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FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Ano 127 • Nº 2.160 • Março 2009 D EUS ,C RISTO E C ARIDADE “Quando o penetra o Lar, o abre mais facilmente a porta ao .” Evangelho coração Mestre Divino Emmanuel EVANGELHO no e no Lar Coração R$ 5,00 ISSN 1413 - 1749 A infância: fase essencial para a vida corporal do Espírito Obsessão: causas, consequências e tratamento Recordando a desencarnação de Allan Kardec

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F E D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A

Ano 127 • Nº 2.160 • Março 2009DEUS , CR I S TO E CAR I D ADE

“Quando o penetra o Lar, o abre mais facilmentea porta ao

.”

Evangelhocoração

MestreDivino

Emmanuel

EVANGELHOno e noLar Coração

R$ 5,00

ISSN

141

3 - 1

749

A infância: fase essencial para a vida corporal do EspíritoObsessão: causas, consequências e tratamento

Recordando a desencarnação de Allan Kardec

Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: AUGUSTO ELIAS DA SILVA

Revista de Espiritismo CristãoAno 127 / Março, 2009 / N o 2.160

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRADiretor: NESTOR JOÃO MASOTTI

Editor: ALTIVO FERREIRA

Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO

CESAR PERRI DE CARVALHO, EVANDRO

NOLETO BEZERRA E LAURO DE OLIVEIRA SÃO THIAGO

Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA

Gerente: ILCIO BIANCHI

Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE

Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR

TORRES PEREIRA E CLAUDIO CARVALHO

Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA

CARVALHO

REFORMADOR: Registro de publicação no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polí-cia Federal do Ministério da Justiça)CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503

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Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA

Capa: AGADYR TORRES PEREIRA

Editorial

O culto cristão no lar

Entrevista: Jaime Ferreira Lopes

Mobilização em Defesa da Vida e Contra o Aborto

Presença de Chico Xavier

De longe – Maria Lacerda de Moura

Esflorando o Evangelho

Erguer e ajudar – Emmanuel

A FEB e o Esperanto

150 anos de Zamenhof na Unesco – Affonso Soares

Seara Espírita

Servir – Juvanir Borges de Souza

O Iluminado – Rabindranath Tagore

A paz – Inaldo Lacerda Lima

No cotidiano (Capa) – Richard Simonetti

Recordando a desencarnação de Allan Kardec –

140 anos (31/3/1869-31/3/2009) – Adilton Pugliese

Traços físicos e morais de Kardec – Anna Blackwell

60 anos do Pacto Áureo – Antonio Cesar Perri

de Carvalho

A Cúpula Sublime – Bezerra de Menezes

A infância: fase essencial para a vida corporal do

Espírito – Clara Lila Gonzalez de Araújo

Em dia com o Espiritismo – Percepções inusitadas –

Marta Antunes Moura

Obsessão: causas, consequências e tratamento –

Christiano Torchi

Cristianismo Redivivo – História da Era Apostólica –

A conversão de Saulo – Haroldo Dutra Dias

Cândida Augusta Bezerra de Menezes – Cem anos

de desencarnação – Luciano Klein Filho

Fatalidade e destino – José Antonio Ferreira da Silva

Retificando...

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SumárioExpediente

PARA O BRASILAssinatura anual R$ 39,00Número avulso R$ 5,00

PARA O EXTERIORAssinatura anual US$ 35,00

Assinatura de Reformador: Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274

E-mail: [email protected]

Editorial

4 Reformador • Março 200982

ovoara-se o firmamento de estrelas [...], quando o Senhor, instalado proviso-riamente em casa de Pedro, tomou os Sagrados Escritos e [...] falou com bon-dade:

– Simão, que faz o pescador quando se dirige para o mercado com os frutosde cada dia?

– Mestre, naturalmente, escolhemos os peixes melhores.– E o oleiro? que faz para atender à tarefa a que se propõe?– Certamente, Senhor [...] modela o barro, imprimindo-lhe a forma que deseja.– E como procede o carpinteiro para alcançar o trabalho que pretende?– Lavrará a madeira, usará o enxó e o serrote, o martelo e o formão. [...]– Assim, também, é o lar diante do mundo. O berço doméstico é a primeira escola e

o primeiro templo da alma. A casa do homem é a legítima exportadora de caracterespara a vida comum. [...] Se não aprendemos a viver em paz, entre quatro paredes,como aguardar a harmonia das nações? Se nos não habituamos a amar o irmão maispróximo [...] como respeitar o Eterno Pai que nos parece distante?

[...]– Pedro, acendamos aqui, em torno de quantos nos procuram a assistência fraterna,

uma claridade nova. A mesa de tua casa é o lar de teu pão. Nela, recebes do Senhor oalimento para cada dia. Por que não instalar, ao redor dela, a sementeira da felicida-de e da paz na conversação e no pensamento? [...]

Simão Pedro fitou no Mestre os olhos humildes e lúcidos e [...] murmurou, tímido:– Mestre, seja feito como desejas.Então Jesus, convidando os familiares do Apóstolo à palestra edificante e à medita-

ção elevada, desenrolou os escritos da sabedoria e abriu, na Terra, o primeiro culto cris-tão do lar.

Ao transcrever o texto acima queremos destacar a singeleza, a profundidade, abeleza e os benefícios da reunião em família para o estudo, a meditação e a preceem torno de O Evangelho segundo o Espiritismo, cuja Campanha “O Evangelho noLar e no Coração” foi lançada pelo Conselho Federativo Nacional da FederaçãoEspírita Brasileira, em nível nacional, em novembro de 2008, por oportuna propos-ta da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo.

Implantar, praticar e divulgar “O Evangelho no Lar” é contribuir para a constru-ção da paz autêntica e duradoura em nós, na família e na Humanidade.

P

O culto cristãono lar 1

1XAVIER, Francisco C. Jesus no lar. Pelo Espírito Neio Lúcio. 37. ed. Rio de janeiro: FEB, 2008. Cap. 1.

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ão muitos os significados doverbo servir.

Entretanto, valeu-se Jesusdo termo servir no sentido de aju-dar, auxiliar, prestar serviços espe-ciais, para evidenciar que o Espí-rito mais elevado e puro que veioao encontro da Humanidade, quetinha e tem poderes para desem-penhar as funções mais importan-tes, no que se refere aos domíniose às honrarias terrestres, proferiaum ensinamento da mais alta etranscendente significação de amoraos semelhantes:

E qualquer que, entre vós, quiser

ser o primeiro, seja vosso servo.

Assim como o Filho do Ho-

mem não veio para ser servi-

do, mas para servir e para dar

sua vida em resgate de muitos.

(Mateus, 20:27-28.)

A leitura atenta dos Evange-lhos, especialmente sob a luz daTerceira Revelação, anunciada pe-lo próprio Mestre como o Conso-lador que Ele pediria ao Pai paraser enviado aos homens e perma-necer com eles, confirma, com to-da clareza, a especial e permanen-te demonstração do Governadorespiritual deste mundo: servirsempre.

Essa excepcional missão não seresumiu nos breves anos em que oMestre permaneceu entre seus ir-mãos menores.

Na realidade, seus objetivos vi-savam todas as retificações dos en-tendimentos e distorções que vi-nham de milênios anteriores, nãosomente dos cultores do politeís-mo então dominante, além de cor-rigir os enganos interpretativosadotados por aquele povo que re-cebeu, através de Moisés e dos an-tigos profetas, as revelações quevieram do Alto e que foram dis-torcidas de seu real significado.

A presença do Cristo entre oshomens representa um marco di-visório entre o velho politeísmo,somado aos entendimentos infeli-zes, de um lado, e de outro, o re-conhecimento do Deus único, oCriador de todas as coisas.

Esse é o grande e inigualávelserviço prestado à população ter-rena que, por incapacidade geradapela ignorância, seguira caminhosenganosos por muitos milênios.

Mas, na sua condição de servi-dor permanente de uma Humani-dade que necessita de orientaçãopermanente e segura para progre-dir, de conformidade com as de-terminações divinas, o Cristo deDeus preside e orienta a evolução

humana, sem contrariar as leis deDeus, que criou todos os Espíritossimples e ignorantes, destinadosa evoluir, mas dotados de vontade ede liberdade, com responsabilidadepor suas ações.

Assim, a evolução espiritual, queé determinação superior, podevariar na sua duração, dependendoda aplicação da vontade e do usoda liberdade de cada indivíduo.

A simples lembrança das con-dições em que se processa a evolu-ção espiritual mostra-nos as difi-culdades naturais para o progres-so das humanidades.

Mas o poder infinito do Cria-dor de todo o Universo e sua In-teligência Suprema determinam assoluções para todos os obstáculos.

A sucessividade das vidas mate-riais, que o Espiritismo explicacomo uma necessidade para mui-tos Espíritos – as reencarnações –é uma das soluções.

O auxílio daqueles Espíritosque já se encontram em estágiossuperiores e se colocam a serviçodas leis divinas, inspirando seusirmãos da retaguarda, é outra pro-vidência da sabedoria divina.

Jesus, o Cristo, o Governadorespiritual da Terra, é outra certezaabsoluta de que a prevalência daverdade e de suas consequências é

ServirS

JU VA N I R B O RG E S D E SO U Z A

questão de tempo, dentro da eter-nidade da vida.

As reflexões sobre as leis divi-nas, de forma geral, e da lei doprogresso, em particular, levam--nos à conclusão lógica de que opoder, a justiça e os demais atri-butos infinitos de Deus impedi-riam naturalmente a existência deum inferno eterno e de seres infe-riores que se opusessem, parasempre, aos desígnios superioresdo Criador.

Essa dedução clara é conse-quência também da vinda doConsolador, que trouxe o conhe-cimento e as explicações sobrecoisas novas, conforme promessado Cristo.

Como consequência, retificam--se dogmas impróprios e inter-pretações literais das Escrituras,que deturparam o Cristianismoprimitivo.

Nosso entendimento de Espíri-tos imperfeitos, habitantes de ummundo atrasado, não nos permitecompreender, em toda a sua ex-tensão, a perfeição da InteligênciaSuprema para a solução de todasas dificuldades que se apresentamno Universo infinito, e mesmomuitas das que são peculiares aonosso orbe.

Mas as Revelações trazidas pe-los Espíritos superiores, à frente oEspírito de Verdade, referido peloMestre, quando prometeu enviaro Consolador, permitem-nos en-tender, com segurança, muitasverdades e lições que haviam sidodistorcidas, já que Jesus não pode-

ria referir-se com clareza a muitosassuntos e temas inteiramentedesconhecidos pelos homens desua época.

A vida nas esferas espirituais e adoutrina da reencarnação são exem-plos de realidades de difícil abor-dagem e entendimento, há doismil anos, razão pela qual só foramreferidas de forma indireta e ale-górica.

Falar da vida futura, após a mor-te do corpo, da criação dos Es-píritos, da evolução e de muitasoutras verdades desconhecidas, se-ria perturbar, sem proveito, o en-tendimento de criaturas inteira-mente despreparadas para ouvir ecompreender essas realidades.

Por esse motivo, o Mestre limi-tou seus ensinos, na-quela oportunida-de, ao estritamen-te necessário àsretificações doserros e enganosmais comuns,prometendopara o futu-ro a presen-ça do Es-pírito deVerdadeentre oshomens,para acomple-mentaçãode seus ensi-nos e a revela-ção de coisas no-vas, explicando--as claramentepara que todos

entendam o que está dito sobforma alegórica.

É o Consolador, o Espiritismo,que complementa e esclarece o quehá dois mil anos não seria com-preendido.

Com o objetivo de servir sem-pre, o Cristo não somente reti-ficou os erros e enganos, que do-minaram no mundo antigo pormuitos milênios, mas tambémconvenceu a grande maioria daHumanidade quanto à existênciado Deus único que, antes dele, sóera crença do povo hebreu.

No campo moral, suas lições ser-vem de sustentáculos permanentespara todos os que procuram ocaminho do bem, do amor a Deussobre todas as coisas e do amor aosseus semelhantes como a si mes-

mos, para os humildes de cora-ção, para orientar os indecisos

e os que estacionam nasenda evolutiva.

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Serve o Mestre de luz perma-nente para o mundo que governa,em nome do Pai, mostrando o ca-minho certo para todos que oprocuram:

“Eu sou o Caminho, e a Verda-de e a Vida”.

Para os que seguiram as sendaserradas dos crimes e dos procedi-mentos maus de diversas ordens,não os abandona o Mestre, ser-vindo-lhes de promessa viva eacenando-lhes com a possibili-dade de retorno à normalidade eà redenção espiritual, desde quecumpridas as determinações dasleis divinas.

Combateu permanentementeo orgulho, o egoísmo e seus deri-vados, desde seu nascimento emum ambiente simples, presencia-do apenas por sua Mãe Santís-sima e rodeado por animais de

uma manjedoura, até o términode sua excepcional missão, quan-do pede ao Pai que perdoe seusalgozes, por não saberem o queestavam fazendo.

Manteve a simplicidade duran-te o período em que esteve entreos homens, ministrando os ensi-namentos mais elevados que aHumanidade conhece.

“Uno com o Pai”, representasempre a vontade, a sabedoria e oamor do Criador, mas jamais de-clarou-se Deus, como entendeu oCristianismo deturpado pelo en-tendimento dos homens.

Escolheu para seus discípulosdiretos criaturas simples e de boavontade, entre pescadores e traba-lhadores comuns, que continua-ram sua obra de esclarecimento ede amor, registrando para a poste-ridade tudo o que aprenderam e

assimilaram no re-lacionamentocom o MestreIncomparável.

Os Evange-lhos,escritos pordois dos após-

tolos do Mestre (Mateus e João) epor outros dois cujos conheci-mentos vieram através dos relatosdos discípulos (Marcos e Lucas),são as luzes permanentes lega-das a todos os que procuram seuaperfeiçoamento moral, lastreadono que há de mais edificante nestemundo.

A missão de Jesus, desempe-nhada junto aos homens, foi e éde paz e amor, servindo semprecomo enviado de Deus.

Seus ensinos e exemplos edifi-cantes, em um mundo atrasado,pela ignorância de seus habitantesda época, não foram entendidosnem aceitos senão por um peque-no número dos que o ouviram.

Ainda hoje, decorridos vinte sé-culos de sua presença na Terra,apesar da divulgação de seu Evan-gelho pelas religiões cristãs, suas li-ções não foram absorvidas e viven-ciadas como seria de desejar.

É que o nosso mundo, que pro-grediu bastante, no que se refere aconhecimentos e interesses de or-dem material, não evoluiu moral-mente no mesmo nível.

Mas o Cristo continua servindosempre, como paradigma e mode-lo, para seus irmãos da retaguarda.

A evangelização da alma coletivada Humanidade, que representa oentendimento e a vivência dos en-sinos e das exemplificações de Jesus,o Mestre, o Governador espirituale o modelo a ser seguido, será o úni-co caminho para a conquista da fra-ternidade, do amor e da concórdiaentre os habitantes deste mundo,para que ele possa aspirar a tão es-perada Era de Regeneração.

s sucessivas ondas de per-fume carreadas pelos ven-tos suaves da primavera

faziam parte do festival de alegriaque dominava a Natureza.

As folhas de mangueiras enfei-tavam as portas das casas da al-deia, significando fecundidade emabundância, e o ashram se encon-trava ornamentado de festões deflores de laranjeiras.

As pessoas transitavam felizes,ornadas de guirlandas coloridas, eas virgens descalças exibiam osbraceletes e guizos reluzentes, as-sim como as joias cintilantes queadornavam os sáris leves, doura-dos uns, prateados outros.

Enfeitadas com esmero e pin-tadas, aguardavam o Ilumina-do que deveria chegar, quaisnoivas ansiosas pelas núpciasanunciadas.

Crianças gárrulas, vestidas comcuidado, corriam de um para ooutro lado, como abelhas opero-sas, embora não produzissem na-da além da música estridente dosgritos e das risadas...

O Sol ameno beijava a terraverde exultante de vitalidade comcarícia gentil.

De quando em quando, soa-vam os clarins anunciadores, in-formando a proximidade da co-mitiva que conduzia o Esperado.

O palanque no centro doashram estava repleto com as au-toridades e as personagens locaisde maior destaque.

Todos O aguardavam com ex-pectativa mal disfarçada.

Esperava-se que Ele chegassenuma carruagem ajaezada de ge-mas preciosas e ornada de ouro,conduzida por corcéis brancosigualmente recobertos de tecidoscaros...

...Ele, porém, chegou caminhan-do, pés descalços, cabeça erguida ecorpo coberto somente pela túni-ca em tonalidade açafrão, que lhedescia até ao solo.

Nenhum adorno se destacavana indumentária.

Os seus acompanhantes eram,também, destituídos de luxo e deostentação.

A multidão não pôde escondero desencanto.

Aguardava-se um rei poderosoque representava Brahma na Ter-ra, e o mensageiro parecia tão po-bre e sem valor!

Ele dirigiu-se ao estrado, subiu,calmamente, os degraus, saudouas personalidades com humil-dade, em melodiosas expressõesNamastê!.1

As pessoas acercaram-se maise um silêncio cósmico facultou aoportunidade para Ele falar...

...Eu venho em nome da LuzInapagável, que antecedeu ao tem-po e ao espaço.

Eu sou o portador da Sua clarida-de, a fim de que toda a sombra se diluanas mentes e nos corações humanos.

Eu sou a luminosa verdadeque desalgema o Espírito da do-minadora sombra da ignorância.

Eu sou o archote da esperançapara quem busca, sou o socorro pa-ra quem o necessita.

AO Iluminado

1“O deus que está em mim saúda o deusque está em você.”

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Não tenho nada, além disso, nemme interessa possuir outras coisas...

Eu sou!...Ante a expectação e a onda

de ternura que invadiu as pes-soas, um apelo maternal rompeua pausa que Ele fez, rogando:

– Minha filha é cega! – e er-gueu-a nos braços.

Ele sorriu, misericordioso, e,dos Seus olhos, saíram raios bri-lhantes, atingindo a criança invi-dente, que gritou: – Vejo! – e pror-rompeu em pranto...

Outrem suplicou:– Cura as minhas feridas!Ele estendeu as mãos que es-

praiaram radiante luz, que logocicatrizou as úlceras...

...E todos que se encontravamnas trevas das aflições suplica-ram remendos para os seus cor-pos corrompidos, enquanto Ele,curando-os, iluminou-lhes as al-mas equivocadas.

Quando a noite chegou estrela-da, e Ele partiu, uma estrada es-plendendo em luz feérica se esten-deu da aldeia humilde, perdendo--se na direção do infinito.

O Iluminado compadecido,que nada possuía, era o amor quetudo pode e que se dá, deixandoperene claridade naqueles quedeambulam na escuridão da infe-rioridade.

Rabindranath Tagore

(Página psicografada pelo médium Dival-

do Pereira Franco, na sessão mediúnica

da noite de 7 de julho de 2008, no Cen-

tro Espírita Caminho da Redenção, em Sal-

vador, Bahia.)

9Março 2009 • Reformador 87

Nas nuvens que correm tranquilas no espaço,

nos lírios do campo, nas aves do céu,

na azul borboleta que em grácil compasso

voeja entre flores do Sol no almo véu;

Nos olhos fulgentes de meiga criança

que pula travessa na alegre campina;

no lar onde o Amor sempre nutre a Esperança,

e pela oração colhe a Bênção divina;

Em tudo isso escuto, sorrindo e cantando,

a música suave e sublime da Paz –

da paz que reflete do céu, vez em quando,

a abóbada em festa de um Cosmo loquaz!...

A paz! A alegria na Terra, o sorriso

dos homens unidos em Fraternidade!

A paz! Nem tristeza de olhar indeciso,

nem manchas cruéis na alma da Humanidade!...

Será desse modo, ó queridos irmãos,

o Reino de Deus por Jesus prometido!

Cantemos felizes, nos demos as mãos,

Lancemos de nós qualquer mal fementido...

Oremos, contritos, por todas as almas

sujeitas a corpos carnais que ainda são,

que pensem na Paz e procurem ser calmas

e tenham, na Terra, nova encarnação!...

A Terra há de ser um cenário de luz

sem guerras, sem crimes, sem ódio tenaz,

se nós, todos nós, com fé viva em Jesus,

cumprirmos, sem falha, o Evangelho da Paz!

Inaldo Lacerda Lima

A paz

ma perguntinha, amigoleitor:

Considerando que oAmor é a meta suprema do Espí-rito, promovendo sua harmoniza-ção com os ritmos do Universo, aque distância estamos dele?

Certamente longe, o que é fa-cilmente demonstrável por nos-sa incapacidade em sustentar o equilíbrio e a felicidade, ja-mais ausentes em quem chegoulá.

Se há dois mil anos estamos deposse do Evangelho, a reta perfei-ta para o Amor, por que tardamostanto?

Isso é natural? É tão demorado? Não poderíamos apressar o

passo? Bem, vamos considerar, em

princípio, que não somos vege-tais, com tempo certo para germi-nar, crescer, florescer e frutificar.

Somos seres pensantes.Não progredimos por força das

coisas.É preciso forçar as coisas.Não amadurecemos para o

amor.É exercitando amor que ama-

durecemos.Digamos que depende de nós.

Obviamente, nestes dois milanos de Cristianismo, em múl-tiplas reencarnações, tivemos con-tato com o Evangelho. Estive-mos ligados a círculos religio-sos que têm Jesus por Mestre eSenhor.

Talvez tenhamos até transitadopor igrejas, conventos, monasté-rios, abadias, integrados na hie-rarquia religiosa.

Por que, então, essa dificuldade?Por que não vivenciamos o Evan-

gelho em plenitude?Por que, sabendo que o amor é

essencial, não conseguimos exer-citá-lo?

Talvez o problema esteja no fa-to de que Jesus não faz parte donosso cotidiano.

Se um pobre bate à nossa por-ta...

Se alguém nos prejudica...Se enfrentamos um problema...Se surge uma tentação...Encaramos essas situações à luz

do Evangelho, que manda atenderquem nos procura, perdoar quemnos ofende, confiar em Deus, cul-tivar a integridade?

Se você é capaz, parabéns leitoramigo! Pode interromper a leiturae cuidar da vida!

Se não pertence a essa minoria,pergunto-lhe:

Como podemos mudar isso?Como trazer Jesus para o dia a

dia?Há propostas interessantes.

Uma elementar:Estudar. O conhecer é a antes-

sala do fazer.Impossível vivenciar um prin-

cípio sem nos envolvermos comele, sem realizarmos um esforçopor assimilá-lo em plenitude. An-tes de cumprir o Evangelho, é pre-ciso mergulhar nesse universomaravilhoso que se desdobra nasnarrativas da Boa Nova.

É impressionante o desconhe-cimento geral em torno do as-sunto.

Raros saberiam definir quemforam os autores dos textos evan-gélicos.

Raros saberiam citar três prin-cípios apresentados por Jesus emO Sermão da Montanha.

Raros contariam na íntegra, eas interpretariam, parábolas co-mo O filho pródigo ou O adminis-trador infiel.

Como vivenciar a moral cristã,se não estamos familiarizadoscom seus conceitos?

Bem, talvez falte tempo...Forçoso reconhecer, entretan-

to, que tempo é uma questão depreferência. Sempre encontramos

No cotidiano

10 Reformador • Março 2009 88

URI C H A R D SI M O N E T T I

Capa

tempo para fazer o que realmentedesejamos.

Um dia tem mil, quatrocentos equarenta minutos.

Por que não reservar vinte paraestudar o Evangelho?

Embora representem perto deum e meio por cento de nosso dia,esses vinte minutos diários soma-rão cento e vinte horas no ano!

É muito tempo a favorecer im-portante aprendizado!

Para reforçar esse estudo, sedi-mentando melhor o conhecimen-to evangélico para a vivência daslições de Jesus, há uma prática sa-lutar, que vem sendo estimuladapelos órgãos de unificação doMovimento Espírita brasileiro – ochamado Evangelho no Lar.

É de uma simplicidade mar-cante. Pode ser exercitado em to-dos os níveis sociais.

Consiste numa reunião em fa-mília, em dia e horário determi-nado, para conversar sobre oEvangelho.

Nada de estudos profundos,conceituação erudita, voos deintelectualidade.

Apenas singelo bate-papo so-bre as lições de Jesus.

Como norteamento, obra prin-cipal, O Evangelho segundo o Espi-ritismo, em que Allan Kardec,acertadamente, comenta o aspec-to moral do Evangelho, o maisimportante.

Reunidos os membros da casa,naturalmente aqueles que quei-ram participar (o ideal seria a pre-sença de todos), faz-se uma ora-

ção e pequena leitura do trechoescolhido.

Em seguida, os participantesconversam a respeito, trocandoideias. Reunião singela, mas de re-sultados surpreendentes na eco-nomia psíquica do lar.

Há um recurso muito usado naatualidade por algumas escolaspsicológicas: a terapia em grupo.

Pessoas com problemas simila-res conversam, sob assistência deum profissional. Trocam ideias,falam de suas vidas, expõem seusconflitos, buscando uma emula-ção para superar os desajustes.

O Evangelho no Lar é diferente.Reunimo-nos, sob a incompará-vel assistência de Jesus, para falarde seus ensinos, buscando neles ainspiração para que nos mante-nhamos ajustados.

Na terapia de grupo as pessoasexpõem as sombras, tentando en-contrar a luz.

No Evangelho no Lar acende-mos a luz para espantar as som-bras.

Frequentemente, nos serviçosde atendimento fraterno, ouvi-mos pessoas reclamarem que seular foi invadido por Espíritos

11Março 2009 • Reformador 89

Capa

obsessores. O ambiente está péssi-mo, os familiares não se enten-dem, a desarmonia impera…

Há aqui um equívoco.O ambiente de uma casa não

está ruim porque foi invadida porEspíritos perturbadores.

Foi invadida por Espíritos per-turbadores porque o ambiente es-tá ruim.

A partir dessa conjunção deambiente ruim com influênciaespiritual, sustentam-se desen-tendimentos que, não raro, cul-minam com a desagregação dafamília e a separação do casal,gerando sofrimentos e desajustespara os filhos, as vítimas inocen-tes dessas situações constrange-doras.

Falando em crianças, às vezesum filho está ardendo em febre,com uma perigosa infecção. Ospais se desdobram em cuidados,extremamente preocupados.

Mal sabem que contribuírampara essa situação.

Cultivando desentendimentose brigas, contaminaram com vi-brações negativas a atmosfera psí-quica do lar.

A criança tem um psiquismosensível, que reflete o ambienteem que se situa. Resultado: seusmecanismos imunológicos sãoafetados, favorecendo a invasãobacteriana.

Tivessem os pais consciênciadesse problema e haveriam decultivar entendimento e harmo-

nia no lar, por amor a seus filhos,com todo empenho em trazerJesus para o cotidiano.

Fica o convite, leitor amigo: ins-tituamos o Evangelho no Lar. Tra-gamos o Mestre para o cotidiano.Vamos aprender a falar em Jesus, apensar com Jesus, a cumprir o queJesus ensinou, no lar, na rua, no localde trabalho, na vida em sociedade.

Se você me permite nova com-paração matemática, são apenastrinta minutos dos dez mil e oi-tenta que a semana nos concede.

Investimento mínimo na eco-nomia do tempo, a render precio-sos dividendos de harmonia e pazpara nós e nossa família.

12 Reformador • Março 2009 90

Capa

Reformador: Por que e quando seorganizou o “Movimento Nacio-nal da Cidadania pela Vida – Bra-sil Sem Aborto”?Jaime: O “Movimento Nacional daCidadania pela Vida – Brasil SemAborto” foi oficialmente criado nodia 14 de julho de 2006, em umaPlenária Nacional dos movimentosem defesa da vida, realizada emBrasília. Naquela ocasião participa-ram representantes pró-vida de 10Estados da Federação. A propostade criação do Movimento BrasilSem Aborto foi aprovada com onome de “Campanha Nacional pe-la Vida – Brasil Sem Aborto”. Fo-mos designado Coordenador Na-cional da mais nova e promissoraorganização pró-vida do Brasil.Portanto, o Movimento Brasil SemAborto surge como uma necessida-de urgente de mobilização e orga-nização da sociedade civil, com o

objetivo de unificar os movimen-tos pró-vida já existentes, estimu-lar novos grupos e, principalmente,realizar um trabalho am-plo de reflexão visandoconscientizar o povobrasileiro sobre asameaças permanen-tes à vida. Logo apósa Plenária Nacionalestivemos em 10 Es-tados com o propó-sito de criar os pri-meiros Comitês Esta-duais Brasil Sem Abor-to. Realizamos no dia 28de agosto de 2006a primeira Ple-nária Nacio-

nal deste movimento, com a par-ticipação de representantes de10 Comitês Estaduais, e apro-

vamos a primeira Resolu-ção, na qual foram defi-

nidos os princípios fun-damentais do Movi-mento. De lá para cá

o Movimento Bra-sil Sem Aborto temcrescido e é hojeuma referência na-

cional e internacio-nal. Como espírita,

reconheço a enor-me contribuição

13Março 2009 • Reformador 91

JA I M E FE R R E I R A LO P E SEntrevista

Mobilização em

Defesa da Vida e

Contra o AbortoJaime Ferreira Lopes esclarece sobre a origem e a evolução do “Movimento

Nacional da Cidadania pela Vida – Brasil Sem Aborto”, que desde o início contacom o apoio da Federação Espírita Brasileira. Alerta os espíritas para estarem

atentos e participativos nos movimentos em defesa da vida

dos Espíritos superiores que coor-denam e organizam o trabalho emdefesa da vida em nosso País e noExterior.

Reformador: Quais têm sido asprincipais ações do Movimento?Jaime: Em tão pouco tempo, poisestamos completando três anosde existência, já realizamos muitoem termos de mobilização dopovo brasileiro. Realizamos doisatos públicos na Praça da Sé, SãoPaulo, e duas marchas nacionaisem Brasília, com a participação decaravanas de vários Estados da Fe-deração. Manifestações públicascontra a legalização do aborto fo-ram feitas, no ano de 2007, emJoão Pessoa, Manaus, Fortaleza eSalvador; nestas duas últimas ci-dades as manifestações de rua ti-veram como motivação a visita doministro da Saúde, que tem traba-lhado publicamente pela legaliza-ção do aborto no Brasil. Lança-mos uma publicação denominadaCadernos Brasil Sem Aborto como objetivo de subsidiar os minis-tros do Supremo Tribunal Federalcom os argumentos contrários aouso das células-tronco embrioná-rias em pesquisas científicas. Comapoio do Movimento, a “Exposi-ção em Defesa da Vida”, organiza-da pela Associação Estação daLuz, já percorreu shopping-cen-ters de diversas capitais do Norte eNordeste do País, em que milha-res de pessoas têm a oportunidadede visualizar através de pôsterese da mídia esclarecimentos sobre oque é um aborto e de conversarcom os organizadores da exposi-

ção sobre o assunto. Através daInternet, estamos construindouma lista de informações sobrea defesa da vida, que já alcançou acifra de 25 mil inscritos, além dapágina eletrônica que tem sidotambém o principal instrumentode divulgação do Movimento e desuas ações.

Reformador: Como tem ocorrido aparticipação dos espíritas?Jaime: Em alguns Estados os espíri-tas estão na vanguarda do Movi-mento como coordenadores decomitês ou associando-se a lideran-ças católicas e evangélicas nas coor-denações estaduais. Em Manaus,por exemplo, o Comitê, que reúnetambém católicos e evangélicos,tem sua sede no prédio da Federa-ção Espírita Amazonense. O pri-meiro comitê municipal foi criadona cidade de Ceris (GO) por ini-ciativa de trabalhadores espíritas,agregando, também, pessoas de ummunicípio vizinho. Nos atos públi-cos em São Paulo a participação dosespíritas é intensa na própria orga-nização destes eventos. O mesmo seobservou na organização e realiza-ção das duas marchas nacionais deBrasília, com a presença marcanteda Federação Espírita do DistritoFederal e da Federação Espírita Bra-sileira. Aliás, há que se ressaltar oapoio da FEB desde o início daconstrução do Movimento BrasilSem Aborto através do presidenteNestor João Masotti e do diretorAntonio Cesar Perri de Carvalho,no esforço que fazem para estimu-lar os espíritas brasileiros ao enga-jamento nessa causa. Este último,

como representante da FEB, par-ticipa do Conselho Diretor do Mo-vimento, sendo um dos vice-pre-sidentes, juntamente com outrasinstituições nacionais como a Con-ferência Nacional dos Bispos doBrasil (CNBB) e a Rede Brasileirado Terceiro Setor (REBRATES).

Reformador: Nesse ínterim já foramconseguidas algumas vitórias im-portantes?Jaime: Duas grandes vitórias fo-ram alcançadas. A primeira foina Comissão de Seguridade So-cial e Família da Câmara dosDeputados, quando derrotamoso Projeto de Lei 1.135/1991, quepropõe a descriminalização doaborto, por 33 votos a zero. Vitóriaainda maior alcançamos na Co-missão de Constituição, Justiça eCidadania, quando por 54 votosa 7 este Projeto de Lei foi consi-derado inconstitucional. Se nãofosse a iniciativa de um deputadogovernista, que conseguiu as assi-naturas necessárias para apresen-tação de um recurso, solicitandoque este projeto seja apreciadopelo Plenário da Câmara, o mes-mo teria sido arquivado. Estamosagora na expectativa de que oPlenário possa apreciar o tal re-curso a qualquer momento nesteano. Uma terceira vitória foi acriação da CPI do Aborto, pro-posta pelo deputado Luiz Bas-suma, com o fato determinadode investigar a prática de abortoclandestino. Ninguém, nem mes-mo os mais otimistas, poderiamimaginar que a Câmara Federalcriaria esta CPI. No entanto, tal

14 Reformador • Março 2009 92

vitória ainda está por ser consoli-dada, pois, para que a CPI real-mente se efetive, os partidos te-rão que fazer as indicações deseus representantes, sem os quaisela pode ser arquivada ou cair noesquecimento.

Reformador: Continua o risco deaprovação do aborto?Jaime: Sem dúvida, e devo escla-recer que, mesmo que derrotemoso PL 1.135 no Plenário da Câma-ra nesta legislatura, nada impedeque um parlamentar apresente no-va proposta de legalização do abor-to na próxima legislatura (2011--2014). Devemos estarprontos para recomeçartudo de novo. Portanto,nosso trabalho é per-manente e devemos es-tar sempre vigilantes.Nãohá trégua. Daí a impor-tância de mantermos amobilização do povobrasileiro, unindo todospara o trabalho em defe-sa da vida.

Reformador: Há pro-gramações de eventos paraeste ano?Jaime: Está programado para odia 28 de março o terceiro AtoPúblico, na Praça da Sé, em SãoPaulo, e, nos dias 28 a 30 de agos-to, a realização, em Brasília, doProjeto “Cultura, Cidadania eVida”, com abertura oficial no dia28; na manhã do dia 29, umWorkshop sobre Cultura da Vida,e à noite apresentação do Musical“Show Vida” do Grupo Arte Nas-

cente; e, no dia 30, a realização da3a Marcha Nacional da Cidadaniapela Vida e pela Paz. Em 2009,o Conselho Diretor do MovimentoBrasil Sem Aborto envidará es-forços para a criação de ComitêsMunicipais em todo o País, poisprecisamos construir uma basesocial forte e bastante organizadado movimento. Portanto, quemquiser fundar um Comitê Mu-nicipal Brasil Sem Aborto devereunir os interessados e comu-nicar à Sede do Movimento, emBrasília, pelo endereço eletrôni-co: [email protected] oupelo telefone (61)3345-0221.

Reformador: Qual o seu recado aosleitores de Reformador?Jaime: Nós, os espíritas brasilei-ros, não podemos assistir passiva-mente ao fortalecimento cada vezmaior dos movimentos pela lega-lização do aborto no Brasil. Preci-samos participar deste grande mo-vimento nacional em defesa da vi-da, associando-nos a todos os ho-

mens e mulheres de boa vontade,das mais diversas correntes reli-giosas e civis. A direção da FEB ede algumas Federativas, como as doDistrito Federal e Amazonas, têmdado o exemplo, participando di-retamente na construção do Mo-vimento Brasil Sem Aborto. En-tendemos que em todos os Esta-dos as Federativas deveriam esti-mular, em cada município, os tra-balhadores espíritas a tomarem ainiciativa de propor a constitui-ção de um Comitê Municipal Bra-sil Sem Aborto, convidando, con-clamando as instituições, enti-dades, grupos e pessoas a dele

participarem. Estaría-mos dando demonstra-ção de um enorme apre-ço à causa da vida e,desta forma, tornandoainda mais efetiva aCampanha Em Defesada Vida, da FederaçãoEspírita Brasileira. De-vemos atender aos ape-los dos Espíritos supe-riores, que vêm nos ad-moestando para um en-gajamento mais profí-cuo na defesa da vida,uma vez que a prática do

aborto é um mal que deve ser com-batido permanentemente, pois éuma transgressão ao princípiofundamental do direito à vida doser humano, que começa na con-cepção. Há desdobramentos espi-rituais, inclusive com o crescimen-to cada vez maior de processos ob-sessivos. Vale lembrar que no mun-do, a cada ano, são realizados cercade 50 milhões de abortos.

15Março 2009 • Reformador 93

morte não é o milagroso País do Sonho... Énovo passo na jornada do Grande Ideal. E, daeminência do monte a que somos conduzi-

dos pela Verdade, contemplamos o apagado Lilliputem que os homens se agitam.

Desenrola-se o panorama terrestre aos nossosolhos, mas não é a sátira ou o desprezo que provoca:é a piedade com o remorso dilacerante de não havercompreendido os pigmeus do orgulho e da vaidade,enquanto nos hospedamos em seu reino prodigiosode paixões e de brinquedos.

Quando passei do proscênio aos bastidores, epude repetir a mim mesma as palavras “está repre-sentada a peça”, fino estilete de amargura se me cra-vou no coração.

Desapontara a plateia sem ajudá-la. Frisara-lheem cores vivas o destempero, a maldade e a ignorân-cia e a ferretoara com o aguilhão candente da críticaexacerbada.

Ante a grotesca figura dos heróis de mentira, deiasas livres à revolta e perdi a oportunidade de servi-ço construtivo, zurzindo os pavões e as gralhas, osabutres e os chacais, que comigo representavam, fan-tasiados em autêntica pele humana.

Ah! se eu fosse um palhaço ou um bufão! – pensei.O riso, porém, dificilmente me aflorava à face.

Confrangeu-me, desde muito cedo, a tragédia da al-ma no purgatório humano, pus-me a indagar demim mesma a causa de tanta desgraça, e ante essarealidade terrena o pessimismo ressecou-me a fonteda alegria.

Detestava a superfície enganadora e – escafandris-ta da verdade – amava as profundezas do oceano davida, olvidando – ai de mim! – que a incursão noleito lodacento das águas nos constrange a revolverinutilmente a lama do fundo.

Usando das fortes lentes da investigação, tateei aschagas do organismo social, assombrando-me oespetáculo da miséria de todos os tempos...

Descobri a imoralidade, a depravação, a baixeza, alibertinagem, o despudor, o vício sob todas as for-mas; entretanto, à maneira de Freud, que fez a diag-nose espiritual da Humanidade, catalogando-lhe oscomplexos enervantes e sombrios, sem, contudo, lheoferecer remédio providencial, igualmente indiqueio pântano e o espinheiro, sem traçar, por mim mes-ma, sólidas diretrizes para a sua extinção.

Condenei os abusos de nosso tempo, clamei con-tra o cativeiro que acorrentou a natureza simples eluminosa ao tronco da hipocrisia, esvurmei as feri-das de nossas instituições, afrontando a ira e o escár-nio dos Cresos e dos Tartufos, dos ditadores e dossalvadores, das comunidades e das igrejas, que afive-lam máscaras sórdidas, e disso não me arrependo.

A verdade é uma fonte cristalina, que deve correrpara o mar infinito da sabedoria.

A perfeição social será também obra-prima davida.

Sem o buril robusto do verbo criador e regenera-tivo, a brutalidade da ignorância não cederá ummilímetro à obra de beleza que nos cabe realizar...

Entretanto, gravando conceitos apaixonados con-tra os sistemas políticos e religiosos, esquecia-me deque o libelo mais admirável, sem a íntima luz dacompreensão santificante a lhe clarear a estrutura,será sempre mera demagogia.

No meu peito pulsava um coração profundamen-te humano, retalhado de angústia na contemplaçãodos silenciosos e incessantes dramas do infortúnio;contudo, não consegui entesourar suficiente piedadepara com os maus, adoçando a agrura de minhapalavra atormentada e dolorida.

16 Reformador • Março 2009 94

A

Presença de Chico Xavier

De longe

Se pude compor um cântico literário, destinado aexaltar os meus anseios de maternidade espiritual nomundo, guardo o pesar da frustração, por haver fal-tado dentro dele o acorde do entendimento.

A Terra é um paraíso no berço...O Gênesis, pela voz de Moisés, conta que o Se-

nhor, em pronunciando o fiat lux, apenas dividiu aclaridade e as trevas, sem aniquilar a noite; e quandodeterminou que o solo produzisse, apareceram aservas daninhas e as árvores frutíferas, esparzindosementes, segundo a sua espécie.

E ainda nos empenhamos no combate às sombras,e ainda vivemos em plena seara verde, no domicílioplanetário, até hoje...

Também relata o livro venerável que o Todo--Poderoso descansou ao sétimo dia, depois de estabe-lecida a instituição terrestre; entretanto, que repousopoderia haver para Adão decaído e Eva enganada, emsuprema desesperação, após o banimento do Éden?

A vida humana é uma torre, que erguemos para oregresso à sublime pátria de origem; mas todos have-mos de cozer o áspero tijolo da experiência e de pre-parar o cimento da verdadeira fraternidade com aspróprias mãos, ligando-os na construção do edifíciodo aperfeiçoamento comum, e, então, saberemos econquistaremos o direito de analisar com lucidez osfatos em torno de nós.

Nesse aspecto da luta, o trabalho que pretendi exe-cutar foi incompleto.

Rendi sincero preito à religião do amor e da bele-za e acreditei nos deuses interiores que nos dirigemos sonhos, mas oficiei com vinagre e fel no altar demeu culto.

Amor é perdão infinito, esquecimento de todomal, lâmpada de silencioso serviço a todos, sem dis-tinção, alimentada pelo óleo invisível da renúnciaedificante...

Beleza é bondade fecunda, compreensão perma-nente, inalterável serenidade da alma para ajudar,sem restrições, a todos os romeiros da regeneração eda dor...

E os deuses interiores somente erguem tronos deluz em nossa inteligência, quando lhes situamos oOlimpo nos ideais mais altos do plano excelso...

Eis-me, porém, de coração novamente voltadopara a floresta humana, agora não mais para darde-jar-lhe as serpentes, apontar-lhe os despenhadeiros,regar-lhe com o petróleo da repugnância o charcodas misérias sociais, mas, sim, para avivar-lhe as flo-res que hesitam em exalar o perfume da caridade,acolher-lhe as sementes no celeiro da fé e pensar-lheas úlceras, aliviando os corações feridos que lhe atra-vessam os cipoais; eis-me de olhar pousado no futu-ro, aspirando por trabalho e paciência, a fim de auxi-liar a todos os companheiros de peregrinação, nasdolorosas vias do aprimoramento.

Percebo, enfim, a sublime herança de todos osidealistas e de todos os mártires, dos pensadores edos filósofos sacrificados...

Sinto agora a grandeza do fardo glorioso de quan-tos se imolaram para que o progresso comum con-quistasse mais uma gota de paz ou mais uma fímbriade luz.

Entendo, presentemente, o envenenamento de Só-crates, o sofrimento de Jan Hus, a fogueira de Gior-dano Bruno, o extermínio de Servet, a execução deBailly e os sarcasmos atirados à fronte de todos oscampeões da prosperidade espiritual do mundo...

Sobretudo, compreendo hoje o madeiro doCristo, que cimentou com suor, sangue e lágrimas oedifício da solidariedade mundial.

E em pensamento, arrojando-me ao chão adustoda velha Jerusalém de há quase dois mil anos, ajoe-lho-me entre o Divino Restaurador, içado ao posteoprobrioso, e a populaça irônica, digna de comisera-ção, e exclamo, tocada de novo ânimo para a vidarenovada:

– Senhor, que eu respeitei e admirei, entre osheróis santificados nas sombras da Terra, e que hojeprocuro amar com todas as fibras do meu coração,aberto ao sol da verdade, onde está a cruz redentoraque deve enobrecer meus ombros?

Fonte: XAVIER, Francisco C. Falando à Terra. Por Espíritos Diver-

sos. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. p. 203-207.

17Março 2009 • Reformador 95

Pelo Espírito Maria Lacerda de Moura

18 Reformador • Março 2009 96

undador da Filosofia Espí-rita.Esta identificação, logo abai-

xo do nome de Allan Kardec,insculpida na herma de bronzeem seu túmulo, localizado noCemitério do Père-Lachaise, emParis, é acompanhada de outrasentença que caracteriza aspec-tos fundamentais da Doutrinapor ele codificada em meados doséculo XIX:

Todo efeito tem uma causa. To-

do efeito inteligente tem uma

causa inteligente. O poder da cau-

sa inteligente está na razão da

grandeza do efeito.

Insculpida no frontispício dobusto, a frase imortalizada pe-lo escritor alemão Johann Wolf-gang von Goethe (1749-1832),e por outros pensadores, cinti-la possibilidades reencarnacio-nistas:

“Nascer, morrer, renascer aindae progredir sempre, tal é a lei”.

A herma e seu pedestal estãocomo que guardados num im-pressionante monumento funerá-rio de rochas de granito, caracte-rizando três autênticas pilastras emais uma pedra tabular sobre elas.É o dólmen de Allan Kardec, deautoria do escultor francês Char-les-Romain Capellaro (1826-1899),que se inspirou em sepulturas cél-ticas antigas, inaugurado em ceri-mônia solene em 31 de março de1870, pelas duas horas da tarde,quando se comemorava um anodo seu passamento.

No dia do sepultamento doCodificador, no Cemitério Mont-martre, em Paris, em 2 de abril de1869, às 12 horas, oradores se re-vezaram para relembrar o de-senlace ocorrido entre as 11 e 12horas de 31 de março daqueleano, em sua residência, situada naRua Sainte-Anne, 59, PassagemSainte-Anne.

Mais de mil e duzentas pessoas,dentre elas membros e médiunsda Sociedade Parisiense de Estu-dos Espíritas, amigos e simpati-

zantes, bem como representantesdo povo, acompanharam o corte-jo fúnebre, que “seguiu a rua deGrammont, atravessou os grandesbulevares, a rua Laffitte, Notre--Dame-de-Lorette, a rua Fontaine,

Recordando a desencarnação

de Allan Kardec1

140 anos (31/3/1869-31/3/2009)

FAD I LTO N PU G L I E S E

1Dados extraídos da obra Allan Kardec: oeducador e o codificador, de Zêus Wantuile Francisco Thiesen, v. 2, 2. ed. especial.FEB, 2004. p. 260-288.

os bulevares exteriores (Clichy) eentrou finalmente no CemitérioMontmartre [...]”.

Vários acompanhantes do fére-tro ouviram as palavras emocio-nadas do astrônomo e médium,membro da Sociedade Parisiensede Estudos Espíritas, Camille Flam-marion (1842-1925), que discur-sou por cerca de meia hora, após aoração proferida pelo Sr. Levent,exaltando a figura do mestre, dei-xando para a posteridade o seuemocionante depoimento:

Aos nossos pés dorme o teu en-

voltório, extinguiu-se o teu cére-

bro, fecharam-se-te os olhos

para não mais se abrirem, não

mais ouvida será a tua palavra...

[...] Mas, não é nesse envoltório

que pomos a nossa glória e a

nossa esperança. Tomba o cor-

po, a alma permanece e retorna

ao Espaço.

[...] A imortalidade é a

luz da vida, como este

refulgente Sol é a luz da

Natureza.

“Até à vista, meu caro

Allan Kardec, até à

vista!”.

A viúva Allan Kar-dec, Sra. Amélie-Ga-brielle Boudet (1795--1883), acompanhadados confrades mais ín-timos, certamente nar-rava a todos os ami-gos do casal o mo-mento doloroso. So-zinho em sua casa, naRua Sainte-Anne,Allan

Kardec organizava objetos pes-soais para mudar de residência.Eles iriam residir na “Avenue etVila Segúr, no 39, local, aliás, ondeKardec tinha casa de sua proprie-dade, pelo menos desde 1860”.Durante a azáfama para arrumare acondicionar livros de sua bi-blioteca, correspondência, mobi-liário e utensílios domésticos, oCodificador, sempre solícito, re-solve atender “um caixeiro de li-vraria” interessado em adquirirexemplar da Revue Spirite, e, derepente, cai pesadamente ao so-lo, fulminado pela ruptura de umaneurisma.

Alexandre Dellane, pai do fa-moso escritor Gabriel Dellane(1857-1926), provavelmente omais desolado de todos, lembra-va-se do seu esforço para tentarreanimar o amigo de tantos anos.Chamado pelo caixeiro e peloscriados de Allan Kardec, atendeucom rapidez e, ao encontrá-loinerte, “[...] friccionou-o, magne-tizou-o, mas em vão. Tudo estavaacabado”.

O Sr. E. Muller, “grande amigode Kardec e de sua esposa”, duran-te o sepultamento certamente re-vivia as emoções de tê-lo visto lo-go após a desencarnação, visãoessa que ele estampara em cartaenviada no mesmo dia ao amigocomum, Sr. Finet, de Lyon, nessestermos:

[...] Penetrando a casa, com

móveis e utensílios diversos

atravancando a entrada, pude

ver, pela porta aberta da grande

sala de sessões, a desordem que

acompanha os preparativos pa-

ra uma mudança de domicí-

lio; introduzido numa peque-

na sala de visitas, que conheceis

bem, com seu tapete encarnado

e seus móveis antigos, encon-

trei a Sra. Kardec assentada no

canapé, de face para a lareira;

ao seu lado, o Sr. Delanne; dian-

te deles, sobre dois colchões co-

locados no chão, junto à porta

da pequena sala de jantar, ja-

zia o corpo, restos inanimados

daquele que todos amamos. Sua

cabeça, envolta em parte por

um lenço branco atado sob o

queixo, deixava ver toda a fa-

ce, que parecia repousar doce-

mente e experimentar a sua-

ve e serena satisfação do dever

cumprido.

O Sr. Levent, discursando emnome da Sociedade Parisiense deEstudos Espíritas, a SPEE, da qualera vice-presidente, ainda maisacentua as emoções de todos, aorelembrar “a fisionomia ao mes-mo tempo benevolente e austera,o tato perfeito, a justeza de apre-ciação, a lógica superior e incom-parável do mestre [...]”.

Cento e quarenta anos após adesencarnação de Allan Kardec,sua memória continua viva, maisdo que a de qualquer outra perso-nalidade histórica, cujos restosmortais estão sepultados no Père--Lachaise. Próximos ao seu mau-soléu, “o segundo mais procuradopelos visitantes”,2 estão os despo-

19Março 2009 • Reformador 97

2A Tarde Cultural, Salvador (BA), 12 dejunho de 2004, p. 6 e 7.

jos de celebridades como YvesMontand (1921-1991), cantor eator popular; Guillaume Apolli-naire (1880-1918), escritor e poe-ta nascido em Roma; MarcelProust (1871-1922), escritor fran-cês autor de Em Busca do TempoPerdido, dentre outros famosos.

Mestre, o símbolo dos teusdespojos está na França. Nem to-dos os espíritas brasileiros, teusdiscípulos, que te amamos, po-demos visitar o dólmen druídi-co, que representa a memória de

tua passagem na Terra, durantequase 65 anos, quando consoli-daste a promessa feita por Jesusda vinda do Consolador, ao qualdenominaste Espiritismo, cujosprincípios básicos deixaste gra-fados em cinco obras fundamen-tais que escreveste em conjun-to com os Espíritos superiores,os quais acompanharam a tuaemocionante jornada.

É nessa coletânea notável quenos legaste, de conteúdo cientí-fico, filosófico e religioso, que

podemos então sempre rever--te, cada vez mais intenso e vivo,em todas as atividades do Mo-vimento Espírita brasileiro, pres-tando-te, dessa forma, significati-va homenagem.

Envolvendo-te, portanto, nestaatitude de respeito e consideração,com as energias das mais quintes-senciadas vibrações, como expres-são da nossa gratidão, associamo--nos às palavras de despedida deFlammarion: “Até à vista, meu caroAllan Kardec, até à vista!”.

20 Reformador • Março 2009 98

llan Kardec era de estatura meã. Robusto,cabeça ampla, redonda, firme, com feiçõesbem pronunciadas e olhos pardo-claros,

mais parecia alemão que francês. Era ativo e tenaz,mas de temperamento calmo, precavido e realistaaté quase à frieza, cético por natureza e por edu-cação, argumentador lógico e preciso, e eminen-temente prático em suas ideias e ações, distan-ciado assim do misticismo que do entusiasmo...Ponderado, lento no falar, sem afetação, com ine-gável dignidade, resultante da seriedade e da ho-nestidade, traços distintivos de seu caráter. Semprocurar discussões nem a elas fugir, mas nun-ca provocando qualquer comentário a respeito doassunto a que consagrara sua vida, recebia ama-velmente os numerosos visitantes que acorriamde todas as partes do mundo para conversar com

ele a respeito das ideias de que era o mais auto-rizado expoente, respondendo às consultas e àsobjeções, resolvendo dificuldades, e dando in-formações a todos os investigadores sérios, comos quais falava franca e animadamente. Em algu-mas ocasiões apresentava fisionomia radiante, comum sorriso agradável e prazenteiro, se bem que,por causa da sobriedade do seu todo, jamais o vi-ram rir.

Entre os milhares de visitantes, encontravam--se pessoas de alto nível no mundo social, literá-rio, artístico e científico. O imperador NapoleãoIII, cujo interesse pelos fenômenos espíritas nãoera nenhum segredo, mandou chamá-lo váriasvezes, e com ele manteve longas palestras, nas Tu-lherias, acerca das doutrinas expostas em O Livrodos Espíritos.

Traços físicos e morais de Kardec

Anna Blackwell, que conheceu de perto Allan Kardec, cujas obras fundamentais traduziu para a línguainglesa, deixou para a posteridade essa página referente ao Codificador:

(Traduzido das p. 169-170 de The History of Spiritualism, v. 2, da autoria de Arthur Conan Doyle.)Fonte: Reformador de março/1969, p. 8(52). Texto incluído na obra Allan Kardec: o educador e o codificador, de Zêus Wantuile Francisco Thiesen. Ed. FEB, v. 2, p. 273.

A

Erguer e ajudar

21Março 2009 • Reformador 99

Esf lorando o EvangelhoPelo Espírito Emmanuel

“E ele, dando-lhe a mão, a levantou.”

(ATOS, 9:41.)

Fonte: XAVIER, Francisco C. Fonte viva. 36. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 33.

uito significativa a lição dos Atos, quando Pedro restaura a irmã Dorcas

para a vida.

Não se contenta o apóstolo em pronunciar palavras lindas aos seus

ouvidos, renovando-lhe as forças gerais.

Dá-lhe as mãos para que se levante.

O ensinamento é dos mais simbólicos.

Observamos muitos companheiros a se reerguerem para o conhecimento, para a

alegria e para a virtude, banhados pela divina claridade do Mestre, e que podem

levantar milhares de criaturas para a Esfera Superior.

Para isso, porém, não bastará a predicação pura e simples.

O sermão é, realmente, um apelo sublime, do qual não prescindiu o próprio

Cristo, mas não podemos esquecer que o Celeste Amigo, se doutrinou no monte,

igualmente no monte multiplicou os pães para o povo esfaimado, restabelecendo-lhe

o ânimo.

Nós, os que nos achávamos mortos na ignorância, e que hoje, por acréscimo da

Misericórdia infinita, já podemos desfrutar algumas bênçãos de luz, precisamos

estender o serviço de socorro aos demais.

Não nos desincumbiremos, porém, da tarefa salvacionista, simplesmente pro-

nunciando alguns discursos admiráveis.

É imprescindível usar nossas mãos nas obras do bem.

Esforço dos braços significa atividade pessoal.

Sem o empenho de nossas energias, na construção do Reino Espiritual com o

Cristo, na Terra, debalde alinharemos observações excelentes em torno das precio-

sidades da Boa Nova ou das necessidades da redenção humana.

Encontrando o nosso irmão, caído na estrada, façamos o possível por despertá-lo

com os recursos do verbo transformador, mas não olvidemos que, para trazê-lo de

novo à vida construtiva, será indispensável, segundo a inesquecível lição de Pedro,

estender-lhe fraternalmente as nossas mãos.

M

o dia 5 de outubro de1949, foi assinado o PactoÁureo na então sede da

Federação Espírita Brasileira, noRio de Janeiro. Este foi assim de-signado por representar a oportu-nidade de ouro para se promovera união e estimular o intercâmbioentre os espíritas.

A origem é muito interessante.Há relação com os ideais de unifi-cação que foram potencializadoscom a realização do CongressoBrasileiro de Unificação Espírita,no ano de 1948, em São Paulo. Es-te evento mereceu uma mensagempsicográfica de Francisco CândidoXavier, assinada por Emmanuel,intitulada “Em nome do Evange-lho”, inspirando-se em Jesus: “Paraque todos sejam um”(João, 17: 22),na qual o autor espiritual conclama:

Reunidos, assim, em grande

conclave de fraternidade, que

os irmãos do Brasil se compe-

netrem, cada vez mais, do espí-

rito de serviço e renunciação,

de solidariedade e bondade pu-

ra que Jesus nos legou.1

Nos primeiros dias de outubrode 1949, várias lideranças espíritasestavam participando do II Con-gresso da Confederação EspíritaPanamericana, na cidade do Riode Janeiro. Carlos Jordão da Silva,um dos integrantes da delegaçãoda USE-SP e depois seu presiden-te, relata que numa das noites doCongresso, após as exaustivas reu-niões, todos tinham se recolhidoem seus hotéis. Mas, ele resolveutomar um pouco de ar e se dirigiua uma praça próxima ao hotel:

[...] para surpresa nossa todas

as delegações foram chegando ao

mesmo local, como que convo-

cados por forças invisíveis. Acha-

mos graça por ter o Plano Espi-

ritual nos reunido daquela forma

e àquela hora da madrugada e ali

mesmo marcamos uma reunião

para as 8 horas da manhã, no

Hotel Serrador, onde estávamos

hospedados eu e minha senhora,

e, realizada tal reunião, incum-

biu-se Artur Lins de Vasconcellos

da tarefa de aproximar-se da FEB

para promover o encontro.2

O encontro em que se firmou oPacto Áureo ficou conhecido co-mo a “Grande Conferência Espíri-ta” e realizou-se na sede da Fede-ração Espírita Brasileira, no dia 5de outubro de 1949. A reunião foidirigida pelo presidente da FEB,Antônio Wantuil de Freitas, com aparticipação de representantes deFederações e Uniões de âmbito es-tadual: Federação Espírita Catari-nense, Federação Espírita do Para-ná, Federação Espírita do RioGrande do Sul, União Espírita Mi-neira, União Social Espírita de SãoPaulo (USE), e também da LigaEspírita do Brasil e da ComissãoExecutiva do Congresso Brasileirode Unificação Espírita. Da Ata de18 itens, destacamos o item 2:

A FEB criará um Conselho Fe-

derativo Nacional, permanente,

com a finalidade de executar,

desenvolver e ampliar os planos

da sua atual Organização Fede-

rativa.3

Assinaram o Acordo, o presi-dente da FEB, Antônio Wantuil de

60 anos do

Pacto Áureo

22 Reformador • Março 2009 100

NAN TO N I O CE S A R PE R R I D E CA RVA L H O

Freitas, e os representantes daUSE-SP, Liga Espírita do Brasil,Comissão Executiva do Congres-so Brasileiro de Unificação Espíri-ta, Federação Espírita Catarinen-se, Federação Espírita do Paraná,Federação Espírita do Rio Grandedo Sul e União Espírita Mineira.

Como desdobramento desseacordo de unificação, no dia 1o dejaneiro de 1950 foi instalado oConselho Federativo Nacional daFederação Espírita Brasileira. Nes-se ano também se desenvolveu otrabalho da “Caravana da Frater-nidade”, que teve por finalidadedivulgar os objetivos da unifica-ção e colher adesões dos Estadosdo Norte e do Nordeste ao Pacto.Os caravaneiros Artur Lins deVasconcellos Lopes, Carlos Jordãoda Silva, Francisco Spi-nelli, Ary Casadio, Leo-poldo Machado e, a par-tir de Pernambuco, LuizBurgos Filho, realizaramas visitas e contatos:“quarenta dias de excur-são no terreno da AçãoUnificadora”,4 que Leo-poldo Machado consi-derou como “um movi-mento de alta significa-ção espiritual, objetivan-do aproximar os espíri-tas do País”4 e que tam-bém levou orientaçõessobre a divulgação doEspiritismo, estímulo àsobras de assistência so-cial e de ambientaçãodoutrinária aos lares.Numa visita de alguns“caravaneiros” a Chico

Xavier, em Pedro Leopoldo, nodia 11 de dezembro de 1950, estesforam brindados com uma men-sagem de Emmanuel. O autor es-piritual comenta:

Cultuemos, acima de tudo, a

solidariedade legítima. Nossa

união, portanto, há de começar

na luz da boa vontade. Guarde-

mos boa vontade uns para com

os outros, aprendendo e ser-

vindo com o Senhor, e felici-

tando aos companheiros que se

confiaram à tarefa sublime da

confraternização, usando o pró-

prio esforço.5

Nestes 60 anos de Pacto Áureo,é evidente o aperfeiçoamento doprocesso de união e de unificação,

pois o Conselho Federativo Na-cional congrega as Entidades Fede-rativas Estaduais dos 26 Estados edo Distrito Federal, e tem experi-mentado a prática da análise e dadiscussão para a elaboração de do-cumentos normativos de recomen-dações ao Movimento Espírita.

Nestes anos, o CFN gerou do-cumentos e ações como: “A ade-quação do Centro Espírita para omelhor atendimento de suas fi-nalidades”; “Diretrizes da Dina-mização das Atividades Espíritas”;“Orientação ao Centro Espírita”;as Campanhas: Estudo Sistemati-zado da Doutrina Espírita, Evan-gelização da Infância e Juventude,Em Defesa da Vida, Viver em Fa-mília, Construamos a Paz Promo-vendo o Bem!, Divulgação do Espi-

ritismo; o projeto deCapacitação para Diri-gentes de Centros Espí-ritas; o “Plano de Traba-lho para o MovimentoEspírita Brasileiro (2007--2012)”; a realização deCongressos Brasileirosde Espiritismo; come-morações do Bicente-nário de Kardec, Ses-quicentenários de O Li-vro dos Espíritos, da Re-vista Espírita e da Socie-dade Parisiense de Estu-dos Espíritas; e diversasatuações em forma decursos e seminários. Umaimportante ação do CFN,mais operacional, temocorrido com as Reu-niões de suas ComissõesRegionais.

23Março 2009 • Reformador 101

No Departamento Editorial da FEB, em 6/10/1949, um diaapós a assinatura do Pacto Áureo, vendo-se no primeiroplano, da direita para a esquerda: A. Wantuil de Freitas,Aurino Barbosa Souto, Lins de Vasconcellos e Bady Elias

Curi; no segundo plano: J. Bezerra de Vasconcelos,Francisco Spinelli, A. J. Trindade, Lauro Sales, Miranda

Ludolf e outros. (Foto do Mundo Espírita, de 22/10/1949.)

As Reuniões das Comissões Re-gionais do CFN têm sido e devemse caracterizar cada vez mais co-mo uma autêntica e continuadaCaravana da Fraternidade!

A evocação dos 60 anos doPacto Áureo sugere-nos a efeti-vação de ações que contribuampara a consolidação e ampliaçãodo ideal de união e de unifica-ção. Na citada mensagem “Emnome do Evangelho”, Emmanuelpropõe:

[...] unamo-nos no mesmo ro-

teiro de amor, trabalho, auxílio,

educação, solidariedade, valor e

sacrifício que caracterizou a ati-

tude do Cristo em comunhão

com os homens, servindo e es-

perando o futuro, em seu exem-

plo de abnegação, para que to-

dos sejamos um, em sintonia

sublime com os desígnios do

Supremo Senhor.1

Referências:1ANAIS DO CONGRESSO BRASILEIRO DE

UNIFICAÇÃO, realizado em São Paulo

(SP), no período de 31 de outubro a 5 de

novembro de 1948, p. 39-41. In: Refor-

mador, Rio de Janeiro, ano 126, n. 2.146,

p. 14(12), jan. 2008.2MONTEIRO, Eduardo Carvalho; D’OLIVO,

Natalino. USE – 50 anos de unificação. São

Paulo: Ed. USE, 1997. p. 127-128.3Grande Conferência Espírita realizada no Rio

de Janeiro. Reformador, Rio de Janeiro, ano

117, n. 2.047, p. 10(294)-11(295), out. 1999.4MACHADO, Leopoldo. A caravana da fra-

ternidade. Nova Iguaçu (RJ): Lar de Jesus,

1954. p. 13-17.5Idem, ibidem. p. 176-177.

24 Reformador • Março 2009 102

is traçado aos olhos humanos o plano excelso de Jesus, colocadoem mãos do glorioso Ismael.

Plano delineado há milênios, que a paciência divina organi-zou, programou e acaba de executar.

Plano grandioso, que trará para as Terras de Santa Cruz as basesangulares do Templo Divino do Senhor a ser edificado no santuárioíntimo das almas, concretizando-se nas augustas experiências da Casade Ismael, ora mais forte, mais plena de amor, coroada pelos esforçosgrandiloquentes dos espíritas que velam pela Verdade do Senhor, nasterras áridas dos corações.

Realizou-se o ideal sublime: estrelas de luzes esplêndidas desceramdo infinito e cobriram as terras brasileiras. Suaves refrigérios foramlevados a todos os rincões da Terra maravilhosa que recebeu em seuseio nobre a semente divina do Excelso Senhor.

Os planos espirituais estão se interpenetrando, cada vez mais, nosplanos espiritistas terrenos, levando avante o lema formoso: Deus,Cristo e Caridade.

Aos espíritas que conhecem e amam a Doutrina reveladora, aosespíritas que compreendem o ideal sagrado do Mestre para ser reali-zado, não só nas Terras de Pindorama, mas em todo o orbe terrestre,aos espíritas que recebem a bênção sem par do conhecimento daVerdade e da Luz, aos espíritas que bebem nos livros que descem doAlto, em catadupas de luzes, a essência divina do Evangelho, competedisciplinarem o coração, irmanados na tarefa sacrossanta da caridadelegítima, realizando os trabalhos do Senhor com humildade e amor.

Por isto a “convocação geral” para que todos cerrem fileiras em tor-no dos Templos de Ismael, em Brasília e na Guanabara.

Por isto a recordação do Pacto Áureo, para que, compenetrados dosdeveres e responsabilidades que lhes cabem face aos desejos e vontadedo Senhor, dignifiquem, com os exemplos puros de discípulos fervo-rosos e fiéis, a Doutrina Consoladora.

Lá no alto, a cúpula excelsa irradia forças, energia e luzes para oscorações abertos à inspiração superior e dispostos, através da boa von-tade simples e modesta, ao serviço grandioso da edificação do reinodivino no mundo terrestre.

Sobre a Cúpula Sublime e bendita, sol de resplendente fulgor sob oolhar de Ismael, Jesus, o Filho de Deus Altíssimo, dirige e abençoa osfrutos sazonados da divina aliança e da realização santa de seu coração.

Avancemos, pois, filhos do Cruzeiro; avancemos com alegria, comgratidão, com amor, na conquista do bem maior – o Amor de Jesus.

Bezerra

(Página recebida pela médium Maria Cecília Paiva, na sessão pública da Federa-

ção Espírita Brasileira, em 6/10/1970, publicada em Reformador de março de 1971,

p. 27(71) e transcrita em Reformador de out. 1999, p. 15(299).

A Cúpula Sublime

E

passagem de Marcos, umadas mais singelas do Evan-gelho, menciona o mo-

mento em que Jesus atrai, carinho-samente, para si, as crianças que oassistiam, em meio à multidão deseguidores. A mensagem singular,citada, também, por Mateus (19:13--15) e Lucas (18:15-17), é transmi-tida pelo Mestre, ao mostrar aosseus discípulos que a conquista doreino dos céus seria para aquelesque possuíssem a inocência e a can-dura do ser infantil.

Jesus destaca a infância comoimportante período para o Espí-rito reencarnado e, ao dirigir-seàs crianças, por meio de expres-são de doçura incomparável, de-monstra enorme cuidado em tra-tá-las amorosamente: abraça-as,abençoa-as e impõe-lhes as mãos, erepreende os seus apóstolos queas queriam afastar para que nãoatrapalhassem a transmissão deseus ensinamentos divinos.

O que teria acontecido ao gru-po infantil que conheceu o Cristo

pessoalmente naquela inesquecí-vel ocasião? Certamente, nuncamais olvidou o encantamentoque sentiu com a aproximaçãodo Mestre, a lhe transmitir liçõesmaravilhosas, em meio às vibra-ções dulcíssimas emanadas desua pregação.

Um desses infantes,de acordo com a nar-rativa do autor espiri-tual Camilo CândidoBotelho, através da mé-dium Yvonne A. Perei-ra, foi Aníbal de Silas,um dos anjos-tutelaresdo Hospital Maria deNazaré (Instituição Es-piritual destacada peloreferido autor, na obraMemórias de um Sui-cida). Aníbal, aindamenino, estava presen-te no ajuntamento decrianças acariciadaspelo Rabi da Galiléia,observando, enterne-cido, a inconfundível

ternura de Jesus, ao pronunciar aexortação que haveria de sensibi-lizar e arrebatar os corações detodos os que o seguissem. A partirdesse dia, Aníbal de Silas divul-gou, intensamente, a Causa do Cris-to, preferindo instruir as crianças e

A infância: fase essencialpara a vida corporal do Espírito

A

“Apresentaram-lhe então algumas crianças, a fim de que ele as tocasse, e, como seus discípulos afastassem com palavras ásperas os que lhas apresentavam,

Jesus, vendo isso, zangou-se e lhes disse: Deixai que venham a mim as criancinhas e não as impeçais, porquanto o reino dos céus é para os que se

lhes assemelham.” (Marcos, 10:13-16.)

CL A R A LI L A GO N Z A L E Z D E AR A Ú J O

25Março 2009 • Reformador 103

jovens, em nome daquele encon-tro memorável. Suas virtudes, en-grandecidas pela Boa Nova, nãomais esmaeceriam e, a partir dessareencarnação, trabalhou infatigá-vel, dedicando-se ao amparo e àeducação da infância e da juven-tude, em múltiplos retornos ao cor-po de carne.1 Eis um exemplo deperseverança, entusiasta e ardoro-sa, na luta pela preservação de en-sinamentos cristãos, em defesa dameninice!

É constante o zelo do PlanoMaior em orientar-nos sobre aimprescindibilidade dessa fase,e, na análise feita por Allan Kardec,constata-se que esse período davida corporal torna o ser

[...] mais maleável e, por isso

mesmo, mais acessível às im-

pressões capazes de lhe modifi-

carem a natureza e de fazê-lo

progredir, o que torna mais fá-

cil a tarefa que incumbe aos

pais.2

O Espírito Emmanuel, em es-tudos sobre a matéria, afirma:

– O período infantil, em sua pri-

meira fase, é o mais importante

para todas as bases educativas, e

os pais espiritistas cristãos não

podem esquecer seus deveres de

orientação aos filhos, nas gran-

des revelações da vida. Em ne-

nhuma hipótese, essa primeira

etapa das lutas terrestres deve

ser encarada com indiferença.3

Desde o século XVIII, até aatualidade, filósofos, educadores,

psicólogos e estudiosos dos aspec-tos do comportamento infantil,entre eles, os mais clássicos, comoJean-Jacques Rosseau (1712-1778),Johann Heinrich Pestalozzi (1746--1827), Friedrich Fröbel (1782--1852), Édouard Claparède (1873--1940), Maria Montessori (1870--1952), John Dewey (1859-1952),Henri Wallon (1879-1962) e JeanPiaget (1896-1980) a partir de seusdiferentes enfoques teóricos, com-partilham do princípio de que acriança deve ter um tempo pró-prio para o desabrochar de suas ca-pacidades e aptidões, deixando-seguiar, física e emocionalmente, pe-lo aprendizado que lhe é ofereci-do, no meio familiar ou fora dele;essas vivências irão determinar, emsua existência atual, hábitos e ma-neiras de agir, característicos desua personalidade.4

Infelizmente, a impaciência decertos pais, para que as criançascresçam apressadamente, ignorao fato de que elas são organismosem crescimento; preocupam-se emsobrecarregar os filhos com tare-fas e atividades desnecessárias, semnenhum critério de seleção quan-to aos benefícios efetivos que pos-sam trazer para a formação docomportamento infantil. A respos-ta dada à questão 380, de O Livrodos Espíritos, é elucidativa sobre oproblema:

Desde que se trate de uma crian-

ça, é claro que, não estando ainda

nela desenvolvidos, não podem

os órgãos da inteligência dar toda

a intuição própria de um adulto

ao Espírito que a anima. Este,

pois, tem, efetivamente, limitada

a inteligência, enquanto a idade

lhe não amadurece a razão. [...]5

(Grifo nosso.)

A palavra amadurecimento estápejada de significações diferentespara aqueles que acompanham,atentos, o crescimento e o desen-volvimento da criança, no decor-rer das idades e das fases que atra-vessa. Nem todos os pais com-preendem que as crianças devemser crianças antes de se tornarempessoas adultas; tentam inverteressa ordem sem admitir que a in-fância tem seu próprio modo depensar, ver e sentir. Em razão dis-so, meninos e meninas, estimula-dos por genitores demasiadamen-te liberais, negligentes, omissos,ou influenciados pelos modismosda sociedade hodierna, vivem ex-periências sociais, culturais e edu-cacionais inadequadas à sua ida-de, como, por exemplo: a) compa-recimento em festas e reuniões,impróprias à infância, onde são es-timulados os namoricos e as tro-cas de afetos precoces; b) cuida-dos excessivos com a beleza física(maquiagem, cabeleireiro, parti-cipação em concursos de belezaetc.); c) usança de bens de consu-mo dispensáveis (roupas e acessó-rios caros e de grife, joias, equipa-mentos eletrônicos de alta tecno-logia, brinquedos sofisticados, ce-lulares etc.); d) convivência emgrupos virtuais, sem o necessárioacompanhamento de pais e edu-cadores, e uso indevido da Inter-net, permitindo-lhes acessar pági-nas e sites de relacionamento e

26 Reformador • Março 2009 104

propaganda desaconselháveis pa-ra essa faixa etária; e) leituras delivros, revistas, jornais, de litera-tura violenta e perniciosa; publi-cações adotadas com o pressupos-to de que tais instrumentos auxi-liam a criança a extravasar suastensões; f) manejo de jogos ele-trônicos com cenas de crimes,guerras e violências; g) acesso in-discriminado à TV, DVD, sem se-leção de filmes e programas maisapropriados para infância, em de-trimento das condições favoráveisda convivência no lar e em socie-dade; h) relacionamento entre gru-pos de crianças que promovembrincadeiras e práticas de jogosprejudiciais à formação ético-mo-ral do ser; i) participação em ati-vidades artísticas (dança, canto,dramatização) nem sempre ade-quadas à idade infantil, e que es-timulam os apelos sensuais; j) en-volvimento desmesurado em ati-vidades intelectuais, em prejuízode sua educação moral.

Resta saber que frutos darãomais tarde essas sementes.

Allan Kardec, na Revista Espíri-ta, de fevereiro de 1864, como aprever descalabros desse tipo naeducação familiar, alerta os pais

para o fato de que os filhos preci-sam ser dotados

[...] de uma natureza excep-

cionalmente boa para resistir a

tais influências, produzidas na

idade mais impressionável e on-

de não podem encontrar o con-

trapeso da vontade, nem da

experiência [...]6

O nobre Espírito Joanna deÂngelis, referindo-se a problemasdessa natureza, adverte que essesmecanismos lhes facultam

[...] a permissividade que o

educando não tem condições de

absorver, naufragando, desde

cedo, nos abusos de toda or-

dem, com prejuízo da futura rea-

lização moral, social, profissio-

nal e doméstica, ao se tornar

genitor.7

O Espiritismo destaca a mis-são e a responsabilidade dos pais,permitindo-lhes conhecer a fontedas qualidades inatas, boas oumás, dos Espíritos que reencar-nam, e orientando-os para a ma-neira mais racional e fraterna, e,de forma gradual, de como deve

ser educada a prole, nas famíliasverdadeiramente espíritas.

O convite de Jesus, para quetodas as crianças permaneçamao seu lado é para lembrar-nosde que há na vida valores huma-nos e cristãos que devem ser, pou-co a pouco, descobertos e viven-ciados por elas, sem perder de vis-ta que precisamos propiciar-lhesum sadio desenvolvimento, dei-xando-as viver esse momento má-gico da infância, sem prescindir deuma criação baseada no amor ver-dadeiro que enseje respeito, uniãoe solidariedade entre todos.

Referências:1PEREIRA, Yvonne A. Memórias de um

suicida. Pelo Espírito Camilo Cândido Bo-

telho. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008.

P. 3, A Cidade Universitária, item Mansão

da Esperança, p. 518-519.2KARDEC, Allan. O evangelho segundo o

espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro.

25. ed. de bolso. Rio de Janeiro: FEB,

2008. Cap. 8, item 4, p. 159.3XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo

Espírito Emmanuel. 24. ed. Rio de Janei-

ro: FEB, 2008. Q. 113.4ELKIND, David. Desenvolvimento e edu-

cação da criança. 2. ed. Rio de Janeiro:

Zahar Editores, 1978. Cap. 2, p. 36-50.5KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tra-

dução de Guillon Ribeiro. 91. ed. 1. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2008. Q. 380.6______. Primeiras Lições de Moral da In-

fância. Revista espírita: jornal de estudos

psicológicos, ano 7, p. 61, fev. 1864. 3. ed.

Rio de Janeiro: FEB, 2006. 7FRANCO, Divaldo P. Constelação familiar.

Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador

(BA): LEAL, 2008. Cap. 29, p. 181-185.

27Março 2009 • Reformador 105

odemos afirmar que per-cepção é a faculdade deapreender algo, de ter cons-

ciência a respeito de uma impres-são sensitiva que foi transmitida

por órgãos específicos, oupor meio de associaçãoideacional, de natu-reza mental.1 Para oEspiritismo,

todas as percepções

constituem atributos do

Espírito e lhe são ineren-

tes ao ser. Quando o reveste

um corpo material, elas só

lhe chegam pelo conduto

dos órgãos. Deixam, porém,

de estar localizadas,em se achan-

do ele na condição de Espírito

livre.2

Embora os livros didáticos ain-da transmitam a concepção aris-totélica de que existem cinco sen-tidos, pesquisas recentes na áreadas neurociências revelam queeste conceito está ultrapassado.Primeiro porque existem outrossentidos humanos – como a pro-priocepção, um sentido poucoconhecido, mas que garante a

[...] percepção da postura, movi-

mento e mudanças do equilí-

28 Reformador • Março 2009 106

P

Percepçõesinusitadas

MA RTA AN T U N E S MO U R A

Em dia com o Espiritismo

brio, e o conhecimento da posi-

ção, peso e resistência dos obje-

tos com relação ao corpo.3

Segundo porque os avançostecnológicos no diagnóstico mé-dico, principalmente a ressonân-cia magnética e a tomografia poremissão de pósitrons, indicamque o estudo das associações men-tais fornece maiores subsídiospara o entendimento das percep-ções. Emmanuel esclarece, nestesentido, que

[...] a associação mora em to-

das as coisas, preside a todos os

acontecimentos e comanda a exis-

tência de todos os seres.4

Há, contudo, um tipo de per-cepção, incomum ou inusitada,que tem merecido especial aten-ção da Ciência. Trata-se da sines-tesia, cujo conceito se resume na“sensação subjetiva de um sentidoque não é o que está sendo esti-mulado”.5 Em outras palavras, dizrespeito à associação de planossensoriais diferentes. Por exem-plo, há pessoas que sempre asso-ciam um som ou uma composi-ção musical a determinada cor ouaroma. Outros unem uma corespecífica a um número específi-co, assim como existem os quepercebem sabor nas plavras.

O cientista estadunidense RichardFeynman (1918-1988), Nobel de Fí-sica em 1965, afirmava:

Quando escrevo uma equação

na lousa vejo os números e as

letras de cores diferentes. E me

pergunto: que diabos meus alu-

nos veem?6

Já Franz Liszt (1811-1886), fa-moso compositor húngaro, asso-ciava os sons musicais às cores. Ele

[...] costumava se dirigir aos

músicos com frase do tipo “Não

tão violeta, por favor”. Sem

compreender, muitos deles pre-

feriam levar na brincadeira,

embora Liszt afirmasse que real-

mente via cores enquanto regia

ou tocava.7

John Locke (1632-1704), filó-sofo inglês e ideólogo do liberalis-mo, relata na sua publicação En-saio sobre o entendimento huma-no, em 1690, a história de umcego que relacionava a cor verme-lha ao som de uma trompa.

As pesquisas acadêmicas daúltima década estimam que háum sinestésico para 300 pessoas,mas que esta proporção está au-mentando com a ampliação dosestudos na população e o aperfei-çoamento dos métodos de investi-gação científica. Algumas publica-ções indicam que a memória e acriatividade dos sinestésicos sãosuperiores à média dos indivíduoscomuns, mas detectaram tambémum percentual significativo desinestésicos que confunde direitae esquerda. Fato curioso é que amaioria dos sinestésicos é canho-ta. Até o momento, as pesquisasainda não conseguiram detectarquando alguém descobre que pos-sui esse tipo de percepção inusi-tada, ou em que idade surge nas

pessoas portadoras dessa faculda-de. O registro médico mais anti-go, documentado em 1922, fazreferência a uma criança sinestési-ca com a idade de 3 anos e meio.

Os Espíritos orientadores daCodificação Espírita ensinam que

[...] os órgãos são os instrumen-

tos da manifestação das faculdades

da alma, manifestação que se

acha subordinada ao desenvol-

vimento e ao grau de perfeição

dos órgãos, como a excelência

de um trabalho o está à da ferra-

menta própria à sua execução.8

Quer isto dizer que as aquisiçõesevolutivas de um Espírito impri-mem alterações no seu perispírito,construindo, em consequência, umcorpo físico constituído de órgãosaperfeiçoados, muito mais suscetí-veis à ação da mente espiritual.

Afirmam eles:

Encarnando, traz o Espírito cer-

tas predisposições e, se se admi-

tir que a cada uma corresponda

no cérebro um órgão, o desen-

volvimento desses órgãos será

efeito e não causa. [...] Admita-

-se [...] que os órgãos especiais,

dado existam, são consequen-

tes, que se desenvolvem por

efeito do exercício da faculda-

de, como os músculos por efei-

to do movimento, e a nenhuma

conclusão irracional se chegará.

Sirvamo-nos de uma compara-

ção, trivial à força de ser verda-

deira. Por alguns sinais fisionô-

micos se reconhece que um

homem tem o vício da embria-

29Março 2009 • Reformador 107

guez. Serão esses sinais que

fazem dele um ébrio, ou será a

ebriedade que nele imprime

aqueles sinais? Pode dizer-se

que os órgãos recebem o cunho

das faculdades.9

Em relação à sinestesia, há ain-da três pontos que merecem serdestacados: a) a sinestesia não édoença mental, mas condição neu-rológica natural que surge em in-divíduos absolutamente normais,sem dificuldades de ordem cogni-tiva ou outras disfunções psíqui-cas; b) a sinestesia não se refere àsmetáforas ou figuras de lingua-gem, recursos usuais de escrito-res e poetas, tais como: “a lumi-nosidade macia da seda” (asso-ciação de visão e tato); “o docecarinho materno” (paladar e ta-to); “o delicioso aroma do amor”(paladar e olfato); “o verde aze-do” (visão e paladar) ou “o ama-relo gritante” (visão e audição);c) a percepção cognitiva é dife-rente da sinestesia: percepçãocognitiva resulta de um aprendi-zado ou condicionamento desen-volvido em algum momento daexistência. Exemplo: desfrutar o sa-bor de uma torta, bolo ou bom-bom, visualizado através de umavitrine. A sinestesia é involuntá-ria, não pode ser controlada neminduzida, pois é congênita; a he-rança genética pode, uma vezque é comum em indivíduos deuma mesma família. Parece quehá uma relação gênica com o cro-mossomo X, da mulher.

As pesquisas científicas comsinestésicos apresentam um valor

inestimável: o de demonstrar queo progresso do ser humano não ésimples suposição, mas que podeser perfeitamente demonstrado emensurável por meio de testesespecializados. O TG (Teste daGenuinidade) é um deles, desen-volvido pelo professor Simon Ba-ron-Cohen, da Universidade deCambridge, e visa medir o nívelde sinestesia individual. A pes-soa é classificada como sinestésicaquando o TG revela uma pontua-ção média de 70%.

Os dias futuros nos reservaminúmeras surpresas em relação aoconhecimento das faculdades hu-manas, de algum modo já anteci-pado pela Doutrina Espírita, co-mo consta desta informação deLéon Denis:

A alma contém, no estado vir-

tual, todos os germens dos seus

desenvolvimentos futuros. É

destinada a conhecer, adquirir e

possuir tudo. [...] Para realizar

os seus fins, tem de percorrer,

no tempo e no espaço, um

campo sem limites.

[...]

Pouco a pouco a alma se eleva

e, conforme vai subindo, nela se

vai acumulando uma soma

sempre crescente de saber e vir-

tude; sente-se mais estreita-

mente ligada aos seus seme-

lhantes; comunica mais intima-

mente com o seu meio social e

planetário. Elevando-se cada

vez mais, não tarda a ligar-se

por laços pujantes às sociedades

do Espaço e depois ao Ser Uni-

versal.

Assim, a vida do ser conscien-

te é uma vida de solidarie-

dade e liberdade. Livre den-

tro dos limites que lhe assi-

nalam as leis eternas, faz-se

o arquiteto do seu destino. O

seu adiantamento é obra sua.

[...]10

Referências:1THOMAS, Clayton. Dicionário médico

enciclopédico taber. Tradução de Fernan-

do Gomes do Nascimento. 17. ed. São

Paulo: Ed. Manole, 2000. p. 1334.2KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.

Tradução de Guillon Ribeiro. 91. ed. 1.

reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Q. 249a,

p. 186.3THOMAS, Clayton. Dicionário médico en-

ciclopédico taber. Tradução de Fernando

Gomes do Nascimento. 17. ed. São Paulo:

Ed. Manole, 2000. p. 1443.4XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento

e vida. 18. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008.

Cap. 8, p. 37.5THOMAS, Clayton. Dicionário médico en-

ciclopédico taber. Tradução de Fernando

Gomes do Nascimento. 17. ed. São Paulo:

Ed. Manole, 2000. p. 1616.6BARBERI, Massimo. Confusão das sen-

sações. Revista Mente & Cérebro, n. 12,

p. 10, 20o8. Ed. Especial. São Paulo: Duetto

Scientific American Brasil.7Idem, ibidem. p. 15.8KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tra-

dução de Guillon Ribeiro. 91. ed. 1. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2008. Q. 369, p. 232.9Idem, ibidem. Q. 370a.10DENIS, Léon. O problema do ser, do

destino e da dor. Ed. Espec. 1. reimp. Rio

de Janeiro: FEB, 2008. P. 1, O problema

do ser, item 9, p. 161-163.

30 Reformador • Março 2009 108

obsessão é o domínio quealguns Espíritos inferioreslogram adquirir sobre ou-

tros Espíritos,1 que se opera pormeio da sintonia mental2 ou in-fluência magnética, em que osfluidos perispirituais exercem pa-pel fundamental.3

É um fenômeno que, graças àconscientização de alguns psiquia-tras espíritas, vem sendo estudadonos meios acadêmicos, facultandoos diagnósticos e os tratamentosde certas enfermidades psíquicas,porém, ainda há muita ignorânciano meio científico, razão pela qual,mesmo na atualidade, pessoas sãointernadas como se fossem loucas,quando não passam de obsidiadas.Precisam também de tratamentoespiritual, sem o que terminam en-louquecendo de fato.

A obsessão apresenta surtosepidêmicos que vêm se acen-tuando nos últimos tempos, emque “[...] A mente humana abre--se, cada vez mais, para o contato

com as expressões invisíveis”,4 eem que a Humanidade experi-menta os efeitos da transição pa-ra o mundo de regeneração.5 Aviolência é o sintoma mais decla-rado dessa epidemia obsessivaque ronda a Humanidade, não sóa violência coletiva, via de regraaçulada pelo comportamento demassa, mas também a violênciaindividual e também aquela queocorre na intimidade das famíliasou mesmo nos locais públicos.6

A obsessão, alçada à catego-ria de expiação, funciona tambémcomo prova, com vistas ao des-pertamento do Espírito para no-vos valores morais. Todos estamossujeitos a ela, sejamos ou não es-píritas, sejamos ou não médiunsostensivos. As obsessões, classifi-cadas por Kardec como simples,fascinação e subjugação,7 sempreexistiram, nominadas, em o NovoTestamento, como “possessão”.8

Na obsessão simples, o médiumsabe que está sendo assediado

por um Espírito perseguidor eeste não disfarça. É um inimigodeclarado, do qual é mais fácil sedefender. Por isso, o médiumse mantém em guarda e raramenteé enganado. Entretanto, a pessoanão consegue se livrar deste tipode assédio com facilidade, devidoà persistência do obsessor. Ape-sar de tudo isso, a obsessão sim-ples pode ser vencida pela pró-pria vítima, sem a ajuda de ter-ceiros, desde que conserve firmea vontade.

Já a fascinação é uma modali-dade de obsessão mais acentua-da, devido à ilusão produzidapela ação direta do Espírito so-bre o pensamento da pessoa, a quallhe confunde o raciocínio, ini-bindo a sua capacidade de julgaras comunicações, visto que o fas-cinado não acredita que estejasendo iludido. Toda vigilância épouca, pois até mesmo os maisinstruídos podem ser enganados.Aqui, as consequências da inter-

Obsessão:causas, consequências

e tratamento

31Março 2009 • Reformador 109

ACH R I S T I A N O TO RC H I

ferência espiritual são mais gra-ves: o obsessor, extremamenteastuto e hipócrita – pois apre-senta falsos aspectos de virtude–, convence a vítima a aceitarteorias e ideias absurdas. A táticaprincipal do obsessor, nesta hi-pótese, é afastar o obsidiado daspessoas das quais depende parafurtar-se ao processo obsessivoou daqueles que poderiam adver-tir a vítima do seu erro.

A subjugação, também conhe-cida como “possessão”, conformejá visto, é outro tipo de obsessão.Assemelha-se muito à fascina-ção, porém, aqui, o obsessor atua

com maior intensidade, uma vezque manipula o médium nãoapenas no aspecto psicológico,mas também no aspecto físico,sem que isto implique coabita-ção corporal permanente. A sub-jugação – psicológica ou corpo-ral – é uma interferência do ob-sessor que paralisa ou anula avontade e o livre-arbítrio daque-le que a sofre e o faz agir contraa própria vontade.

A obsessão pode acontecer devárias maneiras: de encarnado pa-ra encarnado; de desencarnado pa-ra desencarnado; de desencarna-do para encarnado; de encarnadopara desencarnado; auto-obsessão;e obsessão recíproca.

As causas da obsessão variamde acordo com o caráter dos Es-píritos envolvidos, mas a raiz de-la está sempre nas enfermidadesmorais, características comuns aoshabitantes dos planetas de pro-vas e expiações, como é a Terra,tais quais vingança (muitas vezesde um inimigo do passado), ódio,inveja, orgulho, ira, ciúme, ava-reza, egoísmo, vaidade, maledi-cência etc.

As consequências da obsessãodependem do grau de influênciados Espíritos e do poder de defesae reação do obsidiado, podendoir de um simples mal-estar atéos desequilíbrios mentais e físi-cos de todos os matizes. Nos ca-sos de fascinação e subjugação,se não forem tratadas a tempo,graças ao contato prolongadodos fluidos malsãos com as mo-léculas do organismo, podem le-var à dominação completa, ge-rando enfermidades orgânicas epsicológicas graves que põem emrisco a sanidade e a vida do pa-ciente, caso em que se faz neces-sário, também, o tratamento mé-dico convencional.

Independente do tipo de ob-sessão, porém, ela somente se ini-cia no caso de o obsidiado consen-tir, seja pela sua invigilância, sejapela sua fraqueza ou por nesta secomprazer. Daí a importânciade o paciente mudar o seu com-portamento, que, mui-tas vezes, é o fo-mentador daobsessão. Porisso, a reco-mendação deJesus à mu-lher adúlterai g u a l m e n t eserve a todos nós:

32 Reformador • Março 2009 110

“Vai e não peques mais”,9 isto é,corrijamo-nos moralmente, evi-tando reincidir no erro, para queoutros obsessores não sejam denovo atraídos pela nossa condu-ta irrefletida.

Os meios preventivos da ob-sessão são os mais eficazes e re-lativamente simples, pois en-contram nos ensinamentos deJesus remédios morais infalíveis,quando seguidos à risca. A prá-tica do bem em todos os senti-dos, a vigilância mental, o estu-do, o trabalho, a oração peloobsessor e por si mesmo, o per-dão, a transformação íntima, asubstituição de certos hábitospor outros mais elevados, con-tribuem muito para se evitar ainfluência dos irmãos infelizes,os quais, mesmo que perseve-rem com sua presença indese-jável, acabam, não raras vezes,mudando de ideia e seguindo osbons exemplos da vítima e, àsvezes, até perdoando o desafeto.Mesmo que o obsessor não sesensibilize com a conduta exem-plar, muitas vezes acaba desis-tindo da perseguição, ao perce-ber que a vítima não está iludi-da e que lhe é impossível enga-ná-la. Assim, a confiança irres-trita em Deus e nas suas leis imu-táveis constitui excelente antí-doto contra a obsessão.

Já os casos de obsessão maisgraves, uma vez instalados, exi-gem tratamento especializado,que geralmente são feitos nas reu-niões doutrinárias de desobses-são, em que os perseguidores sãoesclarecidos sobre os problemas

que os atormentam, num traba-lho de orientação fraterna, comvistas a persuadi-los do erro emque incorrem.

As sessões de exorcismo, queconsistem na prática de “expul-sar” os chamados “demônios”, pormeio de fórmulas e rituais místi-cos, muito utilizadas no passadoe ainda atualmente, embora commenor intensidade, por certasdoutrinas religiosas, mostraram--se ineficazes no tratamento daobsessão. O êxito do tratamentodepende mais da autoridade mo-ral do religioso do que de fór-mulas ritualísticas ou ordens im-perativas para que o Espírito ob-sessor se afaste. O Espiritismonão adota essa prática, porquenão professa a crença na existên-cia dos “demônios” como seresdevotados eternamente ao mal,uma vez que eles nada mais sãodo que os Espíritos desencarna-dos (homens e mulheres que vive-ram na Terra), e ainda não evo-luíram, como muitos de nós, eque constituem os enfermos quenecessitam de remédio.

O Evangelho no Lar e a águafluidificada também são trata-mentos muito eficazes, assimcomo os passes magnéticos, es-tes utilizados na Casa Espírita,geralmente empregados em com-plementação às sessões de evan-gelização dos Espíritos, com vis-tas à renovação dos fluidos mal-sãos que afligem os obsidiados.

Como ensinam os Espíritos, omais poderoso meio de se com-bater a influência dos maus Es-píritos é lutar, o máximo pos-

sível, para conquistar a virtudedos bons. Enfim, evangelizar-se,pois, no fundo, a obsessão é umproblema educativo. Todos nós,sem exceção, estamos lutandopara nos libertar das influênciasdo mal, que, a rigor, reside emnós mesmos. Sem negligenciar-mos a saúde corporal, devemosdar prioridade à saúde da almae, assim, como ensinou Jesus, se-remos médicos de nós mesmos!

Referências:1KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. 80.

ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 23,

item 237.2XAVIER, Francisco Cândido. Nos domí-

nios da mediunidade. Pelo Espírito André

Luiz. 34. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB,

2008. Cap. 1.3KARDEC, Allan. Obras póstumas. 40. ed.

Rio de Janeiro: FEB, 2007. P. 1, Manifes-

tações dos Espíritos, § 7, item 56.4XAVIER, Francisco Cândido. Os mensa-

geiros. Pelo Espírito André Luiz. 45. ed.

1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008, Cap. 5.5KARDEC Allan. O evangelho segundo o

espiritismo. 127. ed. Rio de Janeiro: FEB,

2007. Cap. 3, itens 1 a 19.6______. A gênese. 52. ed. 1. reimp. Rio

de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 14, itens

45-49. 7______. O livro dos médiuns. 80. ed. Rio

de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 23, itens

237-254.8Marcos, 1:21-27 e Lucas, 4:31-41.9João, 8:11.

33Março 2009 • Reformador 111

convite da própria Unesco (Organização dasNações Unidas para a Educação, a Ciência e aCultura) e dos embaixadores da Polônia e da

Lituânia nela acreditados, esperantistas e não-espe-rantistas reuniram-se em 15/12/2008, na sede da-quele órgão das Nações Unidas em Paris, para a con-ferência intitulada “Esperanto, língua justa”, comque se iniciaram as comemorações, no corrente ano,do sesquicentenário de nascimento de Lázaro LuísZamenhof (1859-1917), o criador do esperanto.

As preleções e os debates ocorreram em francês eesperanto, com interpretação simultânea nas duas

línguas e sob a presidência de Barbara Despiney, re-presentante da Universala Esperanto-Asocio (UEA)junto à Unesco.

O público, que ali representava cerca de 12 países,ouviu mensagens em esperanto, endereçadas porProbal Dasgupta, presidente da UEA, e por CarloMinnaja, vice-presidente da Academia Internacionalde Ciências.

Mauro Rossi, representando o diretor-geral daUnesco, Koichiro Matsuura, discorreu sobre o AnoInternacional das Línguas, expressando em sua alocu-ção o agradecimento da Unesco à UEA por haver tradu-zido em muitas línguas a mensagem com que KoichiroMatsuura apresentou o Ano e os seus objetivos.

150 anos de Zamenhof na Unesco 1

34 Reformador • Março 2009 112

A FEB e o Esperanto

1 Disponível em: <http://www.liberafolio.org/2008/uneskofesto/>

AF F O N S O SOA R E S

Louis Zaleski-Zamenhof em sua preleção. Ao lado, a professora Henriette Walter

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A presença de Louis Zaleski-Zamenhof, neto docriador do esperanto, que causou especial emoçãoaos presentes, possibilitou que todos conhecessem afigura de Zamenhof como idealista, por ressaltar, emsua fala, principalmente a atualidade das ideias dogrande missionário, com destaque para a tolerânciaentre povos, raças, culturas e religiões.

Sobre Zamenhof, como linguista, prelecionouHenriette Walter, professora honoris causa da Universi-dade de Haute Bretagne, enfatizando, do ponto de vistalinguístico, as vantagens do esperanto em comparaçãocom as línguas nacionais e outras línguas planejadas.

Aos não-esperantistas foi proporcionada a opor-tunidade de conhecer a Língua Internacional Neutraatravés de uma das lições do recém-lançado DVD“Esperanto estas”, seguindo-se um tema destinadoà juventude, exposto por Estelle Maria Loiseau sob otítulo “O Esperanto no Terceiro Milênio”.

Um debate sobre a cultura criada pelo esperanto esobre o seu ensino oficial coroou os trabalhos daconferência.

Sobre a mensagem de Probal Dasgupta, vale a penaressaltar-lhe um ponto essencial, em que é enfatizada aatualidade do pensamento e iniciativas de Zamenhof,bem como a permanência desses valores nas atividadesdo movimento esperantista conduzido pela UEA.

Nesse sentido, compreende hoje a comunida-de internacional que não apenas as injustiças eco-nômicas estimulam rancores, inimizades e guer-ra entre povos, nações e culturas, mas também oacesso desigual aos recursos linguísticos, culturaise intelectuais, com que se afeta negativamente oequilíbrio das relações humanas e a estabilidadeinternacional.

O movimento esperantista, a propugnar e praticarum sistema inegavelmente mais democrático nascomunicações, apontando para uma consequentedifusão igualitária dos valores de cultura, constitui--se em poderoso fermento auxiliar na formação dofuturo universalista da vida em nosso planeta, quan-do mais nos aproximaremos de uma ampla, verda-deira globalização, não só material, mas principal-mente espiritual, impregnada de uma ética superior– a que se inspira nos ensinos e exemplos de JesusCristo – sustento efetivo da fase de regeneração anun-ciada pelos Espíritos que conduzem, sob a direção deJesus, os destinos da humanidade terrena.

Compreendamos, portanto, com Emmanuel, namensagem “A missão do Esperanto”, ditada a Fran-cisco Cândido Xavier, em 19 de janeiro de 1940, pu-blicada em Reformador de fevereiro do mesmo ano,que

[...] o Esperanto é lição de fraternidade. Aprenda-

mo-la, para sondar, na Terra, o pensamento daque-

les que sofrem e trabalham noutros campos. Com

muita propriedade digo: “aprendamo-la”, porque so-

mos também companheiros vossos que, havendo

conquistado a expressão universal do pensamento,

vos desejamos o mesmo bem espiritual, de modo a

organizarmos, na Terra, os melhores movimentos de

unificação.

35Março 2009 • Reformador 113

Lázaro Luís Zamenhof (1859-1917), o criador do esperanto

s lições sublimes do Evan-gelho, como pérolas, se re-velam nos menores gestos

do Mestre. Do círculo dos perse-guidores do Cristianismo, Jesusconvoca o verdugo de Estêvão, oprimeiro mártir, para transformá--lo no apóstolo dos gentios.

O chamado de Saulo guarda amarca do perdão, com que a Pro-vidência Divina renova as oportu-nidades aos filhos transviados.

Verdugo e vítima se unem, es-piritualmente, para a maior tare-fa de propagação do CristianismoNascente, conferindo à mensagemda Boa Nova seu inigualável sa-bor de universalidade.

A universalização do Cristia-nismo é contribuição de Paulo, noplano físico, e de Estêvão, no pla-no espiritual, sob a égide do Cristo,

que não cessa de prodigalizar bên-çãos e serviços, visando o aprimo-ramento de seus tutelados na Terra.

A conversão de Saulo representaa retomada de um destino, de umamissão espiritual, que corria o riscode soçobrar, não fosse a misericór-dia do Mestre. Neste artigo, focali-zamos a data da referida conversão,em nossa tentativa de levantamen-to dos fatos marcantes do primeiroséculo do Cristianismo no mundo.

Novamente, urge realizar umacombinação harmoniosa e crite-riosa de dados, com vistas à for-mação de um quadro cronológicocoerente e convincente, baseadonas informações de Emmanuel:

“Estamos na velha Jerusalém,numa clara manhã do ano 35”.2

Naquelas primeiras horas da

tarde, o sol de Jerusalém era um

braseiro ardente. Não obstante

o calor insuportável, a massa des-

locou-se com profundo interes-

se. Tratava-se do primeiro pro-

cesso concernente às atividades

do “Caminho”, após a morte do

seu fundador.[...]3

Oito meses de lutas incessan-

tes passaram sobre a morte de

Estêvão, quando o moço tarsen-

se, capitulando ante a saudade e

o amor que lhe dominavam a al-

ma, resolveu rever a paisagem

florida da estrada de Jope, onde

por certo reconquistaria o afeto

de Abigail,de maneira a reorgani-

zarem todos os projetos de um

futuro ditoso.4

Quando as sombras crepuscula-

res se faziam mais densas, dois

36 Reformador • Março 2009 114

A

Cristianismo Redivivo

HA RO L D O DU T R A DI A S

“O Mestre chama-o, da sua esfera de claridades imortais. Paulo tateia na trevadas experiências humanas e responde: – Senhor, que queres que eu faça?

Entre ele e Jesus havia um abismo, que o Apóstolo soube transpor em decênios de luta redentora e constante.” 1

História da Era ApostólicaA conversão de Saulo

1XAVIER, Francisco C. Paulo e Estêvão.Pelo Espírito Emmanuel. 44. ed. Rio de Ja-neiro: FEB, 2007. Breve notícia, p. 9.

2Idem, ibidem. P. 1, cap. 4, p. 84.

3Idem, ibidem. Cap. 8, p. 187-188.

4Idem, ibidem. Cap. 9, p. 210.

homens desconhecidos entravam

nos subúrbios da cidade. Embora

a ventania afastasse as nuvens

tempestuosas na direção do de-

serto, grossos pingos de chuva

caíam, aqui e ali, sobre a poeira

ardente das ruas. As janelas das

casas residenciais fechavam-se

com estrépito.

Damasco podia recordar o jo-

vem tarsense [...]. 5

Antes de comparar os textos, éconveniente relembrar algumasdatas importantes do primeiro sé-culo do Cristianismo, todas deta-lhadamente explicadas em ediçõesanteriores desta revista.

Sendo assim, considerando-seque a crucificação se deu emabril/maio do ano 33 d.C.,6 o en-contro de Estêvão com Simão Pe-dro, na Casa do Caminho, ocorreuapós o outono de 34 d.C., mas an-tes de abril de 35 d.C., ou seja,antes de se completarem dois anosda crucificação.7

Ao introduzir o episódio do mar-tírio de Estêvão, afirma Emmanuel:“Estamos na velha Jerusalém, nu-ma clara manhã do ano 35”, con-firmando todos os cálculos pre-cedentes.

Na descrição, propriamente di-ta, do referido martírio, o Benfei-

tor espiritual utiliza a seguinte ex-pressão: “Naquelas primeiras ho-ras da tarde, o sol de Jerusalém eraum braseiro ardente. Não obstan-te o calor insuportável [...]”. As-sim, é lícito concluir:

O apedrejamento de Estêvão sedeu no verão do ano 35 d.C.8

Decorridos oito meses da mortedo primeiro Mártir, Saulo procuraAbigail na pequena propriedade ruralsituada na estrada de Jope, surpreen-dendo-a em grave estado de saúde.

Esse dramático encontro entreSaulo e Abigail só pode ter ocorri-do no início do ano 36 d.C.

Saulo de Tarso, profundamenteabatido com a morte de Abigail,renova os processos de persegui-ção aos cristãos e organiza a céle-bre viagem à cidade de Damasco,em busca de Ananias.

Na véspera de sua chegada, apósviagem longa e penosa, o apóstolo

dos gentios é surpreendido pelavisita do próprio Cristo, alteran-do-se definitivamente o rumo dasua existência.

Adentrando em Damasco, aco-metido de temporária cegueira, ojovem Saulo sente que “grossospingos de chuva caíam, aqui e ali,sobre a poeira ardente das ruas”.Nos países banhados pelo marMediterrâneo, o clima é muitosemelhante, com verões secos equentes, e invernos moderadose chuvosos. As estações do anose dividem em dois grandes blo-cos: primavera–verão (abril–se-tembro) e outono–inverno (outu-bro–março).

A primavera tem início no mêsde abril, quando cessam as chuvas.

Nesse caso, é plausível postu-lar, com base nos informes de Em-manuel, que a conversão de Saulose deu antes da primavera, ou se-ja, no primeiro trimestre do ano36 d.C.

37Março 2009 • Reformador 115

5XAVIER, Francisco C. Op. cit. P. 1, cap. 10,p. 250.

6DUTRA, Haroldo D. Cristianismo redi-vivo: história da era apostólica, a cruci-ficação de Jesus, Reformador, ano 126,n. 2.154, p. 33(351)-35(353), set. 2008.

7Idem, ibidem. O primeiro mártir, Re-formador, ano 127, n. 2.158, p. 29(27)--31(29), jan. 2009.

Saulo é surpreendido pela visita do próprio Cristo, alterando-se definitivamente o rumo da sua existência, na estrada para Damasco

8Idem, ibidem.

38 Reformador • Março 2009 116

á cem anos desencarnavano dia 20 de março de 1909,na cidade do Rio de Janei-

ro,Cândida Augusta de Lacerda Ma-chado, a segunda esposa de Bezer-ra de Menezes. Filha de MarianoJosé Machado e Maria Cândidade Lacerda, casara-se comBezerra de Menezes, em21 de janeiro de 1865,dois anos após adesencarnação deMaria Cândida, aprimeira esposa doMédico dos Pobrese irmã materna de

Cândida Augusta. Cândida, apóso matrimônio, acolheu os doissobrinhos que ficaram como fi-lhos do coração, dando-lhes no-vos irmãos.

Cândida Augusta Bezerra de Me-nezes, nome que passara a

utilizar depois do casa-mento, nascera, pro-

vavelmente,em 1851,pois que desencar-nara aos 58 anos.O fato de ser 20

anos mais novaque o marido,

nascido em 1831, era algo comumno Brasil do século XIX. Por umaquestão cultural das famílias, àépoca, as filhas também se casa-vam bastante cedo. Curiosamente,Cândida Augusta nasceu no anoda chegada de Bezerra ao Rio deJaneiro. “Meigo espírito”, confor-me descreve Reformador de 15 deabril de 1909 (p. 135-136), veio,certamente, com a missão precí-pua de dar o suporte familiar e afe-tuoso necessário ao esposo, quan-do este, no futuro, iniciasse suasatividades na seara espírita.

Cândida era conhecida pelos fa-miliares e, provavelmente, pelo pró-prio marido através do terno ape-lido de “Dodoca”. Levara uma exis-tência de virtudes, de trabalho ede provações, ao lado do amadocompanheiro. Bezerra de Menezes,depois de ter perdido na políticado Império a fortuna que adqui-rira como empresário, viveu os úl-timos anos de sua existência, po-bre, cercado de embaraços e di-ficuldades. Para isso contribuiu,

Cândida Augusta Bezerrade Menezes

Cem anos de desencarnação

HLU C I A N O KL E I N FI L H O

também, a magnanimidade doseu coração, o seu espírito des-pojado, que o levava frequente-mente a repartir tudo quanto pos-suía com os necessitados que a elerecorriam.

Em meio às privações daí re-sultantes, dos dissabores e vicis-situdes tão comuns à vida do ho-mem público de seu tempo, a Mi-sericórdia Divina lhe ensejou oamparo carinhoso de sua queri-da Dodoca, com quem partilha-va as alegrias e amarguras do co-ração. Foram trinta e cinco anosde afetuosa convivência, até a se-paração física de Bezerra, ocorri-da em 11 de abril de 1900. O de-senlace do marido converteu-senuma dolorosa provação na suavida, até aí tão tranquila e feliz,não obstante as intempéries exis-tenciais anteriormente experi-mentadas.

Entretanto, conforme testemu-nham aqueles que a conheceram,Dodoca era uma alma de criança,duplicada de meiguice e singeleza,que nem os anos nem as vicissitu-des e decepções do mundo conse-guiram modificar.

Reformador de 15 de abril de1909, ao lhe render singela home-nagem, faz alusão ao fato de queapesar de seu desejo em se reunir,brevemente, ao esposo amado nomundo espiritual, era para elaangustiante essa possibilidade, emface da situação dos filhos meno-res que deixaria.Verificando no Ar-quivo Nacional o inventário da Fa-mília Bezerra de Menezes, consta-tamos que, ao desencarnar, Bezer-ra deixou seis filhos: Ernestina,

Otávio, José Rodrigues, Francis-co da Cruz, Hilda e Maria daConceição. Estes três últimostinham, respectivamente, 16,14 e 9 anos.

O mesmo Reformador re-vela, ainda, que Dodoca eraespírita, absolutamente con-vencida da imortalidade e dasobrevivência da alma. Quan-do a enfermidade, que há lon-gos anos lhe minava o organis-mo, a prostrou definitivamen-te no leito, ela foi, aos poucos,preparada para a desen-carnação, através daação de amigos espi-rituais e particular-mente de Bezerra deMenezes, que via fre-quentemente à ca-beceira do leito. Sobessa influência sua-ve e amorosa, manteve-se resig-nada e confiante de tal formaque, poucas semanas antes dedesencarnar, fez suas últimas dis-posições, indicando até as rou-pas com as quais gostaria deser amortalhada. Conversava so-bre o próximo desfecho coma mesma tranquilidade como setratasse de uma viagem ou de umpasseio.

O autor do artigo constante deReformador, que não se identifica,assevera:

Quem estas linhas escreve, vendo-

-a tão admiravelmente preparada,

bendizia no coração esta doutrina

que assim nos dá a tranquila con-

fiança e a perfeita serenidade para

o despertar na grande pátria.

Assim lúcida, assim confortada

se conservou Dodoca, tendo

apenas intermitências de an-

gústias físicas que a enfermida-

de lhe provocava, e durante as

quais só se lhe ouviam sair dos

lábios os nomes de Jesus e de

Bezerra, até que o seu débil cor-

pinho sucumbiu, aos cinquenta

e oito anos, e o seu espírito feliz

partiu para as regiões da luz.

Possa ele aí associando-se aos

novos trabalhos do seu idola-

trado companheiro de peregri-

nação terrena, voltar a alentar

os modestos trabalhadores des-

ta Doutrina, que foi o seu con-

forto nas horas de agonia e é

a nossa suprema salvaguarda

contra os desfalecimentos e os

revezes. [...]

39Março 2009 • Reformador 117

40 Reformador • Março 2009 118

iante de acontecimentosdesagradáveis no dia a dia,logo responsabilizamos a fa-

talidade e o destino, sem fazer umamaior reflexão. Mas, será que tu-do em nossa vida está predetermi-nado? Será que o nosso destinofoi traçado? Como entender fata-lidade na visão espírita?

Lemos nos dicionários que fa-talidade é a qualidade de fatal. E quefatal é o determinado, o marcado, ofixado pelo destino. Ou seja, é a atua-ção de uma força maior a nos sub-meter a acontecimentos que inde-pendem de nós e dos quais nãopodemos escapar. Precisamos refle-tir e ver outros pontos importantesem torno desses conceitos. Sendo a

nossa intenção analisar o assuntodentro da visão espírita, vejamos oque nos diz O Livro dos Espíritos,Ed. FEB (questão 872):

[...] A fatalidade, como vulgar-

mente é entendida, supõe a de-

cisão prévia e irrevogável de to-

dos os sucessos da vida, qual-

quer que seja a importância de-

les. Se tal fosse a ordem das coi-

sas, o homem seria qual máqui-

na sem vontade. [...]

Concordamos com essa afir-mativa, pois não nos vemos comomáquinas. E se tudo já estivesseescrito, ninguém seria responsávelpor falta alguma, tampouco teriamérito por coisa nenhuma. Sería-mos meros fantoches e estaríamosà mercê do destino, o que nos pa-rece incompatível com o conceito

de Justiça Divina que os Espíritosnos apresentam.

Fatal, na verdadeira acepção dapalavra, só é o fato de que vamosum dia biologicamente morrer,pois, quanto às outras coisas, acada momento estamos transfor-mando. Entendemos que o desti-no é quase sempre a consequênciade nossas atitudes mentais e com-portamentais, das escolhas que fa-zemos utilizando o nosso livre-ar-bítrio. Esse raciocínio encontra ex-plicação em O Livro dos Espíritos,no qual a Espiritualidade diz (ques-tão 859a):

[...] Não creiais, entretanto, que

tudo o que sucede esteja escrito,

como costumam dizer. Um

acontecimento qualquer pode

ser a consequência de um ato

que praticaste por tua livre

Fatalidade e

destino

D

“É o homem, por sua própria vontade, quem forja as próprias cadeias, é ele quemtece, fio por fio, dia a dia, do nascimento à morte, a rede de seu destino.”

Léon Denis1

JO S É AN TO N I O FE R R E I R A DA SI LVA

1O problema do ser, do destino e da dor. Riode Janeiro: FEB, 2007. P. 2, O problema dodestino, item 13, p. 231.

vontade, de tal sorte que, se não

o houvesse praticado, o acon-

tecimento não se teria dado. [...]

Contudo, fatalidade não é umapalavra vã, ela está presente no gê-nero de existência que nós esco-lhemos como prova, expiação oumissão, antes de reencarnamos, poishá escolhas quase impossíveis deserem alteradas, como as doençascongênitas, por exemplo. Confor-me lemos na questão 851, tambémde O Livro dos Espíritos:

A fatalidade existe unicamente

pela escolha que o Espírito fez,

ao encarnar, desta ou daquela

prova para sofrer. Escolhendo-

-a, instituiu para si uma espécie

de destino, que é a consequên-

cia mesma da posição em que

vem a achar-se colocado. [...]

Com o uso do livre-arbítrio,temos a liberdade de alterar as es-colhas feitas ainda na Espirituali-dade, pois tanto podemos aprovei-tá-las com resignação e superação,quanto nos revoltar, perdendo as-sim a oportunidade de aperfei-çoamento que estamos vivendo.

O Espiritismo nos ensina a vernos acontecimentos negativos eperturbadores muito mais que fa-

talidade e destino; ensina-nos a vera consequência de nossas esco-lhas equivocadas, não apenas deoutras encarnações, mas, também,da atual. Ensina, ainda, que pormais difíceis que se apresentemas situações, nós somos senho-res dos nossos destinos e podemoscom o uso do livre-arbítrio alteraras nossas escolhas, para trazermoso melhor à nossa existência.

41Março 2009 • Reformador 119

Retificando...

Na Entrevista de Saulo Gomes sobre Chico Xavier(Reformador de novembro de 2008), na referência à data do“Pinga Fogo” (p. 12), onde se lê “27 de julho de 1971”, leia--se “28 de julho de 1971”.

Na matéria sobre a Reunião do Conselho FederativoNacional (Reformador de janeiro de 2009), item 2.4, onde selê (p. 40) “Como atividade pré-congresso, no dia 15 de abrilde 2009”, corrija-se o ano para 2010.

42 Reformador • Março 2009120

Seara Espírita

São Paulo: Comemorações das CasasAndré Luiz

O Centro Espírita Nosso Lar Casas André Luiz, de SãoPaulo (SP),completou 60 anos no dia 31 de janeiro e,pa-ra comemorar, promoveu palestra com o orador es-pírita Divaldo Pereira Franco, sobre o tema “Doutri-na Espírita transformando vidas”. Houve apresenta-ção da orquestra sinfônica Heliópolis Projeto Institu-to Baccarelli. O presidente da FEB, Nestor João Masotti,esteve presente. Informações: www.radioboanova.com.br

Bahia: Encontro Estadual do ESDEA Federação Espírita do Estado da Bahia promoveu,em sua sede, no dia 8 de fevereiro, o XXI EncontroEstadual do ESDE, com o tema central “ESDE Escolado Espírito”. O encontro teve como objetivo princi-pal debater uma proposta de ensino para o EstudoSistematizado da Doutrina Espírita, capaz de integrarteoria e prática em seus aspectos científico, filosóficoe religioso, possibilitando ao adepto a vivência dosreferenciais espíritas-cristãos. O evento aconteceu nasede da FEEB. Informações: www.feeb.com.br

FEB: II Encontro de TrabalhadoresAs Áreas de trabalho do campo experimental da Fe-deração Espírita Brasileira, em Brasília, promoveramno dia 28 de fevereiro o II Encontro de Trabalhadoresda Instituição. O público-alvo foram as equipes detrabalho da FEB. Informações: (61) 2101-6161.

CEI: Visita à America CentralNo período de 24 de janeiro a 3 de fevereiro, umaequipe do Conselho Espírita Internacional visitou ins-tituições espíritas de Honduras, El Salvador, Guate-mala e Costa Rica. Na oportunidade, Roberto FuinaVersiani, Luís Hu Rivas e Marta Antunes de OliveiraMoura, esta, diretora da FEB, desenvolveram pales-tras e seminários sobre as finalidades e atuações doCentro Espírita. Informações: [email protected]

Paraná: Atendimento EspiritualA Federação Espírita do Paraná promoveu no dia 8

de fevereiro, pela manhã, sob a coordenação deMaria da Graça Rozetti e Valdecir José Rozetti, doSetor de Atendimento Espiritual da FEP, o seminá-rio “Atendimento Espiritual à Luz dos Ensinamentosde Jesus”. O evento ocorreu na Sociedade EspíritaPaz, Amor e Luz, em Cascavel (PR), abordando-se ostemas:“A importância da Doutrina Consoladora”,“As-pectos da vivência dos Ensinos de Jesus”, “O refrigé-rio da palavra confortadora”, “A Ação espiritualnos diálogos e nas vivências”, “Buscai e Achareis, Pe-di e vos será dado” e “Ação espiritual nas nossas vidas”.Informações: www.feparana.com.br

Brasília (DF): Comunhão preparaCinquentenário

A Comunhão Espírita de Brasília, uma das primeirasinstituições do Distrito Federal, realizou sessão alusi-va ao aniversário de sua fundação, no dia 16 dejaneiro, preparando as comemorações de seu Cin-quentenário, em 2010. Na oportunidade, ocorreramsignificativos depoimentos de líderes pioneiros doMovimento Espírita do Distrito Federal e de funda-dores da Comunhão. A FEB esteve representada pelodiretor Antonio Cesar Perri de Carvalho.

Paraíba: Encontro EspíritaA Federação Espírita Paraibana promoveu mais umEncontro Espírita da Paraíba (Enesp), nos dias 21,22, 23 e 24 de fevereiro. O evento contou com a par-ticipação do presidente da FEB, Nestor João Masotti.Os palestrantes desenvolveram temas voltados para“O Espiritismo na Contemporaneidade” como: “A ju-ventude e seus desafios atuais”; “Atendimento espiri-tual na Casa Espírita”;“Obsessão e os transtornos men-tais”; “Atendimento fraterno e mediunidade: espaçospara Educação dos Sentimentos”; “A ciência do espíri-to e questões atuais”; “A ética da alteridade na pers-pectiva espírita”; “Ansiedade, neurose e depressão: osproblemas da alma”; “Jesus e a atualidade: superandodesafios do mundo contemporâneo”; “O Espiritismoe sua divulgação na mídia”; “O Espiritismo na Con-temporaneidade”. Informações: [email protected]