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Correio do Minho .pt Publicidade Publicidade MAIS DE 20 % 20 % 0 % MAIS DE Unid. 99 , 0 Publicidade SÁBADO 12 JANEIRO 2019 | Director PAULO MONTEIRO | Ano LXXX Série VI N.º 10966 DIÁRIO € 0.90 IVA Inc.

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ENTREVISTA NUNO REISPROVEDOR DA SANTA CASA DE BARCELOS

PRIORIDADE ÉREQUALIFICARRESPOSTAS À TERCEIRA IDADEPágs. 2 a 5

SETE MUNICÍPIOS DO ALTO MINHO LIGADOS NUMA PARCERIA QUE VAI CAPTAR QUALIDADE E INVESTIMENTO

ÁGUA DO FUTUROPágs. 14 e 15

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CASOS DO DIA Dois detidos por tráfico

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Pág. 17

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2 12 de Janeiro 2019 correiodominho.pt

Nuno ReisEntrevista

| José Paulo Silva/Rui Alberto Sequeira |

P – A Santa Casa da Misericórdia deBarcelos (SCMB) tem tido vários pro-vedores nos últimos anos. É um sinalpositivo de renovação ou cria algumainstabilidade?R – Pode ser lido de duas formas. É im-portante as instituições renovarem-se,mas a estabilidade é fundamental paraque os projectos cheguem a bom porto. Éda vida que não é fácil haver substituiçõesde lideranças fortes e transições pacíficas.A SCMB teve, no final do século passadoe no início deste, uma liderança forte euma provedoria que esteve mais de trêsdécadas à frente da instituição. Não foifácil a transição para as equipas seguin-tes. Espero que, a partir deste momento,haja condições para uma maior estabili-dade.

P - Essa instabilidade tem a ver com oquê? Na SCMB joga-se alguma corre-lação das forças políticas?R - Penso que não. Olhando para outrasMisericórdias da região, olhando paraBernardo Reis, provedor da Misericórdiade Braga, para Bento Morais, provedor daMisericórdia de Vila Verde, identificamoslíderes com muita capacidade.Quandoexistem líderes fortes, existem tambémequipas que os acompanham e condiçõespara levar avante os projectos. Em Barce-los, estamos a falar de uma instituiçãoque tem a seu cargo 400 colaboradores,

250 utentes idosos em lar, que presta maisde 700 tratamentos por dia na área da fi-sioterapia, que tem 55 doentes em cuida-dos continuados e que assegura assistên-cia a 430 crianças. Estamos a falar deuma instituição relativamente grande.Aquilo que é a natureza solidária da insti-tuição tem levado a que as provedorias,assumindo um carácter voluntário, porvezes não tenham a noção do que é a ges-tão de uma organização com uma matrizcristã muito forte.

P - Harmonizar aquilo que são as obrasda Misericórdia com uma gestão maispragmática?R - E mais presente. Por um lado, a pro-cura de lideranças mais fortes e de equi-pas mais estáveis. Por outro lado, a neces-sidade de as pessoas terem a consciênciaque o voluntariado tem de ser profissionale mais presente, obviamente sem remune-ração. A SCMB não é já uma pequena or-ganização e exige alguma atenção e cui-dado.

P - A falta de lideranças fortes naSCMB de alguma forma limitou o cres-cimento natural da instituição?R - Eu não quero que esta minha afirma-ção seja entendida como pejorativa ou co-mo crítica negativa a quem quer que seja.

P - Mas a falta de continuidade de man-datos pode ter prejudicado alguns pro-jectos?R - Parece-me claro que, quando olhamospara as Misericórdias de Vila Verde, Pó-voa de Lanhoso ou Braga, cada uma comas suas especificidades e apostas estraté-gicas, é evidente que a estabilidade asajudou a que tenham, hoje, um papel mui-to importante. Parece-me evidente que aSCMB continua a ter um papel importan-tíssimo na área em que está inserida, mastem condições para fazer um pouco maise dar resposta às obras de misericórdia noséculo XXI. A resposta é: com estabilida-de e com planeamento a longo prazo, aSCMB pode fazer mais.

P - Numa entrevista a uma rádio de

Barcelos, defendeu a necessidade de aSCMB pautar a sua acção pela discri-ção e maior recato. Isso é o reconheci-mento de que alguma polémica e politi-zação podem prejudicar o trabalho dainstituição?R - É o recohecimento de que o mais im-portante na SCMB não é a mesa adminis-trativa, o maior importante é responder àsnecessidades que existem. Se há mais decinco séculos, a rainha D. Leonor e o seupadre confessor deram origem à Irmanda-de da Misericórdia, não foi para teremprotagonismo ou para terem mais prepon-derância na sociedade, foi para dar res-posta aos mais desfavorecidos da socie-dade. Objectivamente, a acção quedevemos ter deve ser discreta e silencio-sa, concentrando o foco no que é essen-cial: a assistência ao idoso, ao doente e àcriança. Temos feito ver aos nossos cola-boradores de que a nossa missão é nobre,que não está ao alcance de qualquer um.-É nos nossos colaboradores que deposita-mos as maiores esperanças de prestar ummelhor serviço à sociedade.

MAIS PERTO DO QUE LONGEDE NOVA CRISE ECONÓMICA

ROSA SANTOS

Nuno Reis foi eleito recentementeprovedor da Santa Casa daMisericórdia de Barcelos. Apostanuma maior estabilidade directiva da instituição e apela ao apoio denovos beneméritos.Em entrevista ao Correio do Minho e Rádio Antena Minho, elege oinvestimento nas respostas à terceiraidade como prioridade do mandato.Promete uma Misericórdia maisatenta às situações de pobrezaencapotada.

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correiodominho.pt 12 de Janeiro 2019 Entrevista 3

Nuno Reis

P – No seu discurso de tomada de pos-se, focou a atenção que tem de ser dadaa uma pobreza escondida ou envergo-nhada. Que tipo de respostas pode dara SCMB a essa realidade?R – A realidade da pobreza envergonha-da é transversal no nosso País. Felizmen-te, na nossa região ainda vamos tendouma cultura de fraternidade e de boa vi-zinhança que vai ajudando a minorar asdificuldades que as pessoas vão tendo,mas a pobreza envergonhada é uma rea-lidade que existe, até entre as pessoasque servem as instituições sociais.

P - Daí a ideia decriar um gabinetede atendimentoaos colaborado-res?R - Eu gostaria queo nosso departa-mento de recursoshumanos ganhasseum âmbito e umaesfera de actuaçãomais alargados, quese transformassenum departamentodas pessoas. Nuncateremos a capacida-de ir ao mercadoconcorrer com empresas privadas nacontratação de pessoal, sob o ponto devista das condições monetárias, mas po-demos criar condições de enquadramen-to para que a SCMB seja uma entidadecom as melhores práticas no apoio aoscolaboradores.

P - Desculpe insistir: que respostas po-de dar a SCMB às situações de pobre-za encapotada?R - Esse é o grande desafio. O icebergtem uma face acima da água e outraabaixo da água. A que está acima daágua, o barco pode visualizá-la à distân-cia e contorná-la. Mais difícil é visuali-zar o que está debaixo da água. A SCMBtem de ter mais recursos capacitados emtermos de intervenção social, tem de vol-tar a reactivar uma presença mais fortena Comissão de Protecção de Crianças eJovens em Risco, tem de voltar a ir parao terreno e não se limitar o que tem feito,e bem, no combate à pobreza. Quandotemos uma rede social genericamenteboa no distrito de Braga, temos organi-

zações que estão a concentrar esforçosno tal iceberg acima da linha de água, es-quecendo que o que está abaixo é tam-bém muito importante. Teremos de sercapazes ser ainda mais comunicativos eabertos à colaboração, com técnicos quepercebam que não podem estar fechadosdentro dos gabinetes, que terão de teruma presença muito mais activa no con-celho. Disse-o de uma forma simbólica,mas isso vai acontecer: o provedor nãoterá gabinete, o seu gabinete fará partedo gabinete de atendimento das pessoas.O provedor não ficará condicionado aosserviços centrais, vai ter de andar por to-

das as unidades. Aacção dos colabora-dores mais ligados àintervenção socialtem de ser voltadapara fora.

P - Como vai refor-çar o quadro de co-laboradores quan-do a generalidadedos provedores dasMisericórdias sequeixam de finan-ciamento público?A menos que aSCMB tenha mui-

tos beneméritos...R - Poderia e deveria ter mais. Temos deter humildade para pedir para fazer faceàs necessidades que temos para a requa-lificação dos nossos lares e de outrasunidades. A SCMB voltará, de uma for-ma humilde e transparente, a dizer queprecisa de todos aqueles que estão dispo-níveis para dar um pouco de si, não ape-nas em termos de trabalho, mas tambémde recursos.

P - Mas é certo que as Misericórdias eoutras IPPS vivem sobretudo do fi-nanciamento público.R - Exemplo disso é a realidade inaltera-da de algum tempo a esta parte: o que épago pelo Estado para algumas tipolo-gias de cuidados continuados. As insti-tuições que asseguram cuidados de lon-ga duração são prejudicadas relativa-mente às que asseguram serviços paraconvalescença. Como podemos reforçarmais a área da intervenção social comcarência de recursos? Gerir é tambémidentificar prioridades e, em função dos

recursos, alocar melhor os que existem.Teremos de reavaliar as necessidades in-ternas de contratação e concentrar esfor-ços na área da intervenção.

P - Sem necessidade de aumentar onúmero de colaboradores?R - Há necessidade de melhorar a distri-buição dos colaboradores. Há também apossibilidade garantir necessidades porentidades externas, não obrigando à con-tratação pura.

P - As perspectivas para 2019 quanto às comparticipações estatais das va-lências sociais não melhoram?R - Devemos pugnar por salários maisdignos e criar condições para que as em-presas e instituições possam pagar me-

lhor. Nos últimos anos, o salário míni-mo nacional foi aumentado, e ainda bem,mas a adimistração central esquece queé preciso criar condições para o cum-prir. Quando olhamos para algumas Miseri-córdias que fizeram algumas apostas,nomeadamente na área da infância emdetrimento de outras áreas como a ter-ceira idade ou a saúde, vemos que estãoa passar por momentos muito complica-dos, com dificuldades em pagar saláriose assegurar a sua sustentabilidade futura.A SCMB, na sua valência de infância,tem um resultado negativo anual de 200mil euros. Tem de gerar noutras áreas al-gum excedente que permita o pagar esseresultado negativo. Daí a importância defazermos planeamentos estratégicos.

Misericórdiatem de voltarpara o terreno

“Temos de melhorar a assistência que prestamos aos nossos idosos,doentes e crianças, mas tambémaos utentes que, previsivelmente,vão precisar da SCMB no futuro.

A instituição tem de repensar a sua acção. Temos de ter uma

intervenção social maior.

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Nuno Reis

P - Há sub-financiamento de certasáreas assistenciais? R - Sem dúvida. É uma realidade do co-nhecimento dos ministérios da Saúde e daSegurança Social, de alguns anos a estaparte. Ainda como deputado na Assem-bleia da República tive oportunidade dealertar os dois ministérios para a necessi-dade de rever o que estava a pagar às ins-tituições sociais, sob de pena de algumasfecharem portas. Temos muitas exigên-cias em termos de recursos humanos es-pecializados na área da Saúde, mas temosmuita dificuldade em fazer perceber aquem manda que às exigências tem decorresponder a transferência de financia-mento.

P - Qual é a realidade na SCMB?R - Apresentaremos em Março as contasde 2018.

P - Mas ainda estão numa situação dealgum equilíbrio financeiro?R - Há quatro anos, tínhamos um desafiomuito grande de sustentabilidade na áreada Saúde, porque a SCMB tinha feitouma aposta nos cuidados continuados.

P - Houve quem dissesse que foi umaaposta demasiado arrojada...R - Foi temerária no que diz respeito àabertura sem estar contratualizado com oEstado metade do funcionamento dessaunidade. Quando a mesa administrativa

anterior tomou posse, essa unidade gera-va um resultado negativo mensal muitosignificativo que poderia colocar em cau-sa a própria instituição. Hoje, isso já nãoacontece. A SMCB fechou o ano de 2017com o EBITDA (n.r.: lucros antes de ju-ros, impostos, depreciação e amortização)positivo e deverá fechar 2018 tambémcom EBITDA positivo, sendo que, tendoem conta a necessidade de obras, isso nãosignifica nada, porque os recursos que po-deremos de vir a mobilizar serão escas-sos. Temos vindo a amortizar e a renego-ciar o empréstimo para a construção daunidade de cuidados continuados

P - Esta é uma área onde pode havercrescimento?R - Os estudos que existem têm apontadocarências de cuidados continuados sobre-tudo na área da Grande Lisboa. O que po-de dizer é que, a nível local, as nossas ta-xas de ocupação têm andado sempre nacasa dos 98 por cento. Dos 55 doentesque temos connosco, 50 são oriundos da-Rede Nacional de Cuidados ContinuadosIntegrados. Cinco camas são geridas deforma privada. Se tivéssemos mais capa-cidade instalada, as novas camas seriamocupadas.

P - Mas a SCMB não projecta aumen-tar a unidade de cuidados continua-dos?R - A nossa prioridade é requalificar as

unidades de apoio a idosos, os lares ondepensamos que devemos ter ainda melho-res condições. Há coisas que não podemser mais adiadas. Numa primeira fase, anossa prioridade é criar condições paraque os 38 idosos que estão a ser assistidosno Lar da Misericórdia possam ser ins-talados, transitoriamente, noutra unida-de para podermos intervir num edifícioantigo, o que vai obrigar a um estudo ar-queológico e a pareceres de entidades ofi-ciais.

P - É um projecto para 2019? Para estemandato?R - Criar condições para poder iniciar asobras é um projecto para este mandato.Vai obrigar a que noutras unidades daSCMB, cuja capacidades não esteja total-mente utilizada, como o Infantário Rai-nha Santa Isabel ou o Centro Social deSilveiros, se procedam a obras que permi-tam alojar provisoriamente esses 38 ido-sos. No futuro, até por força do envelheci-mento da população terão de se criarcondições para ter mais respostas à tercei-ra idade.

P - Sem necessidade de novas constru-ções?R - Precisamente. Olhar para a criação decondições para as obras no Lar da Miseri-córdia como uma intervenção de futuroque permita aumentar as respostas à ter-ceira idade.

Estamos em condições de dar bom usoao HospitalP - O Hospital de Santa Maria Maior épropriedade da SCMB. Está cedido ao Es-tado. Fala-se há muito tempo da constru-ção de um novo Hospital para Barcelos.Como vê o regresso do edifício do actualHospital à Santa Casa?R - Fala-se há tanto tempo do novo Hospital. Oactual é propriedade da SCMB, arrendado porum preço simbólico. Enquanto cidadão barce-lense, gostaria que o concelho pudesse ter umHospital novo.

P - Atendendo ao processo que ocorreuem Braga com a entrega do Hospital deS. Marcos à Santa Casa da Misericórdia, amesa da SCMB projecta alguma coisa pa-ra as instalações do ‘Santa Maria Maior’?R - Temos conhecimento do que se passou emBraga e temos de estar preparados para quenão nos aconteça a mesma coisa, ou seja, queo Estado, de um dia para o outro, transfira oedifício, provavelmente em condições que nãosejam as ideais. Se esse cenário se vier a colo-car, teremos de estar preparados.

P - Neste momento, não equaciona umareutilização futura desse edifício?R - É uma questão que ninguém nos colocou.Provavelmente, não é um cenário que tenha-mos de colocar a curto prazo. Em termos deplaneamento, estamos já a perspectivar aquiloque depende de nós e que vai obrigar a umaactuação imediata. O que não depende denós...

P - Mas prevê que o edifício do ‘SantaMaria Maior’ possa ser reaproveitado pa-ra funções sociais, caso avance o novoHospital, ou antevê outras utilizações?R - Se um dia a questão se vier a colocar e senós estivermos ligados à SCMB, o que garantoé que estaremos preparados para o que essecenário vier a implicar. Também lhe digo que,relativamente às 14 obras de misericórdia, al-gumas podem ser concretizadas aproveitandoedifícios no centro da cidade de Barcelos. Oedifício do Hospital está em continuidade coma sede, dois lares e a igreja. Estaremos prepa-rados para lhe dar um bom uso, percebendo aexperiência, não diria traumática mas negati-va, da Misericórdia de Braga em dar uma solu-ção ao edifício do Hospital de S. Marcos.

Prioridade é requalificarrespostas à terceira idade

4 Entrevista 12 de Janeiro 2019 correiodominho.pt

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P – Falou atrás da necessidade de en-volver mais os barcelenses na vida daSCMB, voltando a um passado em queas Misericórdias viviam sobretudo dosbeneméritos. Faz sentido voltar a essestempos?R – Faz todo o sentido, tendo em contaaquilo que foi o início das Misericórdias eaquilo que são os desafios actuais e aque-les que se prevêem. Em 2007, com o iní-cio da crise económica e financeira, asinstituições de solidariedade social foramuma almofada fundamental para dar res-posta a muitas situações de pobreza reco-nhecida e de pobreza envergonhada. Pen-so que, pelas condições geopolíticas naEuropa e no Mundo, poderemos estarmais perto do que longe de voltar a novacrise económica. Nessa altura, as institui-ções do sector social vão ser ainda maisimportantes do que são hoje. É preparan-do a necessidade de estarmos melhorquando chegar essa altura que temos denos voltar para a sociedade pedindo quenos ajudem a ajudar.

P - E as instituições têm essa estruturanesta altura? Já disse que os apoios doEstado não são os devidos para o traba-lho que estas fazem. Numa perspectivade nova crise, estão preparadas paraaguentar esse impacto?R - Neste momento, fazem o que podemcom os recursos que têm. Devem fazer areflexão interna que eu defendo para aSCMB no sentido de perceber as áreas emque vamos ter mais e melhores respostas.Isso é fazer a nossa parte. Alguém terátambém que fazer a sua parte. Se essa cri-se chegar, nós teremos necessidade de be-neméritos privados mas também da com-preensão da administração centralrelativamente ao papel que desempenha-mos.

P - Este conjunto de problemas fazem aSCMB não investir numa área em queas Misericórdias portuguesas apostamactualmente: a recuperação de patri-mónio? Esta é uma segunda priorida-de?R - As coisas são tão importantes que nãopoderão estar desligadas. Se criarmoscondições para realizar obras no Lar daMisericórdia, que é um imóvel classifica-do, estaremos a preservar o nosso patri-mónio.

P - Mas há formas de tornar esse patri-

mónio mais disponível para a comuni-dade?R - Sem dúvida. Relativamente ao arqui-vo histórico e às obras artísticas da insti-tuição, há necessidade de maior cuidadonas condições de conservação e tambémde disponibilização de parte desse acervopara estudos e consulta. Gostaríamos quea academia visse na SCMB um laborató-rio vivo, o qual possa ajudar a criar co-nhecimento e a destapar a memória decinco séculos. Gostaríamos de ter umaresposta para dar à sociedade minhota emtermos de um núcleo museológico maisaberto. À talhe de foice, entendo que aSCMB pode fazer divulgação cultural. Nanossa cerimónia de juramento, tivemos oCoral de Galegos S. Martinho que é umbom exemplo dos artistas e intérpretesque temos na nossa sociedade e que estãoainda por conhecer.

P - Neste aspecto, SCMB esteve poucovoltada para a sociedade?R - Eu prefiro colocar as coisas mais dolado positivo. No ano 2020, a SCMB

cumprirá os seus 520 anos e cumprirá 500anos desde o momento em que o rei D.Manuel I, percebendo que a SCMB nãoconseguia, sozinha, dar assistência aospobres e doentes que existiam na altura,determinou a fusão do Hospital da Vila deBarcelos, como se chamava na altura,com a Gafaria da Quinta da Ordem. Essepassado, que terá dois momentos impor-tantes em 2020, obriga-nos a ter uma po-sição positiva de participação cultural di-ferente e mais consistente, não apenasconcentrada no mês de Maio em que secomemora o nosso aniversário, mas aolongo do ano. Um bom exemplo disso éque tivemos crianças da Academia deMúsica de Viatodos que, em vésperas deNatal, encheram a Igreja da Misericórdiade Barcelos com músicas natalícias. Tere-mos de abrir as portas da nossa Igreja pa-ra que os bons artistas que existem pos-sam ter um palco para serem conhecidos.Ao mesmo tempo, estaremos também aformar melhores colaboradores, proporci-nar aos nossos irmãos bons espectáculos.É um dever cultural que a SCMB tem.

ROSA SANTOS

Misericórdias foram almofadasocial nos tempos da crise

Entrevista disponível em vídeo Youtube RadioAntenaMinho Braga | Poadcast www.antena-minho.pt Nuno Reis

§Perfil

Fernando Nuno Fernandes Ribeirodos Reis, 40 anos de idade, élicenciado em Medicina Dentária efez mestrado em Gestão Empresarial.Cumpriu dois mandatos comodeputado do PSD na Assembleia daRepública. Afastado da política activahá vários anos, o filho de FernandoReis, ex-presidente da CâmaraMunicipal de Barcelos, dedica-seactualmente à gestão de empresasna área da Saúde. Chega a provedorda Santa Casa da Misericórdia deBarcelos, depois de dois mandatoscomo vice-provedor.

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