CREATINA E BCAA COMO RECURSOS ERGOGENICOS NO TREINAMENTO DE FORÇA

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CREATINA E BCAA COMO RECURSOS ERGOGÊNICOS NO TREINAMENTO DE FORÇA Yee, E. L., Disciplina: Teoria do Treinamento. Faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto. Pontifica Universidade do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS. 2009. 1. INTRODUÇÃO Força é uma das principais valências físicas que oferece suporte a uma ampla gama de esportes, que não necessariamente a utilizam como principal agente precursor na atividade. A força associada às outras valências físicas; flexibilidade, resistência, equilíbrio e coordenação motora, resulta na melhora do desempenho do atleta. Por este motivo, o treinamento de força tornou-se uma ferramenta comumente utilizada por treinadores e educadores físicos em geral, a ser empregado tanto em atletas como praticantes amadores que perseguem os benefícios fisiológicos desta prática assim como também à procura de uma estética ou estereotipo atlético, principal objetivo do segundo grupo. O uso de suplementos nutricionais ou agentes ergogênicos como auxiliares para o ganho de força durante o treinamento não é novidade. A alimentação representa um fator essencial durante qualquer tipo de treinamento e como o ganho de força é proporcional à massa corporal (principalmente á massa magra) do indivíduo, recorre-se a este artifício, para diminuir o tempo de aquisição da almejada massa magra e assim transformá-la em força. Creatina (ácido α-metil guanidino acético) e BCAA (branched chain aminoacids ou aminoácidos de cadeia ramificada), juntos ou em associação com outros suplementos formam, atualmente umas das principais estratégias nutricionais empregadas por atletas e praticantes assíduos de treinamento de força. O uso destes suplementos tem sido largamente estudado e ainda assim, não existem fatores conclusivos favoráveis para o uso seguro e garantido. O tecido muscular contém 95% da creatina, os outros 5% são encontrados no cérebro, coração e testículos. A necessidade diária de creatina é de aproximadamente 2 a 3 g/dia, sendo que 50% deste valor provem da síntese

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CREATINA E BCAA COMO

RECURSOS ERGOGÊNICOS NO TREINAMENTO DE FORÇA

Yee, E. L., Disciplina: Teoria do Treinamento. Faculdade de Educação Física e

Ciências do Desporto. Pontifica Universidade do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,

RS. 2009.

1. INTRODUÇÃO

Força é uma das principais valências físicas que oferece suporte a uma ampla

gama de esportes, que não necessariamente a utilizam como principal agente

precursor na atividade. A força associada às outras valências físicas; flexibilidade,

resistência, equilíbrio e coordenação motora, resulta na melhora do desempenho do

atleta. Por este motivo, o treinamento de força tornou-se uma ferramenta

comumente utilizada por treinadores e educadores físicos em geral, a ser

empregado tanto em atletas como praticantes amadores que perseguem os

benefícios fisiológicos desta prática assim como também à procura de uma estética

ou estereotipo atlético, principal objetivo do segundo grupo.

O uso de suplementos nutricionais ou agentes ergogênicos como auxiliares

para o ganho de força durante o treinamento não é novidade. A alimentação

representa um fator essencial durante qualquer tipo de treinamento e como o ganho

de força é proporcional à massa corporal (principalmente á massa magra) do

indivíduo, recorre-se a este artifício, para diminuir o tempo de aquisição da almejada

massa magra e assim transformá-la em força.

Creatina (ácido α-metil guanidino acético) e BCAA (branched chain

aminoacids ou aminoácidos de cadeia ramificada), juntos ou em associação com

outros suplementos formam, atualmente umas das principais estratégias nutricionais

empregadas por atletas e praticantes assíduos de treinamento de força. O uso

destes suplementos tem sido largamente estudado e ainda assim, não existem

fatores conclusivos favoráveis para o uso seguro e garantido.

O tecido muscular contém 95% da creatina, os outros 5% são encontrados no

cérebro, coração e testículos. A necessidade diária de creatina é de

aproximadamente 2 a 3 g/dia, sendo que 50% deste valor provem da síntese

endógena, principalmente do fígado. Rins e pâncreas também podem sintetizá-la

(RANSONE et. al. 2002). Entretanto, sabe-se que altas doses exógenas são

aproveitadas pelo organismo que continua armazenando o excedente, causando

hipertrofismo do tecido muscular esquelético. Os benefícios perante este aumento

são o conseqüente ganho de força muscular, o aumento da massa corporal e da

massa corporal magra, o aumento da capacidade de esforço e da velocidade de

repetição do esforço, da potência muscular, da performance durante sessões de

esforço com contração muscular máxima, o aumento a carga de treinamento e a

atenuação da fadiga periférica devido ao aumento da disponibilidade de fosfato

creatina que por sua vez aumenta a ressíntese de creatina fosfato reduzindo a

acidose muscular (FONTANA et al. 2003).

A Valina, Leucina e Isoleucina são os aminoácidos de cadeia ramificada

(AACR ou comumente BCAA, pela sua sigla em inglês), e fazem parte dos nove

aminoácidos ditos essenciais, isto é, que não são sintetizados pelo organismo ou

que são sintetizados em quantidades insuficientes e devem ser obtidos pela dieta

(PHILIPPI, 2008). O uso destes aminoácidos como suplemento esportivo deriva da

supressão da dor muscular pós-atividade física, no auxilio durante o metabolismo da

proteína muscular (NEGRO et al, 2008, SHIMOMURA et al., 2003), e da atenuação

do aparecimento da fadiga central (ROSSI e TIRAPEGUI, 1999).

Ambas as substâncias respondem por 11% do consumo de suplementos

nutricionais, segundo levantamento feito em academias da cidade de São Paulo

(HIRSCHBRUCH et al, 2008). O uso de creatina como suplemento esportivo

remonta a 1960, (KREIDER 1999, apud FONTANA et al., 2003), enquanto que a

utilização de BCAA como agente ergogênico nos esportes iniciou em 1980, segundo

Negro et al., (2008). Embora a utilização tenha mais de 30 anos, ainda se

questionam os aspectos favoráveis do emprego, assim como a segurança na

utilização, devido a possíveis efeitos adversos à saúde dos usuários.

O objetivo desta revisão bibliográfica é elucidar a verdadeira significância

sobre o uso da creatina e do BCAA sobre o aspecto da fisiologia esportiva durante o

treinamento de força como ferramenta nos diversos esportes ou por praticantes

amadores garantindo assim o uso seguro destas substancias para o beneficio e

melhor desempenho da atividade.

2. METODOLOGIA

A revisão bibliográfica foi concentrada em algumas revistas de inquestionável

reconhecimento científico tais como:

• American Journal of Physiology

• European Journal of Applied Physiology

• International Journal of Sport Nutrition

• International Journal of Sports Medicine

• Journal of Applied Physiology

• Journal of Nutrition

• Journal of Sports Science and Medicine

• Revista Brasileira de Medicina do Esporte

• Sports Medicine

• Sports Nutrition

Nos idiomas inglês e português, tendo como palavras chaves: creatine,

supplementation, bcaa, ergogenics resources, creatina, recursos ergogênicos.

A principal base de dado utilizada foi a Periódicos Capes, onde eram

selecionadas as revistas de interesse, que por sua vez, abriam as bases de dados

na qual estão indexadas. Estas bases de dados geralmente foram utilizadas foram

ISI, SCI Expanded.

Também foram utilizadas as base de dados PROQUEST e GOOGLE

SCHOLAR mesmo que estes bancos de dados não constem na seleção do

Periódicos Capes.

Os filtros utilizados foram temas nas quais a experimentação foi conduzida

em animais cobaias e experimentos de suplementação para avaliar outros

benefícios que não o treinamento de força. Não foram encontrados sites idôneos

referentes à suplementação destes agentes ergogênicos.

A única revista eletrônica acessada foi www.efdeportes.com.

Só foram analisados artigos completos, independente do ano de publicação e

do local do experimento.

Livros sobre fisiologia do exercício e nutrição também ajudaram a esclarecer

alguns dos mecanismos fisiológicos envolvidos nas reações bioquímicas

apresentadas.

Ao longo da pesquisa, foram encontrados artigos na qual se avaliava a

eficácia de utilização destes ergogênicos com a participação de outros suplementos,

tais como o uso de cafeína e whey protein.

3. DESENVOLVIMENTO

3.1 Aspectos Fisiológicos da Creatina e BCAA

A creatina está diretamente relacionada com a bioenergética celular pela sua

participação direta numa das três vias metabólicas de produção de ATP. A creatina

fosfato (PCr), através da enzima catalizadora creatina quinase, cede o grupo fosfato

para uma molécula de ADP, formando ATP. Entretanto, as células musculares

armazenam pequenas quantidades de creatina fosfato e, portanto, a quantidade total

de ATP que pode ser formada por essa reação é limitada. Este sistema

bioenergético é comumente denominado sistema ATP-CP ou sistema fosfagênio, e é

requerido em exercícios de curta duração e alta-intensidade, com menos de 30

segundos de duração. Durante este período também é requisitado a segunda e

ultima via metabólica anaeróbia, a glicólise ou seja, degradação da glicose ou do

glicogênio muscular. (POWERS e HOWLEY, 2005, RANSONE et. al., 2002). É de

destacar que o sistema ATP-CP, declina três vezes mais rápido que a glicólise

(VOLEK et. al., 1997) e é considerado o sistema energético que fornece a maior

potência (WILLIAMS e BRANCH 1998, apud BIRD 2003).

As necessidades fisiológicas de creatina são aproximadamente 1,6% da

creatina total (TCr) por dia. Em humanos, 95% da TCr é armazenada nos músculos

esqueléticos, geralmente sob a forma de PCr (66%) o restante encontra-se na forma

livre (FCr) estas proporções variam pelo tipo de fibra muscular, idade e possíveis

doenças do individuo. Indivíduos vegetarianos possuem uma concentração menor

de creatina intramuscular. O gênero e o tipo de treinamento não influenciam no teor

de creatina muscular. A creatina é transportada na corrente sangüínea e penetra o

tecido muscular pela membrana plasmática por meio de um transportador sódio-

dependente. O turnover de creatina para creatinina (a forma excretável), é estimada

em 2g para um adulto de 70kg do sexo masculino (RANSONE et. al., 2002), não se

conhece a existência de um limiar para a excreção renal deste metabólito, que

depende da massa muscular do individuo (TORRES-LEAL e MARREIRO, 2008). A

creatina também está envolvida nos processos de tamponamento das reações

energéticas e na regulação da glicólise (PADDON-JONES et. al., 2004). Existem

evidências de que a captação de creatina pelos tecidos pode ser mediada pela

insulina (FONTANA et al., 2003).

Estudos demonstram que a taxa de ressíntese de PCr pós-exercício diminui

em 8% a cada 10 anos, em indivíduos com mais de 30 anos (McKULLY e POSNER,

1992 apud SMITH et. al., 1998), apresentando sintomas como a diminuição do

tamanho do músculo esquelético, do diâmetro da fibra tipo II, da atividade

enzimática mitocondrial, e do sistema fosfagênio, com conseqüente redução da

força e endurance do músculo esquelético. Estes mecanismos vinculados ao

processo de envelhecimento ainda não estão esclarecidos.

A produção endógena de creatina acontece no fígado, pâncreas e rins por

meio dos aminoácidos glicina, arginina e metionina e é equivalente a 1g/dia; somada

à quantidade similar obtida na dieta teremos o valor do turnover antes mencionado

(GUALANO, 2007). Entretanto, doses elevadas de creatina na dieta inibem a

produção endógena, sendo este processo reversível (FONTANA et al., 2003,

BIZZARINI e DE ANGELIS, 2004).

Não há síntese endógena dos aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA),

valina, isoleucina, e leucina, precisando ser consumidos por meio de dieta

balanceada. Estes respondem por aproximadamente 35% dos aminoácidos

essências que precisam ser consumidos para atender as necessidades nutricionais

do corpo humano assim como 14 a 18% do total de aminoácidos da proteína

muscular, lembrando que os músculos constituem aproximadamente 40% da massa

corporal (SHIMOMURA, et. al., 2006).

O consumo excedente de BCAA é imediatamente descartado pelo organismo,

uma vez que produtos intermediários formados durante o catabolismo destes

aminoácidos podem ser tóxicos em altas concentrações (SHIMOMURA, et. al.,

2004).

BCAA também possuem em comum o mesmo sistema transportador, assim

como as mesmas enzimas transaminases e oxidativas de descarboxilação,

indicando que compartilham as mesmas rotas metabólicas (SHIMOMURA, et. al.,

2006).. Enquanto alguns aminoácidos essenciais são catabolizados no fígado, os

BCAA podem ser oxidados diretamente no músculo esquelético (NEGRO et. al.,

2008).

Acredita-se que durante a atividade física, principalmente exercícios de

endurance, os BCAA podem ser convertidos em intermediários metabólicos e são

utilizados como substratos para expandir o ciclo do ácido cítrico (anaplerose) e para

a gluconeogênese (POWERS e HOWLEY, 2005, KOBA et. al., 2007).

A leucina desempenha um papel diferenciado entre os BCAA já que promove

a síntese de proteína muscular e inibe a degradação protéica (SHIMOMURA et. al.,

2004, KOBA et. al., 2007), principalmente por causa dos processos degenerativos

do envelhecimento (FUJITA e VOLPI, 2006).

Estudos sobre fadiga central indicam que a serotonina está intimamente

relacionada com o desenvolvimento da fadiga e conseqüente diminuição do

desempenho em exercícios intensos e prolongados. Sendo o triptofano, o

aminoácido precursor da serotonina, seu influxo no cérebro depende de transporte

específico deste através da barreira hematoencefálica. Este mecanismo de

transportadores é compartilhado com outros cinco aminoácidos, entre eles os BCAA,

tirosina e fenilalanina, sendo regulado por competição e determinado pelas

concentrações relativas dos aminoácidos citados (ROSSI e TIRAPEGUI, 1999,

KOBA et. al., 2007).

3.2 Benefícios da Utilização de Creatina Monohidratada e BCAA

Diversos estudos sobre a utilização de creatina monohidratada, indicam

ganho de força muscular (HASS et. al., 2007), o aumento da massa corporal e da

massa corporal magra (BIRD, 2003, PADDON-JONES et. al., 2004, ECKERSON, et.

al., 2005, FLANAGAN, 2007), o aumento da capacidade de esforço e da velocidade

de repetição do esforço em exercícios de curta duração e de alta intensidade

(POWERS e HOWLEY, 2005), da potência muscular, da performance durante

sessões de esforço com contração muscular máxima (VOLEK, et. al., 1997),

(OKUDAN e GÖKBEL, 2005), o aumento a carga de treinamento e a atenuação da

fadiga periférica devido ao aumento da disponibilidade de fosfato creatina (PCr) que

por sua vez aumenta a ressíntese de creatina fosfato reduzindo a acidose muscular

(FONTANA et al., 2003, SMITH et. al., 1998, McKENNA et. al., 1999).

Os efeitos terapêuticos da suplementação de creatina monohidratada são

comprovados, principalmente na síndrome envolvendo a síntese endógena de

creatina pela deficiência das enzimas L-arginina glycina amidinotransferase (AGAT)

e guanidinoacetato methyltransferase (GAMT). Pacientes com este distúrbio

apresentam concentrações reduzidas de creatina no cérebro que consequentemente

causam retardo mental e atraso no desenvolvimento (DERAVE, et. al., 2004). Outro

efeito comprovado foi o aumento da taxa de ressíntese de PCr em adultos maduros

utilizando suplementação de creatina monohidratada (SMITH et. al., 1998).

O uso de BCAA como suplemento esportivo deriva da supressão da dor

muscular pós-atividade física, no auxilio durante o metabolismo da proteína

muscular (NEGRO et al., 2008, SHIMOMURA et al., 2003), principalmente durante a

degradação protéica (KRAEMER et. al., 1998), e da atenuação do aparecimento da

fadiga central, durante o exercício físico prolongado (COOMBES e McNAUGHTON,

2000). Concentrações maiores de BCAA alterariam a razão TrpL/BCAA, e ainda

supririam a captação e utilização pelos músculos esqueléticos. Resultando em

alterações no desempenho esportivo (SOARES et al., 1994 apud ROSSI e

TIRAPEGUI, 1999). Os BCAA também alteram as concentrações do hormônio do

crescimento, insulina, testosterona e cortisol (KRAEMER et. al., 1998).

BCAA também são utilizados no tratamento de doenças hepáticas por causa

da má nutrição, sendo constatado regeneração do fígado pela suplementação de

BCAA (MARCHESINI et. al., 2003 apud CHARLTON, 2006). Esta regeneração é

atribuída à disposição dos aminoácidos no órgão e conseqüente reativação do

metabolismo hormonal.

Estudos recentes recomendam a suplementação de BCAA em adultos

maduros para atenuar a perda de massa muscular por causa dos processos

degenerativos do envelhecimento (FUJITA e VOLPI, 2006).

3.3 Período, Dosagem e Tipo de Treinamento

Muitos estudos já foram realizados para estimar os benefícios da utilização de

creatina monohidratada no treinamento de força. Analisando 90 estudos, foi

constatado que (76,7%) utilizaram períodos de consumo menor que 15 dias, isto

contando com a fase de saturação; 20% dos estudos analisaram a utilização de

creatina monohidratada em prazos intermediários, ou seja, próximos a 60 dias e

apenas 3,3% dos casos analisaram o período de consumo próximos dos 365 dias

(RANSONE et. al., 2002, BIRD, 2003, GUALANO et. al. 2007). Nenhum dos

estudos analisados explicou a “fase de saturação”.

Algumas pesquisas questionam o período de saturação da creatina que

geralmente é de 4 a 6 dias (CLARKSON et. al., 2002) utilizando cerca de 20g. dia-1

ou dosagem normal aproximada de 0,3g/Kg de massa corporal. dia-1. Pearson et.

al., (1999) apud Bird (2003), utilizou 5g.dia-1, num período de 70 dias para investigar,

ou seja, sem o período de saturação, os efeitos da suplementação de creatina num

programa de treinamento de alta resistência, encontrando aumentos significantes de

força, potência e ganhos de massa corporal. Ransone et. al., (2002) encontrou

resultados similares sem emprego de uma fase de saturação utilizando 3g/dia de

creatina monohidratada para períodos de longo prazo (maiores que 50 dias). O

período de saturação é proposto para inibir a produção endógena de creatina

(BIZZARINI e DE ANGELIS, 2004), mas esta estratégia não apresenta motivo

aparente, e nem benefícios ergogênicos (GREENHAFF, 1997 apud FONTANA et al.

2003).

Torres-Leal e Marreiro (2008) chamam a atenção para pesquisas da

participação da creatina na via glicolítica. Dentro desta linha de raciocínio, Ransone

et. al., (2002) encontrou desempenhos significativos na associação da

suplementação de creatina monohidratada com dieta adicional de carboidratos.

GREEN et al (1996) apud FONTANA et al. (2003) propõe a ingestão de 95 gramas

de carboidratos para cada 5g de creatina.

Exceto raras exceções, a maioria dos estudos recomenda a utilização de

creatina monohidratada para treinamentos em atividades de alta intensidade em

curtos intervalos de tempo.

Bizzarini e De Angelis (2004) chamam a atenção para evitar a ingesta de

cafeína durante a suplementação de creatina, devido à eliminação dos efeitos

desejados durante a contração muscular. Este mecanismo ainda é desconhecido.

No caso da suplementação de BCAA, Crittenden et. al., (2009), recomenda

reavaliar as dosagens de proteína em atletas de elite, uma vez que estes indivíduos

possuem um metabolismo diferenciado em relação a indivíduos sedentários.

As dosagens de BCAA são mais criteriosas que às da creatina

monohidratada, por causa do alto custo do suplemento e também pela absortividade

limitada pelo organismo. Nos estudos analisados, foram encontradas dosagens

entre 5 e 7,5 gramas de BCAA ou dosagens normais de 77mg por Kg de massa

corporal.dia-1, uma hora antes do inicio das sessões de treinamento (KOBA, et. al.

2007, SHIMOMURA, et. al. 2006, NEGRO et. al. 2008).

Não há contra-indicações do uso periódico de BCAA, sempre e quando se

mantenham as relações entre os aminoácidos leucina, isoleucina e valina de 2:1:1,

mesmo levando em consideração que a leucina é o aminoácido mais importante

(SHIMOMURA, et. al. 2004, NEGRO et. al. 2008). Manter a relação entre os

aminoácidos é muito importante e ainda não se conhece qual é a relação correta. A

relação apresentada corresponde às características naturais em que ocorrem estes

aminoácidos. O tipo de treinamento para a qual o BCAA é destinado é o

treinamento aeróbio extensivo.

3.4 Disfunções pelo Uso

Alguns estudos apontam diversas moléstias gastrintestinais causadas pelo

consumo de creatina monohidratada em excesso, tais como diarréia, vomito e

moléstias estomacais, outros estudos apontam a creatina monohidratada como

agente nefro tóxico (BIZZARINI e DE ANGELIS, 2004, POWERS e HOWLEY, 2005).

Gualano et. al. (2008), estudou os possíveis casos relatados na bibliografia

sobre a nefrotoxia da creatina monohidratada. Em todos os estudos foi constatado

que os usuários que apresentaram disfunção renal ao usar creatina, já tinham

histórico médico antes do uso. Outro aspecto foi a falta de indicador renal confiável

para avaliar esta disfunção.

Quanto aos BCAA, a maior incidência refere-se a transtornos gastrintestinais

por causa do sabor dos concentrados de BCAA (NEGRO et. al. 2008). É de

destacar que a sobre-dose de aminoácidos pode induzir a hyperamonemia com

efeito tóxico no organismo (KOBA et. al. 2007).

4. CONCLUSÕES

Não há efeitos comprovados do aumento de força pelo uso de BCAA.

Entretanto, sabe-se da participação da leucina na síntese de proteína muscular e

inibição da degradação protéica. Esta participação ajudaria no aumento da massa

magra que consequentemente resultaria em ganho de força. É de destacar que todo

treinamento depende de uma dieta balanceada adequada, evitando assim

catabolismo, principalmente do músculo esquelético. Suplementação simples do

aminoácido leucina comprometeria a relação adequada dos BCAA, não levando ao

efeito desejado.

Outro fator é quanto à aquisição de BCAA pela dieta comum, evitando o uso

de suplementos. O consumo de derivados do leite supriria as necessidades

necessárias para obter os efeitos desejados; 100 gramas de queijo prato seria o

equivalente a 5,5 gramas de BCAA e 100 gramas de leite em pó integral equivale a

5,9 gramas (PHILIPPI, 2008). Por tanto, refeições 90 minutos antes ou depois do

treinamento contendo um destes alimentos atenderia a demanda de BCAA de

atletas. Por outro lado, as refeições citadas não combinam com treinamento

aeróbico extensivo, principal tipo de treino à qual a suplementação de BCAA se

destina.

Os tratamentos terapêuticos citados envolvem o ganho de força muscular

pelo restabelecimento das capacidades do músculo esquelético, principalmente nos

estudos com adultos maduros. No caso de adolescentes, a literatura analisada

encontrou uma eficiência moderada na suplementação por creatina monohidratada.

Tudo indica que o aumento de força muscular pela suplementação de creatina

monohidratada é um fenômeno multifatorial que depende de uma seqüência de

eventos. O aumento da creatina fosfato nos sarcômeros levaria ao acúmulo de

líquidos nestes, que consequentemente facilitaria o armazenamento de glicogênio.

Estes dois metabólitos promoveriam as duas primeiras fontes metabólicas

requeridas durante o trabalho muscular, isto é, a síntese de ATP, e o metabolismo

anaeróbio da glicose. O aumento de líquidos por sua vez, também facilitaria a

tolerância ao lactato gerado pelo metabolismo anaeróbio alem de ajudar no

processo regenerativo das fibras musculares.

Não há evidências da multiplicação dos sarcômeros durante o processo e

tudo leva a crer que o crescimento tecidual é aparente, oriundo do acúmulo de

líquidos pelas células. Ou seja, o uso de suplementos não é um processo

hipertrófico se não se soma aos tipos de treinamento citados.

Estudos de longo prazo e que contemplem a análise dos tecidos pós

suplementação deverão ser analisados, assim como possíveis efeitos nocivos a

longo prazo. A suplementação mais adequada para o auxilio nos ganhos de força

foi de 4 gramas.dia-1 de creatina monohidratada por pelo menos 90 dias, para

treinamentos de atividades de alta intensidade em curtos intervalos de tempo.

Também é aconselhado a ingesta de carboidratos, sendo maltodextrina, o mais

recomendado para complementar a dieta deste nutriente.

A creatina monohidratada é um dos agentes ergogênicos mais utilizados no

mundo todo há mais de 30 anos e mesmo assim, não há evidencias sobre efeitos

nocivos, sempre e quando o usuário não apresente apriori, patologias hepáticas nem

renais. É de destacar que toda suplementação deverá ser orientada por

profissionais competentes da área, neste caso nutricionistas esportivos; antes,

durante e após o uso.

5. REFERENCIAS

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