Cultura ou Polícia? A cobertura jornalística do Funk Carioca em Porto Alegre

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Universidade Federal do Rio Grande do Sul Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação Curso de Comunicação Social – Jornalismo Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social Autor(a): Camila Stella Toledo Pereira Orientador (a): Profª . Sandra de Deus 2010/2 Cultura ou Polícia? A cobertura do funk carioca em Porto Alegre

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Análise tema do Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do Grau de Bacharel em Comunicação da Acadêmica Camila Stella Toledo Pereira - UFRGS - 2010/2

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Universidade Federal do Rio Grande do SulFaculdade de Biblioteconomia e ComunicaçãoCurso de Comunicação Social – JornalismoTrabalho de Conclusão de Curso para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social

Autor(a): Camila Stella Toledo Pereira

Orientador (a): Profª . Sandra de Deus

2010/2

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• Por que “funk carioca” e não apenas funk?

Porque o gênero musical funk, que surgiu nos EUA, teve sua demonstração brasileira criada no RJ.O funk surgiu nos EUA na década de 1970, com o músico James Brown a partir de influências como o Blues, o Jazz e o Gospel. Os “bailes da pesada”, eventos de música negra realizados no “Canecão”, na mesma década, importaram os sucessos de James Brown para suas pistas.

• O que caracterizou o início do movimento funk no Brasil e como este gênero musical se transformou no que é hoje?

As melôs, idealizadas pelo DJ Malboro no início da década de 90.Depois das melôs e dos funks melody que deram visibilidade ao gênero, os funks conscientes e os funks de contexto (os proibidões) passaram a ser privilegiados pelos cantores, compositores e apreciadores do movimento.

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• E como o funk veio parar em Porto Alegre e o que faz dele algo tão importante de ser observado?

O ritmo passou a ser conhecido nacionalmente por conta da participação do DJ Malboro no Programa Planeta Xuxa, em que o movimento passou a ter visibilidade nacional. Em entrevista com a autora desta pesquisa, o DJ e locutor Walmir filho da Rádio Eldorado - carioca, mas morador de Porto Alegre há 12 anos - destacou que em 2004, quando a Rádio Eldorado lhe deu espaço para, tocar funk carioca por 24h na programação, a Rádio se tornou a 1ª lugar das paradas em ouvintes. No auge do sucesso no RS, o gênero foi até mesmo atração do tradicional festival de música “Planeta Atlântida”, realizado anualmente na praia de Atlântida/RS.

Hoje o funk:Movimenta mais de 10 milhões de reais por mês apenas no Rio de Janeiro; Foi elevado a categoria de movimento cultural no RJ, em 2009.É considerado uma das mais famosas demonstrações de Musica Eletrônica Brasileira, no exterior; Mas, tem grande ocorrência nas páginas policiais dos jornais. Depois de ser aceito como demonstração legítima artística e cultural em 89 com o livro O mundo funk carioca de Hermano Vianna, em 1992 com o Arrastão da Praia do Arpoador, fato que aconteceu justamente durante as eleições para prefeito do Rio de Janeiro, o movimento, em passou a ocupar 94% das páginas dos cadernos locais e dos policiais, segundo pesquisador Micael Herchmann (1997).

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• Qual é o objetivo desta pesquisa e por que é importante atingi-lo?O objetivo deste trabalho é entender qual é a relação do funk carioca com a imprensa gaúcha. E a justificativa é, através desta análise, buscar desmistificar estereótipos que possam ser responsáveis pelas limitações e repetições na cobertura do funk carioca no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.

Walmir filho afirmou ter em média 15 bailes funk para se apresentar por fim de semana, em Porto Alegre e região metropolitana. Estes bailes normalmente não são amplamente divulgados e também não constam como eventos nas páginas dos cadernos culturais dos jornais locais.

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• Que metodologia de análise aplicada a essa pesquisa?

A análise foi feita a partir dos preceitos de Análise de Conteúdo segundo Laurence Bardin (2004). Seguindo os seguintes passos:

• leitura flutuante – determinação do corpus e da amostra;• dedução freqüencial ou divisão em categorias temáticas;• Tratamento dos resultados : inferências (deduções lógicas).

• E como esta pesquisa se adequou ao conceito de Análise de Conteúdo?

A amostra dos exemplares do Jornal Zero Hora (dias 21, 23 e 24 de agosto de 2010) foi determinada após leitura flutuante de um corpus de exemplares de jornal durante o 2º semestre desde mesmo ano. A amostra é resultado de uma seleção de exemplares em que o movimento funk se destacou como notícia. Nas matéria buscou-se determinar quais eram os conceitos que mais se repetiam, de que forma eles apareciam, e , em que momentos. As deduções lógica no tratamento destes resultados foi determinada a partir dos conceitos de Valor Notícia, Sensacionalismo e Estereótipos na cobertura de favelas, observado ao demonstrações de hibridização conceitual em Zero Hora.

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• ZERO HORA, 21 DE AGOSTO DE 2010.

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• O que se destacou nas matérias do primeiro exemplar da amostra?

Ameaça versus Polícia:Na primeira matérias as palavras que mais se repetem são “ameaça” e “polícia”. Seis e cinco vezes cada, respectivamente. Ameaça, segundo o Código Pena brasileiro é um crime. Art 147 do Capítulo dos Crimes contra a liberdade individual;

Megaoperação: A ambigüidade no uso do conceito não compromete o veículo e se vale do valor notícia de negatividade para justificar a matéria.

Alocação do conteúdo:Oito parágrafos – Cinco apresentam a ação da polícia; um deles, um trecho da música; outro, o lead e outro ainda, a defesa do músico.

Editoria de Polícia.

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• ZERO HORA, 23 DE AGOSTO DE 2010.

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• E o que se destacou nas matérias do segundo exemplar da amostra?

Em primeiro lugar, as matérias do segundo dia da amostra constam na Editoria Geral, ao invés da Editoria de Polícia. Em segundo lugar, o verbete “ameaça” ainda aparece em destaque.

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• ZERO HORA, 24 DE AGOSTO DE 2010.

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• E finalmente, o que se destacou no último exemplar da amostra?

O jornal dedicou uma nota ao assunto. A nota consta na editoria de Polícia, como as matérias do primeiro exemplar da análise. E ainda, fato que se destacou em todas as matérias e que é uma constante na cobertura criminal, é de que a principal fonte dos jornais é a polícia, para que não seja dada “voz ao bandido”.

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• Quais, assim, são as considerações finais desta desta pesquisa?

A amostra foi muito pequena para responder de forma completa e conclusiva os objetivos da pesquisa, mas através da análise desta amostra foi possível inferir que:Zero Hora contribui para a estereotipação da cobertura dos favelas (periferias) relacionando seu factual freqüentemente com a criminalidade.Essa perpetuação se dá através da ambigüidade dos conceitos e da determinação de dois lados nas matérias policiais: o bem e o mal OU os mocinhos e os bandidos.E esta valoração limitada da periferia é a mesma dada ao movimento funk. Como música da periferia, o funk passa também a ser caso de polícia.O contínuo de matérias negativas se justifica pelo valor notícia de negatividade e a supervalorização ambígua de factuais como o analisado, ilustra o sensacionalismo que também caracteriza a cobertura da periferia.

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Principais referências bibliográficas

• ANGRIMANI, Danilo. Espreme que sai sangue. São Paulo: Summus, 1995.• BARDIN, Laurence. A análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2004.• ESSINGER, Silvio. Batidão: uma história do funk. Rio de Janeiro: Record, 2005.• HERSCHMANN, Micael. "Mídia e culturas juvenis: o caso da glamouri-zação do funk nos jornais

cariocas". ln: Menezes. Philadelpho. Signos plurais. Mídia, arte, cotidiano na globalização. São Paulo: Experimento, 1997.

• MACHADO, Maria Berenice da Costa. Hibridações discursivas: Estratégias políticas e mercadológicas dos veículos de comunicação de massa. Comunicação e Informação, Goiânia, v 10, n 1: pág 52 - 62 – jan/jun. 2007.

• MEDEIROS, Janaína. Funk carioca: crime ou cultura? - O som que dá medo e prazer. São Paulo: Terceiro Nome, 2006.

• RAMOS, Silvia. PAIVA, Anabela. Mídia e violência: tendência na cobertura da criminalidade e segurança no Brasil. Rio de Janeiro: IUPERJ-TEC, 2007.

• TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo: A tribo jornalística – uma comunidade interpretativa transnacional. Insular, 2006.

• VIANNA, Hermano. O mundo funk carioca. Rio De Janeiro: Jorge Zahar, 1989.• CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2006.