Cruzes no Acostamento

CALAFRIO

Episódio

Cruzes no Acostamento

Escrito por

Evana Ribeiro

Personagens deste episódio

ANDREIA

AUGUSTO

OTONIEL

ÁLISSON

ÁUREA

Participação Especial: LOCUTOR

REPÓRTER

CALAFRIO CRUZES NO ACOSTAMENTO

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CENA 01. CASA DE ANDREIA. SALA. INTERIOR. NOITE.

A TELEVISÃO ESTÁ LIGADA EM UM CANAL QUALQUER, QUE EXIBE UM FILME DE AÇÃO. ANDREIA E ÁLISSON ESTÃO SENTADOS NO CHÃO, EM VOLTA DA MESA DE CENTRO REPLETA DE LIVROS. ESTÃO ESTUDANDO, MAS PARECEM BEM CANSADOS. ELE PÁRA, PÕE OS COTOVELOS SOBRE O CADERNO.

ÁLISSON — Bora deixar o resto pra amanhã?

ANDREIA — Ih, amanhã nem rola. Feriado...

ÁLISSON — E só por isso vai ficar de pernas pro ar?

ANDREIA — Mereço um dia de folga. E já marquei coisa pra amanhã, vou sair com meus primos.

ÁLISSON — Vai pra onde?

ANDREIA — Esqueci o nome agora, mas é no interior.

ÁLISSON — Então nem vai dar pra me trazer uma lembrancinha...

ANDREIA — Por que não?

ÁLISSON — Vai me trazer o quê? Um pacote de rapadura? Um saquinho de castanha assada?

ANDREIA — Boa ideia, te trago um saco de castanhas de beira de estrada. [fecha o caderno] Mas você tá certo mesmo, é melhor ir dormir que eu ainda tenho que acordar cedo amanhã.

NESSE INSTANTE, COMEÇA NA TV UM OUTRO FILME. A MÚSICA DO FILME ATRAI A ATENÇÃO DOS DOIS AMIGOS. VÊ-SE NA TELA DO APARELHO O NOME DO FILME: "CRUZES NO ACOSTAMENTO."


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ÁLISSON — Eita, eu queria ver esse filme!

ANDREIA — O filme do Guto?

ÁLISSON — Teu primo tá podendo, hein? Até na TV o filme dele tá passando... Lembra que a gente até tentou ir ao cinema mas a sua mãe não deixou?

ANDREIA — Lembro. [T] Censura 18 anos...

ÁLISSON — Quer ver agora?

ANDREIA — Logo agora que eu tô com sono?

ÁLISSON — Prestigiar os parentes, né?

ANDRÉIA RI E APANHA UMA ALMOFADA DO SOFÁ. ABRAÇA A ALMOFADA E FICA COM OS OLHOS FIXOS NA TELA. ÁLISSON FAZ O MESMO. CORTA PARA A TELA: OS CRÉDITOS JÁ SAÍRAM E AGORA É MOSTRADA A PRIMEIRA CENA: ESTRADA POUCO MOVIMENTADA DURANTE À NOITE, APENAS CAMINHÕES PASSAM POR ALI. A IMAGEM APRESENTADA NA TELA VAI FICANDO CADA VEZ MAIS PRÓXIMA, REAL.

CENA 02. BR 232. KM 71. EXTERIOR. NOITE.

A ILUMINAÇÃO DA ÁREA DEVE-SE A CAMINHÕES PASSANDO DE TEMPOS EM TEMPOS PELA ESTRADA. UM CAMINHÃO BAÚ PASSA EM ALTA VELOCIDADE E A CÂMERA O SEGUE.

CENA 03. CAMINHÃO. CABINE. INTERIOR. NOITE.

O MOTORISTA SOZINHO, BEM ALERTA, NÃO TIRA OS OLHOS DA ESTRADA. ATENÇÃO SONOPLASTIA: “CHUVA DE VERÃO” – JOSÉ AUGUSTO.


VEEM-SE VÁRIAS PLACAS INDICATIVAS DE TRECHO EM OBRAS. O CAMINHÃO SE APROXIMA DESSE TRECHO SEM DIMINUIR A VELOCIDADE, PERDE O CONTROLE E CAPOTA. A


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CARROCERIA SE DESMEMBRA DO RESTO DO VEÍCULO, SE CHOCANDO VIOLENTAMENTE CONTRA UMA BARREIRA NO ACOSTAMENTO, ENQUANTO A CARROCERIA CONTINUA RODANDO E BATE CONTRA AS PLACAS, FINALMENTE PARANDO. O VEÍCULO ESTÁ COMPLETAMENTE DESTRUÍDO.

A SOMBRA DE UM HOMEM SE APROXIMA DO LOCAL DO ACIDENTE. CAMINHA DEVAGAR E PÁRA BEM AO LADO DA CABINE DESTRUÍDA. SE ABAIXA E COMEÇA A MEXER NAS FERRAGENS, TENTANDO RETIRAR O CORPO. DEPOIS DE ALGUNS INSTANTES, CONSEGUE FAZÊ-LO. O CAMINHONEIRO ESTÁ DESFIGURADO, COM O ROSTO E O CORPO LAVADOS EM SANGUE. COMEÇA A MEXER NOS BOLSOS DO MORTO E RETIRA OS DOCUMENTOS. ELE TIRA UM ISQUEIRO DE SEU BOLSO E QUEIMA OS DOCUMENTOS COM ELA. A PEQUENA CHAMA DO ISQUEIRO REVELA PARCIALMENTE O ROSTO DELE.

CENA 05. RECIFE. EXTERIOR. DIA.

VIDEOCLIPE MOSTRANDO VÁRIOS PONTOS DA CIDADE DURANTE A MADRUGADA E O AMANHECER.

CENA 06. CASA DE ANDREIA. QUARTO DELA. INTERIOR. DIA.

A MENINA ESTÁ DORMINDO PROFUNDAMENTE. A CORTINA ESTÁ ABERTA E OS PRIMEIROS RAIOS DE SOL BATEM DIRETAMENTE SOBRE O ROSTO DELA, QUE PARECE SE INCOMODAR MAS, EM VEZ DE ABRIR OS OLHOS, PUXA O LENÇOL PARA COBRIR SEU ROSTO. ÁLISSON PUXA O LENÇOL E ELA FINALMENTE ABRE OS OLHOS. PARECE ESTAR MAL HUMORADA.

ANDREIA — Apaga essa luz!

ÁLISSON — Não era tu que queria acordar cedo?

ANDREIA — Sim, mas que horas são?

ÁLISSON — Nove e meia. Teus primos já tão aí.


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ELA SALTA DA CAMA E SAI CORRENDO.

CENA 07. CASA DE ANDREIA. SALA. INTERIOR. DIA.

AUGUSTO E ÁUREA ESTÃO SENTADOS LADO A LADO NO SOFÁ TRÊS LUGARES. ELE LÊ O PRIMEIRO CADERNO DO JORNAL. ANDREIA PASSA CORRENDO PARA O BANHEIRO, CARREGANDO UMA TOALHA.

ANDREIA — Bom dia!

ÁUREA — [acena, sorrindo] Bom dia, Déa!

AUGUSTO — [sem tirar os olhos do jornal] Bom dia!

ÁLISSON VOLTA E SENTA NO SOFÁ DOIS LUGARES.

ÁUREA — Você dormiu aqui?

ÁLISSON — É, a gente tava estudando, aí começou o filme e a gente ficou assistindo... Aliás, muito bom o teu filme, Augusto.

AUGUSTO — Valeu.

ÁLISSON — Achei massa aquela parte que mostra o primeiro acidente, com massa encefálica voando pra tudo quanto é lado... Como vocês conseguiram isso?

AUGUSTO — Foi até fácil...

ÁUREA — E nojento.

AUGUSTO — Fazer aquela parte do sangue e das vísceras foi fácil pra caramba, mas a parte mais limpinha do trabalho eu não consegui realizar.

ÁLISSON — Qual?


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AUGUSTO — Eu só queria encontrar o cara que enterra os

cadáveres, mas parece que ele se enterra junto com o defunto e só aparece quando morre mais um!

ÁLISSON — Por isso que dizem que é esse sujeito que sai matando as pessoas e plantando as cruzes; uma coisa tipo “Jack o Estripador esteve aqui”?

AUGUSTO — É. Essa bestona aí [indica Áurea] morre de medo dessas histórias. Mas é só lenda urbana, tá?

ÁUREA — Lenda ou não, prefiro manter distância daquela estrada. A gente não vai passar por ela, né?

AUGUSTO — Pode ficar tranquila que a gente vai passar bem longe.

ANDREIA SAI DO BANHEIRO, COM UMA TOALHA NA CABEÇA E UM POTE DE LEAVE-IN NA MÃO.

ANDREIA — Só mais dez minutos, pessoal!

CENA 08. CASA DE ANDREIA. EXTERIOR. DIA.

TAKE DE LOCALIZAÇÃO. VEMOS O CARRO DE AUGUSTO PARADO NA PORTA.

CENA 09. CARRO DE AUGUSTO. INTERIOR. DIA.

AUGUSTO COLOCA O CINTO DE SEGURANÇA. ÁUREA LIGA O SOM DO CARRO E COMEÇA A TOCAR UMA MÚSICA QUALQUER. ANDREIA ENTRA, MEIO AFOBADA.

AUGUSTO — Dez vezes vinte minutos depois...

ANDREIA — Desculpa aí, é que fazia uma semana que eu não lavava o cabelo e tava meio embaraçado...

AUGUSTO — [olhando para Áurea] E depois as tripas cenográficas é que são nojentas. Passar a semana sem lavar o cabelo é que é nojento de verdade.


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ÁUREA — Quer dar logo partida nesse carro? Tô doida pra

me enfiar naquele sítio e curtir o feriadão!

AUGUSTO DÁ A PARTIDA NO VEÍCULO.

CENA 010. RUA. EXTERIOR. DIA.

O CARRO VAI SE AFASTANDO EM VELOCIDADE MODERADA. SEGUE EM LINHA RETA ATÉ SUMIR DE CENA.

CENA 011. BR 232. EXTERIOR. DIA.

TRÂNSITO MOVIMENTADO, COMPOSTO EM SUA MAIORIA POR CARROS DE PASSEIO. TAMBÉM HÁ ALGUNS CAMINHÕES DE CARGA E ÔNIBUS INTERMUNICIPAIS. ATENÇÃO SONOPLASTIA: “AMIGO SEU” – GIAN E GIOVANNI. JUNTO COM A MÚSICA, OUVE-SE TAMBÉM AS VOZES DOS TRÊS PERSONAGENS CANTANDO A MÚSICA.


OS TRÊS AINDA CANTANDO, COM MUITA ANIMAÇÃO. A MÚSICA ACABA E COMEÇA OUTRA NA SEQUÊNCIA.

AUGUSTO — Déa, que tal o filme?

ANDREIA — Foi legal.

AUGUSTO — Nossa, que animação! Acho que só o teu amigo gostou.

ANDREIA — Sério, o filme tava massa. Tinha umas partes meio nojentas, tipo aquela do cerebelo esmagado e aquela outra das fraturas expostas. Mas foi muito útil pra eu não esquecer o conteúdo da prova de Biologia!

LOCUTOR — [OFF] E agora vamos com as notícias da hora, com o nosso Repórter Rodoviário. Alô, tá ligado?

CENA 013. BR 232. KM 71. EXTERIOR. DIA.


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A CENA COMEÇA MOSTRANDO OS DESTROÇOS DE UM CAMINHÃO. FERRAGENS COMPLETAMENTE DISTORCIDAS. PESSOAS PASSANDO APRESSADAS DE UM LADO A OUTRO: ALGUMAS COM EQUIPAMENTO DE FILMAGEM, OUTRAS COM EQUIPAMENTO DE RESGATE.

REPÓRTER — [falando a um pequeno transmissor de rádio] Nós estamos aqui no quilômetro 71 onde aconteceu mais um trágico acidente automobilístico envolvendo um caminhão. Pelas condições do veículo, presume-se que seu ocupante morreu, mas o corpo não foi encontrado, apenas mais uma cruz simbólica no acostamento. Este é o primeiro acidente acontecido na rodovia desde o lançamento do documentário sobre a misteriosa sequência de acidentes neste mesmo trecho.


ELES ACABAM DE OUVIR A NOTÍCIA E ESTÃO VISIVELMENTE IMPRESSIONADOS.

LOCUTOR — Fiquem agora com mais uma sequência de músicas para animar seu dia!

ATENÇÃO SONOPLASTIA: “SAUDADE DE ROSA” – BANDA SÓ BREGA.

ANDREIA — Meu Deus, que coincidência macabra...

ÁUREA — Até parece que estavam esperando o filme passar pra começar tudo de novo.

AUGUSTO — Foi só uma coincidência. Vocês acham que a morte assiste TV por acaso?

OS TRÊS FICAM EM SILÊNCIO, APENAS O RÁDIO CONTINUA TOCANDO EM VOLUME BAIXO.


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O CARRO SEGUE EM LINHA RETA PELA RODOVIA. PASSAM POR UM CRUZAMENTO NO QUAL SE VÊ A PLACA “LIMOEIRO – 5 KM” O SOL VAI COMEÇANDO A SE PÔR.


AUGUSTO BEM CONCENTRADO NA ESTRADA. O VELOCÍMETRO INDICA QUE ELE VAI A 100 KM/H. AS GAROTAS OLHAM PELA JANELA.

AUGUSTO — Que demora pra chegar...

ANDREIA — Pra onde que a gente tá indo mesmo?

AUGUSTO — Limoeiro.

ANDREIA — Acabou de passar uma placa dessa cidade.

AUGUSTO — Onde?

ANDREIA — Lá atrás.

ÁUREA — [irritada] Era só o que faltava, a gente se perder!

AUGUSTO — Calma! Não estamos perdidos. Daqui a pouco aparece uma outra entrada.

ELE CONTINUA DIRIGINDO.

CENA 017. BR 232. EXTERIOR. DIA.

TAKE DO TRÂNSITO POUCO MOVIMENTADO. NENHUMA SINALIZAÇÃO.


AUGUSTO CANSADO, MAS AINDA DIRIGINDO. AS MOÇAS, PRINCIPALMENTE ÁUREA, MUITO ABORRECIDA.

ÁUREA — Estamos perdidos agora?


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AUGUSTO — Não, não estamos.

ÁUREA — Como você sabe, se não aparece uma plaquinha nem pra remédio?

ANDREIA — Posso dizer que tô começando a ficar com medo?

AUGUSTO — Deixa de ser besta, Andreia! Ainda não tá escuro.

ANDREIA — Mas tá quase e eu tô com medo de ficar perdida aqui!

ANDREIA OLHA PELA JANELA E VÊ VÁRIAS CRUZES ENFILEIRADAS. ALGUMAS COM NOMES E DATAS, OUTRAS NÃO.

ANDREIA — Jeito triste de morrer. A família nem fica sabendo que fim levou o corpo.

CENA 019. BR 232. EXTERIOR. NOITE.

O CARRO VAI SE APROXIMANDO DE UMA ÁREA APARENTEMENTE HABITADA, COM CASAS PEQUENAS. O CARRO DE AUGUSTO VIRA À DIREITA.

CENA 020. RUA DESERTA. EXTERIOR. NOITE.

OTONIEL ESTÁ SOZINHO NO MEIO DA RUA, COM UMA PÁ NA MÃO. VÊ O CARRO ENTRANDO.

CENA 021. CARRO DE AUGUSTO. INTERIOR. NOITE.

O VELOCÍMETRO AGORA INDICA 40 KM/H.

AUGUSTO — Isso aqui deve ser a entrada pra alguma cidade.

ÁUREA — Que não é a nossa.

ANDREIA COLOCA A CABEÇA PARA FORA DO CARRO, MEIO AMEDRONTADA. NÃO VÊ NENHUMA PLACA.

ANDREIA — Nenhuma plaquinha de seja bem vindo.


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ÁUREA — Isso aqui é o fim do mundo, minha gente!

O VEÍCULO SE APROXIMA MAIS DE OTONIEL, QUE PERMANECE PARADO, OLHANDO FIXAMENTE PARA O VEÍCULO.

AUGUSTO — O fim do mundo não é tão fim do mundo assim, ó. Vou falar com aquele cara.

ÁUREA — Não vai, não.

ANDREIA — É melhor a gente voltar pra casa. Se você ainda souber de que lado a casa fica...

AUGUSTO — É melhor vocês pararem de besteira, isso aqui não é um filme de terror e não temos outra opção senão falar com aquele mal-encarado ali.


O CARRO PÁRA A APROXIMADAMENTE CINCO METROS DE DISTÂNCIA DE OTONIEL. AUGUSTO DESCE SOZINHO E CAMINHA APRESSADAMENTE ATÉ OTONIEL, QUE CONTINUA PARADO, OLHANDO PARA O RECÉM-CHEGADO INEXPRESSIVAMENTE.

AUGUSTO — Ô amigo, a gente tá procurando um retorno pra pegar a estrada pra Limoeiro, pode ajudar?

OTONIEL NÃO RESPONDE.

AUGUSTO — Moço, tá me ouvindo?

NESSE MOMENTO, AUGUSTO PARECE PERDER UM POUCO A PACIÊNCIA. RESPIRA FUNDO E COMEÇA A GESTICULAR, TENTANDO SE FAZER COMPREENDER.

AUGUSTO — [bem alto e pausadamente] A gente quer ir pra Limoeiro! Tem como/


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OTONIEL — [calmo, fala baixinho] Calma, moço. Eu não sou

surdo.

AUGUSTO PARECE FICAR UM POUCO ASSUSTADO, MAS DISFARÇA.

AUGUSTO — Ah, tá. É que eu pensei que/

OTONIEL — A entrada mais próxima é daqui a dez quilômetros.

AUGUSTO — Não tem outra?

OTONIEL — Não. Só tem a estrada de terra daqui a dez quilômetros.

AUGUSTO RESPIRA FUNDO E VAI VOLTANDO PARA O CARRO.


ANDREIA E ÁUREA VEEM AUGUSTO VOLTANDO. ELE ENTRA NO VEÍCULO E FICA POR UM LONGO INSTANTE EM SILÊNCIO, OLHANDO PARA O MEDIDOR DE COMBUSTÍVEL QUE ESTÁ POUCO ABAIXO DA METADE.

ÁUREA — O que foi?

AUGUSTO — Nada.

ÁUREA — Então porque tá com essa cara de quem viu assombração?

ANDREIA — Ele viu uma. Se aquele cara não é alma penada, não sei o que é...

AUGUSTO — Eu só tava aqui pensando se essa gasolina aguenta, porque o caminho vai ser longo.

ELE LIGA A IGNIÇÃO.



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O CARRO SE PÕE A CAMINHO. OTONIEL ASSISTE DE LONGE. PELA EXPRESSÃO FACIAL, PARECE ESTAR TRAMANDO ALGO. ELE COMEÇA A ANDAR DEVAGAR, SEGUINDO PELO MESMO CAMINHO QUE O CARRO TOMOU.


A VIAGEM CONTINUA. ANDREIA, OLHANDO PELA JANELA, PARECE SENTIR MEDO. NÃO VÊ NENHUMA PLACA.

ANDREIA — Tem certeza que a gente vai chegar por aqui em algum lugar?

AUGUSTO — Se o cara lá disse que chegava, então deve chegar mesmo. Pelo jeito ele é o único a morar por essas bandas...

OS TRÊS FICAM EM SILÊNCIO POR UM INSTANTE.

ÁUREA — Único? [T] Augusto, aquele sujeito deve ser o tal que você queria entrevistar pro filme e não encontrou!

AUGUSTO — Logo agora que não preciso dele. Bem, se for, pelo menos serviu pra indicar o caminho.

ANDREIA — Ou não!

AUGUSTO OLHA OUTRA VEZ O MEDIDOR, AGORA EM NÍVEL BAIXÍSSIMO.


O CARRO ANDA MAIS ALGUNS METROS E ESTANCA.


COM A PARADA BRUSCA, TODOS VÃO PARA A FRENTE.

AUGUSTO — Más notícias, meninas.

ÁUREA — Não diga!


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ANDREIA — Acabou a gasolina mesmo?

AUGUSTO — É.

ÁUREA — E a gente tá aqui perdido no meio de um cemitério clandestino. Que bonito, Augusto!

AUGUSTO — Eu lá tenho culpa de ter errado a porcaria da entrada?

ÁUREA — [gritando] Tem sim, seu imbecil! Você sabia que eu não queria andar nessa maldita rodovia, que as pessoas morrem aqui e eu não quero ser enterrada como uma indigente nessa porcaria desse acostamento!

ANDREIA — Eu quero ir pra casa!

AUGUSTO — Calma, as duas! Botem na cabeça de vocês que as pessoas só morrem no dia. Nem todo mundo que passa por aqui morre.

ÁUREA — Ah, é? Pois diga o nome de uma, de uma pessoa só que sobreviveu.

ELE FICA CALADO.

ÁUREA — Tá vendo? Ninguém sobrevive aqui. Por isso que ninguém anda por aqui.

AUGUSTO — Não saiam daí, eu vou dar uma volta e ver se encontro um posto de gasolina.

ELE SAI DO CARRO. AS MENINAS APENAS O VEEM SE AFASTANDO.


AUGUSTO VAI SE AFASTANDO CADA VEZ MAIS DO CARRO E OLHA PARA AS CRUZES ENFILEIRADAS.


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AUGUSTO — É... Isso aqui é quase um Pére-Lachése! [T] Mas

eu é que não queria morrer assim.

ELE CONTINUA ANDANDO ATÉ ENCONTRAR OTONIEL AJOELHADO AO LADO DE UM DOS TÚMULOS.

AUGUSTO — Esse cara de novo?

CENA 030. CARRO DE AUGUSTO. INTERIOR.NOITE.

ÁUREA TIRA O CINTO DE SEGURANÇA, ABRE A PORTA E COLOCA AS PERNAS PARA FORA.

ANDREIA — Pelo menos estamos seguras aqui, com o carro paradinho.

ÁUREA — Segurança só depois que a gente estiver em casa. Tem um doido matando todo mundo que passa por aqui.

ANDREIA — Mas todas as mortes aconteceram quando os carros estavam em movimento e/

ÁUREA — Isso deve ter sido uma coincidência. Mas quem garante? Quem garante que o sujeito que enterra os defuntos e se esconde também os mata?

ANDREIA — Isso é tão... Doido.


CONTINUAÇÃO DA CENA 029. AUGUSTO SE APROXIMA DE OTONIEL, COM UM POUCO DE MEDO. TENTA NÃO DEMONSTRAR. OTONIEL OLHA PARA CIMA E SORRI.

OTONIEL — Ah, você de novo.

AUGUSTO — Não sou eu o onipresente aqui. De onde o senhor estava até aqui não é um pouco... Longe demais?

OTONIEL — É, mas eu ando rápido.


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AUGUSTO — Sabe onde tem um posto de gasolina aqui por

perto?

OTONIEL — A uns cinquenta metros.

AUGUSTO RESPIRA ALIVIADO. OTONIEL VOLTA NOVAMENTE SUAS ATENÇÕES PARA O TÚMULO.

AUGUSTO — Que mal lhe pergunte, é você quem cuida de todos os túmulos?

OTONIEL — Eu mesmo. Estou fazendo um bom trabalho, não é? [T] Este aqui é o primeiro de todos.

AUGUSTO — Eu sei. Fiz um filme sobre os... Esses acidentes.

OTONIEL — Aposto que queria saber mais sobre os mortos e tal.

AUGUSTO — É.

OTONIEL — Então, meu caro cineasta...

AUGUSTO — Meu nome é Augusto.

OTONIEL — E o meu é Otoniel. E já que está tão interessado, vou contar tudo sobre este belíssimo cemitério rodoviário, criado e mantido por mim.

AO TÉRMINO DA FALA, ELE SORRI ORGULHOSAMENTE.


AS MENINAS CONTINUAM ESPERANDO.

ANDREIA — Ele tá demorando demais.

ÁUREA — Deixa eu ligar o som aqui, pelo menos não fica esse silêncio horrível.


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ÁUREA LIGA O RÁDIO, MAS NÃO CONSEGUE SINTONIZAR ESTAÇÃO ALGUMA. COLOCA UM CD PRA TOCAR EM VOLUME BAIXO.

ANDREIA — A gente podia tentar empurrar o carro, né? Talvez a gente até consiga encontrar ele, sei lá...

ÁUREA OLHA PARA A PRIMA, PENSATIVA. DEPOIS SUSPIRA.

ÁUREA — Acho que não vai dar certo, mas não custa nada tentar.

AS DUAS SAEM DO VEÍCULO E COMEÇAM A EMPURRÁ-LO. O CARRO SÓ SE MEXE UM POUCO.


CONTINUAÇÃO DA CENA 031.

OTONIEL — Eu era coveiro lá em João Alfredo. Minha vida toda foi enterrar gente. Só que um dia eu descobri que o filho da puta do dono do cemitério tava me botando pra trás, me traindo com a minha mulher. Sabe como era o meu apelido lá na cidade? [T] O Corneiro! Minha mulher dizia que não ia deitar com um homem que fedia a defunto e me chifrava.

AUGUSTO — Sim, mas/

OTONIEL — Calma que ainda não acabou, rapaz. [T] Naquele dia que ela me disse aquilo eu fiquei com um ódio tão grande que resolvi que ia matar. Os dois.

AUGUSTO — E matou.

OTONIEL — Não. Uma curva tratou de dar cabo da vida dos dois quando eles voltavam de um motel. Não tive o prazer de dar cabo da vida deles, mas enterrei como dois cachorros.


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AUGUSTO — E acabou.

OTONIEL — Você sabe que não acabou. Eu não fiquei satisfeito de ver os dois mortos, não. Eu ainda queria derramar sangue pra aliviar o ódio que eu tava sentindo. [T] Foi aí que apareceu um rapaz assim como você, procurando um lugar pra abastecer!

NISSO, OTONIEL COMEÇA A RIR DESCONTROLADAMENTE. AUGUSTO CONTINUA TENSO.

OTONIEL — Ele nem percebeu que enquanto eu apontava a direção do posto, com a outra mão eu tinha um canivete.

ELE TIRA DO BOLSO UM CANIVETE E EXPÕE SUA LÂMINA PARCIALMENTE ENFERRUJADA. APROXIMA-A DO PESCOÇO DE AUGUSTO, QUE DÁ DOIS PASSOS PARA TRÁS, MAIS NERVOSO AINDA.

OTONIEL — Foi mais fácil do que eu pensei! Com um golpe só...

OTONIEL DESFERE UM GOLPE NO PESCOÇO DE AUGUSTO, CORTANDO UM POUCO. O RAPAZ COMEÇA A CORRER, EM PÂNICO E O COVEIRO OLHA PARA A LÂMINA, AGORA MANCHADA DE SANGUE.


AS MENINAS ENTRAM NO VEÍCULO, MUITO CANSADAS.

ANDREIA — Meu Deus.

ÁUREA — Eu sabia que esse negócio de empurrar carro não ia prestar.

ANDREIA — Pior é que agora eu tô com fome e/

AUGUSTO ENTRA NO CARRO, PÁLIDO E SANGRANDO.


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ÁUREA — O que é isso? O que aconteceu com o seu

pescoço?

AUGUSTO — Corre, corre com esse carro!

ANDREIA — Mas a gente não tem gasolina!

AUGUSTO — Puta que pariu, o coveiro tá querendo me matar!

ÁUREA —O quê?

AUGUSTO — O cara que enterra esse povo tentou cortar meu pescoço, ele é louco, a gente tem que ir embora daqui, porra!

ANDREIA COMEÇA A CHORAR.

ÁUREA — Pára, Andreia, não piora as coisas!

ANDREIA — Eu vou... Vou ligar pro meu pai, pro Álisson, pra polícia!

TRÊMULA, ANDREIA PEGA O CELULAR E DISCA. A CHAMADA NÃO É COMPLETADA.

ANDREIA — Droga!

ÁUREA — Guto, bora empurrar o carro, talvez a gente consiga abastecer e voltar.


OS TRÊS EMPURRANDO O CARRO. AS MENINAS PARECEM CANSADAS.

ANDREIA — Chega, eu não aguento!

AUGUSTO — Aguenta mais um pouco. Ou a gente chega nesse posto ou a gente vai ser enterrado com nome falso aqui mesmo.


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E CONTINUAM EMPURRANDO ATÉ FINALMENTE CHEGAREM AO POSTO DE GASOLINA. PARAM UM POUCO, SE RECOMPÕEM E OLHAM EM TORNO.

ÁUREA — Que surpresa, não tem frentista aqui.

AUGUSTO — Ok, vamos correr com isso.

ELE SE PREPARA PARA COMEÇAR A ABASTECER.

CENA 036. POSTO DE GASOLINA. INTERIOR. NOITE.

OTONIEL ASSISTE A CENA DE LONGE. SORRI, COM O CANIVETE SUJO DE SANGUE NA MÃO.

OTONIEL — E logo o que eu nunca consegui matar. Uma mulher! Agora eu vou ser vingado de verdade.

E PASSA A LÂMINA ENTRE OS DEDOS, LIMPANDO O SANGUE. GUARDA A ARMA E PEGA UMA CAIXA DE FÓSFOROS. ACENDE UM PALITO E O ARREMESSA CONTRA O CARRO, MAS NÃO ACERTA. REPETE A OPERAÇÃO MAIS DUAS VEZES.

CENA 037. POSTO DE GASOLINA. INTERIOR. NOITE.

AUGUSTO ABASTECENDO O CARRO E AS MENINAS POR PERTO, OLHANDO.

ANDREIA — Era bom que aqui tivesse pelo menos alguma coisa pra comer...

UM PALITO DE FÓSFORO ACESO ATINGE O COMPARTIMENTO DE COMBUSTÍVEL E O CARRO EXPLODE NA MESMA HORA. AS CHAMAS ATINGEM ÁUREA, QUE SE JOGA NO CHÃO NA MESMA HORA.

ANDREIA — Que diabo é isso?

AUGUSTO — Corre! Áurea, tá me ouvindo? Corre também!


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A MOÇA NÃO CONSEGUE SE MEXER. OTONIEL APARECE NOVAMENTE COM O CANIVETE NA MÃO E RINDO.

OTONIEL — Vamos lá, companheiro! Seja bonzinho e me deixe acabar logo com essa história...

AUGUSTO — É, vai acabar sim porque eu vou chamar a polícia!

OTONIEL — Polícia, polícia! Vocês não sabem nem onde estão! Vamos acabar com isso logo, antes que vocês percam a vaga no nosso cemitério. [começa a se aproximar deles e Andreia sai correndo] Como vocês querem se chamar depois de mortos? Olha que eu não dou essa regalia a qualquer um, mas como temos um cineasta entre nós... [se abaixa e aproxima a lâmina do rosto de Áurea, que está queimado] Você vai ter o nome da minha mulher.

AUGUSTO TENTA AVANÇAR PARA PEGAR O CANIVETE, MAS QUANDO O FAZ, ELE CORTA O ROSTO DELA E PASSA OS DEDOS SOBRE O CORTE. ENTRA EM ÊXTASE AO VER O SANGUE ESCORRER. ELA CONTINUA TENTANDO SAIR, MAS NÃO CONSEGUE MEXER AS PERNAS. COMEÇA A CHORAR.

AUGUSTO — Solta a minha irmã. Me mata no lugar dela.

OTONIEL — Ah, não, se eu não levar a bonitinha aqui não vai ter graça. Agora eu vou poder fazer tudo o que não pude fazer com a minha mulher porque ela deu a sorte de morrer antes. Ok, chega de conversa e vamos ao sangue!

ELE ERGUE O CANIVETE E QUANDO VAI ABAIXÁ-LO PARA ESFAQUEAR ÁUREA, É ACERTADO POR UM CELULAR NA CABEÇA E OLHA EM VOLTA, ATORDOADO PARA SABER DE ONDE VEIO O GOLPE. AUGUSTO APROVEITA PARA PEGAR O CANIVETE DELE E GOLPEÁ-LO NO PULSO.


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AUGUSTO — Gostou dessa, amigo?

OTONIEL — Isso aqui é meu jogo. Eu enterro e vocês são enterrados!

OTONIEL AVANÇA SOBRE AUGUSTO E ELES TRAVAM UMA LUTA, COM SOCOS E PONTAPÉS. ENQUANTO ISSO, ANDREIA CORRE E AJUDA ÁUREA A SE LEVANTAR.

ÁUREA — Meu Deus, esse doido vai matar o Guto!

ANDREIA — Vem, a gente precisa sair daqui.

ÁUREA — Não, sem meu irmão eu não saio!

ANDREIA — Vem!

OS HOMENS CONTINUAM BRIGANDO E JÁ NÃO DÁ PARA SABER COM QUEM ESTÁ O CANIVETE. ANDREIA ARRASTA ÁUREA PARA LONGE DO POSTO E ELAS NÃO CONSEGUEM MAIS VER A BRIGA, APENAS O CARRO PEGANDO FOGO. JÁ ESTÁ AMANHECENDO. INSTANTES. OUVE-SE UM GRITO.

ÁUREA — Ai, não! [T] Augusto não!

ÁUREA E ANDREIA COMEÇAM A CHORAR, OLHANDO PARA O CARRO EM CHAMAS. ANDREIA DÁ UNS PASSOS NA DIREÇÃO DO POSTO, COM MUITO MEDO. AUGUSTO SAI, CAMBALEANTE, SANGRANDO E ARRASTANDO O CORPO DE OTONIEL, TAMBÉM BANHADO EM SANGUE E COM O CANIVETE CRAVADO NA BARRIGA. AO SE APROXIMAR DAS GAROTAS, ELE CAI NO CHÃO. ANDREIA SE AJOELHA E O ABRAÇA.

ANDREIA — Graças a Deus! Achamos que você tivesse morrido.

AUGUSTO — Eu conversei um pouquinho com a morte agora a pouco e a gente fez um trato. Depois que eu terminar meu novo filme, ela pode me levar...


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ANDREIA — Você matou ele?

AUGUSTO — Se alguém perguntar, foi o canivete que quis entrar nele.

ANDREIA — Palhaço.

AUGUSTO — Áurea, tá bem?

ÁUREA — [chorando e sorrindo ao mesmo tempo] Tô menos pior!

ANDREIA — Vamo sair daqui que a gente precisa pedir ajuda.

AUGUSTO — Déa, a gente tá na estrada mal assombrada, lembra? Só doidos que erram o caminho é que vêm parar aqui.

ANDREIA — Vou voltar lá dentro e ver se o celular ainda presta pra alguma coisa.

ELA CORRE DE VOLTA PARA O POSTO DE GASOLINA. AUGUSTO CAMINHA COM DIFICULDADE PARA JUNTO DE ÁUREA E A ABRAÇA.

AUGUSTO — Viu só, maninha? Três pessoas sobreviveram ao maníaco do quilômetro 71...

ANDREIA VOLTA CORRENDO COM O CELULAR E JÁ VAI DISCANDO.

AUGUSTO — Andreia, antes de ligar eu queria fazer uma coisa.

ANDREIA — Mas olha só como vocês tão, precisam ir prum hospital!

AUGUSTO — Não sem antes fazer o que eu tô pensando.



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AUGUSTO E ÁUREA EM PÉ, APOIADOS UM NO OUTRO. ANDREIA, AJOELHADA, FINCA MAIS UMA CRUZ NO ACOSTAMENTO.

ANDREIA — Aí, bem do lado da mulherzinha dele! Bonito, né?

ÁUREA — Contanto que o espírito dele não venha com graça depois...

AUGUSTO — Besteira esse negócio de fantasma! A gente tem que tomar cuidado é com corno vivo.

ÁUREA — Mas depois você inventa de fazer um filme com essa historinha...

AUGUSTO — Boa ideia. Aí dá pra prorrogar meu trato com a morte. [ri] Agora toca pro hospital que eu não aguento mais de dor...

ANDREIA — Quando eu contar essa história pro Álisson, ele vai achar mesmo que é roteiro de filme!

OS TRÊS VÃO SE AFASTANDO DEVAGAR, DEIXANDO O RASTRO DE CRUZES NO ACOSTAMENTO PARA TRÁS.

FIM

Cruzes no Acostamento

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