Crônica sobre o gato de biblioteca e Educação Previdenciária

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O texto trata das várias questões mais cotidianas que envolvem Educação Previdenciária. O conteúdo foi escrito em estilo de crônica e depoimento pessoal.

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CRÔNICA SOBRE O GATO DE BIBLIOTECA E EDUCAÇÃO PREVIDENCIÁRIA Por Eliane Miraglia • NOVEMBRO DE 2010

São inumeráveis os desafios para quem se dispõe a fazer educação previdenciária. Para mim, o maior deles é a naturalização. Quer dizer, começar a ver os fatos do seu cotidiano alinhavado com os valores essenciais que a educação previdenciária propõe. Há uma abordagem totalmente lógica e racional e outra emocional, não linear. Às vezes, elas se misturam. Tenho duas dessas histórias sobre as quais quero escrever agora. Há algumas semanas, uma amiga bibliotecária, entregou-me um livro. E me recomendou: “leia para se distrair e passar o tempo”. Na capa, um gato amarelo. Junto da obra, uma encomenda: escrever o memorial da carreira profissional dela. Eu realmente não estava inspirada para nenhuma das duas coisas. Mas, comecei pela primeira e fui descobrindo naquela história real sobre um bichano de Iowa, nos Estados Unidos, um jeito de roteirizar uma entrevista com a minha amiga. Por isso, à medida que a leitura avançava, o livro (que não era meu) ia ficando marcado, com muitas bandeirolas amarelas, post-its com as palavras-chave: acessibilidade, biblioteca infantil, análise da comunidade, clubes, rádio, marketing e design gráfico, reforma da biblioteca, prestação de serviços de utilidade pública, rotina de trabalho, interdependência e cidadania. Interrompi a leitura na metade, deixei o livro com as bandeirolas sobre a estante. Entrevistei, escrevi, revisei, corrigi, sugeri alterações, finalizei e entreguei o memorial técnico para minha amiga. Dia 26 de outubro, integrei o grupo de palestrantes que ministrou em São Paulo um curso sobre Educação Previdenciária. No material que preparei para apresentar, juntei o Guia Previc de Melhores Práticas em Previdência Complementar. Meu exemplar, obviamente, estava todo marcado – tanto com bandeirolas multicores, quanto com caneta destaca texto. O que eu pretendia era compartilhar uma leitura muito individual e incentivar a interação dos alunos com aquele material didático, sintético, prático e simples de ler que tínhamos oferecido durante o curso. Para minha surpresa, os presentes também se interessaram pelas marcas que eu havia feito naquele território ainda desconhecido para alguns deles. Aliás, até mesmo quem já havia se aventurado na leitura daquele texto, pediu para anotar as minhas sinalizações de leitura! Não é incrível? Aquilo me deixou lisonjeada e com a sensação estranha de capitã de nau pirata detentora de um mapa cheio de “X”, simbolizando uma orientação silenciosa: cave aqui e você encontrará um tesouro e, se continuar cavando, encontrará incontáveis outros... Com a chuva do último sábado, decidi terminar alguns livros que estavam meio perdidos na minha vida, entre eles Dewey, um gato entre livros (Ed. Globo). Aquele que preciso devolver à minha amiga. O exemplar ainda estava todo demarcado com post-its. Mas, aconteceu outra coisa incrível! Eu passei a ler aquela história pelas as lentes da educação previdenciária. Juro, não foi intencional, nem planejado. Eu simples e naturalmente, comecei a perceber a importância das teorias, sobre as quais falo nos meus seminários, refletida naquelas histórias de gente, de luta, de valores. Por meio de um gato, resgatam-se as cenas mais prosaicas de ciclos de vida e morte de pessoas e das cidades. De proteção e de abandono. De oportunidades e escolhas. De individualidades e cidadania. Da imensidão de perfis aos quais estamos inevitavelmente em

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contato, em nossas redes ilimitadas de relacionamento. E da capacidade de se interagir e transformar essas redes. Pensei em remarcar o livro – por essa nova perspectiva de leitura. Talvez, ainda faça isso, assim que tiver o meu exemplar e com quem compartilhar essa experiência, além dessa crônica. Rubem Alves diz que os educadores não são feitos. Eles nascem. Em relação a educadores previdenciários, eu acrescentaria: e de maneiras muito inusitadas. Eliane Miraglia - mestre em Ciências da Comunicação, especialista em Gestão de Processos Comunicacionais e consultora de comunicação. Com Marisa Santoro Bravi, escreveu A importância dos valores para a construção de novos paradigmas sociais, disponível para leitura em http://biblioteca.abrapp.org.br/default.html