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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(William Okubo, CRB-8/6331, SP, Brasil)

INSTITUTO ARTE NA ESCOLA

Jandira Lorenz / Instituto Arte na Escola ; autoria de Dora Maria Dutra Bay;

coordenação de Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque. – São Paulo : Insti-

tuto Arte na Escola, 2005.

(DVDteca Arte na Escola – Material educativo para professor-propositor ; 1)

Foco: FC-3/2005 Forma-Conteúdo

Contém: 1 DVD ; Glossário ; Bibliografia

ISBN 85-98009-02-4

1. Artes - Estudo e ensino 2. Artes - Forma 3. Desenho 4. Lorenz, Jandira

I. Bay, Dora Maria Dutra II. Martins, Mirian Celeste III. Picosque, Gisa IV.

Título V. Série

CDD-700.7

JANDIRA LORENZ

Copyright: Instituto Arte na Escola

Autor deste material: Dora Maria Dutra Bay

Revisão de textos: Soletra Assessoria em Língua Portuguesa

Diagramação e arte final: Jorge Monge

Autorização de imagens: Ludmila Picosque Baltazar

Fotolito, impressão e acabamento: Indusplan Express

Tiragem: 200 exemplares

Créditos

MATERIAIS EDUCATIVOS DVDTECA ARTE NA ESCOLA

Organização: Instituto Arte na Escola

Coordenação: Mirian Celeste Martins

Gisa Picosque

Projeto gráfico e direção de arte: Oliva Teles Comunicação

MAPA RIZOMÁTICO

Copyright: Instituto Arte na Escola

Concepção: Mirian Celeste Martins

Gisa Picosque

Concepção gráfica: Bia Fioretti

DVDJANDIRA LORENZ

Ficha técnicaGênero: Documentário com depoimento da artista.

Palavras-chave: Luz (claro-escuro); linha; imaginário fantástico;percepção; imaginação; desenho.

Foco: Forma-Conteúdo.

Tema: A obra de Jandira Lorenz, principalmente desenho e gra-vura; a relação de seu trabalho com memórias da infância e suatrajetória artística.

Artistas abordados: Jandira Lorenz, Marc Chagall, além de outros.

Indicação: A partir da 5a série do Ensino Fundamental eEnsino Médio.

Direção: Regina Melim e Noeli Ramme.

Realização/Produção: Universidade do Estado de SantaCatarina, Florianópolis.

Ano de produção: 1996/1997.

Duração: 17’.

Sinopse

O documentário apresenta depoimentos da artista gaúcha,residente em Florianópolis/SC, intercalados com imagens deseus desenhos e gravuras atuais, além de obras referentes àsua trajetória artística, inclusive as do período em que traba-lhou no campo das artes gráficas. A artista fala de sua infância,das brincadeiras e da escola; da influência do ambiente de suacidade natal constituída de imigrantes poloneses, e das origensculturais da família. Relata sua caminhada artística, desde oinício marcada pelo grafismo do desenho, destacando algumasfases importantes pelas quais passou. Sua obra, de temática

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contemporânea, consiste na construção de uma poética pes-soal, expressa através de elementos formais e figurativos deconteúdo simbólico e arquetípico.

Trama inventivaOnde se vê a forma, lá está o conteúdo. Kandinsky discute essaquestão de modo certeiro. Para ele, “a forma é a expressão ex-terior do conteúdo interior” 1 . A forma visual – linhas, volumes,cores,... e suas relações compositivas – é o meio pelo qual o artistadá ressonância, nos materiais, à sua idéia/pensamento e à emo-ção que quer expressar. A forma conjuga-se com a matéria pormeio da qual se exprime, ligada aos significados que imprimemcada artista, período ou época. Forma e conteúdo são, assim,intimamente conectados, inseparáveis, imantados. Aproximaçãodeste documentário ao território Forma-Conteúdo da cartografiaoferece acesso a vias de compreensão para além do olhar ana-lítico que separa a forma estética do conteúdo tematizado.

O passeio da câmera

O depoimento da artista, em sua casa, introduz seu pensamentosobre arte por meio de comentários e desenhos de diversosperíodos. A partir dos trabalhos iniciais, o desenho vai se desta-cando como principal linguagem expressiva de sua obra.

A artista, ao relatar sua infância, memórias familiares e trajetó-ria de formação artística, é acompanhada por imagens de suaobra. Fica evidente que o desenho e a gravura constituem a gran-de parte de seu trabalho. É através dos desenhos que odocumentário expõe a forma sensível, sutil e acurada do olharde Jandira sobre o universo que a cerca, bem como a maneiraque ela os utiliza para expressar suas viagens subjetivas e capa-cidade de transcender o cotidiano. Aí já é possível notar que aênfase da visualidade recai sobre a luz, a linha, os contornos, asnuances de tons e as texturas que ela cria. Em seus desenhos,geralmente feitos a nanquim sobre papel, a luz, a linha e a textu-ra em preto são mais valorizadas que a cor. As imagens também

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vão mostrando resquícios de sua memória e do contato bempróximo com a história da arte. Vemos algumas xilogravuras egravuras em metal, linguagens expressivas das quais a artistase serve concomitantemente ao desenho.

É interessante observar o ambiente pessoal da casa, os objetosque cercam Jandira, que já nos contam algo sobre ela. Destaca-se a forma como ela se refere à percepção do mundo que a ro-deia, como vê a linguagem do desenho em tudo ao seu redor.

O documentário nos oferece alguns indicativos de proposições pe-dagógicas, tais como as questões específicas das Linguagens Ar-

tísticas: desenho, gravura e ilustração; a força das metáforas visu-ais em Saberes Estéticos e Culturais e possíveis conexões com alinguagem literária, além de Processo de Criação, já que a percep-ção e a imaginação criadora são aspectos apresentados. Nestaproposta, escolhemos enfocar a questão da Forma-Conteúdo: oselementos da visualidade como constitutivos da forma, especialmen-te a luz (claro-escuro), a linha, a textura, e do conteúdo, com umatemática que aborda o fantástico, o onírico, a mitologia pessoal, amemória, a sensibilidade feminina, as fábulas e lendas.

Sobre Jandira Lorenz(Dom Feliciano/RS, 1947)

Para mim a arte é um instrumento do qual o homem se serve para ex-

pressar suas emoções frente às suas experiências, e assim, resta esta-

belecer o equilíbrio entre seu interior, e o exterior que o cerca. Fazer

arte seria, pois, expressar isso através de símbolos, fazendo-nos co-

nhecer melhor nossas próprias emoções, e confrontá-las com as dos

outros homens.

Jandira Lorenz

Jandira é uma artista com extrema sensibilidade, olhar atento, hábilno manejo com materiais e técnicas, e dedicada à leitura. Comolinguagem artística, escolhe o desenho para se expressar, masexperimenta também as diferentes formas de gravura, buscandoa proximidade entre as duas linguagens. Seu desenho, ao mesmotempo, delicado, minucioso e de vigoroso grafismo, expressa econta sua riqueza imaginativa e sua percepção apurada.

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Impassível, tanto frente aos modismos na arte, quanto às possibi-lidades de expressão descortinadas pelas tecnologias digitais,Jandira continua fiel ao desenho e à sua própria poética expressiva.As linhas, as formas, as nuances de claros e escuros e os rit-

mos gráficos materializam seu pensamento e seu sonho, seu

ideário temático, fantástico, ligado à memória da infância e ao

cotidiano de sua vida atual. A fantasia da artista manifesta-sepor meio de representações simbólicas, como o arlequim, a meni-na, a escada, o caramujo e figuras anímicas, como os cavalos, porexemplo, que nos reportam ao mundo atemporal de mitos e lendas.

Jandira nasce em Dom Feliciano, pequena cidade de imigrantes po-loneses no Rio Grande do Sul, em 1947. Sua educação é fortementemarcada pela formação clássica dos familiares europeus. Estuda emSão Paulo, onde trabalha como ilustradora da revista Planeta. Seudesenho, na época, é carregado de muitos monstros que “gritam porela”, como conta a artista no documentário. Mais tarde, ilustra a re-vista Pop, na qual desenvolve um tipo de grafismo marcado pelossignos da pop art e fortemente influenciado pela estética da mídia daépoca. Muda-se para Florianópolis na década de 70.

É possível identificar duas linhas principais na obra da artista. Umaprimeira calcada no fantástico e no onírico, tendência que estarásempre presente na arte, uma vez que o sonhar e o fantasiar sãocondições constantes e inerentes à humanidade. A segunda rela-cionada ao cotidiano, à cumplicidade do viver diário, que é a outraparte da condição humana. Nestes dois segmentos, que não seseparam completamente, podemos identificar formas e elemen-tos simbólicos recorrentes, tais como meninas, arlequins, cava-los, escadas, círculos, rodas, arcos, construções geométricas,escadas, folhas, ramos, árvores, conchas e caramujos.

Nos desenhos de Jandira, encontramos sombras e luzes querevelam e ocultam cenas múltiplas, nas quais os sonhos e a re-alidade se confundem, sem que haja qualquer limite espaço-tem-poral. Aspectos formais que provocam e tornam visível a imagi-nação da artista, povoada de vestígios de civilizações arcaicas,cavalos alados e animais fantásticos, no mesmo contexto demeninas sonhadoras que brincam tranqüilamente com arcos e

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rodas, ou de torres, escadarias e templos. O ponto, a linha, a

superfície, o volume, a textura e a luz se presentificam

descortinando significados e interconexões, que fazem do

desenho um grande texto à espera de leitura. Dentre os ele-

mentos constantes em sua obra, destacamos a concha e a

menina, a criança divina, como ela fala no documentário. Essa

menina pode ser vista como representativa da desenhista.

Segundo Gaston Bachelard 2 , a concha testemunha a força gera-

dora de imagens, é imagem ainda informe, é o abrigo de todos os

nascimentos que, da mesma forma que o caracol, se desenvolve

em etapas concêntricas, de áureos crescimentos e impenetrável

existência. No falar da artista, a concha e o caramujo, além de

fazerem direta alusão ao ambiente em que ela vive, mostram um

caminho de saída, como uma linha que se desdobra, numa forma

referencial gráfica e plástica. A criança divina é a puer oeternus, o

núcleo da psique, a alma que se articula como mediadora entre o

cosmos e o ser. A menina revela uma essência anterior, uma me-

nina que não tem idade; quando brinca com a roda, lembra a pas-

sagem do tempo e da vida, quando no topo da escada, mostra a

alma num novo plano de individuação, é meditativa.

Os olhos da arte

Vejo as coisas como se fossem desenhos. Não vejo as coisas como

coisas, eu vejo as linhas o tempo todo; eu vejo texturas o tempo todo.

(...) Se os elementos, a nível simbólico, acabam se ajustando numa

leitura só; a nível formal tu tens mais preocupação de ajustar os ele-

mentos para que eles desempenhem, no teu desenho, um papel plas-

ticamente satisfatório.

Jandira Lorenz

No século 20, a vertente artística voltada para o fantástico e o

onírico toma relevância, em parte amparada pelas idéias

freudianas de valorização do inconsciente e exploração de

elementos psicológicos, advindos de sonhos e devaneios. Isso se

constata, principalmente, se considerarmos a proeminência de al-

guns artistas como, por exemplo, Marc Chagall. Do mesmo modo,

outros artistas, ligados aos movimentos do surrealismo, dadaísmo

e simbolismo, consideram a imaginação, o mundo interior e subje-

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tivo, mais significativo e ricoque a pura realidade exteriore, portanto, temática fértilpara suas obras.

O pintor Chagall, citado pelaartista no documentário, re-presenta cenas fantásticasnas quais a tradição russa ejudaica forma par com ele-mentos próximos ao sur-realismo e ao simbolismo.Suas composições do tipoaéreas, nas quais decompõeo espaço pictórico, lembramsonhos e fábulas, entrecor-tadas por elementos da cul-tura popular, músicos e sal-timbancos, e temas bíblicos.

Este mesmo e eterno fantás-tico imaginário continua presente nas obras de artistas atuais, quaissejam seus suportes e meios de expressão. No contexto contem-porâneo brasileiro, podemos citar o desenhista e gravador Mar-celo Grassmann, que alguns críticos apontam como tendo exerci-do provável influência sobre a obra de Jandira. Exímio gravador edesenhista, Grassmann trabalha imerso numa densa poética defabulação e misteriosa profundidade. Suas obras são povoadasde seres mitológicos e arcaicos, monstros e outras figuras em me-tamorfose, oriundas das profundezas inconscientes. Esses elemen-tos, aliados ao grafismo, aos claros e escuros e à atmosfera queremete ao tenebrismo veneziano, podem justamente ser relacio-nados com o clima da obra de Jandira Lorenz.

Os trabalhos desses artistas testemunham as intrínsecas rela-

ções entre forma e conteúdo. Os aspectos formais, especial-

mente o valor, isto é, o claro e o escuro, a sombra e a luz, o ocul-

tamento e o visível, dão suporte aos significados relacionados

ao sonho, à fantasia, aos signos carregados de sentidos.

Jandira Lorenz - Sem título, 1996

Água-forte e água-tinta sobre papel, 17 x 12 cmMuseu de Arte de Santa Catarina

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Seres imaginários e superstições estão presentes, também, nacultura da Ilha de Santa Catarina, originada da herança dos co-lonizadores açorianos, somada aos referenciais indígenas nati-vos e africanos. O resultado é um conjunto de tradições quemistura religiosidade, profunda ligação com a natureza física elendas que se mesclam com acontecimentos no plano da reali-dade. Esse universo composto de crendices, visões oníricas efantásticas, fortemente ancorado na força simbólica de elemen-tos naturais e culturais, resulta numa espécie peculiar de in-consciente cultural coletivo da ilha e arredores, que influenciaos temas e as representações artísticas dos ilhéus.

Em 1958, o Grupo de Artistas Plásticos de Florianópolis es-

forçou-se para resgatar esse relegado universo fantástico.

O movimento desencadeado pelo grupo rompeu definitiva-

mente com o predomínio acadêmico, lançando um novo olhar

sobre as raízes, tradições e costumes locais, sob um trata-

mento formal atualizado. Os artistas pertencentes a esse gru-po pioneiro têm significativo papel na história da arte catarinensee influenciaram fortemente asgerações subseqüentes.

Embora Jandira não tenhasuas origens ligadas à tradiçãoilhoa, seu trabalho trata igual-mente de um universo simbó-lico e onírico, no qual surgemelementos incorporados deseu novo habitat, como con-chas, vegetação e outros. Nocontexto da arte catarinense,Jandira representa a vertentede cosmovisão mítica, medita-tiva, cujo universo poético re-flete espiritualidade e trans-cende o cotidiano.

Através de sua obra, Jan-

dira tenta nos dizer que a

Jandira Lorenz - Sem título, s.d.

Nanquim sobre papel, 62 x 42 cmMuseu de Arte de Santa Catarina

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fantasia e a realidade se conjugam em seu imaginário, pois,para além da simples percepção da realidade, é necessário fan-tasiar, empreender um mergulho profundo na memória, olharpara dentro. Dessa forma, seu desenho passa a ser uma refle-xão sobre o próprio ato de desenhar, desenhando a vida.

O passeio dos olhos do professorVocê escolheu este documentário, provavelmente, com algumasintenções. Antes de planejar a sua utilização em sala de aula,seria bom que o assistisse atentamente, mais de uma vez senecessário, anotando as suas impressões, como se estivessefazendo um diário de bordo, que poderá servir como auxiliar parao pensar pedagógico ao longo do trabalho junto aos alunos.

A pauta do olhar que apresentamos é apenas uma sugestãoque poderá auxiliá-lo. No entanto, muitas outras são possíveis.

O que o documentário desperta em você? Quais questõesele provoca?

Por meio do documentário, você percebe a relação entre avida e a obra da artista? É possível notar um percurso? Nes-se trajeto, quais obras lhe chamaram mais a atenção?

Como o documentário poderia ser utilizado na sala de aula?Seriam necessários alguns cortes?

O documentário mostra o desenho como linguagem visual?Você percebe articulações entre os elementos básicosconstitutivos da visualidade?

Jandira conta sobre seu olhar “treinado” por uma percepçãoatenta, capaz de ver composições interessantes em gravetos.O que isso desperta em você?

Na sua opinião, os alunos gostariam de assistir a estedocumentário? Teriam interesse na obra da artista? O quepoderia ser mais relevante para eles?

Quais indicadores de proposições pedagógicas você extraideste documentário?

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Talvez você tenha feito alguns desenhos ou esquemas junto àssuas anotações e pensado em algumas hipóteses para o desen-volvimento de um projeto. Qual seria a pauta do olhar que vocêcriaria para seus alunos?

Percursos com desafios estéticosO mapa potencial do documentário apresentado tem a finalidadede oferecer uma visão ampla dos possíveis caminhos para o focoForma-Conteúdo, tendo por base os elementos da visualidade,já que eles se destacam nas imagens e na fala da artista. As pro-posições que serão apresentadas são sugestões que pretendemconvidar você a pesquisar e experimentar, em consonância comos interesses dos alunos e dos projetos da escola. Não existe ordemseqüencial nos percursos, mas um conjunto de idéias que alimen-tarão suas proposições pedagógicas.

O passeio dos olhos dos alunos

Algumas possibilidades:

Gravetos, pedras e conchas

Uma forma de introdução ao assunto tratado no documentáriopode ser solicitar aos alunos que tragam para a sala gravetos,pedras e conchas encontrados em casa ou no caminho para aescola. Ou, para enfatizar o caráter de surpresa, em vez de pedir,você poderá trazê-los. Depois de despertar o olhar para ver estespequenos fragmentos da natureza, sugerimos que vocêredistribua-os entre os alunos, possibilitando escolhas individu-ais ou em pequenos grupos, para criar uma composição, atribu-indo um título a ela. É interessante que todos vejam os resulta-dos antes de assistir ao documentário. A exibição pode iniciar-se pelo momento em que a artista fala dos gravetos arranjadospela natureza em composições que ela vê como estéticas. A partirdaí, pode-se levantar questões sobre a arte e a natureza, a es-tética do cotidiano, o desenho e os elementos da visualidade, aimportância de educar o olhar, saber ver e observar os porme-nores do contexto no qual estamos inseridos.

qual FOCO?

qual CONTEÚDO?

o que PESQUISAR?

Zarpan

ConexõesTransdisciplinares

psicologia, inconsciente coletivo, arquétipo

arte e ciênciashumanas

ndo

Forma - Conteúdo

elementos davisualidade

luz (claro-escuro),linha, textura

relações entre elementosda visualidade

composição, tensão,ritmo, equilíbrio,ilusão de profundidade

temáticas

figurativas: vida cotidiana, natureza morta,paisagens fantásticas e oníricas,imaginário fantástico; contemporâneas:narrativa, mitologia pessoal, memória,identidade, sensibilidade feminina

SaberesEstéticos eCulturais

história da arte arte moderna, arte catarinense,arte contemporânea

Linguagens Artísticas

artesvisuais

literatura

meiostradicionais

desenho, xilogravura, gravura em metalilustração

linguagensconvergentes

Processo deCriação

ação criadora poética pessoal, ato criador

casa, acervo pessoalambiência do trabalho

percepção, imaginação criadora, corpo perceptivo,observação sensível, leitura de mundo, imaginário,repertório pessoal e cultural

potências criadoras

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Visualizando linhas, criando texturas e ritmos

Uma atividade lúdica, que não exige material previamenteorganizado, consiste em solicitar aos alunos que identifi-quem, na sala de aula, ou talvez no prédio da escola, ondee como se formam linhas, pontos, texturas, ritmos, padrões,volumes, cores e valores de luz e sombra, etc. Em seguida,a idéia pode evoluir para a reprodução do que foi identifica-do por meio de desenhos feitos com o dedo no ar. A partirdeste ponto, pode-se trabalhar com grupos, pedindo a per-cepção e criação dos mesmos elementos utilizando o cor-po, as cores das roupas e dos acessórios, a altura dos alu-nos, etc. Essa proposta serve como introdução ao entendi-mento e valorização do desenho que está sempre presenteem nossa vida. Antes da exibição, você pode apresentar apauta do olhar que preparou e trazer questões como:

O que a artista fala sobre o desenho?

Você percebe a relação entre a vida e a obra da artista?Há um percurso visível?

Existem formas que se repetem nas obras da artista?Quais são elas?

O que ela fala sobre a luz (claro-escuro), a linha, a textura?

Juntamente com o grupo, você pode analisar e problematizaro que foi vivenciado e visto, já encaminhando proposiçõespara a continuação do trabalho.

O universo imaginário

Uma outra forma de entrada para o documentário é iniciarperguntando sobre lendas, fábulas locais, ou da região deorigem dos alunos, e histórias fantásticas imaginárias dacultura popular. Você pode, então, observar com os alunoscomo essas histórias se estruturam, quais são os tipos maiscomuns e os elementos que as compõem, tentando, assim,mostrar que existe uma certa organização e constância entreelas. Durante a apresentação do documentário, isso podeajudar na percepção de como a artista representa este

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mundo fantástico e onírico que todos conhecemos. Valori-zar os aspectos da vida interior e subjetiva pode estabele-cer um contraponto à desenfreada materialidade presenteno ambiente escolar? Que planejamentos poderão surgirdessa problematização?

Essas sugestões apenas indicam caminhos possíveis quetêm como finalidade convidar os alunos a assistirem ao docu-mentário, apontando para novos olhares, incentivando opi-niões diferenciadas e novos sentidos que ampliem o enten-dimento das questões de forma, conteúdo e elementos davisualidade que interagem na representação artística.

Desvelando a poética pessoal

A base da proposta deste percurso é criação, a partir dos ele-mentos da visualidade já discutidos e observados, e, ao mes-mo tempo, a utilização dos referenciais temáticos abordados,como memória, sonhos e fantasias, narrativas populares, alémdos saberes estéticos e culturais em pauta. Você poderáenfatizar o potencial da capacidade expressiva e poética pes-soal do aluno, de sua atitude perceptiva e investigativa.

Para o desenvolvimento dos trabalhos, indicamos duas alter-nativas que podem ser escolhidas ou transformadas pelos alu-nos, fora de sala de aula, como um espaço de criação mais li-vre, que evidencie a pesquisa e a busca de expressividade nalinguagem envolvida. Como escolha individual, de pequenosgrupos ou de toda a classe, este percurso de criação mereceuma avaliação apreciativa ao final.

Tendo por base memórias da família (por exemplo, imigração,migração, participação em eventos significativos, festas, nas-cimentos, casamentos ou eventos ritualísticos e pitorescos), épossível produzir diferentes histórias em quadrinhos ou outrostipos de desenho. É uma atividade que possibilita articular osconhecimentos, as informações e as habilidades experienciadasaté aqui, para criar relações entre os elementos da visualidadee os significados que se quer dar às memórias buscadas.

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Personagens e outros elementos de notícias do cotidiano, delendas e mitos urbanos, podem ser recortados em revistas ejornais para recriar histórias: juntando os recortes aos desenhos,criando cores, texturas e ritmos que determinem o ambiente eo cenário nos quais a ação acontece, ocultando e enfatizandoaspectos e formas. O nível de instrumental e de procedimentos,envolvendo materiais e técnicas, pode ser adaptado conformea disponibilidade da escola, ou dos alunos, mas não édeterminante para a realização do trabalho de criação.

Ampliando o olharSempre que lhe parecer conveniente, você poderá recorrer aodocumentário para retomar o tema, esclarecer algum pontoimportante, ou enfatizar determinado aspecto. Um recursoválido é congelar a imagem para possibilitar apreciação maisprolongada. Para a ampliação do olhar, outro modo é realizarações fora da escola. Avaliando a viabilidade delas, você pode-rá adaptá-las à sua realidade escolar.

Jandira fala sobre olhar o avesso da figura: “Sentir queaquele vazio confirma aquela forma. O vazio é a forma doavesso. Tudo se encaixa. Assim, não é questão de desenharbem, mas um quebra-cabeça que se resolve com facilida-de”. Voltando ou não a projetar o documentário, seria inte-ressante instigar os alunos para que percebam o que é ovazio, o avesso da forma, tanto nos trabalhos de Jandira,como em outros, de artistas ou dos colegas.

Literatura, histórias infantis, videogames, filmes e jogos di-gitais on-line são provocadores para a identificação de te-mas e formas. Pode ser uma experiência desafiadora veri-ficar como a luz – claro-escuro – é utilizada e recriar histó-rias mesclando personagens, ou realocando-os em contextosdiversos, em paisagens fantásticas e oníricas.

Quando possível, visitar museus de arte para alargar o con-ceito de cultura e entrar em contato com obras que levem adiscutir as relações entre forma, conteúdo, significado e ele-mentos da visualidade. Na medida em que houver acesso à

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ambientes virtuais, as visitas poderão ser ampliadas. Ob-servamos, mais uma vez, que é fundamental não perder ofoco da proposição, direcionado mais para a percepção eanálise das obras e menos para questões biográficas.

Quando criança, Jandira e seu primo gostavam de desenhara aldeia onde moravam, engatando um quintal no outro ebuscando perspectivas diferentes. Inspirado por essa idéia,você pode provocar os alunos para olhar seu bairro, refle-tindo sobre os quintais de hoje, desenhando e redesenhandocomo um arquiteto do imaginário.

Um poema de Cecília Meireles, a metáfora do desenho e avida, pode ser uma nutrição literária que fará o olhar per-correr os trabalhos realizados por Jandira e pelos alunos,pensando em seus processos de criação.

Canção excêntrica

Ando à procura de espaçoPara o desenho da vidaEm números me embaraçoE perco sempre a medidaSe penso encontrar saída,em vez de abrir um compasso,Projeto-me num abraçoE gero uma despedida.Se volto sobre meu passo,é já distância perdida.Meu coração, coisa de aço,Começa a achar um cansaçoEsta procura de espaçoPara o desenho da vida.Já por exausta e descridaNão me animo a um breve traço:Saudosa do que não faço,

do que faço, arrependida.

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Conhecendo pela pesquisaRetiradas do catálogo de uma exposição de Jandira Lorenz, estastrês leituras de sua obra podem provocar várias questões a res-peito da crítica de arte, do discurso sobre a arte, da ampliaçãodo olhar. Depois de ler os trechos abaixo e discuti-los, os alunospodem pesquisar outros textos de crítica. Cada aluno pode fa-zer também uma leitura da produção de um outro aluno.

O labirinto pressupõe um ato iniciático. A artista, ao usá-lo, lança uma

proposta ao espectador, que deverá preenchê-lo com as imagens do

seu inconsciente; razão pela qual as obras de Jandira são para serem

sentidas, podendo dificilmente ser explicadas.

Adalice Araújo, artista plástica.

Simultaneamente a obra de Jandira Lorenz se caracteriza pela

vivência do caráter elementar da figura e um caráter de mutação. O

conteúdo é, quase sempre, um exercício plástico de sombra sobre

sombra, traços e entretraços, laços e entrelaços de um mundo

emerso-imerso. O resultado é uma atmosfera que a identifica como

irmã maior de um Marcelo Grasmann, por exemplo, onde o antago-

nismo noite e dia, sim e não, consagram indagação e destino do

homem. Irmã maior, mas absolutamente pessoal. Fascinante, apai-

xonada, porque sua proposta é, universalmente, feminina.

Lindolf Bell, poeta.

Cada desenho de Jandira Lorenz é uma obra acabada, onde não cabe

nem sequer o acréscimo de um novo traço. A fabulação imaginada vai

se transmitindo do pensamento à ação manual e quando, discreta-

mente, assinatura se impõe é porque nada mais existe para ser dito.

Como num soneto, onde qualquer palavra supérflua quebraria o rit-

mo e o sentido, Jandira sabe parar no momento exato.

Harry Laus, escritor.

Jandira ilustrou um livro de poemas sobre animais chamadoHistória natural dos sonhos, de Fritz Muller. A edição é bilín-güe, português/alemão, tem um projeto gráfico extremamen-te cuidadoso e pode ser um instrumento de investigação queleve à descoberta de outras publicações semelhantes.

Artistas que trataram ou tratam de temáticas similares, querepresentam o mundo fantástico, mítico ou onírico, podemser investigados. Já foram indicados Marc Chagall e Mar-

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celo Grassmann. A referência pode chegar a outros artistasao longo da história da arte, como por exemplo, Salvador Dalí,René Magritte, Giorgio de Chirico, William Blake, JeronimusBosh, Pieter P. Bruegel e Luca Signorelli. É possível localizarartistas locais, que tenham temáticas próximas, e relacionarsuas obras com as estudadas anteriormente?

Os jornais da comunidade trazem ilustrações, assim comoas revistas que os alunos costumam ler. Peça para que es-colham e discutam as ilustrações preferidas, descobrindoseus autores com suas poéticas pessoais.

Concomitantemente, é possível incentivar, ainda, o estabelecimen-to de relações entre a poesia e os outros textos literários, com odocumentário, as obras e a vida de Jandira. O resultado poderá serem forma de texto, poesia concreta ou do tipo carta enigmática.

Também podem ser indicadas pesquisas sobre as técnicas dexilogravura, de gravura em metal, visitando artistas, escolas nacidade, ou na internet. Igualmente interessante seria investi-gar sobre o processo de criação nas artes gráficas comerciais,como propaganda e edição de livros.

Amarrações de sentidos: portfólioEste é o momento no qual você poderá tornar claro o encade-amento de todo o processo. Isso facilita a reflexão e o entendi-mento do sentido global dos conteúdos abordados, experiênci-as vividas e criações elaboradas.

Uma possibilidade é que você oriente os alunos na organizaçãode um livro com suas criações, “livro do aluno”, em referência aoque conhecemos como “livro de artista”. Também, aí, se colocaa oportunidade para conhecer esta modalidade artística, a obraque é um livro. A montagem do livro exigirá seleção de traba-lhos, elaboração e cuidado estético, que vêm ao encontro do quefoi estudado na proposta. Os livros dos alunos poderão ser ex-postos, circular em feiras e comemorações na escola, sendo umaforma de socialização da criação e do que puderam conhecer.

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Valorizando a processualidadeQue transformações são perceptíveis? Quais as mudanças e osavanços que ocorreram? Sobre o que os alunos estudaram, o queeles destacam? Como eles avaliariam o processo de trabalho?

O livro do aluno, ao ser apresentado e discutido, não só entrea turma, mas na comunidade da escola, já poderá oferecer ele-mentos para esta avaliação. Da mesma forma, o diário de bor-do do professor-propositor e as anotações feitas ao longo doprocesso podem levar a reflexões e ao nascimento de idéiaspara novos projetos. É o momento de ressignificar a práticadocente, repensar as proposições de trabalho, reorientar asdescobertas, as idéias inovadoras e construtivas que tenhamsurgido no decorrer do processo.

GlossárioArquétipo/arquetípico – o psicólogo suíço Carl Jung (1875 – 1961) expli-ca que arquétipos são formas universais coletivas, típicas, originárias deexperiências recorrentes da psique. Caracterizam-se como formas básicasde pensamentos e sentimentos universais. Fonte: GRINBERG, Luiz Paulo.Jung: o homem criativo. São Paulo: Editora FTD, 1997, p.136-137.

Iconografia – é o ramo da história da arte que estuda as questões relati-vas aos temas ou mensagens das obras de arte, em contraposição à suaforma. Descreve e classifica as imagens. A iconologia, por sua vez, é umaiconografia que se torna interpretativa. Fonte: PANOVSKY, Erwin. Signi-

ficado nas artes visuais. São Paulo: Perspectiva, 1979.

Ilustração – peça gráfica com imagens pictóricas utilizadas para comple-mentar, explicar, descrever ou acrescentar informação visual a um texto,um anúncio ou manual de instruções. São comuns em revistas e livros,especialmente na literatura infanto-juvenil. Podem ser de dois modos: asmanuais, feitas com materiais tradicionais (aquarelas, acrílicas, pastéis,lápis de cor, papel, tela) e as digitais, criadas com o auxílio de programasde computação gráfica. A escolha por um ou outro modo não diferenciaestilos nem técnicas. Os ilustradores podem criar trabalhos semelhantes,mas um manualmente e o outro digitalmente. Fonte: Disponível em:<www.planeta.terra.com.br/arte/alexkoti/glossario.htm>.

Luz (claro-escuro) – é o elemento da visualidade que se identifica no con-

material educativo para o professor-propositor

JANDIRA LORENZ

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traste formal entre o claro e o escuro (valor). Permite uma vibração espaci-al, possibilitando efeitos de avanço e recuo, de expansão e contração, cri-ando volume e profundidade, pausas e ritmos intensificados. Apresentatambém qualidades expressivas e simbólicas. Fonte: OSTROWER, Fayga.Universos da arte. Rio de Janeiro: Campus, 2004.

Poética – é a expressão de um gosto e um ideal específico de arte. A poéticade um artista é sua maneira individual de expressão. Fonte: PAREYSON, Luigi.Os problemas da estética. São Paulo: Martins Fontes, 1984, p. 24-26.

Símbolo/sistema simbólico – é portador de significação e se caracteri-za pela versatilidade e não pela uniformidade. A linguagem verbal, a arte,o mito e a religião para o filósofo Cassirer (1874-1945) são parte do uni-verso simbólico construído pelo ser humano. Fonte: CASSIRER, Ernest.Ensaio sobre o homem. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

Tenebrismo veneziano – designação para o tipo de representação napintura com ênfase no claro-escuro, resultando num clima dramático; es-tilo desenvolvido por Michelangelo Caravaggio, no século 16 e 17. Fonte:OSBORN, Harold. The oxford companion to art. London: Guild Publishing,1988, p.1124.

Bibliografia

ARGAN, Giulo C. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

BAY, Dora M. D. Desenhando a vida: Jandira Lorenz. Florianópolis, textonão publicado, 2004.

MANOEL, Pedro. Marcelo Grassmann. São Paulo: Art Editora, 1984.

MULLER, Fritz. História natural dos sonhos. Florianópolis: Nauemblu Edi-tora, 2004.

OSTROWER , Fayga. Luz. In: Universos da arte. Rio de Janeiro: Campus,1991, p.96-233.

PAREYSON, Luigi. Os problemas da estética. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

Catálogos

Prestígio do Papel. Florianópolis, 2002: Museu de Arte de Santa Catarina.Alma e fantasia: o universo enigmático de Jandira Lorenz. Texto deCharles Narloch.

Jandira Lorenz – Desenhos. Florianópolis: Museu Victor Meirelles, 1998.Texto de João Otávio Neves Filho.

Jandira Lorenz – Desenhos. Florianópolis: Museu de Arte de SantaCatarina, 1995.

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Seleção de endereços sobre arte na rede internet

Os sites abaixo foram acessados em 21 dez. 2004.

CHAGALL, Marc. Disponível em: <www.artchive.com/artchive/C/chagall.html>.

GRASSMANN, Marcelo. Disponível em: <www.xicostockinger.com.br/expo/marcelograssma... >.

ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTES VISUAIS. Disponível em:<www.itaucultural.org.br >.

Notas1 KANDINSKY, Wassily. Sobre a questão da forma. In: Olhar sobre o pas-

sado. São Paulo: Martins Fontes, 1991, p. 118.2 BACHELARD apud Giroulat. In: O atanor de Jandira Lorenz. Catálogode Exposição no Museu de Arte de Santa Catarina, 1995.