Criança e Propaganda

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CRIANÇA E PROPAGANDA: OS ARTIFÍCIOS LINGÜÍSTICOS E IMAGÉTICOS UTILIZADOS PELA PUBLICIDADE

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A publicidade e a propaganda têm sido, sobretudo nas últimas décadas do século XX e na primeira do XXI, um dos grandes temas a cujo estudo muitos pesquisadores têm se dedicado.

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Criança E ProPaganda: os artifíCios lingüístiCos E imagétiCos utilizados

PEla PubliCidadE

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CristhianE fErrEguEtt

São Paulo 2009

Criança E ProPaganda: os artifíCios lingüístiCos E imagétiCos utilizados

PEla PubliCidadE

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Copyright © 2009 by Editora Baraúna SE Ltda

Projeto Gráfico e DiagramaçãoAline Benitez

CapaVictor Tosso

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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

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Zanatta, Bianca

O controle de constitucionalidade por via da argüição de descumprimento de preceito fundamental / Bianca Zanatta. - São Paulo : Baraúna, 2008.

Inclui bibliografia

ISBN 978-85-60832-60-6

1. Controle de constitucionalidade. I. Título.

08-4871. CDU: 342:340.132.6

03.11.08 05.11.08 009609

--------------------------------------------------------------------------------Impresso no BrasilPrinted in Brazil

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sumário

Apresentação .................................................................... 7

Introdução ...................................................................... 11

1. Publicidade: a arte de vender sonhos ......................... 21

2. Análises discursiva e semiótica de publicidades em revis-

tas para crianças.............................................................. 69

3. Análise argumentativa de peças publicitárias ........... 125

Conclusão ..................................................................... 147

Referências ................................................................... 151

Notas ............................................................................ 163

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aPrEsEntação

A publicidade e a propaganda têm sido, sobretudo nas últimas décadas do século XX e na primeira do XXI, um dos grandes temas a cujo estudo muitos pesquisadores têm se dedicado. Abordar, porém, a propaganda impressa, preocupando-se com a sedução do público infantil, parece ser uma idéia pioneira à qual Cristhiane Ferreguett entre-ga-se, com garra e criatividade, neste livro que se intitula Criança e propaganda: os artifícios lingüísticos e imagé-ticos utilizados pela publicidade. Estudar textos de grande circulação no mundo contemporâneo: o publicitário já re-presenta, por si só, um atrativo à leitura.

Ora, o texto publicitário caracteriza-se por se diri-gir a um receptor individual, portador de desejos e aspi-rações e por buscar a sua identificação com um determi-

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nado produto, introduzindo o consumidor no universo do lúdico e do maravilhoso.

Um conjunto de características discursivas, argu-mentativas e imagéticas contribui na elaboração desse texto publicitário. São essas que a autora explora no livro. Apóia-se no aporte teórico-metodológico trazido por três diferentes teorias que ela consegue, com rara habilidade, fazer dialo-gar: a Análise do Discurso da linha francesa, nos moldes de Michel Pêcheux; a Nova Retórica, inaugurada por Chaïm Perelman e Olbrechts- Tyteca; a Semiótica de Charles San-ders Pierce. Esse diálogo faz-se de tal modo que, embora cada teoria delineie o seu espaço, estão, ao mesmo tempo, amalgamadas numa interpretação única e indissociável.

A partir dos postulados da Análise do Discurso, en-fatiza o estudo do sujeito, da situação e da memória que retorna o leitor a “Os embalos de sábado à noite” ou ao “Se o meu fusca falasse”; adentra no campo da Retórica e, com a Semiótica, descreve e analisa as zonas de atração da fotografia, a divisão do espaço, as cores, a imagem; enfim. Mas não se esquece de analisar a produção dos sentidos no texto, o interdiscurso e a metáfora, buscando, ainda, na materialidade lingüística, as marcas que conduzem à se-dução do público infantil, mas também do próprio adulto que finaliza a compra.

Com o auxílio de belas e coloridas ilustrações – as propagandas que constituem o corpus da sua análise -, a autora passeia por essa “arte de vender sonhos”, percorre a trajetória da publicidade da antiga Roma até a contempo-raneidade; mas, sobretudo, enfoca o papel da publicidade na construção do imaginário e, especificamente, o infantil.

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Nesse percurso, não se esquece de pontuar a representação da criança na publicidade e a regulamentação da publicida-de infanto-juvenil.

Por tudo isso, a obra de Cristhiane Ferreguet é um convite a mergulhar no “mar de fantasias” e sair molhado, impregnado, alimentado e seduzido pela maneira segura e consciente que a escritora, embasada nas mais recentes teo-rias da linguagem, analisa um tema tão polêmico e discuti-do: a publicidade e a propaganda.

Enfim, ao leitor, o livro Criança e propaganda, de Cristhiane Fereguett, centrado em propagandas impressas de alimentos, veiculadas na revista Recreio e dirigidas, es-pecialmente, ao público infantil, fruto de sua dissertação de Mestrado que eu tive o privilégio e o prazer de orientar. Fruto maduro, recém-colhido, atraente e sedutor; pronto para ser degustado, alimento necessário a todos aqueles que apostam no sabor de uma boa leitura.

Jaciara Ornélia Nogueira de Oliveira1

1 Doutora em Letras e Lingüística (UFBA)

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introdução

No dia-a-dia somos envolvidos por um eficaz instru-mento de sedução e persuasão: a linguagem da propagan-da. Valendo-se de estratégias argumentativas e discursivas na elaboração de mensagens, a publicidade busca refletir como queremos ser, como nos vemos e o que sonhamos. Andrade (2001, p. 15) afirma que assim como outros discursos, o publicitário funciona como instrumento de poder, exercendo uma espécie de controle social. Ainda, segundo ele, a fim de obter sucesso, a propaganda simu-la igualitarismo, despe-se dos indicadores de autoridade e poder, substituindo-os pela linguagem da sedução. Isso significa que o publicitário geralmente recorre a estraté-gias para convencer e seduzir o público consumidor, sem deixar transparecer suas verdadeiras intenções.

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É óbvio que, nas situações do nosso cotidiano, a linguagem também é utilizada com o objetivo de seduzir e persuadir. Para Carvalho (2004, p. 09), não só a linguagem publicitária, mas também a jornalística, os discursos políti-cos, a linguagem dos tribunais e até mesmo o discurso amo-roso têm objetivos comuns: argumentar, informar e tentar impor. Carvalho aponta que a diferença entre a primeira e as demais linguagens está no grau de consciência dos recursos utilizados, ou seja, na utilização racional de tais instrumen-tos para manter ou modificar a opinião do público-alvo.

A mensagem publicitária é disponibilizada para destinatários plurais, porém os publicitários, objetivando persuadir e seduzir um público-alvo definido, utilizam re-cursos lingüísticos e/ou imagéticos específicos para o consu-midor que eles querem diretamente atingir. Para construir uma representação social do seu consumidor o publicitá-rio vale-se de pesquisas anteriores, buscando reconstituir o universo do seu público-alvo e, assim apresentar, em seus textos, temas e linguagens atraentes e sedutoras a ele. Sou-lages (1996, p. 142) coloca claramente o papel da publici-dade na construção de tipos socioculturais. De acordo com esse estudioso, além do papel regulador que ela pretende desempenhar nas economias de mercado, a publicidade é reconhecida hoje em dia como um processo de produção plena de formas culturais. Assim, afirma-se no espaço social como um dos suportes mais visíveis das representações de identidades, como veremos no primeiro capítulo.

Sabemos que trabalhar racionalmente os instrumen-tos lingüísticos ou imagéticos tornou-se complexo diante de um mercado cada vez maior e mais cheio de concorrentes.

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O publicitário procura envolver o consumidor, aproprian-do-se das necessidades da natureza humana e relacionando produtos a sentidos sociais e simbólicos, transformando os produtos triviais e banais em algo fantástico. Vestergaard e Schroder (2004, p. 79) afirmam que a propaganda atua como um “espelho psicológico”, funcionando no mesmo patamar do devaneio, uma vez que “constrói um universo imaginário em que o leitor consegue materializar os desejos insatisfeitos da sua vida diária”.

Atualmente, não apenas o consumidor adulto é alvo da publicidade, mas também o público adolescente e o in-fantil. Gade (1980, p. 111) apresenta a denominação “mer-cado jovem” para distinguir especificamente esse público, afirmando: “...diversas pesquisas tentam verificar se o que a dona-de-casa compra é influenciada pela criança e até que ponto”. As empresas e os publicitários estão atentos a isso, desenvolvendo pesquisas e técnicas para atingir o público infantil pela propaganda.

Cientes de que estratégias são desenvolvidas para envolver e seduzir o “mercado jovem”, decidimos analisar os elementos argumentativos, discursivos e imagéticos que são utilizados na elaboração de textos publicitários dirigi-dos especificamente ao público infantil e verificar se, e até que ponto, o texto publicitário de alimento para criança na publicidade impressa utiliza argumentos que visam à per-suasão do adulto.

Verificamos, então, as hipóteses levantadas: a) o pu-blicitário, para atrair e seduzir o público infantil, busca criar um vínculo entre o produto e a diversão (brincadeira e brin-quedos), valendo-se não só de brindes, mas de estratégias

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discursivas que atinjam o imaginário da criança. Com rela-ção a essas estratégias argumentativas, discursivas e imagé-ticas, supomos que os textos sejam curtos e que apresentem uma analogia entre os produtos e as brincadeiras e/ou brin-quedos infantis; b) mesmo tendo a criança como alvo, os textos publicitários dirigidos a ela apresentam argumentos que são destinados ao adulto, que também precisa ser per-suadido a efetivar ou autorizar a compra em grande parte dos casos; c) a publicidade se constrói-se a partir de um mo-delo (imagens fotográficas) em que a criança é apresentada como ativa, inteligente, esperta e alegre.

Para verificar as hipóteses levantadas e os objetivos elencados, utilizamos o instrumental teórico-metodológico fornecido pela Nova Retórica, a partir dos pressupostos te-óricos especificados por Perelman e Olbrechts-Tyteca, para exame e classificação das técnicas argumentativas utilizadas; e os dispositivos teóricos da Análise do Discurso, linha fran-cesa fundada por Michel Pêcheux, para identificar as carac-terísticas de linguagem utilizadas e observar as estratégias de persuasão e sedução mais freqüentes. Utilizamos ainda a Semiótica, de Charles S. Pierce, para análise dos elementos visuais (imagens e cores).

Justificamos a realização deste trabalho, na medida em que pretendemos estudar textos de grande circulação no mundo contemporâneo: o publicitário. Focalizamos as es-tratégias argumentativas, discursivas e semióticas utilizadas na elaboração de publicidades dirigidas ao público infantil que como já dissemos, têm despertado cada vez mais a aten-ção dos produtores e publicitários. A esse respeito Breton (1999, p. 72) alerta:

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(...) um aspecto muitas vezes negligenciado, apesar de sua importância, do recurso abusivo à autori-dade para convencer é constituído pelas freqüentes práticas de manipulação das consciências infantis. Como recorda Vance Packard, a tomada de cons-ciência por parte dos publicitários dos imensos re-cursos que essa possibilidade de influência envolve esteve na origem do desenvolvimento de todo um setor, dotado de métodos especialmente concebidos para as crianças. Numa revista profissional de pu-blicidade, diz-se o seguinte: “Os espíritos podem ser moldados a desejar seus produtos! Nas esco-las da América, há quase 23 milhões de meninas e meninos. Essas crianças ingerem alimentos, usam roupas, utilizam sabonete. Elas são hoje consumi-dores e serão amanhã compradores; constituem um vasto mercado para seus produtos. Envolvam essas crianças com sua marca e elas insistirão para que os pais a comprem.

A concretização desse trabalho poderá contribuir para a compreensão dos recursos utilizados à construção de um discurso elaborado para convencer, seduzir e que provoca mudanças de idéias e formas de comportamentos de nossas crianças, uma vez que o discurso, socialmente instituído, con-tribui para a construção de sistemas de conhecimento e cren-ça. Observamos inclusive, que o discurso publicitário im-presso não tem merecido a atenção de nossos pesquisadores. Em março/2006 numa pesquisa realizada no banco de dados da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) constatamos que nos últimos cinco anos, em cursos de mestrado, apenas uma pesquisa1 foi realizada en-volvendo a temática da publicidade para o público infantil.