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A474v Alves, Silvio Dutra Virá e não tardará/ Silvio Dutra Alves. - Rio de Janeiro, 2015. 146p.; 14,8x21cm
1. Escatologia. 2. Teologia. 3. Apocalipse. 4. Tribulação. 5. Arrebatamento. 6. Milênio. 7. Eternidade. I. Título.
CDD 228
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Sumário
Introdução..................................................................... 5
Renúncias Necessárias..................................... 6
A Amputação Que É Necessária Para
Entrar no Céu.........................................................
11
“...quem neste mundo odeia a sua vida,”. 14
Renúncia e Abnegação...................................... 17
O Verdadeiro Significado da Renúncia.. 20
Aquele que Não Renunciar a Tudo o Que Tem Não Pode Ser Meu Discípulo....
27
Criado para Ser Espiritual e não Carnal... 33
Porque a Vida Eterna Demanda a Morte
do Nosso Ego..........................................................
35
Se Não Perder Não Ganhará.......................... 39
Trazendo no Corpo a Mortificação de
Jesus............................................................................
42
Esvaziar-nos de nós Mesmos Para Sermos Úteis..........................................................
45
Escrito na Mente e no Coração.................... 50
O Governo Usurpador da Alma Sobre o
Nosso Espírito........................................................
54
A real condição da natureza humana........ 69
O homem é inimigo de Deus.......................... 73
Despindo-se do Velho e Revestindo-se do Novo......................................................................
76
Como e porque ser espiritual e não
carnal.........................................................................
78
Não Mais na Carne.............................................. 113
A Supremacia do Espírito Sobre o Corpo. 119
Espiritual.................................................................. 129
4
A Natureza da Nova Criatura em Cristo
Jesus............................................................................
133
Natural e Espiritual............................................. 137
Curando a Doença e Não Aliviando Somente os Sintomas.........................................
142
Destruindo a Fábrica do Mal e Não
Apenas os Seus Produtos.................................
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Introdução
Watchman Nee costumava dizer que a primeira
e principal lição que deveria ser ensinada aos
novos convertidos era aquela que foi tão
enfatizada por nosso Senhor Jesus Cristo em seu ministério terreno, de que deveríamos nos
negar a nós mesmos, tomar a cruz diariamente
e segui-lo para que pudéssemos ser de fato seus
discípulos.
Como há muita falta da devida compreensão do
significado desta ordenança, resolvemos tratar
do assunto neste livro, fundamentando nossas palavras no ensino bíblico e na forma como esta
verdade declarada por nosso Senhor se aplica e
se ajusta à realidade prática da vida.
Com tal propósito em vista reunimos alguns dos
vários artigos que escrevemos sobre este assunto e esperamos que eles sejam de alguma
valia para os amados leitores.
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Renúncias Necessárias
Nós lemos no texto de Lucas 14.25-35 o seguinte:
“25 Ora, iam com ele grandes multidões; e, voltando-se, disse-lhes:
26 Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e
mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda
também à própria vida, não pode ser meu discípulo.
27 Quem não leva a sua cruz e não me segue, não
pode ser meu discípulo.
28 Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se senta primeiro a calcular as
despesas, para ver se tem com que a acabar?
29 Para não acontecer que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar,
todos os que a virem comecem a zombar dele,
30 dizendo: Este homem começou a edificar e
não pode acabar. 31 Ou qual é o rei que, indo entrar em guerra
contra outro rei, não se senta primeiro a
consultar se com dez mil pode sair ao encontro
do que vem contra ele com vinte mil? 32 No caso contrário, enquanto o outro ainda
está longe, manda embaixadores, e pede
condições de paz.
33 Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser
meu discípulo.
34 Bom é o sal; mas se o sal se tornar insípido,
com que se há de restaurar-lhe o sabor?
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35 Não presta nem para terra, nem para adubo;
lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir,
ouça.”
A obediência e serviço a Cristo são na verdade
uma sequência de renúncias feitas por amor a
Ele, e para que a Palavra de Deus se cumpra em nossas vidas.
Por exemplo, há necessidade que os pais
renunciem a seus filhos, e os filhos a seus pais,
para que o propósito de Deus relativo ao casamento se consolide, pelo ato de deixar o
homem pai e mãe, se unir à sua mulher, para
que não sejam mais dois, mas uma só carne aos
olhos do Senhor. Todavia, há uma renúncia suprema que se
impõe ao próprio casal, de maneira que deverão
aprender a renunciar-se mutuamente, para que
o amor e serviço a Cristo, venham em primeiro lugar em suas vidas.
Por isso, nosso Senhor enunciou claramente às
multidões que O seguiam, as condições
necessárias para o discipulado, porque ninguém poderá ser Seu discípulo se não
renunciar a tudo quanto possui.
Quem quiser ser discípulo de Cristo terá que
aprender a renunciar a tudo que lhe seja muito querido, e até à Sua própria vontade.
Ninguém poderá guardar a palavra de
perseverança do Senhor, que consiste em não
negar o Seu nome e os Seus mandamentos, sejam quais forem as circunstâncias, caso não
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se tenha um sincero amor a Cristo que seja
superior a tudo o mais que ame neste mundo,
incluindo a sua própria vida.
Isto porque nas situações práticas da vida, o serviço ao Senhor exigirá renúncias da parte de
Seus discípulos.
Eles terão que sacrificar os interesses de outras pessoas e até os seus próprios interesses, para
que possam, não raras vezes, se dedicarem ao
serviço do Senhor.
Para melhor esclarecer o caráter da renúncia que se exige dos discípulos, nosso Senhor
comparou tal renúncia como aquela que se faz
necessária aos que se empenham numa guerra.
Eles terão que reunir recursos para a batalha e terão que deixar todas as demais coisas que eles
amam para que possam se dedicar aos combates
que terão que empreender na guerra em que
estiverem empenhados. Para o mesmo propósito usou a ilustração de
quem edifica uma torre.
Ele não poderá concluir a construção caso não
calcule o custo dos materiais e caso não se dedique totalmente ao projeto da torre que
pretende construir.
Isto lhe tomará tempo e dinheiro e não poderá
estar mais dedicando a totalidade do seu tempo a outras atividades e interesses. O afeto natural pelas pessoas que amamos terá
que ceder lugar muitas vezes ao afeto espiritual,
que decorre do amor celestial divino, para o atendimento daqueles aos quais devemos servir
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pela vontade do Senhor, toda vez que tais afetos
colidirem.
Servir ao Senhor é então comparado aos
sacrifícios e renúncias que se exigem daqueles que se empenham numa guerra ou num projeto
de construção.
Quando o nosso afeto natural pelos nossos pais entrar em competição com o nosso dever
evidente para com Cristo, nós temos que dar
prova do nosso amor ao Senhor, cumprindo o
que se exige de nós, conforme revelado na Sua Palavra, mesmo quando isto signifique
contrariar aqueles que amamos, ou então que
tal implique um grande sacrifício a ser feito por
nós. Cristo deve ter a preferência em todas as coisas,
se quisermos fazer a Sua vontade, e sermos
agentes da sua bênção para muitas pessoas que
necessitam do seu amor. Quantos interesses de amigos terão que ser
deixados para trás para que possamos fazer a
vontade de Deus, em relação a algum serviço
prático que Ele nos tenha ordenado. Não raras vezes, Deus colocará o nosso amor por
Ele à prova, fazendo com que tenhamos a
oportunidade de demonstrar na prática a nossa
dependência dEle, e fidelidade a Ele e à Sua Palavra, em meio às tribulações que nos
alcançam em forma de enfermidades,
carências, perseguições, etc.
Se não estivermos dispostos a fazer a renúncia total que Cristo exige de nós, é certo que o
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inferno se rirá, e muitas pessoas também rirão
de modo escarnecedor por termos começado
um relacionamento com o Senhor, e não termos
permanecido de modo constante na realização e consumação do nosso amor a Ele, por Lhe
termos voltado as nossas costas.
Assim, todo verdadeiro cristão deve ter uma posição firme e definida contra todo tipo de
apostasia e corrupção de mente e de espírito,
porque tal apostasia e corrupção lhe tornarão
inútil para os propósitos de Deus, e ele virá por fim a ser como o sal que perdendo o seu sabor,
para nada mais presta senão para ser lançado
fora para ser pisado pelos homens, como disse
Jesus.
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A Amputação Que É Necessária Para
Entrar no Céu
“E, se tua mão te faz tropeçar, corta-a; pois é
melhor entrares maneta na vida do
que, tendo as duas mãos, ires para o inferno, para o fogo inextinguível onde
não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga.
E, se teu pé te faz tropeçar, corta-o; é melhor
entrares na vida aleijado do que, tendo os dois pés, seres lançado no inferno onde não lhes
morre o verme, nem o fogo se apaga.
E, se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-
o; é melhor entrares no reino de Deus com um só dos teus olhos do que, tendo os dois seres
lançado no inferno, onde não lhes morre o
verme, nem o fogo se apaga.” (Marcos 9.43-48)
Com este ensino, nosso Senhor Jesus Cristo
enfatizou a vital importância da salvação da
alma, pela demonstração que caso fosse necessário para obtê-la, deveríamos amputar
partes importantes do nosso corpo físico, que
por suposição, fossem a causa de nos manterem
aprisionados ao pecado. É evidente que Ele não está recomendando uma
prática de mutilações literais, porque nos é
ordenado também por Deus o cuidado com a
preservação do nosso corpo físico. Mas, para ilustrar que em não raros casos, a
salvação será obtida por renúncias a práticas
pecaminosas, que serão dolorosas para nós, e
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muitas vezes, que até mesmo colocarão em
risco a nossa integridade física – quantos não
foram e que têm ainda sido martirizados por
conta da fé que abraçaram, ainda que não tivessem tropeçado, dando causa a isto - todavia,
sofreram com paciência e voluntariamente o
martírio sabendo que havia uma vida muito melhor e eterna lhes aguardando, a qual, na
verdade, já estavam experimentando desde que
se converteram a Cristo.
O ensino de nosso Senhor alude à mortificação do pecado, que deve ser feita por todos os
cristãos. Este é um dever que deverão operar
para a sua santificação, pelo corte de afeições
pecaminosas e todo o tipo de inclinações carnais que os levem a pecar. Os que se
entregam a este trabalho evidenciam em si
mesmos que entraram no reino de Deus, e por
conseguinte, jamais serão lançados no inferno eterno.
A ilustração da amputação dos membros indica
portanto que o trabalho de mortificação do
pecado não é algo nocional, ou de mero caráter intelectual, mas algo que será realizado em
nossa própria vida, atingindo o âmago do nosso
ser, pelo despojamento do velho homem, da
natureza terrena decaída no pecado que foi crucificada juntamente com Cristo, recebendo
a necessária sentença de morte para que
possamos viver em novidade de vida.
Nosso Senhor não fez portanto, uma aplicação relativa a um suposto castigo de pecados
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cometidos, mas uma alusão à remoção
necessária do pecado, para que possamos entrar
no reino de Deus. Assim, as concupiscências que combatem contra a alma devem ser removidas.
Esta amputação de caráter espiritual não é para
morte, assim como na ilustração apresentada por nosso Senhor não foi indicada a amputação
de qualquer órgão vital. É uma remoção para
vida e não para morte. Assim como quem
amputa um órgão gangrenado para continuar vivendo, neste caso apresentado a retirada das
inclinações e dos hábitos pecaminosos visam
mais do que permitir que continuemos vivendo
esta vida natural, senão que obtenhamos a vida espiritual eterna.
Outra parte importante do ensino de Jesus é o de
que a alma embora esteja morta com suas partes
gangrenadas pelo pecado, ela pode ainda ser recuperada, desde que nos apresentemos a Ele
para a realização deste trabalho de remoção
daquelas coisas que são para nós a causa do
nosso tropeço, e que impedem a nossa entrada no reino de Deus.
Assim, aqueles que carregam este corpo de
morte do pecado em sua jornada terrena, mas
do qual vão se despojando ao longo de sua caminhada, haverão de ter a sua entrada no
reino de Deus, amplamente suprida.
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“...quem neste mundo odeia a sua vida,”
(Jo 12.25)
O mesmo Jesus que disse em João 12.25.26:
“Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste
mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna. Se alguém me quiser servir, siga-me; e
onde eu estiver, ali estará também o meu servo;
se alguém me servir, o Pai o honrará.", também
disse que veio a este mundo para que tivéssemos vida, e que a tivéssemos em
abundância (Jo 10.10).
Não há qualquer paradoxo entre as duas
passagens bíblicas citadas; ao contrário, são idênticas e complementares mutuamente.
O ponto a ser destacado é que nosso Senhor se
refere a dois tipos de vida: a natural, relativa a
este mundo cuja fonte reside na nossa natureza terrena pecaminosa, a qual deve ser perdida
pelo trabalho da cruz, por odiarmos o pecado
que em nós habita e que há no mundo; e a vida que é santa, espiritual e celestial que recebemos
por meio da fé em Jesus, pois é este o tipo de vida
abundante que somente Ele pode nos dar.
A manifestação desta vida celestial abundante independe de circunstâncias, se somos ou não
afligidos por provações em forma de
enfermidades, perseguições, pobreza, e até
mesmo pelas tentações da carne, do mundo e do diabo.
Aquele que tem carregado a sua cruz
diariamente, e que tem crucificado o seu ego,
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seguindo o pendor do Espírito Santo por
caminhar em santificação com Jesus, terá uma
fonte de paz, alegria, gratidão, amor, jorrando
em seu interior para a vida eterna. Não importa que esteja preso injustamente, por
anos, como sucedeu com José no Egito,
conforme o conselho e determinação de Deus, para bons propósitos definidos para o
aperfeiçoamento de José na paciência e na
santificação; enquanto o mordomo de faraó, que
havia transgredido contra o próprio rei, foi colocado por ele em liberdade em poucos dias.
Os apóstolos foram também presos e
duramente perseguidos, mas perseveraram na
fé, na paciência e na esperança, enquanto aqueles que os oprimiam prosperavam
materialmente neste mundo, e no entanto, não
haviam alcançado a vida eterna abundante que
eles possuíam. Deus corrige, repreende e disciplina apenas
aqueles que são seus filhos, e esta é uma das
razões porque são provados por Ele em
circunstâncias em que os que os ímpios são livrados rapidamente, enquanto o crente
permanece por maior período debaixo dos
mesmos sofrimentos em que eles se
encontravam. Nestas tribulações dos crentes estão sendo
forjadas a fundamentação do caráter, a
paciência, a perseverança, a fé e a esperança.
É evidente que naqueles que amam o tipo de vida que o mundo tem a oferecer, ou seja, as
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coisas e os tipos de comportamentos que são
contrários à vontade e santidade de Deus;
nenhuma destas graças está sendo forjada, até
mesmo porque não as desejam ou conhecem; e como aqueles que amam o mundo permanecem
como inimigos de Deus, jamais obterão a vida
eterna que está em Jesus.
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Renúncia e Abnegação
Qual é o grande motivo da renúncia e abnegação
que nos são exigidas por nosso Senhor Jesus
Cristo? Creio que seja o compromisso total que é
necessário ter com Ele e com o evangelho.
Em várias passagens Ele ilustrou o caráter deste
compromisso pleno quando citou, por exemplo, que quem lança mão do arado e olha pra trás não
é apto para o reino de Deus (Lucas 9.61); que
quem começa a construção de uma torre ou
uma guerra deve concluí-las empenhando-se até o fim (Lucas 14.28-32).
O arar o campo, a construção da torre ; e a
declaração de guerra devem ser minuciosamente calculados e não podem ser
abandonados ou interrompidos de modo algum,
sob pena de termos o nosso trabalho
prejudicado e não concluído. Fomos empregados como lavradores e
construtores, e alistados como soldados de
Cristo ao nos convertermos a Ele, e para agradá-
lo deveremos cuidar inteiramente dos interesses do seu reino.
Em consequência teremos que renunciar a
muitos projetos e desejos pessoais; teremos que
priorizar o nosso tempo para Cristo e o reino, e isto certamente encurtará o tempo que
dispendemos sobretudo com os nossos
familiares e as pessoas que exigem muito da
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nossa atenção em nossos relacionamentos, e
por isso Jesus disse que:
“Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e
mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também à própria vida, não pode ser meu
discípulo.” (Lucas 14.26)
Como isto contraria os nossos sentimentos e vontade naturais, então necessitaremos colocar
em prática o que Ele nos ensina:
Primeiro,
“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si
mesmo, tome a sua cruz, e siga-me;” (Lucas
14.27)
E em seguida, “Assim, pois, todo aquele dentre vós que não
renuncia a tudo quanto possui, não pode ser
meu discípulo.” (Lucas 14.33)
Não há outra alternativa para vencer nossos afetos naturais que possam nos impedir de
servir ao Senhor inteiramente senão a
crucificação do nosso ego com todos os seus
desejos. Teremos que contrariar nossos desejos e até a
própria vida para que possamos servir a Cristo
da maneira pela qual convém ser servido.
Ele nos deu o exemplo supremo disto não fazendo a sua própria vontade, senão a do Pai,
para que pudesse consumar a nossa salvação.
De igual forma isto se aplica a nós, porque não
podemos nos empenhar na obra de salvação de
20
O Verdadeiro Significado da Renúncia
“26 Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai
e mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e
ainda também à própria vida, não pode ser meu discípulo.
27 Quem não leva a sua cruz e não me segue, não
pode ser meu discípulo...
33 Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser
meu discípulo.” (Lc 14.26, 27, 33).
O verdadeiro significado da renúncia cristã não diz respeito tanto ao que abandonamos e o
esforço que realizamos, quanto por quem o
fazemos, a saber, se por nós mesmos ou por Cristo.
Este desapego às coisas que mais amamos,
inclusive a nós mesmos, conforme nos é
imposto pelo Senhor para segui-lO, é de caráter totalmente diferente das renúncias que as
pessoas costumam fazer para atingirem seus
objetivos, porque elas o fazem por si mesmas e
por aquilo que escolhem fazer, e não para Cristo, e segundo a Sua vontade divina.
O cristão é portanto chamado a se auto negar e
carregar a cruz que mortificará o seu ego, para
poder seguir verdadeiramente a Cristo, de maneira que possa dizer de fato que tem feito a
vontade de Deus neste mundo, e não a sua
própria vontade.
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Nós selecionamos apenas três versículos da
porção de Lucas 14.25-35 nos quais Jesus expôs
as condições exigidas por Ele para o discipulado,
de maneira que aqueles que pretendem segui-lO fazendo a Sua vontade estejam plenamente
instruídos quanto ao que será exigido deles para
tal, de maneira que possam se armar do pensamento das coisas que terão que fazer e ao
que terão que renunciar se pretenderem fazer
de fato a vontade de Deus.
Todos os que pretenderem seguir a Cristo têm que contar com o pior, e se prepararem
adequadamente.
É possível que muitos discípulos de Jesus
pensassem que Ele lhes diria o seguinte: “Se qualquer homem vier a mim, e for meu
discípulo, ele terá honras e riquezas em
abundância neste mundo.”. Mas Ele lhes disse
exatamente o contrário disto, e lhes revelou que deveriam se dispor a deixar tudo o que fosse
querido a eles, e deveriam ser desmamados de
tudo aquilo em que buscavam o seu conforto e
segurança, e que teriam aflições. Eles deveriam morrer para tudo aquilo que lhes
desse conforto e segurança no mundo e
morrerem inclusive para si mesmos, não mais
vivendo para fazer a vontade do eu, de maneira que pudessem conhecer e praticar a vontade de
Deus. Assim ninguém pode ser discípulo de Cristo se
não estiver disposto a contrariar a vontade de seus familiares (v. 26) quando esta vontade
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entrar em competição com a de Deus. E não
somente isto, deve estar disposto a contrariar a
sua própria vontade e vida. Se não for sincero
nisto e se não o fizer, não poderá ser constante e perseverante na obra de Deus, a não ser que ame
mais a Cristo do que qualquer outra coisa neste
mundo, e esteja disposto a se separar de tudo aquilo que ele possuir oferecendo-o como um
sacrifício para Deus, de maneira que Cristo
possa ser glorificado por esta nossa separação
para nos consagrarmos inteiramente a Ele (tal como os mártires que não amaram as suas vidas
diante da morte).
É somente quando nos separamos dos afetos
que nos prendem a este mundo, que somos capacitados a servir melhor a Cristo.
Assim Abraão se separou do próprio país dele, e
Moisés da corte de faraó.
Não é feito nesta passagem de Lucas menção a casas e terras porque a filosofia ensinará a olhar
para isto com desprezo; mas o cristão considera
isto de uma maneira bem mais elevada, por
saber que tudo o que o homem amar seja em seu relacionamento com pessoas ou bens, se ele for
um discípulo de Cristo, terá que amar menos
estas coisas do que a Cristo, e estar disposto a se
separar delas caso seja necessário para continuar seguindo ao Senhor.
Não que as pessoas que amamos devam ser em
algum grau desprezadas, mas deve ser perdido o
conforto e satisfação que achamos nelas para que somente Cristo seja todo o conforto e
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sustentáculo de nossas vidas. E é a este tipo de
renúncia a que o Senhor se refere ao dizer que é
necessário renunciar a tudo para ser seu
discípulo, isto é, aqueles que pretendem segui-lo não podem ter a razão da sua esperança e
conforto em qualquer coisa ou pessoa deste
mundo, porque terão que aprender a depender inteiramente do Senhor porque Deus os provará
muitas vezes vendo falhar ou faltar estes
confortos, e não raro, mesmo aqueles que muito
amamos e prezamos se levantarão contra nós quando perceberem a nossa plena disposição de
nos consagrarmos inteiramente a Deus.
Quando nosso dever para com nossos pais
entrar em competição com nosso dever evidente para Cristo, nós temos que dar a
preferência a Cristo. Se nós tivermos que negar
a Cristo para não sermos banidos por nossos
parentes, nós temos que perder a companhia deles e permanecer fiéis a Cristo.
Todo homem ama a sua própria vida, mas nós
não podemos ser discípulos de Cristo se nós não
O amamos mais que nossas próprias vidas. A experiência dos prazeres da vida espiritual e a
esperança da vida eterna farão com que esta
dura declaração do Senhor se torne fácil.
Quando a tribulação e a perseguição surgirem por causa da Palavra, então principalmente a
tentação será superada se nós amarmos mais a
Cristo.
A tentação constante de buscarmos a Deus para que Ele faça a nossa vontade, em vez de nos
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inteirarmos qual seja a vontade dEle para
conosco, para que nos empenhemos em fazê-la,
só pode ser tratada pela cruz, que imporá sua
sentença de morte sobre os desejos carnais de nossa alma, de forma que sejamos conduzidos
pelo Espírito Santo.
Há um grande equívoco em se pensar que uma grande fé é aquela que consegue obter coisas de
Deus para própria e exclusiva conveniência
pessoal. Mas, ao contrário uma fé verdadeira em
exercício nos capacitará a renunciar a tudo e a fazer com amor e paciência perseverante a obra
que Deus nos tem designado, enquanto
descansamos na Sua promessa de suprir aquilo
que nos for necessário. Esta fé verdadeira em exercício fará muitas
petições a Deus, mas somente daquilo que for da
Sua vontade, para que possamos continuar a
Seu serviço neste mundo, que não devemos amar, e do qual devemos estar desmamados.
A verdadeira fé nunca levará um cristão
amadurecido e devidamente instruído a buscar
o que seja da sua própria conveniência, mas somente aquilo que é aprovado e conveniente
de ser pedido a Deus.
Ele saberá desfrutar o melhor desta vida, sem
qualquer ascetismo, mas nada terá o domínio de sua vontade e coração, porque este domínio
pertencerá ao Senhor, que sempre quer o
melhor para nós.
Os que são verdadeiramente discípulos de Cristo estão construindo uma torre que os
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aproxima cada vez mais das realidades do céu, e
eles sabem que a construção desta torre lhes
impõe o custo da mortificação dos seus pecados,
da renúncia ao mundo e ao eu, e de tudo o mais que é necessário para permanecerem em sua
obediência a Deus.
Eles são também como reis empenhados numa grande guerra contra os poderes das trevas,
contra o pecado, e contra as tentações do
mundo.
A vitória nesta guerra lhes exigirá o custo da vigilância, da oração perseverante, de estarem
equipados continuamente com toda a armadura
de Deus, resistindo firmes na fé ao diabo,
vivendo em sobriedade. Enfim, o discipulado cobra o preço da
consagração total a Deus, porque o homem de
coração dobre não obterá nada do Senhor. Não
se pode servir a dois senhores. Ou se serve a Deus ou às riquezas. Ao que é terreno ou ao que
é celestial. Ao que é do Espírito Santo ou ao que
é da carne. À luz ou às trevas. Não se pode ter um
pouco de um e um pouco de outro nestas coisas citadas. Se tivermos um não teremos o outro.
Porque onde estiver o nosso tesouro, ali estará
também o nosso coração. Mas é comum que
muitos se enganem pensando que estão seguindo a Cristo e fazendo uma obra
verdadeira para Deus enquanto não renunciam
a tudo quanto devem renunciar para que Cristo
e somente Cristo seja o grande prazer e objetivo de suas vidas.
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A vida cristã é uma declaração de guerra contra
o pecado, o diabo e o mundo, para que almas
possam ser resgatadas das trevas para a luz de
Jesus. E somente os que têm calculado o custo desta guerra e pago efetivamente o preço
necessário poderão desfrutar das grandes
vitórias que obterão pelo auxílio da graça do Senhor.
Sem esta renúncia que é imposta aos discípulos
de Cristo eles não poderão ter sal em si mesmos
para preservar este mundo da corrupção, e salgarem a vida de muitos com o testemunho de
suas próprias vidas. Sem renúncia o sal perde o
sabor e quando isto acontece é lançado fora e
será pisado pelos homens, porque terá perdido a sua função de salgar para preservar. Isto
ensina de modo muito claro que o Senhor
somente pode usar aqueles que estiverem
consagrando efetivamente suas vidas.
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Aquele que Não Renunciar a Tudo o Que
Tem Não Pode Ser Meu Discípulo
Nosso Senhor Jesus Cristo foi quem proferiu as
palavras do nosso título.
Há muitos ensinamentos para nós quanto a isto, na chamada de Eliseu.
Gostaríamos de enfocar o que lemos no texto de
I Reis 19.19-21:
“19 Partiu, pois, Elias dali e achou Eliseu, filho de Safate, que andava lavrando com doze juntas de
bois adiante dele, estando ele com a duodécima;
chegando-se Elias a Eliseu, lançou a sua capa
sobre ele. 20 Então, deixando este os bois, correu após
Elias, e disse: Deixa-me beijar a meu pai e a
minha mãe, e então te seguirei. Respondeu-lhe
Elias: Vai, volta; pois, que te fiz eu? 21 Voltou, pois, de o seguir, tomou a junta de
bois, e os matou, e com os aparelhos dos bois
cozeu a carne, e a deu ao povo, e comeram. Então se levantou e seguiu a Elias, e o servia.” .
Deus mesmo chamou Eliseu para ser profeta no
lugar de Elias, conforme se vê no verso 16,
quando lhe ordenou que ungisse a Jeú, rei de Israel, a Hazael, rei da Síria, e a Eliseu por
profeta.
Não foi numa escola de profetas, nem num
templo, que Eliseu foi chamado, mas no seu local de trabalho, quando arava o campo com
doze juntas de bois, sendo que ele próprio arava
com uma destas juntas.
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Não tem sido assim o método comum com o
qual muitos têm sido chamados pelo Senhor,
para deixarem suas atividades seculares, para
viverem do evangelho? Eliseu não deixou pouco para se consagrar à sua
chamada, pois se diz que arava com doze juntas
de bois. Ele ofereceu tudo o que tinha como um
holocausto, nas mãos do Senhor, como símbolo
da sua renúncia ao seu antigo modo de vida,
quando matou os seus bois e fez uma fogueira para assar a carne com os instrumentos com os
quais arava a terra.
Ele não seria mais agricultor dali por diante,
porque se desfez dos meios que eram necessários para a realização do seu antigo
sustento de vida.
Um dos motivos de Deus ter chamado Eliseu
para ser sucessor de Elias, foi o fato de apesar dele ser um homem importante, que tinha
servos, era simples e trabalhador, porque se diz
que ele também estava trabalhando no arado,
quando podia deixar todo o serviço pesado a cargo dos seus empregados.
Pessoas que buscam uma vida de mordomia
neste mundo não serão chamadas por Deus para
a Sua obra. O pedido de Eliseu para se despedir de seus pais,
não foi uma desculpa para demorar a atender à
chamada do Senhor, como a citada em Lucas
9.61. Ele somente o fizera por uma questão de respeito e dever para com os seus pais.
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Elias não constrangeu Eliseu a segui-lo, mas
lembrou-lhe somente que havia lançado o seu
manto sobre ele, como uma indicação de que
estava sendo chamado por Deus para ser preparado por ele, Elias, para o ministério, e isto
estava representado no fato de que estaria
debaixo das vestes de Elias, isto é, de sua proteção e cuidado.
Eliseu se colocou humildemente na posição de
servo de Elias, e era o servo que lavava as mãos
do profeta como se vê em II Reis 3.11. Há renúncias impostas para o exercício do
ministério
Muitos que são chamados pelo Senhor,
especialmente para a obra de missões, vivendo pela fé, custam a entender em princípio, qual é
o caráter da chamada deles.
Até o próprio Eliseu, aquele gigante espiritual,
demonstrou estar ainda ligado a laços familiares de sangue, quando o Senhor o
chamou para o ministério profético através de
Elias (I Rs 19.19-21).
Muitos ficaram perplexos por grande tempo até entenderem que as perdas que sofreram em
suas vidas, foram decorrentes desta chamada
do Senhor para o exercício do ministério.
O Senhor impõe renúncias àqueles aos quais chama, tal como fizera com todos os apóstolos,
que tudo tiveram que deixar para poder segui-
lO.
30
A quantas coisas e pessoas estamos apegados,
ainda que não estejamos devidamente
conscientizados de tal realidade.
Dificilmente entendemos que muitas perdas que sofremos, e guinadas violentas que são
produzidas por Deus em nossas vidas, têm o
propósito de nos tornar desimpedidos para a realização da Sua obra.
Se não houver esta renúncia aprendida e
recebida de modo voluntário, pela consagração
de tudo o que somos e do que temos ao Senhor, não será possível trabalhar para Deus, porque o
nosso coração estará apegado àquelas coisas e
pessoas das quais, o Senhor sabe que devemos
nos desprender primeiro (não deixar de lhes assistir, nem abandoná-las, mas não ser presa
de laços sentimentais e emocionais, ou de
dependência financeira, psicológica ou de
qualquer outra ordem), para que possamos então fazer a Sua vontade, sem que sejam tais
coisas e pessoas a principal ocupação de nossos
pensamentos, afeições e desejos.
Quando Deus chamou Eliseu através do profeta Elias, este lançou a sua capa sobre Eliseu,
indicando que a autoridade espiritual que estava
sobre Elias, seria transferida por Deus, no tempo
oportuno, para Eliseu. Mas desde já, ele teria que abandonar tudo para
poder seguir Elias, para ser preparado para ser o
seu sucessor.
Quando Jesus lança sobre nós a sua capa concedendo-nos dons, capacitações, e Sua
31
autoridade, é para a realização da Sua obra, e não
da nossa. Para fazermos a Sua vontade e não a
nossa.
Adeus amigos! Adeus prazeres carnais e mundanos! Adeus parentes! Adeus interesses
particulares! Adeus sonhos seculares! É a
atitude que devemos ter em nosso coração, tão logo identifiquemos que fomos chamados para
a realização de uma obra específica para Deus.
Aqueles que não se auto negarem não poderão
tomar diariamente a sua cruz. Sem tomar a cruz é absolutamente impossível
seguir a Jesus.
Porque a cruz nos imporá renúncias, empenhos,
deslocamentos, que a nossa carne não sente nenhum prazer neles.
A cruz será um objeto de ofensa para aqueles
que não se autonegarem primeiro.
Eles se escandalizarão com os sofrimentos e aflições que a cruz lhes trará quando estiverem
empenhados na realização da obra do Senhor.
Por isso, os apóstolos nos advertem quanto à
necessidade de estarmos armados com o pensamento de que importa suportar todo tipo
de tribulação e oposição, que nos possam
sobrevir por causa da nossa consagração ao
serviço de Deus. Assim, aqueles que têm sido chamados por
Deus, em vez de ficarem perplexos e gemendo
por causa das coisas que estão sofrendo, devem
aprender, tal como Paulo, a se gloriarem nas tribulações que estiverem sofrendo, e nas
32
renúncias que o próprio Deus lhes está
impondo, porque estas aflições são a prova
mesma de que estão empenhados numa obra
que procede verdadeiramente de Deus, e isto é um motivo não para tristeza, mas para alegria, é
uma grande honra, e não uma condição
humilhante; uma grande vantagem, recompensa e riqueza espiritual, e nenhuma
tragédia ou miséria. Afinal, deixaram de confiar
no cuidado dos homens, para viverem debaixo
do cuidado do Deus Altíssimo e Onipotente. Gloriemo-nos portanto somente no Senhor, nas
tribulações e na Sua cruz, porque, por meio de
todas estas coisas, somos capacitados a sermos
bem sucedidos na obra que realizamos para a glória do Seu nome, e por meio das quais
cessarão todos os nossos fracassos e vazio de
vida.
Eliseu que o diga! Tudo o que ele realizou para Deus se tornou um grande exemplo para nós, de
que vale muito a pena tudo deixar para
podermos seguir a Jesus.
33
Criado para Ser Espiritual e não Carnal
Está declarada de modo muito claro e direto na
Bíblia, desde o seu primeiro livro de Gênesis, a
verdade relativa à condição natural de todo ser humano de se inclinar para a sua natureza
terrena carnal pecaminosa, e por ela ser
dirigido, em vez de se inclinar para a natureza
celestial e espiritual divina, para a qual fora criado, para viver por meio dela eternamente.
O próprio Deus expôs esta verdade no motivo
declarado do dilúvio que traria sobre toda a
Terra:
“Então, disse o SENHOR: O meu Espírito não
agirá para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos.” (Gênesis
6.3)
Veja a comprovação desta verdade, porque no meio de toda uma geração que se inclinava e se
movia apenas pelo que era carnal, somente um
homem (Noé) havia se voltado para Deus, pela
fé, e obtido pela justificação, a coparticipação da natureza divina, pela qual recebeu o
testemunho de ser homem justo, temente a
Deus e que se desviava do mal.
Viver na carne, segundo a lição que nos foi deixada no dilúvio, opera a morte e a destruição.
E deste viver todos compartilham, em razão da
natureza que possuímos, até que sejamos
libertados e justificados pela fé em Cristo, para
34
recebermos uma nova natureza, na qual se
cumpre o propósito eterno de Deus na nossa
criação.
Afinal, Deus é espírito, e importa que também o sejamos para termos comunhão com Ele e
participação da sua vida divina.
35
Porque a Vida Eterna Demanda a Morte
do Nosso Ego
Paulo poderia ter começado o 4º capítulo de 2
Coríntios com as palavras do verso 5:
“Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos
vossos servos por amor de Jesus.”.
Porque para não pregarmos a nós mesmos, mas
a Cristo é preciso trazer o morrer de Jesus em nosso corpo, em nosso ego, e em tudo que se
refira à nossa própria vontade e desejos, que
devem ser levados à morte na cruz, para que a
vida de Jesus possa se manifestar através de nós (v. 10).
Esta mortificação progressiva de todas as áreas
de nossas vidas há de ocorrer se tivermos uma
chamada para o ministério, tal como Paulo a tivera, porque o ministério consiste em
manifestar não a nós mesmos, mas o que é
relativo à vida de Cristo. Para isto o velho homem tem que ser despojado,
para que a nova criatura se manifeste em poder
nestes vasos de barro que são os nossos corpos
mortais. São vasos de barro porque têm a ver com o que
herdamos da natureza terrena de Adão, que foi
criada a partir do barro, dos elementos naturais
deste mundo, que passa. Todavia, a nova vida em Cristo é do céu, e o seu
poder excelente pode se manifestar somente se
a casca do velho homem com suas vontades e
36
desejos for completamente quebrada através
das tribulações, perplexidades, perseguições, e
abatimentos, ao mesmo tempo que somos
consolados e amparados pelo Senhor pela manifestação do Seu poder e amor, para que não
sejamos angustiados, desanimados,
desamparados e destruídos (v. 8, 9). Esta será a experiência de todos aqueles que
consagrarem efetivamente suas vidas ao serviço
do Senhor.
Tal como Paulo, saberão, por experiência, o que significa trazer diariamente no corpo o morrer
de Jesus para que a Sua vida possa se manifestar
em nós.
Eles saberão por experiência que toda a mortificação que é operada neles, sobretudo no
seu ego, tem o propósito de gerar a vida de
Cristo nos seus ouvintes (v. 12).
Eles saberão que todo o seu dever é anunciar a fé em Cristo, e a Sua morte e ressurreição, para
a nossa própria ressurreição, de modo que
ministrando por amor aos homens, possam
todos abundar em ações de graças, para a glória de Deus, por causa da multiplicação da graça em
muitos corações (v. 13 a 15).
Eles saberão que um cristão em seu posto de
trabalho, operando fielmente no Espírito, não desfalece e suportará e sofrerá tudo por amor a
Cristo, ainda que o homem exterior se
corrompa, isto é, que enfraqueça, enferme,
envelheça, porque o homem interior, a saber, o Espírito é renovado gradual e diariamente por
37
Deus, segundo o Seu próprio poder e glória (v.
16).
Assim saberá também que toda tribulação traz
em si mesma um propósito de nos tornar mais íntimos e participantes da glória de Deus, e que
se tornam leves e momentâneas comparadas ao
peso das consolações e operações poderosas do Senhor no nosso corpo, alma e espírito.
Um cristão experimentado, como Paulo, saberá
discernir a vida espiritual que não se
experimenta por vista, mas por fé, que se firma não nas coisas visíveis que são temporais, mas
nas invisíveis que são eternas.
Portanto, à luz de todas estas afirmações que o
apóstolo faz nos últimos versos deste 4º capítulo, nós podemos entender melhor o que
ele pretendia dizer nos seus quatro primeiros
versículos.
Os que são de Cristo podem entender as palavras de Paulo, a saber, o evangelho da cruz
de Cristo, mas não os incrédulos, porque seus
entendimentos foram cegados pelo Inimigo, de
modo que não podem enxergar a glória que há no evangelho, que produz a sua vida ressurreta
à medida que nosso velho homem vai sendo
despojado, progressivamente, pela mortificação
operada pela cruz. Para o mundo isto não é glória, quando muito,
masoquismo, porque não pode experimentar o
poder da vida do Espírito que se manifesta
naqueles que permitem a mortificação dos feitos do corpo pelo poder de Deus.
38
Eles não podem entender que a cruz não é
carregada para nos aniquilar, mas para gerar a
vida eterna de Cristo, porque Ele veio a este
mundo não para nos matar, mas para que tivéssemos vida, e vida em abundância.
Mas esta vida não pode ser experimentada, a
não ser na nova criatura, gerada em nós pelo Espírito, e isto demanda a morte e
despojamento progressivo dos atos
pecaminosos do velho homem, trabalho este
que é feito pela cruz que carregamos diariamente, para que o Espírito não somente
mortifique o nosso pecado, como também
manifeste a vida poderosa de Cristo em nós.
Enquanto o que prevalece é o eu, eu, eu ... posso, não posso; quero, não quero, jamais
conheceremos o significado de ser conduzido
pela vontade de Deus, e ser por ela capacitado a
fazer voluntariamente e com amor o que seja necessário e contrário ao nosso querer, ao nosso
sentir, e até mesmo tudo que não haja em nós
habilidade e poder para fazer.
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Se Não Perder Não Ganhará
“João 12:24 Em verdade, em verdade vos digo: se
o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica
ele só; mas, se morrer, produz muito fruto. João 12:25 Quem ama a sua vida perde-a; mas
aquele que odeia a sua vida neste mundo
preservá-la-á para a vida eterna.”
Se formos interpretar de modo literal a verdade
proferida nas palavras de nosso Senhor Jesus
Cristo - de que quem ama a vida a perde, e de que
quem a odeia a preserva para a vida eterna – poderemos pensar que está sendo afirmado
algum tipo de absurdo, e na verdade o seria caso
o sentido destas palavras fosse interpretado segundo a razão natural e comum do mundo;
todavia elas expressam de forma resumida o
grande segredo de se alcançar a vida eterna não
somente para este mundo quanto para o vindouro. Porque importa que sejam
interpretadas em seu significado espiritual,
com a ajuda da iluminação do Espírito Santo,
que é o único que pode nos tornar capazes de discernir espiritualmente as realidades que são
espirituais.
Primeiro, Jesus aplicou este ensino do céu ao
seu próprio caso, pois não viveu para fazer a sua própria vontade, senão a de Deus Pai que o
enviou para morrer no nosso lugar.
Ele se esvaziou completamente e tomou a forma
humana e de servo, não sendo dirigido pelo seu
40
próprio ego, mas pelo Espírito Santo que o
guiava em tudo.
Jesus não é somente a vida eterna, a sua fonte,
como também o caminho e a verdade que nos conduzem também à vida eterna, pelo mesmo
caminho que ele seguiu.
O morrer para o eu, para se viver pela vontade e poder de Deus é o grande segredo disto, que
Jesus veio revelar em si mesmo. Por isso ele
venceu a morte, e não pôde a sua vida ser retida
pelo sepulcro, e se encontra agora assentado em glória à destra do Pai no céu, intercedendo
continuamente por nós, para que alcancemos a
vida eterna e que a vivamos do modo digno pelo
qual importa ser vivida. Agora, em relação a nós, quão indispostos
somos a fazer morrer o modo de viver pelo
nosso ego, quão apegados somos à nossa
vontade e ao mundo, e então necessitamos - diferentemente do Senhor Jesus que não tinha
qualquer pecado – de mortificar a nossa
natureza terrena pecaminosa, para que tendo a
nossa mente renovada, possamos conhecer de modo experimental a boa, perfeita e agradável
vontade de Deus, pela qual somos santificados.
Perdas de entes queridos e coisas que amamos
nos causam grande sofrimento, e por isso tememos abandonar esta coisa que é a primeira
em ordem a amarmos mais do que tudo, a saber,
o nosso modo de viver neste mundo, ao qual
nosso Senhor se refere como algo que devemos aprender a odiar, porque está cheio de hábitos e
41
desejos que são contrários à justiça e santidade
de Deus.
Então, se não odiarmos esta vida pecaminosa
mundana, a nossa condição espiritual permanece sendo de morte, que por fim virá a
ser morte eterna, e não vida eterna, conforme é
prometido àqueles que a odiarem, por amarem o modo de vida celestial, espiritual e divino.
Em muitos outros textos da Bíblia vemos esta
verdade de João 12.24,25, sendo reafirmada, e
para nossa apreciação, estamos destacando alguns deles a seguir:
Mateus 16:25 Porquanto, quem quiser salvar a
sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á.
Mateus 10:39 Quem acha a sua vida perdê-la-á;
quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á.
Lucas 14:26 Se alguém vem a mim e não
aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não
pode ser meu discípulo.
Lucas 17:33 Quem quiser preservar a sua vida perdê-la-á; e quem a perder de fato a salvará.
42
Trazendo no Corpo a Mortificação de
Jesus
“Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas
a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos
vossos servos por amor de Jesus.” (II Coríntios 4.5)
Para não pregarmos a nós mesmos, mas a Cristo
é preciso trazer o morrer de Jesus em nosso corpo (II Cor 4.10), em nosso ego, e em tudo que
se refira à nossa própria vontade e desejos, que
devem ser levados à morte na cruz, para que a
vida de Jesus possa se manifestar através de nós. Aquele que não traz o seu ego mortificado pela
cruz não está habilitado a pregar e a ensinar o
evangelho da cruz.
Aquele que não renunciou a tudo quanto tem não pode pedir aos seus ouvintes que
renunciem a si mesmos para confiarem suas
almas ao Salvador. É por isso que o nosso velho homem tem que ser
despojado, para que a nova criatura se
manifeste em poder nestes vasos de barro que
são os nossos corpos mortais. São vasos de barro porque têm a ver com o que
herdamos da natureza terrena de Adão, que foi
criada a partir do barro, dos elementos naturais
deste mundo, que passa. Todavia, a nova vida em Cristo é do céu, e o seu
poder excelente pode se manifestar somente se
a casca do velho homem com suas vontades e
43
desejos for completamente quebrada através
das tribulações, perplexidades, perseguições, e
abatimentos, ao mesmo tempo que somos
consolados e amparados pelo Senhor pela manifestação do Seu poder e amor, para que não
sejamos angustiados, desanimados,
desamparados e destruídos (II Cor 4.8,9). Esta será a experiência de todos aqueles que
consagrarem efetivamente suas vidas ao serviço
de Deus.
Tal como Paulo, saberão, por experiência, o que significa trazer diariamente no corpo o morrer
de Jesus para que a Sua vida possa se manifestar
em nós.
Eles saberão por experiência que toda a mortificação que é operada neles, sobretudo no
seu ego, tem o propósito de gerar a vida de
Cristo nos seus ouvintes (II Cor 4.12).
Eles saberão que todo o seu dever é anunciar a fé em Cristo, e a Sua morte e ressurreição, de
modo que ministrando por amor aos homens,
possam abundar as ações de graças, para a
glória de Deus, por causa da multiplicação da graça em muitos corações (v. 13 a 15).
Eles saberão que um cristão em seu posto de
trabalho, operando fielmente no Espírito, não
desfalecerá e suportará e sofrerá tudo por amor a Cristo, ainda que o homem exterior se
corrompa, isto é, que enfraqueça, enferme,
envelheça, porque o homem interior, a saber, o
espírito é renovado gradual e diariamente por
44
Deus, segundo o Seu próprio poder e glória (v.
16).
Assim reconhecerão também que toda
tribulação traz em si mesma um propósito de nos tornar mais íntimos e participantes da glória
de Deus, e que se tornam leves e momentâneas
comparadas ao peso das consolações e operações poderosas do Senhor no nosso corpo,
alma e espírito.
Um cristão experimentado, como Paulo, saberá
discernir a vida espiritual que não se experimenta por vista, mas por fé, que se firma
não nas coisas visíveis que são temporais, mas
nas invisíveis que são eternas.
45
Esvaziar-nos de nós Mesmos Para
Sermos Úteis
"5 Tende em vós o mesmo sentimento que
houve também em Cristo Jesus,
6 o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se
devia aferrar,
7 mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma
de servo, tornando-se semelhante aos homens; 8 e, achado na forma de homem, humilhou-se a
si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e
morte de cruz.
9 Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre
todo nome;
10 para que ao nome de Jesus se dobre todo
joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra,
11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é
Senhor, para glória de Deus Pai." (Filipenses 2.5-11)
Ninguém jamais poderá se humilhar tanto
quanto Cristo se humilhou, pois não era um homem pecador; porém se fez homem, sendo
Deus, exaltado à destra do Pai, coroado de honra
e glória diante dos serafins, querubins, arcanjos
e anjos no céu. Foi desta altura infinita de glória que Ele desceu
até nós humilhando-se a si mesmo, esvaziando-
46
se e tomando a forma de servo, assumindo a
natureza do homem, apesar de ser Deus.
Ele fez isto, porque era governado
completamente por um sentimento de humildade e não de orgulho. É este mesmo
sentimento de Cristo que todos os cristãos
devem possuir. Cristo não considerou uma desonra o fato de ter
sido feito menor do que os anjos, ainda que por
um determinado período, a saber, enquanto
viveu em carne neste mundo esvaziado da Sua glória divina, como vemos em Hb 2.9, porque
considerou maior coisa fazer a vontade do Pai,
relativamente à salvação dos pecadores.
Os cristãos têm um serviço a fazer para Deus, que é a continuidade do mesmo serviço de
Cristo, e para tanto necessitam ter o mesmo
sentimento de humildade que houve em Cristo
Jesus. Nosso Senhor comprovou Sua humildade
através da Sua obediência ao Pai, e é do mesmo
modo que nossa humildade é comprovada
diante de Deus, a saber, na nossa obediência a Ele.
Jesus se manifestou também, para o propósito
de nos ensinar qual é o modo correto de se viver
para Deus. Este modo que nos revelou é em completa
submissão e serviço, mediante a Sua Palavra,
escolhendo fazer a vontade de Deus, em vez da
nossa vontade, gastando-se inteiramente na Sua
47
obra, porque afinal, nos deu vida para que
trabalhássemos para Ele.
Fomos colocados neste mundo para este
propósito. Bem-aventurados são todos aqueles que não somente descobrem isto, como
também se aplicam a isto. A humilhação voluntária de Jesus se comprova também, no fato de que Ele tem o nome que é
sobre todo o nome. Por isso, ao nome de Jesus se
dobra e se dobrará todo joelho dos que estão nos
céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confessa e confessará que Jesus é Senhor,
porque Ele sempre foi e será o Senhor de tudo e
de todos.
Este que é o Senhor foi achado em Seu ministério terreno na forma de servo e em
completa humildade. Servo na verdadeira
acepção da palavra, ou seja, servindo de fato
tanto a Deus quanto aos homens criados à Sua imagem e semelhança.
Como devem ser e andar então, os cristãos, os
quais não estavam na glória do céu antes de
serem gerados, e que nunca tiveram e jamais terão a mesma intensidade de glória do seu
Senhor?
Caberia, se deixarem dominar por qualquer
forma de orgulho ou vanglória? Jesus viveu suportando pacientemente a
maldade dos homens, em grande pobreza, a
ponto de não ter onde reclinar a cabeça; viveu de
ofertas e sabia o que era a aflição; não viveu em pompa externa e não buscou nenhuma posição
48
que O exaltasse sobre os demais homens,
buscando fama e honrarias deste mundo.
Ele não deu somente Seu serviço aos homens,
mas Sua própria vida; morrendo por eles na cruz.
Ninguém nunca desceu tanto ou poderá descer
tanto em humilhação, quanto nosso Senhor, porque Ele estava na glória do céu quando veio
assumir nossa humanidade, ao ser gerado com
um corpo humano no ventre de Maria.
Ele passou a ter a natureza humana, além da natureza divina na qual Ele subsistia.
E, consentiu, apesar de sua perfeição gloriosa,
em suportar conviver com pecadores falhos,
impuros, imperfeitos e ignorantes como nós. Se Ele não tivesse feito isto, jamais poderíamos
receber a natureza divina para estar em nós,
além da nossa natureza humana.
Para nós, receber a natureza divina é uma grande honra e glória. Mas para Cristo, assumir
nossa natureza humana, sendo Deus, foi uma
grande humilhação. A Palavra, porém nos
afirma que Ele não se envergonhou disto, porque não se envergonha em nos chamar de
irmãos, por ter-se feito semelhante a nós, como
lemos em Hb 2.11 e 11.16.
Nós não somos, por natureza humildes, ao contrário, somos governados pela carne.
Por isso é preciso mortificar a carne para que
possamos ser governados pelo Espírito Santo, e
crescermos em humildade diante de Deus e dos
49
homens, para que Ele possa nos transformar
segundo a semelhança de Cristo.
A nossa vontade natural quer sempre fazer
aquilo que seja do nosso próprio interesse egoísta, mas a vontade de Deus é santa, perfeita,
boa, agradável. É esta vontade que o Espírito
Santo quer implantar em nossa natureza. O Espírito Santo não nos foi dado, portanto para
fazermos o que seja da nossa própria vontade,
mas aquilo que é da vontade de Deus, na
transformação de nossas vidas. Quando o Espírito luta contra a carne, não é para
fazer nossa vontade, mas para aplicar em nossa
vida a vontade de Deus, como vemos em Gál 5.17.
É a graça de Deus que inclina nossa vontade ao que é bom, e nos permite executar o bem.
Não há nenhuma força, mérito ou capacidade
em nós mesmos, que nos habilite a fazer a obra
de Deus.
50
Escrito na Mente e no Coração
Quando lemos o Sermão do Monte, em Mateus
5 a 7, costumamos pensar que estamos diante de
um novo código de leis, que nos foram dadas por Jesus Cristo para cumprirmos em complemento
aos mandamentos da Lei de Moisés.
Todavia, a intenção de nosso Senhor Jesus
Cristo não foi esta, mas a de revelar quais são as características pessoais e circunstâncias que
acompanharão aqueles que foram tornados
cidadãos do reino dos céus, por meio da fé nEle,
e por terem nascido de novo do Espírito Santo. Ali está descrito sobretudo, quais são as
atitudes, pensamentos, ações e o programa de
vida de um cristão amadurecido. Dizemos amadurecido, porque ninguém amará
seus inimigos, perdoará seus ofensores, orará
pelo bem dos que lhe perseguem, e bendirá os
que lhe amaldiçoam, ou ainda, não reclamará o que se considera seus direitos legítimos quando
sofrer injustiças, caso não tenha feito progresso
no crescimento na fé, na graça e no
conhecimento pessoal de Jesus Cristo, sendo e agindo como o Seu Mestre.
A glória de Deus é ser amoroso, misericordioso,
longânimo, bondoso, perdoador, para com
todos, inclusive para com os piores pecadores. E assim como Ele é, importa que sejam aqueles
que se tornaram seus filhos amados, por meio
da fé em Cristo.
51
Então o Senhor delineou no Sermão do Monte,
quais são as características essenciais que
estarão presentes naqueles que se converterem
a Ele, como resultado do fruto do Espírito Santo, que operou neles a regeneração (novo
nascimento espiritual) e a santificação
(mortificação das obras da carne e revestimento das suas virtudes divinas). Cristãos
amadurecidos não são dominados por
amarguras, iras, contendas, gritarias,
glutonarias, e todas as demais obras da carne que são nomeadas na Bíblia.
Cristãos amadurecidos são longânimos, como
Deus é completamente longânimo. São
amorosos, como Deus é amoroso. São misericordiosos, como Deus é misericordioso.
Não são legalistas, moralistas, acusadores, mas
promotores do amor, da paz, do perdão, da
oferta da justiça de Cristo para a justificação dos que se encontram presos às amarras do pecado.
São tardios para se irar e para falar, e prontos
para ouvir, porque sabem que a ira do homem
não promove a justiça de Deus, mesmo quando esta ira é motivada pela defesa dos princípios de
Deus contra o pecado.
A propósito, era justamente isto o que Tiago
queria ensinar quando escreveu a epístola que leva o Seu nome. Ele indicou a necessidade de se
aprender a ser paciente e longânime, debaixo
das mais variadas provações, porque estas
visam ao aperfeiçoamento espiritual do cristão, para que seja conformado ao caráter amoroso,
52
longânime, bondoso e paciente do próprio Deus.
Não estava portanto escrevendo uma cartilha de
bons modos, ou de procedimentos sociológicos
e psicológicos para sermos bem sucedidos em possíveis demandas e disputas com o nosso
próximo, por nos mantermos serenos e calados.
O que ele tinha em foco, tal como o Seu Senhor no Sermão do Monte, era muito mais profundo
e significativo do que isto. A semelhança com
Jesus Cristo em tudo. Este é o alvo principal. A
vida de Cristo manifestada no comportamento do cristão. Este é o ponto central. E isto não é
obtido por mero conhecimento intelectual da
vontade revelada de Deus nas Escrituras. Tem a
ver com experiências reais transformadoras da graça de Jesus, do poder do Espírito Santo,
dando-nos um novo coração e um crescimento
progressivo na obtenção das virtudes espirituais
do próprio Deus. Foi para esta exata imagem e semelhança com o
caráter santo de Deus que o homem foi criado
por Ele. De modo que saberemos que temos sido
aperfeiçoados em tal caráter, quando virmos as realidades afirmadas no Novo Testamento,
sendo implantadas no nosso viver diário,
especialmente pela forma como agimos nas
situações que nos são adversas. Então temos estas leis, se é assim que devemos considerá-las
(porque são inscritas por Deus na nossa mente e
coração, ou seja, farão parte da nova natureza
recebida pela fé), como as leis principais que devemos observar e praticar: a do amor a Deus,
53
à Sua Palavra e ao próximo; a da paciência na
tribulação; a da longanimidade na provocação; a
da fé e do ânimo constante nas aflições; a da
mansidão, da paz de mente e coração nas perturbações.
Na verdade, nada disto se obtém por uma
simples vontade de cumprir a lei ou o mandamento, mas por uma andar constante no
Espírito Santo, debaixo de um temor e amor real
a Cristo.
Gál 5:16-25: Digo, porém: andai no Espírito e jamais
satisfareis à concupiscência da carne. Porque a
carne milita contra o Espírito, e o Espírito,
contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso
querer. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não
estais sob a lei. Ora, as obras da carne são
conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades,
porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões,
facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas
semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não
herdarão o reino de Deus os que tais coisas
praticam. Mas o fruto do Espírito é: amor,
alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio
próprio. Contra estas coisas não há lei. E os que
são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as
suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito.
54
O Governo Usurpador da Alma Sobre o
Nosso Espírito
Nós lemos em Hebreus 4.12:
"...a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais
cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de
juntas e medulas, e é apta para discernir os
pensamentos e intenções do coração".
Este texto fala de separação de alma e espírito pela Palavra de Deus.
Sabemos que o corpo, a alma e o espírito do
homem formam uma grande unidade, e estão
intimamente ligados, de modo que se pode dizer que são uma só coisa, assim como Deus é um, e
no entanto são três pessoas: Deus Pai, Deus Filho
e Deus Espírito Santo.
Por isso, quando o espírito deixa este mundo, o corpo morre; se o corpo morre, sai o espírito e
volta para Deus.
Quando o corpo e alma descansam no sono, também descansa o espírito.
Todavia, há diferenças marcantes entre os três.
Mas nos concentraremos neste artigo somente
na alma e no espírito, porque a Bíblia fala de separação de alma e espírito, e o que se quer
afirmar é a distinção das funções
que competem respectivamente ao espírito e à
alma. Com vistas a um melhor entendimento de tudo
o que vai ser comentado, gostaríamos, antes, de
55
explicar quais são as faculdades da alma, que
não fazem parte do espírito humano.
Entre estas faculdades estão nossos
sentimentos, nossa mente, nossa vontade, nossas emoções e pensamentos, até mesmo a
nossa razão.
Alma tem a ver com o cérebro, de onde procedem todas estas faculdades referidas.
Cérebro tem a ver com o que é natural, e não
sobrenatural, como é o caso do espírito, que nos
veio de Deus, e que volta para Ele, na nossa morte.
De maneira que ao falar em separação de alma e
espírito, pela Palavra de Deus, a Bíblia quer nos
mostrar que precisamos ser governados pelo espírito, e não meramente por nossos
sentimentos, vontade, emoções, pensamentos e
até mesmo pela nossa própria razão.
Somente quando estamos santificados pelo Espírito Santo, mediante aplicação da Palavra de
Deus em nossas vidas, a nossa alma entra
automaticamente debaixo do governo do nosso
espírito e passa a ser uma serva do espírito, ficando este portanto, livre das suas paixões
irregulares e desordenadas que nos levam a
pecar.
Portanto, não é possível ser espiritual, conforme é do propósito de Deus na criação do homem,
sem que se tenha a habitação do Espírito Santo.
Entretanto, como o pecado continua operando
na carne, há necessidade do trabalho da cruz para que sejamos as pessoas espirituais que
56
Deus planejou desde antes da fundação do
mundo.
Nós lemos em Gênesis 6.3 o seguinte:
“Então disse o Senhor: O meu Espírito não permanecerá para sempre no homem,
porquanto ele é carnal, mas os seus dias serão
cento e vinte anos.” O que podemos deduzir desta passagem das
Escrituras, senão que Deus não havia criado o
homem para que ele vivesse pelo governo da sua
alma natural? A palavra “carnal” no texto de Gên 6.3 reporta à
inclinação da natureza decaída no pecado, e não
propriamente ao fato de o homem também
possuir um corpo físico. Deus é espírito, e criou o homem para ter
comunhão com Ele em espírito, porque é
somente este o modo possível de tal comunhão.
Por isso Jesus destacou que não se pode adorar a Deus a não ser apenas em espírito e em verdade.
O propósito de Deus na criação do homem é que
este fosse espiritual e não carnal, conforme
veremos neste nosso estudo. Quando Deus diz que o homem se tornou carnal
por causa do pecado é a isto que Ele quer
principalmente se referir, porque não é
governado pelo reino espiritual divino, mas pelo reino natural segundo a carne.
Por isso se impõe o trabalho da cruz sobre o ego
carnal, para que o Espírito Santo possa assumir
o pleno governo, conforme Deus havia planejado desde antes da criação do mundo.
57
Desde a Queda no Éden a alma deixou de
estar em sujeição ao espírito e passou a assumir
o governo do ser humano, tornando-se assim
uma barreira para o conhecimento experimental da vida de Deus, que é espírito.
Se Cristo não estabelecer o Seu governo no
nosso coração, o que haverá será o governo usurpador da alma contra a vontade de Deus.
Este governo da alma é designado na Bíblia
como um viver segundo a carne. Segundo o
homem natural e não segundo o homem espiritual.
Vale lembrar que a palavra constante de I Cor
2.14 para “natural”, quando Paulo diz que o
homem natural não aceita as coisas do Espírito, tal palavra é no original grego psiquikós, que
significa aquilo que é relativo à alma.
Quando o homem é governado pelas faculdades
da alma, e não pelas faculdades do espírito, ele agirá segundo a natureza terrena,
Daí se afirmar que o homem natural, ou seja,
aquele que é governado por um viver segundo a
alma, e não segundo o espírito, não pode entender as coisas do Espírito Santo de Deus.
Os cristãos carnais a que Paulo se refere em I
Cor 3.1 em contraposição aos espirituais, são
designados no original grego pela palavra sarkikós, para carnais, e os espirituais, pela
palavra pneumatikós, que se refere ao espírito.
O trabalho da alma no cristão carnal é fazê-lo
viver pela sua própria vida natural e
58
tentar trabalhar e servir a Deus pela sua
própria habilidade natural.
Com isto, ele não chega a ter um conhecimento
verdadeiro e progressivo de Deus, porque este conhecimento decorre de uma comunhão e de
experiências reais com o Espírito Santo de Deus,
em espírito. A carne não pode ter tal comunhão e
experiência com o Espírito Santo de Deus.
Por isso nosso Senhor Jesus Cristo afirmou que
a carne para nada aproveita, e que o que tudo é gerado pela carne é carnal.
Nossos pensamentos, emoções, sentimentos e
vontade, e razão, que são faculdades que
emanam do nosso cérebro, devem ser submetidos ao governo do Espírito Santo de
Deus, e por conseguinte do nosso próprio
espírito.
A Bíblia afirma que isto é operado pela Palavra de Deus, em Hb 4.12.
Chegará o dia em que não haverá mais esta
dependência do cérebro, ou da alma, quando
sairmos deste mundo pela morte, porque somente o espírito subirá à presença do Senhor,
libertado completamente dos desejos e das
paixões da alma.
Então o espírito terá vida e expressão independentemente do nosso cérebro.
Não há nenhum outro modo para subjugar o
governo usurpador da alma, senão somente
pela crucificação do ego pela nossa cruz, que deve ser carregada voluntária e diariamente.
59
Nos quatro Evangelhos, nós vemos que
Jesus chamou os seus discípulos para
renunciarem ao modo de viver pelo governo das
suas almas, submetendo-o à morte na cruz, para que pudessem segui-lO.
O Senhor sabia que renunciar ao modo de viver
pela alma é uma exigência absolutamente indispensável, para que os
cristãos possam segui-lO.
Em Mt 10:38 e 39 o Senhor Jesus disse: "38 E
quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. 39 Quem achar a sua
vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por
amor de mim achá-la-á.".
Neste texto, a palavra para vida no original grego é psiquê, que significa alma.
Não se trata propriamente de se matar a alma,
mas o modo de viver pela alma, para que se
possa viver pelo espírito. É isto que Jesus quis dizer com suas palavras.
Este modo de viver pela alma somente pode ser
morto pela cruz.
É por isso que em outras passagens do Evangelho, como em Lc 14.26,27 por exemplo,
Jesus associou a perda da vida da alma ao ato
voluntário de se carregar a cruz e de se auto
negar, para poder segui-lO. Estes versos nos chamam a perder o viver pela
alma por causa do Senhor, entregando este
viver à cruz, para que seja crucificado, e Ele
ensinou que isto deve ser feito diariamente.
60
De acordo com nosso viver pela alma, nós
fazemos a vontade daqueles a quem amamos,
ainda que isto contrarie a vontade de Deus, por
isso se impõe a morte deste viver pela alma. Nada há de errado em demonstrar sentimentos
e emoções, mas quando nossos sentimentos,
emoções e vontade são irregulares e são a causa de não nos submetermos à Palavra e vontade de
Deus, é porque estamos sendo pessoas carnais e
não espirituais.
Quando Deus está em conflito com o desejo do homem, embora aquela pessoa
seja a que nós mais amamos, importa antes
amar mais a Deus.
Por isso nosso Senhor disse em Mt 10.37: "Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é
digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais
do que a mim não é digno de mim.".
Em Lucas 14:26 e 27 está escrito: "26 Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e mãe, a
mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda
também à própria vida, não pode ser meu
discípulo. 27 Quem não leva a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo.".
É proibido pelo Senhor que eu ame somente
aqueles a quem eu amo naturalmente.
O próprio Jesus nos deixou este exemplo quando definiu a sua família como sendo a que é
composta por aqueles que conhecem a Deus e
fazem a Sua vontade.
O Senhor Jesus quer nos libertar deste tipo de domínio do afeto natural, de modo que
61
possamos ser cheios do seu amor sobrenatural,
que é um amor por todos os homens, e que não
faz qualquer tipo de acepção de pessoas.
O afeto natural é muito importante, mas convém se dar um passo além e se amar com o
amor ágape, sobrenatural de Deus.
O amor ágape nos vem do alto, e o amor filéo, de mera amizade, é terreno e inerente à nossa
própria natureza.
Este amor ágape, que é o amor derramado pelo
Espírito Santo nos nossos corações, é o amor de comunhão entre espíritos, que capacita a tudo
sofrer, perdoar, suportar, e não ficarmos irados
com as injustiças e ofensas que sofremos, de
modo que é um amor que habilita a amar até mesmo inimigos.
A espada referida no texto de Hb 4.12 é uma
alusão à que era usada pelo sumo sacerdote para
dividir o holocausto em partes. Esta espada representa a Palavra que é
usada por Cristo através do trabalho do
Espírito Santo para separar espírito e alma nos
cristãos, de maneira que possam ser verdadeiramente espirituais.
A espada do Espírito é a Palavra de Deus. É
portanto a palavra do evangelho de Cristo, que
aplicada à mente e ao coração, traz à tona o viver na dimensão do que é espiritual e celestial,
prevalecendo sobre tudo o que se refere ao
homem exterior com suas cobiças e paixões.
62
Veja o que o apóstolo nos ensina sobre a luta que
existe permanentemente entre a carne e o
Espírito, e vice- versa:
"Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao
outro, para que não façais o que quereis." (Gál
5.17). Observe que ele afirma que a carne e o Espírito
se opõem mutuamente para que não façamos o
que seja do nosso querer.
O que ele quis dizer com isto? É que na verdade tanto a carne quanto o Espírito
lutam contra a lei natural da nossa mente, e
contra as disposições da nossa alma. e, tanto um
quanto o outro pretendem ter o domínio da nossa vontade e de todo o nosso ser.
A carne pretende nos levar a pecar ainda que
não o queiramos; e o Espírito Santo pretende
nos santificar e nos levar a viver não pelo que é propriamente da nossa vontade, mas por aquilo
que é da vontade de Deus.
Então o Espírito não luta contra a carne para que
seja feito o que seja do nosso querer, mas para que a vontade de Deus possa se cumprir em nós.
O Espírito procurará nos levar portanto à cruz
para que a carne possa ser crucificada com as
suas paixões e desejos (Gál 5.24). Como estas paixões e desejos da carne operam
principalmente na mente, então é fundamental
que a mente seja renovada.
Uma mente renovada pelo Espírito coopera e muito para que tenhamos
63
comunhão com Deus, porque ajudará o espírito
nesta comunhão, porque a mente renovada e
guiada não pela carne, mas pelo Espírito Santo.
O Espírito poderá então comunicar à nossa mente renovada o conhecimento da vontade de
Deus revelada na Sua Palavra.
Para entendermos melhor a distinção entre alma e espírito, podemos nos valer
de uma análise do que há no comportamento
dos animais, porque sabidamente eles não são
dotados de espírito como os homens, senão somente de corpo e alma.
Nós podemos, em certo grau, entender o que é
relativo à nossa alma pelo que observamos no
comportamento dos animais, porque tudo o que eles sentem se refere aos poderes da alma,
porque como já dissemos, eles não possuem
espírito.
Há afeto mútuo entre eles, em suas próprias espécies.
Então o nosso afeto natural pertence à alma
animal, e não propriamente ao espírito, porque
animais irracionais possuem isto evidentemente.
Especialmente quando os seus filhotes estão
num estado dependente e precisam do seu
cuidado, exibem um afeto por eles, muito forte como o que é visto em pais humanos.
Podemos acrescentar também, a tristeza que os
animais sentem quando são privados dos seus
filhotes; assim, podemos concluir que o amor paternal e filial como existe naturalmente no
64
gênero humano, é um afeto, não da parte
imortal ou espírito, mas da alma, como algo
instintivo, tal como o instinto de sobrevivência
que há tanto nos homens quanto nos animais. Ninguém supõe que haja alguma bondade
moral no afeto que os animais sentem pelas
suas crias. O afeto que os pais e filhos humanos sentem
mutuamente parece ser da mesma natureza.
Nós não amamos nossos filhos naturalmente,
porque Deus requer isto; nós não os amamos com o objetivo de agradá-los; nós não os
amamos porque é um dever; nosso afeto por
eles parece ser um mero instinto
animal natural, que em si mesmo; nem é santo, nem pecaminoso.
Mas estes afetos, agora no homem caído no
pecado, com toda a sua natureza corrompida,
podem se tornar pecaminosos e conduzirem a outros pecados.
Por exemplo, fica pecaminoso quando nosso
afeto por qualquer criatura é maior do que o
amor com que amamos a Deus, porque Ele requer o primeiro lugar sobre os nossos afetos,
e nos proíbe que prefiramos qualquer objeto ou
pessoa a Ele.
Quando os pais se ocupam em adquirir riquezas e posições para seus filhos,
geralmente eles negligenciam muitos dos
deveres mais importantes que Deus lhes exige
que executem.
65
Quando instruímos nossos filhos de tal maneira
que eles dão mais preferência a seus corpos do
que aos seus espíritos, nós estamos também
dirigindo nossos afetos numa direção irregular e pecaminosa, e esta necessita ser santificada.
Por isso o apostolo Pedro fala em I Pe 1.18 de um
resgate em Cristo de uma vã maneira de viver recebida deste afeto natural da parte de nossos
pais.
Consequentemente é evidente, que o afeto da
alma precisa ser santificado. Se não for santificado, nós não podemos ser
integralmente santos como o apóstolo fala em I
Tes 5.23, que não apenas o espírito e o corpo
devem ser santificados, como também a alma, ou seja, a alma deve fazer a vontade de Deus e
não a sua própria vontade, ou seja do ego.
As Escrituras ensinam que sem santificação
ninguém verá a Deus. Não se deve confundir a santidade com
temperamento amável, porque não há nada da
natureza da santidade num temperamento
naturalmente amável. A santidade consiste em conformidade
à lei de Deus, mas há pessoas que possuem o
temperamento do qual estamos falando, que
não têm nenhuma consideração pela lei de Deus.
Por isso Jesus não faz nenhuma distinção entre
temperamentos quanto à necessidade
comum de arrependimento, regeneração e
66
santificação. Todos necessitam igualmente de
tudo isto.
Também, uma correta moralidade, considerada
isoladamente, não é nenhuma santificação. Veja o homem religioso sem Cristo gabando-se
de sua justiça própria tal como o fariseu da
parábola que Jesus ensinou. Há algo de comunhão verdadeira com Deus em
sua vida?
Ele é movido pelo Espírito Santo?
A falta destas verdades essenciais indicam que a sua moralidade não é a santidade evangélica,
que o homem alcança pela graça e mediante a
fé e na união com Cristo, andando diariamente
no Espírito, por se submeter voluntariamente ao trabalho da cruz.
Este assunto pode nos ajudar a entender a
declaração de Cristo, de que "àquele que não
tem, até aquilo que tem lhe será tirado" (Mt 13.12); pois vimos que toda coisa que parece ser
naturalmente boa e amável nos pecadores como
o afeto paternal e filial, compaixão, um
temperamento amável, pertence à alma, porém isto morre com o corpo.
Nada sobreviverá à morte, a não ser o espírito
porque é imortal.
Com a morte, isto que parecia se ter, será tirado, e com ela toda esta bondade natural será
perdida, porque não teve a marca da
santificação operada por Deus, sem a qual
ninguém o verá, conforme afirma a Bíblia (Hebreus 12.14).
67
Somente a santidade que procede de Deus pode
fazer com que esta bondade natural se torne
permanente.
Assim, a divisão de alma e espírito, referida em Hb 4.12, não é para a morte, mas para a vida
ressurreta de Cristo, no poder do Espírito Santo,
que é encontrada somente do outro lado da cruz, depois que passamos por ela.
Assim, sem cruz, não há a verdadeira vida
abundante que Jesus veio nos dar.
Jesus disse que veio para dar vida e vida abundante. Esta vida é espiritual e eterna.
Deste modo, teremos mais desta vida, quanto
mais mortificarmos o nosso velho homem.
Muito mais a vida da nova criatura em Cristo Jesus florescerá, no terreno em que a vida do
velho homem for mais mortificada.
E é nesta condição de ter a alma e espírito
separados pela Palavra de Deus, que o espírito é livrado dos embaraços e pesos da alma que
assediam juntamente com o pecado tão de perto
a vida dos cristãos.
Então a alma é levada a compartilhar deste deleite, em vez de se sentir facilmente tentada e
atraída pelos prazeres que são oferecidos pelo
mundo.
Tendo as faculdades amadurecidas para discernir tanto o bem quanto o mal, o homem
espiritual pode discernir e vencer toda e
qualquer movimentação do velho homem para
produzir as obras da carne, bem como resistir às tentações da carne, do diabo e do mundo, por
68
uma vigilância e oração constante e
perseverante, em plena sujeição, dependência e
obediência à vontade de Deus (Hb 5.14), por
colocar a sua mente voluntariamente a serviço da nova natureza, recebida na conversão, e não
a serviço do velho homem.
69
A real condição da natureza humana
Por que a inclinação da carne, isto é, da sua
natureza humana decaída no pecado, conforme
Deus afirma na Bíblia, é um estado permanente de inimizade contra Ele. Depois de ter criado o
primeiro homem, Deus plantou um jardim para
ele, e o colocou no jardim, onde havia também
plantado bem em seu meio, duas árvores excepcionais, a primeira, a árvore da vida, e a
segunda, a árvore do conhecimento do bem e do
mal. Ambas representavam e significavam
respectivamente para o homem, a vida e a morte.
Este significado não foi removido, até hoje, e
jamais será removido, até que tudo se cumpra, porque Deus tem colocado diante de cada
homem, tanto a possibilidade da vida quanto da
morte.
O homem, apesar de ter sido criado perfeito e bom, à semelhança do próprio Deus, sendo um
agente moral livre quanto ao exercício da sua
vontade, tende, tal como Adão fizera, a se
inclinar para buscar governar e não ser governado; a fazer valer a sua própria vontade e
não a do Criador; a ser independente e não a
criar laços eternos de amor; e assim agindo, se
envereda por causa de suas atitudes e comportamento pelo caminho que conduz à
morte. Deus não criou o homem para que ele
viva para si mesmo, senão para o Seu Criador.
70
Não o criou para fazer a sua própria vontade,
senão a do seu Senhor.
Isto não é um capricho, mas uma demanda da
vida, porque não pode haver vida eterna a não ser na comunhão do homem com Deus,
participando da Sua natureza divina. Antes da
queda no pecado, Adão era inocente, e onde há inocência não há imputação de pecado, porque
a imputação do pecado demanda que haja
consciência do pecado, que haja discernimento
do que seja o mal e do que seja o bem, tornando o homem responsável perante o Seu Criador.
A inocência de Adão foi perdida quando Ele
desobedeceu a Deus comendo o fruto da árvore
do conhecimento do bem e do mal. E se achando debaixo da sentença de morte
produzida pelo pecado, o homem não pode
lançar mão do fruto da árvore da vida, porque a
vida eterna, a vida de Deus, não está reservada para aqueles que se encontram em estado de
inimizade contra Ele, senão apenas para aqueles
que são seus amigos, e o comprovam pelo fato
de Lhe amar e obedecer. Como somente o próprio Deus pode gerar esta disposição e
capacidade para ser obedecido e amado, então o
homem, não poderá de si mesmo, viver de modo
aprovado por Deus. Ele concederá tal capacidade pela operação do
Espírito Santo, somente àqueles que se
arrependerem do estado ruim em que se
encontram os seus espíritos, para que sejam
71
capacitados e transformados pelo Espírito Santo
para amarem e obedecerem ao Senhor.
O homem caído pode portanto ser levantado por
Deus caso se disponha a buscar a vida eterna que há em Cristo, pelo simples arrependimento e fé
na bondade e misericórdia de Deus que estende
a mão para o pecador, para que seja livrado da morte e reviva.
Por isso a justiça própria ofende tanto a graça do
Senhor. Porque por ela o homem insiste em não
reconhecer que naturalmente encontra-se indisposto contra Deus e contra a Sua vontade e
mandamentos. Que se encontra naturalmente
condenado à morte eterna, por conta desta
inclinação carnal. Enquanto não reconhecer pelo convencimento
operado pelo Espírito Santo que é um pecador
condenado, por ser inimigo de Deus e da Sua
vontade, não poderá jamais ser justificado pela fé e ser reconciliado com o Senhor. Agora, não é
suficiente o reconhecimento da condição de ser
pecador, é necessário também rejeitar o mal e
buscar o bem; buscar a face do Senhor, confiar na sua bondade, perdão e misericórdia, dispor-
se a servi-lo por amor, por todos os dias da nossa
vida.
Concluímos assim, que a condição de inimizade contra Deus está intimamente relacionada à
natureza caída no pecado. Ela reside no fato de
estar o homem afastado de Deus. De não estar se
alimentando do fruto da árvore da vida, que é
72
Cristo. O único alimento espiritual que dá vida
eterna a todo aquele que nEle crê.
Bendito seja o Senhor, que proveu, por sua graça
e misericórdia, um escape da morte eterna para o homem que crê.
De modo que ninguém precisa permanecer
irremediavelmente perdido e condenado, porque Jesus derramou o Seu sangue na cruz
para que pudéssemos ser resgatados da morte
para a vida. Bendito seja o Seu santo nome.
Louvaremos para sempre a glória da Sua maravilhosa graça.
73
O homem é inimigo de Deus
Soa exagerado fazer a afirmação do nosso título,
contudo, é isto que a Bíblia ensina quanto à
condição de toda pessoa, quanto ao que se refere à sua natureza terrena.
Por que a inclinação da carne, isto é, da natureza
humana decaída no pecado, é um estado
permanente de inimizade contra Deus? Depois de ter criado o primeiro homem, Deus
plantou um jardim para ele, e o colocou no
jardim, onde havia também plantado bem em
seu meio, duas árvores excepcionais, a primeira, a árvore da vida, e a segunda, a árvore
do conhecimento do bem e do mal.
Ambas representavam respectivamente, para o homem, a vida e a morte.
E este significado não foi removido, e jamais
será removido, até que tudo se cumpra, porque
Deus tem colocado diante de cada homem, tanto a possibilidade da vida quanto a da morte.
O homem, apesar de ter sido criado perfeito e
bom, à semelhança do próprio Deus, sendo um
agente moral livre, tende, tal como Adão fizera, a se inclinar para buscar governar e não a ser
governado; a fazer valer a sua própria vontade e
não a do Criador; a ser independente e não a
criar laços eternos de amor; e assim agindo, se envereda por causa de suas atitudes e
comportamento pelo caminho que conduz à
morte espiritual (separação de Deus) e ao
sofrimento.
74
Deus não criou o homem para que ele viva para
si mesmo, senão para o Seu Criador.
Não o criou para fazer a sua própria vontade,
senão a do seu Senhor. Isto não é um capricho, mas uma demanda da
vida, porque não pode haver vida eterna a não
ser na comunhão do homem com Deus, participando da Sua natureza divina.
Como pode o ramo viver separado do caule que
deve sustentá-lo?
Somente em Cristo, poderá ser desfeito o nosso estado de inimizade latente contra Deus,
conforme se ensina nas Escrituras, e
comprovado na experiência real da nossa vida.
Rom 5:8 Mas Deus prova o seu próprio amor
para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por
nós, sendo nós ainda pecadores.
Rom 5:9 Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele
salvos da ira.
Rom 5:10 Porque, se nós, quando inimigos,
fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já
reconciliados, seremos salvos pela sua vida;
Rom 5:11 e não apenas isto, mas também nos
gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem recebemos,
agora, a reconciliação.
Tiago 4:4 Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele,
76
Despindo-se do Velho e Revestindo-se do
Novo
São as paixões e desejos da alma que combatem
contra a nova natureza celestial recebida do
Espírito Santo. Daí se dizer que a carne luta contra o Espírito e
que o Espírito luta contra a carne.
Toda forma de inclinação carnal, prostituição,
impureza, paixões, desejos vis e avareza devem ser mortificados pelo Espírito, para que a nova
vida possa se manifestar no nosso caminhar,
como se lê em Col 3.5.
Mas não é somente a prostituição, impureza, paixões, desejos vis e avareza que os cristãos
devem mortificar, como tudo o mais que é
relativo à carne, isto é, à natureza terrena
decaída no pecado, e por isso devemos também nos despojar da ira, da cólera, da malícia, da
maledicência, das palavras torpes e da mentira,
porque tendo morrido juntamente com Cristo, o velho homem recebeu a sentença de morte e os
crentes estão aos olhos de Deus, como tendo
sido despidos do velho homem e das suas obras
carnais; e vestidos do novo homem, que se renova para o pleno conhecimento de Deus e da
Sua vontade, através do processo da
santificação.
Esta santificação deve ser tanto do espírito, da alma, e do corpo, operando sobre a nossa razão,
mente, vontade, sentimentos e emoções (I Tes
5.23).
77
E a meta desta santificação é nos transformar à
imagem mesma de Cristo (Col 3.8-10).
A santificação não consiste somente no
despojamento ou mortificação do pecado, das obras da carne, mas principalmente na prática
das virtudes que estão em Cristo, que é o grande
objetivo final da santificação. O despojamento do velho homem se faz
necessário para que possamos ser revestidos do
novo.
O revestimento da nova criatura em Cristo consiste na prática da justiça evangélica e das
graças e virtudes do Espírito, que chamamos de
fruto do Espírito - amor, misericórdia,
benignidade, humildade, mansidão, longanimidade, domínio próprio, alegria, paz, fé
- suportando-se e perdoando-se os crentes
mutuamente, tendo por modelo o próprio
Senhor que lhes perdoou. Esta virtudes são decorrentes da habitação da
Palavra de Deus nos nossos corações, fazendo
nós, provisão para que sejamos enriquecidos
por esta Palavra que nos santifica, em prol da comunhão com nossos irmãs na fé, e para o
progresso do evangelho de Cristo na Terra.
78
Como e porque ser espiritual e não
carnal
Tudo o que se refira a conhecimento, liberdade,
obediência, amor, poder e tudo o mais que for
necessário para sermos efetivos na obra do Senhor, é de caráter espiritual, celestial e
divino.
É algo que recebemos do alto, e que não se
encontra em nossa natureza terrena. Daí Jesus ter ordenado ao primeiro grupo de
cristãos que permanecessem em oração
unânime até que fossem revestidos do poder do
alto. O Espírito que recebemos não é deste mundo
mas do céu, e tudo o que se refere à vida que
devemos ter neste mesmo Espírito também é
recebido do céu. Não é terreno mas celestial. Não é natural, mas
espiritual. O mundo antigo foi destruído pelas
águas do dilúvio porque o homem era carnal e se recusava em se tornar em espiritual.
O propósito de Deus na criação do homem é que
este fosse espiritual e não carnal, ou seja: não
governado pela sua essência natural, por se submeter à direção e poder do Espírito Santo.
Converter-se a Cristo significa portanto,
receber uma nova natureza celestial e
espiritual, que habilita o convertido a ter comunhão com Deus, o qual é puro espírito.
Nos quatro Evangelhos, pelo menos quatro
vezes, o Senhor Jesus chamou os seus
79
discípulos para renunciarem à vida das suas
almas, colocando-a à morte para poderem
segui-lO.
Mortificação da alma não é extermínio, mas renúncia ao ego, aos poderes e faculdades da
alma (vontade, emoção, sentimento, razão,
imaginação etc), para estarem sob o governo do espírito (intuição divina, comunhão espiritual,
consciência, amor, poder, virtude e atributos
santos e divinos).
O Senhor Jesus colocou a renuncia à vida da alma como uma exigência
absolutamente indispensável para que os
cristãos possam segui-lO, para poderem ser
como Ele no serviço deles aos homens, e para serem aperfeiçoados em fazer a vontade de
Deus.
Embora o Senhor Jesus tenha falado sobre a vida
da alma em todas estas quatro chamadas dos Evangelhos, Ele deu uma ênfase especial a cada
uma delas.
Nós sabemos que a vida da alma, na verdade,
tem várias manifestações. Então, o Senhor falou sobre a vida da alma com
ênfases diversas.
A chamada do Senhor é que o homem deve
entregar a vida da sua alma à cruz. Em Mt 10:38 e 39 o Senhor Jesus disse:
"E quem não toma a sua cruz, e não segue após
mim, não é digno de mim. Quem achar a sua
vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim acha-la-á.".
80
Neste texto, a palavra para vida no original
grego é psiquê, que significa alma.
Não se trata propriamente de se matar a alma,
mas o modo de viver pela alma, para se viver pelo espírito.
Este modo de viver pela alma somente pode ser
morto efetivamente pela cruz. Em Lc 14.26,27, Jesus associou a perda da vida
da alma ao ato voluntário de se carregar a cruz e
de se auto negar para poder segui-lO.
Estes versos nos chamam a perder o viver pela alma por causa do Senhor, entregando este
viver à cruz para que seja crucificado, e Ele
ensinou que isto deve ser feito diariamente.
Antes destes versos, o Senhor Jesus falou que os inimigos de um homem são aqueles da sua
própria casa, e como um filho, por causa do
Senhor, pode vir a ficar alienado do seu pai, a
filha da sua mãe, e a nora da sua sogra, e vice-versa.
Isto ocorre quando os familiares do cristão não
conhecem ao Senhor ou não andam em
conformidade com a Sua vontade. De acordo com nosso viver pela alma, nós
fazemos a vontade daqueles a quem nós
amamos, ainda que isto contrarie a vontade de
Deus, por isso se impõe a morte deste viver pela alma (sentimentos e emoções sobretudo, que
prevalecem sobre Deus, Sua vontade e Palavra).
Quando Deus está em conflito com o desejo do
homem, embora aquela pessoa seja a que nós mais amamos, e até mesmo por
81
imposição da própria Palavra de Deus que nos
ordena amar os nossos cônjuges, pais e filhos,
por exemplo, importa antes amar mais a Deus
do que a eles, e fazer a vontade de Deus do que a deles, porque Ele deve ser amado acima de
todos e de tudo.
Por isso nós necessitamos da cruz para matar a irregularidade dos nossos afetos, não
propriamente para acabar com eles, mas para
que eles possam existir na ordenação certa e
também para que não sejamos governados por eles, mas pela vontade do Senhor.
A chamada do Senhor Jesus é para nos libertar
do poder de nossos afetos naturais de maneira
que não sejamos guiados por eles em nossas decisões, mas pela Palavra.
Assim, Ele disse em Mt 10.37: "Quem ama o
pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de
mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim.".
Em Lucas 14:26 e 27 está escrito: "Se alguém vier
a mim, e não aborrecer a pai e mãe, a mulher e
filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também à própria vida, não pode ser meu
discípulo. Quem não leva a sua cruz e
não me segue, não pode ser meu discípulo.".
Em Mateus Ele mostra para o cristão a escolha que ele deveria fazer relativa ao seu próprio
afeto: ele deveria amar o Senhor mais do que
à sua família.
Em Lucas mostra além disso, qual atitude que o cristão deveria ter em relação ao seu próprio
82
viver pela alma (porque aqui neste texto a
palavra para vida é também psiquê no original
grego, que significa alma), e ele deve odiar esta
atitude de viver pela alma, pois Jesus diz que ele deve aborrecer a sua própria vida (Lc 14.26) de
maneira a amar viver pelo espírito
em obediência a Deus e à Sua vontade. Este viver pela alma traz sérios problemas e até
mesmo impede uma vida de comunhão com o
Senhor e com o próximo, pois qualquer
arranhão na comunicação, trará decisões não perdoadoras e não amáveis ´pr arte daqueles
que são dirigidos por emoções e sentimentos.
O cristão não deve apenas amar
aqueles que lhe são familiares e agradáveis e aos quais ele ama naturalmente, mas estender o
seu amor a todas as pessoas.
É proibido pelo Senhor que eu ame somente
aqueles a quem eu amo naturalmente. O viver simplesmente debaixo do governo dos
afetos naturais tende a fazer com que a pessoa
esteja ligada a outros aos quais ama, como
também a exigir o amor deles, enquanto exclui a outros que não pertencem ao seu círculo de
amizades.
A pessoa nesta condição não se conduz pela
justiça e pela verdade, mas pela parcialidade sentimental, que a leva a apoiar os que ama,
mesmo que estejam errados, e a rejeitar os que
lhe tenham contrariado, por terem repreendido
a estes que ama meramente com afeto natural, ainda que estejam certos, na repreensão que
83
fizeram, e por amor à verdade, ao repreendido e
ao Senhor.
Por isso o Senhor Jesus exige que este viver pela
alma deve ser mortificado, pela negação do ego, porque sem isto, não se poderá viver de modo
verdadeiramente santificado, agindo e
pensando em suas decisões e escolhas segundo a vontade de Deus revelada na Bíblia.
A alma deve ser santificada, tornando-se dócil e
obediente ao governo do espírito revivificado e
também santificado. E o corpo responderá também em santificação, porque seus membros
serão usados para servirem a justiça do
evangelho e do reino de Deus.
Daí ser dito em I Tessalonicenses 5.23: “O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e
o vosso espírito, alma e corpo sejam
conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda
de nosso Senhor Jesus Cristo.” O Senhor Jesus quer nos libertar do domínio do
afeto natural, de maneira que possamos ser
cheios do seu amor sobrenatural, que é um
amor por todas as pessoas, e que não faz qualquer tipo de acepção.
É somente por causa do Senhor, e por estarmos
cheios do Seu Espírito, que nós amamos de fato
a outros que estejam fora do nosso círculo de amizades.
Não é por causa de nosso próprio amor por
outros que nós amamos.
84
Nós amamos, porque recebemos o amor
sobrenatural de Deus que nos possibilita amar o
nosso próximo.
Somente entre aqueles que andam no Espírito cumpre-se o mandamento de Cristo de nos
amarmos uns aos outros como Ele nos amou,
porque somente estes são espirituais, e o amor com que Cristo nos amou é espiritual.
É o amor de comunhão entre espíritos que é
possível de ser visto e vivido somente entre
aqueles que vivem e andam no Espírito. Aqueles que amam com este amor espiritual são
verdadeiramente livres para amar e deixam
também em liberdade aqueles aos quais
ama, porque amando a Deus acima de tudo, não terá nada e a ninguém na conta do seu
"deus".
O Senhor não quer que nós prendamos os
nossos corações em qualquer lugar ou pessoa. Ele quer que nós O sirvamos livremente.
Deus criou o homem para ser amado por ele
acima de todas as coisas.
Isto significa que o homem somente poderá ter saúde espiritual, emocional e física caso viva
em obediência a esta ordem normal
estabelecida por Deus para o seu amor.
Se ele amar alguém ou qualquer outra coisa em primeiro lugar, ele sofrerá em sua própria
constituição as consequências disto.
E de igual modo o homem não deve desejar ter
a primazia em ser amado em primeiro lugar por
85
quem quer que seja, senão sofrerá de igual
modo.
Jesus destacou o amor aos familiares porque
geralmente é nas famílias que se corre maior risco de se eleger alguém como um ídolo, como
um tipo de deus, porque se amamos algo ou
alguém, na prática, acima de Deus, este ídolo passa a ser automaticamente o nosso deus.
Veja como era diferente o caso de Abraão.
Deus o colocou à prova e lhe demandou o seu
único filho para que fosse oferecido em sacrifício.
O temor, obediência e o amor de Abraão a Deus
comprovaram-se naquela prova serem
maiores do que a tudo mais. Por isso Deus lhe disse que cumpriria tudo o que
havia prometido fazer através dele.
Nós aprendemos disto que uma pessoa não
poderá ser útil na obra do Senhor enquanto amar alguém ou algo acima dele.
Ele deve ser o primeiro em tudo, e isto deve ser
de fato, demonstrado nas renúncias que
porventura Ele venha a exigir de nós para que possamos servi-lO.
Quando o fizermos, tudo irá bem conosco.
E o nosso amor pelos outros será um amor
equilibrado. Um amor sadio, um amor que nada cobra para
que possa ser saudável.
Porque tudo estará de acordo com o plano e com
a ordem que Deus estabeleceu quanto ao propósito da criação do ser humano.
86
Se Ele for amado de fato em primeiro lugar, em
demonstrações práticas da nossa vida, então
tudo mais estará bem na nossa relação com as
pessoas que amamos. Amemos intensamente os nossos entes
queridos, amemos fervorosamente, e amemos
também o nosso próximo, conforme nos ordena a Palavra, mas em obediência à mesma Palavra,
amemos a Deus de todo o nosso coração, de toda
a nossa alma e de todo a nossa mente.
O amor a Deus não é um amor para ser expressado em relação a Ele com nossos afetos
naturais, porque Deus é invisível e é espírito.
Então o amor com o qual deve ser amado não é
natural mas espiritual. Deus não quer e nem mesmo pode ser
conhecido pela carne.
O amor natural é da carne e não do espírito.
E sabemos que importa conhecer a Deus somente em espírito porque Ele é espírito.
E na verdade não é somente Cristo que não deve
ser conhecido segundo o conhecimento da
carne (natural), mas até mesmo todas as demais pessoas.
O cristão deve discernir quem são os homens,
não segundo a carne, mas segundo o espírito (II
Cor 5.16). Por isso se faz necessária a separação de alma e
espírito, que é efetuada pela Palavra de Deus
(Hb 4.12).
87
Mas a Palavra de Deus pode efetuar esta
separação somente quando se carrega
voluntariamente a cada dia a nossa cruz.
Se não houver renúncia ao ego, a Palavra não poderá efetuar tal separação.
É preciso colocar a vida no altar para que o
nosso Sumo Sacerdote possa usar a faca da Palavra para nos apresentar como sacrifícios
vivos para Deus.
A visão animista que considera tudo e todos,
inclusive os seres inanimados como dotados de um mesmo espírito, e sendo tudo uma grande
unidade espiritual com Deus, e de igual modo o
teísmo que ensina que Deus está presente em
todos e de igual modo, não possibilitam a busca da separação de alma e espírito, que é ordenada
na Bíblia, e que é necessária para a nossa
santificação em crescimento espiritual.
Como buscaremos fazer aquilo em que não cremos?
Felizes são portanto aqueles que dão ouvido às
palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e que
renunciam ao modo de se viver pela energia da alma (mente), para se viver pelo espírito por Ele
revivificado, renovado e santificado.
Com isto até mesmo o nosso afeto natural será
melhorado extraordinariamente, e não apenas pelos nossos semelhantes, mas também por
tudo o mais que pertence à criação natural.
Se não houvesse necessidade da nossa
cooperação com o trabalho do Espírito Santo, e do conhecimento das coisas que nos são
88
necessárias, conforme reveladas na Bíblia, Jesus
não teria ordenado que os cristãos fossem
ensinados a guardarem tudo o que Ele ordenou
aos apóstolos. É por isso que se impõe a pobreza de espírito e
de humildade (reconhecermos que
dependemos inteiramente de Deus) e de submissão ao Senhor e à Sua Palavra para que
possamos receber a Sua graça, para que seja
efetuado este trabalho de separação de alma e
espírito, de maneira que não sejamos mais governados pela nossa alma com
os seus afetos, mas, sim, pelo nosso espírito.
Assim, se o cristão for humilde, o Espírito Santo
irá, na prática, separar a sua alma do seu espírito, ainda que ele possa nem mesmo ter
conhecimento do modo como Deus processa
esta operação verdadeira e real.
Mas ele perceberá até mesmo racionalmente, que está sendo transformado, de forma
progressiva, numa nova criatura plena na
aquisição das virtudes do Senhor (misericórdia,
amor, longanimidade, etc), em sua própria vida, na medida em que caminha no Espírito, e se
dedicando ao exercício espiritual da meditação
da Palavra, da oração, da comunhão, e de todas
as demais graças que nos aperfeiçoam espiritualmente.
A vida natural, o afeto natural, são muito
importantes, mas quando se vive apenas nesta
dimensão da natureza terrena, jamais se poderá
89
adquirir ou se desenvolver as faculdades
espirituais anteriormente referidas.
Muito pensam equivocadamente que ser santo
é algo doentio e triste. Que os que buscam ser espirituais são pessoas que ficaram de algum
modo frustradas com a vida.
Não há nada mais errado do que este modo de pensar, porque a santificação é o encontro da
verdadeira vida, que é plena de significado e
contentamento.
O que se santifica tudo ama, até mesmo inimigos.
Ama a natureza, os animais, é sensível, e se
encanta com tudo o que Deus criou.
Deus tudo fez para o nosso aprazimento, mas jamais poderemos dar o devido valor e fazer
uma justa apreciação de tudo o que há na vida,
caso não vençamos o pendor da carne,
tornando-nos espirituais. Deus é amor e ama o que criou.
Deus é espírito perfeitamente santo.
Então quanto mais santificarmos o nosso
espírito, mais amaremos, com o mesmo amor de Deus.
O apóstolo nos ensina sobre a luta que existe
permanentemente entre a carne e o Espírito, e
vice- versa: "Porque a carne luta contra o Espírito, e o
Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao
outro, para que não façais o que quereis." (Gál
5.17).
90
Observe que ele afirma que a carne e o Espírito
se opõem mutuamente para que não façamos o
que seja do nosso querer.
O que ele quis dizer com isto? É que tanto a carne quanto o Espírito lutam
contra a lei natural da nossa mente, e contra as
disposições da nossa alma. Isto é, tanto um quanto o outro pretendem ter o
domínio da nossa vontade e de todo o nosso ser.
A carne (natureza decaída) pretende nos levar a
pecar ainda que não o queiramos; e o Espírito Santo pretende nos santificar e levar-nos a viver
não pelo que é propriamente da nossa vontade,
mas por aquilo que é da vontade de Deus.
Então o Espírito não luta contra a carne para que seja feito o que seja do nosso querer, mas para
que a vontade de Deus possa se cumprir em nós.
O Espírito procurará nos levar portanto à cruz
para que a carne possa ser crucificada com as suas paixões e desejos (Gál 5.24).
Jesus disse que as Suas palavras são espírito
e são vida (João 6.63).
É a isto que o apóstolo Paulo se refere em todo o segundo capítulo de I Coríntios, porque ali ele
nos diz que a sua linguagem e pregação não
consistiram em palavras persuasivas de
sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito de poder (I Cor 2.1, 4).
E neste mesmo capítulo ele explica o motivo de
ter agido de tal maneira: ele sabia que devia
pregar somente a Cristo, e este crucificado (o evangelho da cruz- v.2), e como não
91
deveria falar de si mesmo ou da sabedoria
deste mundo, ele pregou e ensinou em
fraqueza, temor e grande tremor (v.3).
Ele sabia que a sua missão não seria cumprida caso ele somente instruísse as mentes dos seus
ouvintes e não os conduzisse à cruz.
Usar de métodos persuasivos e tentar conduzir alguém a Cristo pela força de argumentos não
será produtivo, porque as realidades espirituais
se cumprem pela operação do Espírito Santo nos
corações, enquanto a verdade da Palavra de Deus é pregada ou ensinada.
A própria Palavra de Deus é vida, e produz vida.
Por isso o autor de Hebreus diz que ela é viva e
eficaz. O apóstolo Paulo sabia que a mente natural do
homem não pode entender as coisas espirituais
do reino de Deus, porque elas podem ser
discernidas somente espiritualmente pela revelação do Espírito Santo (I Cor 2. 10), e foi para
este propósito de compreender as coisas de
Deus que o Espírito Santo foi dado aos cristãos
(v. 12). Paulo diz que estas coisas espirituais que nos
foram dadas gratuitamente por Deus devem ser
ensinadas não com palavras ensinadas pela
sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito Santo, comparando coisas
espirituais com espirituais (v.13).
Isto implica que é necessário portanto ser um
cristão espiritual para que se possa aprender estas coisas que são ensinadas pelo Espírito.
92
É necessário porque não é através da mente
natural que Deus manifesta e revela as
realidades espirituais, celestiais e divinas, mas
através da revelação do Espírito Santo ao nosso espírito.
A mentalidade natural não somente não
entende as coisas espirituais como não as aceita, porque lhe parecem loucura (v. 14), isto é,
aqueles que tentam entender a vontade de
Deus sem que seja em espírito, mas
pelo mero exercício da mente natural, rejeitarão a Palavra de Deus, especialmente as
suas exortações relativas à cruz, porque isto
soará exagerado e como sendo uma loucura
para a mente natural. Veja que Paulo pregava somente Cristo e este
crucificado. Isto significa que o cristão está
também crucificado com Cristo e por isso deve
carregar diariamente a sua cruz. Então a mente natural não aceitará as coisas
espirituais porque não pode entendê-las, e o ego
resiste tenazmente para que não seja
crucificado com as suas paixões, e se opõe totalmente ao trabalho do Espírito Santo.
É necessário orar então a Deus, pedindo-Lhe
que quebre esta resistência natural.
Para isto é necessário ter humildade diante de Deus para que Ele nos conceda graça e
misericórdia, revelando-nos estas coisas
preciosas que Ele preparou para aqueles que O
amam, e que os olhos não viram, e que os ouvidos não ouviram, e que jamais penetraram
93
no coração humano (v. 9); isto é, que não podem
ser discernidas pelo homem natural ou carnal,
porque nos são reveladas pelo Espírito Santo
com as palavras que Ele ensina, e não com palavras de sabedoria humana.
O apóstolo Paulo nos diz que se o homem
natural não pode discernir as realidades espirituais, no entanto somente o homem
espiritual pode compreendê-las, porque ele
discerne bem a tudo que nos tem sido dado
gratuitamente por Deus, por meio de Jesus Cristo, porque sendo espiritual ele terá a
revelação destas coisas em sua vida, pelo
Espírito Santo (I Cor 2.15).
Somente o homem espiritual que tem a mente de Cristo pode conhecer a mente do Senhor,
porque não é propriamente a sua mente natural
que lhe propicia tal conhecimento, mas a
revelação do Espírito Santo que é feita ao seu espírito revivificado (v. 16).
Portanto, é necessário vigiar para que o nosso
espírito não esteja inativo ao mesmo tempo que
a nossa mente esteja muito ativa e até mesmo por um longo período, ocupada em entender a
verdade revelada na Palavra.
Por isso a própria Bíblia nos ordena que não
sejamos meramente ouvintes da Palavra, mas praticantes, isto é, que não devemos ficar
satisfeitos apenas com entender a verdade com
a mente, mas experimentar a verdade pelo
poder do Espírito, para que possamos ter o
94
conhecimento real e experimental das coisas
espirituais às quais a Palavra se refere.
Nós já vimos antes que este
verdadeiro conhecimento que é real e experimental não é adquirido meramente por
aquilo que aprendemos com a nossa mente, mas
aquilo que aprendemos por revelação do Espírito em experiências reais em nossa vida.
Tudo o que está revelado na Palavra não é
para o nosso próprio interesse pessoal, mas
para que se cumpram os propósitos de Deus relativos ao Seu povo.
Olhemos por um pouco para a história da Igreja
antiga, o povo de Israel, no período da
restauração, quando Deus os trouxe de volta do cativeiro em Babilônia para a própria terra deles
em Judá, e especialmente para a cidade de
Jerusalém.
O que estava ocorrendo? Qual era o propósito de Deus com
aquela restauração da vida espiritual de Israel?
Era simplesmente o de alegrar alguns fiéis
dentre o povo? Qual era o caráter das pessoas chaves que Ele
usou para liderar Israel?
Qual era o pensamento delas quanto à
necessidade de serem espirituais e consagradas ao Senhor?
Olhemos para a rainha Ester disposta a morrer
se fosse necessário, caso o rei não lhe
estendesse o seu cetro, quando ela decidiu que
95
intercederia junto dele para o livramento do
extermínio de Israel sob o ardil de Hamã.
Olhemos para a atitude do povo e de Mordecai,
que jejuaram e choraram amargamente por causa do decreto do extermínio do povo (Ester
4.1-3).
Olhemos para a atitude de Esdras, depois do povo ter retornado para Judá, mas não vivendo
na santidade prescrita pelo Senhor na Sua
Palavra.
Nós o vemos chorando diante do Senhor no templo, por causa do pecado deles, ao mesmo
tempo que se dispôs a tomar providências para
que eles fossem santificados (Esdras 1.6).
E finalmente, qual foi a atitude de Neemias quando soube do estado de miséria do povo que
se encontrava em Jerusalém?
Porventura ele não chorou, lamentou por
alguns dias e não jejuou e orou perante o Deus dos céus por causa daquela situação em que
Israel se encontrava? (Neemias 1.3,4).
Tudo o que se encontrava em jogo para estas
pessoas não era o que fosse do próprio interesse deles, mas a glória do nome do Senhor
que não estava sendo santificado enquanto o
Seu povo permanecia naquela condição de
miséria espiritual. Eles almejavam que a vontade de Deus fosse
feita, conforme deve ser, na vida do Seu povo.
E por acaso o estado em que a Igreja de Cristo se
encontra presentemente não é de necessidade
96
de restauração em santidade, pela pregação da
rude cruz?
Isto não é motivo para que choremos,
lamentemos e jejuemos tal como Ester, Mordecai, Esdras e Neemias fizeram no
passado?
Que o Senhor tenha misericórdia de nós, e que nos conceda um coração sempre contrito
perante Ele, e nunca esquecido destas coisas,
para que não venhamos a fixar o motivo da nossa
consagração em nós mesmos, senão somente nEle e na Sua vontade.
As sete igrejas citadas nos capítulos 2 e 3 de
Apocalipse representam todas as igrejas de
todas as localidades do mundo em toda a história do Cristianismo.
No entanto, elas configuram
as igrejas que estarão predominando no
mundo no tempo do fim, especialmente as três últimas citadas (Sardes, Laodiceia e Filadélfia).
Lembremos também em reforço deste
argumento que Apocalipse foi escrito para
descrever as coisas que acontecerão no tempo do fim.
É bem fácil de identificarmos estes três tipos de
Igrejas em nossos dias, e disto podemos
concluir que a volta do Senhor está mais próxima do que imaginamos.
Nós vemos que uma das notas constantes para
as igrejas que estão vivendo fora da vontade do
Senhor, com exceção de Esmirna e Filadélfia, que permanecem fiéis à Sua vontade, é a
97
chamada ao arrependimento. E que se
ouça o que o Espírito está dizendo às igrejas.
Nós entendemos então que uma das principais
missões dos cristãos fiéis neste tempo do fim é chamar ao arrependimento os cristãos que
estão vivendo de maneira contrária à vontade
de Deus. Esta chamada ao arrependimento deve ser feita
por se proclamar a verdade no poder do Espírito.
Porque é o Espírito Santo que dá testemunho da
verdade juntamente com o nosso espírito. Para tanto é necessário viver em santidade,
porque é pela fidelidade de Filadélfia que
muitos de Sardes e de Laodiceia poderão chegar
ao arrependimento, porque numa igreja corrompida fica quase impossível
conhecer a mensagem do verdadeiro
evangelho, e muito mais ainda o poder para
praticá-la. É nosso dever portanto, se desejamos ser fiéis ao
Senhor, que santifiquemos nossas vidas para
que sejamos cristãos espirituais e úteis no Seu
serviço em favor da restauração da Sua Igreja que se encontra em sua
maior parte corrompida, conforme Ele próprio
a descreve com as palavras que dirigiu às
Igrejas de Sardes e de Laodiceia. Há uma grande recompensa e um grande fruto
para o nosso trabalho no Senhor.
Ele próprio fortalecerá as nossas mãos para a
batalha.
98
Sigamos portanto em frente, perseverando na
fé, certos de que a vitória pertence ao Senhor, e
Ele nos honrará porque nós O temos honrado.
A cruz nos impôs o abandono da confiança em nós mesmos e a inteira confiança no sangue de
Jesus para que fôssemos salvos, e a mesma cruz
continuará nos impondo a necessidade de renúncia ao nosso ego e vontade para que haja a
ação do poder do Espírito para a nossa
santificação, e edificação da Igreja.
Ele fará o Seu trabalho se formos achados submissos e obedientes a
Ele, não inativos, mas despertados em nosso
espírito, e não propriamente pela mera
atividade das faculdades da nossa alma. A crucificação da carne com as suas paixões é
realizada pelo Espírito com base na nossa
escolha voluntária de renunciarmos ao modo de
viver pela alma, para que possamos continuar sendo aperfeiçoados no espírito.
Este é o único modo de sermos frutíferos na
obra de Deus, porque o trabalho espiritual da
nova criação em Cristo Jesus é realizado exclusivamente pelo Espírito, tal como Ele
trouxe todas as coisas à existência na criação
natural, sem necessitar do auxílio de mãos
humanas. Na verdade não somos propriamente nós que
somos os agentes ativos deste processo, porque
o que nos cabe é aceitar o trabalho de
quebrantamento operado pelo Senhor em nós, de maneira que aprendamos a ser
99
submissos à vontade de Deus, para que sejam
implantadas em nós as virtudes de Cristo, que
são designados como sendo o fruto do Espírito.
Assim, a chamada da cruz do Senhor Jesus é para nós odiarmos nosso viver pela alma de
forma que nós achemos a oportunidade para
perder isto e não preservá-lo. Jesus disse que quem perder a vida da alma
achará a verdadeira vida do espírito.
É isto que significa a expressão "quem perder a
sua vida por amor de mim vai achá-la.". O Senhor falou do assunto de odiarmos a nossa
própria vida (viver pela alma).
Assim não se trata de prática religiosa, mas de
uma assunto relacionado à essência mesma da verdadeira vida. Por isso se fala de se achar ou de
se perder a vida. De modo que "aquele que
procurar salvar a sua vida perdê-la-á" (Mc 8.35);
isto é, salvar este tipo de vida que é pelo viver pela alma e não pelo espírito.
Aqueles que vivem deste modo não poderão
achar a verdadeira vida espiritual que procede
de Deus. Se nós não rejeitarmos nosso ego
e perdermos nosso viver pela alma, mas ao
invés disso, seguirmos sua (da alma) ideia,
opinião, e sugestão, e se nós constantemente não negarmos seu direito incondicionalmente
e sem qualquer reserva, levando-a às cinzas,
sem almejar o que nós perderemos, nós não
podemos esperar ter uma vida espiritual e trabalho que agradem a Deus.
100
A razão de nós termos tantos fracassos em nossa
vida espiritual deve-se ao fato de que a morte
desta vida da alma não foi tratada
completamente. Se o trabalho do Espírito Santo não recebe boa
acolhida da nossa parte, a carne prevalece, e
como está naturalmente em inimizade permanente contra Deus, isto apaga o Espírito.
O Senhor Jesus disse: "O espírito é o que vivifica,
a carne para nada aproveita;" (Jo 6:63).
As obras da carne são de nenhum proveito! Tudo aquilo que nasce da carne,
indiferentemente do que possa ser, é carne, e
nunca pode se tornar espiritual.
Se a carne prega, se a carne ora, se a carne lê a Bíblia, se a carne oferta, se a carne canta hinos
de louvor, ou se faz o bem, o Senhor disse que
nada disso tem qualquer proveito.
Não importa quanto os cristãos confiem na carne, Deus disse que é de nenhum proveito e
não ajuda a vida espiritual. A carne não pode
cumprir a justiça de Deus.
"Porque a inclinação da carne é morte" (Rom. 8:6).
Do ponto de vista de Deus, há morte espiritual
na carne. E realmente ela está morta,
espiritualmente falando, porque o espírito do homem está morto em delitos e em pecados, e
somente pode ser revivificado para a comunhão
com Deus, caso renasça do Espírito, e seja
continuamente renovada pelo Espírito Santo.
101
Não há nenhum outro caminho para a carne
senão ser levada à cruz.
Não importa quão capaz é a carne de fazer o
bem, de pensar e planejar, e de ganhar o louvor dos homens, porque aos olhos de Deus, tudo
aquilo que é originado da carne tem a inscrição
em letras maiúsculas: "MORTE". "Porque a inclinação da carne é morte; mas a
inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a
inclinação da carne é inimizade
contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser" (Rom. 8:6,7).
A carne está completamente contra Deus e não
tem nenhuma possibilidade de ser entrosada
com Deus. Viver na carne significa viver pela própria
energia independentemente de Deus, daí a
incompatibilidade que há entre a carne e tudo
aquilo que se refere a Deus, que é espírito. A alma daqueles que vivem na carne está em
rebelião contra o Senhor, contra a Sua vontade e
Palavra, e é fortalecida nesta sua resistência ao
Espírito quando a pessoa não possui uma mente que tenha sido renovada.
Mas naqueles em que houve um tratamento da
alma pela cruz, pela crucificação da carne com
as suas paixões, e pelo hábito continuado deles de procurarem fazer a vontade do Senhor,
a alma é uma boa serva do espírito, e mesmo
quando este está em silêncio, a alma e a mente
continuarão se ocupando daquilo que é do interesse de Deus, e vigiará contra Satanás,
102
contra o pecado e contra as investidas do
mundo com suas tentações, e o resultado disto
é vida e paz.
E quando a pessoa se mover para exercitar o espírito em oração, louvor, pregação ou em
qualquer outra forma de se exercitar o espírito,
este logo entrará em atividade, pelo hábito formado da comunhão com Deus.
Não haverá resistência da carne porque estará
crucificada; nem oposição da alma e da mente,
porque estão inclinadas para Cristo e Sua vontade; e assim fazer a obra de Deus, a par de
toda a oposição que se possa sofrer, será um
prazer.
Por isso uma pessoa somente despertada pela Palavra de Deus, que queira servi-lo, temê-lo,
amá-lo, sem ter sido nascida de novo do Espírito
Santo, não poderá de modo algum ter no seu
viver o fruto do Espírito, conforme descrito em Gálatas 5.
O cristão espiritual buscará a comunhão com o
Senhor e com os irmãos na fé.
Ainda que o princípio do pecado continue operando na carne, todavia a mente terá prazer
na lei de Deus e buscará servi-lO.
E por esta disposição de uma mente renovada o
cristão espiritual buscará auxílio em Cristo para que o Espírito Santo vença toda tentativa de
manifestação do pecado na carne.
E ele terá sucesso nisto por causa da prática que
tem em exercitar suas faculdades espirituais
103
para discernir tanto o bem quanto o mal (Hb
5.14).
Por isso se vê o espírito apagado nos cristãos
carnais como que se o espírito deles estivesse de fato morto, exatamente porque caminham na
carne e não no Espírito, porque como vimos em
Rom 8.6 a inclinação para a carne dá para a morte das graças espirituais, mas a inclinação
do Espírito dá para a vida e paz.
Assim, concluímos que a vida poderosa de Deus
não se manifesta na carne, mas no espírito. Quando o cristão anda na carne, ele mata a vida
espiritual que é decorrente do Espírito.
"e os que estão na carne não podem agradar a
Deus." (Rom. 8:8). Esta é a resolução final. Não importa quanto possa ser boa a conduta do
homem, caso tenha o ego como sua fonte,
nunca poderá agradar a Deus.
Deus somente pode ser agradado pelo Seu Filho.
Aparte de Cristo e do Seu
trabalho, o homem e as suas obras não podem
agradar a Deus. Embora nós, seres humanos façamos uma
distinção entre bem e mal baseando-nos apenas
no comportamento, a distinção que Deus faz não
está limitada ao comportamento porque Ele pesa também as intenções e contempla
os nossos corações, e acima de tudo,
especialmente na Sua obra na Igreja Ele leva em
conta qual é a fonte das nossas ações, se a carne ou o Espírito.
104
Acima de tudo lembremos que o homem foi
criado por Deus para viver não segundo a carne,
mas segundo o Espírito.
Assim a carne deve ser obrigatoriamente mortificada pela cruz se pretendemos viver de
modo agradável a Deus.
Daí podemos afirmar que ser espiritual é um dever que nos é imposto por Deus, e devemos
então nos empenhar em conhecer o como e o
porque de ser espiritual e não carnal.
O texto de Ef 4.20-24 fala da crucificação e despojamento do velho homem (carne,
natureza terrena), para o revestimento do novo
homem (nova criatura, nova natureza
espiritual). “Efs 4:20 Mas não foi assim que aprendestes a
Cristo,
Efs 4:21 se é que, de fato, o tendes ouvido e nele
fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus, Efs 4:22 no sentido de que, quanto ao trato
passado, vos despojeis do velho homem, que se
corrompe segundo as concupiscências do
engano, Efs 4:23 e vos renoveis no espírito do vosso
entendimento,
Efs 4:24 e vos revistais do novo homem, criado
segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade.”
Somente a santificação pela aplicação deste
fundamento que nos é ensinado pela Palavra
nos tornará úteis na obra de Deus (II Tim 3.16,17).
105
Romanos 7:22 diz: "Porque, segundo o homem
interior, tenho prazer na lei de Deus;".
Nosso homem interior (nova criatura) tem
prazer na lei de Deus. Então quando temos prazer em obedecer todos
os mandamentos de Deus isto é sinal que temos
sido despojados do velho homem, pelo trabalho progressivo de santificação do Espírito Santo,
relativo à mortificação do pecado.
Efésios 3:16 também nos diz que sejamos
fortalecidos com poder pelo Espírito no homem interior.
Paulo disse também em II Coríntios 4:16: "mas
ainda que o nosso homem exterior se esteja
consumindo, o interior, contudo, se renova de dia em dia.".
A nova criatura é pura, santa, celestial,
espiritual e divina. Ela foi recebida do alto,
porque somos feitos novas criaturas por um novo nascimento do Espírito, procedente das
alturas.
Por isso nosso Senhor destacou nas bem-
aventuranças, a pureza de coração como condição para se ver a Deus.
Esta pureza está justamente em não
misturarmos as coisas relativas ao Espírito com
as obras da carne, conforme mencionadas em Gálatas 5.
Quem ama a santidade odiará a impureza.
Não permitirá que a facilidade em se irar
conviva ao lado da longanimidade; que indolência espiritual vença a diligência; e em
106
tudo o mais, buscará o que é relativo à nova
criatura, pela mortificação daquilo que
pertence ao velho homem.
Algumas pessoas pensam que contanto que eles recebam poder de Deus, tudo o que eles têm
será purificado e será usado por Deus para o
serviço dEle. Mas isto nunca acontecerá, enquanto
prevalecer um viver carnal, por se inclinar
àquilo que é da carne, e não do espírito.
Não se obtém o fruto do Espírito Santo por imposição de mãos, ou declarações de
recebimento de poder instantâneo, porque isto
é feito progressivamente pela obra de
santificação, que será tanto maior quanto maior for a nossa consagração a Deus e à prática da Sua
Palavra.
Quanto mais nós conhecemos a Deus, mais nós
buscamos pureza e santidade acima do poder. Na verdade, sem pureza, sem santificação, não
há um poder espiritual operante, porque este
poder é sempre, em primeiro lugar,
transformador e renovador, no que se refere à nossa própria vida.
Enquanto não despertamos para viver buscando
o reino de Deus e a sua justiça em primeiro
lugar, nunca conheceremos isto ou a sua profundidade, porque é concedido pelo Senhor
somente àqueles que Lhe obedecem.
Nosso Senhor foi muito incisivo quando disse
que se não guardarmos os seus mandamentos nós não O amamos, e que Ele e o Pai se
107
manifestam apenas àqueles que guardam os
Seus mandamentos.
Então é possível até mesmo ser de Jesus,
conhecer a Jesus, e não prosseguir no conhecimento da graça e do Senhor, contra a
ordenança apostólica de II Pedro 3.18.
Quando isto sucede, a consequência natural é ser carnal, e não espiritual.
Quando se é espiritual, disciplinamos nossos
filhos e nossos irmãos em Cristo.
Há muito desgaste e trabalho envolvido nisto, mas o fazemos por amor ao Senhor e à Sua
Palavra, independentemente do quanto isto
possa nos contrariar ou a eles.
Nós também aceitamos de bom grado a palavra de repreensão e de disciplina, caso tenhamos
dado ocasião a isto, porque sabemos, pela
Palavra, que tem por finalidade, nos preservar
do mal. Nós lutamos bravamente contra as tentações
carnais, e ficamos satisfeitos ao ver que elas vão
ficando cada vez mais fracas, e as graças cada
vez mais fortes, à medida da nossa perseverança na obediência e fidelidade ao Senhor e aos seus
mandamentos.
Um viver segundo a carne já não nos atrairá com
a mesma facilidade do passado, e passamos a ter real prazer numa vida santificada, e não ficamos
satisfeitos com a medida presente das graças
que possuímos, porque há um princípio vivo
espiritual que é o de graça sobre graça, ou seja,
108
ela sempre chama por maiores medidas e nos
impulsiona a isto.
Tudo devemos fazer para a exclusiva glória de
Deus. Quando assim procedemos, Deus em sua
infinita bondade, faz com que nos sintamos
plenamente satisfeitos, e Ele faz com que desfrutemos todas as coisas com
contentamento e moderação.
Quando somos espirituais, até mesmo o nosso
afeto natural é excepcionalmente melhorado, porque ele se estende a todas as pessoas, e não
somente a pessoas, como a tudo o mais na
criação.
Nossas mãos afagarão em vez de ferir, e se movimentarão pelos comandos de um coração
santificado.
Daí dizer o apóstolo Pedro:
“1Pe 3:8 Finalmente, sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos,
misericordiosos, humildes,
1Pe 3:9 não pagando mal por mal ou injúria por
injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para isto mesmo fostes chamados, a fim de
receberdes bênção por herança.
1Pe 3:10 Pois quem quer amar a vida e ver dias
felizes refreie a língua do mal e evite que os seus lábios falem dolosamente;
1Pe 3:11 aparte-se do mal, pratique o que é bom,
busque a paz e empenhe-se 17 - Hábitos são
Ditados Pelo Tipo de Natureza que se Possui
109
Os hábitos de um gato são ditados pelo tipo de
natureza dos gatos; isto se aplica
respectivamente a todas as demais espécies de
animais. Quanto ao homem, seus hábitos são ditados pela
natureza humana, todavia como fora criado
para ser à imagem e semelhança de Deus necessita para tanto, possuir também a natureza
divina, para que possa atingir o propósito pleno
da sua criação.
Assim, a natureza humana não pode responder por si só aos hábitos que são inerentes à
natureza divina; pois não carrega consigo os
hábitos de santidade que são exclusivos à
natureza de Deus, ao contrário, em razão da queda no pecado carrega um princípio que é
totalmente contrário ao citado hábito de
santidade.
Acrescente-se a isso, que sem o arrependimento e a fé em Jesus Cristo é
impossível ser participante da natureza divina.
Antes da Queda no pecado original a natureza
humana se inclinava somente para o que é bom. Mas, com a Queda, passou a se inclinar também
para o que é mau, e esta inclinação passou a ser
o princípio dominante que opera na natureza
humana, pois o homem é mais inclinado para o mal do que para o bem, conforme se vê na
experiência prática, e sendo confirmado pelas
palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e dos
apóstolos, de que temos um coração perverso do qual procedem todos os tipos de males, e os
110
quais são referidos pelo apóstolo Paulo como
sendo obras da carne.
Então “carne”, neste sentido bíblico, nada mais
é do que a inclinação pecaminosa que habita na natureza humana, ao lado da primitiva
inclinação para o bem, e que pode ser sufocada
agora por esta má inclinação em muitas ocasiões e modos.
Esta inclinação original da natureza humana
disposta para o bem nada pode fazer contra esta
inclinação para o mal que leva o homem a pecar; ou seja, não pode tratar com a raiz do pecado no
que se refere a subjugar e remover a fonte dos
desejos maus.
Somente a natureza divina, que é recebida na conversão, por meio da fé em Cristo, tem o
poder que é capaz de subjugar a inclinação
pecaminosa da natureza humana.
Daí se afirmar que o Espírito que em nós habita, e que ativa e opera esta natureza divina, se opõe
à carne, ou seja, à má inclinação de nossa
natureza, que nela penetrou desde a Queda no
pecado original. Então, se somos instruídos pelo Espírito,
submissos ao Espírito, movidos e guiados pelo
Espírito, especialmente em relação àquelas
atitudes e comportamentos santos da Palavra de Deus, podemos subjugar a má inclinação da
natureza humana que dá para a morte
espiritual, e assim, podemos experimentar a
vida de Deus e a paz que dela decorre (Rom 8.6).
111
É nisto basicamente que consiste a nossa
semelhança com Deus, ou seja, a nossa efetiva
participação de sua natureza divina, traduzida
nas operações progressivas do Espírito Santo para forjar em nós atitudes, comportamentos,
atos e pensamentos que sejam cada vez mais
condizentes com a nossa inclinação para aquela santidade que é inerente à natureza divina, e
que existe somente naqueles que pertencem a
Jesus Cristo.
Assim, perdemos muito desta semelhança com Deus quando não andamos no Espírito, ou seja,
quando não somos instruídos, dirigidos e
movidos por Ele, por causa de andarmos
segundo a má inclinação que é para a carne (pecado), porque em vez de produzirmos o fruto
do Espírito em nossas vidas, produzimos as
obras da carne.
À luz destas verdades bíblicas podemos entender porque simples atos bons morais não
configuram necessariamente aquela santidade
divina à qual somos chamados, porque a antiga
inclinação para o bem da natureza humana pode responder a isto.
Assim, é possível praticar o bem e não ser
participante da vida de Deus, porque é certo que
em todas as pessoas, esta habilidade para o bem sempre é acompanhada de perto e subjugada
por uma outra inclinação que é mais poderosa,
ou seja, a que é para o mal, e sendo Deus,
completamente santo e justo, não pode habitar onde o problema do pecado não tenha sido
112
resolvido, pelo perdão e pela justificação que
existem somente por meio da nossa fé no
Senhor Jesus Cristo.
por alcançá-la. 1Pe 3:12 Porque os olhos do Senhor repousam
sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos
às suas súplicas, mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males.”
113
Não Mais na Carne
“Rom 8:1 Agora, pois, já nenhuma condenação
há para os que estão em Cristo Jesus.
Rom 8:2 Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da
morte.
Rom 8:3 Porquanto o que fora impossível à lei,
no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de
carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e,
com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado,
Rom 8:4 a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a
carne, mas segundo o Espírito.
Rom 8:5 Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se
inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito.
Rom 8:6 Porque o pendor da carne dá para a
morte, mas o do Espírito, para a vida e paz. Rom 8:7 Por isso, o pendor da carne é inimizade
contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus,
nem mesmo pode estar.
Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.
Rom 8:9 Vós, porém, não estais na carne, mas no
Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em
vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.
Rom 8:10 Se, porém, Cristo está em vós, o corpo,
na verdade, está morto por causa do pecado,
mas o espírito é vida, por causa da justiça.
114
Rom 8:11 Se habita em vós o Espírito daquele que
ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse
mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os
mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita.
Rom 8:12 Assim, pois, irmãos, somos devedores,
não à carne como se constrangidos a viver segundo a carne.
Rom 8:13 Porque, se viverdes segundo a carne,
caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito,
mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis.
Rom 8:14 Pois todos os que são guiados pelo
Espírito de Deus são filhos de Deus.”
A força e o foco do argumento do apóstolo Paulo,
nesta seção do oitavo capítulo da epístola aos
Romanos repousa na verdade espiritual de que
em Cristo nenhum servo autêntico de Deus, nascido de novo do Espírito Santo, encontra-se
em estado de inimizade com Deus, por não estar
reconciliado com Ele.
Todos, sem uma única exceção, são filhos amados, por meio da sua união com Cristo.
Foram resgatados de um viver exclusivamente
pela energia da natureza terrena, porque
encontram-se agora também dotados de uma nova natureza, pela habitação do Espírito Santo,
que está destinada a destruir e a despojá-los da
antiga natureza terrena pecaminosa.
Já são assim considerados, embora ainda neles remanesça o velho homem com suas paixões
115
terrenas, de modo que deles se diz que não estão
mais na carne, caso tenham de fato a habitação
do Espírito Santo.
Deus os vê na nova natureza que lhes deu por causa da fé em Cristo. E os chama a
mortificarem os feitos da velha pelo poder da
nova, de modo que tenham toda a plenitude da vida espiritual que se encontra em Jesus Cristo.
Já se encontram na posse da vida eterna, mas
necessitam crescer na graça e no conhecimento
de Jesus, pela mortificação do pecado e por um andar no Espírito Santo.
É evidente que, quando o cristão faz provisão
para as obras da carne, que ele não está
agradando a Deus, mas ele possui, pelo Espírito que nele habita, a condição de reverter este
quadro pela confissão e abandono do pecado,
com a devida consagração ao Senhor.
Mas, não é ao cristão que Paulo está se referindo, quando diz:
“Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não
podem agradar a Deus.”
Porque, seu propósito, quando faz esta afirmação no contexto desta epístola aos
Romanos, é o de demonstrar que não ter a Cristo
significa não ter consequentemente a nova
natureza celestial e divina, senão apenas a terrena, que é designada na Bíblia pela palavra
“carne”.
Assim, não é possível se agradar a Deus, por
qualquer obra religiosa ou de caráter de benemerência, com vistas à salvação ou à
116
comunhão, porque a carne não está sujeita a
Deus, não lhe ama, nem os seus mandamentos,
e não está habilitada a fazer a sua vontade,
porque isto é possível somente quando somos transformados e dirigidos pelo Espírito Santo.
Como o cristão possui a referida habitação do
Espírito ele pode realizar o trabalho de mortificação do pecado, pela operação do
Espírito.
Como este trabalho é realizado pelo Espírito,
podemos concluir consequentemente que não se pode ver isto sendo feito naqueles que não são
de Cristo.
Palavras proferidas por Jesus Cristo:
João 3:5 Respondeu Jesus: Em verdade, em
verdade te digo: quem não nascer da água e do
Espírito não pode entrar no reino de Deus. João 3:6 O que é nascido da carne é carne; e o que
é nascido do Espírito é espírito.
Palavras proferidas por Paulo:
Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não
podem agradar a Deus.
Rom 8:9 Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em
vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo,
esse tal não é dele.
117
Nós percebemos que foi do ensino de nosso
Senhor Jesus Cristo em João 3.5,6, que o apóstolo
Paulo baseou a sua afirmação no texto de
Romanos 8.9 de que o cristão não está na carne mas no Espírito.
Ora, por que ele fez tal afirmação, uma vez que
apesar de ter nascido de novo do Espírito, o cristão permanece, enquanto neste mundo, sob
a influência da carne (natureza terrena
pecaminosa) que ele ainda possui?
Só podemos entendê-lo a partir do ensino de Jesus que disse que o que é nascido do Espírito é
espírito.
Não se diz que será, mas que já é espírito.
Ou seja: seu espírito que se encontrava morto em delitos e pecados foi revivificado. É agora um
ser espiritual aos olhos de Deus. Sua natureza
carnal recebeu a sentença de morte na cruz
juntamente com Cristo, e está sendo despojada pela nova natureza espiritual e celestial, que
também habita no cristão.
O Espírito Santo não produz naturezas
pecaminosas, mas santas. Daí se dizer que todo o que é nascido do Espírito é espírito.
Mas o que não é nascido do espírito não pode
agradar a Deus, porque tudo quanto pode gerar
é a mesma natureza terrena pecaminosa que possui, ou seja, o que a Bíblia chama de carne.
Este é o único legado e marca que pode deixar
para outros.
Além disso, deve ser considerado, conforme o apóstolo expressara anteriormente em
118
Romanos 7, que o que é nascido do espírito
possui uma mente e uma nova natureza que se
inclinam para Deus e para os Seus
mandamentos. Por ter sido feito espírito e por ter sido crucificada a carne, por causa da fé em
Jesus, não ama o que é carnal, mas o que é
espiritual e celestial.
119
A Supremacia do Espírito Sobre o Corpo
“O espírito é o que vivifica, a carne para nada
aproveita; as palavras que eu vos digo são
espírito e vida.” (João 6.63)
Observe atentamente o seguinte relato, baseado
em fatos reais:
Um homem pacífico, justo, piedoso e temente a Deus sofreu um infarto agudo do miocárdio que
o conduziu ao internamento numa Unidade de
Tratamento Intensivo (UTI), e como a grave
insuficiência cardíaca produziu um edema pulmonar, não diagnosticado e identificado pela
UTI, o mesmo passou a ter séria dificuldade para
respirar, e num estado de semiconsciência gemia intermitentemente para conseguir
aspirar e expirar um pouco de ar. Pessoas do
grupo de enfermagem mandavam-lhe
asperamente que calasse a boca, achando que estava fazendo aquilo de propósito. Então um
psiquiatra foi convocado a dar o seu parecer, e
este entendeu que o melhor seria ministrar-lhe
uma forte dose de drogas tranquilizantes (que ele veio a saber posteriormente tratar-se da
chamada “boa noite Cinderela”, e também
medicação para esquizofrenia) que vieram a
fazer um efeito reverso, pois em vez de ser tranquilizado, veio a saber que no período que
esteve inconsciente passou a ter um
comportamento descompassado proferindo
palavras desconexas. Então um psicólogo foi
120
convocado para dar o seu parecer e este chegou
à conclusão que se tratava de um paciente mais
psiquiátrico do que cardiológico, tendo feito
constar em seu diagnóstico que se tratava de pessoa descontrolada e agressiva. Com isto o
mesmo foi amarrado firmemente na maca em
que se encontrava, tendo suas mãos e pés imobilizados. Quando voltou horas depois ao
estado de consciência, sua insuficiência
respiratória e cardíaca se agravou porque se viu
naquelas condições, estando com o corpo nu em um ambiente cuja temperatura nunca
ultrapassava os 18 graus centígrados. Seu estado
que era crítico e de debilidade extrema por
causa do infarto se agravou ainda mais quando se viu naquela condição humilhante de
desproporcional ao que de fato necessitava. Os
médicos cardiologistas limitaram-se
simplesmente a lhe ministrar os medicamentos vasodilatadores que haviam sido prescritos na
unidade de emergência, sem que lhe fosse
prescrito o uso de qualquer diurético para fazer
o edema pulmonar recuar. Sequer tivera seus pulmões auscultados ou radiografados, bem
como nenhum eletrocardiograma ou
ecocardiograma havia sido realizado naqueles
primeiros dez dias de internação. Não fosse a graça de Jesus que fortalecia o seu espírito
enfraquecido, para sustentar a sua alma abatida
e o seu corpo amortecido pela enfermidade,
certamente não teria suportado todo aquele tipo de atendimento que estava recebendo.
121
Ninguém... quer na equipe de médicos, quer na
de enfermagem, demonstrou amor, compaixão
ou empatia pelo estado em que se encontrava,
nem sequer houve até aquele momento um só samaritano entre eles que se sensibilizasse pela
sua condição de sofrimento, pois em suas
consciências todos estavam desculpados e justificados pela ideia ilusória de que estavam
realizando competentemente as funções
técnicas para as quais haviam sido adrede
preparados. Eles estavam trabalhando com um pedaço de
carne que viera ter às suas mãos, assim como o
açougueiro trabalha fria e insensivelmente em
cada pedaço de corte com o seu facão, e não propriamente com um ser humano dotado de
razão, vontade, intelecto, sentimentos, e
emoções.
Quer para onde nos voltemos na rede hospitalar, será este o quadro que
encontraremos, e as raízes desse
comportamento se encontram nos seguintes
motivos, dentre outros: É impressionante a extensão da ignorância que
existe sobre as faculdades da alma e do espírito
humano por parte da prática científica, uma vez
que de há muito as universidades, no afã de separarem a ciência da religião, acabaram por
eliminarem também a subjetividade atrelada à
religiosidade, por considerar que a pesquisa
científica deveria se ater apenas à objetividade, de forma que tem sido este o modo de pensar
122
universitário, que mais e mais se expande com
um foco eminentemente materialista,
esquecendo-se que a parte nobre do homem
não se refere à biológica, mas à sua alma e ao seu espírito.
Como a noção de espírito e alma canaliza para a
divindade, uma vez que Deus é espírito, o humanismo, contradiz-se a si mesmo, ao negar
a participação de ambos na prática científica,
porque reduz a humanidade ao objeto, pela
negação da parte imaterial, tendo em vista deixar do lado de fora a influência e realidade de
Deus no ser humano total.
A secularização da universidade excluiu dos
programas de ensino toda e qualquer abordagem de caráter subjetivo, porque as
emoções, os sentimentos, a vontade, a
imaginação, a intuição, a consciência, e todas as
demais faculdades da alma e do espírito do homem não contam onde o que se persegue e
estuda é apenas a compreensão objetiva da
matéria, a saber, do universo material que nos
cerca, aí incluído o nosso próprio corpo. A própria práxis psicológica e psiquiátrica, das
quais se deveria esperar uma maior pesquisa
das faculdades psicológicas e espirituais, no
âmbito da subjetividade em que elas existem, é eminentemente acadêmica e empírica, focada
na objetividade, voltada simplesmente para a
busca de resultados aplicados às áreas
terapêutica, profissional, pedagógica dentre outras, e não propriamente à compreensão para
123
a elevação e edificação do próprio espírito e
alma humanos.
O grande paradoxo nisto tudo é que o corpo e a
matéria passam, mas o espírito é eterno, de modo que se prioriza não o que permanece,
senão o que é temporário. E que sabedoria real
há nisto? Todo o esforço da sociedade secular se
concentra portanto não na edificação do ser
humano, quanto à sua necessidade de
crescimento pessoal pelo amadurecimento e aperfeiçoamento de suas faculdades
psicológicas, espirituais e morais, no que
poderíamos chamar de busca do homem total,
pleno da vida e da consciência de Deus, mas o esforço se concentra meramente na formação
acadêmica secular pela obtenção de
conhecimentos e habilidades para a atuação na
produção de bens e serviços materiais, visando-se não ao sujeito, mas ao objeto. O homem nada
mais deve ser do que um mero consumidor e
executor das práticas em que foi formado
através dos programas de ensino seculares. Um ser espiritual sendo reduzido à matéria! A
parte nobre da alma sendo negligenciada em
prol do corpo – que é o invólucro temporário do
espírito! Ainda assim, gaba-se o cientista de viver de
modo objetivo, ignorando que a subjetividade
que conduz à religiosidade é inerente ao espírito
humano, ali instalada pelo próprio Deus, para que fosse buscado pelo homem para ser
124
adorado por ele. Ora, negar tal realidade é negar
a Deus o direito que Ele detém sobre a criatura!
E, por conseguinte, nega-se também a própria
humanidade, porque esta não pode existir na verdadeira acepção da palavra, caso esteja
alijada da vida divina.
A adoração é uma das faculdades que pertencem exclusivamente ao espírito humano,
pois é notório que mesmo nos animais que são
dotados de alma, a mesma não existe em razão
de não serem dotados de um espírito, que é a parte que distingue o ser humano de tudo o mais
que existe na criação.
Assim, Deus não poderia ter errado o grande
alvo ao nos dar a revelação da verdade na Bíblia, uma vez que ela tem em vista o resgate e a
restauração da humanidade, sobretudo da alma
e do espírito, conforme podemos verificar em
inúmeras passagens bíblicas. São faculdades do espírito: Consciência,
comunhão, adoração, intuição, amor ágape, fé,
revelação, e tudo o mais que faz parte do Espírito
Santo, que pode ser gerado no espírito humano: paz, alegria, domínio próprio, bondade,
fidelidade, mansidão etc.
São faculdades da alma: emoção, vontade, razão,
sentimento, e tudo o mais que se refere às funções cerebrais tanto em humanos quanto
em animais.
Mas, na apreciação das faculdades da alma e do
espírito, não devemos nos limitar às que foram anteriormente citadas, sem levar em conta a
125
grande gama de realidades invisíveis que
operam em ambas, e que são traduzidas em
nosso comportamento, e em especial em nossos
relacionamentos interpessoais. Sem que entremos no mérito do que é
pertinente exclusivamente ou não à alma ou ao
espírito, destacaremos algumas destas realidades que podem ser classificadas como
virtudes (quando correspondem ao que existe
no caráter de Deus), tendo ao seu lado a
designação da realidade negativa que lhe corresponde, por pertencer à natureza caída
terrena.
Humildade – arrogância, soberba, Misericórdia – implacabilidade, crueldade
Perdão – mágoa, rancor, juízo condenatório
Pureza – fornicação, impureza
Fidelidade – adultério, traição Gratidão – ingratidão
Hospitalidade – inveja, ciúme
Gentileza – rudeza, vileza
Afabilidade – desafeição Coragem – covardia
Altruísmo – ganância
Veracidade, sinceridade – hipocrisia, falsidade,
mentira Justiça – injustiça
Amizade – inimizade, ira, porfia
Generosidade – egoísmo
126
A lista é extensa e aplicável sobretudo às
virtudes ou erros do espírito humano que
podem ser melhoradas (virtudes) ou agravados
(erros), quando respectivamente nos aproximamos ou nos afastamos da operação da
graça de Deus.
Daí sermos exortados como crentes, em II Coríntios 7.1: “Ora, amados, pois que temos tais
promessas, purifiquemo-nos de toda a
imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando
a santificação no temor de Deus.” Ora se tais virtudes destacadas, dificilmente são
achadas em plenitude nos próprios crentes que
têm o Espírito Santo de Deus, por serem de
Cristo, quanto mais se poderia esperar achá-las como virtudes genuínas e não o fruto de
hipocrisia, em pessoas que não amam a Cristo e
os Seus mandamentos?
Quem esperaria colher maçãs em um espinheiro?
Podemos observar nas passagens bíblicas do
Novo Testamento que a palavra psique – alma,
(da qual se origina a palavra psicologia) é várias vezes empregada para designar não o corpo
físico humano, mas a parte imaterial animada,
de modo que é costumeiramente traduzida por
vida, para melhor expressar o significado a que se refere. De modo que, por exemplo, quando
nosso Senhor afirma que veio para dar a sua vida
em resgate de muitos, ele não está se referindo
apenas à morte física, mas muito mais do que isso, a saber, que Ele entregou todo o seu ser
127
com todos os poderes e faculdades animados e
inteligentes da alma, do espírito, e não apenas
do corpo, ou seja, ele entregou-se totalmente
por nós. Concluímos, pois, quão iludidos e enganados
estão todos aqueles que julgam a Bíblia como
sendo um livro ultrapassado e que não trata com profundidade as questões relativas às
necessidades da natureza humana. Nada há
mais distante da verdade do que isto, porque se
Deus não nos tivesse revelado a verdade, jamais poderíamos chegar ao conhecimento da nossa
real condição corrompida e decaída, e que pode
ser restaurada somente pelo remédio que
também nos é revelado por Deus na Sua Palavra. Tudo o que a chamada prática científica tem
afirmado em relação a este campo é fumaça e
não propriamente a substância real do mundo
espiritual que pode ser discernido somente por meio da fé, a qual é um dom de Deus para
aqueles que o amam.
Na simplicidade da revelação nós encontramos
um castelo de ouro e pedras preciosas, e em todo o emaranhado das teorias e postulados
humanos nada mais há do que um castelo de
madeira e palha que não poderá resistir à prova
do fogo, e se desfará. Melhor então que os currículos universitários
não abordem as questões relativas à real
condição de nossos espíritos, porque se
tentassem fazê-lo, pelas mentes de homens incrédulos, o que teríamos seria um grande
128
amontoado de teorias enganosas, conforme
costuma suceder aos que se aventuram a fazê-
lo. E se não o fazem, é porque nada têm
realmente a dizer a respeito, porque coisas espirituais só podem ser discernidas
espiritualmente por meio da operação do
Espírito Santo (I Cor 2.9-16) Em suma, de tudo o que se aprende na Bíblia,
tanto no Velho quanto no Novo Testamento é
que tanto a alma quanto o espírito, afastados de
Deus, estão não apenas arruinados e em trevas, mas mortos, e o corpo caminha para a
destruição sem a esperança da ressurreição em
glória.
Se são de muita ajuda nos assuntos relativos à cura de enfermidades físicas e psicossomáticas,
o que podem, no entanto, fazer os médicos,
psicólogos, psiquiatras e psicanalistas e
qualquer cientista, quanto ao resgate e restauração do homem como um todo (espírito,
alma e corpo) para a obtenção da vida eterna que
está somente em Cristo Jesus, nosso Senhor, e
não somente isto, como também em relação à nossa educação e edificação espiritual para que
cheguemos à plena medida da varonilidade de
Cristo?
Esta total dependência do espírito humano do Espírito de Deus, pode ser vista claramente na
abundância de referências ao Espírito Santo, no
texto bíblico, em conexão com o espírito
humano.
129
Espiritual
A palavra “carne” (sarx, no grego) é usada no
texto do Novo Testamento, tanto para designar
o corpo físico natural, no qual não há inerentemente qualquer mal moral, senão o
mau uso que se pode fazer do mesmo, e
também, a condição da natureza terrena
decaída no pecado que se opõe a Deus e à Sua vontade.
A revelação bíblica apresenta um contraste
entre o que é espiritual e o que é natural e
carnal, e não propriamente material, como costumeiramente ocorre ao modo de se pensar
em geral.
Sendo que o carnal e o natural aqui referidos reportam, respectivamente, o primeiro ao que é
pecaminoso, e o segundo ao que é pertencente à
vida moral, que não é espiritual, celestial,
sobrenatural e divina. O conceito de espiritual, conforme o
encontramos especialmente no Novo
Testamento, transcende o de espírito, porque os
anjos caídos e o espírito de pessoas ímpias não são ditos espirituais, pois esta palavra indica a
condição de espíritos que são conduzidos pelo
Espírito Santo de Deus, que se encontram a Ele
voluntariamente sujeitos, a saber, os anjos eleitos e as pessoas que foram regeneradas pelo
Espírito.
A condição do espírito pode ser tanto de luz ou
de trevas. A de luz identifica os que são
130
espirituais, e a de trevas, os que são carnais, ou
seja, os que não são de Cristo e não têm, por
conseguinte o Espírito.
Como a geração que viveu nos dias de Noé não atendia ao propósito da criação do homem por
Deus, ou seja, viviam como carnais e não
permitiam o trabalho do Espírito Santo em seus corações, então foi determinada a destruição
pelas águas do dilúvio (Gênesis 6.3), como um
sinal e aviso do que há de suceder a todos os que
viverem como carnais, resistindo ao Espírito. Ao homem natural não ocorre o pensamento de
ter sido criado para viver no e pelo Espírito
Santo. Se Deus não abrir o seu entendimento
para as coisas que são espirituais e celestiais, ele jamais poderá topar com o propósito da criação
da humanidade por Deus. E, não há nenhum
jogo de esconde-esconde nisto; nenhuma
vontade caprichosa de Deus envolvida nisto, senão a manifestação da vida eterna que está
oculta em Cristo, e à qual Ele dá acesso somente
àqueles que têm escolhido, e obedecem à Sua
vontade. Evidentemente, para muitos propósitos úteis e
convenientes à Sua exclusiva soberania e
autoridade, bem como a nós próprios, fomos
criados por Deus sendo espíritos dotados de um corpo natural, colocados a viver num mundo
também natural.
Por nossa relação com as realidades naturais, o
nosso espírito pode ser exercitado em cuidados providenciais visíveis, que de outra forma, não
131
poderiam ser manifestados, e importava que
Deus manifestasse, segundo Seu propósito
eterno, toda a Sua glória, em demonstrações de
Seu amor, Sua bondade, misericórdia e justiça para com pecadores.
O homem deve se interessar em saber o que
fazer, para que seja encontrado como espiritual e não como carnal, pois temos este dever da
parte de Deus para que possamos agradá-Lo.
O apóstolo Paulo afirma na parte final do quinto
capítulo da epístola aos Gálatas, que devemos andar no Espírito Santo de modo a não satisfazer
às cobiças da carne – carne aqui considerada,
como na maior parte das passagens do Novo
Testamento, como sendo a nossa natureza terrena decaída no pecado, da qual devemos nos
despojar pelo trabalho de mortificação do
pecado, pelo Espírito Santo.
Essa vida espiritual, como já foi dito antes, não é pertencente à nossa natureza terrena, ela nos
vem do Alto, descendo do Pai das luzes, e por
isso, assim nos exorta o apóstolo Paulo:
“Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde
Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai
nas coisas que são de cima, e não nas que são da
terra; porque morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.” (Colossenses
3.1-3)
O oitavo capítulo de Romanos e o segundo de I
Coríntios discorrem sobre a verdade, de que o homem natural não tem o pendor do Espírito
132
Santo, porque a carne (aqui também com o
significado de natureza terrena corrompida
pelo pecado), não pode estar sujeita a Deus.
Nisto se evidencia e cumpre a seguinte palavra de nosso Senhor Jesus Cristo: “o Espírito da
verdade, o qual o mundo não pode receber;
porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita convosco, e estará
em vós.” (João 14.17).
Sem conversão, permanecendo carnal, o
homem não pode receber o Espírito Santo para nele habitar. Então, o que nos torna espirituais é
a habitação do Espírito Santo.
Sendo feitos espirituais importa vivermos como
espirituais, andando continuamente no Espírito, e não mais como carnais.
133
A Natureza da Nova Criatura em Cristo
Jesus
Por mais repetitivos que sejamos em relação a
este assunto da natureza da nova criatura em
Cristo, na qual somos transformados na conversão, nunca será demais, em face da
importância de termos isto devidamente
gravado e lembrado em nossas mentes.
“Portanto, assim como por um só homem
entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a
morte, assim também a morte passou a todos os
homens, porque todos pecaram.” (Rom 5.12)
“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos
delitos e pecados,” (Ef 2.1).
Estas e outras passagens bíblicas se referem à
condição de morte, perante Deus, de toda a
humanidade em razão do pecado, tal como ele havia dito ao primeiro homem que ele morreria
e nele toda a sua descendência, caso lhe fosse
desobediente.
Então Jesus nos foi dado para nos transportar da morte para a vida.
“Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a
minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da
morte para a vida.” (João 5.24)
134
“Nós sabemos que já passamos da morte para a
vida, porque amamos os irmãos; aquele que não
ama permanece na morte.” (I João 3.14)
Vejamos então como passamos da morte para a
vida, por sermos agora novas criaturas, por
meio da fé em Jesus. Isto não significa que recebemos um novo
espírito para ocupar o lugar do nosso espírito.
Não significa também o recebimento de uma
nova personalidade para substituir a que tínhamos até a nossa conversão, uma vez que
esta permanece em nós.
Não encontramos amparo para este tipo de
ensino nas páginas de toda a Bíblia, mas lá encontramos que passamos a ter um novo
princípio de vida espiritual, divina e celestial
que é implantado em nós, quando temos o nosso
primeiro encontro pessoal com Cristo, como uma semente, destinada a germinar, e a crescer
e a produzir frutos de justiça, consoante as
virtudes da própria pessoa de Jesus, I Pe 1.23; Tg
1.21; 1 João 3.9. É pela habitação do Espírito Santo no crente, e
por esta nova disposição de vida nele
implantada, que todas as faculdades e
disposições do nosso corpo, alma e espírito são vivificados e renovados, para o que se chama de
novidade de vida.
Por fazer aumentar e crescer em nós estas
graças referidas, mortificamos o princípio operante do pecado, e adquirimos mais das
135
virtudes do próprio Cristo, em operações
progressivas renovadoras do Espírito Santo.
Assim, lemos em Romanos 8.6-13 o seguinte:
“Rom 8:6 Porque o pendor da carne dá para a
morte, mas o do Espírito, para a vida e paz.
Rom 8:7 Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus,
nem mesmo pode estar.
Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não
podem agradar a Deus. Rom 8:9 Vós, porém, não estais na carne, mas no
Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em
vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo,
esse tal não é dele. Rom 8:10 Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por
causa do pecado, mas o espírito é vida, por causa
da justiça.
Rom 8:11 Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse
mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os
mortos vivificará também o vosso corpo mortal,
por meio do seu Espírito, que em vós habita. Rom 8:12 Assim, pois, irmãos, somos devedores,
não à carne como se constrangidos a viver
segundo a carne.
Rom 8:13 Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito,
mortificardes os feitos do corpo, certamente,
vivereis.”
136
A qualidade da vida de Deus somente pode ser
vista portanto, naqueles que foram e que têm
sido vivificados pelo Espírito Santo.
É destes e somente destes que Deus declara nas Escrituras que vivem. Seguramente, a qualidade
de vida que se tem fora da comunhão com Deus
não pode ser chamada propriamente de vida, senão de morte, por causa da impossibilidade da
citada condição de nos habilitar a amarmos a
Deus e a ter prazer na sua vontade e
mandamentos, provando este amor, por permitir que Sua Palavra seja aplicada às nossas
próprias vontades e vidas.
137
Natural e Espiritual
“O que é nascido da carne é carne; e o que é
nascido do Espírito é espírito.” (João 3.6)
Nosso Senhor nos dá em poucas palavras qual é
a condição real da natureza humana, ao afirmar
que “o que é nascido da carne, é carne, e o que é
nascido do Espírito é espírito." Ele se refere a dois tipos de nascimentos
distintos por reprodução. O primeiro em relação
à carne, ou ao que é natural, que somente pode
gerar algo à sua própria semelhança, ou seja, natural. O segundo em relação ao Espírito Santo
que gera nascimentos sobrenaturais, ou seja,
espirituais. Apesar de existir aquilo que poderíamos chamar
de algo assombroso relativamente à formação
de um ser natural como o humano, que é gerado
a partir de uma única célula formada da união de um espermatozoide com um óvulo, e que por
reproduções sucessivas chega a formar o
complexo de órgãos, sistemas, processos físico-
químicos, e tudo o mais que mantém a vida em funcionamento, com comandos involuntários
criados e programados por Deus de modo
sobrenatural, para a constituição plena das
funções do ser humano, todavia, ele dispôs este processo natural de tal forma, que toda geração
natural será processada espontaneamente a
partir dos princípios que ele estabeleceu
previamente para tal propósito.
138
Daí nosso Senhor afirmar que o que é nascido da
carne é carne.
Entretanto, quanto ao nascimento espiritual
operado pelo Espírito Santo, nestes que chegaram à existência através da geração
natural, este é de outro caráter, porque não
pode ocorrer espontaneamente pela vontade e controle do homem, como o primeiro, e nem a
nova vida espiritual gerada pode ser mantida
por processos naturais, senão somente pelas
operações sobrenaturais do Espírito Santo. No contexto desta passagem de João 3.6 nós
encontramos o diálogo de Jesus com
Nicodemos, no qual ele destacou a necessidade
de um novo nascimento do alto, do Espírito Santo, para que possamos ver o reino de Deus.
Assim ele apontou que permanecemos alijados
da vida espiritual de Deus, que é espírito,
enquanto não nascemos de novo do Espírito Santo.
Nosso Senhor também ensinou no contexto
desta passagem que este novo nascimento
somente pode ser obtido pela fé nele. Daí se dizer nas Escrituras que se alguém está
em Cristo é uma nova criatura, ou novo homem,
o que é designado pelo Senhor no texto de João
3.6 simplesmente pela palavra espírito. Esta nova criatura gerada pelo Espírito Santo
não é algo de outra substância que é
acrescentada ao espírito da pessoa que nasceu
de novo na conversão a Cristo.
139
Fala-se na Escritura de algo que é colocado,
como uma nova disposição, como vemos em Col
4.10.
Embora seja algo distinto do espírito do homem; no entanto, é uma coisa mais intimamente
inerente a ele, e que é mais estreitamente unida
a ele, e que nos renova, Ef 4.23; Sl 51.10. E este trabalho de renovação é feito no homem
interior, ou seja, no mais profundo do nosso ser,
em nossas disposições interiores que nos
definem como a pessoa que realmente deveríamos ser, conforme projetado por Deus, e
não no homem exterior, que se corrompe com o
avançar do tempo, ou mesmo em manifestações
superficiais de nossas faculdades que se revelam em conversações e ações vazias e
infrutíferas relativamente aos desígnios de
Deus.
É impossível para a mente comum conceber que haja uma outra dimensão de vida (a espiritual
que nos vem do alto) além desta já tão complexa
vida natural com todo o seu aparato de
possibilidades de desenvolvimento de habilidades e conhecimentos, conforme foi
programado por Deus, e daí não serem poucos
os que negligenciam esta necessidade vital de
um novo nascimento do espírito, por não crerem que seja de fato necessário ou mesmo
possível, uma vez que a própria vida natural é
assim tão cheia de mistérios que o homem vem
desvendando ao longo das eras.
140
Mas como Deus não projetou o que é natural
para a eternidade, senão somente o que é
espiritual, e que possua o mesmo caráter da
divindade, em seus atributos e virtudes espirituais, então, torna-se crucial atingir este
propósito eterno, uma vez que tudo o que é
natural se desfaz pelo uso e com o tempo. A vida natural por mais plena e pura que fosse,
ainda assim, não poderia adentrar a eternidade,
porque isto é concedido somente ao que é
espiritual. Espiritual, não simplesmente por possuirmos um espírito, porque disto todas as
pessoas são dotadas, mas espiritual no sentido
de possuir a vida que é produzida pelo Espírito
Santo naqueles que têm a Cristo. Deve ser levado em conta, sobretudo, que Deus
não pode habitar senão naqueles que são assim
nascidos de novo do Espírito Santo, porque é
nestes que há o consentimento voluntário do trabalho que Ele operará da transformação
deles à sua própria imagem e semelhança. Daí o
apóstolo chamar a isto de coparticipação da
natureza divina, 2 Pe 1.4, indicando que esta harmoniosa cooperação da vontade do homem,
submetendo-se à vontade de Deus, uma vez que
nele agora habita esta nova disposição espiritual
que é nele produzida pela habitação do Espírito Santo.
Há necessidade desta justa cooperação porque
na criatura natural tudo está disposto para
crescer espontaneamente sem a influência direta do exercício da nossa vontade para o seu
141
funcionamento e crescimento. Mas tal já não
sucede em relação à nova criatura onde tudo
exige esforço, diligência, escolha, segundo o
querer e o efetuar de Deus. Ou seja, a nova criação espiritual demanda um contínuo andar
no Espírito Santo e obediência às ordenanças de
Deus constantes de Sua Palavra. Sem isto não há crescimento e nem a manutenção das graças
recebidas por meio da fé em Cristo.
A criatura natural pode viver sem Deus no
mundo. Mas a nova criatura não somente existe sem Deus, como também não pode subsistir
afastada dele.
Daí o apóstolo ter afirmado: “já não vivo eu, mas
Cristo vive em mim” Gál 2.20. A nova criatura garante a permanente presença
diante de Deus, porque é nascida do Espírito, e
assim, não pode morrer, e nunca deixará de
viver aquela vida sobrenatural e superior que se encontra em Jesus Cristo.
Esta nova vida foi gerada da semente
incorruptível, que não comete pecado, e que foi
colocada por Deus na alma de todo o que crê em Jesus, 1 João 3.6.
É pela germinação e crescimento progressivo
desta semente que o pecado será mortificado
mais e mais para que possamos produzir os frutos espirituais de justiça esperados por Deus,
Rom 8.6-14.
142
Curando a Doença e Não Aliviando
Somente os Sintomas
Quando a Bíblia fala sobre o pecado, apesar de
definir muitos comportamentos como
pecaminosos, o sentido em aplicação nunca é o de simplesmente afirmar algo do tipo: “isto é
pecado, aquilo não é pecado, você pecou nisto,
você não pecou naquilo”, ou seja, não estamos
diante de um aferidor ou classificador de nossos pensamentos, palavras e ações, mas de uma
afirmação da nossa condição interior que está
disposta naturalmente para se afastar de Deus e
de tudo o que se refira à sua vontade. A Bíblia atesta que o nosso caso, a saber, de toda
a humanidade, é desesperador.
E foi em razão disto que Deus nos preparou o
Salvador desta nossa condição ruim e que está sujeita à condenação pela perfeita justiça
celestial.
Ainda que não aceitemos o veredicto relativo à nossa situação, ele é e continuará sendo dado
pelo testemunho da Palavra de Deus, que nos
aponta a necessidade do arrependimento e da fé
em Cristo, para que sejamos resgatados da referida situação.
O alvo em vista é de restauração total e não de
remendar este ou aquele procedimento que
necessite de uma reforma da nossa parte. É a recuperação do homem total para ser
conformado eficazmente à imagem e
semelhança de Deus, pela resposta adequada de
143
todo o seu querer, pensar e agir, às demandas da
santidade de Deus, que está em foco.
Este objetivo, conforme definido pela Bíblia, não
é algo que possa ser cumprido pelo nosso próprio poder natural. Necessitamos da graça
sobrenatural de Jesus para efetuar em nós tanto
o querer quando o realizar. Onde a graça não estiver operando nada poderá ser feito para o
atingimento do objetivo proposto.
Como a graça não pode reinar onde o pecado
estiver reinando, devemos nos submeter inteiramente ao trabalho de mortificação da raiz
do pecado, pelo poder do Espírito Santo atuando
em nós.
Enquanto neste mundo, o trabalho desta mortificação deve ser renovado e continuado,
porque o pecado lança novas raízes, e estas
devem ser sempre desarraigadas pelo Espírito.
Ai de nós, enquanto não adquirirmos o hábito da santificação, pelo qual até o nosso próprio
desejo é conduzido pelo Espírito, de modo a
achar prazer em sua santificação sendo operada
em nós! Dizemos ai de nós, porque enquanto não formos
confirmados em toda boa obra e boa palavra
pelo Pai e pelo Filho, 2 Tes 2.16,17, estaremos
sujeitos a muitas dúvidas, apostasias, e a um viver inconstante e carnal.
Portanto, quando se fala em pecado, quer na
Bíblia, quer na pregação, quer no ensino do
evangelho, não devemos ter uma atitude dogmática do tipo que nos leve a ficar satisfeitos
144
caso não tenhamos praticado determinadas
coisas que Deus condena, porque é possível
fazer isto, e ainda assim o nosso coração poderá
ser achado afastado dele e não ter qualquer interesse numa verdadeira comunhão
espiritual, e numa purificação real do nosso
coração, que nos leve a viver de fato de modo agradável a Deus.
É somente assim que podemos achar paz e
descanso para as nossas almas, e ter uma boa
consciência para com Deus e para com todos os homens.
Satanás usa a palavra pecado sempre com a
intenção de nos condenar e fazer com que
sintamos que a vida cristã é um fardo impossível de ser carregado e insuportável, mas quão isto
está distante da verdade, pois podemos ter toda
a convicção na nossa própria experiência, do
quanto é feliz todo aquele que se consagra inteiramente a Jesus.
Devemos sempre lembrar que há situações e
comportamentos que não podem ser
relacionados numa lista dogmática quanto a serem ou não pecaminosos, e por isso
necessitamos em todo o tempo da ação do
Espírito Santo para nos instruir e dirigir quanto
a tudo o que nos convém ou não praticar ou falar, e até mesmo desejar.
Por isso se afirma na Palavra que andando no
Espírito jamais satisfaremos os desejos da
carne, Gál 5.16.
145
Destruindo a Fábrica do Mal e Não
Apenas os Seus Produtos
O domínio do pecado não é uma mera força
contra a vontade e os esforços dos que estão sob
ele. Este domínio consiste principalmente na conquista da mente e de todas as suas
faculdades, e especialmente da vontade, por
meio de fascínio e tentações para os quais a
natureza humana não está capacitada a resistir e vencer. Tanto que, ainda que alguém resista à
prática consumada do pecado, todavia, o desejo
permanece no interior do coração.
Esta vitória é alcançada somente pela nova natureza recebida na conversão a Cristo, pela
qual somos feitos coparticipantes da natureza
divina. É o novo homem criado segundo a justiça
em Cristo Jesus que está habilitado a vencer o pecado, por meio da graça. O velho homem nada
pode fazer porque se encontra morto
espiritualmente, em delitos e pecados. Por isso, ao se referir à nossa escravidão ao
pecado, nosso Senhor afirmou que somente ele
pode nos livrar desta servidão, uma vez que não
há poder na nossa própria natureza para tal propósito.
Não se vence portanto o pecado, por ações
violentas de nossa própria vontade contra ele,
nem com meras deliberações de que faremos uma reforma de nossas vidas, mas nos
sujeitando efetivamente ao poder de Deus, que
146
nos purifica de todo o pecado, com base no
sangue que Jesus derramou para a sua expiação.
Aquele portanto, que pode distinguir entre o
que seja a natureza do pecado em si, e as meras impressões do pecado sobre a nossa mente e
vontade, está a caminho da paz, porque
certamente, sairá mais do que vencedor desta guerra contra o pecado, por meio de um viver
santificado pela graça e aplicação da Palavra de
Deus ao seu coração, pelo Espírito Santo.
Mais do que evitar determinados pecados, deve-se combater o mal pela raiz, pela subjugação do
princípio do pecado que opera na carne, por
meio de um andar no Espírito Santo, e na
novidade de vida da nova criatura que fomos feitos em Jesus.
Vê-se com isto quão importante é a prática da
oração, da meditação na Palavra, da vigilância
do coração, e de todos os demais exercícios espirituais que nos são ordenados por Deus para
que tenhamos um viver
vitorioso sobre todas as forças do mal, quer
externas, quer internas.