CORREÇÃO DA SATURAÇÃO DE TRANSFORMADORES DE CORRENTE VIA REDES NEURAIS
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CORREO DA SATURAO DE TRANSFORMADORES DE CORRENTE VIA
REDES NEURAIS ARTIFICIAIS E SEUS EFEITOS NA PROTEO DE
DISTNCIA
Marcio Andrey Roselli
DISSERTAO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAO
DOS PROGRAMAS DE PS-GRADUAO DE ENGENHARIA DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS
REQUISITOS NECESSRIOS PARA A OBTENO DO GRAU DE MESTRE EM
CINCIAS EM ENGENHARIA ELTRICA.
Aprovada por:
________________________________________ Prof. Sebastio rcules Melo de Oliveira, D. Sc.
________________________________________ Prof. Luiz Pereira Calba, D. Ing.
________________________________________ Prof. Marco Antonio Macciola Rodrigues, D. Sc.
RIO DE JANEIRO, RJ BRASIL
JUNHO DE 2007
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ROSELLI, MARCIO ANDREY
Correo da Saturao de Transformadores
de Corrente via Redes Neurais Artificiais e
seus Efeitos na Proteo de Distncia [Rio
de Janeiro] 2007
XI, 133 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, M.Sc.,
Engenharia Eltrica, 2007)
Dissertao Universidade Federal do Rio
de Janeiro, COPPE
1. Proteo de Sistemas Eltricos
2. Saturao
3. Redes Neurais Artificiais
4. Transformadores de Corrente
I. COPPE/UFRJ II. Ttulo (srie)
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DEDICATRIA
OFEREO ESTE TRABALHO
A MINHA ESPOSA HELENA, AO
MEU FILHO IGOR,
A MINHA AV FIUCA (IN MEMORIAN) E
A MEU AV FRANCISCO (IN MEMORIAN)
OBRIGADO,
MARCIO ANDREY
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AGRADECIMENTOS
Meus sinceros agradecimentos ao professor Sebastio rcules Melo de Oliveira,
pela forma dedicada e paciente com que me orientou. Em todos os momentos esteve
sempre disposto e pronto a ajudar. Aos amigos da Eletrobrs e da ANEEL pela
colaborao.
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Resumo da Dissertao apresentada COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessrios para a obteno do grau de Mestre em Cincias (M.Sc.)
CORREO DA SATURAO DE TRANSFORMADORES DE CORRENTE VIA
REDES NEURAIS ARTIFICIAIS E SEUS EFEITOS NA PROTEO DE
DISTNCIA
Marcio Andrey Roselli
Junho/2007 Orientador: Sebastio rcules Melo de Oliveira Programa: Engenharia Eltrica
O objetivo deste trabalho apresentar resultados de anlise realizada visando
mitigar os efeitos da saturao de transformadores de corrente (TCs), um dos fatores
que podem afetar sobremaneira o desempenho de um sistema de proteo de distncia
aplicado a linhas de transmisso de alta e extra alta tenso. Para isto, o trabalho
proposto utiliza uma metodologia de correo dos sinais distorcidos baseada em redes
neurais artificiais (RNA) e que consiste na aplicao de um algoritmo a ser adicionado
como uma funo extra a um sistema digital de proteo de distncia.
So simulados casos de curto-circuito em um sistema de potncia em que os
TCs operam com carga acima da nominal, o que pode resultar na saturao de seu
ncleo, dependendo dos nveis das correntes de curto. Os efeitos da saturao sobre o
desempenho do sistema de proteo podem, ento, ser visualizados quando os
resultados das simulaes so comparados com outros resultados obtidos na condio
ideal de ausncia de saturao.
A partir de simulaes de MATLAB contendo a modelagem dos canais de
transduo de tenso e corrente de um sistema tpico de proteo de distncia, foram
obtidos resultados que permitiram definir a arquitetura e realizar o treinamento de uma
RNA para correo dos efeitos da saturao e, conseqentemente, da impedncia vista
pelo rel de distancia ao longo do perodo de falta. Simulaes finais confirmaram o
bom desempenho da aplicao das RNAs para soluo do problema em questo.
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Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)
CURRENT TRANSFORMER SATURATION CORRECTION THROUGH
ARTIFICIAL NEURAL NETWORK AND THEIR EFFECTS ON DISTANCE
PROTECTION BEHAVIOR
Marcio Andrey Roselli
June/2007 Advisor: Sebastio rcules Melo de Oliveira Department: Electrical Engineering
The objective of this work is to present results of the analysis carried out for
reducing current transformer (CT) saturation effects, one of the factors that can severely
affect the behavior of a protection system based on distance relays applied to HV and
EHV transmission lines. For this, the proposed work uses a methodology for correcting
the distorted signals based on artificial neural networks (ANN) and that consists of the
application of an algorithm to be added as an extra function to a digital protection
system.
Cases of short circuit in a power system are simulated where the CT's operates
above the nominal load, what can result in core saturation, depending on the short
circuit levels. The effect of the saturation on the performance of the protection system
can, then, be visualized when the simulations results are compared with other results
related to the ideal non saturated condition.
Several results were obtained from MATLAB simulations containing the
modeling of the voltage and current transduction channels of a typical distance
protection system. These results allowed to define the architecture and carried out the
training of a ANN for correction of the saturation effects and, consequently, of the
impedance seen by the distance relay during the fault period. Final simulation results
had confirmed the good performance of the application of the ANN's for solution of the
problem referred above.
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PRINCIPAIS SMBOLOS E VARIVEIS
A / D = analgico / digital
ANEEL = Agncia Nacional de Energia Eltrica
CA = corrente alternada
CC = corrente contnua
CPU = central processing unit
DCP = divisor de potencial capacitivo
EMTP = Eletromagnetic Transient Program
EPE = Empresa de Pesquisa Energtica
IEEE = Institute of Electrical and Electronics Engineers
MOV = metal oxide varistor
MATLAB = Matrix Laboratory
RNA = rede neural artificial
RTDS = real time digital simulator
S/H = sample and hold
TC = transformador de corrente
TP = transformador de potencial
1C = capacitncia equivalente superior do DCP
2C = capacitncia equivalente inferior do DCP
FC = capacitncia do filtro analgico
21 , FF = fontes equivalentes para o sistema de transmisso CA
Pf = freqncia de corte do filtro de Butterworth (Hz)
Sf = freqncia sncrona (Hz)
1h = grau de compensao srie do circuito AB de transmisso
2h = grau de compensao srie do circuito BC de transmisso
IEC = International Electrotechnical Comission
mi = corrente de magnetizao do TC referida ao secundrio
mvi = corrente de magnetizao do TP referida ao secundrio
Pi = corrente no enrolamento primrio do TC
PVi = corrente no enrolamento primrio do TP
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'Pi = corrente no primrio do TC referida ao secundrio 'PVi = corrente no primrio do TP referida ao secundrio
Ri = corrente de perdas magnticas do TC referida ao secundrio
RVi = corrente de perdas magnticas do TP referida ao secundrio
Si = corrente no enrolamento secundrio do TC
SVi = corrente no enrolamento secundrio do TP
BVL = indutncia da carga do transformador de potencial
DL = indutncia do reator do divisor capacitivo de potencial
FL = indutncia do filtro analgico
mL = indutncia de magnetizao do transformador de corrente
mvL = indutncia de magnetizao do transformador de potencial
PL = indutncia do primrio do TC referida ao secundrio PVL = indutncia do primrio do TP referida ao secundrio SL = indutncia do enrolamento secundrio do TC SVL = indutncia do enrolamento secundrio do TP 'SVL = indutncia total no circuito secundrio do TP ( SVL + DL )
321 ,, NNN = potncia reativa da compensao em derivao do sistema CA
ONS = Operador Nacional do Sistema
R = parte resistiva da impedncia vista pelo rel de distncia
adR = resistncia (adicional) de carga do TC
BR = resistncia do sinal de tenso de sada do TC
BVR = resistncia de carga do transformador de potencial
DR = resistncia do reator do divisor capacitivo de potencial
FR = resistncia do filtro analgico
mR = resistncia de perdas magnticas do transformador de corrente
mvR = resistncia de perdas magnticas do TP
PR = resistncia do enrolamento primrio do TC
PVR = resistncia do enrolamento primrio do TP
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SR = resistncia do enrolamento secundrio do TC
SVR = resistncia do enrolamento secundrio do TP
'SVR = resistncia total no circuito secundrio do TP ( SVR + DR )
RTC = relao de transformao do transformador de corrente
RTP = relao de transformao do transformador de potencial
SIN = Sistema Interligado Nacional
mv = tenso induzida pelo fluxo mtuo do TC
mvv = tenso induzida pelo fluxo mtuo do TP
inv = tenso de entrada do filtro analgico no canal de corrente
invv = tenso de entrada do filtro analgico no canal de tenso
outv = tenso de sada do filtro analgico no canal de corrente
outvv = tenso de sada do filtro analgico no canal de tenso
Pv0 = tenso fase-neutro desenvolvida no circuito de transmisso no
ponto de localizao do rel (entrada do DCP) '0Pv = tenso Pv0 referida ao secundrio do TP
Pv = tenso fase-neutro de sada do divisor capacitivo antes do reator
do DCP 'Pv = tenso Pv referida ao secundrio do TP
P = freqncia de corte do filtro de Butterworth (rad/s) S = freqncia sncrona (rad/s)
X = parte indutiva da impedncia vista pelo rel de distncia
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NDICE 1 Introduo................................................................................................. 01 1.1 Histrico...................................................................................................... 05 1.1.1 Saturao de Transformadores de Corrente................................................ 05 1.1.2 Correo da Saturao de Transformadores de Corrente via RNAs.......... 11 1.1.3 Algoritmos aplicados Proteo de Distncia............................................ 13 1.2 Objetivo....................................................................................................... 16 1.3 Estrutura do Texto....................................................................................... 17 2 O Sistema de Proteo de Distncia........................................................ 19 2.1 Rel de Impedncia..................................................................................... 22 2.2 Rel de Reatncia........................................................................................ 25 2.3 Rel Mho ou Rel de Admitncia............................................................... 27 2.4 Problemas Associados Proteo de Distncia.......................................... 28 2.4.1 Resistncia de Arco Voltaico...................................................................... 28 2.4.2 Compensao Srie..................................................................................... 30 2.4.3 Saturao dos Transformadores de Corrente............................................... 30 2.4.4 Faltas de Alta Impedncia........................................................................... 31 2.4.5 Oscilao de Potncia ................................................................................. 31 2.5 Transformador de Corrente......................................................................... 32 2.5.1 Relao de Transformao do TC............................................................... 33 2.5.2 O Fator de Sobrecorrente do TC................................................................. 34 2.5.3 Classe de Exatido do TC........................................................................... 35 2.5.4 Saturao do Transformador de Corrente................................................... 35 2.5.5 Modelagem do Transformador de Corrente sob Condies de Saturao.. 40 2.6 Filtragem Anti-aliasing................................................................................ 42 2.7 Algoritmos de Filtragem Digital................................................................. 44 2.7.1 Algoritmo de Fourier.................................................................................. 48 2.7.2 Algoritmo Coseno....................................................................................... 51 3 Redes Neurais Artificiais.......................................................................... 54 3.1 Funcionamento do Neurnio Biolgico...................................................... 57 3.2 Modelo do Neurnio Artificial.................................................................... 60 3.3 Tipos de Funo de Ativao...................................................................... 63 3.4 Arquitetura de Redes Neurais Artificiais.................................................... 67 3.4.1 Redes Feedforward de Camada nica........................................................ 67 3.4.2 Redes Feedforward com Mltiplas Camadas.............................................. 68
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3.4.3 Redes Recorrentes....................................................................................... 69 3.5 Paradigmas de Aprendizagem..................................................................... 70 3.5.1 Aprendizado com Professor........................................................................ 70 3.5.2 Aprendizado sem um Professor.................................................................. 71 3.6 Algoritmo de Aprendizagem para o Perceptron de Mltiplas Camadas..... 73 3.6.1 O Perceptron de Mltiplas Camadas........................................................... 73 3.6.2 O Problema de Treinamento do MLP......................................................... 74 3.6.3 Treinamento do MLP: Algoritmo de Retropropagao.............................. 75 4 O Sistema Analisado................................................................................. 80 4.1 O Sistema de Transmisso.......................................................................... 80 4.2 Transduo do Sinal de Corrente................................................................ 81 4.3 Transduo do Sinal de Tenso................................................................... 83 4.3.1 Modelagem do Divisor Capacitivo ............................................................. 84 4.3.2 Especificao do Divisor Capacitivo e Transformador de Potencial para
o Sistema Analisado....................................................................................
86 5 Simulaes e Anlise dos Resultados....................................................... 87 5.1 Definio da Arquitetura da RNA e dos Casos de Treinamento................. 87 5.2 O Conjunto de Condies de Treinamento da RNA................................... 94 5.3 Os Resultados Obtidos nas Condies de Treinamento.............................. 102 5.4 O Resultado Obtido na Condio Intermediria.......................................... 110 5.5 Resultados Obtidos aps a Compensao Srie.......................................... 120 5.6 Tempo de Processamento da RNA.............................................................. 125 6 Concluses e Recomendaes................................................................... 127 Bibliografia.............................................................................................................. 130
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INTRODUO
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1 INTRODUO
A funo de todo sistema eltrico de potncia realizar a conexo entre gerao
e carga com o mnimo de interrupes durante sua operao. Para que isto seja
viabilizado, necessrio que os estudos de planejamento incluam a previso do
crescimento da carga, a elaborao de planos timos de gerao, a constituio de
esquemas de interconexo apropriados e, principalmente, a utilizao de um conjunto
eficiente de protees.
A previso de carga fundamental para que seja assegurado o atendimento do
mercado evitando racionamentos de energia e utilizada para definir as tarifas de uso
dos sistemas. A responsabilidade pela previso de carga do SIN Sistema Interligado
Nacional atribuda s empresas EPE Empresa de Pesquisa Energtica e ONS
Operador Nacional do Sistema, sendo a EPE responsvel pelo planejamento da
expanso dos sistemas de gerao e transmisso e o ONS pelo planejamento da
operao a curto prazo. No caso da expanso do sistema de distribuio de energia, o
planejamento realizado pelas concessionrias de distribuio. A partir de tais
planejamentos, a ANEEL Agncia Nacional de Energia Eltrica define as tarifas de
uso dos sistemas, sempre com o objetivo de racionalizar investimentos no setor eltrico.
A elaborao de programas timos de gerao deve ter o compromisso com a
utilizao mais econmica possvel dos grupos geradores, com a reduo de perdas
tcnicas e com sua adequada repartio, evitando sobrecargas no sistema. Para o caso
das usinas geradoras despachadas centralizadamente, estes programas so elaborados
pelo ONS.
Sabe-se que os sistemas de potncia crescem tanto em complexidade quanto em
tamanho, apresentando correntes de curto circuito cada vez mais elevadas. Portanto, os
sistemas de proteo adquirem papel cada vez mais importante com o crescimento dos
sistemas eltricos ao longo do tempo. Tais sistemas de proteo devem evitar ou
minimizar os efeitos das falhas nos sistemas de potncia com um grau elevado de
confiabilidade e rapidez.
Assim, para salvaguardar o sistema eltrico, os nveis de corrente de curto-
circuito devem ser limitados e/ou disjuntores de maior capacidade de interrupo devem
ser considerados. Verifica-se, assim, que h a necessidade de dispositivos de proteo
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INTRODUO
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distintos para as situaes anormais de funcionamento do conjunto interconectado ou
interligado e para o isolamento dos elementos da rede.
O sistema eltrico deve ser equipado com um sistema composto por diversos
dispositivos de proteo, dispostos estrategicamente. Tais dispositivos no atuam de
forma independente, mas devem trabalhar de modo que uma anormalidade no sistema
eltrico possa ser isolada e removida sem que as outras partes sejam afetadas. Portanto,
os dispositivos de proteo devem estar coordenados para operao seletiva, visando
isolar as partes defeituosas do sistema, to prximo quanto possvel de sua origem,
evitando a propagao das conseqncias, no menor tempo possvel, com o objetivo de
reduzir danos.
O SIN projetado para atender ao critrio de expanso e operao com (n-1)
elementos, ou seja, no caso de falta de um elemento, deve haver outros caminhos
alternativos para o suprimento de energia eltrica sem sobrecargas, de forma a permitir
a continuidade do fornecimento de energia. Por isso, no momento critico de um defeito,
a continuidade do fornecimento de energia depende do correto funcionamento dos
dispositivos de proteo existentes. Para a implantao das funes de proteo, existe
um grande nmero de rels e de esquemas de proteo destinados s partes e
equipamentos dos sistemas eltricos.
Os sistemas de distribuio de energia no so planejados para o critrio (n-1) e
utilizam uma lgica diferente. To logo uma falha permanente ocorra, o sistema de
proteo retira o alimentador ou parte dele de operao e o restabelecimento da
operao fica a cargo da equipe de manuteno, sendo os tempos de restabelecimento
regulados pela ANEEL. Aqui, novamente, mas de uma forma diferente, a proteo
mantm a funo primordial de salvaguardar o sistema e prover a segurana das
pessoas.
Nos sistemas de proteo os transformadores de instrumento so componentes
fundamentais j que eles fornecem o acesso s altas correntes e tenses do sistema
eltrico de potncia, por meio de replicas reduzidas dos sinais, as quais so seguras e
prticas, permitindo a identificao correta e oportuna das faltas e dos distrbios na
rede. Conseqentemente, a operao correta de sistema da proteo dependente do
desempenho dos transformadores de instrumento, os quais para operarem corretamente
demandam uma reproduo, a mais exata possvel, dos sinais de corrente e da tenso
durante curto-circuitos e outras faltas no sistema. Entretanto, contrapondo esta
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INTRODUO
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caracterstica altamente desejvel, os ncleos dos transformadores de corrente possuem
caractersticas de no linearidade de excitao, podendo reter nvel elevado de fluxo em
seu ncleo, o chamado fluxo remanescente.
Nos sistemas eltricos, os equipamentos de medio, controle e proteo
utilizam sinais de tenso e corrente, porm com caractersticas diferentes de preciso e
magnitude destes sinais, motivados pelos custos dos transformadores de instrumentos.
Um transformador de medio poderia ser utilizado simultaneamente para a funo de
proteo se o seu custo no fosse proibitivo.
Sabe-se que as correntes de excitao aumentam mais rapidamente para os
pontos acima do joelho da curva de magnetizao de um TC, caracterizando a saturao
de seu ncleo magntico. Neste caso, a corrente secundria do TC no representa a
forma da corrente primria, fato que pode conduzir ao atraso na operao ou ao mal
funcionamento dos rels de proteo do sistema.
Para evitar o problema, os rels de proteo poderiam ser projetados para operar
alimentados por TCs com grande volume do ncleo, e portanto de alto custo, visando
evitar ou reduzir sobremaneira a ocorrncia do processo de saturao. Uma alternativa a
esta prtica seria o uso de algoritmos visando corrigir os efeitos da saturao j na fase
do processamento digital. Desta forma, uma reconstituio aproximada do sinal de
corrente primria pode ser viabilizada, do ponto de vista tcnico, aps a aplicao de
processamento digital de sinais aos sistemas digitais de proteo.
Inicialmente os computadores digitais foram utilizados em sistemas eltricos de
potncia para estudos de fluxos de potncia, de curto circuito, de estabilidade, de
planejamento, etc. O raio de aplicao foi ento estendido s aplicaes em tempo real
para proteo de sistemas, controle de subestaes, medies, etc., j que estas
aplicaes comearam a se mostrar viveis do ponto de vista da velocidade de
processamento das informaes, de confiabilidade e preo.
A comunicao fcil entre outros processadores j permite, atualmente, o acesso
aos dados em outros nveis de comando e reas de controle, possibilitando uma proteo
mais sistmica. Desenvolvido o hardware e respeitada sua capacidade de
processamento, as caractersticas do sistema de proteo podem ser adaptadas via
software, sem a interveno humana e com baixo custo e confiabilidade.
A maior vantagem das tcnicas digitais sua capacidade de contnua
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INTRODUO
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monitorao de falhas em circuitos e funes, assegurando o pleno funcionamento dos
equipamentos, garantindo a qualidade do suprimento. Todas essas inovaes mudaram
os procedimentos de monitoramento, comissionamento, manuteno e expanso do
sistema de proteo e dos requisitos de carga dos rels. As redues nos custos de
manuteno, controle e monitoramento do hardware tm conduzido a mudanas
drsticas na confiabilidade do sistema e custos de implantao e operao.
Na presente dissertao, o foco dado proteo de distncia, utilizada
principalmente em sistemas de transmisso e de subtransmisso. Este tipo de proteo
tambm se beneficia da tecnologia dos rels micro-processados, com processamento
numrico dos sinais e algoritmos inteligentes de avaliao.
A saturao pronunciada do transformador de corrente (TC) no seguimento
ocorrncia dos curto-circuitos nos sistemas eltricos pode promover o aumento efetivo
da impedncia vista pelo rel de distancia e resultar no efeito de sobrealcance do rel.
Como discutido anteriormente, a utilizao de processamento digital de sinais permite
que este efeito possa ser corrigido sem o sobredimensionamento do TC.
Uma das tcnicas que possibilita a correo das correntes saturadas dos
transformadores de corrente e que ser objeto de nosso estudo a que utiliza redes
neurais artificiais. Para permitir a execuo de casos de verificao da operao da
proteo de distncia sob condies de saturao dos transformadores de corrente,
foram implantadas rotinas em ambiente MATLAB, incorporando modelos do sistema
eltrico de alta tenso, do sistema de transduo, aqui includos os transformadores de
corrente e de potencial, dos sistemas de filtragem e de converso A/D e do sistema de
proteo de distncia, este com representao definida por meio de rotinas especficas.
A partir do programa contendo tais modelos, foram feitas diversas simulaes de
modo a definir a arquitetura e treinar a rede neural artificial para corrigir os efeitos da
saturao sobre as impedncias vistas pelos rels de distancia. A visualizao de tais
impedncias no plano RX foi utilizada para validar a metodologia.
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INTRODUO
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1.1 HISTRICO
A seguir sero analisados alguns trabalhos publicados tratando do problema da
saturao de transformadores de corrente, dos mtodos para correo desta anomalia,
dentre eles a tcnica de correo via redes neurais artificiais, e dos algoritmos aplicados
proteo de distncia.
1.1.1 SATURAO DE TRANSFORMADORES DE CORRENTE
Na referncia [33] os autores apresentam um algoritmo de correo da distoro
da corrente secundria devida saturao do transformador de corrente - TC,
identificando a possibilidade de utilizao de TCs de medio para a funo de
proteo, fato que poderia reduzir seus custos e volume e, portanto, viabilizar a
produo de disjuntores com TCs integrados.
Os efeitos da saturao foram verificados para faltas em uma linha de 345 kV.
Foram considerados diferentes tipos de falta, ngulos e constantes X/R, fluxos
remanescentes e casos com e sem religamento do disjuntor. Na modelagem dos
equipamentos foram desconsideradas a indutncia de disperso do secundrio e a
resistncia representativa das perdas associadas com a magnetizao do TC.
A corrente de magnetizao do TC foi estimada, com o clculo do fluxo em seu
ncleo e sua curva de magnetizao, e ento adicionada a corrente secundria medida.
Os autores ressaltam que os transformadores de corrente utilizados na medio possuem
uma saturao mais explcita, j que utilizam ncleos menores.
Resultados de testes mostraram que o algoritmo apurou com preciso a corrente
secundria considerando variveis tais como a magnitude da componente CC da
corrente primria, o fluxo remanescente, a constante de tempo do circuito primrio, a
distncia at o ponto de falta e o tipo de falta.
Os autores concluem que o algoritmo pode prover a sensibilidade necessria aos
rels para deteco de faltas internas com amplitudes de corrente reduzidas e para
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INTRODUO
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promover a melhoria da estabilidade dos rels para faltas externas, alm de reduzir a
seo do ncleo do transformador de corrente. Isto resulta na reduo de seu custo e
viabiliza disjuntores com TCs integrados. Adotado o algoritmo proposto, o trabalho
indica a viabilidade de utilizao de TCs de medio para aplicao em sistemas de
proteo.
As referncias [19], [25], [26], [27] e [30] apresentam metodologia similar
aplicada tambm a TCs de proteo subdimensionados.
Nas referncias [05], [06] e [29] foi apresentado um algoritmo de compensao
da distoro da corrente secundria do transformador de corrente causada por saturao
e pelo fluxo remanente. O algoritmo inicia compensando a corrente secundria medida,
to logo a saturao tenha sido detectada. O fluxo mtuo no incio da saturao fica
determinado a partir dos dados disponveis para a curva de magnetizao e , ento,
utilizado como valor inicial para o clculo da excurso do fluxo ao logo do tempo
durante o perodo de falta.
A corrente de magnetizao ento estimada e adicionada corrente medida no
secundrio. O resultado uma estimativa da corrente secundria que seria observada se
o TC no estivesse saturado, ou seja, uma rplica da corrente primria.
Resultados de testes sob diferentes tipos e localizaes de falta e condies
assumidas pelos transformadores de corrente (incluindo seu religamento) mostram a
eficincia da metodologia, quando considerando a presena da componente
unidirecional da corrente primria e do fluxo remanescente. O algoritmo mostrou-se
eficiente para aplicaes em tempo real.
A referncia [24] investiga a influencia do transformador de corrente - TC na
operao da proteo de sobrecorrente, alertando para os problemas causados pela m
especificao de tais equipamentos em sistemas com altas correntes de falta. Ademais,
os autores identificam a necessidade de grandes distncias entre o transformador de
corrente e o rel como um dos maiores responsveis pela saturao do TC, o que resulta
em grandes comprimentos de cabos e do conseqente aumento da carga em seu
secundrio. Estes fatores poderiam causar tanto o aumento do tempo de operao do
rel de sobrecorrente, quanto a possibilidade de sua no operao ou, ainda, a falta de
coordenao com outros dispositivos de proteo.
Para o caso em estudo foi escolhido um burden suficiente para causar a
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INTRODUO
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saturao do TC durante faltas assimtricas. Os autores ressaltaram que nenhum mtodo
adicional para correo da saturao foi utilizado. Um estudo foi realizado para verificar
se a resposta em atraso da proteo de sobrecarga provocaria a m operao ou falta de
coordenao com outros dispositivos da proteo.
Simulaes computacionais foram executadas, incluindo faltas simtricas e
assimtricas com e sem fluxo remanescente no TC. Uma curva tempo x corrente muito
inversa foi selecionada para estudar o impacto da saturao do TC na operao da
proteo de sobrecorrente.
O caso extremo resultou das simulaes da ocorrncia de faltas assimtricas de
12 kA, para um sistema com relao X/R = 15 e 80% de fluxo remanescente no ncleo
do TC.
Conhecida a corrente primria do TC, os autores ajustaram a corrente de pick-up
de modo a avaliar os efeitos da saturao. Realizada a simulao de desempenho do
equipamento de proteo de sobrecorrente, os autores observaram que os tempos de
operao apresentavam atraso na resposta em caso de ajustes entre 2000 e 7000 A. O
dispositivo no respondeu falta quando a corrente de pick-up foi elevada para 10000
A.
No experimento, a corrente da carga foi variada por faixas para determinar a
corrente de pick-up para os elementos de sobrecorrente fase / terra de rels e
religadores. Normalmente, ao calcular a corrente de pick-up de elementos de fase, um
fator de 2,0 a 2,5 vezes da corrente nominal de carga includo visando compensar para
o crescimento da carga, condies de operao sob contingncia e correntes de inrush
na energizao. Isto significa que, na maioria de casos, no foi necessrio o ajuste da
corrente de pick-up para correntes abaixo de 2000 A. Os autores concluem que a
saturao do transformador de corrente poder ser um fator de m operao ou falta de
coordenao da proteo de sobrecorrente.
Com apoio do programa EMTP - Eletromagnetic Transient Program, o autor da
referncia [23] compara diferentes tcnicas de modelagem computacional para
transformadores de corrente no contexto de validao de modelo para um determinado
transformador de corrente existente e de relao 1200/5. Os resultados das simulaes
foram comparados com testes de laboratrio executados sobre o TC referido, com
nfase na modelagem da curva de saturao do ncleo do TC.
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INTRODUO
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Para determinar como o nmero de sees lineares para representao da regio
saturada da curva de magnetizao impacta a exatido das simulaes, os modelos de
TC desenvolvidos utilizaram 2, 4, 8, e 16 sees lineares. No primeiro teste foi utilizada
a curva do fabricante, com 16 seces lineares, com os resultados obtidos no
reproduzindo bem os testes de laboratrio. Os autores verificaram que a curva
informada pelo fabricante no apresentava resultados condizentes com os obtidos em
laboratrio, de forma que ajustes nas inclinaes das sees das curvas se mostraram
necessrios. Foram obtidos bons resultados quando uma representao da curva fluxo
corrente com apenas duas seces lineares foi utilizada, porm com ajustes em suas
inclinaes.
Os autores mostram ainda que, para evitar oscilaes numricas, a inclinao da
segunda seo no deve ser inteiramente horizontal. As simulaes demonstraram,
ainda, que a extenso da regio no-linear mais importante do que o nmero de sees
da curva fluxo x corrente.
Na referncia [28] os autores ressaltam que os transformadores de corrente so
projetados, pela norma ANSI, para suportarem uma corrente de 20 vezes a nominal sem
comprometer em mais de 10% a preciso da corrente secundria, esta especificao
sendo definida a partir da aplicao de faltas simtricas e condio de regime
permanente. Todavia, para faltas assimtricas, a componente unidirecional da corrente
primria pode saturar de sobremaeira o ncleo do TC e, ainda, para valores muito
menores de corrente.
Os autores demonstram que a corrente de curto circuito pode ser aproximada por
uma funo genrica, do tipo:
kBksenCkCIK +++= 21 cos , onde C1, C2, B e podem ser estimados utilizando o mtodo dos mnimos quadrados, a partir de resultados de simulao com o EMTP Eletromagnetic Transient Program.
Como veremos a seguir, o mtodo referido pode ser considerado como anlogo ao
utilizado pela metodologia das redes neurais artificiais, com os coeficientes encontrados
se mostrando similares aos pesos da RNA. A aplicao deste mtodo pode resultar em
soluo eficaz e prtica para a compensao em tempo real da saturao do
transformador de corrente, sendo capaz de fornecer os sinais de entrada proteo do
sistema de potncia com confiabilidade e preciso. Foram executados vrios casos de
-
INTRODUO
9
teste que demonstraram a robustez do mtodo quando considerando diferentes
condies de falta e caractersticas do transformador de corrente.
Na referencia [17] os autores utilizaram um transformador de corrente de
medio para uma aplicao de proteo. Um dos problemas do uso de TCs de
medio para a proteo a elevada saturao experimentada pelo ncleo magntico.
Os autores propuseram, ento, um algoritmo baseado na monitorao e correo
das componentes harmnicas da corrente secundria do TC, de modo similar ao
realizado na referncia [28]. O algoritmo foi executado no ambiente MATLAB e
avaliado usando os dados de sada de um TC real em um banco analgico de teste. O
tempo de operao do prottipo do rel foi comparado aos tempos de operao dos rels
convencionais eletromecnicos e estticos sob vrias correntes de falta e relaes X/R.
Como esperado, quando os rels convencionais foram energizados usando um TC
saturado, os tempos de operao se apresentaram prolongados devido distoro da
forma de onda da corrente secundria.
O efeito de correo da saturao do TC foi verificado a partir da aplicao de
sua resposta a um algoritmo de simulao da operao de um rel de sobrecorrente de
tempo inverso. Os autores observaram que os tempos de operao da proteo, quando
considerando as correntes corrigidas, foram similares aos esperados em caso de
ausncia dos efeitos de saturao.
O trabalho indica que um rel baseado no algoritmo proposto e energizado por
um TC fisicamente pequeno utilizado normalmente em aplicaes de medio pode ser
utilizado em sistemas de proteo. O objetivo principal da pesquisa era a reduo de
custo e volume dos transformadores de corrente, fato que poderia viabilizar disjuntores
de grande capacidade de corrente com TCs internos. Outra possibilidade seria a
utilizao simultnea do transformador de corrente para o uso em sistemas de proteo e
medio.
Na referncia [16] o autor compara trs mtodos de seleo de transformadores
de corrente utilizados em sistemas de proteo. So apresentadas as modelagens dos
TCs e da corrente de curto do sistema, esta ltima expressa por:
( ) ( ) ( )
++= Tlt
pico esentsenIti ,
-
INTRODUO
10
onde:
i(t): Corrente instantnea de falta.
picoI : valor de crista da corrente de falta.
: ngulo de fase no instante da falta : ngulo de fase entre tenso e corrente. Tl: constante de tempo primria.
O autor indica impropriedades no modelo das especificaes de TCs
apresentadas em diversas normas e sugere modificaes que foram testadas em
simulaes e em laboratrio.
As modificaes propostas por estes mtodos so sugeridas visando selecionar o
TC de modo a obter uma predio mais realstica de seu tempo de saturao. Os trs
mtodos predizem se um TC satura sob condies de falta, mas no indica a intensidade
da saturao ou de seu possvel impacto na operao dos rels de proteo.
Na referencia [30] os autores apresentam uma outra tcnica para correo dos
efeitos de saturao de transformadores de corrente. No trabalho desenvolvida a
modelagem do ncleo magntico do TC, sem qualquer referncia compensao do
efeito dos fluxos de disperso dos enrolamentos. A funo inversa foi determinada por
meio de processo iterativo e as diferenas entre valores simulados e medidos atribudas
ao fato de a reatncia de disperso no ter sido considerada como uma varivel, haja
vista que a importncia relativa do fluxo de disperso varia conforme o grau de
saturao do ncleo.
Na referencia [11] os autores investigam os modelos matemticos que poderiam
ser utilizados para representar o comportamento no-linear do ncleo magntico em
transformadores de instrumento. Eles comparam os resultados de quatro modelos
matemticos de TCs com resultados de laboratrio, onde verificaram a similaridade dos
resultados.
As caractersticas mais significativas para a modelagem do transformador de
instrumento foram descritas em detalhes no trabalho. Os autores ressaltam ainda que
imperativo que os rels sejam testados em condies de regime transitrio a fim de
assegurar um alto grau de preciso de anlise. Para esta anlise essencial o uso de
programas de simulao transitria para modelar adequadamente os diferentes
-
INTRODUO
11
componentes do sistema de potncia e gerar dados para avaliar o desempenho e a
aplicao correta dos rels microprocessados.
1.1.2 CORREO DA SATURAO DE TRANSFORMADORES DE CORRENTE VIA RNAS
Na referncia [18] demonstrada que uma rede neural artificial RNA capaz
de corrigir numericamente a saturao dos TCs, inclusive para sinais com alto nvel de
componentes harmnicas. Experincias foram realizadas com sinais em regime
permanente e transitrio.
Os autores observam que a arquitetura da rede neural poderia ser reduzida caso
se utilizasse RNAs recorrentes, porm este efeito no foi testado no trabalho. O estudo
mostrou que um possvel problema seria a velocidade de processamento. Um prottipo
utilizando um microcontrolador foi projetado e os testes em tempo real foram
conduzidos usando sinais de corrente.
Na referncia [10] os autores apresentam o uso de uma RNA utilizada na
correo das distores das formas de onda da corrente secundria do transformador de
corrente.
A RNA foi projetada com uma estrutura simplificada de modo a minimizar o uso
de processamento e memria quando executada como mdulo de dispositivos de
proteo. A rede foi desenvolvida usando resultados obtidos com o programa MATLAB
e treinada usando dados de transformadores de corrente reais. Foi observado no trabalho
que a RNA apresentou bons resultados em aplicaes em tempo real, fornecendo boas
estimativas da corrente primria do TC.
No trabalho os autores realizaram o treinamento da RNA com dados de um
sistema real, fato que evitou a utilizao de resultados com as aproximaes das
condies de sistema tpicas de modelos simplificados do circuito magntico.
Na referencia [09] os autores apresentaram uma rede neural artificial RNA
para corrigir as distores na forma de onda do secundrio dos TCs causadas pela
saturao de seu ncleo. A RNA foi treinada para encontrar a funo inversa do ncleo
do TC.
Segundo os autores, uma soluo para evitar a saturao dos TCs seria
-
INTRODUO
12
aumentar seu ncleo ou utilizar materiais que possam suportar grandes densidades de
fluxo, ambas as alternativas possuindo alto custo de implantao.
Foi utilizada uma RNA de propagao avante (feedforward) com a seguinte
arquitetura: duas camadas intermedirias, sendo 32 neurnios de entrada, 10 neurnios
para a primeira camada intermediria, 6 para a segunda camada intermediria e 1
neurnio para a camada de sada. O sistema amostrado a uma taxa de 32 amostras por
ciclo, sendo este nmero o motivo para o nmero de neurnios da camada de entrada.
Para treinar a rede neural foram utilizados magnitudes de correntes de falta
simtrica com valores eficazes de 5, 8, 10, 13 e 15 kA e fator X/R de 5, 10 e 20
provenientes de simulaes do software EMTP Eletromagnetic Transient Program.
Os resultados mostraram a eficincia do mtodo, tendo os tempos de proces-
samento se mostrando compatveis com as necessidades de aplicaes em tempo real.
Na referencia [20] os autores ressaltam que com o avano da tecnologia e com a
reduo dos preos dos processadores digitais, os mtodos de compensao da saturao
esto se tornando cada vez mais viveis. Neste contexto, apresentado um mtodo
utilizando RNAs para estimar a corrente primria do TC saturado. A tcnica
demonstrada utilizando um modelo do EMTP e dados reais de um TC. A viabilidade de
executar o algoritmo em tempo real demonstrada por meio da aplicao do algoritmo
em processadores digitais, utilizando a linguagem assembler.
Com a aplicao da tcnica referida, demonstrou-se a viabilidade de produzir
uma sada que seja uma estimativa ponto a ponto da corrente primria. Uma outra
vantagem que a rede pode ser treinada com sada de TCs reais, evitando as
aproximaes do sistema associadas aos modelos simplificados de circuito magntico.
Na referncia [32] os autores apresentam uma tcnica alternativa para a correo
de formas de onda distorcida provenientes da saturao dos dispositivos
transformadores de corrente atravs das ferramentas inteligentes baseadas em RNAs
Recorrentes.
Para isso, os autores utilizaram simulaes no EMTP - Eletromagnetic Transient
Program para simular curto-circuitos em um transformador de potncia e, assim,
verificar a influencia do TC sobre o desempenho da proteo diferencial.
Inicialmente os autores ressaltam que os TCs esto presentes em sistemas
-
INTRODUO
13
eltricos de potncia com a finalidade de proteo e medio, sendo altamente
suscetveis saturao. A simulao de um transformador de potncia foi realizada a
fim de gerar os dados de treinamento e testes para as RNAs. Muitas arquiteturas de
redes neurais artificiais foram treinadas e testadas, sendo que as melhores configuraes
obtidas foram s arquiteturas recorrentes de Elman.
O mtodo desenvolvido mostrou-se eficiente em busca do objetivo proposto. Os
autores concluem que a aplicao de RNAs constitui uma nova e importante etapa na
metodologia de anlise de sinais oriundos de TCs na busca de um melhor desempenho
de funes de proteo, medio e oscilografia de sistemas eltricos de potncia.
1.1.3 ALGORITMOS APICADOS PROTEO DE DISTNCIA
Na referencia [14] os autores apresentam uma anlise do comportamento dos
algoritmos de filtragem digitais de Fourier, Seno e Coseno para o clculo das
impedncias de falta, considerando as distores dos sinais devido saturao dos
transformadores de corrente. O trabalho ainda mostra a influencia do tamanho da janela
de aquisio e do tipo de filtro analgico.
No trabalho so analisados as respostas em freqncia dos filtros de Fourier,
Coseno e Seno, alm das respostas dos filtros anti-aliasing Butterworth e Chebyshev.
Os efeitos da resposta da proteo de distancia so verificados para os casos de
distores nos transformadores de instrumentos.
Para a filtragem digital, os autores observaram que as janelas de um e dois ciclos
apresentaram as melhores respostas, sendo que a primeira se mostrou, obviamente, mais
rpida. Quanto ao filtro analgico anti-aliasing, foi observado que o mesmo deve
apresentar resposta satisfatria na condio de regime permanente senoidal e com
caractersticas transitrias rapidamente amortecidas.
Para correntes com componente de decaimento exponencial, os melhores
resultados foram observados para as janelas de um ciclo, pois convergem mais
rapidamente ao valor da impedncia final de falta, acelerando a deciso de trip da
proteo de distncia. Foi observado, ainda, o efeito da saturao do TC no sentido de
conduzir a um atraso na operao do rel de distncia ou mesmo sua no operao.
Na referencia [02] os autores demonstram que a saturao dos TCs pode
-
INTRODUO
14
introduzir erros na atuao dos rels de proteo de distncia. Foram analisados casos
de faltas com algoritmo de Fourier de janela de ciclo completo, observado-se que os
erros na reatncia vista pelos rels no foram to significantes. Entretanto, a distoro
provocada pelos transitrios na forma de corrente secundria traz erros evidentes no
clculo das resistncias vistas.
O algoritmo similar ao da referncia [28]. Para o caso analisado, os autores
observaram que a saturao peridica e ocorre em um intervalo de tempo que permite
que o clculo seja completado antes que o transformador de corrente sature. Ento, o
algoritmo repetido a cada ciclo, durante intervalos no saturados.
Os erros no clculo da amplitude da componente fundamental de corrente
primria foram menores que 10 % e o erro de ngulo menor de 4 graus.
Na referncia [04], o autor faz uma anlise e estudo comparativo de filtros
digitais. Foram dados dois enfoques ao estudo. Primeiramente foram estudados os
filtros digitais no recursivos baseados na teoria de Fourier e funes Walsh e em
seguida foram estudados os filtros digitais recursivos baseados na teoria do filtro de
Kalman e novamente na teoria de Fourier. O filtro no recursivo de Fourier apresentou
melhores resultados que o filtro baseado na teoria das funes Walsh para os sinais de
tenso, pois elimina eficientemente os harmnicos de alta freqncia presentes nestes
sinais. Contudo, seus resultados so afetados pelo componente CC dos sinais de
corrente, enquanto que o filtro de Walsh apresentou melhores resultados onde a
presena do componente CC foi mais acentuada, ou seja, nas fases envolvidas com a
falta. Com relao aos filtros recursivos, tambm pode ser visto que em todos os casos
estudados, tanto o filtro de Kalman como o filtro de Fourier recursivo apresentaram
resultados equivalentes na eliminao dos harmnicos de alta freqncia presentes nos
sinais de rudo de tenso. Entretanto, para os sinais de rudo de corrente onde h
predominncia do componente CC, o filtro de Kalman apresentou melhores resultados
em relao ao filtro de Fourier recursivo.
O autor ainda expe que uma dificuldade da implementao do filtro de Kalman
para estimao das componentes fundamentais (60Hz) dos sinais de tenso e corrente
a necessidade de um estudo estatstico das condies iniciais do sistema e dos sinais de
rudo. Comparando-se os filtros digitais no recursivos com os filtros digitais recursivos
apresentados neste trabalho, foi ressaltado que os filtros no recursivos apresentam a
vantagem de ter uma fcil implementao computacional em relao ao filtro de
-
INTRODUO
15
Kalman, especialmente quando usada uma janela de amostragem de ciclo completo.
Para proteo digital, os filtros digitais recursivos mostram urna vantagem muito
importante em relao os filtros no recursivos que a de apresentarem resposta,
mesmo que no muito satisfatria, a partir da entrada da primeira amostra da janela de
dados A resposta dos filtros no recursivos, por sua vez, s obtida depois do
preenchimento total da janela amostral de dados.
Nos estudos no foi utilizado uma pr filtragem por meio de filtros analgicos,
fugindo da condio real da proteo.
Na referncia [13] o autor prope a implementao de um sistema de proteo
aplicando-se a teoria de RNAs. Para isso o autor criou um banco de dados, gerado por
meio de simulaes computacionais com o software Alternative Transients Program
(ATP), descrevendo ento, situaes em que o sistema de proteo deveria ou no atuar.
Analisou-se, por meio de RNAs implementadas pelo uso do software Neural Works, a
possibilidade da aplicao de um modelo completo de proteo para linhas de
transmisso (deteco, classificao e localizao da falta), atentando-se ao princpio de
funcionamento do rel digital de distncia e imprimindo ao mesmo uma caracterstica
adaptativa no que diz respeito s mudanas operacionais.
No trabalho, a proteo de distncia baseada em RNAs no usa explicitamente a
informao da impedncia como base de informao, mas sim, aprende a partir de
exemplos apresentados durante o processo de treinamento. A aproximao por RNAs
trabalha como um classificador de padres e est hbil a detectar, classificar e localizar,
rpida e precisamente, alteraes nas condies de operao do sistema e, consequen-
temente, resulta em melhoria no desempenho dos rels digitais convencionais.
O autor conclui que a vantagem observada da aplicao de RNAs na proteo
de distncia que, uma vez que o treinamento esteja completo, a RNA capaz de
fornecer as sadas desejadas no somente para as entradas conhecidas que foram
apresentadas na fase de treinamento, mas tambm resposta plausvel para qualquer
entrada. Esta capacidade de generalizao das RNAs implementada a partir de
exemplos conhecidos, evidenciando a tolerncia a rudos que porventura possam ocorrer
no sistema analisado e imprimindo proteo digital uma caracterstica adaptativa.
Somada s caractersticas inerentes ao modelo neural, destaca-se a flexibilidade
alcanada por meio do uso de um sistema digital. O algoritmo computacional
desenvolvido considera uma lgica de ativao seqencial dos mdulos neurais
-
INTRODUO
16
implementados e pode ser facilmente incorporado s implementaes em hardware do
sistema de proteo.
1.2 OBJETIVO
O objetivo deste trabalho apresentar, analisar e mitigar os efeitos da saturao
de transformadores de corrente, um dos fatores que afetam o desempenho de um sistema
de proteo de distncia aplicado a linhas de transmisso de alta e extra alta tenso. Para
isso, o trabalho proposto nesta dissertao utiliza uma metodologia de correo dos
sinais distorcidos dos transformadores de corrente, baseada em RNAs. Esta
metodologia resulta em um algoritmo que pode ser implementado como uma funo
extra de um sistema de proteo digital.
Para dar suporte a esta discusso, um sistema eltrico de potncia, composto por
dois circuitos simples em 500 kV, compensados por capacitores srie, com equivalentes
de curto-circuito em seus terminais, representado no programa MATLAB a partir da
chamada de rotinas especficas criadas para representao de cada um de seus
elementos.
Relativamente ao sistema de proteo de distncia considerado, os mesmos
modelos apresentados em [31] e [34] foram utilizados tanto na representao analgica
dos transformadores de corrente, dos transformadores de potencial, dos divisores de
potencial capacitivo e dos filtros de Butterworth dos dois canais de tenso e corrente.
Entretanto, diferentemente de [31], onde todo o sistema de proteo foi representado em
programa computacional escrito em linguagem FORTRAN, e de [34], onde foi
modelado com recursos do SIMULINK/MATLAB, no presente trabalho o sistema
eltrico de potncia foi modelado no SIMULINK/MATLAB e o sistema de proteo
modelado e implementado por rotinas criadas em ambiente MATLAB.
Em seguida, so simulados casos em que os transformadores de corrente esto
ou subdimensionados ou sobrecarregados, fatores que podem contribuir para menor ou
maior efeito de saturao do ncleo de tais dispositivos. Este efeito pode perturbar o
bom desempenho do sistema de proteo de distncia. Para verificao dos efeitos de
saturao dos transformadores de corrente, foi realizado um conjunto de simulaes
executadas no programa MATLAB.
-
INTRODUO
17
Implementadas as simulaes, os efeitos da saturao dos transformadores de
corrente sobre o desempenho da proteo de distncia do sistema eltrico so analisados
e comparados com aqueles associados presena de sinais ideais.
De posse dos sinais de corrente ideais e dos sinais distorcidos provocados pela
saturao do ncleo, estes so aplicados ao sistema de filtragem analgica e digital,
sendo posteriormente discretizados. Tais sinais foram utilizados para definio da
arquitetura e treinamento da rede neural artificial de modo a corrigir a distoro
atribuda saturao.
Simulaes foram realizadas de modo a demonstrar os efeitos da correo das
distores, via redes neurais artificiais, sobre o desempenho da proteo de distncia. O
objetivo a validao da metodologia proposta.
1.3 ESTRUTURA DO TEXTO
Para apresentar e analisar todos os aspectos apresentados anteriormente, esta
dissertao de mestrado foi organizada em seis captulos, a saber:
O capitulo 1 apresenta aspectos gerais da proteo de sistemas eltricos, com
nfase em particularidades associadas proteo de distncia e saturao de TCs. Em
seguida so analisados artigos selecionados sobre assuntos ligados ao tema da
dissertao.
No capitulo 2 so apresentados alguns fundamentos e conceitos de carter geral
associados as aplicaes dos sistemas de proteo de distncia e algumas informaes
de interesse sobre a especificao, faixa de utilizao e comportamento dos
transformadores de corrente responsveis pelas transdues de corrente nestas
aplicaes. Tambm so ressaltadas algumas caractersticas bsicas do filtro anti-
aliasing e dos filtros digitais empregados no presente trabalho.
No capitulo 3 so discutidas as principais caractersticas das redes neurais
artificiais, dentre elas a adaptabilidade e generalizao, fatores de suma importncia
para a proteo dos sistemas eltricos de potncia. As caractersticas acima referidas
exibidas pelas redes neurais artificiais conferem a elas capacidade de resoluo de
problemas de soluo complexa na forma tradicional. o caso da definio da funo
-
INTRODUO
18
inversa do transformador de corrente sob condies de saturao de seu ncleo.
O capitulo 4 descreve as caractersticas gerais do sistema eltrico analisado e
apresenta informaes sobre a modelagem de seus componentes. A questo da saturao
do ncleo dos transformadores de corrente e de seus efeitos sobre a forma de onda e
valor eficaz da corrente secundria tambm analisada a partir da especificao destes
transformadores.
O captulo 5 apresenta as premissas utilizadas, as ferramentas e metodologia
usadas nas simulaes e, ainda, os resultados dos clculos de corrente de curto-circuito
no ponto de localizao do sistema de proteo de distncia. A partir da especificao
apropriada do transformador de corrente, a saturao dos TCs no estudo induzida pela
insero de resistncia de carga adicional, acima de seu valor nominal.
Os casos iniciais de simulao de curto-circuito executados so descritos e as
dificuldades encontradas para a proteo de distncia do sistema de transmisso frente
saturao dos TCs so apresentadas. Em seguida, resultados posteriores de simulao
so discutidos e analisados, fornecendo subsidio para a definio da arquitetura da rede
neural artificial e seu treinamento. Definida e treinada a rede, simulaes so realizadas
para verificao da viabilidade da correo da saturao e seus efeitos finais.
O captulo 6 apresenta as concluses finais e enumera sugestes de temas para
trabalhos de pesquisa futuros.
Finalmente, as referncias bibliogrficas utilizadas no trabalho so apresentadas.
-
O SISTEMA DE PROTEO DE DISTNCIA
19
2 O SISTEMA DE PROTEO DE DISTNCIA
Neste captulo so apresentados alguns fundamentos e conceitos de carter geral
associados s aplicaes dos sistemas de proteo de distncia e algumas informaes
de interesse sobre a especificao, faixa de utilizao e comportamento dos transforma-
dores de corrente responsveis pelas transdues de corrente nestas aplicaes. Tambm
so ressaltadas algumas caractersticas bsicas do filtro anti-aliasing e dos filtros digitais
empregados no presente trabalho.
A energia eltrica pode ser transportada a longas distncias sem grandes perdas
quando a tenso de transmisso aumentada a nveis que hoje alcanam 1000 kV [07].
A capacidade de transmisso de uma linha de transmisso trifsica de alta tenso AT ou
extra-alta tenso EAT pode ser expressa por seu limite trmico de operao contnua e
que normalmente excede um pouco sua potncia natural ou potncia de surto. A
potncia natural pode ser expressa pela seguinte equao:
0
2
ZEP = (1)
onde:
P: potncia natural de surto;
E: tenso eficaz fase-fase;
Z0: impedncia de surto da linha, em torno de 150 a 250 ohms;
A potncia natural de surto representa o nvel de potncia eltrica transmitida
pela linha de AT ou EAT para a qual seus requisitos de potncia reativa so produzidos
pelas prprias capacitncias inerentes linha sem compensao srie ou em derivao.
Os requisitos de potncia reativa para permitir a transferncia de potncia entre os
nveis de potncia natural e de limite trmino e, ainda, para a operao dos reatores de
sua compensao em derivao so, normalmente, supridos pelo sistema eltrico nos
pontos de sua interligao com a linha referida.
Dentre os componentes de um sistema eltrico de potncia, a linha de
-
O SISTEMA DE PROTEO DE DISTNCIA
20
transmisso indicada na Figura 01 o elemento mais susceptvel a faltas. Ela fica
exposta a riscos tais como intempries, descargas atmosfricas e outros. A prtica
demonstra que entre 70 a 80% das faltas nas linhas de transmisso ocorre entre o
condutor de uma das fases e a terra. Um menor nmero de faltas refere-se quelas que
envolvem as trs fases, em torno de 5% [03].
Os rels de sobrecorrente so normalmente inadequados para aplicao
proteo de linhas de alta tenso e extra-alta tenso, dada sua velocidade de operao
relativamente baixa e s dificuldades de coordenao e seletividade. As limitaes
associadas a estas caractersticas conduziram ao desenvolvimento dos rels de distncia.
As funes bsicas dos rels de distncia so a de medio da impedncia e a de
comparao com o valor de referncia, ou pick-up, criando uma zona ou caracterstica
de operao no plano R-X definida pela linha limiar de operao. Quando a impedncia
vista pelo rel se localiza dentro desta caracterstica de operao, como deve ocorrer em
caso de condio de falta em qualquer ponto da zona de proteo da linha, o rel tomar
as decises necessrias, entre elas a abertura do disjuntor [07].
A impedncia vista pelo rel em condies normais de operao normalmente
muito superior impedncia de referncia delimitada pela caracterstica de operao do
rel de proteo. Entretanto, para uma falta ao longo da linha, a impedncia vista pelo
rel excursiona rapidamente entre a situao de operao normal e a condio de falta
dentro da caracterstica de operao do rel, levando-o a atuar, como pode ser
observado na Figura 02.
Ao contrrio do rel de sobrecorrente que possui uma nica entrada, o rel de
distncia possui, normalmente, duas entradas, uma polarizada por tenso e a outra
polarizada pela corrente no ponto de localizao da proteo. Considerando, portanto, a
relao linear entre estas duas grandezas monitoradas pela proteo a partir das sadas
de seus transformadores de potencial e de corrente alimentadores do sistema de
proteo, a possibilidade de operao do rel de distncia no depende diretamente dos
valores de tenso e corrente, mas somente da diviso entre as amplitudes destas duas
grandezas. O valor obtido deve representar a impedncia de seqncia positiva do
trecho da linha de transmisso envolvido no loop (malha) de falta.
As condies que definem o limiar de operao do rel podem ser visualizadas
por meio do diagrama R-X, no qual a impedncia vista pelo rel de proteo indicada
-
O SISTEMA DE PROTEO DE DISTNCIA
21
no plano complexo. A parte real desta impedncia representa a resistncia do loop de
falta enquanto a parte imaginria indica a reatncia vista pelo rel de proteo. Uma das
dificuldades para a correta discriminao do posicionamento da falta pelo sistema de
proteo que a malha de falta pode incluir a resistncia de arco.
Nos itens seguintes apresentaremos os trs principais tipos de proteo de
distncia e que se diferenciam, basicamente, pelas caractersticas de seus sinais de
polarizao. As Figuras 01 e 02, abaixo, indicam uma representao simplificada do
sistema de transmisso e da localizao da falta ao longo de sua extenso e uma
visualizao das impedncias envolvidas no plano R X.
21
TC
TPFalta
ZCImpedncia
de Carga
ZFImpedncia do relat o ponto de falta
ZLImpedncia da
Linha
Figura 01 Sistema de transmisso e representao de falta na linha.
X
R
Zcarga
ZL
RFZF Condio de
Falta
Condio normalde operao
Figura 02 Diagrama R-X e representao da excurso da falta.
-
O SISTEMA DE PROTEO DE DISTNCIA
22
2.1 REL DE IMPEDNCIA
O rel de impedncia mede continuamente a corrente e a tenso do loop de falta,
monitorando a impedncia vista pelo rel. A corrente de polarizao pode ser vista
como a grandeza de operao enquanto o sinal de tenso a grandeza de restrio
operao. Durante condies de curto circuito, aumenta a probabilidade de operao em
razo da reduo da impedncia do loop de falta que acompanha a reduo da tenso e o
aumento das correntes de curto associados aos sinais de polarizao do rel. Este atua
acionado por correntes de maior amplitude e sua operao fica menos restrita em razo
dos menores nveis do sinal de polarizao por tenso. No caso do rel convencional
eletromagntico, este opera quando a fora de operao excede a fora de restrio. Na
estrutura de balano eletromagntica associada ao rel de viga balanceada, as foras de
operao e restrio so proporcionais ao quadrado do fluxos magnticos (2) produzidos por suas bobinas de tenso e de corrente, de forma que:
2IKF operaooperao = (2)
2VKF restriorestrio = (3)
Portanto, o rel comandar a atuao da bobina de operao do disjuntor se:
22 VKIK restriooperao (4)
Krestrio e Koperao so constantes. A impedncia vista pelo rel ser dada por:
restrio
operao
KK
ZIV = 22
2
(5)
o que resulta em operao do rel se:
restrio
operao
KK
Z (6)
A quantidade direita do sinal de desigualdade pode ser interpretada como o
-
O SISTEMA DE PROTEO DE DISTNCIA
23
raio do crculo caracterstico de operao do rel de impedncia. Portanto, a operao da
proteo ocorrer quando a impedncia vista por este rel se situar dentro do crculo
com centro na origem do diagrama R-X. Observe que :
( )
==IVZR ReRe (7)
( )
==IVZX ImIm (8)
Considere a falta direta na linha, onde Z a impedncia de linha do rel at o ponto de falta. Podemos escrever, ento:
ZIV = (9)
Correlacionando com as tenses e corrente no primrio dos transdutores de
tenso e corrente, teremos ento a impedncia de linha envolvida com a falta:
===RTCRTPZZ
RTCIRTPV
IV
LL
L (10)
Para anlise da proteo de distncia utilizado o diagrama R-X, em que a
impedncia de falta superposta s caractersticas de operao e bloqueio do rel. O
crculo define o limiar de operao / bloqueio do rel, conforme pode ser observado na
Figura 03. A impedncia ZS vista do ponto de localizao da proteo , portanto,
independente da impedncia da fonte, ao contrrio do que ocorre com o rel de
sobrecorrente.
Como a atuao do rel de impedncia apresenta caractersticas no direcionais e
desejada a operao para curtos apenas na direo avante e a no operao da proteo
para curtos reversos, a operao da proteo deste rel deve ser supervisionada pela
atuao de um rel direcional. O objetivo , portanto, restringir a rea de atuao do rel
de distncia supervisionado pelo rel direcional apenas para curtos na direo avante.
Isto ilustrado na Figura 03, na qual a rea sombreada representa a rea efetiva de
operao deste rel, agora com caracterstica direcional de operao.
-
O SISTEMA DE PROTEO DE DISTNCIA
24
Figura 03 Caractersticas direcional de operao do rel de impedncia.
A unidade direcional (rel 67) possui a seguinte funo de restrio/operao:
= ^,sen IIIIKConjugado vv (11)
O rel direcional eletromecnico pode ser considerado como sendo um
dispositivo wattimtrico, no qual o mximo conjugado ocorre quando o ngulo entre os
fasores corrente Iv de sua bobina de tenso e corrente I em sua bobina de corrente de
90. J os conjugados nulos que definem as condies de transio para a faixa de no
operao ocorrem quando o ngulo entre estes fasores de 0 ou 180. Uma defasagem
entre os sinais de corrente I e Iv pode ser inserida de modo a possibilitar o controle do
ngulo de mximo conjugado. Esta providncia pode ser adotada em conjunto com a
escolha de tenso de polarizao adequada associada a ligaes alternativas de 30, 60
ou 90. Para evitar rotao contnua do rotor na direo de conjugado positivo e
operao, o dispositivo equipado com uma mola de restrio. Um pequeno batente
impede a rotao na direo de no operao.
O rel de impedncia pode ser projetado para comando de operao de outros
contatos quando a impedncia vista pela proteo durante o defeito cruza com outros
crculos caractersticos centrados tambm na origem do plano complexo (zonas de
-
O SISTEMA DE PROTEO DE DISTNCIA
25
proteo secundria e terciria). Os limites destas zonas de proteo normalmente
alcanam para alm do terminal remoto da linha de transmisso. Geralmente so
utilizadas trs zonas de proteo, sendo a primeira instantnea e a segunda e terceira
temporizadas. Geralmente a primeira zona de proteo do rel cobre 80 a 90% da linha
(proteo primria), enquanto a segunda e terceira zonas cobrem, respectivamente, 20 a
50% e 100% da linha vizinha mais curta, como pode ser observado na Figura 04.
A
t
Z1, t1
Z2, t2
Z3, t3
B CZL1 ZL2
0,2 a 0,5 ZL2
0,8 a 0,9 ZL1
Figura 04 Caractersticas de temporizao e alcance das zonas de um rel de distncia.
2.2 REL DE REATNCIA
O rel de reatncia um rel atuado por corrente com restrio direcional de
tenso e modelo definido pelas expresso (12) indicada a seguir:
( ) 3221 cos KIVKIKConjugado = (12)
( ) teconsKK
IV tancos
2
1 == (13)
A expresso (13) representa a equao da caracterstica limite de operao,
obtida fixando-se conjugado nulo em (12) e desprezando a pequena amplitude da
constante 3K . representa o ngulo de avano do fasor corrente de polarizao I em relao ao fasor tenso de polarizao V e indica o ngulo na situao de mximo conjugado. 3K representa o efeito bastante pequeno de uma mola de restrio ao
movimento e cuja funo permitir o pronto restabelecimento do rel para nova
operao aps a anulao da corrente I que ocorre no seguimento atuao do
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O SISTEMA DE PROTEO DE DISTNCIA
26
mecanismo de desligamento do disjuntor acionado pelo rel referido.
Fazendo = 90 na expresso (13), temos:
tecIV = )90cos( (14)
tecIV = )sen( (15)
2
1)sen(KKcXZ te === (16)
A Figura 05, a seguir, apresenta a caracterstica limiar de operao do rel de
reatncia.
Bloqueio
Operao
X
R
2
1
KK
= 90
Figura 05 Caracterstica de operao do rele de reatncia no plano R X.
Pelo fato de se tratar de um rel de caractersticas abertas, este se torna
inconveniente quando no supervisionado por um outro rel com caracterstica fechada
no plano R-X. Se isto ocorrer, o rel ir operar para qualquer condio de carga com
fator de potncia avanado e mesmo para condies de carga puramente resistivas e
indutivas aqum de um determinado grau. A grande vantagem deste rel reside no fato
de que ele insensvel ao efeito das resistncias de arco voltaico. Neste aspecto, a
utilizao deste rel se torna interessante nas aplicaes de proteo de linhas curtas nas
quais a resistncia de arco tem grande influncia no valor da impedncia total da linha
-
O SISTEMA DE PROTEO DE DISTNCIA
27
2.3 REL MHO OU REL DE ADMITNCIA
O rel Mho, ou rel de admitncia atuado por unidade direcional e restrito por
tenso. A caracterstica de operao e bloqueio dada pela expresso a seguir:
( ) 3221 cos KVKIVKConjugado = (17)Fazendo K3=0, temos:
( ) 3221 cos KVKIVKConjugado = (18)
( ) 221 cos VKIVK = (19)
( ) == cos2
1
KK
IVZ (20)
A caracterstica limiar de operao do rel mho, dada pela expresso (20), pode
ser observada na Figura 06, a seguir. 21 / KK representa o comprimento do dimetro do
crculo limite.
X
R
Operao Normal
Falta
2
1
KK
BloqueioBloqueio
OperaoOperao
Figura 6 Caractersticas de operao bloqueio do rele de admitncia.
Inicialmente o rel calcula, a partir dos sinais de tenso e corrente, a impedncia
de falta Z e o ngulo de fase associado. O dimetro 1 / 2 e o ngulo de inclinao so definidos no comissionamento e nas revises de ajuste.
-
O SISTEMA DE PROTEO DE DISTNCIA
28
O rel de admitncia, por ser inerentemente direcional e apresentar uma
caracterstica de operao no plano R-X mais restrita s vizinhanas do lugar
geomtrico da impedncia da linha a ser protegida, apresenta imunidade um pouco
maior s oscilaes de potncia e pode apresentar melhor acomodao ao efeito do arco
voltaico, especialmente quando considerando aplicaes de proteo a linhas longas.
Pode-se, ainda, considerar uma inclinao adicional do crculo caracterstico, alm
daquela associada inclinao da impedncia da linha de transmisso. O rel mho
continua sendo muito utilizado em linhas longas, sobretudo para detectar curto-circuitos
de fase. Ultimamente, porm, tem cedido lugar para os rels numricos com
caractersticas multifuncionais quadrilaterais.
Faltas muito prximas ao rel, de 0 a 4% da linha de transmisso, podem causar
m operao. Este inconveniente pode ser solucionado nos rels eletromecnicos,
parcial ou integralmente, pela especificao de um circuito ressonante com capacitor
que memoriza a tenso pr-falta. Para os rels numricos, pode-se ainda recorrer ao
efeito de um filtro ressonante a 60 Hz, posicionado ao final do processamento analgico
do canal de sinal de corrente do rel.
2.4 PROBLEMAS ASSOCIADOS PROTEO DE DISTNCIA
A seguir so listados alguns dos principais problemas relacionados utilizao
da proteo de distncia, dentre eles a da saturao do transformador de corrente.
2.4.1. RESISTNCIA DE ARCO VOLTAICO
As componentes de resistncia de falta, dentre as quais se incluem a resistncia
de arco voltaico, a resistncia de p de torre e as resistncias de contato do condutor
com a terra se tornam especialmente importantes para linhas curtas que apresentam
impedncia indutiva longitudinal normalmente baixa. De alguma forma, o engenheiro
de proteo dever prever o aparecimento de arco voltaico e fazer com que o rel
trabalhe corretamente mesmo diante de sua presena.
As caractersticas dos rels de reatncia so praticamente indiferentes ao
-
O SISTEMA DE PROTEO DE DISTNCIA
29
aparecimento do arco voltaico enquanto que a extenso de alcance resistivo dos reles
quadrilaterais deve ser convenientemente especificada. Um valor aproximado para o
calculo da resistncia de arco pode ser dada por:
4,028708
IlRarco
= (21)
onde:
Rarco: resistncia de arco []; l: comprimento de arco [m];
I: corrente de falta [A];
Caso exista vento na regio da falta, o alongamento de seu comprimento pode
ser considerado por:
tvel += 3 (22)
onde:
e: espaamento inicial [m];
v: velocidade do vento [m/s];
t: tempo de operao do rel [s];
H ainda a se considerar, portanto, os efeitos de variao na resistncia total
associados s correntes de retorno por cabo pra-raio, torre e resistncia de solo.
A representao da resistncia total referida feita, normalmente, atravs de
equivalente com elemento de valor FR3 em srie com o circuito de seqncia zero,
como visto do ponto de falta. Isto vlido para os curtos fase-terra e fase-fase-terra. Em
caso de curto fase-fase, entretanto, metade da resistncia de falta pode ser alocada em
srie com cada uma das impedncias de fase das fases envolvidas.
-
O SISTEMA DE PROTEO DE DISTNCIA
30
2.4.2. COMPENSAO SRIE.
A compensao srie tem por finalidade aumentar a disponibilidade da linha
para transmisso efetiva de energia na situao de regime permanente e permitir
desempenho dinmico adequado durante as oscilaes dinmicas de potncia. Durante
faltas severas, entretanto, a compensao srie perde sua finalidade, integral ou
parcialmente, em razo da ao da proteo de sobretenso com pra-raios de xido de
zinco que, atuando, retiram de servio a compensao srie, atravs de bypass dos
capacitores. Fora de operao, os capacitores anulam sua ao de reduo da
impedncia do sistema de transmisso, mas permitem que a proteo de distncia tenha
menores dificuldades para o reconhecimento do posicionamento das faltas que ocorram
aps a compensao.
A Figura 07 mostra a representao do sistema com compensao srie,
enquanto a Figura 08 apresenta a evoluo da impedncia de falta como resultado da
ao do pra-raio de xido de zinco (MOV) utilizado para proteo do banco de
capacitores srie. 1FZ e 2FZ representam as impedncias aparentes associadas ao efeito
das resistncias de arco 1FR e 2FR , respectivamente para curtos no ponto F1 e F2.
21
TC
TPFalta
ZcImpedncia
de CargaMOV
Figura 07 Sistema Eltrico com Compensao srie.
2.4.3. SATURAO DOS TRANSFORMADORES DE CORRENTE.
A ocorrncia de saturao do transformador de corrente resulta na reduo do
valor eficaz do sinal de entrada do canal de corrente do sistema de proteo, podendo
conduzir a um efeito de aumento da impedncia vista por um rel de distncia e a uma
condio de sobrealcance. Normalmente, a condio de saturao resulta ainda na
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O SISTEMA DE PROTEO DE DISTNCIA
31
presena de componente CC em sua corrente secundria e nos sinais de entrada e sada
do filtro anti-aliasing. Estes efeitos criam dificuldades para atuao correta do sistema
de proteo.
R
X
F1
F2
A
B
ZF2
ZF1
efeito daoperao do
MOV
Figura 08 Efeito da compensao srie no diagrama R-X.
2.4.4. FALTAS DE ALTA IMPEDNCIA
Quando um cabo de fase se rompe e cai sobre o solo de alta resistncia eltrica
(asfalto, brita, concreto), o rel de distncia tem severas dificuldades para interpretar
esta anomalia como sendo uma falta. Relativamente proteo de distncia, o aumento
excessivo na resistncia de arco pode levar a impedncia vista para uma regio alm
daquela associada operao em regime normal permanente. Desta forma, a falta no
ser vista pelo sistema de proteo como deveria, ou seja, como uma condio de curto-
circuito. Atualmente existem vrios estudos de rels que trabalham com filosofias
diferentes para soluo deste problema.
2.4.5. OSCILAO DE POTNCIA
Algumas contingncias de maior severidade podem resultar em oscilaes de
potncia de grande amplitude, este efeito ficando aparente quando linhas longas de
transmisso interligam os sistemas emissor e receptor. O vetor impedncia excursiona
no plano R-X, podendo alcanar a regio de operao de um rel de distncia. Essa
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O SISTEMA DE PROTEO DE DISTNCIA
32
excurso to mais lenta quanto maiores forem as capacidades instaladas e inrcias dos
sistemas interligados e sua ocorrncia pode resultar em operao indevida dos sistemas
de proteo de distncia instalados nos terminais do sistema eltrico de interligao.
A operao indevida pode ser evitada quando o sistema de proteo de distncia
supervisionado por meio de um rel com caracterstica de bloqueio por oscilao de
potncia o qual monitora os tempos de penetrao da impedncia vista pelo rel no
plano R-X. Os tempos so monitorados de forma que uma ao temporizada fixada
para permitir a distino entre uma condio de oscilao de potncia e uma condio
de falta por curto circuito. Neste ltimo caso, o movimento do ponto de operao do
sistema para dentro da curva limite de operao se faz de forma praticamente
instantnea.
2.5 TRANSFORMADOR DE CORRENTE
O transformador de corrente - TC um transformador destinado a reproduzir,
em escala reduzida, a corrente primria em seu circuito secundrio, mantendo sua
posio fasorial. As principais finalidades do TC podem ser listadas abaixo [08]:
isolar os equipamento de medio, controle e proteo do circuito de alta tenso;
fornecer ao secundrio uma corrente proporcional, em escala reduzida, corrente do primrio e em nveis seguros; e
em escalas padronizadas. No Brasil a corrente nominal padronizada do secundrio de 5 A;
Para que o TC tenha queda de tenso e consumo de energia desprezveis, sua
bobina primria deve ter pequena resistncia e reatncia, sendo constituda, assim, por
fio de bitola maior e com poucas espiras. Os instrumentos ligados ao enrolamento
secundrio de um TC devem estar todos em srie.
-
O SISTEMA DE PROTEO DE DISTNCIA
33
2.5.1 RELAO DE TRANSFORMAO DO TC
Considere o circuito magntico do TC apresentado na Figura 09:
PN SN
PI
SI
BurdenZ
Figura 09 Circuito magntico do TC
Aplicando a lei de Hopkinson:
.= SP FF (23)
pPP iNF .= (24)
SSS iNF .= (25)
onde:
PF : Fora magnetomotriz produzida pela bobina primria do TC;
SF : Fora magnetomotriz produzida pela bobina secundria do TC;
: Relutncia do circuito magntico do ncleo do TC; : Fluxo magntico do ncleo do TC;
PN : Nmero de espiras do primrio;
SN : Nmero de espiras do secundrio;
Desenvolvendo a equao temos:
-
O SISTEMA DE PROTEO DE DISTNCIA
34
... = SSPP iNiN (26)
A relutncia magntica vale zero quando se supe um transformador ideal, o que
conduz a:
P
P
SS i
NN
i .1= (27)
Ento, definimos a relao de transformao do TC como:
P
S
NNRTC = (28)
Pela norma P-EB-251 da ABNT, as correntes primrias do TC so de: 5, 10, 15,
20, 25, 30, 40, 50, 60, 75, 100, 125, 150, 200, 250, 300, 400, 500, 600, 800, 1000,
1200,1500, 2000, 3000, 4000, 5000, 6000, 8000 A. Os valores sublinhados representam
os valores utilizados pela ASA (American Standard Association).
2.5.2 O FATOR DE SOBRECORRENTE DO TC
O fator de sobrecorrente (FS) de um transformador de corrente definido pela
relao entre a corrente mxima de curto-circuito que pode percorrer seu enrolamento
primrio e a sua corrente primria nominal. Isto deve ocorrer com a correspondente
limitao de erro de sua classe de preciso. Os erros admissveis na operao dos TCs
utilizados nas aplicaes de proteo so de 2,5% e 10%, sendo o ltimo valor
normalmente selecionado [08].
Os valores normatizados de FS so:
ASA: FS = 20; ABNT: FS = 5, 10, 15, 20;
-
O SISTEMA DE PROTEO DE DISTNCIA
35
2.5.3 CLASSE DE EXATIDO DO TC
As normas ASA e ABNT definem a classe de exatido e limites de operao do
TC de formas diferentes. A ASA define o erro do TC atravs da limitao da mxima
tenso da bobina secundria do TC no instante de curto circuito. Esta depender da
magnitude da corrente secundria e de carga do TC.
A ABNT define a mxima potncia aparente (VA) de carga que se pode
conectar, em regime permanente, ao secundrio do TC, e de forma que, durante o
mximo curto circuito limitado pelo fator de sobrecarga, o seu erro no ultrapasse o da
sua classe de exatido.
2.5.4 SATURAO DO TRANSFORMADOR DE CORRENTE
Os TCs devem ser projetados para tolerar valores de corrente superiores as
correntes em regime, oriundos de condies anormais de operao do sistema. Assim,
estes so concebidos para suportar correntes de falta e outros surtos por poucos
segundos.
Quando as faltas ocorrem com correntes alm dos nveis esperados, estas
correntes podem conter parcela substancial de componente contnua, concomitante-
mente com a presena de fluxo remanescente no ncleo do TC. Todos esses fatores
podem levar saturao pronunciada do ncleo do transformador de corrente e produzir
significante distoro na forma de onda secundria de corrente do dispositivo.
Ao longo do processamento de sinal do canal de corrente do sistema de
proteo, a corrente secundria do TC aplicada a um filtro de Butterworth de segunda
ordem com o objetivo de eliminao de suas componentes de alta freqncia, como
veremos adiante.
A Figura 10 apresenta a modelagem dos transformadores de corrente
considerados em cada fase e em cada canal analgico dos sinais de corrente obtidos. O
enrolamento primrio do transformador de corrente percorrido normalmente pela
corrente de linha do sistema eltrico, com queda de tenso desprezvel, de modo que a
resistncia e a reatncia de disperso de seu enrolamento primrio podem ser
desconsideradas. A corrente primria pode, portanto, ser considerada como indepen-
-
O SISTEMA DE PROTEO DE DISTNCIA
36
dente do desempenho do TC e injetada no circuito paralelo de sua impedncia de
magnetizao com a carga aplicada ao seu enrolamento secundrio, como est indicado
na Figura 10.
RTCi
i pp =Rs Ls
Rad
RB
eps iii =
pi
Vin
ie
Rm Lm
Figura 10 Representao do transformador de corrente (TC).
Os transformadores de corrente devem ser especificados para suportar as corren-
tes de operao permanente em regime de longa durao e as correntes mximas que
ocorrem nas condies transitrias resultantes dos curto-circuitos em regime de curta
durao. Para que a corrente primria referida ao secundrio ip/RTC seja fidedigna
corrente secundria is o TC deve operar com corrente de excitao ie reduzida, como se
conclui observando a expresso (29):
SeP
P iiRTCii +==' (29)
Nesta expresso, ip a corrente do enrolamento primrio ip referida ao
secundrio e RTC representa a relao de transformao do TC. A corrente de excitao
ie na Figura 10 pode ser decomposta em sua componente de perdas iR e em sua compo-
nente de magnetizao im. No modelo da Figura 10, o parmetro Rm considerado cons-
tante. A mesma considerao no pode ser feita para a indutncia de magnetizao do
transformador de corrente Lm e que deve ser especificada como funo da corrente de
excitao.
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O SISTEMA DE PROTEO DE DISTNCIA
37
Curva de saturao do Transformador de Corrente
-2
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
-0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0 0,1 0,2 0,3 0,4
Im(pu)
m (pu)
Knee Point
Figura 11 Curva de saturao do ncleo magntico.
Na curva apresentada na Figura 11, podemos observar que, entre certos limites,
o ncleo magntico se comporta dentro de uma faixa linear, estando esta faixa
delimitada pelo Knee Point. Quando o transformador de corrente opera fora desta
regio linear, observamos o efeito da saturao representado no modelo por uma brusca
reduo da indutncia de magnetizao Lm..
Alm da resistncia de perdas magnticas Rm e da reatncia de magnetizao Lm,
no circuito equivalente do TC da Figura 10 so indicadas a resistncia Rs e a indutncia
Ls de disperso do enrolamento secundrio e a resistncia de carga. A resistncia de
carga aparece decomposta nas componentes resistncia de burden Rb e resistncia
adicional de carga Rad, esta ltima representando as resistncias das conexes e cabos.
A indutncia indicada no secundrio naturalmente deve incluir as indutncias dos cabos
e conexes.
A resistncia do burden Rb produz uma tenso vin = RB.is proporcional corrente
do enrolamento secundrio is do transformador de corrente. Com o sinal de tenso vin
possvel o expurgo de componentes de alta freqncia por um filtro analgico passa-
baixa e posterior processamento digital. No presente trabalho, um filtro de segunda
ordem de Butterworth foi escolhido tanto para os canais de corrente quanto para os
canais de tenso, conforme apresentado adiante.
Na prtica, os TCs esto instalados na subestao enquanto que os equipamen-
to