Cordel "O Ofício de Vaqueiro"

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O OFICIO DE VAQUEIRO I

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O OFICIO DE VAQUEIROI

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"profissional apto a realizar práticas relacionadas ao trato, manejo e condução de espécies animais do tipo bovino, bubalino, equino, muar, caprino e ovino".

Com essa definição a Presidência da República aprovou a LEI Nº 12.870, DE 15 DE OUTUBRO DE 2013, que dispõe sobre o exercício da atividade profissional de vaqueiro.

É a regulamentação de uma das atividades profissionais mais antigas do Brasil que, por sua vez, faz um reparo de cunho social, histórico, econômico e cultural.

“Uma Conquista que ecoa no Sertão!”

A SEAGRI, em parceria com a SESAB, aproveita essa oportunidade para prestar uma homenagem a esse honrado profissional, sempre presente na história nordestina.

Uma homenagem registrada nos versos do nosso querido Bule-Bule, Antônio Ribeiro da Conceição, músico, repentista, escritor e poeta brasileiro, um mantenedor das tradições musicais sertanejas.

Viva todos os vaqueiros da nossa terra!

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Serrita organiza a missaPara Raimundo JacóCariri e MoxotóSão chamado com justiçaGonzagão com a fé castiçaValorizando o gibãoFaz aos chefes da naçãoO seu pedido altaneiroQue o ofício do vaqueiroVire um dia profissão.

Graças a deus que o vaqueiroO grande herói do sertãoTeve o seu oficio agoraVisto como profissãoÉ a chuva da justiçaNo pé da reparação.

O vaqueiro é como escravoLuta o tempo integralSeja noite, ou seja, diaLa no campo ou no curralNunca deixa pra depoisPra socorrer animal.

Primeiro Garcia D’ávilaSe instalou no litoral

Porém foi muito difícilConsolidar no local

Agricultura e pecuáriaPlantação e animal.

Thomé de Souza que eraO governador geral

Determinou que afastasseDez léguas do litoralDaí pra frente podia

Plantar e fazer curral.

Ser vaqueiro sempre foiOfício qualificado

Exige prática e talentoPara lidar com o gado

Fazer que os bichos entendamIr pra o canto desejado.

É Deus que ensina o vaqueiroEle já nasce sabendo

Muitas coisas do oficioOutras aprende fazendoO dom nasce com o serE vai se desenvolvendo.

O OFICIO DE VAQUEIROAgora é profissão

(Autor: Antônio Ribeiro da Conceição Bule-Bule)

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Vaqueiro nunca faz greveAma bastante o que fazSe alegra com a tristezaCanta para os animaisQuando abóia o gado vemNão vindo ele vai atrás.

Quando o seu salário atrasaTem crédito e compra fiadoO patrão vem de viagemPaga o que está atrasadoEle corre para a vendaPaga o que tinha comprado.

Tem crédito por ser direitoArruma cerca e cancelaFaz cacimba no baixioQuando a seca lhe atropelaSalva a vida dos seus bichosCom a água que tem nela.

Faz caldeirão no lajedoPra guardar água do invernoOs mais antigos orientamEnsinando ao mais modernoRemédios e oraçõesDo seu antigo caderno.

O vaqueiro se agigantaBriga com touro valenteAmansa cavalo e burroEnfrenta onça e serpente

Deus fez e guardou a formaMuito distante da gente.

Quando a Bahia precisaO vaqueiro chega urgente

Na época da independênciaEles vieram na frente

Combater os portuguesesDefendendo sua gente.

Nessa hora os encouradosDe Pedrão Jogaram duro

Os índios TupinambásVendo os baianos em apuro

Partiram em nossa defesaGarantiu nosso futuro.

A Bahia tem um marcoDois de Julho é altaneiro

De Cabrito a PirajáLembra todo brasileiro

Mas esquece que na glóriaTem o sangue do vaqueiro.

Todo estado tem sertãoTodo sertão tem vaqueiros

Pecuária e agriculturaHoje dois bens brasileiros

Que serve ao mercado internoE a mesa dos estrangeiros.

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O vaqueiro desbravouÁrea para criaçãoFez curral depois fez casaFez crescer povoaçãoFez cidade, fez estadoFez esta grande nação.

O vaqueiro se faz donoDo cabedal do patrãoMorre defendendo os bichosPois é sua obrigaçãoO filho desobedeceMas os seus bichinhos não.

Se cai amansando um braboE tem um braço quebradoAlisa o animal e diz:- Por mim está perdoado,Se tem culpado entre nósEu é quem sou o culpado.

Vaqueiro é sempre um doutorQue se diploma em sertãoSeus apetrechos de couroDão identificaçãoLuva, sapato e jalecoPerneira, chapéu e gibão.

Um cavalo bom de gadoUm cachorro amarradorQue vai na venta de um boiSeja do tamanho que for

O banco não fez dinheiroPra superar seu valor.

O vaqueiro faz de tudoMas nem o nome ele tem

O patrão tem a fazendaE tem o gado também

“Sou vaqueiro de fulano”,E cita o nome de alguém.

Graças a Deus que agoraEste ofício é profissão

Vai ter registro em carteiraE regulamentação

Férias, décimo e indo emboraVai ter indenização.

Pense os colonizadoresDesvirginando a nação

E os vaqueiros na frenteIndo sem ter direção

Seguindo o rumo da ventaPra construir o sertão.

Atrás de água e pastagemPara o conforto do gadoBeira de rio, pé de serra

Em planalto e em serradoPor mais distante que fosse

Iá o curral instalado.

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Muitos bois viraram lendaTodo Brasil comentouOutros só na regiãoAlguns a fama espalhouDo mesmo jeito vaqueiroA arte imortalizou.

Alguns cavalos tambémSe tornaram imortaisUns em carreira de pradoOutros apartando animaisNão tem um bom sem o outroO que um fizer o outro faz.

Correr na pista é um treinoOutro é correr na madeiraNo Lambe-beiço e Favela,Calumbi e Catingueira,Unha-de-gato e Jurema,Xique-xique e Aroeira.

O barbatão saia brancaLendário do PiauíO vaqueiro Zé GarciaSaltou rio e quebrou tinguíPegou levando nos peitosLambe-beiço e calumbí.

Boi leitão também ficouNa lembrança nordestinaO cavalo lavandeiraBonito da calda a crina

Que Daniel foi montadoPara roubar Jovelina.

Toda bacia leiteiraNão importando o tamanho

Um vaqueiro e um cavaloSe destacam com o ganho

E um touro sobressaiPor dar origem ao rebanho.

Existe um velho provérbioQue eu devo destacar

“o vaqueiro é bom de boi,o cavalo é que não dá”

Portanto um sem o outroNão adianta tentar.

Depois de quinhentos anosFoi oficializado

O ofício de vaqueiroHome que cuida do gado

Doutor formado em sertãoSem nunca ter estudado.

Quando os vaqueirosespalharam

O gado no interiorAmpliando o meio de renda

Naquele novo setorSurgiram novos ofícios

Sempre agregando valor.

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Surge os artesões das marcasO símbolo dos fazendeirosVem os artesãos do couroParamentando os vaqueirosAparece a mão de obraO ofício dos tropeiros.

Um gibão bem costuradoCom desenho do artesãoUma parelha de alforjesUma cela feita à mãoQuem possuir tem orgulhoDe conhecer o sertão.

Um laço de oito pernasPara laçar catueiroBotar na chincha e puxarPra porta do fazendeiroAjuda o brio e a famaE o nome do vaqueiro.

Vaqueiro nasce com o domDe amar os animaisCastiga para educarComo todo pastor fazComo os filhos que agradeceAs lições rígidas dos pais.

Nosso Brasil sem sertãoNunca seria um celeiroTambém nada valeriaNosso sertão sem vaqueiro

Milho, arroz, feijão e carneTinha que vir do estrangeiro.

Também seria importadoLeite, café, queijo e nata

Farinha de mandiocaCarne de porco e batataTudo virou pasto e roça

O que antes era só mata.

O nosso artesanatoÉ produto exportação

Como é bom o sertanejoSaber que outra naçãoOrnamenta a sua sala

Com a sua criação.

Agronegócio sustentaHoje o PIB brasileiro

Pois o homem da mão grossaEnsinou fazer dinheiroO Brasil não agradece

Mas deve isto ao vaqueiro.

O vaqueiro vai na frenteMata a cobra e espanta a onça

Broca a mata, faz pastagemArma laço e geringonça

Quando o patrão chega diz:- Este homem é de responsa!

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Mesmo ganhando pouquinhoFaz tudo em cima da horaEu não vou lhe dar aumentoPois se este cabra melhoraPode mudar de atitudeMe abandona e vai embora.

Foi sempre assim o vaqueiroDesde a sua meniniceDar tudo em troca de nadaVive esperando a velhice- Toma este taco de terraAté aqui ninguém disse.

Nasce, cresce, vive e morreEm defesa da fazendaQuando novo corre e pegaGanha troféu, ganha prendaEnvelhece e vai pra covaMas não tem direito a renda.

Gloriosamente agoraO ofício de vaqueiroPerante as leis trabalhistasVai lhe dar algum dinheiroPara este herói anônimoNão ter tanto desespero.

Quem for contratar vaqueiroMe faça um grande favorNão mande fazer um testePara operar trator

Nem fazer uma prova escritaNem usar computador.

Se exigir essas coisasPara ter como operário

Invés da pratica vaqueiraQuiser que faça um diário

Não precisa de um vaqueiroContrate um veterinário.

Quando um vaqueiro decideQue vai morar na cidade

Eu noto que no seu peitoAbre uma enfermidadeSe não morrer da ferida

Pode morrer de saudade.

Neste trabalho o vaqueiroEstá homenageado

Pela Fenagro e tambémPor sindicatos do Estado

O seu futuro seráDiferente do passado.

FIM

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Registro do Ofício

No dia 09 de agosto de 2011, através do Decreto nº 13.150, o Ofício de Vaqueiro tornou-se Patrimônio Imaterial da Bahia, inaugurando o Livro de Registro Especial dos Saberes e Modo de Fazer, respaldado na Lei Estadual nº 8.895/2003, regulamentada pelo decreto nº 10.039/2006, instituindo normas de proteção e estímulo à preservação do Patrimônio Cultural da Bahia. Primeiro ofício registrado no Livro de Registro Especial dos Saberes e Modo de Fazer do Estado da Bahia, portanto, histórico.

Respondendo a solicitação feita ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia – IPAC, em 03 de maio de 2010, pelo antropólogo e estudioso dos vaqueiros, Washington Queiroz, à época conselheiro titular do Conselho Estadual de Cultura – CEC, a Gerencia de Pesquisa e Legislação Patrimonial – GEPEL, atual Gerencia de Patrimônio Imaterial – GEIMA, emitiu parecer favorável à inclusão desta manifestação cultural como patrimônio imaterial do Estado da Bahia, reconhecendo a importância de salvaguardar tão singular forma de trabalho, que muito contribuiu para a formação e diversificação da cultura baiana e brasileira.

Dossiê com levantamento bibliográfico, pesquisa documental, estudo etno-histórico, levantamento iconográfico (fotos, recortes de jornais, publicações, etc.) e entrevistas,visando fundamentar e justificar a importância do Registro do Ofício de Vaqueiro, foi elaborado e encaminhado ao Conselho Estadual de Cultura, que acatou a indicação e recomendou o registro, chancelado pelo Governador do Estado.

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