliminá-los

(BORREANI et al., 2002). Durante a fase de armazenagem dos queijos, os clostrideos

podem encontrar novo ambiente favorável a sua multiplicação e representar um grave

problema durante a fase de comercialização, pois ocorre um “inchaço”, pela produção

de H2 e ácido butírico, alterando a textura e o odor do produto, diminuindo a qualidade e

o tempo de prateleira (DRIEHUIS & Te GIFFEL, 2005).

Segundo COLOMBARI et al. (2001), estes defeitos (inchaço) também podem ser

provocados por outras cepas de clostrideos que são muito agressivas, como

Clostridium butyricum, Clostridium bifermentans e Clostridium sporogenes, pois a

hipótese é que tais cepas são selecionadas nas zonas periféricas do silo, sobretudo

naquelas sujeitas a deterioração aeróbia devido à infiltração de ar (Figura 10), conforme

foi demonstrado no trabalho de DEMARQUILLY (1998).

BORREANI (1993), isolando clostrideos de silagens de milho sujeitas a

deterioração aeróbia, observou cepas de Clostridium butyricum com elevada atividade a

lactatodesidrogenase, enzima que permite às bactérias utilizarem o lactato como fonte

de energia. Desse modo, como a silagem é caracterizada pela presença de ácido lático

e anaerobiose, este ambiente se torna potencialmente mais perigoso do ponto de vista

de seleção de cepas de clostrideos agressivas aos queijos.

20 cm

21400

1400 100

600

5600

5

4

3

21 10

cm

20 c

m 20

cm

Figura 10 – Localização dos esporos de bactérias ácido butíricas (esporos/g de silagem) no interior do

silo (cinco pontos diversos) Fonte: Modificado de DEMARQUILLY (1998)

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Page 51: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

CAPÍTULO 2 – AVALIAÇÃO DA SILAGEM DE CAPIM-MARANDU TRATADO COM ADITIVO QUÍMICO E INOCULANTES CONTENDO BACTÉRIAS HOMO E HETEROFERMENTATIVAS

RESUMO – As silagens de gramíneas tropicais apresentam perdas acentuadas, o que

exige a adoção de técnicas que modifiquem este quadro. Com o objetivo de avaliar as

perdas em silagem de capim-Marandu submetida à aplicação de aditivo químico ou

inoculantes foram desenvolvidos dois experimentos. O primeiro objetivou conhecer o

perfil de fermentação (1, 5, 15 e 60 dias) e a estabilidade aeróbia das silagens

conforme os seguintes tratamentos: 1) forragem não tratada (Controle); 2) tratada com

Lactobacillus plantarum e Propionibacterium; 3) tratada com L. buchneri e 4) tratada

com 0,1% de benzoato de sódio. No segundo experimento foram utilizados nove

novilhos castrados nelore (PV = 350 ± 38,9 kg), alocados em um quadrado latino 3x3,

avaliando-se o consumo e a digestibilidade aparente das rações contendo 85,4% das

seguintes silagens de capim-Marandu: 1) controle; 2) controle com L. plantarum,

Pediococcus acidilactici + enzimas fibrolíticas (LPPA) e 3) controle com LPPA + L.

buchneri. No experimento 1, as silagens apresentaram baixas recuperações de MS

durante a fermentação (média de 86%) e os coeficientes de DVIVMS foram reduzidos

de 65,5% no momento da ensilagem para 50,0% no sexagésimo dia após o fechamento

dos silos. No estudo 2, o valor médio de consumo das rações foi de 5,7 kg MS/dia

(1,6% PV) e a digestibilidade aparente média da MS foi de 51,6%, sem diferença entre

as rações (P>0,05) relativo a estas variáveis. A silagem de capim-Marandu com

concentração de MS próximo de 20% apresentou perdas acentuadas na fase

fermentativa e foram estáveis em condições de aerobiose, sendo que o uso de aditivos

não alterou as variáveis estudadas. A inoculação com bactérias não influenciou o

consumo ou a digestibilidade aparente das rações contendo silagem de capim-

Marandu.

Palavras-chave: consumo, deterioração aeróbia, efluente, inoculação, perdas

Page 52: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

1. Introdução Os gêneros Panicum e Brachiaria, que por muito tempo tiveram como

representantes o capim-Colonião e a Brachiaria decumbens, atualmente contam com

cultivares mais produtivos. Com a melhoria das práticas agronômicas destas espécies

forrageiras nas propriedades rurais, iniciou-se adoção generalizada de seu uso como

pasto e na forma de silagem (NUSSIO et al., 2002; REIS et al., 2004). Além destes

aspectos, EVANGELISTA et al. (2000) sugeriram que a técnica de produção de silagem

de gramíneas do gênero Cynodon traz flexibilidade ao manejo do campo de produção

de feno, pois a forragem pode ser conservada sob outra forma, se considerarmos que

existe a necessidade de se contar com dias ensolarados durante a fenação.

O desenvolvimento de equipamentos de maior capacidade operacional,

destinado a cortar plantas de alto potencial de produção, também impulsionou a adoção

de silagem de gramíneas tropicais (BALSALOBRE et al., 2001). Contudo, os conjuntos

mecanizados têm produzido partículas de elevado tamanho durante o corte (200 mm),

que aliado à alta concentração de fibra destas espécies, têm dificultado a compactação

e reduzido a densidade destas silagens (BERNARDES et al., 2005a).

Levantamentos no campo, realizados com silagens de gramíneas tropicais,

revelaram situação pouco otimista, caracterizado por perdas acentuadas desde a

colheita até seu fornecimento aos animais, resultando, em alguns casos, em elevação

de custo de nutrientes a serem oferecidos aos ruminantes (IGARASI et al., 2003;

NUSSIO, 2004).

As perdas durante a fermentação podem estar ligadas às características

inerentes a planta, pois as forrageiras de clima tropical apresentam baixa concentração

de carboidratos solúveis (CHOs) e alta umidade no momento do corte (REIS et al.,

2004), o que acarreta fermentações indesejáveis (ROOKE & HATFIELD, 2003). A

utilização de inoculantes que contém bactérias homoláticas pode alterar este cenário,

pois estas competem com os microrganismos existentes na microflora epifítica,

aumentando a eficiência fermentativa, pela maior produção de ácido lático (KUNG et

al., 2003). De fato, em países de clima tropical, respostas positivas e consistentes têm

sido alcançadas com o uso de bactérias ácido láticas (BAL), quando as forragens são

Page 53: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

ensiladas com altas concentrações de CHOs, sugerindo que a limitação não é

decorrente da população de bactérias, mas sim das reduzidas concentrações de CHOs,

os quais limitam a atuação destas bactérias (SOLLENBERGER et al., 2004).

As silagens resultantes de fermentação desejável, pela elevada concentração de

lactato, em geral estão mais propensas à deterioração aeróbia após a abertura do silo,

pois os microrganismos aeróbios consomem o ácido lático (WEINBERG et al., 1993).

Neste contexto, o uso de bactérias com rota heterolática de fermentação, como o

Lactobacillus buchneri tem sido avaliado e com resultados promissores no aumento da

estabilidade aeróbia em silagens de azevém perene (DRIEHUIS et al., 2001), sorgo

(FILYA, 2003), milho (RANJIT & KUNG, 2000), grãos úmidos de milho (REIS et al.,

2005) e cana-de-açúcar (SIQUEIRA et al., 2004). O L. buchneri aumenta as

concentrações de ácido acético durante a fermentação, onde o acetato promove efeito

estabilizante na massa, controlando o crescimento de leveduras e fungos (MOON,

1983). Segundo DRIEHUIS et al. (2001), a aplicação conjunta de bactérias

homofermentativas e L. buchneri na ensilagem pode acelerar a fermentação lática

inicial e reduzir a susceptibilidade de deterioração por parte dos microrganismos

aeróbios, embora as silagens de gramíneas tropicais contenham concentração razoável

de acetato (ANDRADE & MELOTTI, 2003), sendo os efeitos positivos deste ácido na

estabilidade aeróbia descritos por OHYAMA et al. (1975).

NISHINO et al. (2003) ressaltaram que a fermentação pela bactéria L. buchneri

produz ácido lático, ácido acético e 1,2 propanodiol, em que o acetato reduz a

susceptibilidade das silagens à deterioração aeróbia e o 1,2 propanodiol, quando

ingerido, é transformado em ácido propiônico pelas bactérias ruminais, o que levaria ao

aumento do desempenho em animais ruminantes.

Com a proposta de diminuir o número de microrganismos indesejáveis, seja na

fermentação ou após a abertura do silo, agentes conservantes utilizados na indústria

alimentícia vem sendo testados para o controle de qualidade de alimentos para os

animais (PÖLÖNEN, 2000), como é o caso do benzoato de sódio.

O presente trabalho teve como objetivo avaliar a silagem de capim-Marandu

submetida à aplicação de aditivo químico e inoculantes bacterianos, isolados ou

Page 54: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

associados, buscando criar um balanço positivo no controle de perdas ocorridas na

fermentação e após a abertura do silo.

2. Material e Métodos 2.1 Experimento 1 – Perfil de fermentação e estabilidade aeróbia

O experimento foi conduzido nas dependências da Faculdade de Ciências

Agrárias e Veterinárias – UNESP, localizada no município de Jaboticabal, SP (21º 15' S

e 48º 18' W). O capim-Marandu (Brachiaria brizantha (Hochst ex. A. Rich) Stapf cv.

Marandu) foi colhido no dia 12 de dezembro de 2003, quando a forrageira apresentava

50 dias de crescimento vegetativo, utilizando-se colhedora marca Casale modelo CFC

2000. A forragem colhida (15 cm de altura) foi submetida aos seguintes tratamentos: 1)

forragem não tratada (Controle); 2) forragem tratada com Lactobacillus plantarum cepa

MA 18/5U e Propionibacterium cepa MS01 (LPPB); 3) forragem tratada com

Lactobacillus buchneri cepa NCIMB 40788 (LB) e 4) forragem tratada com 0,1% de

benzoato de sódio (BS).

Os aditivos foram aplicados à forragem durante o enchimento dos silos, na forma

de solução aquosa (água destilada), por meio de pulverizador manual, buscando-se

distribuição uniforme na massa de forragem. O inoculante Propiolact (Lallemand S.A.)

foi utilizado como fonte das bactérias L. plantarum e Propionibacterium (concentração

de 1,5x105 bactérias/g de forragem). Na aplicação de L. buchneri (5x104 bactérias/g de

forragem) foi utilizado o Lalsil Cana (Lallemand S. A.).

Como silos experimentais, foram utilizados 48 baldes plásticos com capacidade

de sete litros e meio. No fundo dos baldes foi colocado um quilo e meio de areia e duas

telas finas de plástico (tipo sombrite) que funcionaram como dreno do efluente

produzido durante a fermentação. Cada balde, após a ensilagem, recebeu tampa de

plástico apropriada à vedação e adaptada com válvula do tipo Bunsen para escape dos

gases, sendo pesados e armazenados em temperatura ambiente.

A avaliação do perfil de fermentação foi realizada nos tempos 1, 5, 15 e 60 dias

após o fechamento dos silos. Nos respectivos dias de abertura, os silos foram pesados

Page 55: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

para avaliar a perda de gás e, após a retirada da silagem, o conjunto balde mais areia

foi pesado novamente para determinação da produção de efluente. Como análises

químicas das silagens foram determinados as concentrações de matéria seca (MS),

proteína bruta (PB), nitrogênio amoniacal em relação ao nitrogênio total (N-NH3) e

digestibilidade verdadeira in vitro da matéria seca (DVIVMS), conforme SILVA &

QUEIROZ (2002). As concentrações de fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em

detergente ácido (FDA) foram avaliadas pelo método seqüencial segundo as técnicas

descritas por ROBERTSON & VAN SOEST (1981) e os valores de pH conforme KUNG

et al. (1984).

A estabilidade aeróbia foi avaliada 60 dias após a vedação dos silos, onde os

baldes foram abertos e todo seu conteúdo foi transferido para bandejas de plástico para

posterior homogeneização. Após este procedimento, um quilo e meio de silagem foram

colocados em caixas de isopor e transferidas para câmara climática à temperatura de

25 ± 1 oC. As temperaturas das silagens foram medidas duas vezes ao dia durante seis

dias, com o uso de termômetro inserido a 10 cm, no centro da massa. A temperatura do

ambiente foi controlada pelo termostato do aparelho refrigerador e também por meio de

termômetros suspensos no ar. A estabilidade aeróbia foi calculada como o tempo

observado para que a silagem apresentasse elevação de 2 oC em relação à

temperatura ambiente após a abertura do silo (MORAN et al., 1996). Também como

medida física, foi avaliada a recuperação de MS em aerobiose ao final de seis dias de

exposição ao ambiente.

Em um outro conjunto de caixas de isopor foi colocada a mesma quantidade de

silagem (1,5 kg) que foi levada a câmara climática com o objetivo de determinar-se as

alterações de pH, colhendo-se amostras com 0, 3 e 6 dias de aeração.

O delineamento experimental utilizado na avaliação do perfil de fermentação e da

estabilidade aeróbia foi o inteiramente casualizado, com três repetições, em esquema

de parcelas subdivididas, sendo as parcelas os tratamentos e as subparcelas os

tempos, de acordo com o seguinte modelo:

Page 56: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

Yijk = µ + Si + ε(a) + Tj + STij + ε(b)

Onde: µ = média geral; Si = efeito de silagem (i = 1 a 4); Tj = efeito de tempo (j = 1

a 4); STij = interação silagem e tempo; ε = erro residual.

Os dados experimentais foram submetidos à análise de variância e as suas

médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando-se o

PROC MIXED do programa SAS (2000).

2.2 Experimento 2 – Consumo e digestibilidade aparente O experimento foi conduzido no município paulista de Jaboticabal, a 21º 15' S e

48º 18' W. No dia 26 de março de 2004, procedeu-se a colheita do capim-Marandu (15

cm de altura), aos 58 dias de crescimento vegetativo, utilizando-se colhedora marca

Casale modelo CFC 2000 e foram confeccionados três silos do tipo superfície com

capacidade média de 13 toneladas: 1) Forragem não tratada (controle); 2) forragem

tratada com Lactobacillus plantarum cepa MA 18/5U, Pediococcus acidilactici cepa MA

18/5M + celulase e hemicelulase (LPPA) e 3) forragem tratada com LPPA +

Lactobacillus buchneri cepa NCIMB 40788 (LPPA + LB).

Soluções aquosas contendo os respectivos inoculantes foram pulverizadas sobre

a forragem, no momento da ensilagem, por meio de pulverizador costal. No momento

da aplicação, a concentração de bactérias nos tratamentos LPPA e LPPA + LB foram

de: L. plantarum 1x105/ g forragem, P. acidilactici 3x104/g e L. buchneri 5x104/g. As

enzimas celulase e hemicelulase (1%) e as bactérias Lactobacillus plantarum e

Pediococcus acidilactici são encontradas no inoculante comercial Lalsil PS (Lallemand

S.A.) e a bactéria Lactobacillus buchneri no produto Lalsil Cana (Lallemand S.A.). A

dosagem dos inoculantes foi realizada em função da quantidade de forragem contida

em cada vagão forrageiro utilizado no transporte.

A compactação da forragem foi realizada por uma pá carregadeira (peso =

11.000 kg) e os silos foram cobertos com filme plástico, de cor preta e espessura de

Page 57: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

0,15 mm, e revestidos com terra sobre a lona e nas laterais, sendo que cada silo teve

seu enchimento realizado em um dia.

O experimento foi conduzido em três períodos de 17 dias, totalizando 51 dias,

com início no dia 06/06 e final 27/07/04. Foram utilizados nove novilhos castrados da

raça nelore com peso vivo médio de 350 ± 38,9 kg, alocados em três quadrados latinos

3 x 3. Durante o período de adaptação (cinco dias) e coleta de dados de consumo (seis

dias), os animais foram mantidos em baias individuais, cobertas e providas de piso de

concreto, bebedouros e cochos para fornecimento da ração. O período de coleta dos

dados de digestibilidade (sete dias) foi realizado em gaiolas de metabolismo, mantidas

em galpão coberto, providas de comedouro, bebedouro e bandejas para coleta total de

fezes. Antes do início do experimento, os novilhos receberam controle de carrapatos e

foram everminados.

Como tratamentos, foram avaliadas três rações, que diferiram quanto ao tipo de

silagem de capim-Marandu utilizada nas suas composições (Tabela 1). As dietas foram

calculadas utilizando-se as equações do programa NRC – Gado de corte (1996),

objetivando-se a maximização do uso de volumoso, com ganho médio diário de 0,2 kg

para novilhos nelore em crescimento e pesando 350 kg.

Tabela 1 – Composição química das silagens e das rações (experimento 2) Tratamentos - Silagem1 Tratamentos - Rações2

Variáveis Controle LPPA LPPA+LB Controle LPPA LPPA+LB

MS (%) 29,8 32,1 29,7 34,1 35,2 34,8 MO (% MS) 87,6 89,9 90,1 92,3 93,1 92,9 Cinzas (% MS) 8,8 7,3 7,1 6,6 7,1 6,5 PB (% MS) 5,8 4,9 5,6 9,7 10,1 10,5 FDN (% MS) 79,5 79,3 78,8 74,3 74,9 75,1 FDA (% MS) 46,8 47,2 47,3 45,8 44,3 44,9 pH 4,6 4,5 4,4 - - - N-NH3 (% N total) 4,6 3,6 3,2 - - - 1Média de três amostras coletadas nas extremidades (início e fim) e no meio dos silos, antes da abertura utilizando-se um trado. LPPA = Lactobacillus plantarum, Pediococcus acidilactici + celulase e hemicelulase; LPPA+LB = LPPA + Lactobacillus buchneri. 2Participação de ingredientes nas rações (% MS): silagem de capim = 84,52%; milho grão moído = 13,56%; uréia = 1,56%; premix mineral vitamínico = 0,37%

Page 58: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

A quantidade de ração oferecida aos animais durante o período de coleta foi

ajustada para que houvesse 10% de sobras. Os animais foram alimentados uma vez ao

dia (8:00 h) e água foi fornecida à vontade. Durante o período de coleta, as rações

fornecidas e as sobras foram amostradas diariamente e acondicionadas em sacos

plásticos formando amostra composta. As fezes foram colhidas diariamente pela

manhã, em seguida pesadas, homogeneizadas e conservadas em freezer.

Ao término de cada período de coleta, as amostras compostas de fezes e de

alimentos sofreram secagem em estufa com circulação de ar a 55 ºC por 72 horas e,

posteriormente, foram moídas até as partículas atingirem menos de um milímetro e

armazenadas em potes plásticos. A partir das amostras secas e moídas foram

determinadas as concentrações de matéria seca (MS) e cinzas, segundo os métodos

descritos por SILVA & QUEIROZ (2002), e a concentração de fibra em detergente

neutro (FDN) foi realizado segundo as técnicas descritas por ROBERTSON & VAN

SOEST (1981).

Durante o período em que os animais foram alimentados, o painel de cada silo foi

avaliado com o objetivo de se estimar o grau de deterioração das silagens após a

quebra da vedação, conforme PAZIANI et al. (2005). A partir do sétimo dia de aeração

(quando o fenômeno foi detectado), antes de se iniciar o trato, a silagem que

apresentava problemas visuais (aspecto deteriorado) e temperatura excessiva em

relação ao restante do painel foi recolhida, pesada e descartada, o que permitiu avaliar

as perdas do total removido diariamente dos silos.

O delineamento utilizado foi o quadrado latino 3x3, com três animais, três

períodos e três quadrados, de acordo com o seguinte modelo:

Yijkl = µ + Qi + A(Q)j(i) + P(Q)k(i) + Rl + εijkl

Onde: µ = média geral; Qi = efeito de quadrado (i = 1 a 3) ; A(Q)j(i) = efeito de

animal dentro de quadrado (j = 1 a 9); P(Q)k(i) = efeito de período dentro de quadrado (k

= 1 a 3); Sl = efeito de rações (l = 1 a 3) e εijkl = erro residual.

Page 59: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

Os dados experimentais foram submetidos à análise de variância e as suas

médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando-se o

PROC GLM do programa SAS (2000).

3. Resultados e Discussão 3.1 Experimento 1 - Perfil da fermentação e estabilidade aeróbia

Os resultados referentes à composição química do capim-Marandu antes da

ensilagem estão apresentados na Tabela 2. A gramínea apresentou alto conteúdo de

umidade (média = 16,9% MS), podendo limitar a produção de silagem de qualidade

satisfatória, devido ao risco de surgirem fermentações indesejáveis.

Tabela 2 – Composição química da forragem tratada e não tratada antes da ensilagem (experimento 1) Tratamentos1

Variáveis Controle LPPA LB BS Média EPM2

MS (%) 17,1 16,9 17,0 16,8 16,9 0,13 Cinzas (% MS) 8,6 8,5 8,6 8,5 8,5 0,10 PB (% MS) 6,8 6,7 5,8 6,3 6,4 0,20 FDN (% MS) 73,3 73,4 73,5 73,7 73,6 0,33 FDA (% MS) 50,5 52,0 52,9 51,5 51,7 0,54 Celulose (% MS) 43,9 45,4 46,2 45 45,1 0,54 Hemicelulose 22,8 21,9 20,6 22,2 21,9 0,44 Lignina (% MS) 6,6 6,6 6,7 6,5 6,6 0,21 DVIVMS (%)3 66,8a 64,5bc 63,9c 66,7ab 65,5 0,44 pH 5,8 5,9 5,9 5,8 5,9 0,35 1LPPB = Lactobacillus plantarum e Propionibacterium; LB = Lactobacillus buchneri; BS = Benzoato de sódio (0,1% matéria verde) 2EPM = Erro padrão da média 3DVIVMS = Digestibilidade verdadeira in vitro da matéria seca aLetras distintas nas linhas indicam valores estatisticamente diferentes (P<0,05)

MARI (2003), estudando o capim-Marandu para a produção de silagem aos 60

dias de crescimento, encontrou valor de 18,5% de MS. Verificou-se elevadas

concentrações de carboidratos estruturais (FDN = 73,6%; FDA = 51,7%; lignina = 6,6%)

e estes estão de acordo com a espécie e com o avançado estádio de crescimento da

cultura no momento da ensilagem. REIS (2000), avaliando a composição bromatológica

do capim-Marandu em função da idade de corte, detectou que aos 60 dias de

Page 60: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

crescimento vegetativo a planta apresentava 73,7% de FDN, 43,5% de FDA e 5,6% de

lignina, valores próximos ao encontrado no presente trabalho. Os valores de DVIVMS

foram diferentes estatisticamente (P<0,05), possivelmente pelo efeito de amostragem,

pois a gramínea foi ensilada imediatamente após o corte, não sofrendo efeito da

respiração. O valor médio encontrado foi de 65,5%, semelhante ao observado por MARI

(2003), quando o capim-Marandu apresentava 60 dias de crescimento vegetativo

durante o verão (63,7%).

As características das silagens durante a fermentação estão apresentadas na

Tabela 3. As concentrações de MS das silagens durante o processo fermentativo não

apresentaram alteração, com valor médio de 18,0%, um ponto percentual acima ao da

forragem que lhes deram origem. As concentrações de FDN e FDA apresentaram

ligeira redução até o qüinquagésimo dia de fermentação, em todas as silagens

estudadas, possivelmente pelo efeito da hidrólise ácida e enzimática da hemicelulose,

pois durante a fase inicial de ensilagem, enzimas das células vegetais e dos

microrganismos envolvidos na fermentação são capazes de romper a estrutura celular,

quebrando as ligações químicas dos carboidratos estruturais, principalmente da

hemicelulose (WINTERS et al., 1987; CHAMBERLAIN, 1987). Do qüinquagésimo ao

sexagésimo dia houve elevação das concentrações de FDN e FDA. Tal fato pode ser

explicado pela redução de conteúdo celular, obtendo-se assim, elevação proporcional

dos constituintes da parede celular, uma vez que essas análises são determinadas por

método gravimétrico.

No sexagésimo dia, as concentrações de PB apresentaram queda (P<0,05) em

relação aos dias antecedentes e as concentrações de N-NH3 (Tabela 3) tiveram

comportamento inverso. Possivelmente, houve atuação de microrganismos oportunistas

(Enterobactérias e/ou Clostridium), o que provocou fermentações indesejáveis nas

silagens estudadas. Os valores de N-NH3 são considerados aceitáveis, com destaque

para o tratamento BS que apresentou a menor concentração (5,1%), 60 dias após a

vedação dos silos. SILVA (2002) verificou a mesma tendência nas silagens de capim-

Tanzânia, observando aumento linear na produção de amônia ao longo do processo

fermentativo. BERNARDES et al. (2005b) constataram instabilidade da população de

Page 61: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

clostrideos em silagens de capim-Marandu durante a fermentação, com elevação do

número destas bactérias após o vigésimo oitavo dia de ensilagem. Os clostrideos

podem ser inibidos durante os primeiros dias de ensilagem pela queda do pH.

Entretanto, podem retomar o crescimento, pelo tamponamento do meio ao longo da

fermentação, pelos compostos produzidos.

Os valores de pH nas silagens estudadas (Tabela 3 e Figura 1) após um dia de

fermentação foram reduzidos de 5,9 para 4,7, mantendo-se estáveis até o

qüinquagésimo dia (média = 4,6), e apresentando elevação (P<0,05) no sexagésimo dia

(média = 5,1), o que poderia comprovar a presença de bactérias do gênero Clostridium,

levando ao consumo de ácido lático, pois, segundo PAHLOW et al. (2003), as espécies

sacarolíticas (Clostridium tyrobotyricum) assimilam este ácido como fonte de energia.

Segundo DRIEHUIS et al. (1999), o L. buchneri durante a fermentação pode consumir

lactato, transformando-o em acetato, fato este que levaria a elevação do pH no

tratamento LB.

A expectativa que a silagem LPPB apresentasse valor de pH inferior aos demais

tratamentos, pela presença de bactéria homofermentativa, não foi comprovada.

Possivelmente, as características inerentes à forragem (concentração de umidade e de

CHOs) não foram favoráveis ao desenvolvimento destas. COAN et al. (2005) estudaram

o efeito da inoculação L. plantarum, Enterococcus faecium e Pediococcus (1,5x105

bactérias/ g forragem) em silagens de capim-Tanzânia e Mombaça em duas idades de

corte (45 e 60 dias), onde a presença do inóculo não alterou os valores de pH,

concentração de ácido lático e de N-NH3 nos tratamentos avaliados.

As perdas por gases ao longo do processo fermentativo até o qüinquagésimo dia

apresentou ligeira elevação (P<0,05) e foram semelhantes nas silagens avaliadas

(Tabela 3). Substancial elevação na produção de gás foi observada aos 60 dias após a

ensilagem (P<0,05), com valor máximo correspondente à silagem LB. A produção de

CO2 devido à rota heterolática de fermentação apresentada pelo L. buchneri pode

explicar tais resultados. A elevação das perdas nas demais silagens no sexagésimo dia

pode ser devido à presença de fermentações secundárias, uma vez que foi observado

aumento dos valores de pH e N-NH3.

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A produção de efluente foi superior na silagem controle durante toda a

fermentação, apresentando média final de 68,5 kg/t MV, seguido pelo tratamento LB

com valor médio de 59,5 kg/t MV (Tabela 4). MARI (2003) encontrou valor de 39,6 kg/ t

MV em silagens de capim-Marandu com 19,5% MS, no entanto, a comparação de

resultados para este tipo de variável se torna difícil, pois além das concentrações de MS

da planta, a pressão de compactação exercida no momento da ensilagem e o grau de

picagem da forragem são fatores relevantes.

A silagem BS alcançou a maior recuperação de MS (P<0,05) 60 dias após o

fechamento dos silos (Tabela 3). O menor valor de pH, de N-NH3 e de gás também

foram observados nesta silagem o que repercutiu favoravelmente para este dado. As

silagens controle e LB apresentaram as menores recuperações, devido às perdas

superior de gases e efluente.

Tabela 3 – Características das silagens de capim-Marandu tratado com aditivos bacterianos e químico (experimento 1)

Variáveis Tratamentos (A)1 Dias após o fechamento (B) Efeitos e

Interações (P<)2

EPM3

Cont LPPB LB BS 1 5 15 60 A B AxB MS (%) 17,8b 18,2a 18,0a 18,3a 17,8 18,0 18,1 18,0 * ns ns 0,10 FDN (% MS) 72,0 72,5 73,1 71,9 72,7b 71,4c 71,0c 74,2a ns ** ** 0,37 FDA (% MS) 47,0 46,5 49,1 46,7 48,1a 46,1b 44,7c 50,5a ns ** ns 0,90 PB (% MS) 5,7b 6,2a 6,2a 6,2a 6,6a 6,4a 6,3a 5,0b ** ** * 0,09 N-NH3 (% N total) 3,6a 3,6a 3,2ab 2,4b 1,4c 1,8bc 2,3b 7,3a ** ** * 0,24 pH 4,7 4,7 4,8 4,7 4,7b 4,6b 4,6b 5,1a ns ** ** 0,02 Gases (% MS) 2,9 2,9 3,6 2,5 0,7c 1,6bc 2,7b 7,0a ns ** ** 0,32 Efluente (kg/t MV) 68,5a 48,2c 59,5b 56,6b 26,3c 47,5b 76,6a 82,5a ** ** ns 2,61 RMS (%)4 89,1c 92,0b 90,9b 92,5a 92,9a 93,0a 93,0a 86,4b ** ** ns 0,53 DVIVMS (%)5 56,5 56,6 56,0 56,1 58,7ab 60,0a 56,3b 50,1c ns ** ns 0,57 1Cont = controle; LPPB = Lactobacillus plantarum e Propionibacterium; LB = Lactobacillus buchneri; BS = Benzoato de sódio (0,1% matéria verde) 2ns = não significativo; *(P<0,05); **(P<0,01) 3EPM = Erro padrão da média 4RMS = Recuperação de matéria seca 5DVIVMS = Digestibilidade verdadeira in vitro da matéria seca aLetras distintas nas linhas indicam valores estatisticamente diferentes

Os valores de DVIVMS (Tabela 3) sofreram queda de nove pontos percentuais

ao longo do processo fermentativo (58,7% e 50,0%, primeiro e sexagésimo dias,

Page 63: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

respectivamente), principalmente do qüinquagésimo para o sexagésimo dia (P<0,05).

Um fato que se torna relevante é a comparação dos valores de DVIVMS no momento

da ensilagem (Tabela 2) e após 24 horas de fermentação, onde ocorreu redução de

65,5% para 58,7% (sete pontos percentuais). Contudo, a RMS nas silagens após um

dia de fermentação foi baixa e estes valores podem ser explicados pela elevada

produção de efluente nas silagens (26,3 g/kg MV – média do primeiro dia de

ensilagem), pois este é constituído principalmente por conteúdo celular. Verifica-se que

31,5% do total de efluente foi produzido após 24 horas de fermentação, situação

semelhante observada por LOURES (2000) verificando que 55% do efluente produzido

durante a ensilagem ocorreu nos dois primeiros dias após o fechamento dos silos.

4,0

4,5

5,0

5,5

6,0

6,5

0 1 5 15 60 3 6

Dias

pH

Controle LPPB LB BS

aerobiose

Figura 1 – Variação temporal do pH, desde a ensilagem até o ultimo dia de exposição aeróbia, das

silagens de capim-Marandu tratado com aditivos bacterianos e químico (experimento 1) LPPB = Lactobacillus plantarum e Propionibacterium; LB = Lactobacillus buchneri; BS = Benzoato de sódio (0,1% matéria verde)

Os resultados referentes à estabilidade aeróbia das silagens estão apresentados

na Tabela 4. As concentrações de MS apresentaram elevação durante a exposição ao

Page 64: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

ar (P<0,05), devido a evaporação de água contida na massa de silagem para o

ambiente, observando-se valor médio de 20,8%.

Os valores de pH elevaram-se do primeiro para o terceiro de exposição aeróbia

(P<0,05) mantendo-se estáveis após seis dias de aeração (Figura 1). Entre os

tratamentos observou-se que as silagens inoculadas com L. plantarum apresentaram as

maiores altas (P<0,05). Após a quebra da vedação os microrganismos aeróbios iniciam

o seu crescimento e podem utilizar o ácido lático como fonte de energia, o que

determina o aumento dos valores de pH quando as silagens são expostas ao ar

(WEINBERG et al., 1993). Os valores de DVIVMS mantiveram-se estáveis por todo o

período de aeração, com valores semelhantes as silagens quando os baldes foram

abertos.

As variações de temperatura durante os dias de exposição ao ar estão

sumarizadas na Figura 2. As silagens em estudo podem ser consideradas estáveis de

acordo com a metodologia adotada, não ultrapassando em 2 ºC a temperatura

ambiente (25 ºC) durante os seis dias de aeração. BERNARDES et al. (2003) relataram

que silagens de gramíneas tropicais com concentrações de MS abaixo de 30% são

mais propensas à deterioração por bactérias (Bacillus e Enterobactérias), devido à

estabilidade de fermentação em pH acima de 4,5, concentração de umidade e ausência

de substrato para as leveduras, pois estas são sensíveis a fonte de nutrientes. O

inverso ocorre com silagens de alta qualidade, como as de milho e de sorgo, que são

deterioradas principalmente por fungos filamentosos e leveduras (MUCK, 2004), o que

provoca elevação de temperatura (McDONALD et al., 1991). Segundo ÖSTLING &

LINDGREN (1995), a presença de enterobactérias torna as silagens mais estáveis

durante a aerobiose, pela produção de alguns compostos durante a fermentação,

levando a inibição das leveduras durante a exposição ao O2.

Page 65: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

Tabela 4 – Características das silagens de capim-Marandu tratado com aditivos bacterianos e químico

durante a exposição ao ar (experimento 1)

Tratamentos (A)1 Dias de exposição (B) Efeitos e Interações (P<)2Variáveis

Controle LPPB LB BS 0 3 6 A B A x BEPM3

MS (%) 21,1 20,4 20,9 20,8 17,7a 23,5b 21,1b ns ** ns 1,28 pH 5,2b 5,4a 5,1b 5,1b 5,1c 5,3a 5,2b * ** * 0,09 DVIVMS (%)4 49,1 49,7 51,8 51,4 50,9 50,0 50,1 ns ns ns 2,07 RMS (%)5 99,9 98,1 98,6 98,5 - - - ns - - 0,86 1LPPB = Lactobacillus plantarum e Propionibacterium; LB = Lactobacillus buchneri; BS = Benzoato de sódio (0,1% matéria verde) 2ns = não significativo; *(P<0,05); **(P<0,01) 3EPM = Erro padrão da média 4DVIVMS = Digestibilidade verdadeira in vitro da matéria seca 5RMS = Recuperação de matéria seca – seis dias de exposição ao ambiente aLetras distintas nas linhas indicam valores estatisticamente diferentes

A análise conjunta dos dados (Tabela 4 e Figura 2) permite concluir que as

silagens de capim-Marandu, com concentrações de MS próximos a 20%, são estáveis

em condições de aerobiose, mesmo na presença de inoculante contendo bactéria

homofermentativa. Os incrementos com outros ácidos (acético e benzóico), utilizados

nos tratamentos LB e BS, com vistas a reduzir a susceptibilidade destas silagens à

deterioração aeróbia não se faz necessário, devido às particularidades que esta

espécie forrageira apresenta durante a fermentação, reduzindo a atividade de fungos e

leveduras durante a aeração. ANDRADE & MELOTTI (2003) avaliaram as

características fermentativas de silagem de capim-Elefante com 15% de MS e

encontram concentração de ácido acético da ordem de 3,2%. Esta concentração de

acetato é considerada elevada, pois é característico de silagem de milho inoculada com

L. buchneri na concentração de 1 x 106 bactérias/g de forragem, como foi observado no

trabalho de RANJIT & KUNG (2000). CAMARGO et al. (2004) estudaram a estabilidade

aeróbia de silagem de capim-Marandu com diversas concentrações de umidade e

encontraram que a silagem com concentração de MS reduzida (20,4%) foi mais estável,

quando comparada com as demais silagens (35% de MS), verificando-se 13 e 6 dias,

respectivamente, para que houvesse quebra da estabilidade.

Page 66: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

23,0

24,0

25,0

26,0

27,0

28,0

29,0

1 2 3 4 5 6

Dias de exposição ao ar

Tem

pera

tura

(ºC

)

controle LPPB LB BS

Figura 2 – Variação temporal da temperatura das silagens de capim-Marandu tratado com aditivos

bacterianos e químico durante a exposição ao ar (experimento 1) Temperatura da câmara climática Temperatura para romper a estabilidade aeróbia LPPB = Lactobacillus plantarum e Propionibacterium; LB = Lactobacillus buchneri; BS = Benzoato de sódio (0,1% matéria verde)

As perdas de MS nas fases fermentativa e aeróbia estão apresentadas na

Figura 3. Observou-se que o período onde se encontra a maior perda foi durante a

fermentação, principalmente pela elevada concentração de umidade da planta, o que

acarreta a lixiviação de nutrientes na forma de efluente e o desenvolvimento de

microrganismos oportunistas, provocando fermentações indesejáveis. Conforme foi

relatado anteriormente, quando as silagens de capim-Marandu são expostas ao

ambiente, estas se apresentam pouco propensas à deterioração aeróbia. Os aditivos

estudados não foram eficientes em reduzir as perdas, seja durante a fermentação ou

quando as silagens estiveram presentes ao O2.

Page 67: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

02468

101214161820

Controle LPPB LB BS

Per

das

(% M

S)

fermentação aerobiose total

a

aa

a Figura 3 – Perdas de matéria seca das silagens de capim-Marandu tratado com aditivos bacterianos e

químico, após 60 dias de fermentação e seis dias de exposição aeróbia (experimento1) LPPB = Lactobacillus plantarum e Propionibacterium; LB = Lactobacillus buchneri; BS = Benzoato de sódio (0,1% matéria verde) RMStotal = [(RMSfermentação x RMSaerobiose)/100] Letras iguais acima das barras não diferiram estatisticamente (P>0,05) Erro padrão da média = 1,14

3.2 Experimento 2 - Consumo e digestibilidade aparente As perdas por deterioração aeróbia das silagens, o consumo e a digestibilidade

aparente das rações estão apresentados na Tabela 5. As rações não diferiram

estatisticamente quanto ao consumo de MS (kg/dia e % PV), MO (kg/dia) e FDN (%

PV). As quantidades médias de ração ingerida em kg MS e kg MO/dia foram de 5,7 e

4,6 kg, respectivamente, o que correspondeu a 1,6% do peso vivo (kg MS). Valores

semelhantes foram encontrados por SILVA et al. (2005), onde avaliaram a ingestão de

novilhos (peso vivo médio = 364 kg) sob diferentes proporções de concentrado na ração

a base de silagem de capim-Marandu, e encontraram consumo de 5,3 e 4,9 (kg MS e

kg MO/dia, respectivamente) na ração com 20% de concentrado e 80% de volumoso.

PAZIANI (2004) avaliou a ingestão de rações contendo alta proporção de

silagem de capim-Tanzânia (86,6% base MS) em novilhos nelore com peso vivo médio

de 415 kg e encontrou consumo médio de 4,5 kg MS/dia (1,1% PV). Segundo a autora,

Page 68: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

esta ingestão ficou abaixo da média prevista pelo NRC (1996), o qual previu consumo

de 8,6 kg/animal/dia, o que acarretou perda de peso dos animais durante o período

experimental. No presente estudo, as previsões feitas com base nas equações do NRC

(1996) também superestimou o consumo, porém houve ganhos marginais da ordem de

120 g/animal/dia.

Assim como na variável consumo, a digestibilidade aparente da ração na silagem

controle foi discretamente superior aos demais tratamentos, contudo, não foram

diferentes estatisticamente (P>0,05). As digestibilidades médias da MS e da MO foram

de 51,6 e 54,5%, respectivamente, valores comumente encontrados em rações

contendo alta proporção de silagem de gramínea tropical.

As perdas do total removido diariamente dos silos foram superiores nas silagens

com presença de inóculo, principalmente na forragem tratada com LPPA+LB. A partir

do sétimo dia de alimentação dos animais, os silos LPPA e LPPA+LB apresentaram

sinais claros de aquecimento da massa, presença de fungos e elevação do pH. O

avanço diário na massa (média de 18 cm) não foi suficiente para inibir que o fenômeno

de deterioração aeróbia ocorresse, o que possivelmente determinou redução do

consumo e digestibilidade destas silagens.

Tabela 5 – Perdas por deterioração aeróbia, consumo e digestibilidade aparente das rações contendo silagens de capim-Marandu tratado com bactérias homo e heterofermentativas, isoladas ou associadas (experimento 2)

Tratamentos1

Variáveis Controle LPPA LPPA+LB EPM2

Perdas (%)3 19,9 25,8 34,0 - Consumo kg MS/dia 5,8 5,6 5,7 0,22 kg MO/dia 4,7 4,4 4,5 0,22 kg MS (% peso vivo) 1,6 1,6 1,6 0,04 kg FDN (% peso vivo) 1,2 1,2 1,2 0,03 Digestibilidade MS (%) 53,3 50,4 51,0 0,78 MO (%) 56,0 54,0 53,6 0,86 1LPPA = Lactobacillus plantarum, Pediococcus acidilactici + celulase e hemicelulase; LPPA+LB = LPPA + Lactobacillus buchneri 2Erro padrão da média 3Perdas do total removido diariamente dos silos – média da avaliação de 44 dias

Page 69: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

A alta proporção de partículas com tamanho acima de 20 mm, a alta

concentração de fibra e de MS da planta dificultaram a compactação da massa,

resultando em densidade de 495 kg/m3. Além da porosidade da massa, a concentração

de nutrientes é relevante na estabilidade aeróbia e as silagens LPPA e LPPA+LB

podem ter se tornadas mais instáveis pela inoculação com bactérias homofermentantes,

pois o lactato pode ser assimilado pelas leveduras oxidativas, como foi observado no

trabalho de WEINBERG et al. (1993), embora alguns trabalhos, como o de MEESKE &

BASSON (1998), não encontraram efeito negativo em silagens inoculadas com L.

pantarum, L. bulgaricus e L. acidophilus, quando estas foram expostas ao ar.

PAZIANI et al. (2005) avaliaram silagens de capim-Tanzânia com concentração

de umidade original (24,5% MS), inoculada ou não, e silagens emurchecidas (27,7% de

MS) e verificaram que as perdas por deterioração foram superiores no tratamento que

sofreu emurchecimento (29,1%) e naquela que recebeu a aplicação de aditivo (22,5%),

sendo que a silagem com umidade original e sem inoculante apresentou perda de

15,5%.

Page 70: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

4. Conclusões

O uso de benzoato de sódio e de bactérias homo e heterofermentativas não

reduzem as perdas de matéria seca durante a fermentação e nem favorecem a

estabilidade aeróbia das silagens de capim-Marandu com alta concentração de

umidade.

A inoculação com bactérias homo e heterofermentativas, isolada ou associada,

não altera o consumo e a digestibilidade aparente nas rações contendo alta proporção

de silagem de capim-Marandu.

Page 71: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

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Page 77: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

CAPÍTULO 3 – INOCULANTES CONTENDO BACTÉRIAS HOMO OU HETEROFERMENTATIVAS NA ENSILAGEM DE MILHO E DE SORGO GRANÍFERO RESUMO – As perdas no valor nutritivo durante a exposição das silagens ao ar se

constitui num dos principais problemas. A presente pesquisa teve como objetivo

determinar o efeito de inclusão de bactérias homo ou heterofermentativas teria sobre a

estabilidade aeróbia em silagens de milho e de sorgo granífero, investigando os

seguintes tratamentos: 1) Forragem não tratada (controle), Forragem tratada com

Lactobacillus plantarum (LP) e Forragem tratada com Lactobacillus buchneri NCIMB

40788 (LB). Os inoculantes foram aplicados na concentração de 1x106 bactérias/g de

forragem. Decorridos 90 e 93 dias de fermentação (milho e sorgo, respectivamente), as

silagens foram submetidas à avaliação da deterioração aeróbia pelas alterações

químicas, microbiológicas e de temperatura. Quando os silos foram abertos, os valores

de pH foram superiores nas silagens com LB, que se derivou da menor concentração

de ácido lático e maiores de ácido acético. As populações de fungos filamentosos e de

leveduras foram maiores nas silagens sem inóculo e com LP. Durante a exposição das

silagens ao ar houve crescimento da população de leveduras e de fungos, com

elevação dos valores de pH, havendo quebra da estabilidade após 40 h na presença de

O2, nas silagens controle e com LP. A temperatura nas silagens com LB manteve-se

como a do ambiente durante as 222 h de aerobiose. A deterioração aeróbia acentuada

nas silagens controle e com LP elevaram significativamente as perdas de MS. O L.

buchneri quando aplicado à forragem manteve a estabilidade aeróbia em silagens de

milho e de sorgo.

Palavras-chave: estabilidade aeróbia, fungos, L. buchneri, L. plantarum, perdas

Page 78: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

1. Introdução A silagem de milho é um dos volumosos conservados mais conhecido e utilizado

em todo o mundo (WILKINS et al., 1999) e o interesse pela cultura do sorgo na

confecção de silagem vem crescendo (BERENJI & DAHLBERG, 2004). Desse modo,

acredita-se que elevadas quantidades de silagem estejam sendo perdidas e que a

economia de produção esteja sofrendo conseqüências negativas pelos impactos da

deterioração aeróbia destas silagens.

Os efeitos deletérios do oxigênio ocorrem no abastecimento e durante o

armazenamento pela permeabilidade das lonas, furos acidentais ou pelo fechamento

inadequado, principalmente nas áreas marginais do silo (WEINBERG & ASHBELL,

2003). Entretanto, durante a remoção e fornecimento das silagens aos animais, o

contato com O2 se torna inevitável. As leveduras assimiladoras de ácidos orgânicos

consomem o ácido lático (LINDGREN et al., 1985), elevando o pH da silagem e

aumentando os riscos no desenvolvimento de bactérias oportunistas (Bacillus;

Clostridium; Listeria) e de fungos, depreciando o valor nutritivo e alterando a qualidade

higiênica do volumoso (LINDGREN et al., 2002).

As estratégias para conter a instabilidade aeróbia de silagens são antigas e a

principal alternativa tem sido a adição de ácidos (acético, fórmico, benzóico e

propiônico), por seu efeito antifúngico (WOOLFORD, 1975). No passado, a inclusão de

ácidos em silagens era realizada em altas doses (10 a 20 g/kg) o que geralmente

provocava a esterilização do alimento, prejudicando assim o processo fermentativo,

além de ser corrosivo ao equipamento no qual era utilizado para a aplicação (KUNG et

al., 2003).

Atualmente, existem formas mais seguras e ecológicas no controle de

microrganismos indesejáveis; a inclusão da bactéria Lactobacillus buchneri tem sido

uma delas. O L. buchneri pode controlar o crescimento de leveduras e de fungos de

maneira indireta, pela produção de ácido acético durante a fermentação (DRIEHUIS et

al., 1999).

No passado, os inoculantes continham principalmente espécies

homofermentativas (Lactobacillus plantarum), promovendo grande número de

Page 79: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

resultados inconsistentes sobre a efetividade destas bactérias. Além deste fato, a

presença de bactérias homofermentativas pode tornar a massa mais instável em

decorrência de assimilação de ácido lático pelos microrganismos aeróbios (WEINBERG

& MUCK, 1996).

Nos Estados Unidos e na Europa, em função da adoção do L. buchneri por parte

dos pecuaristas na ensilagem de milho, as empresas têm lançado seus produtos no

mercado, promovendo diversas opções de cepas e diferentes concentrações da

bactéria no momento da aplicação (KLEINSCHMIT et al., 2005). RANJIT et al. (2002),

estudando a deterioração aeróbia em silagem de milho, avaliaram a cepa L. buchneri

40788 em quatro concentrações (1x105; 2,5x105; 5x105; 1x106/g forragem) e concluíram

que as inoculações promoveram intensa fermentação heterolática, sendo eficaz para

manter a estabilidade aeróbia da silagem a partir da concentração de 5x105/g forragem.

O presente trabalho teve como objetivo, avaliar as características fermentativas e

a estabilidade aeróbia das silagens de milho e de sorgo granífero inoculadas com

Lactobacillus buchneri 40788 e Lactobacillus plantarum.

2. Material e Métodos

2.1 Localização, plantio das culturas e colheita No município de Sezzadio (44º 47' N e 08º 34' E), localizado na região norte da

Itália, no início do mês de maio foi semeada a cultura de sorgo (Sorghum bicolor L. cv.

Kalblanc), com uma densidade de 15 plantas/m2. A colheita da cultura foi realizada no

dia 26/08/2005, quando os grãos apresentavam aspecto farináceo, utilizando-se

colhedora automotriz, com o tamanho de corte regulado em 5 mm e o dispositivo para

processar os grãos em 1,5 mm.

A cultura de milho (Zea mays L.) foi conduzida numa fazenda no município de

Frossasco (44º 56' N e 07º 21' E), região norte da Itália, onde a semeadura ocorreu na

primeira quinzena do mês de março e a colheita no dia 29/08/2005, quando os grãos

apresentavam linha do leite próxima de 50% (AFUAKWA & CROOKSTON, 1984),

Page 80: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

utilizando-se colhedora automotriz, com o tamanho de corte regulado em 14 mm e o

dispositivo para processar os grãos em 1,5 mm.

2.2 Tratamentos, inoculação e silos experimentais No momento em que ocorria a colheita das forrageiras, foram coletados 300 kg

de material e efetuados os seguintes tratamentos: 1) forragem não tratada (controle), 2)

forragem tratada com Lactobacillus plantarum (LP) e 3) forragem tratada com

Lactobacillus buchneri NCIMB 40788 (LB), na concentração de 1x106 bactérias/ g de

forragem (LP e LB).

A cepa de L. plantarum é encontrada no inoculante comercial Lactosil (CSL) e a

de L. buchneri no produto Lalsil Fresh (Lallemand S.A.). Os inoculantes foram diluídos

em água destilada e aplicados na taxa de 2 ml/kg de forragem, utilizando-se

pulverizador manual. Como silos experimentais foram utilizados 24 baldes plásticos (12

baldes para cada forrageira) com capacidade de 20 litros (aproximadamente 18 kg de

silagem) e foram armazenados em local fechado a temperatura ambiente.

2.3 Avaliação da estabilidade aeróbia Decorridos 90 e 93 dias após o fechamento dos silos, que se refere as silagens

de milho e sorgo, respectivamente, os silos foram abertos e todo conteúdo foi retirado e

homogeneizado. Cerca de três quilos de silagem foram colocados em sacos plásticos e

acondicionados em caixas de isopor, que foram levadas a uma sala fechada à

temperatura ambiente (20-23 ºC). As temperaturas das silagens foram monitoradas

duas vezes ao dia (8:00 e 18:30 hs) durante nove dias, com o uso de termômetro

inserido a 10 cm, no centro da massa. A temperatura do ambiente foi monitorada com o

mesmo termômetro utilizado na medição da temperatura das silagens. A instabilidade

aeróbia foi considerada como o somatório das diferenças térmicas durante nove dias de

exposição ao ar, subtraindo a temperatura média das silagens e a do ambiente,

conforme KEADY & O’KIELY (1996).

As concentrações de matéria seca (MS) e os valores de pH foram determinados

com zero, cinco, sete e nove dias de aeração das silagens. As concentrações de nitrato

Page 81: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

após zero, sete e nove dias, e a população de fungos filamentosos e de leveduras após

zero, cinco e nove dias exposição ao ar. As caixas de isopor eram pesadas, efetuava-

se a homogeneização de todo o conteúdo, retirava-se as amostras (250 g) e então as

caixas eram pesadas novamente.

2.4 Recuperação de matéria seca Determinou-se a recuperação de matéria seca (RMS), na fermentação e

estabilidade aeróbia pela seguinte equação:

100xMFixMSiMFfxMSfRMS ⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛=

Onde:

RMS = recuperação de matéria seca (%); MFi = massa de forragem inicial (kg);

MSi = concentração de matéria seca inicial (%); MFf = massa de forragem final (kg);

MSf = concentração de matéria seca final (%).

A RMS durante a estabilidade aeróbia foi determinada pelo seguinte cálculo:

RMS(0-7 dia) = [(RMS(0-5 dia) x RMS(5-7 dia))/100]

RMS(0-9 dia) = [(RMS(0-7 dia) x RMS(7-9 dia))/100]

2.5 Análises químicas e microbiológicas

Na determinação das concentrações de MS, as amostras foram submetidas à

secagem em estufa a 55 ºC, por 72 h. Na avaliação das características fermentativas e

microbiológicas foram pesadas 30 g de amostras e 270 g de água destilada ou de

H2SO4 0,1N, homogeneizadas durante 4 minutos mediante o aparelho Lab-Blender

Stomacher 400 (Steward Laboratory, London) e posteriormente filtradas.

As amostras diluídas em H2SO4 0,1N foram utilizadas na determinação das

concentrações de ácido lático, acético e etanol, mediante HPLC (High Performance

Liquid Chromatography) de acordo com CANALE et al. (1984). Os extratos diluídos em

água destilada foram utilizados na determinação do pH, das concentrações de nitrato

Page 82: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

(NO3), conforme (SPOELSTRA, 1983), e do número de microrganismos. O meio de

cultura utilizado na contagem de bactérias ácido láticas (BAL) foi o MRS agar (MERCK)

adicionado de natamicina (0,25 g/L), sendo que as placas de Petri foram incubadas a

30 oC por três dias em anaerobiose, em jarra com sistema Gas-pak (SPOELSTRA et

al., 1988). As placas contendo o meio de cultura YGC agar (Fluka) foram utilizadas na

determinação da população de leveduras e de fungos filamentosos, após incubação de

48 e 120 horas, respectivamente. Os números de microrganismos presentes foram

contados como unidade formadora de colônia (ufc) e expressas como logaritmo na

base 10.

2.6 Delineamento experimental e análises estatísticas O delineamento experimental utilizado na avaliação da estabilidade aeróbia foi

inteiramente casualizado, com quatro repetições, em esquema de parcelas

subdivididas, sendo as parcelas os tratamentos e as subparcelas os tempos, de acordo

com o seguinte modelo:

Yijk = µ + Si + ε(a) + Tj + STij + ε(b)

Onde: µ = média geral; Si = efeito de silagem (i = 1 a 4); Tj = efeito de tempo (j = 1

a 4); STij = interação silagem e tempo; ε = erro residual.

Os dados experimentais foram submetidos à análise de variância e as suas

médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando-se o

PROC MIXED do programa SAS (2000).

3. Resultados e Discussão 3.1 Composição química e características fermentativas

Os valores das características químicas (MS, pH e NO3) e as contagens de

leveduras e de fungos nas forragens se encontram na Tabela 1. A planta de sorgo

Page 83: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

apresentou concentração de MS elevado, devido ao avançado estádio de maturação

dos grãos (farináceo), e não foi observada a presença de NO3. As populações de

leveduras e de fungos foram semelhantes nas duas culturas, sendo representadas pela

microflora epifítica da forragem.

Tabela 1 – Características das forragens antes da ensilagem Variáveis Milho Sorgo MS (%) 35,0 40,4 pH 5,4 ND Nitrato (% MS) 0,16 - Leveduras (log ufc/g) 7,2 7,1 Fungos (log ufc/g) 6,3 5,2 ND = não determinado

As variáveis fermentativas e microbiológicas referentes às silagens de milho e de

sorgo encontram-se na Tabela 2. As concentrações de acetato e os valores de pH

foram superiores (P<0,05) e as concentrações de lactato inferiores, nas silagens de

ambas as gramíneas em que se usou o LB na ensilagem. Segundo OUDE ELFERINK

et al. (2001), o L. buchneri pode converter o ácido lático em acetato e 1,2 propanodiol,

durante a anaerobiose. Desse modo, valor de pH mais elevado pode ser oriundo da

degradação do ácido forte (lático) em compostos que não são efetivos na redução da

acidez da massa.

Quanto à concentração de acetato, tem sido encontrado diversos valores após o

período fermentativo. Entretanto, as características são semelhantes em silagens

resultantes da adição de LB durante a ensilagem quando estas são expostas ao ar. No

presente estudo, as concentrações de acetato foram 2,9 e 1,9% nas silagens de milho e

de sorgo, respectivamente. Contudo, no estudo desenvolvido por RANJIT & KUNG

(2000), a concentração de acetato foi de 5,4% em silagem de milho com LB (1x106

bactérias/g), havendo a manutenção da estabilidade aeróbia das silagens nas duas

pesquisas, com concentrações de ácido acético bastante distintos. Possivelmente,

outros fatores estão interagindo para que a deterioração não ocorra, como foi

demonstrado no trabalho de KROONEMAN et al. (2002); cujos autores mostraram que

a bactéria Lactobacillus diolivorans sp. nov. possui a capacidade de degradar 1,2-

Page 84: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

propanodiol (produto da fermentação pelo LB) a 1-propanol e ácido propiônico, o que

promove um efeito estabilizante na massa de silagem mais acentuado.

As plantas de milho e de sorgo inoculadas com LB resultaram em silagens com

baixas concentrações de etanol. As bactérias heteroláticas produzem álcool durante o

processo fermentativo, porém o LB não possui a enzima acetaldeído desidrogenase,

havendo, portanto, uma supressão na produção de etanol durante a fermentação.

Segundo McDONALD et al. (1991), a ausência desta enzima direciona o metabolismo

da bactéria para a produção de ácido acético e este cenário pode ser observado em

diveros trabalhos, como os de RANJIT et al. (2002), NISHINO et al. (2003) e MUCK

(2004).

As concentrações de NO3 estão de acordo com as encontradas em silagem de

milho que, segundo SPOELSTRA (1985), variam de 0,1 a 0,4%. O autor ainda ressalta

que a presença de NO3 eleva o poder tamponante na planta, o que pode explicar o

mais alto valor de pH em silagens com LB, onde se encontra concentração mais

elevada de NO3.

A população de BAL foi maior nos tratamentos que receberam inóculos (P<0,05),

principalmente nas silagens com LB, evidenciando que houve crescimento e

sobrevivência ao longo da fermentação.

A contagem de fungos filamentosos foi baixa em todas as silagens estudadas

(<2,0 log ufc/g). Houve menor número de leveduras na silagem com LB (P<0,05),

relativamente às outras duas silagens, nas culturas de milho e de sorgo.

Aparentemente, a concentração de ácido acético nas silagens inoculadas com L.

buchneri retardou o desenvolvimento de leveduras, pois, como exposto por MOON

(1993), este ácido apresenta propriedades antifúngicas.

Page 85: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

Tabela 2 – Características das silagens de milho e de sorgo com inoculantes bacterianos após 90 dias de fermentação

Milho Sorgo Variáveis controle LP1 LB2 EPM3

controle LP LB EPM

MS (%) 34,9 34,4 32,9 0,42 41,2a 38,7b 39,6a 0,46 pH 3,6b 3,6b 3,7a 0,03 3,8b 3,8b 4,0a 0,03 Ácido lático (% MS)4 5,8 6,4 4,3 - 5,1 5,1 3,9 - Ácido acético (% MS)4 1,1 1,1 2,9 - 1,0 1,0 1,9 - Etanol (% MS)4 1,1 1,8 0,8 - 0,9 0,7 0,6 - Nitrato (% MS) 0,09 0,11 0,13 0,01 - - - - BAL (log ufc/g) 4,5b 7,0a 8,5a 0,59 4,3b 5,4b 9,0a 0,76 Leveduras (log ufc/g) 5,1a 4,9a <2,0b 0,72 5,9a 5,8a <2,0b 0,79 Fungos (log ufc/g) <2,0 <2,0 <2,0 - <2,0 <2,0 <2,0 - RMS (%)5 95,6 95,3 93,2 0,75 97,6 95,5 101,4 1,31 1LP = Lactobacillus plantarum 2LB = Lactobacillus buchneri 3EPM = Erro padrão da média 4Média de duas repetições5BAL = Bactérias ácido lática 6RMS = Recuperação de matéria seca aLetras distintas nas linhas indicam valores estatisticamente diferentes (P<0,05)

A RMS foi variável nas duas culturas, pois o tratamento LB apresentou o menor

valor na silagem de milho e recuperação positiva na silagem de sorgo. Segundo

McDONALD et al. (1991), a fermentação heterolática promove maiores perdas de MS

pela produção de gases (CO2 e H2), o que foi observado na silagem de milho tratada

com LB, porém não houve efeito significativo entre os tratamentos. FILYA (2003),

avaliando silagens de milho e de sorgo com LP, LB e LP+ LB, encontrou menor RMS

onde houve inoculação com LB, resultado não verificado por RANJIT et al. (2002). 3.2 Estabilidade aeróbia

A susceptibilidade à deterioração aeróbia das silagens de milho e de sorgo está

representada na Figura 1. Após 40 horas de exposição ao ar iniciou-se a elevação da

temperatura na massa, nas silagens controle e com LP. As temperaturas nas silagens

com LB estiveram próximas à temperatura ambiental durante as 222 horas na presença

de O2. RANJIT & KUNG (2000), estudando a deterioração aeróbia em silagem de milho,

observaram quebra da estabilidade com 26,5 e 33,0 h na silagem controle e tratada

Page 86: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

com LP, respectivamente, e o tratamento que recebeu LB (1x106 bactérias/g) como

inóculo obteve mais de 900 h de estabilidade.

Concomitantemente ao rompimento da estabilidade aeróbia, ocorre elevação de

temperatura na massa, que pode ser obervada na Figura 2. As silagens controle e

inoculada com LP apresentaram, ao final de nove dias de exposição ao ar, acúmulo

médio de 100 ºC, enquanto a silagem tratada com LB não apresentou aquecimento

(P<0,05).

A elevação da temperatura e sua manutenção ao longo do tempo são

importantes indicadores de deterioração aeróbia, sendo reflexo do crescimento de

leveduras e fungos filamentosos, como está representado nas Tabelas 3 e 4. O número

de leveduras aumentou significativamente nos tratamentos controle e LP, tanto na

silagem de milho, como na silagem de sorgo (P<0,05), durante o período em que se

mantiveram expostas ao O2. O desenvolvimento destes micorganismos é acompanhado

de alterações na composição química da silagem, o que promoveu a elevação dos

valores de pH (silagens controle e com LP).

Page 87: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

0

15

30

45

60

0 31 55 79 103 127 150 174 198 222

0

15

30

45

60

0 31 55 79 103 127 150 174 198 222

Tempo (horas)

controle LP LB ambiente

Tem

pera

tura

(ºC

)

sorgo

milho Figura 1 – Variação da temperatura, durante a exposição ao ambiente, das silagens de plantas de milho

e de sorgo tratadas com inoculantes bacterianos

Page 88: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

0

30

60

90

120

150

controle LP LB

0

30

60

90

120

150

controle LP LB

Tem

pera

tura

acu

mul

ada

(ºC

)

sorgo

milho

a a

a a

b

b

Figura 2 – Temperatura acumulada das silagens de plantas de milho e de sorgo tratadas com inoculantes

bacterianos, após nove dias de exposição aeróbia LP = Lactobacillus plantarum ; LB = Lactobacillus buchneri; aLetras distintas acima das barras indicam valores estatisticamente diferentes (P<0,05) Erro padrão da média – silagens de milho = 16,47 Erro padrão da média – silagens de sorgo = 14,99

Page 89: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

Os microrganismos que iniciam o ataque ao lactato e são os maiores

responsáveis pela deterioração aeróbia da silagem são as leveduras (LINDGREN et al.,

1985; PAHLOW et al., 2003). No período compreendido entre o corte da forragem e

poucas horas após o fechamento do silo, as leveduras são capazes de se multiplicarem

até 10.000 ufc/g (PAHLOW et al., 2003). Entretanto, quando a massa entra em contato

com o ar, a população pode ultrapassar 100.000 ufc/g, sendo capaz de minar a

estabilidade aeróbia em poucas horas (BORREANI et al., 2002; MUCK, 2004), como

pode ser observado na Figura 3. Segundo SPOELSTRA et al. (1988), os efeitos

negativos pela presença de leveduras em silagem de milho foram notados desde a

década de 70, no estudo desenvolvido por Daniel et al. (1970), em que a população de

105 leveduras/g tornava as silagens altamente propensas à deterioração.

0

5

10

15

20

25

30

35

0 2 4 6 8 10

Leveduras (log ufc/g)

Tem

pera

tura

(ºC

)

silagem de milhosilagem de sorgo

Figura 3 – Relação entre a temperatura das silagens e o número de leveduras presentes após cinco dias de exposição ao ambiente

Page 90: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

A concentração de NO3 manteve-se constante onde houve adição de LB, ao

passo que nos demais tratamentos ocorreram desaparecimento deste composto

durante a exposição das silagens ao ambiente (Tabela 3). Segundo SPOELSTRA

(1983), o NO3 pode ser benéfico sob o aspecto de controle de clostrideos, pois estas

bactérias são sensíveis à presença desta substância. Como as silagens inoculadas com

LB não apresentam crescimento de leveduras e de fungos (microrganismos

deterioradores), pela presença de ácido acético, a composição química não é alterada.

Este fato se torna relevante, pois, além dos micorganismos aeróbios, as bactérias

indesejáveis, como a do gênero Clostridium, podem retomar seu crescimento durante o

fenômeno de deterioração aeróbia. BORREANI et al. (2002) e DRIEHUIS & Te GIFFEL

(2005) relataram que a problemática de desenvolvimento de clostrideo em silagem de

milho se encontra nas áreas do alimento que estão sujeitas à deterioração aeróbia e

que a população elevada desta bactéria interfere na qualidade de produtos lácteos.

Portanto, a inoculação com LB tem potenciais efeitos positivos, pois mantem a

qualidade nutritiva e microbiológica da silagem. Segundo YILDIRIM & YILDIRIM (2001),

o L. buchneri produz um composto denominado buchnericin LB, que possui efeito

bacteriostático, principalmente sobre espécies de bactérias que estão envolvidas com a

deterioração aeróbia e apresentam riscos à saúde humana e animal, como os

microrganismos Listeria monocytogenes e Bacillus cereus.

Tabela 3 – Características das silagens de plantas de milho tratadas com inoculantes bacterianos durante

a exposição ao ar

Tratamentos (A)1 Dias de exposição (B) Efeitos e Interações (P<)2 Variáveis

controle LP LB 0 5 7 9 A B AxBEPM3

MS (%) 35,1 34,7 33,9 34,1 35,3 34,3 34,5 ns ns ns 0,36 pH 5,8a 5,6a 3,8b 3,6c 4,9b 5,8a 6,0a ** ** ** 0,09 Nitrato (% MS) 0,03b 0,04b 0,11a 0,11a ND 0,04b 0,4b ** ** ** 0,01 Levedura (log ufc/g) 6,8a 6,7a 3,2b 3,4b 6,6a ND 6,7a ** ** * 0,28 Fungos (log ufc/g) 2,2 3,2 <2,0 <2,0b 3,3a ND 3,3a * ** * 0,70 RMS (%)4 79,3b 79,8b 100,3a - - - - * - - 3,76 1LP = Lactobacillus plantarum; LB = Lactobacillus buchneri; 2ns = não significativo; *(P<0,05); **(P<0,01) 3EPM = Erro padrão da média 4RMS = Recuperação de matéria seca – nove dias de exposição ao ambiente aLetras distintas nas linhas indicam valores estatisticamente diferentes (P<0,05) ND = não determinado

Page 91: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

A forte deterioração aeróbia sofrida pela silagem de milho oriunda de material

não inoculado ou inoculado com LP (Tabela 3) apresentam altas perdas de MS (20,7 e

20,2%, respectivamente), enquanto essas perdas foram mínimas na silagem oriunda de

matéria prima inoculada com LB. As silagens de sorgo (Tabela 4) apresentaram

comportamento semelhante, porém com menores perdas quando comparada as

silagens de milho.

Tabela 4 – Características das silagens de plantas de sorgo tratadas com inoculantes bacterianos

durante a exposição ao ar Tratamentos (A)1 Dias de exposição (B) Efeitos e

Interações (P<)2 Variáveis controle LP LB 0 5 7 9 A B AxB

EPM3

MS (%) 41,9a 39,5b 39,9b 39,8b 40,3b 40,5b 41,2a * ** ns 0,50 pH 6,3a 6,3a 4,0b 3,9c 5,3b 6,4a 6,5a ** ** ** 0,14 Levedura (log ufc/g) 7,6a 7,3a 3,5b 4,0b 7,0a ND 7,3a ** ** ** 0,31 Fungos (log ufc/g) 3,2 3,4 <2,0 <2,0b 3,2a ND 5,0a ns * ns 1,15 RMS (%)4 85,4b 86,1b 97,8a - - - - - - - 2,42 1LP = Lactobacillus plantarum; LB = Lactobacillus buchneri; 2ns = não significativo; *(P<0,05); **(P<0,01) 3EPM = Erro padrão da média 4RMS = Recuperação de matéria seca – nove dias de exposição ao ambiente aLetras distintas nas linhas indicam valores estatisticamente diferentes (P<0,05) ND = não determinado

As RMS nas fases fermentativa e aeróbia são apresentados na Figura 4. As mais

baixas RMS em silagens de milho e de sorgo ocorrem após a abertura dos silos. A

presença de O2 desencadeia a proliferação leveduras, fungos e bactérias aeróbias,

levando ao consumo de nutrientes, o que acarreta redução no valor nutritivo das

silagens, além de comprometer o consumo pela multiplicação de microrganismos

indesejáveis e suas respectivas substâncias (micotoxinas), como foi relatado por

OLDENBURG (1991) e LINDGREN et al. (2002).

Incrementos substanciais na RMS podem ser obtidos com a inoculação de LB

(P<0,05). A susceptibilidade à deterioração aeróbia das silagens inoculadas com LP,

nas culturas de milho e de sorgo, foi semelhante ao tratamento controle, não havendo

intensificação como foi observado por WEINBERG et al. (1993).

Page 92: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

110,0

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

110,0

controle LP LB

fermentação aerobiose total

Rec

uper

ação

de

MS

(%)

a

a

b b

b b

sorgo

milho

Figura 4 – Recuperação de matéria seca das silagens de plantas de milho e de sorgo tratadas com inoculantes bacterianos, após 90 dias de fermentação e nove dias de exposição aeróbia

LP = Lactobacillus plantarum; LB = Lactobacillus buchneri; RMStotal = [(RMSfermentação x RMSaerobiose)/100] aLetras distintas acima das barras indicam valores estatisticamente diferentes (P<0,05) Erro padrão da média – silagens de milho = 3,27 Erro padrão da média – silagens de sorgo = 2,73

Page 93: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

4. Conclusões A inoculação com Lactobacillus buchneri promove fermentação heterolática e

reduz a deterioração aeróbia nas silagens de milho e de sorgo granífero após a

abertura do silo.

A presença de Lactobacillus plantarum não altera as características da silagem

de milho e de sorgo granífero.

Page 94: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

5. Referencias

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Page 98: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

CAPÍTULO 4 – AVALIAÇÃO DE FILME DE BAIXA PERMEABILIDADE AO OXIGÊNIO NA VEDAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DA SILAGEM DE MILHO EM DUAS REGIÕES DO SILO TIPO TRINCHEIRA

RESUMO – Os efeitos deletérios do O2 ocorrem durante a estocagem, principalmente

nas áreas marginais do silo, podendo ser influenciado pelo filme plástico utilizado na

vedação. Observa-se que este fenômeno é provável de ocorrer em alimentos com alto

conteúdo de nutrientes, como a silagem de milho. O objetivo do presente trabalho foi de

avaliar as perdas na região periférica e central do silo e o efeito do filme plástico com

baixa permeabilidade ao oxigênio (FBP) na vedação de silagem de milho. Para tanto,

um silo tipo trincheira foi dividido ao meio, em que um lado foi coberto com filme

convencional (FC) e o outro com FBP. Foram distribuídos 16 sacos (contendo ± 3 kg de

silagem) em quatro zonas da trincheira (início, fim, centro e periferia), avaliando-se as

características fermentativas, microbiológicas e as perdas de MS. Para evidenciar as

zonas onde estavam ocorrendo os fenômenos de deterioração aeróbia foram

produzidas imagens através de mapas com escalas colorimétricas. Na região periférica

a concentração de ácido lático foi inferior, prevaleceu o desenvolvimento de fungos

filamentosos e de leveduras e onde se concentrou as maiores perdas de MS (7,7

versus 5,6% na região central). Quanto à utilização do filme, o crescimento de fungos

filamentosos e de leveduras e as perdas de MS foram superiores na silagem coberta

com FBP, devido a maior concentração de substrato e ao avanço discreto na massa (12

cm/dia) durante a utilização. Embora o lado do silo coberto com FC apresentou

temperaturas mais elevadas. A silagem localizada na região central apresenta menores

perdas de matéria seca em relação à região periférica. O uso de filme com baixa

permeabilidade ao oxigênio pode reduzir as perdas na estocagem quando o

fechamento do silo é adequado. Entretanto, pode aumentá-las durante o período de

utilização se a remoção da silagem não for gerida adequadamente.

Palavras-chave: deterioração aeróbia, lona, manejo, perdas

Page 99: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

1. Introdução Os silos horizontais (trincheira; superfície) são atrativos em razão do baixo custo

de armazenamento de forragens sob a forma de silagem. Entretanto, suas

conformações determinam grande superfície de exposição e de trocas gasosas com o

ambiente, o que torna as silagens susceptíveis a perdas (BOLSEN et al., 1993; SAVOIE

& JOFRIET, 2003; WEINBERG & ASHBELL, 2003). Muitos fatores contribuem para o

processo de perdas na ensilagem, e a deterioração aeróbia tem sido um dos principais,

com variada amplitude entre as fazendas (ASHBELL & LISKER, 1988). Após examinar

540 experimentos, Zimmer (1967) citado por ASHBELL & LISKER (1988) reportou que

as perdas de MS entre as propriedades rurais variaram de 0,8 a 71%, apresentando

média de 19,4%.

Como o processo de deterioração aeróbia é essencialmente microbiano e o

crescimento dos microrganismos é condicionado por condições físicas e químicas

(PAHLOW et al., 2003), um dos pré-requisitos essenciais é minimizar a presença de O2

no silo, após seu fechamento. Desse modo, o filme plástico assume um papel

importante durante a etapa de vedação e a sua principal função é manter a anaerobiose

(HONIG, 1991).

As tipologias dos filmes plásticos para a proteção das silagens apresentam cores

e espessuras diversas (0,025 mm a 0,2 mm). Os de espessura mais fina são utilizados

na vedação de silos tipo “big bale” (silos-fardos) e os mais espessos (0,1 a 0,2 mm) na

cobertura de silos horizontais. Segundo KUZIN & SAVOIE (2001), as perdas nas áreas

periféricas do silo são influenciadas pela espessura da lona que deve ser proporcional

ao tempo de estocagem da silagem. Além desta propriedade física, a permeabilidade

ao O2 pode ser alterada pela coloração da lona e pela temperatura ambiental. As

flutuações da temperatura (evidente entre o dia e a noite) determinam diferenças de

pressão entre o gás no interior do silo e aquele da atmosfera circundante (TABACCO &

BORREANI, 2002), sendo que tais diferenças causam fluxo de gás, do exterior para o

interior e vice-versa, quanto maior for a permeabilidade da lona (SAVOIE, 1988;

TABACCO & BORREANI, 2002).

Page 100: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

Tradicionalmente, a produção industrial de filmes plásticos é realizada com

polietileno, pelas suas características mecânicas e de baixo custo. Contudo, o

polietileno apresenta permeabilidade ao O2 elevada, requerendo, por exemplo, o

aumento do número de estratos na produção de silos big bale (4 a 8 estratos) o que

eleva os custos e aumenta o uso de plásticos na agricultura, gerando problemas

ambientais (DEGANO, 1999; SNELL et al., 2002).

Entre as moléculas plásticas utilizáveis, a poliamida é um polímero interessante

pela sua menor permeabilidade ao O2, cerca de 90 vezes inferior à do polietileno.

Segundo a American Society for Testing and Materials Standards (AMST D3985-81), a

permeabilidade do polietileno ao O2, à temperatura de 23 ºC e umidade relativa de 85%,

é de 178.000 cm3/m2/24h/bar/µm de espessura, enquanto a poliamida apresenta 2000

cm3/m2/24h/bar/µm de espessura, cujos valores, aumentam notavelmente quando a

temperatura é elevada a 50 ºC (534.000 e 10.000, respectivamente). Isto significa que,

durante o verão, os riscos de deterioração aeróbia de silagens se elevam,

principalmente nos países de clima tropical, pelo aumento da permeabilidade dos filmes

plásticos.

Devido ao elevado custo da poliamida e pelas dificuldades técnicas de se

confeccionar um filme somente com este polímero, está sendo produzido

experimentalmente na Itália uma lona com diversos estratos, em que um deles é

constituído de poliamida.

O presente estudo teve como objetivo avaliar as perdas na região periférica e

central do silo e o efeito do filme plástico com baixa permeabilidade ao oxigênio na

vedação de silagem de milho, armazenada em silo tipo trincheira.

Page 101: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

2. Material e Métodos 2.1 Condução da cultura, colheita, silo e plásticos utilizados na experimentação

O estudo foi desenvolvido no biênio 2004/2005 em uma fazenda situada no

município de Scarnafigi (44° 40' N e 7° 34' E), localizado na região norte da Itália.

A cultura de milho foi semeada nos dias 5 e 6 de abril de 2004 sobre uma

superfície de 6,5 ha, dividida em três áreas, onde foram plantados três híbridos:

PR31K18 (classe FAO 700), PR31N27 (classe FAO 700) e PR32F10 (classe FAO 600),

todos da empresa Pioneer, à uma densidade de plantas de 6,5 m2. No dia 09/09/2004,

quando os grãos apresentavam a linha do leite próxima de 45% (AFUAKWA &

CROOKSTON, 1984), a colheita foi realizada, utilizando-se colhedora automotriz, com o

tamanho de corte regulado em 20 mm e o dispositivo para romper os grãos em 1,5 mm.

A forragem foi tratada com inoculante comercial (Pioneer 1132), constituído pelas

bactérias (Lactobacillus plantarum e Enterococcus faecium), e a concentração aplicada

durante a picagem da forragem foi de 1x105 bactérias/g de forragem verde.

A área do painel do silo utilizado no estudo foi de 19,9 m2 (8,3 m largura e 2,4 m

de altura) e o comprimento de 21,7 m. Na avaliação das perdas fermentativas, durante

a ensilagem, foram colocados 16 sacos de nylon contendo cerca de 3 kg de forragem,

nas seguintes zonas do silo: seis sacos na zona central, seis sacos na zona periférica

(próximos aos plásticos utilizados na cobertura), dois no início e dois no fim, conforme o

esquema reportado na Figura 1.

Para verificar a eficiência do filme com baixa permeabilidade ao oxigênio (FBP),

no momento do fechamento, o silo foi dividido em duas partes, isto é, metade da

trincheira foi coberta com a lona FBP e a outra parte com o filme convencional (FC). Isto

se faz necessário, pois as amostras das silagens durante a remoção devem ser

retiradas contemporaneamente, devido à elevada influência dos parâmetros climáticos

sobre o fenômeno estudado.

Page 102: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

FBP

2,4 m

21,7 m

FC

8,3 m

fim início

Figura 1 – Cobertura do silo com filme de baixa permeabilidade ao oxigênio (FBP) e filme convencional

(FC) e distribuição dos sacos utilizados na determinação das perdas

As propriedades físicas das lonas utilizadas no experimento estão descritas na

Tabela 1. Além dos filmes utilizados na avaliação, foi sobreposta uma outra lona

(utilizada na cobertura em anos anteriores) para auxiliar na vedação. Como peso sobre

as lonas foram utilizados pneus usados (30 kg/m2) e nas laterais sacos com areia.

Tabela 1 – Propriedades físicas dos filmes plásticos

Características Filme convencional Filme de reduzida permeabilidade ao O2

Coloração Branco/preto Branco/preto Espessura (mm) 0,18 0,18 Permeabilidade ao O2 (cm3 m-2 24 h-1)* 1000 90 *a 23 ºC de temperatura e 1 bar de pressão

Page 103: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

2.2 Perdas de MS e perfil de temperatura

No momento em que os vagões efetuavam o descarregamento para abastecer

determinada área do silo (zona central, periférica, inicio e fim) amostras foram retiradas

para posteriores análises químicas e microbiológicas e também para encher os sacos

destinados à avaliação das perdas.

Decorridos 23 dias de fermentação, a trincheira foi aberta e os sacos foram

sendo retirados conforme a remoção da silagem, sendo que todo o conteúdo foi

consumido em 195 dias, o que determinou um avanço médio de 12-13 cm/dia. As

condições climáticas durante a utilização do silo encontram-se na Tabela 2.

Tabela 2 – Temperatura e precipitação média durante a condução do experimento

Temperatura (ºC) Meses (2004-2005) Máxima Mínima Média

Precipitação (mm)

Setembro 24,9 10,9 17,3 34,0 Outubro 18,6 9,5 13,6 69,2

Novembro 12,6 1,9 6,3 69,8 Dezembro 7,8 -1,1 2,4 27,8

Janeiro 6,1 -3,9 0,3 0,8 Fevereiro 8,3 -4,5 1,1 1,0

Março 14,2 -1,8 5,7 0,2

Para evidenciar as zonas onde estavam ocorrendo o fenômeno de deterioração

aeróbia foram coletados os valores de temperatura da silagem, em 35 pontos do painel,

à uma profundidade de 10 cm (Figura 2). Os dados obtidos foram lançados em planilha

do programa Excel e posteriormente foram produzidas imagens através de mapas com

escalas colorimétricas utiliando-se o programa Surfer.

Page 104: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

cm 50 100 260 X/2* 10 + + + + 30 + + + + 60 + + + + 100 + + + + 200 + + + + * X = largura do painel do silo

Figura 2 – Metodologia utilizada na leitura das temperaturas do painel

2.3 Amostragens e preparação das amostras

As amostras (forragem e silagens) foram retiradas de modo que fossem

representativas e foram divididas em três porções. A primeira subamostra foi utilizada

na determinação da concentração de matéria seca em estufa a 55 ºC por 72 h. Após

retiradas da estufa as amostras foram pesadas e deixadas à temperatura e umidade

ambiente até peso constante. Uma outra subamostra foi conservada em freezer (-20 ºC)

para avaliar a concentração de ácidos orgânicos, cinzas, energia bruta e valores de pH.

A terceira sub-amostra foi utilizada na determinação da população de leveduras e de

fungos filamentosos.

2.4 Análises químicas

Na avaliação das características fermentativas, as amostras foram pesadas,

homogeneizadas mediante o aparelho Lab-Blender Stomacher 400 (Steward

Laboratory, London) durante 4 minutos e posteriormente foram filtradas. As amostras

diluídas em H2SO4 0,1N foram utilizadas na determinação das concentrações de ácidos

lático, acético e propiônico e dos álcoois (etanol e 1,2 propanol) mediante HPLC

Page 105: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

(CANALE et al., 1984). Os extratos diluídos em água destilada foram utilizados na

determinação do pH, mediante eletrodo específico.

A energia bruta (EB) foi determinada utilizando amostra fresca da silagem,

mediante bomba calorimétrica com adição de polietileno como primer. A quantidade de

amostra a ser pesada e a de polietileno a ser adicionado foram determinados segundo

as equações de MEINERI & PEIRETTI (2005).

Na determinação das cinzas, cerca de um grama de amostra seca foi pesado em

um cadinho, anteriormente incinerado e tarado. As amostras foram introduzidas na

mufla e incineradas a 550 ºC por 12 h e após a combustão foram colocadas em

dessecador e pesadas.

2.5 Análises microbiológicas

Para determinar a população de leveduras e fungos, as amostras frescas foram

pesadas em sacos plásticos (30 g de forragem fresca diluída em 270 g de água

destilada) e homogeneizadas durante 4 minutos mediante aparelho Lab-Blender

Stomacher 400 (Steward Laboratory, London). A partir dos extratos diluídos e filtrados

foram realizadas as demais diluições (10-2 a 10-6), e o número de microrganismos

presentes foram contados como unidade formadora de colônia (ufc) em placas de Petri

contendo o meio de cultura YGC agar (Fluka) e expressas como logaritmo na base 10.

2.6 Análise dos dados Os dados de cada tratamento foram originados de um mesmo silo, portanto, não

houve repetição experimental. Dessa forma, as variáveis estudadas foram submetidas

apenas a análise descritiva.

3. Resultados e Discussão

Os resultados da composição química, da população de fungos e leveduras e

das perdas de MS da silagem de milho nas regiões central e periférica estão

apresentados na Tabela 3.

Page 106: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

Os valores de pH nas duas regiões foram iguais, apresentando valor de 3,6,

porém, a concentração de ácido lático foi superior na região central (6,5% MS) em

relação a região periférica (5,0%). As concentrações dos demais ácidos (acético e

propiônico) e de etanol foram semelhantes nas duas zonas.

Houve maior desenvolvimento de fungos filamentosos e de leveduras na região

periférica. Entretanto, a população de leveduras pode ser considerada baixa (2,8 ufc/g

silagem), pois, segundo LINDGREN et al. (1985) e MUCK (2004), quando o número de

leveduras ultrapassa 5,0 ufc/g, a silagem pode se tornar menos estável em condições

de aerobiose.

A região periférica apresentou maiores perdas de MS, possivelmente pela menor

fermentação lática e pelo número superior de microrganismos deterioradores, quando

comparada à zona central. No silo, as zonas mais porosas estão localizadas nas

camadas superficiais e laterais (D’AMOURS & SAVOIE, 2004), o que facilita a entrada

de O2, propiciando o desenvolvimento de microrganismos aeróbios. A densidade na

região periférica (50 cm da parede e 50 cm do topo) no presente estudo foi de 509

kg/m3 enquanto a região central apresentou densidade média de 628 kg/m3, o que

explica tais resultados.

RODRIGUES et al. (2002) estudaram duas profundidades (30 e 60 cm) em silos

trincheira contendo silagem de capim-Elefante e encontraram que a camada mais

exposta (30 cm) apresentou maior valor de pH (6,1 vs 4,6) e menor valor de

digestibilidade in vitro (29,3 vs 40,1), quando comparada à região central do silo.

ASHBELL & KASHANCHI (1987) estudaram as perdas de MS em silagens de

trigo estocadas em silos do tipo bunker e encontraram que na zona central as perdas

estiveram entre 2,8 a 16,0% e na zona central próxima à parede as perdas foram de

10,6 a 22,7%. Na região periférica próximo à lona e na região periférica próximo à lona

e à parede as perdas estiveram entre, 13,9 a 26,7% e 25,4 a 75,8%, respectivamente.

No presente estudo as perdas de MS são inferiores às do estudo desenvolvido por

ASHBELL & KASHANCHI (1987), possivelmente pelo efeito das condições ambientais,

pois durante a armazenagem e uso da silagem a temperatura ambiental (Tabela 2) não

Page 107: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

ultrapassou os 25 ºC, com períodos de temperatura negativa, o que não colabora para

o crescimento dos microrganismos que deterioram a silagem.

As concentrações de cinzas foram iguais nas duas regiões do silo, com valor

médio de 5,0% MS. BOLSEN (1997) relatou que a concentração de cinzas pode se

elevar quando ocorre perdas de MS, pois há consumo de matéria orgânica pelos

microrganismos. Porém, segundo este mesmo autor (comunicação pessoal) este fato

só pode ser observado quando a deterioração aeróbia é intensa.

Os valores de EB não diferiram entre as regiões do silo, apresentando

concentração de 17,5 KJ/g MS, valor típico de silagem de milho. VALENTE et al. (1996)

estudando silagens de Trifolium pratense, encontraram correlação positiva (r2 = 0,95)

entre as perdas de MS e a concentração de EB na silagem, o que atribuíram à

produção de compostos químicos por parte dos microrganismos atuantes.

Tabela – 3 Características das silagens de milho em duas regiões de um silo trincheira

Variáveis Região Central Região Periférica MS (%) 34,5 37,9 pH 3,6 3,6 Ácido lático (% MS) 6,5 5,0 Ácido acético (% MS) 1,0 1,2 Ácido propiônico (% MS) 0,3 0,1 Etanol (% MS) 0,7 0,6 Leveduras (log ufc/g) <2,0 2,8 Fungos (log ufc/g) <2,0 2,4 Cinzas (% MS) 5,0 4,9 Energia bruta (KJ/g MS) 17,4 17,5 Perdas (% MS) 5,6 7,7

As características das silagens de milho, na região periférica do silo, cobertas

com dois tipos de filmes plásticos estão apresentadas na Tabela 4.

Os resultados de cinzas, EB e das variáveis fermentativas foram semelhantes

nas silagens vedadas com os dois tipos de lona, apresentando valores coerentes de

silagem de milho, com baixo valor de pH (3,6), concentração de ácido lático próxima de

5,0% MS e concentrações reduzidas de ácido acético e propiônico.

Page 108: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

Tabela 4 – Características das silagens de milho, na região periférica do silo, cobertas com dois tipos de

filmes plásticos

FC FBP Variáveis FC1 FBP2

Início Fim Início Fim MS (%) 38,6 37,2 40,6 34,2 42,0 35,4 pH 3,6 3,6 3,9 4,2 3,8 3,7 Ácido lático (% MS) 5,1 4,9 3,6 2,8 3,4 0,4 Ácido acético (% MS) 1,3 1,4 1,3 1,8 1,1 1,9 Ácido propiônico (% MS) 0,2 0,2 NE3 0,3 NE NE Etanol (% MS) 0,6 0,6 0,8 0,0 0,9 2,8 1,2 Propanol (% MS) NE NE NE NE NE NE Leveduras (log ufc/g) 3,0 5,4 ND4 ND ND ND Fungos (log ufc/g) <2,0 3,3 ND ND ND ND Cinzas (% MS) 4,9 4,8 4,7 5,2 4,7 5,0 Energia bruta (KJ/g MS) 17,8 17,3 17,7 18,6 18,3 16,4 Perdas (% MS) 6,6 8,85 1,7 4,5 1,2 2,9 1FC = Filme convencional 2FBP = Filme de baixa permeabilidade ao oxigênio 3NE = não encontrado 4ND = não determinado 5Média de dois sacos

O crescimento de fungos filamentosos e de leveduras e as perdas de MS foram

superiores na silagem coberta com FBP. Este filme (presença de poliamida) diminui a

permeabilidade ao O2, funcionando como uma barreira, o que possivelmente promove

uma fermentação de melhor qualidade, quando comparado ao FC. Como a

deterioração aeróbia após a abertura do silo é dependente do processo fermentativo e

do manejo de retirada, os microrganismos deterioradores provavelmente se

desenvolveram no local com maior concentração de substrato (FBP), em que o avanço

discreto da massa de 12 cm/dia colaborou para que o fenômeno ocorresse.

ASHBELL & LISKER (1988) avaliaram a silagem de milho, estocada em silo tipo

bunker, em condições de clima subtropical e encontrarm perdas de MS acima de 36%

na área periférica do silo coberta com lona de coloração escura (composta por

polietileno) e espessura de 0,1 mm.

Em relação às extremidades do silo (início e fim), as perdas de MS foram

superiores na silagem coberta com FC e os valores de perdas são inferiores aos sacos

localizados nas regiões central e periférica (Tabela 4). Este fato pode ter ocorrido

Page 109: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

porque a silagem presente nas extremidades não sofre influência do O2 que penetra na

massa após a quebra da vedação.

Depreende-se que redução do movimento de gás entre a massa ensilada e o

exterior do silo pelo uso de filme com reduzida permeabilidade ao O2 é uma estratégia

interessante para diminuir a deterioração aeróbia durante o período de estocagem,

desde que a fazenda efetue o fechamento do silo e a remoção da silagem durante a

utilização da mesma com o máximo de atenção. Segundo SNELL et al. (2000), na

Alemanha, o filme utilizado na vedação de silos deve apresentar permeabilidade ao O2

inferior a 250 cm3/m2/24h para que a empresa produtora receba certificado de

aprovação. Embora, HONIG (1991) e McGECHAN & WILLIAMS (1994) enfatizaram que

a permeabilidade do filme é menos problemático que a junção entre a parede do silo e

a lona na etapa de vedação, bem como os possíveis furos que poderão ocorrer na lona

durante a armazenagem da silagem.

Na Figura 2 está representada a termografia do silo vedado com dois tipos de

filme. Após 25 dias de utilização da silagem, na parte direita do silo onde está

localizado o FC, a temperatura em alguns pontos esteve entre 42-46 ºC, superior ao

FBP, e segundo McDONALD et al. (1991) a elevação da temperatura na silagem é um

bom indicador de eventuais fenômenos de deterioração aeróbia e da atividade de

oxidação por parte das leveduras e fungos filamentosos.

O lado do silo coberto com FBP apresentou temperatutas mais amenas, porém

com uma grande área onde as temperaturas se encontravam entre 30-34 ºC (coloração

amarela). A temperatura mais elevada na zona central do silo, não é atribuída a

atividade microbiológica, mas a baixa condutividade térmica da massa, que mantém por

muito tempo o calor desenvolvido durante as primeiras fases da fermentação,

principalmente neste caso, pois havia um outro silo adjacente a face esquerda. Nas

zonas periféricas o calor referente ao período fermentativo se dissipa rapidamente pela

atmosfera (na parte superior) e pelo solo nas zonas basais.

Com 44 dias após a abertura do silo, a diferença de temperatura nas silagens

coberta com os dois tipos de filme não era mais evidente. Durante o intervalo de 19 dias

(entre a primeira e segunda leitura) houve maior consumo de silagem, em que o avanço

Page 110: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

diário passou de 11 para 16 cm/dia. Além deste fato, houve redução da temperatura

ambiental com a intensificação do período de inverno.

a

FC FBP

ºC 42-46

38-42

34-38

30-34

14-30

b

Figura 3 – Termografia do painel de um silo trincheira, em duas datas, durante a remoção de silagem de milho

FC = Filme convencional FBP = Filme de baixa permeabilidade ao oxigênio a25 dias após a abertura b44 dias após a abertura

Page 111: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

4. Conclusões A silagem localizada na região central de silo tipo trincheira apresenta

fermentação lática mais acentuada, desenvolvimento inferior de leveduras e fungos e

menores perdas de matéria seca em relação à região periférica.

O uso de filme com baixa permeabilidade ao oxigênio pode reduzir as perdas na

estocagem quando o fechamento do silo é adequado. Entretanto, pode aumentá-las

durante o período de utilização se a remoção da silagem não for gerida

adequadamente.

Page 112: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

5. Referências

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Page 115: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

CAPÍTULO 5 – IMPLICAÇÕES

As plantas de capim-Marandu, quando ensiladas com alta concentração de

umidade (média de 20% de MS), apresentam perdas elevadas na fase fermentativa,

pela produção de efluente e processo fermentativo indesejável, e são estáveis em

condições de aerobiose, uma vez que as fermentações secundárias sofridas por esta

forrageira e a ausência de substrato impedem a grande proliferação de microrganismos

responsáveis pela deterioração aeróbia, não se fazendo necessário o incremento com

outros ácidos (acético e benzóico), com vistas a elevar estabilidade aeróbia destas

silagens.

A inoculação com bactérias homo e heterofermentativas, isolada ou associada,

não altera o consumo e a digestibilidade aparente nas rações contendo alta proporção

de silagem de capim-Marandu. Entretanto, eleva as perdas por deterioração aeróbia

quando estas silagens são produzidas com concentração de MS acima de 30%.

O uso de inoculante contendo bactérias homofermentativas (por exemplo:

Lactobacillus plantarum) não altera as características químicas e fermentativas das

silagens de capim-Marandu (alta umidade), de milho e de sorgo granífero.

A deterioração aeróbia é a principal fonte de perdas de silagens de alto valor

nutritivo, como a de milho e de sorgo granífero.

A inoculação com Lactobacillus buchneri 40788 eleva a estabilidade aeróbia em

silagens de milho e de sorgo granífero, trazendo efeitos positivos por manter as

características nutritivas e higiênicos sanitário do alimento.

A silagem de milho localizada na região central de silo tipo trincheira apresenta

fermentação lática mais acentuada, desenvolvimento inferior de leveduras e de fungos

e menores perdas de matéria seca em relação à região periférica.

A redução do movimento de gás entre a massa ensilada e o exterior do silo pelo

uso de filme com reduzida permeabilidade ao O2 é uma estratégia interessante para

diminuir a deterioração aeróbia durante o período de estocagem, desde que a fazenda

efetue o fechamento do silo e a remoção da silagem durante a utilização da mesma

com o máximo de atenção. Embora, a permeabilidade do filme é menos problemático

Page 116: CONTROLE DA DETERIORAÇÃO AERÓBIA DE SILAGENS

que a junção entre a parede do silo e a lona na etapa de vedação, bem como os

possíveis furos que poderão ocorrer na lona durante a armazenagem da silagem.